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NÚMERO 40 DE 15 DE MARÇO A 15 DE ABRIL DE 2006 1 Directiva Bolkestein e Real Decreto-Lei 5/2001 poderám avançar sem demasiada oposiçom Isto é o que se pode interpre- tar da distracçom generalizada com que estám a ser recebidas as novas normas laborais. Quanto à Directiva sobre Serviços no Mercado Interior (Bolkestein) que a Europa quer pôr em andamento sem se importar com o 'nom' fran- cês à Constituiçom nem com as mobilizaçons estudantis nesse país, CCOO e UGT con- sideram que se trata "só de umha ameaça que nom se vai consumar". Som os mesmos sindicatos que há ano e meio começárom a negociar no Estado espanhol o Real Decreto-Lei 5/2001, que tanto a esquerda como a direita que- rem fazer passar sem demasia- do barulho. Zapatero, Méndez e Fidalgo dizem "ir negociar com a maior das flexibilidades" e a direita, apesar de o patro- nato considerar "insuficiente" a reforma, está mais preocupa- da com fazer oposiçom à custa do nacionalismo basco e cata- lám. O sindicalismo nacional é, no entanto, contundente: "Nem o governo do PP se atre- vera a tanto", afirmam na CIG, cuja análise é compartilhada também pola CUT ou o anar- co-sindicalismo. Mas as refor- mas que poderám agravar a situaçom de umha Galiza que conta com um índice de pre- cariedade laboral de 35%, nom virá a ser, segundo quase todos os prognósticos, o baluarte dos direitos da classe trabalhado- ra: com só 6% de filiaçom sin- dical, é claro que os assalaria- dos e as assalariadas descon- fiam até de qualquer enqua- dramento sindical. / Pág. 10 CENTRO SOCIAL 'A REVOLTA' recupera a figura do Merdeiro para o Entrudo viguês / 16 E AINDA... A alegria do vencedor, por Santiago Alba Rico / 2 "Entregamos estes símbolos ao seu proprietário, o Governo galego, mas se de nós dependesse seriam destruídos" Alberte Moço Quintela, dirigente de NÓS-UP, na seqüência da campanha contra a simbologia fascista PÁGINA 04 Despovoaçom impossibilita mobilizaçom a favor da língua na comarca da Seabra GALIZA ENFRENTA ADORMECIDA AS PRÓXIMAS REFORMAS LABORAIS A saúde do galego depende da vontade de autarcas com compromisso cultural / 13 Feminismo, sempre imprescindível Marcha Mundial das Mulheres mobiliza-se com este slogan num novo 8 de Março A COMARCA DO RIBEIRO já conta com um local social galeguizador: Arrincadeira / 18 A CIG CONTINUA a denunciar a continuidade de altos cargos do PP na Administraçom / 04 SINDICATOS AGRÁRIOS ponhem em questom as medidas restritivas contra a gripe das aves / 05 A Directiva apadrinhada por Bolkestein -na foto- ameaça com a liberalizaçom completa dos Serviços Públicos na UE / ARQUIVO NGZ O lema escolhido neste ano 2006 pola Marcha Mundial das Mulheres tem dupla validez: umha geral e outra contextual. Quanto à primeira, constata como este movimento tem sido nos últimos dous séculos, e com certeza continuará a ser, um dos principais motores do progresso moral da sociedade, e nom ape- nas no que di respeito aos direi- tos das mulheres. Em relaçom à segunda, as conquistas legais do feminismo nos últimos meses, na seqüência das mudanças de cor política dos executivos madrileno e compostelano, poderia adormecer umhas rei- vindicaçons que nem de longe fôrom ainda satisfeitas. Nom foi isso o que se percebeu, porém, no passado dia 8 de Março, em que mais mulheres do que nunca se encontrárom na rua. Saírom conscientes de que os pequenos avanços no relativo à visibilizaçom de certos proble- mas poderám servir à política institucional para ocultar reali- dades que evita enfrentar. A democracia paritária ao nível das conselharias, por exemplo, é umha excelente máscara das desigualdades ao nível dos car- gos que ficam por baixo das anteriores. E nom só, narcoti- zam a sociedade em relaçom a realidades ainda mais cruas, no ámbito laboral ou no singela- mente vivencial de cada mulher galega. Tampouco esquecêrom as feministas, num novo Dia da Mulher Trabalhadora, o papel da igreja como condicionadora destes pequenos avanços. Nunca está de mais lembrá-lo, e muito menos depois de que certa esquerda ocidental alin- hasse com o Vaticano para defender a 'liberdade de expres- som' de fazer garatujas com o rosto de Maomé. / Pag. 14

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NÚMERO 40 DE 15 DE MARÇO A 15 DE ABRIL DE 2006 1 €

Directiva Bolkestein e Real Decreto-Lei 5/2001poderám avançar sem demasiada oposiçom

Isto é o que se pode interpre-tar da distracçom generalizadacom que estám a ser recebidasas novas normas laborais.Quanto à Directiva sobreServiços no Mercado Interior(Bolkestein) que a Europaquer pôr em andamento semse importar com o 'nom' fran-cês à Constituiçom nem comas mobilizaçons estudantisnesse país, CCOO e UGT con-sideram que se trata "só deumha ameaça que nom se vaiconsumar". Som os mesmossindicatos que há ano e meio

começárom a negociar noEstado espanhol o RealDecreto-Lei 5/2001, que tantoa esquerda como a direita que-rem fazer passar sem demasia-do barulho. Zapatero, Méndeze Fidalgo dizem "ir negociarcom a maior das flexibilidades"e a direita, apesar de o patro-nato considerar "insuficiente"a reforma, está mais preocupa-da com fazer oposiçom à custado nacionalismo basco e cata-lám. O sindicalismo nacional é,no entanto, contundente:"Nem o governo do PP se atre-

vera a tanto", afirmam na CIG,cuja análise é compartilhadatambém pola CUT ou o anar-co-sindicalismo. Mas as refor-mas que poderám agravar asituaçom de umha Galiza queconta com um índice de pre-cariedade laboral de 35%, nomvirá a ser, segundo quase todosos prognósticos, o baluarte dosdireitos da classe trabalhado-ra: com só 6% de filiaçom sin-dical, é claro que os assalaria-dos e as assalariadas descon-fiam até de qualquer enqua-dramento sindical. / Pág. 10

CENTRO SOCIAL 'A REVOLTA'recupera a figura do Merdeiro para oEntrudo viguês / 16

E AINDA...

A alegria do vencedor,por Santiago Alba Rico / 2

"Entregamos estes símbolos ao seu proprietário, o Governo galego, mas se de nós dependesse seriam destruídos"Alberte Moço Quintela, dirigente de NÓS-UP, na seqüência da campanha contra a simbologia fascista PÁGINA 04

Despovoaçom impossibilitamobilizaçom a favor da línguana comarca da Seabra

GALIZA ENFRENTA ADORMECIDA AS PRÓXIMAS REFORMAS LABORAIS

A saúde do galego depende da vontade deautarcas com compromisso cultural / 13

Feminismo, sempreimprescindívelMarcha Mundial das Mulheres mobiliza-secom este slogan num novo 8 de Março

A COMARCA DO RIBEIRO já conta com um localsocial galeguizador: Arrincadeira / 18

A CIG CONTINUA a denunciar a continuidade dealtos cargos do PP na Administraçom / 04

SINDICATOS AGRÁRIOS ponhem em questom asmedidas restritivas contra a gripe das aves / 05

A Directiva apadrinhada por Bolkestein -na foto- ameaça com a liberalizaçom completa dos Serviços Públicos na UE / ARQUIVO NGZ

O lema escolhido neste ano2006 pola Marcha Mundial dasMulheres tem dupla validez:umha geral e outra contextual.Quanto à primeira, constatacomo este movimento tem sidonos últimos dous séculos, e comcerteza continuará a ser, um dosprincipais motores do progressomoral da sociedade, e nom ape-nas no que di respeito aos direi-tos das mulheres. Em relaçom àsegunda, as conquistas legais dofeminismo nos últimos meses,na seqüência das mudanças decor política dos executivosmadrileno e compostelano,poderia adormecer umhas rei-vindicaçons que nem de longefôrom ainda satisfeitas. Nom foiisso o que se percebeu, porém,no passado dia 8 de Março, emque mais mulheres do quenunca se encontrárom na rua.Saírom conscientes de que ospequenos avanços no relativo à

visibilizaçom de certos proble-mas poderám servir à políticainstitucional para ocultar reali-dades que evita enfrentar. Ademocracia paritária ao níveldas conselharias, por exemplo, éumha excelente máscara dasdesigualdades ao nível dos car-gos que ficam por baixo dasanteriores. E nom só, narcoti-zam a sociedade em relaçom arealidades ainda mais cruas, noámbito laboral ou no singela-mente vivencial de cada mulhergalega. Tampouco esquecêromas feministas, num novo Dia daMulher Trabalhadora, o papelda igreja como condicionadoradestes pequenos avanços.Nunca está de mais lembrá-lo, emuito menos depois de quecerta esquerda ocidental alin-hasse com o Vaticano paradefender a 'liberdade de expres-som' de fazer garatujas com orosto de Maomé. / Pag. 14

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NOVAS DA GALIZA15 de Marçoa 15 de Abril de 2006 02 OPINIOM

O PELOURINHO DO NOVAS

Se tens algumha crítica a fazer, algumfacto a denunciar, ou desejas transmi-tir-nos algumha inquietaçom oumesmo algumha opiniom sobre qual-quer artigo aparecido no NGZ, este éo teu lugar. As cartas enviadas deve-rám ser originais e nom poderámexceder as 30 linhas digitadas a com-putador. É imprescindível que os tex-tos estejam assinados. Em caso con-trário, NOVAS DA GALIZA reserva-se odireito de publicar estas colaboraçons,como também de resumi-las ouestractá-las quando se consideraroportuno. Também poderám ser des-cartadas aquelas cartas que ostenta-rem algum género de desrespeito pes-soal ou promoverem condutas antiso-ciais intoleráveis. Endereço: [email protected]

SANTIAGO ALBA RICO

XAN TORRES GÓMEZ NA MEMÓRIA

Permitide-me que me dirija nestesingelo texto ao meu camarada poloseu nome e apelido, ainda sendoumha deformaçom da minha peque-na educaçom... Xan Torres, o d'Ogrove, é e foi uminadaptado, mas se alguém conside-ra que o meu qualificativo é inapro-priado, é que nom nos entende, anós, os inadaptados.É e foi um inadaptado a este sistemadeforme e opressor, órfao de igualda-de para todos os homens e mulheres.Este sistema mercantilista do nacio-nal-possibilismo incomoda-se comos inadaptados e para qualificarhomens como o Xan inclusive podechegar a tentar dissimular as suascrenças e a sua importáncia militan-te, definindo-os como uns románti-cos ou utópicos, idealistas.Eu nom sou ninguém para o definir,

mas sim podo atrever-me a dar aminha modesta opiniom: nom a mis-tificá-lo, mas sim a dar fé depois detantos anos de camaradagem desdeos anos setenta na AN-PG até hoje.De romántico ou utópico, nada denada. Foi, porém, um soldado emluita por umha pátria melhor, entre-gue a umha causa justa e sem pedirnunca nada em troca: nunca sedobrou.Nom vou descrever o percurso dasua entrega à causa galega, desde aAN-PG, a UPG e o BNG até a ING,Amigos da Cultura e organizaçonsindependentistas, montes comu-nais, organizaçons ecologistas, etc.Mas tampouco quero ficar com avontade de dizer-vos que foi umcomunista.Convicto nacionalista, independen-tista galego, filho do povo galego evizinho dos 'Groves', como ele cha-mava a Ogrove, orgulhoso de perten-cer a este povo e fiel à causa galegaaté o final, atento sempre à realidadeque o envolvia, preocupado pola evo-

luçom do projecto independentista,ainda que às vezes magoado polo dis-correr do nacionalismo desde os anosoitenta: fiel e sereno mas com dúvi-das."Já nom é muito digno viver tudo istoque véu depois dos oitenta" dizia.Entregou-se totalmente à causa dosmontes vicinais, com um decepcio-nante final no caso de Ogrove-Noaia,mas ele sempre foi constante e posi-tivo na luita vicinal reivindicativacontribuindo mesmo com o quenom podia.A esta decepçom somárom-se asfrustraçons no ideário político emque foi confesso e a insatisfaçomcom os resultados do trabalho detantos anos, mas apesar de tudomantinha umha ideia firme."Simplesmente mantendo a digni-dade; isso já é suficiente à nossaidade..."Xan Torres foi vítima de um exíliointerior, em vao procurarám os jovensnacionalistas e independentistas deOgrove, Ponte Vedra e do resto da

Galiza nos 'manuais' ou nos 'progra-mas do coraçom' em que se conver-têrom certos partidos nacionalistasgalegos, a personalidade de XanTorres. Nem tam sequer aparecerános currículos dos novos senhores,com cargos de 'responsabilidadefinanciada', na causa dos montes, dacultura, da política municipal, etc.Sabemos o que essa injustiça deve àrotina da profissionalizaçom do ideá-rio nacional-possibilista. Os que con-hecemos Xan Torres, somos cientesque se somou ao exílio interior emOgrove, como muitos camaradas emtoda a Galiza, filhos todos de umhaideologia independentista para anossa terra, ideologia que nom estáem venda nem morrerá.Há muitos companheiros de viagemdo Xan Torres que guardárom umatemorizado silêncio: que estejamtranquilos, o que os obriga é o pesse-brismo e as favas, uns com dedica-çons exclusivas e outros entretantoprocurando subterfúgios de justifica-çom, mas do que nom se dam conta

“ IMAGINO OS 793 HOMENS MAIS RICOS DO MUNDO A DAR SALTOS DEALEGRIA DIANTE DOS 1.200 MILHONS DE SEDENTOS ENQUANTO OS

ESPECTADORES ENVENENADOS APLAUDIMOS OS MAGNATES EDEPRECIAMOS EVANGELICAMENTE OS QUE PEDEM ÁGUA”

Christophe Fauviau, ummilitar reformado, queriaque os seus dous filhos fos-

sem grandes campeons de ténis efijo todo o possível para o lograr:durante dous anos dedicou-se adrogar os rivais com soníferos eansiolíticos, dolosamente forneci-dos numha solidária garrafa deágua. Homenagem viva a esteafám de superaçom, as suas 27 víti-mas, umha delas mortal, abando-navam o campo aos tombos, com avisom embaçada, às vezes a vomi-tar, enquanto a família Fauviauaplaudia com grande alvoroço onovo triunfo dos rebentos. Depois,Christophe levava mais um troféupara as suas vitrinas e convidava acear os amigos, os vizinhos, e até ospróprios pais dos vencidos paraadmirarem a sua impressionantecolecçom de vitórias. Há uns dias,este pai protector que nom podiasuportar a ideia de ter criado dousperdedores foi condenado a oitoanos de cárcere por “trapaceiro”,“manipulador” e “mentiroso”.

Recolhida de um jornal, sóacrescentei à notícia a exibiçomdas vitrinas, prolongaçom naturalda manobra: um homem nomenvenena um adolescente a fim deganhar umha partida de ténis paradepois se envergonhar do troféu;

será quase obrigado, polocontrário, a festejar publicamenteo triunfo para regularizá-lointimamente e devolver-lhe ovalor: “se estou tam contente éque nom figem nada”. Mas umhaalegria assim é quase maismonstruosa que o delito mesmo;desde o momento mesmo em quetem que medir-se com ummeninho envenenado, esta alegriapurificadora do vencedorenvenena, por assim dizer, todosos espectadores. A moral maisagreste escandaliza-se perante ojúbilo de um vencedor injusto,perante a dita publicitária quechamamos assanhamento. OTriunfo romano, com o seu desfilede riquezas e prisioneiros, oferece-nos a imagem mais extrema, daqual a felicidade da militar estado-unidense fotografada em AbuGharaib, polegar em riste,inclinada sobre o cadávertorturado, nom é mais do que acontinuidade histórica, emformato turístico e burguês.“Esmagamos-vos!”, “Que malheiravos demos!”, com umha emoçomexplosiva que é a réplica e ainversom moral da corres-pondência amorosa.

Esta alegria da injustiça é a querecolhe a expressom castelhana

“pasar por las narices”, acçommediante a qual se afirmapublicamente a superioridade dovencedor e a inferioridade dovencido, explosom animal –golpescontra o peito e uivos simiescos–sem os quais o prazer do triunfofica incompleto. Estava a pensarna história de Christophe Fauviaue na necessidade primitiva de“pasar por las narices” o troféuarrebatado quando os meus olhostopárom no mesmo jornal e namesma página com duas notícias,umha ao pé da outra, que derepente formárom perante osmeus olhos outra história exemplar:“1.200 milhons de pessoas semacesso a água potável” / “Forbespublica mais um ano a lista dos793 homens mais ricos domundo”. Os jornais estámpensados, já sabemos, para quepodam estar juntas, sem sejuntarem jamais, em diferentesestantes da montra, as notíciasmais dispares. Com umha vista deolhos empurramos essa bolinhados 1.200 milhons, fundidosnumha meada, fora do nossocampo visual e passamos a admiraros 793 mil-milionários, um por um,sem estabelecermos relaçomnenhuma entre essas duasenormidades. Umha pobreza tam

impessoal e facilmente registávelé apenas umha incidênciameteorológica. Umha riqueza tamclamorosa e arejada, tam satisfeitade si própria, só pode ser inocentee merecida.

Imagino os 793 homens maisricos do mundo a dar saltos dealegria diante dos 1.200 milhonsde sedentos enquanto osespectadores envenenados –unsquantos centos de milhons–aplaudimos os magnates edepreciamos evangelicamente os

que pedem água. A merapublicaçom da lista Forbes é umacto fantástico de ostentaçombárbara, umha impugnaçom dequalquer pretensom civilizada,algo muito parecido a umha piadasobre judeus e cámaras de gás.Mas funciona. A lista Forbesconverte, perante os nossos olhos,a feroz concorrência económica,com milhons de vítimas, numhacompetiçom desportiva e a lutasocial, que deixa regions inteirasdo planeta destroçadas e

A alegria do vencedor

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NOVAS DA GALIZA15 de Marçoa 15 de Abril de 2006 03EDITORIAL

empobrecidas, numha

superaçom atlética: “nesta

ocasiom”, di a notícia, “a lista é

formada por 793 mil-

milionários, um número

recorde. Entre todos eles

acumulam fortunas de 2,6

bilions de dólares, 18% mais

que no ano passado”. Por um

lado, a lista estimula

psicologicamente os

vencedores, alimentando neles

o afám de superaçom que

guiava o papá Christophe:

Berlusconi nom vai gostar de

que Amancio Ortega (14.8000

milhons de dólares) o tenha

deslocado da vigésima terceira

posiçom a nível mundial e da

sétima a nível europeu e haverá

de tomar medidas

–despedimentos, subornos,

malversaçons– para recuperar

terreno; enquanto o próprio

Amancio Ortega, ferido no seu

orgulho, tentará avançar mais

um posto e deslocalizará mais

fábricas, baixará o salário dos

marroquinos ou abrirá umha

oficina de escravos no alto mar.

A lista Forbes é o aguilhom

desportivo da exploraçom, o

motor épico da barbárie

capitalista. Mas a lista Forbes

estimula ainda a integraçom dos

vencidos. Num mundo de

tormentas estruturais em que o

capital se organiza anónimo e

transversal às culturas e às

naçons, a lista Forbes mantém a

ilusom olímpica muito

tranquilizadora de umha

rivalidade nacional: Amancio

Ortega representa os espanhóis

no Patíbulo Mundial como

Fernando Alonso nos representa

nos circuitos, e todos a

empurrarmos, a animarmos, a

avançarmos com ele cada posto

que ultrapassa nesta corrida. E

inclusive é possível –como

ironizava Ángel Casanova

Grima numha estupenda

ficçom– que os trabalhadores

das suas oficinas, ou os próprios

desempregados, acabem a

ceder umha parte das suas

poupanças para evitar que

Berlusconi, stronzo italiano,

volte a superá-lo para o ano. Os

pobres amam, admiram e

ajudam os seus ricos.

O pior de Christophe Fauviau

nom é o que ele fijo a esses

adolescentes envenenados; é o

que fijo aos seus próprios filhos.

O mesmo pode dizer-se da lista

Forbes: o pior é a sua

dimensom educativa; quer dizer,

o facto de que legitima e

oferece como modelo a alegria

ostentosa do vencedor e umha

figa às vítimas da sua vitória.

Muito mais educativa, e muito

mais patriótica, parece-me a

frase que escreveu Rafael

Barrett em 1910 por ocasiom da

morte de Rockefeller: “E por

certo vos digo que se é grande o

país em que um homem

consegue, sem violar a lei,

juntar cinco mil milhons, ainda

é maior o país em que nom lhe

som perdoados e que,

antecipando-se à morte, o

obriga a devolvê-los”. Eu vou

sentir-me muito orgulhoso da

minha naçom –qualquer umha

que ela seja– o dia em que os

jornais publiquem a breve lista

dos mil-milionários

expropriados e das crianças

–tam dolorosamente longa–

curados e alimentados e

vestidos e dignificados com o

dinheiro devolvido.

As ameaças que pairam contra os direitos

sociais cozinham-se nas traseiras da políti-

ca e ficam relegadas polos media ao segun-

do plano da secçom de economia. Ainda que nom

se faga esforço nenhum por fazer compreender as

raízes deste processo de décadas que abala os

fundamentos do dito Estado providência, salmo-

dia-se alegremente sobre a necessidade inques-

tionável dos cortes. Os parlamentos encenam

unanimidades solenes em relaçom às receitas

exigidas nas altas esferas e, da mesma maneira

que quando se acorda em bloco subir o salário dos

políticos, só se erguem vozes dissonantes para

pedir certo pudor e discriçom na distribuiçom

da generosa torta pública.

Algumha culpa terá, nesta distensom maioritária

perante as reformas laborais de Espanha e

Europa, um trajecto de vinte e cinco anos atra-

vessado por embates patronais harmoniosamente

executados no quadro do diálogo social.

Barateamento do despedimento, contratos de

aprendizagem e ETT's impugérom-se aos poucos

em mesas negociadoras quase permanentes,

enquanto a populaçom assalariada abandonava

em massa qualquer entusiasmo sindical. Se há

umha Europa que ainda conserva, zelosa, umhas

poucas defesas estatais contra o neoliberalismo,

brigando na rua pola manutençom das mínimas

barreiras, na Galiza continua o recorde estatísti-

co da precariedade sem assomarem ainda mos-

tras de carragem colectiva.

No cacarejado debate estatutário, os recursos de

um hipotético poder galego perante as exigências

da economia desbocada nom ocupam alusom de

nenhum tipo. Apenas Fontenla, esse dirigente

empresarial que se lamentara recentemente polo

"excesso de direitos dos trabalhadores galegos",

manifestou o seu desejo pola boa marcha do pro-

cesso de diálogo entre os três grandes partidos

operantes no País. No entanto, com o termo

'naçom' presente ou nom no futuro articulado, a

Directiva Bolkestein, a nova reforma laboral do

governo do PSOE e todas as grandes dentadas da

deslocalizaçom semelham desafios grandes em

excesso para serem combatidos unicamente com

a vocaçom autonomista.

OUTRA VOLTA DO PARAFUSO

D. LEGAL C-1250-02 / As opinions expressas nos artigos nom representam necessariamente a posiçom do periódico. Os artigos som de livre reproduçom

respeitando a ortografia e citando procedência. A informaçom continua periodicamente no sítio web www.novasgz.com e no portal www.galizalivre.org

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CORRECÇOM LINGÜÍSTICA

Eduardo Sanches Maragoto

IMAGEM CORPORATIVA

Miguel Garcia

FECHO DA EDIÇOM: 15/03/06

HUMORestes profissionais da política é que

jamais terám nome nem apelidos.

Nós, a Xan Torres, sempre o chama-

remos polo seu nome e apelidos.

Porque o povo é quem mais ordena e

Xan Torres, na sua humildade e hon-

radez patriótica, soubo ser fiel até o

final às suas convicçons e ao seu ide-

ário vital nom político, porque Xan

Torres nom foi político, só um

homem do povo singelo que honrou

a sua terra.

Augusto Fontám

O SIGNIFICADO DO

“LA, LA, LA”

Naquela noite de 1968 em que a

Massiel cantou o “La, la, la” no festi-

val de Eurovisom, o meu pai monta-

va guarda em cumprimento do servi-

ço militar. Desde que tenho uso de

razom, é impossível que qualquer

referência a essa música nom venha

acompanhada na minha casa do

recordo angustiado do meu pai, que

de maneira excepcional tivo que pas-

sar a noite com o capacete de aceiro,

o fuzil regulamentário e em posiçom

de firmes, devido à grande assistên-

cia de mandos à garita do quartel para

ver a actuaçom da Massiel. Aqueles

militares de Franco ferviam com o

“La, la, la”, a cançomcomposta por

Serrat em catalám e que, comvenien-

temente espanholizada e reinterpre-

tada por umha artista “castiza”, nom

só serviria ao Regime para fazer-se

um oco na Europa, senom que era

apreçada como um verdadeiro hino

contra o “separatismo” catalám.

O “La, la, la” que tocou a Banda

Municipal da Corunha nom só fai

referência de forma hortera e infantil

ao artigo do topónimo em espanhol,

senom que também connota direc-

tamente a Espanha mais cavernícola

e xenófoba. Será por isso que Paco

Vasques gosta dele.

Miguel Garcia

Pepe Carreiro

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NOVAS DA GALIZA15 de Marçoa 15 de Abril de 2006

NOTÍCIAS

04 NOTÍCIAS

"A retirada de símbolos fascistaspretende pôr cada pessoa no seu lugare reabilitar a memória das vítimas”Perante o desleixo das instituiçons, sentem-se "legitimados" paradesenvolver umha política de factos

GERARDO UZ / O período2005-2006 é significativo paraas vítimas do franquismo, jáque se cumprem 70 anos dolevantamento militar e 30 damorte do ditador, como bemlembrou neste jornal o vice-presidente da Associaçom paraa Recuperaçom da MemóriaHistória, Santiago Macías, nopassado mês de Agosto.

Com motivo destas efeméri-des, e da "oportunidade políti-ca" verificada após a mudançade governo na Junta, NÓS-UPdecidiu dar um novo impulso àcampanha nacional para a reti-rada de toda a simbologia fas-cista no País, tal e como expli-cou para NOVAS DA GALIZAAlberte Moço, membro daDirecçom Nacional de NÓS-Unidade Popular.

Na opiniom de Moço, estacampanha fai parte da agendapolítica deste partido, "mesmoantes da sua constituiçom", eesclarece que a retirada dossímbolos "pretende pôr cadapessoa no seu lugar e reabili-tar a memória das vítimas da

repressom". Como exemplodas acçons, Moço refere-se àsempreendidas por NÓS-UP doNoroeste, que incluíram adecapitaçom de umha estátuafranquista ou sabotagens nacasa natal de Franco.

Apesar deste tipo de iniciati-vas, a primeira intençom destepartido era seguir a via políti-co-administrativa para conse-guir a retirada da simbologia,para o que se recorreu "à apre-sentaçom de moçons nascámaras municipais com basenos dados compilados polosmilitantes e vizinhos", queforam informando da existên-cia de diferentes monumentose placas franquistas.

"A nível institucional nin-guém aderiu à nossa campan-ha, apesar de que tambémenviamos cartas a Touriño eQuintana solicitando o com-promisso com esta iniciativademocrática, sem que até adata nos tivessem respondido",explica Moço. "Por estarazom", prossegue, "sentimo-nos legitimados para agir pola

via dos factos e procedermosnós próprios à retirada detodos estes símbolos".

Entrega à JuntaDo mesmo modo que já se fijoapós a decapitaçom de umhaestátua franquista na comarca deFerrol, está prevista a entrega àJunta de várias placas de ruascom nomes fascistas, se bemque até hoje "nom esteja total-mente determinado quando ecomo serám entregues". A deci-som de dá-las à Junta responde,segundo Alberte Moço, a umhavontade de "permitir que decidasobre o destino destes símboloso seu proprietário, que é oGoverno galego", e acrescentaque "se de nós dependesse,seriam destruídos".

Segundo Moço, em NÓS-UP "somos conscientes de quepode haver represálias", tal ecomo já aconteceu no caso daestátua decapitada, "mas acre-ditamos que estamos agindocom total legitimidade, e poressa razom pensamos quedevemos continuar."

A cabeça da estátua a Calvo Sotelo de Tui foi cortada por independentistas dentro da campanha contra a simbologia fascista

CIG denuncia continuidadede cargos do PP na JuntaRedacçom / A sete meses da che-gada do governo bipartido à Juntada Galiza, a CIG considera nega-tivo o balanço do executivo quan-to ao sistema administrativo.Segundo Xan Carlos Ánsia, mem-bro desta organizaçom sindical nocomplexo de Sam Caetano, "nes-tes momentos há mais de milpessoas em cargos da Juntanomeados por livre designaçomdurante o governo Fraga".

Até o momento existe constán-cia da permanência de umhasérie de pessoas em postos queafectam de maneira directa con-selharias como Pesca, Vice-Presidência para o Bem-Estar ouMeio Ambiente. Os casos maissalientáveis som os de ManuelArroyo, gerente do CGAC emCompostela e Miguel ÁngelSieiro González, secretário geralde Pesca. Estes dous homensfôrom colocados polo anteriorgoverno de Fraga e ainda conti-

nuam a ocupar os mesmos pos-tos de responsabilidade.

Entre os motivos que terámajudado a que esta situaçom seprolongue, a CIG menciona odesleixo nas acçons de governodo novo executivo. Esta situaçomfai com que os membros desta ede outras organizaçons sindicaisse vejam obrigados a negociarcom cargos que já ocupavam osmesmos postos administrativos.As chamadas de atençom da CIGsobre este assunto afectam inclu-sive conselharias do BNG, onde asituaçom parece ser a mesma, tal-vez com a excepçom de MeioRural.No total, o numero de altos car-gos no actual governo da Junta deGaliza soma 140, sendo que noúltimo governo de Fraga chega-vam a 144. Umha reduçom quese considera escassa e em queapenas fôrom demitidos algunscargos.

Fiscalia nom actuará contraos autarcas do PP

Lei da Polícia Autonómicaserá aprovada este ano

Redacçom / A Fiscalia doTribunal Superior de Justiça daGaliza respondeu ao Movi-mentopolos Direitos Civis (MpDC)que nom actuará contra os presi-dentes autárquicos que se mani-festárom diante do Parlamentogalego no passado dia 23 deNovembro, tentando interrom-per umha sessom plenária comoprotesto pola suspensom deobras rurais.

O MpDC lembra que numhasituaçom similar, quando CCOOtentara sabotar um pleno daCámara Municipal de PonteVedra em 2004, a Fiscalia "pre-tendia utilizar umha normativa

anti-terrorista". Por isso, para estaorganizaçom é "vergonhoso" quese aja de maneira tam "discrimi-natória", e lembram que a mis-som da Fiscalia é a de "promover aacçom da justiça em defesa dalegalidade, dos direitos dos cida-daos e do interesse público".

Por último, o MpDC tambémesclarece que nom pretende aperseguiçom de nenhum colecti-vo "por exercer o direito à manifes-taçom", mas demonstrar que emmuitas ocasions os poderes públi-cos "agem de forma discriminató-ria, obviando a igualdade perante alei, dependendo de quem exerceesse e outros direitos".

Redacçom / A Lei para a cria-çom da Polícia Autonómica gale-ga entrará no Parlamento daGaliza na Primavera e prevê-seque seja aprovada antes de fina-lizar o ano, segundo assegurou aJunta. Para o conselheiro daPresidência, o vasquistaMéndez Romeu, a criaçomdeste novo corpo policial signifi-cará "um modelo diferente",comparável ao catalám e aobasco, mas "de colaboraçomplena com as Forças e Corpos de

Segurança do Estado", apontou.Para a criaçom desta políciagalega, Méndez Romeu assegu-rou que serám precisos entre2.000 e 2.500 novos agentes, emanifestou que um amplonúmero de postos poda sercoberto com "guardas civis epolícias nacionais". Entre as fun-çons deste corpo estariam "ser-viços especializados" como asinistralidade vial ou a vigilân-cia das costas e do meio natural,salientou Romeu.

ALBERTE MOÇO QUINTELA, MEMBRO DA DIRECÇOM NACIONAL DE NÓS-UP

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NOVAS DA GALIZA15 de Marçoa 15 de Abril de 2006 05NOTÍCIAS

Redacçom / A organizaçomlabrega nacionalista adverte quea "histeria desencadeada polagripe das aves" está a afectar asexploraçons dos grupos indus-triais de criaçom de aves. Acinco meses do anúncio da apa-riçom de umha nova variantedesta doença animal, as medi-das de prevençom estám aincrementar-se na Galiza. AAdministraçom intensificou oscontrolos sobre as zonas húmi-das e adoptou medidas de res-triçom para a criaçom de avesque, na opiniom do SLG, somdesmesuradas e estám "mais emconsonáncia com o boom mediá-tico do que com critérios estri-tamente científicos". Solicitamda Conselharia de Meio Ruralque adopte as "medidas oportu-nas para reverter a situaçom dealarmismo" e disponha partidasorçamentárias para enfrentar asperdas previstas polas limita-çons na criaçom de aves.O Sindicato Labrego incide emque nom se pode dar à doença otratamento de pandemia,"termo reservado para as gran-

des epidemias na saúde huma-na", dado que o número de mor-tes a nível mundial (setentavítimas em três anos) nom o jus-tifica e porque as pessoas quefalecêrom polo contágio destagripe das aves conviviam comelas em situaçons de insuficiên-cia higiénica e alimentar. No

último número da publicaçomFouce citam como exemplo, amodo de contraste, que naGaliza morrêrom 29 pessoas em2003 por gripe humana, númeroque costuma ser semelhantecada ano. A respeito dos benefi-ciários do alarme, assinalam quea principal interessada é a mul-

tinacional Roche, que está avender à maior parte dos gover-nos o antiviral Tamiflu, ummedicamento cuja eficácia "estáa ser muito questionada" e que"parece mais perigoso do quepoda ser um hipotético 'salto' daenfermidade animal para espé-cie humana".

O Sindicato LabregoGalego, Unions Agrárias eJovens Agricultores pedemque sejam revisadas as medi-das restritivas que se estám aaplicar para prevenir o espal-hamento da gripe das aves,como por exemplo a proibiçomde vender aves nas feiras ou oveto à cria ao ar livre nas proxi-midades de zonas húmidas.No SLG afirmam que estasmedidas "ponhem em graveperigo a sobrevivência domodelo tradicional de cria deaves de capoeira na Galiza", eacrescentam que na actualida-de estas protecçons "apenas se

estám a aplicar em países ouzonas com presença confirma-da da doença".As três formaçons manifestamque apesar de o consumo nomter decaído notavelmente porcausa da doença, "a histeriadesencadeada está a provocargrandes perdas aos criadores",a quem a indústria "leva jáalgum tempo baixando os pre-ços", asseguram.Neste sentido, em JovensAgricultores acham que emlugar de solicitar ajudas para oscriadores, deveriam ser "vigia-dos alguns industriais que que-rem lucrar com a histeria pro-

vocada". Por sua vez, UnionsAgrárias sustém que cadaexploraçom leva perdidos maisde 3.000 euros por esta razom.Por estes motivos, as três orga-nizaçons sindicais tambémcoincidem a salientar que aoredor deste tema existe um"alarmismo exagerado" e queas Administraçons devem agircom 'firmeza' para defenderos produtores. Para isso pro-ponhem, entre outras medi-das, o controlo dos preços quepaga a indústria, evitar "res-triçons injustificadas" e com-pensar os avicultores polasperdas sofridas.

Denunciam alarmismo injustificadoperante a gripe das aves

Sindicato Labrego Galego quer que Meio Rural compense os sectores afectados polas perdas

Sindicato Labrego Galego denuncia que o alarmismo meiático beneficia a multinacional Roche, que tem a patente do antiviral Tamiflu

10 de Fevereiro

Indústria inicia os trámites para ainstalaçom de um parque eólicono SIC Costa da Morte, incluídona Rede Natura 2000.

11 de Fevereiro

Aparecem três lobos decapitadosem Rodeiro. A FederaçomEcologista Galega exige à Juntaactuaçons imediatas para enfren-tar a problemática da gestomdestes mamíferos.

12 de Fevereiro

Grande sucesso do II Campe-onato de Kayak Extremo nasTorrentes de Mácara-Ramil emapoio à ILP em defesa dos riosgalegos.

13 de Fevereiro

Absolvido militante da AMIcondenado em 2002 por danos edesordens públicas.

14 de Fevereiro

Organizaçons nacionalistas mani-festam-se em Compostela porumha Europa social, solidária edos povos.

15 de Fevereiro

Detenhem quatro membros deNÓS-Unidade Popular polaeliminaçom de simbologia fascistanas ruas.

16 de Fevereiro

Conferência de imprensa da AMIsobre a operaçom repressivacontra o independentismo galego.

17 de Fevereiro

Criam em Lisboa a Associaçom deSolidariedade com a Galiza paradar a conhecer a realidade galegacomo naçom lusófona e apoiar aautodeterminaçom.

18 de Fevereiro

Barómetro urbano. FranciscoVázquez e Francisco Orozco somos presidentes autárquicosmelhor valorizados, segundoSondaxe.

CRONOLOGIA

Sindicatos querem revisar medidas restritivas

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NOVAS DA GALIZA15 de Marçoa 15 de Abril de 2006 06 NOTÍCIAS

19 de Fevereiro

Suárez Canal anuncia queincentivarám plantaçom deárvores caducifólias como medidapreventiva contra os incêndios.

20 de Fevereiro

Sérvios e albaneses reúnem-sepola primeira vez para falar doestatuto do Cosovo. 90% dapopulaçom reclama aindependência.

21 de Fevereiro

O Parlamento galego aprova a ILPpara a defesa dos rios.

22 de Fevereiro

Junta propom zona húmida Úmia-Ogrove como zona de alto risco degripe das aves.

23 de Fevereiro

Morre em acidente laboral umoperário de 21 anos do estaleiroNodosa de Marim.

24 de Fevereiro

Inauguram centro social noRibeiro, gerido pola associaçomcultural Arrincadeira.

25 de Fevereiro

PP organiza em Silheda acto dehomenagem e despedida a Fraga.

26 de Fevereiro

A Revolta recupera o Merdeiropara o entruido viguês.

27 de Fevereiro

30 aniversário da proclamaçom daRepública Árabe Democrática doSara. A Junta da Galiza anunciaenvio de 40.000 euros em ajudasaos danificados polas inundaçonsna Argélia.

28 de Fevereiro

Apresentam traduçom para oárabe de Se o velho Simbad voltasseàs ilhas no 25 aniversário deCunqueiro.

1 de Março

3º Aniversário do Centro Social A

REDACÇOM / A Iniciativa Cidadácontra a Impunidade era dadaa conhecer no passado dia 14de Fevereiro em Vigo, comoplataforma que pretende evi-tar a volta às funçons policiaisdos quatro agentes locais queagrediram e vexaram o senega-lês Mamadou Kane em 1997,indultados polo governo estataldo PSOE. Juan Manuel PérezRodríguez, Elena FernándezBouzas, Sebastián FernándezEstévez e Celso Alonso Blancoforam condenados a penas deentre 2 e 3 anos de prisom einabilitaçom para a funçompública por dez anos. Após oindulto, a Cámara municipalviguesa decidiu reincorporar osagentes para funçons adminis-trativas do corpo, medida con-testada polos mais de quinzecolectivos sindicais, associa-çons de emigrantes, organis-mos anti-repressivos e organi-

zaçons políticas que constituí-rom a Iniciativa Cidadá contraa Impunidade, impulsionadapor Ceivar, Esculca e a CIG-Migraçom.A nova entidade tem comoobjectivo derrogar o indulto,entendendo que contribuirpara a impunidade dos agentesconverte "os discursos pródireitos humanos e contra oracismo e a ética em geral doPSOE e do PP" em "retórica ehipocrisia corporativista".Destacam que os polícias con-denados nom pedírom descul-pa pública nem privada aMamadou Kane, facto quejustificaria a revisom damedida de graça governa-mental. Com este objectivopreparam novas iniciativasque vam da mobilizaçomsocial à intervençom jurídicaatravés de recursos e promo-çom de iniciativas parlamen-

tares. No passado dia 24 aplataforma realizou a primei-ra concentraçom no bairro doCalvário à qual acudírommais de cinqüenta pessoasapesar da intensa chuva.

REDACÇOM / Umha sentença doTribunal Superior de Justiça daGaliza (TSJG) afirma que osconflitos laborais naEnfermagem se devem resolverpola via contencioso-adminis-trativa e que nom pertencem àjurisdicçom social, da mesmamaneira que se fai, por exem-plo, no caso do pessoal daAdministraçom.

O Colégio Oficial daEnfermagem de Ponte Vedraassegurou que se confirmá-rom "os piores temores" des-tes profissionais sanitários, jáque a sentença os equiparacom os funcionários, o qualvai supor para este colectivograndes prejuízos. Por exem-plo, segundo confirma esteórgao, com a resoluçom doTSJG será preciso "voltar aformular desde o começomais de 500 demandas", mui-tas das quais "levavam já maisde dous anos de tramitaçom

nos tribunais", asseveramdesde o Colégio.

Os serviços jurídicos destainstituiçom também expres-sárom o seu mal-estar por estadecisom e anunciárom a suapretensom de recorrerem dasentença, já que percebemque "prejudica de formamuito grave" os interesses denumerosos profissionais queiniciárom os litígios para recla-mar os seus direitos laborais,ao mesmo tempo que criti-cam que a resoluçom doTSJG "entorpece o direitodos agremiados a receberemumha tutela judicial efectiva".

Colégio Oficial dos MédicosPor outra parte, a JuntaDirectiva do Colégio Oficialdos Médicos de Ponte Vedraconstituiu recentemente umhacomissom para renovar os esta-tutos. Esta mudança constituiumha das promessas eleitorais

do actual presidente desteórgao, Luís Campos. Entre asprincipais novidades que secontemplam estaria a reduçomno número de vogalias, assimcomo a denominaçom das mes-mas para "adaptá-las às necessi-dades actuais", afirma Campos.

A principal razom queexpom para a mudança o pre-sidente deste Colégio é ofacto de que estes estatutosestám baseados nos daOrganizaçom MédicaColegial, que datam de 1984,quando "a realidade dos pro-fissionais e dos colégios dehoje nom tem nada a ver coma de há 22 anos". Na elabora-çom dos novos estatutos,além da comissom designadapolo Colégio, também parti-ciparám através das corres-pondentes alegaçons os maisde 3.600 profissionais queestám agremiados nesta ins-tituiçom.

Preparam iniciativas de denúnciacontra a reincorporaçom dos políciasque torturaram Mamadou Kane

Tribunal Superior de Justiça equiparaEnfermagem à funçom pública

REDACÇOM / As Jornadas Inde-pendentistas que organizouPrimeira Linha a 18 de Marçocoincidírom com o décimo ani-versário deste partido, fundadopor um grupo de jovens emSantiago em 1996. Nos encon-tros celebrados no HotelCompostela, vários pensadorese activistas sociais reflectíromsobre os reptos da esquerda nopresente século. Carlos Taibo -colaborador habitual do inde-pendentismo galego- partilhoupalestra com o basco JosebaÁlvarez, o português FranciscoMartins e o galego Xosé ManuelBeiras. Representárom os movi-mentos sociais e políticos doPaís a militante feminista LuísaOcampo e os membros de NÓS-UP Igor Lugris e Carlos Morais.

Primeira Linhaorganiza as XJornadasIndependentistas

REDACÇOM / A AssociaçomProfissional de Silvicultores daGaliza (Silvanus), manifestou asua rejeiçom à imposiçom demultas aos proprietários desuperfícies florestais que nomas mantenham conveniente-mente limpas. Neste sentido,esta organizaçom assegura que"nom parece justo que os pro-prietários devam assumir todosos custos de limpeza e preven-çom" sem receber, em troca,"compensaçom polos serviçosecológicos, ambientais e paisa-gísticos que o monte oferece àsociedade".Ainda, em Silvanus afirmam queo actual dispositivo desenhadopola Conselharia do Meio Ruralpara a prevençom de incêndiosapenas abrangerá os montesvicinais consorciados pola Junta,"apenas 15 por cento da superfí-cie florestal galega", razom polaqual acreditam que também sedeveria estender esta protec-çom aos montes privados.

Silvicultoresrejeitam multaspor nom teremlimpo o monte

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NOVAS DA GALIZA15 de Marçoa 15 de Abril de 2006 07NOTÍCIAS

Revolta de Vigo, sob a legenda '3anos golpe a golpe. Somos eseremos'.

A conselheira da Culturaapresenta o primeiro bosquejo doplano de redefiniçom dosconteúdos dos edifícios da Cidadedo Monte Gaiás.

2 de Março

Começa em Fene o ciclo para arecuperaçom da memóriahistórica Nom dês a esquecimento. Anossa memória (1936-1978).

3 de Março

Começa em Vila Garcia o percursodo ‘Bus Violeta’ (ónibus lilás),iniciativa informativo-formativapara mulheres.

4 de Março

Detido um militante anarquistanumha acçom de sabotagem numescritório do BBVA emCompostela.

5 de Março

Segundo aniversário deAduaneiros Sem Fronteiras.

6 de Março

Sindicatos, empresários e Juntaconstituem a Mesa para aCoordenaçom do Diálogo Socialda Galiza.

7 de Março

Assinam acordo que obriga osfiscais do TSJG a conhecerem eempregarem o galego.

8 de Março

Dia da Mulher Trabalhadora. AMarcha Mundial das Mulheresconvoca concentraçons nasprincipais cidades da Galiza.

9 de Março

Polícia frustra ‘macrobotelhom’convocado na praça compostelanado Obradoiro.

10 de Março

Várias ETT e oficinas do INEMaparecem com as fechadurassabotadas coincidindo com o Diada Classe Obreira Galega.

REDACÇOM / A faculdade deCiências Políticas organizou,durante os dias 8, 9 e 10 deMarço, as II Jornadas sobreMulher, Instituiçons e Política,coincidindo com o DiaInternacional da MulherTrabalhadora. As jornadas esti-vérom coordenadas polas pro-fessoras de Ciências Políticas,Isabel Diz e Marta Lois. Nostrês dias que durárom as jorna-das, pretendeu-se dar a conhe-cer qual é nestes momentos asituaçom da mulher dentro doámbito político a partir daUniversidade. Em concreto, naspolíticas de igualdade de opor-tunidades no mundo laboral. Estas Jornadas contárom com oapoio do Serviço Galego de

Igualdade e as pessoas convida-das centrárom as suas interven-çons no desenvolvimento depolíticas de igualdade. Comoapontou Marta Lois: "Todas aspessoas contribuírom imenso.Mas eu destacaria as interven-çons de Arantxa Elizondo e EvaMartínez, da UVP, que analisá-rom a lei basca da igualdade,talvez a mais progressista eavançada até o momento".Sobre este particular na Galiza,Isabel Diz apontou: " No níveldos concelhos e no nível auto-nómico, está-se a avançar compolíticas deste género em dife-rentes ámbitos, incluído o estri-tamente político dos últimoscinco anos". Assim, ambas as professoras

veem umha mudança com achegada do bipartido à Junta daGaliza, com o governo paritárioe as novas legislaçons. Peranteo temor de produzir-se umretrocesso nesta matéria, asduas professoras asseguráromque nenhum partido retrocede-ria nos avanços: "todas as forçaspolíticas fam cálculos sobre oque lhes custaria ir para trás" Quanto à situaçom da mulherem geral na Galiza, Marta Loisassinalou que: "Fica aindaumha revoluçom por fazer. Amulher está incorporada aomercado laboral, mas a equipa-raçom de salários nom se con-seguiu polo momento: só empostos públicos, mas nom nomercado privado". Mas tam-

bém as questons de classe somimportantes quanto à avalia-çom da mulher na sociedadegalega. Segundo a professoraDiz: "Ao termos um Estado debem-estar pouco desenvolvido,muitas tarefas que deveria des-envolver o Estado desenvol-vem-nas as mulheres, como é ocuidado de pessoas idosas.Noutros lugares som imigran-tes, mulheres imigrantes.Enquanto nom se desenvolvero Estado de bem-estar o pesocairá sobre as mulheres, no casogalego".Para o ano as perspectivas soma abertura das redes de contac-tos para estas Jornadas, sobre-tudo em relaçom à presença damulher noutros países.

REDACÇOM / A interacçom entra aHistória e a Genética pode aju-dar a identificar tipos de cancrode origem genética que somcaracterísticos de determinadaspopulaçons. Por exemplo, can-cros de mama próprios de mulhe-res da Galiza e que se detectamem lugares como a Alemanha oua Argentina, destinos da emigra-çom galega durante décadas.Esta foi umha das conclusons aque chegou a equipa de investi-gaçom do catedrático deGenética Anxo Carracedo naapresentaçom do livro Xenética eHistoria no Noroeste Peninsular,fruto das jornadas do mesmonome que organizara o Conselhoda Cultura Galega em 2002.O geneticista também explicouque a sua disciplina pode colabo-rar com a História para ajudar adatar melhor as migraçons que sedérom no passado, graças a queno presente se podem detectar opolimorfismo do cromossoma Y,masculino, e as variaçons noADN mitocondrial, que se trans-mite por via materna.

Interacçomentre História eGenética contra o cancro

Bautista Álvarez ganha I PrémioManuel Maria à Dignidade Nacional

Celebram-se jornadas sobre mulher e políticana Universidade de Compostela, coincidindocom o 8 de Março

REDACÇOM / Bautista Álvarezfoi o ganhador do I PrémioManuel Maria à DignidadeNacional, que consistiu numhapeça desenhada por FranciscoJosé Pérez Porto e num galar-dom que acredita esta condi-çom.Para os organizadores do pré-mio (CIG-Ensino, Associaçomde Escritores em LínguaGalega, Associaçom Sócio-Pedagógica Galega e Mesa polaNormalizaçom Lingüística), afigura de Manuel Maria "nomapenas entesoura um valor lite-rário primordial, mas constitui

um valor social que deve serassumido e reconhecido portoda a populaçom galega comoum exemplo a seguir".Por essa razom, estas organiza-çons estimárom conveniente"reconhecer quem trabalhapolos ideais que ele defendeue praticou", premiando o con-tributo de pessoas ou institui-çons públicas ou privadas quetivessem desenvolvido durante2005 actividades ou iniciativas"com destacadas conseqüên-cias na melhoria da nossa digni-dade nacional" nos ámbitos dadefesa da identidade cultural

ou da responsabilidade social.Bautista Álvarez foi um dosparlamentares do BNG expul-sos do Parlamento da Galizaem 1983, junto com LoisDiéguez e Cláudio LopesGarrido, por nom terem jura-mentado a Constituiçom, ao selhes impor com carácter retro-activo umha disposiçom apro-vada após o golpe de 23-F. Álva-rez sempre se declarou parti-dário da autodeterminaçom daGaliza -se bem que nom aligasse exclusivamente à inde-pendência- e rejeitou a estraté-gia de moderaçom do BNG.

Comuneiros querem que o Estatutoreconheça a propriedade comunalREDACÇOM / O presidenteda Organizaçom Galega deComunidades de MontesVicinais em Mao Comum,José Alfredo Pereira, recla-ma que o novo Estatuto deAutonomia para a Galizareconheça a propriedadecomunal "nas mesmas con-diçons" que a pública e aprivada.Na opiniom de Pereira,esta medida significariaumha nova consideraçomdos montes vicinais e evi-taria "possíveis casos devenda de terreno comunalcomo se fosse terrenomunicipal". Como exemplopara tomar esta determina-

çom, Pereira citou o casoportuguês, cujaConstituiçom reconhece aexistência destes três tiposde propriedade.Por outra parte, o presiden-te dos comuneiros galegosafirmou sentir-se "engana-do" polo Ministério daFazenda, já que "incumpriua promessa de contar comos comuneiros na reformada lei sobre o imposto desociedades e o IRPF, paraacabar tramitando-o semter falado antes connosco".Segundo ele, este imposto"está roubando aos comu-neiros até 25 por cento dosseus rendimentos". No

entanto, Pereira acha que émais grave ainda o facto deque o Governo espanhol"nom figesse caso de umacordo unánime doParlamento da Galiza soli-citando que os montes vici-nais nom computassemneste imposto".Por último, dirigindo-se àAdministraçom, Pereiraapostou na tomada demedidas "que revalorizem omonte" nas dimensons eco-nómica, social e de lazer,além de contribuir paraque seja "umha actividadesustentável" e "umha formade vida que ajude a fixarpopulaçom no meio rural".

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NOVAS DA GALIZA15 de Marçoa 15 de Abril de 2006 08 INTERNACIONAL

INTERNACIONAL

NUNO GOMES / Não queriaescrever este texto. Continuoa não querer. Duvido quevenha a ter vontade de o escre-ver. Mas imagino que, come-çando, ele vai acontecendo.Em conversas entre amigosfala-se recorrentemente dofacto de eu ser da Póvoa deVarzim. Muitos invejam-mepela vida nocturna que tenho àdisposição. Não faço muitousufruto disso. Outros refe-rem-me o mar, e eu concordan-do, relembro a sua importânciarecém-descoberta. De quandoem vez vem à tona o casino,mas como não jogo não comen-to. Muitas das vezes referem-me o caos urbanístico que mol-dou parte substancial da suamarginal. Eu rebato as acusa-ções, reitero a confiança noactual presidente da Câmara,que conseguiu amenizar parteda fúria construtiva dos anos80. Às vezes falam-me doVarzim, que está na segundadivisão. Aí eu admito, cabisbai-xo, que devia ser o meu clube.Para lhes mostrar o quantogosto da Póvoa, apesar de tudo,não toco em nenhum destestemas. Falo das Correntes. Eninguém imagina o que é.

As Correntes d'Escritas são umencontro de escritores. Apesarde ter como subtítulo "encon-tros de escritores de expressãoibérica", não há escritores delíngua euskera ou catalã, ape-nas castelhana e portuguesa. Amaior parte dos escritores que

participam são portugueses.Há também bastantes brasilei-ros, do PALOPs (países africa-nos de língua oficial portugue-sa), latino-americanos em gerale espanhóis. Existem sempreescritores galegos a participar,e a sua origem é referenciadano guia das conferências comosendo da Galiza. Qualquerautor castelhano-falante pro-veniente da Península Ibéricatem como origem Espanha,mas os galegos têm honrasespeciais.Tinha para este ano objectivosespecíficos, que não passavamapenas por escrever no meudiário o dia-a-dia das conferên-cias. Queria conhecer todos osescritores que pudesse, e ima-ginei a desculpa do pedido deautógrafo como o melhor expe-diente para tal. Enganei-me. Oautógrafo serviu-me para falarcom o Manuel Jorge Marmeloe o grande Onésimo Teotóniode Almeida. Mas, para entrarem contacto com toda a gente,o melhor é conhecermos a pes-soa mais popular. Neste casoera o Quico Cadaval. Quiconão estava lá como convidado,mas a sua presença representa-va um pouco da mística doencontro. Muitos dos presen-tes não-convidados, tendoestado ou não em ediçõesanteriores, foram à Póvoa parareencontrar amigos, fazer con-tactos, etc. Tanto a InêsPedrosa (escritora) comoMichael Kegler (editor ale-mão) estavam nessa situação.

Depois de conhecer o Quico,seguiu-se uma catadupa denovas pessoas. Antes da sessãode poesia no hotel, à noite,enquanto esperava o meu fino,meti conversa com o Quico. Asessão acabou, bebi o resto dofino e ia despedir-me do Quicoquando conheci todos osoutros. Carlos Quiroga, GuitaJr. (escritor moçambicano),Ondjaki (angolano, outro quenão tinha sido convidado). Nodia seguinte conheci tambémPedro Sena-Lino, um dosmeus poetas preferidos.Tirando as conferências, àsquais fui com todo o interesse,o que mais me marcou foramas amizades que fiz. O escritoré, em essência, um ser comvontade de conhecer omundo, de falar, comunicar.São invariavelmente sensíveise acessíveis. Até o Mário deCarvalho, um dos maioresescritores portugueses vivos.Quando estava sozinho, apro-veitei para lhe pedir para auto-grafar os livros. Enquanto eleprocurava um sítio para se sen-tar e autografar com calma,reparei que tinha deixado oslivros em casa.Envergonhadíssimo, descul-pei-me e pedi-lhe para adiar oautógrafo. Ele, de uma simpa-tia que já não se usa, respon-deu que sim.

Continua a ser estranho terescrito este texto contrariado.Afinal, a ideia de o escrever foiminha.

DUARTE FERRÍN / Com umha guerra civil no Iraque os EUA conseguiriam con-cretizar no Conselho de Segurança da ONU a intervençom de umha "forçamultinacional de paz" que tenha a NATO como sustento militar, e destemodo retirar as tropas do primeiro plano mediático e fundi-las num 'exerci-to de paz' aparentemente conduzido pola ONU e a NATO. Assim, os EUAcontinuariam a controlar a Administraçom, o petróleo, e os negócios doIraque mediante um governo fantoche e a supremacia da sua força militarsobre a NATO e as potências "aliadas". Além disso um conflito armado gene-ralizado entre sunitas e xiitas reduziria ao mínimo a efectividade e o núme-ro dos ataques diários da resistência contra as tropas invasoras, que andamentre os 50 e 60 diários.

Se bem que a mesquita atacada recentemente tenha um valor simbó-lico para os xiitas, no passado imediato contabilizárom-se dúzias de aten-tados contra mesquitas xiitas, com milhares de mortos e feridos, e nomse produziu nenhuma reacçom ou represália em massa contra sunitas.

A reacçom e as manifestaçons fôrom induzidas polas diferentes fac-çons e religiosos xiitas que respondem à liderança do grande aiatoláSistani, aliado de Washington que colaborou com a invasom norte-americana e tivo um papel decisivo para conter a revolta xiita contra aocupaçom estado-unidense.

Enquanto a imprensa internacional se concentrava na destruiçom demesquitas por parte dos xiitas furiosos, numha operaçom de extermíniomais de umha centena de sunitas, vinculados ou suspeitos de ajudar aresistência iraquiana, fôrom caindo com as balas dos esquadrons da mortexiitas treinados por Israel e os EUA. Estes 'esquadrons da morte' estáminfiltrados dentro dos corpos de segurança manejados polo Ministério doInterior iraquiano do governo colaboracionista e a sua missom é a caça eextermínio de combatentes sunitas.

ALÉM MINHO

EM FEVEREIRO VOU ÀS CORRENTESEUA, Inglaterra e Israelquerem provocar guerracivil no IraqueA CIA, os serviços secretos británicos e oMossad israelita estám a infiltrar e armartanto os 'esquadrons da morte' que actuamcontra os sunitas como os grupos operativosque realizam os atentados bombistas contracivis, instituiçons e centros religiosos xiitas queentom som atribuídos à resistência sunita parapreparar o clima de guerra civil.

FOTOGRAFIA RUI SOUSA

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NOVAS DA GALIZA15 de Março a 15 de Abril de 2006 09OPINIOM

Eis o que somos. A força, aesperança, o lume, aluita, a oposiçom, o com-

bate... o futuro. A mocidade.Como muitos dim, alguns acre-ditam e outros duvidam, somosas moças e os moços a chave doque está por vir. Mas, em quesituaçom nos encontramos?Qual é o panorama que noslegam em que teremos que tra-balhar, organizar-nos e actuar?

O estudantado dos cursosuniversitários, FP's, ciclos...vivem dia-a-dia a reduçom doensino a umha única finalida-de: formar mao-de-obra, repro-dutores do sistema de controloda sociedade. Nada de conheci-mento, de debate desintoxica-do; simplesmente criaçom defuturas e futuros trabalhadoresque sejam úteis ao sistema: àsempresas, às máfias, às insti-tuiçons... ao capital.

E a realidade laboral damocidade trabalhadora nomescapa a esta concepçom decriarmaodeobrabarata-reproduzi-la-perpetuaraengrenagemcapitalis-ta, vendo-se ainda mais agrava-da no caso de umha naçomperiférica colonizada como é aGaliza, onde a situaçom dedependência e a aniquilaçomda mocidade som brutais.

É inegável que, como jovens,nos encontramos numha situa-çom de absoluta desvantagemno mercado de trabalho. Se ataxa de desemprego na Galiza éjá umha das mais altas noEstado (10%), esta afecta espe-cialmente a populaçom deentre 19 e 25 anos, situando-senestas idades em perto de 20%.Ademais, esta percentagemascende a 24,3% no caso de ser-mos mulheres. Portanto,

encontrar um trabalho e inse-rir-se na vida laboral nom énada singelo. E, que acontecequando já se está a trabalhar? Opatronato e o regime aprovei-tam-se cada vez mais da moci-dade operária, levando-nos aumha situaçom de sobre-explo-raçom, insegurança laboral,endurecimento das condiçonsde trabalho, flexibilidade dosdespedimentos, temporalida-de, competitividade doentia…

A maior parte de nós acabamosa trabalhar através de ETT´s,na hotelaria, e a fazer jornadasintermináveis com uns saláriosde miséria. A taxa de precarie-dade no emprego, quer dizer, aquantidade de contratos aprazo em relaçom ao númerode assalariados situou-se em2004 em 31,4%, e bem sabemosque a juventude trabalha comcontratos temporários. E assim,fruto da deturpaçom a que é

submetida a nossa naçom, aque somos submetidos todos etodas nós, criamos umha emi-graçom de novo cunho, que sedirige principalmente a outraszonas do Estado. E continua-mos com o círculo vicioso quenos escraviza…

Perante esta realidade a quesomos submetidas e submeti-dos, nom podemos deixar-noscair no individualismo destruti-vo, na frustraçom, na desilusom.Só se nós quigermos conseguire-mos acabar com o panoramaactual. Como? A resposta éclara: organizando-se, unindo-see luitando. Luitando dia-a-dia,nos nossos trabalhos, organizan-do-nos nos comités de empresa,unindo a força da classe trabal-hadora para reivindicar a aboli-çom dos contratos a prazo e defim de obra, para luitar e acabarcom o pacto social, por umhajornada laboral digna e nominterminável, pola equiparaçomde salários, contra as ETT´s eem prol de um Quadro Galegode Relaçons Laborais.

Está nas nossas maos. Somos aforça, o lume, o combate… o futuro.

Begoña MartínezMembro da Direcçom de Adiante(Mocidade Revolucionária Galega)

O futuro é nossoBEGOÑA MARTÍNEZ

É INEGÁVEL QUE, COMO JOVENS, NOS ENCONTRAMOS NUMHA SITUAÇOM DE ABSOLUTA DESVANTAGEM NO MERCADO DE TRABALHO. SE A TAXA

DE DESEMPREGO NA GALIZA É JÁ UMHA DAS MAIS ALTAS NO ESTADO (10%), ESTA AFECTA ESPECIALMENTE A POPULAÇOM DE ENTRE 19 E 25ANOS, SITUANDO-SE NESTAS IDADES EM PERTO DE 20%. ADEMAIS, ESTA PERCENTAGEM ASCENDE A 24,3% NO CASO DE SERMOS MULHERES.

“QUE TE CRITIQUEM [AZNAR]POR DIZER QUE SÓ HÁUMHA POTÊNCIA MUNDIAL,É QUE NOM SABEM O QUEDIM. OUTRA COUSA É QUETENHA HAVIDO MAIS OUMENOS SORTE NO IRAQUE”Fraga IribarneNa Convençom do PP03.03.2006

“CATALUNHA TORNOU-SEINÓSPITA PARA QUEM NOMÉ NACIONALISTA”Ciutadans de CatalunyaManifesto da apresentaçom dopartido antinacionalista. 01.03.06.

“COM UM GOVERNODEMITIDO, UMHAS PESSOAS,SEM DÚVIDA CHEIAS DEBOA VONTADE, TENTÁROMDAR UM GOLPE DE ESTADO”Fraga IribarneNa Convençom do PP03.03.2006

“A ÚNICA 'BANDA ARMADA'COM QUE COLABOREI ÉA GUARDA CIVIL”Rafa ZouhierCabeçalho de El Mundo sobreas declaraçons do acusado departicipar nos atendados do 11-M01.03.06

“ALGUM DIA OS LIVROSDE HISTÓRIA FALARÁMDO RENASCIMENTOESPANHOL PARA REFERIRO PERÍODO DE AZNAR”Nicolas SarkozyMinistro francês do Interior e'orgulhoso amigo' de Aznar05.03.2006

“CUSTA-ME MUITO IR-ME,MAS SEMPRE ENTENDIM APOLÍTICA COMO UM SERVIÇOPÚBLICO ONDE NOM CABEMOS DESEJOS PESSOAIS”Francisco VázquezNa cerimónia de despedida comoPresidente da Cámara da Corunha08.03.2006

“HOJE O PROBLEMAFUNDAMENTAL JÁ NOM ÉA POLUIÇOM. O QUE SEPASSA É QUE A INDÚSTRIALIMITA A EXPANSOM DACIDADE PARA O MAR”Pérez TouriñoEm relaçom à ENCE de Ponte Vedra14.03.2006

“ASSIM NOM SE PODETRABALHAR. TENHAMOSUMHA TARDE TRANQUILAPORQUE O POVO LHANOVAI-NO AGRADECER”Manuel MarínNo Congresso dos Deputados01.03.06

FOI D

ITO

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REDACÇOM / Ainda que muito pou-cos e poucas utilizem a velha ter-minologia de análise e denúncia,ainda que palavras como 'periferi-zaçom' e 'dependência' saíssem dasuniversidades e parlamentos parase refugiarem nos discursos dasminorias combativas, os dados somesmagadores. A Galiza de 2006afasta-se do país das passadas gera-çons porque se transita em auto-estradas, se comunica com telemó-veis de última geraçom e se inçasem pausa de macrocentros comer-ciais que se erigem em centro delazer maioritário de dúzias decomarcas. Ninguém duvida que amodernizaçom entrou em cheionas nossas vidas e nom há muitoum especialista pedia um bocadomais de pressa a um sector agrárioque nom se extinguia rápido avon-do como para chegar 'aos 5% deocupados que registam os nossosvizinhos europeus'. Ainda, se naEuropa abalam velhas conquistaslongamente desfrutadas, na Galizapodemos modernizar-nos sem che-garmos mesmo a vivê-las.

De facto, o resto da parte oci-dental do Continente nom con-hece um índice de precariedadede 35%, que até mesmo temascendido um ponto desde a apro-vaçom daquela reforma laboralque, após dezassete meses denegociaçons, o PP aprovara com oapoio do PSOE, UGT e CCOO.Se as e os assalariados do nossopaís já se aproximam de 70% dapopulaçom activa e tenhem pro-vado nas próprias carnes os efeitos-chamados flexibilizadores- de umamplíssimo pacote de medidas dedesregularizaçom, os estudos maisdivulgados reconhecem que ocontributo da Galiza ao conjuntodo PIB espanhol desceu desde1980. Som os mesmos que recon-hecem que mais de meio milhomde pessoas vivem nas fronteiras daCAG na pobreza relativa, umdrama silencioso que denunciaCáritas com maior reiteraçom econtundência do que as centraissindicais maioritárias. Ninguémse atreve a fazer prediçons dema-

siado aventuradas, porque o porvirnom se adivinha feliz e ainda nomse conhece freio para a emigraçomde 20.000 moças e moços sobre-qualificados cada ano, nem paraum processo de terciarizaçom ace-lerado que favorece fundamental-mente a hospedaria. Tampouco aadministraçom pública, esse refú-gio em que tantos e tantas des-empregadas procuram um fortimde estabilidade e direitos laboraisblindados, parece ficar completa-mente a coberto do assalto flexibi-lizador. Assim, nesta Galiza quealcançou uns índices de empregopúblico sem precedentes na his-tória, a temporalidade começa aruir os antigos fundamentos daAdministraçom. 18% deste sectorde empregados já trabalham sob asombra do 'fim de contrato'.Opositores galegos som conheci-dos polas seus permanentes 'tours'polas provas que se convocam noresto do Estado, e o exército pro-fissional, deslegitimado e emcerta crise, nutre-se mormente degalegos e estremenhos origináriosdas famílias mais precárias.

Que a realidade se endurece e

que algo falha no mais fundo éalgo que ninguém se atreve anegar, nem mesmo os artíficesdeste panorama laboral atomiza-do e flexibilizado ao limite. "Aacçom sindical nom está a dar oresultado previsto", reconheciammembros do sector crítico doSindicato Nacional de CCOO daGaliza já em 2001, quando estacentral se desmarcara da grevegeral nacional convocada polaCIG e a UGT. A laboral é, inques-tionavelmente, a primeira daspreocupaçons dos galegos e gale-gas, sobressaindo em todas as son-dagens de opiniom por cima daspolémicas mais ou menos virtuaispromovidas polos cabeçalhos dosgrandes jornais. Sectores próxi-mos do patronato tampoucomanejam demasiados eufemis-mos. No passado ano era José LuisFontenla, presidente da CEG,quem declarava a micro aberto "oexcessivamente caro que era parao empresariado manter as actuaiscondiçons laborais" e a urgênciade "tornar mais barato o despedi-mento". Em 2002, um estudo daFundaçom Barrié de la Maza e o

Instituto de Estudos Económicosda Galiza analisava em pormenor arealidade da nossa mocidade tra-balhadora. O certo é que duranteo primeiro ano de emprego amaioria dos moços e moças do Paísnom alcançavam salários de 570euros, quantia estipulada poloactual governo do PSOE e a sua'mesa de diálogo social' comoSalário Mínimo Interprofissional.O mesmo estudo reconhecia aliáso interesse da mocidade galegapor um mínimo de estabilidade, oque levava a maioria dos entrevis-tados e entrevistadas a preferiremum trabalho no sector público aoutro no privado, apesar das pio-res condiçons salariais.Reconhecia-se como razom pri-mordial da prática ausência dematrimónios entre os 18 e os 30anos 'a incerteza sobre o futuro',argumento que também explica adescida das taxas de natalidade.

A gente nova que hoje trabalhasem segurança sobre o porvir, combaixos salários e a pensar numhasobrevivência precária, porventu-ra nom se distingue muito, nesteaspecto, das geraçons preceden-tes. Mas sim o fai num ponto: asobrequalificaçom. Jovens licen-ciados e licenciadas, com nume-rosos títulos e mestrados, domi-nadores de vários idiomas, des-cem degraus na sua formaçompara se iniciarem na 'concorrên-cia' na hospedaria, o transporte ouo comércio. Umha sobrequalifica-çom que nom acha acomodo nummercado laboral superpovoadoacompanha-se de quedas 'empicado' da auto-estima, stress eumhas exigências de bem-estarmaterial idênticas às apregoadaspola indústria mediática. 'Esta éumha das causas mais freqüentesde desordens mentais e transtor-nos na mocidade trabalhadora',afirma Oriol Martí, médico cata-lám envolvido nos movimentossociais e autor de numerosas cola-boraçons em meios alternativossobre a situaçom da juventude noEstado espanhol: "muitas daspolitoxicomanias que estudo ten-

NOVAS DA GALIZA15 de Março a 15 de Abril de 200610 A FUNDO

A FUNDO

Reformas laborais projectadas ameaçamcom agravar retrocesso social maciçoDIRECTIVA BOLKESTEIN E REAL DECRETO-LEI 5/2001 PODERIAM CONSUMAR-SE PERANTE A DESMOBILIZAÇOM GENERALIZADA

Os índices de retrocesso das condiçons de vida da maioria social galega nom som já notíciaprivilegiada da imprensa alternativa. Meios de comunicaçom empresariais e todo o lequepolítico institucional exibem quotidianamente os incontrolados números da precariedadecomo arma de desgaste partidário, enquanto sindicatos estatais e patronato negoceiam nas

mesas e se encontram nas palavras: 'coesom', 'competitividade', 'investigaçom e desenvolvi-mento' parecem ser os pontos de encontro onde se cozinham as duvidosas soluçons do diá-logo social. No entanto, a sombra de duas importantes reformas paira sobre as e os assalaria-dos galegos, que rejeitam na prática e em massa o enquadramento sindical.

Frits Bolkestein, ministro liberal holandês, foi o autor da polémica Directiva sobre Serviços no Mercado Interior,mais conhecida polo seu nome. Entre outros pontos, propom a desregulaçom completa do sector serviços

O ciclo mobilizadorde 2001-2003 deutambém espaçode privilégio àsreivindicaçonsoperárias, e asduas greves geraisconsecutivas quesacudírom a Galizaenfrentárom umPP deslegitimado.O recenteconfinamento dapolítica ao espaçoinstitucional e alouvada ‘mudançatranquila’ escurecemhoje as novasreformas que seaproximam

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NOVAS DA GALIZA15 de Março a 15 de Abril de 2006 11A FUNDO

hem origem em frustraçons deri-vadas das exigências do mercadolaboral, a sobrequalificaçom e umconsumismo compulsivo queteme nom poder continuar quan-do faltar o salário", diz este doutor.

Nom se detém o diálogo socialApesar desta realidade -ou, olhan-do-o de outro ángulo, precisa-mente por ela- o diálogo socialnom se detém. Na CAG, e depoisde ganhar as eleiçons do passadoJunho, Pérez Touriño anunciavacomo umha das suas prioridades"a superaçom da cultura do subsí-dio da etapa Fraga e a abertura deumha etapa baseada na produti-vidade, a investigaçom e o desen-volvimento para alcançarmos aEuropa". Além de comprometer114 milhons de euros para contra-tar 45.000 desempregadas e des-empregados no País, o presidenteda Junta constituiu umha Mesapolo Diálogo Social composta porseis mesas sectoriais rumadas paraachar consensos fundamentais nomundo do trabalho. No entanto,nas zonas mais industrializadas daGaliza -nomeadamente Trás-Ancos e Vigo-Lourinha- sucedem-se os acidentes laborais. Um dosmais recentes, acontecido emMarim, e que matou um operáriode 21 anos da empresa NODO-SA, punha os trabalhadores e ascentrais sindicais na rua e reforça-va o ambiente de cepticismo e

certa resignaçom que se tem apo-derado do mundo do trabalho.

As razons nom som difíceis decompreender. Em mais de 25 anosde monarquia parlamentar, umdiálogo social permanente -rototam só polas greves gerais, entreas quais sobressai a de Dezembrode 88- tem estabelecido constran-gimentos cada vez mais estritosna populaçom assalariada.Decerto, a engrossada administra-çom estatal e autonómica temaberto um espaço privilegiado detrabalhadores e trabalhadoras comdireitos e 'folgança' salarial, mas o'Estado enxuto' nom parece con-sentir mais o crescimento destesector, e muito menos se nom é apartir da desregulamentaçomtotal do resto de sectores. E a des-

cida do desemprego -que abando-nou os números apavorantes demeados de 90, quando atingira24% da populaçom activa- canali-zou-se para a temporalidade e aintegraçom ainda mais conflituosada mulher num mundo laboralque nom a exime do trabalho dolar nom remunerado. Trata-se deumha permanente encosta abaixodesde que em 1980 se aprovaraum Estatuto dos Trabalhadoresfortemente condicionado polapressom social que ainda ecoavano final da Reforma política. Airrupçom do 'pactismo' sindical,assegurado com o primeiro gover-no do PSOE, possibilitou a intro-duçom de até dezasseis modali-dades contratuais, pequena portapola qual penetravam relaçons deatomizaçom, deslocalizaçom etemporalidade; a fraqueza mobili-zadora da década de 90 tambémfoi aproveitada, superados osmomentos críticos da reconver-som naval e desintegrada a grandecapacidade de convocatória dascentrais: em 1994 chegam os con-tratos de aprendizagem -conheci-dos popularmente como 'contra-tos lixo'-, as Empresas deTrabalho Temporário, e a amplia-çom de causas que possibilitam osdespedimentos individuais. Maisadiante, com o PP ainda semmaioria absoluta em 1997, asnovas modalidades de contrata-çom 'para fomentar o empregoindefinido' introduzem a possibi-lidade de indemnizaçons irrisóriasperante o despedimento.

O ciclo mobilizador de 2001-2003 deu também espaço de pri-vilégio às reivindicaçons operá-rias, e as duas greves gerais conse-cutivas que sacudírom a Galiza(2001 e 2002) fôrom mais umhafrente de intervençom social con-tra um Partido Popular deslegiti-mado e incapaz de gerar grandesconsensos. O recente confina-mento da política ao espaço insti-tucional, as polémicas acirradasque a extrema-direita fomentaem Espanha, e a louvada 'mudan-ça tranquila' da autonomia galega

A CIG foi a primeira central sindical em mobilizar-se contra a Directiva europeia. O passado 14 de Fevereiro centosde pessoas saiam às ruas da Corunha contra o agudizamento da precariedade laboral e a desigualdade

Alaboral é a primeira das preocupaçons dos galegos e galegas, sobressaindo em todasas sondagens de opiniom por cima das polémicas promovidas polos cabeçalhos

Mais de dezassete meses levam opatronato espanhol, o governo doEstado e as centrais UGT e CCOOa negociarem o que já é RealDecreto-Lei 5/2001, tornado públi-co a 2 de Março e ainda pendentede ratificaçom polas Cortes.Zapatero, Méndez ou Fidalgo coin-cidírom nas suas perspectivas:"Vamos para a negociaçom com amaior das flexibilidades", afirmou opresidente espanhol; o dirigente daUGT, por seu turno, manifestouque 'nom há pressa nenhuma; otempo nom pode ser obstáculo paraestas negociaçons'. Nom se mostroutam cauto o patronato, que por bocado máximo responsável pola CEOErejeitava o primeiro dos rascunhosdizendo que o texto era 'insuficien-te e, portanto, inegociável'.

Apesar de que o rascunho emquestom aprofunda na linha aber-ta em 1997 -e que na altura mere-cera umha contestaçom maciça-,nem esquerda nem direita insti-tucionais parecem desejar umhapolémica dura, ainda que seja porrazons diversas. Enquanto a extre-ma-direita aguilhoa os fantasmassecessionistas e fai do Estatutocatalám e das negociaçons do PaísBasco os principais cavalos debatalha para a reconquista eleito-ral, um suspeito silêncio caracteri-za o relativo à matéria laboral.Nom raro, quando PP e PSOEvenhem coincidindo, ponto porponto, na direcçom neoliberaliza-dora que tem colocado a Galiza,em vésperas do maior corte defundos de coesom da UE, nunsíndices de temporalidade quesuperam 20 pontos os países vizin-hos. Fontes sindicais comentamque 'a direita dura nom quer dardemasiada notoriedade à reformaque se aproxima, como demonstraa discreçom mantida face ao temados grandes projectos mediáticosligados ao PP; mesmo a CEOEpoderia ficar satisfeita com o con-seguido em 1997 se em troca semantenhem a paz e o diálogosocial'. Quanto à esquerda parla-mentar, nom parece demasiadoesforçada em formular críticasexplícitas que superem o comen-tário de rodapé. FranciscoRodríguez valorizava como "satis-fatórios em termos gerais os dous

anos de governo do PSOE, aindaque se pudesse ser mais valenteem certas questons". Em parecidadirecçom apontava o líder de EUGaspar Llamazares que, porém, iaum bocado mais longe: "Corremoso risco de umha viragem para ocentro em matéria laboral se seconsumar a reforma."

Este silêncio consensual nomdiminui o alcance da reforma."Nem o governo do PP se atreveraa tanto", afirma Antolim Alcántara,membro da Executiva Nacional daCIG. Com efeito, a central sindi-cal nacionalista é a que mais está aincidir na necessidade de umhamobilizaçom contundente, emesmo prepara umha jornada deluita para o próximo Outono.Dizem fontes sindicais "que osilêncio da UGT e CCOO nommostra mais do que o acordo com areforma; isto é, com o barateamen-to do despedimento, a elimina-çom da garantia judicial e admi-nistrativa para os despedimentoscolectivos, que nom se terám queenquadrar em nenhum tipo decausas objectivas, e com a supres-som da indemnizaçom por despe-dimento ao cessar umha subcon-trata". Antolim Alcántara advertecontra a associaçom falsa entre'temporalidade' e 'precariedade',que na sua central estám a pôr emcausa. "O que assegura a qualidadede um emprego -continua o sindi-calista- é antes o tipo de direitosque vam associados a ele e nom asua duraçom'. A CIG nom está sóna oposiçom activa às medidas quese avizinham. Também a CentralUnitária de Trabalhadores aderiuaos protestos no passado dia 10 deMarço com a legenda 'Contra areforma laboral do governo doPSOE'. Forças anarco-sindicalistascomo a CNT e a CGT estám afazer ouvir já as suas vozes nasruas da Galiza, tencionando trans-ferir iniciativas mobilizadoras quetenhem frutificado já emEspanha. No independentismo,NÓS-UP também se pronunciavarecentemente pola necessidadede "unidade e mobilizaçom declasse, seguindo o caminho inicia-do no 14 de Fevereiro com amobilizaçom da CIG contra aDirectiva Bolkestein".

Negociaçons inacabáveise calmaria sindical

No passado ano eraJosé Luis Fontenlaquem declarava amicro aberto “oexcessivamente caroque era para oempresariado manteras actuais condiçonslaborais” e a urgênciade “tornar mais baratoo despedimento”

A Galiza continua a manter uns índices raquíticos de filiaçom sindical (de 6%) e ascentrais dificilmente envolvem o trabalhador ou trabalhadora de novo perfil

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NOVAS DA GALIZA15 de Março a 15 de Abril de 200612 A FUNDO

O 'nom' francês ao tratado cons-titucional nom tem travado avocaçom regressiva da UE emmatéria social. Paralelamente àsmobilizaçons galas contra a novamodalidade de contratos juvenis,umha outra Europa continua aavançar. Expunha-o abertamen-te Pilippe De Buck, presidentedo patronato europeu, mostran-do a sua satisfaçom e perspecti-vas imediatas: "o mercado únicoé um logro fundamental mas, seo foi polos produtos, será-o tam-bém para os serviços".

Essa é precisamente a motiva-çom da Directiva sobre Serviçosno Mercado Interior, mais conhe-cida como Directiva Bolkestein(polo nome do ministro liberalholandês que a desenhou), apro-vada com reformas, e em primeiraleitura, no Parlamento europeu a16 de Fevereiro passado.Dirigentes de CCOO e UGTconsideram-na "tam só umhaameaça que nom se vai consu-mar", daí que concluam que "oParlamento vem de deitá-la porterra". Outras fontes, nom preci-samente caracterizadas polo seuradicalismo político, desmentemeste optimismo. ATTAC, porexemplo, analisava muito recen-temente que "o perigo continua,nomeadamente graças ao entre-guismo de um Partido Socialistaque votou a favor na Europa, emcontradiçom com o seu programade defesa do sector público". Apossibilidade da liberalizaçom deserviços nom foi gorada polo par-lamento, apenas exprimida nou-tros termos. Desta maneira,excepto os serviços postais e aenergia eléctrica e gasista, a mer-cantilizaçom de todos os serviçosultrapassará as fronteiras dosEstados; no rascunho aprovadonom desaparece tampouco aopçom de que se aplique às e aostrabalhadores a legislaçom do paísde origem, sempre que estes figu-

rarem na categoria de 'indepen-dentes'. Perante a insegurançajurídica, os pleitos dirimirá-os aCorte Europeia da Justiça, orga-nismo privado de controlo demo-crático e com um longo historialde sentenças contrárias aos direi-tos sociais.

Que acontecerá na Galiza? Porenquanto, apenas podemos men-cionar os pequenos gomos dedenúncia e mobilizaçom queassomam num panorama de cal-maria generalizada. A CIG foi aprimeira a sair à rua especifica-mente com este motivo, como já

dixemos, mas fontes críticas dosindicato ponhem em causa afocagem da mobilizaçom: "nomfai sentido convocar um acto detal transcendência em horáriolaboral, restringindo a participa-çom a delegados", afirmam.Poderá-se repetir o sucessorecente dos estivadores euro-peus? Nom parece fácil. A Galizacontinua a manter uns índicesraquíticos de filiaçom sindical (de6%) e as centrais dificilmenteenvolvem o trabalhador ou trabal-hadora de novo perfil: jovem,móvel, temporária, pluriemprega-da e alheia por completo à culturade organizaçom. Novas iniciativascontra a precariedade dam os pri-meiros passos noutras coordena-das, como podem ser nascentes'assembleias de precários' emCompostela ou na Corunha, ou oGrupo de Agitaçom Social emVigo. Os próximos anos darámprova da resposta que o neolibe-ralismo merece na Galiza.

O 'nom' francês ao tratado constitucional nom tem travado a vocaçom regressiva da UE em matéria social. Paralelamente àsmobilizaçons galas contra a nova modalidade de contratos juvenis, umha outra Europa continua a avançar

Excepto os serviçospostais e a energiaeléctrica egasista, amercantilizaçomde todos os serviçosultrapassará asfronteiras dosEstados; norascunho aprovadonom desaparecetampouco aopçom de que seaplique às e aostrabalhadores alegislaçom dopaís de origem

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Nova ameaça tecida na EuropaDirigentes deCCOO e UGTconsideram aDirectiva "tam sóumha ameaça quenom se vai consumar".ATTAC, analisavaque “o perigo continua,nomeadamentegraças ao entreguismode um PartidoSocialista que votoua favor na Europa,em contradiçomcom o seu programa

A Directiva Bolkestein adquiriu amplos apoios parlamentares após a sua reforma.Destaca-se por favorecer a deslocalizaçom empresarial e as privatizaçons

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NOVAS DA GALIZA15 de Março a 15 de Abril de 2006 13REPORTAGEM

EDUARDO MARAGOTO / Calabor,Ermisende, Luviám, Porto e asPias tenhem em comum o factode serem as cinco terras galegófo-nas da Seabra. As quatro últimassom também os concelhos maisocidentais da comarca e partilhamo isolamento de qualquer centropopulacional importante, se bemque nom se poda dizer que este-jam mal comunicados, ao serematravessados pola auto-eestradaque comunica a capital do Estadocom a cidade de Ourense.Conformam a Alta Seabra, tam-bém conhecida polas Portelas ouEntre-aas-PPortelas. Nas cámarasmunicipais asseguram-nnos que99% da populaçom fala galego,mas a crise demográfica nomajuda a reivindicarem qualquertipo de direitos lingüísticos.

Apesar de hoje em dia integrar aprovíncia de Samora, ao longo dahistória nom tem havido discre-páncias quanto à filiaçom lingüísti-ca e cultural de Entre-as-Portelas.Da caracterizaçom como 'galega'desta comarca há numerosos teste-munhos, que mesmo chegam aincluir toda a Seabra (cuja capital éa mais populosa Póvoa da Seabra),ainda hoje reivindicada polo inde-pendentismo galego. Porém, aadministraçom política da mesmaencontra-se em Samora desde oprimeiro terço do século XIX.

Separada desde 1833A diminuiçom territorial da velhaGallaecia começou com a indepen-dência do Condado Portucalense, econtinuou séculos mais tarde, como progressivo esvaimento dos limi-tes territoriais dos restos do Reinoda Galiza. No reinado de Felipe IIa Seabra fica pola primeira vez forado Reino, apesar de as referênciasde autores da época continuarem aidentificar a comarca como territó-rio galego. Assim, som numerososos mapas do século XVI(Descripción del Reyno de Galicia,Gallaecia Regnum, etc.) que aincluem entre os limites da Galiza.

Mas esta confusa situaçom serádefinitivamente modificada coma Divisom Provincial de Javier deBurgos em 1833. Já quatro déca-das antes, a Alta Seabra, aindagalega até 1789, fora incorporadaa Valhadolid, talvez por ser oConde de Benavente o proprietá-rio daquelas terras, mas voltara-se a integrar na província deOurense desde 1822 até 1833,ano em que passou definitiva-mente para Samora.

Crisedemográfica:baixamobilizaçomNa actualidade, a escassa importán-cia demográfica da comarca temimpedido a estruturaçom de umhareivindicaçom em prol da galegui-dade da mesma. Tampouco existemcontactos com o movimento gale-guizador da comarca do Berzo (namesma comunidade autónoma),como reconhece Igor Lugris, mem-bro de Fala Ceive, que assegura que"nem sequer existe informaçom,pois ao pertencerem a provínciasdiferentes, os diários de Leom nominformam do que acontece naSeabra". Felipe Lubián, procuradordas Cortes de Castela e Leom e ex-presidente da Cámara que lhe deu oapelido, ratifica esta visom, e acres-centa: "Como é possível o fomentode um associacionismo galeguizadorentre 1.200 galego-falantes?". Empoucas décadas, de facto, os habi-tantes do seu concelho passárom de1.000 a menos de 400. Ainda assim,a associaçom Gente Nova (com asua revista Entre Nós) e o próprioFelipe Lubián tenhem-se significa-do pola defesa da galeguidade cultu-ral e lingüística das Portelas.

A soluçom nas maos de autarcasCom esta situaçom é natural que asaúde da língua na comarca dependasobretudo da iniciativa de autarcascom compromisso cultural. Até hápouco, Ermisende e Luviám repre-sentavam dous modelos absoluta-mente opostos neste sentido. O pre-sidente do primeiro, do PP, falavagalego na casa, mas nem reconheciaa sua língua vernácula como tal nempermitia aos seus alunos (tambémera professor) falarem galego entreeles. O segundo era regido por FelipeLubián (PSOE), o promotor devárias Proposiçons Nom de Lei nasCortes de Castela e Leom que mel-horárom sensivelmente a situaçomdo galego no ensino nesta comunida-de autónoma. Mas esta melhoria sóse verificou no Berzo (onde o ensinoopcional de galego e em galego avan-ça mui lentamente), e ainda nomchegou à Alta Seabra: "O único cen-tro que há nesta zona é o de Luviám,de ensino primário, e conta só com16 alunos; eu valorizei que, se nomsurgia por parte deles ou dos pais,nom valia a pena meter o conflito."

Agora, a presidência de ambas as

cámaras municipais mudou. EmLuviám, Teresa Silva Fernádez (amulher de Felipe Lubián e tambémdo PSOE) é das poucas pessoas dacomarca que nom fala galego, masdefende-o como se fosse a sua lín-gua materna: "O galego é para nóscomo comer ou respirar [...]Sentimo-nos galegos, e as pessoasveem ridícula a polémica políticagerada em Castela e Leom em rela-çom à nossa identidade: vivemos agaleguidade com muita naturalida-de". Apesar de nom o falar habitual-mente, responde às nossas pergun-tas num galego de boa qualidade eassegura que o trabalho galeguiza-dor encetado polo seu homem con-tinua no concelho: "Nos reis damosa cada criança um livro em galego.Numha ocasiom foi de Xavier López[um escritor da comarca] paraverem como na nossa comarca tam-bém se pode produzir cultura gale-ga". Tampouco oculta a alegria porErmisende ter mudado de presi-dente: "Agora é do PSOE; o outrofelizmente está em Samora: alipoderá falar o castelhano que quei-ra." O novo presidente deErmisende chama-se José Ignacio,natural de Castromil. A diferença doanterior, reconhece a identidadegalega da língua que fala, ainda quese queixe de que há palavras da zonaque nom figuram nos dicionáriosnormativos. Assegura-nos que hámuitas outras urgências no concel-ho, mas a língua também figura nasua agenda: "nom há nada firmeainda, mas tenho projectos que nomgostaria de antecipar."

O EstatutoO trabalho de Felipe Lubián em proldo galego nas Cortes e no concelhofoi reconhecido em 2004 com umposto na Real Academia Galega, algoque nem toda a gente aplaudiu emValhadolid. Mas Felipe Lubián pensaque a sua posiçom é compreendidadentro do PSOE, que mesmo estariadisposto a levar o português comosegunda língua estrangeira aos cen-tros fronteiriços da Comunidade.Porém, quando olha para ocidente,nom oculta as simpatias com o BNG,apoiando a proposta de Estatuto emque se possibilita a incorporaçom deconcelhos fronteiriços à CAG. Sólamenta que nom se tivesse feitoem 1980, como ele pedira: "Agora,depois de 25 anos, já é tarde, masnom podo deixar de censurar ahipocrisia de quem agora criticaessa hipótese, pois o estatutovigente em Castela e Leom per-mite a incorporaçom e comunida-des autónomas inteiras."

Onde o problema da língua é a crise demográfica

REPORTAGEM

Felipe Lubián, Carlos Varela Aenlle, Héctor Silveiro, e Domingo Frades entravam na Real Academia Galegano passado Dezembro de 2004, como representantes do galego vivo fora dos limites da Galiza administrativa.

NA ALTA SEABRA A CULTURA GALEGA TEM UM PROBLEMA MAIOR QUE A ADMINISTRAÇOM CASTELHANA: A DESPOVOAÇOM

Nas cámaras municipais asseguram-nos que 99% da populaçom fala galego, mas acrise demográfica nom ajuda a reivindicarem qualquer tipo de direitos lingüísticos.

A escassaimportánciademográfica dacomarca temimpedido aestruturaçom deumha reivindicaçomem prol da suagaleguidade.Tampouco existemcontactos com omovimentogaleguizador doBerzo. Em poucasdécadas, de facto,os habitantes deLuviám passáromde 1.000 a menosde 400. Aindaassim, a associaçomGente Nova (coma sua revista EntreNós) e o próprioFelipe Lubiántenhem-se signifi-cado pola defesada galeguidadecultural e lingüísticadas Portelas

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NOVAS DA GALIZA15 de Março a 15 de Abril de 200614 REPORTAGEM

REDACÇOM / As trabalhadorasgalegas percebêrom em 2004 umsalário 27% inferior ao doshomens. Ademais, a ocupaçomdas mulheres na Galiza em 2005dista oito pontos da média daUniom Europeia dos 25 mem-bros. As mulheres representam52% das pessoas em idade laboralna Galiza mas só 42 por cento dototal da populaçom empregada.É umha realidade laboral no Paísque traz como conseqüência queas mulheres tenham umhas vidaslaborais mais curtas e descontí-nuas, o que se reflecte em quetenham muitas mais dificuldadesna hora de aceder às prestaçonsde desemprego e às pensons.

Democracia paritáriaNo dia 3 de Novembro de 1992adoptou-se na Cimeira EuropeiaMulheres no Poder a Declaraçomde Atenas, que denuncia o déficedemocrático e proclama a neces-sidade de conseguir umha distri-buiçom equilibrada dos poderespúblicos e políticos entrehomens e mulheres. Na actuali-dade, o governo de RodríguezZapatero em Madrid, e o biparti-do PSdG-PSOE e BNG na Galizamantenhem o esquema surgidoda referida declaraçom. O que jáé conhecido como 'democraciaparitária': mesmo número deministras que de ministros,mesmo número de conselheirosque de conselheiras.

A crítica feminista quanto aoequilíbrio governamental degénero pretende desmascarar asdesigualdades no acesso aos pos-tos de poder, nomeadamente dosque ficam por detrás das minis-tras e das conselheiras. No caso

galego, nem Secretarias Gerais,nem organismos públicos nemmeios de comunicaçom públicosrespeitam paridade nenhuma. Opoder continua a ter género mas-culino. É o que Adrienne Rich,poetisa e teórica feminista norte-americana chama 'quota femini-na' e define como 'falso poder'que a sociedade masculina ofere-ce a umhas poucas mulheres,com a condiçom de o usarem para

manter as cousas como estám".Ademais, significa que nom podehaver mais mulheres do quehomens num governo. As estatís-ticas a nível mundial apontamque só 5% dos Estados fôromdirigidos por umha mulher.

A sexualidade adormecidaDepois de décadas de luita femi-nista e de indubitáveis avançosquanto à afirmaçom das mulheres

Feminismo, sempre imprescindível

REPORTAGEM

O passado 11 de Março mais de quinhentas pessoas mobilizavam-se em Compostela convocadas pola Marcha Mundial das Mulheres / NATÁLIA GONÇALVES

NA SOCIEDADE AINDA DOMINAM OS ESTEREÓTIPOS HERDADOS DOS ANTIGOS PAPÉIS MACHISTAS

Apartado 24034 - 28080 - Madrid

É o slogan escolhido neste ano 2006 pola Marcha Mundial das Mulheres. Umha assinaturabem apropriada para o momento que está a viver o feminismo na Galiza. Caminhamos nesteséculo XXI tendo que defender o feminismo como umha ferramenta útil para a mudançasocial. Os avanços atingidos, a pressom e umha maior sensibilizaçom social, conquistas em si

mesmas, trouxo também a ocultaçom de muitas realidades sob umha aparência de igualdade.As agressons , os baixos salários, a prostituiçom, a bulimia e a anorexia, a pobreza... formamparte da vida de milhares de mulheres. O feminismo continua a ser imprescindível porque asmulheres continuamos a querer e a necessitar viver numha sociedade melhor.

Continuam a serestruturaspatriarcais as queconstituem a"normalidade"

Heterossexualidadee monogamiacontinuam a seras condutas percebidascomo 'boas'

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NOVAS DA GALIZA15 de Março a 15 de Abril de 2006 15ANÁLISE

como indivíduos com pleno direi-to de desfrute sobre a sua sexua-lidade, nom podemos deixar deperceber que ainda dominam nasociedade os estereótipos herda-dos dos antigos papéis machistas.Continuam a ser estruturaspatriarcais as que constituem a"normalidade", e a heterossexua-lidade e a monogamia continuama ser as condutas maioritariamen-te percebidas como 'boas', dei-xando-se para outros modelos derelaçom, como muito, a simplestoleráncia, e nem sempre, se bemque no Estado exista um milhomde famílias monomarentais, porpôr só um exemplo.

Numha sociedade que cada diafala de avanços na igualdade dehomens e mulheres nos planosfamiliar e laboral, som ainda o 30%desses homens os que habitual-mente recorrem à prostituiçom naGaliza, deixando fora de jogo a pos-sibilidade de esses pretendidosavanços serem compartilhados poressas mulheres presas de práticasabusivas e violentas que nom famsenom perpetuar a dominaçomsexual dos sujeitos masculinossobre os femininos.

Na Galiza, no ano 2005, publica-vam-se As Terceiras Mulleres deMaría do Cebreiro Rábade Villar,A Palabra das Fillas de Eva deTeresa Moure, Elas e o ParaugasTotalizador de Helena Gonzálezou Love me Tender de AnaRomaní. Análise literária, ensaioou poesia que abrangem a situa-çom e os problemas da mulher dediferentes perspectivas. EmJaneiro deste ano, e ainda que sóse poda ler em espanhol, a edito-ra Horas y Horas publicou Artes

de lo posible de Adrienne Rich,um livro de artigos e entrevistascom a escritora, teórica feministae militante lésbica. Na rede, nassecçons Pam e Rosas do portalwww.rebelion.org e em Mulheresem Rede, de www.nodo50.org,pode ser seguida a actualidadedas organizaçons de mulheres anível internacional, com artigosde investigaçom feminista einformaçom sobre os diferentesconflitos que protagonizam asmulheres em todo o mundo.

Alguns olhares sobre nós

Em 1953 o governo espanhol assi-nava um concordado com a igrejacatólica polo qual a "religiom cató-lica, apostólica e romana continuaa ser a única da naçom espanhola",dando-lhe poder para a censura,adaptando-se o ensino ao dogmacatólico e assegurando-se a sus-tentabilidade económica do clerocom isençom de impostos incluí-da. Em 1979 volta a assinar-se omesmo concordado, com asmudanças que exigiam os novostempos, mas a "lavagem de cara"respeitava os acordos originais de1953, que ainda continuam vigen-tes.

A importáncia de um estadolaico consiste em que o sistemade governo nom impom hegemo-nias educativas, culturais, ideoló-gicas, morais ou religiosas. Se aigreja perdesse tudo isto, desaba-ria todo o sistema que a sustentaassim como o apoio económicoque recebe. No estado espanhol alegislaçom sobre reproduçomassistida, matrimónio, divórcio,aborto e investigaçom em matériareprodutiva está condicionada

polas posiçons da Igreja, factoconhecido pelos legisladores queemitem mensagens tranquiliza-doras para nom serem denuncia-dos os acordos de 1979. Isto é,continuar a reconhecer os privilé-gios em matéria de educaçom,financiamento, património cultu-ral que fam com que a religiomcatólica seja a oficial.

A misoginia das religions apoia-se no medo das hierarquias reli-

giosas de perder o monopóliosobre o bom e o mau. Nomestranha que muitas das campan-has de organizaçons de mulheresinsistam na importáncia de umestado laico.

600.000 mulheres morrem des-necessariamente cada ano comoconseqüência de gravidezes e par-tos; 5,8 milhons de pessoas con-traem a sida e 2,8 morrem anual-mente. A igreja católica mantémumha postura tradicionalista emtemas como matrimónio, abortoou negaçom do uso do preservati-vo e outros métodos anticoncepti-vos mesmo em casos de violaçom.Em 1999 monsenhor ElioSgreccia, vice-presidente daAcademia Pontifícia, assegurouque o uso da pílula do dia depoisera comparável ao aborto, referin-do-se à distribuiçom deste méto-do entre as refugiadas do Cosovo.

A igreja católica opom-se aofeminismo "radical" que equi-para "em tudo o homem e amulher", texto de uma carta dosbispos chefiados polo ainda car-deal Ratzinger.

Em reivindicaçom de umha sociedade laica

As trabalhadoras galegas percebêrom em 2004 um salário 27% inferior ao dos homens. Ademais, a ocupaçomdas mulheres na Galiza em 2005 dista oito pontos da média da Uniom Europeia dos 25 membros / NATÁLIA GONÇALVES

A legislaçomsobre reproduçomassistida, matrimónio,divórcio, aborto einvestigaçom emmatéria reprodutivaestá condicionadapolas posiçonsda Igreja

As mulheresrepresentam 52%das pessoas em idadelaboral na Galiza massó 42 por cento dototal da populaçomempregada. É umharealidade laboral noPaís que traz comoconseqüência que asmulheres tenhamumhas vidas laboraismais curtas edescontínuas,o que se reflecte emque tenham muitasmais dificuldades nahora de aceder àsprestaçons dedesempregoe às pensons

N.G.

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NOVAS DA GALIZA15 de Março a 15 de Abril de 200616 CULTURA

CULTURA

JÚLIO SAIÁNS / A Revolta começouhá três anos o desafio de recuperarum símbolo da nossa rica culturalpopular, umha personagem saídado fundo do Berbês marinheiro. Apartir de um artigo de um jornalviguês que fazia mençom à figurado Merdeiro -em que setransformavam os marinheiros naépoca do entrudo-, começou aprocura das suas origens, as suascircunstáncias, e até a suadesapariçom. No ano 2005,Gerardo Fernández Sam Tomé,um professor que tinha feitoumha investigaçom autodidactasobre o assunto, passou polocentro Social para ministrar umhaconferência. E a partir daí fôromos estudos e desenhos de JoaquimLourenço "Jocas" ou VicenteRisco, as fotografias da época ediversos informantes os queajudárom a completar os dadosnecessários para a caracterizaçomda personagem.

O Merdeiro é talvez a únicapersonagem do Entruido urbanoda Galiza. Os marinheiros daribeira do Berbês escolhérom-napara ridicularizar os labregos quevinham das zonas rurais próximasde Vigo para recolher o escabiche(refugalhos do trabalhomarinheiro), pedaços de peixe ousimplesmente para limparem os

poços negros da cidade, obtendoestrume para as leiras. Esteslabregos, chamados escabicheiros,vinham durante a noite e levavamum candeeiro atado à cintura parailuminarem os poços negros. Naparódia, os marinheiros vestiamroupa de camponeses, exagerandoos ornamentos, com o propósitode os escarnecerem. Assim,levavam a camisa de fora, cousaque nom era habitual econsiderada de mal gosto. Naparte de trás do colete levavamdesenhos de animais ou luas eestrelas...

À cintura levavam umha faixa oucorda em que penduravam réstiasde cebolas e na parte de dianteumha vassoura velha simulandoumha candeia. Sempre iam comumha vara na mao. Sobre a cabeça,com pelo de lá, um chapéuimitando o pucho dos labregoscom formas animais, quasesempre umha galinha. Com aintençom de assustar e, da mesmamaneira que muitas outraspersonagens do entrudo galego, oMerdeiro, nas suas saídas, arrojavaalgo às pessoas que encontrava nocaminho, neste caso escabiche oupeixe podre.

O magnífico trabalho derecuperaçom levado a termo polocolectivo viguês completou-se

com a realizaçom das máscaras, oelemento de que menosinformaçom se tinha. Apesar denom dispormos de dadostotalmente fiáveis, supom-se quedeveriam ser o mais ridículas efeias possível. Pancho Álvarezencarregou-se do seu desenho eelaboraçom.

O Merdeiro sempre tivoinimigos. O mais característico dapersonagem era a exageraçom davestimenta do labrego e o seucomportamento social anárquico emal educado. Se é verdade que ofranquismo e a repressom operseguiu e o proibiu, aprecipitaçom da sua desapariçomtem antes a ver com o desenho deum Entruido enlatado e decomparsa alheio à realidade quenos rodeia. A perda dos valorestradicionais desta festa popularpom em perigo a recuperaçomdestas entranháveis figuras e detantas outras cousas que nosimpedem realizar-nos comogalegos e galegas.

Sobre esta personagemrecuperada, o Centro SocialRevolta e a Associaçom vicinal ecultural Casco Velho de Vigoeditou um livro de Gerardo F. SamTomé que leva por título: OMerdeiro: umha Personagem doEntruido Viguês .

INÁCIO GOMES/ Há quem entendaque nom chega com cantar bempara que umha voz destaque; épreciso, também, que seja origi-nal, peculiar, e sem dúvidaalgumha a de Sorkun cumpreestas duas características. Desdeos seus primeiros passos comKashbad, em meados da décadade 90, a sua voz começou a des-tacar no panorama musicalbasco, chamando a atençom dediversos projectos musicais echegando a colaborar, entreoutros, com Negu Gorriak, JoxeRipiau ou Ekon. Mas nem tudoterminou com Kashbad e logochegariam outros projectos edous discos exclusivos: o primei-ro foi Onna (Metak, 2002), umdisco bastante diferente ao quetraz debaixo do braço para estamini-turné, no sentido de queera um trabalho mais contun-dente, mais roqueiro até. EmDuna (Kontrakalea / Metak,2005) encontramos algo maisíntimo, diferente. Ela mesmaexplica a evoluçom: "Bom, sim,realmente é mui diferente, foipensado para musicar um filmede surf. Por isso começamos coma electrónica e os teclados."Sorkun e a sua banda estarám devisita este mês, tocarám no dia24 na sala DZINE de SamSadurninho (Ferrol) e no dia 25na sala Iguana de Vigo: boasoportunidades para desfrutar aovivo de umha das vozes domomento. Isto foi o que nos con-tárom:- AAo vivo... É um concerto derock, contam-se cançons commuitos matizes diferentes massoa basicamente a rock. Creioque é interessante.- QQue andas a ouvir agora?Pois por exemplo MIA, Qotaa,

Fu -Manchu, Gentelman e TheMars Volta. Nom sei, no meucarro há mil cd's a dar voltas.- EEncerramento de Metak, umdos selos com que tens trabalha-do... A mim, nom me surpreendee penso que o melhor é assumi-lo quanto antes. Nom se podeconcorrer com a internet, oemule… Seria estúpido tentarque nom se copiem os cd's: esseformato já está obsoleto. Eu nomvivo das vendas, vivo dos concer-tos, assim que suponho que tudoo que seja um intermediárioentre artista e público irá des-aparecendo: discográficas, distri-buidoras…- PProjectos: estás a preparar umtema em japonês...Estou, mandamos a música paralá e estám a ver, mas já nos dixé-rom que havíamos de poupar mileuros para viajarmos com toda abanda até ali, assim que já se nosfoi um pouco a vontade (risos).- NNem tudo há de ser música, eos filmes?Pois os mais actuais. Crash, evi-dentemente: alegro-me de queganhasse, umha pessoa sai docinema a abalar e isso para mimtem muito valor. TambémHistória de umha Geisha: a históriaé preciosa, mas esteticamente émelhor ainda. Há um momentoem que ela dança que é digno deser copiado para um concerto derock.- QQuestionário rápido:o que é que che dim asseguintes palavras?Morphine: Protecçom SouthPark: Kenny Kashbad: famíliaOdon Elorza: gargalhadaProceso de paz: vital Bjork: abo-rrecimento ETB: querer e nompoder Kortatu: FermínPortishead: elegáncia, classe

A Revolta recupera a figuradoMerdeiro viguês

Sorkun, mini-turné galega

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Nacho, delegado da selecçomnacional de futebol

NOVAS DA GALIZA15 de Março a 15 de Abril de 2006 17CULTURA

Falava eu há já por volta deum ano (NGZ nº 28) danecessidade estratégica

que temos os e as galegas deapagar a raia que nos separa dose das nossas irmás portuguesas.No PGL temos a certeza deque este deve ser um dosnossos objectivos principais.Até hoje já temos avançado umalgo mais, ao integrarmos nonosso Conselho de Redacçomum colaborador portuguêsestável. Chegam-nos agora maisnotícias que confirmam que otrabalho encetado polo PGLcomeça a dar resultados.

De 18 a 26 de Março vaitranscorrer a Semana da Galizaem Braga. Umha iniciativa quenasce de utentes ecolaboradores do PGL sob oguarda-chuva de ATTAC-Braga. Serám uns lindos diaspara o reencontro entre duaspólas de um mesmo povo. Estasemana de actividades épromovida por movimentos debase portugueses, mas seremosas e os galegos os protagonistas.Teremos que mostrar essa outraGaliza que deseja integrar-se erecuperar protagonismo naLusofonia. Teremos de ajudar aque também as e os nossosirmaos apaguem a sua raia. Comcerteza que muitas e muitosficarám surpreendidos daGaliza que vam poder ver, ouvir,sentir e até provar.

Entre outros muitosparticipantes e colaboradores, oPGL, a AGAL e as suasiniciativas, propostas etrabalhos também estarámpresentes.

ANA ROCHA / Precisamos deumha lampreia fumada. Pomo-la a demolhar o dia anterior.Antes de levá-la à brasa, raspa-mo-la com umha faca. Tiramos-lhe a espicha (pele) da parteesquerda e untamos com tou-zinho e umha pinga de azeite.Agora para a grelha, com a pele

por baixo, e vamos dando-lhe vol-tas. Com lume brando na brasa,em 10-12 minutos teremo-lapronta.Numha bandeja pomos rodelasde cebola cortadas bem fininhas,sobre as quais colocamos a lam-preia em pedacinhos pequenos. Ea comer!

ARROZ COM CHÍCHAROS

Lampreia na brasa

JOÃO AVELEDO

PORTAL GALEGO DA LÍNGUA

Acorda a Primavera noCourel e verdes diversossobem, devesa acima, para

os "tesos cumes que olham delonge". São as devesas os bosquesmilenários do Courel, umterritório que se estende entreQuiroga, Oência e o Zevreiro.Devesas como as da Rogueira,Romeor, Faro, Rio Cereija, FonteFormosa, Cervo, Paderne...Lugares de encontro das floraseurosiberiana e mediterrânea, étal a riqueza botânica queencerram, que sendo o Courelarredor de 1% da superfície galegaalberga 40% das suas espéciesvegetais.

Refugiada nas abas do PicoFormigueiros (1.643 m dealtitude), achamos a maisconhecida destas florestas, aDevesa da Rogueira. Nos seuspouco mais de 200 hectares desuperfície encontramos mais de700 plantas distintas. NaRogueira convivem, formandodiferentes estratos de vegetação,castanheiros, aveleiras, azinheiras,carvalhos de três espéciesdiferentes, azevinhos, faias (quetêm aqui um dos pontos maisocidentais da sua distribuição),teixos, vidoeiros, tramazeiras...

O Courel também destaca pelasua fauna, com mais de 160espécies de vertebrados. Sabemestas montanhas de águias-reais

(em grave risco de extinção nonosso país), de charrelas (agoraautênticas rarirades), de lobos,martas, arminhos, gatos-bravos...e ainda de algum urso, visitanteocasional. E continuam a guardarmemória de cabras-bravas,camurças e galos-monteses que ashabitaram algum dia, não hámuito.

A sua riqueza natural passatambém por ser esta serra um dospontos geológicos estruturaismais importantes da PenínsulaIbérica. Achamos xistos(piçarras), quartzitas e calcários,existindo nesta comarca ao redorde cem grutas calcárias e,precisamente, numa delas mora ogalaicodytes caurelensis, umescaravelho único no mundo, quetem os seus parentes maispróximos nas selvas da América

Central. Nestas covas tambémpodemos encontrarimpressionantes estalactites eestalagmites, assim como fósseisdo gigantesco urso-das-cavernas.Pequenas lagoas, como a deLucença, salpicam estas paragens,nelas ainda se deixam ver aspegadas da época glaciar. Domiradoiro de Campodola-Leixazós contempla-se umespectáculo geológicoexcepcional na Europa, umadobra sinclinal a céu aberto,colossais forças tectónicas fizeramcom que a montanha "dobrasse" e,em Campodola, é mesmo como seas entranhas da Terra se abrissemperante os nossos olhos.

Começamos e acabamos comNovoneyra, o poeta do Courel,para dizermos: aqui sente-se bemo pouco que é um homem.

A GALIZA NATURAL

Imagem de Carnabudos no Courel

UM LIVRO:A Trégua, de Mario Benedetti Um grande escritor queseguim durante muitos anos.

UM DISCO:O Muro, de Pink Floyd. Dosvelhos tempos, um LP com-pletíssimo. Naquela altura sig-nificou umha autêntica revolu-çom musical.

Courel, onde sempre foi bosque

Nesta secçom vai-se tratar otema do sex-oo a partir doparadigma do facto sexual

humano frente ao modelo doplaneta "prazer-genitália".

O objectivo principal écontribuir a entender, a nosentendermos. Falará-se, claro quesim, de genitais e de prazer, masnom será esse o cerne: nom somosconas, nem caralhos, nemorgasmos andantes; mas simsomos seres sexuados quefocalizam ou nom nos genitais osseus encontros e que tenhemorgasmos, ou nom. Seres que,inevitavelmente, se sexuam,entendendo por sexuaçom esseprocesso polo qual ao longo das

nossas biografias nos vamosconfigurando como mulheres,homens... com um arco infinito dematizes que nos caracterizamcomo pessoas únicas e irrepetíveis.Se é um facto biográfico nom podeser estático.

Na construçom da pessoasexuada intervenhem elementossexuantes diversos que vam desdeos genéticos até os relacionais,passando polos de nascimento,assinaçom, emocionais, condu-tuais, morais, rólicos, estere-otípicos, simbólicos...

Estes elementos sexuantes,ademais de nos construírem, vaminfluir em como nos vivemos, emcomo nos vemos e sentimos (ou

seja, na nossa sexualidade -com osmatizes da hetero-homo-...-sexualidade- ) e evidentemente nanossa erótica (os jeitos deexpressom de tudo o que somos esentimos através dos desejos,fantasias, gestos e práticasamatórias, do relacional, doencontro com a outra/ com o outro/

Se somos 'os sexos', porque vemsendo sexo só umha determinadaparte do nosso corpo, porque sóumha determinada maneira deerótica...? Pois a cousa dá ou nomche dá que roer?

"Dá-lhe a volta, dá-lhe a volta, dá-lhe a volta e ao cantare, dá-lhe a volta,dá-lhe a volta que ainda nom lha sabesdare".

A CONJUGAR O VERBO SEXUAR Começamos, com este número, a publicaçom de umha série de artigosdedicada à sexualidade do ponto de vista do feminismo, da autoria da

nossa colaboradora habitual Beatriz Santos.

UM WEB:www.vieiros.com Na verdade nom navego muito pola rede, masdas poucas vezes que o fago costumo visitar Vieiros para meinformar da actualidade galega.

POLOS OLHOS DE....

BEATRIZ SANTOS

Sexo, sexualidade e erótica

Semana da Galiza em Braga

MIGUEL R. PENAS

Teremos quemostrar essaoutra Galiza quedeseja integrar-see recuperarprotagonismo

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NOVAS DA GALIZA15 de Março a 15 de Abril de 200618 E TAMBÉM...

“A ideia surge de um grupo demoços e moças da comarca conhe-cidos entre nós de terem partici-pado já em diferentes movimen-tos sociais. Compartilhamosinquietaçons e vimos a necessida-de de cobrir um vazio cultural,com o olhar posto sobretudo nagente nova. Num primeiromomento trabalhamos na confec-çom da própria associaçom, que seapresentou em Agosto do ano pas-sado, sempre com a ideia, a médioprazo, de habilitarmos um espaçofísico onde pudéssemos desenvol-ver as actividades da associaçom.”

À diferença de outros locaissociais, este local é próprio deArrincadeira, ainda que no futuroé provavel que sejam integradasmais associaçons.

Dentro das actividades que des-envolvem organizam jornadas,conferências, roteiros para dar aconhecer o património natural ecultural da comarca, projecçons,cursos de música tradicional gale-ga, etc. Em Dezembro passadorealizaram umha exposiçom deautocolantes políticos dos anos 70

e umhas jornadas de debate com onome “A reforma da constituiçome os estatutos: a questom nacionala debate” em que participáromBernardo Valdês, Xosé ManuelBeiras e Mendez Ferrín.

Também estám a trabalhar no3º numero de um boletim queeditam chamado Cavado a Man.“Começamos a andar há pouco eainda nom nos propugemos nemnos propugérom fazer parte dacoordenadora nacional de centrossociais, ainda que é evidente queexistem afinidades entre a filoso-fia deste e dos outros locais sociaisque existem polo País”.

“A maior das nossas ambiçons épôr a andar o local e que funcione.Pensamos que, à diferença deoutros locais que estám em cida-des ou vilas maiores, aqui temos ocondicionante de estarmos numhavila com poucos habitantes enumha comarca onde a maioria dagente nova está fora, a estudar oua trabalhar, problema que afectametade das pessoas que decidi-mos fundar a associaçom, mas éum condicionante que já conhecí-

amos desde o primeiro dia.”Assentar a base social e que seconverta num local de referênciana comarca é outro dos seus objec-tivos. Já som cinqüenta associadose associadas e ainda nom há ummês que abrírom, “mas tentamosque os sócios e sócias se impli-quem nas actividades e no trabal-ho diário e que o compromissonom fique unicamente no paga-mento das quotas.”

O local disporá de biblioteca esala de reunions e já decidiramestabelecer un mínimo de activi-dades mensais que serám sobretu-do aos fins-de-semana, já que demomento só abrem às sextas,sábados e domingos desde a tar-dinha até a noite.

“Sobre a resposta das pessoaspensamos que estamos a ofereceralgo novo e sobretudo a abrir umespaço que responde à procuraque havia de actividades destetipo, polo qual aguardamos ter umbom acolhimento, já que o dia dainauguraçom a assistência foimuito boa.” Adiante entom,Arrincadeira.

DE BASE

NATÁLIA GONÇALVES / Arrincadeira. Esse é o nome donovo espaço para a mocidade do Ribeiro. Arrancáromem Fevereiro deste ano, mas o projecto já estava nassuas mentes desde há meses. Construir um local de

ócio alternativo, criar consciência, promover edivulgar a cultura e a língua galegas, trabalhar contraa desídia e a passividade da gente nova som algunsdos objectivos marcados.

Arrincadeira:“Queremos abrir um espaço paraactividades e assentar a base social”

MISÉRIAS DO AUDIOVISUAL GALEGO

AUDIOVISUAL

COMBA CAMPOY, ALBERTE PAGÁN

XIS COSTA

Do compromisso com a língua (III)

"As pessoas que fam cinema somfilhos de pais burgueses. Incorporamao seu trabalho as debilidades dasua classe decadente. Comoresultado, o cinema -arte popularem essência- é fabricado e dirigidopor homens cada vez maisdistanciados do povo." Sompalavras de Renoir, em 1936.Décadas despois Godardcriticava o facto de o cinemamundial estar feito por homensbrancos ocidentais (a custa dasmulheres, dos nom brancos, dosnom ocidentais).

Hoje, continuamos a tersaudades do compromissopolítico e social (e lingüístico)da gente do cinema. Semanadas letras/imagens galegas noCGAI corunhês, 2005: de umhadúzia de títulos exibidos, só umpar fôrom em galego. Comomostra de Vídeo Galego nomestá mal. Que cada pessoa seexpresse no idioma que lhepete, faltaria mais. Masachamos em falta ocompromisso do artista, dacriadora, com a realidade, o deRenoir em 1936 ou o de Godardem 1968. Um compromisso quenas artes das letras é mais firmee mesmo tem certo prestígio,mas está totalmente ausente nomundo audiovisual galego.

A língua galega só se utilizaquando subvençons obrigam(autoridades: tomem nota).Mas trata-se de um usolitúrgico e forçado, umpequeno contratempo que sehá de suportar. Os filmesrodam-se em castelhano(Finisterre, El lápiz delcarpintero, este último"baseado no romance publicadopor Alfaguara", segundo os seuspróprios créditos) para acontinuaçom ser dobrada para o

galego (mas, quanto a nós,sempre preferimos as versonsoriginais, que lhe vamos fazer).Villaverde afirma cuidar muitoas dobragens galegas dos seusfilmes. Nom se entende entomporque em Fisterra todo omundo fala galego, seja emMadrid ou em Lisboa, exceptoa personagem de GeraldineChaplin, cujo inglês preferiulegendar. No cinema franquistatodo o mundo falava comsotaque de Valladolid. Nom vaisendo hora de respeitar adiversidade, de deixar que osmadrilenos falem castelhano,que os lisboetas falemportuguês, que Chaplin faleinglês e que os galegos falemgalego, mesmo nas ruas deMadrid? Chamam a istonormalizaçom lingüística?

Isto acontece porque importamais o mundo do cinema que opróprio cinema, o tapetevermelho que o celuloide, osprémios que a arte. Referimo-nos àqueles que abarrotam oTeatro Principal na gala dehomenagem a Manoel deOliveira e logo abandonam aplateia durante a projecçom dosseus filmes. Os mesmos queinventam um festival"internacional" chamado Curto-circuito (lema, "nom te curtes",mal traduzido do espanhol, paraque nom se perda o jogo depalavras; a dobragem aplicadaaos títulos dos festivais) onde oque menos importa som osfilmes, onde o que mais importaé o tapete vermelho e a 'gala' naChocolataria à qual, após aentrega de prémios, só se podeacudir com convite. Retonhosburgueses engomados jogando aHollywood.

Viva o espectáculo!

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NOVAS DA GALIZA15 de Março a 15 de Abril de 2006 19DESPORTOS

DESPORTOS

REDACÇOM / O triatlo conta compoucos anos de existência, tanto anível mundial como na Galiza, se ocompararmos com outras modali-dades semelhantes. Mas os êxitosrecentes dos nossos triatletasestám a contribuir para o cresci-mento de um desporto definidopolos seus praticantes como"espectacular, apaixonante, indivi-dual e de resistência". Um "três emum" que se compom das seguintesdisciplinas: nataçom, ciclismo ecorridas a pé. Seguindo esta ordeme sem tempos mortos, quer dizer, ocronómetro nom para enquantodura a competiçom.

As diferentes categorias da com-petiçom estabelecem-se em fun-çom das distáncias: sprint (0,750km de nataçom, 20 km de ciclismoe 10 km de corrida), olímpica (1,5;40; 10), dupla olímpica (3; 80; 20)e tripla olímpica (4; 120; 30).Existe umha categoria absolutamasculina e outra feminina, paraalém das categorias cadete, junior,sub-23 e veterano 1, 2 e 3. O triatloé a mais conhecida de um conjuntode modalidades similares: duatlo(corrida - ciclismo - corrida), triatlode Inverno (corrida - ciclismo -esqui de fundo), aquatlo (corrida -nataçom - corrida).

Para além destas modalidadesreconhecidas pola ITU(International Triathlon Union),existem outras modalidades: triatlocorta-mato (nataçom - ciclismotodo-o-terreno - corrida por qual-quer tipo de superfície); duatlocorta-mato (corrida por qualquertipo de superfície - ciclismo todo-o-terreno - corrida por qualquer tipode superfície ) e quadratlo (nataçom- canoagem - ciclismo - corrida). Na

Galiza existem 15 clubes de triatlo,adscritos à Federaçom Galega deTriatlo, cujos e cujas triatletas parti-cipam em diferentes provas, algum-has do máximo nível, tanto a nívelinternacional como a nível galego.

A organizaçom destas últimasincluem-se no Circuito Galego deTriatlo, que consta de quatro provaspontuáveis para o CampeonatoGalego (Ponte Vedra, Lugo, VilaGarcia e Corunha), 2 triatlo popula-res (Alhariz e Oleiros), além de 2 pro-vas fora de circuito (Vigo e Vila deCruzes) e um triatlo de montanha.Na Galiza realizam-se muitas outrasprovas de triatlo, duatlo e aquatlo.

Neste sentido, o campeonatogalego de aquatlo realizou-se emFerrol no mês de Junho e oCampeonato Estatal de

Autonomias terá lugar emCompostela nos dias 18 e 19 deMarço, e a Galiza é umha dasgrandes favoritas em muitascategorias. O crescimento destedeporto deve-lhe muito, semdúvida, aos importantes logrosde triatletas como o ordenseIvám Ranha e o ferrolano XavierGomes Noia.

O palmarés de Ranha é especta-cular, situando-se como um dosdesportistas galegos mais laurea-dos de todos os tempos.Campeom da Europa duas vezes(2003 e 2002), subcampeom em2001, campeom do mundo em2002, subcampeom em 2004 e2003 e um quinto posto nasOlimpíadas de Sidney, além de teratingido em várias ocasions o pri-

meiro posto em provas pontuáveispara a da Taça do Mundo. Atéagora, só nom saboreou prémiosmaiores nos Jogos Olímpicos.

Por sua vez, Gomes Noia estáchamado a ser o sucessor de IvámRanha, depois de superar os seusproblemas com a FederaçomEspanhola de Triatlo que lhe tinharetirado a licença para competirargumentando motivos de saúde.O ferrolano, campeom do mundosub-23 em 2003, fora excluído poreste motivo da lista para os JogosOlímpicos de Atenas, decisom quegerou umha formidável polémicano triatlo estatal. No entanto, istonom foi impedimento para queGomes Noia continuasse crescen-do como triatleta.

No começo de Março confirmoua sua alternativa para optar a tudona Taça do Mundo. Gomes Noiafoi segundo na Taça do Mundo deAqaba (Jordánia), segunda provapontuável do calendário de 2006,enquanto o seu companheiro IvámRanha assinava um sexto posto. Otriatleta galego dominou a prova doprincípio ao fim e só foi superadono sprint final polo grandíssimotriatleta ucraniano Polikarpenko.

Desta maneira, Gomes Noiasitua-se no terceiro posto da classi-ficaçom mundial depois de serdécimo na primeira prova de Doha.O domínio dos galegos a respeitode outros triatletas de outras partesdo Estado pode comprovar-se seanalisamos a classificaçom da provade Doha. O melhor classificadodepois dos galegos foi um catalámque finalizou décimo sétimo. Comcerteza, os nossos dous triatletascontinuarám a dar êxitos de primei-ra magnitude ao desporto galego.

Taça do Mundo de Triatlo de Aqaba confirma Galiza como potência mundial

O crescimentodeste deportodeve-lhe muito,sem dúvida, aos importanteslogros de triatletascomo o ordenseIvám Ranha e o ferrolano GomesNoia, segundona Taça de Aqaba

O magnífico segundo posto conseguido polo triatletagalego Xavier Gomes Noia na segunda prova do calendá-rio da Taça do Mundo de Triatlo, voltou a pôr de actuali-

dade este desporto. Desde que um galego de Ordes, IvámRanha, se converteu no melhor triatleta do Mundo, o tria-tlo açambarca na Galiza cada vez mais presença mediáti-

ca e atençom de adeptos, para além de um cada vez maiornúmero de praticantes. Existem 15 clubes, adseridos áFedraçom Galega de Triado.

O palmarés de Ranha é espectacular, situando-se como un dos desportistas galegos mais laureados

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APARTADO 39 (15701) COMPOSTELA - GALIZA / TEL: 630 775 820 / PUBLICIDADE: 699 430 051 / [email protected]

Umha vez, visitava eu umadmirado vulto da cultura gale-ga, um quase devanceiro. Euostentava umha camisola (emLisboa, T-shirt) com um retratode Gerónimo e um texto: Emgalego, sem reservas. O históri-co galeguista dixo: "Mira pòíndio que bem fala português".Eu alarmei-me , se alguémculto como ele era impermeá-vel à minha propaganda lusista,as esperanças de convencer ascamadas iletradas e castelaniza-das de metrópoles, esvaeciam-se como lágrimas na chuva. Oreintegracionismo, aproximar ogalego à escrita do português, éumha corrente bem antipáticapara o povo beneficiário.

Porquê? Será porque nosafastamos do espanhol, a línguaque come pantrigo e nom broaazeda? Nom tal. É porque oreintegracionismo, modestomovimento cultural, incontes-tável no plano teórico, é umtobo de antipáticos.Publicamente, só utilizam anossa ortografia os WarChildren dos movimentospatrióticos que, fascinados polo'tz' do basco, querem fazer o 'nh'igualmente temível para oassustado império espanhol.

Em segundo lugar, aparecemcachorros miméticos do rockradical (kanha!!) que para o dia aseguir do concerto vestem a gra-vata e o espanhol, e em terceirolugar os piores, os que falam por-tuguês de Lisboa (umha línguacapitalina com os mesmos defei-tos do madrilenho e do parigien)para se distinguirem do povo,num acto de arribismo de ori-gem traumático-infantil (quelhes aconteceria nas primeirasromarias?!), que dizem atelier,bolota, workshop, comboio, e sópodem falar bem na sua gerigon-ça quando se reúnem com os dasua seita. Um aviso: podes serreintegracionista e falar galego.

Um escuro plano: quandoalguém é mui antipático o mel-hor que pode fazer pola causa, épassar-se ao inimigo e despres-tigiá-lo. Falade espanhol, apátria agradecerá o leve e dolo-roso sacrifício.

OPINIOM 2EDITORIAL 3NOTÍCIAS 4INTERNACIONAL 8

A FUNDO 10REPORTAGENS 13CULTURA 16DESPORTOS 19

QUICO CADAVAL

Elogioda traiçom

"O humor galego é um sinal de identidade que seusa como escudo e espada simultaneamente"

- TTanto acreditades no poder dohumor para transformar, ou sim-plesmente vestir, a realidade nua?- Acreditamos. O humor é umhapoderosa arma de guerrilha,sobretudo para o galego e a galega.O humor galego é um sinal deidentidade e muitas vezes usa-secomo escudo e espada simultane-amente: possivelmente seja amelhor arma que desenvolveu acolectividade galega na história.É um humor reflexivo que deixano rival sempre um interroganteincendiário; e também serve paradizer sem dizer muitas cousasque som, digamos, inomináveis.

- CComo nasceu Aduaneiros?- Embora aduaneirossemfrontei-ras sempre existisse no tempo eno espaço, o certo é que foi nomês de Março de 2004 quandoiniciou a sua caminhada na rede.

- IIronia, retranca... o nome já éumha declaraçom de intençons...- Certo, o nome diz tudo, faireflectir sobre a existência dasalfándegas ou a ausência destas;de um colectivo profissional órfaoda sua própria definiçom.

- EE sem fronteiras que vigiar, quese pode fazer?- Apesar do nome nom somosumha ONG no sentido habitualque se dá a este termo associati-vo; somos antes um órgao deexpressom e reflexom interessadono que é a identidade cultural donosso país nos actuais tempos demudanças sucessivas e repentinas. Desde que começou a caminha-da da obra social já organizamosdous concursos de 'fotografia ane-dótica' que ao meu ver confor-mam um valioso banco de ima-gens definitórias da nossa realida-

de e que podem ser consultadascomo documentaçom gráfica. Ocarácter popular destes recursosé especialmente importante paranós. Assim, também, trabalhamosnum seminário de recuperaçomtipográfica objecto de estudo queacreditamos ser também repre-sentativo de umha identidadetipográfica própria.

- EE é que a "globalizaçom" levouao desemprego muitos aduanei-ros, nom é? Quantos sodes ecomos vos relacionades?- Estamos, para além de eumesmo, o Berto e a Aduaneira; averdade é que a forma organizati-va é pontual, e geralmente nomnos vemos os rostos, mantemosconversas quase sempre na dis-táncia, algumhas vezes com mil-hares de quilómetros entre nós, ede sítios dispares. Hoje a tecnolo-gia permite trabalhar num com-boio, num café, na casa oumesmo num chanço na rua, umhaitineráncia que também é defini-tória do que é o ente galaico.

- TTambém investigades "os san-tos mistérios da sociedade, polí-tica e cultura galegas, de umponto de vista humorístico". Queconclusom tirades?- Bom, o interessante de todoeste projecto é ver a reacçom dagente, porque realmente é a

gente a que entranha os santosmistérios sócio-culturais da gale-guidade, ao terem um contactodirecto favorecido polo formatoblogue. O que acontece em cadatema apresentado é que este inci-de como um espelho da socieda-de que se expressa em prol, con-tra ou como lhe peta, e é estamesma a que reage criando deba-te. As propostas gráficas som sim-plesmente propostas a debater,ou a opinar, nom por nós, maspolo público em geral.

- EE, polo que se vê, o públicoreage muito positivamente aovosso trabalho...- Pois parece ser que assumiu ASFde um jeito positivo ou polomenos isso é o que costumamexpressar. Ainda que, se dixessemoutra cousa, havia-nos de dar omesmo, seguramente.

- CContra Fraga ria-sse melhor?- Buff, evidentemente DomManuel era um 'filom'. Quandomudou o governo muitos humo-ristas gráficos botárom as maos àcabeça. De facto, acho que lhefigérom umha homenagem. Háque entender que Dom Manuel aestes efeitos foi matéria prima deprimeira qualidade. Eu tambémtivem uns minutos de niilismo.Depois dixem para mim: bom,agora vem o difícil!

ALONSO VIDAL / O humor é o mensageiro da mensagem, dizem. Nelevai, embrulhada para o sorriso, a ideia a combater. Por esse motivo é àsvezes tam contundente. Noutras ocasions empurra-nnos a reflectir sobreos restos do naufrágio antes de nos convidar amavelmente a umha novasingradura. É por isso que é tam necessário. Nesta terra onde até ospatriarcas também quereriam ser humoristas... sabemo-llo bem. E àmenor ocasiom armamo-nnos de retranca e combatemos. Se nom ganha-mos a batalha, sempre fica ao menos o sorriso cúmplice.. Pánchez cres-ceu na freguesia viguesa de Beade, co-ffundador no exílio do sítio webaduaneirossemfronteiras, actualmente mora na Galiza e desenvolve a suaactividade profissional como desenhador e criativo. Estivemos a falar comele. Informalmente, claro. Nom poderia ser de outra forma.

PANCHEZ ADUANEIROS SEM FRONTEIRAS