Fernando Pessoa

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Page 1: Fernando Pessoa

Deus

Às vezes sou o Deus que trago em mim E então eu sou o Deus e o crente e a prece

E a imagem de marfim Em que esse deus se esquece.

Às vezes não sou mais do que um ateu Desse deus meu que eu sou quando me exalto.

Olho em mim todo um céu E é um mero oco céu alto.

Page 2: Fernando Pessoa

Trabalho Realizado por:

João Ramalho Nº 8 Inf/Gest 12º Ano

Page 3: Fernando Pessoa

Magnificat

Quando é que passará esta noite interna, o universo, E eu, a minha alma, terei o meu dia?

Quando é que despertarei de estar acordado? Não sei. O sol brilha alto,

Impossível de fitar. As estrelas pestanejam frio,

Impossíveis de contar. O coração pulsa alheio, Impossível de escutar.

Quando é que passará este drama sem teatro, Ou este teatro sem drama,

E recolherei a casa? Onde? Como? Quando?

Gato que me fitas com olhos de vida, que tens lá no fundo? É esse! É esse!

Esse mandará como Josué parar o sol e eu acordarei; E então será dia.

Sorri, dormindo, minha alma! Sorri, minha alma, será dia !

Page 4: Fernando Pessoa

O amor é uma companhia

O amor é uma companhia. Já não sei andar só pelos caminhos,

Porque já não posso andar só. Um pensamento visível faz-me andar mais depressa

E ver menos, e ao mesmo tempo gostar bem de ir vendo tudo. Mesmo a ausência dela é uma coisa que está comigo.

E eu gosto tanto dela que não sei como a desejar. Se a não vejo, imagino-a e sou forte como as árvores altas.

Mas se a vejo tremo, não sei o que é feito do que sinto na ausência dela. Todo eu sou qualquer força que me abandona.

Toda a realidade olha para mim como um girassol com a cara dela no meio.

Page 5: Fernando Pessoa

Para ser grande, sê inteiro

Para ser grande, sê inteiro: nada Teu exagera ou exclui.

Sê todo em cada coisa. Põe quanto és No mínimo que fazes.

Assim em cada lago a lua toda Brilha, porque alta vive