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1 Seminário Internacional Fazendo Gênero 11 & 13 th Women’s Worlds Congress (Anais Eletrônicos), Florianópolis, 2017, ISSN 2179-510X FICÇÃO CIENTÍFICA CONTEMPORÂNEA ESCRITA POR MULHERES: MARGARET ATWOOD, OCTAVIA BUTLER, MARGE PIERCY, CONNIE WILLIS Amanda Pavani. 1 Resumo: O gênero literário da ficção científica foi, ao longo dos primeiros 70 anos do século XXI, primordialmente masculino. Apesar da obra considerada pioneira do gênero ser Frankenstein, de Mary Shelley, os nomes mais associados a obras de qualidade incluem quase exclusivamente homens como Asimov, Philip K. Dick, Orwell, dentre outros. Contudo, desde os anos 1970, a ficção científica escrita por mulheres tem se proliferado, deslocado o narrador clássico de ficção científica e trazido uma variedade de temas e perspectivas para essa literatura. Esta apresentação pretende analisar essas diferentes vozes narrativas trazidas por quatro escritoras de ficção científica ativas nos últimos 30 anos: Margaret Atwood, autora da série MaddAddam, Octavia Butler, autora de Parable of the Sower e Parable of the Talents, Marge Piercy, autora de He, She, It, e Connie Willis, autora, dentre vários, de The Passage e To Say Nothing of the Dog. Pretende-se enfatizar a relevância dessas obras no âmbito dos estudos e da história da ficção científica, em particular com a exposição da questão do gênero em suas extrapolações literárias, seja em suas construções de mundo, em suas protagonistas que desafiam estereótipos de gênero e em sua visão sobre o papel da ciência na sociedade. Palavras-chaves: ficção científica, literatura feminista; distopia; literatura especulativa. Introdução A ficção científica, entre os gêneros literários mais conhecidos, passou a ser estudada na academia tem pouco tempo. Com uma origem fundada na troca de histórias por fãs, a ideia do que é ficção científica mudou diversas vezes ao longo do século passado. Uma coisa resistiu às mudanças com certo afinco: as mulheres, tanto como autoras quanto como personagens, apenas começaram a ser valorizadas muito recentemente. Quando digo muito recentemente, falo de um gênero que começou no século XIX, mas que só teve uma onda de obras feministas a partir dos anos 1970. A título de história dessa literatura específica, uma das grandes ironias é que muitos críticos consideram a obra fundadora como Frankenstein, escrito por Mary Shelley. É claro que devemos lembrar que Frankenstein, publicado em 1818, também é fortemente associado ao gótico e à literatura de horror; além disso, o viés científico por trás da criação do monstro de Viktor Frankenstein foi um pensamento posterior à publicação original. George Slusser, em seu capítulo sobre as origens da ficção científica para a obra A Companion to Science Fiction (2005), indica: “O estigma da alquimia ainda minimiza a ciência em Frankenstein. O galvanismo e a eletricidade da Introdução de 1831 foram pensamentos posteriores, já que há pouca ou nenhuma referência a 1 Mestre e doutoranda em Estudos Literários, área de concentração Literaturas em Inglês, da Faculdade de Letras da UFMG, em Belo Horizonte. Bolsista CNPq.

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Seminário Internacional Fazendo Gênero 11 & 13th Women’s Worlds Congress (Anais Eletrônicos),

Florianópolis, 2017, ISSN 2179-510X

FICÇÃO CIENTÍFICA CONTEMPORÂNEA ESCRITA POR MULHERES: MARGARET

ATWOOD, OCTAVIA BUTLER, MARGE PIERCY, CONNIE WILLIS

Amanda Pavani.1

Resumo: O gênero literário da ficção científica foi, ao longo dos primeiros 70 anos do século XXI,

primordialmente masculino. Apesar da obra considerada pioneira do gênero ser Frankenstein, de

Mary Shelley, os nomes mais associados a obras de qualidade incluem quase exclusivamente

homens como Asimov, Philip K. Dick, Orwell, dentre outros. Contudo, desde os anos 1970, a

ficção científica escrita por mulheres tem se proliferado, deslocado o narrador clássico de ficção

científica e trazido uma variedade de temas e perspectivas para essa literatura. Esta apresentação

pretende analisar essas diferentes vozes narrativas trazidas por quatro escritoras de ficção científica

ativas nos últimos 30 anos: Margaret Atwood, autora da série MaddAddam, Octavia Butler, autora

de Parable of the Sower e Parable of the Talents, Marge Piercy, autora de He, She, It, e Connie

Willis, autora, dentre vários, de The Passage e To Say Nothing of the Dog. Pretende-se enfatizar a

relevância dessas obras no âmbito dos estudos e da história da ficção científica, em particular com a

exposição da questão do gênero em suas extrapolações literárias, seja em suas construções de

mundo, em suas protagonistas que desafiam estereótipos de gênero e em sua visão sobre o papel da

ciência na sociedade.

Palavras-chaves: ficção científica, literatura feminista; distopia; literatura especulativa.

Introdução

A ficção científica, entre os gêneros literários mais conhecidos, passou a ser estudada na

academia tem pouco tempo. Com uma origem fundada na troca de histórias por fãs, a ideia do que é

ficção científica mudou diversas vezes ao longo do século passado. Uma coisa resistiu às mudanças

com certo afinco: as mulheres, tanto como autoras quanto como personagens, apenas começaram a

ser valorizadas muito recentemente. Quando digo muito recentemente, falo de um gênero que

começou no século XIX, mas que só teve uma onda de obras feministas a partir dos anos 1970.

A título de história dessa literatura específica, uma das grandes ironias é que muitos críticos

consideram a obra fundadora como Frankenstein, escrito por Mary Shelley. É claro que devemos

lembrar que Frankenstein, publicado em 1818, também é fortemente associado ao gótico e à

literatura de horror; além disso, o viés científico por trás da criação do monstro de Viktor

Frankenstein foi um pensamento posterior à publicação original. George Slusser, em seu capítulo

sobre as origens da ficção científica para a obra A Companion to Science Fiction (2005), indica: “O

estigma da alquimia ainda minimiza a ciência em Frankenstein. O galvanismo e a eletricidade da

Introdução de 1831 foram pensamentos posteriores, já que há pouca ou nenhuma referência a

1 Mestre e doutoranda em Estudos Literários, área de concentração Literaturas em Inglês, da Faculdade de Letras da

UFMG, em Belo Horizonte. Bolsista CNPq.

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ambos na edição de 1818 do romance” (SLUSSER, 2005, p. 31, minha tradução)2. Com isso, pode-

se perceber como a ficção científica, mesmo em sua obra fundadora, pode ser bem menos previsível

do que o senso comum indicaria.

Contudo, ainda que Shelley seja consensualmente a pioneira da literatura sci-fi (como

doravante citarei o gênero), os nomes de prestígio ainda são masculinos. George Orwell, Phillip K.

Dick, Isaac Asimov e William Gibson são considerados leitura imprescindível entre os fãs e maioria

dos críticos do gênero, enquanto autoras como Pat Cadogan, Ursula le Guin, Joana Russ, Jeanette

Winterson, entre várias outras, são relegadas a um gueto literário dentro de um tipo de literatura que

deixou as margens da crítica há pouco tempo. Essa crítica não é nova: Marleen S. Barr, Jenny

Wolmark e Veronica Hollinger são algumas das críticas de sci-fi que mencionam a desvalorização

da ficção científica escrita por mulheres.

Notemos aqui que a terminologia, para mim, não é necessariamente sci-fi feminista, ou

mesmo fabulação feminista. Por hoje, uso o termo menos ambicioso, que é sci-fi escrita por

mulheres. Certamente essas obras tendem a indicar questionamentos de gênero direcionados à

igualdade, o que não é coincidência, mas tento fazer um esboço de quatro autoras contemporâneas

em sci-fi, cuja obra é relevante por diversos motivos, inclusive suas representações de gênero,

dentre vários conflitos da modernidade.

Margaret Atwood, autora canadense de dezenas de romances, poemas e não-ficção, é

provavelmente a mais famosa entre essas autoras; e é também uma das que mais resiste ao ouvir

que sua literatura possa ser ficção científica. Suas obras, que descrevem distopias resultantes de

teocracias ou de experimentos extremos com a humanidade, são: The Handmaid’s Tale (1984),

recentemente adaptada para a televisão, a sequência Oryx and Crake (2003), The Year of the Flood

(2009) e MaddAddam (2013) e, finalmente, sua distopia mais recente, The Heart Goes Last (2015).

Octavia Butler, por sua vez, é autora de Parable of the Sower (1991) e Parable of the Talents

(1998), além da sequência Dawn e Lilith’s Brood; Butler é a única mulher listada como autora do

subtipo hard science fiction, mencionado adiante. Marge Piercy, por sua vez, autora de Woman on

the Edge of Time e He, She, and It (1991), cuja escrita é mais associada ao estilo cyberpunk,

questionando os limites da humanidade e a influência das inteligências artificiais nesses limites. Por

fim, temos Connie Willis, autora americana vencedora de prêmios prestigiados dentro da

comunidade sci-fi, como Hugo e o Nebula. Sua obra mais famosa é Doomsday Book, que faz parte

da sequência sobre viagem no tempo, precedida por To Say Nothing of the Dog e seguida por

2 “This stigma of alchemy still dogs science in Frankenstein. The galvanism and electricity of the 1831 Introduction are

afterthoughts, as there is little or no direct reference to them in the 1818 edition of the novel.”

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Blackout e All Clear. Outras obras recentes e de sucesso da autora incluem também The Passage e a

mais recente, Crosstalk (2016). Este texto busca mostrar a influência dessas autoras para sci-fi

como um todo e também para seus subgêneros.

2. Margaret Atwood

Entre as autoras discutidas hoje, Atwood certamente é a mais popular. The Handmaid’s

Tale, publicada em 1984, este ano tornou-se uma série de televisão pela distribuidora Hulu. Suas

obras da trilogia MaddAddam são cogitadas para adaptação pela HBO e Oryx and Crake,

principalmente, é citada pela mistura equilibrada de elementos de ficção científica com contação de

histórias.

Atwood, todavia, é das mais resistentes ao rótulo de escritora de ficção científica. É

importante lembrar que, de seus mais de 40 títulos publicados, apenas 5 são considerados parte do

gênero pela crítica. A reticência da autora justificou-se em entrevista, alegando que se afirmar como

autora de ficção científica seria “falsa propaganda” já que suas obras não trazem viagens pelo

espaço, robôs ou vários outros motes tradicionalmente associados ao gênero. Particularmente, como

pesquisadora eu escolho ignorar essa afirmação até certo ponto, por dois motivos: dizer que sci-fi é

um conjunto de tropes ou de temas como viagem pelo espaço é uma redução trazida do senso

comum; uma abordagem histórica dessa literatura, desde as revistas pulp, demonstra a variedade e

riqueza de sci-fi, que conta com vertentes como New Wave, Cyberpunk, scientifiction, sem

mencionar a onda de sci-fi feminista instaurada desde os anos 1970 e, mais recentemente, as

distopias pós-modernas que, na minha opinião, inclui os cinco romances de Atwood.

Em segundo lugar, ela complementa a negação de sci-fi dizendo que as projeções em seus

romances poderiam acontecer, diferentemente do que se vê em sci-fi. Não só essas projeções de

futuro próximo são muito presentes no sci-fi contemporâneo, como outras vertentes, como hard

Science fiction, foram conhecidas pelo esmero em produzir projeções científicas possíveis e com o

máximo de ciência correta, de acordo com a época.

Trago aqui, então, a literatura de ficção científica de Atwood como um exemplar forte da

virada mais contemporânea em direção ao pós-moderno. Como Veronica Hollinger comenta, em

seu capítulo “Science Fiction and Postmodernism” (2008), muito da ficção científica pós-moderna

reflete o que ela chama de condição pós-moderna, ou seja:

Para colocar de outra forma, a “condição pós-moderna” é uma condição inerentemente

auto-consciente, denotando uma série de transformações sobre como viemos a perceber e

definir aspectos da realidade contemporânea. Isso explica, em parte, a natureza auto-

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reflexiva de tantos textos pós-modernistas: não importa “sobre o que” um texto seja, ele

também é sobre sua própria condição de texto narrativo. (2008, p. 234, minha tradução)3

Essa reflexividade sobre o texto em si e sobre o gênero em que ele se encontra pode ser

visto, primeiramente, em Oryx and Crake, em pelo menos duas dimensões: o narrador,

Jimmy/Snowman, reconta para si mesmo a história de como a humanidade havia sido destruída por

um vírus mortal. Acreditando ser o último ser humano vivo, ele se sente responsável pela

manutenção da própria linguagem, até sua morte inevitável. Considerando como passar seu tempo,

ele pensa em escrever um diário: “Ele poderia emular os capitães de navios, dos tempos antigos – o

navio afundando em uma tempestade, o capitão em sua cabine, condenado mas intrépido,

preenchendo seu diário” (2003, p. 45, minha tradução)4, para desistir em seguida: “Mas mesmo um

náufrago supõe um leitor futuro, alguém que chegará depois para encontrar seus ossos e seu

registro, e descobrirá o que lhe aconteceu. Snowman não pode supor tais coisas: ele não terá um

leitor futuro, porque os Crakers não podem ler. Qualquer leitor que ele imagine está no passado”

(2003, p. 45-46, minha tradução)5.

A consciência do fim de sua espécie traz ao sci-fi pós-moderno de Atwood um paradigma

contemporâneo: a iminência do final da humanidade com a destruição dos recursos naturais do

planeta onde vive, o menosprezo da linguagem e das ciências humanas em geral em favorecimento

de conhecimentos mais exatos, com lucros previsíveis. Inclusive, os Crakers mencionados no

excerto acima, nessa trilogia MaddAddam, trazem um novo paradigma do pós-humano. Em Oryx, o

personagem Crake cria os pós-humanos, os Crakers, geneticamente modificados para viverem em

harmonia com o planeta que era devastado pelos humanos. Em seguida, ele espalha um vírus letal,

após imunizar Jimmy. Em um capítulo de livro a ser publicado este ano pelo Laboratório de Edição

da FALE/UFMG, eu mesma discuto o próprio design dos Crakers como uma proposta de pós-

humanos que viveriam de forma mais animalesca, sem símbolos, sem roupas e sem diversos fatores

complicadores. Os Crakers são feitos para exalar um aroma cítrico, para evitar mosquitos (p. 102),

não são consumidos pela ansiedade da morte, já que “estão programados para caírem mortos aos

trinta anos – subitamente, sem adoecer [...]. Eles só caem. Não que saibam disso; nenhum morreu

ainda” (p. 303). Além disso, ele reprograma suas práticas reprodutivas, para eliminar a competição

3 “Put another way, the “postmodern condition” is an inherently self-conscious condition, denoting a series of

transformations in how we have come to perceive and define aspects of contemporary reality. This in part explains the

self-reflexive nature of so many postmodernist texts: whatever else these texts are “about,” they are also about

themselves as narrative texts.” 4 “He could emulate the captains of ships, in olden times – the ship going down in a storm, the captain in his cabin,

doomed but intrepid, filling in the logbook”. 5 “But even a castaway assumes a future reader, someone who’ll come along later and find his bones and his ledger, and

learn his fate. Snowman can make no such assumptions: he’ll have no future reader, because the Crakers can’t read.

Any reader he can possibly imagine is in his past”.

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e a ansiedade da rejeição sexual (p. 302). Podemos notar, aqui, a valorização típica da ficção

científica da juventude – como na prática de “fixar-se” em Stone Gods, de Jeanette Winterson – e

um certo exagero nas capacidades de manipulação da genética humana. Nos livros MaddAddam,

muito recai sobre a programação genética e pouco sobre o ambiente, outro tema amplamente

discutido na comunidade científica.

Poderíamos abordar vários outros traços da literatura de sci-fi de Atwood, como, por

exemplo, a falta de “inovações” per se em The Handmaid’s Tale, uma teocracia altamente

controladora do corpo feminino, ou da protagonista de The Year of the Flood, Toby, que tem uma

trajetória única entre os humanos remanescentes e acaba responsável pela nova mitologia dos

Crakers, antes incapazes de pensamento simbólico. De qualquer forma, é notável a relevância de

Atwood como autora de sci-fi.

2. Octavia Butler

Diferentemente de Atwood, Octavia Butler não tem nenhum problema com ser classificada

como autora de ficção científica. Suas obras são notáveis por diversas características. A série

Xenogenesis marcou a autora como autora do subgênero hard scifi. De acordo com Gary Westfahl,

uma possível definição, ainda que incomplete, desse subgênero seria “uma forma de ficção

científica que apresenta uma preocupação maior e uma conexão particularmente ampliada com a

ciência” (2008, p. 187, minha tradução)6. Em outras palavras, hard scifi é associada a extrapolações

dentro das ciências exatas e com a maior acurácia possível em termos de ciência – ou seja, sem

explosões no espaço sideral, sem mutações genéticas exageradas ou impossíveis. Não é necessário

dizer que essa definição em si não é absoluta, mas, quando comparadas com outros subtipos de sci-

fi, hard scifi apresenta um cuidado maior com teoremas e aplicações de física e química, por

exemplo.

Outra série por Butler, a série Parable, inclui Parable of the Sower (1993) e Parable of the

Talents (1998). Os dois livros são excelentes manifestações de temáticas raciais em ficção

científica, um desenvolvimento recente no gênero. Os livros acompanham a protagonista, Lauren

Olamina, e sua trajetória de sobrevivência quando seu vilarejo, Robledo, é saqueado e destruído.

Em um cenário de futuro próximo, nos Estados Unidos do século XXI, Lauren lida com sua

condição crônica de hiperempata – ela sente a dor e o prazer de pessoas que vê, uma condição

6 “Approaching the task of defining “hard science fiction,” one might begin by calling it a form of science fiction that

displays an especially heightened concern for, and an especially heightened connection to, science.”

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genética de sua mãe, uma viciada em drogas. Uma extrapolação da série inclui essa droga,

Paracetco, que traz uma semelhança perturbadoramente similar à ritalina:

ela estava fazendo milagres pelas pessoas que tinha Alzheimer. Ela parava a deterioração

das funções intelectuais e possibilitava ótimo uso de qualquer que fosse a memória e

racionalidade que tivesse sobrado. Ela também acelerava a performance de pessoas normais

e jovens, que liam mais rápido, retinham mais, faziam conexões mais rápidas e certeiras,

cálculos, conclusões. Dessa forma, Paracetco tornou-se tão popular quanto café entre

estudantes. (BUTLER, 1998, cap. 1, minha tradução)7

Essa manobra narrativa que impulsiona a trama de Parable of the Sower e Parable of the

Talents traz outros desdobramentos importantes para a relação entre literatura e ciência: para além

da veracidade das invenções, a série é um bom exemplo do questionamento da presença da religião

em sci-fi. Talvez por ter que sobreviver em um ambiente pós-apocalíptico com a hiperempatia, que

a paralisa ao ver pessoas com dor, Lauren é colocada em uma posição única para angariar

companheiros durante seu trajeto rumo ao Canadá (tido como a utopia para se aspirar nos

romances) e fundar uma religião que ela chama de Earthseed.

Em um texto meu, publicado ano passado, discuto a relação de Earthseed como religião com

ficção científica: em um gênero literário que tende historicamente a desmerecer ou nem mesmo

representar religiões e seus rituais, Earthseed se coloca como uma fé “descoberta” para incentivar

ação e pesquisa, e não para reconfortar as pessoas que passam a seguir Lauren em sua visão. Além

disso, os encontros desse culto consistem de uma pessoa falando sobre algum assunto, seguido de

perguntas e respostas; quando o irmão de Lauren, um protestante, deseja dar um sermão, ele resiste

às perguntas. Assim, vemos que a religião em sci-fi pode ser um instrumento de união e de ação

para mudanças (PAVANI, 2016, p. 202).

Finalmente, Butler inclui questões de raça e de gênero em sua ficção científica. Em Parable

of the Sower, quando Lauren começa sua jornada em direção ao norte, ela se veste como homem; de

acordo com sua própria descrição, como ela nunca havia se destacado por seus traços femininos e

por ser mais alta que a maioria das mulheres, ela não enfrenta resistência de estranhos ao se

apresentar como homem. A androgenia da personagem é comentada no artigo de Clara Augustí, que

afirma: “Butler demonstra como Olamina é capaz de esmaecer as diferenças entre sujeito e Outro,

masculinidade e feminilidade na própria personagem” (2005, p. 354, minha tradução)8. Olamina,

afinal, é uma mulher negra que usa sua habilidade com as pessoas para criar um vilarejo, Acorn,

7 “and it was doing wonders for people who had Alzheimer’s disease. It stopped the deterioration of their intellectual

function and enabled them to make excellent use of whatever memory and thinking ability they had left. It also boosted

the performance of ordinary, healthy young people. They read faster, retained more, made more rapid, accurate

connections, calculations, and conclusions. As a result, Paracetco became as popular as coffee among students”. 8 “Butler demonstrates how Olamina is able to blur the differences between subject and Other, manhood and femaleness

in herself”.

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onde sua “fé” vive em relativa paz, até metade de Parable of the Talents. As protagonistas de Butler

incorporam as dificuldades de raça e de gênero, injetando também diversidade em um tipo de

literatura particularmente resistente à variedade.

3. Marge Piercy

Se Octavia Butler pode ser considerada um bom exemplo de autora que insere diversidade

em sci-fi ao abordar questões raciais, Marge Piercy também contribui para essa diversidade ao

incluir a tradição judaica em sua literatura. Autora em atividade de diversos títulos, tem como seus

títulos mais bem-sucedidos Woman on the Edge of Time (1976) e He, She, and It (publicado na

Inglaterra com o título Body of Glass, 1991). A primeira obra é um clássico da literatura utópica do

século XX: conta a história de uma mulher hispânica, Consuelo, que luta para sobreviver em meio a

um passado de violência, até começar a se comunicar, de forma aparentemente inexplicável, com

uma pessoa de um futuro utópico. A temática da mulher como sobrevivente em uma sociedade que

“salvaria” a direção desastrosa em que o mundo estaria nos anos 1970 ainda é relevante não só em

ficção científica, mas no cenário político.

Contudo, neste texto quero concentrar minha discussão em He, She, and It e na expressão de

Marge Piercy dentro do subgênero do cyberpunk. A menção desse subgênero costuma elicitar

apenas nomes masculinos, em particular William Gibson, autor de Neuromancer (1982), e Phillip

K. Dick, autor de Do Androids Dream of Electric Sheep? (1968). Mark Bould, em seu capítulo

sobre o cyberpunk, elicita traços associados a esse tipo de sci-fi:

Típico da política romanticamente antiautoritária de contra-cultura do cyberpunk, o

controle era geralmente projetado não no sentido neutro e descritivo da cibernética, mas em

termos das estruturas e instituições sociais inerentemente repressivas, incluindo o “controle

mecanizado da vida social, do próprio corpo” e do “endurecimento e exteriorização de

certas formas vitais de conhecimento, a cristalização do espírito cartesiano em objetos e

commodities materiais” (McCaffery 1991:185-6). (2005, p. 218, minha tradução)9

Em outras palavras, o cyberpunk é conhecido por cenários mais sinistros, sociedades em

decadência em meio ao crescimento de inteligências artificiais e ciborgues. É importante lembrar,

como Christine Cornea (2005) ressalta, que o próprio termo ciborgue foi criada em 1960 com a

mistura dos termos “cibernético” e “organismo”, ou seja, um ser no limiar do tradicionalmente

humano e de uma possível pós-humanidade.

9 “Typical of Cyberpunk’s vaguely countercultural and romantically antiauthoritarian politics, control was generally

envisioned not in cybernetic’s neutral descriptive sense but in terms of inherently repressive social structures and

institutions, of the ‘mechanized control of social life, of the body itself’ and ‘the hardening and exteriorization of certain

vital forms of knowledge, the crystallization of the Cartesian spirit into material objects and commodities’ (McCaffery

1991: 185–6)”

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He, She, and It é uma obra marcante do subgênero, considerado por Donna Haraway –

impossível mencionar estudos do ciborgue e escrita feminista sem falar dela –; Tom Moylan aborda

o livro como uma distopia crítica bem-sucedida, e a própria Margaret Atwood já apontou Piercy

como uma de suas influências literárias. No romance, a narrativa é dividida em dois níveis: o

primeiro é uma narrativa sobre o Golem, monstro criado para proteger um vilarejo de ataques

antissemitas, que corre em paralelo com a ação principal: após perder a guarda do filho para o ex-

marido, a protagonista Shira retorna à ilha de Tikva, onde nasceu, e ajuda o cientista Avram a

treinar uma inteligência artificial, o ciborgue Yod. Ele deve aprender a se comportar como um

humano, além de ser treinado para proteger a maior riqueza da ilha, sua produção de softwares,

vendidos para grandes multis, de espionagem corporativa.

O paralelo entre Yod e o Golem traz riqueza narrativa e cultural para a história, que traz um

ciborgue tão capaz de demonstrar sentimentos humanos que acaba por questionar os limites entre

humano e não-humano (ou entre humano e pós-humano):

Shira ficou parada no laboratório, a três palmos de Yod, que a mirava com um olhar que ela

só podia ler como cumplicidade. Eles compartilharam uma sensação de alarme. Ela não

ficava mais surpresa ao creditá-lo com reações: eles podiam ser simulacra de emoções

humanas, mas algo acontecia nele que era análogo às suas próprias respostas, e fazer o

esforço constante de discernir uma coisa da outra era desperdício de energia. (1991, p. 97,

minha tradução) 10

Certamente, é possível argumentar que Yod, enquanto emulador de humanidade, não traz

novidades tanto ao cyberpunk quanto ao sci-fi em geral; afinal, os andies caçados por Rick Deckard

em Do Androids Dream of Electric Sheep? e a personagem Molly de Neuromancer também trazem

a discussão dos limites entre androids/ciborgues e humanos. Yod, por outro lado, funciona também

na quebra de paradigma de gênero: enquanto, nas duas obras mencionadas acima, as androids são

objeto de desejo e satisfação sexual sem consequências (para não mencionar a adaptação de Ridley

Scott, em Blade Runner, que traz a relação do protagonista de K. Dick com uma replicante em uma

cena de estupro), Yod é um ciborgue masculino que se dedica a dar prazer à Shira quando eles se

tornam um casal. Um dos conflitos envolve a aceitação do vilarejo de seu status como parceiro da

protagonista – dessa forma, não é apenas um caso de gender bender (de inversão simples de papéis

de gênero), mas também de um ciborgue tentando viver como um humano sem distinções, inclusive

como marido de Shira e buscando aceitação em sua comunidade.

10 “Shira stood in the lab, about a foot from Yod, who shot her a look she could read only as complicity. They shared a

sense of alarm. She was no longer surprised that she credited him with reactions: they might be simulacra of human

emotions, but something went on in him that was analogous to her own responses, and making the constant distinction

was a waste of energy.”

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Claro, He, She, and It também pode ser discutido com outras perspectivas. Outra

personagem amplamente abordada em estudos sobre o romance é a semi-humana Nili, ou a avó da

protagonista, Malkah. De uma forma ou de outra, é dada a relevância da literatura de Marge Piercy

para o cyberpunk e para o sci-fi de forma geral.

4. Connie Willis

Uma das autoras mais premiadas da ficção científica, Connie Willis é uma autora prolífica e

ativa. Scifi é um gênero particularmente amplo em termos de premiações, e Connie Willis coleciona

prêmios como Nebula, Hugo e Arthur C. Clarke. Sua obra mais famosa é Doomsday Book (1992), o

primeiro volume do que ficou conhecido como sua Time-Travel Series. Além de outras séries,

outros romances bem-sucedidos de acordo com a crítica incluem The Passage (2001) e Crosstalk

(2016).

Connie Willis tem uma fama ambígua entre crítica e público. Críticas em redes sociais de

leitores como o site Goodreads mencionam uma repetição estrutural na maioria dos livros da autora,

que ela mesma já reconheceu em entrevista: boa parte de seus livros envolve personagens

desorientados, trabalhando com projeções e informações incompletas: “Meus personagens estão

sempre tentando entender o mundo, e nunca têm informação suficiente. Tudo depende de eles

entenderem a situação; ainda assim, é uma situação grande e complicada demais para que a

entendam. Isso, pra mim, é um resumo da condição humana” (SHINDLER, 2001, p. 77, minha

tradução)11. Por exemplo, em The Passage, a psicóloga Joanna Lander, ao se tornar sujeito de um

experimento sobre experiências de quase morte, busca compreender o motivo de, durante os

experimentos, ela se sentir de forma muito vívida no Titanic, logo após o choque com o iceberg,

com uma miríade desconcertante de detalhes. Em Doomsday Book, a historiadora Kivrin deve

sobreviver na Idade Média, onde fica presa depois que é mandada erroneamente para 1348, o ano

em que a peste negra chega ao vilarejo do interior da Inglaterra que ela visita.

As críticas de leitores, acredito, não são infundadas: existem muitos paralelos entre Joanna

Lander (The Passage), Kivrin (The Doomsday Book), Merope (Blackout e All Clear, publicados em

2010 e 2011, respectivamente), e Briddey (Crosstalk). A constante incompletude das informações é

frustrante, mas os livros de Willis trazem algo para a ficção científica de muito científico: a

vagarosidade do dia a dia do fazer da ciência. Boa parte das obras do gênero traz o mundo

11 “My characters are always trying to figure out the world, and they never have enough information. Everything

depends on them understanding the situation; yet it’s a situation much too big and complicated for them to understand.

That, to me, is the human condition in a nutshell”.

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transformado por invenções, as consequências dos avanços tecnológicos para a vida humana, de

uma perspectiva posterior ao fazer científico propriamente dito. Nos livros de Willis, a morosidade

acusada pelos leitores pode ser atribuída ao lento progresso do método científico que, na prática,

envolve diversas etapas e muitos “becos sem saída”. Em The Passage, o leitor pode se frustrar com

os problemas dos protagonistas para conseguir sujeitos, ou para seguir o protocolo correto dos

experimentos, ou para impedir que os dados sejam danificados; outra perspectiva pode ver um valor

único na literatura de Willis justamente por abordar um lado menos glamouroso da ciência.

Na sua série de viagem no tempo, que inclui Doomsday Book, o leitor também é exposto a

um futuro próximo (a linha do tempo principal da série corre no final dos anos 2050) em que os

cientistas nos limites dos avanços são os historiadores. Com a premissa da invenção da tecnologia

que possibilita a viagem no tempo, o campo da história torna-se uma área de pesquisa altamente

técnica, a única preparada para mandar pesquisadores para o passado de modo a compreender a

trajetória da humanidade através dos séculos.

Em Crosstalk, publicação mais recente de Willis, a temática abordada é o excesso de

informações na contemporaneidade. A protagonista, Briddey, acorda de uma cirurgia criada para

aumentar sua comunicação com o noivo, porém descobre uma conexão telepata com um

desenvolvedor de aplicativos da empresa de comunicações onde trabalha. O desenvolvedor, C.B.,

resume o que parece ser a tese de Willis sobre a sociedade da informação instantânea:

“Commspan promete a mesma coisa – mais comunicação. Mas não é isso que as pessoas

querem. Elas já têm comunicação demais – laptops, smartphones, tablets, mídias sociais.

As pessoas têm conectividade saindo pelas orelhas. É possível estar conectado demais,

sabia, especialmente quando se trata de relacionamentos. Relacionamentos precisam de

menos comunicação, e não mais” (cap. 2, minha tradução) 12

Podemos notar a relevância das temáticas de comunicação entre pessoas, de informação, e

dos desencontros causados por falhas nessas habilidades humanas. O sci-fi de Willis não é

facilmente classificado em um subtipo, como podemos fazer com Atwood, Butler e Piercy. O teor

técnico de sua abordagem científica pode ser associado ao hard scifi; a abordagem da incompletude

da comunicação pode ser associada à ficção especulativa e a teorias pós-modernas; a maioria dos

críticos e leitores se refere a ela como autora de ficção científica, simplesmente.

Como autora mulher, é importante notar a abundância de protagonistas femininas em

posições de destaque científico: suas personagens são historiadoras, psicólogas, gerentes,

acadêmicas. Sua narrativa bem-humorada expõe algumas expectativas tanto de gênero literário

12 “I am,” he said. “Commspan promises the same thing—more communication. But that isn’t what people want.

They’ve got way too much already—laptops, smartphones, tablets, social media. They’ve got connectivity coming out

their ears. There’s such a thing as being too connected, you know, especially when it comes to relationships.

Relationships need less communication, not more.”

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quanto de gênero sexual. Não é surpreendente, assim, que Connie Willis seja uma autora de sci-fi

tão bem-sucedida.

Conclusão

Este texto buscou abordar, dentro das possibilidades, uma amostra da variedade de autoras

de ficção científica nos últimos anos. Se a literatura em geral foi um campo restrito à perspectiva

masculina, a ficção científica, por sua história, apresentou ainda outras barreiras para a inserção de

mulheres. A combinação de dificuldade de acesso à ciência e acesso à escrita poderia ter causado

uma exclusão maior do que de fato acabou ocorrendo: sci-fi, nos últimos cinquenta anos, revela-se

como uma expressão literária surpreendentemente diversa e ocupada por mulheres em diversos

subgêneros.

A autoria feminina em ficção científica tem contribuído para a variedade estética e de

representação na literatura, questionando limites da humanidade, questionando o elogio exagerado a

conclusões da ciência e frequentemente expondo seu status de linguagem, no sentido de que o

método científico é um modo de construção de paradigmas, ao invés de uma estrutura de verdades

absolutas, como era pregado na época das revistas pulp, cujo teor didático e de elogio às ciências

(exatas) ainda é associado a sci-fi na atualidade.

Margaret Atwood, Octavia Butler, Marge Piercy e Connie Willis são, de fato, relevantes

para a literartura de sci-fi contemporânea, mas não são os únicos exemplos. Autoras como Ursula

Le Guin, Joanna Russ, Pat Cadigan também podem ser analisadas nessa perspectiva; este texto

buscou posicionar a autoria feminina de sci-fi como um objeto de estudo amplo e rico, com

tangentes diversas em estudos utópicos, estudos de pós-modernismo, ou simplesmente de literatura

contemporânea.

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Contemporary science fiction written by women: Margaret Atwood, Octavia Butler, Marge

Piercy, Connie Willis

Abstract: The literary genre of Science fiction was, during the first 70 years of the 20th century,

primarily masculine. Despite the novel considered to be the genre’s pioneer being Mary Shelley’s

Frankenstein, the names more commonly associated to “quality” literature in the field include

almost exclusively men, such as Asimov, Philip K. Dick, Orwell, among others. However, since the

1970s, science fiction written by women has proliferated, dislocated the classical sci-fi narrator and

brought a variety of themes and perspectives to that literature. This presentation intends to analyse

these diverse narrative voices brought on by four writers of science fiction, active in the last 30

years: Margaret Atwood, author of the MaddAddam series, Octavia Butler, author of Parable of the

Sower e Parable of the Talents, Marge Piercy, author of He, She, It, and Connie Willis, author,

among others, of The Passage and To Say Nothing of the Dog. I intend to emphasize the relevance

of these works within science fiction studies and history, particularly the exposure of issues of

gender in their literary extrapolations, be it in world building, role-challenging protagonists and

their vision about the role of science in society.

Keywords: science fiction, literature, feminist literature, dystopia, speculative literature.