Ficha 6 Mensagem Estrutura

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Português Módulo 10 Mensagem F. Pessoa Prof. Sandra Valentim ____________________________________________________________________________________ Ficha 6 Mensagem análise global “ (…) o assunto da Mensagem não são os portugueses ou os eventos concretos, mas a essência de Portugal e a sua missão a cumprir (…)” Jacinto do Prado Coelho, Camões e Pessoa Poetas da Utopia Em toda a obra se nota um intenso sofrimento patriótico e a vontade de Pessoa de um Portugal novo. Crente no mito sebastianista “com raízes profundas no passado e na alma portuguesa”, procura-se em cada poema tornar viva uma ressonância do Império que foi e acredita renovar-se, mais que não seja a nível civilizacional. Esta é uma obra mítica e simbólica que surge tripartida [3 é o número da criação e representa o círculo perfeito, exprimindo o percurso da vida: nascimento, crescimento e morte], correspondendo ao ciclo histórico de uma pátria que passa necessariamente pelo nascimento, vida e morte, pressupondo esta um renascimento que culminará com o aparecimento de um novo ciclo, o Quinto Império, espiritual e cultural, cujo privilégio será a paz universal. No Brasão, “Os Campos”, “Os Castelos”, “As Quinas”, “A Coroa” e “O Timbre” são marcas de afirmação do passado, de mágoa do presente e de antevisão do que há de vir; corresponde ao nascimento da nação. Em O Mar Português há um presente de glórias, que já não existe, mas que faz parte da memória- alma portuguesa, capaz de fazer renascer uma nova luz, de permitir a chegada do Quinto Império 1 ; corresponde à vida/realização da nação inspirada no período áureo da expansão marítima portuguesa, sendo invocadas as glórias passadas e as tormentas, o sofrimento e os medos. Em O Encoberto, depois de manifestar a crença num regresso messiânico, considera que, após a tempestade atual, a chama há de voltar e a luz permitirá o caminho certo, sendo por isso hora de traçar novos rumos e caminhos na construção de um Portugal novo; corresponde à morte da nação, ao desalento dos ânimos simbolizado pelo nevoeiro que ensombra Portugal (salienta-se nesta parte o mito sebastianista). 1 Deu-se o nome de Quinto Império ao sonho mítico de Pde. A. Vieira, segundo o qual Portugal, através de D. João IV, consumaria a realização do reino universal de Cristo; seria um império espiritual, construído com esforço, abandonando os homens o reino terreno para viver no reino divino como hipótese de transformação e de purificação da Humanidade; o Quinto Império seguir-se-ia, para Pessoa, aos quatro impérios antigos: Grécia, Roma, Cristandade e Europa. Afinal o que era necessário era sonhar.

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Estrutura da obra

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  • Portugus Mdulo 10

    Mensagem F. Pessoa Prof. Sandra Valentim

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    Ficha 6

    Mensagem anlise global () o assunto da Mensagem no so os portugueses ou os eventos concretos, mas a essncia de Portugal e a sua misso a cumprir ()

    Jacinto do Prado Coelho, Cames e Pessoa Poetas da Utopia

    Em toda a obra se nota um intenso sofrimento patritico e a vontade de Pessoa de um Portugal

    novo.

    Crente no mito sebastianista com razes profundas no passado e na alma portuguesa, procura-se

    em cada poema tornar viva uma ressonncia do Imprio que foi e acredita renovar-se, mais que no

    seja a nvel civilizacional.

    Esta uma obra mtica e simblica que surge tripartida [3 o nmero da criao e representa o

    crculo perfeito, exprimindo o percurso da vida: nascimento, crescimento e morte], correspondendo ao

    ciclo histrico de uma ptria que passa necessariamente pelo nascimento, vida e morte, pressupondo

    esta um renascimento que culminar com o aparecimento de um novo ciclo, o Quinto Imprio,

    espiritual e cultural, cujo privilgio ser a paz universal.

    No Braso, Os Campos, Os Castelos, As Quinas, A Coroa e O Timbre so marcas de

    afirmao do passado, de mgoa do presente e de anteviso do que h de vir; corresponde ao

    nascimento da nao.

    Em O Mar Portugus h um presente de glrias, que j no existe, mas que faz parte da memria-

    alma portuguesa, capaz de fazer renascer uma nova luz, de permitir a chegada do Quinto Imprio1;

    corresponde vida/realizao da nao inspirada no perodo ureo da expanso martima portuguesa,

    sendo invocadas as glrias passadas e as tormentas, o sofrimento e os medos.

    Em O Encoberto, depois de manifestar a crena num regresso messinico, considera que, aps a

    tempestade atual, a chama h de voltar e a luz permitir o caminho certo, sendo por isso hora de

    traar novos rumos e caminhos na construo de um Portugal novo; corresponde morte da nao, ao

    desalento dos nimos simbolizado pelo nevoeiro que ensombra Portugal (salienta-se nesta parte o

    mito sebastianista).

    1 Deu-se o nome de Quinto Imprio ao sonho mtico de Pde. A. Vieira, segundo o qual Portugal, atravs de D. Joo IV,

    consumaria a realizao do reino universal de Cristo; seria um imprio espiritual, construdo com esforo, abandonando os homens o reino terreno para viver no reino divino como hiptese de transformao e de purificao da Humanidade; o Quinto Imprio seguir-se-ia, para Pessoa, aos quatro imprios antigos: Grcia, Roma, Cristandade e Europa. Afinal o que era necessrio era sonhar.

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    Ficha 6

    Estrutura da Mensagem:

    MENSAGEM Benedictus Dominus Deus noster qui dedit nobis signum (Bendito seja Deus Nosso Senhor que nos deu um sinal)

    1 Parte Braso

    Bellum sine bello (Guerra sem guerra)

    2 Parte Mar Portugus Possessio maris

    (Posse dos mares)

    3 Parte O Encoberto

    Pax in excelsis (Paz no Cu)

    I Os Campos 1 O dos Castelos 2 O das Quinas II Os Castelos 1 Ulisses 2 Viriato 3 O Conde D. Henrique 4 D. Tareja 5 D. Afonso Henriques 6 D. Dinis 7 (I) D. Joo o Primeiro 7 (II) D. Filipa de Lencastre III As Quinas 1 D. Duarte, Rei de Portugal 2 D. Fernando, Infante de Portugal 3 D. Pedro, Regente de Portugal 4 D. Joo, Infante de Portugal 5 D. Sebastio, Rei de Portugal IV A Coroa NunAlvares Pereira V O Timbre A Cabea do Grifo/O Infante D. Henrique Uma Asa do Grifo/D. Joo o Segundo A Outra Asa do Grifo/ Afonso de Albuquerque

    I O Infante II Horizonte III Padro IV O Mostrengo V Epitfio de Bartolomeu Dias VI Os Colombos VII Ocidente VIII Ferno de Magalhes IX Ascenso de Vasco da Gama X Mar Portugus XI A ltima Nau XII Prece

    I Os Smbolos 1 D. Sebastio 2 O Quinto Imprio 3 O Desejado 4 As Ilhas Afortunadas 5 O Encoberto II Os Avisos 1 O Bandarra 2 Antnio Vieira 3 (Screvo meu livro beira-mgoa) III Os Tempos 1 Noite 2 Tormenta 3 Calma 4 Antemanh 5 Nevoeiro

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    Ficha 6

    Smbolos da Mensagem

    BRASO A nobreza imutvel do passado

    MAR Vida e morte; nascimento, transformao e renascimento

    CAMPOS Paraso ao qual os justos acedem depois da morte; espao de vida e ao

    CASTELO Segurana, proteo e transcendncia, dada a sua localizao num local mais

    elevado

    QUINAS Os cinco escudos das armas de Portugal remetem para as cinco chagas de Cristo

    COROA Perfeio e poder; promessa de imortalidade

    TIMBRE Insgnia que coroa o braso, indicadora da nobreza de quem o usa; sagrao do

    heri numa misso transcendente

    GRIFO Ave fabulosa com corpo de leo mas bico e asas de guia; fora, sabedoria, poder

    terrestre e celeste

    PADRO Domnio e a propagao da civilizao crist

    MOSTRENGO Desconhecido, medos, perigos e obstculos que os navegadores portugueses

    tiveram de enfrentar e vencer

    NAU Fora e segurana numa travessia difcil; incitamento viagem e a uma vida

    espiritual; aquisio de conhecimentos

    ILHA Smbolo do desejo de felicidade terrestre ou eterno; alm; sabedoria e paz

    NOITE Morte; remete para um tempo de gestao que desabrochar como manifestao

    de vida

    MANH Pureza; vida paradisaca; confiana em si, nos outros, na existncia

    NEVOEIRO Indeterminao; indefinio; anncio da apario

    Linguagem da Mensagem - discurso analtico e crtico que reflete sobre o passado heroico de conquistas, vibrando com o esprito do povo portugus - tom marcadamente proftico - poemas breves - linguagem metafrica e musical bastante sugestiva - frases curtas, apelativas e que encerram princpios morais (aforsticas) - abundncia de pontuao expressiva e interrogaes retricas

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