Formação de esfera pública no Twitter

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AGIR COMUNICATIVO E RAZÃO DESTRANSCENDENTALIZADA NO TWITTER DO GOVERNADOR CID GOMES Washington Forte 1 Carla Michele Andrade Quaresma 2 RESUMO O presente artigo discute o papel do agir comunicativo na formação de uma esfera pública pautada na razão destranscendentalizada, de acordo com os conceitos do filósofo alemão Jürgen Habermas. O trabalho traz um levantamento das referências do teórico acerca da formação e decadência da esfera pública, conceituação da razão prática, a divisão da sociedade em mundo vivido e mundo sistêmico e o papel da comunicação para uma esfera pública democrática. A análise se concentra no discurso adotado pelo governador do Estado do Ceará, Cid Gomes, na rede social Twitter. Estudamos os enunciados emitidos pelo governador e como eles dialogam com o discurso dos internautas que acompanham as suas publicações na rede supracitada. A partir daí, ponderamos as possibilidades de formação de uma esfera pública virtual que possa gerar a ação comunicativa. Palavras-chave: esfera pública virtual, agir comunicativo, razão destranscendentalizada. ABSTRACT This article discuss about the theory of communicative action in the formation of the public sphere. It is based in the transcendental reason, according to the concepts of the german philosopher Jürgen Habermas. It offers a survey of theoretical references about the formation and decay of the public sphere, conception of practical reason, the division of society into the world of life and systemic world and the role of communication for a democratic public sphere. The analysis focuses in the discourse adopted by the Governor of the State of Ceará, Cid Gomes, in the social network Twitter. We studies the statements issued by the governor and how they relate the discourse of Internet users who accompany their publications in the network above. From there, we ponder the possibilities of forming a virtual public sphere that can generate communicative action. Keywords: virtual public sphere, communicative action, atranscendental reason. 1 Graduando do Curso de Comunicação Social com habilitação em Jornalismo da Faculdade Integrada do Ceará. 2 Profa. Ms. em Sociologia. Orientadora da pesquisa.

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Agir comunicativo e razão destranscendentalizada no Twitter do governador Cid Gomes. O presente artigo discute o papel do agir comunicativo na formação de uma esfera pública pautada na razão destranscendentalizada, de acordo com os conceitos do filósofo alemão Jürgen Habermas. A análise se concentra no discurso adotado pelo governador do Estado do Ceará, Cid Gomes, na rede social Twitter. Estudamos os enunciados emitidos pelo governador e como eles dialogam com o discurso dos internautas que acompanham as suas publicações na rede supracitada. A partir daí, ponderamos as possibilidades de formação de uma esfera pública virtual que possa gerar a ação comunicativa.

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AGIR COMUNICATIVO E RAZÃO DESTRANSCENDENTALIZADA

NO TWITTER DO GOVERNADOR CID GOMES

Washington Forte1

Carla Michele Andrade Quaresma2

RESUMO

O presente artigo discute o papel do agir comunicativo na formação de uma esfera pública

pautada na razão destranscendentalizada, de acordo com os conceitos do filósofo alemão

Jürgen Habermas. O trabalho traz um levantamento das referências do teórico acerca da

formação e decadência da esfera pública, conceituação da razão prática, a divisão da

sociedade em mundo vivido e mundo sistêmico e o papel da comunicação para uma esfera

pública democrática. A análise se concentra no discurso adotado pelo governador do Estado

do Ceará, Cid Gomes, na rede social Twitter. Estudamos os enunciados emitidos pelo

governador e como eles dialogam com o discurso dos internautas que acompanham as suas

publicações na rede supracitada. A partir daí, ponderamos as possibilidades de formação de

uma esfera pública virtual que possa gerar a ação comunicativa.

Palavras-chave: esfera pública virtual, agir comunicativo, razão destranscendentalizada.

ABSTRACT

This article discuss about the theory of communicative action in the formation of the public

sphere. It is based in the transcendental reason, according to the concepts of the german

philosopher Jürgen Habermas. It offers a survey of theoretical references about the formation

and decay of the public sphere, conception of practical reason, the division of society into the

world of life and systemic world and the role of communication for a democratic public

sphere. The analysis focuses in the discourse adopted by the Governor of the State of Ceará,

Cid Gomes, in the social network Twitter. We studies the statements issued by the governor

and how they relate the discourse of Internet users who accompany their publications in the

network above. From there, we ponder the possibilities of forming a virtual public sphere that

can generate communicative action.

Keywords: virtual public sphere, communicative action, atranscendental reason.

1 Graduando do Curso de Comunicação Social com habilitação em Jornalismo da Faculdade Integrada do Ceará. 2 Profa. Ms. em Sociologia. Orientadora da pesquisa.

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1 INTRODUÇÃO

Historicamente, as pesquisas na área de Comunicação e Política se concentram no

campo “mídia e eleições. Quando não, a abordagem se refere à relação de poder entre

comunicação e política, “problemas atinentes à comunicação e a democracia nunca receberam

a devida atenção” (GOMES, 2008 p. 13). De certo modo, o processo comunicativo em si

perde espaço para o estudo dos seus efeitos.

Não rejeitamos a importância das pesquisas eleitorais, mas ressaltamos que é

preciso dar mais ênfase ao papel da comunicação nos processos políticos. A teoria que

permeia este artigo traz uma visão mais integrada da democracia com a comunicação social: o

agir comunicativo, idealizado por Jürgen Habermas. O filósofo foi assistente de Adorno e

Horkheimer, estudiosos da Teoria Crítica, que se baseava na influência cultural que os meios

de comunicação exerciam na sociedade. Este pensamento inspira Habermas em Mudança

Estrutural da Esfera Pública (2003), dissertação de mestrado em que o teórico mostra as

transformações conceituais e práticas que ocorreram na formação da opinião pública. Porém,

ao teorizar a ação comunicativa, Habermas rompe com a Escola de Frankfurt e dá ao

indivíduo a capacidade de se emancipar por meio da interação discursiva, contribuindo assim

para a construção de uma sociedade democrática, na qual os indivíduos voltam a discutir a

vida social nas esferas públicas.

Para nortear a base dessa teoria, trazemos uma breve conceituação da esfera

pública burguesa, seu surgimento e o papel dos meios de comunicação no seu declínio. Após

essa referência primária da publicidade, o foco principal é destinado à ação comunicativa. É

nesta teoria que Habermas critica a razão técnica, voltada somente para a produção

intelectual, e propõe o uso de uma razão prática, com viés pragmático, voltada para o agir.

Assim, o filósofo chega à razão destranscendentalizada, o pensamento integrado com o

mundo e com as realidades.

Com estes conceitos expostos, voltamos nossa atenção para o ambiente virtual da

comunicação em rede. Mais precisamente para o perfil do governador do Estado do Cearán

(gestão 2007 – 2010), Cid Gomes, na rede social Twitter. Por meio da análise do discurso,

mostramos a imagem que o governador transmite em suas postagens e qual a interação

discursiva que ela promove com o enunciado de outros usuários. Buscamos, neste exame,

mostrar como o dialogismo pode se construir no Twitter. Em seguida, o artigo procura refletir

as possibilidades práticas de que as discussões virtuais gerem uma ação comunicativa.

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2 ESFERA PÚBLICA: DA PÓLIS À AÇÃO COMUNICATIVA

Em sua dissertação de mestrado, Mudança Estrutural da Esfera Pública,

Habermas (2003) detalha o surgimento e as mudanças da esfera pública burguesa europeia,

situando-a historicamente e mostrando as influências que essa esfera teve para a formação da

sociedade contemporânea.

2.1 Esfera pública burguesa

O conceito de público, atribuído a essa esfera, se refere àquilo que é contrário ao

privado. Habermas (2003) mostra que na Grécia antiga a contraposição das esferas já era

reconhecida semanticamente. A pólis representava a esfera pública, comum, aberta aos

cidadãos. Enquanto a óikos consistia no espaço privado, a vida particular dos indivíduos. Na

ágora, a praça pública das cidades gregas, os cidadãos se reuniam e discutiam as questões

pertinentes à pólis, levando-se em conta a livre opinião de cada um – o princípio da

democracia direta. O discurso era a ferramenta de debate das propostas. A partir do conflito

de ideias, os cidadãos decidiam a posição mais adequada para o bem comum. Assim,

chegamos ao conceito básico de uma esfera pública: um local em que os indivíduos podem se

reunir, discutir questões comuns e gerar a opinião pública, a ideia construída coletivamente

por meio dos debates.

Com o passar dos anos, as civilizações se expandiram e esse modelo se dissolveu.

Porém, ao fim da Idade Média, a esfera pública ressurge em outro contexto. Nos últimos anos

do século XVII, a Revolução Industrial dava os primeiros passos para alcançar seu ápice no

século XVIII. Naquela época, a elite europeia se concentrava na França, Inglaterra e

Alemanha, onde era comum observar o que Habermas chama de esfera literária, espaços nos

quais esta elite podia compartilhar opiniões sobre arte e literatura. Com o desenvolvimento

industrial e a concentração de poder econômico nas mãos da burguesia, a temática dos debates

passou a abranger outros assuntos. A arte deu espaço para reflexões mais políticas,

envolvendo os interesses comuns da burguesia. Nascia ali a esfera pública burguesa, ansiosa

por defender seus interesses e buscar a participação no Estado que era comandado pelos

nobres.

A partir daí, a burguesia pode se organizar e passar a interferir em outras esferas

além da econômica. O acesso da classe às decisões políticas foi gradativamente aumentado,

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tanto pela presença de burgueses na corte3, como pela legitimação que o Parlamento buscava

na esfera pública. Ao mesmo tempo, a queda da nobreza também foi influenciada pelo próprio

contexto histórico que a Europa vivia naquele momento, no qual podemos destacar a

Revolução Francesa.

Este conjunto de fatores levou à formação do Estado de Direito Burguês, com

uma esfera pública institucionalizada em que o Parlamento passou a ser um órgão de Estado

que legitima a opinião “pública”. Entretanto, faz-se importante ressaltar que essa esfera não

era tão pública assim, já que somente os comerciantes e resquícios da nobreza podiam ter voz

nas decisões. A classe trabalhadora, portanto, era excluída deste espaço. Ou seja, a mesma

burguesia que lutou para o fim da opressão monarca garante agora equipamentos estatais que

oprimem outra classe.

Aos poucos, a barreira existente entre público e privado foi reduzida e uma esfera

se mesclou com a outra, gerando interferências públicas em âmbito privado e vice-versa. A

esfera pública moderna se transformou então em uma “pseudo-esfera pública, encenada,

fictícia. (...) As pretensões ainda têm de ser mediadas discursivamente, mas não mais no

interior da esfera pública e sim para a e diante da esfera pública”. (GOMES, 2009, p. 46; 49)

Somado a isso, temos a expansão da imprensa, que assume papel fundamental no

processo de mudança. Por meio da comunicação de massa, as organizações (com interesses

privados) que formam a esfera pública institucional (o próprio Estado, comerciantes, meios de

comunicação de massa, etc.) apresentam e tentam convencer a sociedade a aprovar uma

proposta de ação social. Não há discussão dos vários pontos que essa ação pode ter, a decisão

é tomada pelas organizações e condicionada aos indivíduos.

Um exemplo é o processo de escolha dos gestores públicos que foi adotado no

Brasil. Os meios de comunicação e os órgãos governamentais reforçam o voto como uma

ação democrática, já que é através dele que a população define quem irá representá-los na

esfera pública institucional. Contudo, é dada uma lista de opções pré-definidas à sociedade.

Os indivíduos não têm espaço para conhecer outros possíveis candidatos e avaliar

racionalmente qual seria o melhor, ficam presos ao que lhes é posto. Deste modo, a

comunicação de massa contribui para o simulacro de uma esfera pública, que na realidade,

fere aos princípios de livre discussão e acesso.

3 Na ânsia de uma elevação na pirâmide social, muitos burgueses compraram títulos de nobreza para fazer parte

da corte.

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2.2 Agir comunicativo

Ao escrever Agir Comunicativo e Razão Destranscendentalizada (2002),

Habermas dá uma nova perspectiva para o papel dos meios de comunicação de massa na

formação e desenvolvimento de uma esfera pública.

O modelo dessa nova esfera exige, antes de tudo, a comunicação como interação

social. O destaque que esta teoria dá ao discurso é de suma importância para compreender

como a ação comunicativa pode contribuir para a emancipação do sujeito. “Nosso contato

com o mundo é mediado lingüisticamente, o mundo se exime igualmente tanto do acesso

direto do sentido como de uma constituição direta” (2002, p.56). Ou seja, o sentido que o

indivíduo dá ao mundo que conhece é determinado pela compreensão que possui do mesmo, e

não pela objetividade concreta dos ambientes que o cercam. Essa compreensão se forma a

partir dos discursos aos quais o indivíduo está sujeito em uma sociedade. É na comunicação

social que ele forma a sua compreensão e visão do mundo.

Entretanto, Habermas evidencia que o discurso só pode se tornar uma ação

comunicativa quando os sujeitos usam a razão prática. Conceito este, que é utilizado em

conformidade com o pensamento kantiano.

Guazzelli (2010) explica que a razão prática, para Kant, é a capacidade de

empregar o raciocínio humano para uma ação, enquanto a ração teórica permanece somente

na valorização do intelecto.

A partir desta ideia, Habermas (2002, p. 36) lista quatro pilares de “parentesco” da

sua teoria com a de Kant: (a) ideia cosmológica do mundo: um ambiente integrado e comum;

(b) ideia da liberdade: a razão prática aplicada com ausência de coação, na qual todos têm o

direito de se expressar conforme desejam; (c) capacidade das ideias: consiste na validade

incondicional das ideias racionais discutidas em conjunto, sem pré-julgamentos; (d)

capacidade dos princípios: relação entre a razão regulativa, como “tribunal supremo” e a

capacidade das ideias. Logo, representa e prevalência da moral sobre a ética.

Estes conceitos já estavam presentes na esfera pública burguesa, que defendia

seus interesses públicos a fim de interferir no Estado (ideia cosmológica); era acessível e

paritária, até certo ponto, por se concentrar em locais públicos onde “todos” poderiam

participar (ideia da liberdade); discursiva, enquanto abria espaço para o diálogo entre os

participantes (capacidade das ideias) e despida de uma ética pré-determinada, já que eram as

discussões e argumentos daquele momento que definiam as decisões posteriores (capacidade

dos princípios).

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As mesmas referências persistem na razão destranscendentalizada, que é, antes de

tudo, uma razão prática. Mas o contexto é outro. Agora, Habermas mostra uma divisão na

sociedade que também divide a razão prática.

A conjuntura sócio-econômica pós-industrial – na qual se pode destacar a

consolidação do capitalismo, o desenvolvimento tecnocientífico e a expansão dos meios de

comunicação – contribuiu para a separação da sociedade em dois mundos: o mundo vivido,

que compreende a práxis social, e o mudo sistêmico, onde se encontram as organizações que

constroem a pseudoesfera pública.

O mundo vivido é o locus do conhecimento integral, dialógico, sem conceitos

absolutos. É neste mundo que vivemos cotidianamente, enfrentamos conflitos e aprendemos a

raciocinar. É nele também que as reflexões práticas ocorrem e podem gerar discussões e ações

posteriores.

No outro lado, o mundo sistêmico privilegia a razão teórica, constituindo o

ambiente estrutural em que a ciência4 tenta isolar a si própria e aos objetos que estuda. Não

obstante, as organizações que simulam a pseudoesfera pública se isolam do mesmo modo,

decidindo com base em interesses particulares, questões que afetam o coletivo. A discussão

perde espaço para os paradigmas.

Por conta do próprio contexto social capitalista e da concentração do poder

público, o mundo sistêmico começa a se apoderar do mundo vivido. Essa ação, classificada

por Habermas como “colonização do mundo vivido”, gera a transcendentalização da razão

prática. Ou seja, o pensamento racional produzido no mundo vivido é colonizado pela razão

técnica do mundo sistêmico, no qual ideias são apresentadas e aceitas como corretas sem o

processo de discussão prévio. Do mesmo modo, a lógica da razão pragmática, pautada nos

fins e objetivos individuais, sai da esfera do sistema e chega à pública.

Aqui é importante ressaltar a diferenciação entre a teoria crítica de Adorno e

Horkheimer e a colonização do mundo vivido de Habermas. A primeira supõe que os meios

de comunicação de massa constroem uma indústria cultural que manipula os indivíduos

através do controle psicológico. O sujeito é produto da sociedade e se torna um fantoche das

normas sociais. Habermas reconhece essa influência do sistema na formação do sujeito, mas

não tira do indivíduo a capacidade de agir racionalmente. Mesmo utilizando uma razão

transcendental, fora do mundo em que vive, o ser social não decide suas ações por imposição

ou condicionamento dos meios de comunicação. Ele decide de modo racional a partir das

4 Não me refiro apenas à ciência clássica (Matemática e Ciências da Natureza), mas à scientia ligada a todas as formas de

conhecimento.

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realidades as quais têm acesso, incluindo as que lhe são apresentadas como verdadeiras pelos

mass media.

Mas o que seria a verdade? Os meios de comunicação mentem ao relatar fatos de

acordo com os interesses do sistema e levam os indivíduos ao erro por conta da omissão da

verdadeira realidade? Habermas esclarece isso ao afirmar que a verdade incondicional e

irrefutável possui dois aspectos principais que nos levam ao erro.

De um lado, é sugerido que a verdade possa ser concebida como assertabilidade

ideal, por meio da qual esta, em compensação, se limita a um consenso alcançado

sob condições ideais. Mas uma afirmação encontra a concordância de todos os

sujeitos racionais porque é verdadeira; ela não é por isso verdadeira, porque poderia

criar o conteúdo de um consenso alcançado idealmente. Por outro lado, o quadro

conduz o olhar não para o processo de justificação, em cujo decorrer as afirmações

verdadeiras deveriam resistir a todas as objeções, porém para o estado final de uma

concordância em constante revisão. (HABERMAS, 2002, p. 58)

Na primeira questão, a verdade limita-se a um determinado contexto ideal de uma

esfera, sem considerar a multiplicidade de conceitos que podem existir para além daquela. O

que é verdade consensual para determinado grupo pode muito bem não o ser para outro, já

que as realidades e contextos são diferentes. Prosseguindo a sua contestação à verdade

absoluta, Habermas retoma o quadro formado pela colonização do mundo vivido, no qual a

visão racionalista do sistema prioriza os fins, o estado final da verdade e não a sua

justificação.

É assim que o filósofo deixa claro que no mundo vivido a verdade incontestável é

impossível. O que existe é uma “aceitabilidade racional” do que é posto pelo sistema. O

sujeito aceita, ou não, as ideias que lhe são ofertadas a partir dos argumentos que elas

oferecem, racionalmente. O problema é que esta razão foi transcendentalizada, portanto, não

há discursos adicionais para estabelecer um processo dialógico, a razão se baseia no que é

transmitido pelo mundo sistêmico. E aqui os meios de comunicação assumem um papel

importante, ao propagarem as “verdades absolutas” do sistema ou reduziram as realidades do

mundo vivido.

A saída proposta por Habermas é a razão destranscendentalizada, o retorno da

razão prática ao mundo vivido, complexo, repleto de conflitos ideológicos, vivências práticas

e realidades diferentes. Nesse mundo, o indivíduo tem a possibilidade de estabelecer relações

múltiplas e, a partir de sua própria vivência, refletir a sociedade em que vive para chegar à

ação comunicativa.

Uma razão destranscendentalizada é integral, construída a partir da multiplicidade

de conceitos e da relação dialógica do discurso. É a partir dela que a ação comunicativa pode

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se concretizar, indicando “aquelas interações sociais para as quais o uso da linguagem

orientado para o entendimento ultrapassa um papel coordenador da ação” (HABERMAS,

2002, p. 72).

Assim, a ação comunicativa e a razão destranscendentalizada surgem como

elementos de formação de uma esfera pública contemporânea voltada para o complexo mundo

vivido. Afinal, é neste mundo que as relações linguísticas se desenvolvem e mediam

discursos.

3 METODOLOGIA DE ANÁLISE

Já que o agir comunicativo baseia-se nas relações dialógicas entre os sujeitos,

escolhemos a AD - Análise do Discurso como metodologia de pesquisa para este artigo. A

AD procura descrever, explicar e avaliar os processos de produção, circulação e consumo dos

sentidos vinculados aos textos na sociedade, para isto engloba diversos conhecimentos.

As raízes da análise do discurso encontram-se na Grécia antiga, onde duas práticas

surgiram. Uma ligada à interpretação (hermenêutica) e a outra à produção (retórica) de textos.

A hermenêutica enfatiza a interpretação dos textos, inicialmente era aplicada na

decodificação das previsões dos oráculos, como o de Delfos. Aos poucos foi ampliada para

outros textos religiosos, jurídicos e literários. Possui como principal objetivo o resgate da

semântica original do texto, tendo servido muitas vezes para impor uma interpretação

privilegiada.

Por volta do ano 485 a.C, nas colônias gregas da Sicília, surgia a retórica,

inicialmente como um conjunto de regras para textos proferidos ao ar livre. Posteriormente se

ampliou para os textos deliberativos. Milton Pinto salienta que “por ser uma técnica de

produção textual, a retórica é também, de modo mais ou menos implícito, a primeira teoria da

produção e recepção de textos.” (2002, p.16).

Na história da análise de discursos duas tradições se destacam: a francesa e a

americana. A tradição francesa aborda discursos definidos como práticas sociais determinadas

pelo contexto sócio-histórico, enquanto a americana combina a descrição da estrutura e do

funcionamento interno do texto. Nesta pesquisa, adotaremos a tradição francesa como

referência.

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3.1 A interação discursiva

Como o discurso não é constituído somente pela superfície textual, os conceitos

de emissor e receptor desaparecem e transformam-se em sujeitos e assujeitados da interação.

O texto, quando contextualizado, torna-se um enunciado. O emissor dá lugar ao sujeito da

enunciação, que produz o enunciado, e ao sujeito do enunciado, que o profere. O receptor, por

sua vez, assume a postura de sujeito falado, a quem o enunciado é dirigido./

Para Bakhtin, citado por Saldivar (2004), “a realidade fundamental da linguagem

é o dialogismo”, visto que a linguagem se contextualiza através da interação. Aqui também

surge outro termo definido por Bakhtin que está muito próximo do dialogismo, a polifonia,

que faz referência à intertextualidade, às inúmeras vozes que se fazem presentes em um texto.

A heterogeneidade compreende a polifonia e o dialogismo, manifestando-se

explicitamente, quando a menção a outros textos é claramente visível, e implicitamente,

quando a alusão se faz presente nas “entrelinhas” do enunciado. Estes elementos estão

presentes nas discussões que acontecem em uma esfera pública e no próprio conceito

habermasiano desta. A variedade de discursos é heterogênea, ao integrar cada uma das

posições dos indivíduos privados. Mas essa diferenciação inicial parte para o entendimento

comum, o diálogo entre as diversas vozes que compõem o debate.

4 COMUNICAÇÃO EM REDE

Com base na ideia de destranscendentalização da razão, analisaremos a

possibilidade do agir comunicativo no espaço virtual, mais precisamente na rede social

Twitter, que tem ganhado diversos usuários na internet. Com a expansão desse meio de

comunicação e das novas tecnologias, surgiu a comunicação em rede. Ao contrário dos outros

mass media, aqui não existe alguns emissores e vários receptores. De acordo com Amstel

(2006, p. 02), “nesse novo cenário, pessoas comuns podem ser mais do que receptores,

participando ativamente da criação e significação das mensagens”. Todos emitem e recebem

mensagens, formando uma “teia de fluxos e nódulos (...), trama complexa de percursos e

entrecruzamentos que entrelaça comunicação e contemporaneidade” (RUBIM, 2000, p. 27).

Assim, o indivíduo dá lugar ao sujeito, propiciando-lhe escolher qual caminho deseja

percorrer para decodificar a mensagem.

Essa possibilidade fez com que a internet crescesse em ritmo acelerado. As

estatísticas são calculadas por IP (Internet Protocol), um número de identificação único que

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cada computador em rede possui. Contudo, o mesmo terminal de acesso pode ser usado por

várias pessoas, por isso, a aferição destes dados não tem 100% de precisão, mas serve como

um indicativo do avanço da web5.

De acordo com o Internet World Stats, 1,3 bilhões de pessoas usam a rede no

mundo. Só no Brasil, calcula-se que 67,5 milhões6 utilizam a internet em qualquer ambiente

(casa, trabalho, escola, telecentros, etc.). O número representa apenas 36,1% da população

brasileira, que até 2009 era composta por 193,5 mi habitantes7. A estatística ainda fica menor

quando se verifica o número de pessoas com acesso à internet residencial. Conforme pesquisa

do IBOPE, em abril de 2010, apenas 46.986 estavam conectados à rede mundial de

computadores a partir de suas casas.

Apesar dessa desigualdade, há um ponto crucial no que diz respeito à

acessibilidade da internet: a sua rápida expansão. Ao fim de 2005, apenas 20,9% da população

tinha acesso. Hoje, após quatro anos e meio, a cifra é de 36,1%. Esse nível de crescimento

levou o país a se tornar o quinto maior mercado mundial para celulares e internet, segundo a

Organização das Nações Unidas (ONU).

Conquistando cada vez mais usuários e reduzindo as barreiras entre espaço e

tempo, a internet possibilitou um maior nível de interação entre os internautas através do

compartilhamento de textos, fotos, músicas, atividades, etc. Essa interação ocorre de modo

especial nas redes sociais, sites em que o internauta pode cadastrar um perfil e relacioná-lo

com outros a partir de suas afinidades. Estes espaços também funcionam como fóruns abertos,

nos quais os usuários podem expressar sua opinião de acordo com temas pré-estabelecidos ou

ainda propor as temáticas que devem ser discutidas.

Dentre as redes sociais mais movimentadas da web, encontra-se o Twitter, um

serviço no qual os internautas cadastram uma página pessoal e realizam postagens que

respondem a pergunta “what are you doing?” (o que você está fazendo?) em até 140

caracteres. O limite foi imposto a partir do tamanho de uma SMS – Short Message Service,

mensagens de textos que podem ser enviadas por celulares, a fim de que fosse possível

atualizar a página pelo dispositivo móvel. Mas a integração do Twitter não ficou só nos

celulares, por ter uma API8 livre, a plataforma pode ser incorporada em qualquer serviço de

5 Web significa teia, em inglês. A palavra é usada como um diminutivo de World Wide Web (teia mundial) para

designar a cadeia de informações formada pelos sites. 6 Dados referentes ao ano de 2009, de acordo com o Instituto de Pesquisa IBOPE. 7 Indicators on Population. In United Nations Statistics Division. Demographic and Social Statistics. Statistical

Products and Databases. Social Indicators, 2009. 8 Application Programming Interface (Interface de Programação do Aplicativo) – código de programação que

permite a integração de um software com outros.

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publicação. Hoje, há ferramentas de integração do Twitter com emails, páginas pessoais,

portais de notícias, smartphones, câmeras de vídeo, foto e outros aparelhos eletrônicos.

Essa descentralização do conteúdo permite que o Twitter seja acessado de

qualquer lugar, sem a necessidade obrigatória de um computador, basta apenas um dispositivo

de comunicação e uma rede de conexão disponível, que pode ser a própria rede de celulares.

Com isso, a ferramenta ganhou a adesão massiva dos internautas, principalmente no Brasil. O

Instituto Qualibest divulgou, em 2009, que 91% dos brasileiros com mais de 18 anos, com

acesso à internet, conhecem ou já ouviram falar no Twitter. Destes, 34% são usuários ativos

do serviço, acessando-o mais de cinco vezes por semana.

Para o jornalista Juliano Spyer (2009), o sucesso dessa rede se deve tanto à sua

capilaridade quanto ao ambiente de interação livre que propicia, comparando a rede a uma

“mesa de bar”. Essa analogia é perfeitamente aplicável às relações desenvolvidas no Twitter.

Desde o encontro de amigos para conversas triviais até a mobilização popular de internautas

com objetivos comuns. Tanto que uma comunidade discursiva se formou entre os usuários do

serviço, adotando termos próprios para ações no site. Dentro do vocabulário oficial do

Twitter, destaco aqui alguns termos que serão recorrentes neste artigo:

- Usuário: internauta cadastrado no Twitter. Possui uma página pessoal que pode

ser acessada através do seu nome de usuário, um registro único de cada pessoa registrada no

serviço. A citação do usuário em mensagens segue um padrão com o sinal de arroba à frente

do nome (@usuario).

- Tweet: cada mensagem, com até 140 caracteres, inserida na página pessoal do

usuário;

- Reply/Replies: tweet que cita o nome de outro usuário, geralmente para enviar ou

responder um questionamento;

- Retweet: republicação de um tweet que foi postado anteriormente por outro

usuário;

- Hashtag: é uma palavra-chave precedida pelo sinal “#” (#exemplo). A hashtag

serve para categorizar o tweet. Ao clicar nela os outros usuários podem ver todas as pessoas

que usaram aquela hashtag. É um recurso muito utilizado para divulgar serviços e campanhas;

- Seguidores: usuários que acompanham as postagens de outro usuário.

Tendo em vista essa interação discursiva, escolhemos analisar o perfil no Twitter

do governador do Estado do Ceará, Cid Gomes. Nossa meta é examinar a aplicação do agir

comunicativo neste espaço e assim verificar possibilidade de formação de uma esfera pública

virtual.

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A escolha do objeto se deu por conta do caráter público, interativo e

descentralizado que o serviço de microblog apresenta. Estabelecendo assim, um ambiente

favorável ao uso da razão destranscendentalizada. Por conseguinte, o perfil do governador Cid

Gomes (@cidfgomes) foi definido para a análise buscando-se uma possível relação das

discussões em torno da figura pública no Twitter e a influência destas nas suas ações enquanto

chefe de Estado.

4.1 O governador no Twitter

De janeiro a março de 2010, Cid Gomes realizou 180 atualizações no Twitter. A

maioria (34) com informações georreferenciadas pelo programa MotionX9, e com fotos (26)

de obras e ações do Governo do Estado, inseridas a partir do Twitpic10

. Já em abril, o

governador fez 224 postagens, divididas da seguinte maneira: 23 com texto próprio, 15 do

MotionX, 24 indexadas pelo TwitPic, 83 replies, e 79 retweets.

A comparação com os meses anteriores é detalhada no gráfico abaixo. .

Gráfico 1 – Comparativo de atualizações do governador Cid Gomes no Twitter

FONTE: Observação do perfil @cidfgomes de 01/01/2010 a 30/04/2010.

Conforme se observa, de janeiro à março, Cid Gomes priorizou uma comunicação

de mão única, com apenas 4 respostas às perguntas feitas por seus seguidores. Enquanto em

abril, os replies e retweets foram mais recorrentes, criando um diálogo direto com os

internautas. Esse aumento se deu, sobretudo, devido às respostas publicadas no dia 21 de

abril, feriado de Tiradentes. Aproveitando o tempo disponível, o governador ficou cerca de

quatro horas online respondendo à perguntas de diversas temáticas. Só neste dia, foram

postados 75 dos 83 replies referentes ao mês em questão.

Em entrevista, Cid Gomes (2010) justifica a ausência de respostas explicando que

não deseja “criar espectativas nessas pessoas de que vão poder ter todas as suas dúvidas,

9 Aplicativo para smartphone que permite o envio de informações com latitude e longitude referenciadas no

serviço de mapas Google Maps. 10 Site integrado ao Twitter que possibilita o envio de fotos, pelo computador ou por telefone móvel, para o perfil

do usuário no microblog.

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2

2

83

3

79

Jan | 42

Fev | 19

Mar | 19

Abr | 224 Texto

MotionX

TwitPic

Replies

Retweets

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13

perguntas, críticas resolvidas”. Apesar disso, o perfil de Cid Gomes no Twitter gera debates

mesmo sem o retorno do governador.

5 O DISCURSO DE CID GOMES

A partir do panorama apresentado, a análise do discurso de Cid Gomes no Twitter

será realizada em três partes: apresentação inicial, textos (postagens próprias, replies e

retweets) e aplicações (MotionX e TwitPic). Busca-se assim, mostrar a diferença na estrutura e

objetivos do discurso em cada uma destas áreas, bem como a interação existente entre elas.

5.1 Apresentação inicial

Em sua página inicial, no campo “Bio”, onde o usuário faz uma breve descrição

pessoal, Cid Gomes apresenta-se da seguinte maneira: “46, Governador do Estado do Ceará,

PSB”. O discurso emitido pela frase demonstra a experiência de vida de Gomes, ao citar sua

idade; a posição pública que ocupa e a sua filiação partidária, no caso o PSB – Partido

Socialista Brasileiro.

A página também apresenta o brasão do Estado como papel de fundo, impresso

com a mesma tipologia e croma das peças de divulgação do Governo do Estado. A utilização

do símbolo oficial se une à descrição do perfil e emite um enuciado que reforça tanto o caráter

de pessoa pública, como a autoridade política que o cargo de governador representa. Deste

modo, o discurso inicial da página deseja mostrar que os assuntos ali tratados correspondem à

opinião de Cid Gomes, enquanto governador, pessoa pública. Logo, dá-se relevância pública

ao que é postado neste espaço, como declaração oficial do gestor do Estado.

Figura 1 – Página inicial do perfil @cidfgomes no Twitter

FONTE: Impressão de tela em 28/04/2010.

Page 14: Formação de esfera pública no Twitter

14

5.2 Textos

A análise dos textos diz respeito aos tweets publicados sem links externos, replies

e retweets. Como mostra o gráfico 1, Cid Gomes não possui o hábito de usar esse tipo de

postagem, a maior incidência é de tweets de aplicativos. Porém, devido ao feriado de

Tiradentes, o seu perfil registrou 83 replies, 79 retweets e 23 tweets com texto próprio no mês

de abril. Como os retweets constituem uma heterogeneidade explícita11

, focaremos esta

análise nos principais tweets e replies.

Em geral, as perguntas que Cid Gomes escolheu para responder questionam

prazos de obras iniciadas, detalhes sobre projetos, dão sugestões ou simplesmente elogiam a

gestão.

Figura 2 – Perguntas (retweets) e respostas no perfil @cidfgomes em 21/04/2010 FONTE: Recorte de tela do perfil @cidfgomes no Twitter. Impressão em 23/04/2010.

Neste recorte, é possível observar um aumento expressivo no nível de interação

do governador com seus seguidores. Ele utiliza-se de um modo de dizer mais coloquial,

próximo dos internautas. Ao responder o comentário da usuária veramagalhaes acerca do

número de tweets e retweets, Gomes emprega o termo “azedando” com referência à

pertinência do discurso naquele momento. A seguir, a gíria “rsrs”12

expressa um discurso bem

humorado, transmitindo um enunciado leve, lúdico e participativo, ao passo que se questiona,

implicitamente, se os participantes do diálogo ainda o consideram adequado.

Mas Cid Gomes também preserva a sua linguagem formal, característica de uma

pessoa pública. Ao falar sobre as obras de infraestrutua para a Copa do Mundo de 2014, o

governador publica uma série de siglas como PPP (Parceria Público-Privada), VLT (Veículo

11 Os retweets do governador reproduzem a postagem original Ipsis Litteris – na maioria das vezes, a pergunta de

um seguidor – para em seguida publicar uma resposta. 12 Redução de “risos” com utilização comum em meios virtuais de interação como redes sociais, salas de bate-

papo ou programas de mensagens instantâneas.

Page 15: Formação de esfera pública no Twitter

15

Leve sobre Trilhos) e PMF (Prefeitura Municipal de Fortaleza). O uso de abreviaturas e

reduções é comum no Twitter, devido ao limite de caracteres, mas deve-se lembrar que o

sujeito falado desse discurso é um público heterogêneo que não tem a obrigação de conhecer

o significado das siglas supracitadas. Assim, corre-se o risco de que a mensagem não seja

decodificada da maneira que deveria, haja vista que sujeito falado e sujeito do enunciado

fazem parte de diferentes comunidades discursivas. Por isso mesmo, Cid Gomes deveria

buscar pontos de interssecção entre essas comunidades, a fim de garantir que seu discurso

possa ser entendido por todos ou pelos menos pela maioria de seus seguidores. Mesmo assim,

ressalvamos que, por se tratar de um meio em rede, o discurso do governador pode ser

reconstruído por ele próprio ou por outros internautas. Deste modo, a dificuldade inicial de

compreensão dos conceitos pode ser esclarecida por outras referências, diferente de mídias

como Rádio, TV e Impresso.

Este recorte também dá uma amostra da multiplicidade de assuntos discutidos

pela rede de seguidores do governador. Esporte, infraestrutura e educação estão presentes nos

dez tweets citados. Mas, dentre as 224 atualizações do mês de abril, surgem outras temáticas

variadas como segurança, saúde, turismo, abastecimento de água, conjuntura política e outras.

Atendendo, portanto, à ideia da liberdade, a livre opinião com ausência de coação e paridade

de discursos.

Após falar de assuntos ligados a essas diversas temáticas por cerca de quatro

horas seguidas, o governador publica seu último tweet do dia 21 de abril com a seguinte

mensagem: “Vou ter mesmo que sair... Amanhã tem trabalho... Vou a Brasília numa reunião

sobre Transnordestina”. Aqui o enunciado reforça o discurso já empregado pela página inicial

e pela linguagem formal da maioria dos replies. Existe a interação, a aproximação discursiva

e, sazonalmente, a resposta direta do governador a questões levantadas pelos internautas, mas

Cid Gomes não é mais um cidadão cearense no Twitter. A posição e a autoridade do cargo

que ocupa são lembradas a todo momento. A justificativa para que o tempo do diálogo não se

estendesse naquele dia foi justamente a agenda do Governo do Estado.

Essa polifonia que destaca a face pública de Cid Gomes faz com que o sujeito

falado não perca a referência de publicidade que os discursos do governador possuem. Ao

mesmo tempo, o reforço constante dessa ideia propaga a imagem de um gestor consciente,

que se preocupa em informar à população as ações que executa, as decisões públicas que toma

e se refletem na vida cotidiana dos sujeitos.

Page 16: Formação de esfera pública no Twitter

16

5.3 Aplicações

Utilizo o termo aplicações para as postagens inseridas por sites ou softwares

externos ao Twitter. Dentre estes, Cid Gomes utiliza com maior frequência o MotionX e o

TwitPic. Em abril, os seis primeiros tweets foram inseridos pelo MotionX:

Figura 3 – Atualizações inseridas pelo software MotionX no início do mês de abril.

FONTE: Recorte de tela do perfil @cidfgomes no Twitter. Impressão em 23/04/2010.

Ao clicar em um desses links, o internauta é direcionado para uma página

semelhante a esta:

Figura 4 – Mapa com informação georreferenciada

FONTE: Recorte de tela do site Google Maps. Impressão em 16/04/2010.

O software instalado no smartphone do governador mostra a visão de satélite,

georreferenciada com latitude e longitude, do local da obra, evento ou ação divulgada. Alguns

ainda apresentam a miniatura de uma foto. Os 15 tweets publicados em abril pelo MotionX

emitem um discurso que atende à lei da pertinência, pois estão em conformidade com o

enunciado inicial do assunto público. Todos tratam de uma obra do Governo que está em

execução ou que foi finalizada recentemente. A lei da informatividade também se aplica ao

caso, pois dá aos internautas a possibilidade de se informar sobre ações que nem sempre são

noticiadas pelos meios de comunicação convencionais.

Todavia, a lei da exaustividade não é cumprida. Estes tweets não emitem as

informações básicas necessárias para que o sujeito falado possa decodificar a mensagem em

sua totalidade. A estrutura é composta pela hashtag #MotionX, o termo Share (compartilhar,

em inglês) e o link de acesso ao mapa em questão. Não se sabe qual a obra ou o local em

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17

questão até que se clique no link. Para quem já acompanha as atualizações do governador, há

uma referência mínima do tema do tweet marcado com a hashtag citada, é um mapa com

informação de alguma obra pública. Mas essa compreensão é prejudicada pela ausência de

informações para os novos seguidores do perfil. Quem não souber o que é o MotionX ou o

siginificado da palavra Share, não terá um código interpretável. É até possível descobrir a que

o link se refere ao clicar nele, porém, nesse caso, a ação se dará por mera curiosidade, não por

interesse na informação pública que se encontra no tweet.

5.3.1 TwitPic

O TwitPic é um site paralelo, mas integrado ao Twitter. Ele permite a exibição de

fotos em um espaço próprio e publica o link da mesma no microblog. Em abril, foram 24

imagens publicadas no perfil do governador. O teor do discurso atribuído às atualizações pelo

MotionX também pode ser aplicado aos enunciados emitidos pelas fotos do TwitPic. Não há

referência à vida pessoal de Cid Gomes, as imagens e ilustrações continuam a tratar de

questões públicas: diagramas de projetos, eventos de órgãos ligados ao Governo e obras em

execução. Com isso, Gomes reforça o discurso de um gestor responsável, preocupado com a

coisa pública e a transparência de suas ações.

Figura 5 – Links postados pelo Twitpic

FONTE: Recorte de tela do perfil @cidfgomes no Twitter. Impressão em 16/04/2010.

Entretanto, há duas diferenças importantes entre as aplicações. A primeira é que

as postagens do TwitPic atendem à lei da exaustividade. Mesmo sem ter conhecimento do

site, o internauta tem a informação básica do assunto do link e saberá a temática do que pode

acessar. Em segundo lugar, há o fato de que o TwitPic constrói uma rede análoga ao Twitter,

que permite comentários das fotos por qualquer usuário do site, seja ele seguidor ou não do

perfil de Cid Gomes. Ao comentar uma imagem, o texto é postado na página do autor, junto

com o link da foto comentada. Temos assim uma expansão da rede inicial e um dialogismo de

discursos.

Page 18: Formação de esfera pública no Twitter

18

Mais uma vez se distanciando do modelo convencional da comunicação de massa,

a comunicação em rede dá ao sujeito a possibilidade de responder ao emissor da mensagem,

sem a interferência de linhas editoriais, a pertinência do discurso é avaliada pelo próprio

indivíduo e por aqueles que compõem a comunidade virtual. Mesmo que o governador não

tenha a rotina de responder às questões levantadas por seus seguidores, a opinião do usuário é

expressa e o debate pode ser gerado. Vejamos o exemplo a seguir, sobre a inauguração de

uma delegacia no município de Trairi-CE.

Figura 6 – Foto publicada por Cid Gomes em 11 de abril de 2010

FONTE: Recorte de tela do perfil @cidfgomes no TwitPic. Impressão em 27/05/2010.

Quadro 1 – Resumo dos 23 comentários sobre a delegacia de Trairi

Usuário Comentário publicado (sic)

Jehcordeiro “no dia que eu fui em Trairi eu vi, muito linda, parabéns”

Raphaelrsr

“jehcordeiro, não se iluda, esta delegacia terá mais TERCEIRIZADO que Policial Civil, é

um absurdo o que estão fazendo conosco, chega a ser HUMILHANTE. Tenho fé que o troco

será dado nas urnas, meu voto desta vez não será em vão!”

“Pq nomear mais de 5 mil pm´s pro Ronda da eleição, e não nomear apenas 400 policiais

civis remanescentes, formados e aptos, à espera de nomeação, há mais de 1 ano (230

escrivães + 119 delegacos + 52 inspetores)? Exigimos respeito, já chega!!!”

Edwalcyr

“Sr. Gov. gostaria de parabenizá-lo pelo excelente trabalho q vem fazendo como governador do Estado, sabemos q o Estado precisa melhorar ainda muito por contade administraçõs

anteriores q deixaram muito a desejar. Sem exagero, usando o raciocínio lógico. Se

nomeasse 400 policiais, a crítica questionaria pq não 5 mil defendendo a geração de

empregos.”

Vascaoce

“edwalcyr Você sabe diferenciar o papel da Polícia Ostensiva (Preventiva) da Polícia

Repressiva? Você sabe o real papel da Polícia Judiciária? Você sabe diferenciar uma Polícia

de rua para uma Polícia investigativa? Tomara que a população cearense abra os olhos antes

das eleições! Aliás, o povo cearense já entende a situação atual da Segurança Pública. Carros

de luxo e fardas estilizadas x Polícia mal estruturada com relação ao pessoal.”

Fredericopbf

“Governador, existe um processo de exoneração em seu gabinete, Nº 095518754, relação

041/2010, que se encontra a quase 3 meses esperando sua assinatura. Informo-lhe que nem

as 223 vagas do concurso de ESCRIVÃO foram completadas.”

Page 19: Formação de esfera pública no Twitter

19

Até a conclusão deste artigo, Cid Gomes não havia postado nenhuma resposta

para esses comentários. Contudo, conforme dito, a resposta do governador não é necessária

para a construção do debate. Bastou apenas que a temática da segurança pública fosse

levantada. O espaço aberto para a opinião e livre de coação propiciou a multiplicidade de

expressões sobre o investimento público e a definição de prioridades adotada por Cid Gomes.

A usuária jehcordeiro parabeniza o governador pela obra, valorizando a face

positiva do discurso de Gomes. Em resposta, raphaelrsr reivindica a convocação de todos os

aprovados no último concurso público da Polícia Civil do Ceará, apresentando ainda, a sua

visão do caso para jehcordeiro. Utilizando-se da heterogeneidade discursiva, edwalcyr

concorda com o primeiro comentário e parabeniza a gestão, que diz usar o “raciocínio

lógico”. Ao mesmo tempo, ele reprova as críticas levantadas por raphaelrsr. Por sua vez,

vascaoce questiona o conhecimento de edwalcyr e afirma que a população cearense conhece a

realidade da segurança pública.

Com os comentários de outros usuários e as réplicas daqueles que já haviam se

posicionado, a postagem de Cid Gomes recebeu 23 respostas. Um número insignificante se

comparado aos 8.547.80913

habitantes do Ceará. Contudo, mesmo que em pequena escala,

esse debate mostra os primeiros sinais de uma potencial razão destranscendentalizada no meio

virtual. As visões expressas são construídas a partir da vivência de cada um em sua própria

realidade, no mundo vivido. Os sujeitos também têm a oportunidade de conhecer outros

pontos de vista, contrários e coniventes com os seus. O embate de ideias pode ocorrer sem a

influência de mundo sistêmico, baseando-se apenas na apresentação racional de argumentos

apresentados por meio do discurso.

6 DA RAZÃO À AÇÃO: A CAMPANHA RESPONDE CID

Durante a análise do discurso no Twitter de Cid Gomes, entramos em contato com

a assessoria de comunicação do Gabinete do Governador, ao fim de março deste ano, com o

objetivo de solicitar uma entrevista, na qual o governador pudesse falar de sua experiência de

interação na rede social. Diante da agenda lotada do gestor, a assessoria informou que era

impossível marcar uma entrevista presencial ou por telefone. Assim, no dia 7 de abril, foram

13 População estimada em 2009 segundo o IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística.

Page 20: Formação de esfera pública no Twitter

20

enviadas por email à assessora de comunicação, que se comprometeu em encaminhar as

questões ao governador para que ele respondesse, se possível, em seu tempo livre.

Pouco mais de uma semana após o primeiro contato, continuamos sem nenhum

retorno. Assim, estabelecemos contato telefônico com a assessoria de comunicação, que disse

não ter recebido as perguntas e solicitou o reenvio. Este foi realizado no mesmo dia, 19 de

abril, e confirmado por telefone.

Mais um mês se passou e a assessoria continuou sem dar nenhuma resposta. Em

uma última ligação, realizada no dia 18 de maio, a assessora confirmou que não poderia dar

um prazo para envio das respostas, haja vista que a agenda pública do governador havia se

intensificado neste mês.

Como última alternativa de conseguir uma declaração oficial de Cid Gomes para

este artigo, surgiu a ideia de encaminhar mensagens ao perfil do governador no Twitter,

solicitando a respostas das perguntas. Na noite do dia 18 de maio, foi enviado o primeiro

tweet para o perfil @cidfgomes com a hashtag #RespondeCid. A partir daí, começamos uma

mobilização com amigos(as), blogueiros(as) e seguidores para pedir o apoio de Cid Gomes

nesta pesquisa.

Em três dias, a campanha registrou 51 mensagens marcadas com a hashtag

#RespondeCid. Todas encaminhadas ao perfil do governador. Foi então que, no dia 20 de

maio, Cid Gomes respondeu à campanha. Como a assessoria não havia encaminhado as

perguntas, o governador enviou uma mensagem direta solicitando um telefone para entrar em

contato e responder às questões. No mesmo momento, enviamos um contato. Minutos depois,

Gomes ligou e concedeu uma entrevista em que comentou sua experiência de interação com

os internautas no Twitter.

O governador declarou que descobriu a rede social por acaso. Ele possui um

aplicativo, o MotionX, em seu smartphone que usa para mapear as obras do Estado e construir

um banco de dados pessoal. Na última atualização do aplicativo, ele dava a possibilidade de

postar as informações no Twitter. Assim, Cid Gomes criou seu perfil e começou a atualizá-lo

com informações georreferenciadas.

Sobre o motivo que o levou a continuar usando a ferramenta, Gomes diz que a sua

“maior preocupação é tomar conhecimento do que as pessoas falam. É um instrumento

importante, serve como um feedback da gestão”. Todavia, como demonstrado nos dados

outrora citados, o governador não deseja criar uma rotina de uso da rede social, tampouco

responder constantemente às demandas levantadas no Twitter. Para ele, isso pode gerar uma

expectativa que não poderá ser atendida. “Na hora que você passa isso, as pessoas começam a

Page 21: Formação de esfera pública no Twitter

21

cobrar. Eu não sou capaz de atender cobranças. Também não consigo ler como se fosse

responder todos os comentários. (...) Sempre que posso dou uma olhada e dou alguma

resposta. Mas não aceito provocação, sempre que alguém faz provocação eu não registro. Dou

a oportunidade da pessoa se expressar, mas não respondo provocação”, ressalta.

Essa posição adotada pelo governador explica, salvo o mês de abril, a quantidade

pequena de respostas publicadas. Mesmo assim, temos a formação de um espaço em que a

opinião pública pode se formar e chegar ao poder público, fato que não é possível, ao menos

não diretamente, nos meios de comunicação convencionais.

Para Cid Gomes, a opinião das pessoas é importante para tomar decisões

democráticas. Ele afirma que os comentários interferem diretamente na gestão do Estado.

Como exemplo, o governador conta um caso desportivo que tomou conhecimento pelo

Twitter:

“Outro dia que acessei, vi uma série de reclamações de que teria havido uma

negativa, uma solicitação do Fortaleza [time de futebol] de fazer um jogo no sábado

que antecedia o Campeonato Brasileiro, que o Ceará [time adversário] vai fazer.

Então liguei pro secretário [de esportes] e perguntei por que isso estava acontecendo.

Era verdade e ele me disse que sim tinha uma série de problemas, por que precisava de pelos menos dois dias pra limpar o estádio. E eu ponderei a ele que era um caso

ímpar, um time de fora que vinha para uma comemoração e eu queria ajudar, pedi

movimentos de outros órgãos para fazer essa limpeza em tempo recorde e deixar o

Castelão pronto para o jogo seguinte”. (GOMES, 2010)

Em outras palavras, podemos dizer que o discurso dos internautas chegou ao

Estado e fez com que este adotasse uma postura prática para responder a um dos anseios da

população. Ou seja, o início de uma ação comunicativa, desenvolvida a partir de enunciados

formados numa esfera pública virtual e concretizada com uma ação do Estado.

7 CONSIDERAÇÕES FINAIS

O dialogismo e a proximidade de realidades diferentes que se encontram na rede

mostram que é possível construir uma razão destranscendentalizada na web. Primeiro, há a

comunicação como base da interação em um local livre, no qual “todos” podem emitir sua

opinião com uma ação regulada pelo próprio indivíduo. É ele que julga o que deve publicar ou

não, diferente dos meios de comunicação de massa que possuem linhas editoriais a serem

seguidas. Por isso mesmo não têm como atender todas, ou pelo menos a maioria, das

temáticas que a sociedade desejaria debater. Nesse contexto, a rede também contribui para a

reabilitação da razão no mundo vivido, com a múltipla visão das realidades. Um usuário pode

ver a interpretação de várias pessoas a partir de um mesmo assunto. Aqui, a ideia cosmológica

Page 22: Formação de esfera pública no Twitter

22

do mundo se faz presente a partir do momento em que o internauta visualiza os fatos do

mundo vivido discutidos em rede no mundo virtual.

A discussão sobre segurança pública gerada pela foto que Cid Gomes publicou no

TwitPic mostra que essa possibilidade é concreta. A priori, a inauguração da delegacia em

Trairi-CE representa um investimento benéfico para a população. Porém, alguns usuários

expressaram outra opinião, que só foi possível graças à razão do mundo vivido. A informação

de que os escrivães aprovados em concurso público do Estado não foram convocados parte da

vivência prática e privada de um indivíduo, mas ganha relevância pública quando é

contextualizada na realidade em que os equipamentos de segurança se encontram. Com isso,

outros sujeitos aparecem no debate e também mostram sua posição, a favor ou contra o

investimento do governo. O resultado é uma cadeia de enunciados que dialogam entre si

através de vários discursos, que resguardam o ponto de vista individual, mas tratam de uma

questão pública.

Deste modo, a rede social Twitter apresenta uma infraestrutura adequada para a

construção da razão destranscendentalizada. Isso não significa dizer que o microblog assegura

o desenvolvimento da ação comunicativa. É possível conhecer e debater outras “verdades”

além das ditas por Cid Gomes ou pela mídia, mas a ação comunicativa só se concretiza

quando o discurso é convertido em posição prática.

Exemplo disso é a própria campanha #RespondeCid. O debate foi gerado em

torno da ausência de respostas do governador, vários discursos questionaram essa posição e

pediram que ele respondesse às perguntas deste artigo. Ao analisar essa “opinião pública”,

com base no que foi dito e em seu pensamento individual, Cid Gomes tomou a ação prática de

conceder uma entrevista. Ou seja, houve a formação de uma micro-esfera pública que

influenciou a ação de um gestor público. Obviamente, esse fato não tem a relevância de outros

assuntos bem mais pertinentes para a sociedade, como educação, saúde, infraestrutura e

equidade social. Mas ele mostra que existem outros meios da opinião pública se formar e se

fazer presente no Estado, além de um processo eleitoral que ocorre a cada dois anos.

Também é necessário ressaltar que, dentro de uma esfera que gere ações

comunicativas, a internet se insere como apenas mais um espaço de discussão. Uma forma

diferente, já que possibilita uma rede de intersecção entre esferas, mas não representa a

totalidade de uma opinião pública, tanto pelo fato de ainda não ser acessível a todos, como

pela própria destranscendentalização, que exige a complexidade de vivências do mundo

vivido, em seus diversos locus.

Page 23: Formação de esfera pública no Twitter

23

Por fim, é possível afirmar que a comunicação em rede representa um meio

importante para a formação de uma esfera pública contemporânea. Mas, para que isso seja

possível, é fundamental que a reabilitação do mundo vivido ocorra de maneira integrada. O

acesso a essa rede não é puramente tecnológico, é social. Mais do que um elo de ligação com

a web, os indivíduos precisam reconhecer o reflexo disso na práxis cotidiana, o que exige o

contraponto de realidades dentro e fora do mundo virtual.

REFERÊNCIAS

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