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  • UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO SUL

    ESCOLA DE ENGENHARIA

    PROGRAMA DE PS-GRADUAO EM ENGENHARIA CIVIL

    DISSERTAO DE MESTRADO

    ANLISE TERICO-EXPERIMENTAL DO

    COMPORTAMENTO DE CONCRETOS REFORADOS COM

    FIBRAS DE AO SUBMETIDOS A CARGAS DE IMPACTO

    ESTELA OLIARI GARCEZ

    Orientador: Prof. Luiz Carlos Pinto da Silva Filho Co-orientador: Prof. Roberto Domingo Rios

    Porto Alegre

    Abril 2005

  • Estela Oliari Garcez

    ANLISE TERICO-EXPERIMENTAL DO COMPORTAMENTO DE CONCRETOS REFORADOS COM

    FIBRAS DE AO QUANDO SUBMETIDOS A CARGAS DE IMPACTO

    Dissertao apresentada ao Programa de Ps-Graduao em Engenharia Civil da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, como parte dos requisitos para obteno do ttulo de Mestre em

    Engenharia na modalidade Acadmico

    Porto Alegre

    Abril 2005

  • ESTELA OLIARI GARCEZ

    ANLISE TERICO-EXPERIMENTAL DO COMPORTAMENTO DE CONCRETOS REFORADOS COM FIBRAS DE AO SUBMETIDOS A CARGAS DE IMPACTO

    Porto Alegre, 15 de abril de 2005.

    Prof. Luiz Carlos Pinto da Silva Filho Ph.D., University of Leeds

    Orientador

    Prof. Roberto Domingo Rios Dr., Universidade Federal do Rio Grande do Sul

    Co-orientador

    Prof. Amrico Campos Filho Coordenador do PPGEC/UFRGS

    BANCA EXAMINADORA

    Prof. Luiz Roberto Prudncio Jr. (UFSC) Dr., EPUSP/SP

    Prof. Denise Carpena Coitinho Dal Molin (UFRGS) Dr., EPUSP/SP

    Prof. Virgnia Maria Rosito DAvila (UFRGS) Dr., PPGEC/UFRGS

  • minha famlia.

  • O CONSELHO

    Quando te decidires : Segue! No esperes que o vento

    cubra de flores o caminho. Nem sequer esperes o caminho.

    Cria-o. Faze-o tu mesmo. E parte... Sem lembrar

    que outros passos pararam, que outros olhos ficaram,

    te olhando seguir.

    Prado Veppo

  • RESUMO

    GARCEZ, E.A. Anlise terico-experimental do comportamento de concretos reforados com fibras de ao submetidos a cargas de impacto. 2005. Dissertao (Mestrado em Estruturas) Programa de Ps-Graduao em Engenharia Civil, PPGEC, UFRGS, Porto Alegre.

    Quando o concreto submetido a aes especiais, como cargas cclicas ou ao de cargas de

    impacto, modificaes em sua composio so necessrias, j que o concreto no apresenta

    desempenho satisfatrio trao, o que compromete o seu comportamento frente ao de

    cargas dinmicas. Uma alternativa para amenizar esta deficincia consiste em adicionar fibras

    ao concreto. Estas atuam como reforos trao, transformando a matriz cimentcia,

    tipicamente frgil, em um material que apresenta boa resistncia residual aps a fissurao.

    Buscando colaborar na avaliao da eficincia de diferentes tipos de fibras, o presente

    trabalho analisa o comportamento de concretos com fibras de ao, submetidos ao impacto,

    avaliando a influncia do fator de forma, do comprimento e do teor de fibras, assim como do

    tamanho do agregado. So ainda analisados os efeitos da incorporao de fibras na resistncia

    compresso, na resistncia trao por compresso diametral, no mdulo de elasticidade e

    na tenacidade dos compsitos. Adicionalmente, executada uma comparao entre os

    resultados experimentais e os derivados de um esquema de modelagem da situao de

    impacto atravs do uso do mtodo de elementos discretos. Buscou-se, atravs da modelagem

    terica, executar um mapeamento dos danos, provocados por cargas de impacto incrementais,

    ao longo do tempo, bem como determinar as energias necessrias para levar as placas at a

    ruptura. Os resultados indicam que a incorporao de fibras de ao no consegue retardar o

    aparecimento da primeira fissura, mas aumenta significativamente a tenacidade dos

    compsitos. Fibras mais longas e com maior fator de forma tendem a ser mais eficientes,

    desde que se supere um teor de fibras mnimo, que neste trabalho ficou em torno de 100.000

    fibras/m3, para fibras longas (50-60 mm) e de 400.000 fibras/m3, para fibras curtas, cuja

    ancoragem menos eficiente. O mtodo de teste de impacto por queda de esfera se mostrou

    adequado e sensvel, porm o esquema de modelagem numrica testado necessita ser refinado

    para permitir uma adequada simulao do comportamento de concretos com fibras.

    Palavras-chave: concreto reforado com fibras de ao; cargas de impacto; mtodo dos elementos discretos.

  • ABSTRACT

    GARCEZ, E.A. A numerical and experimental analysis of steel fiber reinforced concretes subjected to impact loads . 2005. Dissertao (Mestrado em Estruturas) Programa de Ps-Graduao em Engenharia Civil, PPGEC, UFRGS, Porto Alegre.

    When submitted to special loading patterns, derived from dynamical actions such as cyclic or

    impact loads, concrete elements need to be reinforced, in order to resist the tensile stresses. A

    feasible alternative, in such cases, is to incorporate fibers in the concrete matrix. The fibers

    act as a tensile reinforcement, transforming the fragile cement matrix into a composite with

    significant post-cracking residual strength.

    In order to contribute with the data collection about the efficiency of different fiber types, the

    present research work presents an analysis of the behavior of steel fiber reinforced concretes

    subjected to impact loads. The work investigates the influences of changes in the shape factor,

    length and amount of fibers. The effects of these combinations on other basic properties of the

    composites, such as compression strength, split cylinder tensile strength, Youngs modulus

    and tenacity is also measured. Additionally, a comparison is made between the experimental

    results from the impact tests and the estimates obtained from a theoretical model that uses the

    discrete element method (DEM). This theoretical approach aimed to determine if the model

    was able to simulate the damage evolution over time generated by the increasing impacts

    loads, as well as to determine the total energy necessary to crack and break the specimens.

    The results obtained pointed out that the introduction of steel fibers does not affect the energy

    for the first crack but increases significantly the tenacity of the composite. Longer fibers, with

    greater shape factors, tend to be more efficient, provided that the fiber content is sufficiently

    high. The minimum recommended fiber content, according to the data from this research, may

    be around 100.000 fibers/m3, for longer fibers (50-60 mm). Or around 400.000 fibers/m3, for

    shorter fibers, which are not so efficient in terms of anchorage. The impact test method

    developed was considered adequate, being sensitive to the phenomenon and providing reliable

    data. The DEM model, however, needs to be refined to be able to deal with fiber concrete

    composites.

    Keywords: steel fiber reinforced concrete; composite materials; impact loads; discrete element method.

  • i

    SUMRIO

    1 INTRODUO.......................................................................................................... 1

    1.1 CONTEXTUALIZAO......................................................................................... 1

    1.2 JUSTIFICATIVA...................................................................................................... 2

    1.3 HIPTESES.............................................................................................................. 3

    1.4 OBJETIVOS.............................................................................................................. 4

    1.5 LIMITAES........................................................................................................... 5

    1.6 ESTRUTURA DO TRABALHO............. ............................................................... 5

    2 COMPSITOS DE MATRIZ CIMENTCIA REFORADA COM FIBRAS...................................................................................................................... 6

    2.1 CONSIDERAES INICIAIS ............................................................................... 6

    2.2 A FUNO DAS FIBRAS NA MATRIZ CIMENTCIA..................................... 6

    2.3 A INTERAO FIBRA-MATRIZ......................................................................... 10

    2.3.1 Comportamento Pr-Fissurao........................................................................... 10

    2.3.2 Comportamento Ps-Fissurao........................................................................... 11

    2.3.3 Mecanismo de Arrancamento das Fibras de Ao................................................ 13

    2.4 PARMETROS INFLUENTES NA INTERAO FIBRA-MATRIZ.............. 16

    2.4.1 Teor de Fibras......................................................................................................... 16

    2.4.2 Comprimento Crtico............................................................................................. 17

    2.4.3 Fator de Forma....................................................................................................... 19

    2.4.4 Mdulo de Elasticidade das Fibras ...................................................................... 20

    2.4.5 Distribuio e Ancoragem das Fibras.................................................................. 23

    2.4.6 Volume Crtico....................................................................................................... 24

    2.5 FIBRAS MAIS UTILIZADAS NO REFORO DE MATRIZES CIMENTCIAS........................................................................................................... 27

    2.5.1 Fibras de Vidro....................................................................................................... 27

    2.5.2 Fibras Sintticas .................................................................................................... 29

    2.5.3 Fibras Naturais ...................................................................................................... 31

    2.5.4 Fibras de Ao ......................................................................................................... 31

    3 DESEMPENHO DE COMPSITOS DE MATRIZ CIMENTCIA REFORADOS COM FIBRAS DE AO..................................................... 34

    3.1 CONSIDERAES INICIAIS ............................................................................... 34

    3.2 COMPORTAMENTO NO ESTADO FRESCO.................................................... 34

    3.3 COMPORTAMENTO NO ESTADO ENDURECIDO......................................... 36

  • ii

    3.3.1 Tenacidade............................................................................................................. 36

    3.3.2 Comportamento Compresso............................................................................. 37

    3.3.3 Comportamento Trao..................................................................................... 38

    3.3.4 Comportamento Flexo...................................................................................... 38

    3.3.5 Comportamento ao Cisalhamento........................................................................ 39

    3.3.6 Comportamento Toro..................................................................................... 39

    3.3.7 Comportamento Abraso, Eroso e Cavitao................................................ 39

    3.3.8 Comportamento Fadiga...................................................................................... 40

    3.3.9 Comportamento ao Impacto................................................................................. 40

    3.4 DURABILIDADE DE COMPSITOS DE CONCRETO E FIBRAS DE AO 42

    3.5 USOS ESTRUTURAIS DO CONCRETO COM FIBRAS DE AO................... 43

    4 PROGRAMA EXPERIMENTAL......................................................................... 45

    4.1 ESTRATGIA DE PESQUISA............................................................................... 45

    4.2 VARIVEIS DE ESTUDO...................................................................................... 47

    4.3 CARACTERIZAO DOS MATERIAIS EMPREGADOS............................... 49

    4.3.1 Cimento................................................................................................................... 49

    4.3.2 Agregado Grado................................................................................................... 49

    4.3.3 Agregado Mido..................................................................................................... 50

    4.3.4 Aditivo..................................................................................................................... 51

    4.3.5 gua de Amassamento........................................................................................... 51

    4.4 DETERMINAO DO TRAO DO CONCRETO UTILIZADO...................... 51

    4.5 MOLDAGEM E CURA............................................................................................ 51

    4.6 ENSAIOS REALIZADOS........................................................................................ 52

    4.6.1 Resistncia Compresso Simples ...................................................................... 52

    4.6.2 Resistncia Compresso Diametral................................................................... 53

    4.6.3 Mdulo de Elasticidade.......................................................................................... 53

    4.6.4 Ensaios de Impacto Queda de Esfera................................................................ 54

    4.6.5 Ensaios de Tenacidade........................................................................................... 57

    5 APRESENTAO E ANLISE DOS RESULTADOS................................... 58

    5.1 ANLISE DA PERDA DE TRABALHABILIDADE DA MISTURA................. 58

    5.2 ANLISE DA INFLUNCIA DO FATOR DE FORMA DA FIBRA................. 60

    5.3ANLISE DA INFLUNCIA DO COMPRIMENTO DA FIBRA...................... 63

    5.4 ANLISE DA INFLUNCIA DO TAMANHO DO AGREGADO..................... 64

    5.5 ANLISE DA INFLUNCIA DO TEOR DE FIBRAS ....................................... 68

    5.6 ANLISE DOS DESLOCAMENTOS.................................................................... 74

  • iii

    5.7 ANLISE DA TENACIDADE................................................................................ 75

    6 MODELAGEM DO COMPORTAMENTO DO CONCRETO QUANDO SUBMETIDO A CARGAS DE IMPACTO.......................................... 78

    6.1 INTRODUO ........................................................................................................ 78

    6.2 MTODO DOS ELEMENTOS DISCRETOS....................................................... 79

    6.3 FORMULAO EMPREGADA NO TRABALHO............................................. 81

    6.3.1 Clculo dos Coeficientes de Rigidez Equivalentes das Barras .......................... 81

    6.3.2 Soluo da Equao do Movimento..................................................................... 82

    6.3.3 Intervalo de Integrao......................................................................................... 84

    6.3.4 Fratura no Concreto.............................................................................................. 84

    6.3.5 Critrio de Ruptura Empregado.......................................................................... 90

    6.3.6 Considerao da No-Homogeneidade dos Materias......................................... 92

    6.3.7 Avaliao dos Efeitos das Cargas de Impacto..................................................... 92

    6.4 SIMULAES.......................................................................................................... 94

    6.4.1 Definio das Propriedades do Modelo................................................................ 94

    6.4.2 Definio da Regio de Aplicao da Carga........................................................ 95

    6.4.3 Modelo Simulado.................................................................................................... 97

    6.4.4 Resultados............................................................................................................... 97

    6.4.5 Consideraes Finais............................................................................................. 100

    7 CONCLUSES E RECOMENDAES.................................................................. 102

    7.1 CONSIDERAES ................................................................................................. 102

    7.2 CONCLUSES ESPECFICAS.............................................................................. 104

    7.3 SUGESTES PARA TRABALHOS FUTUROS................................................... 107

    REFERNCIAS.............................................................................................................. 109

  • iv

    LISTA DE FIGURAS

    Figura 2.1 - Mecanismo de concentrao de tenses na trao no extremo das microfissuras....................................................................................................... 7

    Figura 2.2 - Mecanismo de reforo das fibras atuando como ponte de transferncia de tenses....................................................................................... 8

    Figura 2.3 -. Representao das tenses de cisalhamento na interface fibra-matriz aps desligamento parcial da fibra........................................................... 11

    Figura 2.4 - Representao das tenses de cisalhamento na interface fibra-matriz imediatamente aps a fissura.................................................................. 11

    Figura 2.5 - Representao das zonas de transferncia de tenses ao longo de uma fissura.......................................................................................................... 12

    Figura 2.6 - Evoluo do processo de arrancamento de uma fibra de ao em uma matriz polimricas de resina epxi ............................................................. 14

    Figura 2.7 - Elementos de concreto reforado com fibras de ao aps a ruptura................................................................................................................. 14

    Figura 2.8 - Curvas de arrancamento tpicas para fibras de ao lisas e deformadas.......................................................................................................... 15

    Figura 2.9 - Curvas tpicas de tenso de trao x deformao para ausncia, baixo e alto volume de fibras ............................................................................. 16

    Figura 2.10 - Representao da aderncia fibra-matriz...................................... 17

    Figura 2.11 - Tenso mxima atingida pela fibra, em relao tenso ltima admissvel, em funo do comprimento da fibra................................................ 18

    Figura 2.12 - Fator de forma............................................................................... 19

    Figura 2.13 - Diagrama tenso x deformao elstica........................................ 21

    Figura 2.14 - Representao do comportamento de uma fibra dctil na vizinhana da fissura........................................................................................... 22

    Figura 2.15 - Curva tenso x deformao do compsito..................................... 24

  • v

    Figura 2.16 - Modelo utilizado para representar o processo de arrancamento de uma fibra......................................................................................................... 25

    Figura 2.17 - Comportamento de compsitos reforados com diferentes teores de fibras durante o ensaio de trao na flexo.................................................... 26

    Figura 2.18 - Fibras de vidro.............................................................................. 28

    Figura 2.19 - Fios de fibra de aramida................................................................ 29

    Figura 2.20 - Aspecto das (a) fibras de polipropileno convencionais, de superfcie lisa e (b) fibras de polipropileno corrugadas .................................... 30

    Figura 2.21 - Fibra sinttica estrutural................................................................ 30

    Figura 2.22 - Fibras de ao encontradas no mercado.......................................... 31

    Figura 2.23 - Fibras de ao com extremidades deformadas, coladas em forma de pentes.............................................................................................................. 32

    Figura 2.24 - Fibras de ao com extremidades deformadas, produzidas soltas.. 32

    Figura 3.1 - Critrios da ASTM para determinao dos parmetros de tenacidade............................................................................................................ 37

    Figura 3.2 - Exemplos de aplicao de concretos reforado com fibras em (a) tubos de concreto, (b) concreto projetado, (c) pisos industriais e (d) radiers.................................................................................................................. 44

    Figura 4.1 - Fluxograma de pesquisa adotado.................................................... 46

    Figura 4.2 - Fibras utilizadas no programa experimental.................................... 48

    Figura 4.3 - Ensaio de mdulo de elasticidade, realizado com o auxlio de dois transdutores tipo LVDT............................................................................... 54

    Figura 4.4 - Esquema do ensaio de queda de esfera............................................ 55

    Figura 4.5 - Detalhe da placa de concreto no equipamento de ensaio de queda de esfera............................................................................................................... 56

    Figura 4.6 - Posicionamento dos deflectmetros................................................ 56

    Figura 4.7 - Esquema de ensaio esttico............................................................. 57

    Figura 5.1 - Ensaio de abatimento de tronco de cone......................................... 59

  • vi

    Figura 5.2 - Influncia do fator de forma na resistncia compresso e no mdulo de elasticidade........................................................................................ 60

    Figura 5.3 - Influncia do fator de forma na resistncia trao por compresso diametral.......................................................................................... 61

    Figura 5.4 - Influncia do fator de forma na energia necessria para o aparecimento da primeira fissura e para a ruptura.............................................. 62

    Figura 5.5 - Influncia do fator de forma na energia necessria para o aparecimento da primeira fissura e energia de ruptura, para os diversos teores de moldagem....................................................................................................... 62

    Figura 5.6 - Influncia do comprimento das fibras na resistncia compresso e no mdulo de elasticidade............................................................ 63

    Figura 5.7 - Influncia do comprimento na resistncia trao......................... 64

    Figura 5.8 - Influncia do comprimento na energia necessria para o aparecimento da primeira fissura e para a ruptura.............................................. 65

    Figura 5.9 - Influncia do tamanho do agregado na resistncia compresso e no mdulo de elasticidade.................................................................................. 65

    Figura 5.10 - Influncia do tamanho do agregado na resistncia trao.......... 66

    Figura 5.11 - Influncia do tamanho do agregado e do teor de fibras na resistncia trao por compresso diametral dos compsitos.......................... 66

    Figura 5.12 - Influncia do tamanho do agregado na energia necessria para o aparecimento da primeira fissura e para a ruptura dos compsitos.................... 67

    Figura 5.13 - Influncia do tamanho do agregado na energia necessria para o aparecimento da primeira fissura e para ruptura dos compsitos....................... 68

    Figura 5.14 - Influncia do teor na resistncia compresso e no mdulo de elasticidade dos compsitos gerados com as fibras 45/30, 45/50, 65/60 e 80/60.................................................................................................................... 69

    Figura 5.15 - Influncia do teor na resistncia trao dos compsitos gerados com as fibras 45/30, 45/50, 65/60 e 80/60............................................. 70

    Figura 5.16 - Influncia do teor na energia necessria para a primeira fissura e para a ruptura dos compsitos reforados com as fibras 45/30, 45/50, 65/60 e 80/60.................................................................................................................... 71

    Figura 5.17 - Evoluo da energia necessria para o aparecimento da primeira fissura para todas as fibras e teores ensaiados..................................................... 71

  • vii

    Figura 5.18 - Evoluo da energia necessria para a ruptura dos compsitos todas as fibras e teores ensaiados........................................................................ 72

    Figura 5.19 - Evoluo da energia necessria para o aparecimento da primeira fissura em relao ao nmero de fibras por m3................................................... 73

    Figura 5.20 - Evoluo da energia necessria para a ruptura dos compsitos em relao ao nmero de fibras por m3............................................................... 73

    Figura 5.21 Evoluo dos deslocamentos verticais.......................................... 74

    Figura 5.22 Grfico de carga x deslocamento empregados para anlise da evoluo da tenacidade com o aumento do teor de fibras tipo 45/30................. 75

    Figura 5.23 Grfico de carga x deslocamento empregados para anlise da evoluo da tenacidade com o aumento do teor de fibras tipo 80/60................. 76

    Figura 5.24 Evoluo da tenacidade com o aumento do teor de fibras tipo 45/30.................................................................................................................... 77

    Figura 5.25 Evoluo da tenacidade com o aumento do teor de fibras tipo 80/60.................................................................................................................... 77

    Figura 6.1 - Esquema do Mtodo dos Elementos Distintos, apresentado por Cundall................................................................................................................ 80

    Figura 6.2 - Mdulo cbico apresentado por Nayfeh & Hefzy a) Mdulo Cbico, b) e c) composio de prismas.............................................................. 81

    Figura 6.3 - Concentrao de tenses na extremidade de uma trinca................. 86

    Figura 6.4 - Fratura em diferentes materiais. (L): Zona Linear, (N): Zona no linear e (F): Zona Microfissurada........................................................................ 87

    Figura 6.5 - Diagramas e)(s - caractersticos de materiais dcteis e no dcteis.................................................................................................................. 88

    Figura 6.6 - Distribuio das tenses nas proximidades da ponta da fissura para o modelo da fissura fictcia proposto por Hillerborg ................................. 89

    Figura 6.7 - Relao constitutiva elementar implementada por Rocha .............. 90

    Figura 6.8 - Diagrama tenso x tempo gerados no programa Working Model............................................................................................................... 93

    Figura 6.9 - Grfico fora x altura, gerado com os valores obtidos no programa Working Model e regresso encontrada......................................... 93

  • viii

    Figura 6.9 - Discretizao das placas em elementos normais e diagonais.......... 95

    Figura 6.10 - Alterao da seo de aplicao de carga no decorrer do tempo (a) correspondente aos primeiros 8 ms de contato e (b) correspondente aos 7 ms posteriores................................................................................,..................... 96

    Figura 6.11 - Grfico carga x tempo, representando as diversas alturas de queda do ensaio................................................................................................... 96

    Figura 6.12 - Esquema de ruptura encontrado aos 0,318 s de simulao........... 98

    Figura 6.13 - Esquema de ruptura encontrado aos 0,378s de simulao............ 98

    Figura 6.14 - Esquema de ruptura encontrado aos 0,498s de simulao............ 98

    Figura 6.15 - Perspectiva do esquema de ruptura para o tempo 0,498s.............. 99

    Figura 6.15 - Grfico reao x tempo para as diversas aplicaes de carga....... 99

    Figura 6.16 - Padro de fissurao das placas submetidas a cargas de impacto 100

  • ix

    LISTA DE TABELAS

    Tabela 2.1 - Mdulo de elasticidade das fibras ..................................................... 20

    Tabela 3.1 - Recomendaes para dosagem de concretos reforados com fibras de ao..................................................................................................................... 35

    Tabela 4.1 - Caractersticas das fibras utilizadas no programa experimental........ 48

    Tabela 4.2 - Teores adotados em kg/m3................................................................. 49

    Tabela 4.3 - Caracterizao granulomtrica do basalto......................................... 50

    Tabela 4.4 - Caracterizao granulomtrica do agregado mido........................... 50

    Tabela 5.1 - Porcentagens de aditivos incorporadas aos diversos concretos e abatimentos obtidos aps a incorporao................................................................. 59

    Tabela 5.2 - Resultados do clculo do ndice de tenacidade................................. 76

    Tabela 6.1 - Valores de cargas para as diversas alturas de queda, inseridas no programa de DEM, obtidas atravs da regresso................................................... 94

    Tabela 6.2 - Propriedades para simulao da resposta das placas de concreto simples as cargas de impacto................................................................................. 97

  • x

    LISTA DE SMBOLOS

    Dt intervalo de integrao

    Dtcrit - intervalo crtico de integrao

    b - parmetro de escala

    g - parmetro de forma

    d - deslocamento da primeira fissura

    be - deformao da barra b

    cue - deformao ltima do compsito

    mce - deformao do compsito no final da fissurao mltipla

    mue - deformao ltima da matriz

    ne - deformao especfica correspondente tenso ns

    0e - deformao especfica correspondente tenso infs

    pe - deformao crtica

    be& - velocidade de deformao da barra b

    n - coeficiente de Poisson

    n? - coeficiente de amortecimento crtico

    ? - densidade especfica

    fus - resistncia ltima trao da fibra

    infs - tenso de 0,5MPa

    ns - 40% da tenso de ruptura do material

  • xi

    mus - resistncia ltima da matriz trao direta, na ausncia de fibras

    tau - tenso de aderncia entre a fibra e a matriz

    tf - resistncia ao atrito

    fut - mxima tenso tangencial de atrito

    nA - rea das arestas normais do mdulo cbico

    dA - rea das arestas diagonais do mdulo cbico

    Af - rea de influncia da barra

    C - matriz diagonal de amortecimento

    cA - coeficiente geomtrico do modelo cbico

    Cr - velocidade de propagao da onda de compresso em meio elstico

    CV (%) - coeficiente de variao

    d dimetro da fibra

    E mdulo de elasticidade secante

    EAn - rigidez das barras normais s faces do elemento cbico

    EAd - rigidez das barras diagonais do elemento cbico

    cE - mdulo de elasticidade do compsito

    fE - mdulo de elasticidade da fibra

    EFISS energia necessria para o aparecimento da primeira fissura

    ERUP energia necessria para ruptura do compsito

    secE - mdulo de elasticidade secante

    F - fora axial resultante da barra

    fc resistncia compresso

    nf - freqncia natural de vibrao do modo n

    ft resistncia trao

  • xii

    ( )fw Gf - distribuio de probabilidade adotada para Gf

    (t)Frr

    - vetor de foras reativas que atuam sobre os ns do modelo

    brF - fora interna em cada barra

    Gf - energia especfica de fratura

    kr - ductilidade do material

    Lc - aresta do elemento do mdulo cbico

    l - comprimento da fibra

    dl - relao de aspecto da fibra ou fator de forma

    cl - comprimento crtico

    M - matriz diagonal de massas nodais

    n - modo fundamental do modelo

    (t)Pr

    - vetor de foras internas que atuam sobre os ns do modelo

    Rf - fator de falha

    r - raio da fibra

    Vf volume percentual de fibras

    Vf (crit) volume crtico de fibras

    x - vetor de deslocamentos nodais

  • 1

    CAPTULO 1

    INTRODUO

    1.1 CONTEXTUALIZAO

    O concreto, um dos mais importantes materiais de construo j desenvolvidos, tem

    sido, ao longo dos anos, um grande aliado do ser humano. Seu uso est fortemente

    ligado aos processos de adensamento populacional, explorao e transformao do meio

    ambiente.

    Reconhecido por sua versatilidade, que permite sua utilizao tanto para a construo de

    estruturas esbeltas quanto massivas, este material vem sendo estudado h bastante

    tempo. Ao longo do ltimo sculo se desenvolveram tecnologias de produo que

    permitiram elevar consideravelmente sua resistncia compresso, trabalhabilidade e

    durabilidade. Apesar de todo o progresso, o concreto continua apresentando um

    comportamento frgil, com baixa resistncia trao, exigindo o uso de armaduras de

    reforo.

    Para amenizar esta deficincia de comportamento, uma alternativa possvel seria a

    utilizao de fibras descontnuas dispersas na matriz cimentcia, formando um

    compsito com caractersticas mecnicas mais adequadas e equilibradas, capaz de

    suportar solicitaes de trao mais elevadas e apresentar um melhor comportamento

    frente deformao.

    Diversos tipos de fibras, geradas a partir de diferentes materiais, tais como o ao, o

    carbono, o vidro, os asbestos, a aramida, o polipropileno, o sisal, o coco e o bambu,

    podem ser utilizadas como reforo de matrizes cimentcias, agregando a estas diferentes

    caractersticas.

  • 2

    O melhoramento provocado pela insero de fibras depende tanto das caractersticas da

    matriz, quanto das fibras. De acordo com estudos recentes (Bernardi, 2003), constata-se

    que as fibras de menor dimetro, denominadas microfibras, atuam em conjunto com a

    matriz desde o incio do carregamento. J as fibras de maior dimetro e rigidez, que

    recebem a denominao de macrofibras, como as fibras metlicas, passam a contribuir

    principalmente na fase ps-fissurao do compsito, como as fibras metlicas

    Diversas pesquisas produziram evidncias da eficincia das fibras (Hannant, 1978;

    Guimares et al., 2001). Existem ainda dvidas quanto eficcia da adio de fibras na

    melhoria da resistncia ltima, dada a possibilidade de incorporao de ar e a incerteza

    quanto homegeneidade da disperso, ou distribuio das fibras. Todavia, consensual

    a aceitao do fato de que as fibras melhoram a ductilidade dos compsitos de base

    cimentcia. Bentur e Mindess (1990) apresentam uma srie de estudos realizados em

    compsitos base de cimento reforados com diversos tipos de fibras, onde possvel

    observar, por exemplo, ganhos em resistncia trao, abraso, fadiga e impacto.

    Nestes estudos, observa-se que as fibras de ao proporcionam incrementos

    considerveis na resistncia ao impacto de matrizes cimentcias. Aliado a isto, so

    fibras largamente empregadas e comercializadas, razes pelas quais foram escolhidas

    como objeto de estudo desta pesquisa, como justificado a seguir.

    1.2 JUSTIFICATIVA

    Segundo Ferreira (2002), a utilizao dos concretos de cimento Portland reforados com

    fibras de ao, denominados CRFA, vem ganhando, nos ltimos anos, grande impulso,

    com diversas aplicaes em obras hidrulicas, em pavimentos virios rgidos, em tneis

    ferrovirios e rodovirios e pisos industriais, uma vez que o material pode conduzir a

    estruturas mais durveis, esbeltas e, em conseqncia, a obras mais econmicas.

    De maneira anloga ao que acontece no caso das armaduras tradicionais, as fibras de

    ao so adicionadas ao concreto com o objetivo de modificar o regime de ruptura do

    material, conferindo uma resposta mais dctil no regime ps-pico do carregamento e

    restringindo a abertura e a propagao de fissuras. Por estarem distribudas por todo o

  • 3

    volume do material, acabam por gerar um compsito virtualmente isotrpico, mais

    rgido e resistente.

    Acredita-se que as fibras possam se constituir em um importante fator para controlar a

    fissurao de estruturas de concreto submetidas a cargas de elevada energia aplicadas

    num curto espao de tempo. Isto permitir construir compsitos mais adequados para

    utilizao em situaes onde haja perigo de quedas ou choques de objetos, de exploses,

    ou ainda quando for desejvel uma maior resistncia penetrao de projteis. Portanto,

    torna-se necessrio o aprofundamento dos conhecimentos relativos ao comportamento

    frente fissurao de estruturas submetidas a cargas dinmicas.

    A questo de pesquisa que se estabelece est correlacionada com o fato de que os

    compsitos freqentemente apresentam propriedades emergentes, decorrentes da

    sinergia entre os elementos que o compem, que superam as propriedades individuais

    de cada elemento. No caso do impacto, fundamental conhecer as propriedades do

    compsito resultante, pois as mesmas so os parmetros bsicos necessrios para que se

    possam realizar anlises numricas de simulao dos efeitos deste tipo de solicitao.

    Propriedades como a resistncia trao e a energia especfica de fratura dependem da

    natureza da matriz, do tipo, caractersticas e quantidade de fibra empregada como

    reforo e da forma e eficincia da interao fibra-matriz. Dados sobre as mesmas ainda

    so escassos. Este trabalho busca colaborar nesta direo, caracterizando compsitos

    gerados com diferentes teores e geometrias de fibra de ao, avaliando seu desempenho

    quanto ao impacto e verificando se possvel representar os resultados obtidos com o

    emprego de um modelo de elementos discretos.

    1.3 HIPTESES

    A premissa principal deste trabalho que, com a adio de fibras de ao dispersas na

    massa de concreto, o comportamento do compsito formado seja significativamente

    alterado.

    A partir desta premissa bsica foram formuladas as seguintes hipteses de trabalho:

  • 4

    - a adio de fibras de ao melhora significativamente o desempenho ao impacto

    de matrizes cimentcias, pois a presena destes elementos de reforo demanda a

    aplicao de uma maior energia para causar a ruptura do compsito;

    - a variao do comprimento, do fator de forma, do teor de fibras e do tamanho

    do agregado alteram a eficincia da interao fibra-matriz, afetando

    significativamente o desempenho do compsito;

    - o mtodo dos elementos discretos uma ferramenta adequada para modelar o

    comportamento de compsitos com fibra de ao submetidos a esforos de

    impacto.

    1.4 OBJETIVOS

    Os objetivos principais do presente trabalho foram a caracterizao do comportamento

    mecnico bsico e a determinao da resistncia ao impacto de concretos com

    incorporao de fibras de ao com diferentes geometrias e em diferentes teores. Alguns

    objetivos especficos foram formulados da seguinte forma:

    - avaliar os efeitos de variaes de fator de forma, de comprimento e de teor de

    fibras, bem como a influncia do tamanho do agregado nas propriedades

    mecnicas dos compsitos gerados;

    - determinar quais as caractersticas das fibras mais influentes no incremento da

    resistncia ao impacto dos compsitos;

    - verificar se a simulao via mtodo de elementos discretos, com o modelo

    numrico disponvel, capaz de reproduzir adequadamente o comportamento

    experimental de concretos reforados com fibras de ao submetidos a impacto.

  • 5

    1.5 LIMITAES

    Dadas as limitaes de tempo e recursos, esta pesquisa se props a analisar somente

    corpos-de-prova com matrizes de concreto simples de resistncia padro de 30 MPa,

    utilizando fibras de ao de baixo teor de carbono, com fator de forma ( )d/l variando

    entre 45 e 80. No foram avaliados no estudo os efeitos de variaes do tipo ou

    quantidade de cimento e agregado, sendo adotada apenas uma relao gua-

    aglomerante.

    1.6 ESTRUTURA DO TRABALHO

    Esta dissertao dividida em sete captulos, sendo o Captulo 1 relativo introduo

    do assunto e apresentao dos objetivos.

    No Captulo 2, intitulado Compsitos de matriz cimentcia reforada com fibras, sero

    abordados tpicos sobre a interao fibra-matriz, atentando-se para os mecanismos de

    transferncias de tenses entre a matriz e as fibras. Tambm sero destacados os

    parmetros mais influentes nesta interao.

    No Captulo 3 ser discutido o desempenho dos compsitos de matriz cimentcia

    reforados com fibras de ao.

    No Captulo 4 ser apresentado o programa experimental, onde sero descritos os

    materiais utilizados e os procedimentos de ensaio empregados para avaliar o

    desempenho de concretos fabricados com fibras de ao de diferentes caractersticas.

    No Captulo 5 sero apresentados e analisados os resultados obtidos nos ensaios

    descritos no captulo anterior.

    No Captulo 6, intitulado modelagem do comportamento do concreto quando submetido

    a cargas de impacto, ser exposta a formulao do programa utilizado na simulao do

    modelo numrico, baseado no mtodo dos elementos discretos.

    O Captulo 7 apresentar as concluses desta dissertao e sero apontadas sugestes

    para estudos posteriores sobre o tema abordado.

  • 6

    CAPTULO 2

    COMPSITOS DE MATRIZ CIMENTCIA REFORADA COM FIBRAS

    2.1 CONSIDERAES INICIAIS

    Tendo em vista que o foco da presente dissertao est voltado para a anlise do

    desempenho de matrizes cimentcias reforadas com fibra de ao sob solicitaes de

    impacto, considera-se necessrio revisar, inicialmente, como funciona a interao fibra-

    matriz e analisar como as caractersticas de cada um destes elementos afetam as

    propriedades do compsito resultante. Neste captulo sero abordados, de forma

    genrica, os mecanismos de aderncia das fibras, que governam a eficincia do

    compsito, sendo feitas algumas consideraes especficas sobre os materiais

    envolvidos na presente pesquisa.

    2.2 A FUNO DAS FIBRAS NA MATRIZ CIMENTCIA

    O concreto de cimento Portland pode ser visto como um compsito formado por trs

    componentes principais: pasta de cimento, agregados midos e agregados grados. Em

    funo da natureza destes componentes principais e de suas propores, bem como da

    utilizao ou no de aditivos e adies, o compsito capaz de apresentar uma grande

    variao de suas propriedades.

    Por exemplo, quando submetido a tenses de compresso, verifica-se que o concreto

    pode apresentar diferenciados valores de resistncia. Atualmente, os concretos de

    resistncia normal, com valores de fck menores que 50MPa, so os mais utilizados.

    Porm, seu uso est sendo gradualmente substitudo pelos concretos de alta resistncia,

    cujos valores de fck variam entre 50 e 150MPa, principalmente em estruturas expostas a

    ambientes agressivos e em empreendimentos onde os elementos estruturais necessitam

    sees reduzidas. Ainda so recentes e, portanto, tem utilizao reduzida, os concretos

    de ultra-alta-resistncia, que atingem valores de fck maiores que 150MPa (Resende,

  • 7

    2003). Estudos indicam que resistncias ainda mais elevadas, da ordem de 200MPa,

    podem ser atingidas em concretos com uso de ps reativos (Biz, 2001).

    O bom comportamento da matriz cimentcia, entretanto, fica comprometido por sua

    limitada resistncia trao. Antes mesmo de ser submetido a tenses externas, o

    concreto normalmente contm microfissuras na zona de transio entre a matriz e os

    agregados grados, e pouca energia necessria para que ocorra o aumento destas

    fissuras, justificando a ruptura frgil do material, como explicam Mehta e Monteiro

    (1994).

    O problema, analisado do ponto de vista microestrutural, consiste no fato de que,

    quando o concreto submetido trao ou flexo, a energia se concentra rapidamente

    nas extremidades das microfissuras existentes, como mostra a Figura 2.1, provocando

    um crescimento incontrolado destas. Este fenmeno tem, como provvel conseqncia,

    uma runa frgil do material.

    Figura 2.1 - Mecanismo de concentrao de tenses na trao no extremo das microfissuras (Nunes e Agopyan, 1998).

    Uma das solues mais usuais empregadas para melhorar o desempenho trao de

    matrizes frgeis consiste na adio de fibras s mesmas. As fibras agem como pontes de

    transferncia de tenses, minimizando a concentrao de tenses nas extremidades das

    fissuras, conforme mostra a Figura 2.2.

    CONCENTRAO DE TENSES NA PROPAGAO DA FISSURA

    FISSURA

  • 8

    Figura 2.2 - Mecanismo de reforo das fibras atuando como ponte de transferncia de

    tenses (Nunes e Agopyan, 1998).

    Diversas fibras, de diferentes materiais, tais como o ao, o carbono, o vidro, os asbestos,

    a aramida, o polipropileno, o sisal, o coco e o bambu, podem ser utilizadas como

    reforo de matrizes cimentcias, agregando a estas diferentes caractersticas, conforme

    ser discutido em maior detalhe no item 2.5.

    De forma geral, num concreto reforado com fibras, o processo de fissurao

    acompanhado pelo surgimento de foras de impedimento causadas pelas tenses de

    aderncia desenvolvidas na interface fibra-matriz. Como conseqncia, torna-se

    necessria uma maior energia para que ocorra a abertura e propagao das fissuras,

    tornando a runa do material menos frgil, o que proporciona um eventual ganho de

    ductilidade na estrutura.

    A possibilidade de construir estruturas mais dcteis, capazes de suportar solicitaes

    dinmicas, tem despertado bastante interesse, justificando os vrios estudos em

    desenvolvimento sobre concretos com fibras para retrofit ssmico (Billington e Yoon,

    2004).

    Por alterar o comportamento microscpico do concreto, a presena de fibras causa

    mudanas em suas propriedades macroscpicas, mais utilizadas no dimensionamento de

    estruturas. Enquanto o concreto convencional, quando submetido a tenses de trao,

    rompe repentinamente, no momento em que a deformao correspondente sua

    FIBRAS ATUANDO COMO PONTE DE TRANSFERNCIA DE TENSES

    FISSURA

  • 9

    resistncia ltima for superada, o concreto reforado com fibras continua resistindo a

    cargas considerveis, com deformaes bastante superiores deformao de fratura do

    concreto convencional. Mais ainda, altera-se o padro de fissurao do material, com

    uma tendncia ao aparecimento de fissuras de menor abertura e mais regularmente

    espaadas. Dado o impedimento propagao causado pelas fibras, a primeira fissura

    no consegue levar o compsito runa (Nunes e Agopyan, 1998).

    Mehta e Monteiro (1994) argumentam que produtos reforados com fibras no

    apresentam melhora substancial na resistncia trao, se comparados a misturas

    similares sem fibras. Pesquisas recentes, com emprego de microfibras, parecem indicar

    o contrrio (Bernardi, 2003). Esta aparente contradio pode estar associada ao fato de

    que a incorporao de fibras normalmente provoca impactos sobre a trabalhabilidade.

    Historicamente, quando as fibras eram adicionadas mistura, ocorria uma incorporao

    de ar, o que, associado aos problemas de moldagem e de distribuio inadequada das

    fibras na massa, acabava tendo reflexos negativos sobre a resistncia.

    Acredita-se que, mais recentemente, com a evoluo da tecnologia dos aditivos

    plastificantes e superplastificantes, est sendo possvel obter misturas trabalhveis, com

    pouca incorporao de ar e boa distribuio das fibras na massa. Desta forma, se

    justificaria o fato de que o efeito final da adio de fibras, em termos de acrscimo de

    resistncia, se tornou mais positivo. Estudos especficos so todavia necessrios para

    esclarecer o assunto.

    Mesmo admitindo que as resistncias ltimas trao do compsito no aumentem

    apreciavelmente, as deformaes de trao na ruptura certamente aumentam, com a

    incorporao das fibras. A eficincia do reforo das fibras se traduz num incremento da

    capacidade de absoro de energia do compsito. O ndice capaz de indicar a

    capacidade de absoro de energia de um determinado material, para um determinado

    nvel de deslocamento, denominado tenacidade, que tambm definida pela rea sob

    o diagrama carga x deslocamento vertical (Ferreira, 2002).

    Comparado ao concreto convencional, portanto, o concreto reforado com fibras mais

    tenaz e resistente ao impacto. Um dos objetivos principais deste trabalho justamente

    avaliar o aumento potencial da resistncia ao impacto de matrizes cimentcias com

    diferentes fibras metlicas, como justificado no Captulo 1. Entretanto, para que as

  • 10

    fibras atuem de forma eficiente fundamental que haja uma boa interao das mesmas

    com a matriz, aspecto discutido a seguir.

    2.3 A INTERAO FIBRA-MATRIZ

    A eficincia do reforo das fibras na matriz cimentcia pode ser caracterizada em dois

    estgios: pr e ps-fissurao. Em ambos os casos, o comportamento controlado pela

    interao fibra-matriz, atravs de processos de transferncia de fora da matriz para as

    fibras e de mecanismos de costura das fissuras, em nveis avanados de carregamento.

    Ou seja, para que um compsito apresente bom desempenho, necessrio assegurar que

    seus componentes atuem em conjunto. A boa interao fibra-matriz resulta em um

    aumento da capacidade de absoro de energia do compsito. Estas questes so

    abordados em maior detalhe nos prximos itens.

    2.3.1 Comportamento Pr-Fissurao

    No estgio de pr-fissurao, a transferncia de tenses entre a fibra e a matriz ocorre

    por aderncia. Ou seja, a aderncia desenvolvida na interface distribui o carregamento

    externo entre ambas.

    Enquanto houver aderncia, os deslocamentos longitudinais dos dois componentes

    devem ser compatveis, isto , a deformao na interface deve ser a mesma. Devido

    diferena de rigidez entre as fibras e a matriz, aparecem tenses tangenciais ao longo da

    superfcie de contato, que auxiliam na transferncia de parte da fora aplicada para as

    fibras.

    Quando as tenses tangenciais na interface, devidas ao carregamento, excedem a tenso

    de aderncia entre a fibra e a matriz (au), inicia-se o processo de desligamento da fibra da matriz, com o surgimento de tenses de atrito na interface da zona de desligamento.

    Ocorre, ento, a transio de transferncia de tenso por aderncia para transferncia

    por tenso de atrito, conforme mostra a Figura 2.3. A tenso mxima da interface ao

    atrito denomina-se fu, valor que permanece constante aps o escorregamento da fibra, como mostrado na figura (Bentur e Mindess,1990).

  • 11

    Figura 2.3 - Representao das tenses de cisalhamento na interface fibra-matriz aps desligamento parcial da fibra (Bentur e Mindess, 1990).

    A distribuio de tenses tangenciais resultantes, ao longo da interface fibra-matriz, no linear, como pode ser observado na Figura 2.4.

    Figura 2.4 - Representao das tenses de cisalhamento na interface fibra-matriz

    imediatamente aps a fissura(Bentur e Mindess, 1990).

    2.3.2 Comportamento Ps-Fissurao

    Como explicado acima, aps a fissurao, o mecanismo dominante na transferncia de

    tenses da matriz para as fibras passa a ser o atrito. A tenso de atrito uma tenso

    tangencial distribuda ao longo da interface fibra-matriz. Com o aumento da carga

    ocorrem deslocamentos relativos entre a fibra e a matriz, ou seja, as fibras passam a

    sofrer um processo de arrancamento. O gasto energtico para o arrancamento da fibra

    muito elevado, o que justifica a alta tenacidade do compsito (Nunes e Agopyan, 1998).

    O incremento do carregamento externo provoca o aumento das fissuras, de tal forma

    que ocorre a separao da matriz em vrios segmentos. As fibras, ento, passam a

  • 12

    formar pontes de ligao entre as bordas destes segmentos, dando origem s chamadas

    costuras das fissuras. Na fissura, podem ser identificados trs trechos, onde as

    transferncias de tenses ocorrem de forma distinta, como mostra a Figura 2.5:

    - trecho livre de trao, onde a matriz se encontra fissurada e as fibras se

    romperam ou escorregaram da matriz;

    - trecho de costura das fissuras pelas fibras, no qual a tenso transferida por

    atrito das fibras;

    - trecho de microfissurao da matriz, mas com suficiente continuidade e

    ancoragem dos agregados, para que ocorra transferncia de tenso pela prpria

    matriz.

    Figura 2.5 - Representao das zonas de transferncia de tenses ao longo de uma fissura (Bentur e Mindess, 1990).

    Considerando este mecanismo, pode-se concluir que, quanto maiores as fibras, maior a

    possibilidade de que as mesmas tenham comprimentos de ancoragem suficientes de

    cada lado da fissura. Isto conduz ao conceito de comprimento crtico, abordado no item

    2.4.2.

    No caso especfico das fibras de ao, objeto de estudo desta dissertao, a eficincia da

    interao fibra-matriz determinada pelo processo de arrancamento das fibras, cujo

    mecanismo explicado no item seguinte.

  • 13

    2.3.3 Mecanismo de Arrancamento das Fibras de Ao

    O mecanismo de arrancamento das fibras de ao tem sido um aspecto intensamente

    investigado, uma vez que este processo determina o comportamento do compsito aps

    sua fissurao. Alguns estudos relatam a influncia da adeso fibra-matriz no fenmeno

    e salientam a contribuio da geometria da fibra na energia total absorvida pelo

    compsito (Weiler e Grosse, 199_; Alwan, Naaman, Guerrero, 1999).

    Weiler e Grosse (199_) argumentam que a interao fibra-matriz capaz de levar o

    compsito a suportar carregamentos maiores, devido ao gasto energtico necessrio

    para deformar a fibra. Na Figura 2.5 podem ser observados os resultados de ensaios de

    arrancamento realizados em uma fibra de ao imersa em matriz de resina epxi

    transparente, efetuado com o intuito de estabelecer uma relao entre a carga aplicada e

    as deformaes na fibra.

    Pode-se observar na figura que, no primeiro estgio do ensaio, ocorrem somente

    deformaes elsticas na parte reta da fibra, at que a aderncia entre a fibra e a matriz

    seja rompida (Figura 2.5a). As fibras comeam ento a ser arrancadas da matriz, ao

    mesmo tempo em que ocorrem deformaes plsticas em suas extremidades (Figura

    2.5b). Enquanto o escorregamento da fibra se processa (Figura 2.5c), na matriz tambm

    ocorrem deformaes. No caso da matriz de resina epxi, as deformaes so elsticas,

    e decrescem no momento em que a fibra torna-se totalmente reta (Figura 2.5d). No

    concreto, o processo de arrancamento provocaria a formao de uma rede de

    microfissuras.

    O fenmeno de ancoragem especialmente importante no caso das fibras de ao e pode

    se maximizado com o emprego de fibras deformadas nas extremidades, sendo

    necessria uma grande quantidade de energia para provocar o deslizamento dessas

    fibras. A Figura 2.7 mostra sees de concreto reforado com fibras de ao aps a

    ruptura, onde pode-se observar claramente as extremidades retificadas ou rompidas das

    fibras.

  • 14

    Figura 2.6- Evoluo do processo de arrancamento de uma fibra de ao em uma matriz

    polimrica de resina epxi (Weiler e Grosse, 199_).

    Figura 2.7 Amostras de concreto reforado com fibras de ao aps a ruptura.

    ( a ) ( b )

    ( c ) ( d )

  • 15

    A Figura 2.8 mostra algumas curvas do tipo carga x escorregamento, obtidas de testes

    de arrancamento de fibras de ao realizados por Weiler e Grosse (199_). Como se pode

    observar, tanto a adeso fibra-matriz quanto geometria da fibra influenciam

    fortemente o comportamento ao arrancamento.

    Figura 2.8 Curvas de arrancamento tpicas para fibras de ao lisas e deformadas (Weiler e Grosse, 199_)

    Nota-se na figura que a curva de arrancamento da fibra com extremidades deformadas

    possui dois picos de carga. O primeiro marca o incio do processo de escorregamento,

    enquanto o segundo pico corresponde ao momento em que a fibra se retifica totalmente,

    no qual a matriz sofre grande alvio de deformao. Observa-se que a carga mxima

    atingida menor que no primeiro pico, uma vez que a eficincia da ancoragem da fibra

    vai diminuindo durante o processo de retificao da mesma.

    2.4 PARMETROS INFLUENTES NA INTERAO FIBRA-MATRIZ

    Conforme Resende (2003), alm do tipo de fibra, que ser discutido no item 2.5, fatores

    como a geometria, a frao volumtrica e o arranjo das fibras podem influenciar na

    fibra deformada no concreto

    fibra deformada em resina

    fibra lisa no concreto

    escorregamento (mm)

    Car

    ga (

    N)

  • 16

    eficincia da interao fibra-matriz e modificar as propriedades mecnicas do

    compsito, como discutido a seguir.

    2.4.1 Teor de Fibras

    O principal papel das fibras no compsito, como j discutido, est associado ao controle

    da fissurao e alterao do comportamento do concreto a partir do aparecimento da

    primeira fissura. A Figura 2.9 ilustra este fato, mostrando como a adio de fibras pode

    modificar o grfico de tenso-deformao. Observa-se na mesma que, quando so

    utilizados teores baixos de fibras, ocorrem principalmente mudanas no comportamento

    plstico e na tenacidade do compsito, expressos pelo alongamento da curva tenso x

    deformao, graas ao maior controle da abertura das fissuras no estgio ps-fissurao.

    Figura 2.9 - Curvas tpicas de tenso de trao x deformao para ausncia, baixo e alto volume de fibras (Bentur e Mindess,1990).

    Mudanas significativas no comportamento estrutural do material, no estgio pr-

    fissurao, somente so observadas quando utilizadas tcnicas que garantam a adio de

    altos volumes de fibras.

    A questo que a incorporao de altos teores pode causar problemas de

    trabalhabilidade, sendo necessrio o uso de tcnicas especiais, como a SIFCON (Slurry

    Infiltrated Fiber Concrete), sistema no qual fibras de ao so dispostas inicialmente em

    um molde, para posterior infiltrao de pasta de cimento fluida. Esta tcnica permite

    volumes de fibras entre 8 e 12%, j tendo sido utilizada para produzir componentes com

  • 17

    teores de fibras superiores a 25% (ACI, 1996). Tambm podem ser usados no-tecidos

    de fibras aglomeradas, dando origem a uma adaptao da tcnica denominada Slurry

    Infiltrated Mat Concrete (SIMCON).

    Quando os volumes de fibras incorporados so elevados, ocorre tanto o incremento da

    tenacidade, como da resistncia ltima dos elementos. A literatura da rea, entretanto,

    no define limites a partir dos quais se poderia considerar que os volumes de fibras

    fossem considerados elevados.

    2.4.2 Comprimento Crtico

    Os mecanismos de transferncia de tenses no compsito so influenciados pelo

    comprimento crtico das fibras. Este parmetro definido por Bentur e Mindess (1990)

    como sendo o menor comprimento necessrio para o desenvolvimento de tenses nas

    fibras, iguais sua resistncia. Esta definio est baseada no modelo que descreve a

    transferncia de tenses entre a matriz e a fibra aumentando linearmente dos extremos

    para o centro da fibra, como mostra a Figura 2.10 e Figura 2.11.

    Figura 2.10 - Representao da aderncia fibra-matriz (Bentur e Mindess, 1990).

    O comprimento crtico pode ser calculado pela Equao 2.1, em funo da transferncia

    da tenso tangencial de atrito entre a matriz e a fibra:

    rfu

    fuc

    =l (2.1)

  • 18

    onde: fu tenso ltima trao da fibra

    fu mxima tenso tangencial de atrito r raio da fibra

    Quando o comprimento da fibra embutido na matriz menor do que o crtico ( cll < ), a ancoragem no suficiente para gerar tenses de escoamento ou de ruptura nas fibras,

    como mostra a Figura 2.11. Nesta situao, com o aumento da deformao e,

    conseqentemente, da abertura da fissura, a fibra que est atuando como ponte de

    transferncia de tenses ser mais facilmente arrancada do lado que possuir o menor

    comprimento embutido (Figueiredo, 2000). Ou seja, as fibras no estaro atuando de

    forma eficiente.

    Figura 2.11 Tenso mxima atingida pela fibra, em relao tenso ltima admissvel, em funo do comprimento da fibra.

    Quando o comprimento da fibra embutido na matriz maior que o comprimento crtico

    ( cll > ), ocorre o travamento da fibra, impedindo seu arrancamento e ocasionando a elevao da tenso atuante na mesma at que seja alcanada a tenso de ruptura.

  • 19

    Como a ruptura da fibra envolve menor consumo de energia que o seu arrancamento,

    neste caso ocorrer a reduo da energia total envolvida no processo de ruptura do

    compsito, tornando o material mais frgil.

    Por outro lado, o aumento do comprimento da fibra aumenta sua eficincia, pois permite

    que a mesma desenvolva uma maior tenso, o que impacta positivamente a resistncia

    do compsito. Ou seja, para cll > , h uma contradio entre os requisitos de resistncia e tenacidade do elemento, como explicam Bentur e Mindess (1990).

    A mxima tenacidade do compsito, conseqentemente, obtida quando o

    comprimento mdio das fibras empregadas igual ao comprimento crtico, isto ,

    cll = . Estes preceitos, entretanto, so bastante tericos, uma vez que no possvel prever

    onde ocorrer a fissura em relao ao comprimento da fibra e por conseqncia, as duas

    extremidades da fibra no estaro, necessariamente, ancoradas da mesma maneira.

    2.4.3 Fator de Forma

    O fator de forma, ou relao de aspecto, um dos principais parmetros de

    caracterizao de uma fibra. O mesmo definido como a relao entre o comprimento

    da fibra e o dimetro de uma circunferncia virtual cuja rea seria equivalente seo

    transversal da fibra, como representado na Figura 2.12. Este ndice capaz de indicar a

    eficincia da fibra para a melhora da tenacidade do compsito.

    Figura 2.12 - Fator de forma (Belgo, 2004).

    Um aumento no fator de forma pode representar um aumento no comprimento da fibra

    ou um decrscimo no seu dimetro equivalente. Desta forma, segundo Metha e

    Monteiro (1994), um maior fator de forma pode tanto significar uma melhora na

  • 20

    resistncia ao arrancamento da fibra, pelo aumento do comprimento de ancoragem,

    como um aumento no nmero de fibras que podem interceptar uma fissura, decorrente

    da utilizao de um maior nmero de fibras mais delgadas.

    Nunes e Agopyan (1998), ensaiando concretos reforados com fibras de ao de mesmo

    comprimento e fatores de forma diferentes, mostraram que ocorre um aumento da

    tenacidade flexo do compsito com o aumento do fator de forma, fato justificado

    pelo maior nmero de fibras presentes por unidade de volume da matriz. Entretanto, os

    autores ressaltam que a influncia do fator de forma menos significativa do que a

    influncia do consumo, ou teor total, de fibras.

    2.4.4 Mdulo de Elasticidade das Fibras

    De acordo com Tanesi e Agopyan (1997), o mdulo de elasticidade da fibra

    determinante no comportamento final do compsito. Das fibras mais utilizadas no

    reforo de matrizes cimentcias, discutidas no item 2.5, os asbestos, as fibras de ao, a

    aramida, o vidro e o carbono possuem mdulo de elasticidade que podem ser

    considerados altos, enquanto as fibras de polipropileno e nylon possuem mdulos de

    elasticidade mais baixos. Na Tabela 2.1 so mostrados os valores do mdulo de

    elasticidade de algumas fibras.

    Tabela 2.1 - Mdulo de elasticidade das fibras (Bentur e Mindess, 1990).

    Fibra Mdulo de

    Elasticidade (GPa)

    Carbono 230 Ao 200 Asbestos 164 - 196 Aramida 65 - 133 Vidro 70 - 80 Polipropileno 5 - 77 Nylon 4

    Na Figura 2.13, Figueiredo (2000) representa esquematicamente o comportamento de

    uma matriz hipottica reforada com dois tipos diferentes de fibras: uma de mdulo de

  • 21

    elasticidade alto e outra de mdulo de elasticidade baixo, sendo admitido que todas

    apresentam um comportamento elstico perfeito. A curva tenso x deformao da

    matriz est representada pela linha O-A, enquanto as linhas O-B e O-C representam o

    trabalho elstico das fibras de alto e baixo mdulo, respectivamente.

    Figura 2.13 - Diagrama tenso x deformao elstica. (Figueiredo, 2000).

    No momento em que a matriz rompe (ponto A) e transfere a tenso para a fibra de baixo

    mdulo (ponto C), esta apresenta uma tenso muito baixa para este nvel de

    deformao, necessitando ser deformada intensamente, at o ponto D, para garantir o

    mesmo nvel de tenso da matriz, sendo esta a causa da instabilidade ps-pico de

    carregamento do compsito. Logo, para um dado carregamento, a fibra de baixo

    mdulo no oferecer uma boa capacidade de reforo aps a fissurao da matriz, ou

    permitir uma grande deformao do compsito, com uma conseqente elevao no

    nvel de fissurao, caso tenha resistncia mecnica e ductilidade suficiente para atingir

    o nvel de tenso necessrio (ponto D).

  • 22

    Por outro lado, a fibra de alto mdulo de elasticidade j apresentar um elevado nvel de

    tenso no momento da ruptura da matriz, o que lhe permitir atuar como reforo a partir

    do ponto B, caso sua resistncia no seja superada.

    Cabe lembrar que o mdulo de elasticidade de um matriz cimentcia varia no tempo,

    especialmente nas primeiras idades. Em alguns casos, as fibras so empregadas

    justamente para elevar o mdulo do compsito em idades baixas, para impedir que

    ocorra fissurao. o caso do emprego de fibras em argamassas de revestimento.

    Entretanto, segundo Figueiredo (2000), os cimentos atuais em conjunto com os aditivos

    aceleradores de pega e redutores de gua, propiciam um elevado ganho de resistncia

    inicial, e em paralelo, um rpido incremento do mdulo de elasticidade. Com isto, as

    fibras de baixo mdulo de elasticidade s tm a possibilidade de atuar como reforo

    durante um curto espao de tempo aps o lanamento do compsito.

    Bentur e Mindess (1990) descrevem os comportamentos de fibras com elasticidade

    diferente quando submetidas trao, na regio de vizinhana com a fissura. Se a fibra

    for suficientemente dctil, ocorrer uma contrao lateral na mesma, como pode ser

    observado na Figura 2.14, devido ao efeito do coeficiente de Poisson, que maior na

    fibra do que na matriz. Isto gera tenses normais de trao na interface fibra-matriz.

    Entretanto, se a fibra for frgil e o comprimento embutido na matriz exceder o

    comprimento crtico ( )cl (vide seo 2.4.2), a fibra estar ancorada o suficiente para no ser arrancada, e continuar a suportar carga at que ocorra sua ruptura.

    Figura 2.14 - Representao do comportamento de uma fibra dctil na vizinhana da fissura (Bentur e Mindess, 1990).

  • 23

    2.4.5 Distribuio e Ancoragem das Fibras

    Como explica Chen (1982), a direo de propagao de uma fissura de trao

    transversal direo da tenso atuante. Desta forma, o incio e crescimento de cada

    nova fissura reduz a rea disponvel de suporte de carga, o que causa um aumento de

    tenses nas extremidades de cada fissura. Por esta razo se admite que o mecanismo de

    ruptura na trao se caracteriza pela unio de algumas fissuras pr-existentes ou

    desenvolvidas nos primeiros estgios de carga, ao contrrio do que acontece no estado

    de ruptura por tenses de compresso, que admite a existncia de numerosas fissuras

    independentes. Tendo em vista este fato, intuitivo concluir que, quanto mais

    direcionadas as fibras estiverem, em relao ao sentido da tenso principal de trao,

    melhor ser o desempenho do compsito. Em alguns casos, portanto, utilizam-se

    tcnicas para favorecer a orientao das fibras no compsito. No caso do concreto,

    todavia, mais comum buscar uma distribuio aleatria e homognea das fibras na

    matriz, formando um reticulado tridimensional no orientado. Fibras muito longas,

    entretanto, podem tender a se orientar durante o processo de lanamento e compactao,

    dependendo das dimenses do elemento onde esto sendo empregadas (Figueiredo,

    2000).

    Em concretos de baixa e moderada resistncia mecnica, a fratura se propaga

    preferencialmente na regio da interface entre o agregado grado e a pasta. A fibra deve

    atuar como ponte de transferncia de tenses nas fissuras. Portanto, o comprimento da

    mesma necessita ser suficiente para facilitar o seu correto posicionamento, sendo

    recomendado normalmente que este seja superior a duas vezes a dimenso mxima do

    agregado. Segundo Figueiredo (2000), esta compatibilidade dimensional possibilita que

    a fibra atue como um elemento de reforo do concreto e no como mero reforo da

    argamassa. Quando no h compatibilidade de tamanho entre a fibra e o agregado,

    poucas fibras acabam trabalhando de forma eficiente como pontes de transferncia de

    tenses atravs da fissura.

    Como j discutido, para melhorar as condies de ancoragem, podem ser utilizadas

    fibras com caractersticas especiais. A maioria das fibras metlicas, por exemplo,

    possuem deformaes em forma de gancho em suas extremidades. Neste caso, alm dos

    mecanismos por aderncia e atrito, se estabelece um mecanismo de transferncia de

  • 24

    tenses atravs da ancoragem mecnica da fibra na matriz. Bentur e Mindess (1990)

    acreditam ser este o mecanismo predominante que determina a capacidade de

    transferncia de tenses de fibras deformadas.

    2.4.6 Volume Crtico

    O volume crtico de fibras Vf (crit) definido por Hannant (1978) como sendo o volume

    de fibras Vf que, aps a fissurao da matriz, suportar o carregamento que o compsito

    suportava antes da fissurao. Ou seja, para que haja uma majorao na resistncia

    ltima do compsito, devido incorporao das fibras, necessrio que o teor de fibras

    empregado resulte num volume de fibras superior ao crtico.

    Quando Vf > Vf(crit), o carregamento antes suportado pela matriz transferido para as

    fibras aps o aparecimento da primeira fissura. Como o volume suficientemente

    grande para suportar esta carga, o compsito se mantm ntegro. Carregamentos

    adicionais podem provocar incrementos de fissurao na matriz, gerando um padro de

    fissurao mltipla, sem, contudo, levar ruptura do compsito.

    A Figura 2.15 apresenta a curva tenso x deformao de um compsito reforado com

    fibras, na qual se pode observar o aumento da deformao durante o estgio de

    fissurao mltipla.

    Onde:

    fu resistncia ltima da fibra; mu deformao ltima da matriz; mc deformao do compsito no

    final da fissurao mltipla;

    cu deformao ltima do compsito; cE mdulo de elasticidade do compsito; fE mdulo de elasticidade da fibra; fV volume percentual de fibras.

    Figura 2.15 - Curva tenso x deformao do compsito. (Bentur e Mindess, 1990).

  • 25

    Aps o trmino da fissurao mltipla, a matriz estar dividida em fissuras paralelas, e

    qualquer fora adicional causar o rompimento ou o desligamento das fibras.

    O desligamento das fibras, que se inicia na superfcie da fissura, progride ao longo do

    comprimento da fibra. No trecho desligado, a resistncia ao atrito (f) ainda proporciona alguma resistncia ao arrancamento da fibra, como indicado na Figura 2.16. A ruptura

    s ocorrer quando as fibras esgotarem sua capacidade resistente ou quando a tenso

    tangencial na interface superar a resistncia de aderncia entre a fibra e a matriz.

    Mecanismos de ancoragem tipo ganchos podem incrementar a resistncia de ancoragem

    da fibra, como j salientado.

    Figura 2.16 - Modelo utilizado para representar o processo de arrancamento de uma fibra (Bentur e Mindess,1990).

    Quando Vf < Vf(crit), o volume de fibras insuficiente para suportar o carregamento que

    atuava na matriz antes da fissurao. Ou seja, a transferncia da fora da matriz para as

    fibras provoca o esgotamento da resistncia da fibra e a ruptura ocorre pela propagao

    de uma nica fissura principal, como salientam Bentur e Mindess (1990). Nestes casos

    ocorre necessariamente uma reduo na carga que o material tem capacidade de

    suportar no momento da ruptura da matriz.

  • 26

    Figueiredo (2000) ilustra o conceito de volume crtico com a Figura 2.17, que apresenta

    curvas cargas x deflexo de prismas de concreto com fibras, rompidos flexo. Como

    se pode observar na figura, existe um trecho elstico linear inicial, correspondente ao

    estgio pr-fissurado da matriz do compsito, e um outro trecho, similar a um patamar

    de escoamento, onde possvel diferenciar o comportamento do concreto reforado com

    teores superiores, inferiores e iguais ao volume crtico de fibras.

    Figura 2.17 - Comportamento de compsitos reforados com diferentes teores de fibras durante o ensaio de trao na flexo (Figueiredo, 2000).

    De acordo com Bentur e Mindess (1990), o volume crtico percentual de fibras pode ser

    calculado pelas Equaes 2.2 a 2.4, apresentadas a seguir. Os autores salientam que as

    equaes so indicadas para compsitos de fibras curtas, onde os valores da mxima

    tenso tangencial de atrito ( fu ) variam entre 1 e 10 MPa.

    d

    1Vfu

    mu f(crit) l

    = , para fibras alinhadas em uma direo (2.2)

    d

    12

    Vfu

    mu f(crit) l

    = , para fibras alinhadas em duas direes aleatrias (2.3)

    d

    12Vfu

    muf(crit) l

    = , para fibras distribudas em trs direes aleatrias (2.4)

  • 27

    onde: mu resistncia ltima da matriz trao direta, na ausncia de fibras

    fu mxima tenso tangencial de atrito

    dl relao de aspecto da fibra ou fator de forma

    2.5 FIBRAS MAIS UTILIZADAS NO REFORO DE MATRIZES CIMENTCIAS

    O concreto reforado com fibras pode ser conceituado como um compsito, formado

    por fibras dispersas aleatoriamente ou de forma orientada e alinhada em uma matriz de

    cimento. Uma grande variedade de fibras pode ser utilizada para reforar matrizes

    frgeis. A escolha depende das caractersticas que se deseja fornecer ao compsito

    (Accetti e Pinheiro, 2000).

    Segundo a ACI (1996), existem numerosos tipos de fibras disponveis para uso

    comercial e experimental. As mais empregadas para reforo de matrizes cimentcias so

    as fibras de ao, de vidro, as fibras sintticas e as naturais.

    Na parte experimental deste trabalho se utilizar a fibra de ao, em funo do fato de

    que este tipo de fibra permite obter um excelente desempenho na etapa de ps-

    fissurao do compsito, aspecto importante quando as estruturas so submetidas a

    cargas de impacto, como discutido no Captulo 1. Para fins de comparao, todavia,

    considera-se interessante fazer uma breve reviso sobre os demais tipos de fibras. Uma

    reviso mais completa de cada tipo de fibra pode ser encontrada em Bernardi (2004).

    2.5.1 Fibras de vidro

    As fibras de vidro so normalmente produzidas a partir da slica (SiO2), com a adio de

    xidos de clcio (CaO), boro (B2O3), sdio (Na2O) e/ou alumnio (Al2O3). Isto resulta

    num material amorfo, que comercializado na forma de fios txteis, mantas, tecidos e

    fios tranados. So utilizadas para reforo de materiais termoplsticos e termofixos,

    com aplicao diversificada na indstria automobilstica, eletro-eletrnica, na

    construo civil, em saneamento, na indstria nutica (Saint-Gobain, 2005).

  • 28

    No caso das matrizes cimentcias, as fibras de vidro geralmente so adicionadas para

    produo de elementos estruturais de seo delgada, especialmente painis de

    fechamento. A funo das fibras, nestes casos, de promover maior estabilidade

    dimensional e aumentar a resistncia e o mdulo de elasticidade nas idades iniciais

    (Bentur e Mindess, 1990).

    As primeiras pesquisas realizadas sobre performance da fibra de vidro, por volta de

    1960, mostraram que a fibra de vidro convencional, a base de xido de boro, chamada

    E-glass, apresentava baixa resistncia aos lcalis presentes na matriz de cimento

    Portland, o que levou ao desenvolvimento de fibras de vidro especiais, resistentes a

    esses lcalis, chamadas AR-glass (alkali resistant glass).

    Um exemplo de fibras de vidro tipicamente utilizadas para a produo de compsitos de

    matriz cimentcia pode ser visualizado na Figura 2.18. Os teores de adio normalmente

    empregados so inferiores a 5% do volume de concreto, valor que pode ser considerado

    como um alto teor de adio (Bentur e Mindess, 1990).

    Figura 2.18 Fibras de vidro.

    Alm de empregadas na produo de concretos e argamassas especiais, as fibras de

    vidro tm sido foco de estudos para incorporao em matrizes polimricas ( base de

    resinas polister, ster vinlica ou epxi) para produo de perfis e barras pultrudadas,

    de diferentes sees. Estes elementos podem ser utilizadas na fabricao de peas

    estruturais, ou podem ser empregados como substitutivos da armadura no concreto, uma

    vez que apresentam alta resistncia trao (Maji et. al, 1997).

  • 29

    Em relao ao impacto, Bernardi (2003) relata que as fibras de vidro tradicionais no

    apresentam desempenho satisfatrio no controle da propagao da fissurao aps o

    aparecimento da primeira fissura. Pode-se atribuir este comportamento s caractersticas

    de aderncia da fibra, que apresenta uma superfcie muito lisa e no dispe de

    mecanismos de ancoragem externos.

    2.5.2 Fibras Sintticas

    As fibras sintticas so fibras derivadas de polmeros orgnicos, resultantes de

    pesquisas desenvolvidas na industria petroqumica e txtil. Entre as principais fibras

    sintticas esto as fibras acrlicas, de poliamidas aromticas (aramida), de nylon, de

    polister, de polietileno, de polipropileno e de carbono. A maioria destas fibras ainda

    so pouco utilizadas no reforo de matrizes cimentcias e no foram objeto de muitas

    pesquisas. Outras, entretanto, so facilmente encontradas no mercado e suas

    propriedades e usos so extensivamente estudados, destacando-se as fibras de aramida e

    polipropileno.

    As fibras de aramida apresentam alto mdulo de elasticidade e, quando incorporadas s

    matrizes de concretos de cimento Portland, na forma de pequenos segmentos,

    apresentam excelente desempenho, particularmente no incremento da rigidez,

    resistncia ao impacto e comportamento flexo dos compsitos. Os teores de adio

    variam entre 1 e 5% do volume de concreto ou argamassa (Bentur e Mindess, 1990).

    Entretanto, seu alto custo ainda limita suas aplicaes, como explica Bernardi (2003).

    Na Figura 2.19 so mostrados fios de aramida, que devem ser cortadas em filamentos

    curtos para incorporao em matrizes cimentcias.

    Figura 2.19 Fios de fibra de aramida.

  • 30

    J as fibras de polipropileno apresentam baixo mdulo de elasticidade, grande

    capacidade de deformao, boa resistncia aos lcalis e baixo custo. Estas fibras

    costumam ser utilizadas para o controle da microfissurao durante o endurecimento da

    pasta de cimento, em estruturas de grande rea superficial, tais como pisos industriais e

    pavimentos, sendo recomendado adies inferiores a 0,3% do volume. Tambm podem

    ser utilizadas na fabricao de sees delgadas a teores mximos de 5% do volume, com

    uso de tcnicas especiais de produo (Bentur e Mindess, 1990). Dada sua reduzida

    resistncia trao, em comparao com outras fibras, no resultam em melhorias

    significativas de desempenho quando utilizadas para reforar concretos sujeitos a cargas

    de impacto (Bernardi,2003). Atualmente, fibras com superfcie corrugada (vide figura

    2.20) esto sendo produzidas com o intuito de incrementar a aderncia, buscando

    melhorar a resistncia ao impacto de concretos (Fitesa, 2005). Tambm est sendo

    produzida uma fibra sinttica estrutural para aplicaes em pisos e pavimentos de

    concreto, concreto projetado e pr-moldados, apresentada na Figura 2.21.

    (a) (b)

    Figura 2.20 Aspecto das (a) fibras de polipropileno convencionais, de superfcie lisa e (b) fibras de polipropileno corrugadas (Fitesa, 2005).

    Figura 2.21 Fibra sinttica estrutural (Fitesa, 2004).

  • 31

    2.5.3 Fibras naturais

    Entre as principais fibras naturais utilizadas no reforo de matrizes cimentcias

    encontram-se as de sisal, coco, bagao de cana-de-acar, bambu e juta, entre outras.

    Sob o ponto de vista ambiental e econmico, o emprego de fibras naturais vantajoso,

    em funo do custo reduzido, do baixo consumo de energia necessrio para sua

    produo e do carter renovvel do material de origem. No entanto, em relao

    durabilidade dos concretos reforados com este tipo de fibra, tm-se observado

    problemas devido falta de estabilidade dimensional e da possibilidade de degradao

    em curto espao de tempo das fibras em presena de umidade (Tezuka, 1989).

    2.5.4 Fibras de Ao

    As fibras de ao so produzidas a partir de fios de ao trefilados, que so cortados e

    comercializados em diversos comprimentos e dimetros. As destinadas ao reforo do

    concreto possuem comprimentos variando entre 6,4 e 76mm e fator de forma variando

    entre 20 e 100, sendo desta forma suficientemente curtas para se dispersarem

    aleatoriamente numa mistura fresca de concreto (ACI ,1996).

    Os concretos reforados com fibras de ao vm encontrando cada vez maior aceitao e,

    portanto, a utilizao de fibras deste tipo est progressivamente se expandindo em nvel

    internacional. Uma variedade de tipos e morfologias de fibras j est disponvel no

    mercado. Podem ser encontradas fibras de ao retas, onduladas e torcidas, como

    mostrado na figura 2.22. No Brasil, atualmente, as fibras deformadas nas extremidades

    so as mais facilmente encontradas.

    Figura 2.22 - Fibras de ao encontradas no mercado.

  • 32

    Normalmente, as fibras de dimetros maiores so comercializadas na forma de pentes,

    como se observa na Figura 2.23. Nestes pentes as fibras ficam levemente aderidas umas

    s outras, graas ao emprego de um adesivo solvel em gua. J as fibras com

    dimetros menores so comercializadas na forma de fibras individuais soltas, como

    observado na Figura 2.24.

    Figura 2.23 - Fibras de ao com extremidades deformadas, coladas em forma de pentes.

    Figura 2.24 - Fibras de ao com extremidades deformadas, produzidas soltas.

    Dado o material de origem, as fibras de ao so consideradas como fibras de alta

    resistncia e alto mdulo de elasticidade. A resistncia trao mnima requerida para

    as mesmas de 345MPa, conforme a norma ASTM A820, enquanto as especificaes

    da JSCE requerem 552MPa.

    Em funo de suas propriedades mecnicas, as fibras de ao podem ser empregadas

    como reforo trao em concretos, podendo substituir a armadura tradicional em pisos

    e pavimentos industriais, em revestimentos de tneis e taludes, e em certos elementos

    pr-fabricados, tais como tubos de concreto.

  • 33

    O principal efeito da adio das fibras de ao est na modificao do modo de ruptura

    do material. Como descrito em itens anteriores, as macro-fibras costuram as fissuras,

    conferindo uma resposta mais dctil ao compsito no regime ps-pico de carregamento.

    A eficiente forma de ancoragem das fibras de ao, especialmente as que apresentam

    extremidades deformadas, permite que se desenvolva um mecanismo de transferncia

    de tenso entre as faces da fissura, que confere ao compsito uma habilidade de suportar

    cargas em nveis de deslocamento bem superiores queles onde a fissurao da matriz

    no reforada se daria, sendo o controle da fissurao do compsito governado pelo

    processo de arrancamento das fibras.

    Dado o interesse especfico da presente pesquisa nos concretos reforados com fibras de

    ao, o Captulo 3 expande a discusso sobre o comportamento deste tipo de compsito.

  • 34

    CAPTULO 3

    DESEMPENHO DE COMPSITOS DE MATRIZ CIMENTCIA

    REFORADOS COM FIBRAS DE AO

    3.1 CONSIDERAES INICIAIS

    Entre as causas dos avanos no uso de concretos reforados com fibras de ao, esto as

    significativas vantagens que estas incorporam ao compsito, principalmente por

    aumentar sua capacidade de absoro de energia. Essa melhoria impulsiona a busca pelo

    conhecimento e pela quantificao das propriedades desses concretos.

    Por este motivo, neste captulo ser analisado o desempenho esperado de compsitos

    base de fibra de ao, em termos do seu comportamento no estado fresco e endurecido, e

    de sua durabilidade potencial.

    3.2 COMPORTAMENTO NO ESTADO FRESCO

    O efeito mais marcante da adio de qualquer fibra no estado fresco das misturas de

    concreto consiste na reduo da trabalhabilidade, isto porque as fibras atuam como uma

    adio inerte, provocando o intertravamento da mistura. Esta reduo influenciada

    pelo fator de forma da fibra, pela geometria da fibra, pela frao volumtrica

    adicionada, pelo trao do concreto e pelas caractersticas da interface fibra-matriz (ACI,

    1996) e, portanto, algumas adaptaes na dosagem das matrizes podem ser exigidas, de

    maneira que seja assegurada uma adequada disperso das fibras adicionadas, validando

    a hiptese da formao de uma rede tridimensional que garanta propriedades

    homogneas ao compsito.

    Segundo Metha e Monteiro (1994) o ensaio de abatimento no um bom ndice para

    quantificar a trabalhabilidade de concretos reforados com fibras, j que redues nas

  • 35

    medidas do abatimento no necessariamente levam a processos de lanamento e

    compactao insatisfatrios. Portanto, o ensaio VeBe considerado mais adequado para

    avaliar a tr