FIDELIDADE NA MEMÓRIA VISUAL DE LONGO PRAZO: ESTUDO ...

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARANÁ ALINE JULIANA LOPER FIDELIDADE NA MEMÓRIA VISUAL DE LONGO PRAZO: ESTUDO COMPARATIVO ENTRE IDOSOS E JOVENS ADULTOS CURITIBA 2017

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARANÁ

ALINE JULIANA LOPER

FIDELIDADE NA MEMÓRIA VISUAL DE LONGO PRAZO: ESTUDO

COMPARATIVO ENTRE IDOSOS E JOVENS ADULTOS

CURITIBA

2017

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ALINE JULIANA LOPER

FIDELIDADE NA MEMÓRIA VISUAL DE LONGO PRAZO: ESTUDO

COMPARATIVO ENTRE IDOSOS E JOVENS ADULTOS

Dissertação apresentada para o Programa de Mestrado em Psicologia, linha de pesquisa: Avaliação e Reabilitação Neuropsicológica, do Departamento de Psicologia, Setor de Ciências Humanas, da Universidade Federal do Paraná, como requisito parcial para obtenção do título de Mestre em Psicologia. Orientador: Prof. Dr. Amer Cavalheiro Hamdan

CURITIBA

2017

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RESUMO

A memória de longo prazo constitui a capacidade de armazenar informações por longos

períodos de tempo, que podem variar de horas a décadas. Em longo prazo, estímulos

concretos visuais, como objetos, cenas e sons, podem alcançar um grande volume de

informação armazenada, e contribuem para a formação da semântica e episódica. Apesar

do acúmulo de informações ao longo da vida, existem evidências sobre a perda da

capacidade de memória episódica com o envelhecimento, assim, a presente pesquisa

avaliou, especificamente, o impacto da idade em relação ao processo de retenção e

reconhecimento visual de longo prazo. Realizou-se um teste com 34 jovens adultos e 32

idosos, utilizando-se 512 imagens de objetos concretos, para memorização e posterior

reconhecimento. Os resultados revelaram que há diferença significativa no número de

estímulos reconhecidos entre os dois grupos. Conclui-se que há declínio da memória visual

de longo prazo com o envelhecimento.

Palavras-chave: memória visual; memória de longo prazo, envelhecimento.

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ABSTRACT

Long-term memory is defined by the capacity of information storage for periods of time,

which can vary from hours to decades. Long-term memory has a massive capacity to store

real visual stimuli, as objects, scenes and sounds, and these information structure one´s

semantic and episodic memories. Although those memories are accumulated along lifetime,

there is some evidence that episodic memory declines in aging, and the current study was

planned to evaluate, specifically, the impact of retention and recognition process of visual

long-term memory in aging. One group with 34 young adults and other with 32 elders

viewed 512 pictures for later recognition. The results showed significant difference in

performance for each group, suggesting decline of visual long-term memory in aging.

Keywords: visual memory; long-term memory, aging.

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LISTA DE FIGURAS

Figura 1 - Modelo modal ................................................................................................... 16

Figura 2 - Esquema taxonômico da memória de longa ...................................................... 19

Figura 3 - Modelo de memória baseado em processamento .............................................. 22

Figura 4 - Exemplos de estímulos e escolha forçada para reconhecimento ....................... 32

Figura 5 – Box plot do desempenho dos grupos ................................................................ 37

Figura 6 - Desempenho conforme número de estímulos .................................................... 38

Figura 7 - Desempenho conforme número de estímulos .................................................... 39

Figura 8 - Desempenho dos grupos por categoria de estímulos ........................................ 40

Figura 9 – Gráfico de interação .......................................................................................... 41

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LISTA DE TABELAS

Tabela 1 - Características dos participantes no reconhecimento das figuras ..................... 34

Tabela 2 - Características dos participantes da pesquisa .................................................. 35

Tabela 3 - Desempenho dos participantes (escore bruto) .................................................. 36

Tabela 4 - Comparação do entre os grupos conforme os estímulos .................................. 38

Tabela 5 - Comparação do número de estímulos............................................................... 39

Tabela 6 - ANOVA ............................................................................................................. 41

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LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

BRVT Benton Retention Visual Test (Teste de Retenção Visual de Benton)

BOSS Bank of Standardized Stimuli (Banco de Estímulos Padronizados)

CEP Comitê de Ética em Pesquisa

MEEM Mini Exame do Estado Mental

MIT Massachutes Institute of Technology

MVLP Memória Visual de Longo Prazo

TCLE Termo de Consentimento Livre e Esclarecido

TMV-LP Teste de Memória Visual de Longo Prazo

UFPR Universidade Federal do Paraná

WMS Wechsler Memory Scale (Escala de Memória de Wechsler)

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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO .............................................................................................................. 11

2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA .................................................................................... 13

2.1 A memória e seu funcionamento ........................................................................... 13

2.2 Memória de longo prazo ......................................................................................... 18

2.2.1 Memória declarativa e não declarativa ...................................................................... 19

2.2.2 Modelo baseado no processamento ......................................................................... 22

2.3 Memória visual de longo prazo .............................................................................. 23

2.4 Memória em jovens adultos e idosos .................................................................... 26

3 OBJETIVOS .................................................................................................................. 29

3.1 Objetivo geral .......................................................................................................... 29

3.2 Objetivos específicos ............................................................................................. 29

4 MÉTODO ...................................................................................................................... 30

4.1 Participantes ........................................................................................................... 30

4.2 Instrumentos ........................................................................................................... 30

4.2.1 Questionário de características socioeconômicas ..................................................... 30

4.2.2 Mini Exame do Estado Mental .................................................................................. 31

4.2.3 Teste de Memória Visual de Longo Prazo (TMV-LP) ................................................ 31

4.3 Procedimentos ........................................................................................................ 32

4.3.1 Análise dos estímulos ............................................................................................... 32

4.3.2 Levantamento de dados sobre memória visual ......................................................... 33

4.4 Análise estatística................................................................................................... 33

5 RESULTADOS.............................................................................................................. 34

5.1 Fase 1: análise de estímulos .................................................................................. 34

5.2 Fase 2: Teste de Memória Visual de Longo Prazo (TMV-LP) ............................... 34

5.2.1 Desempenho geral dos grupos ................................................................................. 36

5.2.2 Desempenho conforme número de estímulos ........................................................... 37

5.2.3 Desempenho conforme categoria ............................................................................. 40

6 DISCUSSÃO ................................................................................................................. 42

6.1 O envelhecimento influencia na capacidade de memória ................................... 42

6.2 A memória visual possui grande capacidade de retenção .................................. 44

6.3 A categoria e frequência do objeto apresentado, também, interfere para

diferentes resultados ....................................................................................................... 45

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7 CONSIDERAÇÕES FINAIS .......................................................................................... 49

8 REFERÊNCIAS ............................................................................................................. 50

9 LISTA DE ANEXOS ...................................................................................................... 54

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1 INTRODUÇÃO

Nas últimas décadas, o avanço da ciência e tecnologia disponibilizou às pessoas

uma variedade de informações e meios para alcançá-las. Em um mundo altamente

informatizado, as máquinas processam dados, guardam informações, apresentam o que

lhe é solicitado, facilitando o dia a dia do principal lado dessa relação: o ser humano.

Porém, os processos sobre as formas de codificação, armazenamento e recuperação

desses dados e informações no cérebro não são tão exatos como na ciência da

computação.

Entre as funções neuropsicológicas, a memória é um fenômeno extremamente

complexo e fundamental para a vivência do indivíduo e utilização de experiências passadas

em situações presentes (Abreu, Rivero, Coutinho & Bueno, 2014). Um dos fatores que

torna relevante o estudo desse tópico é sua relação com a perda de capacidade de

memória nos idosos mesmo sem apresentação de sinais de demência: estudos revelam

que há redução de funcionamento da memória com o envelhecimento, em especial, em

memória de trabalho, episódica de curto-prazo e prospectiva (Zibetti et al., 2010).

A psicologia já apresentou várias classificações para os tipos de memória,

mostrando que diferentes sistemas atuam na sua formação, podendo ser divididos de

acordo com a fonte sensorial de captação ou forma de processamento. Um dos primeiros

modelos amplamente aceitos foi desenvolvido com influência da abordagem cognitiva da

psicologia da década de 60, nos Estados Unidos, e era baseado no processamento da

informação, que fluiria a partir do ambiente por meio do armazenamento sensorial (breve

armazenamento de informação), da memória de curta duração e, por fim, seria

armazenado na memória de longa duração. Desde a apresentação desse modelo, novos

recursos utilizados em pesquisas, como uso de imagens e tecnologia da informação,

auxiliaram a aprofundar o conhecimento sobre o funcionamento da memória, integrando a

parte neurofisiológica com os modelos explicativos.

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Atualmente, no Brasil existem instrumentos validados pelo Conselho Federal de

Psicologia e, também, instrumentos comumente utilizados em pesquisas para mensurar a

memória visual, em relação ao quesito retenção: Figuras Complexas de Rey (Teste de

Cópia e de Reprodução de Memória de Figuras Geométricas Complexas), o BRVT (Teste

de Retenção Visual de Benton) e o WMS IV (Teste de Memória de Wechsler), entre outros.

Em sua maioria, esses testes utilizam figuras geométricas ou abstratas para verificação da

retenção de informações captadas, isto é, com a intenção de eliminar a influência da

memória verbal, não utilizam imagens familiares ao indivíduo. Esses testes avaliam a

capacidade de retenção de imagens abstratas e não imagens que façam parte do dia a dia

das pessoas.

O presente trabalho aborda o seguinte problema de pesquisa: há diferença na

fidelidade da Memória Visual de Longo Prazo (MVLP), entre jovens adultos e idosos, de

objetos concretos, presentes no dia a dia das pessoas? Trabalharam-se com as hipóteses

de que o envelhecimento influencia na capacidade de memória; que a memória visual

possui grande capacidade de retenção; e que a categoria e frequência do objeto

apresentado, também, interfere para diferentes resultados.

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2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

A memória é um sistema múltiplo, e a identificação de cada estrutura e conexões

que o compõem se mostrou necessária para compreensão do funcionamento de cada

parte desse sistema. Usando um computador como analogia, que pode funcionar com

diferentes programas, mas necessita de entrada de dados para, após o armazenamento,

poderem ser requisitados, as diferentes memórias possuem diferentes sistemas, e o seu

processo envolve fases com funções específicas que interagem para a formação das

memórias (Baddeley, Anderson & Eysenck, 2011).

Esquecimentos e falhas de memória, que ocorrem no dia a dia das pessoas, podem

dar a impressão que não se retêm muitos detalhes das experiências vividas, mas alguns

estudos provam exatamente o contrário: o cérebro humano pode reter um número

impressionante de informações, dadas as condições corretas para a execução da

codificação, armazenamento e recuperação da memória (Brady, Konkle, Alvarez, & Oliva,

2008). A codificação é a maneira como uma informação é adquirida e interage com

conhecimentos prévios. O armazenamento são os mecanismos e sítios neurais que

permitem a retenção da memória. A consolidação é uma síntese proteica que gera uma

alteração estrutural em sinapses. E, por fim, a recuperação é o processo de trazer à mente

as informações já armazenadas (Schacter, & Wagner, 2014).

2.1 A memória e seu funcionamento

Muitos estudos nas décadas de 40 a 70 enfocavam o tempo de armazenamento e a

natureza da informação processada como modelos explicativos, e evidências surgiram em

relação às bases neurais da memória. Uma das mais importantes contribuições refere-se

ao caso do paciente H.M. em 1957 que se tornou amnésico após uma cirurgia para tratar

epilepsia, na qual foram removidas a formação hipocampal, a amígdala e partes da área

associativa multimodal do córtex temporal. Seu estudo relevou a importância dessas

formações para a formação da memória de longo prazo declarativa, e que tal remoção

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afetou, principalmente, a memória de longa duração episódica (Baddeley, Anderson &

Eysenck, 2011; Milner, Corkin, & Teuber, 1968; Schacter, & Wagner, 2014).

Na época não se sabia, exatamente, se todas, ou algumas estruturas causaram a

amnésia de H.M., pois a lesão abrangia uma grande área. Somente na década de 80, em

estudos com primatas, e com a divulgação do caso R.B., que teve uma lesão limitada ao

hipocampo, que essa estrutura passou a ser considerada fundamental para alguns tipos de

memórias (Squire & Wixted, 2011).

O caso paciente H.M mostrou que a memória para habilidades motoras

normalmente não era uma das consequências de uma amnésica. Posteriormente, estudos

mostraram que outros aprendizados que não demandassem, apenas, tarefas motoras eram

possíveis: H.M. teve não apenas a memória motora preservada, mas também a verbal

implícita. Mesmo com essas evidências, na época não se propunham múltiplos sistemas de

memória, mas o contínuo estudo de pacientes amnésicos, animais de laboratório e

pessoas saudáveis levou às novas propostas sobre um múltiplo sistema de memória. Não

apenas na memória, mas em outros fundamentos psicológicos, as distinções têm se

apresentado importantes em termos de sistemas neurais (Squire, 1992).

A diferenciação dos mecanismos de memória de curto e de longo prazo começou a

ser avaliada em pacientes com lesões cerebrais após o caso H.M.; as funções de cada

estrutura nas fases de armazenamento e recuperação da memória também. H.M era capaz

de lembrar eventos anteriores à sua lesão: em um teste de reconhecimento de faces de

pessoas famosas, desempenhou tão bem quanto o grupo controle quando se tratava de

pessoas das décadas de 20 a 40, tendo fraco desempenho em reconhecer faces próximas

ou posteriores à data de sua lesão. A principal conclusão desse estudo é que o

armazenamento final não ocorre no lobo temporal medial (Squire & Wixted, 2011).

Após os estudos sobre H.M., os quais mostraram que, não apenas habilidades

motoras estavam preservadas na amnésia, mas também perceptivas e cognitivas, ocorreu

uma formulação inicial sobre sistemas de memória com uma distinção entre memória

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declarativa e de procedimento, sendo a primeira a lembrança consciente de fatos e

eventos, e a segunda lembrança de informações baseadas em habilidades. Estudos

subsequentes mostraram que priming e aprendizado de hábitos poderiam se apresentar

intactos em pacientes com problemas de memória. Com isso, a perspectiva de dois

sistemas se abriu para múltiplos sistemas (Squire & Wixted, 2011).

Ao final da década de 60, Atkinson & Shiffrin (1968) publicaram uma pesquisa

consolidando muitos conceitos similares sobre memória que existiam na época. Esse

modelo, chamado de modal, classificava a memória em relação ao armazenamento, sendo

um fluxo que operava em etapas conforme a duração. O modelo modal descrevia que,

quando um estímulo era apresentado, ocorria um registro imediato pelo sistema sensório.

O segundo componente era o armazenamento de curta duração, responsável pela

memória de trabalho, no qual a informação declinava até desaparecer do sistema, porém,

com uma duração maior que no sistema sensório; esse sistema, também, não dependia da

forma que uma informação era codificada, por exemplo, um estímulo visual de uma palavra

poderia ser armazenado como auditivo. O último componente do modelo modal é o

armazenamento de longa duração, que, diferentemente dos outros, não tem um declino e

perda da informação como os outros componentes, sendo, relativamente permanente.

O fluxo de informações entre os três sistemas funcionava como se fosse uma cópia

de um sistema para o outro, não removendo a informação do componente anterior, que

declinava conforme característica do próprio sistema (Figura 1). A informação era

registrada no sistema sensório, que passava ao armazenamento de curto prazo e,

posteriormente, de longo prazo. Os autores levantaram a hipótese de haver um

armazenamento de longo prazo direto do sistema sensorial, mas esse processo não era

bem conhecido. Esse trabalho foi criticado posteriormente, especialmente em relação à

formação da memória de longo prazo, mas ajudou a consolidar e a estruturar o

conhecimento até então produzido sobre memória.

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Figura 1 - Modelo modal

Fonte: Atkinson, R. C., & Shiffrin, R. M. (1968). pp.93. Tradução livre.

A partir da década de 70, os estudos sobre memória já tinham abandonado,

completamente, a visão da memória como um sistema unitário, e a exploravam como

sistemas interativos, que se diferenciavam não apenas entre memória de curta duração e

de longo prazo, mas também conforme o processo envolvido existindo diversos subgrupos.

A memória de curto prazo passou a ser explicada pelo modelo da alça fonológica para

memória verbal, e como contraparte o esboço visuoespacial para componentes visuais e

espaciais (Baddeley, Anderson & Eysenck, 2011).

Outro marco nos modelos de memória foi o trabalho de Endel Tulving. Em uma

revisão de literatura, ele categorizou 25 tipos de memória: curto prazo, curtíssimo prazo,

longo prazo, operacional entre outras, mas destacou a importância da memória episódica e

a memória semântica, que marcam a memória de longo prazo. Tulving (1972) explica que a

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memória semântica e a episódica podem ser descritas como dois sistemas de

processamento de informações que recebem informações do sistema preceptivo ou

cognitivo; fazem a retenção de parte dessa informação, e, quando solicitados, transmitem

uma informação específica armazenada para outros sistemas, como o responsável por

traduzir isso em comportamento e conhecimento. As diferenças entre os dois tipos de

memória de longo prazo encontram-se na natureza da informação armazenada, referências

cognitivas e autobiográficas, condições e consequências da recuperação, vulnerabilidade a

alterações e esquecimento da informação, e a dependência entre uma e outra. A memória

episódica recebe e armazena informações sobre determinados fatos, eventos, e

referências autobiográficas sendo, portanto, suscetível a alterações e à perda de

informações. Já a memória semântica é necessária para a linguagem, sendo responsável

pela organização do conhecimento que uma pessoa possui sobre palavras e símbolos

verbais, seus significados e referências, suas relações, regras, fórmulas e algoritmos

(Tulving, 1972).

Os modelos explicativos foram, ao longo do tempo, sendo detalhados em termos

neurofisiológicos. Uma atividade neural coordenada no neocórtex está relacionada à

memória de curta duração: os neurônios relacionados à memória de trabalho de objetos

tendem a se localizar no córtex pré-frontal ventrolateral, e os relacionados ao

conhecimento espacial no córtex pré-frontal dorsolateral. Já o armazenamento fonológico

depende dos córtices parietais posteriores e processos articuladores da área de Broca

(Schacter & Wagner, 2014).

A memória de longo prazo depende da atividade do hipocampo e outras estruturas.

Um passo importante tinha sido dado com a verificação do papel do hipocampo na

formação da memória: desde o estudo do caso H.M., já se sabia que essa estrutura

desempenhava um papel importante na formação da memória. Aprofundando esse tema,

em um estudo com ratos, macacos e humanos, Squirre (1992) demonstrou que a formação

hipocampal é importante especialmente para alguns tipos de memória, mas não todos. Por

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exemplo, um paciente com lesão no lobo occipital direito não apresentava priming visual; e,

em um estudo envolvendo leitura, se verificou atividade no córtex parietal e temporal

inferior esquerdo. Para a memória de fatos e eventos da vida, há atividade no lobo

temporal medial: no hipocampo para o armazenamento de longo prazo, na amígdala para

memória espacial e de contexto, e no córtex perririnal, reconhecimento (Schacter, &

Wagner, 2014).

2.2 Memória de longo prazo

A memória de longo prazo (ou longa duração) é a capacidade de armazenar

informações por longos períodos de tempo. Esses períodos podem variar de dias a

décadas. Porém, alguns estudos consideram que uma lembrança de alguns minutos pode

utilizar o mesmo sistema de processamento, sendo, então, também, considerada por

pesquisadores como de longo prazo (Baddeley, Anderson & Eysenck, 2011).

A codificação é o processo inicial, no qual as informações são adquiridas. Tanto

maior a motivação, maior a codificação, isto é, a intensidade dessa fase determina quão

preciso o que foi aprendido será lembrado. É uma atividade do lobo temporal medial e,

quanto mais profunda (quando se tem atenção, análise), maior a atividade dessa região.

Nesse processo, quando há codificação profunda, a atividade do córtex pré-frontal,

também, é aumentada, sugerindo que a formação do conhecimento episódico ocorre na

interação do lobo temporal medial onde estão os mecanismos de enlaçamento associativo,

e no córtex pré-frontal com os processos de controle cognitivo (Schacter & Wagner, 2014).

Da mesma forma que a codificação ocorre, a evocação ativa as áreas do córtex pré-

frontal e lobo temporal medial, porém, em casos de lesões e interrupções, outras vias de

acesso podem atuar, como era o caso do paciente H.M anteriormente citado. Codificação e

evocação podem estar relacionadas a estímulos sensoriais (visual, verbal, tátil) e as

informações são processadas de maneira diferente. A lembrança visual de um objeto

consiste em uma atividade do córtex inferotemporal para resgatar suas características e do

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córtex parietal para as informações da localização espacial e relação com outros objetos

(Schacter & Wagner, 2014).

2.2.1 Memória declarativa e não declarativa

Um modelo para explicar a memória de longo prazo é a divisão entre memória

declarativa ou explícita e não declarativa ou implícita (Figura 2). A memória não declarativa

reflete situações em que ocorreu um aprendizado, aparecendo no desempenho de uma

tarefa, e não como uma lembrança evidente (Baddeley, Anderson & Eysenck, 2011;

Squire & Knowlton, 1995). Ela manifesta-se de forma automática (expressada em

comportamentos e não lembranças), sem ou com pouco processamento consciente por

parte do indivíduo. Os estudos com pessoas amnésicas sugerem que não depende das

estruturas do lobo temporal medial (Schacter & Wagner, 2014).

Figura 2 - Esquema taxonômico da memória de longa

Fonte: Squire, L. R. (1992). Tradução livre.

A memória declarativa armazena representações flexíveis, acessíveis à

consciência, e direciona o comportamento em diversos contextos. Ela representa um

modelo do mundo externo para cada indivíduo, e depende do hipocampo e estruturas

relacionadas. Sabe-se, também, que o armazenamento não possui um local único para

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essas memórias, ao contrário, itens cognitivos estão distribuídos em diversas regiões

corticais e podem ser acessados de forma independente. Sendo responsável por

informações de eventos e fatos sobre a vida e o mundo, esse sistema de memória tem

uma subdivisão proposta por Endel Tulving: memória episódica e semântica.

A memória episódica permite a um indivíduo acessar memórias específicas,

localizadas em pontos particulares do tempo, como quando viu o mar pela última vez, ou

onde estava ontem à noite; são experiências únicas que ocorrem na vida cotidiana

(Baddeley, Anderson & Eysenck, 2011; Dickerson & Eichenbaum, 2010). ao detalharem o

modelo de memória episódica, ressaltam que evidências nas diferenças anatômicas

condizem com distintas funções da formação da memória. O córtex perihrinal e córtex

entorhinal lateral são fundamentais para reconhecimento de um objeto, e o córtex

parahipocampal e o entorrinal medial processam o contexto espacial. A capacidade de

lembrar onde, o que e quando depende do hipocampo.

A memória episódica possui diferentes processos para recuperação: a evocação,

que é um processo controlado, e o reconhecimento (recognition), que é um processo

automático, sendo este, anatômica e funcionalmente, subdividido em lembrança

(recollection) e familiaridade (familiarity). Yonelinas (2001) descreve que o principal motivo

para essa separação refere-se ao fato de que o processo de recuperar informações,

relativas ao tempo e local em que o evento ocorreu, desencadeia um mecanismo diferente

de quando essas informações não são recuperadas. Ambos os processos fazem

contribuições independentes para o reconhecimento, mas a lembrança de informações

qualitativas do evento estudado direciona a uma resposta de reconhecimento relativamente

melhor, isto é, acertar uma resposta baseada na familiaridade implica mais erros devido à

sobreposição da familiaridade entre o antigo e novo estímulo.

A memória autobiográfica, frequentemente, é considerada um tipo de memória

episódica, pois se constitui de memórias particulares de um indivíduo, acumuladas ao

longo da vida, que permite a construção de identidade de continuidade. Ao estudar o

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paciente F.F., que apresentou uma amnésia episódica retrograda após ser encontrado

caído em seu escritório, os pesquisadores perceberam que o fato ocorreu em um ambiente

de muito estresse. Ele era capaz de memorizar os eventos posteriores à hospitalização, e

sua memória foi sendo recuperada cronologicamente, geralmente por meio de um gatilho,

que trazia memórias de um evento, e desencadeava outras memórias correlacionadas, até

que, após nove meses, recuperou toda sua memória. O estudo desse paciente demonstrou

que a recuperação de uma memória autobiográfica demanda três elementos: um senso de

tempo subjetivo, a habilidade de perceber esse tempo subjetivo e um “eu” que pode viajar

nesse tempo subjetivo (Antérion, Mazzola, & Laurent, 2008).

A memória semântica armazena um conhecimento geral, vocabulário, fatos e

imagens, entre outras informações, que formam um saber organizado, que não necessita

de evocação consciente do passado. Pode haver uma transição da memória episódica

para semântica com a repetição de eventos similares durante um período de tempo, mas

também é acumulada por meio da organização de um conhecimento de palavras,

símbolos, significados, relações, regras, fórmulas e algoritmos. Estudos com pacientes com

amnésia demonstram que o comprometimento na memória semântica era menor que na

memória episódica, evidenciando dois tipos de memórias distintos em seu funcionamento:

sendo o conhecimento semântico distribuído no neocórtex, lobo temporal lateral e ventral

(Baddeley, Anderson & Eysenck, 2011, Schacter & Wagner, 2014; Squire & Wixted, 2011).

Em relação à divisão da memória de longo prazo em declarativa e não declarativa,

Cabeza e Moscovitch (2013) relatam que, embora o córtex prefrontal esteja associado com

a memória declarativa e o lobo temporal medial associado com memória episódica, são

regiões que podem ser ativadas em atividades de memória implícita. Por outro lado, o

gânglio basal, que havia sido atribuído para aprendizado de habilidades, também,

apresentou ativação na memória episódica. Assim, há discussões sobre outros modelos de

memória de longo prazo.

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2.2.2 Modelo baseado no processamento

Henke (2010) propõem a classificação da memória conforme a forma de

processamento e questiona a distinção dos tipos de memórias baseadas na consciência

(declarativa ou explícita) ou não consciência da codificação ou recuperação (não

declarativa ou implícita).

O modelo proposto por Henke (2010) apresenta uma nova organização para os

tipos de memória, distinguindo três formas de processamento: rápida codificação de

associações flexíveis, lenta codificação de associações rígidas e rápida codificação de

itens unitários (Figura 3). Conforme os próprios nomes indicam, a diferenciação ocorre se a

codificação é lenta ou rápida, flexível ou rígida, associações ou itens únicos.

Figura 3 - Modelo de memória baseado em processamento

Fonte: Henke, K. (2010). Adaptação e tradução livre.

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A rápida codificação de associações flexíveis é um processo de codificação com

uma única tentativa, que permite a formação de representação de eventos e representação

espacial da memória episódica, e ocorre no hipocampo e neocórtex. A rápida codificação

de itens unitários é um processo de, apenas, uma exposição a um determinado item, sendo

uma memória automática, de reação rápida, como o priming e familiaridade, que ocorre no

giro hipocampal e neocórtex.

A lenta codificação de associações rígidas necessita de múltiplas tentativas de

aprendizado e resulta em memória de procedimento, formação de hábitos, aprendizado,

condicionamento clássico e novas representações da memória semântica, e é processada

com atividades do gânglio basal, cerebelo, giro parahipocampal e neocórtex. O

conhecimento semântico pode ocorrer por duas vias: por meio da memória episódica

formada, ou sem o uso do hipocampo, por meio de repetições. Ambos os processos

necessitam de múltiplos ciclos de codificação e consolidação. Embora o hipocampo não

seja obrigatório nesse tipo de memória, pode ser utilizado para aumentar a eficácia e

velocidade do processo de aprendizado, auxiliando condicionamentos envolvendo ligação

contexto temporal.

2.3 Memória visual de longo prazo

O processo de formação da MVLP demonstra que, apesar de haver uma

integração na composição de elementos ao quais são expostos, os indivíduos armazenam,

separadamente, as informações sobre cenários, ações e objetos que veem. Ao

pesquisarem esse aspecto, Urgolites e Wood (2013) demonstraram que a lembrança da

cena ou ação isolada apresentou resultado similar às pesquisas anteriores, mas a

lembrança de qual ação estava integrada a que cenário caiu 30% em relação ao resultado

dos itens isolados.

Diferenças na capacidade de retenção da MVLP entre indivíduos estão

correlacionadas com a capacidade cognitiva geral da pessoa. Assim, estudos mostram que

Page 24: FIDELIDADE NA MEMÓRIA VISUAL DE LONGO PRAZO: ESTUDO ...

24

a capacidade de MVLP se diferencia entre indivíduos e grupos. Algumas diferenças

aparecem na capacidade de armazenamento e outras na capacidade de usar a memória

efetivamente (Luck & Vogel, 2013). Alguns autores afirmam que, para a formação da

memória visual, é fundamental a atenção visual, havendo uma sobreposição e interação

desses dois sistemas, podendo mesmo ser considerado um único sistema, porém, há

evidências que são sistemas que operam separadamente: ambos são seletivos, flexíveis,

complexos, e possuem diversas representações, não sendo necessária forte atenção em

algo para manutenção da memória operacional visual (Andrew Hollingworth & Hwang,

2013; Andrew Hollingworth & Maxcey-Richard, 2013).

Com todas essas estruturas e formações, o cérebro humano pode armazenar um

grande número de objetos, eventos, palavras e imagens, frequentemente com apenas uma

exposição a esses itens. Standing (1973) afirma que a memória armazena tanto

informações abstratas como estímulos concretos. O autor afirma que a memória abstrata é

limitada a uma quantidade de estímulos que, ao longo da vida, adquiriu um nível simbólico

para a pessoa, mas que estímulos concretos, como objetos, cenas e sons, podem alcançar

um volume muito grande de memória armazenada. Em um experimento com 10.000

imagens, demonstrou que as pessoas podem lembrar-se de milhares de imagens mesmo

após dois dias por meio da evocação.

Apesar de diversos estudos demonstrarem que uma pessoa pode lembrar-se de

milhares de imagens, existem questões em relação à fidedignidade com que as imagens

são armazenadas. Konkle, Brady, Alvarez, & Oliva (2010) demonstraram que, em relação à

memória de cenas complexas (com diversos itens e detalhes), as pessoas conseguem

reter informações relativamente detalhada de objetos presentes na cena e que há uma

influência da categoria do objeto apresentado nos índices de retenção: quando mais

distinto o objeto mais fácil a memorização.

Na mesma linha de estudo, Brady et al (2008) apresentaram 2500 objetos para

participantes de uma pesquisa, que, posteriormente, deveriam fazer uma escolha forçada

Page 25: FIDELIDADE NA MEMÓRIA VISUAL DE LONGO PRAZO: ESTUDO ...

25

entre dois objetos, um já visto e outro não. O objeto não visto estava dividido em três

categorias: um objeto completamente diferente de outra classe estímulo apresentado, um

objeto diferente da mesma classe, e o mesmo objeto em um diferente ângulo ou

disposição. Os participantes lembraram-se de 92%, 88% e 87% dos objetos

respectivamente às categorias acima mencionadas, demonstrando que os participantes

foram capazes de armazenar uma representação detalhada de milhares de imagens.

Hollingworth & Henderson (2002) também, realizaram pesquisas mostrando que,

após visualizar objetos em um cenário, a evocação era detalhada, com distinção entre

objetos de mesma categoria e diferentes ângulos do mesmo objeto, mesmo após um

intervalo de 24 horas entre a visualização das imagens e reconhecimento.

Diversos estudos já mostraram que a MVLP pode reter uma grande quantidade de

itens e seus detalhes, apresentando evidências ao menos em condições experimentais. Os

participantes foram capazes de recordar uma quantidade grande de itens, lembrando-se

dos detalhes vistos, extrapolando a memória semântica e utilizando ambas as memórias

episódica e semântica.

As maiores críticas em relação às pesquisas que afirmam que um indivíduo tem

capacidade de manter alta fidelidade na MVLP são duas: primeiro em relação aos

estímulos, que muitas vezes são semanticamente ou visualmente distintos, o que se tem

buscado minimizar ou evitar nos estudos mais recentes. Em adição estão os estudos sobre

“change blindness”, que demonstram que, quando uma parte de uma figura muda, ou

mesmo grandes mudanças em um cenário, frequentemente passam despercebidas se há

distrações. Esse fato, também, ocorre quando há uma demanda limitada sobre o que se

deve prestar atenção (Brady, Konkle, & Alvarez, 2011). Ambas as críticas levantam

hipóteses sobre a diferença do desempenho em situações reais e experimentais, podendo

ocorrer diferentes entre a grande capacidade de fidelidade na MVLP em laboratório e no

dia a dia.

Page 26: FIDELIDADE NA MEMÓRIA VISUAL DE LONGO PRAZO: ESTUDO ...

26

Konkle et al (2010b) afirmam que a capacidade de reter informações detalhadas

depende da existência de um conhecimento semântico prévio sobre os itens: quanto mais

os participantes sabem sobre o estímulo apresentado, maior será a capacidade de

recordar. Brady, Konkle, Oliva, e Alvarez (2009) sugerem que a MVLP tem sua capacidade

relacionada com o conteúdo observado e o número de itens; e a fidelidade com que esses

itens são lembrados dependem do que está sendo lembrado: se o conteúdo for de 10.000

imagens significativas para o observador, o resultado do teste poderá ser próximo de 100%

de recordação. Mas se houver 10.000 da mesma categoria semântica, o percentual de

itens lembrados será baixo. Assim, afirmam que capacidade da MVLP não pode ser

medida, apenas, na quantidade de itens lembrados ou na fidelidade, e sim em quantas

características podem ser levantadas no processo de codificação e evocação de um

episódio.

A MVLP deve ser diferenciada do conceito de reconhecimento visual. A MVLP é a

capacidade de lembrar uma imagem previamente vista, mas que não se manteve

continuamente ativa na mente, isto é, é o armazenamento e consequentemente evocação

de um conhecimento. Ela difere da capacidade de perceber e reconhecer objetos, que

envolve a formação da memória semântica. Por exemplo, o conhecimento sobre as

características de uma maça permite que outras maças sejam reconhecidas como tal

quando observadas. Já a memória objeto do presente estudo será a capacidade de

reconhecer se uma especifica maça já foi vista anteriormente (Brady et al., 2011).

2.4 Memória em jovens adultos e idosos

Além da complexidade dos sistemas neuropsicológicos gerarem variações na

capacidade de memória dos indivíduos, os processos cognitivos sofrem mudanças com o

envelhecimento. A maioria dos estudos com idosos demonstra uma diminuição da

velocidade de processamento cognitivo, com consequente impacto em diversas funções,

como memória, atenção e linguagem (Mattos & Paixão, 2010).

Page 27: FIDELIDADE NA MEMÓRIA VISUAL DE LONGO PRAZO: ESTUDO ...

27

A percepção dos idosos sobre o declínio da memória tem apresentado correção

com a avaliação e diagnóstico objetivo, porém essa percepção pode estar associada com

ansiedade e depressão e não com declínio patológico da memória (Bourscheid, Mothes, &

Irigaray, 2016). Apesar de muitos idosos sentirem que possuem dificuldades de memória

em comparação com os seus anos de juventude, nem todos os tipos de memória são

afetadas pelo envelhecimento. A que apresenta maior declínio com a idade é a memória

episódica, seguida pela memória de trabalho. Esses declínios estão relacionados com

alterações na estrutura, função e neuroquímica cerebral, e, quando são muito acentuados,

podem ser indicativos de alguma patologia, como uma demência (Nyberg, Lovden, Riklund,

Lindenberger, & Backman, 2012). A memória explicita pode ser considerada um indicador

de percepção de qualidade de vida, quando medida pela relação de recursos sociais,

humor e nível de satisfação (De León, Lévy, Fernández, & Ballesteros, 2015).

Estudos longitudinais demonstraram que, geralmente, há um declínio da memória

episódica e de trabalho nos idosos, alguns resultados são muito heterogêneos, resultando

em evidências que há muitas diferenças no desempenho da memória durante o

envelhecimento, mas que existem indivíduos com muito pouco ou nenhum declínio. No

caso de um envelhecimento cognitivamente bem-sucedido, acredita-se que mecanismos

de reserva cerebral e reserva cognitiva são os responsáveis por esse processo, sendo o

primeiro relacionado às diferenças individuais no próprio cérebro, e o segundo, à forma

como cada pessoa processa as tarefas (Nyberg et al., 2012). Jost, Bryck, Vogel e Mayr

(2011) em uma pesquisa utilizando eletroencefalograma, mostraram que a eficiência na

MVLP dos idosos em comparação com jovens adultos apresentou escores menores no

início do teste, concluindo que, uma das diferenças entre os grupos, é que os idosos

apresentam mais dificuldades em filtrar informações relevantes.

Como o envelhecimento apresenta várias alterações de funções neurológicas, é

importante isolar cada item eliminando as interferências. Ao testar a memória visual, muitas

vezes outras funções são demandadas podendo interferir na resposta buscada. Na

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28

avaliação da memória visual com testes como o Teste de Figuras Complexas de Rey, por

exemplo, há, também, uma avaliação da praxia construtiva (capacidade de unir partes ou

estímulos organizadamente para que formem uma unidade) na reprodução das figuras, o

que pode interferir na avaliação da memória visual. Assim, o uso de figuras abstratas busca

eliminar a influência da memória verbal, mas pode ter a interferência de déficits em outras

funções. Os testes de reconhecimento (facial, de objetos) são importantes para testar a

memória visual quando há diminuição de alguma outra função neurológica. Devido a

resultados consistentes, a maioria dos mais novos testes desenvolvidos apresentam

componentes de reconhecimento (Lezak, Howieson & Loring, 2004).

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29

3 OBJETIVOS

3.1 Objetivo geral

Analisar a fidelidade da memória visual de longo prazo de objetos reais entre idosos

e jovens adultos.

3.2 Objetivos específicos

Validar o reconhecimento das figuras utilizadas no teste.

Avaliar a fidelidade na retenção da memória visual de longo prazo nos dois grupos.

Analisar se as categorias de objetos apresentados influenciam a capacidade de

retenção e recuperação da memória.

Analisar se os dados demonstram alta capacidade de retenção visual.

Correlacionar os dados encontrados no grupo de idosos e no grupo de jovens

adultos.

Comparar os resultados com outras pesquisas sobre o tema.

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30

4 MÉTODO

A presente pesquisa segue o padrão de vários estudos internacionais nos quais os

participantes visualizam uma grande quantidade de estímulos e, posteriormente, devem

indicar quais visualizaram anteriormente em uma escolha forçada entre dois estímulos. É

um experimento comparativo — entre dois grupos de faixas etárias — de reconhecimento

de MVLP, para objetos conhecidos. Esse estudo enfocou o conhecimento episódico,

porém, em situações em que o conhecimento semântico já existe. O projeto foi aprovado

pelo Comitê de Ética da UFPR e o parecer encontra-se no Anexo I. Todos os participantes

assinaram o TCLE conforme modelo do Anexo II.

4.1 Participantes

Os testes foram aplicados em 66 voluntários divididos em dois grupos em relação à

idade, sendo um grupo de idosos entre 55 e 75 anos, e um grupo de adultos entre 20 e 40

anos. Para a análise e validação dos estímulos, participaram 20 pessoas, sem definição de

idade ou sexo. O critério para definição das amostras foi conveniência, buscando obter

participantes nos dois grupos com escolaridade e classe social semelhantes.

Os participantes declararam não apresentar comprometimento visual. Foi aplicado o

MEEM (Mini Exame do Estado Mental) nos idosos, para excluir participantes com

comprometimento cognitivo grave.

4.2 Instrumentos

4.2.1 Questionário de características socioeconômicas

Questionário descrevendo idade, sexo, escolaridade, renda, estado civil, uso de

medicamentos, doenças pré-existentes, para análise das características dos participantes e

análise dos resultados (Anexo III). O questionário foi produzido, especificamente, para

coleta de informações básicas desta pesquisa.

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31

4.2.2 Mini Exame do Estado Mental

Para triagem dos participantes idosos, foi utilizado o MEEM (Anexo IV), um

questionário cujo objetivo é rastrear perdas cognitivas por meio de algumas perguntas e

atividades. O instrumento é composto por atividades de orientação temporal e espacial,

motora, memória imediata, atenção, cálculo, evocação e linguagem. Cada atividade tem

uma pontuação, totalizando 30 pontos (Folstein, Folstein & McHugh, 1975; Ministério da

Saúde, 2006). O ponto de corte utilizado foi o sugerido por Brucki, Nitrini, Caramelli,

Bertolucci e Okamoto (2003): 28 pontos para idosos com 9 a 11 anos de estudo, e 29

pontos para idosos com mais de 11 anos de estudo.

4.2.3 Teste de Memória Visual de Longo Prazo (TMV-LP)

Para avaliação da MVLP, foram utilizadas como estímulos fotos de objetos do

cotidiano de uma pessoa, podendo ser exemplares antigos ou modernos. Os objetos foram

divididos em quatro grandes grupos (dia a dia, objetos antigos, natureza, alimentos), com

categorias contendo um número variável de exemplares similares (objetos únicos, 2, 4, 8 e

16 da mesma categoria). A lista completa de estímulos encontra-se no Anexo V.

Após a visualização das figuras, os participantes escolheram, entre duas imagens,

qual foi visualizada anteriormente. Por exemplo, os participantes visualizaram 16 maças,

isoladamente, por três segundos cada uma e, posteriormente, fizeram a escolha entre duas

maças, uma vista anteriormente e outra não (Figura 4).

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32

Figura 4 - Exemplos de estímulos e escolha forçada para reconhecimento

Fonte: fotos do Banco de dados BOSS e composição feita pela autora.

O teste foi dividido em duas partes: em cada uma das partes, compostas por 256

imagens, e entre as 512 imagens, 96 foram comparadas com objetos distintos na fase de

reconhecimento. Os estímulos estavam em ordem aleatória, e o objeto que deveria ser

reconhecido foi o primeiro de cada categoria a ser apresentado, no caso de haver 2, 4 8 ou

16 similares.

As fotos foram retiradas de diversos bancos de dados disponíveis na internet com

acesso gratuito, incluindo o BOSS (Anexo VI) e o banco de imagens disponibilizado pelo

Computational Perception & Cognition Department (http://cvcl.mit.edu/MM/), departamento

da universidade americana MIT (Massachutes Institute of Technology). Todos os estímulos

foram apresentados com fundo branco.

4.3 Procedimentos

4.3.1 Análise dos estímulos

A primeira etapa da pesquisa foi realizada para verificar o reconhecimento das

imagens. Por se tratar de bancos de imagens proposto por pesquisadores estrangeiros,

foram selecionadas imagens para todas as categorias do teste, e um exemplar de cada

objeto foi apresentado para um grupo de 20 participantes que responderam em um

gabarito se reconheciam e sabiam nomear o objeto. Apenas os objetos reconhecidos

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33

seriam utilizados como estímulos da pesquisa. Caso algum objeto não fosse reconhecido

por todos do grupo, a imagem seria descartada e seriam validados novos objetos até a

composição de todas as categorias.

4.3.2 Levantamento de dados sobre memória visual

Os participantes foram expostos a uma sequência de 512 imagens de objetos,

divididas em duas etapas de 256 imagens cada. Cada imagem foi mostrada por 3

segundos, com um intervalo de um segundo entre cada uma. Os participantes foram

instruídos a lembrar de todos os objetos, prestar atenção aos detalhes e que poderiam

existir objetos repetidos. Eles não sabiam o número de categorias, tampouco a quantidade

de estímulos em cada categoria.

Após a visualização de cada grupo com 256 imagens, os participantes tiveram um

intervalo de 10 minutos e iniciaram a etapa de reconhecimento, na qual visualizaram 48

páginas com dois objetos em cada uma: um estímulo já visto e outro não. Em todas as

páginas, eles escolheram, entre os dois objetos apresentados, qual estava presente na

primeira fase. Não houve um tempo determinado para os participantes completarem a

etapa de recuperação. Após a conclusão das respostas do primeiro grupo de 256 imagens,

iniciou-se a segunda etapa, com outro grupo de 256 imagens seguindo o mesmo processo.

4.4 Análise estatística

Os resultados foram coletados por meio do número de acertos no reconhecimento

das imagens. Os dados foram analisados de acordo com as variáveis idade, fase do teste,

número e categoria de estímulos. A análise estatística foi realizada com o software R,

versão 3.2.3, com auxílio do software RStudio. Foi realizada ANOVA, teste Tukey e o Teste

t, considerando α=0,05.

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34

5 RESULTADOS

5.1 Fase 1: análise de estímulos

A primeira fase foi a de reconhecimento dos estímulos, que certificaria que imagens

eram conhecidas dos participantes, pois foram retirados de banco de dados estrangeiros, e

tinham sido utilizados para pesquisas com participantes em sua maioria americanos. Nessa

fase, um exemplar de cada objeto foi apresentado para 20 participantes sem exclusão por

idade ou qualquer outra condição e ocorreu o reconhecimento de todas as imagens. A

Tabela 1 apresenta o perfil dos participantes da primeira fase.

Tabela 1 - Características dos participantes no reconhecimento das figuras

M ±(DP) LI LS Amplitude

Idade (anos) 41,3 (18,95) 21 78

57

Escolaridade (anos) 14,6 (2,80) 8 18

10

Sexo (%) (M /F) 45 55

M =Média; DP = Desvio padrão; LS: limite superior; LI: Limite Inferior

Fonte: Elaborada pela autora.

Não ocorreu exclusão de nenhum estímulo pré-selecionado para essa pesquisa.

Todos os objetos utilizados na pesquisa foram reconhecidos, sem necessidade de realizar

alguma reposição.

5.2 Fase 2: Teste de Memória Visual de Longo Prazo (TMV-LP)

O estudo foi realizado com 66 participantes divididos em dois grupos: 34 adultos,

entre 20 e 40 anos e 32 idosos com idades entre 55 e 75 anos. As principais características

da amostra estão resumidas na Tabela 2. Além de escolaridade média equivalente a

superior incompleto, todos os participantes foram classificados como pertencentes aos

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35

estratos socioeconômicos A e B1, segundo Critério de Classificação Econômica Brasil

(Critério Brasil), baseado na Pesquisa de Orçamento Familiar do IBGE (Anexo VII).

Tabela 2 - Características dos participantes da pesquisa

Adultos Idosos

M ± (DP) M ± (DP)

Idade (anos) 29,53

(4,86)

62,62

(7,10)

Escolaridade (anos) 15,88

(1,79)

13,2

(3,72)

Formação (%)

Mestrado/doutorado 8,8

-

Especialização 38,2

3,1

Superior completo 47,1

81,2

Superior incompleto 5,9

15,6

Sexo (%)

Feminino 52%

50% Masculino 48%

50%

Estado Civil (%)

Casado/União Estável 64,7

90,6 Solteiro 35,3

-

Viúvo -

9,4 Autoavaliação da saúde (%)

Muito boa 35,3

3,1

Boa 52,9

90,6

Razoável 11,8

6,2

Ruim -

-

Muito ruim -

-

Autoavaliação da memória (%)

Muito boa 5,9

9,4 Boa 29,4

75,0

Razoável 52,9

9,4 Ruim 2,9

6,2

Muito ruim 8,8

- Portador de condições específicas (%)

Doença psiquiátrica 5,9

12,5

Apresenta distúrbios de sono 8,8

40,6

Uso de medicamentos contínuos 11,8 90,6 Fonte: Elaborada pela autora.

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36

5.2.1 Desempenho geral dos grupos

Em relação aos resultados, os escores brutos são apresentados na Tabela 3. A

pontuação máxima em cada parte era de 48 acertos, totalizando 96 pontos no teste inteiro.

Ambas as partes do teste foram elaboradas para possuírem o mesmo grau de dificuldade,

pois o teste foi dividido apenas para permitir um intervalo de descanso devido ao longo

tempo de aplicação.

Tabela 3 - Desempenho dos participantes (escore bruto)

Adultos

Idosos

M ±(DP) M ±(DP) t(64) p-value

Parte A 39,06 (5,02)

34,28 (4,29) -4,16 0,0001

Parte B 41,62 (3,54)

36,44 (6,90) -3,80 0,0004

Total 40,33 (9,57) 35,36 (7,51) -5,49 0,0001

Fonte: Elaborada pela autora.

Em relação escore total dos grupos de adultos e idosos, o resultado demonstra que

há diferenças significativas entre os resultados, sendo a média no grupo de idosos de 73%

de acertos e no grupo de adultos de 84%. Em cada uma das partes a diferença dos grupos

também foi significativa. O box plot abaixo permite vizualizar esses resultados (Figura 5).

Também ocorreram diferencas entre os desempenhos da primeira e segunda parte

em cada teste no grupo de jovens (t(34)=-2,43; p=0,02), provavelmente devido ao processo

de aprndizado das regras.

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37

Figura 5 – Box plot do desempenho dos grupos

Fonte: Elaborada pela autora.

5.2.2 Desempenho conforme número de estímulos

Os dados coletados também foram analisados em relação ao desempenho

conforme o número de estímulos. A Figura 6 contém o número de acertos em relação ao

número de estímulos apresentados em cada categoria.

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Figura 6 - Desempenho conforme número de estímulos

Fonte: Elaborada pela autora.

Não apenas o declínio na lembrança dos estímulos, mas também se pode observar

que há diferença significativa entre o número de acertos de cada amostra, tendo o grupo

de adultos apresentado melhor desempenho, exceto com quatro estímulos, conforme

descrito na Tabela 4.

Tabela 4 - Comparação do entre os grupos conforme os estímulos

Fonte: Elaborada pela autora

Número de estímulos p

16 0,023

8 0,001

4 0,166

2 0,004

1 0,020

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39

O gráfico de interação permite visualizar o os resultados dos grupos (Figura 7).

Figura 7 - Desempenho conforme número de estímulos

Fonte: Elaborada pela autora

Pode-se perceber o declínio na capacidade de reconhecimento do objeto conforme

apareceram mais interferências de uma mesma categoria, o que foi comprovado pelo teste

Tukey (Tabela 5). Quando se compara as médias com os grupos próximos (por exemplo,

16 e 8 estímulos) não aparecem diferenças. Mas quando se compara com categorias

distantes (por exemplo, 16 e 1 ou 2 estímulos), as diferenças começam a aparecer

Tabela 5 - Comparação do número de estímulos

p

Número de estímulos Idosos Jovens Adultos

16 - 8 0,397 0,189

16 - 4 0,001 0,430

16 - 2 0,000 0,000

16 - 1 0,000 0,000

8 - 4 0,201 0,997 8 - 2 0,020 0,389

8 - 1 0,005 0,003

4 - 2 0,948 0,164

4 - 1 0,762 0,001 1 - 2 0,998 0,472

Fonte: Elaborada pela autora.

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40

Como a categoria dos objetos pode gerar diferentes resultados, a hipótese

levantada para não ocorrer diferenças significativas com 4 objetos, pode ter sido a escolha

dos estímulos, que ao gerar mais interesse no grupo de idosos que no de jovens adultos,

igualou suas médias no desempenho.

5.2.3 Desempenho conforme categoria

O box plot abaixo (Figura 8) apresenta os dados conforme a categoria,

demonstrando a presença de outliers em algumas categorias, especialmente na categoria

alimentos.

Figura 8 - Desempenho dos grupos por categoria de estímulos

Fonte: Elaborada pela autora.

Para avaliar se a variabilidade entre as categorias é significativa foi realizada a

análise de variância com dois fatores: escores por idade e categoria. Um gráfico de

interação (Figura 9) foi feito para avaliar que não ocorreram interações entre as varáveis. O

resultado demonstrou que o número de acertos em cada categoria teve variação, podendo

afirmar que na análise tanto a variável grupo (idosos/jovens adultos) como a categoria dos

objetos apresentados exercem influência significativa sobre o número de acertos.

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41

Figura 9 – Gráfico de interação

Fonte: Elaborada pela autora.

O resultado da análise de variância (Tabela 6) indica que ocorram diferenças no

desempenho conforme as categorias, e a na comparação das médias com o método Tukey

apenas as seguintes relações de categorias não apresentaram variações significativas:

natureza/distinta, objetos antigos/natureza, alimentos/objetos antigos e dia a dia/objeto

antigo.

Tabela 6 - ANOVA

Df Sum Sq Mean Sq F value P

Fator (Categoria) 4 312.59 78.15 14.543 0,0001

Fator (Grupo) 1 326.91 326.91 60.839 0,0000

Resíduo 324 1740.99 5.37 Fonte: Elaborada pela autora.

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6 DISCUSSÃO

O objetivo do trabalho foi analisar as diferenças na fidelidade da MVLP entre grupos

de jovens adultos e idosos. O resultado demonstrou que há uma diminuição na capacidade

de reconhecimento, não apenas em relação à idade, mas dentro de cada grupo quando se

aumentava o número de estímulos com o mesmo objeto e que a categoria influencia na

capacidade da memória. . Assim cada hipótese e os resultados foram divididos em sessões

para discussão.

A primeira fase da pesquisa foi importante para certificar que não seria necessário o

reconhecimento do objeto para posterior memorização, pois esse processo poderia

interferir nos resultados ao acrescentar outros processos na retenção do estímulo visual.

Christie e Klein (1995) evidenciaram interferência em relação à atenção quando uma

informação da memória de longo prazo era apresentada novamente, sendo a atenção mais

atraída para o objeto conhecido que um item não familiar. Com esse processo, pode-se

considerar que a pesquisa avaliaria a memória que Henke (2010) chamou de codificação

rápida de itens unitários, pois trabalharia com a familiaridade. Se considerasse a

classificação clássica, o conceito estaria em uma memória declarativa, porém sem total

enquadramento nos conceito de memória episódica ou semântica.

6.1 O envelhecimento influencia na capacidade de memória

Em relação à aplicação do TMV-LP, o achado mais importante foi do desempenho

geral, representado pelo escore total. Estudos em neuropsicologia e disciplinas correlatas

sustentam o resultado encontrado: que o envelhecimento traz uma perda natural de

memória, mesmo não existindo sinais de demência. Em uma revisão sobre o tema, Craik &

Rose (2012) ressaltam que os diferentes sistemas envolvidos na formação de cada tipo de

memória influenciam, de forma distinta, no envelhecimento: a memória de trabalho e a

episódica são as que apresentam maiores perdas, enquanto a de procedimento e a

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43

semântica apresentam poucas alterações quando são acessadas e utilizadas

regularmente.

As explicações para o declínio da memória, em relação ao avanço da idade, estão

relacionadas a fatores como alterações na neurofisiologia, processos cognitivos, e

interferência de outros mecanismos como a atenção. Pesquisas em neurofisiologia

descrevem que, entre as alterações em estruturas e funções cerebrais relacionadas à

idade, estão a diminuição do volume do hipocampo e córtex frontal, alterações na

substância branca e redução da produção e receptores de dopamina. Esses três fatores

estão fortemente relacionados ao processo de formação da memória (Craik & Rose, 2012).

Pesquisas observaram a correlação entre os efeitos cognitivos do envelhecimento

com a velocidade de processamento. Park et al (1996) e Salthouse (1996) afirmaram que a

velocidade de processamento é um ponto importante na variação do desempenho em

tarefas cognitivas conforme ocorre o envelhecimento. Medida por meio da velocidade de

percepção, a velocidade de processamento influencia em atividades como memória de

trabalho e longo prazo, conhecimento, precisão, e tomada de decisão.

Squire e Knowlton (1995) destacam que o hipocampo, crucial para a formação da

memória, perde de 20 a 30% dos seus neurônios por volta dos 80 anos. As pesquisas que

investigam a relação da idade com a perda dos receptores dopaminérgicos sugerem que a

diminuição desses receptores reduz a capacidade do cérebro de modelar novos estímulos

em seus contextos específicos, resultando, assim, em representações corticais menos

distintas do evento (Craik & Rose, 2012).

O declínio na memória relacionado com a idade também está relacionado com a

redução da atividade do lobo frontal, importante na etapa de codificação. Sendo o córtex

pré-frontal a região do cérebro mais afetada pelo envelhecimento, sua alteração pode se

refletir em declínio cognitivo, e atividades correlatas (Cabeza, 2002). Alguns estudos

apontam a que as falhas dos idosos no reconhecimento estão associadas com mais

atividades em áreas cerebrais que processam estímulos irrelevantes durante a codificação,

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44

e que a atividade cerebral envolvida depende do tipo de memória acessada. (Grady, St-

Laurent, & Burianová, 2015).

Em um estudo sobre a relação da dopamina e memória, Abdulrahman, Fletcher,

Bullmore e Morcom (2017) evidenciaram que a memória nos idosos é impactada pela

atividade do hipocampo e córtex pré-frontal, e observaram que há uma correlação da

função dopaminérgica com a codificação da memória. O estudo encontrou evidências de

que a manipulação farmacológica nos voluntários aumentou a especificidade da função

hipocampal.

6.2 A memória visual possui grande capacidade de retenção

Em relação ao processo de memória quando utilizados materiais verbais (lista de

palavras, por exemplo) e não verbais (figuras), há diferenças, sendo este o que apresenta

menor declínio. Uma possível explicação para esse fato refere-se ao processo de

codificação: quanto mais relevante o estímulo, maior significado o para a pessoa. Fotos de

objetos e cenas teriam esse impacto positivo em qualquer faixa etária (Craik & Rose,

2012). Como a presente pesquisa utilizou figuras, justificam-se os percentuais altos de

recordação em ambos os grupos atingindo 91% nos adultos e 82% nos idosos quando

apresentado um estímulo apenas. Apesar das diferenças nos resultados entre os dois

grupos, o percentual de acertos de cada grupo é alto, demonstrando que há uma grande

capacidade de retenção e recuperação da MVLP. Esses achados corroboram a pesquisa

de Brady et al (2008) que avaliou a MVLP utilizando 2500 objetos: os participantes

reconheceram 88% dos objetos se a escolha forçada entre dois estímulos fosse com

objetos da mesma categoria, e 87% se a escolha fosse entre dois objetos com ângulo ou

uma característica diferente.

Page 45: FIDELIDADE NA MEMÓRIA VISUAL DE LONGO PRAZO: ESTUDO ...

45

6.3 A categoria e frequência do objeto apresentado, também, interfere para diferentes resultados

Quando se analisa o declínio do desempenho nos dois grupos, conforme o número

de estímulos visuais similares aumenta, os resultados são condizentes com a pesquisa de

Konkle, Brady, Alvarez e Oliva (2010a), que aplicou procedimentos similares com um

número significativo de participantes: 10.000 voluntários. Uma possível explicação está no

fato de que experiências semelhantes influenciam no processo de codificação da memória.

Segundo Hutchinson, Pak e Turk-Browne (2015) atenuação de repetição (repetition

attenuation) pode refletir em um processamento facilitado de estímulos repetidos,

disponibilizando mais recursos atencionais para o processamento de novos estímulos.

Apesar de ressaltar que não é um princípio universal, a maior atividade cerebral na

codificação de novos itens pode ser um indicador de melhora nesse processo. Assim, os

dados encontrados nessa pesquisa podem ter estimulado diferentes formas de

processamento quando apenas um item da categoria era apresentado ou 16 itens similares

deveriam ser memorizados. Konkle et al. (2010a) ao desenvolverem a pesquisa com os o

aumento de estímulos da mesma categoria, verificaram evidências que o aumento do

número de exemplares eleva a interferência retroativa, sugerindo que informações

conceituais são importantes para a MVLP.

Antonelli e Williams (2017) realizaram um experimento para avaliar o quanto

informações conceituais, perceptuais e contextuais são relevantes para a formação da

MVLP. Mesmo considerando que a tarefa é um fator crítico na organização da MVLP,

quando não há uma instrução direcionando para uma tarefa a categoria conceitual pode

ser uma estratégia de organização da informação. Xie e Zhang (2017), em um estudo para

investigar o impacto das emoções na recuperação da MVLP, concluíram que emoções

negativas durante a codificação melhoram a capacidade qualitativa de recuperação. Assim,

as diferenças nos escores de ambos os grupos em relação a cada categoria de objetos

podem ser explicadas na estrutura categórica conceitual utilizada pela MVLP, e emoções

despertadas no momento da visualização.

Page 46: FIDELIDADE NA MEMÓRIA VISUAL DE LONGO PRAZO: ESTUDO ...

46

Quando se analisa o declínio da memória conforme a idade, existem estudos que

questionam algumas metodologias. Nyberg et al. (2012) discutem que algumas pesquisas,

que mostram um declínio conforme a idade, não discutem a variação que pode existir de

indivíduo para indivíduo, que pode ser muito grande com o avanço da idade e, também,

sobre as formas compensatórias de manutenção da memória.

Pesquisas com neuroimagem sobre processos compensatórios demonstram que

ocorre mais atividade (over-recruitment) na substância branca em idosos que em jovens:

enquanto o número de fibras aferentes é menor, sua atividade sináptica é maior. Segundo

Daselaar et al (2015) o funcionamento desse processo de compensação, ainda, é pouco

conhecido, mas há correlação negativa entre substância branca no lobo temporal medial e

execução de atividades de memória, corroborando a teoria de que a atividade intensa é

uma forma compensatória à diminuição da massa branca (less wiring, more firing).

O estudo de Gutchess et al. (2005) também avaliou estratégias compensatórias na

atividade cerebral. Os pesquisadores comparam a memória de cenas entre um grupo de

adultos e outro de idosos. Ambos os grupos apresentaram números equivalentes de itens

lembrados e esquecidos. As imagens por ressonância magnética mostraram que os dois

grupos ativaram regiões similares no lobo occipital, mas os idosos apresentaram maior

ativação no córtex frontal medial, e menor no parahipocampo que os adultos. Com esses

resultados, concluiu-se que as regiões prefrontais estavam realizando uma função

compensatória para o declínio das atividades no medial temporal.

Segundo Ellmore, Feng, Ng, Dewan e Root (2016), ainda não há total compreensão

a respeito de como vários outros fatores cognitivos influenciam a transformação de novas

experiências em MVLP. Em seu estudo, que investigou a influência da atenção e contexto

na consolidação dessa memória, foram aplicados testes de memória em três grupos: um

realizou um teste de atenção no intervalo entre a apresentação e reconhecimento das

figuras, outro grupo permaneceu na sala sem nenhuma atividade, e o terceiro grupo saiu

da sala para passear. No reconhecimento após 30 minutos, o desempenho dos 3 grupos

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47

foi similar, porém, no reconhecimento após 24 horas, o grupo que permaneceu na sala sem

atividade teve melhor desempenho. Apesar da amostra ser pequena, a pesquisa concluiu

que a mudança de contexto, que pode oferecer novos estímulos, e alteração da atenção

após apresentação de um estímulo, influencia na consolidação da memória.

O presente estudo não avaliou o impacto de outros fatores no desempenho do

TMV-LP. Ellmore, Feng, Ng, Dewan e Root (2016) demonstraram que fatores como

atenção ou diferentes contextos constituem variáveis que justificam a diferença no

desempenho entre os dois grupos.

As principais limitações encontradas na presente pesquisa foram: o tamanho da

amostra; especificidade da amostra; e comparação de dados entre distintos grupos. A

amostra foi feita por conveniência e coletou os dados de indivíduos que responderam a

proposta. Assim, o pequeno número de participantes pode diminuir a possibilidade de

generalização dos resultados. Por ser uma amostra reduzida, buscou-se manter padrões

similares de escolaridade e classe social entre os voluntários, o que impossibilita

estratificação dos resultados para maiores análises. Também se deve considerar que os

estudos mais abrangentes sobre declínio de memória em idosos são as pesquisas

longitudinais, pois não é possível mensurar a influência dos diferentes ambientes em que

cada geração teve seu aprendizado, como o impacto da difusão dos meios de

comunicação e facilidades tecnológicas. Em contrapartida, o TMV-LP possui importância

em eliminar a influência verbal na mensuração da MVLP; e também por utilizar um modelo

de imagens e respostas concretas, não sendo necessário nenhum nível de abstração,

tampouco habilidades práxicas para o desenvolvimento da atividade, como ocorre no

BRVT e Figuras Complexas de Rey.

A MVLP não tem sido muito explorada, de forma isolada, especialmente no Brasil:

uma busca no Portal de Periódicos da Capes (dia 20/07/2017), com os termos memória

visual e neuropsicologia, revelou, apenas, 36 resultados para periódicos em português e

mais de 27 mil publicações em língua inglesa. Devido à importância da memória nas

Page 48: FIDELIDADE NA MEMÓRIA VISUAL DE LONGO PRAZO: ESTUDO ...

48

atividades diárias, e o envelhecimento da população, o tema desta dissertação é relevante

para futuros estudos, buscando maior compreensão do seu mecanismo e sua influência na

qualidade de vida da população brasileira.

Para estudos posteriores, recomenda-se ampliar o tamanho e a variabilidade da

amostra, podendo, assim, propor uma normatização dos resultados em relação à

população brasileira. Sugere-se a realização de estudos longitudinais para mensurar com

precisão o declínio da MVLP no envelhecimento e, também, a exploração de outras

variáveis para correlacionar com os resultados, como por exemplo, o nível atencional.

Em resumo, os dados dessa pesquisa sugerem que há um declínio na capacidade

de MVLP com o envelhecimento. Apesar das formas compensatórias de manutenção da

memória pelos idosos, ela apresenta perdas. A MVLP destaca-se pela alta capacidade de

retenção, alta fidelidade na recuperação, e influencia da categorização no seu

processamento. Todos os resultados encontrados foram amparados por estudos da área

da neuropsicologia.

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49

7 CONSIDERAÇÕES FINAIS

A MVLP tem sido caracterizada por ter grande capacidade de retenção e de

fidelidade. Este estudo avaliou essas características comparando grupos de jovens adultos

e idosos, com o objetivo de levantar as diferenças que o envelhecimento traz para o

funcionamento dessa função executiva. Como método foi utilizado a exibição de estímulos

visuais, com pequenas diferenças, em relação a uma mesma categoria de objetos (por

exemplo, maças), para remover a influência semântica na aplicação do teste. Essa

metodologia foi baseada nos estudos de Konkle et al (2010a).

As três hipóteses levantadas foram evidenciadas no TMV-LP e corroborada pela

literatura. No escore geral, os idosos apresentaram resultados mais baixos que os jovens

adultos, ambos os grupos tiveram queda no desempenho conforme o número de estímulos

similares foi aumentado, e a categoria do objeto influenciou o resultado de ambos os

grupos. Os percentuais gerais de reconhecimento também podem ser considerados altos.

Apesar da amostra reduzida, que não permite a generalização dos dados, esse

estudo destaca uma metodologia que pode ser utilizada por profissionais na área de

avaliação neuropsicológica e explorada em futuros estudos.

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50

8 REFERÊNCIAS

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9 LISTA DE ANEXOS

Anexo I. Parecer de Aprovação do CEP ............................................................................ 55

Anexo II. TCLE .................................................................................................................. 58

Anexo III: Questionário de Identificação ............................................................................. 60

Anexo IV: MEEM................................................................................................................ 61

Anexo V. Descrição dos estímulos ..................................................................................... 62

Anexo VI. Uso do Banco de dados BOSS .......................................................................... 63

Anexo VII. Critério Brasil .................................................................................................... 65

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Anexo I. Parecer de Aprovação do CEP

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Anexo II. TCLE

TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO

Eu, Aline Juliana Loper, aluno de pós-graduação – da Universidade Federal do

Paraná, estou convidando você membro da comunidade de Curitiba a participar de um

estudo intitulado: Fidelidade na retenção de memórias visuais de longo prazo: um estudo

comparativo entre idosos e jovens adultos, cujo objetivo é analisar formas de medir a

memória, através da fidelidade da memória visual de longo prazo de objetos reais entre

idosos e jovens adultos.

Caso você participe da pesquisa, será necessário responder as perguntas de um

teste de avaliação para garantir que os participantes estão em boas condições de saúde

mental, e posteriormente um teste de avaliação de memória, que será realizado com

projeção de imagens em ambiente de sala de aula.

Para tanto você deverá comparecer no Prédio da Universidade Federal do Paraná

na Praça Santos Andrade, sala 208, para realizar os testes acima descritos o que levará

aproximadamente duas horas.

Alguns riscos relacionados ao estudo podem ser cansaço devido ao tempo de

duração dos testes e constrangimento para responder as perguntas.

O benefício esperado com essa pesquisa é o desenvolvimento de instrumentos

para avaliação de memória visual, o que poderá auxiliar, por exemplo, na avaliação de

idosos com demências. Nem sempre você será diretamente beneficiado com o resultado

da pesquisa, mas poderá contribuir para o avanço científico.

A pesquisadora responsável por este estudo poderá ser localizada no Programa de

Pós Graduação em Psicologia da Universidade Federal do Paraná, na Praça Santos

Andrade, 50, na sala 208, todas as quartas e quintas-feiras das 9h às 12h, ou pelo

telefone: (41) 9225-5678 (em horário comercial), ou pelo email [email protected], para

esclarecer eventuais dúvidas que você possa ter e fornecer-lhe as informações que queira,

antes, durante ou depois de encerrado o estudo. E o orientador da pesquisa pode ser

contatado pelo email: [email protected], pelo telefone (41) 3010-2644, ou no

Programa de Pós Graduação em Psicologia da Universidade Federal do Paraná, na Praça

Santos Andrade, 50, na sala 201, às quintas-feiras, das 14h às 15h.

A sua participação neste estudo é voluntária e se você não quiser mais fazer parte

da pesquisa poderá desistir a qualquer momento e solicitar que lhe devolvam este Termo

de Consentimento Livre e Esclarecido assinado.

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59

As informações relacionadas ao estudo poderão ser conhecidas por pessoas

autorizadas, como professores de Pós Graduação em psicologia da Universidade Federal

do Paraná. No entanto, se qualquer informação for divulgada em relatório ou publicação,

isto será feito sob forma codificada, para que a sua identidade seja preservada e mantida

sua confidencialidade)

Os materiais escritos produzidos com as respostas dos testes serão utilizados

unicamente para essa pesquisa e serão destruído ao término do estudo, dentro de 6

meses.

As despesas necessárias para a realização da pesquisa não são de sua

responsabilidade e você não receberá qualquer valor em dinheiro pela sua participação

Quando os resultados forem publicados, não aparecerá seu nome, e sim

estatísticas com os resultados de todo o grupo.

Se você tiver dúvidas sobre seus direitos como participante de pesquisa, você pode

contatar também o Comitê de Ética em Pesquisa em Seres Humanos (CEP/SD) do Setor

de Ciências da Saúde da Universidade Federal do Paraná, pelo telefone 3360-7259.

Eu,_________________________________ li esse Termo de Consentimento e

compreendi a natureza e objetivo do estudo do qual concordei em participar. A explicação

que recebi menciona os riscos e benefícios. Eu entendi que sou livre para interromper

minha participação a qualquer momento sem justificar minha decisão e sem qualquer

prejuízo para mim

Eu concordo voluntariamente em participar deste estudo.

Curitiba, ___ de ___________ de _____

_________________________________________________________

Assinatura do Participante de Pesquisa ou Responsável Legal

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Assinatura do Pesquisador Responsável ou quem aplicou o TCLE

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Anexo III: Questionário de Identificação

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Anexo IV: MEEM

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Anexo V. Descrição dos estímulos

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Anexo VI. Uso do Banco de dados BOSS

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Anexo VII. Critério Brasil

Fonte: http://www.abep.org/