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Ferramentas computacionais para a redação de textos acadêmicos: Uma recomendação pessoal Ivan Luiz Marques Ricarte Departamento de Engenharia de Computação e Automação Industrial Faculdade de Engenharia Elétrica e de Computação Universidade Estadual de Campinas [email protected] http://www.dca.fee.unicamp.br/~ricarte/ Novembro de 2002 Resumo Este documento apresenta uma breve introdução às ferramentas usadas pelo autor para a redação de textos acadêmicos: L A T E X, um compositor de textos, e EMACS, um editor de progra- mas, são ferramentas amplamente conhecidas e com versões para as mais diversas plataformas computacionais. Sumário 1 As características de um texto acadêmico 2 2 Produção de textos com L A T E X2 2 2.1 Comandos básicos para a criação de um documento .................. 3 2.1.1 Preâmbulo ................................... 3 2.1.2 Início do documento .............................. 4 2.1.3 Texto do documento .............................. 4 2.1.4 Listas ...................................... 5 2.1.5 Fórmulas .................................... 6 2.1.6 Elementos flutuantes .............................. 6 2.1.7 Referências internas .............................. 7 2.2 Processamento, visualização e impressão ........................ 8 2.3 Pacotes e funcionalidades adicionais .......................... 8 2.4 Citações bibliográficas ................................. 10 3 XEMACS 11 3.1 AUCTeX ........................................ 12 3.2 RefTeX ......................................... 14 4 Conclusão 14

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Ferramentas computacionais para a redação de textosacadêmicos: Uma recomendação pessoal

Ivan Luiz Marques RicarteDepartamento de Engenharia de Computação e Automação Industrial

Faculdade de Engenharia Elétrica e de Computação

Universidade Estadual de Campinas

[email protected]://www.dca.fee.unicamp.br/~ricarte/

Novembro de 2002

Resumo

Este documento apresenta uma breve introdução às ferramentas usadas pelo autor para aredação de textos acadêmicos: LATEX, um compositor de textos, e EMACS, um editor de progra-mas, são ferramentas amplamente conhecidas e com versões para as mais diversas plataformascomputacionais.

Sumário

1 As características de um texto acadêmico 2

2 Produção de textos com LATEX 2 � 22.1 Comandos básicos para a criação de um documento . . . . . . . . . . . . . . . . . . 3

2.1.1 Preâmbulo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 32.1.2 Início do documento . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 42.1.3 Texto do documento . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 42.1.4 Listas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 52.1.5 Fórmulas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 62.1.6 Elementos flutuantes . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 62.1.7 Referências internas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 7

2.2 Processamento, visualização e impressão . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 82.3 Pacotes e funcionalidades adicionais . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 82.4 Citações bibliográficas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 10

3 XEMACS 113.1 AUCTeX . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 123.2 RefTeX . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 14

4 Conclusão 14

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1 As características de um texto acadêmico

Textos acadêmicos são documentos voltados para a difusão e divulgação de resultados científicos,tais como dissertações e teses, artigos em conferências e revistas, relatórios técnicos, apostilas elivros. Estando acostumado a utilizar o LATEX na produção de meus textos, lamento quando vejotextos produzidos de outra forma com falhas de composição que poderiam ter sido evitadas com osimples uso deste compositor de textos. Por este motivo, preparei este documento com o objetivode orientar os primeiros passos dos interessados em utilizar essa ferramenta na produção de suasdissertações.

Apesar de cada tipo de publicação ter suas particularidades, há algumas características comunsa tal tipo de texto. Independentemente do tipo de documento, textos acadêmicos apresentam umaestrutura similar. Todo texto tem um título e a identificação do autor, usualmente com uma identi-ficação da sua instituição. É normal ter um resumo do trabalho apresentado no início do texto. Ocorpo do texto é dividido em partes menores, ou seções. Em textos maiores, como em teses e livros,as seções são organizadas em capítulos. Capítulos podem ainda ser organizados em partes. Um dosproblemas usuais é a inconsistência na manutenção de uma tabela de conteúdos para as partes dodocumento.

Principalmente na área de exatas e engenharias, é difícil imaginar um texto acadêmico que nãocontenha fórmulas matemáticas. Outra característica comum a essa área é a presença de gráficos,figuras e diagramas que servem para esclarecer tópicos apresentados no texto. Um bom ambientede composição de textos acadêmicos deve permitir a inclusão e também a referência a tais elementosde maneira que novas inclusões não tornem o texto inconsistente.

Atribuir o devido crédito aos autores de trabalhos que de alguma forma contribuíram para o seuresultado é parte essencial da atividade acadêmica. É comum também que o texto tenha referênciasa outras partes do texto. A manutenção manual desse tipo de informação é fonte usual de erros emdissertações — citações a referências não listadas, referências listadas mas não citadas no texto, ousimplesmente informação inconsitente.

Apesar de a FEEC/UNICAMP não ter ainda um estilo para a publicação de dissertações e te-ses (tipos e tamanhos de fontes para cada elemento do texto), margens e espaçamento, número decolunas, como numerar seções e figuras, citações e referências), pretendemos criar localmente umaprática que leve à criação de um tipo de documento uniforme pelo menos para os trabalhos produ-zidos no grupo. Para a publicação de artigos, é normal as editoras distribuírem um arquivo de estiloem LATEX que deve ser usado na composição do documento.

2 Produção de textos com LATEX 2 �Há duas abordagens usuais na produção de textos. Editores de texto permitem a produção de formaque o autor controla e visualiza diretamente o conteúdo e a apresentação do texto. Normalmenteapresentam uma interface gráfica com o usuário que permite trabalhar com o texto na forma comoele será gerado (WYSWYG — what you see is what you get). Compositores de texto são voltadospara a especificação do conteúdo do texto, deixando aspectos de apresentação associados a estilosque são incorporados em uma etapa posterior, de processamento do texto. Defensores da produçãode textos por composição (eu entre eles) argumentam que, no momento da criação, a preocupaçãocom os detalhes estéticos desviam daquele que deveria ser o foco do raciocínio: pensar no quê aoinvés do como. Dizem que esta abordagem poderia ser denominada WYTWYG — what you think iswhat you get.

Entre as ferramentas de composição de texto disponíveis, uma das mais difundidas no meio

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acadêmico, principalmente nas áreas de exatas e engenharias, é o compositor TEX(Knuth, 1984).Várias aplicações surgiram sobre esta “plataforma básica” de comandos para composição de texto,sendo a mais utilizada o conjunto de macros LATEX (Lamport, 1986) para facilitar a produção de textosacadêmicos em geral. A versão final da minha tese de mestrado, de maio de 1987, foi produzida comLATEX; se eu tivesse guardado o fonte do texto até hoje, poderia processá-la e imprimi-la normalmente.A versão preliminar foi feita num processador de texto WordStar; se eu quisesse abrir o arquivo .wshoje em dia, teria um pouco mais de problemas.

A comunidade de usuários de LATEX costumava modificar as macros para acrescentar novas funci-onalidades ou adaptar estilos de apresentação. Um esforço na padronização desses acréscimos gerouo LATEX 2 � , a versão atual de LATEX utilizada pela comunidade acadêmica (Goossens et al., 1994). Im-plementações dessas ferramentas e outros pacotes associados disponibilizados pela comunidade po-dem ser normalmente encontrados em um dos sítios CTAN — Comprehensive TeX Archive Network1.Todos os novos documentos produzidos em LATEX devem usar o padrão definido por LATEX 2 � .

2.1 Comandos básicos para a criação de um documento

Cada tipo de documento em LATEX 2 � define seus comandos e estilos de apresentação diferenciados.Três diferentes classes básicas de documentos são definidas: article, voltada para artigos; re-port, para relatórios; e book, para livros. Outros tipos de documentos podem ser criados atravésde outras classes disponibilizadas pela comunidade de usuários LATEX, tais como akletter paracartas e seminar para produção de transparências e/ou notas para apresentações.

2.1.1 Preâmbulo

Um arquivo com o texto em LATEX 2 � usualmente tem como primeira linha a declaração do tipo dedocumento:

\documentclass{article}

Neste caso, o formato do artigo usará os padrões para tamanhos de fonte (10pt, onde um ponto é aunidade correspondente a aproximadamente

���� de uma polegada) e de página (letter). Opções para adeclaração podem ser incluídas entre colchetes ([ e ]), como as que usei neste documento:

\documentclass[11pt,a4paper]{article}

Observe que os comandos em TEX são sempre iniciados pela contrabarra \. Por exemplo, ocomando \LaTeXe é uma macro cujo resultado de processamento produz LATEX 2 � .

Após a declaração do tipo de documento, tem início uma série de definições que não fazemdiretamente parte do corpo do documento. Neste documento, algumas das declarações presentes nopreâmbulo definem o título, autor e data do documento:

\title{Ferramentas computacionais ...}\author{Ivan Luiz Marques Ricarte \\

...}\date{Novembro de 2002}

Observe que, em comandos que recebem argumentos, cada um destes é expresso entre um par dechaves ({ e }).

1Veja por exemplo http://tug.ctan.org/

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2.1.2 Início do documento

O início do corpo do documento é marcado com o comando

\begin{document}

O primeiro comando presente no corpo deste documento é a instrução para produzir o título apartir da informação disponibilizada no preâmbulo:

\maketitle\thispagestyle{empty}

O comando \thispagestyle instrui para que a primeira página não apareça numerada.O resumo foi produzido com o ambiente abstract:

\begin{abstract}Este documento apresenta...

\end{abstract}

A tabela de conteúdos foi gerada por causa da presença do comando \tableofcontents:

\tableofcontents

2.1.3 Texto do documento

No corpo do documento, texto é digitado normalmente, sem preocupação com alinhamento ou que-bras de linhas, que serão processadas pelo aplicativo latex posteriormente. Parágrafos são demar-cados simplesmente pela ocorrência de uma linha em branco entre eles.

Um artigo pode ser dividido em seções e subseções. Em LATEX, os comandos para declarar seçõese subseções são \section, \subsection e \subsubsection. Por exemplo, este documentojá introduziu até este ponto:

\section{Produção de textos com \LaTeXe}...\subsection{Comandos básicos para a criação de um documento}...\subsubsection{Texto do documento}...

Quando for preciso omitir o número da seção ou subseção do texto final, utilizam-se os mesmoscomandos em sua “versão *:”

\section*{Esta seria uma seção sem número}

Os tipos de documentos report e book utilizam os mesmos comandos e adicionam os coman-dos \chapter e \chapter*, para a definição de capítulos que contêm seções. Adicionalmente,o comando \part pode ser utilizado para organizar grupos de capítulos.

Alguns comandos de estilo podem estar presentes ao longo do texto, tais como ênfase, negritoou fonte fixa, produzidos pelos comandos

...tais como \emph{ênfase}, \textbf{negrito}ou \texttt{fonte fixa},...

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Além do caráter \, que inicia comandos, outros caracteres têm significado especial em TEX.Para que esses caracteres possam ser incluídos no texto, comandos foram definidos. O caráter %marca o restante da linha como comentário; o comando \% permite sua inclusão no texto normal.Outros caracteres especiais incluem $ (\$ para inclusão), & (\&) e o par de chaves { e } (\{ e \},respectivamente).

Observe que numa frase “entre aspas,” há uma diferença entre aspas à esquerda e aspas à direita:

...frase ‘‘entre aspas,’’ há uma ...

O TEX também introduziu vários comandos para representar caracteres não-ingleses, tais como\c{c} (ç), \u{c} (c̆), \~{a} (ã), \^{o} (ô) e \ss (ß).

O til representa um espaço onde não deve haver quebra de linha, como aconteceria aqui emProf. Aligieri, entre “Prof.” e “Aligieri,” se não fosse o til:

...aqui em Prof.~Aligieri, entre...

2.1.4 Listas

Três tipos básicos de listas são definidos em LATEX: lista com marcadores, lista com números e listacom títulos. A cada tipo de lista está associado um ambiente de lista diferente, dentro do qual cadaelemento da lista está associado a um comando \item.

Uma lista com marcadores é definida através do ambiente itemize:

\begin{itemize}\item Primeiro item, blah blah...\item Segundo item.\end{itemize}

produz

� Primeiro item, blah blah blah blah blah blah blah blah blah blah blah blah blah blah blah blahblah blah blah blah blah blah;

� Segundo item.

Uma lista com números é definida no ambiente enumerate:

\begin{enumerate}\item Primeiro item, blah blah...\item Segundo item.\end{enumerate}

produz

1. Primeiro item, blah blah blah blah blah blah blah blah blah blah blah blah blah blah blah blahblah blah blah blah blah blah;

2. Segundo item.

Uma lista com títulos é definida no ambiente description, onde cada \item recebe umargumento opcional (entre colchetes) com o título do item:

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\begin{description}\item[Primeiro:] primeiro item, blah blah...\item[Segundo:] segundo item.\end{description}

produz

Primeiro: primeiro item, blah blah blah blah blah blah blah blah blah blah blah blah blah blah blahblah blah blah blah blah blah blah;

Segundo: segundo item.

2.1.5 Fórmulas

A apresentação de fórmulas com qualidade é um dos pontos mais fortes de TEX. Fórmulas podemser inseridas ao longo do texto de um parágrafo, como em �� ���������

, ou podem ser exibidas emdestaque, como em

������� ������! #"$% &(' )

* ' ),+ �.-/� + �.-102���435-A primeira forma é obtida pelo uso dos delimitadores \( e \):

... como em \(x^2 = y^2 + z^2\),

A segunda forma é obtida pelo uso dos delimitadores \[ e \]:

\[\sigma(\tau) = \lim_{T \rightarrow \infty} \frac{1}{T}

\int_{-\frac{T}{2}}^{\frac{T}{2}} f(t) f(t - \tau) dt\]

Equações em destaque podem ser rotuladas para posterior referência usando-se o ambiente equation.Considere por exemplo o texto com a definição da Equação (1):

\begin{equation}\label{eq:amostragem}f_s(t) = \sum_{n=-\infty}^{\infty} f(nT) \delta(t - nT)

\end{equation}

+76 �.-8� "9:7; * " + �.< % ��=>�.-?0@< % � (1)

2.1.6 Elementos flutuantes

O posicionamento de figuras e tabelas nem sempre ocorre da melhor forma no ponto onde são in-cluídas no texto. Para esse tipo de elemento, LATEX define os ambientes figure e table. Os doisambientes são similares: ambos permitem definir estratégia de posicionamento preferencial e criarlegendas.

A Figura 1 é um exemplo do ambiente figure criado como a seguir:

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Aqui iria a figura.

Figura 1: Exemplo de figura

\begin{figure}[htbp]\centering\framebox{Aqui iria a figura.}\caption{Exemplo de figura}\label{fig:exemplo}

\end{figure}

Similarmente, a Tabela 1 foi criada usando a seguinte seqüência de comandos:

\begin{table}[htbp]\centering\begin{tabular}{| c | c |} \hlinex & y \\ \hline0 & 0 \\1 & 1 \\2 & 4 \\3 & 9 \\ \hline

\end{tabular}\caption{Exemplo de tabela}\label{tab:exemplo}

\end{table}

x y0 01 12 43 9

Tabela 1: Exemplo de tabela

Observe que o corpo da Tabela 1 faz uso de outro ambiente de LATEX, tabular, para criar atabela propriamente dita. O ambiente table apenas agrega a esta tabela as funcionalidades paratorná-la um elemento flutuante e referenciável.

2.1.7 Referências internas

A Equação (1) da Seção 2.1.5 ilustra um exemplo do uso do comando \label para criar umareferência simbólica que pode ser usada posteriormente no texto. O início deste parágrafo contém oseguinte texto:

A Equação~(\ref{eq:amostragem}) da Seção~\ref{sec:formulas} ...

Observe que, neste caso, a seção também foi rotulada usando o mesmo comando \label:

\subsubsection{Fórmulas}\label{sec:formulas}

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Além de equações e seções, figuras e tabelas podem ser igualmente rotuladas (usando \label)e referenciadas (usando \ref), como visto na Seção 2.1.6.

2.2 Processamento, visualização e impressão

O texto de um arquivo LATEX pode ser criado com qualquer editor que permita salvar arquivos de textosimples, sem caracteres de formatação. Esses arquivos recebem, por convenção, a extensão .tex.Por exemplo, o arquivo contendo este documento foi salvo com o nome de guiaLaTeX.tex.

Com o arquivo completo, é possível processá-lo com o aplicativo latex instalado no ambientelocal:

> latex guiaLaTeX.tex

Se tudo estiver correto no arquivo, ao final das mensagens do processamento aparecerá umaindicação sobre a criação do arquivo de saída:

...LaTeX Warning: There were undefined references.LaTeX Warning: Label(s) may have changed. Rerun to get

cross-references right.Output written on guiaLaTeX.dvi (7 pages, 19944 bytes).Transcript written on guiaLaTeX.log.

O arquivo guiaLaTeX.log é gerado tanto no caso de sucesso como no caso de falha e contéma transcrição detalhada das mensagens de processamento. Pode ser útil no caso de análise de erros.

O arquivo guiaLaTeX.dvi é o resultado de um processamento correto do arquivo LATEX. DVIé um formato associado ao TEX, independente do dispositivo de apresentação. Há aplicativos queconvertem desse formato para outros, tais como dvips e dvipdf. O formato resultante (por exem-plo, PostScript para dvips), pode ser impresso da forma convencional.

As mensagens de aviso (warnings) aparecem no primeiro processamento do arquivo que contémreferências. Estas devem ser resolvidas através de um novo processamento usando latex, que usaráa informação de rótulos armazenada em um arquivo guiaLaTeX.aux.

2.3 Pacotes e funcionalidades adicionais

Além das funcionalidades básicas de TEX e LATEX, LATEX 2 � introduziu o conceito de pacotes modu-lares de definições, cujas funcionalidades podem ser integradas a um documento através do comando\usepackage no preâmbulo do documento (ou seja, após o comando \documentclass). Háum grande número de pacotes disponíveis; aqui são apresentados apenas aqueles que utilizo regular-mente.

inputenc permite que o processador latex aceite caracteres de oito bits no arquivo fonte, sema necessidade de digitar os caracteres acentuados usando as seqüências introduzidas em TEX. Umargumento opcional indica qual a codificação a ser utilizada:

\usepackage[latin1]{inputenc}

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babel é outro pacote associado à internacionalização de LATEX. Originalmente, títulos gerados peloprocessador, assim como padrões de hifenização, existiam apenas em inglês. Era comum que hackersalterassem o arquivo contendo essas definições para adaptá-lo a cada localidade. Com babel, aseleção da linguagem é feita pelo argumento associado ao pacote:

\usepackage[portuges,brazil]{babel}

Se o padrão de hifenização para português estiver sido instalado na configuração local, será utilizadono processamento do arquivo. Os títulos gerados automaticamente (como o Resumo no início do do-cumento e Referências no final) também serão produzidos na língua selecionada. No processamento,os padrões disponíveis são apresentados:

...Babel <v3.7h> and hyphenation patterns for american,portuges, nohyphenation, loaded.

...

fontenc permite a seleção de fontes em LATEX 2 � . Originalmente, arquivos produzidos por TEXsempre utilizavam o tipo de fonte da família CM (Computer Modern), do qual uma amostra pode servista na Figura 2a.

Com o pacote fontenc, é possível utilizar o novo padrão de seleção de fontes e indicar que otexto deve ser produzido, por exemplo, usando o fonte PostScript times:

\usepackage[T1]{fontenc}\usepackage{times}

O resultado desta opção é ilustrado na Figura 2b.

(a) Computer Modern Roman (b) Times

Figura 2: Estilos de fontes TEX.

graphicx é o pacote utilizado para incluir figuras geradas por outras aplicações no arquivo LATEX 2 � .Em geral, eu produzo as figuras ou imagens (por exemplo, aquelas da Figura 2 foram capturadas datela com um aplicativo chamado import) e exporto-as para um arquivo em formato encapsulatedPostScript (extensão .eps). O pacote graphicx define um comando \includegraphics quepermite incorporar tais arquivos na produção do arquivo final:

\begin{figure}[htbp]\centering\includegraphics{cmrsample.eps}\caption{...}

\end{figure}

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Argumentos opcionais (tais como scale ou width) permitem alterar a dimensão da figura. Porexemplo, para fazer com que a figura ocupe a metade da largura do texto na página, o comandopoderia ter sido especificado como:

\includegraphics[width=.5\textwidth]{cmrsample.eps}

Outros pacotes que usei na produção deste documento incluem vmargin, para alteração dasmargens e espaços para cabeçalhos; url, para facilitar a digitação de endereços eletrônicos e nomesde arquivos; fancyhdr, para criar os cabeçalhos e rodapés das páginas; e subfigure, para criara Figura 2.

2.4 Citações bibliográficas

No início da Seção 2, ao introduzir a família de aplicativos TEX, incluí citações a três referênciasque podem ser encontradas no final do documento. O bloco de referências no final do documento foidefinido com o ambiente thebibliography:

\begin{thebibliography}{3}...\bibitem[Knuth(1984)]{knuth84:_tex}Donald~E. Knuth.\newblock {\em The \TeX book}.\newblock Addison-Wesley, 1984....\end{thebibliography}

O argumento obrigatório de bibitem (entre chaves) é a chave para a referência, que pode sercitada no texto com o comando \cite:

...o compositor \TeX \cite{knuth84:_tex}. Várias...

Na verdade, eu não digitei o texto para o ambiente thebibliography. Ele foi gerado usandoo aplicativo bibtex, que procura em arquivos contendo definições de referências bibliográficas(com extensão .bib) aquelas que são citadas no texto para criar o texto do ambiente.

Para indicar ao BIBTEX em quais arquivos de referências as chaves de citação devem ser procu-radas, o comando \bibliography é incluído ao final do arquivo .tex:

...\bibliography{latex}\end{document}

Neste caso, o BIBTEX irá procurar a definição das referências citadas em um arquivo denominadolatex.bib. Mesmo que o arquivo contenha centenas de definições, apenas as três citadas farãoparte do arquivo com o ambiente thebibliography gerado.

O arquivo de definições contém todas as informações necessárias para a produção da referência,usando um formato próprio. Por exemplo, a entrada para Knuth (1984) foi definida como:

@Book{knuth84:_tex,author = {Donald E. Knuth},title = {The \TeX book},publisher = {Addison-Wesley},year = 1984

}

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Além de book, há especificações para vários outros tipos de documentos, tais como artigos emrevistas (article) e em conferências (InProceedings).

A não ser quando o estilo da publicação define de outra forma, eu adoto o estilo de citaçãousando o autor e o ano da publicação. Para usá-lo, é preciso incluir também ao final do arquivo .texa indicação do estilo de citação que será usado — neste caso, plainnat:

...\bibliographystyle{plainnat}\bibliography{latex}...

Além disto, uso também o pacote natbib:

\usepackage[round]{natbib}

Este define dois comandos alternativos para \cite. O comando \citep é usado quando o nomedo autor não faz parte do texto da frase e deve ficar entre os parênteses (daí o “p”), como em:

...é o compositor \TeX \citep{knuth84:_tex}. Várias...

Já o comando \citet é usado quando usamos o nome do autor (ou autores) como parte integrantedo texto (daí o “t”) e apenas o ano deve ficar entre parênteses, como aconteceu em

...a entrada para \citet{knuth84:_tex} foi definida...

Finalmente, o documento conclui com o fim do corpo do documento:

\end{document}

3 XEMACS

Qualquer editor pode ser usado para criar o arquivo que será processado por latex. Embora hajapropostas de editores ao estilo WYSWYG para LATEX, pelos motivos expostos no início da Seção 2 euprefiro criar meus documentos no “velho estilo” — e parte deste estilo inclui o uso do editor EMACS

para a criação dos documentos.Este documento foi produzido com XEMACS, uma versão de EMACS para o ambiente X, em

ambiente linux. No entanto, há implementações do mesmo editor para outros sistemas operacionais,permitindo o mesmo uso dos pacotes aqui descritos.

Um exemplo da aparência do editor é apresentada na Figura 3. A área central é a área de edição(o buffer); no topo, aparecem as opções de menus de comando; na base, há uma linha de estado comindicações sobre o documento sendo editado e, abaixo dela, uma área para interação com o usuário(o minibuffer).

Um tutorial sobre o uso dos comandos básicos do EMACS pode ser iniciado através da opçãode menu Help, Tutorials ou com o comando ^ht (tecla CONTROL com tecla H simultaneamente,seguida da tecla T). EMACS oferece também o acesso a um versátil ambiente para navegação emdocumentos com hiperligações, denominado info. O acesso ao ambiente info em EMACS tambémpode ser feito pela opção Help, sub-opção Info.

Boa parte do comportamento de EMACS pode ser configurada para adequação às preferências dousuário. A opção de menu Options, Advanced (customize) permite o acesso a um amplo conjuntode opções de configuração. Quando alteradas em relação ao padrão, o usuário pode salvar essaconfiguração — um arquivo de configuração que é lido a cada inicialização será automaticamentegerado.

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Figura 3: Tela do XEMACS

3.1 AUCTeX

Um dos grandes atrativos de EMACS é sua possibilidade de configurações e extensões possíveisatravés do uso de sua poderosa linguagem emacs lisp. Um dos pacotes associados à produção dedocumentos LATEX é o AUCTeX2. Com o pacote instalado e habilitado, conforme indicado em suadocumentação, cada vez que EMACS for iniciado com um arquivo cuja extensão seja .tex ele au-tomaticamente entrará nesse modo de edição, conforme indicado na linha de estado pela palavraLaTeX e pela inclusão da opção de mesmo nome na barra de menus (Figura 3).

AUCTeX define uma série de facilidades para a criação de documentos LATEX, acessíveis atra-vés de menus introduzidos na interface de EMACS (Figura 4). Essas opções permitem a inserçãoautomática do texto de comandos LATEX.

Por exemplo, para colocar uma frase em itálico como esta, seleciono a opção Insert font, Empha-size do menu LaTeX (Figura 4a) ou digito ^c^f^e (control-c é a seqüência inicial para comandosAUCTeX, control-f para seleção de estilo de fonte, control-e para ênfase) e a seqüência de caracteres\emph{} é automaticamente introduzida na posição corrente do buffer, com o cursor posicionadoentre as chaves para continuar a digitação do texto.

Quando a definição do comando requer muitos argumentos, o minibuffer é normalmente usadopara interagir com o usuário para sua obtenção. Para inserir uma figura, por exemplo, selecionoa opção Insert environment, figure do mesmo menu ou digito ^c^e (comando para inserção deum ambiente, ou environment) e, através do minibuffer, seleciono o tipo de ambiente (figure). Naseqüência, indico através de interações no minibuffer a opção preferencial de posicionamento doelemento flutuante no texto (htbp, por padrão), a opção de alinhamento horizontal da figura (centra-lizada ou não), a sua legenda e seu rótulo para referências internas, cujo prefixo já é definido comofig:. O texto do ambiente figure é então inserido na posição atual do buffer, já com os comandos\centering, \caption e \label.

Uma outra opção de menu, Command, também é introduzida por AUCTeX para documentosdeste tipo (Figura 4b). A partir desta opção, é possível processar os documentos .tex diretamentea partir do EMACS(sub-opção LaTeX). Em caso de erro no procesamento, a sub-opção Next Er-ror (Figura 4a) posiciona o editor na posição do erro. Em caso de sucesso, é possível visualizar o

2http://mirrors.sunsite.dk/auctex/www/auctex/

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I. Ricarte LATEX 2 � +Emacs

(a) LaTeX (b) Command

Figura 4: Menus do AucTeX

documento com a opção View e imprimi-lo com a opção Print.Arquivos de bibliografia (extensão .bib) também são tratados de forma especial por AUCTex.

Além de facilitar a criação de entradas bibliográficas dos vários tipos (Figura 5), há opções emBibTex-Edit para validação e processamento das entradas, como por exemplo ordenar as entradasno arquivo.

Figura 5: Edição de arquivos BIBTEX

Na entrada introduzida automaticamente ao selecionar Entry-types, todas as opções de definiçãopara registro de documentos daquele tipo estão listadas. Aquelas que podem ser omitidas são pre-cedidas pelo prefixo OPT. Se deixadas em branco, elas serão eliminadas pela operação Clean entry(ou ^c^c) no menu de BibTeX-edit. As que tiverem sido preenchidas terão o prefixo retirado. Essaoperação também sugere, caso ainda não exista, uma chave para poder citar a referência no texto.

O processamento para a criação da seção de referências pode ser realizado a partir de EMACS

com a opção BibTeX (Figura 4b).

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I. Ricarte LATEX 2 � +Emacs

3.2 RefTeX

Outro pacote EMACS que facilita bastante a edição de arquivos LATEX é RefTex. Este pacote faza varredura do documento sendo editado e introduz comandos que facilitam a criação de rótulos ereferências a rótulos no documento (Figura 6).

(a) Menu (b) Área de seleção

Figura 6: RefTeX

RefTeX produz um índice de todos os rótulos criados. No momento de fazer uma referência, épossível selecionar o rótulo de maneira interativa, como indicado na Figura 6b.

Além de fazer a varredura do documento corrente, RefTex também analisa os documentos de bi-bliografia referenciados pelo documento através do comando \bibliography. Assim, é possíveltambém fazer a citação de forma facilitada, entrando interativamente no minibuffer parte do título oudo nome do autor do documento que queremos referenciar. Um conjunto de opções que satisfazem acondição colocada é apresentado e, a partir da seleção interativa, o comando de citação com a chaveassociada é introduzido no texto.

4 Conclusão

Espero que este tenha sido um bom ponto de partida e um motivador para que vocês dêem um saltode qualidade na produção de textos acadêmicos. Há muito mais em LATEX+EMACS do quê o descritoaqui; felizmente, há também muita informação disponível.

Happy TEXing!

Referências

Michel Goossens, Frank Mittelbach, and Alexander Samarin. The LATEX Companion. Addison-Wesley, 1994.

Donald E. Knuth. The TEXbook. Addison-Wesley, 1984.

Leslie Lamport. LATEX: A Document Preparation System. Addison-Wesley, 1986.

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