Formação política e movimentos sociais: o curso Realidade ... · formação política voltado...
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Anais do V Simpósio Internacional Lutas Sociais na América Latina “Revoluções nas Américas: passado, presente e futuro”
ISSN 2177-9503 10 a 13/09/2013
GT 5. Lutas sociais urbanas 79
GT 5. Lutas sociais urbanas
Formação política e movimentos sociais: o curso Realidade Brasileira como instrumento de resistência e luta
Georgia Kessia Cavalcanti da Silva*
Maria José Marcelino da Silva**
Resumo: O trabalho ora apresentado resulta do projeto de extensão intitulado “Analisando a Realidade Brasileira: educação popular com movimentos sociais”, realizado no período de maio de 2012 a maio de 2013, na Universidade Federal da Paraíba (UFPB). O projeto, vinculado ao departamento do curso de Serviço Social da UFPB, foi planejado e executado por uma comissão política pedagógica composta por professores e alunos do curso de Serviço Social, Direito, Pedagogia e Ciências Sociais. Trata-se de um curso de formação política voltado para educadores populares e lideranças de movimentos sociais. Alia um estudo teórico e prático sobre a formação histórica, econômica e social do Brasil, fundamentado sobre as obras de pensadores sociais brasileiros, como: Florestan Fernandes, Caio Prado Jr., Celso Furtado, entre outros. Constitui-se como instrumento político entre a universidade pública e os movimentos sociais, capaz de intervir através de ações concretas na transformação da realidade social. Palavras-chave: Formação Política; movimentos sociais; extensão universitária; Serviço Social; pensamento social brasileiro.
Introdução
Diferente da pobreza existente antes do capitalismo, que embora também mantivesse
suas bases determinada socialmente pela divisão de classes, mas antes se devia
principalmente ao baixo desenvolvimento das forças produtivas (ligada a um quadro geral de
escassez), datada desde o século XIX a atualidade é a sua generalização acentuada – o
pauperismo – produzida nos marcos das mesmas condições que supunha a sua redução ou
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mesmo a supressão (revolução industrial) que denota o grau da desigualdade mundial, onde a
produção é socialmente produzida, mas o seu lucro é privado e apropriado indevidamente.
Segundo Dias, (2005, p. 153), “A desigualdade social é uma condição na qual os
membros de uma sociedade possuem quantias diferentes de riqueza, prestígio ou poder, onde
toda sociedade é caracterizada por algum grau de desigualdade social”. Trata-se aqui das
circunstâncias sobre as quais se inscrevem as relações de uma determinada sociedade.
Em todas as épocas da humanidade (escravismo, feudalismo e capitalismo) sempre
houvera algum tipo de desigualdade, porém, construída ao longo dos últimos 500 anos
(mesmo período de desenvolvimento da economia mundial), essa situação de extrema
desigualdade relaciona-se intimamente com o período do colonialismo, que por sua vez teve
as suas bases assentadas sobre a escravidão, a servidão e a exploração subumana, ou seja,
essencialmente nenhuma diferença, apenas modos mais sofisticados de dominação. É por essa
razão primária que os países considerados hoje em desenvolvimento estiveram, e permanecem
submetidos às imposições dos países desenvolvidos. Assinale aqui a América Latina e o
Brasil – celeiros do mundo. Países que mantém profunda dependência comercial, tecnológica,
financeira e política.
Sendo assim, é através de algumas questões objetivas, quais sejam, a ocasião das
novas tecnologias, da globalização e da intensificação das mudanças provocadas pela
revolução científico-tecnológica no modo de produção que vimos contraditoriamente que,
embora estejamos vivendo num período de grande produtividade agrícola e na produção de
alimentos, as populações de países com um PIB (Produto Interno Bruto) consideravelmente
alto vivem na miséria por causa de um repasse que nunca chega aos grupos menos
favorecidos. Em outras palavras, á má distribuição de renda é um problema presente em
várias nações, que por sua vez impede consciente e determinadamente a constituição de uma
sociedade igualitária onde se estabeleça as condições para a almejada equidade social, dando
origem à questão social, e aos seus desdobramentos sociopolíticos. Assim é que as lutas de
classe são ineliminavelmente constitutivas da questão social, que a seu turno, através da
classe trabalhadora e da luta popular passou a exigir a formulação de políticas sociais que
visem atender ou mesmo minorar, o sofrimento dos mais pobres.
Luta popular: Formação política e movimentos sociais.
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A ideia da luta popular deve ser gestada e maturada com base em pressupostos de ação
conjunta: coerente com um movimento que venha a funcionar como um corpo vivo –
orgânico – e que tenha como meta principal a compreensão das características, os desafios e
limites do movimento popular. Nas palavras de Peloso:
A luta popular não é um evento que nasce grande. Ao contrário: uma luta que nasce
monstra tende a morrer, assim como a luta que não cresce, tende a desaparecer. A
luta como uma fonte de água, no processo, precisa virar riacho, tornar-se rio e
chegar ao mar. A experiência local deve irradiar-se e alcançar a dimensão nacional e
até internacional. Por isso, a luta popular que tem como horizonte a transformação
prioriza a parte, como ponto de partida, porque seu objetivo é a inclusão do todo,
como ponto de chegada. Uma luta popular torna-se referência por sua
exemplaridade, quer dizer, quando é capaz de universalizar-se. É nessa irradiação
que a luta popular articula os resultados quantitativos e qualitativos, a eficiência e a
eficácia, a dimensão econômica e a dimensão política. Nesse aprendizado ela se
multiplica e se reproduz, em recriação constante, conforme os tempos e culturas.
Esse processo produz impacto na realidade, influencia o contexto e cria a força
própria de um Movimento (PELOSO,2012, p.1).
Assim, podemos inferir o quão importante faz-se justa e necessária à adoção de certa
organicidade à formação política da população e dos segmentos que visam à integração de
uma agenda política reivindicatória no seio dos movimentos sociais, em face dos reclamos da
classe trabalhadora em contraposição ao acirramento e desdobramentos da questão social
perante o Estado. Nesse sentido, “a capacidade que tem um Movimento de fazer com que as
ideias, discussões e orientações comuns percorram e se articulem em todo o corpo da
organização, de forma permanente” (PELOSO, 2012, p.1), de modo tal que ao mesmo tempo
em que possibilite uma determinada autonomia, mantenha a unidade de pensamento e ação,
além de sua capacidade de autoreprodução.
No entanto “esse tipo de organicidade só alcança sua finalidade quando favorece
espaços de debate e cria instâncias horizontais de decisão coletiva, combinadas com
mecanismos de comando”. (PELOSO 2012, p.1). Ou seja, insurgir a força de um povo
consciente, organizado, atuante e mobilizado implica, sob essa acepção, compreender que
para a conquista de espaços que permitam sua ascensão é preciso uma direção política e
ideológica.
Destarte, é sob essa perspectiva que, dentre os vários problemas sócio histórico que
conformaram o espaço geopolítico e econômico da realidade brasileira, qual seja o sentido da
colonização no Brasil, o peso do escravismo e o desenvolvimento desigual e combinado
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(Behring;Boschetti, 2007:72): a subordinação, a opressão, a violação dos direitos ou mesmo a
sua negação comum a classe trabalhadora, onde:
Na verdade, o liberalismo é filtrado pelas elites nativas por meio de uma lente
singular: a equidade configura-se como emancipação das classes dominantes e
realização de um certo status desfrutado por elas, ou seja, sem a incorporação das
massas; na visão de soberania, supõe-se que há uma interdependência vantajosa
entre nações, numa perspectiva passiva e complacente na relação com o capital
internacional; o Estado é visto como meio de internalizar os centros de decisão
política e de institucionalizar o predomínio da elites nativas dominantes, numa forte
confusão entre público e privado. (Behring;Boschetti, 2007:73)
Bem como, aos desdobramentos da questão social que atualmente ultrapassa a esfera
material e econômica da reprodução da vida social, e se resvala no âmbito da discriminação
generalizada, quer seja de gênero, sexual e étnica, que os movimentos sociais e as mais
diversas organizações não governamentais intentam dar conta desta complexa rede de
agressões e danos contra os princípios da igualdade (ver Constituição Federal de 1988: art. 5º,
caput.), onde se estabeleça as condições para a almejada equidade social, questionando e
combatendo-as. Uma organização política capaz de despertar e conduzir o povo no intuito de
transformar a realidade.
Portanto, é dentro desse contexto que surge o CRB: Curso da Realidade Brasileira;
Educação Popular com movimentos Sociais. Ou seja, da percepção da necessidade de se
retomar a formação de militantes de forma mais sistemática e criteriosa, “investindo na sua
qualificação política, técnica e cultural para atuar em qualquer lugar ou conjuntura e sob
quaisquer condições”. (PELOSO 2012, p.1), para pensar o Brasil e o Projeto Popular.
Uma experiência seminal de educação popular que congrega movimentos sociais e a
universidade aponta oportunamente para a construção de uma nova história e de um projeto
popular para o Brasil. Ou melhor dizendo: a história do Brasil precisa ser reescrita, de modo
que possamos concretamente discutir a viabilidade do Brasil nação; seus limites, desvios, e
equívocos, visando a superação da conformação histórica social, cultural e econômica do seu
povo, submetido aos interesses do capital - culturalmente sustentável e circunscrito sob a
ideologia e contradições do capital-trabalho. Enfim, repensar o Brasil e a organização popular.
Dessa maneira, o CRB é um espaço de formação que cumpre uma função social
voltado aos interesses dos movimentos sociais (e que ultrapassam os do agente) para entender
a realidade social brasileira em seus aspectos político, econômico e sócio cultural, para a
qualificação das lutas. Logo, “a finalidade da organização é despertar e juntar a parte do povo
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que se dispõe a entrar no processo de luta, organizar uma base social, elevar seu nível de
consciência e mobilizar o conjunto da classe visando alcançar seus objetivos imediatos e
interesses históricos.” (PELOSO, 2012, p.3). Posto isso, todo o arcabouço teórico é composto
e selecionado a partir do estudo de obras sobre o pensamento social brasileiro; tanto de
pensadores brasileiros, como latino-americanos, que se dedicaram a compreensão das
especificidades da nossa realidade local – um país historicamente explorado sob os ditames
do capital e as regulações econômicas da ordem mundial, em que ainda persistem intensas
desigualdades sociais – numa perspectiva de e para uma educação popular.
Educação Popular
Numa acepção própria destas palavras: educação e popular, podemos,
respectivamente, começar pensando de uma sobre; o princípio comunicativo utilizado pelas
sociedades para desenvolver no indivíduo a consciência, a partir da sua interação com a
realidade, e das suas potencialidades de dar significado e interpretação a ela à construção de
um conhecimento que favoreça o desenvolvimento de um raciocínio comportamental e
disciplinar, na sua individualidade, diante de um grupo social e no meio em que vive, e da
outra; aquilo que é próprio do povo, ao mesmo tempo em que é agradável a ele, onde além de
autor, o povo é difusor. Portanto, diferente da univocidade dos termos, ou mesmo da ditadura
semântica das palavras, o que ora pretendemos é dar-lhe uma lupa para nos distanciarmos das
compreensões comuns, pois em sendo a educação uma das principais instituições básicas
entre povos e sociedades, não podemos admiti-la como mera transmissão de conhecimento e
cultura, destinada ao povo, ou pré-fabricado para a massa, muito menos como um simples
processo de assimilação para um receptor passivo. Para além destas considerações, a
educação popular aqui se trata de um processo de reconhecimento, interpretação,
questionamento e ponderações, que pode e deve renovar-se continuamente. Assim,
substantivo e adjetivo se complementam e se confundem numa fusão que pode ser
compreendida entre comportamento e ação numa proposta capaz de criar e desenvolver
condições para que indivíduos e grupos se apropriem do patrimônio cultural de uma
civilização, tornando-os capazes de transforma-los. Essencialmente, precisam estar
conectados para se alimentarem mutuamente tendo em vista que para o sucesso ao que se
pretende de um movimento social exige-lhes a complementaridade que lhe é fundamental.
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Análogo a este princípio e sob uma perspectiva didática, dessemelhante ao tipo de
educação que educa para a resignação, inferioridade, e subserviência, partindo de autores
substanciais como Darcy Ribeiro (O povo brasileiro: a formação e o sentido do Brasil.), Caio
Prado Jr. (a nacionalização do marxismo no Brasil) Celso Furtado (O capitalismo global),
Florestan Fernandes (Pensando com Florestan Fernandes, o que é revolução?), Paulo Freire
(Educação como prática da liberdade), ademais Marx e Engels (O Manifesto comunista), o
CRB busca debater, facilitar e trabalhar os temas que traduzem o Brasil de fato,
respectivamente; a formação do seu povo; a formação econômica; classes sociais e
transformação social; opressão; conceitos fundamentais para análise desta realidade; Dentre
outros temas como gênero e sexualidade; questão agrária e conjuntura, desde a sua
colonização, até os dias atuais, circunscritos e determinados por ocasião do capitalismo,
donde ao final de cada etapa todo o grupo saía com uma agenda concreta de ações e
manifestações de lutas que serão realizadas nacional e regionalmente. Ou seja, a sua proposta
baseia-se na práxis direcionada e na efetiva transformação do homem, da sociedade e do
Estado: na lucidez, decisão, compromisso, união e solidariedade, com vistas à construção de
um projeto popular para o Brasil.
Dito de outra maneira, as etapas do curso consistirão de temas interdisciplinares sob o
método da educação popular, que a seu turno, entendemos que seja um conjunto de elementos
teóricos que fundamentam ações educativas, relacionadas entre si, e ordenados segundo
princípios e experiências que, por sua vez, formam um todo ou uma unidade. Mesmo
expressando uma unidade, contudo, é um sistema aberto que relaciona ambiente de
aprendizagem e sociedade, a educação e o popular, e de trabalho educacional detentor de uma
filosofia que, por sua vez, pressupõe uma teoria do conhecimento, metodologias dessa
produção de conhecimento, conteúdos e técnicas de avaliações processuais, sustentadas por
uma base política. Uma teoria de conhecimento que se externa pela busca de conhecimento
que caminha no sentido do fazer história. Segundo Paulo Freire “também se faz história
quando, ao surgirem os novos temas, ao se buscarem valores inéditos, o homem sugere uma
nova formulação, uma mudança na maneira de atuar, nas atitudes e nos comportamentos”
(FREIRE, 1984.).
Portanto, numa autêntica proposta de educação popular, o CRB combina educação, o
popular, metodologia e democracia, nas palavras de Rodrigues (2001, p.286):
Professores e líderes comportam-se coerentemente conforme a compreensão de que
as pessoas, frequentando a escola, as classes, a sede do sindicato e outras quaisquer
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organizações, não são súditos ou subalternos seus, porque toda autoridade legítima e
democrática é que é súdita e subalterna do povo. Educador popular é aquele que
serve ao grupo, unindo seus integrantes na solidariedade e ajuda mútua, jamais
fomentando entre eles a competição e a hostilidade; fazendo com que todos
desenvolvam o conhecimento, na troca contínua de informações relevantes;
robustecendo-lhe a autonomia.
No mais, pode-se inferir que o modus operandi do CRB do ponto de vista da análise
da educação como uma instituição básica da superestrutura, em oposição a infra-estrutura -
modeladora da primeira - tem a pretensão e por objetivo disseminar conhecimento,
multiplicar informações e capacitar militantes, estudantes e cidadãos a fim de superação desta
condicionalidade, com o sério propósito educativo à construção de novos processos e
comportamentos, através da relação quadro-massa, bem como, ao papel que o indivíduo pode
imprimir no processo de tecitura da história.
Da relação quadro-massa
Na concepção popular, a relação quadro e massa são apreendidas como órgãos
distintos que contribuem para a mesma causa e objetivos. De acordo com Peloso (2012, p. 4),
O modelo orgânico popular incorpora o conceito de Quadro e de Massa enquanto
divisão de papéis e relação de poder. Quadro significa maior qualificação politica
(tem uma utopia, análise da realidade, elaboração estratégica, condução política,
capacidade de formular propostas de mudança...). Só se entende quadro político
como parte da organização e destaca-se por seu reconhecimento e compromisso. A
massa significa o conjunto da classe que trabalha, é a quantidade que, em geral, tem
um baixo nível de consciência e de elaboração política e se move pela necessidade
do cotidiano.
À vista disso a experiência do CRB ocorre em todo país coordenada por organizações
populares ligadas ao campo de esquerda no âmbito político. O primeiro CRB do Brasil
ocorreu em 2001, na cidade mineira de Juiz de Fora, numa parceria entre o Movimento
Consulta Popular, MST, e a Universidade Federal de Juiz de Fora/UFJF, onde aglutinou mais
de 100 militantes do Brasil inteiro das mais diversas e diferentes organizações.
O sucesso deste primeiro curso estimulou a organização de novas turmas em cursos
regionais e ou estaduais, em todo Brasil, algumas delas sob a condição de curso de Extensão
pela Universidade Pública Federal.
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Na Paraíba, já vivenciamos a realização de três turmas, sendo a primeira em 2002, a
segunda em 2006 e a terceira entre parte de 2010, 2011 e março de 2012. Esta última
assumiu o desafio de os integrantes (comissão política pedagógica), e parte dos cursistas que
se integraram a comissão, tornarem-se multiplicadores do CRB nas três regiões do Estado
(Litoral, Borborema e Sertão) somando forças no mutirão que busca entender e transformar
nossa realidade.
Foi assim que o presente curso - leia-se: 1º CRB LITORAL 2012 foi viabilizado
enquanto curso de Extensão pela Universidade Federal da Paraiba/UFPB, no departamento de
serviço social, em parceria com o Centro Luiz Carlos Prestes de Estudos Sociais – CEMPRE,
e o Movimento Consulta Popular, cumprindo regiamente com o projeto a que se destina; onde
para além da formação, arregimenta, dissemina, fomenta e, prepara o indivíduo, o grupo e a
sociedade para a resistência e luta. Senão vejamos.
Esse projeto abrange dois espaços metodológicos:
1 – Um espaço de estudo da realidade brasileira a partir de autores brasileiros,
organizados nos moldes de um curso preparado para a formação de representantes de
movimentos sociais e organizações de cunho popular;
2- Um espaço de organização interna, reunindo a comissão executora para a discussão
periódica do andamento do projeto (CPP/Extensionistas/Parceiros): aperfeiçoamento,
metodologia, elaboração material, formação teórica e subsídios para a produção de artigos e
materiais didáticos na área dos pensadores brasileiros.
Cada educando é inserido num grupo o qual denominamos de núcleos de base – a base
de sustentação do CRB. Nele os participantes exercem as atividades e tarefas didáticas
pedagógicas que garantem sua realização, além de ser um espaço de discussão e organização
do curso. Cada núcleo terá um/a coordenador e um/a relator; um para coletar e registrar, e o
outro para garantir o cumprimento dos objetivos de cada momento das etapas, além da
socialização dos estudos do seu grupo. Estes por sua vez serão feitos a partir dos textos pré-
selecionados, segundo a indicação bibliográfica para aquele módulo, com aulas expositivas,
dialógica e sobre tudo discutidas. O curso é organizado por módulos mensais, totalizando 08
módulos ao final do projeto.
Quanto à avaliação, ao término do curso cada educando deverá apresentar um trabalho
de conclusão de curso, a partir de um tema/questão da realidade atual, escolhido pelo mesmo,
e fundamentado nos autores/as estudados.
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No 1º CRB LITORAL 2012 fizeram-se presentes inúmeros representantes de diversos
movimentos sociais da Paraíba (Desentoca, Marcha Mundial das Mulheres, Movimento do
Espírito Lilás, Movimento dos Trabalhadores Desempregados, Movimento dos Trabalhadores
Rurais Sem Terra, Movimento dos Atingidos por Barragens, Movimento Levante, Levante
Popular da Juventude, Núcleo de Extensão Popular Flor de Mandacaru, Pastoral da Juventude
do Meio Popular, Rede de Educação Cidadã, Sindicato dos Trabalhadores/as da Extensão
Rural, entre outros). Com base na premissa de que através da formação destas lideranças o
CRB atingirá o movimento a cada qual participante do curso representa, segue abaixo
conforme as tabelas 1 e 2, o número estimado em detrimento do número real alcançado.
Tabela 1 –
Nº ESTIMADO DE PÚBLICO: 1435
Público - Alvo A B C D E Total
Instituições Governamentais Federais 20 500 20 5 545
Instituições Governamentais Estaduais 5 30 35
Instituições Governamentais Municipais 5 50 55
Organizações de Iniciativa Privada 500 500
Movimentos Sociais 0
Organizações Não-Governamentais
(ONGs/OSCIPs) 200 200
Organizações Sindicais 50 50
Grupos Comunitários 50 50
Total Geral 530 580 20 5 300 1435
Tabela 2 –
Nº REAL ESTIMADO DE PÚBLICO ALCANÇADO: 3345*
Público - Alvo A B C D E Total
Instituições Governamentais Federais 20 700 20 1 741
Instituições Governamentais Estaduais 1 1
Instituições Governamentais Municipais 2 2
Organizações de Iniciativa Privada 0
Movimento dos Atingidos por Barragens - 100 100
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MAB
Frente Paraibana em defesa da Terra, dos
Povos e das Águas do Nordeste 100 100
Consulta Popular 100 100
Comissão Pastoral da Terra – CPT 100 100
Movimento dos Sem Terra - MST 100 100
Grupo de Mulheres Lésbicas Maria Quiteria 100 100
Levante Popular da Juventude 100 100
Movimento dos Trabalhadores
Desempregados – MTD 100 100
Movimento do Espírito Lilás – MEL 100 100
Sindicato dos Trabalhadores Rurais 100 100
Rede Nacional de Advogados Populares/PB 100 100
Movimentos dos Pequenos Agricultores –
MPA 100 100
Fórum Estadual em Defesa do SUS e Contra
as Privatizações 100 100
Fórum Estadual LGBT 100 100
CRESS/PB 100 100
Centro de Referencia e Direitos Humanos da
UFPB 100 100
União da Juventude Comunista 100 100
Movimento Estudantil 100 100
ADUF/PB 100 100
Sindicato das Trabalhadoras Domesticas 100 100
Desentoca 100 100
Marcha Mundial das Mulheres 100 100
Assembléia Popular na Paraíba 100 100
Núcleo de extensão Popular Flor de
Mandacaru 100 100
Organizações Não-Governamentais
(ONGs/OSCIPs) 200 200
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Organizações Sindicais 1 1
Grupos Comunitários 0
Total Geral 22 700 20 2 2601 3345
*O número real estimado foi determinado a partir da presença real concreta de representantes que participaram do 1º CRB LITORAL 2012,
levando-nos a projeção do número a ser alcançado, enquanto multiplicadores, em suas áreas de atuação junto à sociedade e perante os seus
integrantes, por parte dos mesmos.
Portanto, fazendo um contraponto com o pensamento de Peloso (2012, p. 6) onde:
O pressuposto essencial para a existência de um quadro no Movimento popular é a
convicção de que a revolução é uma ação das massas e que a força real que dá corpo
a uma organização, são os grupos de base conscientes e organizados. A relação
quadro-massa é buscada quando existe uma cumplicidade e complementariedade,
porque ambos são indispensáveis na mesma organização. O quadro existe dentro de
uma direção coletiva e se orienta por uma ideologia, um projeto, uma estratégia,
uma organização e pela prática do convencimento, paciente e revolucionário. Um
quadro, dentro dos limites humanos, se distingue por seu amor ao povo, sua clareza
do rumo, seu profissionalismo, sua capacidade de repartir o poder e seu tino em
fazer propostas justas. ** “Em vez de colocar-se acima do povo, a militância deve
penetrar profundamente no seio das massas, despertá-las, contribuir para elevar sua
consciência política... É preciso ajudar cada camarada a compreender que enquanto
estivermos apoiados no povo, e acreditarmos no inesgotável poder criador das
massas populares, confiar no povo e nos identificar com ele, poderemos vencer as
dificuldades...” (**) Mao Tse Tung.
O CRB se apresenta como forte instrumento político pedagógico, de resistência, luta e
emancipação ideológica. Segundo Freire (1999) "A educação como prática da liberdade, ao
contrário daquela que é a prática da dominação, implica a negação do homem abstrato,
isolado, solto, desligado do mundo, assim também a negação do mundo como uma realidade
ausente dos homens”. Ao total, desde 2001, aconteceram mais de cinquenta cursos.
Considerações Finais
Com esta publicação pretendemos levar ao público a importância de se formar
lideranças populares, fundamentada em conhecimentos teóricos e político, com competência
para articular forças e construir novas estratégias de fortalecimento das lutas e dos
movimentos sociais em defesa dos interesses das classes trabalhadoras. Principalmente se
pensarmos nos rumos que as políticas públicas e sociais - dentro da lógica neoliberal do
processo de contra reforma do Estado - vêm seguindo, desde os anos de 1990 até os dias
atuais, ignorando os pactos sociais e os mecanismos democráticos redirecionando as
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conquistas inscritas na Constituição de 1988 a favor do crescimento econômico em
detrimento do social. Isso significa corte para as políticas sociais nas áreas da saúde,
educação, aposentadoria e seguro desemprego. Nesse sentido a implantação da política social
tem se dado ao longo do tempo como um mecanismo compensatório, que atingem apenas
alguns setores da população (os mais pobres entre os pobres), ferindo o princípio
constitucional da política de abrangência universal e o do direito de todo cidadão.
Os movimentos sociais se constituíram em elementos de grande importância na história das
conquistas sociais no Brasil e vêm desde seu surgimento ganhando novos integrantes. Assim
como o CRB, nascido e gestado da iniciativa popular, motivado pelas mazelas a que são
submetidos e condicionados em virtude da dialética capita/trabalho. E foi através do projeto
de extensão: Analisando a Realidade Brasileira: educação popular com movimentos sociais,
que pudemos enquanto graduandos/as e extensionistas do curso de Serviço Social, ter um
contato direto com o universo de lutas comuns a classe trabalhadora de cada um dos
movimentos sociais e organizações populares, presentes no nosso Estado e outras localidades.
Neste contexto, a mobilização dos homens e mulheres, através da universidade se constitui
como forma de atenção do Estado aos segmentos excluídos. Por isso, o projeto em tela faz-se
necessário e desafiador não somente as estudantes, mas todos que dele tomam parte.
Academicamente, o projeto possibilita o contato com o público fora da unidade acadêmica, de
modo a permitir um processo de formação continuada entre os estudantes e os atores
sociais. Como Também, enquanto prestação de serviço de responsabilidade ética e social da
universidade, através de seus discentes, docentes e técnicos, para com a comunidade em geral.
Compreendendo que é indiscutível no exercício da profissão o compromisso ético,
político e profissional com a sociedade para a ampliação e fortalecimento da cidadania;
contribuindo para a defesa e garantia dos direitos sociais, expressos no Código de Ética
Profissional, na Lei de Regulamentação da Profissão e nas Diretrizes Curriculares da
ABEPSS em 1996, principalmente se pensarmos no Serviço Social enquanto profissão
inserida no âmbito das desigualdades sociais, representadas pelas expressões multifacetadas
da questão social, afuniladas pelas contradições econômicas e sociais presentes na sociedade
brasileira é que se torna imprescindível essa aproximação com as mais diversas realidades dos
movimentos sociais e outras organizações populares.
Lutar por um governo democrático-popular é um direito e dever de toda sociedade. É
somente com a organização das camadas populares que conseguiremos avançar e disputarmos
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os espaços por um projeto de sociedade. Nas palavras de Behring (2011, p.198), explorar as
contradições é disputar espaços e lutar por hegemonia, é buscar construir a contra hegemonia.
Bibliografia
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