Fibrose Quística: Etiopatogénese e Novas Estratégias ... · A apresentação clínica típica...

44
INSTITUTO DE CIÊNCIAS BIOMÉDICAS ABEL SALAZAR UNIVERSIDADE DO PORTO MESTRADO INTREGADO EM MEDICINA Fibrose Quística: Etiopatogénese e Novas Estratégias Terapêuticas Dissertação de Mestrado elaborada sob a orientação da Doutora Susana Paula da Silva Ferreira Pinto ARIANA HELENA RIBEIRO DE BARROS 071001085 2012/2013 Porto

Transcript of Fibrose Quística: Etiopatogénese e Novas Estratégias ... · A apresentação clínica típica...

INSTITUTO DE CIÊNCIAS BIOMÉDICAS ABEL SALAZAR – UNIVERSIDADE DO PORTO

MESTRADO INTREGADO EM MEDICINA

Fibrose Quística: Etiopatogénese e Novas Estratégias Terapêuticas

Dissertação de Mestrado elaborada sob a orientação da Doutora Susana Paula da Silva Ferreira Pinto

ARIANA HELENA RIBEIRO DE BARROS

071001085

2012/2013

Porto

1

ARTIGO DE REVISÃO

Fibrose Quística: Etiopatogénese e

Novas Estratégias Terapêuticas

Ariana Helena Ribeiro de Barros1

Orientação:

Doutora Susana Paula da Silva Ferreira Pinto2

1 Aluna do 6º ano profissionalizante do Mestrado Integrado em Medicina

Afiliação: Instituto de Ciências Biomédicas Abel Salazar – Universidade do Porto

Endereço eletrónico: [email protected]

2 Assistente Hospitalar de Pediatria e Assistente Eventual Convidada do Instituto de

Ciências Biomédicas Abel Salazar – Universidade do Porto

Afiliação: Serviço de Pediatria Médica – Hospital Geral de Santo António - Centro

Hospitalar do Porto

2

Lista de siglas e abreviaturas

4-PBA Metil-4-fenilbutirato de sódio

ABC ATP Binding Cassette

ABCVD Ausência bilateral congénita dos vasos deferentes

ADN Ácido desoxirribonucleico

ATP Adenosina trifosfato

AINE Anti-inflamatórios não-esteroide

CaCC Canais de cloro ativados pelo cálcio

cAMP Cyclic adenosine monophosphate (adenosina monofosfato cíclico)

CFTR Cystic fibrosis transmembrane regulator (regulador da condutância

transmembranar da fibrose quística)

cGMP Cyclic guanosine monophosphate (guanosina monofosfato cíclico)

Cl- Cloro

ClC2 Canais de cloro tipo 2

DNase Desoxirribonuclease

DRFQ Diabetes relacionados com fibrose quística

ENaC Epithelial sodium channel (canal de sódio epitelial)

FDA Food and Drug Administration

FQ Fibrose quística

HCO3- Bicarbonato

IBMX 3-isobutil-1metilxantina

Il-1 Interleucina 1

Il-6 Interleucina 6

Il-8 Interleucina 8

K+ Potássio

LSA Líquido da superfície aérea

mARN Ácido ribonucleico mensageiro

Na+ Sódio

NBD Nucleotide binding domain (domínio de ligação a nucleotídeos)

NO3- Nitrato

ORCC Outward rectifying Cl- channels (canal de cloro retificador externo)

P2Y2 Recetor purinogénio 2

PDE Phosphodiesterase (fosfodiesterase)

PKA Protein kinase A (proteína quinase A)

PKC Protein kinase C (proteína quinase C)

3

PTC 124 3-[5-(2-fluorofenil)-[1,2,4]oxadiazol-3-il]-ácido benzoico

R Domínio regulador

RA Retículo endoplasmático

ROMK2 Renal Outer medullary potassium channel

TIR Tripsina imunorreativa

TMD Transmembrane region (região transmembranar)

TNF Tumor necrosis factor (factor de necrose tumoral)

UTP Uridina trifosfato

4

Resumo

Introdução. A Fibrose Quística (FQ) é a doença autossómica recessiva letal mais

comum em caucasianos. Etiologicamente, assenta numa mutação no gene que

codifica o Cystic Fibrosis transmembrane conductance regulator (CFTR), proteína que

integra a membrana apical das células epiteliais e interfere na secreção de cloro e

absorção de sódio e água em vários tecidos (incluindo o pulmão, glândulas

sudoríparas, trato gastrointestinal, pâncreas, fígado, vesícula biliar e sistema

reprodutor). A alteração no CFTR traduz-se na produção de secreções mais viscosas

nos órgãos afetados, desencadeando um ciclo vicioso de

obstrução/infeção/inflamação que, progressiva e irreversivelmente, lesam a arquitetura

tecidular.

Objetivos. Rever a literatura publicada sobre a etiopatogénese e tratamento da FQ,

com especial atenção as novas opções terapêuticas que poderão, num futuro próximo,

proporcionar a cura da doença.

Resultados. A FQ manifesta-se, geralmente, na idade pediátrica e tem um percurso

evolutivo ao longo de anos, com diminuição da qualidade de vida, e morte precoce.

Desta forma, é essencial o diagnóstico e tratamento atempados. Atualmente, os

pilares da terapêutica assentam na manutenção de um bom estado nutricional, na

clearance das secreções respiratórias, no tratamento e controlo das infeções

pulmonares e tratamento de insuficiência pancreática. O conhecimento da

etiopatogénese desta doença abriu novos horizontes no desenvolvimento de

estratégias terapêuticas adequadas, como a terapia genética e farmacoterapia do

CFTR, que têm o potencial de tratar a causa, e não apenas os sintomas da doença. O

Ivacaftor/VX770, um potenciador do CFTR, já aceite e comercializado, sugere que a

melhoria da função do CFTR pode ser uma abordagem terapêutica viável na FQ.

Outros fármacos, alvos ensaios clínicos, constituem opções atrativas no tratamento

desta patologia.

Conclusões. O desenvolvimento de novas e melhoradas opções terapêuticas na área

da terapia genética e farmacoterapia do CFTR contribuem para a rápida evolução do

tratamento do defeito genético responsável pela FQ.

Palavras-chave: Fibrose Quística; mutações CFTR; terapêutica genética;

farmacoterapia do CFTR; corretores; potenciadores; canais de cloro alternativos, canal

de sódio epitelial, inibidores das fosfodiesterases

5

Abstract

Introduction. Cystic Fibrosis (CF) is the most common lethal autosomal recessive

disease in Caucasians. Etiologically is based on a mutation of the gene witch encodes

the Cystic Fibrosis Transmembrane Conductance Regulator (CFTR). This protein is

located on the epithelial cells apical membrane and interferes with the secretion of

chloride and absorption of sodium and water in several tissues (including lungs, sweat

glands, gastrointestinal tract, pancreas, liver, gallbladder and reproductive system).

The transmutation of the CFTR protein translates on the production of more viscous

cycle of obstruction/infection/inflammation witch, progressive and irreversibly, damages

their tissue structure.

Objectives. Review of the published literature about etiopathogenesis and treatment of

CF, taking into account the new therapeutic options which might, in a new future,

provide the cure for this disease.

Results. CF usually manifests in the childhood and evolves over the years, resulting in

decreased life quality, and early death. Thus, it is essential early diagnosis and

treatment to increase the quality and life expectancy. Nowadays, the pillars of therapy

are based on the maintenance of a good nutritional status, mucus clearance, treatment

and control of lung infections and treatment of pancreatic insufficiency. The knowledge

of CF etiopathogenesis has opened new horizons in the development of appropriate

therapeutic strategies such as gene therapy and pharmacotherapy CFTR, which have

the potential to treat the cause, and not only the symptoms of the disease. The

Ivacaftor/VX770, a CFTR potentiator, accepted and currently commercialized, suggests

that the improvement of CFTR function may be a viable therapeutic approach in CF.

Others drugs are being tested and could be used as better options in the treatment of

this disease.

Conclusions. The development of new and improved therapeutic options, in the field

of gene therapy and pharmacotherapy CFTR, contributes to the fast evolution of the

genetic defect treatment which is responsible for CF.

Keywords: Cystic Fibrosis, CFTR mutations, gene therapy, pharmacotherapy CFTR;

potentiators; correctors; alternative chloride channels, epithelial sodium channel,

phosphodiesterase inhibitors

6

Índice

1. Introdução ................................................................................................................. 7

2. Etiologia e Epidemiologia .......................................................................................... 8

2.1. Classes de mutações ............................................................................................. 9

3. Fisiopatologia e manifestações clínicas .................................................................. 12

3.1. Envolvimento pulmonar ........................................................................................ 12

3.2. Alterações Gastrointestinais................................................................................. 13

3.3. Infertilidade .......................................................................................................... 14

3.4. Outros .................................................................................................................. 14

4. Diagnóstico ............................................................................................................. 15

5. Tratamento ............................................................................................................. 16

5.1. Cuidados nutricionais e gastrointestinais ............................................................. 16

5.2. Doença Pulmonar ................................................................................................ 16

5.2.1. Antibioterapia .................................................................................................... 16

5.2.2. Agentes que alteram as propriedades do muco ................................................ 17

5.2.3. Broncodilatadores ............................................................................................. 17

5.2.4. Agentes anti-inflamatórios ................................................................................. 18

5.2.5. Terapêutica osmótica ........................................................................................ 18

5.2.6. Terapia para melhoria da clearance mucociliar ................................................. 19

5.2.6. Oxigenoterapia .................................................................................................. 19

5.2.7. Imunização ....................................................................................................... 19

5.2.8. Transplante pulmonar ....................................................................................... 20

5.3. Novas terapêuticas .............................................................................................. 20

5.3.1. Tratamento Genético ........................................................................................ 20

5.3.1.1. Sistemas de Vetores ...................................................................................... 20

5.3.2. Farmacoterapia CFTR ...................................................................................... 21

5.3.2.1. Aminoglicosídeos ........................................................................................... 22

5.3.2.2. Potenciadores ................................................................................................ 22

5.3.2.2. Corretores ...................................................................................................... 24

5.3.3. Inibição da absorção de sódio ........................................................................... 26

5.3.4. Estimulação da secreção de cloro ..................................................................... 26

5.3.5. Inibidor da Fosfodiesterase 5 ............................................................................ 28

6. Conclusão ............................................................................................................... 30

Referências Bibliográficas........................................................................................... 31

Anexos........................................................................................................................ 40

7

1. Introdução

A Fibrose Quística (FQ), uma doença das crianças e adultos jovens, de

transmissão autossómica recessiva, resulta de uma mutação no gene que codifica a

proteína Cystic Fibrosis Transmembrane Conductance Regulator (CFTR), no braço

longo do cromossoma 7 (1). Esta proteína funciona como um canal de cloro importante

para a composição dos fluidos corporais, estando também envolvida na regulação da

atividade de outros canais iónicos e em muitos processos celulares, como a rede de

citoesqueleto, transporte transmembranar, degradação de proteínas, função recetora e

de apoptose.

As anomalias a nível do CFTR são responsáveis por aumento da viscosidade

das secreções mucosas, obstrução e fibrose progressiva nos órgãos que o

expressam.

A apresentação clínica típica desta doença das glandulas exócrinas,

caracteriza-se por doença pulmonar progressiva, disfunção pancreática, infertilidade

masculina (azoospermia obstrutiva) e aumento dos eletrólitos no suor.

O diagnóstico é baseado em critérios clínicos com confirmação através do teste

do suor e/ou teste genético e/ou teste de diferença de potencial nasal.

Devido à prevalência desta patologia na raça caucasiana, e portanto, na

população portuguesa, e tendo em conta que os pilares em que assenta não estão,

ainda, completamente esclarecidos, propõe-se a abordagem da fisiopatologia da FQ,

dando enfoque ao envolvimento pulmonar, que é quase um achado universal na

população de doentes e o principal responsável pelo limite da esperança de vida.

O presente artigo de revisão bibliográfica pretende apresentar as opções de

tratamentos, divididas entre as que se encontram atualmente disponíveis e as que,

estando ainda em desenvolvimento, poderão constituir importantes armas

terapêuticas, podendo mesmo proporcionar a cura da doença.

A pesquisa bibliográfica foi efetuada com base na consulta das bases de dados

da US National Library of Medicine/ National Institutes of Health (PubMed), Literatura

Latino-Americana e do Caribe em Ciências da Saúde (LILACS) e Scientific Electronic

Library Online (SCIELO). Baseada nos resultados da pesquisa, foi realizada uma

revisão dos artigos encontrados publicados nos últimos trinta anos, desde os primeiros

conhecimentos acerca da etiologia responsável pela FQ até a atualidade, com ênfase

nos mais recentes, alguns ainda em fase experimental.

8

2. Etiologia e Epidemiologia

A Fibrose Quística é a doença autossómica recessiva letal mais comum nos

descendentes Europeus, afetando 1 em 2500-6000 nados-vivos a cada ano,

dependendo da região geográfica, e com uma frequência de portadores de 1 em cada

25 indivíduos (Figura 1) (2). Foi descrita pela primeira vez como uma entidade clínica

em 1938, sendo denominada nesta altura de “fibrose quística do pâncreas”

assinalando a destruição da função pancreática exócrina (3). Mais tarde, em 1983, foi

reconhecido o aumento da reabsorção de sódio como característica reguladora de FQ

nas vias respiratórias (3).

Em 1989 foi identificado o gene da doença – Cystic Fibrosis Transmembrane

Regulator (CFTR) - no braço longo do cromossoma 7 (7q.31.2) e, posteriormente,

isolado por clonagem posicional (1, 4, 5). O gene é composto por cerca de 250Kb de

ADN, com 27 exões, que representam cerca de 5% do ADN (6,5Kb) e codifica um

ARN mensageiro (ARNm). Este ARNm é transcrito numa proteína de 1480

aminoácidos – Cystic Fibrosis transmembrane conductance regulator (CFTR) (1, 4-6).

A glicoproteína transmembranar CFTR pertence à superfamília de proteínas

transportadoras ATP Binding Cassette (ABC), que se caracterizam por funcionarem

como canais que usam a energia da hidrólise do ATP para potenciar a translocação de

um substrato contra um gradiente eletroquímico (6-8).

Cada CFTR é composto por uma estrutura simétrica com cinco domínios: dois

domínios transmembranares (TMD1 e TMD2) com seis segmentos transmembranares

helicoidais cada; dois domínios de ligação a nucleótidos intracelulares, localizados no

citoplasma (NBD 1 e NBD2) e um domínio de regulação central (R) também localizado

no citoplasma e que contém múltiplos locais de fosforilação (6) . Os TMDs contribuem

para a formação do poro do canal e mutações em locais específicos no TMD1 alteram

a sua seletividade iónica (6).

O processo de glicosilação é importante para o funcionamento normal do

CFTR, pois apenas o CFTR glicosilado pode-se incorporar na membrana plasmática

(9, 10).

O mecanismo de ação do CFTR é bastante complexo e ainda não está

perfeitamente esclarecido. Conquanto, sabe-se que a atividade do canal CFTR requer

fosforilação do domínio R. Este domínio (R) contém nove das dez sequências

conhecidas para fosforilação pela proteinoquinase A (PKA) e sete dos sítios para a

ligação da proteinoquinase C (PKC) que regulam a função do canal (11, 12). Os NBDs

do canal possuem sequências altamente conservadoras que são responsáveis pela

ligação e hidrólise da adenosina trifosfato (ATP) - fornecendo energia para a atividade

9

do canal (4). A fosforilação do domínio R, pela PKA dependente da adenosina

monofosfato cíclico (cAMP), permite a ligação do ATP ao NBD1. Quando o domínio R

está completamente fosforilado, o NBD2 pode ligar-se ao ATP, permitindo a

estabilização do canal aberto e possibilitando a passagem de iões de acordo com o

gradiente eletroquímico/de concentração, através do poro formado pelos domínios

transmembranares (13). Posteriormente, o ATP é hidrolisado pelo NBD2 e o canal

fecha outra vez (13, 14). É importante salientar, que mesmo na ausência de ATP, o

CFTR apresenta uma baixa, mas significativa, taxa de abertura, o que vem corroborar

a complexidade de funcionamento deste canal.

O CFTR atua como um canal de cloro, envolvido no transporte de água e sal

(7, 15), também regula a atividade de outras vias de condução na membrana e outras

proteínas membros da superfamília de transportadores ABC (16). Estas vias de

transporte transmembranar incluem a regulação do canal epitelial de sódio (ENaC); a

retificação exterior do canal de Cl- (ORCC) e regulação autócrina deste canal por meio

do ATP; a retificação interior do canal de K+ (ROMK1 e ROMK2), o transporte de

vesículas, acidificação do compartimento intracelular e o processamento de proteínas

(17). Por outro lado, o CFTR contribui para a regulação do transporte de HCO3- (nas

células epiteliais) e para o transporte de diversos iões como o NO3- e metanoato de

sódio (7). Mais recentemente, foi demonstrado que o CFTR também é permeável à

glutationa, estando envolvido na sua homeostasia (18).

Deste modo, o CFTR deixou de ser considerado unicamente como canal de

cloro, importante na composição dos fluidos corporais, mas sim, uma proteína

envolvida em muitos processos celulares, como a rede de citoesqueleto, transporte

transmembranar de substâncias, degradação de proteínas, função recetora e de

apoptose (6, 7, 19).

2.1. Classes de mutações

Estão descritas mais de 1900 mutações diferentes no gene CFTR,

potencialmente causadoras de FQ (20, 21).

Experiências de clonagem molecular do ADN identificaram uma mutação

altamente prevalente nos alelos dos doentes com FQ. Esta mutação, uma deleção de

três nucleótidos adenosina-timina-timina (ATT) no exão 10, causa a perda de um

resíduo de fenilalanina, na posição 508 da proteína (mutação ΔF508) (22) e apresenta

uma frequência mundial de 68% (13). A mutação ΔF508 também apresenta a

frequência relativa mais alta em Portugal (23).

10

Várias mutações podem ser agrupadas em diferentes grupos, com base nos

mecanismos moleculares responsáveis pela disfunção ou consequências funcionais

no CFTR. A classificação, que foi proposta inicialmente por Tsui (1992), oferece uma

boa elucidação para a severidade das mutações e fornece uma lógica para cada

consequência fenotípica (21, 24, 25).

Atualmente, as mutações podem-se classificar em seis tipos diferentes,

descritos a seguir. As classes I a III são as mais comuns e estão associadas a

insuficiência pancreática, ao contrário das classes IV a VI.

Classe I: Síntese proteica defeituosa (efeito: ausência de CFTR na membrana

apical) – são mutações nonsense, frameshift e splice que dão lugar à formação de

sinais de terminação prematuros (STOP) ou incorreções no splicing e

consequentemente, produzem variantes de proteínas truncadas, deletadas ou

alongadas. Estas proteínas são degradadas e, eficazmente, eliminadas nas células.

Na realidade, não está presente nenhum CFTR funcional nas células epiteliais e como

consequência os efeitos fenotípicos desta classe tendem a ser graves. Este tipo de

mutação é responsável por 2 a 5% dos casos de FQ em todo o mundo. Algumas

populações têm uma frequência muito mais elevada (60 % nos judeus Ashkenazi com

FQ) (26). A mutação mais frequente desta classe é a G542X – substituição de uma

glicina por um codão STOP na posição 542.

Classe II: Transporte e processamento anormais – alteração da maturação

proteica (efeito: ausência de CFTR na membrana apical) – são mutações missense,

deleções ou inserções, que resultam em alterações no processo de glicosilação e

modulação e, desta forma, a proteína não é processada devidamente, impedindo que

seja transportada para a localização correta na célula, ficando retida no RE e sendo

posteriormente degradadas pelo proteossoma 26S do citosol. Um exemplo deste tipo

de mutação é a mutação ΔF508. Curiosamente, algumas mutações da classe II,

quando corretamente processadas, possuem atividade residual do canal de cloro e

podem conduzir a um fenótipo normal, ou apenas ligeiramente afetado (21).

Classe III: regulação anormal (efeito: quantidade normal de CFTR não-

funcional na membrana apical) – são mutações que ocorrem num aminoácido e

impedem a ativação do canal através de erros na ligação ao ATP e hidrólise do

domínio nucleotídeo. Como exemplo, as alterações no NBD1 - mutação missense

G551D (glicina na posição 551 é trocada pelo ácido aspártico) (27, 28).

Classe IV: condutância diminuída (efeito: quantidade normal de CFTR com

alguma função residual na membrana apical) – são mutações (R117H, R334W,

R347P) localizadas no TMD1, que está implicado na formação do poro do canal, e

correspondem a variantes CFTR que retêm função residual, com propriedades de

11

condutância deficientes. As mutações desta classe estão associadas a fenótipos

pancreáticos mais ligeiros (29, 30).

Classe V: Redução na síntese (efeito: quantidade reduzida de CFTR normal na

membrana apical) – são mutações missense, mutações que afetam locais de splicing,

mutações do promotor ou processamento ineficaz (ex. A455E), que estão associadas

a biossíntese reduzida do CFTR resultando em menor quantidade da proteína

funcional na membrana apical. Estão associadas a fenótipos menos graves (21).

Classe VI: Diminuição da estabilidade (efeito: CFTR funcional, mas instável,

presente na membrana apical) – são, normalmente, mutações nonsense e frameshift

(Q1412X, 4326delTC, 4279insA) que causam um truncamento (70 a 100bp) da

extremidade C-terminal da CFTR e estão associadas a formas graves de

apresentação, pois, apesar da extremidade C-terminal não ser necessária para a

génese e funcionamento do canal de cloro, é indispensável para a manutenção da

estabilidade do complexo CFTR glicosilado (31).

12

3. Fisiopatologia e manifestações clínicas

O CFTR, presente nas células epiteliais e também nos túbulos serosos das

glândulas submucosas, exerce funções sobre o muco, grânulos secretores e

organelos intracelulares, pela alteração da permeabilidade da membrana celular a

vários iões, dificultando o transporte e secreção destes nos órgãos afetados (3).

O síndrome clínico consequente à diminuição ou perda da função do CFTR é

multissistémico e tem uma ampla gama de manifestações (32). A forma clássica de

FQ, relacionada com função do CFTR praticamente ausente, é caraterizada por

insuficiência pancreática exócrina associada a manifestações noutros órgãos; e a

tríade de doença sinopulmonar crónica, insuficiência pancreática e valores elevados

de cloro no suor constitui a apresentação típica. No outro extremo, estão casos

classificados como “fibrose quística atípica” nas quais as manifestações são mais

subtis, muitas vezes únicas (doentes monossintomáticos) e o teste do suor revela

concentração de cloro no limite da normalidade (32).

3.1. Envolvimento pulmonar

Os pulmões são considerados praticamente normais ao nascimento, embora já

tenham sido evidenciadas algumas alterações pré-natais, como a dilatação dos ácinos

das glândulas submucosas da traqueia (33, 34).

De uma forma simplificada, a lesão pulmonar na FQ reflete a falha dos

mecanismos de defesa do pulmão contra os microrganismos e a sua natureza e

progressão são os principais determinantes da sobrevida destes doentes (35).

Dada a dupla funcionalidade (como canal de cloro e regulador do canal epitelial

de sódio (ENaC)), a disfunção do CFTR resulta na alteração do gradiente osmótico

(desequilíbrio entre secreção de Cl- e absorção de Na+) com diminuição do transporte

de água para a superfície epitelial, conduzindo, a nível pulmonar, à diminuição do

volume de líquido da superfície aérea (LSA) (19, 36, 37).

A depleção do LSA resulta na depleção de líquido tanto na camada de muco

mais superficial, como na camada mais profunda – líquido periciliar, o que tem como

consequências o colapso dos cílios com perda da clearance pulmonar, aumento da

viscosidade da camada mucosa, hipertrofia das glândulas submucosas, associada à

secreção continuada de mucina, diminuição dos níveis de oxigénio nas secreções,

aparecimento de infeções (por aprisionamento de substâncias antimicrobianas, anti-

inflamatórias e antioxidantes nas glândulas obstruídas e no LSA) (38, 39). A

diminuição de oxigénio parece ser fundamental para a fixação e crescimento de

13

microrganismos (como a Pseudomonas aeruginosa) que crescem e formam

macrocolónias (biofilmes), que limitam a mobilidade de neutrófilos e são essenciais no

estabelecimento de uma infeção persistente (40).

Outras alterações estão implicadas na inflamação e infeção pulmonar, como a

disfunção epitelial, libertação de quimiocinas pelas células epiteliais e macrófagos

(principalmente IL-1, IL-6, IL-8, TNF-α e leucotrieno B4) bem como redução de

citoquinas anti-inflamatórias e são responsáveis pelo desencadear de uma cascata

pró-inflamatória com recrutamento de leucócitos, principalmente neutrófilos

(característicos da resposta inflamatória na FQ). A sua ação não controlada causa

dano e remodelação tecidular (devido à libertação de radicais de oxigénio e proteases,

como a elastase) (41, 42).

As citoquinas pró-inflamatórias são responsáveis pela caquexia nestes doentes

(40).

As infeções víricas (vírus sincicial respiratório e parainfluenza) são

predominantes numa fase inicial, sendo posteriormente as infeções bacterianas as

mais preponderantes. As espécies bacterianas mais comuns são Staphylococcus

aureus, Haemophilus influenza, e com a progressão da doença ocorre colonização por

Pseudomonas aeroginosa e Burkholderia cepacia (43). As infeções fúngicas podem

também ocorrer, com destaque para o Aspergillus fumigatus (44).

A inflamação e infeção bacteriana persistentes conduzem a um dano

progressivo provocando hiperinsuflação, obstrução, retenção de ar e bronquiectasias,

com predomínio do componente obstrutivo nas fases iniciais da doença (44). Num

estado mais avançado, verifica-se destruição do parênquima com formação de

ulcerações e abcessos, que finalmente é substituído por fibrose (41, 44, 45).

3.2. Alterações Gastrointestinais

A disfunção de CFTR resulta na redução do conteúdo hídrico das secreções

pancreáticas e aumento da acidez, contribuindo para a obstrução dos ductos, autólise

e fibrose do pâncreas. A lesão pancreática pode começar na vida intrauterina e

continuar após o nascimento (46). Estima-se que 85-90% dos doentes com FQ têm

insuficiência pancreática, sendo a síndrome malabsortiva a apresentação clássica.

Alguns doentes com insuficiência pancreática exócrina também desenvolvem

insuficiência pancreática endócrina – diabetes relacionado com FQ (DRFQ) (7, 47).

No fígado, o CFTR localiza-se na superfície celular dos pequenos ductos

biliares e é responsável por manter a solubilidade dos sais e proteínas biliares,

facilitando a sua movimentação em direção aos ductos e vesícula biliar. Quando o

14

CFTR não é funcional, os ductos biliares tornam-se obstruídos pelas secreções

espessas, podendo originar cirrose hepática (48).

No intestino, o CFTR é o único canal de cloro na membrana apical da maioria

dos segmentos intestinais, e como tal, a disfunção compromete a secreção de cloro e

água para o lúmen, contribuindo para a ocorrência de síndromes obstrutivos intestinais

(como íleo meconial, síndrome obstrutivo intestinal distal, etc.) (49-51).

3.3. Infertilidade

A infertilidade masculina nos doentes com FQ ocorre como consequência de

anormalidades no desenvolvimento dos canais deferentes e metade distal do

epidídimo. A agenesia bilateral dos canais deferentes, e consequente azoospermia

obstrutiva, ocorre quase universalmente em homens com FQ, sendo muitas vezes, a

única apresentação de formas atípicas da doença (52).

Nos órgãos reprodutores femininos, o CFTR desempenha um importante papel

na troca de fluidos e na composição eletrolítica, o que pode explicar a redução de

fertilidade nas mulheres com FQ, devido ao espessamento e volume reduzido do

muco cervical, que forma uma barreia à penetração dos espermatozóides (53).

3.4. Outros

Outras manifestações possíveis incluem episódios de desidratação aguda

hiponatrémica em situações de calor ou hipertermia; síndrome da perda salina;

artropatia; hipocratismo digital; má evolução ponderal isolada; entre outras (Figura 2).

15

4. Diagnóstico

O dignóstico definitivo da FQ deve combinar a identificação de um fenótipo

clínico característico, história de FQ num irmão ou rastreio neonatal positivo associado

à evidência laboratorial, com teste de suor (22), teste de diferença de potencial nasal

ou teste genético positivo (Figura 3) (25, 54). No entanto, se estes critérios não

estiverem presentes, esta doença não pode ser excluída (3).

Atualmente, outros testes podem ser úteis para orientar o diagnóstico, como os

testes de função exócrina pancreática, exame bacteriológico de secreções

respiratórias, avaliação urogenital, provas de função respiratória, telerradiografia de

tórax e seios perinasais, entre outros. (22, 54).

Cada vez mais, os doentes são identificados por triagens neonatais através de

medição dos níveis de tripsina imunorreativa (TIR), medidos em amostras de sangue

colhidas ao nascimento (55-57). Em Portugal ainda não foi implementado este rastreio

neonatal para o diagnóstico precoce de FQ.

16

5. Tratamento

O tratamento de doentes com FQ consiste numa abordagem multifacetada, que

visa atuar em várias etapas do processo fisiopatológico, simultaneamente. Sendo o

envolvimento pulmonar o principal condicionante da morbi-mortalidade, o objetivo

prioritário consiste em manter a função pulmonar o mais próximo do normal, não

esquecendo as restantes manifestações.

5.1. Cuidados nutricionais e gastrointestinais

Os doentes com FQ exigem cuidados reforçados no sentido de manter um bom

estado nutricional. A dieta destes doentes deve ser diversificada, sem restrição de

gorduras e com acréscimo de sal.

A manutenção do peso normal para a altura pode ser difícil de conseguir

devido ao aumento das necessidades calóricas, pela doença pulmonar crónica, pela

má-absorção dos alimentos na insuficiência pancreática e pela anorexia nos doentes

com inflamação pulmonar ativa (58).

É frequente a necessidade de recurso à suplementação alimentar oral e, em

casos extremos, introdução de sonda nasogástrica ou de gastrostomia para

alimentação. Raramente é necessária a nutrição parentérica (59).

Na maioria dos doentes, a insuficiência pancreática é tratada pela reposição

enzimática, contendo proporções variadas de lípase, amílase e protéase. A dose

necessária varia de indivíduo para indivíduo, sendo ajustada consoante o peso

corporal, a sintomatologia gastrointestinal e características das fezes (59).

Doentes com hepatomegalia, alterações significativas nos testes de função

hepática e evidências de alterações cirróticas na ultrassonografia, podem ser tratados

com ácido ursodesoxicólico (efeito hepatoprotetor e imunomodelador), com o

objetivo de aumentar o fluxo biliar e inibir a absorção intestinal de ácidos biliares

tóxicos. Os doentes que desenvolvem insuficiência hepática e necessitam de

transplante representam uma minoria à escala global (60).

5.2. Doença Pulmonar

5.2.1. Antibioterapia

Nos doentes com FQ, a antibioterapia pode ser prescrita em três situações: na

doença pulmonar precoce (para retardar o início da colonização crónica com P.

17

aeruginosa), em doentes colonizados cronicamente com patogéneos como S. aureus

e P. aeruginosa (para diminuir a taxa de declínio da função pulmonar e reduzir a

frequência e morbilidade das exacerbações pulmonares) e durante as exacerbações.

Os antibióticos são dirigidos, numa fase inicial e de forma empírica, contra os

microrganismos bacterianos característicos da FQ, como o Staphylococcus aureus,

Haemophylus influenza e Pseudomonas aeruginosas (59), devendo, posteriormente e

sempre que possível, basear-se na identificação do microrganismo e respetivo teste

de sensibilidade aos antibióticos. (61).

A variedade de formas de tratamento antibiótico (via oral, intravenosa ou

inalatória) foi sem dúvida um dos fatores que mais contribuiu para o aumento da

sobrevida destes doentes (62).

No caso de infeção por Haemophilus influenza a erradicação é quase possível,

recorrendo-se a antibioterapia oral com amoxicilina-ácido clavulânico ou

cefalosporinas. Os antibióticos disponíveis para o tratamento da infeção por

Pseudomonas consistem nos β‐lactâmicos, aminoglicosídeos, quinolonas. O S. aureus

é tratado, normalmente, com meticilina, quando o microrganismo é sensível (62).

5.2.2. Agentes que alteram as propriedades do muco

Um dos problemas predominantes dos doentes com FQ é a produção de

grandes quantidades de muco altamente viscoso, para o qual contribuem também a

sobreinfeção por bactérias e a presença de quantidades abundantes de leucócitos (4).

A redução desta viscosidade, através da digestão do componente de ADN,

incentivou o uso de desoxirribonuclease (DNase), enzima que cliva e fragmenta o ADN

extracelular através da hidrólise (4). A DNase recombinante humana (Dornase α),

pelo seu efeito na redução da viscosidade da expetoração, quando inalada, melhora

os valores de função pulmonar e reduz as exacerbações, tendo sido aprovada pela

Food and Drug Administration (FDA) como tratamento de manutenção em todos os

doentes com FQ (61, 63).

5.2.3. Broncodilatadores

A hiper-reatividade brônquica está presente em cerca de metade dos doentes

com FQ (61). A resposta aos broncodilatadores (como agonistas adrenérgicos β2,

anticolinérgicos e xantinas) é variável e a sua utilização está indicada em doentes com

teste de broncodilatação positivo ou com asma (64).

18

5.2.4. Agentes anti-inflamatórios

Intervenções terapêuticas que atuem na modelação da resposta inflamatória

são fundamentais para abrandar a progressiva destruição das vias respiratórios nos

doentes com FQ. Os fármacos anti-inflamatórios constituem um tratamento preventivo,

pelo que será previsível que os doentes mais jovens tenham maior benefício do que

aqueles com lesão pulmonar substancial.

O ibuprofeno (AINE) e a prednisolona melhoram a função pulmonar nos

doentes com FQ (59).

O ibuprofeno, em altas concentrações, apresenta atividade específica contra

neutrófilos, incluindo a inibição da migração e libertação de enzimas lisossomais. Os

doentes tratados com este fármaco têm menor declínio da função pulmonar,

preservando o peso corporal ideal, e menor número de hospitalizações. Todavia, o seu

uso sistemático não é consensual, e quando utilizado é aconselhado em crianças com

idades superiores a seis anos (64).

A corticoterapia (inalada ou administrada por via oral) pode prevenir o declínio

de função pulmonar em crianças dos 6 aos 12 anos com FQ (65). O seu uso ainda é

controverso e a Cystic Fibrosis Foundation é contra a sua utilização como tratamento

de rotina em doentes com esta patologia. Relativamente à utilização de corticoterapia

oral, esta mesma entidade conclui que as evidências são insuficientes para

recomendar ou desaprovar o seu uso em adultos (63).

Antibióticos como a azitromicina, podem ser úteis no tratamento de doentes

com FQ, como idade igual ou superior a seis anos, que apresentam infeção

persistente por Pseudomonas aeruginosa. Esta terapia tem como objetivo melhorar a

função pulmonar e reduzir exacerbações, pois recentes evidências comprovam que

pode atuar como potente anti-inflamatório a longo prazo (63).

Outros fármacos, incluindo antiproteases inaladas (inibidor a1), pentoxifilina,

entre outros, foram também testados, não tendo, no entanto, evidenciado qualquer

impacto na melhoria da função pulmonar ou restante sintomatologia (63).

5.2.5. Terapêutica osmótica

O aumento da fluidez do líquido nas superfícies respiratórias pode ser

conseguido através da inalação de soluções hipertónicas, que atuam de forma a

extrair a água para a superfície apical, pelo efeito osmótico (66, 62).

A solução salina hipertónica (NaCl 7%, inalado), usado de forma bidiária,

durante 48 semanas, é bem tolerada e tem um efeito benéfico na hidratação mucosa,

19

aumento da camada de líquido periciliar com consequente aumento do transporte

mucociliar, e melhoria da função pulmonar (37), para além de efeitos agudos na

indução de tosse e redução do número de exacerbações (59). Para ser efetivo, é

necessário que este tratamento seja prolongado (62), apresentando uma maior

eficácia, quando administrado em fases precoces da doença. São necessárias mais

investigações para assegurar a sua utilização em crianças e lactentes.

5.2.6. Terapia para melhoria da clearance mucociliar

A fisioterapia respiratória está indicada desde o momento do diagnóstico e

cronicamente durante toda a vida. (61). Envolve a cinesiterapia e drenagem postural

com precursão torácica e vibração, manualmente ou com percursor mecânico,

devendo ser aplicada em vários pontos anatómicos, de modo a favorecer a clearance

gravitacional das secreções pulmonares.

Novas técnicas alternativas, ativas ou passivas, foram desenvolvidas para

oferecer aos doentes mais autonomia. As técnicas ativas incluem drenagem

autogénica, ciclo ativo da respiração, máscara de pressão expiratória positiva e válvula

flutter® (67). As técnicas passivas abrangem a compressão torácica de alta

frequência, e a ventilação percussiva intrapulmonar (61).

5.2.6. Oxigenoterapia

Existem indicações precisas para a instituição desta terapia com base nos

volumes pulmonares, saturação de oxigénio e pressões arteriais de oxigénio e dióxido

de carbono. Esta abordagem mantem a qualidade de vida e função pulmonar a longo

prazo, mesmo em doentes com doença pulmonar relativamente avançada. (68).

5.2.7. Imunização

A imunização deve incluir todas as vacinas disponíveis em cada país, não se

restringindo ao calendário do Ministério da Saúde para a idade (69). Em Portugal, para

além das vacinas incluídas no Programa Nacional de Vacinação, devem também ser

administradas a vacina anti-influenza e anti-pneumocócica.

20

5.2.8. Transplante pulmonar

Nos últimos anos, o transplante pulmonar tornou-se uma opção nos casos de

insuficiência respiratória progressiva em doentes com FQ, que não apresentam

melhoria com a terapêutica, mas que mantêm a capacidade de execução de

atividades da vida diária (70, 71).

Os doentes com FQ formam um dos maiores grupos para o qual este

procedimento é efetuado, representando 40% de todos os transplantes bilaterais em

crianças e adultos, a nível mundial. É importante salientar que os pulmões

transplantados não desenvolvem um fenótipo específico de FQ, tornando este

procedimento o único tratamento efetivo, ate à data, para doença pulmonar (72). A

sobrevivência dos recetores de transplante com FQ é comparável à dos recetores com

outras doenças (71).

Não é consensual qual a altura mais adequada para propor o doente para

transplante, pelo que as atitudes devem ser baseadas no senso clínico (72). Desta

forma, a referenciação para centro de transplantação, deve ser feita quando o clínico

prevê uma sobrevida mais longa do que o tempo médio de espera até ao transplante

(71).

5.3. Novas terapêuticas

5.3.1. Tratamento Genético

O tratamento genético consiste na substituição celular de genes ausentes ou

defeituosos ou na sua administração transitória, com o objetivo de alterar ou modular

as suas funções.

A FQ, uma doença monogénica, é candidata a este tratamento revolucionário

com potencial curativo.

Os pulmões constituem um alvo terapêutico favorável devido à sua boa

acessibilidade, tanto pelas vias aéreas como através da sua vascularização.

5.3.1.1. Sistemas de Vetores

Diferentes sistemas de vetores, virais e não-virais, são os mais vulgarmente

usados para a transferência de genes, particularmente para as células epiteliais das

vias respiratórias.

21

Inicialmente, o adenovírus apareceu como uma boa escolha para a terapia

genética. Posteriormente outros vírus, baseados neste, surgiram como opções mais

confiáveis, pois apresentam tropismo para amplos tecidos, têm a propriedade de

transdução genética em células que não se encontram em divisão celular e não estão

diretamente associados a manifestações clínicas nos humanos (59). A terapia

baseada num vetor viral adeno-associado teve sucesso na transferência do gene

CFTR, com resultados clínicos e laboratoriais promissores, no entanto limitados (com

curta duração de ação, fatores do hospedeiro e barreiras que limitam a sua atividade,

imunogenicidade, entre outros). Desta forma, o tratamento com estes vetores

necessita de outras investigações para o aperfeiçoamento destes aspetos (37).

Um recurso útil para ultrapassar as dificuldades encontradas com os vetores

virais consiste no uso de vetores não virais, como os lípidos catiónicos complexos

com ADN plasmídeo (59). Os estudos iniciais com transferência de ADN lipídeo-

mediados no epitélio nasal de doentes com FQ foram promissores, mas falharam em

demonstrar correção persistente das anormalidades na diferença de potencial nasal,

com menor eficiência em comparação com os vetores virais (59). Por outro lado, a

transferência de vetores lipídicos para as vias respiratórias inferiores desencadeou o

desenvolvimento de respostas inflamatórias inatas associadas à inalação destes

complexos (59).

Uma outra alternativa aos vetores virais consiste nos polímeros catiónicos.

Estas nanopartículas transferem material genético para células que não se encontram

em divisão, através da transmissão de ADN ao núcleo por uma via de poros no

invólucro nuclear. Um estudo duplamente cego demonstrou correção das

anormalidades do potencial nasal sem evidências de inflamação local ou sistémica

(59).

Até ao momento, o tratamento genético não é capaz de restaurar, de forma

completa e significativa a função pulmonar e, por isso, novos estudos são necessários

para o desenvolvimento de sistemas de vetores mais eficazes. Por outro lado, será

necessário o desenvolvimento de técnicas de transferência de genes que não atuem

unicamente a nível pulmonar, de forma a reparar todas as alterações multiorgânicas

destes doentes.

5.3.2. Farmacoterapia CFTR

Um tratamento alternativo consiste no uso de fármacos que afetam a função

intracelular, incluindo o transporte, processamento, expressão e funcionamento do

CFTR. Como as mutações genéticas do CFTR têm diversas consequências

22

funcionais, não se espera que estes tratamentos sejam eficazes em todos os

indivíduos, portanto, cada terapêutica será dirigida a uma classe de mutação

específica.

5.3.2.1. Aminoglicosídeos

Os primeiros componentes, que mostraram promover a leitura pela supressão

da capacidade normal dos ribossomas de revisão, foram os antibióticos

aminoglicosídeos. Os aminoglicosídeos, como a gentamicina, ao induzir a leitura de

codões STOP prematuros, resultam na formação de proteína CFTR com comprimento

completo e atividade normal (59, 73). Estes antibióticos ligam-se a um sítio específico

do ARN ribossómico, quebrando o reconhecimento codão-anticodão pela extremidade

aminoacil do ARN de transferência, provocando erros de leitura do código do ARN, o

que permite a inserção aleatória de aminoácidos alternativos no local do codão

mutado. Estas substituições não são completamente eficazes, levando apenas à

restauração de uma pequena fração de CFTR normal (73).

Estudos clínicos piloto, com recurso ao uso tópico de gentamicina no epitélio

nasal, demonstraram uma função normal do CFTR em doentes com FQ e mutações

classe I (73). Contudo, como a concentração necessária de gentamicina para alcançar

o efeito benéfico no transporte de cloro é muito elevada, não seria adequada para o

uso clínico (importante toxicidade renal e ótica). Surgiu, então, o interesse de

identificar outros fármacos que superassem estes efeitos negativos (37, 73).

Ataluren (PTC 124) (3-[5-(2-fluorofenil)-[1,2,4]oxadiazol-3-il]-ácido benzóico) é

um composto administrado por via oral, que não tem função antibiótica nem toxicidade

significativa e promove a leitura nos ribossomas de mARN que contêm um codão stop

prematuro (37). Esta substância apresenta atividade farmacodinâmica e perfil seguro,

funcionando uma como possível opção terapêutica para resolver a causa subjacente

de crianças com FQ e mutações classe I. Está em curso um ensaio clínico fase III com

esta substância (73).

As mutações classe I são responsáveis por apenas 5% de todos os alelos

CFTR mutados, por isso, apenas uma pequena parte dos doentes com FQ beneficiará,

potencialmente, do tratamento com fármacos semelhantes ao ataluren (59).

5.3.2.2. Potenciadores

Os potenciadores promovem a atividade do CFTR mutado no local apropriado

(62, 66, 74). Em geral, pensa-se que os potenciadores funcionam de forma a aumentar

23

o tempo em que o CFTR permanece aberto (causando uma mudança conformacional),

o que permite a passagem iónica pelo poro (59). Estes têm um importante papel nas

mutações de classe III (37).

IBMX

O primeiro potenciador conhecido foi o 3-isobutil-1-metilxantina (IBMX), um

inibidor da fosfodiesterase que potenciava a corrente de cloro estimulada por AMPc

num oócito de Xenopis injetado com CFTR com mutação ΔF508 ou G551D (59).

VX770/Ivacaftor

O VX770 (Ivacaftor - N-(2,4-di-tert-butil-5-hidroxifenil)-1,4-dihidro-4-

oxoquinolina-3-carboxamida) é um potenciador que aumenta o tempo de abertura do

canal CFTR, reduz a absorção de sódio e aumenta a secreção de cloro e água in vitro

nas células epiteliais heterozigóticas para a mutação ΔF508 e G551D e em 50% de

células homozigóticas do tipo selvagem (75, 59).

Um estudo, duplamente cego randomizado (fase III), concluiu que o ivacaftor

melhora os valores de função pulmonar, reduz o tempo de internamento, o número e

duração das exacerbações e o número de exacerbações pulmonares que requerem

antibioterapia endovenosa (75, 76). Neste mesmo estudo, Ramsey, et al (2011)

verificaram que o ivacaftor interfere, igualmente, com a função do CFTR no sistema

gastrointestinal, contribuindo para a melhoria da absorção de nutrientes. Também se

constatou que esta substância corrige a diferença de potencial nasal e a concentração

de cloro no teste do suor, tendo sido o primeiro agente a diminuir os valores destes

dois exames para valores abaixo do limiar de diagnóstico (75, 77).

Ivacaftor foi recentemente aprovado pela FDA como tratamento de modulação

do CFTR, demonstrando boa eficácia e perfil seguro (78, 79). Uma vez que este

fármaco não corrige o dobramento anormal das proteínas ou a transcrição, tal como

acontece na mutação mais comum da classe II (ΔF508), os estudos com ivacaftor

focaram-se, primariamente, nas mutações de classe III (G551D) (83).

O mecanismo de atuação do ivacaftor ainda não está totalmente

compreendido, em parte porque este composto aumenta não só a atividade dos canais

de tipo selvagem (cuja abertura é controlada principalmente pela ligação ao

ATP/hidrólise) mas também melhora a função do CFTR com mutação G551D

(mutação que suprime a capacidade de resposta da proteína ao ATP). Deste modo,

pensa-se que o ivacaftor reforça a atividade do canal independente do ATP, ligando-se

24

diretamente à forma fosforilada. Além disso, o ivacaftor aumenta o tempo de abertura

do canal, estabilizando-o num estado aberto pós-hidrolítico (talvez promovendo a

dissociação entre o ciclo de abertura e o ciclo de hidrólise) (80-82).

A aprovação do Ivacaftor assinalou um novo capítulo no tratamento do defeito

básico da FQ. (78).

Outros compostos potenciadores

Em estudos pré-clínicos, o Benzimidazolone (NS004) ativa CFTR com

mutação ΔF508 e mostrou ser capaz de ativar o CFTR de tipo selvagem e com

mutação G551D (83). O flavonoide genisteína tem sido amplamente utilizado em

protocolos experimentais para tratar doentes com mutações classe III e classe IV.

Atualmente acredita-se que a genisteína e o benzimidazole estimulem o CFTR por um

mecanismo comum, através da inibição da hidrólise de ATP no NBD-2 com

estabilização do canal em configuração aberta (84). Floxina B é um potente

modulador do CFTR, interagindo com NBDs e prolongando abertura do canal (85).

Está em curso o desenvolvimento de moléculas que atuem, simultaneamente,

como corretores e potenciadores (59) que proporcionarão tratamentos eficazes numa

grande percentagem de doentes com FQ (86).

5.3.2.2. Corretores

Os corretores são compostos, que promovem especificamente o

processamento do CFTR mutado para a membrana (facilitando o movimento de CFTR

para fora do retículo endoplasmático, impedindo a sua degradação) e têm como

objetivo aumentar a quantidade de CFTR na membrana celular (66, 87). Outra forma

de atuação destas substâncias consiste na estabilização do CFTR mutado na

superfície celular (adicionando a dobra correta à proteína) (59). Em muitos casos

continua incerta a forma como os corretores atuam.

Os corretores têm-se mostrado promissores na melhoria do processamento do

CFTR, principalmente em doentes com mutações de classe II em que CFTR anormal

mantém alguma (embora pouca) atividade do canal de cloro (59,37).

4-PBA

O primeiro fármaco identificado com estas propriedades foi o metil-4-

fenilbutirato de sódio - 4-PBA (efeito relativamente pequeno in vivo e in vitro) (59).

25

Estudos pré-clínicos com o 4-PBA, um inibidor da histona desacetilase,

conhecido como um ativador da transcrição de vários genes, demonstraram que o

fármaco, quando incubado a baixas temperaturas, é capaz de libertar a proteína com

mutação ΔF508 do retículo endoplasmático e transportá-la para a membrana celular,

restaurando a sua função (84). O efeito corretor do 4-PBA pode também resultar da

transcrição aumentada da proteína, resultando em mais CFTR mutado que escapa à

degradação, tornando-se, assim, disponível na membrana celular (88).

Substâncias, como o 4-PBA, que afetam a reciclagem proteica e a degradação

proteossómica podem constituir possíveis agentes terapêuticos. Pode ser necessária a

combinação de substâncias que interfiram com o transporte, atividade e degradação

da CFTR para produzir benefícios clínicos nestes doentes, com mutação classe II.

Lumacaftor e VX 661

O Lumacaftor (VX 809) atua de modo a promover a maturação e

processamento de CFTR mutado em células epiteliais brônquicas humanas. Num

estudo clínico, administração oral de VX-809 durante 4 semanas a doentes

homozigóticos para a mutação ΔF508 demonstrou ser bem tolerada (perfil seguro) e

apresentou um impacto positivo no teste do suor. De facto, o conteúdo de cloro no

suor diminuiu de forma modesta, dose-dependente e estatisticamente significativa,

com este tratamento (89). Contudo o tratamento com VX-809 não melhorou o

transporte de cloro no epitélio nasal, nem a função respiratória. Um estudo fase II está,

atualmente, em curso para avaliar a combinação do tratamento com VX-809 com um

potenciador – ivacaftor, em doentes com a mutação ΔF508

(http://clinicaltrials.gov/ct2/show/NCT01225211).

O VX 661, também envolvido num ensaio clínico (fase II), poderá funcionar

como corretor, isoladamente ou em associação com Ivacaftor, como alternativa ao VX

809 (86).

Outros

Outros corretores mostraram ser relativamente específicos para resgatar o

CFTR com mutação ΔF508 em experiências pré-clínicas, como por exemplo, corr-4a,

um composto bisaminometil-bitiazol; o derivado de tiazole, corr-2b e o derivado de

pirazol, VRT-532 que promovem a maturação do CFTR mutado. Um estudo

demonstrou que benzo(c)quinolizínio, MPB-07, aumenta a atividade da CFTR com

26

mutação ΔF508 na superfície celular. Por outro lado, a Curcumina tem sido proposta

como corretor do CFTR em ratos com mutação ΔF508 (84).

5.3.3. Inibição da absorção de sódio

Para além de atuar como canal de Cl-, o CFTR interage com outros canais

iónicos, sendo uma das suas principais funções inibir o canal epitelial de Na+ (ENaC).

Em doentes com FQ, o AMPc aumenta a atividade de absorção do ENaC por

aumentar a sua probabilidade de abertura. Quando o CFTR está ausente ou é

expresso em quantidade diminuída, a absorção de sódio através do ENaC é

aumentada, contribuindo, como visto anteriormente, para a depleção do líquido da

superfície aérea.

Uma alternativa à farmacoterapia do CFTR consiste na inibição da absorção de

ENaC (37). Este canal, localizado nas membranas apicais do nefrónio distal, no cólon

distal, no epitélio respiratório, ductos salivares e glândulas sudoríparas é sensível à

aldosterona (90).

Em estudos pré-clínicos, a amilorida (um bloqueador do ENaC, com tempo de

semi-vida curto), administrada por via inalatória, bloqueia a reabsorção de sódio,

aumentando a água no lúmen das vias respiratórias e reduzindo, desta forma, a

viscosidade mucosa. Este fármaco foi associado a uma redução no declínio na função

pulmonar e na diferença de potencial nasal (90).

O benzamil, derivado da amilorida, em ensaios clínicos recentes, mostrou-se

mais efetivo que esta, apresentando maior potência e taxa de absorção mais rápida. O

benzamil é útil no tratamento a longo prazo do defeito pulmonar dos doentes com FQ,

aumentando a clearance mucociliar (66).

Mais recentemente foram sintetizados fármacos mais potentes, como o

composto de chumbo 552-02, que é duas vezes mais efetivo que a amilorida e a sua

eliminação mais lenta (90).

No entanto são necessários mais estudos que comprovem os efeitos benéficos

destes inibidores do ENaC em doentes com FQ.

5.3.4. Estimulação da secreção de cloro

A secreção de cloro pelas células epiteliais respiratórias não está limitada ao

CFTR, mas ocorre também por canais de cloro alternativos. A estimulação destes

canais alternativos (diretamente ou através do recetor purinérgico P2Y2) poderá

27

compensar a ausência ou diminuição da atividade da CFTR nas vias respiratórias e

melhorar o estado global de saúde dos doentes com FQ (66).

Em 1991, foi descoberto que os nucleótidos trifosfato, como adenosina

trifosfato (ATP) e uridina trifosfato (UTP), estimulam a secreção de cloro em epitélios

respiratórios normais e com FQ, pois ligam-se a recetores purinérgicos nas células

epiteliais respiratórias, respondendo especificamente a nucleótidos de purina e

pirimidina, denominados recetores P2Y2. Isto conduz à libertação de cálcio intracelular

que, consequentemente, ativa os canais de cloro dependentes de cálcio (CaCC),

impulsionando, desta forma, o fluxo de Cl- para o lúmen (91).

Análogos de ATP ou UTP têm sido apontados como potenciais fármacos no

tratamento da FQ (84). Como o ATP é degradado em adenosina, um potente

broncoconstritor, nos doentes com asma é preferível a utilização do UTP (4).

Denufusol tetrassódico (INS37217), um agonista purinérgico, foi concebido

para corrigir defeitos do CFTR, após ligação ao recetor P2Y2 localizado nas

membranas apicais das células epiteliais. Estudos pré-clínicos demonstraram que o

denufosol aumenta a secreção de cloro pela ativação dos canais CaCC, inibe a

absorção de sódio através do ENaC, aumenta a secreção de mucina pelas células

caliciformes, estimula o batimento ciliar no epitélio respiratório e estimula a produção

de surfactante pelas células alveolares tipo II (84). Um ensaio clínico fase III,

recentemente concluído, demonstrou resultados promissores na melhoria da função

pulmonar em indivíduos com doença branda (funcionando como estratégia de

intervenção precoce) (92).

Um outro composto farmacológico que estimula a secreção de cloro

(independente do CFTR) é a Moli-1901 (duramicina, lancovutida) (59). Moli-1901 é

um péptido policíclico derivado do Streptomyces cinnamoneum, que interage com os

fosfolípidos das membranas celulares e organelos, estimulando a secreção iónica

através do aumento do cálcio intracelular (66). Um ensaio clínico de fase II

demonstrou, que a inalação repetida (durante 5 dias) desta substância, em

adolescentes e adultos com doença pulmonar leve, é segura e tem um efeito benéfico

na função pulmonar. (93, 94). Serão necessários mais estudos para demonstrar a

eficácia e segurança de regimes de tratamentos mais longos com Moli-1901 em

doentes com FQ.

Os canais de cloro tipo 2 (ClC2), um dos quatro tipos de canais de cloro

associados à membrana plasmática, estão largamente distribuídos no epitélio e podem

contribuir para a secreção de cloro. A lubiprostona, um fármaco laxante, ativa os

canais de cloro tipo 2 (ClC2) e constitui um potencial tratamento para a obstipação em

adultos com FQ. Por outro lado, estudos recentes demonstraram que o fármaco é

28

também eficaz nas células epiteliais respiratórias (84). O papel do ClC2 é um campo

aberto para pesquisas futuras.

INO-4995, um análogo sintético da molécula de sinalização intracelular D-mio-

inositol 3,4,5,6-tetracisfosfato, atua de forma a corrigir a secreção de fluidos, o

movimento de iões e os parâmetros eletrofisiológicos, em culturas com células

epiteliais de doentes com FQ (84, 95).

Serão, certamente, necessários mais estudos para confirmar a eficácia clínica

destes fármacos e a sua utilidade em indivíduos com doença pulmonar ligeira, com o

objetivo de comprovar uma hipótese de intervenção precoce na FQ.

5.3.5. Inibidor da Fosfodiesterase 5

Outra estratégia para melhorar a função do canal CFTR consiste na utilização

de inibidores de fosfodiesterase (PDEs), enzimas responsáveis pela inativação

intracelular de nucleótidos cíclicos. Esforços iniciais para maximizar o AMPc usando

inibidores de PDEs, baseados em xantinas, demonstraram melhorar a função do

CFTR com mutação ΔF508. No entanto, testes com estes inibidores em humanos não

obtiveram grande sucesso. Desta forma, tem sido dada mais atenção aos inibidores da

degradação da guanosina monofosfato cíclica (GMPc), que envolvem principalmente a

atividade de PDE5, enzima altamente específica para o GMPc.

Recentemente, estudos mostraram que a nebulização de qualquer inibidor de

PDE5 (sildenafil, vardenafil ou taladafil) em ratos com FQ (mutação F508) levou à

correção do transporte de cloro no epitélio nasal (84).

Como a inflamação pulmonar desempenha um papel importante na morbi-

mortalidade destes doentes, a identificação de uma estratégia terapêutica que

combina a capacidade de corrigir o defeito básico no transporte de iões e reduzir a

resposta inflamatória desregulada é bastante interessante e promissora. Foi, então,

demonstrado que o sedilnafil reduz a infiltração neutrofílica pulmonar em murinos

com FQ infetados por P. aeruginosa (96).

Um estudo recente evidenciou o facto de o sildenafil recuperar o defeito do

CFTR, atuando como um potenciador e corretor nas mutações ΔF508, por dois

mecanismos, um deles dependente de GMPc (potenciador) e outro independente

(corretor) (97, 98). A partir destes dados, concluiu-se que o desenvolvimento de

inibidores de PDE-5 têm importância terapêutica para o tratamento de FQ, podendo

eventualmente proporcionar a cura da doença, pela reparação das alterações

moleculares subjacentes.

29

Foi recentemente identificado um análogo estrutural do sildenafil, o KM11060,

mais potente e igualmente eficaz. Esta substância aumenta os níveis de GMPc e,

consequentemente, estimula a atividade da proteína quinase que causa fosforilação

do CFTR (mutação ΔF508), reduzindo a retenção e degradação deste. As descobertas

apontam o KM11060 como um composto promissor no tratamento da FQ com

mutações ΔF508 (99).

30

6. Conclusão

A fibrose quística é uma doença hereditária, monogénica e autossómica

recessiva, causada por uma mutação num gene do cromossoma 7, que codifica a

proteína CFTR - cystic fibrosis transmembrane conductance regulator, responsável

pelo transporte iónico no epitélio de vários tecidos.

Trata-se de uma doença multissistémica, atingindo, na sua forma de

apresentação típica, os pulmões, pâncreas, glândulas sudoríparas e sistema

reprodutor. Os indivíduos afetados podem também apresentar sintomas de

atingimento gastrointestinal, incluindo intestino, fígado, vesiculas biliares e atingimento

das glândulas salivares.

São muitas as mutações identificadas, responsáveis pela FQ, sendo possível

encontrar uma variabilidade enorme no espectro clínico dos doentes afetados, desde

alterações ligeiras a nível das vias respiratórias superiores, cujo diagnóstico pode ser

ocasional, àqueles com infeções respiratórias graves e recorrentes em estado de

subnutrição e com limitação grave da qualidade de vida e sobrevida.

Devido à sua complexidade, esta patologia mantém-se atualmente em

investigação, essencialmente no que diz respeito à sua fisiopatologia e tratamento.

As terapêuticas usadas no tratamento da FQ baseiam-se, essencialmente, na

correção das consequências da disfunção do CFTR a nível pulmonar com recurso a

antibióticos, broncodilatadores, mucolíticos e terapia osmótica, bem como manutenção

do bom estado nutricional e tratamento de outras possíveis complicações que possam

advir da alteração do CFTR.

Atualmente, observa-se uma deslocação do paradigma das terapias

sintomáticas convencionais para terapias que abordam diretamente a raiz da doença –

defeitos funcionais do CFTR.

O aumento do conhecimento acerca da alteração genética responsável pela

doença resultou no desenvolvimento de estratégias de tratamento dessas alterações.

Nos dias de hoje, decorrem diversos estudos baseados em terapias inovadoras, como

o tratamento genético e a farmacoterapia da CFTR, sendo que alguns dos novos

fármacos desenvolvidos estão em fase de experimentação, tendo outros sido já

aceites (como o ivacaftor, um potenciador do CFTR).

Essas novas terapias poderão proporcionar aos doentes com FQ uma melhoria

significativa na sua qualidade e esperança média de vida.

Com os constantes avanços nesta área, espera-se que no futuro, a fibrose

quística possa ser uma doença curável ou, pelo menos, com um prognóstico mais

favorável.

31

Agradecimentos

À Doutora Susana Pinto, pela generosidade em aceitar a orientação científica

desta dissertação, pela enorme disponibilidade, pela confiança, pelos ensinamentos e

pela valiosa revisão crítica.

À Doutora Telma Barbosa pela importante revisão crítica.

À minha família, em especial aos meus Pais e Irmão, e ao Jorge pelo apoio

incondicional, pelo encorajamento e incentivo demonstrados.

32

Referências Bibliográficas

1. KEREM B, ROMMENS J, BUCHANAN J, MARKIEWICZ D, COX T, CHAKPAVARTI A, et al.

Identification of the cystic fibrosis gene - genetic analysis. Science.

1989;245(4922):1073-80.

2. SUN X, SUI H, et al. Disease Phenotype of a Ferret CFTR-Knockout Model of

Cystic Fibrosis. 2012;120(9):3149-60.

3. DAVIS PB. Cystic Fibrosis Since 1938. 2005;173.

4. COLLINS F. Cystic fibrosis - molecular biology and therapeutic implications.

Science. 1992;256(5058):774-9.

5. ROMMENS J, IANNUZZI M, KEREM B, DRUMM M, MELMER G, DEAN M, et al.

Identification of cystic fibrosis gene - chromosome walking and jumping. Science.

1989;245(4922):1059-65.

6. RIORDAN J, ROMMENS J, KEREM B, ALON N, ROZMAHEL R, GRZELCZAK Z, et al.

Identification of the cystic fibrosis gene - cloning and characterization of

complementary-DNA. Science. 1989;245(4922):1066-72.

7. NTIMBANE T, KRISHNAMOORTH P, HUOT C, LEGAULT L, JACOB S, BRUNET S, et al.

Oxidative stress and cystic fibrosis-related diabetes: A pilot study in children. Journal of

Cystic Fibrosis. 2008;7(5):373-84.

8. STUTTS M, CHINET T, MASON S, FULLTON J, CLARKE L, BOUCHER R. Regulation of

Cl- channels in normal and cystic fibrosis airway epithelial cells by extracellular ATP.

Proceedings of the National Academy of Sciences of the United States of America.

1992;89(5):1621-5.

9. CHANG X, HOU Y, JENSEN T, RIORDAN J. Mapping of cystic fibrosis

transmembrane conductance regulator membrane topology by glycosilation site

insertion. Journal of Biological Chemistry. 1994;269(28):18572-5.

10. SCANLIN T, GLICK M. Glycosylation and the cystic fibrosis transmembrane

conductance regulator. Respiratory Research. 2001;2(5):276-9.

11. SEIBERT F, LOO T, CLARKE D, RIORDAN J. Cystic fibrosis: Channel, catalytic, and

folding properties of the CFTR protein. Journal of Bioenergetics and Biomembranes.

1997;29(5):429-42.

12. CHAPPE V, HINKSON D, HOWELL L, EVAGELIDIS A, LIAO J, CHANG X, et al.

Stimulatory and inhibitory protein kinase C consensus sequences regulate the cystic

fibrosis transmembrane conductance regulator. Proceedings of the National Academy

of Sciences of the United States of America. 2004;101(1):390-5.

33

13. MCINTOSH I, CUTTING GR. Cystic Fibrosis Transmembrane Conductance

Regulator and the Etiology and Pathogenesis of Cystic Fibrosis. The FASEB Journal.

1992;6:2775- 82.

14. LI C, RAMJEESINGH M, WANG W, GARAMI E, HEWRYK M, LEE D, et al. ATPase

activity of the cystic fibrosis transmembrane conductance regulator. Journal of

Biological Chemistry. 1996;271(45):28463-8.

15. GUGGINO W, BANKS-SCHLEGEL S. Macromolecular interactions and ion transport

in cystic fibrosis. American Journal of Respiratory and Critical Care Medicine.

2004;170(7):815-20.

16. VANKEERBERGHEN A, CUPPENS H, CASSIMAN JJ. The cystic fibrosis

transmembrane conductance regulator: an intriguing protein with pleiotropic functions.

Journal of Cystic Fibrosis; 2002. p. 13-29.

17. SCHWIBERT EM, BENOS D, EGAN ME, J SM, B GW. CFTR Is a Conductance

Regulator as well as a Chloride Channel Physiological Reviews; 1999. p. S145 - S63.

18. KOGAN I, RAMJEESINGH M, LI C, KIDD JF, WANG Y, LESLIE EM, et al. CFTR directly

mediates nucleotide-regulated glutathione flux. The EMBO Journal2003. p. 1981-9.

19. ROWE S, MILLER S, SORSCHER E. Mechanisms of disease: Cystic fibrosis. New

England Journal of Medicine. 2005;352(19):1992-2001.

20. CFGA C. Cystic Fibrosis Mutation Database: http://www.genet.sickkids.on.ca/cftr;

[cited 2012 12/12].

21. ZIELENSKI J. Genotype and phenotype in cystic fibrosis. Respiration.

2000;67(2):117-33.

22. REIS FJ, DAMACENO N. Fibrose Cística. Jornal de Pediatria; 1998. p. 76- 93.

23. ESTIVILL X, BANCELLS C, RAMOS C. Geographic Distribution and Regional Origin

of 272 Cystic Fibrosis Mutations in European Populations. In: Consortium BCMA,

editor.: Human Mutation; 1997. p. 135-54.

24. WILSCHANSKI M, DUPUIS A, ELLIS L, JARVI K, ZIELENSKI J, TULLIS E, et al.

Mutations in the cystic fibrosis transmembrane regulator gene and in vivo

transepithelial potentials. American Journal of Respiratory and Critical Care Medicine.

2006;174(7):787-94.

25. ROSENSTEIN B, CUTTING G, PANEL CFFC, Panel CFFC. The diagnosis of cystic

fibrosis: A consensus statement. Journal of Pediatrics. 1998;132(4):589-95.

26. LUKACS G, DURIE P. Pharmacologic approaches to correcting the basic defect in

cystic fibrosis. New England Journal of Medicine. 2003;349(15):1401-4.

27. FULMER S, SCHWIEBERT E, MORALES M, GUGGINO W, CUTTING G. 2 Cystic fibrosis

transmembrane conductance regulator mutations have different effects on both

pulmonary phenotype and regulation of outwardly rectified chloride currents.

34

Proceedings of the National Academy of Sciences of the United States of America.

1995;92(15):6832-6.

28. MCNICHOLAS C, GUGGINO W, SCHWIEBERT E, HEBERT S, GIEBISCH G, EGAN M.

Sensitivity of a renal K+ channel (ROMK2) to the inhibitory sulfonylurea compound

glibenclamide is enhanced by coexpression with the ATP-binding cassette transporter

cystic fibrosis transmembrane regulator. Proceedings of the National Academy of

Sciences of the United States of America. 1996;93(15):8083-8.

29. KOCH C, CUPPENS H, RAINISIO M, MADESSANI U, HARMS H, HODSON M, et al.

European Epidemiologic Registry of Cystic Fibrosis (ERCF): Comparison of major

disease manifestations between patients with different classes of mutations. Pediatric

Pulmonology. 2001;31(1):1-12.

30. HIGHSMITH W, BURCH L, ZHOU Z, OLSEN J, BOAT T, SPOCK A, et al. A novel

mutation in the cystic fibrosis gene in patients with pulmonary disease but normal

sweat chloride concentrations. New England Journal of Medicine. 1994;331(15):974-

80.

31. HAARDT M, BENHAROUGA M, LECHARDEUR D, KARTNER N, LUKACS G. C-terminal

truncations destabilize the cystic fibrosis transmembrane conductance regulator

without impairing its biogenesis - A novel class of mutation. Journal of Biological

Chemistry. 1999;274(31):21873-7.

32. DORFMAN R, SANDFORD A, TAYLOR C, HUANG B, FRANGOLIAS D, WANG Y, et al.

Complex two-gene modulation of lung disease severity in children with cystic fibrosis.

Journal of Clinical Investigation. 2008;118(3):1040-9.

33. ENGELHARDT J, ZEPEDA M, COHN J, YANKASKAS J, WILSON J. Expression of the

cystic fibrosis gene in adult human lung. Journal of Clinical Investigation.

1994;93(2):737-49.

34. ZHANG Y, DORANZ B, YANKASKAS J, ENGELHARDT J. Genotypic analysis of

respiratory mucous sulfation defects in cystic fibrosis. Journal of Clinical Investigation.

1995;96(6):2997-3004.

35. BOUCHER RC. New concepts of the pathogenesis of cystic fibrosis lung disease.

Eur Respir J. 2004;23(1):146-58.

36. TIDDENS HA, DONALDSON SH, ROSENFELD M, PARE PD. Cystic fibrosis lung

disease starts in the small airways: can we treat it more effectively? Pediatr Pulmonol.

2010;45(2):107-17.

37. RATJEN F. Cystic Fibrosis: Pathogenesis and Future Treatment Strategies.

Respiratory Care. 2009;54(5):595-602.

35

38. DRUMM M, KONSTAN M, SCHLUCHTER M, HANDLER A, PACE R, ZOU F, et al.

Genetic modifiers of lung disease in cystic fibrosis. New England Journal of Medicine.

2005;353(14):1443-53.

39. MATSUI H, GRUBB BR, TARRAN R, RANDELL SH, GATZY JT, DAVIS CW, et al.

Evidence for periciliary liquid layer depletion, not abnormal ion composition, in the

pathogenesis of cystic fibrosis airways disease. Cell. 1998;95(7):1005-15.

40. HARTL D, GAGGAR A, BRUSCIA E, HECTOR A, MARCOS V, JUNG A, et al. Innate

immunity in cystic fibrosis lung disease. J Cyst Fibros. 2012;11(5):363-82.

41. KONSTAN M, BERGER M. Current understanding of the inflammatory process in

cystic fibrosis: Onset and etiology. Pediatric Pulmonology. 1997;24(2):137-42.

42. TARRAN R, BUTTON B, PICHER M, PARADISO AM, RIBEIRO CM, LAZAROWSKI ER, et

al. Normal and cystic fibrosis airway surface liquid homeostasis. The effects of phasic

shear stress and viral infections. J Biol Chem. 2005;280(42):35751-9.

43. WORLITZSCH D, TARRAN R, ULRICH M, SCHWAB U, CEKICI A, MEYER K, et al.

Effects of reduced mucus oxygen concentration in airway Pseudomonas infections of

cystic fibrosis patients. Journal of Clinical Investigation. 2002;109(3):317-25.

44. DINWIDDIE R. Pathogenesis of lung disease in cystic fibrosis. Respiration.

2000;67(1):3-8.

45. GUSTAFSSON J, ERMUND A, AMBORT D, JOHANSSON M, NILSSON H, THORELL K, et

al. Bicarbonate and functional CFTR channel are required for proper mucin secretion

and link cystic fibrosis with its mucus phenotype. Journal of Experimental Medicine.

2012;209(7):1263-72.

46. WILSCHANSKI M, ZIELENSKI J, MARKIEWICZ D, TSUI L, COREY M, LEVISON H, et al.

Correlation of sweat chloride concentration with classes of the cystic fibrosis

transmembrane conductance regulator gene - mutations. Journal of Pediatrics.

1995;127(5):705-10.

47. MARSHALL B, BUTLER S, STODDARD M, MORAN A, LIOU T, MORGAN W, et al.

Epidemiology of cystic fibrosis-related diabetes. Journal of Pediatrics. 2005;146(5):681-

7.

48. DAMAS C, AMORIM A, GOMES I. Cystic fibrosis: review. Rev Port Pneumol.

2008;14(1):89-112.

49. VAN DER DOEF HPJ, KOKKE FTM, VAN DER ENT CK, HOUWEN RHJ. Intestinal

Obstruction Syndromes in Cystic Fibrosis:Meconium Ileus, Distal Intestinal Obstruction

Syndrome,and Constipation. Cur Gastroenterol Resp; 2011. p. 265-70.

50. MALL M, KREDA S, MENGOS A, JENSEN T, HIRTZ S, SEYDEWITZ H, et al. The Delta

F508 mutation results in loss of CFTR function and mature protein in native human

colon. Gastroenterology. 2004;126(1):32-41.

36

51. STRONG TV, BOEHM K, COLLINS FS. Localization of Cystic Fibrosis

Transmembrane Conductance Regulator mRNA in the Human Gastrointestinal Tract

by in Situ Hybridization. The Journal of Clinical Investigation; 1994. p. 347-54.

52. VAN DER VEN K, MESSER L, VAN DER VEN H, JEYENDRAN RS, OBER C. Cystic

fibrosis mutation screening in healthy men with reduced sperm quality. Hum Reprod.

1996;11(3):513-7.

53. TIZZANO EF, SILVER MM, CHITAYAT D, BENICHOU JC, BUCHWALD M. Differential

cellular expression of cystic fibrosis transmembrane regulator in human reproductive

tissues. Clues for the infertility in patients with cystic fibrosis. Am J Pathol.

1994;144(5):906-14.

54. STERN RC. The Diagnosis of Cystic Fibrosis. Massachusetts: The New England

Journal of Medicine; 1997. p. 487-91.

55. DAVIDSON AGF. Immunoreactive Trypsin in Cystic Fibrosis. Journal of Pediatric

Gastroenterology and Nutrition. 1984;3:S79-S88.

56. SCOTET V. Immunoreactive Trypsin/DNA Newborn Screening for Cystic Fibrosis:

Should the R117H Variant Be Included in CFTR Mutation Panels? In: Audrézet M-P,

editor.: Pediatrics - Official Journal of the American Academy of Pediatrics; 2006. p.

e1523-e8.

57. DANDONA P, HODSON M, BELL J, RAMDIAL L, BELDON I, BATTEN J. Serum

Immunoreactive trypsin in cystic fibrosis. Thorax. 1981;36(1):60-2.

58. SCHONI MH, CASAULTA-AEBISCHER C. Nutrition and lung function in cystic fibrosis

patients: review. Clin Nutr. 2000;19(2):79-85.

59. KREINDLER JL. Cystic fibrosis: exploiting its genetic basis in the hunt for new

therapies. Pharmacol Ther. 2010;125(2):219-29.

60. KOCH C, HOIBY N. Diagnosis and treatment of cystic fibrosis. Respiration.

2000;67(3):239-47.

61. GIBSON RL, BURNS JL, RAMSEY BW. Pathophysiology and management of

pulmonary infections in cystic fibrosis. Am J Respir Crit Care Med. 2003;168(8):918-51.

62. ZEMANICK ET, HARRIS JK, CONWAY S, KONSTAN MW, MARSHALL B, QUITTNER AL,

et al. Measuring and improving respiratory outcomes in cystic fibrosis lung disease:

opportunities and challenges to therapy. J Cyst Fibros. 2010;9(1):1-16.

63. FLUME PA, O'SULLIVAN BP, ROBINSON KA, GOSS CH, MOGAYZEL PJ, JR., Willey-

Courand DB, et al. Cystic fibrosis pulmonary guidelines: chronic medications for

maintenance of lung health. Am J Respir Crit Care Med. 2007;176(10):957-69.

64. RAMSEY BW. Management of pulmonary disease in patients with cystic fibrosis. N

Engl J Med. 1996;335(3):179-88.

37

65. DE BOECK K, VERMEULEN F, WANYAMA S, THOMAS M, members of the Belgian

CFR. Inhaled corticosteroids and lower lung function decline in young children with

cystic fibrosis. Eur Respir J. 2011;37(5):1091-5.

66. CUTHBERT AW. New horizons in the treatment of cystic fibrosis. Br J Pharmacol.

2011;163(1):173-83.

67. GONDOR M, NIXON PA, MUTICH R, REBOVICH P, ORENSTEIN DM. Comparison of

Flutter device and chest physical therapy in the treatment of cystic fibrosis pulmonary

exacerbation. Pediatr Pulmonol. 1999;28(4):255-60.

68. DINWIDDIE R, MADGE S, PRASAD SA, BALFOUR-LYNN IM. Oxygen therapy for cystic

fibrosis. J R Soc Med. 1999;92 Suppl 37:19-22.

69. MALFROOT A, ADAM G, CIOFU O, DORING G, KNOOP C, LANG AB, et al.

Immunisation in the current management of cystic fibrosis patients. J Cyst Fibros.

2005;4(2):77-87.

70. LIOU TG, ADLER FR, CAHILL BC, FITZSIMMONS SC, HUANG D, HIBBS JR, et al.

Survival effect of lung transplantation among patients with cystic fibrosis. JAMA.

2001;286(21):2683-9.

71. YANKASKAS JR, MALLORY GB, JR. Lung transplantation in cystic fibrosis:

consensus conference statement. Chest. 1998;113(1):217-26.

72. SPAHR JE, LOVE RB, FRANCOIS M, RADFORD K, MEYER KC. Lung transplantation

for cystic fibrosis: current concepts and one center's experience. J Cyst Fibros.

2007;6(5):334-50.

73. SERMET-GAUDELUS I, BOECK KD, CASIMIR GJ, VERMEULEN F, LEAL T, MOGENET A,

et al. Ataluren (PTC124) induces cystic fibrosis transmembrane conductance regulator

protein expression and activity in children with nonsense mutation cystic fibrosis. Am J

Respir Crit Care Med. 2010;182(10):1262-72.

74. HWANG TC, SHEPPARD DN. Molecular pharmacology of the CFTR Cl- channel.

Trends Pharmacol Sci. 1999;20(11):448-53.

75. RAMSEY BW, DAVIES J, MCELVANEY NG, TULLIS E, BELL SC, DREVINEK P, et al. A

CFTR potentiator in patients with cystic fibrosis and the G551D mutation. N Engl J

Med. 2011;365(18):1663-72.

76. ACCURSO FJ, ROWE SM, CLANCY JP, BOYLE MP, DUNITZ JM, DURIE PR, et al.

Effect of VX-770 in persons with cystic fibrosis and the G551D-CFTR mutation. N Engl

J Med. 2010;363(21):1991-2003.

77. KEREM E, HIRAWAT S, ARMONI S, YAAKOV Y, SHOSEYOV D, COHEN M, et al.

Effectiveness of PTC124 treatment of cystic fibrosis caused by nonsense mutations: a

prospective phase II trial. Lancet. 2008;372(9640):719-27.

38

78. BARRETT PM, ALAGELY A, TOPOL EJ. Cystic fibrosis in an era of genomically

guided therapy. Hum Mol Genet. 2012;21(R1):R66-71.

79. CONDREN ME, BRADSHAW MD. Ivacaftor: a novel gene-based therapeutic

approach for cystic fibrosis. J Pediatr Pharmacol Ther. 2013;18(1):8-13.

80. POLENAKOVIK HM, SANVILLE B. The use of ivacaftor in an adult with severe lung

disease due to cystic fibrosis (DeltaF508/G551D). J Cyst Fibros. 2013.

81. ECKFORD PD, LI C, RAMJEESINGH M, BEAR CE. Cystic fibrosis transmembrane

conductance regulator (CFTR) potentiator VX-770 (ivacaftor) opens the defective

channel gate of mutant CFTR in a phosphorylation-dependent but ATP-independent

manner. J Biol Chem. 2012;287(44):36639-49.

82. PYLE LC, EHRHARDT A, MITCHELL LH, FAN L, REN A, NAREN AP, et al. Regulatory

domain phosphorylation to distinguish the mechanistic basis underlying acute CFTR

modulators. Am J Physiol Lung Cell Mol Physiol. 2011;301(4):L587-97.

83. DERAND R, BULTEAU-PIGNOUX L, BECQ F. Comparative pharmacology of the

activity of wild-type and G551D mutated CFTR chloride channel: effect of the

benzimidazolone derivative NS004. J Membr Biol. 2003;194(2):109-17.

84. LUBAMBA B, DHOOGHE B, NOEL S, LEAL T. Cystic fibrosis: insight into CFTR

pathophysiology and pharmacotherapy. Clin Biochem. 2012;45(15):1132-44.

85. CAI Z, TADDEI A, SHEPPARD DN. Differential sensitivity of the cystic fibrosis (CF)-

associated mutants G551D and G1349D to potentiators of the cystic fibrosis

transmembrane conductance regulator (CFTR) Cl- channel. J Biol Chem.

2006;281(4):1970-7.

86. ROWE SM, BOROWITZ DS, BURNS JL, CLANCY JP, DONALDSON SH, RETSCH-

BOGART G, et al. Progress in cystic fibrosis and the CF Therapeutics Development

Network. Thorax. 2012;67(10):882-90.

87. ASHLOCK MA, OLSON ER. Therapeutics development for cystic fibrosis: a

successful model for a multisystem genetic disease. Annu Rev Med. 2011;62:107-25.

88. ROQUE T, BONCOEUR E, SAINT-CRIQ V, BONVIN E, CLEMENT A, TABARY O, et al.

Proinflammatory effect of sodium 4-phenylbutyrate in deltaF508-cystic fibrosis

transmembrane conductance regulator lung epithelial cells: involvement of extracellular

signal-regulated protein kinase 1/2 and c-Jun-NH2-terminal kinase signaling. J

Pharmacol Exp Ther. 2008;326(3):949-56.

89. CLANCY JP, ROWE SM, ACCURSO FJ, AITKEN ML, AMIN RS, ASHLOCK MA, et al.

Results of a phase IIa study of VX-809, an investigational CFTR corrector compound,

in subjects with cystic fibrosis homozygous for the F508del-CFTR mutation. Thorax.

2012;67(1):12-8.

39

90. HAERTEIS S, KRAPPITZ M, BERTOG M, KRAPPITZ A, BARAZNENOK V, HENDERSON I,

et al. Proteolytic activation of the epithelial sodium channel (ENaC) by the cysteine

protease cathepsin-S. Pflugers Arch. 2012;464(4):353-65.

91. WEI L, VANKEERBERGHEN A, CUPPENS H, EGGERMONT J, CASSIMAN JJ,

DROOGMANS G, et al. Interaction between calcium-activated chloride channels and the

cystic fibrosis transmembrane conductance regulator. Pflugers Arch. 1999;438(5):635-

41.

92. KELLERMAN D, ROSSI MOSPAN A, ENGELS J, SCHABERG A, GORDEN J, SMILEY L.

Denufosol: a review of studies with inhaled P2Y(2) agonists that led to Phase 3. Pulm

Pharmacol Ther. 2008;21(4):600-7.

93. STEINER I, ERRHALT P, KUBESCH K, HUBNER M, HOLY M, BAUER M, et al.

Pulmonary pharmacokinetics and safety of nebulized duramycin in healthy male

volunteers. Naunyn Schmiedebergs Arch Pharmacol. 2008;378(3):323-33.

94. GRASEMANN H, STEHLING F, BRUNAR H, WIDMANN R, LALIBERTE TW, MOLINA L, et

al. Inhalation of Moli1901 in patients with cystic fibrosis. Chest. 2007;131(5):1461-6.

95. TRAYNOR-KAPLAN AE, MOODY M, NUR M, GABRIEL S, MAJERUS PW, DRUMM ML, et

al. INO-4995 therapeutic efficacy is enhanced with repeat dosing in cystic fibrosis

knockout mice and human epithelia. Am J Respir Cell Mol Biol. 2010;42(1):105-12.

96. POSCHET JF, TIMMINS GS, TAYLOR-COUSAR JL, ORNATOWSKI W, FAZIO J, PERKETT

E, et al. Pharmacological modulation of cGMP levels by phosphodiesterase 5 inhibitors

as a therapeutic strategy for treatment of respiratory pathology in cystic fibrosis. Am J

Physiol Lung Cell Mol Physiol. 2007;293(3):L712-9.

97. LEIER G, BANGEL-RULAND N, SOBCZAK K, KNIEPER Y, WEBER WM. Sildenafil acts

as potentiator and corrector of CFTR but might be not suitable for the treatment of CF

lung disease. Cell Physiol Biochem. 2012;29(5-6):775-90.

98. DORMER RL, HARRIS CM, CLARK Z, PEREIRA MM, DOULL IJ, NOREZ C, et al.

Sildenafil (Viagra) corrects DeltaF508-CFTR location in nasal epithelial cells from

patients with cystic fibrosis. Thorax. 2005;60(1):55-9.

99. ROBERT R, CARLILE GW, PAVEL C, LIU N, ANJOS SM, LIAO J, et al. Structural

analog of sildenafil identified as a novel corrector of the F508del-CFTR trafficking

defect. Mol Pharmacol. 2008;73(2):478-89.

40

Anexos

Figura 1 – Incidência e risco de portador para FQ, baseado na raça

Raça Incidência Risco de Portador

Caucasiano 1/3300 1/29

Hispânico 1/8000-9000 1/49

Africano 1/15300 1/62

Asiático 1/32100 1/90

(Adaptado de MONAGHAN KG, BLUHM D, PHILLIPS M, FELDMAN GL. Preconception and

prenatal cystic fibrosis carrier screening of African Americans reveals unanticipated

frequencies for specific mutations. Genet Med. 2004;6(3):141-4)

41

Figura 2 – Resumo de algumas características clínicas compatíveis com o

diagnóstico de FQ

Órgão Patogénese Manifestação clínica

Pulmão Inflamação/infeção/obstrução Bronquiectasias Bronquite Pneumonia Pneumotórax Hemoptises

Vias respiratórias superiores

Inflamação/infeção/obstrução Sinusite Pólipos Nasais

Intestino Obstrução/fibrose Íleo meconial Invaginação Edema hipoalbuminemia Prolapso rectal

Pâncreas Obstrução/fibrose Malabsorção Diabetes

Fígado Obstrução/fibrose Icterícia neonatal “Cirrose subclínica”

Vesícula e vias biliares Obstrução Microvesícula Biliar Obstrução do ducto Cístico Colestase extrahepática

Órgãos reprodutivos Obliteração do canal deferente Secreções vaginais espessas Hidrocelo/Hérnia

Esterilidade/azoospermia Diminuição da fertilidade

Glândulas sudoríparas Alterações dos eletrólitos Perda de sal Prostração pelo calor

Glândulas salivares Alterações dos eletrólitos

Retina Hipoxia/Retinopatia exsudativa

Distúrbios visuais

Ouvidos Obstrução do ouvido médio – faringite

Perda auditiva condutiva

Coração Cor pulmonale

Fibrose Hipoxia Anastomose broncopulmonar

Ossos e extremidades Osteartropatia hipertrófica Hipocratismo digital

(Adaptado de GIBSON RL, BURNS JL, RAMSEY BW. Pathophysiology and management

of pulmonary infections in cystic fibrosis. Am J Respir Crit Care Med. 2003;168(8):918-

51)

42

Figura 3 – Critérios de diagnóstico de FQ *

A. B. Características Fenotípicas (uma ou mais)

- Doença sinopulmonar crónica - Anomalias gastrointestinais ou nutricionais - Síndrome de perda salina -Anomalias urogenitais masculinas (ABCVD) Ou

Cloro no suor > 60mEq/L Ou

História de irmão com FQ Ou

Identificação de duas mutações para FQ Ou

Rastreio neonatal positive Demonstração in vivo de alteração do

transporte iónico através do epitélio nasal

(Adaptado de ROSENSTEIN B, CUTTING G, PANEL CFFC, Panel CFFC. The diagnosis of

cystic fibrosis: A consensus statement. Journal of Pediatrics. 1998;132(4):589-95)

* Para um diagnóstico positivo, é necessário um dos itens da coluna A e um da coluna B

43