FORMAÇÃO DE REDES NAS MÍDIAS SOCIAIS: PROCESSOS, RELAÇÕES E CAPITAL SOCIAL

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FORMAÇÃO DE REDES NAS MÍDIAS SOCIAIS: PROCESSOS, RELAÇÕES E CAPITAL SOCIAL Por Monica Franchi Carniello Resumo Uma das características do ambiente midiático contemporâneo é a possibilidade relacional viabilizada pelas mídias estruturadas em rede. Esse artigo tem como objetivo discutir o processo de formação de redes nas mídias digitais, de maneira a compreender como se articulam a sociabilidade e os processos de formação de capital social nesse contexto. Para tal, foi construída uma revisão de literatura pautada no conceito de redes, no ambiente midiático contemporâneo e na concepção de capital social. A pesquisa caracteriza-se como exploratória, com abordagem qualitativa e coleta de dados por meio de entrevistas, conduzidas com atores sociais atuantes em redes em ambiente on line. Verificou-se que um dos representativos elos de ligação da sociedade é a informação, uma vez que é o compartilhamento de informações que agrupa as redes nas mídias sociais, fomentando o capital social de ponte. Palavras-chave: comunicação digital; redes; capital social; mídias sociais. Introdução A inovação tecnológica é uma característica marcante do século XX, que altera vários campos da atuação humana, dentre as quais as mídias. O processo de digitalização dos meios de comunicação, que viabilizou a reestruturação organizacional midiática para a forma de rede, ampliou o acesso dos usuários, gerou novas possibilidades de produção de conteúdo, difundiu as ferramentas de produção de conteúdo, rompeu com a hegemonia dos grandes grupos de mídia e, portanto potencializou em grande dimensão a comunicação humana. Ao ampliar os fluxos comunicativos, necessariamente promove a interação social e gera novas oportunidades de socialização que extrapolam os limites geográficos, configurando uma espacialidade interacional específica. Esse contexto, que se consolida na primeira década do século XXI, quando as especificidades do que se denomina cultura digital se delineiam com mais precisão, resulta em formas de interação e agrupamentos sociais específicos, bem como em diversas aplicações da comunicação digital por parte de indivíduos, instituições formais e não formais.

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Por Mônica Carniello Uma das características do ambiente midiático contemporâneo é a possibilidade relacional viabilizada pelas mídias estruturadas em rede. Esse artigo tem como objetivo discutir o processo de formação de redes nas mídias digitais, de maneira a compreender como se articulam a sociabilidade e os processos de formação de capital social nesse contexto. Para tal, foi construída uma revisão de literatura pautada no conceito de redes, no ambiente midiático contemporâneo e na concepção de capital social. A pesquisa caracteriza-se como exploratória, com abordagem qualitativa e coleta de dados por meio de entrevistas, conduzidas com atores sociais atuantes em redes em ambiente on line. Verificou-se que um dos representativos elos de ligação da sociedade é a informação, uma vez que é o compartilhamento de informações que agrupa as redes nas mídias sociais, fomentando o capital social de ponte. Palavras-chave: comunicação digital; redes; capital social; mídias sociais.

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FORMAÇÃO DE REDES NAS MÍDIAS SOCIAIS: PROCESSOS, RELAÇÕES E

CAPITAL SOCIAL

Por Monica Franchi Carniello

Resumo

Uma das características do ambiente midiático contemporâneo é a possibilidade relacional viabilizada pelas mídias estruturadas em rede. Esse artigo tem como objetivo discutir o processo de formação de redes nas mídias digitais, de maneira a compreender como se articulam a sociabilidade e os processos de formação de capital social nesse contexto. Para tal, foi construída uma revisão de literatura pautada no conceito de redes, no ambiente midiático contemporâneo e na concepção de capital social. A pesquisa caracteriza-se como exploratória, com abordagem qualitativa e coleta de dados por meio de entrevistas, conduzidas com atores sociais atuantes em redes em ambiente on line. Verificou-se que um dos representativos elos de ligação da sociedade é a informação, uma vez que é o compartilhamento de informações que agrupa as redes nas mídias sociais, fomentando o capital social de ponte.

Palavras-chave: comunicação digital; redes; capital social; mídias sociais.

Introdução

A inovação tecnológica é uma característica marcante do século XX, que altera

vários campos da atuação humana, dentre as quais as mídias. O processo de digitalização

dos meios de comunicação, que viabilizou a reestruturação organizacional midiática para

a forma de rede, ampliou o acesso dos usuários, gerou novas possibilidades de produção

de conteúdo, difundiu as ferramentas de produção de conteúdo, rompeu com a

hegemonia dos grandes grupos de mídia e, portanto potencializou em grande dimensão a

comunicação humana. Ao ampliar os fluxos comunicativos, necessariamente promove a

interação social e gera novas oportunidades de socialização que extrapolam os limites

geográficos, configurando uma espacialidade interacional específica.

Esse contexto, que se consolida na primeira década do século XXI, quando as

especificidades do que se denomina cultura digital se delineiam com mais precisão,

resulta em formas de interação e agrupamentos sociais específicos, bem como em diversas

aplicações da comunicação digital por parte de indivíduos, instituições formais e não

formais.

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Os agrupamentos humanos se estruturam em redes sociais, compreendidas como

“estruturas dinâmicas e complexas formadas por pessoas com valores e/ou objetivos em

comum, interligadas de forma horizontal e predominantemente descentralizada”

(SOUZA; QUANDT, 2008, p.34). Em ambiente midiático, as redes se tornam ainda mais

evidentes como uma dimensão da sociedade contemporânea, e os fluxos de comunicação

são elemento essencial dessa forma de organização humana.

As perspectivas e abordagens sobre esse processo sociocomunicativo advém de

áreas do conhecimento distintas, tais quais a Psicologia, Sociologia, Antropologia,

oscilando entre posicionamentos que foram elencados com Heim (1999, p.31-45) como

realistas ingênuos, idealistas e céticos. Independente do olhar analítico adotado, é fato que

o tema é passível de estudo devido a presença ostensiva das mídias no cotidiano,

permeando relações de trabalho, consumo e pessoais. Segundo Wolton, 2003, p.107), as

novas tecnologias "estão em todos os lugares, no trabalho, no lazer, nos serviços, na

educação..."

O foco dessa pesquisa está nas relações manifestadas nas mídias sociais, que

consistem nas mídias que em sua essência se constituem como colaborativas. “Refiro-me

às mídias sociais como o conjunto de todos os tipos e formas de mídias colaborativas”

(TORRES, 2009, p. 113). Mayfield (2007, s/p) afirma que "as mídias sociais constituem

ferramentas com características Web 2.0, ou seja, possibilitam a elaboração, o intercâmbio

e o compartilhamento de experiências, comentários, dentre outros, instituindo uma

conectividade entre fonte e recepção" Se possuem a integração entre os usuários como

premissa, viabilizam, portanto, relações sociais entre indivíduos, o que por sua vez

possibilita a formação de redes sociais, compreendidas como agrupamentos de usuários

com origens, finalidades e atuações distintas. Como a convergência das mídias implica a

circulação e reconfiguração das mensagens entre as mídias, que operam em uma

plataforma única, a digital, a distinção do conteúdo e usos torna-se mais sutil e difícil de

identificar, em função da hibridização de sua finalidade.

O objetivo desse artigo é discutir o processo de formação de redes nas mídias

digitais, de maneira a compreender como se articulam a sociabilidade e os processos de

comunicação nesse contexto e sua relação com formação de capital social. Para tal, faz-se

necessário abordar os conceitos de redes sociais e sua tipologia; de mídias sociais; bem

como de capital social, que se ambientam no contexto midiático contemporâneo.

1. Referencial teórico

1.1. Caracterização do contexto midiático contemporâneo

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Para compreender as relações entre mídia e tecnologia, toma-se como referência

conceitual a definição de Pross (1971), que estabeleceu uma categorização das mídias que

permite a compreensão da evolução das mídias e tecnologias de comunicação

desenvolvidas pelo homem.

A proposição de Pross está na classificação das mídias em primária, secundária e

terciária. A mídia primária pode ser compreendida como o próprio corpo e suas

potencialidades físicas, sensoriais e cognitivas, já que, nessa instância, o processo de

comunicação se dá sem o uso de quaisquer aparatos. O diálogo presencial é a melhor

ilustração da mídia primária.

Já na mídia secundária o emissor faz uso de aparatos para se comunicar, tais

quais papel e caneta, por exemplo, e o emissor decodifica a mensagem sem a necessidade

de qualquer aparato. Nessa fase a tecnologia já se faz presente no processo de

comunicação, cuja mediação imprime maior grau de complexidade aos fluxos

comunicacionais.

Na chamada mídia terciária, ainda segundo Pross, emissor e receptor fazem uso

de aparatos para a viabilização do processo de comunicação, o que contempla as mídias

eletrônicas e digitais, todas pautadas em complexos aparelhos de codificação e

decodificação. Ressalta-se que as três dimensões midiáticas coexistem na sociedade.

Conforme tecnologias passaram a ser utilizadas com fins de ampliação dos fluxos

de comunicação, novas possibilidades de interação se delineiam. Essas possibilidades de

interação, bem como a própria concepção de interatividade, se refletem nas teorias da

comunicação que foram formuladas a partir dos estudos midiáticos.

Retomando uma das teorias da comunicação de massa pioneiras, datada do

início do século XX, a Teoria Hipodérmica, definida como “um processo iniciado nos

meios de comunicação, que atingem os indivíduos provocando determinados efeitos”

(ARAÚJO, 2007, p.126) bem reflete uma primeira leitura que concebia os fluxos de

comunicação como via de mão única, e as mídias como onipotentes. As características das

mídias existentes na época conduziram a essa leitura das mídias, bem como o estado da

arte dos conceitos e estudos sociológicos vigentes na época. Em tal concepção, obviamente

superada, a presença de interatividade é mínima e talvez pouco percebida e discutida,

uma vez que o conceito se forma de maneira mais consistente em um período posterior.

Nas teorias que sucedem essa primeira abordagem da comunicação, especialmente da

escola norte-americana, observa-se uma gradual ruptura com a concepção de um receptor

passivo, o que abre uma porta para a reflexão sobre a interatividade das mídias.

McLuhan (1974) permeia, de certo modo, a perspectiva de interatividade ao

categorizar os meios de comunicação em meios quentes e meios frios. Segundo o autor, o

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meio quente prolonga um único de nossos sentidos, com uma alta saturação de dados

(por ele denominado de “alta definição”) como é o caso da fotografia e do rádio, que não

deixam muita coisa a ser complementada ou preenchida pelo receptor da mensagem.

Verifica-se, portanto, a identificação de baixa interatividade. Já os meios frios, segundo

McLuhan (1974), proporcionam mais envolvimento, com maior profundidade e expressão

integral, dentre os quais estão o telefone e a fala. Verifica-se um maior nível de

interatividade nos meios frios. Para o autor, os meios quentes excluem e os meios frios

incluem.

Tal concepção reflete um contexto midiático pautado prioritariamente nas mídias

eletrônicas e impressas, que consolidaram a comunicação de massa, que se reconfigura

com o advento das mídias digitais estruturadas em rede. “Os meios de comunicação de

massa constituem apenas uma pequena parte de uma indústria da informação que é cada

vez mais dependente das ferramentas de distribuição da Internet para entregar seus

produtos” (DIZARD JUNIOR, 1998, p.25). A concepção da comunicação de massa implica

na baixa interação entre emissor e receptor e entre receptor e mensagem, premissas da

interatividade. No contexto contemporâneo da comunicação emissor e receptor não

existem mais isoladamente, emergindo a figura do emissor-receptor.

Apesar da superação da categorização de McLuhan (1974) em meios quentes e

meios frios, o autor nos deixa uma perspectiva para nortear a atualização do seu

pensamento no novo cenário midiático, ao afirmar que "os efeitos da tecnologia

comunicativa não ocorrem aos níveis das opiniões e dos conceitos: eles se manifestam nas

relações entre os sentidos e nas estruturas da percepção"(Mc LUHAN, 1971, p.52).

A convergência das mídias resultou em uma unidade de plataforma, a linguagem

digital, porém gerou também uma multiplicidade de aparelhos, todos compatíveis com

uma metamídia: o computador. As mídias adquiriram a possibilidade da emulação, ou

seja, de incorporação de uma a outra, apropriando-se de suas funções e possibilidades.

A tecnologia trouxe também o chamado « tempo zero da comunicação »,

aproximando o processo de comunicação mediado por máquinas ao tempo real. Com o

rompimento das fronteiras do tempo e do espaço, tudo passa a ficar exposto.

Uma das diferenças entre as chamadas novas mídias em relação às mídias

tradicionais, conforme destaca Manovich (2001), é a representação numérica, ou seja,

todas as informações das mídias digitais podem ser colocados em termos matemáticos,

podem ser manipulados e programáveis. A representação digital faz com que toda

imagem seja inerentemente mutável, criando signos eternamente modificáveis. Se as

mídias analógicas foram necessárias para o funcionamento de uma sociedade de massa,

que consagrou a emergência e consolidação da atividade publicitária, a maleabilidade das

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mídias digitais vai proporcionar exatamente a possibilidade de interferência da

mensagem (manipulação) por parte dos usuários

A modularização ou estrutura fractal das mídias também é uma característica

específica das mídias digitais. As combinações dos “módulos” podem se dar de infinitas

formas, como é o caso do conteúdo da world wide web. Essa possibilidade combinatória

reformula o olhar do espectador, que desenvolve novos processos cognitivos de leitura

baseados na não-linearidade da informação.

Outro ponto característico das mídias digitais, ainda conforme Manovich (2001),

é a questão da automação. Nas novas mídias, várias operações de criação, manipulação e

acesso são desempenhados pelas máquinas e softwares, o que elimina, pelo menos em

parte, o processo criativo, ou o desloca para outras fases do processo.

Miconi (2008, p.146) observa que vivemos uma fase prolongada de transição, "na

qual as velhas e as novas formas de comunicação se entrelaçam e se sobrepõem num

duplo movimento de adequação das mídias generalistas e alguns tipos de inovações [...] e

de enquadramento de algumas estruturas tradicionais de sentido nas novas plataformas

[...]."

É fato que as mídias digitais proporcionaram leituras distintas do mundo.

"The interface shapes how the computer users conceives of the computer itself. [...] By

organizing computer data in particulars ways, the interface provides distinct models of the world".

(MANOVICH, 2000, p.64-65)

É nesse contexto, marcado pela co-produção de conteúdo, viabilizado pela

interatividade, que se ambientam as chamadas comunidades virtuais, grupos que se

relacionam por meio das mídias sociais, constituindo redes sociais. "A Internet permite

conversas entre seres humanos que eram simplesmente impossíveis em uma era de

comunicação de massas" (LEVINE et al., 2000, p.12). Tais possibilidades relacionais

modificam a formação e os processos sociais.

Segundo Di Felice (2008, p.20) o elemento midiático e os aspectos tecnológicos

sempre modificaram a vida pública, transformando o "acesso ao debate e à participação

em um fato técnico-comunicativo".

Esse contexto remodela a sociedade contemporânea, que passa a se configurar

como uma "sociedade em rede"(CASTELLS, 1996).

1.2. A perspectiva da sociedade em rede

As redes se configuram como uma nova forma de organização das atividades

humanas, potencializadas e evidenciadas pelos sistemas de comunicação

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contemporâneos. Castells (1996) compreende esse fenômeno como uma nova estrutura

social, que fundamenta o que ele designou de "sociedade em rede".

É possível identificar alguns dos principais efeitos da sociedade em rede, entre

eles o processo de individualização das mídias, o que Miconi (2008) nomeou como

personal media, que se refere à "customização" do conteúdo midiático à escala individual.

Outro efeito é a emergência de novas formas de agregação social, foco de estudo dessa

pesquisa, viabilizado pela estrutura de comunicação em rede.

Ao compreender a sociedade contemporânea com uma organização na qual a

rede é a estrutura principal, Castells (1996) visualiza a Internet como viabilizadora de uma

configuração social, superando a leitura simplista de resumi-la em um sistema fractal.

Importante ressaltar que o conceito de rede extrapola os limites da mídia, e sim se aplica à

estrutura social como um todo, evitando uma leitura determinista de que a mídia define a

organização sociedade, negligenciando as outras variáveis que incidem sobre a dinâmica

social.

As redes constituem uma proposta democrática de realização do trabalho coletivo e de circulação do fluxo de informações, elementos essenciais para o processo cotidiano de transformação. [...] Uma estrutura em rede – que é uma alternativa a estrutura piramidal – correspondente também ao que seu próprio nome indica: seus integrantes se ligam horizontalmente a todos os demais, diretamente ou através dos que os cercam (WHITAKER, 2007, p. 4).

Segundo Duarte, Quandt e Souza (2008, p.14), "[...] grande parte das estruturas

cognitivas, infra-estruturais e sociais, em um futuro próximo, funcionará sob a forma de

redes, ou estarão sob sua influência direta". Tal configuração social impacta nos valores e

estruturas organizacionais existentes até então. Conforme Rifkin (2000, p.11), "essa nova

era vê as redes tomarem o lugar dos mercados e a noção de espaço substituir a de

propriedade" [tradução da autora].

Torna-se necessário compreender como são articuladas as redes. Rheingold (2002)

destaca características da organização das pessoas na era digital:

- ausência de um controle centralizador imposto;

- autônoma natureza das subunidades;

- alta conectividade entre as subunidades, e

- casualidade não-linear de iguais influenciando iguais. [tradução nossa]

Castells (1996, p.191), responsável por cunhar e disseminar o termo "sociedade

em rede"em ambiente acadêmico, identifica cinco tipos de redes, sob a perspectiva da

nova economia: redes de fornecedores; redes de produtores; redes de clientes; redes de

alianças; redes de cooperação tecnológica.

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O conceito de rede pode ser identificado em sistemas estruturais de seres vivos,

bem como ser transposta para o campo social, enfoque desse estudo. Capra (2008, p.22)

afirma que “redes sociais são, acima de tudo, redes de comunicação que envolvem

linguagem simbólica, restrições culturais, relações de poder etc.”. Ora, se são sistemas de

comunicação, com o advento das mídias digitais, as redes sociais foram potencializadas. O

autor destaca ainda que “os sistemas sociais trocam informações e ideias em redes de

comunicação”. Para ele, as redes sociais fundamentam-se no reino do sentido. E

fortalecida, assim, a relação das redes sociais com a comunicação, expressa na emergência

das mídias sociais. Portanto, a emergência das redes afeta estruturalmente a sociedade, no

campo cognitivo e organizacional.

Nesse trabalho, ressalta-se a distinção entre redes sociais e mídias sociais,

partindo da premissa de que as redes sociais existem também em ambiente off line.

"Redes sociais são estruturas dinâmicas e complexas formadas por pessoas com

valores e/ou objetivos em comum, interligadas de forma horizontal e predominantemente

descentralizada" (SOUZA e QUANDT, 2008, p.34). As mídias sociais são elementos

potencializadores de formação de redes sociais.

Souza e Quandt (2008, p. 35) destacam algumas características gerais das redes

sociais, com ênfase nas que se formam e/ ou atuam por meio das mídias sociais:

- redes sociais podem assumir diferentes formatos e níveis de formalidade no

decorrer do tempo.

- redes sociais podem surgir em torno de objetivos diversos: políticos,

econômicos, culturais, informacionais, entre outros.

- redes sociais informais são baseadas em alto fluxo de comunicação e

inexistência de contratos formais reguladores do resultado das interações.

É fato que , "com as novas tecnologias de informação e comunicação, as redes se

tornaram um dos fenômenos sociais mais proeminentes de nossa era" (CAPRA, 2008,

p.18). Tal contexto amplia as possibilidades de formação e interação das redes sociais,

uma vez que a possibilidade de comunicação é elemento essencial para que os elementos

que compõem a rede compartilhem significados, o que evidencia a dimensão simbólica

das redes sociais.

1.3. Processo relacional em ambiente midiático: redes e mídias sociais

Uma abordagem simplista das mídias sociais, permeada pelo senso comum, seria

a atribuição às mídias a todo o processo social vivenciado na contemporaneidade.

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Consiste em um erro analítico isolar o objeto de seu contexto, o que resulta em um recorte

excessivo da pesquisa. É fato que as mídias estão presentes de forma intensa na sociedade

atual, no entanto é relevante ressaltar que "não devemos cair no equívoco de julgar que

as transformações culturais são devidas apenas ao advento de novas tecnologias e novos

meios de comunicação e cultura" (Santaella, 2003, p.24).

Bourdieu (2007) confirma tal posicionamento:

Contra todas as formas do erro 'interaccionista' o qual consiste em reduzir as relações de força a relações de comunicação, não basta notar que as relações de comunicação são, de modo inseparável, sempre relações de poder que dependem, na forma e no conteúdo, do poder material ou simbólico acumulado pelos agentes (ou pelas instituições) envolvidos nessas relações [...]

(BOURDIEU, 2007, p.11)

Portanto, para compreender a formação de grupos e as relações sociais em

ambiente midiático, torna-se necessária a consideração da articulação desses grupos em

outros espaços relacionais, independente desses espaços existirem em ambiente on ou off

line.

Não se trata da negação de que as mídias sociais tem um papel determinante nas

relações sociais contemporâneo, mas sim de evitar a consideração isolada do espaço

relacional das mídias sociais. Santaella (2008, p.21) denomina esses espaços de espaços

intersticiais, uma vez que " eles têm a tendência de dissolver as fronteiras rígidas entre o

físico, de um lado, e o virtual, de outro, criando um espaço próprio que não pertence nem

propriamente a um, nem ao outro". Ressalta-se que "sem que os espaços físicos e os

espaços digitais anteriores deixem de existir, cria-se, na verdade, um terceiro tipo de

espaço, inteiramente novo [...]" (SANTAELLA, 2008, p.22). Tal afirmação reforça a

importância dos espaços sociais previamente existentes ao surgimento das mídias sociais

como elementos que constituem e influenciam diretamente a formação de grupos em

ambiente midiático.

Já Planells (2002) decompõe o conceito de ciberespaço, ao destacar a sua

imaterialidade física e sua condição de espaço praticado. Para o autor, "este espacio (social)

del que nos ocupamos se caracteriza por existir en una dimensión que no tiene existencia material,

física" (PLANELLS, 2002, p.237). Em relação ao espaço praticado, o autor destaca o caráter

eminentemente social do ciberespaço. "La referencia a un (ciber)espacio praticado nos pone

sobre la pista de una cualidad ontológica determinante del ciberespacio en general: su paticularidad

eminentemente social" (PLANELLS, 2002, p.240).

A esse espaço Castells (1999) atribui o nome de "espaço dos fluxos", no qual as

relações interculturais, economicas e sociais ocorrem em tempo real. "O espaço de fluxos é

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a organização material das práticas sociais de tempo compartilhado que funcionam por

meio de fluxos" (CASTELLS, 1999, p.436)

Para compreender o lugar das mídias sociais nas relações sociais, Ferreira (2008)

propõe o conceito de midiatização, resultante da relação entre dispositivos, processos

sociais e processos de comunicação. Enfatiza a relação de influência bilateral entre esses

elementos, reforçando a interconexão entre as variáveis.

Os dispositivos são configurados conforme determinados processos sociais, mas também são por ele configurados; que os dispositivos afetam os processos de comunicação, assim como são delineados por esses; e que os processos de comunicação e a produção social estão em relação, inclusive no que se refere às práticas sociais estruturadas e às distribuições das condições de existência individuais e institucionais (FERREIRA, 2008, p. 2-3).

A partir dessas reflexões, torna-se possível entender que no ambiente das mídias

digitais podem ser formadas redes sociais, mas que estas não dependem exclusivamente

das mídias para serem viabilizadas. "Rede social é gente, é interação, é troca social. É um

grupo de pessoas, compreendida através de uma metáfora de estrutura, a estrutura da

rede social" (RECUERO, 2009, p.29). Com o advento das mídias sociais, as redes existem,

dialogam, atuam também em ambiente on line, que se constitui como uma outra

espacialidade relacional. Lemos (2008) a nomeia de espaço informacional, que consiste em

múltiplas camadas de conexão entre o físico e o virtual. É fato que as relações e práticas

sociais ocorrem em simultaneidade em espaços físicos e virtuais.

Retomando Planells (2002, p.241),

Este ciberespacio como espacio praticado se caracteriza por la maleabilidad de los contenidos sociales y por la flexibilidad de los vínculos sociales. Esto se ve posibilitado, a su vez, por la no materialidad física, que permite un tráfico de sociabilidades y juegos identitarios fluido, líquido, liberado de muchas de las barreras físicas que la distancia o el cuerpo han impuesto, tradicionalmente, sobre la sociabilidad humana.

Tal contexto incita a reflexão sobre o tipo de relações, ou laços, que são

estabelecidos nesses ambientes informacionais. Wolton (2003, p.103) se posiciona ao

afirmar que "estimulam-se indivíduos organizacionais ‘sem rosto’ (ou seria outro rosto?),

a virtualização das relações e dos diálogos. É a “era das solidões interativas” segundo que

Wolton". Tal concepção homogeniza as relações possíveis via mídias digitais. Defendo a

ideia de que há uma variedade de relações que podem ocorrem no espaço informacional,

que depende , entre outros fatores, de como essa relação se articula também fora do

espaço virtual. Daí o intento desse artigo, que propõe uma discussão sobre a relação social

nas mídias sociais e a formação de capital social, de maneira a permitir uma leitura

metodológica que abranja a gama relacional que ocorre em ambiente on line.

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A partir da instauração de um fluxo permanente de comunicação midiática e do desdobramento de múltiplas conexões entre usuários, instituições e sistemas, entre suportes de interfaces dinâmicas, há formas de relacionamento surgindo e sendo estabelecidas no âmbito de uma nova cultura midiática. (NICOLAU, 2008, p.2)

As mídias sociais são mais do que facilitadoras nas relações sociais, uma vez que

essas relações trazem mudanças significativas nas próprias relações. A própria

possibilidade de criar e compartilhar mensagens com velocidade altera os discursos dos

grupos. "Social media has exploded as a category of online discourse where people create content,

share it, bookmark it and network at a prodigious rate" (ASUR;. HUBERMAN, 2010, s/p).

Para compreender como se articulam as relações sociais nas mídias sociais, faz-se

necessário compreender os elementos que as caracterizam. Segundo Recuero (2009), as

redes sociais se compõem de dois elementos, os atores sociais, denominados "nós", e suas

conexões, que são os laços sociais e interações (RECUERO, 2009). Tais redes sociais podem

se constituir tanto fora quanto no espaço das mídias sociais que, conforme já abordado,

geram uma terceira dimensão. Uma das conseqüências do advento das mídias sociais é a

exposição, a visibilidade que os grupos adquirem, acrescido da mobilidade, uma vez que

é possível fazer parte de redes independente da localização geográfica. Santaella (2007)

afirma que a internet minimizou, progressivamente, os obstáculos materiais que

dificultavam a troca de informações, o que provocou uma transmutação da percepção do

tempo e espaço e da concepção dos modos de viver e de se relacionar.

As plataformas nas quais operam as mídias digitais em geral permitem:

construir um perfil público ou semi-público em um sistema interligado, articular uma lista de outros usuários com os quais eles compartilham uma conexão, e ver e cruzar suas listas de conexões e aquelas feitas por outros no sistema (BOYD & ELLISON, 2007, s/p).

Tais relações possuem níveis distintos de força e constituição. Marques (1999,

p.46) afirma que “a análise de redes nos permite identificar detalhadamente os padrões de

relacionamento entre atores em uma determinada situação social, assim como as suas

mudanças no tempo”. O autor afirma ainda que as redes são estruturadas por “vínculos

entre indivíduos, grupos e organizações construídos ao longo do tempo. Esses vínculos

têm diversas naturezas, e podem ter sido construídos intencionalmente, embora a sua

maioria tenha origem em relações herdadas de outros contextos” (MARQUES, 1999, p.46).

Recuero (2009) propõe os conceitos de laço, interação e relação social como

elementos das redes sociais. Segundo Wasserman e Faust apud Recuero (2009), laço é

aquilo que estabelece ligação entre dois atores. A autora explicita ainda que "Um laço é

composto por relações sociais, que por sua vez, são constituídas por interações sociais.

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Uma interação social é aquela ação que tem um reflexo comunicativo entre o indivíduo e

seus pares" (RECUERO, 2009, p.1-2).

Elias (1994), ao propor um conceito de sociedade que superasse a ideia de

conjunto de indivíduos, se apoia na ideia de rede.

É a essa rede de funções que as pessoas desempenham umas em relação a outras, a ela e nada mais, que chamamos 'sociedade'. Ela representa um tipo especial de esfera. Suas estruturas são o que denominamos 'estruturas sociais'. E, ao falarmos em 'leis sociais' ou 'regularidades sociais', não nos referimos a outra coisa senão a isso: às leis autônomas das relações entre as pessoas individualmente consideradas. (ELIAS, 1994, p.23)

Essas relações, no caso das redes sociais digitais, são parcialmente definidas pela

mídia social, que possui regras e ferramentas que regulam o processo. Para compreender

as redes, assim como para compreender a sociedade, é preciso pensar na estrutura do

todo para compreender as partes individuais. "[...] é necessário desistir de pensar em

termos de substâncias isoladas únicas e começar a pensar em termos de relações e

funções" (ELIAS, 1994, p.25). Nesse aspecto, Castells (1999) foi assertivo ao propor uma

leitura da sociedade a partir de sua estruturação em rede.

Pelas abordagens apresentadas, infere-se que as constituições relacionais das

redes são múltiplas. Essa ideia é reforçada por Marques (1999, p.46) ao afirmar que "o

pressuposto central da análise de redes sociais [...] é o de que o social é estruturado por

inúmeras dessas redes de relacionamento pessoal e organizacional de diversas naturezas".

Transpõe-se essa perspectiva para as redes atuantes nas mídias sociais.

Bauman (2003, p.17) não usa o termo redes, mas apresenta uma perspectiva de

agrupamento a partir do conceito de comunidade, por ele definida como "entendimento

compartilhado do tipo natural e tácito". Tal entendimento é o que ocorre, de forma

natural, nas redes sociais em ambiente midiático que se formam espontaneamente. Não

se aplica a redes criadas intencionalmente, com finalidade mercadológica ou institucional,

mas sim às redes que se formam a partir de interesses comuns de indivíduos. Para

compreender a variedade de possíveis agrupamentos nas redes sociais digitais, partindo

da premissa da variação relacional, faz-se necessário estabelecer parâmetros para definir a

origem, tipologia e objetivos dos grupos, tema abordado a seguir.

Carniello (2012) propõe uma parametrização dos grupos que atuam no espaço

interacional das mídias sociais. Tal sistematização é uma concepção metodológica que

visa fornecer subsídio para os estudos da área, bem como organizar o conhecimento já

produzido sobre o assunto. Para tal, foram usados conceitos e parâmetros já propostos

por autores, bem como sugeridas novas proposições.

Page 12: FORMAÇÃO DE REDES NAS MÍDIAS SOCIAIS: PROCESSOS, RELAÇÕES E CAPITAL SOCIAL

Conforme Carniello (2012), a parametrização proposta contempla as seguintes

dimensões das redes que atuam nas mídias sociais:

- quanto ao objetivo: refere-se à intencionalidade do grupo, a finalidade com a

qual foi criado, independente da gênese ser decorrente de relações sociais anteriores ou

terem se iniciado no espaço das mídias sociais. Propõe-se categorizar as redes em

comerciais, institucionais, pessoais e temáticas. As comerciais referem-se a empresas que

fazem uso das mídias sociais para divulgação de ofertas, buscando conquistar clientes e

efetivar ações de venda, caracterizando a finalidade mercadológica. As institucionais

também se referem a redes formadas por empresas/ organizações, mas que buscam

apresentar a estrutura da empresa com o intuito de promover uma imagem institucional

e/ou mesmo dialogar com seus públicos, sem a finalidade comercial imediata. A terceira

categoria refere-se a redes formadas por pessoas físicas e, por fim, identificam-se os

grupos de base temática, cuja formação se deu por um interesse comum a algum assunto,

como, por exemplo, uma rede de pessoas que apreciam o cinema nacional. As redes

sociais “são comumente produzidas cm um propósito, seguindo determinado design, e

incorporam determinado sentido (CAPRA, 2008, p.23), o que se relaciona diretamente

com o objetivo da rede.

- quanto ao fluxo de comunicação: refere-se ao uso dos recursos de comunicação

das mídias sociais, partindo da premissa da potencialidade colaborativa desses meios.

Capra (2008) define as redes sociais como redes de comunicação, evidenciando sua

dimensão simbólica. Para propor tal categorização, parte-se da ideia de Galindo (2002),

que distingue reatividade de interatividade. Para o autor, interatividade implica em uma

bidirecionalidade, o que significa que ser interativo é ser imprevisível, ou seja, ter

comunicação de mão dupla com a ativa participação dos atores. Adaptando essa ideia,

propõe-se a categorização dos fluxos de comunicação em um grupo que atua nas mídias

sociais como reativos, participativos e colaborativos. O fluxo reativo indicaria as respostas

de membros do grupo a partir de um estímulo de outro membro do grupo, tal qual uma

pergunta ou a solicitação de uma tarefa. O fluxo participativo seria a manifestação

voluntária dos membros do grupo ao emitir mensagens, sem a necessidade de um

estímulo de outro ator/ liderança do grupo. Já o fluxo colaborativo seria o uso da

potencialidade máxima das ferramentas das mídias sociais que resultariam em uma

concepção de um discurso coletivo, no qual um ator pode complementar e interferir

diretamente na mensagem do outro, tal qual a construção de um texto literário coletivo.

- quanto aos laços sociais: segundo Granovetter apud Recuero (2009), os laços

sociais podem ser categorizados em fortes e fracos.

Laços fortes são aqueles que se caracterizam pela intimidade, pela proximidade e

Page 13: FORMAÇÃO DE REDES NAS MÍDIAS SOCIAIS: PROCESSOS, RELAÇÕES E CAPITAL SOCIAL

pela intencionalidade em criar e manter uma conexão entre duas pessoas. Os laços fracos, por outro lado, caracterizam- se por relações esparsas, que não traduzem proximidade e intimidade (RECUERO, 2009, p.2).

- quanto à tipologia dos vínculos: cabe nesse item verificar se os elos são formais

ou informais. Para ilustrar um vínculo informal, cita-se o exemplo de um grupo de

amigos. “As estruturas informais são redes de comunicação fluídas e flutuantes” CAPRA,

2008, p. 26). Um vínculo formal pode ser expressa por um grupo de profissionais que

formam uma rede para discutir um projeto em construção.

- quanto à institucionalização: nesse aspecto, é observado se o grupo é

institucionalizado, o que caracteriza a posição do grupo na sociedade. Um grupo de

condôminos organizado pelo síndico que discute as questões relativas ao condomínio é

um grupo institucionalizado, uma vez que o condomínio existe formalmente, possui

estatuto com regras de conduta e normas e é reconhecido legalmente pelo município. Já

um grupo de amigos não é institucionalizado.

- quanto à temporalidade: identifica de o grupo/ rede é efêmera, criada a partir

de um tema por acontecimento pontual, ou se é duradouro, pautado em relações que

perduram;

- quanto à constituição: considera a gênese da rede, ao verificar se esta se deu no

espaço das mídias sociais ou se é decorrente de uma história social anterior e que passou a

atuar também no espaço das mídias sociais, ganhando visibilidade e novas possibilidades

relacionais entre os atores.

- quanto aos atores no grupo: identificação dos papeis desempenhados pelos

atores, suas inter-relações on e off line e a estrutura hierárquica das relações on e off line,

que pode ser centralizada ou descentralizada.

Atores são considerados mais centrais quando apresentam uma quantidade maior de relacionamentos com um número maior de atores da rede, ou desempenham um papel social caracterizado por alta conectividade com outros atores, ou estão em posição hierárquica superior, ou apresentam maior amplitude de abrangência nos seus elos ou, ainda, apresentam alta conectividade com atores chave na conexão entre subgrupos da rede. Se todos os membros do grupo possuem graus semelhantes de conectividade, a rede é predominantemente descentralizada. (SOUZA; QUANDT, 2008, p. 34-35)

O Quadro 1 sistematiza a parametrização proposta para as redes sociais que

atuam em ambiente midiático.

Quadro 1 - Parametrização das redes sociais em ambiente midiático

Dimensões Categorias

quanto ao objetivo Comerciais

Page 14: FORMAÇÃO DE REDES NAS MÍDIAS SOCIAIS: PROCESSOS, RELAÇÕES E CAPITAL SOCIAL

Institucionais

Pessoais

Temáticas

quanto ao fluxo de comunicação

Reativos

Participativos

Colaborativos

quanto aos laços sociais

Fortes

Fracos

quanto à tipologia dos vínculos

Formal

Informal

quanto à institucionalização

Institucionalizados

Não institucionalizados

quanto à temporalidade

Efêmeros

Duradouros

quanto à constituição

Relacionados à uma história social anterior

Formados/ oriundos em ambiente on line

quanto aos atores Possuem relacionamento off line

Possuem relacionamento apenas on line

Possuem relacionamento on e off line

Estrutura hierárquica do grupo em ambiente off line

Estrutura hierárquica do grupo em ambiente on line

Fonte: Carniello (2012, p.8).

A partir da compreensão da variedade relacional que as redes sociais podem

assumir em ambiente on line, retoma-se o objetivo do artigo que consiste na discussão

sobre a relação entre redes nas mídias sociais e formação de capital social. Para tal, torna-

se necessária a conceituação de capital social.

1.4. Redes e formação de capital social

As relações sociais desencadeadas pelo sistema midiático em rede geram

agrupamentos que podem resultar em constructos sociais representativos. A questão gira

em torno do tipo de relação que quais resultados sociais tais agrupamentos podem gerar.

Para fundamentar teoricamente essa discussão, tomaremos por base o conceito de capital

social.

Tal termo ganhou maior visibilidade em âmbito acadêmico a partir da década de

1980, quando Pierre Bourdieu (1980) lança o conceito de capital social, definido-o como

um ativo individual, que resulta na possibilidade do alcance de objetivos que,

individualmente, seriam difíceis ou impossíveis de atingir. As bases conceituais do capital

Page 15: FORMAÇÃO DE REDES NAS MÍDIAS SOCIAIS: PROCESSOS, RELAÇÕES E CAPITAL SOCIAL

social haviam sido lançadas anteriormente, em especial nos estudos de Tocqueville que,

apesar de não usar o termo propriamente dito, conduziu estudos em meados do século

XIX, nos Estados Unidos, sobre relações sociais, enfatizando a busca de objetivos comuns

por grupos das comunidades, os mecanismos usados e os resultados alcançados”

(MELIM, 2007, p. 51). O termo, ainda que mencionado na obra de Jane Jacobs (1961) e

outros autores, ganha visibilidade especialmente no final do século XX.

A partir da década de 1990, o Banco Mundial incorpora o conceito de capital

social, equiparando-os em termos de importância aos outros tipos de capital que incidem

sobre projetos de desenvolvimento de uma sociedade, sendo eles o capital natural, o

capital financeiro e o capital humano. D´Araújo (2010, p.10) define capital social como “a

capacidade de uma sociedade de estabelecer laços de confiança interpessoal e redes de

cooperação com vistas à produção de bens coletivos.” Ora, a comunicação é o processo

viabilizador para estabelecimento de relações sociais, que podem resultar em laços de

confiança. Se as formas de comunicação foram potencializadas, infere-se que o espaço

para as relações sociais também foi ampliado.

É nessa espacialidade que se formam vínculos sociais, que podem assumir

formatos distintos e níveis de formalidade diversos no decorrer do tempo. É a intensidade

dos vínculos que fomenta a formação de capital social. Compreende-se por capital social

como um conjunto de recursos atuais ou potenciais que estão ligados à participação em

uma rede durável de relações de reconhecimento mútuo (BOURDIEU, 1980). O acúmulo

de capital social que uma pessoa dispõe depende do alcance da rede de relações que

constrói.

Coleman (1988 apud MELIM, 2007) afirma que há relação entre a formação do

capital social e o tipo de estrutura social que une os grupos. Essa variabilidade das

relações sociais, que se reproduz no espaço midiático, fundamenta a problemática desse

artigo, pautada na seguinte questão: como se estabelece a relação entre redes nas mídias

sociais e formação de capital social? Que tipo de capital social é formado nas redes em

ambiente midiático?

Segundo Moraes (2003) o capital social compõe-se das relações sociais

institucionalizadas, que são resultantes de práticas culturalmente incorporadas em

determinada sociedade, que de alguma maneira cooperam para aumentar a força da

sociedade.

Já Bourdieu (1980) define o capital social como uma força agregadora dos

recursos, reais ou potenciais, que tornavam possível o sentimento de pertencimento às

determinadas instituições ou grupos. Tais agrupamentos, pautados na cooperação e

Page 16: FORMAÇÃO DE REDES NAS MÍDIAS SOCIAIS: PROCESSOS, RELAÇÕES E CAPITAL SOCIAL

confiança, permitem que os grupos atinjam objetivos que, individualmente, seriam

impossíveis ou muito difíceis de se atingir.

Rosas e Cândido (2008, p. 74-75) definem capital social como "sendo aquele

relacionado às diversas formas, condições e possibilidades de interação, parceria e

cooperação entre as instituições, entre as pessoas, e entre as instituições e as pessoas, a

partir de práticas de reciprocidade e relações de confiança entre eles".

Para Matos (2009, p. 35)

o capital social é visto como componente da ação coletiva, ativando as redes sociais. Ele representa um conjunto de elementos com os quais uma classe social garante sua reprodução, incluindo o capital econômico, o capital cultural [...], o capital simbólico [...]. O conjnto desses tipos de capital circula em redes sociais e possui características que justificam a adoção do termo capital: passibilidade de acumulação (capital mobilizável), convertibilidade (capital humano transformado em capital social) e reciprocidade (indicadores de confiança).

Para Coleman apud Matos (2009, p.36), há três características constituintes do

capital social: as expectativas e obrigações que fundamentam a confiança entre os

membros da rede; a estrutura social para gerar os fluxos de informação, e as normas que

regem o processo. No caso das mídias sociais, a circulação de informações torna-se intensa

e favorável para a formação de capital social. As normas, no entanto, são redigas e

limitadas às possibilidades tecnológicas das mídias sociais e a confiança dependerá de

variáveis de constituição do grupo. Portanto, o espaço das mídias sociais é favorável , mas

não mandatório, na formação de capital social.

O Banco Mundial, na década de 1990, corroborou com conceito de capital social,

relacionando-o às instituições, relações e normas sociais que dão qualidade às relações

interpessoais em uma sociedade.

O capital social pode ser categorizado a partir de três dimensões de capital social:

- bonding social capital (capital social de ligação), que deriva de ligações entre

pessoas com características sociodemográficas semelhantes, como família, vizinhos,

amigos (PUTNAN, 2000);

- bridging social capital (capital social de ponte), que se forma a partir de

agrupamentos de pessoas de origens étnicas ou profissionais distintas (PUTNAN, 2000);

- linking social capital (capital social de conexão) composto pela interrelação entre

pessoas de classes sociais menos favorecidas e indivíduos que têm posições de

autoridade, como partidos políticos, bancos, e enfim, agrupamentos que se configuram

como diferenciais de poder para aqueles que o possuem (WOOLCOCK; NARAYAN,

1999).

Page 17: FORMAÇÃO DE REDES NAS MÍDIAS SOCIAIS: PROCESSOS, RELAÇÕES E CAPITAL SOCIAL

Uphoff (2000) propõe outra nomenclatura para o capital social, categorizando-o

em estrutural e cognitivo. O capital social estrutural relaciona-se com os formatos de

organização social existentes na sociedade, formais ou informais, que se constituem como

instrumentos de desenvolvimento das comunidades, normalizando as relações sociais,

definindo papeis e regras de maneira a viabilizar o comportamento cooperativo.

Já o capital social cognitivo é resultado de processos mentais fortalecidos pela

cultura e ideologia de um grupo, por normas sociais, valores, atitudes e crenças, que por

sua vez também colaboram para uma conduta cooperativa. Confiança, solidariedade e

reciprocidade são valores comuns para o estabelecimento das relações sociais que, se

partilhadas entre os membros do grupo, promovem as condições para que os indivíduos

trabalhem em prol do bem comum (UPHOFF, 2000).

Tais concepções servirão de parâmetro para compreender o tipo predominante

de capital social gerado pelas redes das mídias digitais, um dos objetivos específicos deste

trabalho que permitirá estabelecer a relação entre mídias sociais e capital social.

A relação entre mídias sociais e capital social é assunto passível de estudo, que

despertou interesse de pesquisadores mas que ainda suscita discussão. Uma hipótese

sobre essa relação é levantada por Matos (2009, p. 140), ao afirmar que

a internet suplementaria e ampliaria o capital social ao se adicionar à configuração existente de comunicação e mídia, para facilitar as relações sociais correntes e os movimentos seguidos de engajamento cívico e socialização.

Recuero (2005) afirma que a comunicação mediada por computador aumenta a

conexão entre as pessoas, aumentando assim o senso de comunidade. No entanto, a mera

existência do canal de comunicação em rede não é suficiente para garantir a constituição

de laços fortes de relação, nem a sedimentação de capital social nesse ambiente.

Defendo que, para compreender a relação entre capital social e mídias sociais, é

preciso ampliar o conceito de capital social para além das relações pessoais físicas/

presenciais. De fato, se nos atermos ao conceito tal qual compreendido atualmente, as

mídias sociais tem seus limites na formação de capital social, visto que elas possibilitam a

intensa troca de informações, o que não necessariamente resultará no acúmulo de capital

social. No entanto, em uma sociedade no qual a informação é um ativo intangível, ter

acesso rápido e privilegiado à informação pode ser um fator de extremam relevância

social. Matos (2009, p.150) valida esse argumento ao afirmar que

a Internet pode estar contribuindo para novas formas de interação em diferentes tipos de comunidade, mas que o uso generalizado de indicadores e padrões de medida do capital social pode não ser adequado para captar o impacto dessas novas formas de comunicação em todas as 'localidades'.

Page 18: FORMAÇÃO DE REDES NAS MÍDIAS SOCIAIS: PROCESSOS, RELAÇÕES E CAPITAL SOCIAL

As dimensões que são consideradas pela proposição de mensuração de capital

social elaborada pelo Banco Mundial (2003) aborda as seguintes dimensões:

Quadro 2 - Dimensões do capital social

Dimensões Conteúdo

Grupos e redes Refere-se à natureza e extensão do indivíduo em organizações sociais, redes formais e

informais. É a dimensão mais associada ao capital social.

Confiança e solidariedade

Busca dimensionar a relação entre os membros dos grupos sociais dos quais participa. Os tipos

de questões propostas priorizam as relações possíveis em grupos de proximidade

geográfica. torna-se necessário adaptá-las para mídias sociais em ambiente on line.

Ação coletiva e cooperação

Considera como os indivíduos trabalham em conjunto em prol de uma causa ou situação de crise. Também priorizam as relações possíveis

em grupos de proximidade geográfica.

Informação e comunicação

Diz respeito ao acesso às mídias e informação, premissa para viabilizar a formação de capital social. No caso das redes social em ambiente

digital, o acesso às mídias é fundamental.

Coesão e inclusão social Mensura a equidade ou diferenças sociais dos membros que compõem os grupos.

Autoridade e ação política

Mensura o empoderamento, felicidade e influência do indivíduo nas ações coletivas e na

situação política.

Fonte: Adaptado pela autora de Banco Mundial (2003, p.8)

Para o alcance dos objetivos dessa pesquisa, propõe-se o método a seguir.

2. Método

A pesquisa caracteriza-se como exploratória, de abordagem qualitativa, com

coleta de dados por meio de análise documental e entrevista. Exploratória por tratar de

um assunto que, por sua atualidade, é passível de estudo mais aprofundado.

Quanto à abordagem, a pesquisa é classificada como qualitativa, visto que

pressupõe uma investigação de processos e aspectos sociologicamente construídos e que

não são mensuráveis numericamente.

Foram realizadas entrevistas estruturadas com membros ativos participantes dos

grupos selecionados como amostra. O instrumento de coleta de dados foi composto por

Page 19: FORMAÇÃO DE REDES NAS MÍDIAS SOCIAIS: PROCESSOS, RELAÇÕES E CAPITAL SOCIAL

22 questões, e contemplo as dimensões do capital social, conforme Quadro 3. Foram

consideradas as dimensões, mas o instrumento de coleta de dados foi elaborado

especificamente para essa pesquisa, visto que se fez necessário considerar o fato das redes

estudadas estarem em ambiente on line.

Quadro 3 – Estrutura do instrumento de coleta de dados

Dimensões Questões Comentário

Grupos e redes 1,2,4,5,6,20,21,22 Objetivou-se compreender a gênese da rede, a relação on line - off

line da rede e a participação dos

entrevistados em outras redes

Confiança e solidariedade

7,8 Objetivou-se compreender a dimensão das relações de confiança

entre os atores da rede

Ação coletiva e cooperação

9,10,11 Objetivou-se compreender o tipo de

mobilização e/ou articulação dos membros

participantes da rede

Informação e comunicação

3,13,17,18 Objetivou-se identificar como ocorrem os fluxos de comunicação da rede,

além da mídia social estudada

Coesão e inclusão social

16 Objetivou-se identificar a homogeneidade do perfil

social dos grupos

Autoridade e ação política

12,14,15,19 Objetivou-se identificar a dimensão que o grupo

adquiriu via mídias sociais e seu poder de articulação e ação na

sociedade

Fonte: Elaborado pela autora, 2012.

Como população da pesquisa foram considerados os grupos existentes na rede

social Facebook, que é de grande utilização em escala mundial. O Facebook foi a mídia

social escolhida por apresentar um grande crescimento dos usuários no Brasil, conforme

Gráfico 1

Page 20: FORMAÇÃO DE REDES NAS MÍDIAS SOCIAIS: PROCESSOS, RELAÇÕES E CAPITAL SOCIAL

Gráfico 1 – Minutos de uso por visitante Fonte: Comscore, 2010

Por se tratar de pesquisa qualitativa e, portanto, não há compromisso com a

representatividade amostral, foi estabelecida uma amostra mínima de 20 entrevistas,

usando como critério da amostra por saturação e foram realizadas 23 entrevistas. Glaser &

Strauss originalmente conceituaram saturação teórica como sendo a constatação do

momento de interromper a captação de informações (obtidas junto a uma pessoa ou

grupo) pertinentes à discussão de uma determinada categoria dentro de uma investigação

qualitativa sociológica. (FONTANELLA; RICAS; TURATO, 2008, p.18). Ressalta-se o

caráter qualitativo da pesquisa, ao detacar que "para efeito de análise dos dados, as

relações entre os atores são consideradas tão fundamentais quanto os próprios atores"

(HANEMANN apud SOUZA e QUANDT, 2008, p. 33).

A escolha dos entrevistados se deu por intencionalidade, a partir da análise

documental da atividade do grupo ao qual o entrevistado pertence na rede social. A

identidade dos entrevistados foi preservada e os mesmos foram nomeados, no artigo,

como Entrevistado 1 (E1), Entrevistado 2 (E2) e assim sucessivamente. As entrevistas

foram pré-agendadas por mensagem pelo Facebook, por meio de envio de um texto de

apresentação da pesquisa e convite para participação. Após aceite, cada entrevista foi

realizada por meio do chat do Facebook. As entrevistas foram realizadas entre julho e

setembro de 2012.

3. Resultados e Discussão

Os resultados, decorrentes das entrevistas realizadas com atores de redes nas

mídias sociais, foram organizados a partir das dimensões consideradas nos estudos de

capital social.

Page 21: FORMAÇÃO DE REDES NAS MÍDIAS SOCIAIS: PROCESSOS, RELAÇÕES E CAPITAL SOCIAL

3.1. Dimensão Grupos e redes

Nessa dimensão, objetivou-se compreender a gênese da rede, a relação on line - off

line da rede e a participação dos entrevistados em outras redes.

A primeira questão referia-se às finalidades dos grupos. Ressalta-se que foram

selecionados apenas grupos categorizados como temáticos, ou seja, que se reuniram

espontaneamente e não por ação comercial ou institucional de uma empresa. Os assuntos

abordados são os mais diversos, permitindo o compartilhamento de interesses comuns em

uma escala muito mais ampla do que na era da comunicação de massa. Os agrupamentos

sociais foram potencializados, com o intuito de divulgar, debater e saber das novidades,

segundo a fala dos entrevistados. Ter acesso à informação e um espaço para se manifestar

é percebido como um valor social, algo importante e que faz parte da rotina dos atores

presentes nas mídias sociais e condizente com a sociedade contemporânea estruturada em

rede, na qual a circulação de informação é um valor. Na fala dos entrevistados

reproduzidas (E18 e E20) abaixo, verifica-se que o acesso rápido à informação é

compreendido como uma vantagem a ser alcançada pelo agrupamento.

"Unir os jogadores e reunir dicas e novidades" (E18).

"A finalidade do curso é informar mais rápido do que e-mail, e não somente isso,

trocar informações, dicas de cursos, vagas de empregos" (E20).

Nessa fala observa-se que ter acesso à informação nova e algo almejado, é uma

vantagem propiciada pela rede de pessoas com interesses comuns. Condiz com o conceito

de capital social de Bourdieu (1980), que afirma que o agrupamento resulta na

possibilidade do alcance de objetivos que, individualmente, seriam difíceis ou impossíveis

de atingir.

O objetivo de divulgação também aparece como uma finalidade do grupo na fala

de vários entrevistados, o que significa que ser visto, ser conhecido é algo que pode ser

alcançado por meio da formação de redes nas mídias sociais.

A segunda questão valida também o pensamento de que a informação é vista

como um valor. Ao se questionar sobre a motivação da formação dos grupos, é ressaltado

a necessidade do coletivo como base para a troca de informações.

"Tendo em vista que os jogos sociais demandam que você tenha vários vizinhos e

contato social, os grupos do Facebook são uma ótima ferramenta para encontrar pessoas

para te ajudar a jogar. Como tenho muitos amigos no Facebook que jogam diversos jogos,

sempre os adiciono para encontrarem novos vizinhos e isso acaba tornando o grupo

Page 22: FORMAÇÃO DE REDES NAS MÍDIAS SOCIAIS: PROCESSOS, RELAÇÕES E CAPITAL SOCIAL

grande". (E18) Verifica-se que há vantagem individual e coletiva na formação dos grupos,

conforme Bourdieu (1980).

Abaixo são reproduzidas outras falas de entrevistados que revelam as

motivações para formação dos grupos em ambiente midiático.

"Ter mais um canal de divulgação de nosso espaço"(E15). Nesse grupo, que já

existia off line, a mídia social é um canal de divulgação.

"A motivação maior foi meu amor pela cidade e ver a situação precária que ela se

encontra, também fui muito motivado pelas aulas da faculdade que me fizeram perceber

como as mídias sociais mudam o ambiente em que vivemos" (E17).

"Criar o grupo iria facilitar ficar sabendo de programas parecidos e de talvez

combinarmos de ir juntos"(E2).

Importante ressaltar que em muitos casos a iniciativa em criar uma rede social na

plataforma Facebook partiu de uma atitude individual. Também se destaca o fato de

alguns entrevistados relatarem que o processo foi simples, referindo-se à usabilidade da

ferramenta, sem racionalizar o processo social de formação dos grupos. "Simples, criei,

convidei algumas pessoas, sugeri que as mesmas fossem adicionando outros membros, e

assim fui expandindo"(E9).

Quanto ao processo de formação, verifica-se duas vertentes distintas: grupos que

existiam em ambiente off line e foram criados com fins de ampliar a visibilidade,

divulgação ou simplesmente facilitar a comunicação entre os membros participantes; e

grupos que foram criados em ambiente on line. Para os grupos que possuíam uma história

social anterior, a mídia social é compreendida como um facilitador, uma extensão de

relações previamente existentes. Para os grupos que surgiram em ambiente on line, a

mídia social foi um viabilizador de um tipo de relação social que provavelmente não

aconteceria sem a existência da mídia. Dos grupos que nasceram on line, são raros aqueles

que estendem sua atuação para além do ambiente midiáticos.

Quanto ao tempo de existência dos grupos, verifica-se que pelo fato de a

ferramenta Facebook ser relativamente recente, a maioria dos grupos não ultrapassa os

dois anos de existência. Somente redes que existiam anteriormente em ambiente off line ou

em outras mídias sociais tem um tempo de existência maior.

Em relação à participação em outros grupos nas mídias sociais, o comportamento

é bem variado, oscilando entre pessoas que participam de outras redes nas mídias sociais

e outras que não participam de outros grupos. Uma especificidade é que apenas dois

entrevistados afirmaram participar de outros grupos off line. "Nenhum... só do Sampa

Azul mesmo"(E15).Tal fato demonstra que os entrevistados associam as redes sociais ao

ambiente midiático, não identificando os grupos que não fazem uso de mídias sociais

Page 23: FORMAÇÃO DE REDES NAS MÍDIAS SOCIAIS: PROCESSOS, RELAÇÕES E CAPITAL SOCIAL

como redes, tais quais família, grupos religiosos, entre outros. Tal perspectiva imprime no

senso comum uma associação direta entre redes e mídias sociais.

3.2. Dimensão confiança e solidariedade

Quando questionados sobre a confiança nos membros do grupo, a maioria

afirma confiar, mas referindo-se ao compartilhamento de informações. "Sim, até porque

todas as informações são postas à prova por todos os que comentam" (E6). "sim, acredito

que as dicas, ou respostas, são confiáveis. Normalmente são debatidas por mais que uma

pessoa, o que torna as informações mais democráticas"(E18).

Essa troca de informações, por sua vez, é parcialmente regulada pela própria

dinâmica da mídia social, cujas ferramentas permitem ou não determinadas intervenções.

"Cultura, então, emerge da rede de comunicações entre indivíduos e, assim que emerge,

produz restrições a suas ações. Em outras palavras, as regras de comportamento que

restringem as ações dos indivíduos são produzidas e continuamente reforçadas pela

própria rede de comunicações" (CAPRA, 2008, p.23-24). Existe um acordo tácito coletivo

de como usar o Facebook, e outras regras mais específicas podem ser instituídas pelo

grupo, que se auto regula. "Uma rede social ou comunidade produz e conserva um limite

cultural, não material, que impõe restrições ao comportamento de seus membros"

(CAPRA, 2008, p.28).

Não há menção de elos de confiança que extrapolem a troca de informações, com

exceção de alguns grupos que tem uma história social anterior fora das mídias sociais.

Verifica-se que há um limite relacional entre os membros de grupos nas mídias sociais no

quesito confiança, que se limita ao que a mídia pode proporcionar: a facilidade na troca de

informações. O ambiente midiático, por si só, não induz a elos de confiança mais fortes,

que, quando estabelecidos, ocorrem em outros espaços relacionais das redes, que

coexistem com o espaço das mídias sociais.

3.3. Dimensão ação coletiva e cooperação

Referente a cooperação, quando questionados se um membro do grupo já ajudou

outro, os que citam situações se referem sempre à ajudo por meio da troca de informações.

"Sim, sempre existem casos assim. Diariamente pessoas perguntam sobre

dúvidas quanto ao jogo, e membros acabam respondendo. Eu acredito que este seja o

conceito básico do grupo. Membros se ajudando"(E18).

Page 24: FORMAÇÃO DE REDES NAS MÍDIAS SOCIAIS: PROCESSOS, RELAÇÕES E CAPITAL SOCIAL

"Sim, já aconteceu. Uma moradora de um bairro afastado reclamou muito de que

sua rua estava sem iluminação, e toda vez que chegava do trabalho tinha gente usando

drogas e se prostituindo, sem contar o lixo que as pessoas jogavam lá. Postamos uma foto

da rua num dia a noite, e mandamos nosso pedido a Prefeitura para que providências

fossem tomadas, passou 3 dias e a Prefeitura colocou poste, limpou o mato da calçada e o

problema que a colega tinha acabou"(E17).

"No sentido de dar informações, esclarecimentos, dicas ou ingressos sobrando,

sim"(E2).

Verifica-se, nas falas dos entrevistados, que a ação coletiva e cooperação está

pautada na troca de informações e não se expande para outras dimensões além da

finalidade objetiva do grupo. Em muitos casos, as pessoas não se conhecem pessoalmente

e não tem outras referências sociais do grupo além do explicitado no grupo, o que limita

os laços de confiança para aquilo que o ambiente das mídias sociais pode propiciar: troca

de informações.

3.4. Dimensão informação e comunicação

Alguns dos grupos analisados existiam em outra mídia social, como blogs, Orkut

ou sites, mas a maioria aderiu ao ambiente on line após a emergência do Facebook. Mesmo

aqueles que já existiam on line, confirmam que com a migração para a plataforma

Facebook a repercussão do grupo foi ampliada. "Existia um grupo no Messenger, mas não

surtia tanto efeito quanto com o grupo do Facebook"(E20). Tal situação permite afirmar

que a mídia social Facebook, no caso, por suas características, usabilidade e recursos

disponibilizados de fato ampliou as possibilidades relacionais entre as pessoas, uma vez

que houve a criação de grupos cuja gênese está no ambiente da mídia social. Capra (2008,

p.28) reforça a importância das mídias no processo relacional ao afirmar que "com as

novas tecnologias de informação e comunicação, as redes se tornaram um dos fenômenos

sociais mais proeminentes de nossa era".

3.5. Dimensão coesão e inclusão social

A dimensão coesão e inclusão social é um item que, nas redes das mídias sociais,

não possui muito peso. A maioria dos grupos afirma haver uma diversidade de perfis

sociais entre os membros, mas as informações sobre esse perfil são restritas. "Há perfis

sociais distintos" (E9). Alguns grupos afirmam não ter conhecimento detalhado sobre o

perfil social. Há duas leitura para esse fenômeno: as mídias sociais são inclusivas, no

Page 25: FORMAÇÃO DE REDES NAS MÍDIAS SOCIAIS: PROCESSOS, RELAÇÕES E CAPITAL SOCIAL

sentido de que não reproduz necessariamente as relações de diferenciação social da

sociedade. Com requisitos mínimos, como a capacidade de leitura e o acesso à Internet,

pessoas com perfis sociais diversos estão aptas a participar de grupos que compartilhem

interesses comuns. Essa variável - perfil social - não é representativa quando se trata de

troca de informações. A segunda leitura é que essa aceitação social ocorre exatamente pelo

fato de, geralmente, não haver um contato maior que extrapole os limites das mídias

sociais. Supõe-se que em ambiente off line essa convivência de pessoas com perfis sociais

distintos não necessariamente se reproduziria tal qual nas mídias sociais. Verifica-se que

os grupos que existiam off line antes de formar a rede nas mídias sociais têm perfis sociais

mais homogêneos.

Intere-se que as mídias sociais aproximam o diálogo e viabilizam a troca de

informações entre pessoas que teriam poucas chances de convivência e contato próximo

no ambiente off line.

3.6. Dimensão autoridade e ação política

O maior ganho das redes nas mídias sociais é o da visibilidade, o que, em

algumas situações, pode resultar em elemento de pressão ou ação, como é o caso dos

grupos Sapucaí Mirim Jovem e Usuários do Metrô de São Paulo. O elemento de ação, no

entanto, parte sempre da informação. "Ficou mais fácil a procura sobre novidades, a

concentração em um só lugar ajudou a todos nesse assunto pois já sabem onde ir para

procurar esse esclarecimento"(E6). "A praticidade e rapidez de se conectar e a rapidez no

compartilhamento de informações"(E7).

A maioria dos grupos não é institucionalizada. Vale lembrar que a amostra de

grupos selecionada foi a de grupos temáticos (CARNIELLO, 2012), que se formam

espontaneamente na rede e não decorrentes de uma ação mercadológica ou institucional

de uma empresa. Portanto, verifica-se que é um comportamento usual das redes temáticas

manterem-se informais. Esse fato reforça que o vínculo principal entre os membros é a

troca de informação na plataforma midiática, situação para a qual a formalização é

desnecessária.

Avaliando as dimensões abordadas nas entrevistas, verifica-se que predomina o

bridging social capital (capital social de ponte), que, conforme Putnan (2000) se forma a

partir de agrupamentos de pessoas de origens étnicas ou profissionais distintas. Não há

laços mais fortes para grupos que se formaram essencialmente nas mídias sociais além da

cooperação, reciprocidade e confiança no processo de compartilhamento de informações.

Redes que apresentam outros vínculos extrapolam os limites das mídias sociais. O fato do

Page 26: FORMAÇÃO DE REDES NAS MÍDIAS SOCIAIS: PROCESSOS, RELAÇÕES E CAPITAL SOCIAL

elo de ligação entre os membros do grupo estar pautado prioritariamente na troca de

informações não significa que o capital social não exista, uma vez que indivíduos e grupos

conseguem atingir objetivos que, sem a presença nas mídias sociais, seriam mais difíceis

ou impossíveis de se atingir. No entanto é um capital social de ponte, pois liga pessoas de

características sociais distintas em torno de um assunto em específico, sem laço mais

sólidos no caso de grupos que existem exclusivamente nas mídias digitais. Essa

característica dessas redes pautadas no compartilhamento de informações, em uma

primeira leitura pode parecer de baixo capital social, se considerarmos os aspectos

teóricos que fundamentam o conceito. No entanto, defendo a ideia de que é necessário

atualizar o conceito para o contexto midiático contemporâneo, no qual a informação é um

ativo intangível e de alto valor. Fazer parte de redes que detém informações relevantes

pode ser, no cenário atual, uma forma de sociabilidade que viabiliza uma série de

objetivos, o que condiz com a premissa do capital social. Essa situação não minimiza a

importância das relações de cooperação entre vizinhos, família e outros grupos ou

instituições sociais. Ela coexiste com as relações sociais de outros espaços, inaugurando

uma nova espacialidade relacional que não substitui as anteriores, mas abre

possibilidades de outras formas de relações que, como vimos, está pautada no

compartilhamento de informações, um ativo de valor do mundo contemporâneo. Além

disso, a estrutura de comunicação digital em rede possibilitou a ampliação dos

interlocutores, que são escolhidos prioritariamente a partir da afinidade no

compartilhamento de informações, deixando de lado outros aspectos do perfil social.

Pode-se afirmar que, um importante elo de ligação da sociedade atual é a informação, que

estabelece vínculos em uma relação possível apenas por meio das mídias sociais. Há uma

fragmentação dos interesses, que são direcionados para interlocutores com afinidade

temática.

- bridging social capital (capital social de ponte), que se forma a partir de

agrupamentos de pessoas de origens étnicas ou profissionais distintas (PUTNAN, 2000);

Considerações finais

Este capítulo (discorrido no formato de artigo científico) teve como objetivo

discutir o processo de formação de redes nas mídias digitais, de maneira a compreender

como se articulam a sociabilidade e os processos de formação de capital social nesse

contexto. A busca de suporte teórico e caminhos metodológicos para fundamentar e

compreender o cenário midiático contemporâneo faz parte do universo da pesquisa

Page 27: FORMAÇÃO DE REDES NAS MÍDIAS SOCIAIS: PROCESSOS, RELAÇÕES E CAPITAL SOCIAL

acadêmica no campo da comunicação, uma vez que "um aspecto que singulariza essas

tecnologias é sua capacidade de engendrar novas formas de sociabilidade, novas formas

de ação social, e o que nos interessa aqui mais proximamente, novas formas de produção

de si, novos processos de subjetivação" (CALVINO, 2009, p.46).

Com a convergência das mídias, que passam a ser pautadas na linguagem digital,

conceitos anteriormente delineados se dissolvem ou se remodelam, uma vez que os fluxos

de comunicação ganham novos contornos. Cabe aos pesquisadores de comunicação

identificar, conceituar e compreender as características que fundamentam esse cenário,

bem como discutir as mudanças geradas em vários campos da sociedade, entre elas nas

formas de agrupamento social, objeto desse artigo.

Dentre os grupos estudados, no entanto, é possível verificar grupos que se

constituíram a partir de uma rede existente em ambiente off line e outros cuja gênese é

essencialmente on line. A maioria dos grupos que se originou nas mídias sociais sem um

vínculo social anterior restringe suas atividades ao meio digital, não existindo encontros

presenciais ou com encontros esparsos e pontuais, pautados mais na realização de um

objetivo do grupo do que na figura pessoal dos membros. Relacionando com os tipos de

capital social, verifica-se uma relação direta entre a gênese do grupo e o tipo de capital

social predominante. Entre os grupos existentes nas mídias sociais cuja origem é pautada

em grupos sociais anteriormente existentes tende a predominar o bonding social capital

(capital social de ligação), uma vez que este que este deriva de ligações entre pessoas com

características sociodemográficas semelhantes.

Já nos grupos que se formaram exclusivamente em ambiente on line, tende a

predominar o bridging social capital (capital social de ponte), que se forma a partir de

agrupamentos de pessoas de origens étnicas ou profissionais distintas. Nesse caso, o

agrupamento de pessoas socialmente distintas se dá por um tema de interesse comum,

mas essa ligação via mídias sociais não é forte o suficiente ou não demanda o

agrupamento presencial off line para que seus objetivos sejam alcançados.

Partindo da premissa de que o capital social pode ser compreendido como um

ativo individual, que resulta na possibilidade do alcance de objetivos que,

individualmente, seriam difíceis ou impossíveis de atingir (BOURDIEU, 1980), verifica-se

que os membros dos grupos, em geral, conseguem, em função da rede criada, obter

benefícios com o grupo ao manterem-se informados sobre o assunto de interesse.

Aqueles que existiam em ambiente offline anteriormente mantém as atividades e

afirmam que o grupo ganhou mais visibilidade após criação do perfil no Facebook. A

visibilidade é compreendida como uma vantagem, algo valioso, constituindo um objetivo

coletivo do grupo, alcançado pela rede criada, portanto, por meio de capital social.

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Ao relatarem sobre o processo de criação do grupo no Facebook, a maioria dos

entrevistados se limitou a descrever a simplicidade do uso da ferramenta. Verifica-se que

a mídia, pelo fato de ser acessível e amigável quanto à utilização, acaba por favorecer as

iniciativas de criação de grupos. A mídia em si, por sua estrutura colaborativa, fomenta a

criação de redes, inclusive entre pessoas com características sociodemográficas distintas,

potencializado a formação de capital social de ponte (bridging).

No aspecto confiança, verificou-se que os entrevistados dizem confiar nos

membros participantes, mas observa-se que essa confiança, em geral, se limita ao ato de

postar informações livremente no perfil. Tal aval se dá pela própria estrutura da mídia

social, no caso o Facebook, e na aceitação de suas regras de funcionamento. É um acordo

tácito dos usuários, que compartilham com o modus operandi da mídia .

Quanto à participação de outras redes, os respondentes, em sua maioria,

afirmaram não participar de redes em ambiente off line. Verifica-se que eles não

identificam os grupos aos quais pertencem, como família, trabalho, vizinhos, amigos

como redes sociais. Para eles, a formação de redes é um processo que se dá por meio das

mídias sociais.

Refletindo sobre a relação entre formação de capital social e as redes em

ambiente midiático, verifica-se um fenômeno que é característico desse cenário, o que

pode ser denominado de fragmentação social a partir do critério informação. Se em um

período anterior às mídias digitais estruturadas em rede todos os assuntos do cotidiano

social eram compartilhados com um círculo relativamente restrito de pessoas que

compunham o rol de convivência de um indivíduo, no contexto atual os interlocutores

podem ser agrupados e selecionados conforme afinidade de interesse na informação, e,

em muitos casos, esse é o único vínculo entre os participantes de uma rede. No entanto,

esse vínculo é suficiente para que os objetivos daquele indivíduo em relação ao grupo do

qual participa seja atingidos, mesmo porque seus objetivos estão diluídos por vários

grupos de interesse, on line e off line, e não concentradas apenas em um círculo restrito de

convivência. O fato de o vínculo nas redes ser mais pontual, não impede que seja gerado

capital social a partir dessa relação, no entanto, predominará o capital social de ponte

(bridging), sem, necessariamente, um maior estreitamento das relações fora das mídias

sociais.

À guisa de conclusão, são sistematizados abaixo os principais aspectos

observados referente à relação entre redes nas mídias sociais e capital social:

- as redes temáticas das mídias sociais são pautadas prioritariamente no elemento

informação. A segmentação dos grupos se dá prioritariamente pautado no tipo de

informação de interesse, desconsiderando outros aspectos do perfil social dos membros;

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- os agrupamentos nas mídias sociais são muito mais numerosos, visto que as

pessoas buscam grupos variados conforme temas de interesse. Se antes da emergência das

mídias sociais todos os assuntos de interesse eram compartilhados por grupos limitados

de pessoas, com os quais havia uma convivência social presencial mais ou menos intensa,

as mídias sociais permitem a formação de grupos conforme interesse e especialização em

outros temas. Há uma pulverização dos eixos de ligação, cuja base de segmentação é a

informação. Um dos representativos elos de ligação da sociedade é a informação;

- apesar de as ligações das mídias sociais, na maioria das vezes, se limitarem ao

compartilhamento de informações, com limites na construção de laços mais fortes nessa

espacialidade relacional, pode-se afirmar que há formação e acúmulo da capital social,

com ênfase no capital social de ponte, uma vez que o acesso à informação é um valor da

sociedade contemporânea e permite o alcance de objetivos individuais e grupais.

Identificou-se a necessidade de atualizar o conceito e, principalmente, os instrumentos de

mensuração de capital social para esse novo cenário midiático, que impacta na estrutura

relacional da sociedade.

A pesquisa apresentada é um ponto de partida conceitual e metodológico que

visa contribuir com estudos sobre as mídias sociais, buscando romper com visões que

homogeneizam e exaltam a emergência das redes sociais na Internet como um fenômeno

isolado e universal, em sim propõe um olhar mais detalhado sobre os tipos de redes,

vínculos e laços que existem no espaço das mídias sociais sem desconectá-los da história

social do grupo fora do ambiente midiático e da formação de capital social. Sugere-se a

replicação desse estudo em todos os tipos de grupos existentes nas mídias digitais, em

pesquisas futuras.