Follow up edicao dez 2013

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Revista laboratorial criada pelos alunos do 5º semestre de jornalismo da Universidade de Santo Amaro [Unisa]. Exerci a função de editor-chefe. Assino a "Carta do Editor", na página 4, e a matéria de capa, "Plano B" - sobre pessoas que se formam em uma área e vão trabalhar em outra -, nas páginas 22 a 25.

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Caros leitores,

Uma frase antiga diz que “é errando que se aprende”. A equipe da Follow Up colocou isso em prática ao faz-er a revista. Erramos bastante, começamos, recomeça-mos, escrevemos, reescrevemos e trabalhamos muito. Mudamos vírgulas de lugar, acrescentamos pontos fi-nais, fomos atrás de nossas fontes e não paramos ao receber um não como resposta. Fizemos diversas re-uniões, pessoalmente e via Facebook, para acertarmos todos os detalhes. Foram dias intensos. Aprendemos. A Follow Up que vocês leem neste momento esta dividida em oito editorias. Na editoria “Retratos de São Paulo” sempre destacaremos um bairro da cidade. Na “Campus” escreveremos sobre uma área do conheci-mento a cada edição. Resolvemos começar pelo que conhecemos bem: Santo Amaro é destaque na “Retra-tos” e o jornalismo é a área da qual falamos na “Campus”.A editoria “Trolagem” é dedicada ao humor – áci-do e inteligente. Na “Nerdices”, questões curiosas serão explicadas e debatidas. A “De lá pra cá” fala so-bre o mercado de trabalho para formandos e forma-dos. Na “Mesa para dois” – o nome fez sucesso na re-dação – a entrevistada é a cantora Mari Salvaterra. Duda Rangel, personagem criado pelos irmãos gêmeos Anderson e Emerson Couto, nos brindou com um tex-to para a editoria “Sem papas na língua”. Além dele, o professor de cinema Valter Aparecido Barcala tam-bém escreve nesta edição da Follow Up. Na “Por aí” demos um giro pela cidade. Tem visita à exposição sobre o cantor Cazuza no Museu da Língua Portu-guesa, música, teatro, cultura popular e o mundo web. A Follow Up deu trabalho, como uma criança tei-mosa – nas palavras da editora Meire Farias –, mas está pronta. Leiam, informem-se e divirtam-se. Tudo o que fizemos foi pensando em vocês, leitores!

Editor Chefe

Editor-chefe : Diogo MarcondesEditor-Adjunto : Camila LopesEditores : Elida RochaEverton CalicioFernando GomesMeire FariasTabatha AlvesDiagramadores:Alessandra TeófiloJéssica Fernanda TeodoroEditor de arte e fotografia: Vitor TheodoroRepórteres: Camila LopesElida RochaEverton CalicioFernando GomesMeire FariasTabatha AlvesAlessandra TeófiloJéssica Fernanda TeodoroVitor TheodoroAdla CharanekBruno AlvesFlavia da SilvaRafaela SantanaDiogo MarcondesGisele NevesCamila SouzaBruno BorgesConteúdo de Mídias Sociais:Camila LopesDiogo MarcondesFernando GomesMeire FariasColaboração de: Alessandra TeófiloBruno AlvesFlavia SilvaJéssica Fernanda TeodoroProfessores-orientadores:Anderson GurgelEdson CorreiaRoberta BrandaliseColaboradores:Ana DinizVínicius Siqueira

Erros e Acertos

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EXPEDIENTE

Revista Laboratorial dos alunos dos alunos do 5º semestre de Jornalismo da Unisa

Ano 1 - Edição 4

4 Dezembro/2013

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Mesa para dois

8 Estrela sustentável é exemplo à sociedade

Por aí12 Sociedade em Rede Quem te controla na internet

13 Oficina dos Menestréis - A cultura incorporada

14 Cultura nordestina na zona sul de São Paulo

Abaixe o Volume

15 O poeta não morreu

Campus

19 Notícias no bolso20 Os olhares de Toueg

Retratos de Sao Paulo

28 O tradicional Samba da Vela mantém acesa a chama da

paixão de novos compositores e admiradores

29 Restauração da Catedral de Santo Amaro

30 Bandeirante de meio século A cultura de massa Jovens em busca de um sonho

Nerdices e Trolagens32 Jargão nosso de cada dia Curiosidades Esses Ditados são Populares

Mesmo !!!33 Horóscopo Divertido34 Mais um Conto de Fadas35 Livros que você não indicaria

Sem papas na Língua37 Jornalista com gosto38 O cinema na sala de aula

reconstruindo o cotidiano

De lá pra cá22 Mudança de rumo

26 Museu de Santo Amaro: uma viagem

na história de um povo

16 Mídia Ninja o romantismo na comunicação?

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CAPA

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O lançamento de uma revista é algo a ser saudado com bastante alegria e entusiasmo. Mais ainda quando se trata do primeiro trabalho coletivo do 5º semestre de Jornalismo da Universidade de Santo Amaro. Agradecemos aos leitores por terem acompanhado todo nosso esforço e dedicação por meio da Fanpage da Fol-low Up no Facebook (facebook.com/FollowUp). Quan-do dizemos leitores, queremos, na verdade, dizer colaboradores. Gostaríamos de agradecer também ao nosso amigo Paulo Vini-cius Siqueira, aluno do 5º semestre de Publicidade e Propagan-da, que contribuiu gentilmente com este trabalho, criando três mod-elos de Logotipo (com três cores diferentes) para a Follow Up. Nós, da revista, optamos pela cor laranja. Você, caro leitor, teve participação fundamental escolhendo o modelo do logo. Veja ao lado o resultado da votação:

Você também faz a Follow Up

1 – 41,94% dos votos 2 – 51,61% dos votos3 – 6,45% dos votos

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ESPAÇ

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O LEITO

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CURTA VOCÊ TAMBÉM A FOLLOW UP NO FACEBOOK:

facebook.com/FollowUp

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Estrela sustentável é exemplo à sociedadeMari Salvaterra concilia música com projeto de responsabilidade social

Tabatha Alves e Fernando Gomes

Você sabe como nasce uma estrela? Elas nascem em grandes nuvens de gás compostas por Hélio e Hidrogênio. Em regiões onde há maior concentração desses gases, acontece a força gravitacional, que contrai e esquenta su-ficientemente para acender o combustível nuclear. Quan-do isso acontece é liberada muita energia, o que causa o nascimento da estrela. Agora que você já sabe como isso acontece lá no céu, como ocorre na Terra? A Follow Up conta a história de Mari Salvaterra, cantora que se destaca por estar engajada em projetos sociais e sustentabilidade.

Nascida em uma família de músicos, aos oito anos de idade começou a tocar bateria e pegar gosto pela músi-ca, e aos 15, passou a ter aulas de canto em um coral do Sesc Vila Mariana. Aos 18 anos, ela perdeu a audição do ouvido esquerdo, o que poderia ser algo doloroso para algumas pessoas, virou motivo para que ela escolhesse, definitivamente, a música como profissão. “Fui atrás do curso de canto, porque se você praticar é menos dolo-roso para o ouvido, porque o meu sonho é continuar tra-balhando com a música até o fim da vida”, conta Mari.

Pensando em ingressar de vez na carreira musical, ela prestou vestibular para entrar na Universidade Livre de Música, e foi aprovada na segunda tentativa. Nessa mesma época, os trabalhos profissionais começaram a dar resultados com as bandas Swing a 3, Rozen, Mig 25, Camaleão e depois de um tempo, a Blitz.

Quem pensa que essa estrela não teve seus mo-

mentos de “força gravitacional”, se engana. Depois de três anos na universidade, ela teve que parar o curso, pois as bandas não davam tanto lucro. Continuou a tocar com seu tio nas noites e na parte da manhã tra-balhava em outros segmentos para completar a renda.

Nuvens densas de Hélio e Hidrogênio estavam se formando e essa estrela nem sabia que estava prestes a nascer. Isso aconteceu quando seu tio fi-cou sabendo que precisavam de uma backing vocal para uma grande banda. Mari se candidatou à vaga, fez o teste, e passados alguns meses foi aprova-da. Assim, ela passou a ser parte da banda Blitz.

Pensou que a nuvem densa já estava contraída? Mas se enganou. Mari havia ingressado na banda, mas os out-ros integrantes queriam que ela se esforçasse mais para ficar. Então, seguindo os conselhos da esposa do vocalis-ta Evandro Mesquita, a cantora fez aulas de dança e aca-demia, e ainda enfrentava duas conduções por dia apenas para chegar ao trabalho. As nuvens densas começaram a aquecer e a aceitaram na banda, surgiu a estrela Mari.

Em 2012, ela decidiu sair da banda e investir tudo na carreira solo. Em pareceria com Instituto Brasileiro de Defesa da Natureza (IBDN) produziu o seu EP. Mari, que desde sua adolescência se tornou uma defensora do meio ambiente, criou o projeto Atitude Salvaterra, que consiste na plantação de uma árvore a cada álbum vendido. Em entrevista exclusiva à Revista Follow Up, Mari fala sobre o engajamento às questões sustentáveis.

foto : Daniel Toro

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Revista Follow Up: Explique um pouco o que é o Projeto Atitude Salvaterra.Mari Salvaterra: É uma parceria que eu fiz com o IBDN. Eles arcaram com os gastos da produção dos meus CDs, e parte do que eu arrecado com a ven-da é destinado à plantação de árvores. Além de plantar, essa verba garante o cuidado dessas árvores por dois anos.

Como surgiu o seu interes-se pela sustentabilidade?Mari Salva Terra: Foi desde a adolescên-cia. Eu sempre fui voluntária em proje-tos sociais. Tinha um centro aqui perto de casa que fazia sacolinhas de Natal e eu ajudava a fazer, também arrecadava uma grana para fazer essa sacolinha. Sempre fui muito ligada a isso, sem-pre gostei de fazer o bem para os out-ros. Na verdade quando você tem uma atitude sustentável, não faz o bem só para os outros, mas para si mesmo.

Todo es-se seu trabalho sustentável lhe rendeu um prêmio de artista sustentável pelo IBDN. Conte essa experiência? Esse prêmio é um selo de artista neutra de carbono. Isso quer dizer que todas as minhas emissões de carbono são com-pensadas com atitudes sustentáveis, por exemplo, se eu uso carro eu com-penso com a plantação das árvores.

Além da plantação de árvores com a venda dos seus CDs, qual out-ra ação sustentável você faz?Coisas simples, como não deixar as lu-zes acesas quando está claro, tirar da tomada aparelhos eletrônicos que não estou usando, desligar o wi-fi de noi-te quando ninguém vai usar a inter-net. Além disso, eu evito desperdiçar água, meu único problema é o banho (risos), mas são pequenas atitudes que eu acho que todas as pessoas tives-sem iria fazer uma grande diferença.

O Atitude Salvaterra possui algu-mas parcerias, entre elas a ação Não foi Acidente, que visa consci-entizar a população sobre o risco da combinação bebida e direção. Como nasceu essa parceria?Essa é uma campanha que foi criada em defesa das vítimas de acidente de carro por motoristas embriagados. Eu fiz o contato com o Rafael Baltresca que criou esse projeto depois de per-der a mãe e a irmã em um acidente. Eles estão recolhendo assinaturas para criar um projeto para mudar as leis de embriaguez ao volante no país. Eu divulgo esse projeto em minhas re-des sociais e durante os meus shows.

Em sua opinião, como é a participação de artistas em projetos de causa social?Olha, têm muitos que fazem, a Shakira é uma delas, que eu ad-miro muito. E um cantor que eu não gosto das músicas dele, mas ad-miro a atitude, é o Luan Santana. Tem muita gente que diz: “Ah, está fazendo isso para se promov-er”, mas está fazendo e para mim não importa esse tipo de pessoa que pensa assim, porque o cara está ajudando e é isso que vale.

Você está hoje em carrei-ra solo. Mesmo assim, existem pessoas que se lembram de você pelos tempos de Blitz?Sim, tem uma galera que me con-heceu através da Blitz. Tem gen-te que até não sabe que eu come-cei carreira solo, então eles falam: “Mari, você está na Blitz né e aí”, e eu falo: “Não estou mais (risos)”. Mas o pessoal associa sim, é bom para mim na verdade, porque me associar a uma banda de grande sucesso dos anos 80 é sensacional.

Foto : Caroline Sorelli

Mari uniu duas paixões: a música e sustentabilidade

Diz aí, Mari Salvaterra!

Música para você: Vida.

Sustentabilidade: Dever.

Um sonho: Viver de música.

Pessoa que admira: Minha mãe.

Blitz na sua vida foi: Um amor.

Mari Salvaterra é uma pessoa: Em busca dos seus sonhos.

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Foto : Fernando Gomes

9Dezembro/2013

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AÍ Sociedade em Rede

O mundo web se tornou um espaço onde os brasileiros encontraram a oportunidade de serem ativos na sociedade

Fernando Gomes

A internet está cada vez mais presente na vida dos bra-sileiros. Pesquisa divulgada pelo IBOPE Media em julho deste ano, mostrou que mais de 100 milhões de pessoas es-tão conectadas a rede mundial de computadores. É quase impossível negar a presença desse novo meio de comu-nicação na sociedade e as mudanças ocasionadas. En-tre elas: As pessoas trabalham diretamente de suas casas, namoram à distância, estudam via web e, principalmente, fazem amizades que ficam restritas à tela do computador. O motivo dessa grande adesão da nova rede na socie-dade brasileira pode estar relacionado a um período recente da história do país, o Regime Militar. Essa é a avaliação do sociólogo da comunicação Carlos Pereira Gonçalves. Para ele, um dos efeitos dessa política - que durou quase vinte anos - é que as pessoas sentem a necessidade de serem livres e querem dividir seus ideais com outros. “A internet acaba suprin-do a carência de um espaço de diálogo na sociedade”, disse. Por não necessitar de concessões do Governo, a internet é considerada por muitos o meio mais democrático que existe. Prin-cipalmente porque possibilita que o internauta possa, através das suas plataformas, produzir conteúdo e expressar a sua opinião. Exemplo disso é que as redes sociais viraram um es-paço onde o consumidor faz reclamações de serviços mal prestados por empresas. Estudo publicado pela E.Life apontou que já em 2011, mais de 270 mil clien-tes haviam usado o Twitter para fazer esse tipo de queixa. Carlos Gonçalves acredita que essa é uma das car-acterísticas que levam as pessoas a usarem a web. “A in-ternet possibilita interação e pró-atividade, o que não acon-tece em outros meios de comunicação”, afirma o sociólogo

que considera ainda, que esse é um dos meios que mais oc-asionaram o envolvimento das pessoas. “Se você está de-sconectado da internet você fica fora do que ocorre na socie-dade, porque qualquer coisa que acontece vai passar por ela.” Além de fazer com que as pessoas ficassem mais partic-ipativas na sociedade, a web trouxe outros benefícios, ou mel-hor, facilitou muitos processos do cotidiano, por exemplo: as filas de banco podem ser evitadas, já que a maioria dessas in-stituições possibilitam forma de pagamento via web; o check-in feito antes dos embarques em aviões pode ser realizado pelo site das empresas áreas e produtos que antes eram com-prados em shoppings, podem ser adquiridos nas lojas online. Por outro lado, a internet também tem pontos negativos. Carlos Gonçalves analisa que um deles é que as pessoas deixam de se encontrar pessoalmente. Para ele, a interação que atraves-sa os limites dos chats das redes sociais deixa de acontecer com mais frequência e, além disso, velhos hábitos vão sendo deixa-dos de lado. “Gera afastamento de encontros pessoais e rouba espaço de coisas comuns, como a leitura de um livro”, encerra.

Quem controla você na internet ?Invasão de privacidade, criminilização e como a internet tem afetado a liberdade dos usuários

Facebook, Twitter, Orkut, Instagram, Flickr, YouTube, Foursquare... As redes sociais são um fenômeno na internet. Se-gundo pesquisa do Instituto Nielsen, cer-ca de 75% das pessoas com acesso à web utilizam ao menos uma rede social. Esse número não para de crescer e todos os meses são bilhões de links, fo-tos, mensagens e vídeos, principalmente no Facebook. O site possui 1,19 bilhão de usuários ativos e a cada dia 728 milhões de pessoas, em média, usam a rede social na web e 507 milhões acessam via dispositivos móveis, segundo dados do próprio Facebook. O problema é que quem se ex-põe com frequência na internet às vezes não sabe a que está exposto, para onde vão suas informações, por quanto tem-po elas ficam disponíveis na rede e, prin-cipalmente, quem tem acesso a elas. Em 2012, a Lei 12.737/2012, sobre crimes na internet, foi criada e apelidada de “Lei Carolina Dieckmann”, por causa da atriz que em 2011 teve trinta e seis fotos em

situação íntima copiadas do seu computa-dor pessoal e divulgadas na internet. A lei altera o Código Penal para tipificar como in-frações uma série de condutas no ambiente digital, principalmente em relação à invasão de computadores, além de estabelecer punições específicas, algo inédito até então. O Google possui uma política de privacidade que permite a venda de to-das as informações de seus usuários, seja e-mail, busca, Orkut, Google+, documen-tos ou mapas, para qualquer outra com-panhia. O maior site de buscas do mundo não esclarece os termos de privacidade, mas informa que só repassa para ter-ceiros as informações gerais dos usuários. “A internet deve ter um uso consci-ente e existe sempre o risco da pessoa se expor em demasia, caso não tenha cla-ro para si o que deve ser do âmbito so-cial e o que deve ser mantido no âmbito privado”, explica a Psicóloga Márcia Lilla. Para Márcia, o uso excessivo da internet gera isolamento social e

há pesquisas que revelam os perigos causados por falta de relacionamen-tos sociais verdadeiros e saudáveis. O equilíbrio é a chave para o bom uso da web e, principalmente, dos sites sociais. As redes sociais têm modificado a forma de se comunicar, mas a má implan-tação dos serviços atuais é o maior proble-ma para a liberdade dos usuários. Todos os sites precisariam ser desenhados de forma diferente, não visando somente ao lucro. O fato é que a sociedade está vi-vendo uma fase de expressão livre e infor-mação mais democratizada e, por isso, as redes sociais tornaram-se este verdadeiro fenômeno. Mesmo que esse crescimento tenha acontecido de forma desordenada, com o uso da web as pessoas são capaz-es de alcançar uma popularidade que há quinze anos só acontecia na televisão ou nos jornais. As ferramentas estão cada vez mais disponíveis e avançadas, tor-nando uma identidade visível e favorável para a criação de novas comunidades.

Bruno Alves

Foto: banco de imagens

12 Dezembro/2013

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POR

Oficina dos Menestréis - A cultura incorporadaMenestréis incentivam cultura e ensinam um novo jeito de fazer arte

Jéssica Fernanda Teodoro

Você já parou para pensar nas diferentes formas de se fazer arte? A Oficina especializada em musicais usa a arte para cativar pessoas. A Oficina dos Me-nestréis, passou por grandes transformações em 1981 quando Oswaldo Montenegro, um dos diretores, concluiu que seu elenco precisa-va de mais agilidade e noção de conjunto, for-mando seus profissionais em as áreas de trein-amento artístico como teatro, dança e música. Os menestréis acreditam que o desenvolvi-mento do reflexo, da percepção e da capaci-dade intuitiva melhoraria as condições de vida das pessoas. A oficina recebe participantes de

todas as idades e lugares. A única e mais im-portante exigência é ter vontade de incorpo-rar a arte e apresentar grandes espetáculos. Os menestréis ensinam que ser um artista vai além do que se imagina, é preciso sentir a arte. “Ser um menestrel é poder mostrar através da arte e da cultura um novo jeito de poder fazer teatro, e encantar pessoas é a melhor sensação do mundo”, diz Rosana Pádula, menestrel há mais de 15 anos. A oficina também tem iniciativas sociais para jovens carentes e com deficiência como o Projeto UP, para pessoas com Síndrome de Down e Projeto Aut, para jovens do espectro autista. Os menestréis se apresentam no teatro Dias Gomes na Vila Mariana.

A iniciativa do projeto mix menestréis para cadeirantes e DV’s (deficientes visuais) com o espetáculo noturno para todos os públicos

Foto : site Oficina dos Menestréis

Foto : site Oficina dos MenestréisFoto : Rodrigo Sodré

Menestréis incorporam seus personagens e cativam pessoas de todas as idades

13Dezembro/2013

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AÍ Cultura nordestina na

zona sul de São Paulo

Contação de história, literatura de cordel, teatro, dança, música e arte nas bibliotecas temáticas de São Paulo

Jéssica Fernanda Teodoro

Encantar com palavras, transmitir son-hos, encenar espetáculos, contar poesias. A cultura popular pode ser usada como um caminho para conhecer e explorar mais a cidade. Por meio de uma expressão artística é possível atingir todos os pú-blicos e idades, em especial as crianças. A Prefeitura da cidade de São Pau-lo iniciou o projeto com as bibliotecas temáticas para incentivar as diversas manifestações artísticas e com o obje-tivo de entreter e estimular o interesse sobre a cultura popular no estado. Além do acervo tradicional essas bibliotecas oferecem uma ampla programação cul-tural e abrem espaço para os mais varia-dos temas como poesia, cultura popular, contos de fadas, música, cinema, ciên-cia, literatura fantástica e meio ambiente.

A Biblioteca Belmonte, localizada em Santo Amaro na zona sul de São Pau-lo, tem como temática a Cultura Popu-lar. Com inspirações em Patativa do As-saré, representante da música e poesia nordestina, e Mestre Vitalino, artista que retratou a cultura e o folclore em bone-cos de barro, toda a arte da biblioteca foi desenvolvida pelo artista Ernesto Bonato. Jomar de Jesus Santos, coordenador da Belmonte, conta que desde 2007, quando foi inaugurada, os costumes tradicionais do povo nordestino se tornaram destaque na biblioteca. O resultado positivo dos trabalhos desenvolvidos é hoje grande satisfação para todos os que participam deste projeto. Entre eles concursos de literatura de cord-el, (que possui uma grande importância no campo educacional) e oficinas de xilogra-vura, (que desenvolve o talento artístico).

Abaixe o VolumeEscutar música o tempo pode colocar a saúde em risco

Para muitas pessoas a música está ligada a seu cotidiano, lazer, entre diversas definições. Muitos procur-am, refúgio para relaxar, trabalhar e meditar. Entretanto, um estudo realizado pelo grupo Britsh Medical Journals, nos Estados Unidos, revelou um dado curioso: em seis anos, o número de atropelamentos de pedestres utilizando fones de ouvido triplicou. No Brasil, é difícil encontrar um estudo especifico para esse tipo de levantamento, mas é inegável que causa uma enorme distração. Segundo a psicóloga Maria Rosilda Nogueira, quando uma determinada pes-soa utiliza um fone de ouvido ou fala ao celular atraves-sando a rua, a capacidade de atenção fica prejudicada.

O limite seguro de som contínuo é de 80 decibéis. Especialistas em saúde do ouvido afirmam que aparel-hos sonoros devem ser usados até a metade de seu vol-ume para não causar prejuízos à audição e ressaltam que é muito importante não ouvir o som tão alto a pon-to de não se escutar o que está acontecendo ao redor.

A música é importante para formar a capacidade de demonstrar as emoções, expressão da cultura e até mes-mo a formação do caráter. Ela sensibiliza, alivia o es-tresse, além de ajudar a encontrar o mundo próprio. O ideal é conseguir fazer com que a música propor-cione tudo isso, mas sem causar danos às pessoas.

Elida Rocha

Foto : site acervo Belmonte

Foto : Mariana Verzaro

Cultura popular na biblioteca Belmonte em Santo Amaro

Foto : site acervo Belmonte

14 Dezembro/2013

Apresentações na biblioteca Belmonte sobre a cultura nordestina

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POR

O poeta não morreuCom músicas que marcaram uma geração, o cantor Cazuza é homenageado na exposição do Museu da Língua Portuguesa

Vinte e três anos após sua morte, Cazuza se eternizou não apenas como músico polêmico, mas também como poeta e já antecipavam os movimentos sociais que acontecem nos dias de hoje. Apesar das mudanças no cenário político, trechos como “Meus heróis mor-reram de overdose, meus inimigos estão no poder, ideologia! Eu quero uma pra viver” e “Grande pátria desimportante, em nenhum instante eu vou te trair” de músi-cas do álbum Ideologia (1988) já faziam menção aos problemas pelos quais o país passa na atualidade. Escritas na pós-dit-adura militar, essas músicas inspiram mui-

tos jovens que, apesar de não terem na-scido no auge de cantor durante a década de 1980, se identificam com suas letras e reconhecem sua importância cultural.Muitos deles participaram das manifes-tações de julho e, cansados da repressão foram às ruas lutar por seus direitos. O Museu da Língua Portuguesa, em São Paulo, resolveu homenagear o can-tor com a exposição “Cazuza mostra sua cara”, que fica em cartaz até o dia 23 de fevereiro para visitação. Com obje-tos pessoais do cantor e ambientes com recursos multimídia, o objetivo é retratar vida e obra do artista de forma interati-

va. Até mesmo no banheiro projeções de shows ilustram as paredes. A obra do poeta está mais viva do que nunca.

Museu da Língua Portuguesa http://www.museulinguaportu-guesa.org.brPraça da Luz, s/nºLuz - Centro - SP

Quartas, Quintas, Sextas, Sába-dos e Domingos das 10:00 às 18:00. $6 - As terças e sábados a entrada é gratuita.

Foto :Alessandra Teófilo

Foto :Alessandra TeófiloFoto :Alessandra Teófilo

15Dezembro/2013

Alessandra Teõfilo

Foto do cantor na exposição no Museu da Língua Portuguesa (foto maior), parte externa do museu (à esquerda) e objetos pessoais do cantorexpostos (à direita)

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Mídia Ninja : o romantismo na comunicação?

Criticados pelos veículos tradicionais e com ativismo declarado, o coletivo dá voz ao povo e propõe uma forma alternativa de fazer jornalismohomenageado na exposição do Museu da Língua Portuguesa

Meriangela Farias

ler e ouvir, é possível participar também.

Parcialidade Declarada

O romantismo foi uma tendência es-tética, literária e artística. A mídia e suas transformações com a tecnologia. Mas afinal, o que tudo isso tem a ver?Dois mil e treze. A surpresa é geral. “O povo acordou”, “Queremos um futuro melhor”. Jovens idealistas se organizam pela inter-net e vão às ruas. A insatisfação é geral e os motivos diversos. A justiça é idealizada e o nacionalismo levado a um ponto máxi-mo. Bandeiras do Brasil estão em todos os lugares e gritos de “Verás que um filho teu não foge a luta” ecoam em todos os cantos do país. À margem disso tudo, a chamada mídia independente ganha destaque Che-gando a lugares que a tradicional não alca-nça, eles se posicionam em prol dos man-ifestantes e a partir desse ponto de vista

avanços tecnológicos e revoluções cul-turais, políticas e ideológicas. Refletin-do esse cenário a mídia também evoluiu.Rádio, Jornal e Televisão. Os meios de co-municação ganham espaço na sociedade e viram sinônimos de mediação e difusão de conteúdo. Mas nem sempre a ideia de prestação de serviço cumpre esse papel. A luta pela audiência e surgimento de uma mídia de massa cria uma nova relação com o públi-co que recebe informações passivamente. Só nos anos 1990 começa a despontar uma nova forma de difundir informações que viria a bagunçar essa ordem: a inter-net possibilita a distribuição de conteúdo de forma rápida e global. E fica cada vez mais difícil controlar a informação. O leitor deixa de ser apenas receptor passa a ser produtor de conteúdo. A avalanche diária de informação movimenta o conhecimento e põe em cheque a credibilidade da mídia tradicional. Já não é suficiente assistir,

Romântico:adj Que se afasta do es-tilo e modo de composição dos au-tores clássicos. Diz-se de um gênero artístico e literário, em cujas tendên-cias se nota completa independên-cia de regras convencionais e a mira no efeito (contrapõe-se a clássico). Segundo o Dicionário Michaelis

No século XIX, o Romantismo que já gan-hava espaço na Europa chega ao país res-gatando raízes, o subjetivismo e preocu-pação social. A abolição e a causa dos negros ganha destaque e há um clima de conscientização. Os escravos, em espe-cial, encontraram suas angústias refleti-das na voz de poetas como Castro Alves.O século termina, os escravos estão liber-tos, entre outras mudanças que começam a alterar a sociedade. A fantasia ide-alista do romantismo começa a perd-er espaço e o século XX é marcado por

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Foto : Mídia Ninja

16 Dezembro/2013

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fazem sua própria forma de comunicação. O ativismo e a mediação compõe seu discurso. Seja na tela do smartphone, no Facebook, ou nas manifestações, os Ninjas estão em todo o lugar. E como Castro Alves, eles quer-em dar voz àqueles que gritam mudanças. O jornalismo romântico praticado pelo Mídia Ninja propõe uma desmistificação das formas de se fazer comunicação. Se-gundo Dríade Aguiar, 23 anos, uma das fundadoras do coletivo, o objetivo dos Nin-jas é trazer a notícia para um lado mais hu-mano, mais próximo. Para isso, a propos-ta é usar todas as ferramentas possíveis. “Tudo o que temos hoje em dia pode ser usado para fazer comunicação”, diz.Narrativas integradas, jornalismo em ação. O Mídia Ninja foi criado em 2011, mas ganhou força e notoriedade durante as manifestações de junho. Desencadeadas pelo aumento da tarifa de ônibus e espal-hadas pelo país com a insatisfação em di-versos setores, os manifestantes pediram por educação, transporte, saúde e justiça. E o coletivo transitou de forma mais nat-ural entre eles, cobrindo, fotografando e transmitindo em tempo real pela internet. Independentemente do tema, o Mídia Nin-ja coloca o ativismo como sua maior pauta.

Críticas, contribuições e crises

A parcialidade declarada provoca críticas da mídia tradicional (Reinaldo Azevedo, em seu blog na Veja online, classifica o coletivo como “irrelevância delinquente”), por não buscar opiniões opostas às dos manifestantes, como da polícia e do gov-erno. “A gente não tem medo de falar que está do lado do manifestante. Nós te-mos isso como um proposto jornalístico e eles (mídia tradicional) são protegidos pela imparcialidade”, completa Dríade.Gabriel Toueg, jornalista e criador do proje-to de jornalismo colaborativo Foca na sexta (Ver Perfil p. 20), acha interessante o forma-to do Mídia Ninja em relação à distribuição de conteúdo, mas critica o fato de eles não ouvirem o outro lado. Para ele, jornalismo e ativismo não podem andar juntos. “No momento que estou cobrindo as manifes-tações nas ruas do Brasil, eu sou jornalista. Por mais que eu tenha uma posição sobre isso, ela não deve aparecer na minha infor-mação”. Toueg defende que o jornalista pre-cisa de distanciamento para mostrar o que acontece. “Na hora que faço juízo de va-lores, eu deixo de ser jornalista”, completa. Embora tenha ficado conhecido como uma mídia de conflito, o coletivo tem um leque diverso de pautas e preocupação com a estética em suas coberturas. “No Brasil, o independente tem o estigma de mal feito”, comenta Dríade. Por isso, há uma atenção especial com a formação dos jornalistas. Embora não sejam obriga-dos a participar de todo processo envolvi-do na cobertura, todos entendem dela. O Mídia Ninja tem despertado atenção

e conta com muitos colaboradores es-pontâneos, além de manter contato em quinze países da América Latina e de outros lugares como América do Norte

e Europa. Transição em meio à criseO Jornalismo realizado pelo Mídia Nin-ja é reflexo da explosão de novas técni-cas e ferramentas que vêm modificando a forma de pensar em fazer comunicação.Fatores econômicos e tecnológicos influ-enciaram o processo de transformação que o jornalista vem passando. Em um relatório preparado da Escola de Jornal-ismo de Columbia, nos Estados Unidos, os pesquisadores C.W. Anderson, Emily Bell e Clay Shrky, dissertam sobre jornal-ismo pós-industrial e indicam mudanças no processo de Fordismo (termo usado para designar o sistema de produção em massa idealizado por Henry Ford), por onde a informação passava para chegar ao público. Esse formato encontrou confli-to quando aquilo que era produzido para vender passa a ser distribuído de graça. É a crise para a comunicação de massa. A internet modifica a ordem do jornal-ismo. Assim como aconteceu no mercado fonográfico com a criação do Napster no fim da década de 1990, um fenômeno de par-ticipação e audiência tem alterado a forma de pensar comunicação. Destaque para as Mídias Sociais que ampliam a possibil-idade de compartilhar conteúdo e interagir com o mesmo. Dríade diz que as redes sociais personificam a crise do interme-

diador, pois não é mais necessário esper-ar jornal do dia seguinte para saber o que está acontecendo. A mídia tradicional per-de o papel de detentora da verdade absolu

ta, já que o poder de disseminar conteúdo, com qualidade ou não, é permitido a todos.A crise no impresso resultou no fechamento de revistas pela Editora Abril, o fim de jor-nais e as demissões em massa em diversos veículos, que migram cada vez mais para o online, onde o jornalista, além de compe-tir com os outros veículos, compete com o próprio público. Luis Fernando Bovo, editor - chefe do portal do Estado, aponta a con-vergência de mídias como alternativa. “Hoje há uma infinidade de canais onde você pode distribuir conteúdo”, explica o jornalista. Em meio à participação constante do público e a criação de todo o tipo de con-teúdo, grupos como o Mídia Ninja falam cada vez mais de uma comunicação democrática. Mas afinal, se todos podem comunicar, qual é o papel do jornalista?

“Tudo o que temos hoje em dia pode ser usado para fazer

comunicação“ Diz Dríade Aguiar - Mídia Ninja

Para Dríade Aguiar, do Mídia Ninja, o jornalismo está fadado a reinvenção completa

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Foto : Flávia Silva

17Dezembro/2013

Page 18: Follow up edicao dez 2013

O velho território da comunicação está sendo invadido. Por isso mes-mo, o jornalista precisa entender sua posição nesse processo. Nas manifestações, eram comuns protestos e hostilidade em relação à mídia tradicional. O público não se sente representado e não está sat-isfeito com a informação que recebe. Dríade acha que falta noção do que é responsabilidade social. Ela diz que não entende como alguns profissionais conseguem fazer a separação de suas opiniões enquan-to indivíduo e profissional sem que haja envolvimento com aquilo que é narrado. “Agora sou jornalista, agora sou pessoa”, analisa Driáde.O Mídia Ninja acredita em um jornalismo mais democrático. Para Dríade a comunicação passa por um processo contínuo de tran-sição, no qual o jornalismo está fadado a uma reinvenção completa.Seria uma busca pelas raízes do jornalismo, onde a prestação de serviços e a mediação social encontram espaço funda-mental? “O importante não é apenas registrar os fatos, mas a ideia é entender os personagens dentro deles”, explica Dríade.Se a mídia tradicional vai se adaptar aos novos meios ou será com-pletamente substituída pela mídia independente, ainda é não se sabe. Mas é possível dizer que identificar a informação, compreender os personagens e contar uma boa história sempre será relevante.

Comunicação democrática, jornalismo social

Andam dizendo por aí

O que a mídia tradicional acha dos Ninjas?

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Foto : Mídia Ninja

“O Ninja estava presente onde a grande

mídia não esteve”, Venício A. de Lima, jornalista e sociólogo na Folha.com.

“Eu acho que [a Mídia Ninja] vem preencher uma lacuna, sobretudo porque recupera essa reportagem de rua, essa ênfase no que está acontecendo neste momento e ao

vivo”, Sylvia Moretzsohn, professora uni-versitária no site Pragmatismo político.

“Com o aumento das críticas à TV Globo pe-los manifestantes, a Mídia Ninja se tornou rapidamente uma fonte confiável de infor-mação para muitos dos envolvidos nos pro-testos e transmitiu ao vivo manifestações em todo o Brasil”, texto publicado no jornal britânico The Guardian.

“A Ninja trabalha com a comoção, o desejo e a participação social, é um tipo de narra-tiva muito mais interessante do que a ideia

pobre e corporativista de jornalismo”, Ivana Bentes, diretora da Eco no site Observatório da Imprensa.

“Chamar o que essa gente faz de jornal-

ismo é uma estupidez”, Reinaldo Azevedo, jornalista em blog da Veja.com

“Os jovens da Mídia Ninja acham que a grande imprensa é parcial. E, em vez de defender a imparcialidade, tomam partido e afirmam que a verdade surgirá do intercâm-bio de múltiplas parcialidades (...)Apontar a câmera para um lado, e não para o outro, já

significa uma escolha pessoal”, Fernando Gabeira, jornalista no Estadão Online

“O coletivo apresenta uma nova forma de se fazer jornalismo, muito mais próxima da sociedade, algo para o qual a chama-da grande imprensa ainda está demorando

para acordar”, Regina Augusto, jornalista no portal Meio e Mensagem

“Não há como negar que a Mídia Ninja tem feito um trabalho dinâmico e valente, e que é em parte graças às suas imagens que as farsas da polícia vêm sendo desmonta-das; mas fico com a sensação amarga de que algo está fora do meu campo de com-preensão quando vejo os ninjas filmando os jornalistas da mídia tradicional sendo agre-didos e enxotados das manifestações sem

fazer um só gesto em sua defesa” Cora Rónai colunista do jornal O Globo

18 Dezembro/2013

Cobertura pelo twitter durante as manifestações de junho realizada com smarthphones

Page 19: Follow up edicao dez 2013

Notícias no bolso

Dispositivos móveis conectam cada vez mais as pes-soas e transformam a produção e o consumo de informações

vos móveis, os usuários se informam so-bre o assunto que têm interesse”, afirma. Na visão de Luis Fernando Bovo, di-retor executivo de conteúdos digitais do Estadão, as plataformas móveis ajudam o jornalismo, principalmente, na cobertu-ra de acontecimentos nos quais o repórter não pode estar presente. Ele cita como ex-emplo o incêndio na Boate Kiss, em San-ta Maria, em que pessoas que estavam dentro do local publicavam informações para quem estava fora. “Eu não consigo imaginar a cobertura de Santa Maria se não tivessem os dispositivos móveis”, diz.

Até o final do século XX noticiar algo era papel dos jornalistas, agora o cenário ultraconectado da atualidade deixa claro que as coisas mudaram. Hoje, cidadãos comuns, munidos de tecnolwogia, publi-cam fotos, vídeos e textos na internet por meio de plataformas móveis, que mui-tas vezes abrem discussões socialmente pertinentes. Essa realidade deve-se mui-to à explosão do uso de smartphones e tablets. A expectativa é que o mercado de mobilidade aumente em 90% as ven-das até o final do ano, segundo a con-sultoria em inteligência de mercado IDC. Essa realidade transforma a produção de conteúdo em tempo real e o consumo de informações nessas plataformas. “Em qualquer lugar podemos estar informa-dos, basta ter um celular com acesso à internet”, comenta Lorena Lima, 19 anos, estudante do 2º semestre de Design. Se-gundo dados do relatório de 2013 do Pe-wResearch Center, o “The Stateof The News Media”, 43% dos usuários afirmam estar consumindo mais notícias agora que têm um tablet. O mesmo estudo revela que 60% da população abaixo dos 50 anos diz ter lido notícias numa plataforma móvel no dia anterior ao que foi aplicado a pesquisa. A internet conquistou grande espaço na vida das pessoas com a presença dos dispositivos móveis. Para Nathália Fran-co, 19 anos, estudante do 2º semestre de Jornalismo, o que muda agora é a velocid-ade com que a informação chega às pes-soas e a forma como cada um consome o que quer, e não o que a mídia impõe. “Antes, os veículos tinham como controlar a notícia, hoje, com a internet e dispositi-

A produção de conteúdo por cidadãos comuns, muitas vezes pauta os veículos tradicionais de comunicação, que man-têm monitoramento nas redes sociais para acompanhar o que é publicado em tempo real. O desafio do jornalista é adaptar-se a essa realidade em que todos cada vez mais se rendem à mobilidade, tanto para a disponibilização de conteúdo em mídi-as digitais para as plataformas móveis, como para estar mais perto do consumi-dor da notícia. “Nós, futuros jornalistas,

devemos nos preparar para trabalhar com o mobile, pois será uma alternativa de at-uação e acrescenta uma experiência difer-enciada”, opina Camila Santos, 19 anos, estudante do 2º semestre de Jornalismo. A tendência é que cada vez mais usuários tenham acesso a notícias em tempo real, e com apenas alguns toques na tela do smart-phone desencadeiem uma chuva de infor-mações. Agora, o que resta aos veículos de comunicação é acompanhar essa realidade.

TECN

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Camila Lopes

19Dezembro/2013

A mobilidade ganha espaço na atuação do jornalista e dispositivos móveis se tornam grandes aliados na produção e consumo de notícia

Foto : Camila Lopes

Page 20: Follow up edicao dez 2013

Os olhares de TouegJornalista divide suas experiências na profissão e a atuação como correspondente no Oriente Médio

Ele é colecionador de canecas, moedas e cédulas, e apaixonado pelo Oriente Médio. Tem mais de 15 anos de experiência no jornalismo, sete deles como correspon-dente internacional. Gabriel Toueg, 34 anos, se mostra disciplinado e satisfeito como freelancer, depois de ex-periências em redação e rádio. Sua paixão falou mais alto quando, em 2004, decidiu ir para Israel por con-ta própria. Segundo ele, o plano inicial era ir para estu-dar, mas as coisas não ocorreram como o planejado.

Criador do projeto “Um Foca na Sexta”, Toueg usa o seu talento e gosto por escrever para orientar e divulgar textos de recém-formados e estudantes de jornalismo, em uma tentativa de proporcionar uma discussão sobre a profissão, que muitas faculdades e estágios não dão aos estudantes.

Foi em um sábado, na Universidade de São Pau-lo (USP) que a equipe da Follow Up foi recebida por Toueg. Na pausa para o almoço entre uma palestra e outra de um curso para comunicadores sobre migrantes, o papo rolou ao ar livre, nas proximidades do prédio prin-cipal da ECA. Disposto a compartilhar suas experiências, o jornalista falou sobre a vida em Israel, os desafios de um correspondente internacional, a volta para o Brasil, o que pensa da mídia tradicional e a vida como freelancer.

A VIDA NO ORIENTE MÉDIO

Após duas viagens a Israel, em 2004 ele decidiu ir pela terceira vez, mas para ficar. Sete anos foi o tempo que o jornalista passou no Oriente Médio, trabalhando como cor-respondente internacional. Toueg não pensa muito quando fala sobre o que o fez tomar essa decisão, e é nítida sua paixão pelo lugar. “Eu sempre brinco que o Oriente Médio me escolheu mais do que eu o escolhi, porque eu já trabalhava escrevendo sobre o Oriente Médio antes de ir para lá”, conta.

Assim que chegou a Israel, teve a oportunidade de colaborar com a rádio França Internacional, sediada em Paris, mas com transmissões para o mundo todo, em vári-os idiomas. A ele coube a missão de ser corresponden-te para as redações do idioma português, para o Brasil e Portugal, durante três anos e meio. Nesse tempo, co-briu acontecimentos como a tomada da Faixa de Gaza pelo Hamas (organização fundamentalista da Palesti-na), em 2005, e a Segunda Guerra do Líbano, em 2006.

O jornalista precisou trabalhar muito para conseguir as oportunidades que teve. Toueg passou a ser corresponden-te para o Portal Terra, e por muito insistir por uma oportuni-dade, começou a ser colaborador para a antiga rádio Eldo-rado (atual Estadão), no mesmo dia em que caiu um míssil próximo a ele. “Foi um golpe de sorte”, brinca o jornalista.

Camila Lopes

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Foto: Gabriel Paciornik

20 Dezembro/2013

Page 21: Follow up edicao dez 2013

No início, ele não tinha nenhum contato na imprensa local, as coisas foram acontecen-do por indicação de amigos. Mas, o fator principal, para Toueg, é a vontade e cora-gem, aliadas a muito estudo sobre o lugar. “Sempre quando me perguntam o que eu recomendo para uma pessoa que quer ser correspondente, eu digo: vai!”, aconselha.

Para Toueg, quando um jornalista trabalha como correspondente, ele tem a consciên-cia de que são os olhos do veículo. Nesse sentido, construir confiança com o editor é de extrema importância para que o trabalho dê certo, pois a responsabilidade de passar ao leitor o que ele vê é dele. “Porque o editor não está lá, ele pode até saber do fato que de alguma forma chega, mas eu que estou ali na rua, vendo a situação, é posso contar do jeito que estou vendo”, explica Toueg.

OS DESAFIOS DE UM CORRESPONDENTE

Toueg só sabia falar inglês quando de-cidiu ir a Israel. Mas ainda assim, há uma vantagem, segundo ele, já que a maioria das pessoas falam idioma, desde o moço da padaria, ao motorista de táxi. Como trabalhava em casa, os seus equipamen-tos eram apenas um telefone e um com-putador. Mas não dava para viver só de jornalismo. De faxineiro a garçom, recep-cionista de hotel, atendente de telemar-keting... Ele batalhava para se manter e, ao mesmo tempo, exercer o jornalismo.

Quando começou a Guerra do Líbano, Toueg conta que estava trabalhando como atendente de telemarketing e não pensou duas vezes: largou o trabalho, pegou o car-ro, e arriscou tudo. “No momento em que eu via que o jornalismo ia poder me dar um retorno maior, não financeiro, mas pelo lado emocional, eu largava as coisas e ia”, conta. Apesar de ter perdido o emprego para cobrir a guerra, não se arrepende, pois, segundo ele, é na guerra que o jornalista trabalha mais, ganha e amadurece. “Por mais que seja trágica, a guerra é fascinante”, confessa.

A maioria das pautas emplacadas por Toueg eram relacionadas a conflitos. “O que vende, na verdade, é aquela parte de jor-nalismo sangrento, de conflito, que no final das contas é o que as agências de notícias fazem”, conta. Mas o jornalista não esconde a vontade de mostrar às pessoas seus ol-hares sobre o lugar. Israel tem um pólo de tec-nologia responsável por grandes invenções que os leitores gostariam de conhecer. “Is-rael é vibrante como São Paulo, com trânsi-to, com problemas, com poluição, a última coisa que uma pessoa vai ver é um conflito, porque as guerras são localizadas”, explica. Como freelancer, há também um desa fio na proposição de pautas por um jor-nalista. Toueg conta que, a cada dez pau-tas sugeridas, duas eram emplacadas e

a maioria era relacionada aos conflitos. E esse foi um dos motivos para que, em 2011, decidisse voltar ao Brasil. Ele che-gou à conclusão que, ou ficava em Israel, mas não viveria do jornalismo, ou voltava para o Brasil. Nesse momento, a paixão pela profissão falou mais alto. Em sua vol-ta, por indicação de uma amiga, passou a trabalhar como editor internacional para o Estadão on-line, onde ficou durante um ano.

O modelo tradicional das redações não agrada nem um pouco o jornalista. Apesar de sua vivência na área, Toueg critica as organizações na imprensa e a deman-da de trabalho para uma equipe pequena. Ao falar de suas experiências, tanto de um lado, como de outro, Toueg é cate-górico. “Ou você escolhe essa rotina mas-sacrante, ou você escolhe ser freela”, afir-ma. Apesar de ter que trabalhar bem mais para alcançar o mesmo padrão financeiro de quem trabalha em algum veículo, e de-mandar muita organização, para ele é mui-to mais prazeroso poder escrever de acor-do com o que gosta e procurar trabalhos que tenham mais a ver com seu perfil.

UM FOCA NA SEXTA

Com tanta experiência, muitas pessoas procuravam Toueg para pedir conselhos sobre texto e revisão. Pensando em uma forma mais sistematizada para ajudar, ele criou o projeto voluntário “Um foca na sexta” (foca é uma palavra do jargão jornalístico, que se refere aos iniciantes na profissão).

A iniciativa dá espaço para estudantes de Jornalismo e recém-formados escrever-em textos sobre algum tema relacionado à profissão. Toueg dedica suas sextas-fei-ras para editar e orientar o foca sobre o conteúdo. “A ideia é ajudar pessoas, ain-da que seja uma ajuda pontual”, diz. Todas as sextas um texto é publica-do na página do projeto. Hoje, a ini-ciativa tem mais de 55 inscrições e posts agendados até o início de 2014.Todo o trabalho de edição e orientação é feito por Toueg, mas ele não descarta a pos-sibilidade de encontrar um profissional que possa dispender um tempo para ajudar e compartilhar a experiência da profissão com os focas, auxiliando em textos com temas específicos, como esporte, por exemplo.

Apesar de ter saído das redações, Toueg ainda trabalha como freelancer para grandes veículos e se dedica, também, ao projeto “Judeus Árabes: o livro”, com a internaciona-lista Leslie Sasson Cohen. A ideia é contar a história dos judeus que saíram de países árabes e muçulmanos nas décadas de 50, 60 e 70. Além disso, ele tem três livros não publicados, um deles sobre o jornalista bra-sileiro Nahum Sirotsky, há quase 70 anos na profissão. A dedicação em seus projetos são movidos pelo prazer de escrever. “O texto é realmente uma das minhas paixões”, revela.

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Fotos : Camila Lopes

21Dezembro/2013

Gabriel Toueg, jornalista freelancer e pai de um projeto que da oportunidade para novos jornalistas mostrarem o seu talento

Page 22: Follow up edicao dez 2013

Mudança de rumoCinco em cada dez brasileiros não exercem a função para qual se formaram

Foto: Diogo MarcondesArte: Ana DinizModelo: Natália Brito

Page 23: Follow up edicao dez 2013

Um dos momentos mais importantes na vida de quem sonha em fazer um curso superior é o resulta-do do vestibular. O nome na lista dos aprovados sig-nifica um grande passo pessoal e profissional. A partir daí, serão alguns anos estudando aquilo que gosta em busca de um objetivo: conseguir uma colocação profis-sional. Mas por motivos diversos, depois de diploma-dos, nem todos seguem na profissão que escolheram.Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Es-tatísticas (IBGE), 53% dos brasileiros diplomados tra-balham em áreas diferentes das que se formaram. O consultor em recursos humanos Laerte Cordeiro lista alguns motivos que levam a essa migração. Para ele, fazer a graduação errada, precisar de um emprego e de um salário, a localização do emprego, a promessa de carreira e a influência dos pais e amigos são fatores que determinam os rumos profissionais de uma pessoa. Cordeiro afirma também que até mesmo a presença da namorada ou do namorado em determinada em-presa pode alterar o rumo profissional e fazer com que a pessoa siga o parceiro, mesmo que a área de atu-ação seja diferente. “Já ouvi casos em que isso acon-teceu. Provavelmente o curso feito já não interessa-va muito, então o apelo do amor foi mais forte”, diz. Elizabeth Teodoro está no segundo semestre de Edu-cação Física e ama, como ela mesma diz, o curso. Porém

Publicidade e Propaganda também faz sua cabeça. “Sou muito criativa, falo bem, não tenho vergonha. Então acha-va que o curso que me proporcionaria tudo isso seria Publicidade”, diz ela, que optou por Educação Física no terceiro ano do ensino médio, quando quase reprovou por faltas, porque não ia às aulas para ficar jogando vôlei. Elizabeth representa grande parte dos estudantes brasileiros, já que muitos, às vésperas do vestibular, ain-da têm dúvidas sobre o que fazer. Uma forma encontrada para resolver esta situação é recorrer aos velhos testes vocacionais. A psicóloga Paula Alves adverte: “Testes validados são sempre confiáveis. Mas o que temos hoje são muitos testes não validados pelo Conselho Federal de Psicologia (CFP). São questionários que as pessoas fazem, jogam no Google e muitas vezes respondemos e acreditamos que está correto. Temos que tomar cuidado”. Outra dica importante dada por Paula Alves para quem está indeciso é procurar um psicólogo que trabalhe com orientação profissional (veja mais dicas no quadro ao lado). Para quem já está na área e decide mudar, Laerte Cordeiro aconselha a pensar bastante na de-cisão que será tomada e diz que sempre faz uma per-gunta a quem o procura com essa dúvida: “Há razões sérias que o levam a abandonar uma careira que apar-entemente era o que lhe interessava?”. Quem não tiver estas razões, deve ficar onde está, afirma o profissional.

Diogo Marcondes

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Arte : Diogo Marcondes

23Dezembro/2013

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A Psicóloga Paula Alves é formada em coaching pela Sociedade Brasileira de Coaching e atua como coach(treinador em inglês) – “atividade que consiste em elevar a performance de in-divíduos e empresas, aumentando os resultados positivos”, como explica Paula em seu site.

Abaixo, Paula responde a quatro tópicos propostos pela FOLLOW UP:

Qual carreira seguir

Fazer escolhas é um desafio muito grande na vida de qualquer pessoa. Geralmente o momento da escolha profissional acontece quando somos muito jovens e estamos confusos. Muitos aca-bam escolhendo a profissão no “susto”, alguns seguem o que os pais querem, outros seguem o que dá dinheiro, outros o que o dinheiro dá para pagar. O que ajuda muito para não errar-mos quando estamos confusos é procurar ajuda de um psicólogo que trabalhe com orientação profissional.

Teste vocacional

Testes validados são sempre confiáveis. Mas o que temos hoje são muitos testes não valida-dos pelo Conselho Federal de Psicologia (CFP). São questionários que as pessoas fazem, jog-am no Google e muitas vezes respondemos e acreditamos que está correto. Temos que tomar cuidado.

Perfil x Finanças

Vivemos em uma sociedade em que ter dinheiro é importante. Mas o critério de escolha deve estar ligado ao perfil da pessoa. Quando eu tenho um perfil muito voltado à estabilidade finan-ceira, tenho que ter uma profissão que me dê estabilidade, porque corro o risco de me sentir frustrado. Tente conhecer primeiro qual é o seu perfil antes da escolha profissional.

Frustração pessoal x Frustração profissional

Somos uma só pessoa. Apesar dos vários papéis que desempenhamos, se uma parte da sua vida não está bem, a tendência é o todo ficar comprometido. Pessoas que se escondem na vida profissional para minimizar as frustrações pessoais não estão felizes por completo.

Mudança forçada

Em alguns momentos, a mudança de área é causada pelo destino. Fabiana Benevides se formou em Nutrição em 1997, aos 22 anos de idade. Quase oito anos depois de formada e trabalhando em restaurantes na cidade de Limeira, in-terior de São Paulo, ela teve que mudar para a capital do estado para cuidar da mãe, que ficara viúva havia pouco tempo. A mudança de cidade fez Fabiana mu-dar também de emprego. Em São Paulo, ela não seguiu em sua área de formação.Hoje, ao lado do marido, ela trabalha no RH de uma multinacional como instruto-ra de treinamento. Mas pretende voltar a atuar em sua profissão. Antes disso, quer fazer pós-graduação em vigilância sani-tária ou gerenciamento de restaurantes e

se atualizar. “A tecnologia e o rápido aces-so à informação transformaram assun-tos que na minha época de estudante só eram ditos e recebidos em sala”, afirma. “Hoje muita gente sabe de nutrientes nutri-entes e dietas. Tem aplicativos que fazem tudo ou quase tudo para você”, completa.Fabiana admite que hoje seria difícil a es-colha entre Nutrição e RH. “Se eu tivesse que escolher, eu optaria por nutrição, porém com certeza daria um jeito de aplicar treinamentos sobre isso. Seria muito bom.”

O papel da universidade

Todos os anos mais de um milhão de estudantes como Fabiana e Elizabeth for-mam em seus cursos – em 2012 foram 1.050.413 no Brasil, segundos dados do Censo do Ensino Superior colhidos pelo Inep/MEC. Mas será que as institu-ições de ensino dão a bagagem suficiente para os alunos e mostram como funcio-na de fato a profissão que escolheram? Laerte Cordeiro defende as instituções. “As Universidades – bem ou mal – ofere-cem aos jovens o melhor momento de suas vidas. Elas devem deixar os jovens em-briagados de cultura, sonhos e conceitos.

Universidade não deve ser opera-cional e ensinar só a prática”, afir-ma. Cordeiro acredita que o estágio deve ajudar trabalhar a parte prática.

Para onde ir e o que fazer?

Se você tem dúvidas sobre qual cur-so fazer ou se já concluiu e não sabe se vai seguir na área, a psicóloga Paula Alves dá uma dica preciosa. “Tente con-hecer primeiro qual é o seu perfil antes da escolha profissional. O critério de escol-ha deve estar ligado ao perfil da pessoa, não dá para dizer para todos escolherem pensando em ser felizes ou ter dinheiro, o equilíbrio sempre é a melhor opção”. Antes de escolher qual curso fazer, o ideal é pesquisar, procurar a ajuda de profission-ais que já atuam na área e tirar todas as dúvidas. Não se iludir também é parte fun-damental. Nem todo jornalista vai apresen-tar o Jornal Nacional, nem todo publicitário será o novo Nizan Guanaes e nem todo físico será o Stephen Hawking. “Quando se é muito jovem, os conceitos heroicos às vezes nos induzem a certos caminhos. Depois a gente muda”, acredita Cordeiro.Em um mundo tão dinâmico, não se sinta só caso queira mudar de profissão aos 45 minutos do segundo tempo. Outras milhares de pessoas estão na mesma situação.Foto : Arquivo Pessoal

24 Dezembro/2013

Page 25: Follow up edicao dez 2013

Quando criança, Fabio de Carvalho tinha como uma de suas atividades prediletas pegar a bicicleta e ir até a Avenida Santos Dumont, próxima ao bairro de Casa Verde, onde mora na zona norte de São Paulo, ver os aviões pou-sando e decolando no Campo de Marte. Outra coisa que o deixava feliz era ir com o pai e o avô – pai de sua mãe –, os dois, aficionados por aviação, aos aeroportos de Cumbica e Congonhas ver as aeronaves de grande porte. Desde pequeno seu sonho era ser aviador, mas o destino mudou a rota de Carvalho. Em 2007, ele se formou em Direito pela Universidade Presbiteriana Mackenzie. Três anos depois, concluiu a pós-grad-uação em Direito Tributário pela Pontifícia Universi-dade Católica de São Paulo (PUC). A carreira profis-sional caminhava muito bem e o amor por aviação, também. “Mesmo atuando como advogado, sempre lia sobre aviação e ia a eventos da área”, conta ele, mostrando que a paixão de infância continuava viva.No mesmo ano em que se formou na pós, uma via-gem para o Paraná mudou a sua vida. “Durante a via-gem tive a oportunidade de realizar um vôo em uma aeronave pequena e ter contato com os instrumentos da mesma. Foi uma experiência incrível”, relembra. Dois dias após retornar da viagem, Carvalho estava no Aeroclube de São Paulo, um dos centros de voos mais antigos e importantes do Brasil, para fazer sua matrícula na turma de piloto privado de avião – este é o primeiro módulo para formação teórica de um piloto. O maior receio de quem pretende mudar de profis-são radicalmente é a aceitação da família. “Tive receio de contar para minha família que em menos de dois dias resolvi mudar de profissão. Contudo, sempre soube que teria apoio deles”, afirma. E de fato houve apoio, de tal for-ma que seu pai também fez o curso de aviação. “Se con-segui me tornar piloto profissional, devo tudo a eles”, diz. Carvalho acredita que mesmo quem não tem apoio dos familiares pode ter sucesso na carreira que escolher. “Sei de casos de pessoas que não tiveram o apoio e mesmo assim conseguiram atingir seus objetivos.”, ex-plica. “Há um fato curioso: exceto casos onde não há relação entre os membros da família, praticamente todos acabam, mais cedo ou mais tarde, tendo apoio familiar.” Hoje, três anos após a decisão, o menino que ia de bicicleta ver os aviões pousando e decolando no Campo de Marte ministra treinamento para pes-

soas que, como ele, se inscrevem no curso de aviação no Aeroclube de São Paulo. A rotina de trabalhar de segunda à sexta-feira em escritório ficou para trás. “Trabalho de acordo com a escala que temos, não im-portando se é feriado ou final de semana. Tais dias co-muns não existem”, diz aos risos. “Tenho mais objetivos a cumprir nesta nova área. Trabalhar no que se gosta, não é trabalho. A aviação faz com que eu trabalhe sába-dos, domingos e feriados. Faz com que eu vá trabalhar na minha folga. E o mais curioso: faço isso muito feliz”.Se era infeliz como advogado, Carvalho tem a respos-ta na ponta da língua. “De forma alguma. Aprendi mui-to e penso, no futuro, voltar a atuar com direito parale-lamente a aviação, caso seja possível. Gosto da área jurídica até hoje, mas sempre fui maluco por avião”. O recado final do piloto de avião é que cada um busque o seu sonho. “Você é o que você quer ser. Mudei porque não queria me arrepender de algo que deix-ei de fazer”, diz. “Imagine a cena: meus netinhos che-gando à minha casa e eu tendo que dizer que ‘o vovô teve medo e não buscou seus sonhos’”. Imaginou?“Então, o que posso dizer é: vá atrás. A mudança sempre é difícil, mas se for por algo que você ame, vá em frente, sem olhar pra trás. Trabalhar com algo que se ama não é trabalho. Acho que isso já diz muita coisa”, finaliza, novamente aos risos.

Carreira para o ar

Arte: Stephan Gama

Diogo Marcondes

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Foto : Arquivo Pessoal

Do escritório para a cabine: a história do advogado que virou piloto de avião

25Dezembro/2013

Fábio de Carvalho, no aeroclube de São Paulo. Ele trocou o direito pela aviação

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O local onde vivemos, por muitas vezes tem histórias tão intensas que perpetuam suas raízes na memória. Foi com esse in-tuito que um grupo de moradores, a partir do ano de 1970, decidiu resgatar objetos e documentos antigos do bairro de Santo Amaro, zona sul da capital, com a finali-dade de fazer parte do atual acervo do Mu-seu de Santo Amaro. O museu é adminis-trado pelo CETRASA- Centro de Tradições de Santo Amaro. Também pudera, Santo Amaro tem uma história bem diferente de outros bairros da cidade de São Pau-lo, já que era um município autônomo até o ano de 1935, quando foi incorporado à capital. Hoje, na cidade de São Paulo, fora o museu que guarda as memórias de Santo Amaro, há apenas três mu-seus de bairros (Jaçanã, Penha e Bixiga). A partir do ano de 1997, com a orga-nização de uma comissão destinada a dar forma ao espaço, o Museu de San-to Amaro foi ganhando força, sendo in-augurado no mesmo ano. Atualmente o local é referência na região, sendo procurado por diversos estudantes, his-toriadores e pesquisadores, em busca de sua vasta história, deste que é um dos maiores bairros da cidade de São Paulo. Bairro, aliás, que já foi cidade, e é mais antigo do que a própria capital. Santo Amaro completou 460 anos no último dia 16 de janeiro, sendo um dos bairros mais antigos da capital paulista. Sua história se inicia ainda no século XVI, quando o ca-cique Caiubi, morador da então Vila da Borda do Campo (atual Santo André) de-

cidiu sair de sua vila devido a divergências com brancos que também já habitavam a região. O local escolhido para a nova al-deia seria a 13 quilômetros dali. Estaria assim fundada a Aldeia de Ibirapuera, em 1552, dois anos antes da capital paulista. Logo após a instalação de Caiubi na região, os religiosos jesuítas liderados por Padre José de Anchieta decidem er-guer uma capela no local (hoje conhecido como Largo Treze de Maio), em invocação a Santo Amaro. A primeira missa celebra-da na pequena capela foi rezada em 14 de julho de 1556. Foi a partir do século XVII, com o grande fluxo de fieis locais na cape-la, que tornou-se uma paróquia pelo bispo do Rio de Janeiro, Dom José de Barros e Alarcão. O bairro ganha status de freguesia.Foi a partir do século XIX que o bairro desenvolve-se economicamente, graças a constituição do mercado local onde os ag-ricultores e colonos da região realizavam a troca e venda de mercadorias. Neste mesmo século, chegaram os primeiros imi-grantes alemães que ocuparam a região, principalmente a que atualmente é conhe-cida como Colônia. Santo Amaro ganhou o status de Vila, por outorga do Império do Brasil através de um decreto de 10 de jul-ho de 1832. Já a instalação do município de Santo Amaro se deu em 07 de abril de 1833. A ligação de transporte com São Paulo era muito restrita, e poucos eram os caminhos para Santo Amaro. Diante disso, em 1886, a Câmara Municipal de Santo Amaro autorizou a construção de uma es-trada de ferro, essa que ligaria o município

à capital paulista. O ramal permaneceu em atividades até 1913, quando o serviço foi substituído pelo bonde elétrico. Foi em San-to Amaro que em 1968, a última viagem de bonde na cidade de São Paulo aconteceu.Graças ao recebimento de equipamentos públicos dignos de um grande município, a cidade permaneceu sendo autônoma até o ano de 1935, quando em 22 de fevereiro, o interventor do Estado Armando Salles de Oliveira determinou a incorporação do mu-nicípio a São Paulo. Com a extinção do município sua área foi subdividida nos sub-distritos de Santo Amaro, Ibirapuera, Cape-la do Socorro e o distrito de Parelheiros.

Uma viagem na história de um povo

Última viagem de bonde em São Paulo, com destino a região de Santo Amaro, abril de 1968

Everton Calicio

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Foto : Acervo Cetrasa

Foto : Acervo Cetrasa

26 Dezembro/2013

Inaugurada em 1997, Museu de Santo Amaro conta a história de um dos bairros antigos da capital

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O visitante do Museu se depara a diversos retratos de pessoas condecoradas com o Troféu Botina Amarela, concedida pelo CE-TRASA às pessoas que fizeram algo em prol da região. O nome faz referência aos anti-gos moradores de Santo Amaro, que quan-do chegavam ao centro de São Paulo eram reconhecidos por suas botinas repletas de barros. Com diversas fotos antigas do bairro, como o registro da primeira casa construída no Brooklin, que na época era bairro do mu-nicípio de Santo Amaro, a sede da antiga pre-feitura e também o antigo mercado caipira. O museu também conta com o espaço destinado à vida do artista Júlio Guerra, que com suas pinturas e esculturas, bus-cava retratar a região para todo o país. As placas antigas de veículos com a inscrição “Santo Amaro”, da época em que o bairro ain-da era emancipado, chama muita atenção.

A religião é um capítulo a parte durante a visita ao local, já que Santo Amaro era pon-to de encontro da famosa romaria para o Santuário de Pirapora do Bom Jesus. Uma tradição que o Cetrasa faz questão de man-ter. O visitante tem acesso a antigos docu-mentos e objetos da fabricante de frios finos Eder Santo Amaro, a primeira empresa produtora de frios no estado de São Paulo e se localizava na Isabel Schmidt, a mes-ma Rua da Universidade de Santo Amaro.

Para quem se interessou o Museu de Santo Amaro se localiza na Avenida Alceu Maynard de Araújo, 32 - Vila Cruzeiro. O horário de visitação é de segunda, quarta e sexta-feira, das 13h30 às 17h30. O telefone para mais informações no (11) 5642-2214.

Repórter do passado: O Largo Treze de Maio e o Mercado De Santo Amaro, ou mercado dos caipiras, são os dois grandes símbilos da antiga metrópole que virou bairro; era lá que a gente humilde mas orgulhosa de sua terra se reunia para viver em comunidade, formando um dos mais simpáticos municípios de S. Paulo

Largo Treze de maio 1935

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Foto : Acervo Cetrasa

Foto : Acervo Cetrasa

27Dezembro/2013

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Luciana Ribeiro foi pela primeira vez e gostou muito do ambiente. “O sam-ba da vela me surpreendeu, não imag-inava que acontecia de uma forma tão organizada. Achei incrível o significa-do das cores da vela e principalmente a paixão que todos integrantes e com-positores possuem.”, afirma Luciana.

O Samba da Vela acontece toda se-gunda-feira, na Casa de Cultura de Santo Amaro. O local é na Praça Dr. Francisco Ferreira Lopes, 434, es-quina com a Avenida João Dias. A entrada é franca, mas os organiza-dores pedem uma contribuição vol-untária de R$ 5,00, para ajuda nos gastos com a confecção do caderno com as músicas. Para maiores infor-mações o telefone é (11) 5691-0164.

Cerimônia de abertura do Samba da Vela; Ela é fica acesa aproximadamente 3 horas, o tempo de duração do encontro, depois que a vela se apaga chegou a hora de se despedir

O tradicional Samba da Vela mantém acesa a chama da paixão de novos compositores e admiradores

Já pensou em uma roda de samba em plena segunda-feira? Pois é isso que acontece na casa de Cultura de Santo Amaro, na zona sul de SP. O Samba da Vela é muito conhecido entre os apreciadores de boa música de São Paulo e até de outros Estados. Uma das principais características do samba, além da vela que dá nome a essa comunidade, são as músi-cas tocadas, que por serem todas de autoria dos compositores que frequentam o lugar, não fazem parte das canções que tocam em rádios. Já dizia Candeia “O sambista não precisa ser membro da academia, ao ser nat-ural em sua poesia o povo lhe faz imortal...”. A vela foi uma forma de estabelecer um período de tempo para o encerra-mento do evento ser mais delicado. No fi-nal do samba tem a sopa preparada pelo cozinheiro Oliveira desde o ano 2000. A idéia de utilizar uma vela para cronome-trar o tempo de duração do encontro sur-giu dos organizadores Magnu Sousá, Paquera, Chapinha e Maurílio de Oliveira. Em outro lugar de São Paulo, o bar Zi-riguidum também localizado na região de Santo Amaro, Em 2001 foi convida-do por Adelino Alves para fazer o en-contro musical na casa de Cultura. Existem três etapas para as canções fazerem parte do repertório, que são de acordo com as cores da vela. Na vela azul são apresentadas as no-vas canções. Na vela rosa os artistas de-fendem uma que eles acreditam ser a melhor. Depois que as músicas foram definidas chega a etapa da vela bran-ca, onde as novas composições vão para o caderno apresentando todas as letras. Na etapa da vela Doro, um dos compos-itores que atualmente esta com um de seus sambas eternizado no caderno, fala sobre a fama da Comunidade da Vela. ”No Rio de Janeiro o Samba da Vela é muito considerado, não só lá, também em outros Estados”, diz o compositor Felipe. Beth Carvalho, um dos maiores nomes do samba é a madrinha da Comunidade da Vela. Além desse grande ícone do samba, outras celebridades fazem parte do pro-jeto, como meros expectadores também. Há apresentações com o Quinte-to Branco e Preto, e também com o fa-moso Pagode da 27, localizado no Grajaú, extremo sul de São Paulo. A fama do lugar é de grande valia também para os músicos que tocam no samba. Muitos integrantes desse grupo são con-vidados para tocar com artistas famo-sos como, por exemplo, Almir Guine-to e Reinaldo, o Príncipe do Pagode

Felipe Doro, Mario Leite e Cacá Barbosa. Compositores do Samba da Vela

Bruno Borges

Foto Bruno Borges

Foto Bruno Borges

Foto Bruno Borges

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28 Dezembro/2013

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Há pouco tempo atrás, o Largo Treze de Maio era repleto com barracas de camelôs que vendiam seus produtos falsificados, porém, em 2009, o então prefeito Gilberto Kassab ordenou a re-tirada do comercio informal da região. Era o começo das mudanças no bairro.

Foram-se as barraquinhas, e com isso um marco teve maior visibilidade – a Cat-edral de Santo Amaro. Durante muito tempo a antiga igreja da Matriz ficou es-condida, mas hoje chama a atenção pelo seu restauro. Pouca gente sabe que essa igreja é um dos patrimônios históricos mais antigos e importantes de São Paulo.

Restauração da Catedral de Santo AmaroO tão conhecido Largo Treze de Maio que vemos hoje em Santo Amaro é bem diferente daquele que existe na memória de grande parte dos habitantes da região

Vitor Theodoro

João Paes e Suzana Rodrigues, nau-fragou. Eles fizeram a promessa de que se por acaso se salvassem fariam uma cape-la em honra de Santo Amaro “feita de tai-pa de pilão, não forrada”. Em 1686, a cap-elinha fundada com a imagem de Suzana e João, foi transformada em paróquia e começaram as fundações da base da at-ual catedral. Essa história pode ser vista em um mosaico que está junto a estatua do Bandeirante Borba Gato. Atualmente a imagem está guardada em um cofre.

Ela foi fundada em janeiro de 1560, numa missa celebrada pelo Padre José de Anchieta. Devido uma situação onde um barco com um casal de portugueses

Catedral de Santo Amaro na zona sul– Apesar das mudanças, igreja ainda conserva cores originais

Com a modernização do bairro de Santo Amaro começaram as escavações para as futuras instalações da Estação do Metrô Lar-go Treze e, com isso, devido sua estrutura já antiga, surgiram rachaduras na nave central, nos arcos e nas colunas de sustentação da catedral. O teto também já sofria com a ação dos cupins e da umidade, e com essa série de situações, a igreja foi interditada em 2007, para reabrir suas portas somente quase cinco anos depois, no dia 08/08/2012. O governador

de São Paulo Geraldo Alckmin, participou da celebração. Segundo Alckmin “Foi aprovado R$ 1 milhão que já recuperou e permitiu re-abrir a Catedral. E agora está sendo libera-do mais R$ 1 milhão pela Lei Rouanet, que vai permitir restauro quase completo. Este local remete ao século XVI, 1560. Aqui está a história de Santo Amaro e de São Paulo”. A igreja, ainda com andaimes e tijo-

los espalhos, funciona todos os dias com missa às 7h da manhã e às 12h. A previsão é de que as obras demorem mais dois anos para serem finalizadas. Em todos os “santamarenses“ e paulista-nos, resta aguardar o término da restau-ração e ter toda a modernidade do marco do século XXI um marco no século XVI.

Ao lado da estátua de Borba Gato – Monumento conta a história da doação da imagem de Santo Amaro pelo casal.

Foto Vitor Theodoro

Foto Vitor Theodoro

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Foto Vitor Theodoro

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Bandeirante de meio séculoBorba Gato, ponto referencial do antes e depois de um bairro

Um homem de feições sérias e cheio de imponência, que chama atenção por sua estética e tamanho. Essa é a im-agem de um bandeirante paulista, ou melhor, de Manuel de Borba Gato, o desbravador de expedições no Brasil. Localizada hoje em um dos maiores bairros da zona sul de São Paulo, em Santo Amaro, o monumento dá boas vindas para quem chega ao bairro. Obra é polêmica devido a sua auten-ticidade e suas características. Chama a atenção por diversos motivos, mas o que agrada os artistas é o fato de ter sido pro-jetada pelo escultor e artista plástico paulis-ta Júlio Guerra. Estátua que pesa quarenta toneladas e mede treze metros de altura. Demorou seis anos para que a obra ficasse pronta. O artista planejou a estatua em sua casa que ficava na Avenida João Dias, bem próxima ao local onde a obra foi erguida. Júlio adorava ouvir as opiniões dos vizin-hos para dar mais autenticidade a obra. Foi inaugurada em 1960 para celebrar IV Centenário do antigo município que at-ualmente é o bairro que conhecemos. O

monumento protegido pela Unesco com-pletou 50 anos em 27 de Janeiro de 2013. É tema de inúmeras discussões, que nos faz refletir na real necessidade de monu-mentos dentro de uma metrópole que con-tem uma parte da história de São Paulo. Para a construção da obra foram uti-lizados métodos, que na arquitetura são conhecidos como mosaicos tridimen-sionais, composto por pedras de már-more. Vale lembrar que não são pastil-has e sim pedras que vieram de diversas regiões do Brasil. Muitas dessas pedras foram quebradas pelo próprio escultor. Por dentro hoje a atual estátua é oca. O que sustenta sua base é um trilho de trem que há ao seu interior. Porém Borga Gato não está sozinho nessa praça, para com-pletar a obra tem um conjunto de quatro painéis, que também são de mosaico com cenas do bairro de Santo Amaro e perso-nagens que compõem toda uma história. Estátua admirada por uns e não reconhecida por outros, hoje é sím-bolo de cartão postal do bairro.

Jovens em busca de um sonho

A cultura de massa

A Casa de Cultura de Santo Amaro foi fundada no ano de 1984 por movi-mentos sociais, mas só conseguiu seu reconhecimento em 1992 por parte da Secretaria Municipal de Cultura. Está localizada na Avenida Inácio Dias, no bairro de Santo Amaro, e atualmente é administrada por alguns moradores. A casa recebe eventos como o Coo-perifa e o Projeto Guri. O espaço fun-ciona de domingo a domingo, com o intuito de aproximar jovens à cultura, através de oficinas, saraus e teatros.Para mostrar o conteúdo aprendidones-sas oficinas, todo mês há uma festa à comunidade. Os alunos mostram com um sorriso no rosto o quanto é gratifi-cante aprender com quem tem prazer de ensinar, assim, cultivando a cultura.

Flávia Silva

Rafaela Santana

Foto Rafaela Santana

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Foto Flávia Silva

FIGURAÇAS

Foto Flávia Silva

30 Dezembro/2013

Flávia Silva

Estátua do Borba Gato, na avenida Santo Amaro, zona sul de São Paulo

Trës irmãos e um sonho: fazer sucesso na música

Foto Flávia Silva

Moradores do bairro administram casa de cultura

Os irmãos Kivia (19), Kelvyn (16) e Kenedy (12), tem um sonho em comum, o de fazer sucesso através da música. Os alagoanos são irmãos e inte-grantes da banda “Forró Tudo Novo”. No início apenas Kivia cantava, Com o passar do tempo, seus irmãos foram se in No início apenas Kivia cantava, Com o passar do tempo, seus irmãos foram se interessando em tocar e até mesmo compor. Desde então se apresentam no Largo Treze de Maio, localizado em Santo Amaro. A divulgação do trabalho é feita por meio das apresentações realizadas aos sábados, onde ven-dem seus CDs com músicas próprias. A primeira música com o nome “Tudo Novo”, foi composta por Kene-dy. “Como era nossa primeira musica de trabalho em todos os locais que nos apresentávamos começaram a nos chamar de tudo novo”, diz Kiv-ia ao explicar o nome da banda. Os irmãos já se apresentaram no Programa do Ratinho. Segundo os irmãos, o reconhecimento das pessoas pelo trabalho feito pela banda desper-ta grande satisfação. “Nosso sonho é encantar pessoas de todas as idades, sem preconceito”, declaram os irmãos.

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Sabe aquela linguagem que usávamos na escola para que a professora não descobrisse que estáva-mos falando dela? Sim, inconscientemente você usava o jargão. Jargão, que pode tanto vir do francês “jargon”, quan-to da união do italiano “gergo” com o grego “hyerós”, sig-nifica a linguagem aplicada em grupos, sendo profission-ais em sua grande parte, para entendimento apenas de seus integrantes.Confira alguns jargões em diversas áreas.

“Aquele cara deu uma barriga feia.”A assessora de Imprensa DaiaLeide fala que isso ocorre quan-do um jornalista não apura os dados de fontes, mas mesmo assim publica uma notícia.

“Cara, não acredito que fez isso! Vou fazer o taco de baseball”O Analista de sistemas Salum Junior explica que isso é dito quando um colega de trabalho faz algo errado.“Quer dizer ‘me dá que eu resolvo’”.

“Tem que patchiar os canais da mesa.”O Operador de Som Marcello Stolai explica que o termo signifi-ca endereçar os recursos disponíveis da mesa, de acordo com sua necessidade.O Analista de cadastro Pedro Cavalcanti, que já cursou jornalis-mo, fala que existem também os jargões estranhos. “Passaral-ho, apesar do significado jornalístico não ser bacana por sig-nificar um grande corte de funcionários, é um termo que me arrancou risadas quando descobri o lado obscuro do termo”, exemplifica Pedro.

Jargão nosso de cada dia

POR QUE NÃO APARECEM ESTRELAS NAS FOTOS TIRADAS DA LUA?

Seria tudo montagem? Antes da teoria da conspir-ação, tire uma foto de alguém numa cidade movimentada e veja se aparecem estrelas. Não né? A aparência do céu noturno na foto depende do tempo de exposição da câmera e da luminosidade do local. Na lua não há atmosfera, todos os raios do Sol são refletidos diretamente pela superfície do satélite. O céu fica sobreposto, porque tem pouca luz com-parada à da superfície, e as estrelas não aparecem.

Você já parou pra pensar o porque ‘’ quem ri por último ri melhor’’ e o ‘’ Muito riso pouco siso’’ pois é meus caros, com sentido ou não, os ditados populares fazem a festa em nosso cotidiano, enraizados de história e lição de moral, eles são mesmo populares, fáceis de compreender, e constituem uma parte importante da nossa Cultura.Confira Agora Alguns dos mais Bizarros : - As cadelas apressadas parem cães tortos- Goiabada na beira da estrada, ou é verde, ou está bixada- Passarinhos e Pardais, não são todos iguais- A Mulher e a sardinha, quer-se pequenina- A pensar Morreu um Burro- Em rio que tem piranha, jacaré nada de costas- Se Gordura fosse físico, o porco seria atleta- Antes dentes, que parentes- Baleias no canal, terá temporal-Em tempo de guerra, Urubu é frango

Esses Ditados são Populares Mesmo !!!

Curiosidades

Adla Charanek

Bruno Alves

Tabatha Alves

QUEM CERTIFICA O INSTITUTO DE CERTIFICAÇÃO DO ISO 9001?

O selo que todas as empresas adoram mostrar nas campanhas publicitárias, são dados por centenas de organi-zações. No Brasil todas elas prestam contas ao famoso Inmet-ro, o Instituto Nacional de Metrologia, Normalização e Quali-dade industrial. É ele quem define se a organização está apta ou não a emitir o certificado. Mas, e quem fiscaliza o Inmetro? O instituto não tem apenas um chefe para responder. Há uma série de grupos de certificação em todo o mundo, ou seja, a gente dá o selinho do Inmetro para certificadores internaciona-is e eles nos dão o aval deles. Sim, há pelo menos cinco registros de sobre pessoas que teriam morrido dessa forma. Do rei Martin de Aragão em 1410, a um motorista tailandês, em 2003. O fato de nossa respiração ser interrompida quando damos uma gargalhada e a causa dessa morte, segundo os médicos. Uma pessoa com saúde debilitada que ri compulsivamente, diminui a quantidade de oxigenação no sangue, causando uma arritmia e podendo levar à morte.

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Adla Charanek

32 Dezembro/2013

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E quem não passou parte da infância sonhando com os contos de fadas, não sabe o que é ser feliz, ou melhor, não conhece o ’’felizes para sempre’’. Des-de pequeninos, recheamos nosso subconsciente com príncipes em cavalos brancos, e anõezinhos camaradas. Já se passou pela sua cabeça, que es-sas não eram nem de longe, a real história que inspiraram todos esses contos.Vocês se lembram da Chapeuzinho Vermelho, a pobre e inocente moça que se perde na floresta , é devorada pelo Lobo mau ,e que a história termina sem eira nem beira. Pois bem, há alguns séculos atrás, as pessoas inventavam histórias, mui-tas delas, para amedrontar e alertar as pessoas , ai que entra a história da Chapeuzinho Vermelho, criada para que as pessoas se atentas-sem ao falar com estranhos. Uma história repleta de crueldade e erotismo. O Lobo Mau devora a avó da menina, e coloca o sangue e a carne da falecida na mesa, que serve de banquete para a Chapeuzinho quando chega , puro canibalismo, já com a barriga farta ela é induzida a se despir e deitar com o Lobo, que entre elogios ’’pra que essas mãos tão grandes ’’ mantidos na história, traz a mocinha goela abaixo.Graças a adaptação dos irmãos Grimm, a história ganha um final feliz, onde surge um caçador, que salva a Chapeuzinho e sua avó. Dentre essa história real que contei agora, outras também surgiram. Versões onde Vovozinha e Cha-peuzinho sobrevivem, e depois de alguns anos abrem um Bordel, á outras onde a própria mãe da Chapeuzinho mantém um caso com o Caçador, são inúmeras. E não vamos esquecer que além dessas, temos também o da adorada Bran-ca de Neve, que castigou a Rainha má, fazendo ela colocar sapatos em brasa,e dançar até a morte.Nem tudo são flores, sempre existe os dois lados da história,escolha o seu, e desconfie de tudo que termine com ’’felizes para sempre’’ .

Mais um Conto de Fadas

Foto : banco de imagens

Adla Charanek

Foto : banco de imagens

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ÁRIES – 21/03 a 20/04Você é o cara mais atrapalhado da face da terra, tem mania de liderança e quer sempre estar no poder, no videogame quer ser o Play-er 1 mesmo sem nem ter ideia do jogo. Gosta mesmo é de botar pra quebrar e adora um bate boca.

TOURO- 21/04 a 20/05Cabeça dura nato, se pega sempre escorregan-do na mesma banana, a vida toda. Na festa quer que o DJ toque sua Playlist favorita, quando criança de tão materialista, implorava pra sua mãe te dar o dízimo da Igreja pra gastar em brinquedos, e pechinchava horrores na hora de comprar um carrinho, as pessoas desse signo trabalham que nem peões e são famosos mãos de vaca.

GÊMEOS- 21/05 a 20/06Um dos gênios da comunicação, esta sempre antenado sobre os acontecimentos do Mundo e da vida alheia, seu forte é fazer um leva e trás, mesmo passando a imagem de amigo fiel, na vida é mais perdido que cego em bingo, adora se sentir livre e solto para ir e vir e nas horas vagas, conta uma mentirinha pra passar o tempo.

CÂNCER – 21/06 a 21/07O chorão da vez, você esta sempre reclamando da vida, e todos por gostarem de você são obriga-dos a ficar te aguentando, agrada sempre gregos e troianos com sua lábia e cara de santo,no hora do desespero apela para o emocional. nas horas vagas adora fazer terapia e assistir desenhos da Disney.

LEÃO – 22/07 a 22/08Você se acha o máximo, o rei da Cocada, em outra vida deve ter sido um Senhor de Engenho pois ado-ra que as pessoas trabalhem para você.

VIRGEM – 23/08 a 22/09Você é metido a perfeccionista, toda engomadinho, não sai de casa sem antes sua mamãe dar o nó na sua gravata. Adora falar mal da vida alheia, o de-feito habita no próximo, e é você que sempre está La para lembre-lo disso, criatividade e imaginação são dons dos quais você nasceu sem.

LIBRA – 23/09 a 22/10Você é um verdadeiro fazedor de médias, puxa saco nato em busca de status, adora um champan-he caro e uma blusinha abercrombie, aprecia a arte e todas as bichisses do gênero, conhece as novas regras ortográficas da língua portuguesa como a palma da mão.

ESCORPIÃO – 23/10 a 21/11Você é sem dúvidas o ‘’ Coringa’’ do Zodíaco, adora causar desavenças, é do tipo que pede pra mãe fazer um bolo e fica ao lado do forno só pra gritar “queimou mãe’’ pra depois fazer cara de choro, quando vai a praia, adora fazer Cooper apenas pra pisar nos castelinhos de areias das crianças, é sem dúvidas, o responsável por salgar a Santa Ceia.

SAGITÁRIO – 22/11 a 21/12Você esta na lista dos que mais jogam na loteria, otimista, boa praça. Adora dar um jeitinho bra-sileiro para conseguir as coisas e vez ou outra chega lá, um pouco metidinho, mas legal de se bater um papo.

CAPRICÓRNIO – 22/12 a 20/01Você é o Enrustido da vez, calculista, age fria-mente, quando criança tinha um amigo imag-inário e elaboravam serials killers, você quase não tem coração e costuma receber em média 6 abraços por ano, geralmente da sua mãe que reza para que você encontre a Luz, mas você não esta nem ai, jogar limpo esta longe de ser o seu dilema .

AQUÁRIO – 21/01 a 19/02Você Sapateia na mesa e encontra Bob Marley todas as tardes, é do “contra” odeia se sentir comum, não segue aquilo que é padrão, é o todo moderninho da cabeça aberta e das ideias revo-lucionárias.

PEIXES – 20/02 a 20/03Você é o cara mais esperto, ao menos passa grande parte da vida acreditando piamente nisso, acha todos os outros signos frágeis e sem cére-bros, vez ou outra da um conselhinho só pra se passar por bom coração, curte mesmo coisas pesadas, e nas horas vagas são ótimos macum-beiros.

Horóscopo Divertido

Adla Charanek

Foto : banco de imagens

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As férias de fim de ano estão chegando e para quem gosta de passar o tempo livre lendo um bom livro, muitas vezes surge à seguinte pergunta: que livro comprar? Pensando em sanar essa dúvida, a sessão SqN (Só que Não) da revista Follow UP mandou a sua equipe (de uma pessoa só) a diferentes universidades de São Paulo (na verdade foi uma só) e entrevistou jovens engaja-dos, esforçados e talentosos para aconselhar livros que você NÃO deveria ler.

OBS: Os nomes dos entrevistados foram mantidos em sigilo absoluto para que os seus respectivos professores não os identificassem.

O Pequeno Príncipe: “É um livro para quem quer serMiss Universo.”P.V.S- estudante de publicidade e propaganda

De volta à Cabana: “Ele acabou com a graçado primeiro [À Cabana].”T.B.S- estudante de publicidade e propaganda

O Alquimista: “Muita viagem, viagem demais,muito surreal.”R.C.S- estudante de psicologia

Memórias Póstuma de Brás Cubas:“A história é muitosem noção.”R.F.C- estudante de direito

O Terceiro Travesseiro:“Não atingiu as minhas expectativas.”V.S.P- estudante de psicologia

Eragon:“É horrível cara.”F.C.S- estudante de Rádio e TV

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PALAVRAS

CRUZADAS

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Jornalista com gostoPor Duda Rangel

Gosto de ser jornalista.

Gosto dessa coisa de não ter rotina. Gosto da surpresa. Do imprevisível. Gosto da rua. De andar, de olhar. De ouvir. Gosto das coisas belas e das feias também. Gosto de gente.

Gosto do frio na barriga. Gosto do gosto de primeira vez pela milésima vez. Gosto das boas histórias para contar. Das boas histórias para lembrar.

Gosto de imaginar o que o leitor achou, se refletiu, amou ou odiou.

Gosto da dúvida. Gosto de questionar. Desconfiar. Gosto do desafio de sentar e escrever. Gosto de pensar como é que eu começo essa p****. Gosto de não saber como terminar.

Gosto de não me conformar. Da inquietação que me faz andar.

Gosto do cheiro de café. Gosto do jornal fechado, do jornal folheado. Gosto do bar. Dos amigos. Gosto da conversa fiada. Da piada. Gosto dos dias alegres e dos cheios de melancolia também.

Gosto de trapacear o destino. Gosto de reclamar. Caraca, como eu gosto de reclamar.

Gosto de ficar desgostoso com a minha vida de jornalista e logo depois achar tudo muito gostoso outra vez.

Texto publicado com autorização de Duda Rangel, originalmente no blog Desilusões perdidas (www.desilusoesperdidas.blogspot.com.br)

Um jornalista desempregado, um ser humano em ruínas. Este é Duda Rangel, personagem de ficção cri-ado pelos jornalistas Anderson e Emerson Couto. No blog desilusões perdidas, Duda retrata com humor os dramas e experiências do cotidiano da profissão. Em 2012 os irmãos Couto lançaram o livro “A vida de jornalista como ela é”.

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37Dezembro/2013

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Cinema é história em movimento. Os irmãos Lumière criaram o cinema para reg-istrar o cotidiano. Outros tiveram a ideia de reconstruir a história através do cine-ma. O cinema teve como berço a história, e é na história que ele busca inspiração.Os filmes de longa-metragem, assim como as demais produções audiovisuais, rep-resentam uma produção cultural e, des-ta forma, devem ser utilizados como mais um recurso para o trabalho do professor. A abrangência de temas que podem ser abordados, a dinâmica cinematográfica, as várias mídias (imagem, som, fotografia) favorecem a apreensão e compreensão das questões levantadas em sala de aula. O cin-ema, imaginado, antes de tudo, como um in-strumento de diversão, mostrou-se também como documento histórico, seja ele inspirado ou testemunha de um determinado evento. Como toda produção cultural, os filmes históricos [1] são influenciados ou contaminados por ideologias, im-pregnando-se de determinadas men-sagens políticas. O espectador tem que estar atento a essas “contaminações”. Como exemplo de produção cinematográfi-ca inspirada em um evento histórico, temos o filme O descobrimento do Brasil (1937), de Humberto Mauro. As grandes navegações marítimas são um tema difícil em sala de aula, tanto para alunos do ensino funda-mental quanto do ensino médio. Explicar as motivações da aventura marítima, os perigos da travessia oceânica, as formas e dimensões dos navios, a indumentária euro-peia do período e o choque de civilizações, utilizando apenas o quadro negro ou, quan-do muito, o livro didático, é cansativo tanto para professor quanto para os estudantes.

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Os filmes, somados a outros documentos, servem como ferramentas para a construção do conhecimento histórico em sala de aula

38 Dezembro/2013

Capa do filme O Descobrimento do Brasil (1937), de Humberto Martins

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A aldeia de Canudos, também chamada Arraial do Belo Monte, er-guida pelo beato Antônio Conselheiro no sertão da Bahia no final do século XIX, foi destruída em outubro de 1897 pelas tropas do Exército Brasileiro, sob as ordens do então presidente Prudente de Morais. Cerca de 25 mil pessoas foram mortas. Mais de 90% eram sertanejos. Na sequência final do filme, a transposição da lingua-gem literária para a linguagem cine-matográfica mostra a preocupação do diretor em amenizar a denún-cia sobre a carnificina propagada pelo Exército Brasileiro no combate.São muitas as possibilidades ped-agógicas do filme A Guerra de Canu-dos. Para colocá-las em prática, no entanto, é necessário o domínio de uma metodologia específica. Como disse Marc Ferro: “os historiadores já recolocaram em seu lugar legítimo as fontes de origem popular, primeiro as escritas, depois as não escritas: o folclore, as artes e as tradições pop-ulares. Resta agora estudar o filme (...)”.Dentre os muitos documentos cinematográficos que fazem referên-cia à recente história do Brasil, não po-demos deixar de citar Eles não usam Black-Tie (1981), de Leon Hirszman. O filme é a adaptação cinematográ-fica da peça homônima de Gianfran-cesco Guarnieri, escrita em 1955 e encenada pela primeira vez no Teatro de Arena de São Paulo em 1958. O filme faz referência ao movimento

*Valter Barcala é mestre em Educação, Arte e História da Cultura pela Universidade Presbiteriana Mackenzie

39Dezembro/2013

Capa do filme Guerra de Canudos (1988), de Sérgio Rezende

Destarte, a utilização de filmes de longa-metragem ou documentários torna a aula mais dinâmica e prazerosa, possi-bilitando discutir problemáticas já levan-tadas, através das imagens. O filme O descobrimento do Brasil é uma poderosa ferramenta didática. Narração da Carta de Pêro Vaz de Caminha permeada pela reprodução de cenas inspiradas em pin-turas famosas como as de Vítor Meireles [2], e com uma bela trilha sonora, com-posta por Heitor Villa-Lobos, é uma aula de história e de cultura do Brasil, mas esquecida nos arquivos acadêmicos. Outro bom exemplo é o filme Guerra de Canudos (1998), de Sér-gio Rezende, inspirado no livro Os Sertões, de Euclides da Cunha.Segundo Rezende, tudo é ficção, mas, em cada plano, sente-se a força da verdade. O filme revive um dos mais sangrentos conflitos armados da História do Brasil.

operário no final dos anos de 1970, mais precisamente ao ano de 1979. O eixo central do filme são as divergências ideológicas entre os operários e patrões, governo e sindicatos e, principalmente, entre as diversas linhas sindicais. O filme torna-se um importante documento histórico ao mostrar os rumos que a política brasileira estava toman-do. No conjunto, Eles não usam Black-Tie é uma ficção inspirada em fatos reais. Da união entre o cinema e a história, materializou-se um novo documento, que se so-mou a outros já existentes sobre esse período da História do Brasil. É inegável a necessidade de as-sociar diferentes linguagens nas au-las de todos os níveis de ensino. O perigo está em se utilizar o cinema, ou outras formas de linguagem, sem vinculá-las ao planejamento escolar. A partir da análise dos filmes toma-dos como exemplo neste artigo, fi-cou também evidente a necessidade de se analisar as diversas formas documentais referentes a um deter-minado fato histórico-social: textos de fontes diversas, fotos, filmes e, quando possível, entrevistas com pessoas que vivenciaram os fatos ou foram contemporâneos a eles. Separar o que é ficção do que é real, é um importante passo para a con-strução do conhecimento histórico; e é a partir deste conhecimento históri-co que o homem se faz cidadão.

Capa do filme Eles Não Usam Black-Tie (1981), de Leon Hirszman

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