FORMAÇÃO INICIAL DE PROFESSORES: UM ENFOQUE … · conteúdos que libertem o homem de opiniões...

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FORMAÇÃO INICIAL DE PROFESSORES: UM ENFOQUE CULTURAL EM CURSOS DE GRADUAÇÃO Elisabete Monteiro de Aguiar Pereira – FE/Unicamp Joyce Wassem – FE/Unicamp Introdução Os professores da educação básica brasileira têm recebido uma formação educacional em cursos de pedagogia que geralmente os habilita para ações pedagógicas embasadas em uma visão mais técnica. Muitos deles pouco percebem a relação de suas áreas de conhecimento com as questões mais amplas da educação e da cultura. De forma geral, as avaliações de âmbito nacional (SAEB, SARESP, Prova Brasil, ENEM) e internacional (PISA) demonstram o baixo rendimento dos alunos brasileiros e não raras vezes, o diagnóstico desse baixo rendimento recai na formação profissional dos professores. É compreendido que essa formação não lhes permite uma ação pedagógica mais qualificada e com melhor nível de conhecimento dessas relações com a educação em geral. A ausência de uma formação mais cultural tem levado os professores a serem meros repetidores de manuais, a não terem autonomia de conhecimentos que embase uma reflexão crítica sobre a teoria e a prática docente. Experiências com a leitura e conhecimento mais aprofundado de autores clássicos da educação, desenvolvidas nos cursos de Pedagogia, Licenciatura e Pós-graduação da Faculdade de Educação, da Unicamp, ao longo de 20 anos, testemunham o valor desse conhecimento para um embasamento teórico, reflexivo e crítico da ação docente (MORAES, 2012). Os resultados de pesquisas desenvolvidas sobre essas experiências demonstraram a importância do conhecimento desses autores no cotidiano da sala de aula, no aprimoramento da formação profissional e pessoal relacionando-os a uma atuação docente como pessoa e cidadão, ao ganho de conteúdo e de fundamentos para novas maneiras de agir pedagogicamente. A ênfase curricular em uma formação mais geral e cultural não é nova no contexto da graduação em países desenvolvidos e no Brasil, embora sejam ainda poucos os currículos de graduação que abordem a dimensão cultural na educação superior brasileira. Notadamente na contemporaneidade, a ênfase em uma formação geral e cultural tem sido apontada como uma das contribuições mais valorosas que a universidade pode fazer para o bem do aluno, do

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FORMAÇÃO INICIAL DE PROFESSORES: UM ENFOQUE CULTURAL EM

CURSOS DE GRADUAÇÃO

Elisabete Monteiro de Aguiar Pereira – FE/Unicamp

Joyce Wassem – FE/Unicamp

Introdução

Os professores da educação básica brasileira têm recebido uma formação educacional

em cursos de pedagogia que geralmente os habilita para ações pedagógicas embasadas em

uma visão mais técnica. Muitos deles pouco percebem a relação de suas áreas de

conhecimento com as questões mais amplas da educação e da cultura. De forma geral, as

avaliações de âmbito nacional (SAEB, SARESP, Prova Brasil, ENEM) e internacional (PISA)

demonstram o baixo rendimento dos alunos brasileiros e não raras vezes, o diagnóstico desse

baixo rendimento recai na formação profissional dos professores. É compreendido que essa

formação não lhes permite uma ação pedagógica mais qualificada e com melhor nível de

conhecimento dessas relações com a educação em geral. A ausência de uma formação mais

cultural tem levado os professores a serem meros repetidores de manuais, a não terem

autonomia de conhecimentos que embase uma reflexão crítica sobre a teoria e a prática

docente.

Experiências com a leitura e conhecimento mais aprofundado de autores clássicos da

educação, desenvolvidas nos cursos de Pedagogia, Licenciatura e Pós-graduação da

Faculdade de Educação, da Unicamp, ao longo de 20 anos, testemunham o valor desse

conhecimento para um embasamento teórico, reflexivo e crítico da ação docente (MORAES,

2012). Os resultados de pesquisas desenvolvidas sobre essas experiências demonstraram a

importância do conhecimento desses autores no cotidiano da sala de aula, no aprimoramento

da formação profissional e pessoal relacionando-os a uma atuação docente como pessoa e

cidadão, ao ganho de conteúdo e de fundamentos para novas maneiras de agir

pedagogicamente.

A ênfase curricular em uma formação mais geral e cultural não é nova no contexto da

graduação em países desenvolvidos e no Brasil, embora sejam ainda poucos os currículos de

graduação que abordem a dimensão cultural na educação superior brasileira. Notadamente na

contemporaneidade, a ênfase em uma formação geral e cultural tem sido apontada como uma

das contribuições mais valorosas que a universidade pode fazer para o bem do aluno, do

profissional e da sociedade em geral e é vista como essencial para uma sociedade que se quer

livre, democrática e justa (PEREIRA, 2010; SANTOS FILHO, 2010).

O entendimento sobre a necessidade de uma formação mais ampla tem sido debatido

com mais intensidade nas universidades brasileiras nos dias atuais, como demonstram as

experiências dos Bacharelados Interdisciplinares das Universidades Federais, o curso de

Formação Superior Interdisciplinar da Unicamp (ProFIS) e as experiências de educação geral

de várias universidades latino-americanas (TOBINO, 2010).

A educação geral é uma abordagem de formação que tem como propósito dar

condições aos estudantes de ultrapassar o mero acesso à informação e possibilitar a

apropriação efetiva de conhecimentos, o que, consequentemente, favorece o desenvolvimento

de uma visão crítica e uma sólida formação teórica ao longo da vida profissional e pessoal.

Esse conhecimento tem o potencial de dar fundamentos à ação docente empreendida nas

escolas. Nesse cenário, procuramos desenvolver com os alunos do curso de pedagogia da

Faculdade de Educação, da Unicamp, neste ano de 2013, uma ênfase curricular cultural por

meio do trabalho de leitura, discussão e reflexão sobre alguns dos autores clássicos da

educação. O objetivo foi o de conhecer, trabalhar e refletir as grandes ideias pedagógicas e

educacionais que os autores clássicos trouxeram para o seu tempo histórico, para a educação

de forma geral e relacionar essas contribuições com o contexto atual da educação brasileira.

A ideia de usar os clássicos para uma formação geral neste projeto foi a de que estes,

longe de ancorarem seus leitores na repetição das mesmas coisas, os capacitam a um trabalho

pedagógico de maior significado social. Os clássicos e obras estudados foram: Hannah Arendt

- A Crise na Educação; John Dewey - Experiência e Educação; Carl Rogers - Liberdade para

Aprender; Célestin Freinet- Educação pelo Trabalho; Friedrich Froebel - A Educação do

Homem; Paulo Freire - Pedagogia do Oprimido; Michel Foucault - Foucault e a Educação.

Os clássicos e sua importância no currículo de formação de professores

O entendimento sobre a necessidade de uma formação cultural tem sido debatido com

mais intensidade nos dias atuais, e está mais considerada na estruturação das universidades

tanto no mundo ocidental como no oriental. Nesse cenário, muitas universidades em todo o

mundo têm procurado, das mais diversas formas e composição, oferecer aos estudantes uma

educação geral. Peterson (2012) apresenta que países desenvolvidos ou em desenvolvimento,

estão revitalizando a educação geral em seus currículos de graduação, como em Hong Kong,

Singapura, Austrália, Suécia, Japão, Rússia, Bangladesh, Polônia, África do Sul e Turquia

além de países da Europa Central. Da mesma forma, Tobino (2010) analisa o currículo de

universidades de vários países da América Latina que a partir do início deste novo século,

estão dando ênfase à educação geral.

Os objetivos que embasam um currículo de educação geral caracterizam-se por

proverem os estudantes com amplo conhecimento do mundo, por auxiliar os estudantes a

desenvolver um senso de responsabilidade social e pelo desafio de trabalharem com

importantes questões do mundo. O termo educação geral é utilizado para informar o

entendimento sobre a parte comum do currículo oferecida a todos os estudantes como aspecto

prévio e primordial do desenvolvimento intelectual que os prepara para ações cívicas e para a

aquisição das competências profissionais. A educação geral é tida como a preparação mais

necessária para uma vida de contínua aprendizagem, pois oferece uma formação conceitual e

não uma formação prática utilitarista (PEREIRA, 2010). As instituições que defendem esse

tipo de formação têm como fundamento que as ações instrumentadas por uma formação geral

são exercidas pelo indivíduo, quer seja como profissional ou cidadão, como um ato de

liberalidade, isto é, o indivíduo as exerce por um dever interno.

A análise histórica da ênfase em educação geral nos demonstra que se preservou, ao

longo do tempo, os princípios básicos dos estudos que a compõem: encorajar a participação

do indivíduo na vida social como um homem livre, instruído e culto; fundamentar-se em

conteúdos que libertem o homem de opiniões pré-concebidas e de ideologias; ultrapassar as

visões estreitas, particularmente as oferecidas por ênfases curriculares tecnicistas e

profissionalistas; conduzir uma vida auto-examinada que, segundo Sócrates, é a única digna

de um homem livre; possuir liberdade interior para usar a liberdade exterior (social). O

fundamental para a ideia de educação geral é o entendimento de que o conhecimento

profissional precisa sempre ser acompanhado pelo compromisso de se envolver com um mais

amplo espectro de conhecimentos.

Os objetivos da educação geral permanecem sempre os mesmos, embora as atividades

dos currículos se alterem para responder aos requisitos do tempo em que a educação está em

processo (FERRI, 2010).

Uma formação geral por meio da leitura de autores clássicos é hoje utilizada em várias

universidades americanas como Universidade de Dallas-Texas, Universidade de Notre Dame -

Indiana, Kansas State University, Saint John’s College – Annapolis, Gutemberg College -

Oregon, St Mary’s College – California, North Park College - Chicago, Shimer College -

Chicago, Thomas Aquino College – California. Estas instituições entendem que a leitura de

obras que pensaram as grandes questões do mundo é um meio de fazer os estudantes

perceberem o entrelaçamento dessas questões, adquirirem autonomia de pensamento, terem

opiniões embasadas e se conduzirem por argumentos bem fundamentados (PEREIRA, 2010).

Na área da educação, a leitura dos clássicos é um importante instrumento para se

pensar a educação na sua complexidade e formar educadores com melhores condições de

entender as relações da educação com a sociedade, a cultura, as tradições e com as diferentes

áreas de conhecimentos que a compõem.

Ao analisar a importância do conhecimento dos clássicos, Nussbaum (1997) o

classifica como “uma das melhores bússolas”. Essa importância não está em supostas lições

imortais ou morais, o que para ele não tem cabimento ou sentido, mas porque, a profundidade

e a diversidade das ideias, permite ao professor exercitar o espírito com liberdade de

conhecimentos diante das questões do cotidiano e, em cada nova situação, a mente sabe

encontrar uma nova resposta.

A definição de um clássico, em qualquer área, é a de que as ideias contidas neles

ultrapassam o tempo no qual foi escrito, a de que o clássico sempre tem o que dizer ao tempo

presente, isto é, o conhecimento resultante da leitura é de valor para as ações que se está

empreendendo no momento. Gasparin (1997, p. 40) afirma que um clássico ultrapassa seu

tempo e representa fonte inesgotável de conhecimentos. São leituras que se tornam

conhecimentos permanentes e, mesmo em uma releitura, há descoberta de novos saberes. Para

o autor, “retornando aos clássicos, progredimos intelectualmente”.

Ítalo Calvino, no seu importante livro “Por que ler os clássicos” (1993, p. 10), diz que

“estes são conhecimentos formativos que favorecem embasamento para as experiências e que

fornecem escalas de valores, paradigmas de beleza, coisas que continuam a valer sempre”.

Pesquisa e Análise de Dados

No catálogo de disciplinas obrigatórias do curso de Pedagogia da Faculdade de

Educação da Unicamp consta a disciplina de Escola e Currículo. Durante o desenvolvimento

desta disciplina no primeiro semestre de 2013, houve a intenção curricular de trabalhar com

algumas obras clássicas de educação, escolhidas conjuntamente com os alunos. O objetivo foi

o de favorecer uma formação cultural e o pensamento conceitual, como base de uma formação

geral. Para tanto, durante o semestre foram realizados, pelos alunos, seminários de autores

clássicos escolhidos por eles a partir de uma lista pré-selecionada pela professora da

disciplina. Para a apresentação os alunos deveriam abordar os seguintes aspectos: contexto

histórico do autor nos aspectos econômicos, cultural, social e educacional; a biografia do

autor e suas principais influências teóricas; análise da obra escolhida, influência do autor e de

suas ideias em seu tempo; a biobibliografia do autor, isto é, a relação das suas demais obras

com sua biografia; influência das suas ideias pedagógicas no contexto atual da educação

brasileira; contribuição da leitura para o entendimento da educação no século XXI.

A pesquisa sobre a experiência teve como objetivo levantar a avaliação dos alunos a

respeito da formação educacional que a leitura dos clássicos lhe proporcionara e a

contribuição específica para a atuação como docente. O levantamento foi feito por meio de

um questionário, com questões abertas e fechadas, aplicado no final do semestre. Tivemos 35

sujeitos da pesquisa, atingindo a totalidade de alunos que passaram pela experiência.

Para a análise das respostas das questões abertas utilizamos a análise de conteúdo,

conforme Bardin. Para ela, a análise de conteúdo “é um conjunto de técnicas de análise das

comunicações” (BARDIN, 2004, p. 27). É uma técnica de análise que através da descrição,

sistemática e quantitativa do conteúdo manifesto da comunicação tem por finalidade a sua

interpretação. Esta análise busca conhecer o conjunto das manifestações dos sujeitos em

relação ao fenômeno pesquisado. A análise de conteúdo é uma metodologia qualitativa de

dados e nesta abordagem, sabemos que a interpretação e a categorização dos dados não se dão

de forma neutra, mas a partir dos significados dados pelo pesquisador.

Para a análise dos conteúdos das questões, foi realizada, inicialmente, uma leitura de

todos os questionários e colocado um código para permitir fácil identificação do material e do

depoimento. O código utilizado foi o de números, o que possibilita o retorno ao documento

quando necessário. Assim, os questionários foram numerados de um a trinta e cinco (Q1 a

Q35). Após esta, uma segunda leitura foi realizada e iniciamos o agrupamento dos dados em

categorias, levando-se em consideração as respostas com conteúdos em comum. É importante

salientar que as categorias não foram pré-estabelecidas, mas no processo de várias leituras do

material e do refinamento das mesmas.

A primeira questão buscou levantar o significado, para os alunos, do conhecimento de

alguns dos autores clássicos da educação estudados na disciplina. As respostas foram

agrupadas em 04 categorias:

1ª Categoria: Importante para Teoria e Prática. Nesta categoria foram organizadas

as respostas que relacionavam a leitura dos clássicos à aquisição de conhecimentos para a

atuação docente, ao ganho de fundamentos teóricos, às reflexões que favoreciam as ações

pedagógicas. Das respostas, quinze delas fizeram menções a esta categoria. As respostas

mencionaram que conhecer os autores clássicos lhes possibilitou o aprimoramento teórico e

prático, em especial a aquisição e aprofundamento de novos conhecimentos e consequente

melhoria e reflexão da prática, o que reflete significativamente na atuação em sala de aula e

nas práticas escolares, como podemos observar em algumas falas desses sujeitos:

Confesso que de início quando soube que iríamos trabalhar com os clássicos, não

gostei muito da ideia – pensei que veria muita coisa distante da realidade, como se

fossem coisas inaplicáveis. Mas me surpreendi. Mesmo estudando autores que

pensaram há muito tempo, foi possível pensar muito do presente e estabelecer

conexões. Acredito que foi um trabalho muito importante, e que poderá sim permear

muito da minha futura prática (Q8). Foi uma experiência cultural que agrega elementos e conhecimento para minha

atuação (Q11). Conhecer alguns dos autores clássicos de Educação me permitiram adquirir uma

fundamentação teórica maior para pensar minhas práticas educativas, isto é,

compreender melhor e aprofundar as justificativas de algumas práticas já

conhecidas e, assim, aprimorá-las (Q13). Auxiliou na ampliação de conceitos e a repensar práticas adotadas por mim e pelos

professores (Q15). Cada um deles nos questiona e, ao mesmo tempo, aponta direções e possibilidade

de ação (Q22).

A 2ª categoria: Aprofundamento de conhecimentos. Esta categoria abrange

respostas que afirmaram a importância das leituras dos clássicos como aprofundamento dos

conhecimentos prévios e, em muitos casos, como um primeiro contato com a obra estudada e

seu autor, bem como a importância de rever tais autores, no caso de seu prévio conhecimento.

Essa categoria apareceu em quatorze das trinta e cinco respostas. Elencamos algumas

falas que contemplam essa categoria:

Considero que conhecer determinados clássicos foi muito importante para mim.

Muitos dos autores que discutimos são tratados em nosso curso de graduação e

muitas vezes não chegamos a conhecer suas obras com profundidade. Assim, foi

importante vivenciarmos a cultura e o aprendizado que os autores que são base da

educação nos trazem (Q20). Foi de grande importância ter o contato com esses autores. Muitos deles só ouvimos

falar, outros professores os citam em aula, mas poder ter tido o contato, um pouco

mais aprofundado sobre eles foi muito interessante (Q6). Foram autores que são de grande importância na educação e não haviam sido

explorados nas outras disciplinas até então (Q18). Acredito de suma importância o conhecimento dos grandes clássicos do campo

pedagógico, ainda mais para um futuro professor. O contato com a literatura destes

acarreta uma bagagem teórica mais rica (Q5).

Os autores clássicos são importantes para a área da educação, pois questiona

muito o tempo histórico e o atual, fazendo um contraponto em que mudar, e os

métodos que ainda são utilizados e eficazes no ensino (Q21).

Como 3ª categoria tivemos Diferentes visões de Educação. Destacam-se nessa

categoria respostas pautadas na possibilidade do contato com diferentes abordagens no campo

da educação, de se pensar diferentes formas de ver o homem, a educação, o aluno e o

professor; de se visualizar as diferentes contribuições à educação e se repensar os modelos

existentes.

Nessa categoria foram consideradas treze respostas e destacamos algumas falas a

seguir:

A leitura dos clássicos me possibilitou conhecer outras visões de educação, me

colocou em contato com outras formas que não são “tradicionais”. Isso me fez

refletir qual tipo de educação que eu quero passar para meus alunos (Q4).

Entrar em contato com os pensamentos clássicos me possibilita visualizar as ideias

já produzidas sobre educação para me apropriar do que acredito ser relevante

(Q10). O conhecimento destes autores clássicos na Educação, no mínimo, significou que há

outras possibilidades de Educação que não apenas aqueles que geralmente lidamos

em nosso tempo (Q11). Ajudou-me a pensar melhor as visões de homem, educação, aluno e professor e por

conseguinte a repensar os modelos de educação que defendo (Q12). Conhecendo esses autores pude ter contato com outras visões de educação e de

práticas educativas (Q33).

A 4ª categoria: Contribuição para a formação docente. Nesta encontramos

respostas relacionadas ao aprimoramento da formação docente, ao conhecimento adquirido a

partir das obras estudadas e aos fundamentos e reflexões que dão suporte as ações.

Esta categoria foi mencionada em 12 respostas e a observamos em algumas falas a

seguir:

Eu pouco sabia a respeito da biografia e reflexões dos autores apresentados.

Diretamente a obra em si, acredito que só li Paulo Freire e nem foi a Pedagogia do

Oprimido. Para mim significou muito, pois me sentia vazia em quase estar me

formando em Pedagogia, e não ter muitas informações sobre os clássicos. Quis

aproveitar o máximo que pude (Q26). Acredito que conhecer alguns dos autores clássicos foi muito importante para

minha formação, uma vez que entender quais as possibilidades que já foram

pensadas para a educação me ajuda a refletir melhor sobre a educação que temos

hoje, relacionar ideias que foram trazidas pelos clássicos e que têm grande valia até

nos dias de hoje (Q14). Acredito que o contato com os autores clássicos foi essencial para nossa formação e

deveriam ser mais valorizados em outras disciplinas (Q2). Poder aprender, conhecer e aprofundar o conhecimento desses clássicos nesta

disciplina me ajudou ainda mais a me formar como educadora e pensar na minha

atuação em sala (Q23).

Conhecer os autores clássicos foi fundamental no meu processo de formação, pois,

apesar de serem clássicos, pouco foram aprofundados durante o curso de

pedagogia ou nem vistos (como Froebel, Freinet, Foucault, Hannah Arendt) (Q15).

Em síntese, podemos dizer que a questão sobre “o que significou para vocês conhecer

alguns dos autores clássicos da área da educação?” nos mostrou que todos acharam positivo

conhecer alguns dos clássicos da educação e discutir com mais profundidade suas ideias

pedagógicas. Não obtivemos resposta negativa nesta questão e nem observação contra esta

atividade pedagógica. Pelo contrário, os alunos defenderam a sua continuidade como um

aspecto que proporciona relação com outras disciplinas que trabalham de forma tangencial as

ideias dos grandes clássicos da educação. Percebemos também que a maioria dos sujeitos

mostrou que os clássicos os levou a uma reflexão a respeito de seu fazer pedagógico, de seu

lugar na sociedade e despertou em vários sujeitos uma consciência mais crítica saindo do

senso comum. Observamos ainda, a importância dos clássicos para o esclarecimento de

muitas dúvidas a respeito da educação e que muitos se sentiram mais seguros após conhecê-

los. O mais importante foi perceber que, para os alunos, tais autores ultrapassam seu tempo,

continuando atuais.

Como segunda questão do questionário, indagamos os alunos sobre os conhecimentos

adquiridos por meio das leituras, reflexões e debates sobre os clássicos, se estes fizeram ou

farão diferença na sua formação de professor. Tivemos unanimidade nas respostas afirmando

positivamente esta questão.

Na análise a partir das justificativas correspondentes a este questionamento obtivemos

quatro categorias. A primeira categoria Conhecer concepções de Educação foi ressaltada em

quatorze respostas e diz respeito ao conhecimento e compreensão de diferentes concepções,

como podemos observar nas justificativas apontadas por eles.

Porque me ajudou a compreender as concepções de educação que tive contato, e

conhecer as bases dessas concepções (Q1).

Porque foi possível conhecer, comparar as diferentes práticas pedagógicas de cada

autor. Assim, cada um de nós pode usar em suas práticas, aquilo que achou de

melhor em cada autor (Q16).

Como segunda categoria tivemos Novas perspectivas de Educação que trata da

obtenção de diferentes e novas formas de ver e fazer a educação. Nesta categoria incluímos

onze respostas. Dentre elas destacamos:

Fez e fará diferença porque suscitou novas perspectivas de olhar em mim e,

consequentemente, fez com que eu mudasse minha percepção e/ou reforçasse a

mesma diante de meus posicionamentos para pensar a educação (Q7).

Trouxe novos elementos que me permitem uma reflexão mais madura acerca da

educação (Q25).

A terceira categoria levantada foi Acesso e ampliação do conhecimento em

educação constando em oito respostas. Diz respeito ao fato de terem a possibilidade e

oportunidade de acesso ao conhecimento dos autores clássicos e suas obras e,

consequentemente, a ampliação deste conhecimento e mesmo o estímulo de buscarem este

aprofundamento de agora em diante. Como podemos citar em algumas falas:

O trabalho com os autores clássicos nos permitiu ampliar o conhecimento do

pensamento em educação, o que faz muita diferença em nossa formação (Q2).

Pois nos direciona a um determinado caminho, conhecemos as principais ideias dos

autores, agora cabe a cada um se aprofundar nas que tiveram maior interesse

(Q30).

Como quarta categoria Melhor formação humana e docente estão as respostas que

abordam a importância do estudo dos clássicos para sua formação pessoal e profissional,

permitindo uma maior reflexão quanto as ações pedagógicas. Nesta categoria destacaram-se

seis respostas e podemos observá-las nas falas de alguns alunos:

Com um panorama dos autores é possível fazer escolhas de que autor ler mais

profundamente e ampliar conhecimentos para uma melhor formação – humana e

docente (Q9). Porque são autores que guiam a educação e nos proporciona uma reflexão da

educação atual e da nossa postura como educador (Q18).

A terceira questão do questionário trazia alternativas a respeito do conhecimento dos

clássicos e pedia aos alunos assinalarem aquelas que considerassem mais ligadas ao seu

aprendizado, podendo ser apontadas quantas alternativas considerassem pertinentes.

A seguir, no gráfico 1 temos as alternativas propostas e o número de respostas a elas:

Gráfico 1 - Alternativas sobre

Notamos que um número significativo de alunos (27) acredi

trabalhadas despertou interesse em conhecer melhor os

Outra resposta bastante citada foi

muito relevante (26). Em terceiro lugar empatadas com o mesmo número de respostas,

aparecem: “Gostaria de conhecer outros clássicos”

respostas em cada uma delas)

Na quarta questão

livro “Por que ler os Clássicos

clássicos. Utilizamos suas

considerassem verdadeiras para eles. O gráfico

0

5

10

15

20

25

30

Alternativas sobre conhecimento dos clássicos.

Notamos que um número significativo de alunos (27) acredita que conhecer

interesse em conhecer melhor os próprios autores

utra resposta bastante citada foi a de que os clássicos lhes trouxeram conhecimento cultural

muito relevante (26). Em terceiro lugar empatadas com o mesmo número de respostas,

Gostaria de conhecer outros clássicos” e “Mudou minha visão de educação”

respostas em cada uma delas).

tão do questionário apresentamos as afirmativa

livro “Por que ler os Clássicos” sobre as razões que estimulam as pessoas a ler livros

suas seis citações e solicitamos que os alunos assinalassem as que

considerassem verdadeiras para eles. O gráfico 2 representa os resultados de

2726

20 20

8

1

O Conhecimento dos Clássicos...

que conhecer as obras

autores e suas demais obras.

cos lhes trouxeram conhecimento cultural

muito relevante (26). Em terceiro lugar empatadas com o mesmo número de respostas,

Mudou minha visão de educação”(20

afirmativas de Ítalo Calvino no

que estimulam as pessoas a ler livros

seis citações e solicitamos que os alunos assinalassem as que

os resultados desta questão.

Alunos

Gráfico 2: Razões assinaladas pelos alunos para se ler os Clássicos

Observamos que a

formativas que dão significado às experiências futuras”

leitura dos mesmos para a formação docente e

pedagógica.

Em seguida, com vinte

“Deixam sementes”. Para

conhecimentos e a condição de ter

observar em algumas falas dos

Penso sementes como esperanças. Conhecer os clássicos me deixa a sensação de

que ainda é possível se chegar a uma educação de qualidade no Brasil

O conhecimento dos clássicos deixou sementes no sentido de contribuir para a

formação, e estar

será possível abrir mais os pensamentos e horizontes em futuros trabalhos; na ânsia

de se buscar diferentes conhecimentos, diferentes significações

Percebemos que a leitura dos

possibilitar-lhes uma formação docente que permite entender melhor sua sociedade e a de

seus futuros alunos, por meio de reflexão, de bases teóricas e suporte para uma apreciação

mais crítica e consciente do mundo.

29

0

5

10

15

20

25

30

35

“São leituras formativas

que dão significado

às experiências

futuras”

“Deixam sementes”

: Razões assinaladas pelos alunos para se ler os Clássicos

que a grande maioria dos alunos acredita que os clássicos “São leituras

formativas que dão significado às experiências futuras”, considerando

a formação docente e consequentemente para a reflexão e ação

vinte e seis das respostas os alunos assinalaram

. Para eles, os clássicos despertam o interesse em aprofundar os

condição de ter uma formação e atuação de qualidade

algumas falas dos alunos:

Penso sementes como esperanças. Conhecer os clássicos me deixa a sensação de

que ainda é possível se chegar a uma educação de qualidade no Brasil

O conhecimento dos clássicos deixou sementes no sentido de contribuir para a

formação, e estar presente e pautar ações futuras. No sentido de que a partir dele,

será possível abrir mais os pensamentos e horizontes em futuros trabalhos; na ânsia

de se buscar diferentes conhecimentos, diferentes significações

ercebemos que a leitura dos clássicos foi considerada importante pelos alunos por

lhes uma formação docente que permite entender melhor sua sociedade e a de

seus futuros alunos, por meio de reflexão, de bases teóricas e suporte para uma apreciação

te do mundo.

26

20

18

9

7

“Deixam sementes”

“Fornecem termos de

comparação”

“São leituras que devem

ser revisadas de tempo em

tempo”

“Fornecem modelos”

“Fornecem escalas de valores”

Razões para se ler os clássicos...

que os clássicos “São leituras

considerando a contribuição da

para a reflexão e ação

os alunos assinalaram que os clássicos

o interesse em aprofundar os

de qualidade, como podemos

Penso sementes como esperanças. Conhecer os clássicos me deixa a sensação de

que ainda é possível se chegar a uma educação de qualidade no Brasil (Q6).

O conhecimento dos clássicos deixou sementes no sentido de contribuir para a

presente e pautar ações futuras. No sentido de que a partir dele,

será possível abrir mais os pensamentos e horizontes em futuros trabalhos; na ânsia

de se buscar diferentes conhecimentos, diferentes significações (Q8).

clássicos foi considerada importante pelos alunos por

lhes uma formação docente que permite entender melhor sua sociedade e a de

seus futuros alunos, por meio de reflexão, de bases teóricas e suporte para uma apreciação

Alunos

Considerações finais

Os dados da análise nos permitem afirmar que a leitura dos clássicos é um fator de

formação geral e cultural que favorece uma formação mais sólida aos alunos do curso de

pedagogia, dando lhes condições de ações pedagógicas embasadas em conhecimento

conceitual. Além disso, lhes permite conhecer as diferentes influências no âmbito da educação

brasileira, bem como definirem quais as ideias entendem ser as adequadas para o atual

contexto social, cultural e educacional em que vivemos.

Podemos com estes resultados concordar com Almeida (2007, p. 217) quando afirma

que “a educação geral tem como objetivo realizar dois propósitos básicos: auxiliar os

educandos a prepararem-se para o exercício de uma profissão e engendra-los na sociedade

civil e política, como cidadãos”.

A experiência ainda nos baliza a ver que os currículos de universidades estrangeiras

cujas ênfases curriculares tomam o trabalho com os autores clássicos como básico da

formação geral e cultural têm mérito quando o objetivo é favorecer uma formação que dê

suporte conceitual e teórico às atividades profissionais e preparação para atuarem de forma

significativa na sociedade.

Os clássicos se revelaram um meio dos alunos se prepararem para atividades docentes

que favoreçam aos seus futuros alunos um melhor processo de ensino e aprendizagem, uma

vez que estão de posse de conhecimentos que lhes permite reflexões sobre cada ato

educacional.

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