Filosofia da Linguagem e sua relação com as Ciências · PDF fileFilosofia...

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  • Filosofia da Linguagem e sua relao com as Cincias Sociais

    Aluno: Jaber Camara da Silva Orientador: Danilo Marcondes de Souza Filho

    Introduo O presente trabalho compreende a fase preliminar da pesquisa, tendo esta se iniciado a

    partir da leitura de dois livros que contextualizam o cenrio em que a Filosofia da Linguagem encontra-se inserida, seguindo-se de encontros com o orientador para discutir o contedo apreendido. Dentro do cenrio filosfico as investigaes acerca do pensamento, apresentam-se de uma maneira um tanto quanto problemtica, por conta do seu carter abstrato. A fim de se evitar esse obstculo, surge a linguagem como objeto lgico, substituindo o pensamento enquanto objeto de anlise das investigaes. O pensamento passa a ser examinado atravs da anlise da linguagem, por meio dela que ele pode ser comunicado. Discusses acerca da conscincia e seus estados; da atividade e viso mental, cederam lugar a discusses de carter intersubjetivo, comunicvel, mas por sua vez tampouco redutvel a impresses sensveis ou representaes mentais.

    Muitos pensadores propuseram buscar uma aplicao mais eficaz do mtodo filosfico, por este necessitar de uma formulao mais precisa da noo de linguagem. A anlise da linguagem surge, portanto, como instrumento de nossa investigao. Tendo isso em mente, muitos pensadores se destacaram. Entre eles, Marcondes distingue alguns, como Austin, que por sua vez aponta que quando investigamos o que dito, dentro de um contexto determinado, estamos, de fato, no s analisando o contedo daquilo que dito (ou seja, o significado de nossas palavras), mas tambm estamos analisando aquilo que dito sobre a realidade, que por sua vez inerente ao que nos referimos. Desta forma, desenvolvemos uma percepo mais acurada, no que diz respeito linguagem, para que possamos tentar formular uma compreenso cerca dos significados de conceitos que nos apresentam como problemticos.

    Alm disso, quando analisamos a linguagem, estamos analisando tambm a sociedade qual ela pertence, pois esto implcitos nesta linguagem a estrutura cultural desta sociedade, suas crenas, seus costumes, seus hbitos, seus conceitos pr-estabelecidos, seus valores, enfim seu funcionamento.

    somente por meio da linguagem que podemos agir, atravs dela que formamos a realidade. As impresses sensveis adquiridas por ns, s se tornam percepes (entenda-se aqui percepo como dar a conhecer tais impresses), porque a linguagem funciona como processador de impresses, onde a partir dela concedemos sentido a tais impresses, demilitando a nossa rea de compreenso e possibilidades de atuao no mundo.

    Teorias da Linguagem S possvel conceber significado nossas aes por elas estarem inseridas num

    sistema complexo, de diferentes convenes, como concebido por outro pensador apontado por Marcondes: Wittgenstein. Estas convenes formam estruturas chamadas por ele (Wittgenstein) de jogos de linguagem. Tais jogos so formaes que envolvem a linguagem e a ao em circunstncias regidas por regras que delimitam a possibilidade de atuao dentro

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    destes jogos. O principal objeto de sua anlise o uso lingstico das aes dentro dessas circunstncias e suas condies de sucesso.

    Outro pensador tambm citado por Marcondes Habermas, sua teoria da competncia comunicativa concentra-se exatamente na relao entre a ao e a regra. Sob que condies, definidas por esta relao, situaes de discurso so possveis? A partir desta questo ele traa os seguintes parmetros:

    A noo de situao ideal de discurso condio de possibilidade de todo discurso que visa um fim mais ou menos especfico ou preestabelecido. A caracterstica definidora da noo de situao ideal de discurso a itersubjetividade: a idia de que o uso da linguagem, consistindo em um ato de entendimento mtuo, pode levar a um acordo bem fundamentado, ao qual se chega atravs do dilogo, pois tem sempre a possibilidade de retornar o discurso. O paradigma de toda situao possvel de discurso o dilogo. A possibilidade de questionar inerente a todo uso da linguagem. A necessidade de validao, explicao e justificao se encontra em todas as formas de discurso, variando de acordo com os diferentes contextos e usos da linguagem. Deve haver sempre a possibilidade de se reinterpretar no s o que dito, mas a prpria situao de fala, como precondio para a eficcia da natureza cooperativa do discurso, isto , para a realizao da comunicao. A linguagem s pode ser usada eficazmente para a comunicao se os interlocutores tiverem, em princpio, uma confiana recproca. A comunicao s possvel sob a presuno de que os falantes, em princpio, falam no apenas de maneira compreensvel, mas verdadeira, sincera e legtima. Estes princpios pragmticos no tm, claro, como conseqncia que o falante seja sempre sincero, mas sim que se supe que ele seja sempre sincero como condio de realizao do ato lingstico. O princpio da sinceridade s pode ser violado se a aparncia de sinceridade for mantida, e neste caso o falante responsvel por seu ato, independentemente de suas reais intenes ao realiz-lo. [1]

    Para Habermas, como ainda apontado por Marcondes, a estrutura social formada por convenes que delimitam o campo de aes, estabelecendo as condies pelas quais visamos algo e escolhemos uma determinada ao, pensando ter feito a melhor escolha possvel. A linguagem o instrumento que utilizamos para isso, sendo esta estrutura a maior responsvel por determinar a forma como ela usada. As convenes que determinam as possibilidades de distribuio dos papis sociais, no impedem o surgimento de oposies dentro da prpria estrutura. Ainda prossegue afirmando que em tais convenes, a estrutura discursiva dispe sempre da possibilidade de retorno e reinterpretao do discurso, seja ele pertencente ao emissor ou ao receptor. Desta maneira o dilogo torna-se, como aponta o autor, o paradigma de todo discurso. Alm disso, no necessrio que a conseqncia de um ato coincida com o fim pretendido pelo agente e mesmo que o agente oriente seu discurso para falsidade, visando o fim pretendido por ele, o receptor pressupe que o emissor seja sincero como critrio, o que pode levar a um autocancelar do emissor, em sua inteno mesma de manipular, falsificar, quando penalizado pelo receptor, caso descoberto por ele, como aponta Marcondes.

    determinando sob que condies os atos so realizados, que uma anlise crtica torna evidente relaes ocultas da linguagem, como sua funo ideolgica. Nestes casos, um ato comunicacional, que aspira legitimar-se, cria um falso consenso por meio de uma situao distorcida de discurso, graas ao desigual acesso s regras por parte do falante e do ouvinte. Mas obviamente o efeito ideolgico implcito e indireto, s sendo produzido se for mantida uma aparncia de comunicao, onde a diferena de acesso s regras seja ocultada. Os princpios reguladores, antevistos em cada situao, permitem-nos analisar tais casos quanto a sua validade num processo de clarificao e explicao, que consiste na busca de uma compreenso no s da essncia deste ato, mas tambm das convenes que permitem realiz-lo. Analisando o carter ideolgico da linguagem encontraremos dois critrios bsicos para seu entendimento: 1. Um carter diretivo, determinado por valores e interesses originrios de

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    certa sociedade ou grupo dominante; 2. O fato de que esta relao entre a funo diretiva e estes valores e interesses especficos , ao menos em parte, e deve permanecer, implcita, para o sucesso completo da funo diretiva da linguagem. importante notar que os falantes no tm, assim, conscincia do alcance desta funo diretiva nem de sua rede de pressuposies, conseqncias e implicaes. [1]

    Conforme, novamente, como apontado por Marcondes, de acordo com a Teoria dos Atos de Fala de Austin, a partir de elementos fundamentais, tais como as crenas, valores, etc., que se determinam os interesses de uma comunidade, originando convenes, que por sua vez, determinam a estratgia a ser usada pela linguagem enquanto ao. Mas de que maneira se d a atuao destes elementos no que diz respeito ao uso da linguagem? O uso determinado pelos agentes para a obteno de um determinado fim, o instrumento utilizado para tanto a linguagem, tornando o ato de fala num ato instrumental. Com a aquisio da linguagem, no adquirimos somente uma lngua com seus parmetros normativos, mas adquirimos tambm uma pragmtica a partir de um sistema de prtica e valores, crenas e interesses associados linguagem. Os elementos formadores deste sistema esto implcitos na linguagem, obscurecendo-a, exigindo que nossa anlise concentre-se na natureza dos atos praticados, sobretudo em que condies eles se realizam e de que maneira estas condies se definem. E tratando-se do ato de fala, enquanto ato instrumental, precisamos esclarecer em quais situaes e a que se propem tais atos, evidenciando seus efeitos e conseqncias, ou seja, sobre que pressupostos as convenes que regem estes atos se assentam, estabelecendo relaes entre os agentes.

    Embora um ato de fala possa ter propsitos predeterminados, o emissor nunca pode se assegurar de possuir total controle sobre os efeitos de seu ato, podendo o resultado no coincidir com seus interesses e intenes aparentes. J entre os atos de fala indiretos, a inteno manifestada de maneira implcita, mas espera-se que esta inteno seja reconhecida sem maiores impedimentos. Contudo, como j vimos antes, atos de fala ideolgicos so atos de manipulao e s atingem o xito mediante o no-reconhecimento dos seus propsitos enquanto tal.

    Segundo nos indica Marcondes, Austin num primeiro momento de sua teoria, faz uma distino entre enunciados constatativos (usados para descrever, dizer algo) e os performativos (atravs dos quais algo feito). Essa distino no parece ser suficientemente eficaz, pois os enunciados performativos podem ser generalizados e estendidos a todos os usos da linguagem, por exemplo, quando usamos um enunciad