Fontes, Deuses e Mitos da Religião Céltica

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    Fontes, Deuses e Mitos da Religio Cltica

    Bellovesos

    1 Fontes

    Durante muito tempo, o estudo da religio cltica viu-se paralisado por doisconsiderveis obstculos: de um lado, o abuso de interpretaes fundadas unicamente sobre aiconografia com a excluso dos textos, resultando em ignorncia ou recusa das fontes insularesgalesas e hibrnicas; de outra parte, no empregando um mtodo coerente, a maior parte dosintrpretes limitava-se avaliao da religio cltica de acordo com critrios quer clssicos, quer

    primitivistas.A matria exige, ao contrrio, que os dados insulares e continentais sejam

    comparados continuamente. A natureza mtica dos documentos disponveis mostra que o estudo daideologia religiosa e da estrutura social apresenta mais vantagens do que o mtodo histrico puro.Tal ideologia e tal estrutura, no caso dos celtas, situam-se na rea indo-europeia, consoante oscritrios classificatrios e funcionais estabelecidos pelos trabalhos de Georges Dumzil. Os

    testemunhos continentais sobre a religio dos antigos celtas abrangem:a) fontes contemporneas indiretas (gregas e romanas);

    b) a epigrafia e a iconografia celtibrica, cltico-itlica, galo-romana e cltico-oriental;c) no comportam fonte literria nativa.

    As Ilhas Britnicas e riu (Irlanda), em contrapartida, oferecem um vasto repertriode textos mitolgicos e picos redigidos nas lnguas indgenas medievais, o irlands e o gals. Essestextos so fontes diretas, embora posteriores cristianizao, mas no comportam informaoiconogrfica.

    As fontes continentais e as fontes insulares so separadas cronologicamente porvrios sculos, o que serviu muitas vezes como argumento contra a utilizao destas. Contudo, oarcasmo das fontes insulares est fora de questionamento. riu jamais foi romanizada e converteu-se diretamente de sua religio nacional para o cristianismo. Os monges e bispos da cristandadecltica da ilha registraram e transmitiram as lendas e velhos anais como se fossem a histrianacional, esforando-se para concili-los com as escrituras crists.

    Foi assim que, paradoxalmente, a herana mitolgica irlandesa salvou-se pelacristianizao da ilha.

    2 Deuses

    Em uma conhecida passagem de Commentarii de Bello Gallico (Comentrios sobrea Guerra da Glia, VI, 17), Gaius Iulis Caesar define com preciso os deuses gauleses. Dirigindo-se a um pblico romano, Caesar emprega tenimos romanos para indicar as funes e campos deatividade das divindades da Glia:

    O principal deus dos gauleses Mercurius e h imagens dele em toda parte. Diz-se que oinventor de todas as artes, o guia de cada viagem e jornada e o deus mais influente nosnegcios e questes financeiras. Depois dele, adoram Apollo, Mars, Iuppiter e Minerua.Esses deuses tm as mesmas reas de influncia que entre os outros povos. Apollo afasta asdoenas, Minerua a mais influente nos ofcios, Iuppiter governa o cu e Mars o deus daguerra.

    Esse texto do sc. I a. E. C. deve ser interpretado luz da narrativa arcaica irlandesachamada Cath Maige Tuired(Batalha da Plancie dos Pilares), que descreve os deuses hibrnicosou chefes das Tuatha D Danann (Tribos da Deusa Danu), permitindo a criao de uma tabela de

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    corespondncias entre estes e alguns tenimos gauleses conhecidos.

    Caesar Glia riu

    Mercurius Lugus Lug

    Apolol Belenos Dian Ccht

    Mars Ogmios OgmaIuppiter Taranis Dagda

    Minerua Brigindu Brigit

    Todos os deuses so soberanos, isto , dividem-se entre as funes sacerdotal(Iuppiter) e guerreira (Mars), enquanto a terceira funo (artesanal e produtiva) coloca-se sob odomnio comum. por essa razo que Caesar, ao no nomear nenhum deus arteso, atribui aMinerua (que o arcasmo cltico no diferenciava de Iuno e Venus) a aprendizagem das tcnicasartesanais, enquanto, em riu, Goibniu era o ferreiro divino e seus irmos Luchta e Crednedominavam, respectivamente, a carpintaria e a ourivesaria. No obstante, Caesar atribui a Apollo amedicina, ligada terceira funo.

    Isso tambm explica porque o Dagda, que forma com Ogma, seu irmo, a grandedivindade soberana dupla (luminosa e sombria, como o par Mitra/Varuna na ndia vdica) possuientre seus atributos o caldeiro da abundncia, a maa que d a vida e a morte e a roda solar(aceitando-se sua identificao a Taranis como controlador do clima).

    Porm, o correspondente cltico de Mercurius Lugus, o deus supremo do panteogauls. Lugus, no topo da hierarquia, est alm de qualquer classificao, pois transcende todas asoutras funes dos demais deuses. Quanto s centenas de tenimos gauleses e irlandeses, apenasexpressam sinnimos ou aspectos de alguma das cinco grandes divindades soberanas.

    Quando se mostra uma flutuao no sincretismo galo-romano, como se d com um

    tenimo como Teutates (que ora atribudo a Mars, ora a Mercurius), isso revela que a percepogaulesa no era capaz de identificar exatamente a qual deidade romana oficial uma de suasdivindades correspondia. necessrio considerar igualmente o aviltamento funcional trazido pela

    pax romana (que suprimiu a classe guerreira) e a desintegrao da organizao poltico-religiosa dasociedade cltica.

    3 Mitologia

    3.1 Mitologia gaulesa

    As fontes antigas nos transmitem somente fragmentos da mitologia gaulesa,

    testemunhos e reminiscncias muitas vezes mal interpretados pelos autores antigos. Os gregosfalam de modo muito vago da passagem de Hrcules por Alsia e de sua unio com a filha de umcerto rei Bretannos, Celtine, que lhe d um filho, Celtos (ou Galtes), que deu nome a toda a raacltica:

    Relata-se que Hrakls, depois de haver arrebatado o gado de Geryon de Erythea, vagueavapelo pas dos celtas e chegou morada de Bretannos, que tinha uma filha chamada Keltin.Keltin apaixonou-se por Hrakls e escondeu o gado, recusando-se a devolv-lo a no serque ele antes a satisfizesse. certo que Hrakls estava muito ansioso para levar o gado emsegurana para casa, porm estava muito mais impressionado pela beleza da jovem econcordou com seus desejos. E ento, quando se completou o tempo, nasceu-lhes um filhochamado Keltos, de quem toda a raa cltica recebeu o nome.

    Parthnios de Nicaea, gramtico e poeta grego do sc. I a. E. C., Erotica Pathemata (DasAflies do Amor), II, 30.

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    Titus Liuius, um pouco mais preciso, evoca o mito de Ambigatus, imperador eprncipe dos bitriges (reis do mundo), que envia seus dois sobrinhos, Segouesus e Bellouesus, conquista da Floresta Herciniana e do norte da Itlia, onde ser fundada a cidade de Mediolanum(Milo). Porm, sempre que Liuius cita um lenda cltica, transforma-a em histria romana.

    Recebemos o seguinte relato sobre a transferncia dos gauleses para a Itlia. Quando

    Tarquinius Priscus era o rei de Roma [c. 616-578 a. E. C.], o supremo poder entre os celtas,que ocupavam uma tera parte de toda a Glia, estava em mos dos bitriges, quecostumavam indicar o rei para toda a raa cltica [altamente improvvel]. Ambigatus era orei nessa poca, um homem clebre por sua coragem pessoal e por sua prosperidade, assimcomo por seus domnios. Durante seu governo, to abundantes eram as colheitas e apopulao cresceu to rapidamente na Glia que a administrao de um to vasto nmerode pessoas pareceu impossvel. Com essa opinio, ele demonstrou sua inteno de enviaros filhos de sua irm, Bellouesus e Segouesus, ambos jovens empreendedores, paraestabelecerem-se em qualquer localidade que os deus lhes indicasssem por meio deaugrios. Eles deveriam convidar todos que desejassem acompanh-los, em nmerosuficiente para impedir que qualquer outra nao repelisse sua aproximao. Quandoforam tomados os auspcios, a floresta Hercnia [regio montanhosa e densamentearborizada da Germnia] foi atribuda a Segouesus; a Bellouesus os deuses concederam o

    muito mais aprazvel caminho para a Itlia. Ele convidou o excesso populacional das tribos- os bitriges, os arvernos, os senones, os duos, os ambarros, os carnutos e os aulercos.Comeando com enorme nmero de homens montados e a p, ele chegou reio dostricastinos. Estendia-se alm a barreira dos Alpes e no fico de modo algum surpreso de queestes lhes parecessem intransponveis, pois, at onde pode a memria chegar, no haviamjamais sido transpostos por qualquer trilha, a menos que se escolha acreditar nas fbulassobre Hrcules. Enquanto os cumes das montanhas mantinham os gauleses presos onde seencontravam e estes tudo esquadrinhavam em busca de uma passagem para cruzar os picosque alcanavam o firmamento e desse modo entrarem em um novo mundo, foramigualmente impedidos de avanar por um sentimento de obrigao religiosa, pois lheschegaram notcias de que alguns estranhos em busca de territrio estavam sendo atacadospelos slios. Esses eram os massiliotas, que haviam navegado da Fcida. Os gauleses,vendo isso como um pressgio de seu prprio destino, foram em seu socorro, permitindo-

    lhes fortificar o ponto onde haviam desembarcado sem nenhuma interferncia dos slios.Depois de cruzarem os Alpes atravessando os desfiladeiros dos taurinos e o vale do Dora,derotaram os etruscos no longe do Ticino e, ao descobrirem que a regio onde se haviamestabelecido pertencia aos insubres, nome tambm trazido por um canto dos duos,aceitaram o pressgio do lugar a construram uma cidade que chamaram Mediolanum.Titu Liuius , historiador romano (c. 59 a. E. C. 17 E. C.), Ab Vrbe Condita (Desde aFundao da Cidade), V, 34.

    A nica mitologia cltica coerente aquela que, abundantemente documentada,

    encontra-se nos textos mitolgicos e picos irlandeses, bem como, acessoriamente, nos romancesgaleses da Idade Mdia, dos quais os principais acham-se no Mabinogion.

    3.2 Mitologia irlandesa

    Os textos irlandeses mais ricos so:a) o Lebor Gabla renn (Livro das Invases de riu);

    b) as duas verses e as trs redaes do conto intitulado Cath Maighe Tuireadh (A Batalha daPlancie dos Pilares);c) o grupo de textos chamados Tochmarc Etaine (A Corte a tain), Altrom Tighe Da Medar(Nutrio da Casa do Dois Clices),Aislinge engusso (O Sonho de Oengus);d) todos os textos do ciclo pico de Ulster, dos quais o principal o Tin B Calnge (Ataque s

    Vacas de Cualnge), juntamente com uma dzia de remscla (contos preliminares oupreldios);e) por fim, embora de menor importncia, os textos do mais tardio ciclo de Find mac Cumail

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    (Fiannaidheacht), algumas vezes chamado ciclo ossinico (de Oisin ou Ossian, filho do heri Find),que narra as aventuras do Fianna, grupo de cavaleiros seguidores de Find que viviam margem dasociedade.

    A mitologia irlandesa fundamenta-se nas cinco invases mticas da ilha, que os filitransformaram em histria. Cinco raas ocupam e tomam riu, cada uma delas cedendo lugar

    seguinte depois de um cataclismo, epidemia ou grande batalha. Desse modo, sucederam-se (1) araa da Partholon, (2) a de Nemed (sagrado), (3) a dos Fir Bolg (homens deBolg/Builg/Bolga/Bulga [relmpago]), (4) as Tuatha D Danann e, por fim, (5) os Goidil(ancestrais dos atuais irlandeses). Derrotadas em batalha pelos Goidil, as Tuatha D Danannrefugiam-se nos montes funerrios megalticos, nas colinas e sob os lagos de riu.

    O relato fundamental da mitologia cltica irlandesa o Cath Maighe Tuireadh (ABatalha da Plancie dos Pilares), que narra a luta dos deuses hibrnicos, ou Tuatha D Danann,contra os gnios opressores e destruidores que so osFomoiri.

    Depois de uma primeira batalha contra os Fir Bolg, que lhes concedeu a soberania, asTuatha D Danann so obrigadas a aceitar um rei meio-fomor, Bres, pois seu prprio rei, Nuada,teve seu brao direito decepado na batalha. Porm Bres, um mau soberano, sofre a stira de um file

    (Cairpre) e obrigado a devolver a soberania. Esta entregue a Nuada, que traz agora um brao deprata. Bres chama em sua ajuda os Fomoiri que, provenientes da Escandinvia, invadem riu. AsTuatha D Danann se salvam graas interveno de Lug (tambm meio-fomor), que organiza ocombate, convocando todos os sbios de riu: druidas, guerreiros, copeiros, poetas, videntes,artesos, entre outros. Depois de uma enorme batalha, os Fomoiri so derrotados e Bres, para salvarsua vida, devolve a prosperidade a riu.

    Esse relato, o correspondente cltico da guerra germnica entre sir e Vanir ou doconflito grego entre Deuses e Tits, pode ser considerado um mito sobre a origem do mundo e, aomesmo tempo, traz uma profecia sobre os ltimos tempos. Seu cerne, em essncia, o tema dasoberania legitimada por uma conquista violenta e guerreira.

    O mesmo tema tambm inspira o ciclo de tain (ou Eithne), rainha de riu e doOutro Mundo, dividida entre a soberania divina e a soberania humana, depois entre o paganismo e ocristianismo. A guerra, apesar da frequncia e da ferocidade das batalhas, no seno um elementoacessrio. No obstante a pulverizao dos motivos mitolgicos e a multiplicidade dos nomesdivinos, a mitologia irlandesa cristaliza-se fortemente em torno de concepes que se ligam

    primazia da autoridade espiritual e da soberania da classe sacerdotal.Os temas especificamente guerreiros (e tambm mticos) concentram-se no ciclo

    pico, cuja principal narrativa, o Tin B Calnge (Ataque s Vacas de Cualnge), conta a guerraempreendida por Medb, rainha de Connacht, aliada s outras provncias de riu, contra Ulaid, pela

    posse de um touro divino, o Castanho de Cualgne, que lhe fora recusado. O campeo de Ulaid, CChulaind, defende sozinho a fronteira de sua provncia e impe rainha Medb um acordo pelo qual

    um guerreiro ser enviado a cada manh ao vau que separa as duas provncias. Na maior parte, essaIlada irlandesa narra os combates de C Chulaind contra um s adversrio (combates singulares) esuas vitrias. Assim como Hrakls filho de Zeus, C Chulaind filho de Lug e, embora seja reidos guerreiros, no um soberano.

    Os escribas cristos que redigiram os relatos mitolgicos alteraram-nos em algunspontos. Suprimiram quase sempre tudo que dizia respeito ao ritual, aos sacrifcios e s doutrinascontrrias aos ensinamentos bblicos. Mesmo assim, o episdio que se segue, inserido no contoSiarburcharpat Conculaind(A Carruagem-Fantasma de C Chulaind) revela o que sentiam osirlandeses cristianizados: quando Pdraig tentou converter Legaire, rei de Temhair, estedemonstrou um m-vontade obstinada. Exigiu, para acreditar em Cristo, que o santo lhe fizesse verC Chulaind. E o portento aconteceu: C Chulaind aparece, totalmente armado, com sua

    carruagem, cavalos e cocheiro. O teimoso rei forado converso pelo heri, que lhe descreve asdelcias do Paraso e os sofrimentos do Inferno.

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    3.3 Mitologia galesa

    O ttulo Mabinogion foi usado pela primeira vez por Lady Charlotte Guest em suatraduo de doze contos medievais galeses publicada entre 1838 e 1849.

    A forma Mabinogion surge no fim do conto Pwyll, Prncipe de Dyfed(Ac yuelly yteruyna y geing hon yma o'r Mabynnogyon , Aqui termina este ramo do Mabinogion, frase que

    tambm encerra os demais Ramos), mas comumente se admite que o sentido do termo mabinogi, naorigem significando apenas "infncia", tenha depois sido ampliado para abranger um conto sobre ainfncia de um heri em geral. Mabinogion seria o plural de mabinogi.

    Antes das tradues de Lady Guest, somente os quatro primeiros dentre os dozecontos eram conhecidos como Pedeir Ceinc y Mabinogi, "Os Quatro Ramos do Mabinogi". Desdeento, a palavra Mabinogion tem sido usada como um termo conveniente para designar todos oscontos, com exceo deHanes Taliesin, "A Histria de Taliesin".

    Os textos annimos foram preservados no "Livro Branco de Rhyderch" (Llyfr GwynRhydderch), escrito entre 1300 e 1325, e no "Livro Vermelho de Hergest" (Llyfr Coch Hergest),escrito entre 1375 e 1425, embora fragmentos desses contos j tenham sido encontrados emmanuscritos do sc. XIII e acredite-se que tenham existido muito antes sob a forma oral. A questo

    da data de composio do Mabinogion importante, pois pode demonstrar que anterior "Histria dos Reis da Gr-Bretanha" (Historia Regum Britanniae) de Geoffrey de Monmouth, sendoa evidncia de que o folclore e a cultura galeses seriam muito mais antigos e resistentes.

    O Mabinogion, desconhecido fora de Cymru (Gales) at a poca de Lady CharlotteGuest, uma parte da longa, consistente e gloriosa tradio da poesia que um dos maioresorgulhos da nao galesa.

    O Mabinogion propriamente dito consiste de quatro lendas, tambm chamadas "OsQuatro Ramos do Mabinogion". Essas lendas so:1) Pwyll, Prncipe de Dyfed (Pwyll, Pendeuic Dyuet, Primeiro Ramo): durante uma caada, Pwyllencontra Arawn (Lngua Prateada), Senhor de Annwn (o Outro Mundo da tradio cltica) e,como compensao por um insulto no intencional, oferece-se para trocar de lugar com Arawn elutar contra seu inimigo, Hafgan (Vero Branco). Pwyll passa um ano sob a forma de Arawn eganha sua amizade graas a suas boas maneiras e pelo sucesso em sobrepujar Hafgan, assimobtendo o ttulo de Penannwn ("Senhor de Annwn"). Ele se casa com Rhiannon, mas somentedepois de derrotar Gwawl, o antigo pretendente. O casal vive feliz at o nascimento de Pryderi;2) Branwen, Filha de Llyr ( Branwen uerch Lyr, Segundo Ramo): Branwen casou-se comMatholwch, rei de riu, e deu luz Gwern, mas os irlandeses, que tinham sofrido um grave insultofeito por Efnyssien, meio-irmo de Branwen, quando a comitiva de Matholwch estava na Gr-Bretanha, vingaram-se obrigando Branwen a servir na cozinha do castelo, onde era agredida pelocozinheiro. Ela criou um pssaro e enviou uma mensagem a Bran, seu irmo, rei da Gr-Bretanha,

    que veio com uma frota para resgat-la. Efnyssien lanou Gwern numa fogueira e seguiu-se umabatalha entre britanos e irlandeses; ela morreu de tristeza e foi supultada num "tmulo de quatrolados" nas margens do rio Alaw, em Anglesey. Seu mito, que tem uma forte semelhana com o deCordlia, filha de Lear, um tipo de Soberania, como fica bvio quando sua histria investigadacom profundidade. Quanto a riu, ficaram vivas na ilha somente cinco mulheres grvidas, cujosfilhos foram os fundadores dos Cinco Reinos;3) Manawyddan, Filho de Llyr (Manawydan uab Llyr, Terceiro Ramo): Manawyddan ap Llyr mencionado no conto Culhwch e Olwen como um seguidor de Arthur, mas, originalmente, umdeus marinho que corresponde (ao menos linguisticamente) ao irlands Mnannan mac Lir. NoMabinogion, irmo de Bendigeid Fran ("Bran, o Abenoado"), ficando sem terras depois da mortedeste e tornando-se marido de Rhiannon. Ajudou a quebrar os encantamentos lanados por Llwyd

    sobre Dyfed como vingana pelo tratamento violento dado a Gwawl por Pwyll, primeiro marido deRhiannon. Manawyddan um homem engenhoso e um mestre arteso, capaz de ganhar seu sustentoenquanto a terra est enfeitiada. Como instrutor e homem de poder, ele fica no lugar do pai de

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    Pryderi e herda as qualidades de Pwyll;4) Math, Filho de Mathonwy (Math uab Mathonwy, Quarto Ramo): o filho de Mathonwy tio deGwydion, Gilfaethwy e Arianrhod e irmo de Penardun. Ele era onisciente, possuindo, entre outrashabilidades, o estranho dom de ouvir tudo que era dito em seus domnios to logo as palavrasfossem transportadas pelos ventos. Era muito sbio, um grande rei. Neste conto, ele somente podeviver enquanto seus ps estiverem no colo de uma virgem, Goewin, a no ser em tempo de guerra.

    Como Gwydion provoca uma guerra entre Math e Pryderi, Math deixa-a temporariamente, sendoGoewin violada por Gilfaethwy, que nutria por ela uma paixo secreta. Para aliviar a vergonha dajovem, Math casa-se com ela e pune seus sobrinhos, Gilfaethwy e Gwydion, transformando-os emvrios animais. com a ajuda de Gwydion que Math cria Blodeuwedd com flores como noiva paraLlew Llaw Gyffes, seu sobrinho-neto.

    Sete outros contos foram associados aos Quatro Ramos:a) O Sonho de Macsen Wledig: um imperador romano, Magnus Maximus (383-388 d. C.),conhecido na tradio galesa como Macsen Wledig. Geoffrey de Monmouth, que o chamaMaximianus, diz que ele fez de Conan Meriadoc o governante da Bretanha Menor, na atual Frana.

    Neste conto, o imperador sonha com uma mulher desconhecida por quem fica apaixonado. Por fim,mensageiros finalmente informam que esta realmente existe em Cymru, de forma que Macsen deixaRoma para casar-se com ela. Seu nome Elen. O Maximus histrico, subjacente lenda, realmenteserviu na Gr-Bretanha, mas levou muitas tropas da ilha em sua luta contra Gratianus, imperador doOcidente, assim deixando a Gr-Bretanha sem proteo. Traos dos fatos permanecem nas lendas:os galeses retiveram seu nome, que aparece em vrias genealogias de famlias nobres como umaconexo imperial. Os soldados romanos que partiam tomaram esposas estrangeiras, mas, conta alenda, cortaram suas lnguas para que no pudessem corromper o idioma britnico de seus filhos.Vemos assim como antiga e poderosa a devoo dos Cymry (galeses) a sua linguagem;

    b) Lludd e Llefelys: Lludd filho de Beli e irmo de Llefelys. Foi o rei da Gr-Bretanha quereconstruiu a cidade de Londres, cujo nome vem do rei: Caer Lludd, Caer London. Trs pragascaram sobre a ilha: uma raa chamada Coranianos (genedyl y Coraneit, a raa dos Coranianos),que podia saber tudo que era dito; um grito que era ouvido a cada Vspera de Maio e que faziamurcharem as lavouras, matava os animais e crianas e deixava as mulheres estreis e odesaparecimento dos mantimentos do rei. Lludd procurou conselhos junto a seu irmo, Llefelys, quelhe disse que os Coranianos seriam vencidos depois de beberem uma infuso de insetos esmagadosem gua; que o grito era provocado por drages que seriam vencidos depois de se embebedaremcom hidromel forte, sendo necessrio enterr-los exatamente no centro da Gr-Bretanha, e que oladro das provises era um homem de poder capaz de lanar um feitio de sono sobre a corte e,ento, roubar toda a comida. Lludd venceu as trs pragas e a paz da ilha foi restabelecida;c) Culhwch e Olwen: Culhwch o filho de Celyddon Wledig e sobrinho de Arthur. Sua me,

    Goleuddydd (Dia Brilhante), deu-o luz depois de ficar apavorada com a viso de uma vara deporcos, de modo que ele foi chamado Culhwch, ou "Chiqueiro". Seu pai casou-se outra vez depoisda morte de Goleuddydd. A madrasta de Culhwch lanou um feitio sobre ele para que no pudessecasar-se seno com Olwen (A dos Rastros Brancos), filha de Yspaddaden Pencawr (Espinheiro,Chefe dos Gigantes), o gigante. Na corte de Yspaddaden, Culhwch recebeu trinta e nove anoethuou tarefas impossveis, que deveriam ser cumpridas antes de casar-se com Olwen, todas as quaisforam realizadas com a ajuda dos cavaleiros de Arthur. A principal tarefa era caar o Twrch Trwyth,um javali gigante, para o que seria necessrio o auxlio de vrios cavalos especficos, ces de caa ehomens, incluindo Mabon, um jovem miraculoso, cujo encontro narrado nesse conto. Outrasmisses incluem a viagem de Arthur ao Outro Mundo para obter alguns dos Objetos Sagrados, ouTreze Tesouros da Gr-Bretanha - um feito que tambm relatado num poema gals do sc. IX, o

    Preiddeu Annwn, "Esplios de Annwn", atribudo ao bardo Taliesin. O poder de Yspaddaden vencido e Culhwch casa-se com Olwen;d) O Sonho de Rhonabwy: Rhonabwy adormece a sonha que Arthur e Owain esto jogando

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    gwyddbwyll(um jogo de tabuleiro cltico) ante um campo de batalha. Durante o jogo, os cavaleirosde Arthur lutam com os corvos de Owain, mas os jogadores apenas continuam com seu passatempo,at que Arthur, impaciente por comear a perder, esmaga as peas. O jogo talvez simbolizasse uma

    batalha pela soberania.

    Os contos Culhwch e Olwen e O Sonho de Rhonabwy despertaram o interesse dos

    estudiosos por preservarem tradies mais antigas do que o material arturiano. A narrao de OSonho de Macsen Wledig uma histria romntica sobre o imperador romano Magnus Maximus.Trs dos contos so verses galesas de romances arturianos que tambm aparecem no

    trabalho de Chrtien (ou Chrstien) de Troyes. Os crticos do sc. XIX acreditavam que os contosbaseavam-se nos prprios poemas de Chrtien, mas as opinies mais recentes inclinam-se a afirmarque as duas colees so independentes, mas tm um ancestral comum:

    e)A Dama da Fonte: Owain, inspirado pelo conto de Cynon (na tradio galesa, o filho de Clydno -um dos guerreiros de Arthur - e amante de Morfudd, irm gmea de Owain), sai em busca doCastelo da Fonte, que era guardado pelo Cavaleiro Negro. Ele atravessou o mais belo vale e viu um

    brilhante castelo numa colina. Depois de entrar nesse lugar sobrenatural, Owain derrota o Cavaleiro

    Negro e casa com sua viva. Aps um comeo difcil, ele vence ressentimento desta e guarda oreino at que sua sede por aventuras o faz partir, deixando para trs a esposa. Dama da Fonte tambm o ttulo da condessa misteriosa no Yvain, de Chrtien de Troyes.f)Peredur, Filho de Efrawg: na mitologia galesa, Peredur era o stimo filho de Efrawg e o nico dosexo masculino a sobreviver. Seu pai e irmos morreram antes que ele atingisse a maioridade. Issono impediu Peredur de tornar-se um dos cavaleiros de Arthur e suas muitas aventuras formaram a

    base para o Sir Percival posterior. Talvez por causa de sua posio como stimo filho, Peredur eraparticularmente adepto de matar bruxas, que, em Cymru, compareciam ao campo de batalhatrajando armaduras completas. No fim de seu conto no Mabinogion, Peredur enfrenta a lder das

    bruxas e, com sua espada, rompe elmo e armadura em duas partes, enquanto as demais feiticeirasfogem;g) Gereint, Filho de Erbin: Gereint o rei de Dumnonia (reino que, no, perodo ps-romano,abrangia Devon, a Cornualha e outras reas do sudoeste da Inglaterra) cujas aventuras so contadasnesta narrativa. No romance francs, o heri deste conto Erec, mas, como este no comumenteconhecido em Cymru, substituram-no por Gereint. Este pode ser uma figura histrica, um primo deArthur. Embora seja listado como contemporneo desse rei, pode ter pertencido a uma geraoanterior, pois o conto "O Sonho de Rhonabwy" diz que Cadwy, seu filho, era um contemporneo deArthur. O nome do pai de Gereint citado como Erbin, mas, na Vida de So Cyby, Erbin chamadoseu filho. Em Culhwch e Olwen, encontramos os nomes de dois de seus irmos, Ermid e Dywel.Gereint, suspeitando que sua esposa infiel, fora-a a acompanh-lo numa exaustiva jornada deaventuras para testar seu amor e obedincia a cada passo do caminho. Como outras fortes heronas

    clticas, ela suporta calmamente sua provao, permanecendo leal e amorosa durante todo o tempo.Gereint finalmente sentiu duas tristezas, do remorso por ter desconfiado de sua esposa e portrat-la to mal.

    Lady Guest tambm incluiu em sua traduo um oitavo conto (removido dastradues inglesas posteriores, que, no entanto, continuam a usar o termo Mabinogion), noencontrado nem no Livro Branco de Rhyderch, nem no Livro Vermelho de Hergest, mas em ummanuscrito do sc. XVII. Esse texto o Hanes Taliesin (A Histria de Taliesin). O nome Taliesinsignifica Testa Brilhante. Ele foi um bardo gals e, de acordo com o mito, a primeira pessoa aadquirir a habilidade da profecia.

    Em uma verso da histria era ele o servo da feiticeira Cerridwen, uma deusa da

    fertilidade, me de Afagddu, o homem mais feio do mundo, e chamava-se Gwion Bach. Cerridwenpreparava uma beberagem mgica que, depois de um ano fervendo, produziria trs gotas que dariama quem as bebesse toda a sabedoria do mundo. Essa pessoa conheceria todos os segredos do

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    passado, do presente e do futuro. Ela queria d-las a Afagddu como compensao por sua feira.Enquanto Gwion Bach cuidava do fogo sob o caldeiro, uma parte do lquido quente

    caiu em seu dedo e ele a sorveu ao sentir a dor. Eram as trs gotas da sabedoria. Todo o lquidorestante era veneno. A furiosa Cerridwen empregou todos os seus poderes mgicos para perseguir omenino. Durante a caada, ele se transformou numa lebre, num peixe e num gro de trigo, queCerridwen, metamorfoseada em galinha, engoliu, descobrindo-se ento grvida. Mais tarde, Gwion,

    renascido de Cerridwen, foi jogado ao mar e apanhado numa armadilha para peixes, quando passoua chamar-se Taliesin por causa de sua testa brilhante.Os "Quatro Ramos" so, essencialmente, histrias medievais e seus personagens

    comportam-se, falam e vivem de modo muito semelhante a sua audincia do sc. XIV. Suasmaneiras so (em geral) corteses e refinadas, invocam frequentemente o deus cristo e suas roupasincluem brocados, sedas, toucados e outros itens medievais. Contudo, ainda que sejam produto deuma sociedade crist da Idade Mdia, os Quatro Ramos baseiam-se tambm numa viso de mundo

    profundamente pag, proveniente de tradies e crenas das culturas neolticas e da Idade doBronze, bem como da Idade do Ferro cltica e da era romano-britnica.