Folheto da exposição "Relatos Canónicos da paixão e da carne"

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Sinopse biográfica de um artista (pouco mais que) ignorado. Mas que, as parcas o permitam, irá ser bem conhecido. Augura-se! (E deseja-se). Tiago Manuel Pimentel Beirão (…como o Licor). Oriundo do Centro, algures do distrito de Viseu. Um periférico, portanto!). Nascido nos anos oitenta (informação recente cedida no FB dá que o foi a 19/5/1987). Licenciado em Artes Plásticas e Multimédia. Diplomado pela ESEV, Instituto Politécnico de Viseu, IPV, 2008. Pós-graduado em História da Arte Contemporânea pela Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa, 2010. Na ESEV, onde completou a sua formação inicial, explorou várias ferramentas multimédia, testando as capacidades plásticas visuais das tecnologias digitais, com estimulante experimentalismo ecléctico de técnicas e influências, como a colagem, a foto-manipulação e a pintura digital. Com uma precoce maturidade gráfica, desenhador virtuoso desde muito cedo, há dois, três anos, resolveu iniciar um percurso consistente pelas técnicas pictóricas tradicionais, com pinceis e tintas, sobre telas, em cavalete. (Que foram sempre essas as técnicas com que se resolveram os mais essenciais problemas da pintura, que nos atrevemos a considerar a mais superlativa das artes visuais). VT PICTVRA POESIS. Também se tem dedicado à criação de BD, com um novíssimo registo, cuja matriz, de forte sentido autoral, aplica muito do que ficou das suas experiências iconográficas. Porque o Manel tem ainda outra singularidade: usa e abusa da transversalidade de registos: fotografias, desenhos, chapas de raio-X, gravuras litográficas, infografias, imagens tipográficas, mapas geográficos, manipulações de ambientes digitais, texturações, reproduções de pinturas, ilustrações anatómicas, iconografias médicas, resíduos de colagens, etc., sendo tudo enquadrado em disciplina multimédia. O suporte de representação digital foi em tempos a sua tela, as teclas, os programas e demais ferramentas os utensílios como os lápis, os pincéis e as tintas. O que torna ainda mais interessante o seu recente trabalho é este seu ingresso nos pinceis e nas tintas mesmo, sem a mediação tecnológica de anteriores tempos e modos. O Tiago Manuel Pimentel expôs na ESEV, em várias ocasiões, trabalhos seus, nomeadamente os que apresentou aos vários concursos a que concorreu, tendo ganho o concurso de arte digital da escola, no ano lectivo de 2007/2008. Ou os que apresentou, na sua primeira exposição individual, obras de pintura digital, que titulou: «9 elegias para um pássaro moribundo», maio de 2009. Ou ainda na colectiva (aí já com obras de pintura) «Prata da Casa», junho de 2012. Expõe trabalhos recentes nesta mostra individual, pinturas sobre suportes de média e grande dimen- são, óleos sobre tela e técnicas soft sobre papel. Relatos Canónicos da Paixão e da Carne 14 Março | 20 Abril 2013 Campus de Caparica Tiago Pimentel | Pintura Coordenação: José J. G. Moura, Ana Alves Pereira em colaboração com Sílvia Reis e Isabel Carvalho Design Gráfico: Camy Mais informações: http://www.biblioteca.fct.unl.pt, https://www.facebook.com/BibliotecaFct

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“Relatos Canónicos da Paixão e da Carne” define uma nova Paixão de Cristo, bastante pessoal, mais perto da caminhada do animal para o abate que propriamente da passagem bíblica, da qual se quer afastar todo o momento, utilizando os elementos da crucificação que nos são familiares, acrescentando-lhes certos rasgos da actualidade. Tiago Pimentel é uma artista que busca a beleza em retratos de tragédia e horror, construindo um universo onírico onde se coabitam personagens mitológicos, pedaços de carne, figuras históricas e gravuras alquímicas , envoltas em atmosferas que tocam o pop.

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O Tiago Manuel Pimentel é um jovem artista com uma crescente e impressiva afirmação na pintura a óleo sobre tela ou na têmpera e nas outras técnicas soft sobre papel. Depois de uma fase de experiên-cia inovadora em arte multimédia, em que o seu experimentalismo, que poderemos designar, com segurança taxinómica, de pintura digital e foto-manipulação, lhe proporcionou um conhecimento de excelência sobre as múltiplas possibilidades plásticas de exploração iconográfica. A par de um obsses-sivo reportório próprio de temáticas recorrentes, que poderemos confirmar que nunca deixou, desde as primícias do seu trabalho inicial: a celebração de uma estética de «fealdade» festiva, tão cara a tantos artistas da modernidade última. Desenhador virtuoso, de grande vigor e energia, estranho e inquietante, cheio do “furor poético” de que falava o clássico Horácio, eis um autor neo-romântico, neo-simbolista (mas também descendente certo dos surrealistas). Os seus trabalhos têm revelado uma maturidade plástica virtuosa e consistente, de crescente segurança e afirmação surpreendente: uma exuberante e despudorada representação de carnalidades, expostas com expressivo realismo escatológico. Já foi dito em anterior circunstância que a sua pintura denuncia uma saudável influência do grande mestre da Escola Inglesa, Francis Bacon. As influências dos mestres são fonte de águas primordiais de que a nossa continuação exploratória até à afirmação autónoma é o leito do rio. Richard Rorty disse, a propósito dos trabalhos de índole científica e artística, um estimulante paradoxo: «Primeiro continua-se, depois começa-se». Também F. Bacon, celebrou a influência fascinada por Picasso ou mesmo por mestres clássicos antigos como Velázquez e Rembrandt. Lembremos a celebrada «carcassa de boi aberta» de Rembrandt (também citada que foi por Chaim Soutine). Também já apreciámos no Tiago Manuel Pimentel primorosos apontamentos reveladores da brutali-dade humana (com o tema «Caim e Abel» e outros), com referências (advinhadas) às anatomias primorosas do antigo professor da École National Supérieure des Beaux-Arts de Paris, o sérvio Vladimir Velickovic. Estes dois grandes nomes da pintura do Século XX, tidos por muitos como autores de percursos independentes, individuais, são integrados, porém, numa sensibilidade estética que foi chamada Nova-Figuração Expressionista Existencialista do Pós-Guerra. Assim se poderá também identificar o «Manel», um neo-expressionista existencialista. as suas últimas obras não deixam

também de mostrar as constantes actualizações do conhecimento das artes contemporâneas e de autores mais recentes (fruto certo dos estudos de pós-graduação que fez), nas suas citações que diremos de «ironia trágica», de um Arnulf Rainer, de um Hermann Nitsch, de um Joel-Peter Witkin, de uma Cindy Sherman, ou mesmo de uma Marina Abramovich e de um Paul McCarthy, de uma Jenny Saville, de um José António Montoya, de um Dr. Gunther Von Hagens, entre instalacionistas, fotógra-fos, performers, pintores e escultores da abjecção radical.

A notória obsessão inicial pela encenação fantástica tem cedido terreno para uma visão desencantada da brutalidade humana feita corpo e carne viva, o que lhe acrescenta sólida consistência e o caracteriza como um artista de uma particular imagética de fascínio temerário pelo abismo carnal. Uma coerência estética e um registo autoral que o situa invariavelmente em plenos ambientes de uma figuração de escatológica carnalidade. As suas temáticas, vagueando pelo obsceno (que etimologica-mente designa o que o preconceito considera não dever ser mostrado), pelo escabroso (para os púdicos), pelo abjecto, pelo escatológico, espelham a eterna luta entre Eros e Thanatos. Um erotismo sacralizado que opera a transgressão dos tabus sexuais. “O erotismo estimula a vida até ao limiar da morte” (escreverá Georges Bataille). Denuncia, ainda, o seu trabalho, uma recorrente busca da beleza que há no horror, … e do horror que há (muitas vezes) na beleza. A par duma constante descoberta do estranho que habita, muitas vezes, o trivial, da estranheza misteriosa que há na banalidade dos dias que passam. E da entropia que existe em toda a expectativa: o equilíbrio instável entre a esperança e o desespero!

Ansiedade e morbidez, compaixão e/ou repugnância, escatologia e abjecção, melancolia, desencanto, desilusão, angústia, medo, temor, horror, amor, paixão, ódio, desejo, filias e fobias, catarse e sublimação. A intuição sensível subvertendo a razão ordenadora. O confronto e a tensão extremada entre apolíneo e dionisíaco. E uma afirmação exuberante da vontade de transgressão das regras e convenções morais, religiosas, políticas, sociais … Uma reflexão céptica até ao desespero sobre a arte do sagrado e sobre os seus tradicionais programas iconográficos. Cite-se à laia de exemplo, o tríptico das três cruzes com três carcassas abertas de animais sugerindo outras três cruzes, as do Gólgota crístico.

Um invulgar hedonismo estranho compraz-se na ironia voyeurista do “mundo às avessas “ que nos rodeia. Uma lição de anatomia retratando com fidelidade o corpo do Homem, tanto por fora como, mais ainda, por dentro. Uma estética do pessimismo, ludicamente jubilante, que retrata de maneira mordaz, mas contida q.b., “os cadáveres adiados que procriam”. Um exorcismo do mal, que é forma de expulsão simbólica das imagens assustadoras que povoam o seu (delirante) imaginário. E um modo expedito de superar inibições, frustrações …interdições. Por meio de consentidas sublimações, (substituições). Relato desencantado do caos último que tem assombrado a humana condição, humana demasiadamente humana.

Luís Calheiros Pintor / crítico de arte / professor de estética na esev.ipv

Sinopse biográfica de um artista (pouco mais que) ignorado. Mas que, as parcas o permitam, irá ser bem conhecido. Augura-se! (E deseja-se).

Tiago Manuel Pimentel

Beirão (…como o Licor). Oriundo do Centro, algures do distrito de Viseu. Um periférico, portanto!). Nascido nos anos oitenta (informação recente cedida no FB dá que o foi a 19/5/1987). Licenciado em Artes Plásticas e Multimédia. Diplomado pela ESEV, Instituto Politécnico de Viseu, IPV, 2008. Pós-graduado em História da Arte Contemporânea pela Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa, 2010.

Na ESEV, onde completou a sua formação inicial, explorou várias ferramentas multimédia, testando as capacidades plásticas visuais das tecnologias digitais, com estimulante experimentalismo ecléctico de técnicas e influências, como a colagem, a foto-manipulação e a pintura digital. Com uma precoce maturidade gráfica, desenhador virtuoso desde muito cedo, há dois, três anos, resolveu iniciar um percurso consistente pelas técnicas pictóricas tradicionais, com pinceis e tintas, sobre telas, em cavalete. (Que foram sempre essas as técnicas com que se resolveram os mais essenciais problemas da pintura, que nos atrevemos a considerar a mais superlativa das artes visuais). VT PICTVRA POESIS. Também se tem dedicado à criação de BD, com um novíssimo registo, cuja matriz, de forte sentido autoral, aplica muito do que ficou das suas experiências iconográficas. Porque o Manel tem ainda outra singularidade: usa e abusa da transversalidade de registos: fotografias, desenhos, chapas de raio-X, gravuras litográficas, infografias, imagens tipográficas, mapas geográficos, manipulações de ambientes digitais, texturações, reproduções de pinturas, ilustrações anatómicas, iconografias médicas, resíduos de colagens, etc., sendo tudo enquadrado em disciplina multimédia. O suporte de representação digital foi em tempos a sua tela, as teclas, os programas e demais ferramentas os utensílios como os lápis, os pincéis e as tintas. O que torna ainda mais interessante o seu recente trabalho é este seu ingresso nos pinceis e nas tintas mesmo, sem a mediação tecnológica de anteriores tempos e modos.

O Tiago Manuel Pimentel expôs na ESEV, em várias ocasiões, trabalhos seus, nomeadamente os que apresentou aos vários concursos a que concorreu, tendo ganho o concurso de arte digital da escola, no ano lectivo de 2007/2008. Ou os que apresentou, na sua primeira exposição individual, obras de pintura digital, que titulou: «9 elegias para um pássaro moribundo», maio de 2009. Ou ainda na colectiva (aí já com obras de pintura) «Prata da Casa», junho de 2012.

Expõe trabalhos recentes nesta mostra individual, pinturas sobre suportes de média e grande dimen-são, óleos sobre tela e técnicas soft sobre papel.

Relatos Canónicosda Paixão e da Carne

14 Março | 20 Abril 2013Campus de Caparica

Tiago Pimentel | Pintura

Coordenação: José J. G. Moura, Ana Alves Pereiraem colaboração com Sílvia Reis e Isabel Carvalho

Design Gráfico: Camy

Mais informações: http://www.biblioteca.fct.unl.pt,https://www.facebook.com/BibliotecaFct

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"Relatos de..." paixão pela pintura...

A Biblioteca da FCT continua a dedicar, durante a programação anual de atividades culturais, um espaço temporal e físico a um artista dito emergente. Por aqui já passaram nomes que começam a romper o silêncio que rodeia(ava) o seu trabalho.

Num momento de grande indefinição e escassez de apoios e oportunidades, esta aproximação da FCT a novos valores é um processo simbiótico: por um lado a oportunidade para o artista "emergente", e por outro, a revelação pública e generosa de trabalhos inovadores, surpreendentes, desafiantes, geralmente fora dos "standarts" convencionais e mesmo libertos de academismos.

Promessas a converterem-se em próximas gerações de consagrados? … já começaram a acontecer.

José J. G. Moura, Diretor BibliotecaFernando J. Santana, Diretor FCT

O Tiago Manuel Pimentel é um jovem artista com uma crescente e impressiva afirmação na pintura a óleo sobre tela ou na têmpera e nas outras técnicas soft sobre papel. Depois de uma fase de experiên-cia inovadora em arte multimédia, em que o seu experimentalismo, que poderemos designar, com segurança taxinómica, de pintura digital e foto-manipulação, lhe proporcionou um conhecimento de excelência sobre as múltiplas possibilidades plásticas de exploração iconográfica. A par de um obsses-sivo reportório próprio de temáticas recorrentes, que poderemos confirmar que nunca deixou, desde as primícias do seu trabalho inicial: a celebração de uma estética de «fealdade» festiva, tão cara a tantos artistas da modernidade última. Desenhador virtuoso, de grande vigor e energia, estranho e inquietante, cheio do “furor poético” de que falava o clássico Horácio, eis um autor neo-romântico, neo-simbolista (mas também descendente certo dos surrealistas). Os seus trabalhos têm revelado uma maturidade plástica virtuosa e consistente, de crescente segurança e afirmação surpreendente: uma exuberante e despudorada representação de carnalidades, expostas com expressivo realismo escatológico. Já foi dito em anterior circunstância que a sua pintura denuncia uma saudável influência do grande mestre da Escola Inglesa, Francis Bacon. As influências dos mestres são fonte de águas primordiais de que a nossa continuação exploratória até à afirmação autónoma é o leito do rio. Richard Rorty disse, a propósito dos trabalhos de índole científica e artística, um estimulante paradoxo: «Primeiro continua-se, depois começa-se». Também F. Bacon, celebrou a influência fascinada por Picasso ou mesmo por mestres clássicos antigos como Velázquez e Rembrandt. Lembremos a celebrada «carcassa de boi aberta» de Rembrandt (também citada que foi por Chaim Soutine). Também já apreciámos no Tiago Manuel Pimentel primorosos apontamentos reveladores da brutali-dade humana (com o tema «Caim e Abel» e outros), com referências (advinhadas) às anatomias primorosas do antigo professor da École National Supérieure des Beaux-Arts de Paris, o sérvio Vladimir Velickovic. Estes dois grandes nomes da pintura do Século XX, tidos por muitos como autores de percursos independentes, individuais, são integrados, porém, numa sensibilidade estética que foi chamada Nova-Figuração Expressionista Existencialista do Pós-Guerra. Assim se poderá também identificar o «Manel», um neo-expressionista existencialista. as suas últimas obras não deixam

também de mostrar as constantes actualizações do conhecimento das artes contemporâneas e de autores mais recentes (fruto certo dos estudos de pós-graduação que fez), nas suas citações que diremos de «ironia trágica», de um Arnulf Rainer, de um Hermann Nitsch, de um Joel-Peter Witkin, de uma Cindy Sherman, ou mesmo de uma Marina Abramovich e de um Paul McCarthy, de uma Jenny Saville, de um José António Montoya, de um Dr. Gunther Von Hagens, entre instalacionistas, fotógra-fos, performers, pintores e escultores da abjecção radical.

A notória obsessão inicial pela encenação fantástica tem cedido terreno para uma visão desencantada da brutalidade humana feita corpo e carne viva, o que lhe acrescenta sólida consistência e o caracteriza como um artista de uma particular imagética de fascínio temerário pelo abismo carnal. Uma coerência estética e um registo autoral que o situa invariavelmente em plenos ambientes de uma figuração de escatológica carnalidade. As suas temáticas, vagueando pelo obsceno (que etimologica-mente designa o que o preconceito considera não dever ser mostrado), pelo escabroso (para os púdicos), pelo abjecto, pelo escatológico, espelham a eterna luta entre Eros e Thanatos. Um erotismo sacralizado que opera a transgressão dos tabus sexuais. “O erotismo estimula a vida até ao limiar da morte” (escreverá Georges Bataille). Denuncia, ainda, o seu trabalho, uma recorrente busca da beleza que há no horror, … e do horror que há (muitas vezes) na beleza. A par duma constante descoberta do estranho que habita, muitas vezes, o trivial, da estranheza misteriosa que há na banalidade dos dias que passam. E da entropia que existe em toda a expectativa: o equilíbrio instável entre a esperança e o desespero!

Ansiedade e morbidez, compaixão e/ou repugnância, escatologia e abjecção, melancolia, desencanto, desilusão, angústia, medo, temor, horror, amor, paixão, ódio, desejo, filias e fobias, catarse e sublimação. A intuição sensível subvertendo a razão ordenadora. O confronto e a tensão extremada entre apolíneo e dionisíaco. E uma afirmação exuberante da vontade de transgressão das regras e convenções morais, religiosas, políticas, sociais … Uma reflexão céptica até ao desespero sobre a arte do sagrado e sobre os seus tradicionais programas iconográficos. Cite-se à laia de exemplo, o tríptico das três cruzes com três carcassas abertas de animais sugerindo outras três cruzes, as do Gólgota crístico.

Um invulgar hedonismo estranho compraz-se na ironia voyeurista do “mundo às avessas “ que nos rodeia. Uma lição de anatomia retratando com fidelidade o corpo do Homem, tanto por fora como, mais ainda, por dentro. Uma estética do pessimismo, ludicamente jubilante, que retrata de maneira mordaz, mas contida q.b., “os cadáveres adiados que procriam”. Um exorcismo do mal, que é forma de expulsão simbólica das imagens assustadoras que povoam o seu (delirante) imaginário. E um modo expedito de superar inibições, frustrações …interdições. Por meio de consentidas sublimações, (substituições). Relato desencantado do caos último que tem assombrado a humana condição, humana demasiadamente humana.

Luís Calheiros Pintor / crítico de arte / professor de estética na esev.ipv