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1 FLG 0114 – Mudanças Climáticas Globais e Implicações Atuais Disciplina Ministrada pelo Prof. Dr. Ricardo Contribuição especial de Daniela de Souza Onça – O Poder do Mito e da Mídia – 1 – Introdução Neste resumo de aula, apresentou-se alguns dos principais aspectos da Mídia, primeiramente de forma geral e depois no que se refere ao principal tema do curso: “aquecimento global”. Abordou-se alguns aspectos do mito e seu poder, muito bem discutidos pelo Prof. Joseph Campbell em diversas de suas obras como “O Poder do Mito”, literaturas que se tornam obrigatórias na Academia para aqueles que querem compreender melhor o tema. Em outro aspecto, a discussão principal deste texto foi realizada pela Profª. Daniela Onça que gentilmente contribuiu com grande parte das argumentações, tema que foi estudado por esta autora. 2 – O Mito O mito tem seus aspectos singulares, já que é intrínseco ao ser humano e está presente em seu ser. Pode-se entendê-lo como uma característica que aparece em cada cultura, mas também está relacionado com o Dasein do ser vivente, dentro de uma Geografia. Figurativamente, pode ser expresso na imagem de um herói que irá padecer de todos os “pecados da humanidade”. Este personagem é levado a trama como herói de duas maneiras muito distintas: na primeira, ele será conduzido por algo ou alguém, que abusando da curiosidade, característica peculiar e acentuada do Homem, cairá em uma armadilha. Neste caso, terá que tirar forças para surgir o herói que está adormecido dentro de seu âmago. Na segunda opção, o personagem é apresentado a uma situação de risco e faz a escolha de ser o herói salvador, voluntariamente, ou seja, de forma consciente. Em ambos os casos do surgimento do herói, a jornada a qual se disporão também tem um roteiro em comum: saem da luz, situação que representa o relativo controle, ou o equilíbrio e mergulham nas trevas, situação representada pelo abismo, pela queda, onde figurativamente aparecerão os dragões ou então, o interior da baleia (o herói é engolido por ela). Neste caso, estão expressas as situações de desequilíbrio que precisam rapidamente serem corrigidas. No clímax da luta, o personagem vence e é resgatado, vitorioso, personificado em toda a plenitude da glória do herói. Há o retorno do equilíbrio entre as forças. Desta maneira, também poderemos entender que o papel dos mitos estão presentes para que o próprio Homem se torne melhor. A luta é travada com o

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FLG 0114 – Mudanças ClimáticasGlobais e Implicações Atuais

Disciplina Ministrada pelo Prof. Dr. RicardoContribuição especial de Daniela de Souza Onça

– O Poder do Mito e da Mídia –

1 – Introdução

Neste resumo de aula, apresentou-se alguns dos principais aspectos daMídia, primeiramente de forma geral e depois no que se refere ao principal temado curso: “aquecimento global”.

Abordou-se alguns aspectos do mito e seu poder, muito bem discutidospelo Prof. Joseph Campbell em diversas de suas obras como “O Poder do Mito”,literaturas que se tornam obrigatórias na Academia para aqueles que queremcompreender melhor o tema. Em outro aspecto, a discussão principal deste textofoi realizada pela Profª. Daniela Onça que gentilmente contribuiu com grandeparte das argumentações, tema que foi estudado por esta autora.

2 – O Mito

O mito tem seus aspectos singulares, já que é intrínseco ao ser humano eestá presente em seu ser. Pode-se entendê-lo como uma característica que apareceem cada cultura, mas também está relacionado com o Dasein do ser vivente,dentro de uma Geografia. Figurativamente, pode ser expresso na imagem de umherói que irá padecer de todos os “pecados da humanidade”. Este personagem élevado a trama como herói de duas maneiras muito distintas: na primeira, ele seráconduzido por algo ou alguém, que abusando da curiosidade, característicapeculiar e acentuada do Homem, cairá em uma armadilha. Neste caso, terá quetirar forças para surgir o herói que está adormecido dentro de seu âmago. Nasegunda opção, o personagem é apresentado a uma situação de risco e faz aescolha de ser o herói salvador, voluntariamente, ou seja, de forma consciente.

Em ambos os casos do surgimento do herói, a jornada a qual se disporãotambém tem um roteiro em comum: saem da luz, situação que representa orelativo controle, ou o equilíbrio e mergulham nas trevas, situação representadapelo abismo, pela queda, onde figurativamente aparecerão os dragões ou então, ointerior da baleia (o herói é engolido por ela). Neste caso, estão expressas assituações de desequilíbrio que precisam rapidamente serem corrigidas. No clímaxda luta, o personagem vence e é resgatado, vitorioso, personificado em toda aplenitude da glória do herói. Há o retorno do equilíbrio entre as forças.

Desta maneira, também poderemos entender que o papel dos mitos estãopresentes para que o próprio Homem se torne melhor. A luta é travada com o

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dragão que está adormecido dentro de cada ser humano. Com isto, os mitospodem ter o papel de elevar o ser humano a um nível de consciência.

Atualmente, os mitos estão presentes em praticamente tudo. Podem sepersonificar em outras formas, desde os religiosos até os “científicos”. Isto nosleva a uma questão que servirá de exemplo para o assunto abordado nadisciplina: surge um grande “vilão” e a sociedade precisa se organizar“voluntariamente” para derrotar o inimigo.

Contudo, neste texto queremos apenas chamar a atenção sobre o poder domito. Neste caso, como os mitos conseguem trazer à luz e expressar nossosanseios e medos, glorificar nossas virtudes e vontades, eles têm um papelfundamental no processo de humanização, muito bem explanados pelo Prof.Campbell: “Se vocês querem realmente ajudar este mundo, então precisamensinar a como viver nele”.

3 – Histórico da Mídia

Nos primórdios, a mídia era representada pelos periódicos. A primeirapublicação periódica foi a Efemérides, dos antigos gregos, que esteve mais paraalmanaque do que jornal. Em 69a.C. surge a Acta Diurna Populi Romani, emRoma, criada por Júlio César com o intuito de divulgar os grandes feitos doImpério e as diversas informações de caráter corriqueiro e especial. Na China, em1041, Pi-ching, elaborou o primeiro artifício para impressão que permitiupublicações com tipos móveis de argila, imersos em tinta e prensados em papel.Bem mais tarde, Gutemberg, em 1440, aperfeiçoou o artifício, usando tipos dechumbo, nascendo a primeira impressora que revolucionou todos os métodos dedivulgação de notícias. Desta maneira, surge a imprensa, no século XV, mas osprimeiros impressores precisavam viajar muito e as publicações eram irregulares.Notem que não havia o termo jornalista. Só em 1605, aparece o NieuweTijdinghen, de Antuérpia (Bélgica) como um jornal regular. Contudo, o primeiroperiódico jornalístico foi o Frankfurter Journal, lançado em 1615 por EgenolfEmmel, na Alemanha.

As informações eram trocadas por cartas e malotes postais, o que geravaum atraso considerável. Só em 1622, doze impressores de Londres, Países-baixose Alemanha combinaram uma troca sistemática de notícias. No mesmo ano surgeo Weekly News que conseguia publicar notícias estrangeiras. No século XVIII, asnotícias começam a se espalhar pelo mundo todo. Em 1704, aparecia o BostonNews Letter. Em 1808, surgiu o primeiro jornal brasileiro, Correio Brasiliense. Odisparate é que o jornal surgiu em Londres! Somente depois surge no Brasil aGazeta do Rio de Janeiro.

Os jornais surgem no mundo inteiro, e torna-se fundamental a troca deinformações mais rápidas. Esta troca que primeiramente era por correspondênciade correio, ligada a UPU (único órgão que funciona inclusive em condição de

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guerra) será aprimorada, em 25 de maio de 1844, por Samuel Morse, quedespacha a primeira mensagem telegráfica, iniciando uma nova era decomunicação. É interessante notar que isto ajudou muito a Meteorologia na trocade informações, contribuindo para que surgissem as primeiras idéias dassituações sinópticas da atmosfera (Hann e os despachos realizados pelo códigoSYNOP).

Um segundo melhoramento viria mais tarde com a primeira rotativaeficiente de impressão rápida, em 1847, criada por Richard M. Hoe, doPhiladelphia Public Ledger. Em 1848, forma-se a primeira agência de notícias.

A seguir, uma lista de eventos que contribuíram para o aprimoramento daMídia:

• Em março de 1876, Grahan Bell patenteia o telefone;• Em 1915, incorpora-se a radiotelegrafia na imprensa, pela Alemanha;• Em 1919, surge a notícia cinegráfica;• Em 1920, surge a radiodifusão de notícias;• Em 1960, aparecem a radiodifusão em TV, o TELEX e as radiofotos;• Em 10 de julho de 1962, o satélite Telstar I consegue transmitir imagens e

telefonia entre América e Europa;• Em 1966, o satélite Intelsat transmite em cores e 5000 telefonemas

simultâneos.

Com a televisão e o surgimento da câmera portátil, não há mais limites e aimprensa alcança qualquer lugar. Consegue manipular opiniões com as suasimagens dramáticas como a guerra do Vietnam, 1968-1975 (Fig.1)

Fig.1: A guerra do Vietnam foitransmitida para os lares dosestadunidenses e ao resto do mundo.Foi considerada a “guerra dohelicóptero”, já que este veículo deugrande mobilidade às tropas. Hojeconsidera-se que seu único objetivofoi salvar a Bell Helicopters dafalência. Para isto, milhares de vidasde ambos os lados foram sacrificadasem prol da Guerra Fria e ideológicaque nunca existiu (fonte: VEJA,2008).

Com o advento da internet, já muito testada pela IBM nos anos de 1980, omundo tornou-se pequeno e as notícias se espalham quase que instantaneamente.Contudo, a emissão das notícias provém de pouquíssimos centros de distribuição,conhecidos como “Agências de Notícias”.

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A primeira agência de notícias surgiu em 1848, conhecida por New YorkAssociated Press na qual participavam seis jornais estadunidenses. Em 1892surgiu a United Press, que aliou-se com a anterior e cobria todos os E.U.A. quelogo a seguir, começou a trocar notícias com outras agências internacionais. Em1915, os alemães fundaram a Transocean (com rádio e radiotelegrafia). Após aSegunda Guerra Mundial surgiu a France Presse. Até o final do século XX, asprincipais agências eram AFP (França), ANSA (Itália), AP e UPI (E.U.A.), DPA(Alemanha), Tass (Soviética), Reuters (Inglaterra) e Latin (consórcio entrejornais latino-americanos). Atualmente, cerca de apenas quatro agências cobremtoda a distribuição de notícias do mundo, em comum acordo para não gerardiscrepâncias das informações. Deve-se lembrar que a Reuters destacou-se detodas as demais, permanecendo como líder e distribuindo as informações comauxílio da internet. Com isto, temos um poder concentrado o que nos faz lembrarda máxima: O Poder total leva ao corrompimento total.

Desta maneira, deixamos aqui descrita a missão que a Imprensa deveriasempre seguir: Informar ao público, com total imparcialidade, os acontecimentosou eventos e seus os fatos, antecedentes ou causais, com a maior veracidade etransparência possível, não devendo se omitir as questões de qualquer natureza,dentro de uma premissa maior de controle, ou seja, a ética.

4 – A Mídia Atual

Atualmente, o que vemos na Mídia é uma coleção de opiniões. Os jornaissão cobertos por colunistas que se dizem “especialistas” em algum assunto e dali,discorrem sobre qualquer coisa, com uma profundidade um tanto errática, em boaparte dos casos. Perpetuam notícias e informações, tirando conclusões, formandoopiniões de coisas que nem sabem ou leram direito. Estas conclusões, na maioriadas vezes não tem nenhum significado. Quando isto não acontece, fica evidente opartidarismo de certa causa, o que fere integralmente o papel a qual foi designadapor natureza. No caso específico de “mudanças climáticas”, o tema recorrente decertos colunistas nada mais é do que a tentativa de manterem seus empregos emmeio ao caos da histeria que nos cerca. Devemos olhar isto com cuidado.

Também levanta-se a hipótese dos que acreditam que a mídia não temculpa. Esta culpa deveria ser atribuída àqueles que lhe fornecem as informações eaos omissos: Os especialistas de uma certa área bombardeiam os jornais e asredes de televisões com a sua corrente de pensamento e de lá, assumem completocontrole da situação perante a opinião pública. Os dissidentes ficam sem vez dedeclarar suas posições ou lanças as dúvidas do que se está propondo. Mas a piorparte vem daqueles especialistas, uma imensa maioria da mesma área, que fingeque nada acontece e se OMITE, aguardando para ver “no que vai resultar asituação”. Um exemplo é a própria Climatologia, nestes tempos de “mudançasclimáticas globais catastróficas”. Um exemplo perfeito da histeria que nos cerca(Fig.2).

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Fig.2: Esquema pictórico geral que pode ser aplicado em todas as áreas do conhecimento humano.Os “especialistas” formadores de opinião pública, normalmente catastrófica, atuam na Mídia, masos dissidentes praticamente não tem vez. Uma grande maioria se omite, permanecendo longe oualheia às discussões. Estas situações já aconteceram antes e continuam a acontecer (fonte: Autor).

Conclui-se este tópico com a indagação de que se a Mídia, fosse cumprir asua missão, deveria por OBRIGAÇÃO:

• Levantar todas as hipóteses de um CASO;• Cobrir constantemente os debates e as discussões entre ambas as partes;• Manter o canal de comunicação aberto para as respostas destas partes

ambíguas após os questionamentos;• Manter a imparcialidade e não trabalhar os textos e as imagens de maneira a

mandar mensagens subliminares opinativas de apoio.

5 – O Poder da Mídia

As estratégias bem executadas de marketing conseguem efeitosimpressionantes das mentes mais desavisadas: o poder da imagem, uma músicamarcante e um texto bem elaborado.

Se os temas conseguirem apoio do governo, ou a Mídia servir ao governo(apoiado por interesses) então haverá completo comprometimento dasinformações.

Nestes termos, gera-se a necessidade de formar um trabalho investigativodas áreas Físicas e Humanas (dicotomia apenas com fins didáticos) e elaborar asíntese final do objeto investigado. Não se verifica, nas atribuições pertinentes àssociedades, um elemento que faça este papel com melhor entendimento ediscernimento das questões que não seja o geógrafo. Mesmo entendendo que aGeografia Crítica tenha atenuado nos dias contemporâneos, este aporte apareceainda com mais lucidez nesta Ciência.

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6 – Discussão sobre a Mídia

Neste capítulo, apresentamos a extensa discussão sobre a Mídia, elaboradapela Prof. Daniela Onça. São levantados diversos temas que servem para ilustrarou explicar as relações intrínsecas, com abordagem mais profunda que o assuntonecessita. Os exemplos de “Mudanças Climáticas” foram obtidos da revistaVEJA.

6.1 A Mídia é Polifônica?

A expressão “meios de comunicação de massa” se refere a um conjunto derecursos tecnológicos que possibilitam a comunicação entre as massas. A históriada evolução desses meios mostra que eles se desenvolvem no sentido de permitira dispersão de mensagens com uma velocidade cada vez maior e para um númerocada vez maior de pessoas. Quando surgem, são privilégio das classes maisabastadas – o rádio na década de 30, a televisão na década de 50, a internet nocomeço da década de 90 –, porém o barateamento de tais tecnologias, causa econseqüência de sua expansão, põe-nos à disposição de enormes fatias dapopulação de um país.

Os meios de comunicação de massa constituem-se em poderososinstrumentos de homogeneização de uma sociedade. Dados seus elevadosalcance e velocidade, reduzem-se as diferenças de gostos, valores e hábitos decompra entre as diversas regiões e classes sociais. A informação atinge todos osrincões, porém “a ignorância pode tornar-se padronizada, quando os meios decomunicação espalham pelo mundo imagens inexatas e incompletas”1.

A indústria cultural2 pode ser desenvolvida tanto pelo Estado quanto pelainiciativa privada. Em ambas as instâncias, existe o interesse de se atingir omaior público possível, com a finalidade de maximizar o lucro e agradar aopúblico, no caso do sistema privado, e propagar ideologias no caso do Estado,função mais importante em épocas de governos totalitários.

A indústria cultural é estruturada de maneira concentrada: grandes grupos,em pequeno número, concentram em seu poder o aparelhamento e dominam ascomunicações de massa. Além da concentração técnica, ocorre uma concentraçãoburocrática da informação jornalística, sempre submetida às filtragens de umredator-chefe e suas considerações.

Morin afirma que essa padronização característica da produção industrialem larga escala de bens culturais convive com uma necessidade radicalmenteoposta, a da produção de novidades. A indústria cultural vive, assim, em umaconstante contradição entre a necessidade de manter o padronizado, garantia de

1 McDavid; Harari.(1980), p. 363-364.2 Morin, in: Martins, Foracchi (1994), p. 299.

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sucesso porque repetição de sucessos anteriores, e revelar o original, garantia deum novo sucesso. Diariamente a grande imprensa busca o novo, o acontecimentorelevante, a notícia. “Essa conexão crucial se opera segundo equilíbrios edesequilíbrios. A contradição invenção-padronização é a contradição dinâmica dacultura de massa. É seu mecanismo de adaptação ao público e de adaptação dopúblico a ela. É sua vitalidade”3. O jornalismo é também absorvido pela lógica daprodução industrial, com divisão e planificação do trabalho em todos os estágios:planejamento, produção, distribuição, estudos de mercado. É a essaracionalização da produção jornalística que corresponde a padronização dainformação.

Morin deixa transparecer a idéia, enfim, da existência não só daspossibilidades do original, do individual, do criativo, como de uma espécie deequilíbrio dinâmico entre as lógicas padronizadora e inovadora da indústriacultural. Conforme veremos mais adiante, este ponto de vista esbanjaingenuidade:

“A divisão do trabalho, porém, não é, de modo nenhum,incompatível com a individualização da obra (...). A padronizaçãoem si mesma não ocasiona, necessariamente, a desindividualização(...) [como exemplo, o autor cita os nomes de diversos filmeswestern norte-americanos]. Em outras palavras, a dialéticapadronização-individuação tende freqüentemente a se amortecer emuma espécie de termo médio”4.

E, mais adiante:

“a liberdade de jogo entre padronização e individualização lhepermite [ao autor] às vezes, na medida de seus sucessos, ditar suascondições. A relação padronização-invenção nunca é estável nemparada, ela se modifica a cada obra nova, segundo relações deforças singulares e detalhadas”5.

É claro que existe a possibilidade de o autor estar sendo irônico e minhaleitura não ter alcançado uma compreensão adequada; particularmente, nãoacredito que alguém em pleno gozo de suas faculdades mentais possa enxergarno mundo da indústria cultural a mais tênue possibilidade do exercício de umagenuína criatividade ou de escape aos padrões.

Ao contrário de Morin, Adorno não acredita em qualquer possibilidade deoriginalidade no mundo da indústria cultural6. Tudo é sempre idêntico, variando-se apenas pequenos detalhes, que em absoluto não alteram coisa alguma. A

3 Morin, in: Martins, Foracchi (1994), p. 303.4 Morin, in: Martins, Foracchi (1994), p. 304-305.5 Morin, in: Martins, Foracchi (1994), p. 306.6 Na obra de Adorno, a expressão “indústria cultural” adquire um sentido que beira o baixo calão.

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mesmice recebe uma maquiagem nova a cada temporada, garantindo suaaceitação e perpetuando a ilusão da concorrência e da liberdade de expressão. Alógica da fábrica, da produção em série, é transportada para o mundo da cultura;qualquer nota destoante não tem sequer a oportunidade de se revelar. Tudo sãoclichês e pérolas de sabedoria repetidas à exaustão. Nas palavras de Adorno:

“A compulsão permanente a produzir novos efeitos (que, noentanto, permanecem ligados ao velho esquema) serve apenas paraaumentar, como uma regra suplementar, o poder da tradição ao qualpretende escapar cada efeito particular. Tudo o que vem a públicoestá tão profundamente marcado que nada pode surgir sem exibirde antemão os traços do jargão e sem se credenciar à aprovação aoprimeiro olhar”7.

A transformação da população em massa, afirma Mills8, foi uma dasprincipais tendências da sociedade urbano-industrial moderna e provocou umcolapso do otimismo das idéias dos pensadores do século XIX, que acreditavamque a ignorância e a irracionalidade generalizadas seriam erradicadas por meio dadifusão da educação; tudo era apenas uma questão de tempo. Porém, já emmeados daquele século, podem ser notados indícios de massificação: as formasindividuais ou de pequenas comunidades de vida econômica e política começama ser substituídas pelas formas coletivas; surgem movimentos organizados emtorno do ideal de lutas de classes; as discussões racionais interpessoais sãoofuscadas pela autoridade de peritos emergentes ou por argumentaçõesabertamente tendenciosas; e descobre-se a eficiência do apelo irracional aocidadão.

Mills aponta as principais características que definem uma sociedade demassas:

1- O conjunto de públicos se torna uma coleção abstrata e disforme deindivíduos, cujas impressões sobre o mundo provêm dos meios decomunicação de massas, sendo que o número de pessoas que por eles falaé muito menor do que o número de receptores da mensagem;

2- É alto o nível de organização das comunicações predominantes, demaneira que é difícil ou impossível a um indivíduo oferecer uma respostaà mensagem imediatamente ou com alguma eficiência;

3- A colocação da opinião em prática é controlada pelas autoridadesorganizadas dos canais de tal ação;

4- Não existe autonomia em relação às instituições; pelo contrário, adependência é acentuada.

7 Adorno & Horkheimer (1985), p. 120. Escolhemos este trecho, mas todo o capítulo é dedicado ademonstrar que a indústria cultural não passa de um negócio e dentro dela não há possibilidades derenovação.8 Mills, in: Martins, Foracchi (1994), p. 309.

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A maneira mais simples de se identificar uma sociedade de massas éatravés do tipo de comunicação predominante: é o veículo formal, do qual amassa é somente “a coletividade de pessoas passivamente expostas aos meios decomunicação em massa e indefesamente sujeitas às sugestões e fluxos dessesmeios”9. Ocorre uma substituição, em todas as instâncias, de pequenos poderesdispersos por poderes concentrados e inacessíveis, ao mesmo tempo em que setornam menos políticos e mais administrativos.

O homem da massa não experimenta qualquer sentimento de participaçãopolítica, pois a distância e a diferença de tamanho entre seu raio de influência e odos líderes efetivos é tão gritante que lhe confere total impotência. Aadministração é vinda do alto, sendo praticamente impossível uma intervençãoem sentido contrário. As verdadeiras unidades de poder estão encarnadas nagrande empresa, num inacessível governo e no setor militar. Bem abaixo, estãoas pessoas e sua cotidianidade, não existindo entre esses dois extremosorganizações intermediárias realmente efetivas, onde os homens possamexperimentar seu poder de ação. Mesmo que surjam tais organizações, atendência é que ou elas se desintegrem, definhem, esmagadas pelos grandespoderes, ou sejam por eles incorporadas, tornando-se mais um instrumento decontrole.

Conforme as instituições se centralizam, intensificam-se os meios de seinfluenciar a opinião pública. Mills cita dois instrumentos antes desconhecidos,mas de um alcance de manipulação psíquica formidável: a educação universalcompulsória e os meios de comunicação de massa.

Em um primeiro momento, alguns observadores acreditaram que aampliação do alcance dos meios de comunicação seria muito útil para difundirinformações e idéias, multiplicando o ritmo e o alcance do debate pessoal.Mentes seriam abertas, mal-entendidos entre correntes de pensamento seriamdesfeitos, em suma, tais instrumentos foram considerados emancipatórios, umestímulo ao desenvolvimento da discussão democrática e racional.

É difícil descrever todas as funções dos meios de comunicação de massaou os efeitos que tiveram sobre as sociedades desde o início de sua disseminação,pois eles por vezes possuem atributos muito penetrantes e, na mesma medida,sutis. Entretanto, temos boas razões para desconfiar que os meios decomunicação prestaram-se menos à ampliação de debates do que à massificaçãoda sociedade. Consideremos primeiro a violenta distância e diferença quantitativaentre os emissores e receptores da mensagem, que praticamente impossibilitauma resposta, comprometendo assim a própria idéia de comunicação. Essesmeios também se prestaram a uma padronização de nossos órgãos sensoriais.Consideremos, por exemplo, como são estruturados os telejornais. Cada notíciadura um, dois, três minutos no máximo. Anuncia-se o fato, mostram-se rápidasimagens, quando disponíveis, sem maiores considerações críticas, e já se passa 9 Mills, in: Martins, Foracchi (1994), p. 312

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para outra notícia completamente diferente, em geral futebol, vida dos famosos,assuntos bastante engajados, enfim. Ocorre um desestímulo à reflexão. Notíciasexibidas em blocos rápidos proporcionam um pensamento fragmentado esuperficial. Não se percebe a conexão entre os fatos e nem se reflete sobre eles.Ao término do telejornal, quem se lembra qual foi a primeira notícia? Isso semconsiderarmos o efeito dos intervalos comerciais. Após um bloco de notíciasquaisquer, somos bombardeados por comandos de consumo, eles também muitorápidos e em seqüência. A estrutura dos programas de televisão é elaborada demodo a não permitir uma reflexão sobre o existente, chegando a alterar o padrãode funcionamento de nosso raciocínio. Se os seres humanos já possuem umapredisposição para não se concentrar numa determinada tarefa por mais dequarenta minutos, a televisão programa nossas mentes para funcionar em blocosainda menores, de quinze ou vinte minutos. Como conseqüência, tarefas quedemandem um tempo de concentração mais longo, como a leitura de um livro,tornam-se fatigantes e aborrecidas. A reflexão sobre o existente fica prejudicada.

Mills, porém, diz que acima de todos esses efeitos colaterais está o que eledenomina “analfabetismo psicológico”, sobre o qual falaremos agora.

A imensa maioria dos conhecimentos que temos sobre o mundo nãoprovém de estudos sistemáticos ou de contato direto com a realidade. Esseconhecimento é produto das comunicações de massa, de uma maneira tãodecisiva que muitas vezes não acreditamos no que vemos à nossa frente enquantonão lermos no jornal ou virmos pela televisão um comentário a respeito. Osmeios de comunicação de massa não se limitam a transmitir informações; elesorientam nossas experiências. Nossas visões de mundo, aquilo em que cremos ounão cremos, em última instância, não é determinado por nossas vivênciaspessoais, mas sim pelos recortes e ideologias transmitidos pela mídia. Mesmoque um sujeito atravesse uma experiência pessoal, ela não poderá ser ditaestritamente pessoal, pois está organizada em torno de padrões e clichêspreviamente estabelecidos.

Qualquer tipo de “experiência direta” não será aceita caso contrariefidelidades e crenças que o sujeito já tenha incorporado. Para ser aceita, talexperiência deverá confirmar, justificar ou reconfortar as características básicasde sua filiação ideológica. É oportuno lembrar que não somente a mídia cumpreessa função de estabelecer sistemas ideológicos que mediatizem as experiênciashumanas. Partidos políticos, instituições religiosas, qualquer aparelho ideológicopossui esse perfil.

São os clichês estabelecidos que determinam a aceitação ou rejeição deopiniões específicas, não pela sua coerência lógica, mas pelo seu poderemocional, pelo alívio de ansiedades. “Aceitar opiniões em seus termos éconseguir o bom sentimento sólido de estar certo sem ter que pensar”10. Por meiodessa ligação entre clichês ideológicos e opiniões específicas, reduz-se a 10 Mills, in: Martins, Foracchi (1994), p. 317.

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ansiedade provocada por eventuais contradições: como os clichês levam a umdesejo de aceitar certa linhagem de pensamento, não existirá uma necessidade desuperar resistências a itens dessa linhagem. Assim, esse tipo de acúmulo deseleções de opiniões e sentimentos passa a enformar as atitudes e a visão demundo do sujeito. O conjunto de convicções assim adquiridas formam um filtroentre o homem e o mundo, condicionando a aceitação/rejeição de opiniõesespecíficas e orientando as atitudes a serem tomadas. Mills acredita que o sensocomum estabelecido nesses moldes “é mais comum do que senso”11 e que, paraas gerações seguintes, o senso comum será antes o resultado dos clichêstransmitidos pela mídia do que qualquer tradição social firme.

Mills põe em dúvida a idéia de uma autêntica concorrência entre os meiosde comunicação de massa. Será que as pessoas comparam os diferentes meiosentre si? O autor diz que não, por dois motivos básicos. Primeiro, porque aintrojeção de clichês que vínhamos discutindo é um processo auto-alimentador:as pessoas tendem a escolher os meios de comunicação com os quais seidentificam melhor, ou seja, aqueles que confirmam as opiniões pré-estabelecidas. Ninguém parece estar disposto a buscar contra-exemplos emoutros meios. Segundo, porque a idéia de concorrência pressupõe a idéia devariedade; comparar os diferentes meios pressupõe ter algo a comparar. Jávimos, com Adorno, que aquilo que se apresenta como variado é apenas umarepetição do mesmo, apenas com uma maquiagem de novas nuances. A aparentevariedade, num exame mais detalhado, não revela mais do que pequenasvariações sobre temas padronizados.

O poder de infiltração dos meios de comunicação de massa, entretanto,não se esgota na determinação das experiências externas: eles determinamtambém as internas. Definem nossa personalidade. Proporcionam novasidentidades, aspirações e valores. Criam a ilusão de estarmos ligados a gruposmaiores – pouco importando se são reais ou imaginários –, espelhos da auto-imagem que forjaremos a partir de então. A mídia diz ao homem quem ele é, oque deseja ser, como chegar lá e como se consolar se não chegar. Entrega asfórmulas de desenvolvimento do ser humano, sem no entanto esclarecer que sãofalsas fórmulas de um falso desenvolvimento de falsos seres humanos.

Da maneira como estão estruturados, os meios de comunicação de massadestroem, ao invés de estimular, o debate interpessoal, o intercâmbio de opiniõesem todos os níveis. “Esta é uma das importantes razões pelas quais eles falharamcomo força educacional, mas existem como força maligna”12. Fornecem umaquantidade enorme de informações e notícias sobre o que ocorre pelo mundo,mas não mostram ao público as relações entre os fatos, nem entre estes e a vidaquotidiana, os problemas enfrentados por cada um de nós. Não aumentam nossapercepção das tensões da sociedade. Ao invés disso, procuram nos distrair,desviar nossa atenção para a importância de acontecimentos absolutamente 11 Mills, in: Martins, Foracchi (1994), p. 317.12 Mills, in: Martins, Foracchi (1994), p. 318.

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irrelevantes. Perdemos tempo e neurônios tentando desvendar quem é o assassinoda novela das oito, dinheiro e saúde tentando atingir padrões de beleza possíveisapenas para as dançarinas de axé, argumentações sobre quem é o melhor jogadorde futebol do mundo e exercitando uma patética democracia votando em quemdeve deixar a casa do reality show. Enfim, os meios de comunicação de massaofuscam qualquer oportunidade de compreender o mundo e de emancipar-se, soba hipócrita alcunha de entretenimento e cultura popular.

“Os meios de comunicação em massa dizem coisas exageradas econtraditórias, banalizam sua mensagem e se anulam mutuamente”13. De fato,mas deve-se compreender a palavra contraditórias com relação à realidade14,nunca com relação aos meios de comunicação de massa entre si. “Pois a culturacontemporânea confere a tudo um ar de semelhança. O cinema, o rádio e asrevistas constituem um sistema. Cada setor é coerente em si mesmo e todos o sãoem conjunto”15. Daí a padronização da mensagem.

A grande velocidade e solidez com que se dá a formação do consensosocial pela mídia possui ainda outra componente. A persuasão dos meios decomunicação de massa não teria tanta força se fosse assim tão impessoal. Énecessário atingir as pessoas no contexto em que vivem e, de preferência, pormeio de outras pessoas, dos companheiros cotidianos, nos quais é mais seguroconfiar. Assim, a manipulação ganha uma nuance mais pessoal e, por isso, maisdifícil de se resistir, mais sutil. O público consumidor da grande imprensa – nãodas bobagens citadas acima, mas da que pretensamente discute ciência, política eeconomia – não é exatamente a grande massa, mas uma camada mais restritadesta, de classe média ou alta, mais instruídos do que a média da população. Sãoempresários, profissionais liberais e (é necessário dizê-lo) professores, ochamado público formador de opinião. São eles que tomam um contato maisaprofundado com a informação, absorvem-na, refletem sobre ela e completamsua difusão para seus empregados, clientes e alunos.

A educação universal, conforme já foi citado, tornou-se também umveículo de massificação. Aquilo que deveria ser um instrumento de emancipaçãodo ser humano e de transformação da sociedade não passa hoje de educaçãovocacional, abertamente voltada para o simples ensino de técnicas econformismo feliz com a realidade, apontando os caminhos não para modificá-la,mas para nela se destacar. As instituições educacionais bloqueiam a transmissãode valores e, no lugar deles, desenvolvem apenas habilidades úteis para a futuraadaptação da criança ao mercado de trabalho, haja vista a disseminação deescolas infantis que incluem em sua grade curricular disciplinas comoinformática, espanhol e inglês. Seu intuito não é formar uma criançacosmopolita, apta a compreender a diversidade cultural do mundo, mas simprepará-la desde muito cedo para se destacar no mercado de trabalho

13 Mills, in: Martins, Foracchi (1994), p. 319.14 Mas podemos mesmo falar em realidade num mundo onde tudo é falso?15 Adorno & Horkheimer (1985), p. 113.

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extremamente competitivo que futuramente enfrentará. Obviamente, não são ascrianças que escolhem estas escolas, mas seus pais, o que demonstra que aeducação emancipadora já está impossibilitada desde seu berço. A educaçãolibertadora perde importância em favor dessa adaptação, a ponto de os estudantesque concluem o ensino médio no Brasil terem a oportunidade de saber se foramsuficientemente bem adestrados prestando um exame que avalia as“competências e habilidades” adquiridas, se aprenderam a ler, escrever, fazercontas e executar pequenos comandos. Isso tudo será muito útil para sua futuravida profissional – ler, escrever, fazer contas e executar pequenos comandos étudo de que necessitam saber –, desde que, juntamente com esse pacote, nãotenha vindo o aprendizado do questionamento da ordem estabelecida.

Se o problema parasse por aqui, já seria um quadro desesperador, mas eleé piorado quando se forma o binômio educação-comunicação de massa. Osprofessores empregam as matérias publicadas pela mídia como instrumento detrabalho, como material de preparação para suas aulas. Se a mídia afirma que oplaneta está esquentando, esta deve ser uma informação importante – docontrário, não seria notícia –, deve ser verdade – do contrário, não seria veiculadapor uma revista de renome –, portanto, deve ser repassada aos alunos. Deveconstar da apostila do cursinho em sua próxima edição, e aquele que ousarcontrariar a informação contida ali será acusado de falta de ética com os outrosprofessores, por discordar deles diante dos alunos. Deve ser trabalhada em salacomo parte importante do processo de aprendizado, as atualidades; um aluno quesabe apenas armazenar informações não é o mais propenso a se dar bem na vida,mas sim aquele que, além disso, sabe o que vai pelo mundo, e não dispensa essavaliosa fonte de conhecimento que é a mídia. Se o planeta está esquentando, cabeàs crianças, a geração do futuro, pressionar e trabalhar pela reversão dessequadro. Elas devem ser doutrinadas pelos dogmas estabelecidos, poucoimportando se são ou não verdadeiros. É através desses professores, dessasescolas, desse sistema educacional que as crianças têm seu adestramento a cadadia mais aperfeiçoado, mais compatível com as necessidades de uma sociedadeemburrecedora. Por isso, é necessário tomar muito cuidado com atitudes guiadaspela romântica filosofia do “só a educação é o caminho”, “a educação ambientalé a chave para o fim da devastação”, e por aí afora. Se for deste modelo deeducação que estamos falando, não sei de onde tirar esperanças.

Sabemos que a esmagadora maioria das pessoas tem como principal fontede informação o jornalismo, largamente empregado na divulgação das questõesambientais da atualidade. Surge, então, um ramo chamado “jornalismoambiental”, definido da seguinte maneira por Bacchetta:

“ O jornalismo ambiental considera os efeitos da atividadehumana, a partir da ciência e da tecnologia em particular, sobre oplaneta e a humanidade. Deve contribuir portanto à difusão detemas complexos e à análise de suas implicações políticas, sociais,culturais e éticas. É um jornalismo que procura desenvolver a

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capacidade das pessoas para participar e decidir sobre sua forma devida na Terra, para assumir definitivamente sua cidadaniaplanetária”16.

O autor segue apresentando outra definição semelhante, segundo a qualjornalismo ambiental é o tratamento dispensado pelos meios de comunicação demassa aos temas relacionados ao meio ambiente, constituindo-se assim em umdos ramos mais amplos e complexos do jornalismo, na medida em que estabelecerelações entre diversos campos do conhecimento. Justamente por isso, ele exigeuma ampla formação e domínio de tais campos.

Ainda segundo este mesmo autor, tenta-se por vezes classificar ojornalismo ambiental como um ramo do jornalismo científico, porém essaclassificação não pode ser considerada ideal porque o jornalismo ambiental nãose limita a expor os problemas ambientais de um ponto de vista puramentenatural, mas também suas implicações políticas e éticas, sobre as quais a ciênciamoderna, pura, não é capaz de emitir julgamentos. O jornalismo ambiental deve,assim, estar em condições de questionar os valores culturais vigentes.

Ao ler e escrever estas linhas, confesso ter ficado sem reação. O grau daingenuidade é tamanho que, fazendo meu o pessimismo adorniano, não acreditoexistir solução para a demência daqueles que, diante de todas as evidências,ainda acreditam que o jornalismo possui algum resquício de propriedadeemancipadora. Mas vamos em frente, tentando dar mais um argumento aos queacreditam nessa possibilidade.

Mora17, discutindo a divulgação popular de novas idéias científicas,comenta o quanto é raro encontrar um cientista que dedique parte de seu tempo àampla divulgação de suas descobertas, cabendo esta tarefa, nos dias atuais, aojornalista. Para este, porém, mais importante que o conteúdo da mensagem éfazê-la chegar às massas, preferencialmente transformando-a numa matéria deimpacto. Diante desse quadro, a autora sugere a atuação de uma espécie de“crítico da ciência”, como um intermediário entre o cientista e o público leigo,atuante nos meios jornalísticos e de divulgação. Seria um profissional quereuniria o conhecimento científico às altamente complexas habilidades dalinguagem da comunicação de massa. Ao final, a autora dá a esse divulgadorprofissional o título de “ser mítico”, porque deveria reunir capacidades quenormalmente não andam juntas: “a boa escrita e o conhecimento amplo daciência”18.

Concordamos com a autora quanto ao título de “ser mítico” ao crítico daciência, mas não pelas duas capacidades supostamente incompatíveis que deveriareunir. Quando a divulgação científica se faz por meio do texto jornalístico, boa

16 Bacchetta (2000), p. 18.17 Mora (2003), p. 33-35.18 Mora (2003), p. 34.

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escrita é um elogio descabido. A autora, porém, faz relativizações, afirmando quenão está descartada a possibilidade de existência de jornalistas sérios epreparados no ramo da divulgação científica. Muito embora não acreditemosrealmente nessa possibilidade, façamos uma concessão e imaginemos umjornalista “sério e preparado”, interessado em proceder a uma divulgaçãocientífica de qualidade. Cedo ou tarde, no entanto, ele se deparará com algumasnormas da profissão, institucionalizadas ou tradicionais. Exporemos aqui comoexemplo algumas instruções de redação jornalística retiradas do Manual deredação e estilo do jornal O Estado de S. Paulo19, mas que também podem serverificadas em outros veículos da imprensa brasileira (grifos no original).

1) Seja claro, preciso, direto, objetivo e conciso (...). Não é justo exigir que oleitor faça complicados exercícios mentais para compreender a matéria.3) A simplicidade é condição essencial do texto jornalístico (...).4) (...) Dispense os detalhes irrelevantes e vá diretamente ao que interessa, semrodeios.5) (...) fuja, isto sim, dos rebuscamentos, dos pedantismos vocabulares, dostermos técnicos e da erudição.8) Tenha sempre presente: o espaço hoje é precioso; o tempo do leitor, também.Despreze as longas descrições e relate o fato no menor número possível depalavras (...).10) (...) Adote como norma: os leitores do jornal são pessoas comuns, quandomuito com formação específica em uma área somente.11) Nunca se esqueça de que o jornalista funciona como intermediário entre ofato ou fonte de informação e o leitor (...).20) Faça textos imparciais e objetivos. Não exponha opiniões, mas fatos, paraque o leitor tire deles as próprias conclusões (...).30) A falta de tempo do leitor exige que o jornal publique textos cada dia maiscurtos (20, 40 ou 60 linhas, em média). Por isso, compete ao redator e aorepórter selecionar com o máximo critério as informações disponíveis, paraincluir as essenciais e abrir mão das supérfluas (...).47) Um assunto muito atraente ou importante resiste até a um mau texto. Não há,porém, assunto mediano ou meramente curioso que atraia a atenção do leitor, se amatéria se limitar a transcrever burocraticamente e sem maior interesse os dadosdo texto.

Deixamos uma única pergunta ao leitor: nosso imaginário jornalista sérioe preparado, obedecendo a tais normas, preocupadas em encurtar o tamanho danotícia para não prejudicar o espaço reservado aos anunciantes, obterá sucessoem seu empreendimento de divulgação científica e emancipadora de qualidade?

Não, a mídia não é polifônica.

19 O Estado de S. Paulo, p. 16-21.

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6.2 A divulgação da temática das mudanças climáticas pela revista Veja:

Neste sub-capítulo, faremos um resumo das matérias publicadas pelarevista Veja entre os anos de 1997, quando ocorreu a reunião de Kyoto, até o anode 2006. A grafia de nomes pessoais e geográficos foi mantida20. Durante esseperíodo, três edições estamparam capas sobre o aquecimento global: 18/4/2001,21/8/2002 e 12/10/2005. Se o leitor preferir, pode ler apenas uma ou duas; afinal,são todas iguais...

Veja, 10 de dezembro de 1997Fumaça da discórdia. Conferência no Japão tenta chegar a um acordo sobre oaquecimento global.

A matéria aborda a reunião de representantes de 170 países na cidade deKioto, no Japão, desde a semana anterior, para discutir os rumos das políticas decontenção das mudanças climáticas globais, que podem destruir o planeta dentrode algumas décadas. Ainda não há provas conclusivas sobre as causas e osefeitos do problema, mas sabe-se que a temperatura média do planeta aumentoumeio grau Celsius nos últimos 100 anos e 1997 registrou recordes detemperatura. As opiniões sobre o assunto são diversas, como a de RichardLindzen, do MIT, que afirma que o gelo de muitas geleiras teve início antes daRevolução Industrial, sendo portanto um fenômeno natural. Sabemos que nossoplaneta já assistiu a inúmeras mudanças climáticas para aquecimento eresfriamento, e que podemos estar entrando em mais um ciclo de mudança, queem condições normais só ocorreria no fim do próximo milênio, mas pode estarsendo acelerado pela excessiva emissão de poluentes resultantes da queima decombustíveis fósseis. A posição mais relutante em relação à necessidade deredução dessas emissões é a dos Estados Unidos, que prefere adiá-las para 2012.Mas, apesar da falta de provas científicas sobre o efeito estufa, uma coisa é certa:a reunião de Kioto mostra que a comunidade internacional está mais sensível emrelação à urgência de mitigação dos problemas ambientais da atualidade,diferentemente do caso do buraco na camada de ozônio, causado pela emissãodesenfreada de CFCs, para o qual as providências tomadas demoraram muito achegar.

Veja, 22 de dezembro de 1999O planeta resiste aos ataques. Apesar do desmatamento e da poluição, o mundonão está tão mal quanto se previa.

A matéria faz um balanço otimista dos problemas ambientais do séculoXX e conclui que desenvolvimento não é sinônimo de devastação, pois já foramrealizados grandes avanços pela preservação do meio ambiente. Ainda restam,porém, muitos desafios, sendo um deles o efeito estufa, que fez os últimos 25anos serem os mais quentes da história. Também são fornecidos dados quemostram os avanços e os problemas persistentes. 20 Infelizmente, ainda não foram localizadas as edições de 16/9/1998, 17/5/2000 e 8/8/2001.

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Veja, 29 de março de 2000Está virando água. Aquecimento da Antártica transforma radicalmente ageografia e os hábitos da fauna no Pólo Sul.

A matéria constata uma redução da espessura e da extensão do gelo daAntártica. Desde a década de 40, a temperatura da Península Antártica subiuentre 1,6 e 2,2oC, o suficiente para alterar significativamente a paisagem.Enormes blocos de gelo desprendem-se do continente, o que pode elevar o níveldos mares em 60 centímetros nos próximos 100 anos, mantido o ritmo deaquecimento. Também estão ocorrendo mudanças nos hábitos e no tamanho daspopulações de krill, pingüins e leões-marinhos. Os degelos também são intensosna Groenlândia – que perde um metro de espessura do gelo por ano –, no Ártico– que perde uma Holanda por ano – e nas geleiras das montanhas, todosprocessos auto-alimentadores por conta da redução do albedo. Várias hipótesessão evocadas para explicar todo esse degelo; uma delas é a variação da atividadesolar mas, do acordo com o IPCC, o grande vilão é mesmo o efeito estufacausado pelo lançamento excessivo de dióxido de carbono na atmosfera. Deacordo com José Antônio Marengo, do INPE, há um consenso cada vez maior deque as variações naturais, sozinhas, não explicam o aquecimento. A matéria éconcluída com a idéia de que a participação da poluição no processo deaquecimento do planeta é inegável e que, mantidos os níveis de emissões degases, no século XXI a Terra esquentará mais rápido do que em qualquer outromomento dos últimos 10000 anos.

Veja, 31 de janeiro de 2001Tragédia ecológica. Cientistas de 99 países projetam aumento recorde natemperatura da Terra para o próximo século.

A matéria fala de um estudo realizado por 99 cientistas de diversos países,reunidos em Xangai, segundo o qual a temperatura do planeta poderá aumentaraté 5,8oC até 2100, número que funcionaria como “um estridente apelo contra ascrescentes emissões de dióxido de carbono e outros gases que aumentam o efeitoestufa no planeta”. Mas também foi elaborado um cenário mais otimista, de umaumento de 1,4oC, o que ainda assim é muito. No pior cenário, o nível do marpoderá subir 80 centímetros e, conforme prevê Robert Watson, coordenador doestudo, Bangladesh perderia 18% de seu território. Tais resultados atestam que aprincipal força motriz da mudança climática na Terra é o homem, mas isso estálonge de ser um consenso, pois existe a hipótese de que o sol esteja passando porum período de alta atividade, enviando assim mais energia para a Terra ou de queo planeta esteja passando por mais um de seus ciclos naturais de aquecimento eresfriamento. Richard Lindzen, do MIT, afirma que o degelo do Alasca e daAntártica começou antes da Revolução Industrial, sendo portanto um fenômenonatural sobre o qual o homem não tem controle. Seja como for, o alerta deXangai tem um caráter preventivo e cobra o controle de emissão de gases.

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Veja, 28 de fevereiro de 2001Tempo quente. ONU prevê catástrofes sociais com o aquecimento global.

A matéria trata de um estudo realizado por pesquisadores da ONU,segundo o qual o aquecimento global pode prejudicar a produção agrícola dospaises tropicais, por conta de secas, enchentes e tempestades. Já os países dohemisfério norte, onde se concentra o mundo desenvolvido, sairia beneficiadopela possibilidade de cultivos em invernos mais amenos. De acordo com essemesmo estudo, o aquecimento global poderá provocar um aumento detemperatura de 5,8oC nos próximos 100 anos, e já está dando sinais, como oderretimento de 82% das neves do Kilimanjaro desde 1912. Há uma foto damontanha africana e a estimativa de que, dentro de 20 anos, o gelo restantetambém desaparecerá.

Veja, 18 de abril de 2001A natureza contra-ataca. O planeta começa a responder com derretimento dasgeleiras, secas, escassez de água e aquecimento global aos milhares de anos deagressões feitas pelo homem.

A matéria é iniciada lembrando o quanto o ser humano é novo no planeta,mas mesmo assim tem uma velocidade de transformação do espaço nunca vistaantes. Por causa de todas as agressões cometidas à natureza desde o surgimentodo homem, ela agora começa a cobrar a conta. “o balanço da atividade humanamostra uma tendência suicida”, os rios e a atmosfera estão desmesuradamentepoluídos, as florestas nativas já perderam grandes extensões e a extinção deespécies avança num ritmo cinqüenta vezes maior do que a seleção natural. Oefeito mais claro desse acerto de contas do planeta é o aquecimento global, cujacausa mais provável é a emissão desenfreada de gases estufa. Para confirmar essahipótese, a matéria cita ninguém menos do que Stephen Hawking, que teria dito:“Durante anos, parte da comunidade científica se enganou atribuindo oaquecimento aos ciclos naturais do planeta e às mudanças na atividade solar.Hoje existe uma quase unanimidade de que o problema é causado por nósmesmos”. Thelma Krug, do INPE, também é evocada: “Já estamos e vamoscontinuar pagando o preço do que fazemos hoje com o planeta. Isso não éespeculação. É uma constatação científica”. Mantido esse ritmo, o efeito estufapoderá fazer a temperatura da Terra subir até 5,8 graus e o nível dos mares 80centímetros até 2100. “É uma catástrofe. Ilhas, deltas de rios, cidades costeirasacabariam debaixo das águas”. Mas 2100 não é um prazo muito distante? Não.“Ninguém se iluda com a idéia de que a longo prazo todos estaremos mortos e,portanto, de que a Terra estar um pouco mais quente daqui a 100 anos é umproblema para os netos de nossos bisnetos. Nada disso. Os primeiros sinais jáestão por toda parte”, como o degelo dos pólos, alterações na duração dasestações e violentas inundações. Toca-se no assunto da recusa norte-americanaem ratificar o Protocolo de Kioto, e termina-se lembrando a hipótese Gaia, deJames Lovelock. Devemos tratar a Terra com carinho, pois esses contra-ataques

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da natureza são os ajustes que ela está fazendo para manter sua saúde. Seucompromisso é com todas as formas de vida, e não apenas com o homem.

Veja, 17 de outubro de 2001Estufa do bem. Dados da Nasa mostram que o aquecimento global tornou asflorestas mais verdes e exuberantes.

A matéria mostra que o aquecimento global, apesar de suas conseqüênciasnefastas, também tem seu lado bom, como mostra um estudo da Nasa segundo oqual as temperaturas mais elevadas favoreceram o crescimento das florestas dohemisfério norte nos últimos vinte anos. As zonas mais beneficiadas por esseaumento médio das temperaturas e do número de dias quentes no ano foram ocentro-norte da Europa, a Sibéria, o norte do Canadá e o nordeste dos EstadosUnidos. Aponta também “uma peça pregada pela natureza”, que seria apossibilidade de florestas mais exuberantes absorverem mais gás carbônico, “ovilão do efeito estufa”. Porém, Luiz Gylvan Meira Filho alerta que essacompensação pode não acontecer, pois com o tempo as temperaturas elevadaspodem matar as plantas e então elas se tornariam gás carbônico.

Veja, 30 de janeiro de 2002Ainda mais fria. Em lugar de estar subindo, como no resto do planeta, atemperatura cai na Antártica.

A matéria relata dois estudos divulgados naquele mês, segundo os quais,na maior parte do continente antártico, a temperatura caiu um grau nos últimosquinze anos, contrariando as previsões de aquecimento, que estariam assimequivocadas. Esse equívoco poderia ser explicado pelo fato de a Antártica sercomparada ao Ártico, onde de fato as geleiras estão se derretendo. Peter Doran,da Universidade de Illinois, diz que, além disso, a maior parte dos estudos sobreo continente é realizada na península Antártica, onde as temperaturas sãorelativamente mais altas. A matéria é concluída com a consideração de que,apesar de o século XX ter sido o mais quente já registrado na história humana,muito provavelmente por influência antrópica, a Terra possui um ciclo natural deeras glaciais e, assim, essa diminuição de temperatura na Antártica pode indicarque “em vez de calor, pode ser que um frio de rachar esteja batendo a nossaporta”, ou seja, a iminência de uma nova glaciação.

Veja, 17 de abril de 2002Esquenta ou esfria? Diferença de temperatura na Antártica embaralham teoriassobre aquecimento global.

A matéria constata a existência de teorias divergentes sobre a variação detemperatura do continente antártico: enquanto algumas pesquisas mostram quehouve um aumento de temperatura, outras mostram que houve diminuição. Essaaparente contradição ocorre porque algumas regiões, como a península antártica,apresentaram um aquecimento (2,5oC em 50 anos), enquanto outras, como o

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interior do continente, apresentaram resfriamento (1oC em 15 anos). A dúvidadecorre, enfim do erro de se extrapolar tendências regionais a todo o continente.Além disso, tais variações de temperatura não seriam suficientes para provar ourefutar a hipótese do aquecimento global. A área atualmente comprometida comaquecimento comporta menos de 5% do gelo do continente, confrontando a idéiada iminência do derretimento de todas as suas geleiras, o que elevaria o nível domar em 60 metros.

Veja, 21 de agosto de 2002A Terra pede socorro. Dez anos depois da Eco 92, há pouco para comemorar. Apoluição e o uso predatório dos recursos naturais aceleraram o efeito estufa e adestruição das florestas. Mas existem formas de corrigir esses erros.

A matéria enfoca diversos problemas ambientais enfrentados pelo planetaàs vésperas da Convenção de Johanesburgo, a Rio+10. Dez anos após arealização da convenção do Rio de Janeiro, os resultados obtidos foram muitotímidos. São explorados os temas da poluição atmosférica, demanda poralimentos e recursos naturais, lixo, escassez de água, desmatamento, pescapredatória e, não podia faltar, o aquecimento global, “o efeito mais terrificantepor suas implicações no cotidiano das pessoas”. Desde as primeiras medições, nofinal do século XIX, a década de 1990 foi a mais quente. Em um século, o níveldo mar subiu 10 centímetros. Apesar de o planeta sempre ter passado por ciclosde aquecimento e resfriamento, agora é a atividade industrial que estáinterferindo. Desde 1750, as concentrações atmosféricas de CO2 aumentaram em30%, mais da metade dos quais nos últimos cinqüenta anos. Amostras de geleirasda Antártica atestam que vivemos as concentrações mais altas desse gás dosúltimos 420.000 anos e, provavelmente, dos últimos 20 milhões. Três quartosdessas emissões provêem da queima de combustíveis fósseis e o restante dodesmatamento. Lester Brown, fundador do Instituto Worldwatch, afirma: “Nãohá mais dúvida de que as mudanças ambientais são causadas pelo homem. Já nãosão só os ambientalistas que pensam assim”. Prevê-se um aumento de até 5,8graus até 2100, mas as mudanças na paisagem já são evidentes: um exemplo é oKilimanjaro, que já perdeu 82% de suas geleiras desde 1912, e perderá o restantedentro de vinte anos; secas na África e as enchentes na Alemanha e na RepúblicaCheca na semana anterior, são também evidências das mudanças climáticas.

Veja, 2 de outubro de 2002Flores no deserto. Mudança climática faz vegetação avançar nas areias do Saara,invertendo as previsões.

A matéria trata de uma reversão da tendência ao ressecamento,característico das décadas de 70 e 80, da região norte do Sahel. Aquilo que já foiconsiderada uma área condenada para a sobrevivência humana hoje exibe algumacobertura vegetal composta de arbustos e pequenas árvores. As causas dessarecuperação seriam um aumento das chuvas na região nos últimos 15 anos emelhorias nas técnicas de cultivo, que se tornaram menos degradantes. A maior

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umidade do Sahel estaria trazendo de volta agricultores anteriormente expulsospela seca para cidades, campos de refugiados e países vizinhos.

Veja, 13 de agosto de 2003A Europa pega fogo. Verão quente demais pode ser indício de que se acelerou oritmo do aquecimento global.

A matéria trata da onda de calor que a Europa enfrentou no verão daqueleano, fruto de uma massa de ar quente vinda do Saara que estacionou sobre ocontinente, provocando temperaturas muito elevadas, focos de incêndios,derretimentos das geleiras de montanhas, perdas de safras e dezenas de mortes.Tudo indica que a onda de calor seja causada pelo aquecimento global, que fez atemperatura da Terra elevar-se de um grau nos últimos 100 anos e, a continuarnesse ritmo acelerado, como a onda de calor denuncia, fará a temperatura subirseis graus nos próximos 100 anos, levando ao derretimento das geleiras,desaparecimento de ilhas e inundações de cidades costeiras. O meteorologistaMichael Knobelsdorf, do Serviço de Meteorologia Alemão, afirma que aocorrência de eventos climáticos extremos em intervalos de tempo cada vez maiscurtos pode ser um sinal de mudança de clima. Curiosamente, na Grécia, onde astemperaturas de verão costumam ultrapassar os 40oC, naquele ano estava emtorno dos 32oC. “Um sinal de que, de fato, o clima enlouqueceu na Europa”.

Veja, 1o de outubro de 2003Os segredos da geleira. Aquecimento global derrete o gelo no alto dos Alpes eexpõe relíquias arqueológicas.

A matéria afirma que o degelo excepcional ocorrido nos Alpes no verãodaquele ano permitiu encontrar nos meses anteriores dez corpos mumificados.São relatados também a descoberta (sem data) de destroços de um avião da ForçaAérea Nazista e o famoso caso do homem que viveu há 5000 anos, cujo corpo foipreservado nas geleiras, na fronteira entre a Áustria e a Itália. Com o aumentomédio da temperatura, vem ocorrendo degelo a mais de 4000 metros de altitude,tendo o volume do gelo sido reduzido à metade em meio século. Na Suíça, aretração está ocorrendo ao ritmo de 20 metros por ano, mas esse valor podechegar a 100 em anos de verões mais quentes. Ou seja, o aquecimento globalpode se tornar um aliado das descobertas arqueológicas.

Veja, 24 de dezembro de 2003O planeta verão

Esta edição faz uma retrospectiva do ano de 2003. O texto é curto, masconsegue sintetizar a idéia, por isso vale a pena citá-lo na íntegra:

“No início do ano cientistas confirmaram que na Antártica a temperatura médiasubiu 2,5 graus no último meio século. Em agosto, incêndios devastaram 1750quilômetros quadrados de florestas na Europa. Neves eternas derreteram-se nos

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Alpes, expondo relíquias arqueológicas há milênios escondidas. O aquecimentoglobal deixou de ser apenas uma hipótese”.

Veja, 21 de janeiro de 2004Cada vez mais quente. O homem calcula a temperatura média do planeta desde1861. E nunca se registraram ondas de calor intensas como as dos últimos anos.

A matéria é aberta com uma imagem do planeta Terra fumegando dentrode uma frigideira incandescente. O texto se inicia com a informação de que atemperatura do planeta elevou-se de um grau nos últimos 100 anos. Derretimentodas geleiras no Kilimanjaro e nos Alpes, ondas de calor e enchentes na Europa,secas, tufões, “tudo é creditado ao progressivo aquecimento global”. Os seis anosanteriores registraram as três mais altas temperaturas desde 1861. Nesse ritmo, atemperatura média do planeta pode aumentar 5,8 graus até 2100. Parte doscientistas credita esse aquecimento aos ciclos naturais do planeta, enquantooutros acreditam que os responsáveis são o homem e sua emissão exagerada degases estufa desde o início da Revolução Industrial, hipótese da qual o IPCCacredita haver “fortes evidências”. Uma das conseqüências é o degelo das calotaspolares e das montanhas, que acelera o aquecimento e altera a salinidade do mar,modificando os padrões das correntes marítimas e, conseqüentemente, o regimede ventos. São citadas a onda de calor na Europa em 2003 e a redução em 30%da pesca no lago Taganica, seguidas de um alerta de Vernon Kousky, do NationalOceanic and Atmospheric Administration dos Estados Unidos: “É difícil afirmarque todas essas mudanças estão relacionadas ao efeito estufa, mas, se nãoreduzirmos a quantidade de gases emitidos na atmosfera, viveremos em ummundo mais quente e com grandes tragédias associadas ao clima”. 2100 cidadesem ilhas e deltas de rios podem simplesmente desaparecer. Os hábitos dosanimais vêm sofrendo modificações em função do clima – cita-se o caso doesquilo canadense explorado na matéria de 10/8/2005– e um terço da Amazôniapode se transformar num imenso cerrado, perdendo muitas espécies, conformeCarlos Nobre, coordenador-geral do CPTEC.

Passa-se então a uma discussão sobre as mitigações. Os prejuízos damanutenção do aquecimento podem atingir 794 bilhões de dólares na próximadécada, contra 459 bilhões em custos de mitigação. A proposta do Protocolo deKioto é uma redução de 5% da emissão de poluentes até o ano de 2012, metadificultada pela não-adesão dos Estados Unidos e da Rússia. Por conta desseimpasse, uma saída apresenta-se viável, os Mecanismos de DesenvolvimentoLimpo, através dos quais os paises poluidores financiam projetos e programas depreservação do meio ambiente em paises mais limpos. O Brasil pode sairganhando com essa proposta pois, de acordo com Paulo Moutinho, do Institutode Pesquisa Ambiental da Amazônia, “A redução do desmatamento será um bomnegócio”.

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Veja, 23 de junho de 2004100 questões para entender o mundo.

A matéria é estruturada na forma de 100 perguntas e respostas sobrediversos assuntos no mundo contemporâneo. As oito últimas tratam da criseambiental, sob o título “Planeta em crise”, e são respondidas pelo cientista JamesGustave Speth, da Universidade Yale. Reproduzimos a questão de número 93:

“Provocar medo nas pessoas e não trazer fatos ou pesquisas novos tem sido aestratégia dos ambientalistas. Ela está funcionando? Está. Na verdade nãoprecisamos de fatos novos. Danos irreversíveis já foram feitos ao planeta, elessão conhecidos. A hora, agora, é de ação”.

Na questão 95, o cientista desaprova a recusa de Bush em ratificar oProtocolo de Kioto e na questão 99 ele sugere que o cidadão comum podecontribuir com a preservação do planeta, por exemplo, comprando o computadore a geladeira que consomem menos energia ou o carro que consome menoscombustível.

Veja, 17 de novembro de 2004Uma luz na fumaceira. Com a adesão da Rússia, o Protocolo de Kioto, quecombate o efeito estufa na atmosfera, finalmente decola.

A matéria traz duas notícias sobre o tema do aquecimento global ocorridasnas semanas anteriores. A primeira é a adesão da Rússia ao Protocolo de Kiotoque, por ser responsável por 17% da emissão de gases estufa, fez o Protocoloatingir a meta de adesão de responsáveis por 55% das emissões. A segunda é adivulgação de um estudo que afirma que “o aquecimento global está esquentandoo Ártico quase duas vezes mais rápido que o resto do planeta, provocando umderretimento das geleiras que até o fim deste século pode acabar com a calotapolar e elevar o nível dos oceanos em 90 centímetros, ameaçando milhões devidas e acabando com cidades inteiras”. Também afirma que “A temperaturageral da Terra aumentou 0,5 grau no século XX e os anos 90 registraram astemperaturas mais quentes da história”. Em seguida, mais algumas palavras sobreo Protocolo de Kioto e a negativa de George W. Bush em ratificá-lo.

Veja, 22 de dezembro de 2004O estado geral da Terra

Na edição de retrospectiva do ano de 2004, a revista dedicou 34 páginas,além de uma chamada de capa, a uma reportagem sobre os atuais problemasambientais que assolam o planeta, estruturados em sub-matérias de acordo com aquestão discutida.

Ela é iniciada com um índice e três parágrafos que lembram o quanto aTerra é um planeta único e que, de certa forma, todo o universo conspirou para

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que ela se formasse. Certamente tais raciocínios incitam à necessidade de suapreservação. Nas duas páginas seguintes, temos um infográfico baseado nummapa mundi, onde foram posicionados e descritos os desastres ambientais atuais.Segue-se a primeira sub-matéria:

Sinais de mudança. A questão não é mais se haverá ou não aquecimento global: oprocesso já está em andamento e o que se vê agora são apenas os seus primeirosefeitos.

Acompanha-a uma foto de uma página e meia do ciclone Catarina, umapequena foto de uma enchente no Quênia, quatro pequenas fotos mostrando odesprendimento de um enorme iceberg na Antártida, um gráfico sobre as perdas eindenizações pagas em conseqüência de catástrofes naturais, uma foto aérea deuma página da cidade de Veneza, uma pequena foto de uma enchente nestamesma cidade e um infográfico que explica por que o nível dos oceanos estásubindo.

O texto se inicia com a explicação de que mudanças climáticas sempreforam fenômenos naturais, mas elas nunca haviam ocorrido com tamanharapidez. Um sinal delas, dizem cientistas ingleses, foi o ciclone Catarina naAmérica do sul neste ano, e eles alertam que, dentro de uma década, este será umfenômeno comum. São citados o desprendimento de icebergs do tamanho doDistrito Federal e três vezes maior que a cidade do Rio de Janeiro; inundaçõesem Veneza, perdas de terras litorâneas nos Estados Unidos, China e Bangladesh.A década de 1990 foi a mais quente já registrada e calcula a OMM que pelomenos 160.000 pessoas morram por ano em conseqüência das mudançasclimáticas. Os glaciares estão sendo reduzidos: a continuar nesse ritmo, até 2035não haverá mais gelo no centro-leste do Himalaia nem congelamento no Árticono verão no fim do século. Todas essas mudanças estão alterando também afisiologia e os hábitos de diversas espécies de animais. Segue-se uma explicaçãode que as quantidades de gases tóxicos e estufa dispersos na atmosferaaumentaram muito desde o início da Revolução Industrial e de como eles atuamno efeito estufa. Sydney Levitus, do serviço de meteorologia americano, diz quemesmo que as emissões sejam controladas agora, a Terra continuará esquentandopor mais 100 anos, por conta da capacidade térmica dos oceanos. Por fim, “O quese vê agora, para muitos cientistas, é apenas o começo de uma tendência que vaise agravar ao longo das décadas”.

As sub-matérias seguintes, com duas páginas cada, tratam da exploraçãodesenfreada dos recursos naturais; a escassez de água no mundo; incêndiosflorestais; pesca predatória e a produção exagerada de lixo.

Em seguida, vemos um artigo de uma página de George Philander,intitulado “O que o El Niño pode nos ensinar”. Começa falando sobre o quanto oEl Niño já foi considerado uma bênção (daí seu nome fazer referência ao meninoJesus), por trazer chuvas às costas desérticas do oeste da América do sul, e o

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quanto ele é amaldiçoado hoje. É um paradoxo que, conforme aumentem nossariqueza e população, aumente nossa vulnerabilidade aos desastres naturais. O ElNiño tem muito a nos ensinar, mas “devemos evitar a tentação de adiar decisõespolíticas difíceis em nome de uma suposta necessidade de informações maiscompletas”21. Ressalta a precisão já atingida pelos métodos de previsãometeorológica e climática e diz que, mesmo que elas não sejam totalmenteseguras, podemos fazer muito para mitigar os impactos dos desastres naturais,mas isso depende de vontade política. “Nos Estados Unidos, por exemplo, não secoíbe a construção de edifícios altos em regiões sujeitas a furacões. O resultado éque, quando eles atingem o litoral, acabamos por nos considerar inocentesvítimas de catástrofes. Devemos ter em mente que, se enfrentamos cada vez maisproblemas com fenômenos como El Niño e furacões, não é porque nossasprevisões são defeituosas, e sim porque nosso modo de viver e conduzir osnegócios está mudando”. Ainda não temos resposta para muitas questões sobre oclima, “mas podemos esperar que políticos sábios, que levem em conta o que oscientistas podem prever e que estejam cientes das inevitáveis limitações doconhecimento destes, façam com que o El Niño continue a ser uma bênção, emvez de uma praga”.

A seguir, vemos uma entrevista, de título “Uma ameaça maior que oterrorismo”, com o químico David King, professor da Universidade deCambridge, considerado o cientista número 1 da Inglaterra e cujas opiniões sobreas questões ambientais são sempre ouvidas pelo primeiro ministro Tony Blair.Em janeiro, publicou um artigo na revista Science, onde qualificou as mudançasclimáticas como “um perigo com dimensões maiores que as do terrorismo”. Aolongo da entrevista, ele afirma que “O aquecimento que nós vemos não pode serexplicado sem que a atividade humana – notadamente a queima de combustíveisfósseis e a liberação de CO2 – seja considerada”; “Embora seja difícil ligareventos individuais às tendências de longo prazo, há evidências de que a onda decalor na Europa [em 2003] teve influência do aquecimento global”; “Haveráperdas irreversíveis e aceleradas de biodiversidade” e “Um aquecimento de 2,7graus, conforme prevêem os modelos atuais do Painel Intergovernamental sobreMudanças Climáticas, pode ser suficiente para derreter a camada de gelo daGroenlândia e provocar uma ascensão do nível do mar entre 6 e 7 metros”.

Segue-se uma sub-matéria de duas páginas sobre a poluição gerada pelasfontes de energia mais empregadas, e mais uma sub-matéria de quatro páginassobre o aquecimento global:

Para onde vamos. Os cientistas dizem que não há como parar o aquecimentoglobal. Seu ritmo de expansão, porém, pode ser reduzido.

A matéria traz uma foto de uma página e meia de um urso polar saltandoentre placas de gelo rodeadas por água, um infográfico ilustrando uma projeção 21 Esta declaração aparece em destaque no artigo, apenas com a primeira palavra sendo “precisamos”, enão “devemos”.

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de degelo no Ártico, uma foto de uma página e meia da ilha Bora Bora, duasfotos menores de recifes de corais, um colorido e outro esbranquiçado e semvida, e um gráfico de projeção de elevação da temperatura dos oceanos quemostra que ela ultrapassará o limite crítico de sobrevivência dos corais. O textose inicia com a informação de que, apesar das incertezas, existe umaconcordância geral de que o mundo futuro será mais quente, talvez até 6 grausmais em algumas localidades, provocando uma subida de até 80 centímetros nonível dos mares que fará Bangladesh perder 16% de seu território. Problemassemelhantes ocorrerão em Nova York e Recife. Estima-se que tornados efuracões ganharão força, pois o aquecimento do planeta fornecerá mais umidadepara a atmosfera e favorecerá a formação de tempestades. Citam-se algumasprevisões de institutos de pesquisa: a OMS estima que em duas décadas o saldode mortes causadas pelo efeito estufa chegará a 300.000; economistas daUniversidade Yale afirmam que os prejuízos por fenômenos climáticos chegarãoa 794 bilhões por década e, no Brasil, pesquisadores do INPE e da USP prevêemque o clima será desfavorável ao plantio de café em São Paulo e algodão nocentro-oeste daqui a cinqüenta anos. Pesquisadores de Harvard afirmaramrecentemente na Science que todas as mudanças climáticas registradas nosúltimos 400.000 anos guardam relação direta com a quantidade de CO2 naatmosfera. Por fim, não há possibilidade de mudanças climáticas abruptas comoaquelas mostradas pelo filme O dia depois de amanhã; há tempo para aadaptação e pode haver evoluções tecnológicas que nos auxiliem.

Em seguida, uma sub-matéria de quatro páginas:

No caminho certo. Muita gente está fazendo sua parte no conserto do planeta:cientistas, ambientalistas e até governos.

Acompanha-a uma foto de uma página e meia de um ônibus movido ahidrogênio em Amsterdã, uma foto de meia página de um pesquisador medindo aquantidade de ozônio sobre a Antártica e uma foto de meia página de umafazenda de geração de energia eólica nos Estados Unidos, chamando a atençãopara seu problema estético.

O texto começa falando da entrada em vigor do Protocolo de Kioto,prevista para fevereiro de 2005, que terá como meta inicial a redução em 5,2%em relação aos valores observados em 1990, da emissão de gases poluente até2012. As metas de cada país poderão também ser alcançadas por meio da comprade créditos de carbono ou do financiamento de programas ambientais em outrospaíses. Há razões para otimismo se o Protocolo de Kioto tiver o mesmo efeitoque o Protocolo de Montreal, pois este foi eficaz na redução do uso de aerossóisque provocaram o buraco na camada de ozônio. A partir de 2012, as metas deKioto devem se tornar mais duras e, para frear de vez o aquecimento, calcula-seque a redução das emissões deva ser de 60%. De acordo com a pesquisadoraThelma Krug, do IPCC, “A redução prevista no protocolo não vai resolver oproblema, mas é o indício do caminho para estabilizarmos a temperatura da

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Terra”. Os governos de diversos países da União Européia e a iniciativa privadanorte-americana já estão implementando tecnologias limpas, que podem sertambém mais econômicas e ter um potencial maior de marketing. Um exemplodos benefícios econômicos da preservação ambiental é a área da reciclagem, naqual o Brasil tem realizado importantes avanços.

O especial é encerrado com uma sub-matéria sobre os benefícios dosalimentos geneticamente modificados para o meio ambiente e a sociedade.

Veja, 23 de fevereiro de 2005O calor que ameaça a vida. Mesmo limitado e sem a adesão dos Estados Unidos,o campeão da poluição, o Tratado de Kioto dá ao planeta um bom instrumentopara reduzir o aquecimento global.

A matéria trata da entrada em vigor do Protocolo de Kioto, ocorrida nasemana anterior. É aberta com a foto de um urso polar desesperadamentetentando passar de um bloco de gelo a outro, separados pelo mar. A formação deenormes icebergs, a onda de calor na Europa em 2003, que matou 30000 pessoas,o ciclone Catarina, são todos fenômenos por trás dos quais está o acúmulo deCO2 na atmosfera. Por causa dele, a temperatura do planeta subiu um grau nasúltimas décadas e, mantido o ritmo atual, subirá até seis graus até o final desteséculo, “causando um efeito dominó de catástrofes”. Felizmente, existe o Tratadode Kioto, acordo pelo qual 141 países se comprometem, até 2012, a reduzir suasemissões de gases estufa a um nível 5% abaixo daquele verificado em 1990. Paratanto, uma saída que vem sendo posta em prática é o emprego de energias limpase filtragem do CO2, para que não vá parar na atmosfera. Algumas dessas medidaspodem até diminuir os custos de produção. Um entrave ao Protocolo, no entanto,é a ausência dos Estados Unidos, o maior poluidor, segundo o argumento de quetal redução de emissões abalaria sua economia. Os países em desenvolvimentonão são obrigados a cumprir cotas preestabelecidas, mas podem participar dalimpeza da atmosfera e ainda saírem beneficiados através dos mecanismos dedesenvolvimento limpo, mediante os quais os países industrializados podemneles investir em projetos de reflorestamento, tratamento do lixo, fontesalternativas de energia e similares. A cada 6 dólares investidos nesse tipo deprojeto no mundo em desenvolvimento, a empresa pode produzir uma tonelada amais de CO2, o que pode ser um grande negócio para ambos os lados. Diversospaíses e empresas já estabeleceram metas próprias de redução de emissões,muitas delas mais ambiciosas que as do protocolo. Apesar de toda essamobilização, “não é pequena a comunidade de cientistas que desprezam a causa”.Um primeiro grupo afirma que essas mudanças climáticas são naturais e que ahumanidade já dispõe de tecnologia para controlar seus eventuais efeitosindesejáveis. Outro grupo aponta para os custos excessivos da redução deemissões, que produzirão resultados ínfimos e seriam mais bem empregados nocombate à pobreza. “Por enquanto, as vozes que se levantam contra o tratado têmsido abafadas pelas evidências científicas de que é preciso fazer algo pelo planetaantes que seja tarde demais. Antes que se sintam de forma ainda mais aguda os

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efeitos do que o cientista Sir David King, assessor do governo britânico,classifica de ‘o maior perigo que a humanidade já enfrentou em 5000 anos decivilização’ ”.

Veja, 23 de março de 2005A prova do efeito estufa. A cobertura de neve do Kilimanjaro, cartão-postal daÁfrica, desaparece no mesmo ritmo do aquecimento global.

A matéria traz duas fotografias do monte Kilimanjaro, na Tanzânia, umado ano de 1995, quando ainda exibia uma cobertura de neve, e outra de 2005,quando ela praticamente desapareceu. Tudo indica que a causa desse degelo é oaquecimento global, causado pela emissão excessiva de dióxido de carbono naatmosfera e que já fez a temperatura média do planeta elevar-se de um grau nasúltimas décadas. Segundo um estudo do Byrd Polar Research Center, daUniversidade de Ohio, o degelo do Kilimanjaro teve início em 1912, quando oclima daquela região da África se tornou mais seco, mas nada se compara àevaporação ocorrida recentemente. Lonnie G. Thompson, o autor do estudo,afirma que até 2020 o gelo do Kilimanjaro terá desaparecido completamente, efenômenos semelhantes vêm ocorrendo nos Alpes, Andes e Himalaia. Oprincipal problema na contenção das emissões de dióxido de carbono é arelutância do governo americano em aderir ao acordo de Kioto, com um respaldode um grupo de cientistas que não acreditam que o aquecimento global sejacausado pelo homem, mas é apenas mais uma alteração climática como as que oplaneta sempre enfrentou. “Muitas vezes as pesquisas desses cientistas, é bomque se note, são financiadas por governos ou instituições que têm os interessescontrariados pelo Tratado de Kioto”.

Veja, 10 de agosto de 2005Evolução em ritmo acelerado. Expostos à caça e à pesca predadoras, os animaisreagem com alterações genéticas que ameaçam as espécies.

A matéria não discute o aquecimento global, mas aponta que entre asalterações antrópicas ao ambiente natural está o efeito estufa, que altera o ciclovital das espécies. Como exemplo, cita uma pesquisa da Universidade de Alberta,que descobriu que as fêmeas do esquilo vermelho da região do Yukon estãodando à luz na primavera dezoito dias mais cedo do que dez anos atrás, pois hojea primavera também começa antes.

Veja, 21 de setembro de 2005Seis provas do aquecimento global. Efeitos da mudança climática já podem serpercebidos em catástrofes que afetam o planeta.

Além do texto, a matéria traz fotografias que ilustram fenômenos naturaisacompanhadas de uma classificação do grau de certeza de que a culpa é doaquecimento global. São eles:

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- derretimento das geleiras: alta- ciclones mais potentes: alta- enchentes na Europa: média- proliferação de algas tóxicas: baixa- calor e incêndios na Europa: média- secas: baixa

A matéria é iniciada com uma resposta afirmativa a duas questões atépouco tempo não esclarecidas: se o aquecimento global é real e se seus efeitos noclima da Terra são iminentes. Uma terceira questão refere-se ao que pode serfeito para evitar seu agravamento, e sua resposta é a redução da emissão de gasesestufa, prevista pelo Protocolo de Kioto, ao qual os Estados Unidos ainda nãoaderiram, o que configura um erro de Bush, pois “os efeitos da mudançaclimática já não podem ser ignorados”. São citadas as altas temperaturasregistradas nos últimos anos, a onda de calor na Europa em 2003, os incêndiosflorestais em Portugal semanas antes, enchentes no norte e centro da Europa,proliferação de algas tóxicas nas praias italianas e furacões mais intensos. “Atéonde se pode determinar, o mundo está agora mais quente do que em qualquermomento nos últimos 2000 anos”. É difícil afirmar que todos esses fenômenossão causados pelo aquecimento global, mas há uma concordância geral de quesão por ele influenciados. Nos últimos 120 anos, a temperatura do planetaaumentou 1 grau, do qual dois terços são de responsabilidade do homem, porconta do aumento em 30% dos níveis de gás carbônico na atmosfera desde oinício da Revolução Industrial. O efeito mais dramático dessa poluição é oderretimento das geleiras, “na maioria dos casos, para sempre”, já que a ausênciade gelo acelera o processo de aquecimento. Estima-se que, até 2080, não haverámais gelo no Ártico no verão. O nível dos oceanos elevou-se em 25 centímetrosnos últimos 100 anos, por causa do derretimento das geleiras e da expansãotérmica das águas. No Brasil, causou alarme o fenômeno Catarina, agoraconsiderado um furacão, e “Se outro furacão atingir o Brasil nos próximos dezanos, será um indício de que se trata, realmente, de um efeito do aquecimentoglobal”, diz Carlos Nobre, meteorologista do INPE. Para reagir às mudançasclimáticas, podemos reduzir a quantidade de poluentes ou adaptar-nos a elas.

Veja, 28 de setembro de 2005Ameaça concreta. Aquecimento global causa multiplicação de furacões, como oRita e o Katrina.

A matéria traz uma foto do furacão Rita e uma indicação “alta” do grau decerteza de que a culpa de ciclones mais potentes é do aquecimento global, noestilo da matéria da semana anterior. O texto começa com uma descrição do Ritae diz que ele serve como mais uma prova da impossibilidade de se continuarignorando os efeitos do aquecimento global. Menciona outro furacão, o Katrina,que deixou 1000 mortos. Estudos recentes têm mostrado que os furacões estãomais fortes e freqüentes por causa das mudanças climáticas causadas pelohomem, através da emissão de gases poluentes. Entre estes estudos, está o do

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meteorologista americano Peter Webster, publicado na Science duas semanasantes, e outro do climatologista americano Kerry Emanuel, publicado na Natureum mês antes do advento do Katrina. Como as águas oceânicas estão 0,5 graumais quentes por causa do aquecimento global, aumentam-se as chances deocorrência de ciclones e furacões.

Veja, 12 de outubro de 2005Reportagem especial: A Terra no limite.

Mais uma seqüência de reportagens sobre a crise ambiental, com ênfasepara a seca da Amazônia, num total de 31 páginas, descontadas as propagandas.

Perigo real e imediato. Para onde vamos com nossas agressões ao planeta? Opessimismo da resposta varia, mas há um consenso: a hora de agir é já.

A matéria inicial é ilustrada com uma imagem do planeta Terra cortado aomeio, exibindo no interior um solo rachado pela seca. Anunciando as matériaspor vir, afirma que traçará “um panorama das armadilhas produzidas peloshomens para si mesmos, desde a exaustão de recursos vitais como a água até osefeitos incontornáveis do aquecimento global, que podem ser amenizados, namelhor das hipóteses, ou agravados em proporções dantescas, na pior”. Maisadiante, afirma que o aquecimento global não é uma perspectiva de médio prazo,pois todas as geleiras vêm diminuindo, os oceanos estão se aquecendo, osanimais estão mudando suas rotas migratórias e a diferença entre temperaturasdiurnas e noturnas está caindo. “Os níveis de dióxido de carbono são os maisaltos dos últimos 420.000 anos” e, a continuar nesse ritmo, atingirão níveis sóvistos no Eoceno, há 50 milhões de anos. Setenta e cinco por cento dos trabalhossobre mudanças climáticas endossam a hipótese do aquecimento global,enquanto os outros 25% são considerados neutros, pois analisam métodos eprocedimentos. Martin Rees, professor da universidade de Cambridge, acreditaque não passam de 50% as chances de a humanidade sobreviver até o fim desteséculo, pois as conseqüências das mudanças globais “podem engendrar tensõesdesencadeadoras de conflitos internacionais e regionais”. Há na matéria, entreoutras, uma foto dos destroços deixados pelo furacão Katrina.

A matéria seguinte trata da escassez mundial de água, mas inclui doispequenos quadros sobre as mudanças climáticas, o primeiro fazendo referência àmatéria “Seis provas do aquecimento global”, publicada em setembro, e osegundo ilustrando o degelo do Ártico, atribuído ao aquecimento global,apontando a área média do gelo entre 1979 e 2000 e a área atingida em 2005,20% reduzida.

A terceira matéria tem como título:

Um olhar sobre o futuro. Contra as previsões apocalípticas, há uma esperança: ainventividade humana pode mudar tudo.

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O argumento central é o de que a humanidade sofre mesmo de umatendência ao catastrofismo, sempre prestando atenção aos profetas do fim domundo. Entretanto, a inteligência humana possui meios de contornar as desgraçase, entre os exemplos contemporâneos, estão os eletrodomésticos maiseconômicos e, num futuro próximo, os automóveis movidos a hidrogênio.

A quarta matéria é um infográfico mostrando dados sobre a devastação dafloresta amazônica. A quinta matéria trata das novas epidemias disseminadaspela excessiva interferência humana no meio ambiente. Uma dessas epidemias, ado vírus do Nilo Ocidental, surgiu em 1937 em Uganda e a partir de 1999 ganhouos Estados Unidos. “Nos últimos anos, sua transmissão tem sido facilitada peloaquecimento global, que propiciou a proliferação dos mosquitos transmissores dadoença”.

A quinta e a sexta matérias tecem longas considerações sobre os ritmosalarmantes do desmatamento amazônico, responsável pela severa estiagemdaquele ano. Por fim, a última matéria aborda o sucesso econômico do plantio deflorestas de eucalipto e pinus para as indústrias de papel e celulose.

Veja, 28 de dezembro de 2005O ano em que... a natureza se vingou.

Na edição de retrospectiva 2005, a matéria dedicada às questõesambientais é uma seqüência de cinco fotografias de duas páginas inteiras, cadauma acompanhada por um pequeno texto. As três primeiras referem-se aotsunami que atingiu o sul da Ásia na virada do ano; a quarta refere-se aoterremoto de 7,6 graus na escala Richter que atingiu a Cachemira em outubro, e aúltima mostra a cidade de Nova Orleans completamente alagada após a passagemdo furacão Katrina em agosto. Nos textos, afirma-se que “Em 2005, catástrofesnaturais de grandes proporções serviram para colocar um pouco de humildade nasoberba humana”. O furacão Katrina deixou mais de 1300 mortos e inundou 80%da cidade de Nova Orleans com um volume de água suficiente para abastecer acidade de São Paulo durante dois meses, trazendo à tona um dos perigos doaquecimento global.

7 – Considerações Finais

Nesta explanação, abordou-se diversos temas sobre Mitos e Mídia com ointuito de informar ao estudante no que tange ao que é científico e o que éespeculação da Mídia. Estes fatos devem ser levados em conta quando estiverformando uma opinião sobre qualquer assunto e principalmente sobre o tema docurso de “Mudanças Climáticas”.

Levantou-se estes diversos questionamentos, principalmente porque ostemas estão se perpetuando nas salas de aulas e livros didáticos. Ou seja, com

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todo este alarde, os livros didáticos estão completamente recheados com este lixode informação. Tais problemas irão atingir em cheio às atividades dos docentesdo ensino médio e fundamental. O Ministério da Educação vem tentando barrarestes tipos de publicações didáticas, mas não consegue resultados satisfatórios.As editoras entram na Justiça utilizando a Lei de Imprensa com o argumento deque se trata de “liberdade de imprensa”. Com isto, conseguem publicar e difundirtais materiais que nem sequer lançam uma dúvida no que descrevem.

O governo brasileiro, em diversas esferas, tem tomado medidas quebeneficiam estes interesses e aproveitam do alarde para conseguir cumprir outrosobjetivos, muitos destes, perigosos como cercear direitos civis e geração ecobrança de novos impostos. Uma das ferramentas utilizadas é a Agenda 21.Formam Leis com propósitos de fazer cumprir as exigências que tentarão “deteras mudanças climáticas”. Ora, isto é absurdo!

O que se lança aqui é a seguinte idéia e que deve ser combatida por todos:desde quando a Meteorologia vai ditar regras de como devem viver todas associedades do planeta?! Desde quando modelos estúpidos, gerados em super-computadores são dignos de ser a realidade? Perdeu-se o completo discernimentodo que é real e do que é imaginário? Seria este o ápice de alienação em que semergulharam as sociedades ocidentais? Um Homem tão desligado da Naturezaque agora ela é tratada como um inimigo a ser vencido?

Termina-se esta explanação com a seguinte indagação:

A Natureza tornou-se um outro desafio...

OU

É o sistema o qual estamos mergulhados atéo pescoço que nos afasta cada vez mais dela?

8 – Agradecimentos

Em especial, Profª. Daniela de Souza Onça pela publicação, na íntegra, departe de seu relatório de qualificação de mestrado que contribuiu em um doscapítulos deste resumo.

================================Ricardo Augusto FelicioProf. Dr. Depto Geografia – FFLCH – USP

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