Financeiro Ed 87

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Sinal de alerta Reforma do Judiciário edição 87 Jul Responsabilidade socioambiental deve gerar ganhos no setor financeiro O economista Eduardo Giannetti da Fonseca diz que o atual cenário nos encaminha para uma deterioração e crise financeira Acrefi apoia o lançamento da Estratégia Nacional de Não Judicialização

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Publicação da ACREFI – Associação Nacional das Instituições de Crédito, Financiamento e Investimento

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Sinal de alerta Reforma do Judiciário

edição

87Jul

Responsabilidade socioambiental deve gerar ganhos no setor fi nanceiro

O economista Eduardo Giannetti da Fonseca diz que o atual cenário nos encaminha para uma deterioração e crise financeira

Acrefi apoia o lançamento da Estratégia

Nacional de Não Judicialização

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26

46

26 Perfil Grupo Stefanini

34 Painel Cetip

36 Audi do Brasil

40 MIS

44 Livros

46 Graacc

51 Broa Golf Resort

54 Casa Mathilde

56 INEPAD Artigos 24 Rosi Vuolo (Itaú Unibanco)

29 Caetano de

Vasconcellos Neto (FGC)

30 Danyelle da Silva

Galvão (USP)

32 Juan Perez (Boa Vista Serviços)33 Aquiles Leonardo Diniz (Acrefi) 66 Nicola Tingas (Acrefi)

conteúdofinanceiro

Capa: foto Mário Bock

22 Responsabilidade socialAção socioambiental no sistema financeiro

18 Seminário AcrefiEvento discute lei anticorrupção e atuação do COAF

16 Reforma do JudiciárioGoverno lança estratégia para diminuir número de processos

8 Páginas azuisEduardo Giannetti da Fonseca diz que o atual modelo econômico pode nos colocar em crise

3julho 2014 financeiro

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expediente

ISSN 1809-8843

Publicação da Acrefi – Associação Nacional das Instituições de Crédito, Financiamento e InvestimentoRua Líbero Badaró, 425 – 28°andar – São Paulo – SP

Tel: (11) 3107-7177 fax: (11) 3106-6082 – www.acrefi.org.br

PresidenteÉrico Sodré Quirino Ferreira

Vice-presidentesAquiles Leonardo Diniz, Décio Carbonari de Almeida, Élcio Antonio Azevedo, Felicitas Renner, José Luiz Acar Pedro, Leonardo Marcondes Dadalto,

Luís Fernando Staub, Mauro Roberto Vasconcellos Gouvêa e Rubens Buttion

Diretor TesoureiroJosé Garcia Neto

Diretor SecretárioRenato Oliva

Diretores regionaisCarlos Alberto Samogim, Edmar Casalatina, Eliseu Colman, Leonardo Bortolini, Luis Eduardo da Costa Carvalho, Marcos Rosa, Paulo Dalla Nora,

Paulo Henrique Pentagna Guimarães e Sebastião Cunha

Diretores executivosAlexandre Teixeira, Claudio Messias Ferro, Deo Rozindo Filho, Gabriel José Gama Ferreira, Hilgo Gonçalves, João dos Santos Caritá Júnior e Ronaldo

Rondinelli

MontadorasEdson Froes, Edson Ueda, Eduardo Varella, Gunnar Murilo, Joelcyr Carmello e Nelson Aguiar

Diretores conselheirosJosé Carlos Alves, Ricardo Janini e Roberto Jabali

Conselho consultivoAlkindar de Toledo Ramos, Manoel de Oliveira Franco e Ricardo Malcon (membros natos); Décio Carbonari de Almeida, Flávio Antonio Meneghetti,

Gilson Finkelsztain, Ilídio Gonçalves dos Santos, Luiz Tavares, Miguel José Ribeiro de Oliveira e Rogério Pinto Coelho Amato (membros)

Conselho fiscalDomingos Spina e Sérgio Darcy (efetivos), Geraldo Lima Wandalsen e Marcus André de Oliveira (suplentes)

Diretor-superintendenteAntonio Augusto de Almeida Leite (Pancho)

ControllerCarlos Alberto Marcondes Machado

Consultora JurídicaLívia Esteves

Economista-chefeNicola Tingas

Assessoria contábilAG Silveira Contabilidade

Assessoria de imprensaTamer Comunicação Empresarial

Av. Brigadeiro Faria Lima, 1912, cj. 12b - Jardim Paulistano - São Paulo - SP Tel.: (55.11) 3031.2388 - CEP: 01451-000 – www.tamer.com.br

Publisher Sergio Tamer

Redação/Editores Theo Carnier e Gilberto de Almeida

Editor assistenteGustavo Girotto

RepórteresDébora Dias, Evandro Ribeiro, Geyse Alencar e Liliana Liberato

FotografiaGabriel Kosman, Mario Bock e Sonia Tamer

ArteMoacyr Mw e Rafael Pascoal

RevisorVicente dos Anjos

ImpressãoEskenazi Gráfica

4 financeiro julho 2014

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Érico Sodré Quirino Ferreira,

Presidente da Acrefi

editorial

Não é mais possível ignorar o compliance.

A palavra está cada vez mais presente

no dia a dia das empresas, principal-

mente no mercado financeiro, mas ainda requer

explicações na maioria das vezes em que se fala

do assunto. O conceito é tão simples quanto impor-

tante para toda a sociedade. Compliance, como se

sabe, é uma palavra da língua inglesa que deriva do

verbo “to comply”, traduzido como cumprir, execu-

tar – ou seja, compliance é estar em conformidade

e fazer cumprir normas e leis. Surgiu no mercado

financeiro, como um programa que estabelecia o

cumprimento de leis referentes a práticas ban-

cárias, e se espalhou pelo mundo corporativo.Por

sua importância e abrangência, é importante que o

compliance se estenda para toda a sociedade, che-

gando à vida dos cidadãos. Seria o que poderíamos

chamar de compliance social, ou seja, o respeito às

normas escritas e principalmente às não escritas,

que poderiam tornar nossa vida melhor.

Se o conceito ganhar força, os brasileiros

passarão a respeitar o direito do próximo. Pode

parecer corriqueiro, mas trata-se de um passo

muito importante para todos nós que vivemos no

Brasil. Os exemplos do que essa postura significa

incluem pequenas coisas do dia a dia que, soma-

das, significariam uma convivência mais em linha

com os padrões de civilidade.

Quem não se irrita, por exemplo, quando

alguém “fura” uma fila, seja em um cartório, em

uma repartição pública ou no check-in de um

aeroporto? Não há o que justifique uma atitude

dessas, mas infelizmente ela continua sendo

mais frequente do que se deseja. É um desres-

peito ao direito do próximo, algo que contraria

frontalmente o compliance social.

Há mais, muito mais. O trânsito talvez seja a face

mais visível dessa necessidade de mudança de atitu-

de. Como sabemos por experiência própria, o trânsito

já é suficientemente difícil, mas muitos agem para

A hora do compliance social

Foto

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torná-lo ainda pior. Não é raro ser “cortado” por um outro motorista, ver carros

estacionados em locais proibidos, dificultando o tráfego, vagas destinadas a

deficientes indevidamente ocupadas nos estacionamentos, o uso do acostamento

como pista de alta velocidade em rodovias.

Também é comum ver motoristas parados em fila dupla, os que avan-

çam o sinal e “fecham” o cruzamento, aqueles que consideram que o uso da

seta do veículo é supérfluo... São atitudes que explicitam uma injustificável

falta de respeito aos direitos dos outros cidadãos e que transformam o que

já é irritante em algo insuportável.

Os idosos são outras vítimas da falta de compliance social. O desres-

peito e até a violência com que são tratados não só nas ruas mas principal-

mente em suas casas expõe as pessoas com mais idade a situações vexa-

minosas todos os dias. Sem contar que em locais que lhes são reservados

em ônibus, metrôs, e em vagas para estacionar, são ignorados como se

esse flagrante desrespeito fosse algo sem importância.

Até a cidadania é vítima da falta de compliance social. Não é raro ver pesso-

as que usam de uma criatividade perniciosa para inventar desculpas para não

votar – isso depois de o Brasil ter lutado por anos para ter de volta esse direito

básico da democracia. Outros recorrem aos despachantes para, de maneira indi-

reta, “furar” filas, sem pensar nos direitos dos outros cidadãos. E os cambistas

proliferam na porta de estádios de futebol e em casas de shows para fornecer

ingressos a preços extorsivos para aqueles que não estão preocupados em res-

peitar quem comprou os tíquetes regularmente.

Como se pode notar por esses exemplos, a adoção do compliance social

vai requerer tempo, porque envolve uma mudança cultural abrangente. Essa

realidade, no entanto, não pode induzir à postergação. Todos nós precisa-

mos (e merecemos) viver em uma sociedade melhor, em que não só nossos

direitos sejam respeitados mas também na qual respeitemos os direitos dos

outros. Agindo dessa forma todos sairão ganhando. O conceito de compliance

já demonstrou, na vida empresarial, sua importância e seu poder de provocar

guinadas em pouco tempo, que tornaram muito melhor o ambiente de negócios.

Por que não reproduzi-lo e torná-lo abrangente para toda a sociedade? f

5julho 2014 financeiro

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nossasassociadas

ACFI - Aymoré Crédito, Financiamento e Investimento S.A.

Agiplan Financeira S.A. CFI

Banco A.J. Renner S.A.

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BV Financeira S.A. - Crédito, Financiamento e Investimento

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Cetelem Brasil S.A - Crédito, Financiamento e Investimento

Cred Capixaba S/A Soc. Crédito, Financiamento e Investimento

Dacasa Financeira S.A. - Socied. de Crédito, Financiamento e Investimento

Finamax S.A. - Crédito, Financiamento e Investimento

Financeira Alfa S.A. - Crédito, Financiamento e Investimentos

Financeira BRB

Herval Financeira S.A. CFI

HSBC Bank Brasil S.A. Banco Múltiplo

Kredilig S/A Crédito, Financiamento e Investimento

Lecca Crédito, Financiamento e Investimento S.A. Mercantil do Brasil Financeira S.A. - Crédito, Financiamento e Investimentos

Midway S.A. - Crédito, Financiamento e Investimento

Múltipla CFI S/A

Omni S.A. - Crédito, Financiamento e Investimento

Parati Crédito Financiamento e Investimento S.A.

Pernambucanas Financiadora S.A. - Crédito, Financiamento e Investimento

Portocred S.A. - Crédito, Financiamento e Investimento

Portoseg S.A. - Crédito, Financiamento e Investimento

Santana S.A. - Crédito, Financiamento e Investimento

Sax S.A. Crédito, Financiamento e Investimento

Socinal S.A. Crédito, Financiamento e Investimento

Sorocred Crédito, Financiamento e Investimento S.A.

Sul Financeira S.A. - Crédito, Financiamento e Investimento

6 financeiro julho 2014

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Por Theo Carnier e Gustavo Girotto

Fotos: Mário Bock

entrevistadomês

Em entrevista à Financeiro, o economista Eduardo Giannetti da Fonseca afirma que a repetição do atual modelo econômico pode nos colocar em crise

Dois pesos, uma medida

Em um apartamento na Vila Madalena, bairro boêmio de

São Paulo, habita Eduardo Giannetti da Fonseca, formado

pela USP, com doutorado em Cambridge. Responsável pela

orientação econômica do presidenciável Eduardo Campos (PSB) e

Marina Silva, Giannetti prevê futuros problemas, caso seja man-

tido o atual modelo econômico. “Estamos caminhando para uma

deterioração e crise futura. Essa matriz fracassou”, asseverou.

O arsenal de críticas de Giannetti vai além: “O governo Dilma

deve terminar seu mandato com crescimento em torno de 2%

ao ano, em média, que é um dos mais baixos da era republicana.

Apenas dois governos, Floriano Peixoto e Collor de Mello, tiveram

médias de crescimento inferiores”.

Calmo e analítico, Giannetti é preciso em suas respostas sobre

o cenário brasileiro e alerta: “Uma vez reeleita, Dilma pode dobrar

o tamanho da aposta que fizeram no seu primeiro mandato. Esse

segundo cenário nos encaminha rapidamente para uma crise

financeira, com fuga de capital, o que vai impor outra solução e

outra mudança de rota. Eu espero que o Brasil não precise chegar

a isso”. Confira a entrevista: RF – Olhando em perspectiva a economia, a impressão é que os

indicadores não andam como se gostaria: inflação alta, arrefeci-

mento do consumo, crescimento tímido. O que o senhor acredita

que precisa ser feito?

Giannetti – A economia brasileira apresenta hoje um quadro

muito preocupante, que é uma combinação pouco usual de bai-

xo crescimento crônico com inflação em alta. O governo Dilma

deve terminar seu mandato com crescimento em torno de 2%

ao ano, em média, que é um dos mais baixos da era republica-

na. Apenas dois governos, Floriano Peixoto e Collor de Mello,

tiveram médias de crescimento inferiores. E olha que o nosso

sistema de metas já estabelece um centro muito elevado, de

4,5%, com grande tolerância, e mesmo assim a inflação persis-

tentemente está tocando no teto – e às vezes até ultrapassan-

do como deve ocorrer este ano – e pior, com preços represados

que estão artificialmente rebaixando a taxa de inflação. Con-

fesso que não esperava ver isso em minha vida profissional

como economista brasileiro, mas infelizmente nós recaímos

nesse vício de controle de preço com finalidade de política an-

ti-inflacionária. Coisa que sabidamente não dá certo!

RF – Os relatórios econômicos apontam que o País crescerá no

8 financeiro julho 2014

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máximo 2% até 2015. O senhor concorda?

Giannetti – Este ano vai ser menos e

estou dizendo que a taxa média do man-

dato será em torno de 2%, talvez até um

pouco menos porque em 2014 deverá ficar

em torno de 1,2% ou, no máximo, 1,5%. O

terceiro elemento ou componente, desse

quadro preocupante, é o déficit em conta-

-corrente brasileiro. Nós estamos hoje

com esse déficit próximo de 3,5% do PIB,

o que significa que o Brasil precisa anual-

mente de mais de US$ 80 bilhões para fe-

char suas contas externas. Voltamos a ter

uma posição de vulnerabilidade por que,

se mudar o humor do mundo em relação

ao Brasil, ou acontecer alguma outra coisa

importante e os capitais não afluírem para

cá, nós vamos ter um constrangimento de

déficit em conta-corrente que deverá ser

financiado com as reservas.

RF – O que isso significa, na prática?

Giannetti – O curioso é que essas três

coisas não costumam andar juntas. Se

você está com crescimento tão baixo, a in-

flação deveria estar comportada. Se você

tem déficit em conta-corrente tão elevado

– deveria estar crescendo bastante – isso

é um investimento a mais que o Brasil po-

deria fazer. É uma poupança externa que o

Brasil está recebendo do resto do mundo,

e que deveria se somar ao esforço inter-

no de mobilização de poupança e inves-

timento. Então, mesmo com esse aporte

adicional de 3,5% do PIB, que é o déficit

em conta-corrente, a economia não cresce e o nível de investi-

mento continua muito reduzido. O Brasil realmente apresenta um

quadro de macroeconomia ruim.

RF – Essa economia ruim tem impacto na próxima eleição?

Giannetti – Eu acho que, provavelmente, o tempo não permitirá

que essa realidade seja filtrada para um conjunto da sociedade.

RF – Ainda há manutenção do emprego, certo?

Giannetti – O desemprego, por várias razões, ainda está se

mantendo baixo. O nível de renda real continua se sustentando,

parou de crescer, mas também não caiu. E ainda há um sentimen-

to favorável junto a boa parte da população do período anterior de

crescimento com inclusão social. Agora o Brasil está vivendo uma

forte reversão de expectativas, para quem é mais informado e

acompanha mais os temas econômicos. A

percepção é que essa reversão, com fun-

damentos reais, já está cristalizada.Mas

para o conjunto do eleitorado brasileiro,

no entanto, eu acho que ainda não chega-

ram a extensão e a gravidade dessa situ-

ação. Entendo que o desemprego é uma

questão de tempo para começar a subir

porque, com esse quadro, especialmente

de recessão na indústria, as demissões

são inevitáveis.

RF – Isso caso não ocorra uma mudança

de modelo?

Giannetti – Sim, mas este ano já deve

ter algum efeito, porque a situação na in-

dústria brasileira está muito séria.

RF – O Brasil tem um dos maiores juros

do mundo. O que precisamos fazer para

sair desse patamar?

Giannetti – Essa chamada nova matriz

macroeconômica fez uma aposta na ideia

de que uma redução forçada de juros,

um câmbio administrado e de incentivos

ao setor privado, feitos caso a caso, com

estímulos na demanda, seriam os compo-

nentes necessários para o Brasil manter

aquele movimento de crescimento que

vinha se desenhando ainda durante os

governos Lula. Um dos componentes des-

sa nova matriz foi uma tentativa artificial

de baixar juros no grito, e que se mostrou

completamente equivocado. Aliás, o go-

verno Dilma é pautado por paradoxos.

RF – Em que sentido?

Giannetti – É um governo de perfil estatizante que conseguiu

arrebentar as duas principais estatais brasileiras: a Petrobras e

a Eletrobras, com intervenções de mãos muito pesadas. Ele é um

governo que tinha na redução dos juros a sua principal bandei-

ra, sua principal conquista. Ele vai ser o primeiro governo, desde

a mudança do regime cambial, a entregar com juros maiores do

que recebeu. E um governo que se propôs, ao ser eleito, acelerar

o crescimento, vai entregar a menor taxa de crescimento da era

republicana, em um mandato completo.

RF – Seja lá qual for o próximo governo, pelo que está apontan-

do, sofrerá grandes dificuldades já no começo?

Giannetti – Não vai ser uma herança tranquila. Agora, é preciso

“Dilma deve terminar seu

mandato com crescimento em torno de

2% ao ano, em média, que é um dos mais baixos da era

republicana”

9julho 2014 financeiro

Page 10: Financeiro Ed 87

entrevistadomês

lembrar que o Brasil, em passado recente, já fez ajustamentos

macroeconômicos não muito diferentes do que precisará ser feito

agora. O Fernando Henrique, quando houve a mudança do regime

cambial, precisou fazer um ajuste de razoável proporção fiscal,

monetário e de mudança sistemática de política econômica. E o

governo Lula, quando eleito pela primeira vez, herdou também

uma situação de enorme turbulência e incerteza. Interessante no-

tar é que, nos dois casos, depois de um período de ajustamento de

dois trimestres, três trimestres, a economia já estava novamente

em movimento ascendente. Então a capacidade de reação e de re-

cuperação brasileira também é algo que não se pode subestimar.

O que pode atenuar bastante o custo dessas medidas corretivas

que terão que ser tomadas, se o Brasil quiser recuperar uma boa

perspectiva. É o choque de confiança que a mudança instantane-

amente provocará e que, provavelmente, levará a uma valoriza-

ção dos ativos brasileiros. É um quadro muito inusitado em que a

ameaça não é a oposição, mas a situação.

RF – A bolsa sobe quando a presidente Dilma piora nas pesqui-

sas eleitorais.

Giannetti – Basta o rumor de que a pesquisa virá para que os

ativos brasileiros melhorem. Tem um ‘upside’, para usar o jargão

do mercado financeiro, de uma perspectiva de vitória da oposição,

que é esse choque de confiança que atenua um pouco o custo ine-

vitável dessa mudança de regime, mudança corretiva. Agora não

pode deixar de ser dito que o custo de fazer a correção é muito

menor do que o custo de não fazer, a única diferença é como se

distribui no tempo: os custos e os benefícios.

RF – É possível, ao mesmo tempo, melhorar a situação da Petro-

bras e jogar a inflação para a meta?

Giannetti – Acho que a questão dos preços administrados tem

que ser tratada com muita firmeza e de maneira transparente,

a partir do início. O que não pode é o Brasil voltar a controlar a

inflação represando os preços. Tenho defendido que isso tem que

ser feito instantaneamente e de forma plena.

RF – Quer dizer, reajustaria todos os preços de uma vez?

Giannetti – Imediatamente. Por que se você não fizer isso, con-

tinua realimentando as expectativas de inflação mais alta no fu-

turo e isso complica muito a volta do Brasil ao centro da meta.

RF – Enfraquecemos institucionalmente no mercando interna-

cional devido às nossas opções?

Giannetti – Tem uma questão de equívoco estratégico em políti-

ca comercial e tem a questão do custo Brasil. É muito caro produ-

zir no Brasil. Estamos deixando muito a desejar no quesito compe-

titividade, o custo de produção em dólar no Brasil é extremamente

elevado. Vamos ter que trabalhar muito, tanto na política comer-

cial quanto no estabelecimento de condições mais competitivas,

tornando o Brasil mais atraente para o investimento direto estran-

geiro voltado para integração das cadeias mundiais de produção.

RF – A impressão é que o Brasil, nos últimos anos, só piorou no

mercado internacional. Em que ponto estamos errando?

Giannetti – Política comercial é um capítulo muito importante,

um enredo desse declínio brasileiro no mundo.

RF – O senhor acha que piorou?

Giannetti – A política comercial está equivocada há muito tem-

po, mas o Lula no primeiro mandato, pelo menos na macroeco-

nomia e na microeconomia, estava no caminho correto. Eu con-

sidero de boa qualidade o primeiro mandato do Lula. As coisas

começaram a piorar na política no segundo mandato e, de forma

mais acentuada, no governo Dilma, que optou na macroeconomia

pela chamada nova matriz e, na microeconomia, pelo microge-

renciamento, que é um retrocesso ao modelo do regime militar.

Esse microgerenciamento criou uma enorme incerteza quanto às

regras do jogo para o funcionamento de diferentes mercados no

Brasil. Esse é um dos fatores que levaram a uma retração do in-

vestimento. O quadro mais preocupante hoje no Brasil é que, em

pleno dividendo demográfico, como nós estamos ainda, o Brasil

está investindo 18% do PIB, sendo que 3,5% do PIB é o déficit em

conta-corrente. É realmente muito sério para uma nação que está

em pleno dividendo demográfico.

RF – Diante de tantos gargalos na economia, que pontos o próxi-

mo governo deve atacar inicialmente?

Giannetti – A primeira tarefa, na minha visão, vai ser corrigir

os desequilíbrios e distorções que vieram se acumulando nos

últimos anos. Restaurar a política macroeconômica com credibi-

lidade para que a inflação convirja para o centro da meta, redefi-

nir os termos da macroeconomia, ou seja, austeridade fiscal com

superávit primário transparente e no nível adequado para manter

a dívida pública em trajetória declinante, compromisso da política

“Dou minhas opiniões quando sou chamado a fazê-lo. Não tenho nenhuma pretensão e não vou ter cargo executivo”

10 financeiro julho 2014

Page 11: Financeiro Ed 87

monetária com cumprimento do centro da meta e com realismo

tarifário, e o modelo de câmbio flutuante com intervenções ape-

nas para evitar excessiva volatilidade e não para dar qualquer

garantia de que há um câmbio com o qual o Brasil vai ter que

conviver independentemente do mercado. Na microeconomia,

será preciso desmontar esse microgerenciamento adotado pelo

governo Dilma, quando passou a usar muito agressivamente o

BNDES, a atender pleitos empresariais para proteção tarifária e

a fazer mudanças no regime tributário para atender caso a caso.

RF – Isso não é uma tarefa simples, correto?

Giannetti – Não vai ser uma tarefa simples desmontar os gru-

pos de interesse que se formaram em torno dessas medidas. É

importante restabelecer, o que eu chamo em filosofia de horizon-

talidade, que é o papel do governo em melhorar o ambiente de

negócios e adotar medidas que permitam os mercados funciona-

rem de forma melhor para que o próprio mercado possa eleger

com base em critérios de eficiência, inovação e produtividade as

empresas que vão crescer. E não o governo tomar essa decisão

elegendo campeões nacionais ou coisas do gênero.

RF – O senhor é um dos formuladores do plano econômico dos

candidatos do PSB, Eduardo Campos e Marina Silva, isso está no

escopo?

Giannetti – Sou uma voz em um time de pessoas que colabo-

ram e expresso minha opinião, quando digo realmente o que pen-

so. Não estou aqui fazendo nenhum tipo de calibragem do meu

pensamento para atender expectativas ou exigências eleitorais.

RF – Mas o senhor faz parte desse time?

Giannetti – Dou minhas opiniões quando sou chamado a fazê-

-lo. Não tenho nenhuma pretensão e não vou ter cargo executivo.

RF – E se for convidado?Giannetti – Isso está fora. Não tenho perfil, não tenho vontade

e não me preparei para ter cargos executivos. Não tenho nem o

know-how executivo, eu passei minha vida toda pesquisando, es-

tudando, escrevendo.

RF – Supondo que Eduardo Campos vença as eleições e lhe con-

vide para ser o presidente do Banco Central ou Ministro da Fazen-

da, o senhor não aceitaria?

Giannetti – Não, eu não me vejo nisso e não tenho esse tipo de

ambição. Eu tenho outras ambições na vida, mas essa não é par-

te do meu sistema motivacional. Creio que posso colaborar com

ideias e, eventualmente, até na seleção de pessoas que possam

ocupar cargos com competência maior do que a minha.

RF – A Marina, nos últimos dias, tem manifestado posição con-

trária ao apoio de Eduardo Campos em prol do candidato ao go-

verno do Estado de São Paulo, Geraldo Alckmin. Até que ponto

isso dificulta, em caso de vitória, a implementação de programas

idealizados pela candidata. Há grupos paralelos?

Giannetti – Não há na área econômica essas divergências que

se manifestam em termos de alianças estaduais, são campos

bem separados. O que a Marina defende é que o Brasil precisa,

ou que o governo brasileiro e os políticos brasileiros precisam

alterar a maneira de governar o País, não com acordos circuns-

tanciais e casuísticos visando a benefícios eleitorais e, sim, com

base em alianças calcadas em ideias, programas e propostas de

governo. É uma nova lógica, uma nova governabilidade que ela

está propondo e, muitas vezes, as pressões políticas em Estados

encaminham a aliança para acordos eleitorais que não são coe-

rentes para essa nova governabilidade, em nome da qual a alian-

ça nacionalmente se apresenta. Aí é que está o conflito!

RF – Não há conflito em relação aos planos práticos, ou seja, o

alinhamento do pensamento econômico é uniforme. O Eduardo

Campos também lhe consulta, como a Marina?

Giannetti – Você nunca vai encontrar em economia total una-

nimidade. Fizemos oficinas de discussão de política econômica,

os dois participaram, e estamos caminhando para construir uma

visão integrada do que é nossa proposta.

RF – É que nas últimas eleições sua figura esteve presente ao

lado da Marina, inclusive nos debates eleitorais. Ficará da mesma

forma ou ele (Eduardo Campos) tem alguém próximo?

Giannetti – Não sei, estamos com uma equipe boa, temos pes-

soas competentes contribuindo em diferentes áreas e é um movi-

mento em construção, não uma coisa acabada. Agora é difícil você

encontrar unanimidade em economia.

RF – O senhor acha que o impacto da atual crise política terá

influência na capacidade futura de julgamento eleitoral?Giannetti – O movimento de insatisfação na sociedade brasi-

11julho 2014 financeiro

Page 12: Financeiro Ed 87

entrevistadomês

leira ficou explicitado de maneira muito eloquente nas manifes-

tações de junho. Há um desencanto com política no Brasil, o que

é uma coisa muito grave. A juventude, principalmente, está muito

desapontada com a falta de representatividade dos quadros de

governantes do Brasil.

RF – Em caso de uma reeleição, o senhor acredita em mudança

de plano econômico pela presidente Dilma Rousseff?

Giannetti – Tenho dois cenários claros na minha cabeça sobre

uma eventual vitória do status quo. Um cenário eu chamo de cur-

va de aprendizado, um reconhecimento de que equívocos foram

cometidos no primeiro mandato, mas já há um esboço de corre-

ção de rotas em algumas áreas da política econômica dos últimos

meses. O segundo cenário que vislumbro

é de aposta redobrada, ou seja, se essas

medidas envergonhadamente corretivas

tomadas agora foram apenas para evitar

maior turbulência no período pré-eleito-

ral. Uma vez reeleita, ela pode dobrar o

tamanho da aposta que fez no primeiro

mandato. Esse segundo cenário nos enca-

minha rapidamente para uma crise finan-

ceira, com fuga de capital, o que vai impor

outra solução e outra mudança de rota.

RF – O senhor acha que teremos mesmo

uma crise econômica? E de que dimensão?

Giannetti – Depende do cenário. Se vier

a aposta redobrada – e muito do discurso

da candidata Dilma e do Lula está indican-

do pelo menos na campanha que é esse o

cenário mais provável –, acredito que va-

mos caminhar para uma crise financeira.

É uma argentinização seguida de uma cri-

se financeira. Teríamos uma forte desvalorização da moeda, uma

saída de capitais – o Brasil tem déficit em conta-corrente e está

vulnerável –, então o ajuste vai se impor.

RF – Há sobre a sua mesa o livro “O Capital no Século 21”, do

economista francês Thomas Piketty, em que se retrata que a de-

sigualdade põe a democracia em cheque. O senhor concorda com

essa análise?

Giannetti – Eu defendo a igualdade de oportunidades. Eu acho

que a dimensão relevante da igualdade são condições minima-

mente igualitárias para que os indivíduos possam desenvolver

seu potencial plenamente. Não acho que a igualdade de resulta-

dos seja sequer desejável, porque as pessoas são diferentes, têm

valores diferentes, e nem todas elas estão interessadas em medir

sua vida com base em uma métrica econômico-financeira, ainda

bem. O que é injustificável e intolerável são as desigualdades nas

condições iniciais, na partida, nas dotações iniciais. O Brasil tem

que corrigir muitas distorções herdadas de séculos de deforma-

ção que condenam o indivíduo a um padrão de vida pelo simples

fato de ter nascido em uma determinada condição social, e isso é

o que acho absolutamente intolerável.

RF – O que seria um novo modelo ideal?

Giannetti – A economia de mercado é compatível com qualquer

distribuição de renda, desde que você altere as dotações iniciais.

RF – Essa não é bandeira empunhada pelo atual governo, que se

sobressai pela distribuição de renda?

Giannetti – Esse movimento é muito bom para o Brasil, a redu-

ção da desigualdade social. Nós estamos

apenas começando e ainda somos um dos

países mais desiguais do mundo. E a di-

mensão que mais me preocupa na desi-

gualdade é que as pessoas nascem com

oportunidades muito desequilibradas no

Brasil, e é aí que tem que avançar. É falta

de saneamento básico, de saúde, de edu-

cação, de condições de transporte. Tem

uma questão muita séria também que é a

falta de estrutura familiar para quem vem

ao mundo e não encontra suporte da famí-

lia. Isso perpetua a desigualdade.

RF – O senhor acredita que o Brasil me-

lhorou nos últimos 12 anos?

Giannetti – Eu acho que o Brasil teve um

momento de extraordinária maturidade. O

momento mais belo que eu considero da

democracia recente foi a transição do se-

gundo Fernando Henrique para o primeiro

Lula. Nós conseguimos fazer isso como ninguém jamais imaginaria.

RF – Ou seja, o primeiro mandato de Lula foi bom?

Giannetti – A primeira gestão do Lula e o ministério que ele

montou foram de excelente qualidade. Infelizmente, a partir do

mensalão, isso começou a se perder. A queda do ministro Antô-

nio Palocci e sua equipe também foi um episódio que deteriorou

a qualidade técnica da gestão econômica no Brasil. E o governo

Dilma, lamentavelmente, foi um aprofundamento do pior da ges-

tão Lula. Nós vamos ter que voltar ao bom momento que estava

sendo construído no segundo mandato Fernando Henrique e no

primeiro período do Lula, não com medidas iguais, mas com espí-

rito daquilo que vinha sendo construído e era bom para o Brasil.

RF – A ruptura de diálogo com o empresariado da presidente

Dilma também prejudica, não é?

“O momento mais belo que eu considero da democracia recente foi a transição do segundo FHC para o primeiro Lula“

12 financeiro julho 2014

Page 13: Financeiro Ed 87

Giannetti – Há uma centralização muito forte, uma postura um

pouco, eu diria, impositiva. A maneira como foi feita a mudança

no setor elétrico, por exemplo, foi de mão muito pesada. Isso

num setor crítico para o futuro do Brasil. Em uma medida ape-

nas, eles destruíram dezenas de bilhões de reais de patrimônio,

num setor carente de investimentos. Gerou uma enorme incer-

teza regulatória e o Brasil está agora com essa crise preocupan-

te, de possível racionamento no ano que vem. A disjuntiva hoje é

racionalizar agora ou racionar depois, com a probabilidade alta

de racionar depois.

RF – O que está ligado também ao investimento em infraestrutu-

ra, olhar a matriz energética.

Giannetti – O governo Dilma demorou muito para começar a se

mexer na direção correta nas concessões, primeiro por um blo-

queio, não tem outro nome, ideológico, depois por uma falta de

tino, de qualidade mesmo, no desenho das regras, do marco re-

gulatório. E agora, é parte daquele cenário de curva de aprendiza-

do, parece que estão entendendo como é que as coisas precisam

acontecer para que o investimento venha. Mas no caso de portos

e no caso de ferrovias ainda não foi feito.

RF – O senhor falou de credibilidade e a gente vê muita preo-

cupação do mercado financeiro e principalmente do agronegócio

em relação à Marina Silva.

Giannetti – Acho que existe muito ruído em relação à posição

da Marina diante do agronegócio. Ninguém pode ser contra o

agronegócio e a Marina certamente não é. O que ela enfatiza é

que há o bom agronegócio e que há também o agronegócio que

precisa ser disciplinado, porque adota práticas ruins de gestão

do patrimônio ambiental brasileiro. Agora, o Brasil tem vocação

global de fornecedor, com méritos competitivos, de alimentos, de

commodities agrícolas em geral e temos que aumentar a nossa

produtividade e ir fundo nesse caminho. Mas tendo a responsabi-

lidade ambiental.

RF – O Brasil tem também soja, que a China

tanto consome.

Giannetti – A nova classe média asiática

vai demandar alimentos que o Brasil pode

fornecer. E o Brasil tem que estar prepara-

do para fazer isso de uma forma sustentá-

vel. Não existirá agronegócio no Meio Oeste

brasileiro se não tiver a floresta amazônica,

porque o regime pluviométrico que permite

ao agronegócio existir está ligado ao serviço

ambiental prestado pelo bioma amazônico.

RF – Mas, como seria essa gestão?

Giannetti – Tenho insistido em separar

duas questões. Uma é o teor da legislação, que vai estabelecer o

nível de exigência requerido na administração dos recursos am-

bientais no século 21. Aí é o Código Florestal, as medidas ligadas

ao impacto ambiental de diferentes projetos de investimento, mas

são questões ligadas ao teor da legislação ambiental. Eu chamo

isso de altura da régua. Outra coisa, muito diferente, é: uma vez

estabelecida a altura da régua, quais vão ser os procedimentos

para a autorização e o licenciamento dos diferentes projetos de

investimento. E aí o Brasil tem muito a avançar, pode ser muito

mais rápido, muito mais confiável, estabelecendo muito maior

confiança jurídica. A ideia é que para o empresário é importante

saber rapidamente o que pode e o que não pode.

RF – Esse discurso vai na direção correta. Mas a Marina, ainda

assusta o empresário, principalmente o do agronegócio.

Giannetti – Acho que há muito ruído. Você tem razão ao falar

sobre essa resistência. Estive outro dia falando para empresários

da cadeia da soja e senti uma animosidade até desses empresá-

rios em relação à Marina. Não consigo entender a origem disso.

Tenho certeza de que há muito ruído também. É um mal-entendi-

do, até certo ponto é um mal-entendido. Acho que tem de conver-

sar, tem de abrir um canal de comunicação. Dizer que a Marina é

contra o agronegócio não se sustenta porque ela não é contra o

agronegócio. Assim como não é contra a hidroeletricidade. Nin-

guém pode ser contra a hidroeletricidade num país como o Brasil.

RF – Quais as novidades da proposta de Eduardo/Marina?

Giannetti – A proposta da aliança Eduardo/Marina vai trazer

para um primeiro plano das políticas brasileiras dois valores

que não foram até hoje devidamente contemplados, que são a

educação e o meio ambiente. É nisso que se traduz nossa ideia

de sustentabilidade. Não há futuro generoso para a nação bra-

sileira se não dermos para a educação e para o meio ambiente

uma centralidade nas pautas de política pública muito maior

do que foi dada até hoje. E nisso nos diferenciamos do outro

candidato de oposição.

RF – O próximo governo terá que enfrentar

a questão dos acordos com partidos no Con-

gresso e isso pode ser um entrave.

Giannetti – Aí entra o tema da governabili-

dade. Eduardo e Marina estão propondo sair

do governo de coalizão para um presiden-

cialismo de programa. Política é negociação.

A questão é negociação com base em quê?

Como tem sido praticado no Brasil hoje, é ne-

gociação com base em loteamento do Estado,

para obter apoio circunstancial no Congres-

so. Isso foi levado ao limite e é a razão maior,

talvez, do descrédito da política no Brasil.

13julho 2014 financeiro

Page 14: Financeiro Ed 87

entrevistadomês

RF – Como essa mudança seria colocada em prática?

Giannetti – Seria chamar, por exemplo, Lula e Fernando Henri-

que para discutir e chegar a um termo de ação comum em torno

de propostas de inclusão social, de equilíbrio macroeconômico.

E deixar de governar com as velhas forças da política brasileira.

RF – O senhor acha que é possível adotar essa estratégia?

Giannetti – Acho que tem de ser tentado, tem que ser construí-

do. Mas é para isso que a democracia existe. A nossa democracia,

lamentavelmente, está completamente desfigurada pelo abuso

dessa prática de negociação espúria.

RF – Há, por exemplo, um excesso de ministérios.

Giannetti – São 39 ministérios, inoperantes. Mas esse proble-

ma não é só no Executivo, não. É nas agências reguladoras, é na

gestão dos fundos de pensão das estatais, é nas estatais. O Es-

tado brasileiro está loteado. E isso prejudica muito a eficiência,

a eficácia, das políticas públicas e o direcionamento das ações

dentro do governo. Tem que romper com isso. Essa é uma grande

novidade da aliança Eduardo/Marina. É virar uma página de um

modelo que fracassou. As forças da velha política serão jogadas

para a oposição e as forças da nova política, ligadas ao Fernan-

do Henrique e ao Lula, serão chamadas a compartilhar ações em

torno de propostas que interessam de fato a todos.

RF – É uma guinada e tanto, não?

Giannetti – É, mas a democracia existe para que isso possa

acontecer. Se acontece em outras democracias maduras, não vejo

nenhuma razão intransponível para que não possa ocorrer tam-

bém no Brasil. Possivelmente uma reforma política possa ajudar

a construir esse modelo de governabilidade. O que está claro e

me parece inquestionável é que não dá para continuar nesse ca-

minho que estamos, porque ele se esgotou.

RF – Como o senhor se identificou com Marina Silva?

Giannetti – Já trabalhamos na eleição de 2010. Quem nos apro-

ximou foi o Guilherme Leal (empresário e copresidente do Conselho

de Administração da Natura). E fiquei muito impressionado com o

compromisso ético da Marina. Acho que é um tipo de liderança raro

em qualquer lugar do mundo. Um líder que se afirma não com base

em grupos de interesse, ou sindicato, ou estrutura partidária ou fi-

nanciamento. Mas que se afirma, sim, pela sua postura e pela sua

firmeza em defender princípios ligados a uma visão ética da vida.

Achei e sempre vou achar muito importante a presença de uma figu-

ra de liderança pública, como a Marina, no cenário brasileiro.

RF – A aliança com Eduardo Campos não enfraquece Marina?

Giannetti – Ela foi impedida de criar um partido político, de uma

forma truculenta. E ela se aliou ao Eduardo Campos em uma ten-

tativa de oferecer ao Brasil algo que ultrapasse essa polarização

PT-PSDB, da qual o eleitorado está cansado.

RF – Marina poderia ser a segunda presidente do Brasil?

Giannetti – Acho que ela é a candidata natural.

RF – A Marina não apoiou nem a Dilma nem o Serra no segundo

turno da eleição passada.

Giannetti – Apesar de uma enorme a pressão.

RF – A Marina se posicionou como uma terceira via, o que con-

quistou uma grande parte do eleitorado, que representa os 21%

que ela tem nas pesquisas. Quando ela fez a aliança com Eduardo

levou a pensar até que ponto essa aliança não a enfraquece.

Giannetti – Enfraqueceria muito mais se ela saísse completa-

mente do cenário político. Foi a posição que a opção que ela fez e

é um trabalho que está em construção.

RF – A proposta de chamar antigos presidentes e equipes para

conversar é muito complicada. O Fernando Henrique não seria

problema, já que ele aceitaria sem problemas sentar para con-

versar. O Lula até poderia dizer que sim, mas compor com o PT

é muito complicado, até pelo projeto de poder. Mas vocês, caso

ganhem as eleições, vão chamá-los ao diálogo, não é?

Giannetti – É, seria chamá-los com base no que eles represen-

tam, e seria baseado em propostas. Seria perguntar a eles assim:

“PT, vocês têm interesse em avançar na inclusão social? Temos

uma agenda de políticas sociais que consideramos interessan-

tes e que podem, inclusive, ser aprimoradas. Por que não juntar

forças para que essa agenda seja efetivamente implementada?” RF – E com o PSDB, como seria?

14 financeiro julho 2014

Page 15: Financeiro Ed 87

Giannetti – Da mesma forma. Seria chegar para o PSDB e di-

zer, em relação ao equilíbrio macroeconômico, que é um valor

central: “PSDB, nós temos interesse em estabelecer um equilí-

brio permanente, em bases duradouras, inclusive com aprimo-

ramento institucional. Vamos conversar sobre uma ação conjun-

ta com base nessas propostas?”

RF – A base seria o famoso tripé de política econômica?

Giannetti – Na macroeconomia, sem dúvida: austeridade fiscal,

Banco Central independente para cumprir o centro da meta e câmbio

flutuante. É o que vinha funcionando bem no Brasil e que se perdeu

no governo Dilma. As três pernas do tripé estão muito fragilizadas.

RF – E os outros partidos?

Giannetti – A tentativa será chamar os bons quadros dos par-

tidos onde quer que eles estejam. Bons quadros no sentido de

pessoas compromissadas com a melhoria da vida brasileira.

RF – Quais são, na sua avaliação, as chances de essa estratégia

ter sucesso?

Giannetti – Ninguém vai dizer que tem certeza de que dá para

fazer dessa forma. Não dá para dizer isso. Mas acho também que

ninguém pode dizer que não se deve tentar. A democracia existe

para que isso possa ser buscado e possa ser feito.

RF – O Armínio Fraga, presidente do BC no governo FHC, foi mui-

to atacado por ter se posicionado em relação ao salário mínimo.

Giannetti – O Flávio Giambiaggi (economista), em recente artigo

publicado na imprensa, matou a charada em relação ao salário

mínimo: dos benefícios previdenciários vinculados ao salário mí-

nimo, só 1% vai para os 10% mais pobres da população. Estamos

fazendo uma péssima política social atrelando os benefícios pre-

videnciários ao reajuste do salário mínimo. Por que não focar os

ganhos de renda real nos 10% mais pobres da população? Está

cheio de gente no Brasil com o benefício previdenciário de um

salário mínimo que não é pobre e que não vive disso.

RF – Qual é a sua avaliação sobre o salário mínimo?

Giannetti – O salário mínimo tem três coisas importantes: é um

piso salarial para o setor privado, é um indexador de benefícios pre-

videnciários e – coisa que é menos falada – também reajusta salá-

rios de funcionários públicos, especialmente em âmbito municipal.

O aumento do salário mínimo quebrou os municípios. Então esse

assunto de salário mínimo precisa ser discutido com muito mais

detalhe na sua particularidade do que dizer “sou a favor ou contra”.

RF – E o Bolsa Família?

Giannetti – O Bolsa Família deve ser alavanca, e não muleta.

RF – Qual é a sua avaliação sobre a carga tributária?

Giannetti – A carga tributária é totalmente desproporcional. É

um problema gravíssimo. Estamos com uma carga tributária de

36% do PIB e um déficit nominal de 3% do PIB. Ou seja, 40% da

renda brasileira transita pelo setor público. Tem duas coisas nes-

se assunto: uma coisa é o desenho da carga tributária, outra coisa

é seu tamanho. São dois problemas de primeiríssima ordem. Mas

só para completar o raciocínio, 40% da renda nacional transita

pelo setor público. E pergunto: qual é o investimento em forma-

ção bruta de capital fixo do Estado brasileiro? É 2,5% do PIB. Tem

algo de profundamente errado nas finanças públicas brasileiras.

RF – E há ainda outros problemas sérios...

Giannetti – O capital humano, a qualidade dos programas de

formação de recursos humanos e de saúde pública é deplorável.

E 40% da renda brasileira está sendo intermediada pelo Estado

brasileiro. Só o subsídio implícito no crédito subsidiado do BNDES

supera o volume do Bolsa Família.

RF – Uma situação grave, da qual pouco se fala.

Giannetti – E os empréstimos subsidiados do BNDES estão

concentrados em um grupo restrito de empresários. Ou seja, o

Estado brasileiro transfere mais recursos da sociedade para um

grupo seleto de parceiros empresariais, o “Bolsa BNDES”, do que

transfere para 40 milhões de pessoas no Bolsa Família. Essa

comparação é feita por um próprio técnico do governo, que é o

Mansueto Almeida. O Bolsa Família representa 0,5% do PIB e o

subsídio do BNDES é 0,6% do PIB. E esse governo posa de “amigo

do pobre”. E cria um clima de medo, de “nós contra eles”.

RF – Qual seria, na sua avaliação, a probabilidade de a aliança

Eduardo/Marina apoiar a presidente Dilma no segundo turno?

Giannetti – O governo prefere concorrer com o PSDB, que é

considerado como o “freguês” deles. Mas o apoio da aliança para

a Dilma é impossível. Não acredito nisso. O Eduardo Campos saiu

do governo, “queimou a ponte”, não tem como. f

“O Bolsa Família deve ser alavanca, e não muleta”

15julho 2014 fINANCEIRo

Page 16: Financeiro Ed 87

Soluções mais rápidas

O Ministério da Justiça lançou no dia 2 de

julho a Estratégia Nacional de Não Judi-

cialização (Enajud). Na primeira etapa da

cerimônia de lançamento, uma portaria intermi-

nisterial foi assinada pelos ministros José Eduar-

do Martins Cardozo, da Justiça, Garibaldi Alves Fi-

lho, da Previdência Social, e Luís Inácio Adams, da

Advocacia-Geral da União (AGU). Na segunda parte

Ministério da Justiça lança

estratégia para diminuir

número de processos

judiciais

da solenidade, um acordo de cooperação técnica

foi assinado entre o Ministério da Justiça, entida-

des de representação e empresas.

Por parte das empresas, elas se comprome-

teram a adotar métodos alternativos para solução

de conflitos com os contribuintes, consumidores e

clientes, em uma tentativa de reduzir os 92 milhões

de processos que atualmente tramitam na Justiça.

reformadojudiciário

Érico Ferreira, presidente da Acrefi; José Eduardo Martins Cardozo, ministro da Justiça, e Flávio Crocce

Caetano, secretário de Reforma do Judiciário

16 financeiro julho 2014

Page 17: Financeiro Ed 87

Da esq. para a dir.: Murilo Portugal, presidente da FEBRABAN; Luis Carlos Trabuco, presidente da CNF; Érico Ferreira, presidente da Acrefi; Alexandre Gluher, diretor vice-presidente do Bradesco, e Marco Antonio Rossi, presidente da CNSeg

A Enajud foi instituída pelo Ministério

da Justiça, pela Advocacia-Geral da União

e pelo Ministério da Previdência Social,

com a colaboração do Conselho Nacional

do Ministério Público. A Ordem dos Advo-

gados do Brasil (OAB) e a Defensoria Pú-

blica da União (DPU) firmaram o termo de

cooperação. A Enajud tem como objetivo

evitar que cheguem ao judiciário conflitos

que podem ser solucionados por meios al-

ternativos. De acordo com o Secretário de

Reforma do Judiciário, Flávio Crocce Ca-

etano, cerca de 95% das demandas judi-

ciais envolvem o setor público, os bancos

e as empresas de telecomunicações.

Das instituições financeiras, que re-

presentam 38% das ações na Justiça,

Acrefi, CNF, FEBRABAN, Banco do Bra-

sil, Caixa Econômica Federal, Unibanco e

Bradesco assinaram o acordo. Vivo, TIM,

Claro e Brasil Telecom são as empresas

de telefonia que aderiram à nova solu-

ção. As teles são responsáveis por 6%

das ações. “A Enajud é um grande reco-

nhecimento não só das empresas, mas

também do governo, de que o trabalho

COMO FuNCIONA – A mediação, a con-

ciliação e a negociação são algumas das

alternativas propostas pela Enajud. A

mediação é o método pelo qual duas ou

mais pessoas, envolvidas em um conflito

potencial ou real, recorrem a um terceiro,

que irá facilitar o diálogo entre elas, para

que se chegue a um acordo.

Na conciliação, as partes sub-

metem seu conflito à administração

de um terceiro imparcial, o concilia-

dor, que aproxima as partes, formu-

la propostas de acordo e aponta as

vantagens de cada ponto sugerido

pelas partes. Na negociação, não se

recorre a um terceiro. As próprias

partes solucionam, conjuntamente,

os problemas. Sem formalidades, as

partes fazem concessões recíprocas,

barganham e compõem seus inte-

resses, buscando a solução que me-

lhor lhes convenha.

A LEI – O artigo 4° do Código de De-

fesa do Consumidor tem por objetivo

atender a alguns princípios, entre eles

a “harmonização dos interesses dos

participantes das relações de consu-

mo e compatibilização da proteção do

consumidor com a necessidade de de-

senvolvimento econômico e tecnológi-

co, de modo a viabilizar os princípios

nos quais se funda a ordem econômi-

ca (art. 170, da Constituição Federal),

sempre com base na boa-fé e equilí-

brio nas relações entre consumidores

e fornecedores”.

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conjunto dos parceiros da atividade eco-

nômica pode ajudar a melhorar o País. Eu

diria que a Enajud representa uma con-

quista”, afirma Vitor Moraes de Andrade,

presidente da ABRAREC – Associação

Brasileira das Relações Empresa-Cliente.

Os termos de cooperação visam o

desenvolvimento de estratégias conjun-

tas. “Cada um desses segmentos vai fi-

xar metas e ações anuais, que vão ser

avaliadas por meio de um plano bienal. A

cada três meses faremos um monitora-

mento com a participação de todos para

analisar se as metas estão sendo atingi-

das ou não. É um compromisso público

e ético assumido pelas empresas. Esse

acordo melhora a imagem institucional e

o consumidor passa a ter mais confiança

na empresa”, explica Caetano.

A prática da mediação é utilizada

com sucesso em países como Argentina

e Itália, que obtêm alto índice de êxito. A

Enajud tem como meta promover solu-

ções mais rápidas aos cidadãos, evitar

gastos elevados por parte das empresas

e diminuir as despesas públicas. “O nos-

so trabalho é voltado a garantir o acesso

à justiça e aprimorar a proteção aos di-

reitos fundamentais previstos na Cons-

tituição Federal”, diz Flávio Caetano. f

17julho 2014 financeiro

Page 18: Financeiro Ed 87

18 financeiro julho 2014

De olho na realidade jurídica

A Lei Anticorrupção, o trabalho do Conselho

Nacional de Justiça (CNJ), a reforma do Ju-

diciário e a atuação do COAF (Conselho de

Controle das Atividades Financeiras) foram os temas

abordados durante o 6º Seminário Jurídico Acrefi, re-

alizado no dia 22 de maio em Brasília. Palestras de

especialistas e de autoridades mostraram aos execu-

tivos presentes ao encontro detalhes desses assuntos

de grande importância para o sistema financeiro.

Ao falar no seminário sobre a Lei Anticorrupção,

a especialista Danyelle da Silva Galvão, mestra em

Direito Processual Penal pela Faculdade de Direito

da USP, lembrou que a legislação tem apenas nove

páginas, mas trata de temas importantes: “A Lei

12.846 é positiva e foi adotada no Brasil também

em consequência de pressões de países desenvol-

vidos. Estabelece a responsabilização objetiva para

pessoas jurídicas que estiverem envolvidas em atos

de corrupção, independentemente da consumação

desses atos. Também define que a empresa pode ter

responsabilidade diminuída se tiver implantado uma

política de compliance.”

Outros pontos da lei lembrados por Danyelle Gal-

vão foram a possibilidade de responsabilizar também

as pessoas físicas – desde que comprovado dolo ou

culpa – e o acordo de leniência. Este ponto, no entanto,

gerou incerteza: “Existe um movimento do Ministério

Público para saber como será feito esse acordo”.

A responsabilização também tem provocado

questionamentos, segundo a especialista: “É pre-

ciso saber como será a prova da responsabilização

e como será apurada. E a lei não prevê a possibili-

dade de recurso”.

Danyelle Galvão disse ainda que existe a neces-

sidade de regulamentar o processo administrativo.

Nesse ponto, segundo ela, o município de São Paulo

tomou a iniciativa e no dia 14 de maio explicitou como

será o acordo de leniência, em pontos não detalha-

dos pela Lei 12.846, como detalhes sobre as provas,

ouvir testemunhas, e se cabe recurso no caso de

multa: “A cidade de São Paulo ficou, com essa inicia-

tiva, muito à frente do Poder Executivo federal, ao ser

explícita em relação a esses pontos”.

Ela considera fundamental que se estabeleçam

os efeitos da lei no âmbito criminal e garante que a

regulamentação é imprescindível para que os limites

da investigação sejam estabelecidos.

A palestrante informou também que fez um levan-

tamento e constatou: aconteceram 200 operações po-

liciais de porte desde 2013 e grande parte delas foi de

combate à corrupção. Houve também um crescimento

de 132% em prisões relacionadas à corrupção.

Em seguida, Carl Olav Smith, juiz auxiliar da

presidência do Conselho Nacional de Justiça, falou

no 6º Seminário Jurídico Acrefi sobre a atuação do

CNJ: “Muitos consideram que somos apenas um ór-

gão fiscalizador, mas vamos além – tratamos tam-

bém da administração pública e do planejamento do

Judiciário, entre outras atribuições. Temos que ser

o órgão centralizador do Poder Judiciário como um

todo, o que depende de um trabalho de articulação

com outras entidades”.

Para cumprir suas tarefas, informou Carl Olav

Smith, o CNJ busca utilizar a tecnologia. É o caso dos

mandados de prisão: “Antigamente era necessário

consultar os 27 Estados da Federação para saber se

podia ser feita a liberação. Para mudar essa situação

foi desenvolvido um aplicativo que informa se existe

algum mandado contra a pessoa, ou seja, a informa-

ção tornou-se bem mais rápida”.

eventoDF

Seminário da Acrefi, em Brasília, discute a

Lei Anticorrupção, a reforma do Judiciário,

o trabalho do CNJ e a atuação do COAF

Page 19: Financeiro Ed 87

19julho 2014 financeiro

Danyelle da Silva Galvão, mestra em Direito Processual Penal pela Faculdade de Direito da USP

Carl Olav Smith, juiz auxiliar da presidência do

Conselho Nacional de Justiça

De olho na realidade jurídicaà população, mais rápido e com menos processos a

julgar. De acordo com o palestrante, é preciso tornar

os processos judiciais mais rápidos, valorizando a

primeira e a segunda instâncias, além de inovar na

gestão com a adoção do processo eletrônico, que já

reduz os prazos em cerca de 60%.

Carl Smith informou também que o CNJ tem

atuado para agilizar os processos judiciais e citou

como exemplo o Renajud, ferramenta eletrônica

que interliga o Judiciário e o Denatran (Departa-

mento Nacional de Trânsito), possibilitando a efeti-

vação em tempo real de ordens judiciais de restri-

ção de veículos. Ele lembrou que o CNJ desenvolveu

o PJe (Processo Judicial Eletrônico), para permitir a

prática de atos processuais e o acompanhamento

do processo, independentemente da tramitação na

Justiça dos Estados, na Justiça Militar dos Estados

ou na Justiça do Trabalho.

A adoção do PJe – afirmou Carl Smith – é vanta-

josa também porque o sistema utiliza somente com-

ponentes públicos, “o que reduz o custo com equipa-

mentos de armazenamento e com o sistema, além

de ser uma aplicação de internet que, como tal, pode

ser acessada em qualquer local do Brasil”.

Por sua vez, Flávio Crocce Caetano, secretário

nacional de Reforma do Judiciário, falou durante o

6º Seminário Jurídico Acrefi sobre as medidas a se-

rem tomadas para tornar o Judiciário mais acessível

Quanto à gestão, Flávio Crocce Caetano recordou

que há mais de 92 milhões de processos no Brasil,

o que significa que cada juiz julga 1.400 processos

por ano. Para reduzir esse problema, ele propõe a

criação de carreiras de apoio aos juízes, que possam,

entre outras funções, administrar as audiências. O

palestrante considera fundamental também mudar a

cultura jurídica do País, adotando-se o consenso em

vez do conflito: “Pesquisa da Fundação Getúlio Var-

gas mostrou que 89% dos entrevistados preferem

fazer acordo e que 43% são a favor da conciliação.

Está claro que é possível optar pela conciliação.”

O especialista lembrou que a Secretaria de Re-

forma do Judiciário existe há dez anos e que entre as

ações adotadas pelo órgão estão: a Lei da Mediação;

Page 20: Financeiro Ed 87

20 fINANCEIRo julho 2014

Antonio Gustavo Rodrigues, presidente do COAF

Flávio Crocce Caetano, secretário de Reforma do Judiciário

Enajud (Estratégia Nacional de Não Judicialização),

que tem a Acrefi entre suas parceiras; Casa de Di-

reitos; Justiça Comunitária; Atlas da Justiça; e Escola

Nacional de Mediação e Conciliação.

O secretário nacional de Reforma do Judiciário

destacou os pontos positivos da Lei da Mediação para

as partes do processo, incluindo: a inexistência de cus-

tas judiciais quando houver acordo durante o processo;

soluções mais satisfatórias para as partes; possibili-

dade de discussão de vários aspectos relacionados ao

conflito; e participação ativa das partes. Para a socieda-

de, de acordo com o palestrante, os benefícios da Lei de

Mediação incluem: o efeito pedagógico, com o incentivo

ao diálogo; o andamento mais rápido dos processos; e

a diminuição de casos no Poder Judiciário.

Flávio Crocce Caetano informou também em sua

palestra que a Lei de Mediação estabelece que podem

atuar como mediadores pessoas que tenham se gra-

duado há dois anos ou mais; tenham nível superior

completo em qualquer curso; façam o curso de me-

diador; e tenham cadastro obrigatório para serem me-

diadores judiciais, sob controle dos tribunais.

Ele lembrou que a mediação faz sucesso em

países vizinhos, como a Argentina, em que o índice

de êxito das mediações é de 43%, e que a implanta-

ção do sistema no Brasil tem tudo para ser um su-

cesso. “Estamos com o vento a favor no País. Todos

querem a mediação”, concluiu Caetano.

Já Antonio Gustavo Rodrigues, presidente do

COAF (Conselho de Controle de Atividades Financei-

ras), disse em sua palestra no evento da Acrefi que

a prevenção à lavagem de dinheiro abrange muitas

eventoDF

vezes situações que não são ilegais, mas sim sus-

peitas: “Tratamos muitas vezes de fatos que causam

estranheza, embora sejam legais. Pagar um imóvel

em dinheiro vivo, por exemplo, não é ilegal, mas cha-

ma a atenção”.

Rodrigues disse que o COAF recebeu 1,286 mi-

lhão de comunicações sobre suspeitas de irregulari-

dades em 2013 e que até maio de 2014 esse número

chegou a 413 mil: “Esse crescimento foi incentivado

e é positivo, embora persista o problema relacionado

à qualidade dessas comunicações”.

O presidente do COAF explicou que a entidade

criou um sistema de avaliação das comunicações, e

que 92,4% dos casos receberam nota 3 ou inferior (o

que significa que a qualidade das comunicações não

é satisfatória): “Prevalece a tese de que, na dúvida,

comunica-se o COAF. Essa não é uma postura con-

denável, mas ao mesmo tempo é preciso aprimorar

a qualidade das informações que nos são enviadas,

em busca do aprimoramento do sistema”.

Entre as iniciativas do COAF para melhorar esse

quadro, Antonio Gustavo Rodrigues citou os Relató-

rios de Inteligência Financeira, que somaram 2.450

no ano passado. Além disso, o órgão tem ampliado

sua ação em segmentos como cartórios, juntas co-

merciais, sorteios e loterias e até um grupo formado

por profissionais e empresas de intermediação de

atletas e artistas. Esse trabalho, segundo ele, não

pode ser confundido com fiscalização: “É importante

lembrar que o COAF é parceiro do sistema financeiro

e não tem entre suas atribuições a fiscalização. Essa

é uma responsabilidade do Banco Central”. f

Page 21: Financeiro Ed 87

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Atenção redobradaEvento realizado pela Acrefi sobre responsabilidade socioambiental no sistema financeiro deve gerar ganhos importantes para evolução do setor

responsabilidadesocial

22 financeiro julho 2014

Um amplo processo de disseminação do

conceito de sustentabilidade e melhores

práticas de gestão socioambiental nas

instituições financeiras trazem ganhos importan-

tes para a evolução do setor. Essa foi a proposta

apresentada pela Acrefi no evento “Resolução

4.327 – Responsabilidade Socioambiental no Sis-

tema Financeiro”, realizado dia 26 de junho no Ho-

tel Renaissance, em São Paulo.

Antonio Marcos Fonte Guimarães, assessor ple-

no do Banco Central do Brasil, enfatizou que o com-

promisso permanente das organizações em adotar

um comportamento ético contribui para o desen-

volvimento econômico, melhorando a qualidade de

vida dos empregados e da sociedade. “Essa é uma

discussão em âmbito nacional e internacional de

longa data e a política de responsabilidade socio-

ambiental, na qual publicamos uma norma quali-

tativa, transfere a responsabilidade para que cada

instituição conheça seu negócio. O aspecto de sua

adoção traz ganhos para o sistema”, pontuou.

Para ele, é preciso mudar o paradigma não so-

mente na forma como as instituições investem na

Responsabilidade Socioambiental, mas como ga-

nham pelos recursos investidos. “É importante in-

corporar isso em sua conduta do dia a dia, pois se

trata de uma prática ética”, enfatizou Guimarães.

Como exemplos práticos de benefícios, o es-

pecialista citou o microcrédito, operações em que

instituições especializadas emprestam pequenas

quantias de dinheiro para empreendedores, e o

Crédito de Carbono, no qual países ou empresas

que conseguem reduzir suas emissões abaixo das

metas do Protocolo de Kyoto geram créditos por

essa redução excedente. “Um problema socioam-

biental, dependendo da estrutura da instituição,

pode comprometer não só em dano de imagem,

mas também em risco de operação do negócio”,

alertou Guimarães.

Rômulo Sampaio, sócio do Escritório Reis &

Sampaio e docente na FGV-RJ, relatou que o tema

de responsabilidade civil e ambiental, depois de

alguns acórdãos do Supremo Tribunal Federal

(STJ), ganhou atenção permanente das institui-

ções financeiras. “Ainda há falhas no sistema de

prevenção devido ao excesso de agências regula-

tórias, embora o Brasil esteja avançado na regu-

lação. O marco legal está um pouco atrasado, e o

interessante seria ter uma lei que tratasse dessa

participação das instituições financeiras para dar

Page 23: Financeiro Ed 87

Antonio Marcos Fonte Guimarães, assessor do Banco Central do Brasil

Rômulo Sampaio,sócio do Escritório Reis & Sampaio

Gustavo José Marrone de Castro Sampaio, diretor de Autorregulação da FEBRABAN

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23julho 2014 financeiro

mais robustez a essa regulação recente do Banco

Central. Autorregulamentação e compliance vo-

luntária melhorariam essas iniciativas”, analisou.

Sampaio citou um exemplo de um caminhonei-

ro que transportava uma carga irregular de ma-

deira no Estado de Minas Gerais e, quando apre-

endido, a responsabilidade objetiva inicialmente

recaiu sobre uma instituição financeira, uma vez

que fez o leasing do veículo. “Quando isso aconte-

ce, o que temos é um cenário de caos. Precisamos

fazer um trabalho amplo de conscientização sobre

o tema. O caso foi rechaçado pelo poder judiciário,

uma vez que não se pode imputar esse dever de

cuidado a uma financeira, mas é importante um

marco regulatório para corrigir esse tipo de dis-

torção”, avaliou o advogado.

Segundo Gustavo José Marrone de Castro Sam-

paio, diretor de Autorregulação da FEBRABAN, a enti-

dade olha com atenção para o tema desde o momen-

to em que o Banco Central (BC) soltou uma regulação

intitulada ‘Edital de Consulta Pública 41/2012’. “Te-

mos um corpo técnico na entidade que entende a

importância da regularização de medidas socioam-

bientais em todo o sistema financeiro e, ativamente,

trabalha a questão com os nossos membros – sendo

composta por 19 instituições que concentram 95%

das carteiras de pessoa física”, explicou.

Marrone disse que a autorregularão na FEBRA-

BAN é voluntária, ou seja, quem quiser receber um

selo de reconhecimento deve aderir ao programa.

“Elas passam a ser monitoradas e acompanhadas

sobre essas atividades internas, dentro de suas

ações de funcionamento. A estratégia é definir um

patamar mínimo de procedimentos, evitando dis-

paridade e, com auxílio técnico, evitar prejuízos nas

instituições. Políticas de riscos socioambientais

também foram criadas para minimizar os riscos

em financiamentos a projetos que possam impactar

tanto o meio ambiente quanto a sociedade, evitando-

-se, assim, embates no campo jurídico”, finalizou. f

Page 24: Financeiro Ed 87

O Conselho Monetário Nacional (CMN) apro-

vou, em 25/4/14, a resolução 4.327 es-

tabelecendo diretrizes que devem ser

observadas na implementação da Política de Respon-

sabilidade Socioambiental (PRSA) pelas instituições

financeiras e demais instituições autorizadas a fun-

cionar pelo Banco Central.

Parte do princípio de que as instituições financei-

ras devem demonstrar como consideram os riscos

socioambientais no processo de gerenciamento das

diversas modalidades de risco a que estão expostas.

É o resultado de ampla discussão com a so-

ciedade, iniciada em 2011 e depois da divulgação

de edital de audiência pública durante a Confe-

rência das Nações Unidas para o Desenvolvimen-

to Sustentável (Rio+20).

Estabelece que, para a implementação da PRSA,

as instituições financeiras devem pautar as suas

ações de natureza socioambiental de acordo com as

seguintes diretrizes e critérios gerais, entre outros:

1) Sistemas, rotinas e procedimentos que possibi-

litem identificar, classificar, avaliar, monitorar, mitigar

e controlar o risco socioambiental presente nas ativi-

dades e nas operações da instituição; e

2) Avaliação prévia dos potenciais impactos

socioambientais negativos de novas modalidades

de produtos e serviços, inclusive em relação ao

risco de reputação.

Permite-se que tais políticas sejam aplicadas de

forma equilibrada e diferenciada pelas instituições

financeiras e demais instituições autorizadas a fun-

cionar pelo Banco Central, levando-se em conta os

diferentes perfis de negócios, estimulando-se a redu-

ção de riscos ao sistema financeiro, sem que sejam

gerados custos adicionais ao tomador de crédito final.

A política deve tratar da governança da

PRSA, inclusive para fins do gerenciamento do

risco socioambiental.

Está previsto prazo para que seja aprovada a

PRSA, e iniciada a execução do respectivo plano de

ação, conforme o seguinte cronograma:

1) Até 28 de fevereiro de 2015, por parte das ins-

tituições obrigadas a implementar o Processo Interno

de Avaliação da Adequação de Capital (Icaap), confor-

me regulamentação em vigor; e

2) Até 31 de julho de 2015, pelas demais ins-

tituições.

A norma agrega a variável socioambiental à tradi-

cional abordagem econômico-financeira das institui-

ções e inclui o gerenciamento do risco socioambiental

em suas atividades, serviços e produtos financeiros.

As unidades de gerenciamento de risco das insti-

tuições financeiras terão, agora, de se adequar à nova

regulamentação, designando diretor responsável pela

PRSA, bem como estabelecendo, de forma facultativa,

comitê de responsabilidade socioambiental para mo-

nitorar e avaliar o seu cumprimento.

A resolução traz a incorporação do tema no dia a

dia das instituições financeiras e ganha repercussão

na medida em que cada vez mais são instados por

órgãos de controle, a exemplo do Ministério Público.

A não observância dos preceitos ditados pela

nova norma poderá trazer consequências que

não se restringirão a eventual responsabilidade

civil por dano ambiental (lembrando que ela é de

natureza objetiva), mas poderão acarretar prejuí-

zo aos maiores patrimônios das instituições, que

são sua imagem e sua reputação. f

Responsabilidade socioambiental das instituições

financeirasPor Rosi Vuolo

sustentabilidade

Rosi Vuolo, especialista em Controles Internos e Compliance do Itaú Unibanco

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2014

24 financeiro julho 2014

Page 25: Financeiro Ed 87

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Page 26: Financeiro Ed 87

Marco Stefanini, CEO global do Gru-

po Stefanini, é uma pessoa que não

perde o foco e muito menos o fio da

meada. Ao retomar a entrevista que concedeu à

Financeiro, depois de interrompê-la para atender

à chamada de um ministro, o empresário engatou

a conversa exatamente do mesmo ponto que ha-

via parado antes de pedir licença para se ausen-

tar por alguns minutos. Essa sua capacidade de

concentração, aliada ao seu perfil empreendedor,

certamente contribuiu para o sucesso do Grupo

Stefanini, uma multinacional brasileira que está

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perfilcorporativo

Fundado há 27 anos por Marco Stefanini, o Grupo Stefanini é uma multinacional brasileira, presente em 33 países, e ranqueada entre as 100 maiores empresas de TI do mundo, com faturamento anual de R$ 2,11 bilhões

entre as 100 maiores empresas de TI do mundo,

segundo levantamento da BBC News. “Aqui, como

na vida, 80% é transpiração e 20% inspiração”,

diz Stefanini, que há 27 anos conduz o grupo que

conta com mais de 17 mil funcionários e fatura-

mento anual de R$ 2,11 bilhões, sendo 40% desse

valor gerado por negócios no exterior.

O grande salto, no entanto, aconteceu a partir

de 2010, quando o grupo acelerou sua expansão,

aliando ao crescimento orgânico a aquisição de al-

gumas empresas. “Junto com esses investimentos

veio um processo de globalização mais intenso.

Exemplo nacional

26 financeiro julho 2014

Page 27: Financeiro Ed 87

Há quatro anos, o faturamento das operações in-

ternacionais correspondia a 15% do volume total.

Hoje, esse valor equivale a 40% dos rendimentos

do grupo e já temos mais de 8 mil funcionários que

atuam fora do Brasil, conta Stefanini.

Entre as aquisições feitas pelo grupo, uma das

mais significativas foi a Orbitall, em 2011, empre-

sa de soluções de tecnologia para cartões de cré-

dito, fundada em 2000 pela Credicard. “No setor de

tecnologia, a oferta de serviços se transforma ra-

pidamente em commodities. Então, o empresário

só tem uma saída: investir e crescer. Caso contrá-

rio, estará morto”, alerta Stefanini.

“Há oito anos, o mercado brasileiro

era formado por um número maior

de empresas e éramos apenas a

terceira ou a quarta força do setor.

Hoje, ficamos praticamente sozi-

nhos”, lembra o empreendedor. Mes-

mo estando presente em 33 países,

o Grupo Stefanini ainda é visto nas

concorrências globais como algo

exótico diante dos gigantes norte-

-americanos e europeus de TI.

Segundo Marco Stefanini, o fato

de o grupo continuar a ser nacional

tem tudo a ver com o sonho de cons-

truir. “Para mim, o empreendedor

tem que ser uma pessoa realista,

de pé no chão, mas, por outro lado,

com forte componente de sonho. É

preciso misturar realidade e utopia

para construir algo diferente”, diz o

empresário. “Sempre gostei de de-

safio, de viajar, conhecer o mundo.

Para você tocar um projeto de glo-

balização é preciso ter uma visão

de longo prazo. São necessário 10,

15 anos para se ter retorno.”

Para auxiliar na administração

dos negócios, o grupo está dividido

em quatro núcleos: Brasil; América

Latina, sem o Brasil; Europa, Amé-

rica do Norte e Ásia; e a Orbitall,

sendo cada um deles administrado por um líder.

No caso da Orbitall, o cargo de diretor-geral é

ocupado por Marcos Monteiro. Os administrado-

res têm um grau de autonomia bastante grande,

o que reduz bastante as minhas viagens. Mas eu

continuo viajando porque gosto de estar próximo

dos clientes, conta Stefanini.

Sobre seu investimento voltado para a Orbi-

tall, ele planeja aplicar R$ 150 milhões nos pró-

ximos anos para renovação e melhoria do parque

tecnológico. Os recursos já foram direcionados

para a contratação de um novo data center e a

27julho 2014 financeiro

Page 28: Financeiro Ed 87

Marcos Monteiro, diretor geral da Orbitall

atualização das plataformas de processamento

da empresa. Segundo Marcos Monteiro, a Orbitall

pretende tornar-se a maior processadora inde-

pendente de meios de pagamento do mercado

brasileiro. “Isso nos permite oferecer soluções

integradas, que agreguem valor e resultados aos

negócios dos clientes, melhorando a eficiência

e reduzindo os custos” detalha Monteiro. Entre

seus serviços estão benefícios relacionados a

cartão de crédito, cobrança, mesa de crédito, me-

canismo antifraude, atendimento, etc.

“Os bancos, que antes olhavam com cer-

ta desconfiança os serviços terceirizados, hoje

estão se abrindo, buscando maior eficiência,

rapidez e menor custo nos processos”, garante

Stefanini. No entanto, em tecnologia é sempre

importante correr em busca dos avanços. Além

disso, não se pode desperdiçar tempo nem ra-

ciocínio. Com vários negócios distribuídos em

diversas regiões, sempre se tem a sensação de

alguma coisa ter ficado para trás. É preciso man-

ter o equilíbrio diário dos pratinhos. Alguns che-

gam a cair, mas os principais continuam girando,

ensina Marco Stefanini, que mesmo já medindo

forças com os líderes mundiais, ainda chega a

trabalhar 14 horas por dia. f

GRuPO STEFANINI

Fundação: 27 anos

Faturamento: 2,11 bilhões,

40% gerados no exterior

Presença global: 33 países

Funcionários: 17 mil, 8 mil fora do Brasil

Com sua sede no Jardim Adalgiza, zona oeste

de São Paulo, o Instituto Stefanini é voltado para

a formação educativa e profissional de adoles-

centes a partir de 16 anos e adultos. Por meio

do programa Educar para Crescer, eles recebem

aulas de informática, cursos administrativos, ofi-

cinas culturais de teatro, canto e violão. Conheça

os projetos do instituto:

Inclusão Digital – Cursos regulares nas

áreas de tecnologia, que permitem ao aluno

desenvolver novas habilidades e conhecimen-

tos para sua inclusão ou recolocação no mer-

cado de trabalho.

Oficina de Geração de Renda – Iniciativa que

visa buscar alternativas para a sustentabilidade do

Instituto Stefanini, como também incentivar e de-

senvolver no aluno práticas de empreendedorismo.

A oficina de artesanato é uma das ações que pro-

porcionam uma alternativa de renda aos alunos.

Banco de Oportunidades – Iniciativa vol-

tada à captação de vagas em aberto nas em-

presas do Grupo Stefanini, como também em

clientes e fornecedores. As empresas parcei-

ras em busca de profissionais qualificados in-

formam as vagas em aberto e o perfil exigido

do candidato.

Projeto Escola – Iniciativa que deu origem

à entidade. Anualmente, a instituição seleciona

projetos oriundos de escolas públicas que apre-

sentem iniciativas inovadoras voltadas à melho-

ria nos ensinos infantil, fundamental e médio.

RESPONSABILIDADE SOCIAL

perfilcorporativo

28 financeiro julho 2014

Page 29: Financeiro Ed 87

Na trilha do amadurecimento do ambiente

econômico, em meados dos anos 90, sur-

gia no Brasil a necessidade de se criar

mecanismos que garantissem a confiança no sis-

tema financeiro. Como nos lembra o passado mais

remoto, alguns bancos não resistiram à conjuntura

sem inflação e quebraram. Naquele contexto, era

premente estabelecer uma estrutura que resgatas-

se a sensação de segurança dos depositantes e, por

tabela, consolidasse os ganhos advindos da estabi-

lidade monetária.

A materialização dessa preocupação se tradu-

zia na adoção de instrumentos adicionais de acom-

panhamento e a consequente formação de redes

para proteção dos poupadores. Empréstimos de

última instância, regulação eficaz, fiscalização efi-

ciente, estrutura legal adequada e proteção direta

a depositantes por meio de um mecanismo garan-

tidor sempre foram componentes dessa rede, cujo

objetivo é único: a manutenção de um sistema ban-

cário sólido, saudável e, sobretudo, confiável aos

olhos do público em geral.

O Fundo Garantidor de Créditos (FGC) nasceu,

em 1995, com essa missão e dois objetivos clara-

mente definidos: o primeiro, proteger a poupança

popular. Hoje, o FGC protege 99,7% dos depositan-

tes do País até o limite de R$ 250 mil por CPF ou

CNPJ e por instituição financeira. O segundo obje-

tivo era assegurar a confiança no sistema bancário

pós-Plano Real – vale lembrar a implantação do

Proer, também em 1995, voltado ao saneamento

dos bancos privados, que garantiu ao Brasil um dos

menores custos de crise bancária da história eco-

nômica mundial.

Em 20 anos de atuação, o FGC fortaleceu con-

sideravelmente suas reservas, cortou para menos

da metade o valor das contribuições dos bancos,

aumentou por mais de uma vez o limite da garantia

prestada, além de ter desempenhado importante

redesdeproteção

O FGC e as garantias aos depositantesPor Caetano de Vasconcellos Neto

Caetano de Vasconcellos Neto,

diretor jurídico do FGC

papel na crise financeira que eclodiu em 2008.

O FGC deixava, naquele momento, de ser ape-

nas uma “caixa pagadora” aos depositantes de

bancos quebrados para exercer também um papel

proativo, contribuindo para a liquidez e a solidez do

sistema e, com isso, para evitar corridas bancárias

e seus graves efeitos sobre a economia.

Não obstante sua natureza de direito privado,

constituído sob a forma de associação civil sem fins

lucrativos, não se pode ignorar que o FGC exerce

função de interesse público. Seria equivocado

atribuir ao fundo, por exemplo, a responsabi-

lidade de “instância de socorro” de gestores

qualificados e remunerados para orientar os

investimentos e aplicações de terceiros.

Exemplo disso são alguns fundos de pen-

são, que confrontam os princípios do direito

administrativo ao pleitear que seus associa-

dos sejam garantidos individualmente, inde-

pendentemente do risco tomado e da perti-

nência do investimento. Pergunto: como fica

o risco moral? Afinal, uma das premissas

quando da criação do FGC era a proteção dos

pequenos depositantes, que não têm essa ca-

pacidade de avaliação.

Vale notar, ainda, que o FGC, apesar de em

certos aspectos se assemelhar a uma socieda-

de seguradora, não pode ser confundido como

tal – assim o fosse, seria mandatório que recebesse

contribuições diferentes das diversas instituições

em razão direta do conceito de risco de mercado. E,

se adotada essa linha, em vez de atuar para a prote-

ção do sistema, estaria o fundo atuando na direção

contrária, fomentando o desequilíbrio, a insegurança

e a desconfiança no mercado.

A capacidade financeira do fundo, combinada

com a sensação de higidez econômica infinita, não

pode nem deve embasar teses jurídicas e decisões

judiciais que visam alcançar o patrimônio do FGC a

qualquer custo. É preciso dizer, antes de tudo, que

o fundo tem, sim, grande capacidade e patrimônio,

mas adequados à sua finalidade.

E, dentro de sua abrangência, cabe cuidar para

que o investidor pequeno e médio – à semelhança

do homo medius e não no sentido do valor investido

– esteja protegido no âmbito do mercado financeiro

contra eventuais quebras de bancos, dotando o sis-

tema da confiabilidade desejável. f

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em 1

4/7/

2014

29julho 2014 financeiro

Page 30: Financeiro Ed 87

regulamentação

Em 29 de janeiro de 2014, entrou em vigor a

Lei nº 12.846/2013, conhecida como Lei An-

ticorrupção, que dispõe sobre a responsabi-

lidade administrativa e civil das pessoas jurídicas

pela prática de atos contra a administração pública,

nacional e estrangeira.

Apesar de inovadora no cenário pátrio, a apro-

vação da lei não é um fenômeno isolado, pois de-

correu de compromisso assumido pelo Brasil em

convenções internacionais e perante a OCDE, e

acompanha movimento mundial contra a corrupção

e a lavagem de dinheiro.

Os atos lesivos foram previstos no art. 5º

da lei e englobam desde a promessa, oferta ou

entrega de vantagem indevida a agente público

até fraudes em licitação, frustração de caráter

competitivo do processo licitatório, manipulação

do equilíbrio econômico-financeiro de contrato e

intervenção em atividades de investigação ou fis-

calização de órgãos públicos.

O legislador optou pela responsabilização objetiva

das pessoas jurídicas nos âmbitos civil e administra-

tivo (art. 2º), bastando, portanto, que haja a compro-

vação da ocorrência do ato lesivo e a verificação de

um nexo causal entre a empresa e o fato. De qualquer

sorte, o legislador não excluiu a possibilidade de as

pessoas físicas serem responsabilizadas individual-

mente, desde que tenham concorrido para a prática

do ato lesivo e averiguada a sua culpabilidade (art. 3º).

Poderão ser aplicadas duas sanções, isolada ou

cumulativamente, a saber: multa, que varia entre 0,1%

a 20% do faturamento bruto do último exercício ante-

rior ao processo administrativo de responsabilização,

e a publicação de extrato da decisão condenatória em

meio de comunicação de grande circulação na área de

atuação da pessoa jurídica ou de circulação nacional.

Na prática, os atos serão apurados em processo

administrativo, instaurado e julgado pela autorida-

de máxima de cada órgão ou por entidade de cada

um dos três Poderes, ou pela Controladoria-Geral da

União, quando do âmbito do Poder Executivo federal.

Em que pese haver a previsão expressa sobre

a forma de constituição da comissão para apurar a

prática dos atos atentatórios, sobre o prazo de 180

dias para a conclusão dos relatórios acerca dos fatos,

e sobre a necessária observância da ampla defesa e

do contraditório, a lei é omissa sobre os procedimen-

tos a serem adotados para a efetiva investigação.

Diante dessa lacuna, a Prefeitura de São Pau-

lo, por meio do Decreto 55.107, de 13 de maio de

2014, regulamentou a legislação federal e estabele-

ceu, de maneira clara e minuciosa, o procedimento

para a apuração, dispondo expressamente sobre os

prazos de defesa, a produção de provas, recursos

cabíveis, e previu mais detalhadamente os critérios

para a aplicação das sanções.

Tais previsões são necessárias, principalmen-

te para que as pessoas jurídicas ou físicas sejam

investigadas de acordo com os parâmetros de am-

pla defesa e contraditórios, e para que as sanções

eventualmente aplicadas sejam razoáveis e propor-

cionais aos fatos ocorridos.

A lei federal também estabelece que a aplicação

efetiva de códigos de ética e de conduta no âmbito

da pessoa jurídica e a existência de mecanismos e

procedimentos internos de integridade e incentivo a

denúncias de irregularidades serão levadas em con-

sideração para a fixação da sanção. No entanto, a lei

prevê que os parâmetros de avaliação serão regula-

mentados pelo Poder Executivo federal.

Diante da ausência, a Prefeitura de São Pau-

lo estabeleceu, por meio do art. 24 do mencionado

Decreto que, até a publicação, pelo Poder Executivo

federal, serão apenas aceitos como mecanismos os

sistemas de recebimento e apuração de denúncias

que assegurem o anonimato, a adoção de medidas

de transparência na relação com o setor público e a

realização periódica de treinamentos com o intuito

de promover a política interna de integridade.

Imprescindível, portanto, regulamentação seme-

lhante em âmbito federal, para conceder às pessoas

jurídicas parâmetros sobre as medidas de transpa-

rência e integridade a serem adotadas internamen-

te, e para que posteriores questionamentos judiciais

quanto ao procedimento adotado e/ou as sanções

aplicadas sejam evitados. f

Por Danyelle da Silva Galvão

Prefeitura de São Paulo regulamenta procedimento para apuração de atos lesivos previstos na Lei Anticorrupção

30 financeiro julho 2014

Page 31: Financeiro Ed 87
Page 32: Financeiro Ed 87

O crédito viabiliza o operacional, as

estratégias de crescimento e os

investimentos das empresas. Daí,

a importância dos negócios terem pleno

acesso aos mercados de crédito, como fon-

te de recursos. No entanto, isso não ocorre

com boa parte das micro e pequenas em-

presas (MPEs) do Brasil.

De acordo com o SEBRAE (Serviço Bra-

sileiro de Apoio às Micro e Pequenas Em-

presas), essas empresas são 98% das exis-

tentes no País, geram 57% dos empregos

e contribuem com 20% do PIB (Produto In-

terno Bruto). São números que expressam

a importância das MPEs no Brasil. Na com-

paração internacional, em economias em que esses negócios são estruturados

para a competitividade, eles chegam a representar 50% do PIB. Nessa direção,

países como Itália, Espanha, Japão, Taiwan, Coreia do Sul, Tailândia e China,

entre outros, são casos de sucesso.

No Brasil, nos últimos anos, grandes contribuições às MPEs têm sido ado-

tadas, como a Lei Geral das Micro e Pequenas Empresas, a criação da figura

do microempresário individual, entre outras iniciativas que objetivam gradual-

mente formalizar essas empresas.

É importante destacar que para essas empresas formalizadas crescerem

e serem viáveis há necessidade de crédito. Nesse tocante, há um fator crítico:

essas empresas serem conhecidas pelos agentes financeiros. Ainda prevalece

um sistema imperfeito de informações sobre elas, o qual abre espaço para a

seleção adversa, quando não se distinguem bons de maus pagadores (chama-

do assimetria de informações). O Banco Mundial mostra que vários países já

passaram por esse fenômeno, que não é exclusivo do Brasil. É comum que as

MPEs não possuam informações de crédito, não tenham histórico de suas tran-

sações financiadas e nem como elas foram pagas. Para quem concede crédito

nessa situação fica difícil precificar o risco de uma determinada MPE, o que

acaba gerando a necessidade de garantias crescentes para um financiamento

ou mesmo a sua não aprovação.

Nesse contexto, é muito comum o empreendedor de micro e pequena em-

presas utilizar suas linhas de crédito ao consumidor para financiar seu ne-

gócio. Considerando que esse crédito é mais caro e tem prazos menores do

que os de pessoa jurídica, tal prática leva a empresa a um grave desequilíbrio

financeiro, pondo em risco sua sobrevivência.

O Banco Mundial, em seu relatório Improving SME financing through im-

proved credit reporting (Melhorando o financiamento das MPEs por meio de

relatórios aperfeiçoados de crédito), de março de 2014, mostra que nos países

emergentes onde não há informações abrangentes de crédito, entre 55% e 68%

dessas empresas não têm suas necessidades de

crédito atendidas. Assim, para contornar essa assi-

metria de informações no mercado de crédito para

MPEs, o organismo internacional destaca que são

necessárias informações positivas, além das nega-

tivas, já presentes no mundo todo.

Como as MPEs operam no limite entre pessoa fí-

sica e jurídica, em vários países a reputação do em-

presário no cadastro positivo é utilizada na análise

de crédito de sua empresa, quando esta não possui

informações suficientes. Em breve, quando o ca-

dastro positivo estiver plenamente funcionando no

Brasil, também vai contribuir para uma melhor ava-

liação de crédito dos micro e pequenos negócios.

Como demonstra o Banco Mundial, um bom sistema

de informações de crédito é condição fundamental

para a evolução e a sustentabilidade na oferta de

recursos para esses portes.

Complementando, as MPEs têm como alterna-

tiva buscar crédito nos programas sociais. Mes-

mo assim, são poucas as que obtêm os recursos,

porque a maioria carece de informações mínimas

organizadas. Como recentemente apontou o maior

banco de fomento do País, muitas vezes não há nem

balancete de verificação. Este é outro ponto crítico

das MPEs na procura por crédito, a carência de in-

formações gerenciais.

Outra possível fonte de crédito para as MPEs

são as cooperativas, que possuem atratividade para

essas empresas, por conta do atendimento perso-

nalizado, das taxas de juros menores, do melhor

conhecimento da comunidade que atua e com solu-

ções customizadas.

Como um dos países mais empreendedores no

mundo, o Brasil não pode desperdiçar esta vanta-

gem. Deve criar condições para que essas iniciati-

vas se desenvolvam, inovem e sejam competitivas

internacionalmente. Cabe compreender as MPEs

como um agente promotor do crescimento econô-

mico e um instrumento de redução da desigualdade

social, pois estão presentes em todos os rincões do

País, gerando emprego e renda. Ampliar a partici-

pação desses negócios no PIB passa, obrigatoria-

mente, pela expansão do acesso ao crédito. f

Ampliar o acesso das MPEs ao crédito é determinante para a economiaPor Juan Perez

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em 2

6/6/

2014

Juan Perez,diretor-executivo comercial

da Boa Vista Serviços

microsepequenas

32 financeiro julho 2014

Page 33: Financeiro Ed 87

legadodacopa

De repente, todo o Brasil deu as mãos

Muito tem se falado sobre os

problemas econômicos, po-

líticos e sociais do Brasil,

principalmente pelo fato de o país ter

sediado a Copa do Mundo. Apesar de

muitos brasileiros estarem desapon-

tados com a situação do país, há de se

pensar no lado positivo que está por

trás desse grande evento realizado

aqui, pertinho da gente.

Devemos nos focar nos benefícios

que a Copa trouxe para o Brasil. Foram

diversas mobilizações para oferecer

mais comodidade aos brasileiros e

para receber o público estrangeiro:

organização e investimento nos trans-

portes, estruturas nos estádios e no

entorno deles, impulso à economia

como um todo, priorização da segu-

rança, investimentos na rede hoteleira, entre ou-

tros elementos que foram edificantes para o País.

Calcula-se que o PIB brasileiro foi impactado

em 2% com a movimentação da Copa do Mundo. Vo-

cês já imaginaram o montão de dinheiro que isso

significa? Com a vinda de europeus, africanos, asi-

áticos, americanos e povos da Oceania, a economia

nacional foi impactada positivamente. Quanto aos

preços de produtos e tarifas de serviços pratica-

dos durante a Copa, isso é reflexo do evento, assim

como acontece em todo o mundo. É uma consequ-

ência da economia: maior demanda, procura e ofer-

ta. Tudo acontece de acordo com a ordem natural

das coisas e se ajustam no seu devido tempo.

Por Aquiles Leonardo Diniz

Aquiles Leonardo Diniz, vice-presidente da Associação

Nacional das Instituições de Crédito, Financiamento e Investimento

(Acrefi)

Outro fato importante que não podemos dei-

xar de ressaltar foram as manifestações durante

a Copa das Confederações, pois sem elas, talvez

o País e os governantes não estivessem atentos

às questões básicas e que foram reivindicadas

por meio das passeatas. Ou seja, a aproximação

e o estreitamento entre o Estado e o povo foi um

legado importante adquirido pelo evento mundial.

O fato de a Copa ser realizada aqui no Brasil

foi motivo de grande orgulho. Recepcionamos os

estrangeiros com toda a alegria, hospitalidade e

otimismo que só o brasileiro é capaz de trans-

mitir. Mostramos que, apesar dos problemas en-

frentados pelo País, há um lado bonito em nós,

brasileiros, que deve ser evidenciado. Receber

bem os turistas, nos organizarmos para manter

a cidade em ordem e o mais tranquila possível,

todos dotados de muito entusiasmo e força para

vencer, talvez sejam os primeiros passos para

mudarmos a situação crítica que assombra o

Brasil e deixa muitos de seus valores escondidos.

Devemos sim extravasar os nossos sentimentos

bons, mas os ruins, vamos deixar para as urnas,

no dia 5 de outubro.

Como diria uma música que a maioria dos

brasileiros conhece, mas que esqueceu nos úl-

timos meses, “vamos juntos, pra frente, Brasil!

Salve a seleção! Todos ligados na mesma emo-

ção, tudo é um só coração!”. E para finalizar, deixo

esta frase da música e que tem o mesmo sentido

da frase com a qual comecei este texto “De repen-

te é aquela corrente pra frente, parece que todo o

Brasil deu as mãos!” f

Art

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ado

em 1

0/7/

2014

33julho 2014 financeiro

Page 34: Financeiro Ed 87

painelcetip

E m maio, foram financiados

532.702 veículos, entre automó-

veis de passeio e comerciais le-

ves, motocicletas, veículos pesados e

outros. O volume representa uma alta

de 3% em relação a abril. Segundo

Marcus Lavorato, gerente de relações

institucionais da Unidade de Financia-

mentos da Cetip, em comparação com

o mesmo período do ano passado, há

uma retração de 6%. No acumulado

dos cinco primeiros meses do ano, o

financiamento de veículos atingiu 2,5

(*) A partir de out/13 a Cetip adotou nova metodologia para calcular os recursos liberados para � nanciamentos de veículos. São conside-radas apenas inclusões de gravames de auto-móveis leves, com � nanciamento de até R$ 200 mil, e cujos prazos não sejam superiores a 120 meses; para motocicletas, o montante limite é de R$ 50 mil, com prazo de 90 meses. A meto-dologia também limita em R$ 500 mil e prazo de até 150 meses as inclusões de gravames de pesados. Dessa forma, a Cetip desconsidera operações com valores e prazos destoantes com as práticas do mercado. f

Fonte: Inteligência de Mercado Cetip

milhões de unidade. Os dados são do

Sistema Nacional de Gravames (SNG),

operado pela Cetip, e incluem informa-

ções sobre as restrições financeiras de

veículos utilizados como garantia em

operações de crédito em todo o Brasil.

As concessões de crédito para finan-

ciamentos de veículos somaram R$ 14,3

bilhões* em maio, uma alta de 5% sobre

o mês anterior, mas uma queda de 4%

quando comparadas com maio de 2013.

Entre janeiro e maio, as concessões de

crédito somaram R$ 64,4 bilhões.

Nos primeiros cinco meses de 2014 os fi nanciamentos de veículos

atingiram 2,5 milhões de unidades

painelcetip

34 fINANCEIRo julho 2014

Page 35: Financeiro Ed 87

Fonte: Inteligência de Mercado Cetip

Fonte: Inteligência de Mercado Cetip

Fonte: Inteligência de Mercado Cetip Fonte: Inteligência de Mercado Cetip

Fonte: Inteligência de Mercado Cetip

Fonte: Inteligência de Mercado Cetip

35julho 2014 fINANCEIRo

Page 36: Financeiro Ed 87

Audi aposta alto no brasil Por Evandro Ribeiro

estilo

Reconhecida como uma marca esportiva e jovial, a Audi volta

a concentrar suas atenções no mercado brasileiro. De olho na

ascensão do poder aquisitivo da população e na grande procura

pelos carros de luxo, a montadora alemã vai começar a fabricar

por aqui os modelos A3 Sedan e o Q3. A previsão é que a par-

tir do segundo semestre de 2015 já possamos encontrar nas

ruas um Audi fabricado novamente no Brasil, em São José dos

Pinhais, no Paraná. Vale lembrar que a montadora já esteve pre-

sente por aqui entre 1999 e 2006.

A ideia é que o mercado nacional se torne um dos mais im-

portantes para a marca. O CEO da Audi do Brasil, Jörg Hofmann,

acredita que em 2020 a frota de carros premium no Brasil deve

triplicar. “De janeiro a maio deste ano, o acumulado de emplaca-

mentos totalizou 5.024 veículos, 118% a mais que os primeiros

cinco meses de 2013”, afirma o executivo.

Já para os consumidores, é a oportunidade de ver com um

pouco mais de competitividade os preços dos cobiçados A3 Se-

dan e Q3, pois com fabricação nacional dos modelos, os valores

podem cair um pouco, apesar de a montadora preferir não se

manifestar sobre o assunto.

Foto

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o

Montadora alemã quer produzir 26 mil carros por ano para omercado premium nacional

36 fINANCEIRo julho 2014

Page 37: Financeiro Ed 87

37julho 2014 fINANCEIRo

Page 38: Financeiro Ed 87

estilo

Como o próprio CEO gosta de enfatizar, os carros da Audi

são reconhecidos pelos seus “modelos com DNA esportivo

e tecnologia exclusiva e inovadora”. O A3 Sedan é um carro

jovem, mas já é sucesso entre os brasileiros. Desde janeiro,

quando estreou por aqui, com motor 1.8 de 180 cv e tabela de

R$ 113.700, o esportivo é mais vendido que a sua versão hatch.

Animada com os resultados, a Audi trouxe, em maio deste ano,

a opção com motor 1.4 e preço a partir de R$ 94.800, valor que

o coloca na briga pela preferência dos brasileiros que circulam

pelas ruas com o Toyota Corolla ou com o Honda Civic.

Com o câmbio automatizado de sete marchas e dupla embre-

agem, que faz trocas no tempo certo e bastante suave, A3 Sedan

é um carro gostoso de dirigir, confiável, firme e com alta estabi-

lidade. Evidente que para aqueles que buscam alto desempenho,

é melhor pagar mais e optar pela versão 1.8, com seus 180 cv, já

que a versão 1.4, apesar de ser um carro rápido para seus 122

cv, não se compara à versão 1.8 em desempenho. Contudo, para

aqueles que desejam um carro confiável, confortável e econômi-

co, é uma ótima opção. Na cidade, a média foi de 11,6 km/l, en-

quanto na estrada o computador de bordo marcou 16,8 km/l.

Já o outro carro da marca a ser produzido no Brasil, o Q3, traz

algo que parece contraditório, mas sempre sonhado: um SUV com

desempenho de esportivo. Para aqueles que gostam de velocida-

de, prazer ao dirigir, mas já têm filhos e a ‘patroa’ sempre pede

um carro espaçoso e alto, o Q3 resolve muito bem a questão.

O SUV da Audi, na versão top de linha RS, é capaz de gerar

310 cv e 42,8 mkgf de torque em sua aceleração. É um verdadeiro

parque de diversões para os que adoram alta velocidade. Ele vai

de 0 a 100 km/h em 5,2 segundos. Ou seja, se você vir um carro

desses atrás de você dando farol, vá para a direita! Para aqueles

que querem ter o prazer de dirigir esse confortável e rápido SUV

da Audi, o utilitário esportivo de alta performance teve preço de-

finido em R$ 273,6 mil pela montadora alemã.

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o

38 fINANCEIRo julho 2014

Page 39: Financeiro Ed 87

tante ressaltar que a Audi entrega carros com o mesmo padrão de qualidade, tecnolo-gia e inovação a partir de todas as suas 11 fábricas no mundo e as exigências de entre-ga da fábrica brasileira não serão diferentes. RF: Qual é a fatia de mercado atual da Audi no Brasil e no mundo?Hofmann: A Audi ocupa a segunda posição no ranking mundial de vendas no segmento pre-mium. Os números da Audi no Brasil e no mun-do têm crescido expressivamente: no País a marca tem anunciado recordes de vendas. Em maio, contou com o maior número de emplaca-mentos de modelos da montadora alemã nos 20 anos de história da Audi do Brasil e garantiu o maior número de emplacamentos no seg-mento premium. A marca triplicou o resultado de vendas em relação ao mesmo período do ano anterior, totalizando 1.309 emplacamen-tos de modelos importados, o que representa um acréscimo de 205%. De janeiro a maio, o acumulado de emplacamentos totalizou 5.024 veículos, 118% a mais que os primeiros cinco meses de 2013. Mundialmente, a Audi entre-gou 152.000 modelos Audi, 10,8% mais do que em maio de 2013. Até 2020, a Audi tem como meta vender 30 mil carros por ano no Brasil. RF: Chegou a hora de o mercado de luxo começar a investir em países emergentes?Hofmann: Nos últimos anos, o Brasil pas-sou por mudanças econômicas, o que cau-sou a ascensão das classes sociais. Com mais poder aquisitivo, existem mais po-tenciais clientes para as marcas premium. Esse é um mercado que está aquecido no País. Com isso, a Audi encontrou uma oportunidade para investir em uma série de ações, como comentei antes, para obter um crescimento sustentável no País. Com isso, acredito que os países emergentes sejam uma opção de expansão para mar-cas premium. RF: Para o senhor, quais os principais diferen-ciais da Audi em relação aos seus concorren-tes? Por que comprar um Audi?Hofmann: A Audi entende que o mercado é complexo e que as motivações dos clientes são diversas. O que oferecemos como principal di-ferencial são modelos com DNA esportivo e tec-nologias exclusivas e inovadoras. Um exemplo é o controle de cruzeiro adaptativo, que regula a velocidade e a distância do carro em relação ao veículo da frente, acelerando e freando para

garantir a segurança na direção. f

Jörg Hofmann, CEO da Audi Brasil, recebeu a Financeiro e falou um pouco sobre os projetos e planos da montado-ra alemã para se consolidar de vez no mercado brasileiro de carros premium.

RF: Quais os motivos que levaram a Audi a voltar a produzir veículos no Brasil?Hofmann: Certamente, a boa perspectiva de crescimento do mercado foi um fator impor-tante na decisão de produzir no Brasil. No entanto, o aporte de um investimento como esse não é baseado apenas em um resultado positivo de vendas. Ele envolve uma série de fatores, que foram levados em consideração pela nossa marca. Esse é um investimento de longo prazo e reflete a importância do Brasil para a Audi e uma aposta na economia brasi-leira. A Audi está há 20 anos no País e, com os investimentos na produção local, o mercado brasileiro pode se tornar um dos mais rele-vantes para a Audi no mundo.RF: Por que a Audi escolheu o A3 Sedan e o Q3 como os primeiros modelos a serem pro-duzidos aqui? Qual é a previsão de quantida-de por ano?Hofmann: Após uma série de análises e estu-dos, o A3 Sedan e o Q3 foram escolhidos por serem modelos bem aceitos no mercado brasi-leiro. A partir de 2020, quando nossa produção estiver na sua máxima capacidade, 26 mil car-ros por ano serão produzidos nacionalmente.RF: Quanto será investido e qual o cronograma?Hofmann: A Audi está investindo R$ 500 milhões na fábrica e os modelos que serão produzidos são o A3 Sedan, a partir do se-gundo semestre de 2015 e o Q3, a partir do primeiro semestre de 2016.RF: Em porcentagem, quanto de peças des-ses carros será produzido aqui e quanto ainda será importado?Hofmann: Esse é um assunto que está em estudo e depende também de questões le-gais do Inovar Auto. Nesse aspecto, é impor-

39julho 2014 financeiro

Page 40: Financeiro Ed 87

Até pouco mais de três anos o MIS era apenas um insosso espaço cultural de São Paulo.

Hoje, sob o comando do inquieto André Sturm, o museu atrai milhares de visitantes, com exposições

que fazem parte do circuito internacional

cultura

Com mais de quatro décadas de existência,

o Museu da Imagem e do Som, mais conhe-

cido apenas como MIS, vive um momen-

to único em sua história. Sob a direção de André

Sturm desde junho 2011, a receita com as vendas

cresceu quase 500% e atraiu no ano passado mais

de R$ 4 milhões em investimentos na forma de pa-

trocínio. Para se ter uma ideia, em 2010 o museu

recebeu 50 mil visitantes, e em 2013 passaram

por suas catracas mais 250 mil pessoas.

Com números que surpreendem o mercado,

o MIS deixa de ser destino apenas dos já experi-

mentados admiradores de arte e se transforma

Por Débora Dias

Novo xodó dos paulistanos

André Sturm,diretor-executivo

do MIS

40 financeiro julho 2014

Page 41: Financeiro Ed 87

em um roteiro atraente até mesmo para os que

não possuem tanta familiaridade com o cenário

cultural. Nos últimos meses, ganhou destaque

internacional ao trazer para o Brasil duas mos-

tras que provocaram recordes em visitações,

gerando filas gigantescas na bilheteria. Uma

delas sobre o cineasta norte-americano Stanley

Kubrick e a outra relacionada ao cantor inglês

David Bowie, que atraíram mais de 80 mil pes-

soas cada – público jamais registrado pelo MIS.

De acordo com Sturm, o sucesso dessas ex-

posições não se deve apenas aos personagens

mais populares. “A questão não é apenas o tema,

mas também a forma. Nós construímos uma ex-

posição que permitia uma experiência sensorial,

o que contribuiu muito. Jovens que ainda não co-

nheciam o trabalho de Kubrick, por exemplo, se

interessaram em adquirir DVDs de seus filmes”,

conta o diretor do MIS.

Quando questionado sobre os principais objetivos

de sua gestão, Sturm não se mostra interessado ape-

nas em continuar viabilizando a vinda de exposições

internacionais para o Brasil. Como legado, ele preten-

de transformar o museu em um ponto de encontro

da população paulistana e fomentar a pluralidade da

programação cultural. “Queremos fazer do MIS um

espaço cultural dinâmico e vivo. Um lugar que esteja

no roteiro das pessoas e que permita não apenas que

elas vejam uma exposição, mas que tenham ainda a

opção de fazer cursos e participar das diversas ativi-

dades que promovemos”, afirma Sturm.

Para tanto, a ideia é ampliar o leque de iniciati-

vas organizadas pelo MIS, valorizar seu acervo, in-

vestir em educação e em variedade de conteúdos.

Sturm ressalta que, em um mesmo dia, o MIS ofe-

rece, por exemplo, uma mostra de filmes, uma ex-

posição fotográfica e um espetáculo de dança. Com

isso, um visitante que vem para assistir um filme e

aproveita para ver um espetáculo de dança ou uma

Foto

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o

Mostra Stanley Kubrick: sucesso

entre os jovens

41julho 2014 financeiro

Page 42: Financeiro Ed 87

das nossas exposições regulares. Outra iniciativa

que tem gerado bons frutos é o projeto MIS fora do

MIS, sistema de parceria que leva algumas expo-

sições para espaços culturais no interior paulista.

QUEM bANCA O MIS

O MIS tem suas atividades garantidas por uma

parceria público-privada, gerenciada pela Asso-

ciação do Paço das Artes Francisco Matarazzo So-

brinho, entidade sem fins lucrativos ligada à Se-

cretaria da Cultura do Estado de São Paulo. Desse

modo, a receita mensal do museu é uma combi-

nação de valores vindos do governo estadual, dos

patrocínios privados e das verbas operacionais

(bilheteria, aluguel do espaço para eventos, ven-

das da loja de suvenires, etc.).

A verba pública garantida pelo Estado esta-

va estagnada há pelos menos quatro anos em R$

9,5 milhões. Porém, após a renovação do contrato

de convênio em 2014, o MIS obteve um reajuste

que elevou esse valor para R$ 10,5 milhões. Além

disso, os investimentos oriundos de patrocínio

privado já ultrapassam os R$ 4 milhões. Segun-

do Sturm, “o sucesso das últimas exposições fez

com que aumentasse o número de empresas que

procuram o MIS interessadas em apoiar financei-

ramente suas atividades.

SUCESSO NãO ACONtECE pOR ACASO

Para trazer exposições internacionais para São

Paulo, o MIS tem investido em uma série de deta-

lhes, que inclui, entre outros fatores, a definição de

um preço atraente para o dono dos direitos de exi-

bição da mostra, seguros, contratação de equipe es-

pecializada em embalagem e transporte das peças.

Sturm conta que existe um acordo internacio-

nal que determina que o país que recebe a exposi-

ção deve arcar com todas as despesas de entrada

das obras. Ele ressalta também que outro passo

importante é a adequação do acervo ao Brasil e às

propostas do museu: “A exposição do Kubrick, por

Fonte: OSESP

cultura

Mostra David Bowie: mais de 80

mil visitantes

42 financeiro julho 2014

Page 43: Financeiro Ed 87

exemplo, foi construída por nós. Tratava-se de um

conjunto composto por 800 objetos, que incluíam

desde folhas de roteiro até bonecos, e nós criamos

toda a expografia, que proporcionava aos visitantes

a sensação de entrar em um de seus filmes”.

Já para a exibição da mostra sobre David Bowie,

Sturm conta que demonstrou interesse em trazê-la

já há bastante tempo, antes mesmo de sua monta-

gem no Victoria and Albert Museum, em Londres.

Com isso, garantiu que 90% do acervo viesse para o

Brasil, saindo à frente de outros países da Europa e

até mesmo dos Estados Unidos.

pLANOS pARA O FUtURO

Para André Sturm, o Brasil tem se desenvolvido

culturalmente de uma maneira satisfatória, ao pas-

so que trata o assunto com mais seriedade e tem

apresentado melhora na economia. Por participar

do circuito internacional, o diretor consegue avaliar

também que o País tem sido visto com bons olhos

pelos grandes polos culturais, o que, segundo ele,

pode ser comprovado pela prioridade na vinda da

exposição de David Bowie.

Longe do olhar do grande público, o MIS tem em

seu acervo mais de 200 mil itens, que começam a ser

digitalizados. Entre outras relíquias, estão centenas

de depoimentos de artistas, políticos e pessoas liga-

das à história do País. Para os próximos anos de sua

gestão, o plano de Sturm é dar continuidade ao pro-

cesso de tradição e ruptura, que sempre fez parte da

trajetória e da atitude do MIS, porém o transformando

em um espaço cada vez mais rico, promovendo a ex-

perimentação e o aprendizado.

O próximo sucesso de público do MIS certamente

será a exposição sobre os 20 anos do Castelo Rá-

-Tim-Bum, que foi inaugurada em julho. Além disso,

o diretor afirma que tem uma série de mostras fe-

chadas para os próximos anos, mas, sobre esse as-

sunto, André Sturm prefere guardar segredo. f

Foto

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o

43julho 2014 financeiro

Page 44: Financeiro Ed 87

livros

O objetivo da obra é atualizar

de forma organizada, para

o final de 2014, a crítica que os

autores têm feito, em suas res-

pectivas atuações profissionais,

à ausência de medidas mais

incisivas por parte do governo

em relação aos determinantes

de crescimento da economia

brasileira, em um contexto em

que o espaço para crescimento

a partir de estímulos à deman-

da tende a se esgotar.

A crítica direciona-se à fal-

ta de medidas mais profundas

nos últimos anos, relacionadas

com a necessidade de melho-

rar a educação, estimular os

investimentos em infraestrutu-

ra, elevar a poupança domés-

tica e melhorar os indicadores

de produtividade. Há um ele-

mento de continuidade em re-

lação ao “Além da euforia”, com

diferenças de estilo, diferenças

de coautor e principalmente

de atualização do diagnóstico,

uma vez que o “Além da eufo-

ria” acabou de ser escrito no

final de 2011 e o livro em ques-

tão seria divulgado no final de

2014, três anos depois. f

A obra resgata as origens

dos alemães que vieram

para São Paulo a partir de

1827 e como eles contribuí-

ram para a formação da na-

cionalidade brasileira para o

desenvolvimento da cidade,

especialmente a região cen-

tral. O livro traz ainda fotogra-

fias e ilustrações que retra-

tam a cidade daquela época e

atualmente, como o prédio da

Catedral da Sé, a Faculdade

de Direito do Largo São Fran-

cisco, a Rua do Comércio e o

Mosteiro de São Bento. Além

de documentos históricos so-

bre a chegada dos alemães

ao Brasil. É um trabalho para

quem deseja aprofundar seus

conhecimentos sobre as prin-

cipais colônias de imigrantes

que contribuíram com o de-

senvolvimento do País. f

Complacência Entenda por que o Brasil cresce menos do que pode

Os Imigrantes Alemães

Na Construção da Sociedade

Brasileira

Autores: Alexandre Schwartsman e Fabio GiambiagiEditora: Campus Elsevier

Autor: William R. RhodesEditora: Globo Livros

Autor: Eloy Câmara Ventura

Principal renegociador da

dívida externa brasileira

em 1982 e um dos primeiros

a vislumbrar a crise de 2008,

William Rhodes explica neste

livro como o exemplo do nosso

país pode servir de referência

para outros mercados. Ele tam-

bém auxiliou na crise que afe-

tou a Argentina e outros países

latino-americanos nas décadas

de 1980 e 1990. O autor com-

partilha também detalhes de

sua vivência no Citigroup, en-

globando a negociação de uma

ação estratégica em um dos

O banqueiro do Mundo

Lições de Liderança do

Diplomata das

Finanças Globaisprincipais bancos na China e a

liderança da comunidade ban-

cária internacional na abertura

de escritórios na África do Sul,

na China, em Israel, na Europa

Oriental e na Europa Central.

Para Rhodes, o tempo é

sempre desfavorável em uma

crise, pois os riscos de ela se

espalhar estão inevitavelmen-

te presentes. A solução para

gerenciá-la está em uma ne-

gociação paciente, persistente,

que compreenda a cultura e

as pressões sobre cada nego-

ciante de maneira a aproveitar

momentos estratégicos e sa-

ber exatamente o momento de

fechar um acordo. Não é à toa

que conquistou até a simpatia

de Fidel Castro. Com prefácio

assinado por Armínio Fraga,

ex-presidente do BC, a obra de

Rhodes provoca uma série de

reflexões relevantes sobre os

novos tempos. f

44 financeiro julho 2014

Page 45: Financeiro Ed 87
Page 46: Financeiro Ed 87

Dr.

Longe dos holofotes da mídia e despojado de qualquer vaidade pessoal, Dr. Sérgio Petrilli conduz, há 23 anos, uma das instituições que é referência no tratamento do câncer infantil na América Latina

Graacc

Por Gilberto de Almeida

Dr. Sérgio Petrilli, superintendente do Graacc

Faça um teste. Pergunte em um parque ou em um shopping center, em São Paulo, se as pessoas conhecem o Graacc. Pode ser que a maioria não saiba o significado de cada letra

da sigla, mas certamente eles dirão que se trata de uma instituição que é referência no tratamento do câncer infantil. Aproveite a abordagem e questione se já ouviram falar no Dr. Sérgio Petrilli. É bem provável que poucos o conheçam, pois é um médico que coloca o seu trabalho à frente do Graacc (Grupo de Apoio ao Adolescente e à Criança com Câncer) acima de qualquer notoriedade ou vaidade pessoal. Desde que fundou a entidade, há 23 anos, junto com o engenheiro Jacinto Antonio Guidolin e a voluntária Léa Della Casa Mingione, o Dr. Petrilli corre diariamente atrás de recursos e de parcerias para que mais crianças tenham oportunidade de cura, assim como fazia antes de assumir a superintendência da entidade, já como chefe do setor de Oncologia do Departamento de Pediatria da Escola Paulista de Medicina, que até hoje dá suporte ao Graacc.

terceirosetor

46 financeiro julho 2014

Page 47: Financeiro Ed 87

Dr.

No entanto, a existência e o êxito do Graacc só

são possíveis graças à sinergia entre três parcei-

ros: o empresariado, que contribui com doações

regulares; a Universidade Federal de São Paulo

(UNIFESP), responsável pela assistência médica,

ensino e pesquisa; e a sociedade. Junto, esse trio

mantém, orienta e capacita a instituição a ir cada

vez mais longe. É por meio desse esforço con-

junto que as crianças e os adolescentes tratados

pelo Graacc têm, em média, 70% de possibilidade

de cura, índice não muito distante dos 80% alcan-

çados em países da Europa e dos Estados Uni-

dos e bem superior aos 35% ou 40% obtidos no

restante do Brasil. “Aqui, nós tentamos diminuir

essa desigualdade”, diz Petrilli. Pois, 90% dos

pacientes do Graacc são encaminhados pelo SUS

(Sistema Único de Saúde), sendo que 40% vêm de

outros Estados, e 10% são mantidos pelos convê-

nios particulares.

Mesmo quando os pacientes atingem a idade

adulta, acima dos 20 anos, eles continuam a con-

tar com a retaguarda do Graacc. Tanto é assim que

47julho 2014 financeiro

Page 48: Financeiro Ed 87

Petrilli interrompeu a entrevista que concedia à Fi-

nanceiro para atender a um retorno de ligação do

Dr. José Osmar Medina Pestana, especialista em

transplantes e diretor do Hospital do Rim, também

da Unifesp, a quem Petrilli pedia apoio para pro-

cedimentos de diálise em alguns casos agudos de

adultos internados na UTI.

Esse tipo de iniciativa e de parceria é que

permite ao Graacc se manter com um orçamento

anual de R$ 80 milhões, sendo que 50% desse va-

lor são doações vindas da sociedade e de projetos

de incentivos fiscais à saúde, possibilita realizar

mais de 26 mil consultas, 1,6 mil cirurgias, 37

transplantes de medula e mais de 11,4 mil ses-

sões de quimioterapia. Tudo isso é feito por cer-

ca de 673 funcionários e 485 voluntários, além

de outros colaboradores externos, estudantes da

Unifesp e de mão de obra terceirizada.

Foi também por meio do apoio das empresas

e de doadores individuais que a instituição con-

seguiu investir R$ 36 milhões na construção do

anexo 1 do Hospital Graacc, inaugurado em 2013,

em um terreno cedido pela Prefeitura de São Pau-

lo. Com seis andares e um subsolo, o projeto da

nova área construída, de 8,4 mil m², aumentou em

30% a capacidade de atendimento dos pacientes,

que agora são acolhidos em espaços mais amplos

e com as paredes pintadas em cores vibrantes. A

expansão permitiu realocar o serviço de radiote-

rapia, estender o pronto atendimento, criar salas

terceirosetor

Foto

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o

Em 1998, entidade inaugurou seu primeiro hospital na

Vila Clementino, São Paulo

48 financeiro julho 2014

Page 49: Financeiro Ed 87

de triagem e de coleta de exames, abrir quartos

de isolamento, novos consultórios, etc. Segundo

o Dr. Sérgio Petrilli, com o novo prédio, o Graacc

passou a atender 310 novos casos por ano. “Essa

ampliação permite que a gente invista ainda mais

em pesquisa para aumentar as chances de cura

dos pacientes. Além disso, traz a oportunidade de

disseminar estudos sobre a doença e de formar

novos profissionais voltados à área de oncologia

pediátrica”, afirma o superintendente.

Como é até hoje, o Graacc nesses seus 23 anos

de fundação foi construído tijolo a tijolo. Em 1991,

o primeiro passo foi transferir o Setor de Oncolo-

gia Pediátrica do Hospital São Paulo para uma casa,

que ficou conhecida como a “casinha”. Os pequenos

pacientes eram acolhidos nesse espaço, dentro do

conceito de hospital/dia, em que recebiam aten-

dimento médico e assistencial e voltavam para as

suas residências. Sete anos depois, com a ajuda das

empresas e de instituições, foi inaugurado um hos-

pital, na Vila Clementino, em São Paulo, com 4,2 m²,

distribuídos em oito andares e dois subsolos, hoje

interligado ao anexo 1.

Além do atendimento no hospital, como muitos

pacientes vêm de outras regiões do País, o Graacc

conta com o apoio da Casa Ronald McDonald São

Paulo, que tem capacidade para acolher 30 pa-

cientes e seus familiares, em 30 suítes, sendo seis

delas exclusivas para os pacientes que realizaram

transplantes de medula óssea. Os custos são man-

tidos por doações de pessoas físicas e jurídicas e

do apoio do Instituto Ronald McDonald, que realiza

campanhas, como o McDia Feliz. Para manter tudo

isso, 12 funcionários e 60 voluntários se revezam

em turnos durante os sete dias da semana.

No Graacc não há descanso

na busca de novos benefícios

para os pacientes. Terminadas

as obras e equipado o anexo 1,

a diretoria já se prepara para

levantar o anexo 2, com 18 mil

m² de área construída e inves-

timento de mais R$ 60 milhões,

no restante do terreno doado

pela Prefeitura de São Paulo,

que tornará o Graacc o maior

centro de atendimento a crian-

ças com câncer da América Latina. O novo espaço

contará com uma brainsuite no centro cirúrgico

– sala especialmente preparada para cirurgias

de tumores cerebrais –, com aparelho de resso-

nância magnética que rastreia vestígios de tumor

para a sua retirada, enquanto a cirurgia é feita.

O prédio abrigará ainda uma área de reabilitação

lúdica, laboratórios de pesquisa genética, biológi-

ca, cirúrgica, patológica e clínica, além da amplia-

ção do número de leitos, do centro cirúrgico e do

centro de transplante de medula óssea.

Como é possível perceber, trabalho não falta no

Graacc, mas não é a tarefa de gestor aquela que

dá maior prazer ao Dr. Sérgio Petrilli. Sua maior

satisfação ainda é poder atender aos pacientes

no ambulatório ou falar com uma mãe que busca

orientação para o filho que está com febre. Esse é

o momento em que os olhos do Dr. Graacc brilham

com mais intensidade. f

Em abril de 2013, o Graacc lançou a campanha Movimento Carequinhas, que depois foi premiada no festival internacional Cannes Lions

MÉDIA DE TAXA DE CURA NO GRAACC

49julho 2014 fINANCEIRo

Page 50: Financeiro Ed 87

negócios&lazer

O interior do Estado de São Paulo revela o potencial

turístico que vem conquistando cada vez mais os

paulistanos como uma alternativa à agitação do lito-

ral, principalmente durante o inverno. Uma opção que agrada

àqueles que buscam o ar puro, a natureza e o sossego é o Broa

Golf Resort. Localizado no município de Itirapina, próximo a

Brotas, a 210 km da capital paulista, o resort ocupa uma área

de 1.200 hectares às margens da Represa do Broa, formada

pelas águas do Ribeirão do Lobo, do Rio Itaqueri e de córregos

menores. Esses atrativos naturais encantam os amantes dos

esportes náuticos e de aventura, como caiaque, rafting, boia

cross, tirolesa, parede de escalada, stand up paddle, paintball,

arco e flecha, entre outras modalidades.

Cercado por paisagens paradisíacas, o Broa Golf Resort

possui 75 apartamentos, para acolher os hóspedes que cur-

tem o golfe e mais de 15 atividades dedicadas ao ecoturis-

mo. Além disso, segundo Paulo Eduardo Marques, gerente

geral do hotel, o local ainda conta com spa, espaço zen para

massagem, ofurô ao ar livre, piscinas, minizoo, sete quadras

de tênis e recreação com monitores para as crianças.

Como o golfe é um esporte que tem tudo a ver com o

universo dos negócios, o Broa Golf Resort atrai presiden-

Campo dos sonhos

50 fINANCEIRo julho 2014

Page 51: Financeiro Ed 87

tes de empresas e executivos que buscam aliar o lazer

a transações comerciais e networking. Segundo Marcelo

Giumelli, gerente responsável pelas atividades ligadas ao

golfe, o campo do hotel – 300 mil m², nove buracos com

quatro tees de saída (par 72 para duas voltas) e greens

(área final) de qualidade – está ranqueado entre os me-

lhores do País. “O nosso padrão de excelência nos levou

a ser selecionados para abrigar o Centro de Treinamento

de Golfe dos Jogos Olímpicos Rio 2016”, conta Giumelli.

Para os hóspedes pouco familiarizados ao swing do es-

porte de Tiger Woods (movimento feito para a batida na

bola), o hotel promove uma clínica (orientação) com as

noções básicas da modalidade.

A infraestrutura do resort tem atraído também a atenção

de empresas, como TAM, Alpargatas, Cartier e Timberland,

que escolheram o refúgio da Represa do Broa para realizar

eventos, encontros corporativos e divulgação de campanhas

publicitárias. “Uma companhia, por exemplo, trouxe recen-

temente seus funcionários para um treinamento e, no meio

da madrugada, foi simulado um sequestro de dois colabo-

radores. Eles desceram de helicóptero em uma produção

quase que cinematográfica”, relembra Marques.

Por Geyse Alencar

Localizado a 210 km de São Paulo, o Broa Golf Resort é o refúgio de executivos que buscam a tranquilidade do interior, sem abrir mão do conforto e da comodidade para fazer novos negócios e, ainda, descansar

Foto

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51julho 2014 financeiro

Page 52: Financeiro Ed 87

Serviço broa Golf ResortRodovia Municipal

Ayrton Senna da Silva,

km 8, Itirapina/SP.

www.broagolfresort.com.br

Tel.: (55.19) 3575-1136

CURIOSIDADE

Por que Represa do Broa?

Uma senhora vendia broas de milho

na única porteira que permitia

acesso à saída da represa na década

de 30. Ao passo que aumentava

o número de frequentadores, a

tradição da broa foi ganhando

espaço na região e a fazer parte

da vida dos moradores.

negócios&lazer

Outro atrativo do resort é o Instituto Arruda Botelho, espaço com 2.400 m², que abriga há 17 anos o acervo particular de aeronaves, em condições de voo, de Fer-nando de Arruda Botelho, empresário fa-lecido em 2012, fundador do Broa Golf Resort e amante da aviação. Entre as ra-ridades expostas à visitação estão aerona-ves do início do século 19, como a Taylor Turist, com capacidade para quatro luga-res, um dos 14 exemplares fabricados. Ou-tro é o Beechcraft Staggerwing, com trem de pouso retrátil, utilizado na Segunda Guerra Mundial. A aeronave foi idealizada por Walter Beech, em 1932, a partir da ne-cessidade de um transporte executivo ca-paz de voar maiores distâncias com mais rapidez que qualquer outro avião médio existente na época.

“Essa paixão pelo mundo aéreo levou Fernando de Arruda Botelho a organizar o Broa Fly-In 14-Bis, uma das mais im-portantes feiras de aviação da América Latina, que reúne anualmente cerca de 10 mil pessoas, entre empresários, executi-vos, colecionadores (amadores e profis-sionais) fornecedores e consumidores de produtos e serviços”, explica Paulo Eduar-do, gerente do Broa Resort. Os negócios gerados pelo evento movimentam cifras superiores a US$ 100 milhões. A próxima edição está confirmada para os dias 5, 6 e 7 de junho de 2015. f

SONhO QUE GERA NEGóCIOS

Foto

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52 financeiro julho 2014

Page 53: Financeiro Ed 87
Page 54: Financeiro Ed 87

A Casa Mathilde, no centro de São Paulo, serve os melhores doces

criados pela tradição portuguesa

Se você sonha em voltar a Portugal para, en-

tre outras coisas, matar a saudade dos doces

portugueses, saiba que esse prazer está mais

perto do que você pode imaginar. Na Praça Antonio

Prado, Centro de São Paulo, pertinho da Torre do

Banespa, a Casa Mathilde resgata a tradição da do-

çaria criada nos conventos desde o século 15. Sem

precisar atravessar o Atlântico, é possível deliciar-

-se saboreando um legítimo pastel de nata, idêntico

Delícias dos conventos

happyhour

ao que se come no bairro lisboeta de Belém; pastel

de São Bento, que traz na receita amêndoas crocan-

tes; tortas de azeitão; rocambole de massa fina e

recheio de ovos e açúcar; e travesseiro de Sintra,

massa folhada enrolada com creme de amêndoas e

canela, coberta com açúcar de confeiteiro.

Essas tentações são preparadas por três chefs

confeiteiros, trazidos de Portugal, que misturam

delicadamente os ingredientes básicos das re-

ceitas lusas: ovo caipira, açúcar, leite, manteiga e

farinha de trigo. Além do sabor inigualável dos do-

ces, é possível vê-los saírem quentinhos do forno,

de meia em meia hora.

Para trazer essa pequena porção de Portugal

– 1.200 m², divididos em três pavimentos – para

o coração de São Paulo, um grupo de empresá-

rios portugueses investiu mais de R$ 5 milhões.

Os sócios trouxeram a Casa Mathilde para cá por-

que desejam resgatar uma doçaria tradicional de

Portugal, fundada em 1850 em Sintra e que ficou

famosa por se tornar a fornecedora oficial de quei-

jadinhas à Casa Real, depois que D. Fernando II

apaixonou-se pelo quitute em uma viagem à cida-

de. A lendária fábrica de doces foi desativada logo

depois da Revolução dos Cravos, em 1974.

Além da tradição portuguesa, o espaço escolhido

pelos sócios, no centro de São Paulo, já estava en-

volvido em uma aura gastronômica desde a década

de 1950, quando acolheu ali o primeiro salão do res-

taurante Fasano. Se essas poucas linhas e as fotos

encheram sua boca d’água, não perca tempo. Faça

uma visita ao centro velho paulistano e prove essas

tentações que só os portugueses sabem preparar. f

Serviço Casa MathildePraça Antonio Prado,

76 (Centro)

São Paulo – SP

Telefone: (11)

3106.9605

54 financeiro julho 2014

Page 55: Financeiro Ed 87
Page 56: Financeiro Ed 87

bancodedadosinepad

O desenvolvimento do sistema financeiro brasileiro é um fato comprova-

do pelo desenvolvimento da relação crédito/PIB e pelo aumento constante

e progressivo do saldo das operações de crédito contratadas. Entretanto, o

expressivo aumento do endividamento das famílias brasileiras nos últimos

anos, e a inadimplência, tem causado certa preocupação quanto à sustentabi-

lidade desse crescimento.

Como está exposto no Gráfico 1, pode-se observar um aumento médio

mensal de 0,3 p.p. (pontos percentuais) na relação crédito/PIB do Brasil de

abril de 2007 a fevereiro de 2014, chegando a 55,77% ao fim do período. Já o

saldo da carteira de crédito aumentou de R$ 780 bilhões em abril de 2007

para R$ 2,73 trilhões ao fim do período apresentado. Isso representa um

crescimento médio mensal de 1,48%, como mostra o Gráfico 2. Interessante

observar no Gráfico 2 também, uma brusca redução no crescimento do saldo

no segundo semestre de 2008 causado pela crise mundial de liquidez, che-

gando a haver uma leve recessão de 0,03% em fevereiro de 2009.

Endividamento das famílias brasileiras e a inadimplência

Gráfico 2 - Variação Mensal do Saldo das Operações de Crédito Inepad e BCB

Elaborado pelo Centro de Pesquisas do INEPAD - Núcleo CEPEfIN.

Elaboração:Iago Henrique Rodrigues Monteiro – Pesquisador do Centro de Pesquisas do INEPAD – Núcleo CEPEFIN. Graduando em Ciências Econômicas pela Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade da Universidade de São Paulo no campus de Ribeirão Preto.

Orientador:Alberto Borges Matias – Fundador do INEPAD e orientador do CEPEFIN. Professor titular do Departamento de Administração da Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade da Universidade de São Paulo no campus de Ribeirão Preto. Livre-docente em Finanças, atu-ando nos programas de gradu-ação, pós-graduação e MBAs da Universidade

Por Prof. Dr. Alberto Borges Matias, com colaboração de Iago Henrique Rodrigues Monteiro

Foto

: Div

ulga

ção

Gráfico 1 - Crédito/PIB e Saldo Inepad e BCB

Nota: Saldo está no eixo secundário.

Primeiramente, é necessário ressaltar que endividamento não é um ter-

mo pejorativo e não significa que haverá inadimplência necessariamente, o

termo apenas representa o quanto o crédito e o financiamento estão presen-

tes na economia de um país. Segundo definição usada pelo Banco Central,

o endividamento das famílias é “a relação entre o valor atual das dívidas

das famílias com o Sistema Financeiro Nacional e a renda das famílias acu-

56 fINANCEIRo julho 2014

Page 57: Financeiro Ed 87

Gráfico 4 - Endividamento das Famílias Brasileiras Inepad e FED

Gráfico 3 - Endividamento das Famílias Brasileiras Inepad e BCB

Nota: Renda Média Anual do Trabalhador no eixo secundário.

Gráfico 5 - Variação da Inadimplência Inepad e BCB

Nota: Taxa Selic está no eixo secundário.

mulada nos últimos doze meses”. Desse modo,

observando o Gráfico 3, que mostra a evolução do

endividamento e a evolução da renda dos últimos

doze meses dos trabalhadores brasileiros, é visí-

vel que houve um aumento na renda, contudo, não

com a mesma intensidade que houve na expansão

de crédito, sendo, portanto, um dos fatores que

influenciaram no aumento do endividamento das

famílias. O aumento do endividamento no período

foi de 15,28 p.p., alcançando 45,73% em março de

2014, já o aumento na renda foi de 21,58% e che-

gou a R$ 24,7 mil ao fim do período.

No Gráfico 4, é feita uma comparação do endi-

vidamento das famílias brasileiras com o endivi-

damento de famílias de alguns países desenvolvi-

dos. Na curva dos Estados Unidos e da Alemanha

é possível perceber um decrescimento no endivi-

damento das famílias a partir de 2009. Essa que-

da foi causada após a crise de 2008, que foi uma

consequência do alto nível de inadimplência nas

concessões de crédito subprime. Como medida de

prevenção para novas recessões econômicas, os

governos de determinados países tomaram atitu-

des para controlar o endividamento das famílias.

No caso dos Estados Unidos e da Alemanha hou-

ve uma queda na curva de endividamento para

80,53% e 56,02%, respectivamente, no fim do pe-

ríodo. Já Austrália e Canadá mantiveram o nível

de endividamento das famílias em cerca de 95%

da renda anual. Outro ponto a ser observado é a

distância do endividamento das famílias brasilei-

ras, que no fim do período apresentado estava em

apenas 45,38%, para o endividamento dos outros

países desenvolvidos, que convivem com um en-

dividamento das famílias próximo a 100% e mes-

mo assim possuem economias saudáveis.

No Gráfico 5 é exposta a variação mensal da

inadimplência e a evolução da taxa Selic no perí-

odo. Apesar de as concessões de crédito no Brasil

serem predominantemente prefixadas, ou seja, não

possuem indexação a taxa Selic, é possível obser-

var a influência da Selic na variação da inadimplência, causada,

provavelmente, pela influência nas concessões de crédito pós-fi-

xadas e pelas novas concessões. Outro ponto importante é o cres-

cimento da inadimplência durante a recessão mundial de 2008.

Em abril de 2009, por exemplo, houve um aumento de 10,81% na

inadimplência. Entretanto, no período apresentado, a inadimplên-

cia caiu de 3,7% em maio de 2007 para 3% em janeiro de 2014.

A queda da inadimplência no período apresentado é um im-

portante indicador da sustentabilidade da recente evolução do

mercado de crédito brasileiro. Além disso, apesar do recente au-

mento, o endividamento das famílias brasileiras está bem abaixo

em comparação com os países estudados, que ainda assim pos-

suem economias saudáveis. Com isso, é possível concluir que o

problema não é a quantidade de concessões de crédito contrata-

dos, e sim as condições em que os mesmos são feitos. Portan-

to, o Brasil continua com um excelente potencial de expansão do

mercado de crédito, e pode continuar essa evolução de maneira

responsável e sustentável. f

57julho 2014 financeiro

Page 58: Financeiro Ed 87

bancodedadosinepad

Taxas Médias: geralDATA Aplicações Var. p.p. Captações Var. p.p. Spread Var. p.p.

abr/13 18,5 0,0 6,8 0,0 11,7 0,0mai/13 18,1 -0,4 6,9 0,1 11,2 -0,5jun/13 18,5 0,4 7,6 0,7 10,9 -0,3jul/13 19,1 0,6 7,7 0,1 11,4 0,5ago/13 19,3 0,2 8,0 0,3 11,3 -0,1set/13 19,5 0,2 8,2 0,2 11,3 0,0out/13 19,8 0,3 8,2 0,0 11,6 0,3nov/13 20,0 0,2 8,5 0,3 11,5 -0,1dez/13 19,7 -0,3 8,6 0,1 11,1 -0,4jan/14 20,7 1,0 8,9 0,3 11,8 0,7fev/14 21,0 0,3 8,7 -0,2 12,2 0,5mar/14 21,1 0,1 8,8 0,1 12,3 0,0abr/14 21,1 0,0 8,6 -0,2 12,5 0,2

Variaçãoabr-abr

2,6 1,8 0,8

Fonte: BC / INEPAD

DATA Aplicações Var. p.p. Captações Var. p.p. Spread Var. p.p.abr/13 24,3 -0,2 7,0 -0,1 17,3 -0,1mai/13 24,0 -0,3 7,1 0,1 16,9 -0,4jun/13 24,2 0,2 8,0 0,9 16,2 -0,7jul/13 25,1 0,9 8,2 0,2 16,9 0,7ago/13 25,2 0,1 8,6 0,4 16,6 -0,3set/13 25,6 0,4 8,8 0,2 16,8 0,2out/13 26,2 0,6 8,8 0,0 17,4 0,6nov/13 26,1 -0,1 9,1 0,3 17,0 -0,4dez/13 25,6 -0,5 9,2 0,1 16,4 -0,6jan/14 26,8 1,2 9,5 0,3 17,3 0,9fev/14 27,2 0,4 9,2 -0,3 18,2 0,9mar/14 27,7 0,5 9,4 0,2 18,3 0,1abr/14 27,7 0,0 9,1 -0,3 18,6 0,3Variação abr-abr

Taxas Médias: Pessoa física

3,4 2,1 1,3

Fonte: BC / INEPAD

DATA Aplicações Var. p.p. Captações Var. p.p. Spread Var. p.p.abr/13 14,0 -0,4 6,6 0,1 7,4 -0,5mai/13 13,5 0,4 6,7 0,7 6,8 -0,3jun/13 14,1 0,6 7,3 0,1 6,8 0,5jul/13 14,4 0,2 7,3 0,3 7,1 -0,1ago/13 14,7 0,2 7,5 0,2 7,2 0,0set/13 14,7 0,3 7,7 0,0 7,0 0,3out/13 14,8 0,2 7,8 0,3 7,0 -0,1nov/13 15,2 -0,3 8,1 0,1 7,1 -0,4dez/13 15,1 1,0 8,2 0,3 6,9 0,7jan/14 15,9 0,3 8,3 -0,2 7,6 0,4fev/14 16,0 0,1 8,3 0,1 7,7 0,1mar/14 16,0 0,0 8,3 -0,2 7,7 0,2abr/14 16,0 -21,1 8,2 -8,6 7,8 -12,5Variação abr-abr

Taxas Médias: Pessoa física

2,0 2,2 0,1

Fonte: BC / INEPAD

58 financeiro julho 2014

Page 59: Financeiro Ed 87

Consignados: saldo de operações de crédito

Fonte: BC / INEPAD

abr/13 94.042 124.091 16.964 61.412 202.467 296.509 24,3 36,8 12,5 mai/13 94.904 126.450 17.223 62.706 206.379 301.283 24,2 36,7 12,5 jun/13 95.634 128.603 17.401 63.386 209.390 305.024 24,2 38,0 13,8 jul/13 95.736 130.421 17.504 64.181 212.106 307.842 24,4 39,8 15,4

ago/13 96.486 132.123 17.727 65.102 214.952 311.438 24,5 39,7 15,2 set/13 97.579 133.439 17.860 65.536 216.835 314.414 24,3 40,3 16,0 out/13 98.605 134.936 17.950 65.893 218.779 317.384 24,6 42,2 17,6 nov/13 99.423 136.391 18.008 66.356 220.628 320.178 24,5 41,7 17,2 dez/13 97.767 137.169 17.953 66.755 221.841 319.644 24,4 41,3 16,9 jan/14 98.921 138.420 18.050 67.672 224.142 323.063 24,9 43,0 18,1 fev/14 99.503 140.063 18.175 69.344 227.582 327.085 25,1 44,1 19,0 mar/14 100 269 141 516 18 280 69 795 229 591 329 860 25,3 43,9 18,6 abr/14 101 250 143 161 18 473 70 412 232 046 333 296 25,3 45,1 19,8

Mês/Ano Não consignado

Consignado TotalConsignado Crédito

PessoalDiferença

Crédito pessoal Taxa de Juros %a.a.

crédito consignado (R$ milhões)

Servidores públicos

Beneficiários do INSS

TotalTrab. do setor privado

59julho 2014 financeiro

Page 60: Financeiro Ed 87

bancodedadosinepad

abr/13 21.220 4,82 123.598 1,19 21.662 0,25 93.944 1,11 202.469 1,83 296.412 1,60

mai/13 21.118 -0,48 126.433 2,29 21.773 0,51 94.945 1,07 206.309 1,90 301.254 1,63

jun/13 20.478 -3,03 125.372 -0,84 21.764 -0,04 95.663 0,76 209.304 1,45 304.967 1,23

jul/13 20.962 2,36 129.369 3,19 21.721 -0,20 95.736 0,08 212.106 1,34 307.842 0,94

ago/13 21.086 0,59 130.019 0,50 21.739 0,08 96.787 1,10 214.728 1,24 311.515 1,19

set/13 22.025 4,45 131.437 1,09 21.558 -0,83 97.579 0,82 216.835 0,98 314.414 0,93

out/13 22.058 0,15 133.682 1,71 21.500 -0,27 98.605 1,05 218.779 0,90 317.384 0,94

nov/13 21.247 -3,68 135.236 1,16 21.416 -0,39 99.423 0,83 220.754 0,90 320.177 0,88

dez/13 20.219 -4,84 144.589 6,92 21.195 -1,03 97.767 -1,67 221.878 0,51 319.645 -0,17

jan/14 21.742 7,53 143.914 -0,47 21.058 -0,65 98.921 1,18 224.143 1,02 323.063 1,07

fev/14 20.051 -7,78 139.698 -2,93 20.887 -0,81 99.503 0,59 227.581 1,53 327.085 1,24

mar/14 21.254 6,00 141.616 1,37 20.719 -0,80 100.269 0,77 229.591 0,88 329.859 0,85

abr/14 21.711 2,15 141.331 -0,20 20.598 -0,58 101.250 0,98 232.046 1,07 333.296 1,04

MÊS

/ A

NO

CHEQUE ESPECIAL

VARIAÇÃOEM %

CARTÃO DE CRÉDITO

VARIAÇÃOEM %

VARIAÇÃOEM %

Crédito pessoal não consignado

Variação em %

Crédito pesso-al consignado

total

Variação em %

TOTAL

VAR

IAÇ

ÃO

EM %

CRÉDITO PESSOALCRÉDITO PESSOAL NÃO CONSIGNADO VINCULADO À

DÍVIDA

Saldo da carteira de crédito - pessoa físicarecursos livres - (R$ milhões)

abr/13 192.490 -0,16 10.498 0,65 202.988 -0,12 13.732 -6,88 1.590 -2,69 25.941 3,63

mai/13 192.060 -0,22 10.657 1,51 202.717 -0,13 12.809 -6,72 1.583 -0,44 25.923 -0,07

jun/13 191.979 -0,04 10.804 1,38 202.783 0,03 12.040 -6,00 1.587 0,25 26.250 1,26

jul/13 193.946 1,02 10.879 0,69 204.825 1,01 11.167 -7,25 1.525 -3,91 26.279 0,93

ago/13 194.008 0,03 11.070 1,76 205.078 0,12 10.410 -6,78 1.553 1,84 26.417 0,53

set/13 193.106 -0,46 10.923 -1,33 204.029 -0,51 9.724 -6,59 1.538 -0,97 25.700 -2,71

out/13 193.026 -0,04 11.107 1,68 204.133 0,05 9.064 -6,79 1.524 -0,91 25.167 -2,07

nov/13 193.082 0,03 11.191 0,76 204.273 0,07 8.498 -6,24 1.578 3,54 25.723 2,21

dez/13 192.797 -0,15 11.373 1,63 204.170 -0,05 7.906 -6,97 1.564 -0,89 25.930 0,80

jan/14 193.006 0,11 11.460 0,76 204.466 0,14 7.368 -6,80 1.534 -1,92 26.354 1,64

fev/14 191.845 -0,60 11.560 0,87 203.405 -0,52 6.854 -6,98 1.574 2,61 28.085 6,57

mar/14 189.952 -0,99 11.757 1,70 201.709 -0,83 6.315 -7,86 1.528 -2,92 27.272 -2,89

abr/14 189.006 -0,50 11.950 1,64 200.956 -0,37 5.883 -6,84 1.523 -0,33 26.631 -2,35

MÊS

/ A

NO

VeículosVariação

em % Outros bens Variação em %

OUTROS CRÉDITOS

LIVRES

VAR

IAÇ

ÃO

EM %

AQUISIÇÃO

TOTALVARIAÇÃO

EM %VARIAÇÃO

EM %

VAR

IAÇ

ÃO

EM %

ARREN-DAMENTO MERCAN-

TIL

DESCONTO DE

CHEQUES

Saldo da carteira de crédito - pessoa física

Saldo da carteira de crédito - pessoa física

recursos livres - (R$ milhões)

recursos direcionados - (R$ milhões)RECURSOS LIVRES - (R$ Milhões)MÊS /

ANOCRÉDITO RU-RAL TOTAL

VARIAÇÃO EM %

FINANC. IMOBILI-ÁRIO TOTAL

VARIAÇÃO EM %

FINANC. RECUR-SOS DO BNDES

VARIAÇÃO EM %

MICROCRÉDI-TO TOTAL

VARIAÇÃO EM %

OUTROS CRÉDITOS DIRECIONADOS

VARIAÇÃO EM %

abr/13 94.192 1,60 281.343 2,71 32.991 2,63 3.936 1,47 4.491 0,83mai/13 97.014 3,00 289.652 2,95 32.839 -0,46 4.027 2,31 4.573 1,83jun/13 101.736 4,87 298.396 3,02 33.119 0,85 4.170 3,55 4.755 3,98jul/13 99.448 -2,25 306.493 2,71 33.527 1,23 4.116 -1,29 5.109 7,44ago/13 103.181 3,75 314.896 2,74 34.086 1,67 4.158 1,02 5.314 4,01set/13 105.950 2,68 319.441 1,44 34.504 1,23 4.188 0,72 6.074 14,30out/13 108.036 1,97 326.403 2,18 35.026 1,51 4.423 5,61 6.169 1,56nov/13 110.969 2,71 333.878 2,29 35.688 1,89 4.873 10,17 6.343 2,82dez/13 115.287 3,89 341.465 2,27 37.067 3,86 5.392 10,65 6.745 6,34jan/14 116.353 0,92 347.709 1,83 38.608 4,16 5.450 1,08 6.865 1,78fev/14 117.796 1,24 354.600 1,98 38.986 0,98 5.415 -0,64 6.978 1,65mar/14 119.944 1,82 360.784 1,74 39.174 0,48 5.261 -2,84 6.828 -2,15abr/14 122.847 2,42 367.636 1,90 39.639 1,19 5.171 -1,71 6.998 2,49

Font

e: B

C /

INEP

AD

Font

e: B

C /

INEP

AD

Font

e: B

C /

INEP

AD

Fonte: BC / INEPAD

60 financeiro julho 2014

Page 61: Financeiro Ed 87

Gráfico do crédito pessoal

abr/13 296.412 13.368 4,51% 192.490 16.650 8,65% 10.498 856 8,15%

mai/13 301.254 12.231 4,06% 192.060 16.479 8,58% 10.657 828 7,77%

jun/13 304.967 11.985 3,93% 191.979 15.857 8,26% 10.804 816 7,55%

jul/13 307.842 12.252 3,98% 193.946 15.826 8,16% 10.879 814 7,48%

ago/13 311.515 12.118 3,89% 194.008 15.152 7,81% 11.070 794 7,17%

set/13 314.414 13.048 4,15% 193.106 15.796 8,18% 10.923 765 7,00%

out/13 317.384 12.759 4,02% 193.026 15.693 8,13% 11.107 796 7,17%

nov/13 320.177 12.199 3,81% 193.082 15.350 7,95% 11.191 789 7,05%

dez/13 319.645 13.265 4,15% 192.797 14.922 7,74% 11.373 753 6,62%

jan/14 323.063 14.344 4,44% 193.006 14.939 7,74% 11.460 842 7,35%

fev/14 327.085 14.032 4,29% 191.845 14.408 7,51% 11.560 857 7,41%

mar/14 329.859 14.745 4,47% 189.952 16.051 8,45% 11.757 970 8,25%

abr/14 333.296 15.365 4,61% 189.006 15.820 8,37% 11.950 987 8,26%

MÊS

/ A

NO

% sobre saldo da carteira

% sobre saldo da carteira

% sobre saldo da carteira

Com atraso de 15 a 90 dias

Com atraso de 15 a 90 dias

Com atraso de 15 a 90 diasSaldo total Saldo total Saldo total

CRÉDITO PESSOAL AQUISIÇÃO DE VEÍCULOS AQUISIÇÃO DE OUTROS BENSSOAL

Saldo da carteira de crédito - pessoa físicaSaldo (R$ milhões) e percentual (%) da carteira de crédito com recursos livres PF - Total e com atraso entre 15 e 90 dias

Data Saldo Taxa de Jurosjun/07 96.426 51,06jul/07 100.256 50,61

ago/07 102.555 49,89set/07 104.222 49,43out/07 106.498 48,88nov/07 107.293 46,75dez/07 108.041 45,80jan/08 110.428 53,08fev/08 112.303 52,59mar/08 115.578 50,48abr/08 118.248 50,60mai/08 120.720 48,39jun/08 121.211 51,39jul/08 123.198 53,59

ago/08 125.550 54,49set/08 127.281 56,31out/08 129.704 57,42nov/08 130.039 59,88dez/08 129.741 60,44jan/09 131.707 56,51fev/09 130.219 54,49mar/09 133.330 50,84abr/09 137.539 48,78mai/09 139.997 46,62jun/09 142.569 45,64jul/09 145.446 44,78

ago/09 148.622 44,29

Data Saldo Taxa de Jurosset/09 151.359 44,71out/09 154.386 45,74nov/09 156.259 43,64dez/09 159.692 44,35jan/10 162.446 44,83fev/10 165.543 43,81mar/10 170.393 42,69abr/10 174.442 42,87mai/10 178.844 43,04jun/10 181.458 41,97jul/10 184.359 42,21

ago/10 188.779 41,96set/10 191.969 41,63out/10 195.497 43,55nov/10 198.633 41,99dez/10 201.611 44,11jan/11 205.727 48,32fev/11 209.255 47,96mar/11 210.445 43,01abr/11 213.685 44,34mai/11 216.864 44,56jun/11 220.666 44,52jul/11 224.603 45,01

ago/11 229.192 44,52set/11 232.172 44,64out/11 235.202 45,34nov/11 238.570 43,64dez/11 238.854 42,40

Data Saldo Taxa de Jurosjan/12 242.445 44,80fev/12 246.608 45,20mar/12 250.527 43,90abr/12 254.431 41,40mai/12 259.656 39,30jun/12 263.702 38,20jul/12 266.503 38,60

ago/12 270.538 38,00set/12 271.628 37,70out/12 275.565 37,80nov/12 278.776 37,10dez/12 279.104 36,90jan/13 283.245 37,30fev/13 287.061 37,90mar/13 291.741 37,17abr/13 296.412 36,83mai/13 301.254 36,74jun/13 304.967 38,02jul/13 307.842 39,75

ago/13 311.515 39,71set/13 314.414 40,34out/13 317.384 42,23nov/13 320.177 41,72dez/13 319.645 41,32jan/14 323.063 43,00fev/14 327.085 44,10mar/14 329.859 43,90abr/14 333.296 45,10

Fonte: BC / INEPAD

Fonte: BC / INEPAD

Font

e: B

C /

INEP

AD

61julho 2014 financeiro

Page 62: Financeiro Ed 87

bancodedadosinepad

abr/13 296.412 2,65 -0,02 36,83 -0,34 192.490 1,53 0,01 19,92 0,19 10.498 4,43 -0,02 68,25 -0,38

mai/13 301.254 2,64 -0,01 36,74 -0,09 192.060 1,51 -0,01 19,73 -0,19 10.657 4,32 -0,11 66,20 -2,05

jun/13 304.967 2,72 0,08 38,02 1,28 191.979 1,49 -0,02 19,47 -0,26 10.804 4,33 0,01 66,40 0,20

jul/13 307.842 2,83 0,11 39,75 1,73 193.946 1,55 0,06 20,28 0,81 10.879 4,39 0,06 67,49 1,09

ago/13 311.515 2,83 0,00 39,71 -0,04 194.008 1,60 0,04 20,92 0,64 11.070 4,39 0,00 67,55 0,06

set/13 314.414 2,86 0,04 40,34 0,63 193.106 1,64 0,05 21,60 0,68 10.923 4,43 0,03 68,17 0,62

out/13 317.384 2,98 0,11 42,23 1,89 193.026 1,59 -0,05 20,83 -0,77 11.107 4,58 0,16 71,19 3,02

nov/13 320.177 2,95 -0,03 41,72 -0,51 193.082 1,62 0,03 21,28 0,45 11.191 4,65 0,07 72,57 1,38

dez/13 319.645 2,92 -0,02 41,32 -0,40 192.797 1,62 0,00 21,29 0,01 11.373 4,93 0,28 78,13 5,56

jan/14 323.063 3,03 0,10 43,00 1,68 193.006 1,72 0,10 22,74 1,45 11.460 4,73 -0,20 74,16 -3,97

fev/14 327.085 3,09 0,07 44,10 1,10 191.845 1,80 0,08 23,85 1,11 11.560 4,79 0,06 75,36 1,20

mar/14 329.859 3,08 -0,01 43,90 -0,20 189.952 1,78 -0,02 23,54 -0,31 11.757 4,75 -0,05 74,44 -0,92

abr/14 333.296 3,15 0,07 45,10 1,20 189.006 1,71 -0,06 22,62 -0,92 11.950 4,79 0,04 75,27 0,83

MÊS

/ A

NO

Saldo total

Saldo total

Saldo total

R$ Milhões R$ Milhões R$ Milhões% am % am % am% aa % aa % aaVarição p.p

Varição p.p

Varição p.p

Varição p.p

Varição p.p

Varição p.p

Taxa de juros Taxa de juros Taxa de juros

CRÉDITO PESSOAL AQUISIÇÃO DE BENS - VEÍCULOS AQUISIÇÃO DE BENS - OUTROS

Juros

Atividade Econômica

Taxa média de juros das operações de crédito com recursos livres - Pessoa Física

Fonte: BC / INEPAD

Fonte: BC / INEPAD

Fonte: IBGE / INEPAD

DATA

"Taxa da Uti-lização

da Capacidade Instalada"

Var. p.p. DATA

"Índice de Produção Física

Média Móvel Trimestral"

Var. %

fev/13 82,4 -1,20 fev/13 127,43 0,24%mar/13 82,6 0,20 mar/13 127,70 0,21%abr/13 83,2 0,60 abr/13 127,12 -0,45%mai/13 82,6 -0,60 mai/13 127,56 0,35%jun/13 82,5 -0,10 jun/13 128,24 0,53%jul/13 82,4 -0,10 jul/13 127,36 -0,69%ago/13 82,3 -0,10 ago/13 127,39 0,02%set/13 82,1 -0,20 set/13 126,86 -0,42%out/13 82,3 0,20 out/13 127,43 0,45%nov/13 82,0 -0,30 nov/13 127,75 0,25%dez/13 81,7 -0,30 dez/13 126,17 -1,24%jan/14 82,3 0,60 jan/14 125,92 -0,20%fev/14 81,9 -0,40 fev/14 126,00 0,06%

Variação fev-fev

-0,5 Variação fev-fev

-1,43

62 fINANCEIRo julho 2014

Page 63: Financeiro Ed 87

Anfavea

Rendimento

Produção - Automóveis de Passageiros, Mistos, Veículos Comerciais, Leves e Pesados (em unidades)

Taxa de Desemprego (%)

Rendimento Médio Real Habitualmente Recebido (R$)

DATA Brasil Var. p.p. SP Var. p.p.

abr/13 5,80% 0,1 6,7% 0,400mai/13 5,80% 0,0 6,3% -0,400jun/13 6,00% 0,2 6,6% 0,300jul/13 5,60% -0,4 5,80% -0,800

ago/13 5,3% -0,3 5,40% -0,400set/13 5,40% 0,1 5,80% 0,400out/13 5,20% -0,2 5,60% -0,200nov/13 4,60% -0,6 4,70% -0,900dez/13 4,30% -0,3 4,40% -0,300jan/14 4,80% 0,5 5,00% 0,600fev/14 5,10% 0,3 5,50% 0,500mar/14 5,00% -0,1 5,70% 0,2abr/14 4,90% -0,1 5,20% -0,5

DATA Brasil Var. p.p. SP Var. p.p.

abr/13 1974,1 -0,18% 2104,6 -0,49%mai/13 1967,5 -0,34% 2090,7 -0,66%jun/13 1964,5 -0,15% 2078,9 -0,57%jul/13 1947,6 -0,86% 2049,9 -1,39%

ago/13 1981,3 1,73% 2083,3 1,63%set/13 2001,8 1,03% 2105,0 1,04%out/13 1999,1 -0,13% 2127,6 1,07%nov/13 2038,3 1,96% 2159,9 1,52%dez/13 2023,7 -0,72% 2136,2 -1,10%jan/14 2031,7 0,40% 2136,9 0,03%fev/14 2047,0 0,75% 2145,2 0,39%mar/14 2040,3 -0,33% 2144,7 -0,02%abr/14 2028 -0,60% 2139,30 -0,25%

Data Produção Média Trim.Var. Men-

salVar. Mensal

(%)

mai/13 344.547 341.998 -7.808 -2,2%jun/13 323.880 340.261 -20.667 -6,0%jul/13 317.855 328.761 -6.025 -1,9%

ago/13 342.757 328.164 24.902 7,8%set/13 322.350 327.654 -20.407 -6,0%out/13 322.514 329.207 164 0,1%nov/13 293.189 312.684 -29.325 -9,1%dez/13 230.892 282.198 -62.297 -21,2%jan/14 237.186 253.756 6.294 2,7%fev/14 281.452 249.843 44.266 18,7%mar/14 271.217 263.285 -10.235 -3,6%abr/14 277.091 276.587 5.874 2,2%mai/14 282.465 276.924 5.374 1,9%

Variação Mai-mai

-18,02%

63julho 2014 fINANCEIRo

Page 64: Financeiro Ed 87

bancodedadosinepad

Exportação de Autoveículos montados (em unidades)

Licenciamento de Automóveis Nacionais e Importados - (em unidades)

Data Exportações Média Trim. Var. MensalVar. Mensal

(%)

mai/13 48.620 48.307 -4.151 -7,87%jun/13 49.444 50.278 824 1,69%jul/13 54.096 50.720 4.652 9,41%

ago/13 64.071 55.870 9.975 18,44%set/13 45.441 54.536 -18.630 -29,08%out/13 51.819 53.777 6.378 14,04%nov/13 45.234 47.498 -6.585 -12,71%dez/13 43.298 46.784 -1.936 -4,28%jan/14 22.797 37.110 -20.501 -47,35%fev/14 28.844 31.646 6.047 26,53%mar/14 23.408 25.016 -5.436 -18,85%abr/14 35.637 29.296 12.229 52,24%mai/14 35.162 31.402 -475 -1,33%

Variação Mai-mai

-27,68%

Data Total 1000cc% no Total

+1000cc a 2000cc

% no total

+2000cc% no total

mai/13 232.974 93.970 40,3% 137.426 59,0% 1.578 0,68%jun/13 233.277 96.715 41,5% 135.298 58,0% 1.264 0,54%jul/13 250.685 99.838 39,8% 149.235 59,5% 1.612 0,64%

ago/13 242.479 94.689 39,1% 146.205 60,3% 1.585 0,65%set/13 222.155 85.937 38,7% 134.794 60,7% 1.424 0,64%out/13 239.590 89.442 37,3% 148.753 62,1% 1.395 0,58%nov/13 223.748 88.745 39,7% 133.291 59,6% 1.712 0,77%dez/13 259.211 101.512 39,2% 155.889 60,1% 1.810 0,70%jan/14 228.670 86.481 37,8% 140.452 61,4% 1.737 0,76%fev/14 183.235 67.317 36,7% 114.515 62,5% 1.403 0,77%mar/14 171.359 68.926 40,2% 101.211 59,1% 1.222 0,71%abr/14 211.225 85.545 40,5% 123.830 58,6% 1.850 0,88%mai/14 207.688 80.139 38,6% 126.019 60,68% 1.530 0,74%

0

20.000

40.000

60.000

80.000

100.000

120.000

140.000

160.000

180.000

Licenciamento por Categoria Automóveis Fonte: Inepad & Anfavea

1000cc +1000cc a 2000cc +2000cc

Fonte: Anfavea / INEPAD

Fonte: Anfavea / INEPAD

Macro

64 fINANCEIRo julho 2014

Page 65: Financeiro Ed 87

Previsões Econômicas

Ano de 2014"PIB Total

% a.a.""PIB Agropecuário

% a.a.""PIB Indústria

% a.a.""PIB Serviço

% a.a.""Produção Industrial

% a.a."

Previsão 06/06/2014 (2014/2014)

1,44 2,25 0,73 1,74 0,53

1 semana antes 30/05 1,53 2,02 0,84 1,73 0,72

1 mês antes 06/05/2014 1,69 2,41 1,42 1,85 1,10

Ano de 2014"Selic

Taxa anual""IGP-DI% a.a."

"IPCA% a.a."

"Taxa de CãmbioR$ / US$"

"SaldoComercial

US$ bilhões"

Previsão 06/06/2014 (2014/2014)

11,17 6,13 6,45 2,41 244,12

1 semana antes 30/05 11,20 6,71 6,45 2,41 244,82

1 mês antes 06/05/2014 11,31 7,19 6,53 2,42 246,77

65julho 2014 fINANCEIRo

Page 66: Financeiro Ed 87

palavrafinal

No primeiro semestre de 2014 ficou evidente que o ciclo virtuoso de

consumo brasileiro está esgotado. O consumo e o crédito tiveram

importante desaceleração. No PIB do primeiro trimestre de 2014

houve queda do consumo das famílias; desempenho esse que poderá ser no-

vamente negativo ou ligeiramente positivo no segundo trimestre, conforme

antecipam alguns indicadores de desempenho do comércio e pesquisas de

intenção de consumo recentes. Há convergência na direção de importante re-

tração na capacidade de consumo da população.

Ciclo virtuoso do consumo e crédito está esgotado

[email protected]

Por Nicola Tingas,Economista-chefe

da Acrefi

Por Nicola Tingas

Art

igo

envi

ado

em 2

7/6/

2014

PIB Trimestral - Consumo das Famílias

Crédito Total do Sistema Financeiro Nacional

trimestral contra trimestre anterior , variação %

crescimento em 12 meses, em %

Fonte: IBGE.

Fonte: Banco Central, Acrefi.

Também há retração

do crédito total na eco-

nomia desde 2011. Esse

movimento de desacele-

ração foi em parte contido pela oferta ampliada de re-

cursos financeiros pelos bancos públicos; e também

pela crescente utilização de crédito direcionado (de

maiores prazos e menores taxas) para, entre outros

usos, refinanciar passivos e promover saneamento

financeiro dos mais endividados, tanto entre as pes-

soas físicas quanto entre as pessoas jurídicas.

A retração da atividade econômica deixou de

ocorrer apenas na indústria de transformação –

agravada ainda mais em período recente – para

atingir também o setor de serviços e o comércio.

Vários fatores já conhecidos causaram essa impor-

tante retração econômica: inflação alta e persisten-

te, elevação dos juros, expressivo endividamento

das famílias, estancamento do aumento da renda,

demissões devido a queda da atividade econômica.

Tudo isso acompanhado pela crescente deterioração

da confiança sobre o futuro; que reduziu, em muito,

a propensão a investir pelo lado da oferta e retraiu a

propensão a consumir pelo lado do consumo – ca-

racterizando quadro de estagnação econômica.

Nesse ambiente, as projeções para crescimen-

to do produto interno bruto (PIB) em 2014 têm sido

cadentes e piores que o esperado há poucos meses

atrás. Em seu “Relatório Trimestral de Inflação” o

Banco Central reduziu para 1,6% a estimativa para

o PIB 2014, enquanto na mesma semana as proje-

ções de mercado divulgadas pelo “FOCUS” indica-

vam 1,16% de crescimento econômico.

Nas condições atuais, a capacidade de crescimen-

to da economia (PIB potencial) está comprometida.

O crescimento econômico dificilmente poderá ser

revitalizado pelo lado da demanda. A partir da polí-

tica econômica que será definida para 2015 e anos

seguintes, deverá haver consistente formulação e

implementação de estímulos capazes de promover

significativa ampliação do investimento e aumento da

produtividade, para poder, assim, alcançar a retomada

do crescimento sustentável da economia brasileira. f

66 fINANCEIRo julho 2014

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