FENÔMENOS DE CONTÔRNO DE GRÃO EM CERÂMICAS À BASE ...
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UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA - UNESP
INSTITUTO DE QUÍMICA DE ARARAQUARA
FENÔMENOS DE CONTÔRNO DE GRÃO EM
CERÂMICAS À BASE DE SnO2
Goran Branković
Tese apresentada ao Instituto de Química de Araraquara-UNESP para obtenção de título de Doutor em Química na área de concentração de Físico-Química.
Orientador: Prof. Dr. José Arana Varela
ARARAQUARA
2002.
COMISSÃO EXAMINADORA
Prof. Dr. José Arana Varela (orientador) - Instituto de Química-
UNESP/Araraquara
Prof. Dr. Celso Valentim Santilli - Instituto de Química-UNESP/Araraquara
Prof. Dr. Edson Roberto Leite - Universidade Federal de São Carlos
Prof. Dr. Renato de Figueiredo Jardim - Instituto de Física/USP/ São Paulo
Prof. Dr. Reginaldo Muccillo - Instituto de Pesquisa de Energia Nuclear-
Comissão Nacional de Energia Nuclear/ São Paulo
ÍNDICE
ÍNDICE DE FIGURAS.............................................................................................................. I
ÍNDICE DE TABELAS............................................................................................................ V
RESUMO................................................................................................................................. VI
ABSTRACT........................................................................................................................... VII
1. INTRODUÇÃO............................................................................................................... 1
2. OBJETIVOS.................................................................................................................... 3
3. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA.................................................................................. 4
3.1. CERÂMICAS À BASE DE SnO2............................................................................... 4
3.2. BARREIRAS DE POTENCIAL NOS CONTORNOS DE GRÃOS.......................... 6
3.3. O MODELO DE FORMAÇÃO DAS BARREIRAS DE POTENCIAL EM
VARISTORES DE SnO2.......................................................................................... 10
3.4. ESPECTROSCOPIA DA IMPEDÂNCIA EM MATERIAIS
POLICRISTALINOS................................................................................................ 12
3.5. OS DESVIOS IMPORTANTES DO MODELO "BRICK-LAYER"....................... 18
3.6. TEORIA DOS FRACTAIS....................................................................................... 23
3.7. A APLICAÇÃO DA TEORIA DOS FRACTAIS NOS
RESULTADOS DE ESPECTROSCOPIA DE IMPEDANCIA............................... 27
4. PROCEDIMENTO EXPERIMENTAL............................................................... 33
5. RESULTADOS E DISCUSSÃO............................................................................. 36
5.1. DT E TG ANÁLISES................................................................................................ 36
5.2. ANÁLISE DE DILATOMETRIA............................................................................ 38
5.3. ANÁLISE DE DIFRAÇÃO DE RAIOS X (DRX)................................................... 42
5.4. ANÁLISE MICROESTRUTURAL.......................................................................... 44
5.5. ANÁLISE ESPECTROSCÓPICA............................................................................ 55
5.6. CARACTERIZAÇÃO ELÉTRICA.......................................................................... 61
5.6.1. OTIMIZAÇÃO DAS CONDIÇÕES DAS MEDIDAS ELÉTRICAS........... 61
5.6.2. ESPECTROSCOPIA DE IMPEDÂNCIA...................................................... 65
5.6.4. MEDIDAS ELÉTRICAS COM CORRENTE CONTINUA (dc).................. 70
5.7. MODELO DE FRACTAL PARA O CONTORNO DE GRÃO............................... 74
5.8. AS DIMENSÕES DE FRACTAL DAS AMOSTRAS DE
SnO2 PURO E SnO2 DOPADO............................................................................... 79
6. CONCLUSÕES............................................................................................................ 84
REFERENCIAS................................................................................................................ 86
I
ÍNDICE DE FIGURAS
Figura 3.1. Barreira de potencial no contorno de grão (EV-nível da energia da zona
de valência, EC-nível minimo da energia da zona de condução, EF-nível de Fermi dentro
de grão, EFn-nível de Fermi dentro do material de contorno de grão, d-largura da camada
da depleção, B-altura da barreira, nt-densidade superficial de cargas armadilhadas) [35]........7
Figura 3.2. Barreira de potencial no contorno de grão com voltagem aplicada [35].................9
Figura 3.3. Representação esquemática do modelo de defeito atômico proposto para
descrever a barreira de potencial no contorno de grão de varistores à base de SnO2............. 10
Figura 3.4. (a) Os resultados das medidas de um material no intervalo largo das
frequências (Rel, Cel-resistência e capacitância das elétrodos, Rgb, Cgb-resistência
e capacitância dos contornos de grãos, Rg, Cg- resistência e capacitância dos grãos),
(b) circuito equivalente dos resultados mostrados na Figura 3.4a [40]................................... 14
Figura 3.5. (a) Um exemplo de relaxação não-Debye, (b) Circuito equivalente
conteúdo elemento CPE [46]................................................................................................... 15
Figura 3. 6. (a) Plano complexo ZRe - ZIm do semicírculo com o centro abaixo
do eixo-x ( é o ângulo de depressão), (b) o gráfico de Nyquist de acordo com
Cole-Cole (CC) e Davidson-Cole (DC) equações ( = 1 - = 0.8)....................................... 17
Figura 3.7. O modelo "brick layer" [54]................................................................................. 18
Figura 3.8. (a) Esquema do modelo "brick-layer", e os desvios importantes: (b) grãos
não cubicos, (c) contornos de grãos com inomogeneidade lateral, (d) o impacto
de uma distribuição de diferentes contornos de grãos no material [59]................................... 19
Figura 3.9. Microestrutura que conte a distribuição inomogenea de tamanho de
grãos (aglomeração de grãos menores) e espectro de impedância obtido pela simulação
dessa microestrutura [56, 59]................................................................................................... 20
Figura 3.10. A influência dos contatos não ideal entre os grãos (inomogeneidade
lateral). Todos contornos de grãos são idênticos, mas consistem de duas regiões:
fase isolante (preta) e n pontos idealmente conductivos (branco) [57, 59].............................. 21
II
Figura 3.11. A influencia de distribuição de condutividade dos contornos de grãos:
(a) distribuição Gaussiana (escala log), (b) distribuição muito larga [59].............................. 22
Figura 3.12. Os tipos de sistemas desordenados: (a) sistema ordenado,
(b) desordem fraca, (c) desordem forte (anisotrópico, auto-afinidade),
(d) desordem forte (isotrópico, auto-semelhante) [61]............................................................ 24
Figura 3.13. Cobertura da linha com quadrados com extensão 1 ou 2 [62]......................... 25
Figura 3.14. Fractais deterministicos: (a) Croche do Sierpinski, D = ln3/ln2;
(b) D = ln4/ln3 [65]................................................................................................................. 26
Figura 3.15. (a) fractal deterministico, D = ln3/ln2, (b) fractal randômico,
D = ln3/ln2 [62]....................................................................................................................... 27
Figura 3.16. Modelo do Kaplan et al. [71]............................................................................. 29
Figura 3.17. O circuito equivalente por interface metal-eletrólito [71].................................. 29
Figura 5.1. Curvas da DTA e TG dos pós dopados com 2% Co(CH3COO)2......................... 37
Figura 5.2. Curvas da DTA e TG dos pós dopados com 2% Cr(NO3)3.................................. 37
Figura 5.3. Curvas da DTA e TG dos pós dopados com 2% citrato de Nb............................ 38
Figura 5.4. Curvas de dilatometria de SnO2 puro em O2 e ar sintético................................... 39
Figura 5.5. Curvas de dilatometria das amostras dopadas com 0,25% CoO.......................... 40
Figura 5.6. Curvas de dilatometria das amostras dopadas com 0,1% Cr2O3.......................... 40
Figura 5.7. Curvas de dilatometria das amostras dopadas com 0,5% Nb2O5......................... 41
Figura 5.8. Difratogramas de raios X das amostras: (a) SnO2 puro,
(b) 98% SnO2 + 2% CoO, (c) 99% SnO2 + 1% Nb2O5 e (d) 99% SnO2 + 1% Cr2O3............. 42
Figura 5.9. Parâmetros da rede de SnO2, a e c, bem como volume, V, de cela de
unitária, em função da concentração de dopantes: (a) CoO, (b) Cr2O3 e (c) Nb2O5............... 43
Figura 5.10. Micrografias: (a) SnO2 puro e (b) 99% SnO2 + 1% CoO.................................. 45
Figura 5.11. Mapas de EDS da amostra dopada com 2% de Co2+.......................................... 46
Figura 5.12. Os espectros de EDS na região do poro (a) e dentro do grão
(b) da amostra dopada com 2% de Co2+.................................................................................. 47
Figura 5.13. Micrografia da amostra 99% SnO2 +1mol% Nb2O5.......................................... 48
Figura 5.14. Os mapas de EDS da amostra dopada com 2% Nb5+ íons (fase 2- poro)........... 49
Figura 5.15. Os espectros de EDS da amostra dopada com 2% Nb5+ íons............................. 50
III
Figura 5.16. Micrografias: (a) 99% SnO2 + 1mol% Cr2O3,
(b) 99,9% SnO2 + 0,1mol% Cr2O3....................................................................................... 50
Figura 5.17. Mapas de EDS de amostra dopada com 2% de Cr3+ (Região
1-aglomerado de SnO2; Região 2-grãos pequenos no contorno dos aglomerados)................. 52
Figura 5.18. Os espectros de EDS nos dois tipos dos grãos da amostra dopada com
2% de Cr3+ (a) Região 1-aglomerado de SnO2, (b) Região 2-grãos pequenos no
contorno de aglomerados)........................................................................................................ 53
Figura 5.19. MEV de SnO2 dopado com todos os três dopantes: a) S1 e b) S4..................... 54
Figura 5.20. Mapas de EDS da amostra dopada com todos os três dopantes......................... 54
Figura 5.21. Os espectros de refletância difusa obtidos na região do comprimento de onda
do visível e próximo infravermelho (a) das amostras do SnO2 puro e SnO2 dopado com
CoO, Cr2O3 ou Nb2O5, (b) da amostras dopadas com diferentes concentrações de CoO....... 56
Figura 5.22. (a) Os espectros de transmitância das amostras do SnO2 pura e SnO2
dopado com CoO e Cr2O3, (b) ampliação do mesmo espectro na região 400-800 cm-1.......... 58
Figura 5.23. (a) Os espectros de transmitância das amostras dopadas
com Nb2O5, (b) ampliação do mesmo espectro na região 400-1000 cm-1............................... 59
Figure 5.24. (a) Os espectros de refletância difusa das amostras do SnO2
puro e SnO2 dopado com CoO, Cr2O3 ou Nb2O5, (b) ampliação do
mesmo espectro na região 400-1200 cm-1................................................................................ 60
Figura 5.25. Espectros de impedância das amostras 99,5% SnO2 + 0,5mol% Cr2O3
com eletrodos (a) tinta de prata, (b) metalizado com ouro...................................................... 62
Figura 5.26. Espectros de impedância das amostras 98% SnO2 + 2mol% CoO
com eletrodos (a) tinta de prata, (b) metalizado com ouro..................................................... 63
Figura 5.27. Espectros de impedância da amostra 99,975% SnO2 +
0.025mol% Cr2O3 na atmosfera do (a) N2 e (b) ar seco........................................................ 64
Figura 5.28. Espectros de impedância da amostra 99,95% SnO2 +
0.05mol% CoO na atmosfera do (a) N2 e (b) ar seco............................................................ 65
Figura 5.29. Espectros de impedância da amostra 99% SnO2+1mol% CoO.......................... 66
Figura 5.30. Espectros de impedância da amostra 99% SnO2+1mol% Cr2O3........................ 66
IV
Figura 5.31. Grafico de Arrhenius das amostras dopadas com 1% Co2+,
medidas em ar seco e N2.......................................................................................................... 67
Figura 5.32. Gráfico de Arrhenius das amostras dopadas com 0,05% Cr3+........................... 68
Figura 5.33. A dependência da R com a concentração de Nb5+.............................................. 69
Figura 5.34. (a) Espectros de impedância da amostra 99% SnO2+1mol% Nb2O5,
(b) circuito equivalente............................................................................................................ 70
Figura 5.35. Campo elétrico vs. densidade de corrente da amostra
S1: 98,9% SnO2 + 1% CoO + 0,05% Cr2O3 + 0,05% Nb2O5.................................................. 71
Figura 5.36. Mudança da voltagem em função de tempo, para diferentes
valores de corrente da amostra S1............................................................................................ 72
Figura 5.37. Campo elétrico vs. densidade de corrente da amostra de composição S6.......... 72
Figura 5.38. Mudança de voltagem em função do tempo, para diferentes
valores de densidades de corrente da amostra S1.................................................................... 73
Figura 5.39. Campo elétrico vs. densidade de corrente das amostras de
composições S4, S7, S9 e S10................................................................................................. 74
Figura 5.40. Região da vizinhança do contorno de grão, considerada no modelo fractal...... 74
Figura 5.41. (a) Contorno de grão como um plano liso, (b) distribuição
inomogênea de defeitos do contorno de grão que resulta em resistências diferentes.............. 75
Figura 5.42. Modelo auto-similar de superficie da região perto do contorno de grão............ 76
Figura 5.43. O circuito equivalente para modelo dado na Figura 5.42................................... 77
Figura 5.44. As mudanças de dimensão de fractal, capacitância e lnR em função da
temperatura das amostras (a) SnO2 puro, (b) SnO2 com 1%CoO, (c) SnO2 com 0,1% Cr2O3,
(d) SnO2 com1% Nb2O5, (e) 98,9% SnO2 + 1% CoO + 0,05% Cr2O3 + 0,05% Nb2O5.......... 80
Figura 5.45. Dimensão de fractal das amostras dopadas com a) Cr2O3 e b) CoO.................. 81
Figura 5.46. Dimensão de fractal, capacitância e lnR em função de temperatura da
amostra dopada com 1% de Co2+ a) em ar, b) em N2.............................................................. 82
V
ÍNDICE DE TABELAS
Tabela 4.1.- Reagentes químicos utilizados com suas respectivas características.................. 33
Tabela 5.1. Os valores de tamanho médio de grão e densidade.............................................. 45
Tabela 5.2. As análises seminquantitativas de EDS de cerâmica à base de SnO2.................. 48
Tabela 5.3. Tamanho médio de dois tipos de grão em função de concentração de Cr2O3...... 51
Tabela 5.4. Os valores da banda proibida óptica das amostras do SnO2 puro
e SnO2 dopado com CoO, Cr2O3 ou Nb2O5............................................................................ 57
Tabela 5.5. Energias de ativação de condução de cerâmica à base de SnO2.......................... 68
VI
RESUMO
A investigação da influência dos dopantes (Co2+, Cr3+ ou Nb5+) na microestrutura e
especialmente nas propriedades elétricas de cerâmicas à base de SnO2 foi realizada. As
amostras de SnO2 dopadas foram preparadas pelo método de decomposição e evaporação de
soluções e suspensões para alcançar uma alta homogeneidade de distribuição do dopante ao
longo do contorno do grão de SnO2. As amostras foram caracterizadas pelos seguintes
métodos: difração de raios X, MEV, EDS, medidas de densidade, espectroscopia de
impedância, espectroscopia nas regiões do visível, infravermelho próximo e infravermelho.
Baseado nesses resultados foi determinada a influência de cada dopante em particular nas
propriedades elétricas, estrutural e microestrutural das cerâmicas à base de SnO2.
As amostras dopadas com três dopantes foram preparadas utilizando o mesmo método
de decomposição e evaporação das soluções e suspensões. Para otimizar a composição, um
conjunto de amostras foi preparado. A otimização das composições foi baseada nas medidas
elétricas com corrente continua (dc) e analise microestrutural. A seguinte composição
apresentar melhores propriedades: 99,15% SnO2 + 0,75% CoO + 0,05% Cr2O3 + 0,05%
Nb2O5. Essa composição tem coeficiente não linear igual de 35, o campo elétrico de ruptura,
KC, igual a 316 V/mm e densidade de corrente da fuga, jL, igual a 0,86 A/cm2.
Um novo modelo fractal para a região do contorno do grão de materiais cerâmicos foi
desenvolvido. O modelo considera a distribuição inomogênea de portadores de carga na
região próxima ao contorno de grão como a causa principal da relaxação não-Debye.
Considerando o circuito equivalente, a impedância da região do contorno do grão foi
determinada. Foi verificado que a função de impedância desse circuito tem a forma da
equação de Davidson-Cole. Baseado nesta equação, as dimensões fractais da região do
contorno do grão das amostras de SnO2 dopadas foram calculadas e comparadas.
VII
ABSTRACT
The influence of dopants (Co2+, Cr3+ ou Nb5+) on the microstructure and especially
electrical properties of the SnO2 based ceramics was investigated. Doped SnO2 samples were
prepared by the method of evaporation and decomposition of the solutions and suspensions.
This method was applied to reach higher homogeneity of the dopants distribution along the
SnO2 grain boundaries. Samples were characterized by the following methods: X-ray analysis,
SEM, EDS, density measurements, impedance spectroscopy, visible, near IR and IR
spectroscopy. The influence of each dopant, on the electrical, structural and microstructural
properties of the SnO2 based ceramics, was determined.
Samples doped with all three dopants were prepared using the same method of
evaporation and decomposition of the solutions and suspensions. One set of samples with
different dopant concentration was prepared to optimize the composition of the ceramics. The
optimization of the composition of the ceramics was based on dc electrical measurements and
microstructural analysis. The following composition was proposed as the optimal: 99.15%
SnO2 + 0.75% CoO + 0.05% Cr2O3 + 0.05% Nb2O5. Samples of this composition have the
nonlinearity coefficient equal to 35, the breakdown field equal to 316 V/mm and the leakage
current density equal to 0.86 A/cm2.
A novel fractal model for the grain boundary region of the ceramics materials was
developed. The model considers inhomogeneous distribution of the charge carriers in the
region close to the grain boundaries as the main reason of non-Debye relaxation. Based on
equivalent circuit considerations, the impedance of the grain boundary region was determined.
It was found that impedance function of this circuit is in the form of the Davidson-Cole
equation. Based on this equation, fractal dimensions of the grain boundary region in doped
SnO2 ceramic samples were calculated and compared.
Introdução 1
1. INTRODUÇÃO
Um dos materiais cerâmicos importantes que mereceu investigação intensa é a
cerâmica à base de SnO2. É conhecido que cerâmicas à base de SnO2 podem ser usadas na
produção de sensores de gás, em dispositivos eletroquímicos, em eletrodos para fusão de
vidros, bem como em varistores. Um dos principais problemas no processamento dos pós de
SnO2 é a baixa densidade da cerâmica final, devido à alta pressão de vapor do SnO2 em altas
temperaturas. Os problemas de densificação das cerâmicas de SnO2 podem ser resolvidos pela
adição de pequena quantidade de CoO, MnO2, ZnO, e de alguns outros aditivos.
Outros aditivos, tais como Cr2O3, Nb2O5 e Ta2O5 são utilizados comumente para
melhorar as propriedades elétricas. Normalmente vários dopantes podem ser adicionados ao
mesmo tempo no sistema, para se obter melhores microestrutura e propriedades elétricas.
Entretanto, é difícil de se determinar a contribuição específica de cada dopante nas
propriedades elétricas. A ausência dos resultados de caracterização de cerâmica de SnO2 com
apenas um dopante, está relacionada com problemas nas medidas elétricas em amostras
porosas. A aplicação da cerâmica de SnO2 depende das suas propriedades elétricas que são
relacionadas com estrutura eletrônica, bem como com a microestrutura dos contornos de
grãos. A análise detalhada da influência de um dopante nas propriedades de contorno de grão
permite o controle e planejamento das características das cerâmicas. É de grande importância
verificar se o dopante segrega no contorno de grão ou se incorpora ao grão ou mesmo se muda
o parâmetro da célula unitária, bem como determinar o estado de valência do dopante dentro
de SnO2. A combinação dos diferentes métodos de caracterização pode fornecer todas essas
informações.
Propriedades específicas de dispositivos cerâmicos eletrônicos tais como capacitores,
varistores PTCR, bem como sensores de gás são conseqüências de processos que ocorrem no
contorno de grãos e interfaces. Contornos de grãos nos materiais policristalinos são
especialmente importantes no caso dos contornos de grãos com alta resistência ou com alta
condutividade comparado com a resistência dos grãos. Contornos de grãos com alta
resistência têm influencia nas propriedades totais do material e são muito importantes na
tecnologia, especialmente nos dispositivos como varistores, termistores e capacitores. Na
Introdução 2
maioria dos casos contornos de grãos com alta resistência são obtidos e modificados de
acordo com a aplicação especifica.
A maioria dos processos que ocorre nos contornos de grãos e nas interfaces, ainda não
está bem explicados. Existe um certo número de modelos que explicam alguns dos
fenômenos, mas normalmente esses modelos não estão de acordo com os dados experimentais
existentes na literatura.
O modelo comumente usado para interpretação dos resultados de medidas elétricas é o
modelo de "brick-layer". Esse modelo de microestrutura de cerâmica é idealizado e não dá
bons resultados em muitos casos. Recentemente várias tentativas baseadas na espectroscopia
de impedância para explicar e para modelar propriedades de contornos de grãos com alta
resistência em cerâmica real, foram publicadas. Nestes trabalhos foram considerados os
impactos de desvios importantes do modelo de "brick-layer". A influência destes desvios na
precisão dos resultados foi considerada e foi encontrado que o modelo não dá bons resultados
em alguns dos casos. A necessidade de alguns modelos novos que consideram a presença de
defeitos e inomogeneidades, bem como uma microestrutura não ideal, foi confirmada.
As propriedades de contorno de grão em dispositivos cerâmicas foram investigadas
usando vários métodos de medidas elétricas. Um desses métodos é espectroscopia de
impedância que é uma técnica muito conveniente por ser barata e relativamente simples. Esse
método permite a separação da região de contorno de grão da resposta da cerâmica. Na
maioria dos casos a resposta elétrica do contorno de grão mostra relaxação não-Debye. Há
algumas funções empíricas que descrevem relaxação não-Debye, mas a explicação física
deste fenômeno ainda não foi dada.
Esta tese trata os fenômenos de contornos de grão em cerâmica à base de SnO2, mas ao
mesmo tempo foram feitos grandes esforços para desenvolver um modelo novo que trata
relaxamento de tipo não-Debye nos contornos de grão. O modelo deve ser aplicável não
somente em varistores de SnO2, mas também em outros materiais que contêm contornos de
grãos com alta resistência.
Revisão bibliográfica
4
3. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA
3.1. CERÂMICAS À BASE DE SnO2
SnO2 tem estrutura tetragonal do tipo rutilo com grupo especial P42/mnm. Os
parâmetros característicos da célula de SnO2 são os seguintes (PDF: 41-1445):
a = 4,7382(4)10-10 m V = 71,5510-30 m3
c = 3,1871(1) 10-10 m = 6,99103 kg/m3.
SnO2 é semicondutor do tipo n e os defeitos principais são vacâncias de oxigênio [1].
Tem zona proibida larga (na literatura podem se encontrar os valores 3,5-3,9 eV [1]) e grande
valor de mobilidade dos elétrons em comparação com maioria dos outros óxidos [2]. Por
causa da alta concentração dos portadores livres (1020 cm-3), o SnO2 mostra condutividade d.c.
que facilita sua aplicação [3].
As cerâmicas à base de SnO2 podem ser usadas na produção de sensores de gás [4-10],
em dispositivos eletroquímicos, em eletrodos para fusão de vidros [11], bem como em
varistores [12, 13]. Um dos principais problemas no processamento dos pós de SnO2 é a baixa
densidade da cerâmica final, devido á alta pressão de vapor do SnO2 em altas temperaturas.
Os problemas de densificação das cerâmicas de SnO2 podem ser resolvidos pela adição de
pequena quantidade de CoO, MnO2, ZnO, e de alguns outros aditivos [14-17]. No caso geral,
dopantes com estado de valência de +2 promovem densificação de acordo com a equação
seguinte [22]:
)(2
12
"2 gOVMMO OSnSnO (3.1)
A formação das vacâncias de oxigênio aumenta a difusão pelo rede de SnO2, favorecendo a
densificação [23]. Estados de valência do cobalto e manganês variam quando se aumenta a
temperatura e levam à formação das vacâncias de oxigênio o que acontece de acordo com as
equações seguintes [15]:
Revisão bibliográfica
5
xO
xSn
SnO OMnMnO 222 (3.2)
xOOSn
SnO OVMnOMn 32 '32
2 (3.3)
xOOSn
SnO OVMnMnO ''2 (3.4)
xOOSn
SnO OVCoCoO ''2 (3.5)
xOOSn
SnO OVCoOCo 32 '32
2 (3.6)
O aumento de concentração das vacâncias de oxigênio também tem influência nas
propriedades elétricas dos materiais.
Outros aditivos, tais como Cr2O3, Nb2O5 e Ta2O5 são utilizados comumente para
melhorar as propriedades elétricas de SnO2 para aplicação como varistores. A introdução de
Cr2O3 na rede de SnO2 resulta em substituição de Sn4+ por Cr3+ de acordo com a reação
seguinte [14, 24]:
xOOSn
SnO OVCrOCr 32 '32
2 , (3.7)
Além disso, dopagem com Cr2O3 pode resultar em microestrutura mais homogênea [13].
Os dopantes com estado de valência de +5, tais como Ta2O5 ou Nb2O5 aumentam a
condutividade eletrônica em SnO2 por causa da substituição de Sn4+ por Ta5+ ou Nb5+ [15, 24-
27]:
xOSnSn
SnO OVNbONb 1042 ''''52
2 . (3.8)
Há alguns outros dopantes que são normalmente usados na preparação de cerâmica à
base de SnO2 para diferentes aplicações, tais como Sb2O3 [2, 3, 28], CuO e TiO2 [28, 31],
Bi2O3 [32], etc. Normalmente vários dopantes podem ser adicionados, ao mesmo tempo, no
Revisão bibliográfica
6
sistema para se obter melhores microestrutura e propriedades elétricas. No caso dos varistores
à base de SnO2 vários dopantes devem ser combinados para melhorar a densidade e obter
propriedades elétricas desejadas.
Foi confirmado que varistores à base de SnO2 contém somente uma fase, ao contrario
de varistores à base de ZnO que normalmente contém três ou mais fases [13, 33]. Essa é a
maior vantagem de varistores de SnO2. Estes varistores são materiais com somente uma fase e
por causa disto o efeito de varistor pode se relacionar somente com existência de barreira de
potencial nos contornos de grãos. As barreiras de potencial são formadas durante do
tratamento térmico do material e são as razões principais para a existência dos contornos de
grãos com alta resistência.
3.2. BARREIRAS DE POTENCIAL NOS CONTORNOS DE GRÃOS
A origem da barreira pode ser entendida baseada no experimento hipotético
introduzido por Pike [34, 35], que considerou a formação de contorno de grão, unindo dois
semicondutores de grãos idênticos com camada interveniente de material de contorno de grão
(Fig. 3.1).
Supõe-se que o material de contorno de grão consista do mesmo material
semicondutivo como nos grãos, mas que contenha defeitos e dopantes. Como resultado, seu
nível de Fermi é diferente dos dois grãos, e também tem estados eletrônicos dentro da zona
proibida por causa dos defeitos e dopantes. Os três pedaços de material são unidos para
formar a região de contorno de grão. Para atingir o equilíbrio termodinâmico, elétrons fluem
até conseguir que a energia livre de Gibbs por elétron tenha o mesmo valor em todos os
lugares. Neste modelo simples, elétrons fluem para o contorno de grão onde serão
armadilhados pelos defeitos e dopantes, para aumentar o nível local de Fermi até igualar o
valor do material. No equilíbrio, a energia química ganha pelo elétron que ocupa um estado, é
igual à energia eletrostática gasta pelo movimento do elétron do interior para os contornos de
grãos. O resultado deste equilíbrio é que os elétrons armadilhados agem como uma folha de
carga negativa no contorno e deixam para trás uma camada de doadores positivamente
Revisão bibliográfica
7
carregados em ambos os lados do contorno, criando um campo eletrostático com uma barreira
de potencial no contorno.
Figura 3.1. Barreira de potencial no contorno de grão (EV-nível da energia da zona de
valência, EC-nível minimo da energia da zona de condução, EF-nível de Fermi
dentro de grão, EFn-nível de Fermi dentro do material de contorno de grão, d-
largura da camada da depleção, B-altura da barreira, nt-densidade superficial de
cargas armadilhadas) [35].
Supondo que a natureza discreta de carga possa ser ignorada, a magnitude da barreira
de potencial pode ser calculada resolvendo a equação de Poisson para o potencial (x),
conhecendo-se a densidade das cargas no contorno de grão, (x):
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8
0r2
2 xx
dx
d
)(
)( , (3.9)
onde o r é a permitividade relativa do material e 0 é a permitividade do vácuo.
No contorno de grão a carga pode ser apresentada como uma folha de carga
armadilhada com densidade espacial, nt. Dois parâmetros importantes são obtidos da solução
da equação de Poisson: a altura de barreira, B, e a largura, d, da camada de depleção. Eles
são determinados pelas relações:
00r
2i
00r
2t
2
B n8
Q
n8
ne0V
)( , (3.10)
21
0
Br
0
i
nn2
Qd
/
, (3.11)
onde n0 é a concentração dos portadores da carga dentro de grãos.
Se a tensão, V, for aplicada através do contorno de grão, a estrutura da banda será
mudada, como mostra Figura 3.2. O mecanismo pelo qual a corrente flui pelo contorno de
grão é geralmente consistente como um processo de emissão termiônica. Ao mesmo tempo,
podem ser armadilhados elétrons adicionais ao contorno de grão, e há um fluxo dinâmico de
carga armadilhada entre os grãos e o contorno de grão. No modelo simplificado, a densidade
de corrente, J, é relacionada à tensão aplicada pela relação:
)/exp(/))((exp2 kTeVkTEVeATJ FB , (3.12)
onde são: A-constante de Richardson, T-temperatura, EF-nivel de Fermi dentro dos grãos, k-
constante de Boltzman.
A altura da barreira é dependente da tensão aplicada e da distribuição de energia de
estados de interface.
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9
Figura 3.2. Barreira de potencial no contorno de grão com tensão aplicada [35].
Como foi indicado pela equação 3.10, a altura da barreira diminui com a
condutividade de grão crescente; então, se a condutividade é muito alta, o colapso da barreira
vai acontecer. Menos óbvio é que, se a condutividade de grão é muito baixa, a barreira não
existe. Desde que a formação da barreira requer uma diferença em energia dos níveis de
Fermi entre os grãos e o contorno de grão, se o nível de Fermi é muito baixo, não podem ser
preenchidos os estados na zona proibida. Além disso, desde que os grãos e os contornos de
grão estão em série, se a condutividade é muito baixa, nesse caso a condutividade do
dispositivo é insuficiente para ser útil. Como resultado destes fatores competitivos, há um
nível ótimo da dopagem.
A descrição da barreira de potencial apresentada acima é simplificada. As variações
espaciais na carga ao longo de contornos de grão e as variações na distribuição espacial de
doadores ionizados na região de depleção, causam variações na altura de barreira e na
densidade de corrente que flui pela barreira. A magnitude destas flutuações espaciais foi
calculada para ser aproximadamente 0,1 eV.
Revisão bibliográfica
10
3.3. O MODELO DE FORMAÇÃO DAS BARREIRAS DE POTENCIAL EM
VARISTORES DE SnO2
O modelo explicado na seção prévia foi principalmente desenvolvido baseado em
experiência com varistores de ZnO, mas também contém postulados gerais para a formação
de barreiras de potencial nos contornos de grão em materiais cerâmicos. Baseado nestes
resultados, e também nos resultados de alguns outros autores que trabalharam com varistores
de ZnO, um modelo de formação de barreiras de potencial em varistores de SnO2 foi proposto
[22, 31, 36-38].
O conceito essencial de ação de varistor é que a característica de corrente-tensão está
controlada pela existência de uma barreira eletrostática nos contornos de grão. A falta de
periodicidade na rede, devido aos defeitos intrínsicos causa uma reestruturação superficial de
estados localizados nos contornos de grão. Alguns defeitos atômicos também podem ser
introduzidos através de impurezas durante processamento de pós e através da segregação nos
contornos de grão. Todos estes defeitos localizados resultam em uma densidade alta dos
defeitos estruturais que podem produzir uma barreira de potencial associada a uma dupla
distribuição espacial de carga [36]. O modelo de formação de barreira de potencial em SnO2
está mostrado em Figura 3.3.
Figura 3.3. Representação esquemática do modelo de defeito atômico proposto para
descrever a barreira de potencial no contorno de grão de varistores à base de
SnO2.
Revisão bibliográfica
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Os defeitos intrínsicos de SnO2 ( 424 ,, iOSn SnVV ) e defeitos extrínsicos criados pelo
dopantes devem ser responsáveis pela formação de barreira no contorno de grão. Os doadores
positivamente carregados ( SnOO NbVV ,, ) com uma densidade de doadores (Nd), estendendo
em ambos os lados de contorno de grão formam a camada de depleção de largura d. A
interface negativa é formada durante o processo de sinterização e está composta dos aceptores
( '''''''''''' ,,,,, OOCrCoVV SnSnSnSn ) com densidade dos estados superficiais (Ns) nas interfaces de
contorno de grão. Estes defeitos formaram uma barreira dupla para o transporte elétrico entre
os grãos de SnO2 sem filme fino entre interfaces da barreira [36].
Baseado neste modelo é possível entender os efeitos dos dopantes comumente usados.
Por exemplo, CoO ou Co2O3 aumentam a pressão parcial de oxigênio pelas reações [22, 32]:
4322
13 OCoOCoO oaqueciment , (3.13)
2900
43 2
13 OCoOOCo Co
, (3.14)
2950
32 2
12 OCoOOCo Co
. (3.15)
O aumento em pressão parcial de oxigênio a temperaturas altas devido à redução de
Co3O4 ou Co2O3 pode promover o aumento na concentração de oxigênio adsorvido nos
contornos de grão de acordo com a reação [22]:
"2 '2
2
1adsOeO . (3.16)
O oxigênio adsorvido captura elétrons para formar defeitos carregados negativamente
ao contorno de grão. Assim a adição de CoO ou Co2O3 em cerâmica de SnO2 resulta no
crescimento da altura e tensão da barreira que melhoram a não linearidade em comparação
com amostras sem dopantes [32].
O principal papel dos defeitos gerados pelo Cr2O3 é aumentar a adsorção de espécies
como O’ e O’’ na superfície do contorno de grão e promover o decréscimo da condutividade,
Revisão bibliográfica
12
pela doação de elétrons para o O2 adsorvido nessa superfície, como foi observado pelos
resultados de impedância. Desta forma, o Crsn’ é o principal responsável pela formação da
barreira na superfície do contorno de grão, devido ao fato de promover sítios para adsorção de
espécies, tais como O' e O'' [38].
A adição de Nb2O5 em quantias pequenas para os SnO2 resulta em aumento da
concentração de e' e ""SnV , que aumenta a condutividade eletrônica na rede de SnO2 de acordo
com a equação 3.8 dada no Capitulo 4.1 [22, 36]. O papel de Nb2O5 em varistores de SnO2 é
diminuir e estreitar a altura da barreira de potencial [22].
O mecanismo de condução em varistores de SnO2 é associado com emissão termiônica
do tipo de Scottky para valores baixos do campo elétrico. Para valores altos do campo elétrico
a condução tende a ser independente da temperatura e sugere que o transporte eletrônico
aconteça pelo tunelamento de elétrons [22].
3.4. ESPECTROSCOPIA DA IMPEDÂNCIA EM MATERIAIS POLICRISTALINOS
A espectroscopia de impedância (EI) é técnica conhecida na pesquisa das propriedades
elétricas das células eletroquímicas, bem como dos condutores iônicos como polímeros,
cerâmica e vidros. Bauerle foi o primeiro pesquisador que aplicou essa técnica em análise dos
electrólitos sólidos à base de Zr, no ano 1969 [39].
A espectroscopia de impedância é baseada nas medidas da corrente dentro do
eletrólito quando a tensão em forma senoidal foi aplicada. A tensão na forma senoidal foi
usada por que nesse caso o sinal na entrada e o sinal na saída têm a mesma forma e a mesma
frequência angular [40]. Para o sistema linear, o potencial aplicado é dado pela equação:
E(t) = E exp (jt), (3.17)
O sinal de corrente na saída é também na forma senoidal, tem a mesma frequência angular ,
mas é possível obter diferenças em fase e amplitude dependente dos elementos do circuito:
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13
I(t) = I exp j( t + ), (3.18)
onde são: -angulo de fase, E-amplitude de tensão, I-amplitude de corrente.
No caso da resistência pura o ângulo de fase é igual a zero. De acordo com a lei de
Ohm, a impedância de circuito contendo resistência, capacitância e/ou indutância é dada pela
equação:
Z() = E(t)/I(t) = Z exp (-j) = Z cos -jZ sin = ZRe -jZIm, (3.19)
onde são: j-número imaginario, ZRe e ZIm – parte real e parte imaginaria da impedância.
Outras importantes equações são:
= tg-1 (ZIm / ZRe), (3.20)
2Im
2Re ZZZ (3.21)
onde Z é valor absoluto da impedância.
Em um caso ideal o resultado das medidas de EI em um grande intervalo de
frequências pode apresentar vários semicírculos no plano complexo ZRe - ZIm (representação
gráfica de Nyquist) [40, 41]. Cada semicírculo representa a contribuição de um processo
particular (eletrodos e contatos, contorno de grãos, interior de grão) da impedância total da
amostra. Também, cada semicírculo corresponde a um processo que tem valor característico
de constante de tempo. A diferença dentro das constantes de tempo deve ter mais do que duas
ordens de magnitude para separar visualmente os semicírculos de processos diferentes. Cada
eletrólito sólido pode ser tratado como rede dos sub-circuitos conectados em série e cada sub-
circuito inclui resistência e capacitância conectadas em paralelo (Figura 3.4).
Revisão bibliográfica
14
(a) (b)
Figura 3.4. (a) Os resultados das medidas de um material no intervalo largo das frequências
(Rel, Cel-resistência e capacitância das elétrodos, Rgb, Cgb-resistência e
capacitância dos contornos de grãos, Rg, Cg- resistência e capacitância dos
grãos), (b) circuito equivalente dos resultados mostrados na Figura 3.4a [40].
Esse esquema se chama circuito equivalente e pode ser feito para cada amostra
baseado nos resultados das medidas de impedância. Cada sub-circuito corresponde a um
semicírculo no plano ZRe-ZIm. Normalmente as medidas são executadas no menor intervalo de
frequências, se somente uma parte de circuito for importante; por exemplo, somente grãos ou
contornos de grãos. Os resultados da espectroscopia da impedância podem ser apresentados
de algumas outras maneiras, tais como gráfico de Bode, gráfico de admitância ou
permitividade complexa, mas o gráfico de Nyquist (impedância complexa) é mais
conveniente para analisar dos materiais sólidos.
Os valores medidos na forma do gráfico de Nyquist raramente são semicírculos ideais.
A maioria dos autores os descrevem como semicírculos deformados com o centro abaixo do
eixo x. Este fenômeno, chamado de relaxação não-Debye [42, 43], é atribuído a uma
distribuição de relaxações de Debye com diferentes constantes de tempo [44]. O tempo de
relaxação, , pode ser calculado baseado no gráfico de impedância pelo equação:
RCm /1 , (3.22)
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15
onde: m é o valor de frequência angular no ponto de máximo da curva de impedância (Figura
3.5).
(a) (b)
Figura 3.5. (a) Um exemplo de relaxação não-Debye, (b) Circuito equivalente conteúdo
elemento CPE [46].
Existem vários artigos na literatura [45-48] tratando sistematicamente deste fenômeno
e fornecendo possíveis explicações para tais comportamentos. Relaxação do tipo não-Debye
resulta em elemento de fase constante (CPE) em circuitos elétricos equivalentes (Figura
3.5.b). O significado físico do CPE não é muito claro, mas a maioria dos autores conecta CPE
com algum tipo de inomogeneidade [40, 46]. Impedância do sistema contendo CPE é dada
pela equação:
Z = K (j)-, (3.23)
onde K e são constantes que não dependem de frequência angular.
Para expressar relaxação não-Debye, além de CPE, podemos usar “ângulo de
depressão”, , que define o quanto o centro do semicírculo está abaixo de eixo-x (Figura 3.5).
A distribuição de relaxações com diferentes constantes de tempo pode ser
matematicamente expressa pela equação de Cole-Cole [49].
Revisão bibliográfica
16
)1(gb
gbgImRe )1(
CRj
RRZjZZ , (3.24)
em que Z é a impedância total, ZRe e ZIm são as componentes reais e imaginárias da
impedância, Rg é a resitência do grão do óxido, Rgb é a resistência da região do contorno de
grão, é uma constante, enquanto que C representa a capacitância na região do contorno de
grãos (Fig. 3.5a).
O ângulo de depressão é conectado ao parâmetro da equação Cole-Cole:
= /(/2). (3.25)
De acordo com dados da literatura [45, 50-52] existem várias explicações possíveis para
o comportamento de relaxação de não-Debye de sólidos policristalinos: (i) o comportamento é
uma consequência da inomogeneidade e variações entre os contorno de grãos combinados em
conecções em série/paralelo; (ii) é intrínsico à medida da resposta de cada contorno de grão
individualmente; (iii) é uma combinação das razões anteriores.
O parâmetro é relacionado ao ângulo de depressão mostrado na Fig. 3.6. pela equação
= / (/2). A distribuição de Cole-Cole é simétrica com respeito a frequência central ou
tempo de relaxação (Fig. 3.6b). Outra função famosa é a equação de Davidson-Cole [46, 53]:
)1( gb
gbgImRe CRj
RRZjZZ
, (3.26)
na qual os parâmetros Z, ZRe, ZIm, Rg, Rgb e C têm o mesmo significado daqueles definidos
pelo equação de Cole-Cole, e é uma constante.
A equação de Davidson-Cole fornece um arco inclinado no plano complexo (Fig. 3.6b).
O semicírculo deforma-se na direção de baixas freqüências [46]. Também, há algumas outras
funções, como o de Havriliak-Negami que tem uma forma mais geral [53]. Todas estas
funções são empíricas, assim como os parâmetros e não têm explicações físicas. Não
obstante estas equações são muito úteis ajustando resultados experimentais.
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17
RG
RG + R
GB
=1m
m
r0
Z Re
-Z Im
CC
DC-ZIm
ZRe
(a) (b)
Figura 3. 6. (a) Plano complexo ZRe - ZIm do semicírculo com o centro abaixo do eixo-x ( é
o ângulo de depressão), (b) o gráfico de Nyquist de acordo com Cole-Cole (CC)
e Davidson-Cole (DC) equações ( = 1 - = 0.8).
O modelo mais usado para ajustar e explicar os resultados de impedância é o modelo
"brick layer" [54, 55]. Nesse modelo a microestrutura dos materiais policristalinos se trata
como um arranjo ordenado dos grãos na forma dos cubos, separados com contornos retos de
grãos (Figura 3.7). Os grãos têm tamanho médio d e a espessura dos contornos de grão é t. Foi
suposto que t d e que a corrente tem somente uma dimensão e que as curvas dos caminhos
de corrente nos ângulos dos grãos são desprezadas. Dois caminhos de corrente são possíveis:
pelo grãos ou pelo contornos de grãos. Qual caminho vai ser usado depende da relação de
condutividade de grão e de contorno de grão. No caso dos materiais com contornos de grãos
com alta resistência, a condutividade pelo contornos de grãos pode ser desprezada. Baseado
no modelo "brick layer" a resistência da amostra é:
gbgb
g
x
3 , (3.27)
em que: g é a resistência de grão, gb é a resistência de contorno de grão, x é a porcentagem
volumétrica de contornos de grãos. Podemos concluir que contornos de grãos bloqueiam a
corrente somente numa direção.
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18
d
t - espessura do contorno de grão
Figura 3.7. O modelo "brick layer" [54].
3.5. OS DESVIOS IMPORTANTES DO MODELO "BRICK-LAYER"
J. Fleig [56-59] fez uma avaliação dos efeitos de impedância causados por alguns
desvios importantes do modelo "brick-layer". Ele considerou os seguintes casos: (i) desvios
da forma cúbica de grão; (ii) a influência dos contatos não ideais entre os grãos; e (iii) o
impacto de uma distribuição de diferentes contornos de grãos no material (Figura 3.8). Estas
considerações foram feitas baseadas em simulações de computador usando o software:
"FLUXO-PERITO".
A influência dos diferentes contornos de grãos em espectros de impedância é mostrada
na Figura 3.9. Foi suposto que há uma distribuição inomogenea de tamanho de grãos
(aglomeração de grãos menores). Em espectros de impedância há dois semicírculos: um a
mais baixas frequências que corresponde aos contornos de grãos e outro a frequências mais
altas que corresponde aos grãos. O semicírculo que corresponde aos grãos é o mesmo para o
modelo "brick-layer" e para o caso simulado, mas há uma diferença no semicírculo de
contorno de grão. No caso da distribuição inomogenea dos contornos de grãos, o semicírculo
de contorno de grão não é ideal, mas é deformado.
Revisão bibliográfica
19
Figura 3.8. (a) Esquema do modelo "brick-layer", e os desvios importantes: (b) grãos
não cubicos, (c) contornos de grãos com inomogeneidade lateral, (d) ) o impacto
de uma distribuição de diferentes contornos de grãos no material [59].
Baseado em várias simulações foi concluído que os desvios dos grãos cúbicos são
aceitáveis para aplicação de modelo "brick-layer" se a distribuição de tamanho de grão é
relativamente estreita e homogênea no espaço, bem como se não há anisotropia pronunciada.
Revisão bibliográfica
20
Porém, aglomerados de grãos pequenos ou distribuição muito larga podem conduzir a erros
consideráveis.
Figura 3.9. Microestrutura que conte a distribuição inomogenea de tamanho de grãos
(aglomeração de grãos menores) e espectro de impedância obtido pela simulação
dessa microestrutura [56, 59].
A simulação dos contornos de grãos com inomogeneidade lateral é mostrada na
Figura. 3.10. Foi suposto que contorno de grão consiste em regiões de interface idealmente
condutiva e regiões de interface totalmente isolantes. Esse caso é possível quando, por
exemplo: (i) fases sólidas de contorno de grão são parcialmente molhadas e o contato de grão-
grão é diminuído, e (i) existem os nanoporos ao longo de contornos de grãos que podem
causar um contato defeituoso entre dois grãos. Em tais casos uma camada isolante separa
Revisão bibliográfica
21
grãos vizinhos e a corrente dc é constringida perto dos contatos condutivos de grão-grão.
Como pode ser visto da Figura 3.10 há grande diferença em espectros de impedância para o
número diferente de contatos. O autor concluiu que não é possível aplicar o modelo "brick-
layer" nestes casos.
Figura 3.10. A influência dos contatos não ideal entre os grãos (inomogeneidade lateral).
Todos contornos de grãos são idênticos, mas consistem de duas regiões: fase
isolante (preta) e n pontos idealmente conductivos (branco) [57, 59].
Um desvio comum é quando as propriedades elétricas variam de contorno a contorno
devido a diferentes propriedades estruturais e elétricas (Figura 3.11). J. Fleig simulou a
influência de distribuições de contornos de grão diferentes para algumas distribuições de
probabilidade da condutividade de contorno de grão. Foi concluído que o modelo "brick-
layer" pode ser usado para calcular as propriedades do contorno de grão mas somente para
uma distribuição relativamente estreita (Gaussiana) de condutividades de contornos de grãos.
Porém, uma distribuição muito larga ou uma distribuição bimodal conduzem à desvios
grandes e uma análise que usa o modelo "brick-layer" não é correta.
Revisão bibliográfica
22
(a)
(b)
Figura 3.11. A influencia de distribuição de condutividade dos contornos de grãos: (a)
distribuição Gaussiana (escala log), (b) distribuição muito larga [59].
Revisão bibliográfica
23
A necessidade de alguns modelos novos que vão consideram a presença de defeitos e
inomogeneidades, bem como microestrutura não ideal, foi confirmada através dessa pesquisa.
3.6. TEORIA DOS FRACTAIS
As características da maioria dos materiais são normalmente conectadas com existência
dos defeitos e inomogeneidade e por causa disso a definição de alguma medida quantitativa
de desordem poderia ser muito importante. Esse objetivo pode se realizar utilizando teoria dos
fractais e devolvendo método próprio para determinação de dimensão fractal dos materiais.
Mandelbrot foi primeiro pesquisador a observar que muitos objetos na natureza
mostraram características auto-semelhantes e têm forma dos fractais [60]. Por exemplo:
polímeros, colóides, linhas das algumas costas, pulmões, flocos de neve, etc. Um objeto tem
estrutura auto-semelhante quando o mesmo motivo aparece em diferentes escalas de
observação e para caracterização destes objetos é muito importante aplicar a teoria dos
fractais.
Os fractais são sistemas desordenados e essa desordem pode-se apresentar com
dimensão não-inteira [61]. Na geometria clássica, as moléculas semelhantes do poliestireno,
podem ser consideradas com dimensão 1, porque elas são um cadeia dos segmentos
localmente linear. Também, a área de uma superfície porosa tem dimensão 2, desde que é
possível apresentar localmente como segmento de planos. Frequentemente algumas formas
estruturais são aproximadas como linhas, poliedros, esferas e outras figuras geométricas.
Nesses casos são considerados como a somente perturbação da ordem ideal. Nos casos em
que a desordem influi significamente nas propriedades físicas ou químicas, essas
aproximações não são corretas e não dão resultados corretos. Neste caso é necessário utilizar
teoria dos fractais.
Conceito dos fractais relaciona-se nos sistemas muito desordenados e trata desordem
como fenômeno essencial e não como perturbação. A partir deste ponto de vista é possível
entender a base de definição de desordem forte e desordem fraca. O sistema é desordenado
fracamente se a desordem desaparece quando observamos o sistema na escala do
comprimento menor ou maior. Nos sistemas com forte desordem, que apresentamos como
Revisão bibliográfica
24
fractais, a desordem aparece em todas as escalas. Diferentes tipos da desordem são mostrados
na Figura 3.12.
Figura 3.12. Os tipos de sistemas desordenados: (a) sistema ordenado, (b) desordem fraca,
(c) desordem forte (anisotrópico, auto-afinidade), (d) desordem forte
(isotrópico, auto-semelhante) [61].
No caso do sistema auto-semelhante o fator de ampliação que deixa o sistema
invariável nos eixos x, y, z tem o mesmo valor (desordem isotrópica). No caso mais geral, os
fatores do escalamento podem ser diferentes nos diferentes eixos (desordem anisotrópico).
Considerando que os fractais são objetos com dimensão não-inteira, é necessário
introduzir uma nova definição de dimensão. Essa definição tem que corresponder da nossa
imagem intuitiva sobre a dimensão do espaço, mas também permitir que a dimensão possa ser
um numero não-inteiro [62]. Este tipo de definição foi dado pelo Felix Hausdorf [63].
Observamos o objeto geométrico que fica no espaço com dimensão m. A dimensão do
objeto é menor ou igual do m (por exemplo uma linha com dimensão 1 que fica no plano com
dimensão 2-Figura 3.13). Vamos cobrir esse objeto com caixas com dimensão e tamanho .
Revisão bibliográfica
25
Pra isso M caixas foi utilizado. Esse numero M depende do tamanho das caixas e é
proporcional a 1/D, onde é D dimensão do objeto. Se L é dimensão linear (ou tamanho do
objeto) e /L, nesse caso:
ln
)(lnlim)(
MD
1M
0D . (3.28)
Figura 3.13. Cobertura da linha com quadrados com extensão 1 ou 2 [62].
Se um fractal for construído usando regras deterministicas, esse fractal se chama
fractal deterministico [64]. Alguns fractais deterministicos são mostrados na Figura 3.14.
Nos exemplos dos fractais deterministicos é mais fácil ver a auto-similaridade,
característica principal dos fractais (Figura 3.14). Triangulo pequeno tem a mesma estrutura
como o triangulo grande, e a mesma estrutura de todos outros triângulos. Por fractais
deterministicos é possível usar equação mais simples para calcular a dimensão:
)/ln(
ln
r1
MD , (3.29)
Revisão bibliográfica
26
onde é M o número dos objetos produzidos em cada passo (quando mudamos escala 1 para
2), r é o fator de escala, r = 1/2.
(a) (b)
Figura 3.14. Fractais deterministicos: (a) Croche do Sierpinski, D = ln3/ln2;
(b) D = ln4/ln3 [65].
Quando o fator randômico é introduzido nas regras deterministicas da construção de
um fractal, o fractal randômico é obtido [64]. A comparação de um fractal detrministico com
um fractal randômico é mostrada na Figura 3.15. No caso do fractal deterministico, num
passo, cada quadrado foi dividido em 4 quadrados e o quadrado de lado direito acima foi
eliminado. No caso do fractal randômico também quadrado foi dividido em 4 quadrados, mas
qualquer quadrado pode ser eliminado. Dimensão de ambos objetos é D = ln3/ln2, mas a
entropia do segundo é maior. O segundo fractal é mais natural, mais corresponde com um
sistema real. Os fractais deterministicos são auto semelhantes, e é possível reconhecer mais
facilmente as característica de auto afinidade, quando comparado com os fractais randômicos.
Muitos métodos para determinar a dimensão de um fractal já existem. A escolha do
método depende do nível da estrutura, das propriedades físicas, bem como do processo que
observamos. Os mais importantes são: método visual, método do espalhamento elástico de luz
a baixo angulo, método da migração da energia, porosimetria e método de adsorção.
Revisão bibliográfica
27
A aplicação da teoria dos fractais na ciência dos materiais dá oportunidade para
considerar desordem na estrutura como fenômeno essencial e não como uma perturbação. Até
agora a teoria dos fractais foi aplicada para descrever estruturas dos aglomerados, materiais
porosos, polímeros, filmes finos e outros, bem como para descrever os processos de difusão,
agregação, polimerização, adsorção, etc [66].
(a) (b)
Figura 3.15. (a) fractal deterministico, D = ln3/ln2, (b) fractal randômico, D = ln3/ln2 [62].
3.7. A APLICAÇÃO DA TEORIA DOS FRACTAIS NOS RESULTADOS DE
ESPECTROSCOPIA DE IMPEDANCIA
Até o momento a espectroscopia de impedância foi usada somente na eletroquímica
para determinação da dimensão de fractal nas considerações da influência de rugosidade dos
eletrodos. É conhecido que a rugosidade dos elétrodos tem influencia na impedância dos
eletrodos idealmente polarizáveis (“blocking electrodes”) [67]. Estes eletrodos com
superfícies idealmente lisas (por exemplo Hg) têm somente uma capacitância na função de
impedância, mas eletrodos sólidos com superfícies não ideais têm função da impedância mais
complexa. Na maioria dos casos essa função pode se apresentar com circuito equivalente [68].
Para explicar teoricamente, bem como para quantificar o efeito da rugosidade de
superficie, alguns autores aplicavam a teoria dos fractais desenvolvendo os modelos para
calcular a dimensão dos fractais baseadas nas medidas de impedância [68-73]. Le Méhauté
Revisão bibliográfica
28
[69] foi o primeiro que considerou a superfície porosa como um fractal e que tentou ligar o
parâmetro de função de impedância de CPE com dimensão de fractal D pela equação:
= 1/D, (3.30)
mas a teoria proposta não foi bastante confiável.
Pouco tempo depois Liu sugeriu outra equação [72]:
= 3-D, (3.31)
que foi aceita por alguns dos autores (por exemplo Kaplan et al. [70]). Também é possível
encontrar na literatura relação de Pajkossy e outros [68]:
= (D -1)-1. (3.32)
A equação (3.31) foi mais aplicada que as outras e por causa disso o desenvolvimento
dessa equação será explicada [71]. O modelo é baseado na aproximação de superfície do
eletrólito, na interface de metal-eletrólito (Figura 3.16). Na Figura é mostrado como o
eletrólito penetra no eletrodo do metal. Em cada passo do escalamento aparecem NxNy novas
partes. 1/ax e 1/ay são fatores de escala dessas partes na direções x e y. 1/az é fator de escala
na direção z. Nx e Ny são números das novas partes que são obtidas em cada passo, quando
essa Figura (bloco de Cantor) é projetada no plano x-z, ie., no plano y-z (na Figura Nx = Ny =
2). De acordo com a geometria ax >Nx e ay >Ny. Baseado nesse modelo é possível fazer o
circuito equivalente mostrado na Figura 3.17.
Revisão bibliográfica
29
Figura 3.16. Modelo do Kaplan et al. [71].
Figura 3.17. O circuito equivalente por interface metal-eletrólito [71].
Revisão bibliográfica
30
O circuito tem estrutura complexa com NxNy novas partes que aparecem em cada passo.
A cada parte têm resistência e capacitância, conectadas em série. A capacitância é conectada
com a terra. Em cada passo o valor de resistência aumenta pelor fator axay /az, por causa da
diminuição de área de superfície pelo fator 1/ axay e diminuição de comprimento pelo fator
1/az. Da mesma forma a capacitância diminui pelo fator zyx aaa
1)
11( . De acordo com a
esquema de circuito equivalente é possível escrever a função de impedancia que vale para
cada valor de ax, ay e az, bem como Nx e Ny:
)/()(
)/(
)(
)(
2y
2x
2z
zyx
yxz
zyx
1/a)(1/aa/aaa
1/a)(1/aa
/aaa
Cj
1R
NNCj
1R
NNCj
1RZ
2
yx
yx
(3.33)
Mais adiante é possível considerar casos de diferentes valores de ax, ay e az, bem como
Nx e Ny. Aqui mostraremos um caso mais simples quando são ax = ay = a, az = 1 e N x= Ny =
2. Temos que fazer escalamento da equação 3.33 de tal modo que será trocado por /a e a
equação será multiplicada e dividida pelo mesmo fator a2 para obter equação mais simples:
2
2
2
2
NCZj
ZR
ZNCjRZ
)(
)(
)(/)/(
a
aaa . (3.34)
Supõe-se que Z() e Z()0, quando 0, e consequentemente :
)()/()/( ZNZ 22aa . (3.35)
A solução da equação 3.35 foi assumida na forma de Z() =K (j)-, onde K é uma
constante e = 2-lnN 2/lna. A dimensão de fractal de superfície calcula-se pelas medidas de
Revisão bibliográfica
31
área de superficie do objeto fractal nas diferentes escalas. Se An() é área de superfície depois
de n passos, em unidades , e se foi suposto que na escala referente ao primeiro passo = 1, e
=a-(n-1) no passo n, então dimensão de fractal é:
Dn
n
nn
n A
Aa
a
a
)(
)(lim
)2(1
)1(
. (3.36)
No caso dado acima, para valores de n muito grandes:
hNA nnn 4)()( 12)1( aa . (3.37)
Se introduzimos esse valor na equação (3.36) obteremos:
1ln
)ln( 2
a
ND . (3.38)
Finalmente,
= 3-D. (3.39)
Baseado em principio semelhante outras equações que conectam com dimensão de
fractal D são obtidas. Além dessas considerações teóricas há tentativas para confirmar essas
relações baseadas nos experimentos com modelos [68, 74]. Estes experimentos foram
baseados na construção dos eletrodos com dimensão de fractal definida e nas medidas da
impedância desses eletrodos. Ninguém conseguiu confirmar a possibilidade de aplicação de
alguma dessas relações. Por causa disso e também baseado em algumas considerações
Revisão bibliográfica
32
teóricas, Wang [75] concluiu que nenhuma dessas equações é válida, mas isso não significa
que conexão - D não existe, mas provavelmente ela não é tão simples.
A maior dificuldade destes modelos é não poder explicar por que depende da
temperatura se é somente função de rugosidade [76]. Todos esses modelos são importantes
porque os autores tentam usar método simples como espectroscopia da impedância para
calcular dimensão de fractal.
Procedimento experimental 33
4. PROCEDIMENTO EXPERIMENTAL
As amostras de SnO2 que contêm um dos elementos aditivos escolhidos (CoO, Cr2O3
ou Nb2O5), bem como as amostras contendo todos os dopantes, foram preparadas pelo método
de evaporação e decomposição de soluções e suspensões [77]. Na Tabela 4.1 estão indicados
os reagentes químicos utilizados nesta pesquisa, com suas respectivas características. Citrato
de nióbio foi feito no nosso laboratório a partir de Nb2O5.
Tabela 4.1.- Reagentes químicos utilizados com suas respectivas características.
Reagentes Pureza
( % )
Fornecedor
SnO2 99,9 Cesbra
Co(CH3COO)24H2O 99 Aldrich
Cr(NO3)39H2O 99 Vetec
Nb2O5 99,9 Aldrich
As amostras foram preparadas utilizando-se o método de evaporação e decomposição
de soluções e suspensões. Quantidades adequadas de Co(CH3COO)2, Cr(NO3)3, ou Nb-citrato
foram dissolvidas em 25 cm3 de água para obter soluções de diferentes concentrações de
acordo com a composição desejada de mistura final dos pós. Em seguida pós de SnO2 (5 g)
foram suspensas em soluções de Co(CH3COO)2, Cr(NO3)3 e citrato de Nb. A suspensão foi
misturada e aquecida em placa aquecidor e seco a 140°C por 5 h, com agitação magnética. As
misturas de pós obtidas foram moídas em almotariz de ágata e calcinadas a 800°C ou 1100°C.
As misturas dos pós, contendo maiores concentrações dos dopantes, foram caracterizados por
análises DTA e TGA para determinar as temperaturas de calcinação apropriadas. O aparelho
utilizado foi o Netszch-Thermische Analyse com unidade de força PU 1.851.01 e com
controlador TASC 414/2.
Depois da calcinação obteve-se pós com as seguintes composições:
Procedimento experimental 34
(100-x) mol. % SnO2 + mol de x % (Cr2O3 ou Nb2O5), onde é x = 0,025; 0,05; 0,1; 0,25; 0,5,
ou 1; e (100-x) mol. % SnO2 + mol de x % CoO, onde é x = 0,05; 0,1; 0,25; 0,5, 1 ou 2.
As condições de sinterização, tais como temperatura e atmosfera, foram escolhidas
baseadas na análise de dilatometria. As medidas foram realizadas em amostras contendo
diferentes dopantes em várias atmosferas, tais como ar sintético, CO2 e O2. O equipamento
utilizado foi o Dilatometer 402, taxa de aquecimento constante de 10C/min e fluxo de ar
sintético, O2 e CO2 (vazão de 50 cm3/s). Trabalhou-se da temperatura ambiente a 1550C.
Os pós foram prensados isostaticamente a 250 MPa em pastilhas de tamanho
aproximado de 1 mm de altura e 8 mm de diâmetro. As amostras foram sinterizadas em ar
sintético em 1350°C/4 h (composições com Co2+) e 1550°C/8 h (composições com Cr3+ e
Nb5+).
A composição das amostras dopadas com três dopantes foi escolhida de acordo com
dados de literatura [78]. A seguinte composição foi preparada:
S1: 98,9% SnO2 + 1% CoO + 0,05% Cr2O3 + 0,05% Nb2O5.
Para otimizar a composição um conjunto de amostras foi preparado:
S2: 99,4% SnO2 + 0,5% CoO + 0,05% Cr2O3 + 0,05% Nb2O5,
S3: 98,92% SnO2 + 1% CoO + 0,05% Cr2O3 + 0,03% Nb2O5,
S4: 99,15% SnO2 + 0,75% CoO + 0,05% Cr2O3 + 0,05% Nb2O5,
S5: 99,17% SnO2 + 0,75% CoO + 0,05% Cr2O3 + 0,03% Nb2O5,
S6: 99,12% SnO2 + 0,75% CoO + 0,1% Cr2O3 + 0,03% Nb2O5,
S7: 99,13% SnO2 + 0,75% CoO + 0,05% Cr2O3 + 0,07% Nb2O5,
S8: 99,13% SnO2 + 0,75% CoO + 0,07% Cr2O3 + 0,05% Nb2O5,
S9: 99,11% SnO2 + 0,75% CoO + 0,07% Cr2O3 + 0,07% Nb2O5,
S10: 99,25% SnO2 + 0,65% CoO + 0,05% Cr2O3 + 0,05% Nb2O5.
A otimização das composições foi baseada nas medidas elétricas dc.
As amostras dopadas com três dopantes foram calcinadas a 800°C e sinterizadas em ar
sintético a 1300°C/1 h de acordo com dados da literatura [78].
As amostras sinterizadas foram caracterizadas pelos seguintes métodos: difração de
raios X (Siemens D-5000 com radiação K de cobre, monocromatizada por cristal de grafite),
medidas de densidade (método de Archimedes), espectroscopia visível, infravermelho
próximo e infravermelho, microscopia eletrônica de varredura (MEV) (Topcon SM-300) e
Procedimento experimental 35
espectroscopia de impedância (HP 4192A). Para as medidas de espectroscopia de impedância
as amostras sinterizadas foram polidas, limpas por ultra-som, e os electrodos foram colocados
em ambos os lados das amostras. Os materiais utilizados nos eletrodos foram tinta de prata, pó
de grafite ou metalização com ouro. Depois de revestidos com os eletrodos, as amostras foram
tratadas termicamente a 450°C por 2 h. A espectroscopia de impedância foi realizada no
intervalo do frequências 100 Hz-10 MHz e no intervalo do temperaturas 25°-600°C. Os
valores de energia aparente de condução-EA foram calculados pela equação de Arrhenius:
T
1lnln A
o k
EAR , em que R é a resistência obtida dos espectros de impedância, Ao é a
constante pre-exponencial, EA é a energia de ativação aparente de condução, k é a constante
de Boltzman e T é a temperatura de medida. As medidas elétricas com corrente continua (dc)
foram executadas utilizando uma fonte de tensão (Keithley 237) para obter a característica E-
J, bem como para determinar o coeficiente não linear e o campo elétrico de ruptura.
Resultados e discussão
36
5. RESULTADOS E DISCUSSÃO
O objetivo desta pesquisa foi a investigação dos fenômenos do contorno de grão na
cerâmica eletrônica. Por causa disso o método de evaporação e decomposição de soluções e
suspensões foi escolhida para preparação das amostras. Usando este método é possível obter a
distribuição homogênea dos dopantes no contorno do grão de SnO2. Também, os varistores à
base de SnO2 foram escolhidos para investigação uma vez que nesta cerâmica há
aparentemente uma fase única.
As condições das medidas foram definidas para se obter resposta somente do contorno
do grão. Se no espectro aparece mais do um semicírculo, isto significa que existe mais de um
processo, com diferentes tempos de relaxação, do contorno do grão. Isto é possível no caso de
existir dois tipos de condutividades (eletrônica e iônica) ou no caso de existir uma substancial
inomogeneidade lateral, bem como no caso de dois ou mais tipos de contorno de grão (por
exemplo: contorno de grão entre dois grãos de SnO2 ou entre um grão de SnO2 e alguma outra
fase). Nesta investigação tentou-se obter só um tipo do contorno de grão (contorno de grão
entre dois grãos de SnO2) e tentamos obter um sistema mais homogêneo possível em cada
contorno de grão. Alem disto, se as pressões parciais dos gases, e as concentrações dos
defeitos estão em equilíbrio, teremos apenas um semicírculo. Neste sentido, foi muito
importante otimizar as condições da síntese, medidas elétricas, bem como os tipos dos
eletrodos.
5.1. DT E TG ANÁLISES
As misturas dos pós, contendo maiores concentrações dos dopantes, foram
caracterizadas por análises DTA e TGA para determinar as temperaturas de calcinação
apropriadas. Os resultados destas análises estão ilustrados nas Figuras 5.1, 5.2 e 5.3. De
acordo com a curva DTA de pó de SnO2 dopado com íons de Co2+, ocorre apenas um efeito
endotérmico a 280°C durante o aquecimento, seguido por pequena perda de peso de 0,6 %
(Figura 5.1). Este efeito é resultado da decomposição de Co(CH3COO)2 e sua transformação
para CoO. Não há nenhum efeito térmico na curva obtida durante o esfriamento.
Resultados e discussão
37
0 500 1000 1500
DT
A
T (oC)
-1
0
1
2
3
4
TG
(%
)
Figura 5.1. Curvas da DTA e TG dos pós dopados com 2% Co(CH3COO)2.
0 500 1000 1500
455oC
DT
A
T (oC)
1
2
3
4
TG
(%
)
Figura 5.2. Curvas da DTA e TG dos pós dopados com 2% Cr(NO3)3.
As amostras de pó contendo Cr(NO3)3 também exibiram somente um pico
endotérmico a 455°C durante aquecimento, isso pode ser resultado de transformação para
óxido (Figura 5.2.). O resultado da análise de TG não mostrou mudanças no peso, sendo
provavelmente muito pequeno. De acordo com a curva DTA das amostras contendo
citrato de Nb, há dois picos endotérmicos a 380° e 540°C nas curvas de aquecimento. Estes
picos são largos e não estão bem separados. Estes processos endotérmicos acabam a 680°C
(Figura 5.3) e são acompanhados com perda de peso de 14 % até temperatura de 615°C que
Resultados e discussão
38
pode ser explicada com transformação para óxido Nb2O5. Não há nenhum efeito termico nas
curvas obtidas de DTA e TG durante o esfriamento, mesmo nas amostras dopadas com Co2+ e
Cr3+.
0 500 1000 1500
380oC
540oC
DT
A
T (oC)
-10
0
10
20
TG
(%
)
Figura 5.3. Curvas da DTA e TG dos pós dopados com 2% citrato de Nb.
Baseado nestes resultados, a temperatura mínima para calcinação é próxima de 700°C.
A temperatura de 1100°C foi escolhida para calcinação por causa da melhor distribuição dos
aditivos nesta temperatura.
5.2. ANÁLISE DE DILATOMETRIA
As condições de sinterização, tais como temperatura e atmosfera, foram escolhidas
baseadas na análise de dilatometria. As medidas foram realizadas em amostras contendo
diferentes dopantes em várias atmosferas, tais como ar sintético, CO2 e O2. A curva de
dilatometria do SnO2 puro, calcinado a 1100°C, é mostrado na Figura 5.4. Medidas em ar
sintético indicam que a retração começa na temperatura de 1180°C e as mudanças de
dimensão linear total no intervalo de temperatura de 1180-1460°C foi de 0,97 %. No intervalo
de temperatura de 1180°-1520°C a retração linear foi de 1,43 % (Figura 4.4). Obviamente,
Resultados e discussão
39
temperaturas mais altas são necessárias para se obter amostras com maior retração. Na
atmosfera de O2 a retração linear começa em temperaturas mais baixa (1100°C), e a
quantidade total da retração foi de 2,04 %.
500 1000 1500
-0,02
-0,01
0,00
em O2
em ar sintéticoL/L
(%
)
T (oC)
Figura 5.4. Curvas de dilatometria de SnO2 puro em O2 e ar sintético.
As amostras dopadas com Co2+ e calcinadas a 1100°C mostraram uma retração linear
bem maior (Figura 5.5). Em ar sintético, retração começa a 965°C, e para o intervalo de
temperatura até 1460°C a quantidade total de retração linear foi 11,12 %. A taxa máxima de
retração linear foi atingida à temperatura de 1285°C e observe-se o valor de
9,32·10-4 s-1. Os valores menores de retração linear, como também de taxa de retração, foram
obtidos na atmosfera de CO2. Na atmosfera de CO2 retração linear começa a 960°C e a
quantidade total foi de 7,50 %. Aproximadamente a 1300°C a taxa de retração é reduzida.
Taxa máxima de retração foi de 6,78·10-4 s-1, a 1240°C. As amostras dopadas com Co2+ e
calcinadas a 800°C exibiram valores de retração linear ligeiramente mais baixo, 10,5 % no
intervalo de temperatura de 1050-1460°C. Em ar sintético a taxa máxima de retração foi
alcançada a 1300°C e foi de 1,05·10-3 s-1.
As amostras dopadas com Cr3+ mostraram retração linear muito baixo,
aproximadamente de 1 %. Comparando-se as curvas de retração linear das amostras dopadas
com Cr3+ verifica-se que tanto a temperatura de calcinação como a atmosfera afetam a
retração linear. Amostras sinterizadas em CO2 densificam mais que as amostras sinterizadas
em ar sintético. Da mesma forma, amostras calcinadas a 1100°C apresentaram densificação
Resultados e discussão
40
quando comparado com amostras calcinadas a 800°C (Figura 5.6). Nas amostras calcinadas a
1100°C a quantidade total de retração linear foi de 1,63 %. A retração começa a 1280°C,
quando a sinterização ocorreu em CO2. As amostras calcinadas a 800°C e sinterizadas nas
mesmas condições de atmosfera a retração foi de 1,1 %. Também, a retração começou em
temperaturas mais altas, 1345°C, comparando com as amostras calcinadas a 1100°C. As
amostras sinterizadas em ar sintético mostraram apenas 0,73 % de retração.
800 1000 1200 1400
-0.10
-0.05
0.00
em ar sintetico (calcinadas a 1100°C) em CO
2 (calcinadas a 1100°C)
em ar sintetico (calcinadas a 800°C)
L/L
0 (%
)
T (oC)
Figura 5.5. Curvas de dilatometria das amostras dopadas com 0,25% CoO.
500 1000 1500-0.02
-0.01
0.00
em CO2 (calcinadas a 1100°C)
em CO2 (calcinadas a 800°C)
em ar sintetico (calcinadas a 800°C)
L/L
0 (%
)
T (oC)
Figura 5.6. Curvas de dilatometria das amostras dopadas com 0,1% Cr2O3.
Resultados e discussão
41
As amostras de SnO2 dopadas com Nb5+ apresentaram retração linear ligeiramente
maior quando comparado com amostras dopadas com Cr3+. Valores de retração mais altos
foram obtidos em amostras calcinadas a 1100°C (Figura 5.7), semelhante as amostras dopadas
com Cr3+. A retração das amostras calcinadas a 1100°C começa a 1050°C e a quantidade total
de retração foi de 3,60 % no intervalo de temperatura até 1520°C e para atmosfera de O2. Em
ar sintético a retração começa a 1089°C e a quantidade total de retração linear foi de 2,9 % no
intervalo de temperatura de 1089°-1460°C, e de 3,67 % no intervalo de temperatura de 1089°-
1520°C.
1000 1200 1400 1600
-4.0
-2.0
0.0
em ar sintetico (calcinadas a 1100°C) em O
2 (calcinadas a 1100°C)
L/L
0 (%
)
T (oC)
Figura 5.7. Curvas de dilatometria das amostras dopadas com 0,5% Nb2O5.
Baseado nestas considerações, as seguintes condições de sinterização foram
escolhidas:
-condições de sinterização: 1550°C/8h (amostras com Cr2O3 e Nb2O5) e 1350°C/4h (amostras
com CoO),
-taxas de aquecimento e resfriamento: 5°/min (todas amostras),
-condições de atmosfera: ar sintético (todas amostras).
Resultados e discussão
42
5.3. ANÁLISE DE DIFRAÇÃO DE RAIOS X (DRX)
Análise de difração de raios X das amostras sinterizadas mostrou que todas as
amostras contêm só a fase SnO2 (Figura 5.8). Isto significa que os dopantes foram
incorporados na rede de SnO2 ou que possivelmente a quantidade de dopantes (CoO, Cr2O3 e
Nb2O5) estão abaixo do limite de detecção do equipamento de DRX.
A mudança dos valores de parâmetros da rede de SnO2 dopadas confirma a
incorporação dos dopantes na rede de SnO2 (Figura 5.9). É possível verificar que os
parâmetros de rede a e c, bem como a volume (V) da cela unitária, varia de maneira
semelhante com a concentração de dopantes. Baseado nessas mudanças observadas pode-se
concluir que há dois mecanismos de incorporação de dopantes.
20 30 40 50 60 70 80
(301
)
(002
)
(321
)
(112
)(3
10)
(220
)
(202
)
(111
) (211
)
(200
)
(101
)
(110
)
IN
TE
NSI
DA
DE
(u.
a.) d
c
b
a
2 ( o )
Figura 5.8. Difratogramas de raios X das amostras: (a) SnO2 puro, (b) 98% SnO2 + 2%
CoO, (c) 99% SnO2 + 1% Nb2O5 e (d) 99% SnO2 + 1% Cr2O3.
Resultados e discussão
43
0.0 0.5 1.0 1.5 2.0
4.725
4.730 a
a (1
0-10 m
)
concentração (molar %)
3.178
3.180
3.182 c
c (
10-1
0 m)
70.8
71.0
71.2 V
V (
10-3
0 m3 )
0.0 0.5 1.0
4.72
4.73
4.74
a
a (1
0-10 m
)
concentração (molar %)
3.175
3.180
3.185
3.190 c
c (
10-1
0 m)
71.0
71.5 V
V (
10-3
0 m3 )
(a) CoO (b) Cr2O3
0.0 0.5 1.0
4.725
4.730
4.735
4.740 a
a (1
0-10 m
)
concentração (molar %)
3.180
3.185
3.190 c
c (
10-1
0 m)
70.8
71.0
71.2
71.4
71.6 V
V (
10-3
0 m3 )
(c) Nb2O5
Figura 5.9. Parâmetros da rede de SnO2, a e c, bem como volume, V, de cela de unitária, em
função da concentração de dopantes: (a) CoO, (b) Cr2O3 e (c) Nb2O5.
Resultados e discussão
44
Todas as curvas mostradas na Figura 5.9 apresentaram um valor mínimo para a, c ou V
indicando uma concentração de dopante crítica. Resultado semelhante foi obtido por outros
autores utilizando SnO2 dopado com antimônio [3, 78]. Eles também observaram um leve
aumento nos valores de parâmetros de rede para baixas concentrações de dopantes, seguidas
com diminuição até um valor mínimo. No trabalho de Z. Crnjak Orel et al. o valor mínimo de
a e c foi obtido para aproximadamente 1 mol% de Sb [3]. Nossos resultados sugerem que para
as concentrações de dopantes menores que uma concentração crítica, a incorporação de
dopantes ocorreu através da substituição de Sn4+.
Tendo em mente que as amostras foram sinterizadas em altas temperaturas durante
longo tempo e com pequenas taxas de aquecimento e resfriamento, é muito provável este
mecanismo. Para maiores concentrações de dopantes pode-se supor que os dopantes não só
estariam incorporados na rede de SnO2 por substituição, como também por difusão em
posições intersticiais. Este ultimo mecanismo resulta no aumento dos valores dos parâmetros
de rede. A incorporação de dopantes em posições intersticiais diminui a concentração de
vacâncias de oxigênio e também aumenta os valores dos parâmetros de rede.
5.4. ANÁLISE MICROESTRUTURAL
A análise de MEV das amostras de SnO2 dopadas com diferentes dopantes mostrou
grandes diferenças em porosidade, forma e tamanho de grão (Tabela 5.1). A micrografia da
amostra de SnO2 puro, sinterizada a 1550°C durante 8 h, é mostrada na Figura 5.10a. Estas
amostras são muito porosas, com tamanho médio de grão de 23 m. Os grãos são esferoidais,
e também é detectada a presença de aglomerados de grãos.
As amostras dopadas com CoO, em maiores concentrações que 0,05 %, mostraram
redução significante de porosidade (Figura 5.10b). A densidade máxima, 86,3 % da densidade
teórica, foi obtida nas amostras dopadas com 0,25 % do CoO. Este valor de densidade é
menor em comparação com valores obtidos por alguns outros autores [14, 16]. Isto pode ser
explicado pelo método de síntese utilizado e pela alta temperatura de calcinação. Somente
amostras com baixa concentração de CoO (0,05 %) mostraram porosidade e densidade
semelhantes ao SnO2 não dopado.
Resultados e discussão
45
(a) (b)
Figura 5.10. Micrografias: (a) SnO2 puro e (b) 99% SnO2 + 1% CoO.
Tabela 5.1. Os valores de tamanho médio de grão e densidade.
Composição Condições de
sinterização
Tamanho médio de
grão (m) Densidade relativa
(%)
SnO2 1550°C/8h 23,1 0,7 60,7 0,5
SnO2 + 0,05 mol% CoO 1350°C/4h 5,4 0,2 61,4 0,6
SnO2 + 0,25mol% CoO 1350°C/4h 6,4 0,2 86,3 0,8
SnO2 + 1mol% CoO 1350°C/4h 6,3 0,2 83,2 0,8
SnO2 + 2mol% CoO 1350°C/4h 9,7 0,3 83 0,8
SnO2 + 0,025mol% Cr2O3 1550°C/8h 9,0 0,3 58,6 0,5
SnO2 + 0,1mol% Cr2O3 1550°C/8h 8,5 0,3 56,7 0,5
SnO2 + 0,5mol% Cr2O3 1550°C/8h 8,8 0,3 53,5 0,5
SnO2 + 1mol% Cr2O3 1550°C/8h 10,9 0,4 49,8 0,4
SnO2 + 0,025 mol% Nb2O5 1550°C/8h 6,8 0,2 52,4 0,4
SnO2 + 0,1mol% Nb2O5 1550°C/8h 4,0 0,1 55,8 0,5
SnO2 + 0,5mol% Nb2O5 1550°C/8h 2,20 0,07 60,6 0,5
SnO2 + 1mol% Nb2O5 1550°C/8h 1,31 0,04 79,9 0,7
Resultados e discussão
46
Adição de CoO teve influência na forma e no tamanho do grão de SnO2. Valores do
tamanho médio do grão são dados na Tabela 5.1. Os grãos não são esferoidais, mas bastante
poliédricos e o tamanho médio do grão é significativamente menor comparado com tamanho
médio de grão de SnO2 não dopado.
As amostras com 2 % de CoO mostraram alta porcentagem de porosidade fechada em
comparação com outras amostras. Os precipitados no contorno de grão não inibem a
mobilidade do contorno de grão, levado os poros fechados [14, 16].
Os mapas de EDS das amostras dopadas com íons Co2+ são mostrados na Figura 5.11.
O mapa "phases" foi obtido somando-se os mapas de radiação Sn L e Co K.
Figura 5.11. Mapas de EDS da amostra dopada com 2% de Co.
Resultados e discussão
47
Foi verificada uma concentração mais alta de Co dentro dos poros. Óxidos de cobalto
podem sublimar e sair da cerâmica durante o processo de sinterização [79]. Obviamente óxido
de cobalto é capturado dentro dos poros durante a sinterização. Durante o resfriamento o
óxido de cobalto condensa nos poros. Consequentemente concentrações mais altas de Co são
verificadas na região dos poros em comparação ao interior do grão. Os espectros de EDS são
mostrados na Figura 5.12. A análise comparativa quantitativa da região dentro do grão e do
poro mostrou diferenças significantes em concentrações de Co2+ (Tabela 5.2).
(a) (b)
Figura 5.12. Os espectros de EDS na região do poro (a) e dentro do grão (b) da amostra
dopada com 2% de Co2+.
De qualquer maneira, adição de CoO para cerâmicas de SnO2 melhorou
significativamente a densificação e a microestrutura. Os valores de densidades estão
geralmente abaixo dos valores dados por outros autores para SnO2 dopado com CoO [14, 16,
22]. Estes valores mais baixos podem estar relacionados com a utilização de outro método de
preparação, bem como temperatura alta de calcinação que resultou na inibição parcial da
sinterização. O valor mais alto de temperatura de calcinação foi escolhido porque neste
Resultados e discussão
48
estágio de investigação o mais importante era obter uma distribuição homogênea de dopantes
no contorno de grão.
Tabela 5.2. As análises seminquantitativas de EDS de cerâmica à base de SnO2.
Porcentagem e tipo de dopantes em amostras
2% of CoO 1% of Nb2O5 1% of Cr2O3
Composição
dentro
do grão
na região
dos poros
através de
amostra
dentro de
aglomerados
dentro de grãos pequenos
no contorno de aglomerado
% de Sn 98,4 56,8 98,5 100 94,2
% de dopante
(Co, Cr ou Nb) 1,6 43,2 1,5 0 5,8
A inibição do crescimento de grão foi mais acentuada nas amostras dopadas com
Nb2O5 (Tabela 5.1). Tamanho de grão diminui de 6,8 m nas amostras dopadas com
0,025 %, para 1,31 m nas amostras com 1,0 % de Nb2O5 (Figura 5.13).
Figura 5.13. Micrografia da amostra 99% SnO2 +1mol% Nb2O5.
Resultados e discussão
49
Somente as amostras dopadas com 1,0 % de Nb2O5 mostraram densidades mais altas
do que SnO2 não dopado, mas este valor é ainda abaixo dos valores obtidos com CoO. A
análise de EDS das amostras que contêm Nb2O5 mostrou distribuição muito homogênea de
nióbio nas amostras (Figura 5.14). São observadas concentrações quase idênticas dentro dos
grãos, como também no contorno de grão, de mesma forma que o Sn. O espectro de EDS é
mostrado na Figura 5.15.
Figura 5.14. Os mapas de EDS da amostra dopada com 2% Nb5+ íons (fase 2- poro).
Resultados e discussão
50
Figura 5.15. Os espectros de EDS da amostra dopada com 2% Nb5+ íons.
A adição de Cr2O3 teve uma influência negativa nas propriedades de microestrutura do
SnO2 (Figura 5.16). As amostras são mais porosas, e as densidades são mais baixas do que o
SnO2 não dopado, mesmo em maiores concentrações de dopantes.
(a) (b)
Figura 5.16. Micrografias: (a) 99% SnO2 + 1mol% Cr2O3, (b) 99,9% SnO2 + 0,1mol% Cr2O3.
Resultados e discussão
51
A adição de Cr2O3 também inibe o crescimento de grãos do SnO2, mas em menor
extensão do que os outros dopantes (Tabela 5.1). As amostras dopadas com Cr2O3 contém
dois tipos de grãos: uma fração dos grãos esferoidais, como em SnO2 não dopado, mas com
menor tamanho e outra fração dos grãos longos, prismáticos, com extremidades muito afiadas
e claras, como monocristais. Estes grãos são muito grandes. Há grãos que são exageradamente
longos de aproximadamente 30-40 m. Estes dois tipos de grãos de SnO2 existem em todas as
amostras dopadas com Cr2O3, até mesmo nas amostras dopadas somente com 0,025 %. Os
tamanhos médios dos dois tipos de grãos em amostras dopadas com diferentes quantidades de
Cr2O3 são apresentados na Tabela 5.3. Os mapas EDS das amostras dopadas com Cr2O3
mostraram precipitação de Cr2O3 nos aglomerados de SnO2 (Figura 5.17).
A comparação dos espectros obtidos por análise qualitativa nos dois tipos de grãos é
mostrada na Figura 5.18. A precipitação de Cr2O3 nos contornos dos aglomerados pode
influenciar o crescimento de grão de tal modo que pode afetar a microestrutura. Em algumas
circunstancias o Cr2O3 pode ser comparado com Sb2O3 nos varistores de ZnO.
Tabela 5.3. Tamanho médio de dois tipos de grão em função de concentração de Cr2O3.
1 % Cr2O3 0,5 % Cr2O3 0,1 % Cr2O3
Tamanho médio dos
grãos pequenos (m) 9,9 7,1 7,2
Tamanho médio dos
grãos grandes (m) 31,4 23,5 20,8
Resultados e discussão
52
Figura 5.17. Mapas de EDS de amostra dopada com 2% de Cr3+ (Região 1-aglomerado de
SnO2; Região 2-grãos pequenos no contorno dos aglomerados).
Nas fotografias de MEV esta precipitação aparece na forma de partículas pequenas.
Nos mapas são observados claramente que há concentração mais alta de Cr nestas partículas
pequenas. Deve ser mencionado que pela análise de difração de raios X das amostras
sinterizadas e dopadas com Cr2O3 não foi observada a presença de outras fases com exceção
de SnO2, mas foi registrada mudança dos parâmetros de rede. As análises seminquantitativas
de EDS (Tabela 5.2) da amostra dopada com 2% de Cr3+ mostraram que esta segunda fase
rica em cromo contém somente 5,8 % de Cr3+. Isto significa que esta segunda fase rica em
cromo tem estrutura cristalina de SnO2, e que Cr3+ é incorporado na rede de SnO2.
Resultados e discussão
53
(a) (b)
Figura 5.18. Os espectros de EDS nos dois tipos dos grãos da amostra dopada com 2% de
Cr3+ (a) Região 1-aglomerado de SnO2, (b) Região 2-grãos pequenos no
contorno de aglomerados).
Análise de MEV de SnO2 dopado com todos os três dopantes (CoO, Cr2O3 e Nb2O5)
mostrou uma microestrutura densa e homogênea (Figura 5.19). As medidas de densidade
através do método do Archimedes mostram as seguintes densidades relativas: 98,5 %
(composição S1) e 99,5 % (composição S4). Os tamanhos médios de grãos de SnO2 das
amostras dopadas com todos três dopantes foram: 5,9 m para composição S1 e 6,2 m para
composição S4. As composições S1 e S4 têm concentrações diferentes de CoO sendo que as
concentrações dos outros dopantes são iguais. As amostras de composição S1 que contem
mais CoO (1%) mostraram maior porosidade. A diferença em densidades destas amostras
confirma a importância do CoO no processo de densificação e a necessidade de otimização
das concentrações dos dopantes.
Como pode ser visto na Figura 5.19 a maioria dos poros está nos contornos de grãos,
mas também há pequena porcentagem de poros dentro dos grãos. A porosidade fechada,
observado nas micrografias, poderia ser consequência das altas concentrações dos dopantes
Co ou Nb [5]. Os mapas de EDS mostram distribuição extremamente homogênea dos
dopantes (Figura 5.20). Nesta amostra não foi encontrada uma concentração mais alta de CoO
dentro dos poros.
Resultados e discussão
54
a) b)
Figura 5.19. MEV de SnO2 dopado com todos os três dopantes: a) S1 e b) S4.
Figura 5.20. Mapas de EDS da amostra dopada com todos os três dopantes (composição S1).
Resultados e discussão
55
5.5. ANÁLISE ESPECTROSCÓPICA
A análise espectroscópica foi executada no intervalo do visível, infravermelho
próximo e infravermelho para obter as informações sobre a banda proibida, estado da valência
dos dopantes em SnO2, bem como para investigar as outras influências dos dopantes nas
propriedades da cerâmica à base de SnO2.
Os espectros de refletância difusa obtidos na região do comprimento de onda do
visível e infravermelho próximo são mostrados na Figura 5.21. A zona proibida óptica foi
determinada através do método do Tandon [80] e os valores obtidos são apresentados na
Tabela 5.4. As amostras dopadas com Co2+ e Cr3+, bem como SnO2 puro têm os valores da
banda proibida quase iguais. Esses valores obtidos estão de acordo com os dados da literatura
[81]. As amostras dopadas com Nb5+ têm valores pouco diferentes.
Tendo em mente que as amostras foram preparadas por suspensão de SnO2 em solução
contendo íons dos dopantes, é muito importante confirmar a valência dos dopantes. Os
espectros de refletância difusa, obtidos no intervalo de comprimento de onda de visível e
infravermelho próximo, podem mostrar transições do tipo d-d que podem dar informações
sobre o estado de valência. Esta investigação foi especialmente importante para o caso do
nióbio, porque os cátions foram obtidos partir de citrato de nióbio. Neste caso vários estados
de oxidação de Nb são possíveis. A ausência de bandas atribuídas a transições d-d nos
espectros de SnO2 dopados com nióbio (Figura 5.21.) sugere a configuração estável
(configuração do Kr) do nióbio dentro de rede de SnO2. As amostras dopadas com Co
mostram dois tripletos (1o: 586, 624, 684 nm e 2o: 1436, 1536, 1770 nm) (Figura 5.21.). Esses
valores são característicos por Co2+ [82-84]. No espectro da amostra dopada com Cr há dois
picos a 560 e 702 nm, que são transições d-d do Cr3+ [82, 84, 85]. De acordo com espectros
mostrados na Figura 5.21a, e também com dados de literatura [82-85] as cerâmicas de SnO2
contêm íons Co2+, Cr3+ ou Nb5+, como foi inicialmente sugerido.
Resultados e discussão
56
500 1000 1500 2000 2500
0
50
100 SnO2
Cr
Co
Nb
R(%
)
(nm)
SnO2
1% CoO 1% Nb
2O
5
1% Cr2O
3
(a)
500 1000 1500 2000 2500
0
20
40
60
80
100
120
R(%
)
(nm)
SnO2
0.05% CoO 0.25% CoO 1% CoO
(b)
Figura 5.21. Os espectros de refletância difusa obtidos na região do comprimento de onda do
visível e próximo infravermelho (a) das amostras do SnO2 puro e SnO2 dopado
com CoO, Cr2O3 ou Nb2O5, (b) da amostras dopadas com diferentes
concentrações de CoO.
Resultados e discussão
57
Tabela 5.4. Os valores da banda proibida óptica das amostras do SnO2 puro
e SnO2 dopado com CoO, Cr2O3 ou Nb2O5.
Composição Banda proibida óptica (eV)
SnO2 3,49
SnO2 + 0,05 mol% CoO 3,49
SnO2 + 0,25mol% CoO 3,51
SnO2 + 1mol% CoO 3,51
SnO2 + 0,025mol% Cr2O3 3,49
SnO2 + 0,1mol% Cr2O3 3,49
SnO2 + 1mol% Cr2O3 3,51
SnO2 + 0,5mol% Nb2O5 3,90
SnO2 + 1mol% Nb2O5 3,88
Na investigação na região do infravermelho, os espectros vibracionais foram obtidos
para concentrações de 2% at. de dopantes (Co2+, Cr3+) e para diferentes concentrações de
Nb5+, uma vez que as amostras contendo Nb5+ mostram diferenças significativas nos espectros
de transmitância (Figura 5.22 e 5.23) em comparação aos outros dopantes.
Nestes espectros há dois picos característicos para SnO2. Nos espectros de SnO2 puro
(Figura 5.22) eles estão localizados a 529 e 630 cm-1. Esses picos são característicos da
vibração da ligação Sn-O no SnO2 [86-91]. Obviamente as amostras dopadas com Co2+ e Cr3+
(Figura 5.22b) não mudam significativamente as posições destes dois picos, mas há grande
diferença nos espectros das amostras dopadas com Nb5+ (Figura 5.23). De acordo com os
dados da literatura, a mudança de posição destes picos é o resultado de diferentes morfologias
e tamanhos de grão das amostras [91]. Uma morfologia completamente diferente de grão de
SnO2 dopado com Nb5+ foi verificada quando comparado com a amostra de SnO2 pura
(Figura 5.10 e 5.13).
Resultados e discussão
58
6000 4000 2000 0
0
10
20
30
40
529 cm-1630 cm-1
SnO2
2% CoO 1% Cr
2O
3
T (
%)
1/ (cm-1)
(a)
800 400
0
10
20
1/ (cm-1)
T (
%)
529 cm-1
630 cm-1
SnO2
2% CoO 1% Cr
2O
3
(b)
Figura 5.22. (a) Os espectros de transmitância das amostras do SnO2 pura e SnO2 dopado
com CoO e Cr2O3, (b) ampliação do mesmo espectro na região 400-800 cm-1.
Como pode ser visto, a dopagem aumenta largura das bandas características da ligação
Sn-O. Isto significa que a ligação Sn-O não tem um valor de energia discreto, mas tem uma
distribuição destes valores. Esta distribuição é resultado da desordem introduzida pela
incorporação dos dopantes na rede de SnO2. Este efeito é mais pronunciado nas amostras
dopadas com Nb5+(Figura 5.23b), mesmo em baixa proporção de Nb5+(0,1 % de Nb5+).
Resultados e discussão
59
8000 6000 4000 2000
10
20
30
1/ (cm-1)
1% Nb2O5
0,5% Nb2O5
0.25% Nb2O5
0,1% Nb2O5
T (
%)
(a)
1000 800 600 400
5
10
15
1/ (cm-1)
1% Nb2O5
0,5% Nb2O5
0.25% Nb2O5
0,1% Nb2O5
T (
%)
(b)
Figura 5.23. (a) Os espectros de transmitância das amostras dopadas com Nb2O5, (b)
ampliação do mesmo espectro na região 400-1000 cm-1.
O valor de transmitância de todas as amostras também diminui acentuadamente para
valores de -1 maiores que 1300 cm-1, e no intervalo 3000-7800 cm-1 atinge quase 0%. Por
causa disto os espectros de refletância difusa foram medidos nesta região de comprimento de
onda (Figura 5.24) . Várias bandas na região 1000-3500 cm-1 correspondem à presença de
água [81, 89, 90] e estas não são de interesse nesta investigação. Também, na região
característica do SnO2 é possível ver que amostras dopadas com CoO e Cr2O3 mostraram
espectros semelhantes aos de SnO2. Os espectros obtidos estão de acordo com os dados sobre
Resultados e discussão
60
SnO2 policristalino publicados por alguns outros autores [91, 92]. No entanto, os espectros
das amostras dopadas com Nb2O5 são completamente diferentes, como já foi explicado.
8000 6000 4000 2000 0
0
50
100
SnO2
2% CoO 1% Cr
2O
3
1% Nb2O
5
R (
%)
1/ (cm-1)
(a)
1200 1000 800 600 4000
20
40
60
1/ (cm-1)
SnO2
2% CoO 1% Cr
2O
3
1% Nb2O
5
R (
%)
(b)
Figure 5.24. (a) Os espectros de refletância difusa das amostras do SnO2 puro
e SnO2 dopado com CoO, Cr2O3 ou Nb2O5, (b) ampliação do mesmo espectro
na região 400-1200 cm-1.
Resultados e discussão
61
5.6. CARACTERIZAÇÃO ELÉTRICA
5.6.1. OTIMIZAÇÃO DAS CONDIÇÕES DAS MEDIDAS ELÉTRICAS
Neste estudo, foi investigada a influência de diferentes tipos de eletrodos, bem como a
influência da atmosfera, na confiabilidade e precisão de medidas elétricas. Os materiais dos
eletrodos não só mudam o valor da resistência das amostras, mas também apareceram novos
semicírculos adicionais em espectros de impedância, principalmente em amostras com
eletrodos da prata. As amostras com eletrodos de grafite mostraram características elétricas
muito instáveis e não foi possível obter dados confiáveis.
As condições das medidas foram definidas para se obter somente a resposta do
contorno do grão. Se no espectro aparece mais de um semicírculo, isto significa que existe
mais de um processo, com diferente tempo de relaxação, do contorno do grão. Isto é possível
se ocorrerem dois tipos de condutividade (eletrônica e iônica) ou no caso em que ocorra uma
substancial não-homogeneidade lateral [56, 57, 59], bem como no caso de dois ou mais tipos
de contorno de grão (por exemplo: contorno de grão entre dois grãos de SnO2 ou entre um
grão de SnO2 e alguma outra fase). Em nossa investigação foi verificado um só tipo do
contorno de grão (contorno de grão entre dois grãos de SnO2) e tentou-se obter a melhor
homogeneidade possível em cada contorno de grão. Se existe um equilíbrio das pressões
parciais dos gases, das concentrações dos defeitos, bem como equilíbrio químico obtem-se
apenas um semicírculo.
A comparação os espectros de impedância obtidos com eletrodos de tinta de prata e com
eletrodos metalizados com ouro são mostrados na Figura 5.25 e 5.26. As amostras com
eletrodos metalizados com ouro mostram só um semicírculo. Em espectro de amostras com
eletrodos da tinta de prata aparecem dois ou três semicírculos. Considerando que as amostras
foram preparadas em iguais condições, as diferenças nos espectros podem ser a conseqüência
do tipo de eletrodo utilizado. Também, é possível ver condutividade iônica utilizando-se
eletrodos porosos, que permitem o fluxo de gases. O aparecimento dos semicírculos
adicionais em amostras com eletrodos de tinta de prata, pode ser explicado pelos dois tipos de
condutividade (eletrônica e iônica) ou por alguns tipos de inomogeneidade. Supõe-se que
alguns gases de solventes orgânicos foram absorvidos em amostras porosas. Durante o
Resultados e discussão
62
tratamento térmico das amostras com eletrodos pintados esses gases não foram eliminados.
Propriedades elétricas das cerâmicas à base de SnO2 é muito sensível à presença gases
orgânicos (utilizado como sensor de gases). Por outro lado, os eletrodos metalizados com ouro
não são porosos e não contém gases orgânicos. Este tipo de eletrodo permite somente
condutividade eletrônica.
0 1x105 2x105 3x105 4x105
0.0
5.0x104
1.0x105
1.5x105
10 kHz
100 kHz
100 kHz
1 MHz
100 kHz10 kHz
temperatura da medida:
300.9oC
319.7oC
339.1oC
-Im
Z
Re Z
(a)
0.0 2.0x105 4.0x105 6.0x105 8.0x105
0
1x105
2x105
3x105
4x105
1 MHz
100 kHz10 kHz
temperatura da medida:
303.5oC
322.5oC
342.3oC
-Im
Z
ReZ
(b)
Figura 5.25. Espectros de impedância das amostras 99,5% SnO2 + 0,5mol% Cr2O3 com
eletrodos (a) tinta de prata, (b) metalizado com ouro.
Resultados e discussão
63
0.0 5.0x104 1.0x105 1.5x105
0
1x104
2x104
3x104
4x104
5x104
6x104
7x104
1 MHz
100 kHz
10 kHz
temperatura da medida:
295oC
328oC
-Im
Z
Re Z
(a)
0 1x105 2x105 3x105
0.0
5.0x104
1.0x105
1.5x105
1 MHz
100 kHz
10 kHz
temperatura da medida:
304oC
342.5oC
-Im
Z
Re Z
(b)
Figura 5.26. Espectros de impedância das amostras 98% SnO2 + 2mol% CoO com eletrodos
(a) tinta de prata, (b) metalizado com ouro.
Na Figura 5.27 e 5.28 são mostrados os espectros obtidos em ar seco e N2. Essas
amostras dopadas com Cr3+ e Co2+ foram sinterizadas em ar seco, e durante a sinterização
atingiu-se o equilíbrio entre a concentração dos defeitos e das pressões parciais dos gases.
Durante as medidas em atmosfera de N2 não foi possível atingir rapidamente o equilíbrio,
porque a temperatura da medida era menor que a temperatura de sinterização. Provavelmente,
parte da amostra próxima aos poros abertos pode mudar o equilíbrio mais rapidamente, e
dessa maneira, mudar concentrações dos defeitos. Estas amostras (Figuras 5.27 e 5.28) são
Resultados e discussão
64
bem porosas e o efeito de medida em atmosfera de nitrogênio é mais pronunciado. Desta
forma, é melhor utilizar a mesma atmosfera tanto para sinterização como para medidas
elétricas. No presente caso, o sistema atingiu o equilíbrio durante o processo de sinterização.
0 50000 100000 150000 200000
0
-20000
-40000
-60000
-80000
-100000
1 MHz100 kHz
10 kHz
-ZIm
(
)
ZRe
()
temperatura da medida:
344oC
(a)
0 200000 400000 60000050000
0
-50000
-100000
-150000
-200000
-250000
-300000
1 MHz
100 kHz
10 kHz
10 kHz
-ZIm
(
)
ZRe
()
temperatura da medida:
346oC
(b)
Figura 5.27. Espectros de impedância da amostra 99,975% SnO2 + 0.025mol% Cr2O3 na
atmosfera do (a) N2 e (b) ar seco.
Resultados e discussão
65
0 500000 1000000
0
-200000
-400000
-600000
1 MHz
100 kHz10 kHz
ZRe
()
-ZIm
(
)
temperatura da medida:
489oC
(a)
0 200000 400000 600000
0
-100000
-200000
-300000
1 MHz
100 kHz10 kHz
-ZIm
(
)
ZRe
()
temperatura da medida:
542,6oC
(b)
Figura 5.28. Espectros de impedância da amostra 99,95% SnO2 + 0.05mol% CoO na
atmosfera do (a) N2 e (b) ar seco.
De acordo com estes resultados as condições recomendadas para as cerâmicas à base de
SnO2 são: eletrodos metalizados com ouro e atmosfera de ar seco.
5.6.2. ESPECTROSCOPIA DE IMPEDÂNCIA
Nas Figuras 5.29, 5.30 e 5.34 são mostrados os espectros de impedância das amostras
dopadas com diferentes dopantes.
Resultados e discussão
66
0 1x105 2x105 3x105
0.0
5.0x104
1.0x105
1.5x105
100 kHz10 kHz
1 MHz
100 kHz
10 kHz
ZRe
()
-Z
Im (
)temperatura da medida:
500oC
484oC
466oC
448oC
421oC
Figura 5.29. Espectros de impedância da amostra 99% SnO2+1mol% CoO.
0 1x105 2x105 3x105 4x105 5x105
0
1x105
2x105
10 kHz1 MHz
100 kHz
10 kHz
ZRe
()
-Z
Im (
)
temperatura da medida:
560oC
543oC
524oC
506oC
Figura 5.30. Espectros de impedância da amostra 99% SnO2+1mol% Cr2O3.
Os espetros foram ajustados e os resultados obtidos foram utilizados para calcular a
energia de ativação aparente de condução.
As amostras dopadas com Cr2O3 mostraram somente um semicírculo ideal, com
pequeno ângulo de depressão no gráfico de Nyquist. Deve ser enfatizado que estas amostras
são altamente porosas e são muito heterogêneas em relação a distribuição de tamanho de
grãos (Figura 5.16). Isto significa que tanto a porosidade como a distribuição heterogênea de
tamanho de grãos não leva a um processo adicional de relaxação.
As propriedades elétricas das amostras que contêm diferentes dopantes foram
comparadas baseando-se nos valores de energias de ativação aparentes de condução –EA
Resultados e discussão
67
(Tabela 5.5). Foi observado que a umidade do ar tem influência nos resultados de
espectroscopia de impedância. Os dados mais confiáveis podem ser obtidos em ar seco.
Medidas foram executadas com eletrodos metalizados com Au , em ar seco ou N2. O gráfico
de Arrhenius (ln R-1/T) das amostras dopadas com 1% Co2+, medidas em ar seco e N2, é
mostrado na Figura 5.31.
0.0012 0.0013 0.0014 0.0015 0.0016
9
10
11
12
13
14
em ar seco em N
2
lnR
1/T (K-1)
Figura 5.31. Grafico de Arrhenius das amostras dopadas com 1% Co2+,
medidas em ar seco e N2.
As amostras medidas em ar seco tiveram resistência mais alta, por causa da diminuição em
concentração de vacâncias de oxigênio. Não obstante, os valores de EA similares, que o
mecanismo de condução é devido ao mesmo tipo de defeitos.
Para as amostras dopadas com 0,05% de Co2+ a resistência é muito alta e assim as
medidas só foram executadas no intervalo da temperatura 507°-560°C, porque em baixas
temperaturas não foi possível medir valores altos de R.
As amostras dopadas com Cr3+ exibem duas regiões lineares, com inclinações
diferentes, nos gráficos de Arrhenius, i.e. há mudanças no valor de EA para temperaturas de
medidas menores. Isto sugere que existem mudanças dos tipos de defeito ionizado dominante,
nestas amostras, e neste intervalo da temperatura. Tal comportamento pode ser visto
claramente em amostras dopadas com 0,05% Cr3+ (Figura 5.32). Em todas as amostras
Resultados e discussão
68
dopadas com Cr3+ o valor de EA é aproximadamente 1,9 eV para temperaturas mais altas e
diminui com diminuição de temperatura de medida.
Tabela 5.5. Energias de ativação de condução de cerâmica à base de SnO2.
Composição atmosfera Intervalo da
temperatura,
(C)
Energia de
ativação,
(eV)
Intervalo da
temperatura,
(C)
Energia de
ativação,
(eV)
SnO2 puro ar seco 310-410 0,58 410-530 1,43
SnO2 + 0,05 mol% CoO ar seco 507-560 1,68 - -
SnO2 + 0,25mol% CoO ar seco 380-563 1,42 - -
SnO2 + 1mol% CoO ar seco 363-421 1,03 448-574 1,43
SnO2 + 1mol% CoO N2 353-434 0,99 462-532 1,43
SnO2 + 0,025mol% Cr2O3 ar seco 318-454 0,44 488-545 1,88
SnO2 + 0,1mol% Cr2O3 ar seco 467-522 0,88 550-592 1.80
SnO2 + 1mol% Cr2O3 ar seco 469-525 1,44 525-580 1,94
SnO2 + 1mol% Nb2O5 ar seco 98-239 0,125 - -
0.0012 0.0014 0.0016
7
8
9
10
11
12
13
14
lnR
1/T (K-1)
Figura 5.32. Gráfico de Arrhenius das amostras dopadas com 0,05% Cr3+.
Resultados e discussão
69
A dependência da R com a concentração de Nb5+ é mostrado na Figura 5.33. A
resistividade R diminui com a concentração de Nb5+ até um valor mínimo (0,2 %).
Subseqüente aumento da concentração de Nb5+ leva a um aumento na resistividade. Este
resultado está de acordo com resultados de DRX. A mudança dos parâmetros de rede de SnO2
sugere uma mudança no mecanismo de incorporação de Nb5+ na rede de SnO2, que pode
resultar num aumento na resistividade. (veja Figura 5.9c).
0.0 0.5 1.0 1.5 2.0
0
100
200
300
400
500
600
(
m)
concentração de Nb5+ (molar %)
Figura 5.33. A dependência da R com a concentração de Nb5+.
Dopando-se com Nb5+ reduz-se a barreira de potencial substancialmente de tal forma
que na maioria das amostras sua presença não foi determinada através de espectroscopia de
impedância. Só em amostras dopadas com 2% de Nb5+ verificou-se um semicírculo pequeno
em espectros de impedância (Figura. 5.34). Também, não foi possível ajustar estes resultados
com boa precisão sem introduzir o elemento indutivo (L) no circuito equivalente (Figura.
5.34b). Este elemento indutivo aparece nos espectros com baixa resistência e é característica
do aparelho de medida (HP 4192A e porta amostra). O valor de EA das amostras dopadas com
Nb5+ é muito pequeno (0,125 eV).
Resultados e discussão
70
0 50 100 150 200 250 300 350 400 450100
50
0
50
100
150
100 kHz
100 kHz1 MHz
100 kHz
10 kHz
ZRe
()
-ZIm
(
) temperatura da medida:
25oC
69oC
126oC
182oC
295oC
(a)
(b)
Figura 5.34. (a) Espectros de impedância obtidos na amostra 99% SnO2+1mol% Nb2O5, (b)
circuito equivalente.
5.6.4. MEDIDAS ELÉTRICAS COM CORRENTE CONTINUA (dc)
As medidas dc de SnO2 dopadas com todos os três dopantes mostraram que essa
amostra tem propriedade de varistor. Primeira composição (S1: 98,9% SnO2 + 1% CoO +
0,05% Cr2O3 + 0,05% Nb2O5) foi escolhida de acordo com dados de literatura [78]. Das
características de corrente-tensão (Figura 5.35) foram calculados os valores do coeficiente não
linear, o campo elétrico de ruptura e densidade de corrente de fuga. Os valores obtidos são
igual a 36, EC igual a 253 V/mm e jL=110 A/cm2. Pode ser visto nesta figura que somente o
começo da parte não linear da curva de corrente-tensão foi obtido, por causa da condutividade
alta da amostra. A forma desta curva não é boa. É necessário obter uma transição mais
pronunciada entre as partes linear e não linear. Também a característica elétrica não é estável
Resultados e discussão
71
com tempo. Na Figura 5.36 é mostrada a mudança de tensão em função do tempo, para
diferentes valores de densidade de corrente. Como pode ser visto, esta mudança é maior para
os valores maiores de corrente. Isto pode ser explicado pelo aquecimento local dentro da
amostra. Por causa da maior resistividade do contorno de grão e da alta corrente aplicada, a
região do contorno de grão é aquecida diminuindo, assim, a resistividade do contorno de grão.
Isto resulta em diminuição de tensão.
10-8 10-6 10-4 10-2
101
102
E (
V/m
m)
J (A/cm2)
Figura 5.35. Campo elétrico vs. densidade de corrente da amostra S1: 98,9% SnO2 + 1%
CoO + 0,05% Cr2O3 + 0,05% Nb2O5.
O método de evaporação e decomposição de soluções e suspensões foi utilizado para
preparar varistores à base de SnO2. A aplicação deste método resulta numa distribuição
homogênea dos dopantes nos contornos de grão do SnO2. Neste sentido, foi otimizada a
composição das amostras para se obter amostra com melhor característica de corrente-tensão.
Foi preparado um conjunto de amostras com diferentes composições. As amostras de
composição S6 têm resistividade grande e alta barreira de potencial. No intervalo de tensão
aplicada somente a parte não linear da curva E-J foi observada (Figura 5.37).
Resultados e discussão
72
0 2 4 6 8 10200
210
320
340
360
380
E (
V/m
m)
t (s)
27,4 mA/cm2
2,74 mA/cm2
0,274 mA/cm2
Figura 5.36. Mudança da tensão em função de tempo, para diferentes valores de corrente da
amostra S1.
10-9 10-8 10-7
102
103
E (
V/m
m)
J (A/cm2)
Figura 5.37. Campo elétrico vs. densidade de corrente da amostra de composição S6.
As amostras de composição S2, S3, S5 e S8 foram instáveis e a mudança de tensão em
função de tempo foi observada (Figura 5.38). Por causa desses resultados as medidas não são
confiáveis.
Resultados e discussão
73
0 2 4 6 8 10180190
540
560
580
600
620
640
660
680
E (
V/m
m)
t (s)
27,4 mA/cm2
2,74 mA/cm2
0,274 mA/cm2
Figura 5.38. Mudança de tensão em função do tempo, para diferentes valores de densidades
de corrente da amostra S1.
Na figura 5.39 são mostradas características E-J que foram obtidas para composições
S4, S7, S9, S10. A característica melhor foi obtida para composição S4. Neste caso os valores
dos parâmetros característicos são: o coeficiente não linear, , (por valor de densidade de
corrente igual a 1 mA/cm2) igual a 35, o campo elétrico de ruptura, EC, igual a 316 V/mm e
densidade de corrente da fuga, jL, igual a 0,86 A/cm2. Acrescente-se também que o
coeficiente é sempre maior que 30 para intervalo de densidade de corrente entre 10-7-10-2
A/cm2. Essa amostra tem E-J caracteristicamente estável com o tempo. A amostra de
composição S4 foi mantida com uma densidade de corrente de 27,4 mA/cm2 por 30 minutos.
A mesma característica E-J foi obtida após esta condição extrema.
Outros autores [22, 24, 33] também obtiveram valores altos de , mas num menor
intervalo de corrente. As amostras de composição S4 satisfazem os critérios recomendados
para a aplicação tecnológica dos varistores [93].
Resultados e discussão
74
10-9 10-7 10-5 10-3 10-1100
101
102
103
K (
V/m
m)
J (A/cm2)
S4 S7 S9 S10
Figura 5.39. Campo elétrico vs. densidade de corrente das amostras de composições S4, S7,
S9 e S10.
5.7. MODELO DE FRACTAL PARA O CONTORNO DE GRÃO
Um novo modelo de fractal da região de contorno de grão de materiais cerâmicos foi
desenvolvido. O modelo considera a distribuição inomogênea de portadores de carga na
região próxima ao contorno de grão como a causa principal da relaxação do tipo não-Debye
nos espectros de impedância dos materiais cerâmicos.
O modelo de fractal refere-se somente da região dentro do grão, perto de contorno de
grão (Figura 5.40).
Figura 5.40. Região da vizinhança do contorno de grão, considerada no modelo fractal.
Resultados e discussão
75
Supõe-se que não há distribuição espacial homogênea de defeitos e dopantes na região
perto do contorno de grão. Isto resulta em distribuição inomogênea dos portadores de carga e,
supõe-se que isso é a razão principal para o comportamento de não-Debye do contorno de
grão. A região pode ser representada pelo esquema mostrado na Figura 5.41.
(a)
(b)
Figura 5.41. (a) Contorno de grão como um plano liso, (b) distribuição inomogênea de
defeitos do contorno de grão que resulta em resistências diferentes.
Como pode ser visto o contorno de grão é apresentado como um plano liso, mas há
diferenças na distribuição de defeitos do contorno de grão que resulta em resistências
diferentes pela região de contorno de grão (Figura 5.41a). Se a região próxima do contorno de
grão for observada com boa resolução, ele pode ser representada por caixas de alturas
diferentes onde a altura de cada caixa é proporcional à sua resistência (Figura 5.41b).
Conseqüentemente, caixas com resistência maior são mais altas e vice-versa.
A capacitância associada é proporcional a área da superfície normal a direção do
campo elétrico. Se a resolução foi aumentada é possível verificar a não uniformidade dentro
de cada caixa, de forma que cada caixa poderia ser dividida em caixas novas com resistências
e capacitâncias uniformes, e assim por diante. Também é assumido que a região observada
pode ser tratada como objeto fractal. Uma região na vizinhança do contorno de grão, mostrada
na Figura 5.41b, poderia ser dividido em M partes (não necessariamente da mesma forma)
com a mesma área de superfície e a mesma concentração de portadores de carga. Uma parte
Resultados e discussão
76
dessa divisão é mostrada na Figura 5.42. A ampliação deste quadro por um fator de escala a
indica que cada parte não tem homogenidade local, i.e., há N caixas randomicamente
distribuidas com uma resistência maior em cada parte. A resistência RB é a resistência da parte
inteira (total) até z = h. A capacitância daquela interface (z = h) é C, e a resistência interfacial
é RI. A resistência de cada uma das N caixas tem o valor a·RB, a capacitância tem o valor C1 =
C/a2, e resistência interfacial RI1 = a2·RI A ampliação adicional pelo fator a mostra uma
camada nova com R2 = a2·RB, C2 = C/a4 e RI2 = a4·RI etc. A impedância de uma região perto
do contorno de grão Ztot = Z()/M onde Z() representa a impedância da parte mostrada na
Figura 5.42 e M representa numero de partes.
Figura 5.42. Modelo auto-similar de superficie da região perto do contorno de grão.
O circuito equivalente para esta parte é dado na Figura 5.43 e pode ser descrito pela equação:
.....1
11
11
11
1)(
6
34
22
aRCRj
aR
NaR
CRjaR
NaR
CRjaR
NR
CRjRZ
I
IB
I
IB
I
IB
I
IB
(5.1)
Para simplificar esta equação introduzimos uma nova função que tem o seguinte valor:
I
I
R
CRj
1. (5.2)
Resultados e discussão
77
R N
N
N
N
N
N
N
.
.
.
.
.
.
.
.
.
.
.
.
.
.
.
.
I
I
I
I
I
I
C
C
C
C
C
C
C
R I
B
R .a
R .a
R .a
R .a
R .a
R .a
R .a
R .a
a
a
a
a
a
a
B
B
2
4
4
4
4
BR .a2
BR .a2
BR .a2
BR .a2
2
2
4
4
4
4
2
Figura 5.43. O circuito equivalente para modelo dado na Figura 5.42.
Substituição de equação (5.2) em equação (5.1) fornece uma equação mais simples para a
impedância observada:
.....
1
1
1
1)(
6
34
22
a
aR
N
a
aR
N
a
aR
NRZ
B
B
B
B
. (5.3)
substituindo na Eq. (5.3) por ·a e multiplicando a fração por a fornece a nova equação:
)(
)(2
Z
Na
aRaZ B
(5.4)
Resultados e discussão
78
Assumindo que a região de contorno de grão é altamente resistiva em comparação ao interior
de grão, i.e. RI >> RB, e supondo que, Z( ) e ·Z( ) 0 quando 0, Eq. (5.4)
se torna
)()( ZN
aaZ (5.5)
A solução desta equação tem forma
)1
()(I
I
R
CRjKKZ (5.6)
onde K é constante, e outros símbolos têm os significados definidos previamente. Deve ser
destacado que a Eq. (5.6) tem a forma da equação de Davidson-Cole.
Substituindo a Eq. (5.6) na Eq. (5.5) o seguinte valor de parâmetro pode ser obtido:
= ln
ln
N
a1, (5.7)
De acordo com a definição, a dimensão de fractal (dS) do fractal determinístico é dado por
dN
aS ln
ln (5.8)
A combinação das equações (5.7) e (5.8) conduz a uma equação final que conecta a dimensão
de fractal (dS) com o parâmetro :
dS = 1 + . (5.9)
O parâmetro é a medida da inomogeneidade da região observada, e pode ser obtido
ajustando-se os resultados da espectroscopia de impedância com equação de Davidson-Cole.
Esta dimensão fractal é relacionada com a distribuição inomogênea dos portadores de carga
na vizinhança da superfície de contorno de grão. Se existe uma distribuição homogênea dos
portadores de carga em todas as resoluções, logo a dimensão fractal desta superfície será igual
a 2, i.e. relaxação do tipo Debye será encontrado. Ao contrário, se a distribuição de portadores
de carga foi inomogênea resulta em dimensão fractal menor do que 2, i.e., há relaxação do
tipo não-Debye na resposta de impedância do contorno de grão. Este modelo é importante, já
que pode ser aplicado em qualquer sólido policristalino. A aplicação da teoria de fractal em
ciência de materiais, como também a possibilidade de determinação da dimensão de fractal,
que usa método simples como espectroscopia de impedância, nos dá uma nova contribuição
para caracterização de materiais.
Resultados e discussão
79
5.8. AS DIMENSÕES DE FRACTAL DAS AMOSTRAS DE SnO2 PURO E SnO2
DOPADO
A melhor maneira de testar a validade do modelo fractal é verificar a dependência de
dimensão de fractal com a temperatura [46]. De acordo com o modelo de fractal proposto as
dimensões do fractal foram calculadas para composições diferentes de SnO2 dopado em
função da temperatura de medida e da atmosfera.
As mudanças de dimensão de fractal, capacitância e lnR em função da temperatura das
amostras SnO2 puro e dopadas são ilustradas na Figura 5.44. Todas amostras mostraram
comportamentos semelhantes. As curvas C-1/T e ds-1/T têm valores extremos (máximo ou
mínimo) na mesma temperatura, corespondendo a temperatura em que a função lnR-1/T muda
a inclinação. A mudança em inclinação da função lnR-1/T é conseqüência da mudança do tipo
de defeitos dominantes. A dimensão de fractal mostra um valor mínimo a temperaturas na
qual a desordem é maior no sistema. Com o aumento da temperatura resulta no domínio do
segundo tipo de defeitos dominantes com diferente nível de energia e, desta forma, há
aumento na dimensão de fractal. Isto significa que neste intervalo de temperatura temos
aumento em homogeneidade dos portadores de carga.
0.0012 0.0014 0.0016 0.0018
1.85
1.90
1.95
2.00 d
s
d s
1/T (K-1)
0
2
4
6
8
10
12 C
C (
10-1
1 F)
10
12
14
16
lnR
0.0012 0.0014 0.0016
1.80
1.85
1.90
ds
d s
1/T (K-1)
1
2
3
4
5 C
C (
10-1
1 F)
8
10
12
14
16
lnR
(a) (b)
Resultados e discussão
80
0.0012 0.0014 0.00161.75
1.80
1.85
1.90 d
s
d s
1/T (K-1)
5
10
15 C
C (
10-1
0 F)
6
8
10
12
14
16
lnR
0.0020 0.0025 0.0030 0.0035
1.95
1.96
1.97
1.98
1.99 ds
d s
1/T (K-1)
3.0
3.2
3.4
3.6
C (
10-9 F
)
C
3
4
5
6
lnR
(c) (d)
0.0016 0.0018 0.0020 0.0022 0.0024
1.85
1.90
1.95
2.00 d
s
d s
1/T (K-1)
0
1
2
3
4 C
C (
10-9
F)
6
8
10
12
14
16
lnR
(e)
Figura 5.44. As mudanças de dimensão de fractal, capacitância e lnR em função da
temperatura das amostras (a) SnO2 puro, (b) SnO2 com 1% CoO, (c) SnO2 com
0,1% Cr2O3, (d) SnO2 com1% Nb2O5, (e) 98,9% SnO2 + 1% CoO + 0,05%
Cr2O3 + 0,05% Nb2O5.
Resultados e discussão
81
A comparação dos valores da dimensão do fractal (dS) das amostras com as diferentes
composições mostrou que as amostras dopadas com Nb2O5 têm a dimensão de fractal mais
alta e as amostras dopadas com Cr2O3 têm a dS mais baixa. Tendo em mente que a análise
microestrutural mostrou distribuição de fases homogênea das amostras dopadas com Nb2O5,
mas inomogênea nas amostras dopadas com Cr2O3, pode-se concluir que as homogeneidades
microestruturais resultam em homogeneidade elétrica no contorno de grão, i.e. maior
homogeneidade na distribuição dos portadores de carga.
É muito interessante investigar a influência das concentrações dos dopantes nos
valores de dS. Os resultados obtidos para amostras dopadas com CoO e Cr2O3 são mostrados
na Figura 5.45.
0.0012 0.0014 0.00161.75
1.80
1.85
1.90
1.95
2.00
1/T (K-1)
d s
SnO2
0.1% Cr2O
3
0.25% Cr2O
3
a)
0.0012 0.0014 0.00161.7
1.8
1.9
d s
1/T (K-1)
0.25% CoO 1% CoO 2% CoO
b)
Figura 5.45. Dimensão de fractal das amostras dopadas com a) Cr2O3 e b) CoO.
Resultados e discussão
82
Pode ser visto que o aumento da concentração dos dopantes resultou no aumento do
valor de dS. Obviamente as concentrações muito pequenas dos dopantes diminuíram
homogeneidade na distribuição de portadores de cargas. Com aumento da concentração dos
dopantes os portadores de carga são distribuídos mais uniformemente. Deve-se enfatizar que
todos os valores de dS obtidos para amostras dopadas com Cr2O3 e CoO são sempre mais
baixos do que os valores calculados para SnO2 puro. Para amostras dopadas com Nb2O5 este
tipo de correlação não foi possível fazer porque não foi possível medir espectros de
impedância de todas amostras dopadas com Nb2O5, por causa da alta condutividade da
amostra.
Comparando-se os dados nas Figura 5.46, verifica-se que os valores mais baixos de dS
são obtidos em atmosfera de N2. Tendo em mente que as amostras sinterizadas na atmosfera
de ar e por conseguinte o equilíbrio de defeitos foi alcançado em ar, portanto as medidas em
N2 mudarão as concentrações de defeitos, especialmente nos contornos dos grãos mais perto
dos poros abertos. Esta mudança inomogênea das concentrações de defeitos introduzirá mais
desordem ao sistema.
0.0012 0.0014 0.0016
1.80
1.85
1.90
ds
d s
1/T (K-1)
1
2
3
4
5 C
C (
10-1
1 F)
8
10
12
14
16
lnR
0.0012 0.0014 0.0016
1.75
1.80
1.85
ds
d s
1/T (K-1)
2
3
4
5
6 C
C (
10-1
1 F)
10
12
14
lnR
a) b)
Figura 5.46. Dimensão de fractal, capacitância e lnR em função de temperatura da amostra
dopada com 1% de Co2+ a) em ar, b) em N2.
Resultados e discussão
83
A conclusão mais importante é que o parâmetro dS pode ser usado para caracterização
elétrica. Os valores baixos do dS indicam que as propriedades elétricas são inomogeneas
conduzindo as características elétricas instáveis.
Conclusões 84
6. CONCLUSÕES
Um estudo detalhado dos efeitos dos dopantes (CoO, Cr2O3 e Nb2O5) nas
características estruturais e elétricas da ceramica à base de SnO2 permite tirar as seguintes
conclusões:
-cobalto se incorpora na rede em estado de valencia 2+; não altera o valor da banda
proibida (3,5 eV); aumenta densidade,
-cromo incorpora na rede em estado de valencia 3+; não altera valor de banda probida
(3,5 eV); resulta em crescimento inomogêneo de grãos e em aparecimento de dois tipos de
grãos diferentes,
-nióbio incorpora na rede em estado de valencia 5+; altera valor de banda probida
(3,9 eV); inibe o crescimento de grãos; aumenta densidade (mas menor efeito do que Co2+); a
distribuição é homogenea; não tem tendência para evaporar durante sinterização; diminui a
barreira de potencial no contorno de grão de maneira significativa e consequentemente o
semicírculo do contorno de grão desapareceu nos espectros de impedância.
A otimização da composição da ceramica de SnO2 dopada com todos os três dopantes
resultou em propriedades elétricas excelentes: = 35 , Ec = 316 V/mm e jL = 0,86 A/cm2.
Um novo modelo de fractal da região do contorno de grão de materiais cerâmicos foi
desenvolvido. O modelo considera a distribuição inomogênea de portadores de carga na
região próximo ao contorno de grão como a causa principal da relaxação não-Debye. Uma
boa verificação deste modelo é a dependência: dimensão de fractal vs. temperatura.
A comparação dos valores da dimensão do fractal (dS) das amostras com as diferentes
composições mostrou que as amostras dopadas com Nb2O5 têm a dimensão de fractal mais
alta e as amostras dopadas com Cr2O3 têm dS mais baixa. Tendo em mente que a análise
microestrutural mostrou a distribuição de fases homogênea das amostras dopadas com Nb2O5,
mas inomogênea nas amostras dopadas com Cr2O3 pode se concluir que as homogeneidades
microestruturais resultam em homogeneidade elétrica no contorno de grão, i.e. maior
homogeneidade na distribuição dos portadores de carga. Também, os valores baixos de dS
Conclusões 85
sinaliza a inomogeneidade das propriedades elétricas conduzindo à características elétricas
instáveis.
O modelo proposto deve ser aplicável não somente em varistores de SnO2, mas
também a outros materiais que contêm contornos de grãos com alta resistência.
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