Filosofia Da História

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Lucas Veras Campos da RosaDRE: 114037337

Para Voltaire, a histria se trata do relato dos fatos dados como verdadeiros. E Voltaire quem utiliza primeiro o termo filosofia da histria, que representava, sobretudo, a secularizao da interpretao da histria.Nesse sentido, fundamental entender o percurso tomado pelas interpretaes da histria desde a Antiguidade Clssica, no qual se apresentam a noo de histria cclica que tem como seus expoentes Tucdides e Herdoto, e, posteriormente, a histria linear com a perspectiva judaico-crist da histria. Na primeira, h a ideia de histria cclica, na qual em determinado momento um ciclo se fecha e uma nova histria se inicia, no tendo, portanto, um fim ltimo. Na segunda, a histria segue para um fim, esse fim se dar no juzo final e o seu sentido s pode ser conhecido atravs da revelao, no entanto ele ir se apresentar num contexto apocalptico, possuindo um carter escatolgico.Tendo em vista esse panorama, percebe-se que a interpretao da histria, sobretudo no Ocidente, transforma-se gradualmente a partir de uma primeira tica fundamental centrada numa histria universal, cujo curso regido para um fim pela providncia divina. Esta seria a teologia da histria e seu precursor Santo Agostinho. Ainda na Antiguidade, Polbio havia esboado algo parecido com a ideia de filosofia da histria, conduzindo todos os acontecidos para um fim ltimo, um sentido, que consistia em Roma dominar o mundo. Entretanto, sua tese no deve ser superestimada, pois Polbio no tinha um interesse primordial no futuro enquanto tal (LOWITH, 21).Dessa maneira, inaugura-se a filosofia da histria. Em Lowith, vemos que ela comea com a f crist e termina perdendo seu carter religioso. Enquanto na f crist a histria governada pela providncia divina, ou seja, pela vontade de Deus e seu fim ltimo estaria guardado, sendo acessvel, portanto, apenas pela revelao, na filosofia da histria, de Voltaire, Deus participa, mas no pode intervir. Portanto, a investigao e a especulao em torno do seu fim ltimo tornam-se possveis.Admitindo o espao entre Santo Agostinho e Voltaire como uma demarcao temporal para a transformao do sentido do conceito aqui tratado de filosofia da histria, encontramos Giambisstta Vico, filsofo italiano, autor de A Nova Cincia, anterior ao Ensaio de Voltaire. Lowith nos diz que a obra reconhecida como o progresso mais original no sentido de uma filosofia da histria (LOWITH, 120). Vico o representante mais significativo da crise da interpretao da histria.Para Vico, a religio era um processo histrico e o cristianismo era a mais sublime teologia revelada. Enquanto o paganismo seria uma falsa religio que constitua um processo histrico institudo pela providncia divina para o desenvolvimento histrico. A pergunta que fica : como podem os gentios terem sido submetidos providncia divina se eram adeptos de uma falsa religio? Lowith nos responde:A resposta que a providncia, agindo sobre a histria para a preservao da espcie humana, induziu, na verdade, as primeiras geraes de homens uma falsa religio, pois revelaram-se, por natureza, incapazes de conceber a verdadeira religio no esprito e na verdade. A providncia histrica, antes de se revelar no amor, no sacrifico do prprio Cristo, nos seus apstolos e na Igreja, teve de aparecer aos seus gentios na forma de trovo e relmpago (crena primitiva em Jpiter, deus do trovo e do relmpago), para tornar o homem, atravs do medo, religioso e civilizado (LOWITH, 131).

Portanto, nota-se que Vico acreditava na providncia divina como lei natural, inerente histria. Ela determinaria o curso da histria, sendo o princpio da Nova Cincia. Assim, sua concepo de providncia divina no sentido desta determinar o curso da histria contgua concepo judaico-crist. Porm, Vico considerava a mentalidade religiosa primitiva como uma das bases criativas de sociedades posteriores mais civilizadas e desconsiderava qualquer noo escatolgica. Nesse sentido, sua perspectiva mais clssica do que crist; para ele, a histria possui seu curso tpico e regular que representa o progresso para humanidade e seu fim encontra-se no retorno. o corso, o curso da histria e o seu fim na decadncia e na queda, dando origem ao retorno, ou ricorso, o ressurgimento, seundo Lowith. Considerando a decadncia como o momento da predominncia de costumes selvagens, superados pelo retorno, dando lugar a costumes mais civilizados, entende-se esse processo cclico como a salvao.Portanto, Vico acredita num retorno cclico que permite a salvao, sendo este o sentido da histria que est baseado numa progresso histrico-cclica do corso ao ricorso em que o prprio ciclo tem um significado providencial (LOWITH, 137).Analisando as diferentes interpretaes da histria ao longo do tempo, nota-se que h de maneira gradual uma vontade de desagregao e, posteriormente, uma separao radical, representada por Voltaire, da histria secular da histria sagrada. , tambm, Voltaire quem representa a preocupao com o futuro e o sentido da histria, concluindo que seu objetivo se encontrava em melhorar a condio do homem atravs da razo, constituindo o progresso, tornando, dessa maneira, o fim ltimo o principal objeto de estudo e especulao, atravs de concepes filosficas, da filosofia da histria. Deus retirado, portanto, do domnio da histria. Pequeno trecho da definio de Voltaire para Histria. Voltaire. A Filosofia da Histria. So Paulo: Martins Fontes, 2007, p.3.Referncias Bibiogrficas:Lowith Karl. O Sentido na Histria, p. 15-31, p. 108-117, p. 119-138.Voltaire. A filosofia da histria; So Paulo: Martins Fontes, 2007 (Voltaire vive), p. 3-5.Pecoraro, R. Filosofia da Histria. Rio de Janeiro: Editora Zahar, 2009, p. 7-9.