Força da mulher guerreira no Semiárido

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Boletim Informativo do Programa Uma Terra e Duas Águas Ano 7 • nº1289 Julho/2013 Itinga Força da mulher Guerreira no semiárido “Aqui é meu lugar”, é assim que Maria Ilza Ramalho moradora da comunidade Padre Mario Uzan município de Itinga relata sua historia de vida. Casada e chefe de família, Maria Ilza sempre lidou com a terra, aprendeu com os pais a cuidar e a tirar da terra seu sustento, ela não se intimida com o trabalho duro, levanta as cinco da manhã pra cuidar do seu quintal, onde ela cultiva: hortaliças, feijão catador, mandioca, abobora, quiabo, laranjas, banana, coco da Bahia e muito mais. “Eu consigo realizar todo meu trabalho sozinha, pois meu marido está em outro estado trabalhando na construção civil e costuma vir em casa somente a cada três meses”.Além de cuidar da casa, e dos dois filhos: Alan com dez anos e Aline com quatro, ela ainda estuda a noite, ela diz que tudo isso é uma vitoria pra ela, pois sabe que toda essa luta vale a pena. “Nunca tive preguiça de trabalhar, sempre trabalhei na terra, uma vez meu pai inventou de furar um poço no leito do córrego que havia secado pra ver se conseguia uma água, um lugar muito duro, que saia ate fogo, ai ele deu num pequeno lençol d'água, cerca de uns 10metros. fiquei tão feliz que tratei logo de fazer uma horta, com muita empolgação plantei alface, cebola, coentro e tudo que eu tinha direito, mas quando a horta estava no auge á água secou, meu coração cortou de ver os pés de alface secando e morrendo, as cebolinhas murchando e tudo se acabando, prometi a mim mesma que quando tivesse uma água ainda iria ter minha horta pra plantar o que eu quisesse. Hoje em dia é com muito orgulho que olho meu quintal e vejo que ele está produzindo de tudo um pouco, cuido sozinha do quintal, mas não é por isso que vou parar, muito pelo contrario vejo ali um pedaço de mim, meu marido quando está aqui cuida de outras coisa, nunca ocupei ele pra fazer nada pra mim, faço porque gosto muito de lidar com a terra, isso é minha vida até tentei me adaptar na cidade, mas não deu pra mim, olha que tentei! Nasci e criei aqui, aqui é meu lugar, o que for preciso pra me manter aqui eu vou fazer. Não falta uma fruta ou uma verdura, para minha família, pros meus vizinhos ate levo pra feira, com a venda compro coisas que aqui não Plantação de Maria Ilza próxima a cisterna de enxurrada

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Boletim Informativo do Programa Uma Terra e Duas Águas

Ano 7 • nº1289

Julho/2013

Itinga

Força da mulher Guerreira no semiárido

“Aqui é meu lugar”, é assim que

Maria I lza Ramalho moradora da

comunidade Padre Mario Uzan município

de Itinga relata sua historia de vida.

Casada e chefe de família, Maria Ilza

sempre lidou com a terra, aprendeu com

os pais a cuidar e a tirar da terra seu

sustento, ela não se intimida com o

trabalho duro, levanta as cinco da manhã

pra cuidar do seu quintal, onde ela

cultiva: hortaliças, feijão catador,

mandioca, abobora, quiabo, laranjas,

banana, coco da Bahia e muito mais. “Eu consigo realizar todo meu trabalho sozinha, pois

meu marido está em outro estado trabalhando na construção civil e costuma vir em casa

somente a cada três meses”.Além de cuidar da casa, e dos dois filhos: Alan com dez anos e

Aline com quatro, ela ainda estuda a noite, ela diz que tudo isso é uma vitoria pra ela, pois

sabe que toda essa luta vale a pena.

“Nunca tive preguiça de trabalhar, sempre trabalhei na terra, uma vez meu pai inventou

de furar um poço no leito do córrego que havia secado pra ver se conseguia uma água, um

lugar muito duro, que saia ate fogo, ai ele deu num pequeno lençol d'água, cerca de uns

10metros. fiquei tão feliz que tratei logo de fazer uma horta, com muita empolgação plantei

alface, cebola, coentro e tudo que eu tinha direito, mas quando a horta estava no auge á

água secou, meu coração cortou de ver os pés de alface secando e morrendo, as cebolinhas

murchando e tudo se acabando, prometi a mim mesma que quando tivesse uma água ainda

iria ter minha horta pra plantar o que eu quisesse. Hoje em dia é com muito orgulho que olho

meu quintal e vejo que ele está produzindo de tudo um pouco, cuido sozinha do quintal,

mas não é por isso que vou parar, muito pelo contrario vejo ali um pedaço de mim, meu

marido quando está aqui cuida de outras coisa, nunca ocupei ele pra fazer nada pra mim,

faço porque gosto muito de lidar com a terra, isso é minha vida até tentei me adaptar na

cidade, mas não deu pra mim, olha que tentei! Nasci e criei aqui, aqui é meu lugar, o que for

preciso pra me manter aqui eu vou fazer. Não falta uma fruta ou uma verdura, para minha

família, pros meus vizinhos ate levo pra feira, com a venda compro coisas que aqui não

Plantação de Maria Ilza próxima a cisterna de enxurrada

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Boletim Informativo do Programa Uma Terra e Duas Águas Articulação Semiárido Brasileiro – Minas Gerais

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Realização Patrocínio

produz. O que me dá mais orgulho é porque fui eu que plantei, eu que cuidei, eu colhi. A

chegada do programa P1MC (Programa 1Milhão de Cisternas) já tinha ajudado muito mais

era a água só pra labutar no consumo da casa, e com a chegada do P1+2(programa uma

Terra e Duas Águas) ajudou bastante, porque posso plantar sem medo, com a ajuda do

programa consegui realizar meus sonhos, pois tenho água pra plantar o ano todo sem medo

de que minha plantação vai morrer por falta d'água”.

“Com minha cisterna cheia, não falta água para meus pequenos animais, nem pra

molhar as plantas, isso pra mim é muito gratificante”.

É com muito orgulho que ela mostra a plantação de abobora no quintal, que será levada

para uma feira Agroecologica em Belo Horizonte.

Maria Ilza relata que teve uma grande oportunidade ao participar de intercâmbio feito

na Bahia, ela disse que visitou uma

comunidade kilombola, onde pode trocar

diversas experiências. “Achei tudo muito

impor tante , mas o que ma is me

impressionou foi à alegria do povo, é uma

região seca, igual a nossa mesmo mais não

falta coragem pra trabalhar, as mulheres

fazem no chão pote de cimento que são

usados para molhar as hortas e vender na

cidade, tudo com muito capricho. Os

quintais são muita fartos em hortaliças,

estaleiros de maracujás, e diversos tipos

de plantas, tudo isso me incentivou muito,

trouxe comigo cada coisa nova que

aprendi lá”.

Todo ano cultivo muito, isso garante qualidade de vida pra mim e pra quem consome

esses alimentos, pois estão levando pra mesa produtos cultivados de maneira saudável sem

agrotóxicos, mas acrescentado muito esforço e dedicação, eu sou uma pessoa muito

decidida, sei correr atrás do que eu quero,

enquanto eu tiver vida e saúde eu não

esmoreço não, olha como eu comecei, olha

como eu to hoje, a tendência é só

melhorar. Finaliza Maria Ilza com um belo

sorriso

O semiárido é um lugar rico e cheio de

maravilhas, trás consigo pessoas que

amam seu trabalho, suas conquistas, suas

lutas, a terra é seu maior tesouro, é dela

que tiram seu sustento, a esperança de um

tempo melhor.

Plantação de aboboras

Vista lateral do quintal produtivo