Pesquisas Futuras em Gerenciamento de Projetos - Predições, desafios e potencialidades futuras
FISIOTERAPIA E SOCIEDADE: AÇÕES DO SISTEMA ÚNICO DE … · A Deus, que me cobre de bênçãos e...
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GERALDO MAGELLA TEIXEIRA
FISIOTERAPIA E SOCIEDADE: AÇÕES DO SISTEMA ÚNICO DE SAÚDE NO RIO GRANDE DO
NORTE
Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Ciências da Saúde da Universidade Federal do Rio Grande do Norte – Centro de Ciências da Saúde para obtenção do título de Mestre em Ciências da Saúde.
NATAL -RN
2007
GERALDO MAGELLA TEIXEIRA
FISIOTERAPIA E SOCIEDADE: AÇÕES DO SISTEMA ÚNICO DE SAÚDE NO RIO GRANDE DO
NORTE
Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Ciências da Saúde da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, para a obtenção do título de Mestre em Ciências da Saúde.
Orientadora: Dra. Eulália Maria Chaves Maia.
NATAL - RN
2007
Teixeira, Geraldo Magella
Fisioterapia e sociedade: ações do Sistema Único de Saúde no Rio Grande do Norte/Geraldo Magella Teixeira.--NATAL, 2007.
xiii, 75f.
Dissertação (Mestrado) – Universidade Federal do Rio Grande do Norte. Programa de Pós-Graduação em Ciências da Saúde.
Título em inglês: Physiotherapy and society: action of SistemaÚnico de Saúde no Rio Grande do Norte.
1. Fisioterapia. 2. Sistema Único de Saúde. 3.Humanização.
UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE
CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM CIÊNCIAS DA SAÚDE
Coordenador do Programa de Pós-Graduação em Ciências da
Saúde: Prof° Dr. Aldo da Cunha Medeiros.
GERALDO MAGELLA TEIXEIRA
FISIOTERAPIA E SOCIEDADE: AÇÕES DO SISTEMA ÚNICO DE SAÚDE NO ESTADO RIO
GRANDE DO NORTE
Presidente da Banca:
Professora Doutora: Eulália Maria Chaves Maia
BANCA EXAMINADORA
_________________________________________________
Professor Doutora Eulália Maria Chaves Maia
_________________________________________________
Professora Doutora Maria Gorethy Fernandes
_________________________________________________
Professor Doutor Horácio Accioly Júnior
DEDICATÓRIA
Aos meus pais (in memorian) Benedito Teixeira e Maria José da Silva Teixeira os quais, com suas atitudes de carinho, liberdade e simplicidade, proporcionaram-me forças para a superação dos inúmeros desafios da vida.
AGRADECIMENTOS
A Deus, que me cobre de bênçãos e sempre está ao meu lado. Tenho certeza
disso!
À minha corajosa orientadora e amiga Profa. Dra. Eulália Maria Chaves Maia, não
só pela oportunidade de concretização desta pesquisa, mas pelo apoio moral,
material e, até, psicológico, dado durante esses anos convividos.
Aos amigos Marcus Aurélio Medeiros Costa e Geovânia Toscano por estarem
sempre disponíveis para atenderem às minhas solicitações e/ou angústias
pessoais e acadêmicas; e, por sua amizade, dedicação e cumplicidade.
Aos amigos Goretti, Eliane Medeiros e Kildemar pelo incentivo e companheirismo.
Aos Professores Doutores membros da banca avaliadora, por suas contribuições
preciosas e pertinentes para a consecução desta dissertação.
A Professora Doutora Vânia de Vasconcelos Gicco. Obrigado pela confiança, pela
amizade, pela dedicação e pelo conhecimento pessoal agregado na convivência.
Aos Professores e Funcionários da Universidade Federal do Rio Grande do Norte,
especialmente aos do Centro de Ciências da Saúde, pela forma carinhosa e
profissional como sempre me receberam.
SUMÁRIO
Dedicatória iv
Agradecimentos v
Lista de tabelas viii
Lista de abreviaturas ix
Resumo x
1 INTRODUÇÃO 01
2 REVISÃO DA LITERATURA 05
2.1 O processo histórico e prática em saúde: Fragmentação do saber 05
2.2 O RELATÓRIO FLEXNER: da educação em saúde a uma medicina mais científica
06
2.3 Práticas e saúde no capitalismo: a influencia sobre o fazer fisioterapêutico 08
2.4 Sistema Único de Saúde: fundamentos políticos, sociais e históricos. 10
2.4.1 O Sistema Único de Saúde 10
2.5 Princípios do Sistema Único de Saúde 16
Princípios doutrinários 16
Princípios organizativos 16
2.6 FISIOTERAPIA: da definição a atuação profissional 17
3 MÉTODO 22
3.1 Caracterização do estudo 22
4 RESULTADOS 24
5 DISCUSSÃO 26
6 ANEXOS 30
6.1 Anexação dos artigos 31
Afetividade X Efetividade: fenômenos da Fisioglobalização 32
Reabilitação: ações do Sistema Único de Saúde (SUS) no Rio Grande do
Norte42
7 REFERÊNCIAS 56
8 ABSTRACT 57
LISTA DE TABELAS
página
Tabela 1 38
Tabala 2 39
LISTA DE ABREVIATURAS
ABRASCO: Associação Brasileira de Pós Graduação em Saúde Coletiva
CAP: Caixa de Aposentadoria e Pensão
CAPs: Caixas de Aposentadoria e Pensão
CEBS: Centros Brasileiros de Estudos em Saúde
CONASP: Conselho Consultivo de Administração de Saúde Previdenciária
IAP: Instituto de Aposentadoria e Pensão
IAPs: Institutos de Aposentadoria e Pensão
IES: Instituição de Ensino Superior
INAMPS: Instituto Nacional de Assistência Médica da Previdência Social
INPS: Instituto Nacional de Previdência Social
LOPS: Lei Orgânica da Previdência Social
SESP: Serviço Especial de Saúde Pública
SIA: Serviço de Informação Ambulatorial
SUDS: Sistema Unificado e Descentralizado de Saúde
SUS: Sistema Único de Saúde
RESUMO
O trabalho tem como objetivo apresentar ações fisioterápicas desenvolvidas no
Sistema Único de Saúde (SUS) no estado do Rio Grande do Norte; discutir sob a
óptica da humanização tais ações; discutir a importância da fisioterapia para a
sociedade norte-riograndense e seu papel na perpetuação de ações de saúde
centradas no binômio causa/efeito. O estudo foi realizado no estado do Rio
Grande do Norte. Os dados foram obtidos de fontes públicas junto à Secretaria de
Saúde desse Estado. Os dados colhidos versam sobre sessões de fisioterapia
desenvolvidas pelo SUS nas diversas regiões do estado; tais dados foram
colhidos e analisados após aprovação do comitê de ética e pesquisa da
Universidade Federal do Rio Grande do Norte. No tocante a fisioterapia, houve
junto a Secretaria de Saúde do Estado do Rio Grande do Norte, apenas registros
de atendimentos voltados para a cura/reabilitação, não sendo observado durante
decorrer do estudo, qualquer registro de intervenção de prevenção, promoção e
proteção à saúde. É possível observar que há destaque para as intervenções
voltadas para o tratamento de doenças de origem reumáticas e queixas
relacionadas à coluna vertebral. Tal pesquisa evidenciou que a fisioterapia no SUS
no estado prioriza o atendimento individualizado, centrado no modelo
saúde/doença e as ações desenvolvidas estão voltadas para a atenção curativa e
reabilitadora, com papel de pouco destaque na atenção primária.
Palavras-chave: Fisioterapia, Sistema Único de Saúde, Humanização
“ Os momentos mais esplêndidos da vida não
são os chamados dias de êxito; mas sim aqueles
dias em que, saindo do desânimo e do desespero,
sentimos erguer-se dentro de nós um desafio à
vida, e a promessa de futuras realizações.”
Gustave Flaubert
1. INTRODUÇÃO
Como membro da saúde, o Fisioterapeuta atua em diferentes níveis, tais
como: prevenção, promoção, terapêutica e reabilitação. Porém, a Fisioterapia,
desde a sua criação, mantém-se com olhar mais voltado para a prestação de
serviços de reestruturação de habilidades físicas outrora perdidas, após
desordem, trauma ou doenças 1.
A saúde no Brasil, normalmente tem se baseado em políticas onde a
concentração dos recursos está voltada para a assistência médica curativa,
individualizada e voltada para assalariados urbanos, enquanto que o restante da
população fica na dependência de parcos recursos do Ministério da Saúde e dos
Serviços Públicos Estaduais, Municipais e Institucionais, aos quais incube a
chamada Saúde Pública 2.
O Sistema Único de Saúde (SUS) é o sistema de saúde público e gratuito
vigente no País. A criação do SUS em 1988 representou um avanço,
principalmente pelos seus princípios gerais de organização 3.
A oferta de serviços de Fisioterapia pelo SUS demonstra ser de grande
valia para a comunidade e parece ser uma realidade em todo o País, motivo para
muitas reflexões e pesquisas.
Em relação ao comportamento do serviço de Fisioterapia ofertado pelo
Sistema Único de Saúde no Estado do Rio Grande do Norte, objeto desse estudo,
parece não fugir aos problemas nacionais, perpetuados de ações políticas e
atuações profissionais, muitas vezes, dicotomizadas em relação ao tratamento
dispensado à clientela e centrado na doença e não no ser.
A Fisioterapia, ao longo de sua história, tem direcionado o seu foco de
trabalho para as atividades curativas e/ou reabilitadoras 4. Tal fato se deve ao
surgimento dessa profissão para atender as necessidades das grandes guerras
mundiais. Além das grandes guerras a crise de poliomielite que avassalou o Brasil
nas décadas de 50 a 60 desempenhou grande importância na perpetuação dessa
profissão no País e fez com que a atuação prática do profissional de fisioterapia
esteja centrado na doença e não efetivamente no indivíduo que
circunstancialmente encontra-se doente.
A fisioterapia vem, nos últimos anos, apresentando um intenso
crescimento5; mas, parece que este crescimento tem acontecido de forma
desorganizada, e sendo assim, pode ser pernicioso; sobretudo, se os profissionais
fisioterapeutas perderem de vista o norte humanizador que dirige essa profissão.
É preocupante a possibilidade desse crescimento des-humanizar a
profissão e, por conseguinte, os profissionais que a praticam. É preocupante
também que esse crescimento, aliado ao fenômeno da globalização que é
caracterizada pelas interações e intensificações econômicas 6, sociais, políticas e
culturais; faça com que os Fisioterapeutas tenham uma visão puramente
capitalista e cartesiana do corpo e sua relação com a mais valia e o modo de
produção; visão essa que culminará, por conseguinte, na fragmentação do
Homem em um ser apenas biomecânico, capacitado ou não a realizar
movimentos.
Historicamente, a fisioterapia é oriunda da medicina e a visão
medicocêntrica e cartesiana que se tem do corpo ainda é muito enraizada. A
fisioterapia mantém este tipo de pensamento até os dias atuais e parece que as
universidades têm forte participação na construção dessa visão; observam-se
falhas na formação do fisioterapeuta quando se verifica a falta de preocupação
com a reintegração social do paciente, para com a preocupação mercadológica
com o trabalho.
Em relação à formação do fisioterapeuta, com raras exceções, as
Universidades brasileiras são qualificadas como indiferentes às preocupações da
comunidade 7.
A influência do pensamento cartesiano sobre o desenvolvimento da
Biologia, compara o corpo humano a uma máquina que pode ser analisada,
trabalhada peça a peça; estudadas do ponto de vista da biologia molecular e que
pode limitar o papel dos profissionais da saúde em apenas intervir e consertar o
mecanismo enguiçado 8.
O caráter determinante do modelo de desenvolvimento da Biologia aplica-
se as demais profissões da saúde, servindo também de referência para a
Fisioterapia, que representa o objeto desse texto.
Vive-se a era da franca expansão do saber fisioterapêutico; constantemente
a mídia televisiva e/ou escrita divulga a Fisioterapia; divulgação essa muitas vezes
de forma equivocada e desvinculada da realidade. Num mundo globalizado essa
divulgação acontece de forma, assustadoramente, rápida. Tal crescimento e
divulgação da Fisioterapia na mídia; prefiro chamar de Fisioglobalização.
A Fisioglobalização é sem dúvida de magna importância para o
desenvolvimento, reconhecimento e crescimento dessa profissão, mas parece
trazer, de forma ideológica, em seu bojo uma armadilha de um sistema dogmático,
totalitário e dicotomizador.
Como conseqüência da Fisioglobalização observa-se um crescente grupo
de adolescentes que pretendem abraçar essa profissão e, em razão desse
pungente desejo vêm crescendo também, de forma assustadoramente rápida, ao
longo dos anos, o número de Instituições de Ensino Superior (IES) que se
oferecem para formar futuros Profissionais Fisioterapeutas.
Não é objetivo desse texto, tecer apologias e nem críticas ao modelo
neoliberal educacional e nem discorrer sobre as instituições formadoras de
fisioterapeutas; mas sim, discutir, a práxis fisioterapêutica no sistema público de
saúde no Estado do Rio Grande do Norte; práxis essa que parece ser
conseqüência também da formação desses profissionais.
Dessa forma é precioso entender que o espaço do ensino superior deve se
confundir com o próprio espaço da cultura, da cooperação, das experimentações,
da política, da disjunção, da sociabilização, da liberdade; enfim: lugar próprio de
construção do saber e da educação que surge como trunfo indispensável à
humanidade na sua construção dos ideais de paz, liberdade e de justiça social 9.
As Instituições de Ensino Superior (IES) devem criar espaços para tornar mais
flexível à máxima do rendimento centrado no aprendizado técnico, e individualista,
para ceder espaço à construção do saber pautado na sensibilidade e na
afetividade.
Para a maioria dos cursos de fisioterapia, parece que o doente é abordado
através de aparelhos altamente sofisticados que tentam consertar partes do corpo
com protocolos fechados de exercícios físicos 10, nesse sentido parece prudente
que as Instituições de Ensino Superior formadoras de fisioterapeutas abram
espaço para discutir saúde como envolvimento social e será dessa forma que
futuros profissionais fisioterapeutas se ocupem também de uma prática menos
centrada no modelo cartesiano em saúde.
Em seu sentido mais abrangente, a saúde não é a antítese de doença; é
um complexo resultante das condições de alimentação, habitação, educação,
renda, meio ambiente, trabalho, transporte, emprego, lazer, liberdade, acesso e
posse da terra e acesso aos serviços de saúde 11. É assim, antes de tudo, o
resultado das formas de organização social da produção, as quais podem gerar
grandes desigualdades nos níveis de vida.
A dificuldade ou o problema de lidar com pensamento complexo se
manifesta na Universidade12 a partir da forma em que se organizam seus
departamentos e de como estes lidam com problemas da coletividade; isso faz
com futuros profissionais tenham dificuldades de entender o trabalhar com a
coletividade no que diz respeito a realização de práticas preventivas.
Diante do exposto, objetiva-se com o presente trabalho, discutir as ações
fisioterapêuticas desenvolvidas pelo SUS no Estado do Rio Grande do Norte, no
ano de 2004, sob a óptica da transdisciplinaridade e da humanização e avaliar o
seu papel na perpetuação de ações políticas de saúde em relação às diversas
formas de atuações profissionais nesse campo do conhecimento.
2. REVISÃO DA LITERATURA
2.1 O PROCESSO HISTÓRICO E A PRÁTICA EM SAÚDE.
Com o advento da medicina moderna a visão do mundo medieval, que era
baseada na enteléquia Aristotélica e na Teologia muda radicalmente. A idéia de
mundo universal, vivo, espiritual e orgânico é transferida para uma visão de
mundo centrado na idéia da máquina moderna e resulta no surgimento do
chamado modelo biomédico 13.
A história da ciência médica moderna tem sua origem nos séculos XVIII e
surge com a estruturação de uma concepção mecanicista do universo. Tal
processo histórico que culmina na construção médica moderna coloca os
profissionais da saúde, num presente míope, consternador e separatista, que
permite o desvelamento parcial da realidade sobre a temática saúde/doença que
envolve o homem.
Ao analisar a influência do pensamento cartesiano sobre o desenvolvimento
da Biologia constata-se que é possível comparar o corpo humano a uma máquina
que pode ser analisada (trabalhada) peça a peça13; peças essas estudadas do
ponto de vista da biologia molecular e limita o papel dos profissionais de saúde em
intervir e consertar o mecanismo enguiçado.
O método analítico permitiu que a biologia fragmentasse o universo e as
leis que o regem e, por conseguinte, o Homem, criando saberes mosaiciformes
dispersos em saúde. Tal método apresenta-se de forma inconveniente quando se
trata de atenção a saúde e parece ainda mais inconveniente quando se aplica à
prática atual. Tal fragmentação conduziu ao rápido desenvolvimento da ciência, da
técnica e da sociedade; contudo traz efeitos perversos 14.
É válido referir que o caráter determinante do modelo de desenvolvimento
da Biologia aplica-se as demais profissões da saúde, servindo de referência para
aquela que representa objeto deste estudo: a Fisioterapia.
2.2 O RELATÓRIO FLEXNER: da educação em saúde a uma
medicina mais científica.
O processo de constituição das profissões da área da saúde carrega, em
suas características primeiras o caráter hegemônico representado pela Medicina;
logo falar em Fisioterapia remete-se a essa hegemonia.
Abraham Flexner, da Universidade John Hopkins, foi convidado pela
fundação Carnagie, dos Estados Unidos da América para proceder a uma
avaliação da Educação Médica em seu País e Canadá. Naquela época havia, nos
Estados Unidos da América, um enorme contingente de escolas médicas isoladas,
de fins pecuniários e sem vínculos com Instituições Universitárias.
O relatório final culminou no fechamento de 124 das 155 escolas médicas
norte americanas, por as considerarem fora dos padrões científicos15. Embora
muitas delas fossem, de fato, inadequadas, coincidentemente ou não, as escolas
que foram fechadas tratavam-se de instituições que admitiam estudantes negros,
pobres e do sexo feminino.
Esse documento, sugerido em 1910 nos Estados Unidos, com o intuito de
constituir um sólido alicerce de tecnificação da Medicina, enfatizou ainda mais a
dicotomização da Medicina e do modelo de saúde, tendo como paradigma à
ideologia da simplificação e da especialização.
Na realidade, tal relatório, nada mais é do que o paradigma newtoniano-
cartesiano16 travestido na educação médica de paradigma flexineriano.
a) O MECANISMO: Flexner aderiu a um modelo mecanicista para a estrutura
e funcionamento do corpo humano; visto como uma máquina, que se adeqüa ao
modo de produção;
b) O BIOLOGISMO: Originado nos avanços da microbiologia, pressupõe o
reconhecimento exclusivo da natureza biológica das doenças e de suas causas e
conseqüências, excluindo os efeitos sociais, culturais e econômicos do processo
saúde/ doença. Reduziu-se a causalidade das doenças à ação de agentes
etiológicos, de natureza puramente biológica. A tendência reducionista dessa
concepção levou o desenvolvimento da pesquisa em saúde a transferir seu foco
do indivíduo e do meio ambiente para o estudo dos microorganismos, buscando
estabelecer a relação causa-efeito do adoecer.
c) O INDIVIDUALISMO: A Medicina elegeu o indivíduo como seu objeto e
centro das atenções, excluindo a sua condição política, social e cultural.
d) A ESPECIALIZAÇÃO: O mecanismo permitiu o aprofundamento do
conhecimento científico na direção de partes específicas. Embora a
especialização já existisse em modelos anteriores, as necessidades de
acumulação do capital, no entanto exigiram a fragmentação do processo e divisão
do trabalho. A especialização desdobra-se, na realidade, em modos de produção
do saber em saúde;
e) A EXCLUSÃO DAS PRÁTICAS ALTERNATIVAS: A Medicina Científica
impôs-se sobre outras práticas médicas, acadêmicas e saberes populares, através
da construção do mito da eficácia cientificamente comprovada e eficiente. A
especialização excessiva cegou-nos em relação ao homem divinamente complexo
e as várias possibilidades de alternativas terapêuticas.
f) A TECNIFICAÇÃO DO ATO MÉDICO: Veio como advento de mediação
entre o homem e as doenças. A necessidade e dependência de técnicas e
equipamentos para a investigação diagnóstica e a terapêutica levou ao
desenvolvimento das tecnologias médicas, definindo, por razões ideológicas e
econômicas os parâmetros de qualidade para a atuação médica. Quanto maior a
incorporação tecnológica na prática médica, melhor o ato médico resultante e a
melhoria do paciente.
g) A ÊNFASE NA MEDICINA CURATIVA: Ao ressaltar o processo biológico
como base do conhecimento para o diagnóstico e a terapêutica, associado à
incorporação tecnológica, enfatiza-se o caráter curativo da área da saúde e reduz
a prática de promoção e prevenção da saúde.
h) A CONCENTRAÇÃO DE RECURSOS: Houve uma concentração de
recursos nos espaços urbanos e nos hospitais, decorrentes das exigências da
sociedade industrial, aliada a tecnificação do ato médico e da especialização.
Parece que tal concentração é tendenciosa ao atendimento da produção
capitalista da saúde.
2.3 PRÁTICAS DE SAÚDE NO MUNDO CAPITALISTA: A
INFLUENCIA SOBRE O FAZER FISIOTERAPÊUTICO.
As práticas de saúde no modo de produção capitalista vêm incorporadas de
concepções equivocadas de saúde e enfermidades como situações que dizem
respeito ao homem puramente biológico, cujas práticas permanecem limitadas e
restritas ao ¨homem carne¨; carne essa, que exerce importante papel na
reprodução da força de trabalho, no aumento da produtividade e na perpetuação
da ideologia capitalista da mais valia.
O modo de produção capitalista em saúde limita as ações e a forma de
pensar dos profissionais dessa área, meramente, no campo do tecnicismo e atribui
a esses profissionais, garantias de eficiências centradas nos limites físicos do
corpo sem, muitas vezes, relacioná-lo com o meio em que está inserido.
O corpo, no capitalismo, tem qualificação enquanto força de trabalho. É o
que pode ser comercializado, adquirindo valor de uso para o capital. Desta feita,
sua condição de normalidade adquire uma valorização social que propicia a
tomada desse corpo por objeto de trabalho, posto que sua manutenção e
recuperação transformam-se em necessidade social a ser assegurada.
A eficiência em saúde está centrada na capacidade de criar atos que
enfrentam e solucionam problemas concretos e cientificamente comprovados de
saúde; atos que representam poder, sustentado pela ideologia do bem estar e da
cura do corpo, sem se preocupar com as relações desse com o mundo que o
cerca.
Essa forma mecanicista de ver o corpo e a saúde já se tornou modelo
popular, e fecunda, ainda mais, a cultura da doença e da dependência do outro
que detém o poder legitimado de aliviar as agruras.
¨As pessoas são, em sua grande maioria, incapazes de
compreender a complexidade do seu organismo e são
condicionadas a acreditar que só o profissional da
saúde, prioritariamente o médico, é capaz de resolver
seus problemas de saúde, seja através de intervenções
tecnológicas, medicamentosas ou cirúrgicas¨.
(Centurião, 1997 – p. 16).
Dessa forma as práticas dos modelos aplicadas em saúde e,
particularmente, em Fisioterapia, com suas condutas biomecânicas, participam do
processo de fragmentação do indivíduo, à medida que promovem relações sociais
de alienação baseadas na prescrição e execução de condutas terapêuticas
centradas na doença.
É preciso, hoje mais do que nunca, repensar esse modo cartesiano de
viver, pensar e fazer o mundo e, por conseguinte, a saúde e para tal é necessário
rever a forma Cartesiana/Flexeriana de fomação em saúde.
Para uma nova visão do fazer em saúde faz-se necessário que se
desenvolva uma capacidade de percepção global do que nos cerca, onde o que é
natural é a não separabilidade e assim compreender o mundo infinitamente
complexo17 assim como a saúde é complexa.
Para se fazer saúde é necessário entender a função social do educar e
formar profissionais conectados com uma perspectiva voltada para a
complexidade.
Sabe-se que a forma de educação vigente em saúde é decorrente da
própria história da Universidade no Brasil e do seu desenvolvimento de acordo
com padrões europeus, que fizeram com que as universidades brasileiras já
nascessem maculadas.
Assim a formação mecanicista em saúde, de modo geral, tolhe a mais
preciosa oportunidade de formar profissionais capazes de compreender a si
mesmo, o mundo e conseqüentemente o outro.
2.4 SISTEMA ÚNICO DE SAÚDE: FUNDAMENTOS POLÍTICOS,
SOCIAIS E HISTÓRICOS.
2.4.1 O SISTEMA ÚNICO DE SAÚDE
O Processo Histórico da construção do SUS (Sistema Único de Saúde) é
resultante de embates políticos e ideológicos, travados por diferentes atores
sociais ao longo da história, tendo assim uma longa e tortuosa trajetória de lutas e
conquistas.
Para se entender melhor a saúde no Brasil e o SUS se fazem necessário o
estabelecimento de pontes com questões históricas e questões
políticosócioculturais mais gerais do País, sempre com a certeza de que
¨construção¨ e ¨renovação¨são as melhores idéias que sintetizam o SUS.
A partir da década de 20, especificamente no ano de 1923, com a
promulgação da lei Eloy Chaves, surge a Previdência Social no Brasil e cria-se,
concomitantemente, a primeira Caixa de Aposentadoria e Pensões (CAP) dos
Ferroviários, às quais seguiram-se outras CAPs 19.
No modelo previdenciário dos anos 20 a assistência médica era vista como
atribuição fundamental do sistema, o que levava, inclusive, à organização de
serviços próprios de saúde; esse período é, ainda, caracterizado pelo custo
elevado das despesas. Em relação às ações de Saúde Coletiva, este período é
marcado pelo surgimento do chamado ¨Sanitarismo Campanhista¨, nascido da
Reforma Carlos Chagas no período de 20/23. Este Sanitarismo se pautava por
uma visão de combate às doenças de massa com forte concentração de decisões
e com estilo repressivo de intervenção sobre os corpos individual e social.
Com a eclosão da Revolução de 30, liderada por Getúlio Vargas, assume o
poder uma coalizão marcada pela ideologia que traz, de forma destacada, a
preocupação com o novo operariado urbano em contra a oposição com a crise do
café. Este período foi marcado pela criação de órgãos e instrumentos que
legitimaram a ação sindical em moldes corporativos. Do ponto de vista político,
este período pode ser caracterizado por uma profunda crise, marcado por greves
e manifestações, principalmente entre os anos 30/35. Em busca de aliados, o
governo, tentava ampliar sua base de apoio, incluindo entre elas as classes
trabalhadoras urbanas e colocava em evidência o tema da Previdência Social. Foi
criado o Ministério do Trabalho, aprofundou-se a legislação trabalhista, ao mesmo
tempo em que haviam restrições e manipulações na esfera sindical.
Do ponto de vista organizativo, este é um momento marcado pela criação
dos Institutos de Aposentadoria e Pensões (IAP), entidades organizadas por
empresas e não por categorias profissionais. Diferentemente das CAP, a
administração dos IAP era muito dependente do governo federal. O conselho de
administração, formado com participação de representantes de empregados e
empregadores, tinha função de assessoria e fiscalização e era dirigido por um
presidente indicado pelo Presidente da República. Há uma ampliação da
Previdência, no que diz respeito à abrangência dos serviços prestados, com a
incorporação de novas categorias anteriormente não cobertas pelas CAP. O
governo passa a interferir diretamente nas ações, decisões e vigia de perto o
dinheiro das antigas CAP, agora IAP.
Nesse período, instala-se na administração nacional da Previdência Social
um seleto grupo de tecnocratas, denominados de cardeais do IAP, e que viriam a
ditar os rumos do projeto de saúde hegemônico dos anos 80.
Esta época é caracterizada pela participação ideológica do Estado no
financiamento e na administração das IAPs, além de um esforço ativo no sentido
de diminuir despesas, com a consolidação de um modelo de Previdência mais
preocupada com a acumulação de reservas financeiras do que com a ampla
prestação de serviços. Isto faz com que os superávits dos institutos constituam um
respeitável patrimônio e um instrumento de acumulação na mão do Estado.
A previdência passa agora a ser configurar como co-parceira do Estado nos
investimentos de interesse do governo20.
Em relação às ações de saúde coletiva, esta é a época do auge do
Sanitarismo Campanhista. Em 1937 é criado o primeiro órgão de saúde de
dimensão nacional, o Serviço Nacional da Febre Amarela, em 1939 o Serviço de
Malária do Nordeste e em 1940 o Serviço de Malária da Baixada Fluminense. Em
1942 cria-se o Serviço Especial de Saúde Pública (SESP), com atuação voltada
para as áreas não cobertas pelos serviços tradicionais20.
A legislação pós 45 é marcada pela progressiva desmontagem das medidas
de cunho contencionista do período anterior. Na Constituição de 46 a assistência
sanitária é incorporada à Previdência Social e em 1953 é promulgado o
¨Regulamento Geral dos Institutos de Aposentadorias e Pensões¨, que formaliza a
responsabilidade dos mesmos com a assistência médica. Nessa mesma época o
Brasil passa a ser influenciado pelas idéias se seguridade social que eram
amplamente discutidas no cenário internacional, ao final da Segunda Guerra
mundial, em contraposição ao conceito de seguro da época anterior.
Ao mesmo tempo, vive-se um intenso processo de construção e compra de
hospitais, ambulatórios e equipamentos, por parte dos institutos, e de celebração
de convênios para prestação de assistência médico-hospitalar aos segurados20.
O Brasil passa, a partir da década de 50, por um acelerado processo de
industrialização que determinou um deslocamento do pólo dinâmico da economia
para os centros urbanos, o que veio a gerar uma massa operária que deveria ser
atendida pelo serviço público de saúde21.
O Sanitarismo Campanhista, por não responder às necessidades de uma
economia industrializada, foi sendo substituída por outro que não reforce a idéia
do saneamento do espaço, mas sim a atuação sobre o corpo individual do
trabalhador, mantendo-o apto a atender às necessidades da economia
industrializada.
As ações da previdência são agora caracterizadas, pelo crescimento dos
gastos, elevação das despesas, diminuição dos saldos, esgotamento das reservas
e do déficit orçamentário.
As explicações para tais mudanças podem ser colocadas como resultado
de uma tendência natural pelo maior número de pessoas recebendo benefícios,
uma vez que esta é a época de recebimento de benefícios dos segurados
incorporados no início do sistema; como também de mudanças de posições da
Previdência Social, pela desativação das medidas de gastos dos anos 30/45 20.
A fim de criar uma seguridade social à brasileira, no final do Governo de
Juscelino Kubitschek promulga-se a Lei orgânica da Previdência Social (LOPS), a
qual garantiria a uniformização dos benefícios19, o que levam, em 1963, ao
surgimento do Estatuto do Trabalhador Rural.
Com o movimento revolucionário de 1964 e o discurso de racionalidade,
eficácia e saneamento financeiro ocorrem à fusão das IAPs, com a criação do
Instituto Nacional de Previdência Social (INPS). Este fato importante, ocorrido em
1966, marca a perda da representatividade dos trabalhadores na gestão do
sistema. O processo de unificação enfrentou a resistência dos grupos privilegiados
pelo antigo sistema corporativo. O governo, no entanto, alegava que a
centralização de recursos poderia ser a alternativa para viabilizar o cumprimento
de direito de assistência à saúde garantida pelo Estado. O Sanitarismo
Desenvolvimentista, característico do período, teve sua contribuição mais voltada
para as discussões conceituais relacionadas à saúde20.
Politicamente, este foi um período marcado pelo crescente papel do Estado
como regulador da sociedade, pelo afastamento dos trabalhadores do processo
político, associado a uma política de arrocho salarial, decorrente do modelo de
acumulação adotado. Os gastos com assistência médica continuavam crescendo.
Enfatiza-se a atenção individual, assistencialista e especializada, em detrimento
das medidas de saúde pública, de caráter preventivo e de interesse coletivo20.
A criação do INPS (Instituto Nacional de Previdência Nacional) em 1966
propiciou a implementação de uma política de saúde que levou ao
desenvolvimento do complexo médico-industrial, em especial nas áreas de
medicamentos e equipamentos médicos. Ao mesmo tempo e em nome da
racionalidade administrativa, o INPS deu prioridade à contratação de serviços
terceirizados de tal modo que, entre 1969 e 1975, a porcentagem de serviços
comprados representou cerca de 90% das despesas do INPS. A modalidade de
compra de serviços adotada possibilitou o superfaturamento por parte dos
serviços contratados, com prejuízo da instituição.
Para aumentar estes serviços utilizavam os expedientes de multiplicação e
desdobramento de atos médicos, preferência por internações mais caras, ênfase
em serviços cirúrgicos, além da baixa qualidade técnica do pessoal e dos
equipamentos utilizados. Por parte da saúde coletiva, as ações estão dispersas
num conjunto de ministérios: agricultura, transportes, trabalho, interior, educação,
entre outros e intimamente ligados ao Ministério da Saúde, em um conjunto de
órgãos da administração direta e indireta20.
No ano de 1974, com o fim do período de expansão econômica e iniciada a
abertura política lenta e gradual, novos atores surgem no cenário político:
movimento sindical, profissionais e intelectuais da saúde, entre outros, os quais
formulam questionamentos a respeito da política social e das demais políticas
governamentais. Esta época pode ser definida como o início do movimento contra-
hegemônico, que nos anos 80, viria se conformar como o projeto da Reforma
Sanitária Brasileira.
Em todo o País surgem movimentos de trabalhadores de saúde. São
criados os Centros Brasileiros de Estudos em Saúde (CEBES) e a Associação
Brasileira de Pós Graduação em Saúde Coletiva (ABRASCO), que participam do
processo de sistematização das propostas de mudança do modelo de saúde em
vigor. Acontecem também os primeiros encontros de Secretários de Saúde,
alimentando um incipiente, mas crescente, movimento municipalista em saúde20.
Na década de 80 o Brasil viveu um quadro político e econômico marcado
por dificuldades no panorama nacional e internacional, caracterizado por um
processo inflacionário e por uma crise fiscal sem controle, ao lado do crescimento
dos movimentos oposicionistas e de divisões internas nas forças que apoiavam o
regime.
A crise ideológica caracteriza-se pela necessidade de reestruturação e
ampliação dos serviços de saúde. Inspirados pelas experiências anteriormente
relatadas e pela repercussão interna da Conferência de Alma-Ata, onde os países
participantes reconhecem a atenção primária e a participação comunitária como
estratégias para a conquista da meta ¨Saúde para todos no ano de 2000¨.
A crise político-institucional é marcada pela criação do Conselho Consultivo
da Administração de Saúde Previdenciária (CONASP), em 1981, com o objetivo
de operar sobre a organização e o aperfeiçoamento da assistência médica, sugerir
critérios de alocação de recursos previdenciários para este fim, recomendar
políticas de financiamento e de assistência à saúde, analisar e avaliar a operação
e o controle da Secretaria de Assistência Médica da Previdência Social20.
Tais ações fizeram eclodir a VIII Conferência Nacional de Saúde realizada
em 1986 em Brasília e a partir de então deu início Sistema Unificado e
Descentralizado de Saúde (SUDS). O SUDS foi idealizado enquanto estratégia de
transição em direção ao Sistema Único de Saúde (SUS), propunha a transferência
dos serviços do INAMPS para os estados e municípios e dessa forma pode ser
percebido como uma estadualização dos serviços.
A VIII Conferência Nacional de Saúde contou com ampla participação de
trabalhadores, governo, usuários e parte dos prestadores de serviço de saúde. A
conferência significou um marco na formulação das propostas de mudança do
setor saúde, consolidadas na Reforma Sanitária Brasileira. Seu documento final
sistematiza o processo de construção de um modelo reformador para a saúde,
que é definida como:
¨resultante das condições de alimentação, habitação,
educação, renda, meio ambiente, trabalho, emprego,
lazer, liberdade, acesso e posse da terra e acesso a
serviços de saúde. É assim, antes de tudo, o resultado
das formas de organização social da produção, as
quais podem gerar desigualdades nos níveis de
vida.¨Este documento serviu de base para as
negociações na Assembléia Nacional Constituinte, que
se reuniria mais tarde. (CUNHA & CUNHA, 1998).
Enquanto resultante dos embates e das diferentes propostas em relação ao
setor de saúde presentes na Assembléia Nacional Constituinte, a Constituição
Federal de 1988 aprovou a criação do SUS, reconhecendo a saúde como um
direito a ser assegurado pelo Estado.
2.5 PRINCÍPIOS DO SISTEMA ÚNICO DE SAÚDE (SUS):
PRINCÍPIOS DOUTRINÁRIOS:
UNIVERSALIZAÇÃO:
Diz respeito ao direito de acesso que todos, indistintamente, têm aos
serviços de saúde. Apesar de todas as pessoas terem direito nem todas são iguais
e por isso necessitam de atenções distintas.
EQÜIDADE:
Tem como objetivo a diminuição das desigualdades quanto ao acesso aos
serviços de saúde, sem pretender, contudo, ofertar serviços idênticos às pessoas
distintas. A eqüidade é sinônimo de tratar desigualmente os desiguais. É um
princípio de justiça social21.
INTEGRALIDADE:
É a visão transdisciplinar do usuário. Esse princípio considera a pessoa
como um todo, atendendo a todas as suas necessidades. Pressupõe interações
entre saúde, política, cultura, emprego, moradia, lazer, sexualidade e bem.
PRINCÍPIOS ORGANIZATIVOS:
REGIONALIZAÇÃO E A HIERARQUIZAÇÃO:
Com esse princípio se propõe uma organização dos serviços de saúde em
vários níveis, delimitados em uma área circunscrita geograficamente. Esses
serviços são elaborados a partir de um diagnóstico epidemiológico e com definição
e conhecimento da clientela.
DESCENTRALIZAÇÃO E O COMANDO ÚNICO:
Com esse princípio é proposta a redistribuição dos poderes e
responsabilidades entre os três níveis do governo e, nos garante um maior poder
de fiscalização quanto aos cumprimentos dos serviços em saúde. A
responsabilidade pela saúde deve ser descentralizada até os municípios, que de
fato conhecem ¨in locus¨ as realidades e necessidades dos usuários.
PARTICIPAÇÃO POPULAR:
Deve-se reforçar que o Sistema Único de Saúde (SUS) não surgiu pronto e
acabado a partir de um passe de mágicas; mas está sendo gerado à custa de
amplos embates e debates democráticos ao longo da história, e essa
democratização deve ainda ser presente no desenvolvimento atual das ações.
Para tal, os Conselhos e as Conferências de Saúde são organizados, e tem
função de formular estratégias de controlo e avaliação das execuções em saúde.
2.6 FISIOTERAPIA: DA DEFINIÇÃO A ATUAÇÃO PROFISSIONAL
Fisioterapia é uma ciência da saúde que estuda, previne e trata os
distúrbios cinéticos funcionais intercorrentes em órgãos e sistemas do corpo
humano, gerados por alterações genéticas, por traumas e por doenças adquiridas.
Fundamenta suas ações em mecanismos terapêuticos próprios, sistematizados
pelos estudos da biologia, das ciências morfológicas, das ciências fisiológicas, das
patologias, da bioquímica, da biofísica, da biomecânica, da cinesia, da sinergia
funcional e da cinesia patológica de órgãos e sistemas do corpo humano e as
disciplinas comportamentais e sociais23.
Para tal finalidade, o profissional fisioterapeuta utiliza-se de conhecimentos
e recursos próprios e baseando-se nas condições físicas do paciente, busca
promover, aperfeiçoar ou adaptar a qualidade de vida do indivíduo. Entre os
recursos terapêuticos ao alcance do Fisioterapeuta, destacam-se os meios físicos,
tais como frio (crioterapia), calor (termoterapia), eletricidade (eletroterapia),
exercício (cinesioterapia) e radiação (fototerapia), além das propriedades da água
(hidroterapia) e aparelhos mecânicos (mecanoterapia), e outros decorrentes da
evolução e produção desta área.
Como membro da área da saúde, o Fisioterapeuta atua em diferentes
níveis de atenção, tais como prevenção, tratamento e reabilitação. Cabe ao
Fisioterapeuta ocupar funções de pesquisa e ensino relacionadas com a profissão,
desenvolvendo atividades docentes e coordenação de cursos, além da divulgação
e promoção da profissão. Atua nas áreas afins da Medicina Preventiva, orientando
condutas profiláticas com o objetivo de evitar transtornos físicos.
Com finalidade curativa e reabilitacional, o Fisioterapeuta atua em diversas
áreas de especialidades, de forma a promover a integração do indivíduo na
sociedade, restaurando a função adequada ao potencial do paciente.
A denominação FISIOTERAPIA parece, a princípio, causar confusões a
cerca do objeto de trabalho desse profissional e limitar a atuação desse mesmo no
cerne da terapêutica.
Na Fisioterapia o problema da clareza sobre o objeto de trabalho acentua-
se: há uma absoluta atenção à doença1. A atenção e dedicação dos profissionais
de fisioterapia são orientadas para as diferentes modalidades de terapia em
relação a alguns aspectos das doenças orgânicas.
Parece que as possibilidades de trabalho da profissão se esgotam nas
perspectivas de recuperar as condições de saúde para níveis anteriores a um
episódio de doença, ou de reabilitar um organismo auxiliando-o a ser capaz de
fazer, de outras formas, o que já fazia antes, ou de minimizar o sofrimento quando
nem reabilitar for possível.
O próprio nome da profissão já evidencia a seleção feita em relação ao que
se considera objeto de trabalho nesse campo. Fisio - “Terapia” em princípio, pelo
menos, exclui algumas modalidades de atuação profissional. Por exemplo:
prevenção, manutenção de boas condições de saúde e a promoção da qualidade
de vida.
A origem Histórica da Fisioterapia enfatizou e dirigiu as definições do
campo profissional para atividades recuperativas, reabilitadoras ou atenuadoras
quando um organismo não se encontra saudável.
O surgimento desse profissional em uma decorrência das grandes guerras
fez-se, fundamentalmente, para tratar de pessoas fisicamente lesadas. As perdas
totais ou parciais dos membros, atrofias e paralisias são exemplos do “objeto de
trabalho” da Fisioterapia na sua gênese. Naquelas circunstâncias, porém, a
preocupação fundamental – ou mesmo única – com a “doença” (lesões físicas e
suas conseqüências) parecia adequada. A decorrência natural das condições
existentes na época fez com que a atuação profissional fosse voltada a atenuar o
sofrimento e reabilitar organismos lesados.
Sabe-se que o que outrora se caracterizava como atuação desse
profissional não mais se justifica nos atuais dias.
No Brasil, o início da Fisioterapia se implantou como possibilidade de
solução para os altos índices de acidentes de trabalho existentes1. Também aqui
era preciso curar e/ou reabilitar as vítimas desses acidentes para reintegrá–las no
sistema produtivo ou, pelo menos, atenuar seus sofrimentos quando não fosse
possível reabilitá–las ou recuperar suas condições anteriores de saúde.
Só essa origem e a direção em que se desenvolveu o exercício da
Fisioterapia no País já tornaram pouco provável que a profissão fosse além do
tratamento de distúrbios de postura e de movimento, através de terapia. Atenuar
sofrimento, recuperar condições de saúde “perdidas” e reabilitar o indivíduo para a
realização de certas atividades são as três grandes categorias de atividade
profissional que se implantaram e permaneceram como “definição” de atuação
profissional em Fisioterapia.
A Fisioterapia, fazendo parte da chamada “área da Saúde”, sofreu
oscilações no decorrer da história. Teve os seus recursos e suas diversas formas
de atuação voltadas quase exclusivamente para o atendimento ao indivíduo
doente. A assistência à saúde é feita, nesse sentido, quando essa se encontra em
seus piores níveis, para reabilitar condições que o organismo perdeu. A própria
denominação das formas de atuação da Fisioterapia já evidencia isso tanto quanto
a própria composição do nome da profissão (FISIO-TERAPEUTIKÓS): a atuação
terapêutica através do movimento (cinesioterapia); atuação terapêutica através da
eletricidade (eletroterapia); através do calor (termoterapia); do frio (crioterapia); da
massagem (massoterapia), entre outros.
A Fisioterapia, enquanto profissão da área de Saúde deveria possuir
profissionais que fossem capazes de lidar com as condições de saúde da
população. E, nesse contexto, “lidar” significa ir além de uma atuação que objetive
somente curar doenças, ou auxiliar um trabalho de recuperação de indivíduos já
lesados. Significa executar um trabalho cujo objetivo maior é propiciar um estado
de condições de saúde que permita um elevado grau de conforto e segurança à
população. Para isso, se faz necessário a promoção de saúde e prevenção de
doenças, além da assistência curativa e reabilitadora.
Para se fazer verdadeiramente Fisioterapia é necessário que os
profissionais fisioterapeutas entendam que a interligação do indivíduo com o
universo que o cerca é fundamental.
É sabido que a população brasileira tem um acesso limitado aos serviços
de saúde; é o caso das populações que residem nas periferias, nas zonas rurais e
no interior de vários estados que são banhados pela pobreza e desnutrição; tal
população fica exposta às enfermidades, na grande maioria das vezes, tal
exposição se dá pela ignorância a respeito dos fatores patológicos causais, bem
como das medidas preventivas e do desconhecimento de que diversos
profissionais de saúde podem contribuir a esse nível, como é o caso da
Fisioterapia, que em muito pode contribuir para a prevenção e a socialização da
saúde.
A questão saúde no Brasil desenvolve-se numa política onde a
concentração dos recursos está voltada para a assistência médica curativa,
individualizada e voltada para os assalariados urbanos, enquanto que o restante
da população fica entregue aos poucos recursos do Ministério da Saúde e dos
Serviços Públicos Estaduais, Municipais e Institucionais, aos quais incube a
chamada Saúde Pública2.
Pode-se constatar isso, nitidamente, quando se analisam os padrões de
morbidade e mortalidade brasileira; como também, constata-se que as doenças
que incidem sobre o grosso da população - dengue, tuberculose, doença de
Chagas entre outras – são decorrentes das condições precárias de vida do País, e
não acometem em igual intensidade a população urbana, onde são mais comuns
as doenças degenerativas, enfermidades posturais e acidentais, como os
decorrentes de trabalho.
A concentração de recursos, bem como a heterogeneidade dos benefícios
médico-assistenciais no interior do sistema previdenciário acompanha, sem
dúvida, as exigências sociais de natureza econômica e política, de assistência às
áreas mais industrializadas nos grandes centros urbanos; assim como na questão
de ordem profissional, e concentra a maior parte de seus recursos para atender as
necessidades da classe médica, ficando as demais classes profissionais da saúde
em um estágio de menor atenção e atuação.
Atuando dentro deste sistema, a Fisioterapia se mantém, desde a sua
gênese, dentro de um âmbito curativo; onde o principal objetivo tem sido promover
um serviço direto na restauração de habilidades físicas, após uma lesão ou uma
doença; ou seja, atuando, principalmente, nos setores secundários e terciários da
saúde e em menor grau do setor primário de atenção à saúde2.
3 MÉTODO
3.1 CARACTERIZAÇÃO DO ESTUDO
3.1.1 Método
Trata-se de um estudo do tipo observacional; pois para a realização de
tal pesquisa não houve, necessidade de entrar em contacto com os usuários e/ou
prestadores desses serviços. Trata-se de uma análise puramente documental, a
qual forneceu subsídios para a feitura de críticas sempre com o norte
transdisciplinar e humanizador.
3.3.2 Amostra
A amostra foi do tipo causal simples para análises documentais semi-
estruturadas, pela qual foram pesquisadas 12 (doze) fichas de registros emitidas
pela Secretaria Estadual de Saúde do Rio Grande do Norte.
O estudo foi realizado no Estado do Rio Grande do Norte, localizado na
região Nordeste do Brasileiro. Os dados foram obtidos a partir de fontes públicas
junto a Secretaria de Saúde desse Estado, as quais versam sobre sessões de
fisioterapia desenvolvidas pelo Sistema Único de Saúde nas diversas regiões
geopolíticas do Estado.
3.3.3 Procedimentos
Por se tratar de um estudo que visa apresentar e entender, de forma crítica,
os programas de atenção Fisioterapêutica junto ao SUS no Estado do Rio Grande
do Norte, o tema fora estudado mediante um olhar quantitativo e qualitativo; pois
não há, por meios de análises documentais, possibilidade de quantificar sem
qualificar24.
Foram realizadas a seleção, o levantamento, a organização e a análise de
dados secundários de produção dos atendimentos ambulatoriais de Fisioterapia
com base na fonte de dados do SIA-SUS. O levantamento cobriu a produção da
totalidade da rede ambulatorial existente no Estado do Rio Grande do Norte no
ano de 2004; verificou-se a existência de unidades de saúde a prestar assistência
fisioterapêutica pelo Sistema Único de Saúde do Estado, classificadas em:
serviços públicos federais, seviços públicos estaduais, púbicos municipais,
privados com fins lucrativos, privados optante pelo simples e privados sem fins
lucartivos.
Os procedimentos selecionados para análise consistem de todos os
procedimentos Fisioterapêuticos, inseridos na “Tabela do SUS” e que já foram
informados e aprovados pelas unidades prestadoras de serviço ao SIA-SUS.
Os procedimentos Fisioterapêuticos foram agrupados nas seguintes
categorias: 1) Procedimentos terapêuticos, 2) Procedimentos reabilitacionais e 3)
Procedimentos preventivos; Dessas categorias, as de número 1 e 2 congregam
procedimentos fisioterapêuticos de complexidade e incorporação tecnológica; o
procedimento de número 3 congrega promoção da saúde e de prevenção.
Ao se organizar os procedimentos por nível de atenção (preventivo) e por
complexidade (terapêuticos e reabilitação), pretende-se caracterizar o modelo de
atenção em saúde desenvolvido pela Fisioterapia no Estado do Rio Grande do
Norte.
3.3.4 Hipótese
A hipótese surgiu a partir da visão redutora de homem como ser
fragmentado, desaglutinado; visão que parece induzir condutas terapêuticas que
obriguem o Homem a adaptar o seu corpo para ter acesso aos serviços de
Fisioterapia junto ao SUS; serviço travestido de ‘res naturalis, res imutantis’, onde
parece que dividir o Homem é coisa natural e, sendo natural é coisa que não se
muda. Tal fato, ideologicamente, limita possibilidades de atuação, reconhecimento
e crescimento da profissão.
4 RESULTADOS
4.1 AÇÕES DA FISIOTERAPIA NO SISTEMA ÚNICO DE SAÚDE NO
RIO GRANDE DO NORTE.
Os valores abaixo citados são relativos à Produção Ambulatorial do SUS –
Rio Grande do Norte no ano de 2004. A produção foi dividida em duas tabelas,
uma para o 1º semestre do ano em estudo e outra para o 2º semestre do referido
ano.
A tabela I apresenta, respectivamente, as patologias tratadas pela
Fisioterapia no primeiro semestre do ano de 2004 e o número de sessões
fisioterápicas.
TABELA I: Produção ambulatorial (SUS) Rio Grande do Norte/ Fisioterapia Período: Janeiro a Junho de 2004.
PROCEDIMENTOSQuantidadeAprovada
Alterações motoras 15.838Alterações sensitivas 4.366Ataxias 1.245Miopatias 573Paralisia cerebral/retardo desenvolvimento motor 7.884Paresias 14.921Parkinson 585Plegias 10.401Processos distróficos 721Disfunções decorrentes de distúrbios circulatório/artério/venoso 1.751Assistência respiratória pré e pós-operatória 548Reeducação ventilatória doenças pulmonares 3.436Alterações do eixo da coluna vertebral 10.130Disfunções decorrentes amputação membro 729Disfunções decorrentes de contusões 6.735Disfunções decorrentes de entorses 7.372Doença origem reumática membro/coluna vertebral 66.377Doença tendinosa/muscular por lesões ligamentares 20.692Recuperação funcional pós-cirúrgica e pós-imobilização 34.510Seqüela traumatismos torácicos/abdominais 3.682Pacientes com doença isquêmica do coração 182
TOTAL 212.678
FONTE: SECRETARIA ESTADUAL DE SAÚDE DO RIO GRANDE DO NORTE/2004
Como pode ser observado há somente registros de atendimentos voltados
para a reabilitação, não sendo observado, no primeiro semestre do referido ano,
qualquer intervenção fisioterapêutica de forma preventiva.
A referida tabela mostra-nos que o modelo de atenção fisioterápica
desenvolvida pelo Sistema Único de Saúde no Estado do Rio Grande do Norte
parece ser centrado na relação queixa/paciente.
TABELA II: Produção ambulatorial (SUS) Rio Grande do Norte/Fisioterapia Período: Julho a Dezembro de 2004
PROCEDIMENTOSQuantidadeAprovada
Alterações Motoras 16.330Alterações Sensitivas 9.197Ataxias 1.670Miopatias 826Paralisia Cerebral/retardo Desenvolvimento motor 8.709Paresias 14.911Parkinson 714Plegias 11.905Processos distróficos 851Disfunções decorrentes de distúrbios circulatórios /artério/venoso 3.452Assistência respiratória pré e pós-operatória 1.072Reeducação ventilatória doenças pulmonares 3.956Alterações do eixo da coluna vertebral 13.646Disfunções decorrentes amputação de membros 1.154Disfunções decorrentes de contusões 7.718Disfunções decorrentes de entorses 9.356Doença origem reumática membro /coluna vertebral 83.483Doença tendinosa/muscular por lesões ligamentares 28.287Recuperação funcional pós-cirurgia / pós-imobilização 41.691Seqüela traumatismos torácicos/abdominais 3.133Pacientes com doença isquêmica do coração 394Pré/pós-cirurgia cardíaca/transplante órgãos 46
TOTAL 262.501FONTE: SECRETARIA ESTADUAL DE SAÚDE DO RIO GRANDE DO NORTE/2004.
A tabela II apresenta, respectivamente, as patologias tratadas pela
Fisioterapia no Estado do Rio Grande do Norte pelo Sistema Único de Saúde, bem
como o número de sessões realizadas no segundo semestre de 2004.
A exemplo do primeiro semestre não há registros de atenção fisioterápica
preventiva.
4 DISCUSSÃO
Na produção ambulatorial da Fisioterapia do Sistema Único de Saúde no
Estado do Rio Grande do Norte no ano de 2004 é possível observar que há um
nítido destaque para as intervenções voltadas para o tratamento das doenças de
origens reumáticas e coluna vertebral, seguido de sessões de fisioterapia para
recuperação funcional pós-cirúrgica e pós-mobilização.
Observa-se uma práxis fisioterapêutica com ênfase voltada eminentemente
à assistência curativa, onde a preocupação tem sido muito mais voltada para
ações que são executadas após a doença manifestada.
Tal fato evidencia que a Fisioterapia no SUS no Estado do Rio Grande do
Norte prioriza o atendimento individualizado, está centrada no modelo da doença,
com o olhar voltado para a atenção secundária e terciária; apesar do fato de que a
inserção da Fisioterapia na saúde coletiva e no Programa Saúde da Família ser
amplamente discutido.
Esse episódio coaduna com a literatura, onde se pode observar que o
profissional de fisioterapia vem desenvolvendo suas ações voltadas para a
atenção curativa e reabilitadora4, com um papel de pouco destaque na atenção
primária; porém o profissional de Fisioterapia tem como dever a promoção da
saúde da população1.
É possível supor que esse modelo de atenção em Saúde, por parte da
Fisioterapia, seja proveniente da origem histórica dessa profissão no País, das
diversas políticas de saúde realizadas nos últimos anos, além do tipo de trabalho
executado pelos profissionais fisioterapeutas.
Na Fisioterapia, essa maneira de ver e tratar o Ser Humano culminam, por
conseguinte, na fragmentação do Homem em um ser apenas biomecânico,
capacitado, ou não, a realizar práticas de atividades funcionais e se apresenta de
forma deficiente.
O processo de mudança de foco da atuação da Fisioterapia é uma
construção coletiva, e a atenção primária em saúde é um espaço de
experimentação dessa construção, uma vez que a partir da interação com
população, comunidades reflexões surgirão e poderão despontar novos caminhos
e novas possibilidades para que a Fisioterapia contribua com o enfrentamento dos
problemas de saúde das comunidades, no sentido de uma mudança na
concepção de saúde e na perspectiva de atuação profissional.
Quanto ao cuidado digno da dor e do sofrimento humanos, o Sistema de
Saúde brasileiro ainda se encontra numa fase rudimentar26. Há muito que se fazer
em termos de operacionalização de políticas públicas relacionadas com a
questão, bem como intervir no aparelho formador de profissionais para criar uma
nova cultura.
Atento ao foco deste trabalho, que é o estudo, sob a óptica da
transdisciplinaridade e humanização, das ações Fisioterápicas desenvolvidas
SUS, no ano de 2004, no Estado do Rio Grande do Norte, é possível observar que
a prática da atuação desse profissional tem se centralizado nas ações curativas,
reabilitadoras e individualizadora do Homem. O tratamento a ele ofertado é
centrado no modelo da doença. O que se pode observar é uma ênfase voltada
para a assistência após doenças manifestadas; essa característica pode contribuir
para a incidência de problemas de saúde, pois a visão preventiva é incipiente.
No material coletado, foi possível perceber a existência de um foco de
atuações da Fisioterapia no SUS, voltadas para a prática fundamentada no
modelo biomédico. Tais atuações, como podem ser observadas nas tabelas
construídas a partir de dados coletados, são voltadas para a questão
doença/reabilitação, com maior destaque para os distúrbios motores de origem
nervosa e problemas relacionados à coluna vertebral.
Apesar da existência de códigos próprios no Sistema de Informação
Ambulatorial do SUS (SIA/SUS) que permitam a execução de ações preventivas e
de atenção básica por parte dos Fisioterapeutas no Estado do Rio Grande do
Norte, não se observam registros, para o corrente ano, de ações voltadas para a
educação, prevenção e promoção da saúde.
Seguem os códigos: Código 0401103 refere-se à atividade coletiva de
educação em Saúde por profissionais de nível superior; código 04012101-1
menciona atividade educativa com grupos na comunidade; 0401204-6 refere-se à
atenção básica para profissionais de nível superior em saúde27.
Tal observação é preocupante e sugere questionamentos quanto à
possibilidade desses profissionais e dessa profissão estarem alimentando,
despercebidamente, o sistema medicocêntrico, assim como de empobrecimento
contínuo da população no tocante ao auto cuidado com a saúde.
A prática terapêutica centrada no indivíduo nos conduz a um outro aspecto
importante; parece que a visão do todo, humanística que transcende o corporal e
passa do individual para o coletivo, não faz parte da práxis fisioterápica no
Sistema Único de Saúde no Rio Grande do Norte. Fato sugestivo de pesquisas
futuras em âmbito nacional.
Parece que a maneira de conceber a reabilitação e a fisioterapia pelo
Sistema Único de Saúde no Estado do Rio Grande do Norte fere o princípio da
integralidade; que é o princípio que garante ao cidadão o direito de ser assistido
desde a prevenção de doenças até o mais difícil atendimento de uma patologia28.
É preciso salientar que o problema não é a técnica e sim o conjunto. Deve-
se questionar como esse profissional distribui suas atividades; quais os recursos
de que ele dispõe em seu arsenal de métodos; qual o conhecimento teórico-
filosófico, político-ideológico deste profissional; qual o papel das Universidades na
formação do profissional fisioterapeuta e qual a história de vida dos profissionais
fisioterapeutas do estado (Anexo artigo1).
É na concepção de rede, de interconexão que a Fisioterapia crescerá e
ocupará o verdadeiro papel como contribuidora social. Isto será possível, na
medida em que sejam deslocados os valores antropocêntricos em direção a novos
valores, numa visão ecocêntrica de cuidado em saúde.
Pode até parecer utópico uma Fisioterapia em nível de consciência máximo
que, simultaneamente, trabalhasse com os dados objetivos do Homem e tivesse
uma atuação no social de forma participativa. A segmentação parece ser
inevitável.
Entretanto, cada um em sua área poderá exercer uma prática a partir de
uma compreensão de realidade newtoniano-cartesiana ou a partir de uma
compreensão sistêmico-interconexa em que coloque a sua área particular de
atuação, que não é só sua, em rede de interações, conectada, influenciando e
sendo conscientemente influenciada. Uma prática aberta à criatividade e à
transformação, assim como nos parece ser a essência do Homem (Anexo artigo1
e 2).
A partir desse estudo pode-se inferir que a possível meta-contribuição deste
trabalho tenha sido possibilitar percepções cada vez menos segmentadas da
realidade e do saber em Fisioterapia, com um estímulo a um pensar-agir mais
contextualizado, que leve em consideração pandependência mútua na
preservação e a manutenção da saúde.
Tendo-se como base uma observação analítica da prática da Fisioterapia
no SUS no estado do Rio Grande do Norte pode-se concluir:
i) A prática da Fisioterapia no SUS no Rio Grande do Norte ainda é
centrada no modelo saúde x doença;
ii) A ação da Fisioterapia caracteriza-se pelas práticas reabilitadoras e
curativas;
iii) A prática da Fisioterapia no SUS no Estado do Rio Grande do Norte é
fundamenta no modelo biomédico;
iv) Há necessidade de que a prática do Fisioterapeuta no SUS no Rio
Grande do Norte garanta o princípio da integralidade na atenção ao
paciente.
6 ANEXOS
6.1 ANEXAÇÃO DOS ARTIGOS
Artigo 1 - Afetividade x Efetividade: Fenômenos da Fisioglobalização
Periódico: Revista Brasileira de Epidemiologia
Status da Publicação: Prelo
Qualis: Nacional A
Artigo 2 – Reabilitação: Ações do Sistema Único de Saúde (SUS) no Rio
Grande do Norte.
Periódico: Revista Fisioterapia Brasil
Status da Publicação: Prelo
Qualis: Nacional B
AFETIVIDADE X EFETIVIDADE: FENÔMENOS DA FISIOGLOBALIZAÇÃO
AFFECTIVITY X EFFECTIVENESS : PHENOMENA OF THE GLOBALIZATION
GERALDO MAGELLA TEIXEIRA; Profª Drª EULÁLIA MARIA CHAVES MAIA.
Universidade Federal do Rio Grande do Norte/PPGCSa – Natal/RN – Brasil
RESUMO
O modelo educacional de formação superior, inclusive o modelo que forma
profissionais fisioterapeutas, contém ‘grades’ curriculares que ensina a observar o
objeto saúde separado de seu contexto e, por conseguinte ensina a separar,
fragmentar o Homem. Essa separação tolhe a capacidade de observar o
‘complexus’, isto é, aquilo que está tecido em conjunto, e centraliza o processo
saúde/doença no doente. Esse modelo de formação disjunto apreendido, aliado ao
crescente número de faculdades de Fisioterapia no Brasil, parece exigir do
Fisioterapeuta, em prol da empregabilidade, uma busca constante pela eficiência
em detrimento da afetividade e da humanização do atendimento.
Palavras-chave: Fisioterapia, humanização, Globalização.
ABSTRACT
The educational model of superior formation, also the model that makes
physiotherapists, it contains CV that teaches to observe the object “health” and
separating Health of its context and, therefore teaching to fragmentize the Man.
This separation hinders the capacity to observe 'complexus ' , they can’t see the
whole person , just by parts , so this model of observation leads to centralize the
process healthiness/sickness in the sick person. This model of formation added to
the increasing number of colleges of Physiotherapy in Brazil, it seems to demand
of the Physiotherapists , afraid of losing their jobs , a constant search for the
efficiency in detriment of the affectivity and humanization in the attendance.
Key Words : Physiotherapy, humanization and globalization.
INTRODUÇÃO
A Fisioterapia, ao longo de sua história, tem direcionado o seu foco de
trabalho para as atividades curativas e/ou reabilitadoras (Sampaio, 2002). Tal fato
se deve ao surgimento dessa profissão para atender as necessidades das
grandes guerras mundiais.
De acordo com Barros (2002), a fisioterapia vem, nos últimos anos,
apresentando um intenso crescimento; mas, parece, que tal crescimento tem
acontecido de forma desorganizada, e sendo assim, pode ser pernicioso;
sobretudo, se os profissionais fisioterapeutas perderem de vista o norte
humanizador que dirige essa profissão.
É preocupante que esse crescimento, aliado ao fenômeno da globalização,
que segundo Santos (2002) são as interações e intensificações econômicas,
sociais, políticas e culturais; que em Fisioterapia, prefiro chamar de
Fisioglobalização, faça com que os Fisioterapeutas tenham uma visão puramente
capitalista e cartesiana do corpo e sua relação com a mais valia e o modo de
produção; visão essa que culminará, por conseguinte, na fragmentação do
Homem em um ser apenas biomecânico, capacitado ou não a realizar
movimentos.
Historicamente, a fisioterapia é oriunda da medicina e a visão
medicocêntrica e cartesiana que se tem do corpo ainda é muito enraizada. A
fisioterapia mantém este tipo de pensamento até os dias atuais e parece que as
universidades têm forte participação na construção dessa visão; de acordo com
Carvalho (1999) há falhas na formação do fisioterapeuta quando se observa a falta
de preocupação com a reintegração social do paciente, para com a preocupação
mercadológica com o trabalho. Com raras exceções, as Universidades brasileiras
são qualificadas como indiferentes às preocupações da comunidade (Targino,
1997).
As influências do pensamento cartesiano sobre o desenvolvimento da
Biologia, compara o corpo humano a uma máquina que pode ser analisada
(trabalhada) peça a peça; estudadas do ponto de vista da biologia molecular e que
pode limitar o papel dos profissionais da saúde em apenas intervir e consertar o
mecanismo enguiçado (Capra, 1992).
O caráter determinante do modelo de desenvolvimento da Biologia aplica-
se as demais profissões da saúde, servindo também de referência para a
Fisioterapia, que representa o objeto desse texto.
Vive-se a era da franca expansão do saber em Fisioterapia;
constantemente a mídia televisiva e/ou escrita divulga a Fisioterapia, divulgação
essa muitas vezes de forma equivocada e desvinculada da realidade. Num mundo
globalizado essa divulgação acontece de forma rápida.
A Fisioglobalização é sem dúvida de magna importância para o
desenvolvimento, reconhecimento e crescimento da profissão, mas parece, trazer,
de forma ideológica, em seu bojo uma armadilha de um sistema dogmático,
totalitário e dicotomizador.
Como conseqüência da Fisioglobalização observa-se um crescente grupo
de adolescentes que pretendem abraçar essa profissão e, em razão desse
pungente desejo vêm crescendo também, de forma, assustadoramente, rápida, ao
longo dos anos, o número de Instituições de Ensino Superior (IES) que se
oferecem para formar futuros Profissionais Fisioterapeutas.
Dessa forma é precioso entender que o espaço do ensino superior é o lugar
próprio de construção do saber e da educação que surge como trunfo
indispensável à humanidade na sua construção dos ideais de paz, liberdade e de
justiça social (Delors, 2000).
De acordo com Rocha (2002), a maioria dos cursos de fisioterapia tem
abordado o doente através de aparelhos altamente sofisticados que tentam
consertar partes do corpo com protocolos fechados de exercícios físicos; e sendo
assim, parece prudente a abertura de espaço para discutir fisioterapia e saúde
como envolvimento social.
Em seu sentido mais abrangente, a saúde não é a antítese de doença; é
algo complexo e de acordo com Minayo et alli. (1992) é o resultante das condições
de alimentação, habitação, educação, renda, meio ambiente, trabalho, transporte,
emprego, lazer, liberdade, acesso e posse da terra e acesso aos serviços de
saúde. É assim, antes de tudo, o resultado das formas de organização social da
produção, as quais podem gerar grandes desigualdades nos níveis de vida.
De acordo com Galheigo (1999), a dificuldade ou o problema de lidar com
pensamento complexo se manifesta na Universidade a partir da forma em que se
organizam seus departamentos e de como estes lidam com problemas da
coletividade.
METODOLOGIA
Trata-se de um estudo retrospectivo e descritivo, tendo como base todo o
território brasileiro, com vistas a demonstrar a evolução de aberturas de cursos de
fisioterapia no Brasil desde 1969 até os dias atuais, bem como o papel das IES na
formação de fisioterapeutas.
Por se tratar de um estudo que visa apresentar e entender, de forma crítica,
o comportamento da abertura de escolas de fisioterapia ao longo da história no
Brasil, o tema fora estudado mediante uma pesquisa quantitativa e qualitativa;
pois de acordo com Bauer et al. (2002) não há, por meios de análises
documentais, possibilidade de quantificar sem qualificar.
As hipóteses surgiram a partir da franca expansão das escolas de
Fisioterapia em todo o País e a possível carnavalização dessa profissão em busca
da eficiência a todo custo, como meio de garantia de empregabilidade.
O texto foi desenvolvido à luz da transdisciplinaridade e humanização da
saúde e pretende abrir uma discussão sobre o exercício do profissional de
fisioterapia em decorrência do fenômeno globalização.
A amostra foi do tipo causal simples para análises documentais semi-
estruturadas.
RESULTADOS
Evlução quantitativa das Escolas de Fisioterapia noBrasil
1969
1981 1984
19982004 2005
1950
1960
1970
1980
1990
2000
2010
6 20 22 115 243 376
Número de Faculdades
An
o
De acordo com Sanches (1984), havia no Brasil, em 1969, ano do
reconhecimento da profissão, apenas seis escolas de reabilitação para a formação
de fisioterapeutas, entre os anos de 1969 a 1981 houve um aumento para vinte
escolas.
Nos anos seguintes novos curso são abertos; Segundo Rebelatto et al.
(1999), no ano de 1984 o número de cursos de graduação em fisioterapia era de
22, distribuídos nos estados de São Paulo, Rio de Janeiro, Ceará, Paraíba, Minas
Gerais, Bahia, Pernambuco e Paraná.
Em 1998, o Brasil possuía 115 cursos de fisioterapia (Ferraz, 1999). No ano
de 2004, havia, de acordo com guia do estudante (2004), 279 cursos de
graduação em Fisioterapia.
Em 2005, de acordo com dados do Instituto Nacional de Estudos e
Pesquisas Educacionais (INEP), o Brasil possui 376 Instituições de Ensino
Superior (IES) que formam profissionais fisioterapeutas.
Ao longo de sua história a fisioterapia tem crescido e se estabelece ainda
mais no cenário nacional; mas parece que tal crescimento tem acontecido de
forma desordenada.
DISCUSSÃO
O aumento quantitativo e desordenado de várias Instituições de Ensino
Superior (IES) em Fisioterapia é preocupante; mas a preocupação deve residir,
com maior ênfase, na qualidade da formação e modelo educacional ofertado aos
nossos jovens, futuros fisioterapeutas.
Preocupante também é a influência ideológica da mídia na tomada de
decisões por partes dos jovens que pretendem cursar essas Faculdades. Parece
que tais escolhas sofrem influências de um momento histórico neoliberal,
globalizador. Não se trata de uma decisão vocacional; vocacional no sentido
sacrossanto da verne ‘vocare’, isto é chamar; que se segundo Toscano (1999) é a
sensação prazerosa de ser chamado, de fazer parte da escolha dos escolhidos.
O número crescente de qualquer profissional, e não é menos diferente com
a fisioterapia, o efeito da globalização e a própria necessidade e exigência do
mercado fazem suscitar a necessidade da emergência de profissionais
reconhecidos e destacados pela efetividade, e isso se consegue com as inúmeras
especializações e avanços tecnológicos. O relato de Santos (2001), diz que o
avanço tecnológico trouxe consigo a despersonalização da assistência, onde as
pessoas são tratadas mecanicamente, como se não fossem seres humanos.
A pulverização de escolas de fisioterapia no Brasil e a tecnificação dos
serviços faz com que, por um lado haja uma divulgação da profissão, mas por
outro uma redução na credibilidade devotada no profissional.
Com a tecnificação a população confia mais na tecnologia, no aparelho, do
que no profissional e considera como indiscutíveis as informações fornecidas
pelos equipamentos e depreciam as avaliações pessoais do profissional. Na
mesma proporção em que a tecnologia cresce em importância, decresce o
prestígio profissional (Siqueira, 2002).
Segundo Casate et al. (2005), o desenvolvimento tecnológico vem
dificultando as relações humanas, tornando-as frias, objetivas, individualista e
calculista.
Diante de tanto crescimento e de tanta eficiência, uma pergunta se faz
indispensável. E aí Fisioterapeutas, como fica a afetividade?
Ela não tem espaço no mundo globalizado e nem valor de mercado no
modo de produção capitalista e, portanto, pode ser descartada, desprezada,
injuriada, ignorada, esquecida e até desprezada. Esse desprezo da afetividade
não é, afinal de contas, senão o desprezo pelo ser Humano, transformado em
objeto comercial. Segundo Minayo (1992), quando ocorre a morte da afetividade
necessariamente ocorre a morte do Homem.
CONCLUSÃO
Esse artigo não se opõe, de modo algum, à eficiência e a incessante busca
pelo saber e nem ao crescimento da profissão do fisioterapeuta; opõe-se à busca
pelo saber fragmentado, que divide e cega.
Em seu sentido mais abrangente, a Saúde é o resultante das condições de
alimentação, habitação, educação, renda, meio ambiente, trabalho, transporte,
emprego, lazer, liberdade, acesso e posse da terra e acesso aos serviços de
saúde. É assim, antes de tudo, o resultado das formas de organização social da
produção, as quais podem gerar grandes desigualdades nos níveis de vida (Boff,
2002).
É claro que a busca pela eficiência é responsável pela evolução de
qualquer profissão, mas é necessário e urgente que a Fisioterapia evolua fazendo
religações dos saberes que vêem o Homem na sua dimensão material, biológica,
social, cultural, espiritual e cósmica. É preciso desenvolver, mas sem perder a
veneração, o respeito, a piedade, o amor, a compaixão para com todos os seres,
para com a vida, para com a terra e o homem.
Dessa forma os Fisioterapeutas devem desenvolver a capacidade cada vez
maior de equilibrar a afetividade e a efetividade. Se assim não for, mesmo com
toda a evolução pela qual passa essa profissão, dificilmente se alcançará o devido
reconhecimento de fato e de direito. Reconhecimento merecido pelas lutas e
vitórias ao longo de sua história.
É preciso religar para viver a efetividade e a afeição e como conseqüência
barganhar uma vida menos estressada e uma posição profissional mais
respeitada. É preciso ser profissionais da saúde e não da doença. É preciso
ensinar aos futuros Fisioterapeutas o que é saúde em sua complexidade.
Parece que é hora das Instituições de Ensino Superior ensinar a religar o
saber truncado que separa o indivíduo e o isola do meio em que vive,
abandonando o binômio doença e tratamento por saúde e prevenção.
Não é só com a preocupação com a eficiência que se prepara para
trabalhar com saúde; é procurando traduzir em gestos concretos o valor da
pessoa humana que estaremos preparados para cuidar da vida, com humanismo
e competência técnico-científica. E nesse sentido o papel das universidades
brasileiras é mister.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:
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mercosul’. Em Barros, Fábio Batalha Monteiro (org.). O fisioterapeuta na saúde da
população. Rio de Janeiro, Fisiobrasil, pp. 163-168. 2002
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Som. Manual Prático. Rio de Janeiro: Vozes. 2002.
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da realidade. 17a edição. Petrópolis-RJ: Vozes, 2002
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Rebelatto, José Rubens e SILVIO, Paulo Botomé. Fisioterapia no Brasil:
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Rocha, Ana Clara Bonini. ‘Elogio à ação social fisioterapêutica’. Em Barros, Fábio
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Fisiobrasil, pp. 163-168. 2002
Sampaio, Rosana Ferreira. ‘Promoção de saúde, prevenção de doenças e
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Targino, M. G. ‘The internet and learned helplessness in man’. Journal of abnormal
psychology, 84: 530-533. 1997
Toscano, Geovânia da Silva. Vestibular: a escolha dos escolhidos - Um estudo
sobre a UFRN. Dissertação de mestrado, Universidade Federal do Rio Grande do
Norte/UFRN. Natal/RN. 1999
Endereço:
Geraldo Magella Teixeira – Universidade Federal do Rio Grande do Norte.
Fisioterapeuta, aluno do Programa de Pós Graduação em Ciências da Saúde da
Universidade Federal do Rio Grande do Norte/Natal/RN.
Endereço: Av. Dr. José Sampaio Luz, 353 apto 302. Ponta Verde, Maceió, AL.
CEP: 57035-260 Fone +82 3337 4554. e-mail: [email protected]
Profª Drª Eulália Maria Chaves Maia – Universidade Federal do Rio Grande do Norte.
Professora Doutorada e Pesquisadora de Pós-Graduação em Ciências da Saúde;
Coordenadora do Curso de Especialização em Psicologia da Saúde:
Desenvolvimento e Hospitalização e Coordenadora da base de pesquisa, “Grupo
de Estudos: Psicologia e Saúde” – UFRN. Universidade Federal do Rio Grande do
Norte/Natal/RN
Endereço: Rua Seridó, 754 apto 902. Petrópolis, Natal, RN. CEP: 59020-010 –
Fone. +84 202 2886. e-mail: [email protected]
Reabilitação: ações do Sistema Único de Saúde (SUS) no Rio Grande do
Norte
Rehabillitation: action of Sistma Único de Saúde (SUS) in Rio Grande do
Norte
Geraldo Magella Teixeira*. Eulália Maria C. Maia**
*Fisioterapeuta, aluno do mestrado em Ciências da Saúde da Universidade Federal do Rio Grande do Norte/Natal/RN, **Professora Doutorada e Pesquisadora de Pós-Graduação em Ciências da Saúde da Universidade Federal do Rio Grande do Norte/Natal/RN.
RESUMO
Objetivos. Apresentar ações fisioterápicas desenvolvidas no SUS no Estado do
Rio Grande do Norte; discutir sob a óptica da humanização tais ações no ano de
2004; discutir a importância da fisioterapia para a sociedade norte-riograndense,
ou seu papel na perpetuação de ações de saúde centradas no binômio
causa/efeito.
Métodos. O estudo foi realizado no estado do Rio Grande do Norte. Os dados
foram obtidos de fontes públicas junto a Secretaria de Saúde desse Estado. Os
dados colhidos versam sobre sessões de fisioterapia desenvolvidas pelo SUS nas
diversas regiões do Estado; tais dados foram colhidos e analisados após
aprovação do Comitê de Ética e Pesquisa da Universidade Federal do Rio Grande
do Norte.
Resultados. No tocante a fisioterapia, houve junto a Secretaria de Saúde do
Estado do Rio Grande do Norte, apenas registros de atendimentos voltados para a
cura/reabilitação, não sendo observado durante decorrer do ano em estudo,
qualquer registro de intervenção de prevenção, promoção e proteção à saúde. É
possível observar que há destaque para as intervenções voltadas para o
tratamento de doenças de origem reumáticas e queixas relacionadas à coluna
vertebral.
Conclusão. Tal pesquisa evidenciou que a Fisioterapia no SUS no Estado prioriza
o atendimento individualizado, centrado no modelo saúde/doença e as ações
desenvolvidas estão voltadas para a atenção curativa e reabilitadora, com papel
de pouco destaque na atenção primária.
Palavras-chave: Fisioterapia. Sistema Único de Saúde. Humanização
ABSTRACT
Objectives. To present actions of Physiotherapy, developed by SUS in the State
of Rio Grande do Norte; discuss under the humanization point of view such actions
of health in the year 2004; discuss the importance of physioterapy to the Norte-
Riograndense, or maybe its role in the perpetuation of actions of health centered in
the binomial cause/efect.
Methods. The study done in the State of Rio Grande do Norte. The data were
obtained through public sources gathered in the health secretrary ship of this State.
The collected data talks about physiotherapy sections developed by SUS in
several areas of the State; such data was collected and analysed after the aproval
of Ethic and Resarch Committee of Federal University of Rio Grande do Norte.
Results.Concerning the physiotherapy, along with the State Health Secretaryship
of the State fo Rio Grande do Norte, there were only records of attending based on
cure/rehabillitation, not being observed during the curse og the year of study, any
record or action of prevention, promotion and protection towards health. It’s
possible to notice that there is a highligth to the interventions focusing on the
treatment of illness of rheumatic origin and general complaints related to the
vertebral column.
Conclusition: Such research evidenced that the Physiotherapy in the SUS in the
State priorizes the individualized attending centered in the carteziano
health/illness model, where the developde actions are turned to the curative and
rehabilliting attention, with role fo some or no highligth in the primary attention.
Key Words: Physiotherapy , SUS, Humanization.
INTRODUÇÃO
Como membro da saúde, o Fisioterapeuta atua em diferentes níveis, tais
como: prevenção, promoção, terapêutica e reabilitação. Porém, a Fisioterapia,
desde a sua criação, se mantém com olhar mais voltado para a prestação de
serviços de reestruturação de habilidades físicas outrora perdidas, após
desordem, trauma ou doenças 1.
A saúde no Brasil, normalmente tem se baseado em políticas onde a
concentração dos recursos está voltada para a assistência médica curativa,
individualizada e voltada para assalariados urbanos, enquanto que o restante da
população fica na dependência de parcos recursos do Ministério da Saúde e dos
Serviços Públicos Estaduais, Municipais e Institucionais, aos quais incube a
chamada Saúde Pública 2.
O Sistema Único de Saúde (SUS) é o sistema de saúde público e gratuito
vigente no País. A criação do SUS em 1988 representou um avanço,
principalmente pelos seus princípios gerais de organização 3.
A oferta de serviços de Fisioterapia pelo SUS demonstra ser de grande valia
para a comunidade e parece ser uma realidade em todo o País, motivo para
muitas reflexões e pesquisas.
Em relação ao comportamento do serviço de Fisioterapia ofertado pelo SUS
no Rio Grande do Norte, objeto desse estudo, parece não fugir aos problemas
nacionais, perpetuados de ações políticas e atuações profissionais, muitas vezes,
dicotomizadas em relação ao tratamento dispensado à clientela e centrado na
doença e não no ser.
Diante do exposto, objetiva-se com o presente trabalho, discutir as ações
fisioterapêuticas desenvolvidas pelo SUS no Estado do Rio Grande do Norte, no
ano de 2004, sob a óptica da transdisciplinaridade e da humanização e avaliar o
seu papel na perpetuação de ações políticas de saúde em relação às diversas
formas de atuações profissionais nesse campo do conhecimento.
MÉTODOS
O estudo foi realizado no Estado do Rio Grande do Norte, no Nordeste
Brasileiro. Os dados foram obtidos a partir de fontes públicas junto a Secretaria de
Saúde desse Estado, as quais versam sobre sessões de fisioterapia
desenvolvidas pelo Sistema Único de Saúde nas diversas regiões geopolíticas do
Estado.
Por se tratar de um estudo que visa apresentar e entender, de forma crítica, os
programas de Atenção Fisioterapêutica junto ao SUS no Estado do Rio Grande do
Norte, o tema fora estudado mediante uma pesquisa quantitativa e qualitativa; pois
não há, por meios de análises documentais, possibilidade de quantificar sem
qualificar4.
Para a feitura de tal pesquisa não houve, necessidade de entrar em contacto
com os usuários e/ou prestadores desses serviços. Trata-se de uma análise
puramente documental, a qual forneceu subsídios para a feitura de críticas sempre
com o norte transdisciplinar e humanizador.
As hipóteses surgiram a partir da visão redutora de homem como ser
fragmentado, desaglutinado; visão que parece induzir condutas terapêuticas que
obriguem o Homem a adaptar o seu corpo para ter acesso aos serviços de
Fisioterapia junto ao SUS; serviço travestido de ‘res naturalis, res imutantis’, onde
parece que dividir o Homem é coisa natural e, sendo natural é coisa que não se
muda. Tal fato, ideologicamente, limita possibilidades de atuação, reconhecimento
e crescimento da profissão.
A amostra foi do tipo causal simples para análises documentais semi-
estruturadas, pela qual foram pesquisadas 12 (doze) fichas de registros emitidas
pela Secretaria Estadual de Saúde do Rio Grande do Norte.
O estudo foi previamente aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da
Universidade Federal do Rio Grande do Norte
Resultados
Ações da Fisioterapia no Rio Grande do Norte:
Os valores abaixo citados são relativos a Produção Ambulatorial do SUS –
Rio Grande do Norte no ano de 2004. A produção foi dividida em duas tabelas,
uma para o 1º semestre do ano e outra para o 2º semestre do referido ano.
A tabela I apresenta, respectivamente, as patologias tratadas pela
Fisioterapia no primeiro semestre do ano de 2004 e o número de sessões
fisioterápicas.
Inserir tabela I
Como pode ser observado há somente registros de atendimentos voltados
para a reabilitação, não sendo observado, no primeiro semestre do referido ano,
qualquer intervenção fisioterapêutica de forma educativa e/ou preventiva.
A referida tabela mostra-nos que o modelo de atenção fisioterápica
desenvolvida pelo SUS no Estado do Rio Grande do Norte parece ser centrado na
relação queixa/paciente.
Inserir tabela II
A tabela II apresenta, respectivamente, as patologias tratadas pela
Fisioterapia no Estado do Rio Grande do Norte pelo Sistema Único de Saúde, bem
como o número de sessões realizadas no segundo semestre de 2004.
A exemplo do primeiro semestre não há registros de atenção
fisioterápica preventiva e/ou educativa.
Na produção ambulatorial da Fisioterapia do SUS no Estado do Rio Grande
do Norte no ano de 2004 é possível observar que há um destaque para as
intervenções voltadas para o tratamento das doenças de origens reumáticas e
coluna vertebral, seguido de sessões de fisioterapia para recuperação funcional
pós cirúrgica/ pós imobilização.
Tal fato evidencia que a fisioterapia no SUS no Estado do Rio Grande do
Norte prioriza o atendimento individualizado, centrado na doença. Esse episódio
coaduna com a literatura, onde se pode observar que o profissional de fisioterapia
vem desenvolvendo suas ações voltadas para a atenção curativa e reabilitadora,
com um papel de pouco destaque na atenção primária5; porém o profissional de
Fisioterapia tem como dever a promoção da saúde da população6.
DISCUSSÃO
Em saúde, não é suficiente, no mundo atual, problematizar o Homem
somente no aspecto dialético saúde/doença. É preciso mais do que isso: é
problematizá-lo em relação à saúde do próprio planeta, em relação ao mundo, ao
cosmos, à natureza e até relação à divindade aceita como comandante dessa
natureza.
O ensino superior, inclusive o modelo que forma profissionais
fisioterapeutas, nos prende em ‘grades’ curriculares e nos ensina a separar, a
fragmentar o Homem. Essa separação tolhe a capacidade de observar o
‘complexus’ (aquilo que está tecido em conjunto) e nos remete pouco a pouco a
uma visão de mundo e de homem de forma compartimentada, disjunta.
A dificuldade ou o problema de lidar com pensamento complexo se
manifesta na Universidade a partir da forma em que se organizam seus
departamentos e de como estes lidam com problemas da coletividade7.
A departamentização universitária, aliada à fragmentação das disciplinas
gera incapacidade de ver o que está ‘tecido em conjunto’, isto é, o complexo8.
Entenda-se complexo não como sinônimo de difícil ou complicado;
etimologicamente, complexo se origina do termo latino ‘amplexus-i’ que significa
abraço, unido.
O modelo da departamentização universitária privilegia a soberania das
disciplinas e o avanço no conhecimento das doenças. Parece que tal avanço
ocorre em detrimento do Ser Humano enfermo e, equivocadamente, trata-se
doenças de pessoas e não de pessoas que circunstancialmente estão doentes 9.
Na fisioterapia, essa maneira cartesiana de ver e tratar o ser humano culmina, por
conseguinte, na fragmentação do Homem em um ser apenas biomecânico,
capacitado, ou não, a realizar práticas de atividades funcionais.
Sistema Único de Saúde: Fundamentos políticos, sociais e históricos.
Desde a publicação da lei Eloy Chaves, na década de 20, a VIII
Conferência Nacional de Saúde surge com o papel de mudança de todo o
paradigma no cenário histórico da saúde Brasileira.
A VIII Conferência Nacional de Saúde contou com a participação da
população, tendo como documento final a sistematização do processo de
reconstrução do setor saúde, e que é definida como: ‘Resultante das condições de
alimentação, habitação, educação, renda, meio ambiente, trabalho, emprego,
lazer, liberdade, acesso e posse da terra e acesso a serviços de saúde10.
Enquanto resultante dos embates e das diferentes propostas em relação ao
setor de saúde presentes na Assembléia Nacional Constituinte, a Constituição
Federal de 1988 aprovou a criação do SUS, reconhecendo a saúde como um
direito de todos a ser assegurado pelo Estado.
A Constituição Federal de 1988 é permeada de aspectos relevantes e
inerentes à saúde pública e garante, a atenção a saúde de forma integral, com
prioridade para as atividades preventivas sem prejuízo dos serviços assistenciais,
e a participação da comunidade 11.
O projeto de democratização da saúde no Brasil e o contexto social.
No início da década de 70 o País vivia a ditadura militar e o modelo de
desenvolvimento adotado fazia com que houvesse concentração de renda e má
distribuição de benefícios sociais, causando precárias condições de saúde.
Os interesses que havia em torno da saúde, por parte do governo, eram,
predominantemente, mercantilistas e ocasionavam um grande crescimento dos
serviços médicos privados, especialmente hospitalares.
Todas essas questões levaram a um sistema de saúde que não respondia
às necessidades e anseios de atendimento à população e até agravava a
condição Humana, pois se deixava de gastar com ações de prevenção de
doenças, promoção da saúde e educação, assim como em ações de saneamento,
moradia, lazer e cultura para investir na industrialização do setor saúde.
A crise econômica dos anos 80 cria uma situação nova para o governo e
exige o reconhecimento da crise, bem como a necessidade de mudar o sistema
saúde, sob pressão popular que já começava a se organizar, lutando pela
redemocratização do nacional.
Dessa reforma, abriu-se espaço para começar a discutir o sistema de saúde
vigente; o que faz ressurgir propostas de Reformas Sanitárias que culminam com
a Constituição de 1988 com a implementação do Sistema Único de Saúde (SUS).
A saúde passa a ser abordada como um dever do Estado e um direito do
cidadão e há uma abertura para uma efetiva participação da sociedade civil,
estabelecendo um novo marco conceitual em saúde, que passa a ser resultante
das condições de alimentação, habitação, educação, renda, meio ambiente,
trabalho, transporte, emprego, lazer, liberdade, acesso e posse da terra e acesso
aos serviços de saúde. É assim, antes de tudo, o resultado das formas de
organização social da produção, as quais podem gerar grandes desigualdades
nos níveis de vida12.
Essa compreensão sócio-cultural da doença exige uma postura do
profissional de saúde como trabalhador social; exige ainda, desse profissional,
uma distinta capacidade de compreender a saúde como um recurso da vida diária
e não um objetivo isolado.
Fisioterapia e sua contribuição social
No campo da Fisioterapia, os problemas da atuação profissional parecem
possuir uma estreita relação com as condições de vida da população e não podem
ser vistas e abordadas de forma isolada, ou centrada só no indivíduo que é capaz
ou não de realizar movimentos.
Os problemas com o movimento têm seus determinantes biológicos, sem
dúvida. Entretanto, estes têm também seus determinantes sociais e ambientais.
Os lesados e deficientes não o são somente por sua biologia ou por sua
infelicidade1.
É sabido que a população brasileira tem um acesso limitado aos serviços
de saúde e que tal situação seja fruto de uma política de saúde e educação
desenvolvidas pelo sistema sócio, econômico e cultural do País, onde há um
privilegiamento dos grandes centros e que a saúde prestada esteja focada no
conhecimento, na especialização e não no cuidado.
Na Fisioterapia, a principal conseqüência dessas questões pode ser um
obscurecimento de grande parte das possibilidades de atuação, crescimento e
reconhecimento profissional. Tal fato parece se agravar pela importância que
alguns profissionais, fisioterapeutas, dão aos aspectos isolados e parciais do
corpo e do processo saúde/doença como decorrência de práxis complementares
aos serviços médicos.
Ao atuar dentro deste sistema, a Fisioterapia se mantém, desde a sua
criação, dentro de um âmbito curativo; onde o principal objetivo tem sido a
promoção de serviços dirigidos na restauração de habilidades físicas, após lesão
ou doença; ou seja, ainda dicotomiza o homem para “melhor” tratá-lo1.
Conclusão
Quanto ao cuidado digno da dor e do sofrimento humanos, o Sistema de
saúde brasileiro ainda se encontra numa fase rudimentar13. Há muito que se fazer
em termos de operacionalização de políticas públicas relacionadas com a questão,
bem como intervir no aparelho formador de profissionais para criar uma nova
cultura.
Atento ao foco deste trabalho, que é o estudo, sob a óptica da
transdisciplinaridade e humanização, das ações Fisioterápicas desenvolvidas
SUS, no ano de 2004, no Estado do Rio Grande do Norte, é possível observar que
a prática da atuação desse profissional tem centralizado-se nas ações curativas,
reabilitadoras e individualizadora do Homem. O tratamento a ele ofertado é
centrado no modelo da doença.
No material coletado, foi possível perceber a existência de um foco de
atuações da Fisioterapia no SUS, voltadas para a prática fundamentada no
modelo biomédico. Tais atuações, como podem ser observadas nas tabelas
construídas a partir de dados coletados, são voltadas para a questão
doença/reabilitação, com maior destaque para os distúrbios motores de origem
nervosa e problemas relacionados à coluna vertebral.
Não se observam registros, para o corrente ano, de ações voltadas para a
educação, prevenção e promoção da saúde.
Tal observação é preocupante e leva a questionamentos quanto à
possibilidade desses profissionais e dessa profissão estarem alimentando,
despercebidamente, o sistema medicocêntrico, assim como de empobrecimento
contínuo da população no tocante ao auto cuidado com a saúde.
A prática terapêutica centrada no indivíduo nos conduz a um outro aspecto
importante; parece que a visão do todo humanística, que transcende o corporal e
passa do individual para o coletivo, não faz parte da práxis fisioterápica no
Sistema Único de Saúde no Rio Grande do Norte. Fato sugestivo de pesquisas
futuras em âmbito nacional.
Parece que a maneira de conceber a reabilitação e a fisioterapia pelo
Sistema Único de Saúde no Estado do Rio Grande do Norte fere o princípio da
integralidade; que é o princípio que garante ao cidadão o direito de ser assistido
desde a prevenção de doenças até o mais difícil atendimento de uma patologia14.
É preciso salientar que o problema não é a técnica e sim o conjunto. Deve-
se questionar como esse profissional distribui suas atividades; quais os recursos
de que ele dispõe em seu arsenal de métodos; qual o conhecimento teórico-
filosófico, político-ideológico deste profissional; qual o papel das Universidades na
formação do profissional fisioterapeuta e qual a sua história de vida.
É na concepção de rede, de interconexão que a Fisioterapia crescerá e
ocupará o verdadeiro papel como contribuidora social. Isto será possível, na
medida em que sejam deslocados os valores antropocêntricos em direção a
novos valores, numa visão ecocêntrica.
Pode até parecer utópico uma Fisioterapia em nível de consciência máximo
que, simultaneamente, trabalhasse com os dados objetivos do Homem e
tivesse uma atuação no social de forma participativa. A segmentação parece
ser inevitável.
Entretanto, cada um em sua área poderá exercer uma prática a partir de
uma compreensão de realidade newtoniano-cartesiana ou a partir de uma
compreensão sistêmico-interconexa em que coloque a sua área particular de
atuação, que não é só sua, em rede de interações, conectada, influenciando e
sendo conscientemente influenciada. Uma prática aberta à criatividade e à
transformação, assim como nos parece ser a essência do Homem.
A partir desse estudo penso que a possível meta-contribuição deste
trabalho tenha sido possibilitar percepções cada vez menos segmentadas da
realidade e do saber em Fisioterapia, com um estímulo a um pensar-agir mais
contextualizado, que leve em consideração pandependência mútua na
preservação e a manutenção da saúde.
REFERÊNCIAS
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4. BAUER, Martin W., GASKEL, George. Pesquisa Qualitativa com Texto, Imagem e Som. Manual Prático. Rio de Janeiro: Vozes, 2002.
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10. CUNHA, João Paulo Pinto; CUNHA, Rosani Evangelista. ‘Sistema Único de Saúde - SUS: princípios’. In: CAMPOS, Francisco Eduardo; OLIVEIRA, Mozart; TONON, Lídia Maria. Cadernos de Saúde. Planejamento e Gestão em Saúde. Belo Horizonte: COOPMED, 1998. Cap.2, p. 11-26.
11. COHN, Amélia; ELIAS, Paulo Eduardo. Saúde no Brasil: políticas e organizações de serviços. 4.ed. São Paulo: Cortez, 2001.
12. MINAYO, Maria Cecília de Souza. (org). A Saúde em Estado de Choque.Rio de Janeiro: Espaço e Tempo, 1986. RAMOS, Célia Leitão, MINAYO, Maria Cecília de Souza, STOTZ, Eduardo Navarro. Organizado por MINAYO, Maria Cecília de Souza. Rio de Janeiro, 1986, p.59-72.
13. PESSINI, Léo. ‘Humanização da dor e sofrimento humanos no contexto hospitalar’. Rev. Bioética 2002; 10: 51-71.
14. BRASIL. ‘Ministério da Saúde’. Política nacional de humanização: documento base para gestores e trabalhadores do SUS. 2. ed. Brasília: Ministério da Saúde, 2004. 49p
TABELA I: Produção ambulatorial (SUS) Rio Grande do Norte/ Fisioterapia – Período:
Janeiro a Junho de 2004
PROCEDIMENTOSQuantidadeAprovada
Alterações motoras 15.838Alterações sensitivas 4.366Ataxias 1.245Miopatias 573Paralisia cerebral/retardo desenvolvimento motor 7.884Paresias 14.921Parkinson 585Plegias 10.401Processos distróficos 721Disfunções decorrentes de distúrbios circulatório/artério/venoso 1.751Assistência respiratória pré e pós-operatória 548Reeducação ventilatória doenças pulmonares 3.436Alterações do eixo da coluna vertebral 10.130Disfunções decorrentes amputação membro 729Disfunções decorrentes de contusões 6.735Disfunções decorrentes de entorses 7.372Doença origem reumática membro/coluna vertebral 66.377Doença tendinosa/muscular por lesões ligamentares 20.692Recuperação funcional pós-cirúrgica e pós-imobilização 34.510Seqüela traumatismos torácicos/abdominais 3.682Pacientes com doença isquêmica do coração 182
TOTAL 212.678FONTE: SECRETARIA ESTADUAL DE SAÚDE DO RIO GRANDE DO NORTE/2004
TABELA II: Produção ambulatorial (SUS) Rio Grande do Norte/ Fisioterapia – Período: Julho a Dezembro de 2004
PROCEDIMENTOSQuantidadeAprovada
Alterações Motoras 16.330Alterações Sensitivas 9.197Ataxias 1.670Miopatias 826Paralisia Cerebral/retardo Desenvolvimento motor 8.709Paresias 14.911Parkinson 714Plegias 11.905Processos distróficos 851Disfunções decorrentes de distúrbios circulatórios /artério/venoso 3.452Assistência respiratória pré e pós-operatória 1.072Reeducação ventilatória doenças pulmonares 3.956Alterações do eixo da coluna vertebral 13.646Disfunções decorrentes amputação de membros 1.154Disfunções decorrentes de contusões 7.718Disfunções decorrentes de entorses 9.356Doença origem reumática membro /coluna vertebral 83.483Doença tendinosa/muscular por lesões ligamentares 28.287Recuperação funcional pós-cirurgia / pós-imobilização 41.691Seqüela traumatismos torácicos/abdominais 3.133Pacientes com doença isquêmica do coração 394Pré/pós-cirurgia cardíaca/transplante órgãos 46
TOTAL 262.501FONTE: SECRETARIA ESTADUAL DE SAÚDE DO RIO GRANDE DO NORTE/2004
7 REFERÊNCIAS
1. REBELATTO, José Rubens e SILVIO, Paulo Botomé. Fisioterapia no
Brasil: Fundamentos para uma ação preventiva e perspectivas
profissionais. 2 ed. São Paulo: Manole. 1999.
2. NAGLER, Willibald. Manual de fisioterapia. São Paulo: Atheneu, 1986, p.
45 – 47.
3. TRAVERSO-YEPEZ, Martha e MORAIS, Normanda Araújo de.
Reivindicando a subjetividade dos usuários da Rede Básica de Saúde:
para uma humanização do atendimento. Cad. Saúde Pública, jan./fev.
2004, vol.20, no.1, p.80-88.
4. SAMPAIO, Rosana Ferreira. Promoção de saúde, prevenção de doenças
e incapacidade: a experiência da fisioterapia/UFMG em uma unidade
básica de saúde. Fisioterapia e Movimento; 15:19-23. 2002.
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9. DELORS, Jacques. Educação: Um tesouro a descobrir. 4 ed. São Paulo:
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10. ROCHA, Ana Clara Bonini. Elogio à ação social fisioterapêutica. Em
Barros, Fábio Batalha Monteiro (org.). O fisioterapeuta na saúde da
população. Rio de Janeiro, Fisiobrasil, pp. 163-168. 2002.
11. MINAYO, Maria Cecília S. (org). A Saúde em Estado de Choque. Rio de
Janeiro: Espaço e Tempo, 1999.
12. GALHEIGO, Maria Sandra. A transdisiciplinaridade enquanto princípio e
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13. CAPRA, Fritjof. O ponto de mutação. Tradução por Álvaro Cabral. São
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14. ROSNAY, J. de. O Homem Simbiótico. Rio de Janeiro: Zahar, 1997.
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22. CUNHA, João Paulo Pinto; CUNHA, Rosani Evangelista. Sistema Único de
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Mozart; TONON, Lídia Maria. Cadernos de Saúde. Planejamento e Gestão
em Saúde. Belo Horizonte: COOPMED, 1998. Cap.2, p. 11-26.
23. Decreto – Lei n. 9.640 de 14 de outubro de 1969. Diário Oficial da União,
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24. BAUER, Martin W., GASKEL, George. Pesquisa Qualitativa com Texto,
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25. SIQUEIRA, José Eduardo. A arte perdida de cuidar. Revista Bioética; 10:
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26. PESSINI, Léo. Humanização da dor e sofrimento humanos no contexto
hospitalar. Rev. Bioética 2002; 10: 51-71.
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1997. 162f. Dissertaçlão (Mestrado em Fisioterapia) – Universidade Federal
de Santa Maria.
ABSTRACT
The work has objective to present actions of Physiotherapy, developed by SUS in
the State of Rio Grande do Norte; discuss under the humanization point of view
such actions of health; discuss the importance of physioterapy to the Norte-
Riograndense, or maybe its role in the perpetuation of actions of health centered in
the binomial cause/efect. The study was done in the State of Rio Grande do Norte.
The data were obtained through public sources gathered in the health secretrary
ship of this State. The collected data talks about physiotherapy sections developed
by SUS in several areas of the State; such data was collected and analysed after
the aproval of Ethic and Resarch Committee of Federal University of Rio Grande
do Norte. Concerning the physiotherapy, along with the State Health Secretaryship
of the State fo Rio Grande do Norte, there were only records of attending based on
cure/rehabillitation, not being observed during the curse of study, any record or
action of prevention, promotion and protection towards health. It’s possible to
notice that there is a highligth to the interventions focusing on the treatment of
illness of rheumatic origin and general complaints related to the vertebral column.
Such research evidenced that the Physiotherapy in the SUS in the State priorizes
the individualized attending centered in the carteziano health/illness model, where
the developde actions are turned to the curative and rehabilliting attention, with role
fo some or no highligth in the primary attention.
Key Words: Physiotherapy , SUS, Humanization.