Formação e certiFicação de eletricistas

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OUTUBRO 2016 ANO 1 – Nº 07 – REVISTA DA INSTALAÇÃO A N O 1 - N º 07 Gás, hidrossanitária, elétrica, eletromecânica, HVAC, fotovoltaica, incêndio, dados e manutenções EDITORA FORMAÇÃO E CERTIFICAÇÃO DE ELETRICISTAS Ainda é grande no Brasil o número de pessoas que atuam como eletricistas sem a devida formação, executando instalações ineficientes e perigosas. Profissionais qualificados se destacam no mercado MERCADO ILUMINAÇÃO Instalações devem ser bem executadas para que sistemas apresentem bom nível luminotécnico e de eficiência energética EVENTO FISP 2016 Expositores aproveitam feira para disseminar soluções na área de segurança

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Formação e certiFicação de eletricistas

Ainda é grande no Brasil o número de pessoas que atuam como eletricistas sem a devida formação, executando instalações ineficientes e perigosas.

Profissionais qualificados se destacam no mercado

MercadoIlumInação instalações devem ser bem executadas para que sistemas apresentem bom nível luminotécnico e de eficiência energética

evento FISP 2016

expositores aproveitam feira para disseminar soluções na

área de segurança

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Matéria de Capa| Perfil profissional - Eletricistas

Eletricistas precisam investir

mais na formaçãoMercado brasileiro conta com um

grande número de pessoas que

atuam como eletricistas sem a

devida qualificação, executando

instalações ineficientes e

perigosas.

reportageM: MarCos orsolon

The number of electricians in Brazil who have serious technical education shortcomings is large. They do not have adequate qualifications and skills required to make a safe installation. To change this situation, it is required a strong awareness of the professionals and end users.

Todavía es grande en Brasil el número de electricistas que tienen deficiencias de formación técnica graves. Son personas que carecen de la capacitación necesaria para realizar una instalación segura. El cambio de esta situación requiere un fuerte trabajo de concientización de los profesionales y clientes finales.

A formação e a qualificação profissional são essenciais para que as pessoas consi-gam desempenhar bem as

suas funções. Afinal, a falta de conhe-cimento tende a induzir ao erro e, de-pendendo da atividade, o erro pode ser fatal. Imagine, por exemplo, o risco que um paciente corre se for assistido por um médico sem a devida formação, ou por uma enfermeira sem o devido trei-

namento. Basta a prescrição ou troca de um medicamento e as complicações podem ser graves.

Na área elétrica a situação não é diferente. Nesse caso, o despreparo dos profissionais compromete a qua-lidade da instalação, que pode ser subdimensionada, superdimensiona-da ou, pior, ser insegura. E inseguran-ça não combina com eletricidade, pois ela pode matar.

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No Brasil, infelizmente, temos um quadro terrível no que diz respeito aos acidentes com instalações elétricas. Se-gundo levantamento feito pela Associa-ção Brasileira de Conscientização para os Perigos da Eletricidade (Abracopel), em 2015 o Brasil registrou 1.257 aci-dentes envolvendo as instalações elé-tricas. As ocorrências tiraram a vida de 601 pessoas. Além disso, o levantamen-to apontou a ocorrência de 441 incên-dios gerados a partir de sobrecargas ou curtos-circuitos. Ou seja, o quadro é alarmante.

Um detalhe extremamente relevan-te nessa história é que boa parte dessas ocorrências, especialmente envolven-do a área de baixa tensão, poderia ser evitada se as instalações tivessem sido bem executadas. E aí ganha importân-cia a formação de um profissional nem sempre valorizado pelo mercado: o ele-tricista.

Não há dados oficiais que indiquem o número de eletricistas que atuam hoje no País. No entanto, algumas estimati-vas apontam para cerca de 150 mil pes-soas. O problema é que praticamente metade desse pessoal, talvez até mais, não possui nenhum tipo de treinamento oficial, ou acadêmico. São pessoas que aprenderam “algumas coisas” na prá-

tica, em uma obra em construção, por exemplo, e que se lançaram no mercado como eletricistas autônomos. Fato que explica, em parte, o grande número de problemas nas instalações.

“Hoje, há uma divisão clara entre os eletricistas, com dois cenários: as pes-soas que fizeram treinamentos e teori-camente se capacitaram; e aquelas que se dizem eletricistas, que são pessoas que aprenderam a ligar uma tomada e uma lâmpada e acham que são profis-

sionais”, comenta o engenheiro eletri-cista Everton Moraes, diretor do Portal Sala da Elétrica.

Um dos aspectos que explica o gran-de número de pessoas que atua como eletricista, sem a devida qualificação, é que no Brasil o eletricista ainda tem muito da prática e pouco da teoria. E, em parte, isso ocorre porque não há no País a obrigatoriedade de formação des-se profissional, como ocorre com enge-nheiros, tecnólogos e técnicos.

Não existe, por exemplo, uma enti-dade de classe que obrigue a formação e que regulamente a profissão de ele-tricista. Com isso, abre-se espaço para que qualquer pessoa se declare como eletricista. E isso é um problema sério.

Essa falta de formação e de infor-mação faz, inclusive, com que muitos

MercAdoestima-se que, hoje, mais de 150 mil pessoas atuem como eletricista no Brasil.

precisamos de um número maior de cursos de formação de eletricistas para atender as necessidades do mercado.everton Moraes SAlA dA elétricA

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dos “ditos eletricistas” sequer saibam o que, efetivamente, podem fazer numa instalação. Poucos têm a noção do seu limite de atuação, sendo que a maioria acha que pode fazer tudo.

“Essa falta de noção faz com que muitos desses ditos eletricistas se aven-turem também a fazer projetos. Ou me-lhor, eles traçam algumas linhas no pa-pel e apresentam para o cliente como se fosse um projeto. Mas não é. Não passa de um rascunho malfeito e sem qualquer embasamento técnico ou nor-mativo. Isso é muito grave. Essa pessoa não tem capacidade sequer para exe-cutar uma instalação e pensa que sabe fazer projeto”, lamenta o professor e diretor da HMNews Editora, Hilton Mo-reno, que completa: “O eletricista com boa formação sabe até onde pode ir e

quais são suas atribuições e responsa-bilidades”.

A exceção no Brasil, segundo alguns especialistas da área, ocorre no âmbito da construção formal, envolvendo prin-

cipalmente as grandes construtoras. “As construtoras sérias demonstram uma preocupação maior em relação aos pro-fissionais e empresas instaladoras que contratam. Com isso, evitam muitos pro-blemas. Geralmente, essas empresas co-nhecem bem suas responsabilidades e a importância de se investir na segurança. Tanto, que a maior parte delas trabalha com projetos elétricos elaborados com base nas normas técnicas vigentes e compra apenas produtos conformes e, quando é o caso, certificados”, obser-va Hilton.

E ele completa: “Os problemas maiores estão mesmo na chamada au-toconstrução e em obras de pequenas construtoras, onde muitas vezes a re-dução de custos fala mais alto que a segurança e onde é comum o próprio pedreiro ou mestre de obra executar a instalação elétrica da edificação”.

Um ponto relevante nesse con-texto é que a pessoa interessada em estudar e se capacitar como eletricis-ta tem várias opções a seu dispor. Ou seja, não é por falta de entidades de ensino que ele vai ficar na mão. Basta ver a rede de escolas do Senai espa-lhadas por todo o Brasil. Mas é preci-so ainda mais.

Everton Moraes, da Sala da Elétrica, reconhece que há várias opções para os interessados, no entanto, acredita que é preciso espalhar ainda mais a rede

No Brasil o eletricista ainda tem muito da prática e pouco da teoria. Isso ocorre porque não há no País a obrigatoriedade de formação desse profissional, como ocorre com engenheiros, tecnólogos e técnicos.

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de escolas profissionalizantes pelo Bra-sil. Segundo o engenheiro, que oferece treinamentos on-line para pessoas de todo o País, é comum ouvir de seus alu-

nos que não há escola profissionalizante em suas regiões, ou pelo menos não tão próximas. “Outros reclamam dos valo-res cobrados por algumas instituições

de ensino. Por isso acredito que preci-samos de um número maior de cursos para atender as necessidades do mer-cado”, argumenta.

Falta de qualificação também reduz oportunidades

Sem dúvida, o maior problema da falta de formação profissional, no caso do eletricista, é baixa qualidade do tra-balho oferecido. E isso se traduz em dois problemas principais: a insegurança na instalação elétrica, que é o ponto mais visível; e a perda de oportunidades, que nem sempre é percebida pelas pessoas.

O fato é que quando o eletricista não tem a devida formação e atua ape-nas por instinto e pelo que aprendeu na prática, muitas vezes ele fecha as por-tas para o conhecimento, inclusive para

acompanhar a evolução do mercado, com novas tecnologias e produtos. E, quando questionado sobre essa postu-

ra, ou mesmo em relação a algo que tenha feito (ou deixado de fazer) na

obra, a resposta está na ponta da língua: “Mas eu sempre fiz assim e nunca tive problema”.

Há ainda situações em que o usuário pergunta sobre um deter-minado produto, mas ele não conhe-ce ou não sabe instalar. E, ao invés de buscar informações, simplesmente res-

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ponde: “Esse produto não presta, só dá problema na instalação”. Esse tipo de situação, aliás, ocorre com frequência em relação aos DRs (Dispositivo Di-

ferencial Residual) e DPS (Dispositivo Protetor de Surtos).

O fato é que os equipamentos elé-tricos evoluem constantemente, assim como as necessidades de dispositivos de segurança se alteram em função de normas e tecnologias. Com isso, o eletricista que não se atualiza fica para trás e não usufrui as vantagens oferecidas pelos avanços do mercado. Ele abre mão de ter a inovação a seu dispor e, com isso, não apresenta novi-dades aos clientes e, em alguns casos, também não aproveita as novas tecno-logias em seu dia a dia, como soluções que poderiam trazer ganho de tempo

no trabalho e evitar o desperdício de material.

Sem contar, é claro, os dispositivos que ampliam o nível de segurança no trabalho de instalação. Por exemplo, é comum o eletricista testar se o cabo está energizado com as costas da mão, tomando um pequeno choque, ao invés de usar um medidor de tensão. Assim como muitos simplesmente ignoram os EPIs que poderiam lhe conferir prote-ção na execução da instalação. Resul-tado: os acidentes se multiplicam ano após ano.

Nesse contexto, um aspecto relevan-te é que não basta o profissional ir atrás de uma escola, investir na formação e nunca mais correr atrás de informação.

SituAção grAvelevantamento da abracopel indica

que, em 2015, o Brasil registrou 1.257 acidentes envolvendo as

instalações elétricas.

o eletricista com boa formação sabe até onde pode ir e quais são suas atribuições e responsabilidades.Hilton Moreno HMNewS

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O exemplo dos Estados UnidosDiferentemente do que ocorre no

Brasil, a atividade do profissional ele-tricista nos Estados Unidos é tratada com a devida seriedade que a função merece, tendo em vista os riscos en-volvidos nessa atividade, tanto para o profissional quanto para os usuá-rios e proprietários das instalações elétricas.

Um candidato a se tornar eletri-cista (aprendiz) nos Estados Unidos deve ter diploma do ensino médio ou equivalente, idade mínima de 18 anos, precisa estar fisicamente apto, ter bom equilíbrio, coordenação mo-tora e visão das cores. Pode solicitar sua inscrição para se tornar apren-diz através de diversos “patrocina-dores”, que incluem sindicatos, or-ganizações e associações nacionais ou estaduais.

O patrocinador analisa as notas do aluno no segundo grau, os resul-tados de testes de aptidão e as ex-periências de trabalho prévias antes de admiti-lo no programa de forma-ção de aprendizes. Os aprendizes também fazem uma entrevista para esse programa, que é um processo semelhante ao de ser contratado para um emprego.

A maioria dos cursos de apren-dizes de eletricistas tem a duração de quatro anos e os alunos recebem, pelo menos, 200 horas de instrução em sala de aula por ano sobre prin-cípios de segurança, circuitos elétri-cos, normalização, leitura de projeto, técnicas de instalação em geral, etc. Além da sala de aula, durante o ano os aprendizes devem ter, no mínimo, 2.000 horas de treinamentos práti-cos no campo (8.000 horas durante o curso) sob a supervisão de eletri-cistas experientes.

O aprendiz é remunerado durante todo o curso pelos patrocinadores, em um processo similar à remuneração de estagiários no Brasil.

Uma vez concluído o curso de aprendiz, o agora recém-promovido “eletricista iniciante” deve obter a licença para trabalhar na área. O li-cenciamento é necessário para ele-tricistas em quase todos os estados americanos e é válido apenas no es-tado em que foi obtido. Dessa for-ma, caso o eletricista queira exer-cer suas atividades em diferentes estados terá que obter a licença em cada um deles.

Os requisitos para obtenção do

licenciamento geralmente incluem a comprovação de um determinado número de horas de sala de aula e atividades práticas, além da realiza-ção de um exame escrito.

A fim de manter o licenciamento, a maioria dos estados exige a com-provação de um número mínimo de horas de cursos de educação conti-nuada a cada ano, bem como perio-dicamente o profissional deve passar por outro exame.

Em alguns estados, um eletricista deve completar um programa de ba-charel em engenharia elétrica e com-provar experiência de trabalho signi-ficativa antes de ganhar uma licença como “mestre-eletricista”.

As licenças são comumente clas-sificadas por tipo de trabalho elétri-co e/ou por nível de experiência, tal como iniciante, assistente, mestre- eletricista, etc.

Há diversas associações e enti-dades que oferecem cursos e treina-mentos que resultam em certificações profissionais, as quais demonstram conhecimento e habilidade acumu-lados de um eletricista, aumentando assim as oportunidades de emprego e progresso na carreira.

A formação do eletricista deve ser en-carada como um processo contínuo, que exige atenção e reciclagem constante. E aqui temos mais um problema, pois boa parte dos profissionais não adota essa postura.

“Grande parte dos profissionais te-oricamente capacitados não estão de fato capacitados. Eles até fizeram um curso ou algum tipo de treinamento da área elétrica. Mas não se atualiza-ram. O fato é que o profissional dessa

área vai buscar conhecimento apenas quando se sente pressionado pelo mer-cado, e não para se qualificar melhor. Esse é um grande erro”, observa Ever-ton Moraes.

O engenheiro destaca que muitos

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Instalador de sistemas para microgeração fotovoltaica

A atuação dos eletricistas está sendo ampliada e especializada em função das novas demandas do mercado. Um exemplo disso é o recém-criado curso do SENAI de Instalador de sistemas para microgeração fotovoltaica.

Com duração total de 48 horas, segundo a escola, o curso visa o desenvol-vimento de competências relativas à instalação e manutenção de sistemas de energia solar fotovoltaica conectadas à rede pública, por meio de instrumen-tos, ferramentas, procedimentos e métodos que permitam o planejamento, execução e avaliação das instalações e suas proteções de acordo com normas técnicas, de segurança, qualidade e ambientais.

Os pré-requisitos indicam que o aluno deverá, no início do curso, ter no mínimo 18 anos de idade e estar cursando o Nível Fundamental a partir do 5º ano. Além disso, deverá ter concluído o Curso do SENAI de Qualificação profis-sional de “Eletricista Instalador” ou comprovar experiência ou conhecimentos adquiridos anteriormente a essa especialização. Outra exigência é que o can-didato possua o certificado de outro curso do SENAI sobre Energia Solar Foto-voltaica - Conceitos e Aplicações ou comprove experiência ou conhecimentos adquiridos anteriormente a essa especialização.

O programa do curso é abrangente e inclui temas tais como segurança e normalização, NR-10, NR-35, ferramentas e equipamentos para instalações fotovoltaicas, componentes do sistema de energia solar fotovoltaica, disposi-tivos de proteção, inversores, montagem e integração em edificações, instala-ção, partida e operação dos Sistemas Fotovoltaicos, simulação de defeitos em um sistema de energia solar fotovoltaica, danos provocados por desatenção na ordem de montagem e atendimento ao Cliente.

Mais informações sobre o curso e locais onde ele é ministrado podem ser encontrados no site do SENAI.

eletricistas não percebem que podem se tornar profissionais melhores ao se atualizarem, inclusive agregando valor ao seu trabalho e, consequentemente, ganhando mais dinheiro.

“Uma reclamação recorrente dos eletricistas é que ele se forma, procu-ra fazer tudo de acordo com a norma, mas quando faz um orçamento apare-ce um concorrente menos qualificado que cobra um valor muito mais baixo. Mas o que poucos profissionais perce-bem é que eles podem cobrar o valor que quiserem por sua mão de obra. Basta mostrar o valor da sua mão de obra e não apenas o preço. Como ele faz isso? Com qualificação profissional, com as indicações dos clientes que ele já possui, enfim, com o conhecimento que ele absorveu ao longo do tempo, seja através de cursos, revistas especia-lizadas, sites de conteúdo, etc”, com-pleta Everton.

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