FORMAÇÃO PROFISSIONAL EM SAÚDE Educação a Distância ... · um pouco da história;...

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Nº 6 ! Jan/Fev de 2003 Av. Brasil 4036/515, Manguinhos Rio de Janeiro, RJ ! 21040-361 FORMAÇÃO PROFISSIONAL EM SAÚDE Educação a Distância: estratégia importante para a formação permanente POLÍTICAS DE SAÚDE Mudanças no Ministério indicam novos rumos para o setor ENTREVISTA Sílvio Mendes, presidente do Conasems

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N º 6 ! Jan/Fev d e 2 0 0 3

Av. Brasil 4036/515, ManguinhosRio de Janeiro, RJ ! 21040-361

FORMAÇÃO PROFISSIONAL EM SAÚDE

Educação a Distância:estratégia importante paraa formação permanente

POLÍTICAS DE SAÚDEMudanças no Ministério indicamnovos rumos para o setor

ENTREVISTASílvio Mendes, presidentedo Conasems

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“Vitória” foi o título do Jornal Proposta de outubrode 1988 sobre a aprovação do texto da Saúde na

nova Constituição. Esse foi o momento mais marcantepara a Saúde no Brasil, e de maior entusiasmo para oRadis. Naquela edição, foi publicado o texto na íntegrae ouvimos autoridades, técnicos e lideranças sobre saú-de, seguridade social, ciência e tecnologia, educaçãoe meio ambiente, indústria farmacêutica e reforma agrá-ria. Como não poderia ser diferente, o Jornal Propos-ta, ao longo de seus oito anos de existência, conti-nuou acompanhando as mudanças na área da Saúde.Em janeiro de 1990, a matéria ‘Nova Lei assegura avan-ços, mas adia descentralização’ noticiava a aprovaçãodo projeto de Lei Orgânica da Saúde que extinguia oInamps, dando lugar ao Sistema Único de Saúde. Emabril de 1993, o Proposta publicava com muito humor atirinha ‘Quinino’, em que o personagem reclama que“o Brasil nunca que fica pronto”. Hoje, dez anos de-pois, nós aqui no Radis já estamos achando que é assimmesmo, que o jeito é o Brasil construir-se a cada dia. Enunca ficar pronto!

Em 1988, o Jornal Proposta publicavao texto da Saúde na Constituição

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Memória 2

! O jornal Proposta e a Saúde naConstituinte

Editorial 3

! Um abraço

Caco 3

Cartas 4

IV Congresso Interno da Fiocruz 4

! Funcionários discutem futuro daFiocruz

Súmula da Imprensa 5

Hanseníase 7

! Políticas de combatem surtemefeito

Tema EspecialFormação Profissional 8

! Educação a Distância: Caminhan-do entre a fobia e o fetiche

! Os principais conceitos da EaD;um pouco da história; legislação; apedagogia na EaD e a EaD naformação em saúde

Entrevista: Sílvio Mendes Filho 16

! Presidente do Conasems falasobre a implantação do SUS nosmunicípios, analisa aspectos daNoas e discute o papel do controlesocial.

Serviços 18

Pós-Tudo 19

! Pedra nos rins II: A volta do‘Sobrenatural de Alemida’

Ora, Pílulas... 19

Nº 6 — Janeiro/Fevereiro de 2003

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Capa: Aristides DutraAgradecimentos a Justa Helena Franco eFábio Cataldo

Oano começou com mudanças, comoera de se esperar: mudanças de es-

trutura administrativa no Ministério daSaúde, com a extinção de algumas secreta-rias e criação de outras, e mudanças deprioridades nas ações governamentais.Mudança de estilo e forma. A macro-políticaparece estar mudando, ao menos estrutu-ralmente. No entanto, não é só a essas mu-danças que nós, no Radis, costumamos pres-tar atenção. A História não é feita apenasdos “grandes feitos das superpotências”,como preconizava o grande historiador ale-mão do Século XIX, Leopold von Ranke.

Nesse momento, nossos olhos desvi-am-se das tribunas oficiais e institucionaise voltam-se para uma outra direção, natentativa de compreender o que faz comque pessoas enfrentem ônibus lotados edias de estrada, ou embarquem em aviões,endividando-se para pagar a passagem nocartão de crédito, ou subam no lombo deum jegue para ir a Brasília assistir à possede um presidente eleito. O que é que moveessas pessoas a brandirem bandeiras, aocuparem os gramados da cidade-cerra-do, a derramarem lágrimas de emoção acada palavra e breve aceno do novo presi-dente? Será o novo presidente a causa detudo isso? Serão os novos nomes docolegiado de ministros? Serão as propos-tas de gestão? Aparentemente, sim. Masé só descermos um degrau mais fundo e

Um abraçoencontramos a verdadeira e última causa,e esta não se encontra em nada exteriorao povo, mas em si próprio: a vontade, odesejo irresistível de avançar, de ser me-lhor, de pertencer, de falar, de fazer. Estavontade pode ser fruto de uma comoçãomomentânea, é certo, mas bom será se elafor fruto de uma mudança mais interna epermanente, de uma mudança, digamos,educacional. Será que estamos finalmenteaprendendo? As palavras do sociólogo e edu-cador Pedro Demo, nesta edição da Radis,nos lembram que “conhecer é rebelar-se” eque há muitas maneiras de aprender.

A Saúde é uma das poucas áreas que,desde antes dos preparativos para a Assem-bléia Constituinte, em 1988, vem educandoe sendo educada para continuamente ‘re-belar-se’. O Sistema Único de Saúde é umexemplo dessa formação paciente de “sujei-tos com história própria”, e qualquer umque já tenha estado numa Conferência Na-cional de Saúde sabe disso. Ranke, o histori-ador, dizia que “os tempos felizes da huma-nidade são as páginas vazias da História”. Oanônimo professor que pulou embriagado dealegria nos braços de Lula quando este che-gava ao Planalto no róis-róice oficial repe-tia, em cadeia nacional: “Ele não repeliu meuabraço, ele o retribuiu!”. Mesmo como ex-ceção à regra de Ranke, certamente essafrase feliz já está estampada em página in-teira da História do Brasil.

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RADIS 6 ! JAN/FEV/2003

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REVISTA RADIS

Queremos parabenizar a trupe daRadis, em especial a Daniela

Sophia, pelo educativo e didático ar-tigo Normas Operacionais: O que são?Como funcionam? Publicado na seçãoGestão SUS da edição nº 5 de dezem-bro de 2002.

Acreditamos que o trabalho foiárduo, pois resumir uma produção tãolonga e complexa por suas nuancesnão é uma prática tão simples. A Radisé uma ferramenta fidedigna que po-demos utilizar como meio de sociali-zar informações.

Parabéns,Jean Carlos de Oliveira DantasPM DST/Aids—Catanduva/SP (por e-mail)

RADIS é uma publicação da Fun-dação Oswaldo Cruz, editada peloPrograma Radis (Reunião, Análi-se e Difusão de Informação sobreSaúde), da Escola Nacional de Saú-de Pública (Ensp).

Periodicidade: MensalTiragem: 42 mil exemplaresAssinatura: GrátisPresidente da Fiocruz: Paulo BussDiretor da Ensp: Jorge Bermudez

PROGRAMA RADISCoordenador: Rogério Lannes RochaEditor: Caco XavierRedação: Ana Beatriz de Noronha, Daniela Sophia e Katia

Machado (reportagem e redação) e Aristides Dutra (pro-jeto gráfico)

Administração: Luis Otávio e Vanessa SantosEstudos, Pesquisas e Projetos: Justa Helena Franco (gerên-

cia de projetos), Jorge Ricardo Pereira e Laïs TavaresColaboraram nesta edição: Márcio Bueno (reportagem e

redação), Fábio Cataldo (editoração) e Adriana Losada(bolsista do Programa de Vocação Científica da Fiocruz

EndereçoAv. Brasil, 4036 sala 515Manguinhos, Rio de Janeiro/RJCEP 21040-361Telefone: (21) 3882-9118Fax: (21) 3882-9119

E-Mail: [email protected]

Site: www.ensp.fiocruz.br/publi/radis/prgradis.htm

Impressão e FotolitoEdiouro Gráfica e Editora SA

expedienteexpedienteexpedienteexpedienteexpediente

Agradeço a toda equipe da radis,pelo envio das publicações peri-

ódicas para a minha residência. Para-benizo pelo seu excelente conteú-do, que me mantém informada sobreas discussões e acontecimentos naárea da Saúde, sendo de grande valianas minhas atividades diárias em Saú-de Pública. Foi também muito bem-vinda a mudança da revista, pois suanova apresentação facilita a leitura.

Atenciosamente,Helyett Coelho Siqueira dos SantosNiterói/RJ (por e-mail)

Parabéns para todos da Equipe daRadis, pelo alto nível da revista.

Como profissional da Rede Públicae atuando em Saúde Pública há vá-rios anos, quando recebo a revistatenho todas as informações neces-sárias para implementação dos meusconhecimentos.

Felicidades para todos. Obriga-da pelo envio desta brilhante fontede informações para minha residên-cia nesses longos anos como assi-nante.

Araildete A Santos (por e-mail)

iv Congresso interno da fiocruziv Congresso interno da fiocruziv Congresso interno da fiocruziv Congresso interno da fiocruziv Congresso interno da fiocruz

Funcionários discutem futuro da Fiocruz

“Ciência, tecnologia e inovaçãopara melhoria da qualidade de

vida” foi o tema do IV Congresso In-terno da Fundação Oswaldo Cruz(Fiocruz), ocorrido em novembro de2002. Durante quatro dias, mais de 300delegados eleitos debateram e vota-ram os caminhos a serem seguidospela Instituição. Segundo o vice-pre-sidente de DesenvolvimentoInstitucional de Comunicação e Infor-mação e coordenador do Congresso,Paulo Gadelha, esse evento represen-ta o momento atual vivido pelas insti-tuições que passam por um períodode reestruturação, no qual redes co-

operativas e a gestão participativa têmum papel importante.

Entre os assuntos debatidos, a am-pliação da produção de vacinas e me-dicamentos, a formação de recursoshumanos para o sistema de saúde, in-formação e comunicação, investimen-tos para o desenvolvimento de novosprodutos biomédicos e a busca de so-luções para os problemas da saúde nasdiferentes regiões brasileiras foram osque receberam maior destaque.

Para Justa Helena, delegada daEnsp, o Congresso representou umagrande chance de os servidores exer-cerem a cidadania.

O Radis adverteO processo democrático fazbem à saúde das instituições ea saúde das instituições fazmuito bem ao cidadão.

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SÚMULA DA IMPRENSASÚMULA DA IMPRENSASÚMULA DA IMPRENSASÚMULA DA IMPRENSASÚMULA DA IMPRENSA

RELATÓRIO MUNDIAL APONTA O BRA-SIL COMO UM DOS MAIS VIOLENTOS DOMUNDO

OBrasil é um dos países mais vio-lentos do mundo. Essa foi a con-

clusão do secretário nacional de Direi-tos Humanos, Paulo Sérgio Pinheiro, aoanalisar o Relatório Mundial sobre vio-lência feito pela Organização Mundialde Saúde (OMS). De acordo com o do-cumento, o Brasil está entre os paísesonde ocorrem mais mortes por homi-cídio ou provocadas por diversos tiposde violência, com 27,7 pessoas mor-tas por cem mil habitantes. Apenas10 países têm números piores que osdo Brasil entre os 80 países analisa-dos. A situação é ainda maispreocupante porque na América Lati-na o Brasil é o terceiro país mais vio-lento, ficando atrás somente da Co-lômbia e de El Salvador. Junto com osdados, o documento apresenta ain-da recomendações da OMS para adiminuição do índice de violência: me-lhorar a coleta de dados e integrarpolíticas de educação e segurança.

MULHERES JÁ SÃO 50% DOS CASOS DE AIDS

Um dos alertas feitos pelo relatórioEpidemic Update, elaborado a

cada dois anos pela Organização dasNações Unidas para o Combate da Aids(Unaids), é que as mulheres já são me-tade dos 38 milhões de casos de adul-tos infectados pelo HIV. Se nada forfeito, 68 milhões de pessoas morrerãonos próximos 20 anos em conseqüên-cia da Aids e 29 milhões serão conta-minadas pelo HIV até 2010. Uma dasprimeiras medidas que devem ser to-madas pelos países é aumentar o in-vestimento no combate à doença eelevar o número de programas de dis-tribuição gratuita de medicamentosantiretrovirais — o coquetel que con-trola a ação do vírus.

MINISTÉRIO LANÇA CAMPANHA PARACONTROLE DE HEPATITE

Foi lançada recentemente, pelo Mi-nistério da Saúde, a Campanha

Educativa Nacional de Prevenção eControle das Hepatites Virais, como objetivo de informar a população

sobre as formas de prevenção e me-lhorar o atendimento aos portadoresda doença. A campanha está sendo re-alizada por meio do credenciamentode centros de referências no trata-mento de hepatites e distribuição defolhetos, cartazes e a cartilha ‘Hepa-tites virais: o Brasil’ para profissionaisde saúde em todo o país. Além disso,foi elaborado um projeto para implan-tação de 25 laboratórios públicos debiologia molecular para exame de he-patite. De acordo com a OrganizaçãoMundial da Saúde (OMS), dois bilhõesde pessoas já estiveram contato como vírus da Hepatite B. No Brasil, a es-timativa é de que 15% da população jáesteve em contato com o vírus da He-patite A e 70% com o da Hepatite B.

INICIATIVA DE DROGAS PARA DOENÇASNEGLIGENCIADAS

Idealizada pela organização MédicoSem Fronteiras (MSF), a DNDI (sigla

em inglês de Iniciativa de Drogas paraDoenças Negligenciadas) tem comoproposta coordenar e incentivar es-tudos sobre as chamadas doenças ne-gligenciadas: malária, mal de chagas,leishmaniose e doença do sono. Porserem típicas de países pobres, essasdoenças não interessam às grandes in-dústrias farmacêuticas e a prova dissoestá nas conclusões de um estudo fei-to por pesquisadores do MSF com 11das 20 maiores indústrias farmacêuti-cas do mundo, mostrando que oitodelas nada gastaram com o desenvolvi-mento de drogas para essas doenças.Para incentivar o desenvolvimento depesquisas por meio de incentivos finan-ceiros, um dos objetivos da DNDI é terum orçamento anual de R$ 12 milhõespor um período de 12 anos.

LANÇADO ATLAS DE MORTALIDADE PORCÂNCER NO BRASIL

Durante o Dia Nacional do Câncer,foi lançado o Atlas de Mortalidade

por Câncer no Brasil (1979-1999) como objetivo de oferecer aos gestoressubsídios para aprofundar programasde prevenção e detecção precoce.O documento mostra não só um au-mento na taxa de risco de morte porneoplasias (que pulou de 40 para 60 acada 100 mil mulheres e de 60 para80 a cada 100 mil homens), mas tam-bém os tipos de câncer que mais pro-vocaram mortes no Brasil (câncer depulmão, próstata, mama, colo do úte-ro, esôfago e de cólon de reto). Deacordo com dados do Instituto Naci-onal do Câncer, as neoplasias são asegunda causa de morte por doençano Brasil atualmente.

28 MILHÕES DE BRASILEIROS VIVEM EMSITUAÇÃO PRECÁRIA

Pelo menos 28 milhões de brasileiros— 16,7% do total — vivem em con-

dições muito precárias: seus domicí-lios não contam com saneamento ade-quado, são chefiados por pessoascom menos de quatro anos de estu-dos e a renda é inferior a dois salári-os mínimos. A situação, conformeconstatou o Censo 2000 do IBGE, é ex-cepcionalmente crítica nos municípi-os menores, com menos de 20 mil ha-bitantes, onde esse índice chega a35,5% do total. As cidades com maisde 500 mil habitantes sofrem menos,já que o índice de domicílios em con-dições precárias é de 4%. A desigual-dade social tem um equivalente na de-sigualdade existente entre as cidades.Dos 5.561 municípios brasileiros, 73,2%têm menos de 20 mil habitantes e con-centram 19,7% da população. O Cen-so constatou também que a quase to-talidade dos 1070 novos municípioscriados na última década — 96,2% —tem menos de 20 mil habitantes. Deacordo com Luiz Antônio de Oliveira,chefe do Departamento de Populaçãoe Indicadores Sociais do IBGE (Depis),“esses municípios acabam se tornan-do absolutamente dependentes dosfundos de participação de estados emunicípios, pois não têm base econô-mica de sustentação”.

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METADE DAS CRIANÇAS BRASILEIRASVIVE NA POBREZA

Se as crianças são o futuro de umanação, o que deve esperar um país

como o Brasil? Segundo dados da pu-blicação ‘Indicadores Sociais Munici-pais, do IBGE’, com base no Censo de2000, quase metade das nossas crian-ças é pobre e vive em famílias sem con-dições de lhes garantir o mínimo, comoalimentação, saúde, educação, lazer ecuidados na primeira infância, fase fun-damental para o desenvolvimento in-fantil. Segundo o pediatra Naylor deOliveira, professor da UFRJ, para essascrianças faltam coisas básicas, comocomida e remédios. As seqüelas ficampara toda a vida, com o comprometi-mento tanto físico quanto mental. NoBrasil, são 48,6% de crianças com atéseis anos de idade vivendo na pobreza.Embora a proporção tenha diminuído— em 1990 eram 60,5% — a situação con-tinua muito grave. A região maispreocupante é o Nordeste, onde astaxas são superiores a 60% em todos osestados — no Maranhão, esse índicechega a 77,4%. Para Ana Lúcia Sabóia,especialista do Departamento de Po-

pulação e Indicadores Sociais do IBGE(Depis), as crianças de até 6 anos deidade têm que ser alvo de políticas es-pecíficas, com o objetivo de evitar quea pobreza se perpetue, passando deuma geração para outra.

AUMENTA NÚMERO DE DOMICÍLIOS CHE-FIADOS POR MULHERES

Um em cada quatro domicílios bra-sileiros é chefiado por mulheres.

A proporção, que era de 18,1% em1991, subiu para 24,9%, de acordo como Censo do IBGE de 2000. Mas o fenô-meno mais curioso captado pelo Ins-tituto foi o grande crescimento donúmero de mulheres casadas que setornam as responsáveis pelos domicí-lios. Em 1991, de todas as casas che-fiadas por mulheres, apenas 5,6%eram casadas. Essa proporção subiutrês vezes, segundo o que foi apura-do pelo último censo, chegando a16,7%. É possível que os números decensos anteriores estivessem sub-ava-liados, devido a um certo constrangi-mento de se admitir o homem emposição ‘subordinada’ dentro decasa. Segundo Bárbara Cobo, técni-

ca do IBGE, trata-se de “uma mudan-ça cultural muito significativa, pois amulher assume que, mesmo casada,é ela a responsável pelo domicílio” eo homem já admite não ser o únicotitular das responsabilidades.

PERFIL DAS PROFISSIONAIS DO SEXO NOBRASIL

Uma pesquisa feita pela Universi-dade de Brasília traçou o perfil

de 3 mil prostitutas de 11 municípiosbrasileiros. Divulgado durante o Encon-tro Fluminense de Profissionais do Sexo,o estudo mostra que a maioria das pros-titutas tem entre 20 e 29 anos (46,3%),entre um e quatro anos de profissão(47%) e recebe até dois salários míni-mos por mês (36%). As informações fo-ram divulgadas juntamente com o pro-jeto de lei do deputado FernandoGabeira (PT-RJ) que defende a regula-mentação da profissão.

políticas de saúdepolíticas de saúdepolíticas de saúdepolíticas de saúdepolíticas de saúde

SÚMULA DA IMPRENSA é produzida a par-tir da leitura crítica dos principais jor-nais diários e revistas semanais do país.Jornalista responsável: Daniela Sophia

“O momento é de grande esperança”.Com essa frase, o Presidente do

Conselho Nacional dos Secretários Mu-nicipais de Saúde (Conasems), SílvioMendes, resume a expectativa do paíscom as mudanças no Ministério da Saú-de (MS) ligadas à criação de quatrosecretarias e a extinção de outrastrês. Foram criadas as Secretarias deGestão do Trabalho em Saúde, Ciên-cia e Tecnologia e Insumos Estratégi-cos, Gestão Participativa e Atenção àSaúde e extintas as de Investimentosna Saúde, Políticas da Saúde e Assis-tência à Saúde.

Coordenada pela ex-secretária deSaúde de Porto Alegre, Maria LuizaJaeger, a Secretaria de Gestão do Tra-balho em Saúde tem a função de for-mar recursos humanos para a saúde eregulamentar as profissões e o merca-do de trabalho na área. O Presidentedo Conasems destaca que essa área éestratégica e tem sido alvo de discus-são entre os gestores municipais.

A Secretaria de Atenção à Saúdetem como função coordenar a aten-

ção básica, médica e hospitalar, inte-grando as atribuições das extintas Se-cretarias de Políticas de Saúde (SPS) ede Assistência à Saúde (SAS):

— A unificação da SPS com a SASconcentra as ações e serviços de saú-de numa supersecretaria, dirigidapelo ex-secretário de saúde de Vitó-ria da Conquista e ex-diretor doConasems, Jorge Solla, que adquiriuconhecimento suficiente para fazerum grande trabalho —, ressaltou Síl-vio Mendes.

Tendo como Secretário o médicosanitarista José Alberto Hermógenes,a Secretaria de Ciência e Tecnologiae Insumos Estratégicos objetivaformular não só políticas nacionaisde ciência e tecnologia em saúde,mas também de assistência farma-cêutica.

A Secretaria de Gestão Participa-tiva, que está sendo coordenada peloex-presidente da Fiocruz e ex-deputa-do Federal Sérgio Arouca, tem como fun-ção fortalecer o controle social e orga-nizar uma conferência de saúde

extraordinária que ocorrerá ainda esseano. Para Sílvio, a criação dessa secre-taria sinaliza uma maior discussão do Go-verno Federal com os outros níveis degoverno e com a sociedade.

Ao falar sobre a nova estrutura,Silvio Mendes se mostrou otimista edisse que a nova estrutura permitiráum avanço do Sistema Único de Saúdeem direção aos princípios da equidade,integralidade e universalidade e isso sedeve à composição dos quadros, a mai-or parte do Ministério formado por ex-gestores municipais do SUS.

Além da criação e extinção desecretarias, a Secretaria Executiva doMS, responsável pelo planejamentodas políticas de saúde e pela coor-denação orçamentária e financeira,também passou por mudanças. Com anova estrutura, ela é responsável pelacoordenação do Datasus e do CartãoSUS (antes sob a coordenação da Se-cretaria de Investimentos em Saúde)e tem como novo secretário-execu-tivo o ex-secretário de saúde de Cam-pinas, Gastão Wagner.

Ministério da Saúde: o que muda no novo governo

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hanseníasehanseníasehanseníasehanseníasehanseníase

Márcio Bueno

OBrasil está firmemente em-penhado em combater umde seus mais graves proble-mas de saúde pública: a

hanseníase. O objetivo é cumprir ameta acertada com a OMS — Organi-zação Mundial de Saúde — de che-gar ao ano de 2005 com taxa deprevalência inferior a um caso por10 mil habitantes. Atualmente, há 600mil pessoas infectadas em todo omundo, 77% das quais estão concen-tradas em apenas dois países: Índia,com 64%, e Brasil, com 13%. Nossopaís continua ocupando o segundolugar em incidência de todo o mun-do e o primeiro lugar das Américas,mesmo depois de ter reduzido dras-ticamente o número de casos nosúltimos anos.

A hanseníase é causada pelo mi-cróbio Micobacterium leprae (bacilode Hansen) e ataca pele e nervos,especialmente dos braços e pernas.Os sintomas aparecem depois de doisa cinco anos da contaminação. Ossinais característicos são manchasesbranquiçadas ou avermelhadas emqualquer parte do corpo; diminuiçãoou perda da sensação de calor; dornos nervos dos braços, pernas e pés;e caroços e inchaços no rosto e nasorelhas. O medo e o preconceito,derivados em boa medidada falsa concepção de quese trata de doença incu-rável, costumam dificultaro diagnóstico e o trata-mento na fase inicial. Ocombate ao preconceito

é muito importante para que se pos-sa iniciar o tratamento antes queocorram deformidades físicas. Se tra-tada no início, a hanseníase pode sereliminada em seis meses.

Como parte da estratégiaestabelecida para a erradicação dadoença, o Ministério da Saúde vemselecionando os municípios de altaincidência e desenvolvendo campa-nhas massivas, com o envolvimento detoda a sociedade, através de suas ins-tituições públicas e privadas. Em agostode 2002, foi a vez do município deMarabá, estado do Pará, cuja taxa, em2001, era de 18,82 por grupo de 10 milhabitantes. A campanha no municípiofoi realizada em parceria com as se-cretarias estadual e municipal de Saú-de, com a mobilização de agentes co-munitários de saúde, médicos eenfermeiros do Programa Saúde daFamília, Pastoral da Criança, clubes eassociações de moradores, câmara devereadores e emissoras de rádio. Acampanha mobilizou ao todo 415 pes-soas, com ampla divulgação dos sinto-mas da doença e a convocação dosindivíduos contaminados para a reali-zação de exames. O Ministério da Saú-de atua fornecendo material de divul-gação e os medicamentos necessáriosao tratamento.

A OMS classifica como de altaprevalência taxas superiores a 1 casopor 10 mil habitantes. E o Brasil che-

gou a registrar uma taxa de 18,5 porgrupo de 10 mil habitantes no ano de1990 (veja a tabela). No ano passado,como resultado das políticas de com-bate à doença, essa taxa, embora ain-da alta, foi reduzida para 4,3. Atual-mente, a região Centro-Oeste é a deíndice mais elevado, com 11,6 por gru-po de 10 mil habitantes, e a de me-nor incidência é a região Sul, comtaxa de 1,1. Em relação aos estados,as situações mais graves são as deRondônia (22,7), Mato Grosso (22,3),Goiás (14,6), Roraima (10,24) ePernambuco (9,8). A enfermidadepode ser considerada erradicada nosestados do Rio Grande do Norte, comtaxa de 1,1, Santa Catarina, com 0,7e Rio Grande do Sul, com apenas 0,3por grupo de 10 mil habitantes.

O QUE É O MOHANO Mohan (Movimento de Reinte-

gração de Pessoas Atingidas pelaHanseníase) tem como um de seusobjetivos colaborar para a eliminaçãoda hanseníase atuando de forma in-dependente ou em parceria com ins-tituições públicas e privadas. Trata-sede uma entidade civil sem fins lucrati-vos, fundada em 1981. Sua atuaçãoinclui a ajuda na cura, na reabilitaçãoe na reintegração dos portadores dadoença à sociedade. A entidade de-senvolve trabalhos voltados para a eli-minação do preconceito que tanto di-ficulta o diagnóstico e o tratamentodos doentes quanto impede seu con-vívio social e profissional.

Segundo dirigentes da entidade,as pessoas que estão fazendo trata-mento podem e devem continuar aparticipar regularmente da vida fami-liar, social e profissional. Não há anecessidade de isolamento porquemesmo as formas contagiantes da en-fermidade deixam de apresentar ris-cos de transmissão após o início dotratamento. Boa parte dos trabalhosdesenvolvidos pelo Mohan pode serresumida na luta para que os porta-

dores conquistem o plenoexercício dos direitos decidadania.Mais informações:Telehansen: 0800-262001E-mail:[email protected]

Políticas de combate surtem efeito

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tema especial — formação profissionaltema especial — formação profissionaltema especial — formação profissionaltema especial — formação profissionaltema especial — formação profissional

Caco Xavier

Aprimeira atitude a tomar, quando se tem a tarefade refletir com clareza e isenção a respeito da Edu-cação a Distância, é livrar-se de dois ‘efes’ perni-ciosos: a fobia e o fetiche. Mas não parece fácil

livrar-se deles, porque tão logo começamos a investigar estamodalidade educativa nos deparamos com largos contingen-tes de pessoas (quer estejam ou não ligadas a áreas educa-cionais ou afins) carregando um desses dois ‘efes’ estampa-do na testa. Poucos trilham o nirvânico caminho do meio,que rechaça ao mesmo tempo os extremos de amor e ódio.

O objeto dos ‘efes’, no entanto, não é exatamente aEducação a Distância segundo critérios de eficácia pedagó-gica, mas aquilo que está na essên-cia de sua prática: a tecnologia. Afobia é em primeiro lugar uma rejei-ção à tecnologia em geral, e àstecnologias aplicadas ao ensino e àaprendizagem a distância, em opo-sição direta a situações de ensino eaprendizagem presenciais, para asquais tais tecnologias não são deci-sivas. Parece, ainda, fruto de umcerto incômodo em relação a algode ’novo’ que ameaça uma institui-ção secular: a escola. O fetiche,por sua vez, também é um fetichetecnológico, baseado na crença deque ‘o moderno é sempre bom’ eque a quantidade do aparatotecnológico é a medida da qualida-de da educação. O caminho do meionão tem ‘medo’, nem da tecnologianem da distância, mas não deixa deexpor críticas e reflexões sobreelas, evidenciando os problemas eas dificuldades; por outro lado, nãopresta devoção dogmática àtecnologia e ao novo, mas sabe de-les extrair o que há de real avanço eeficácia.

Nesta reportagem, a quarta dasérie sobre Formação Profissionalem Saúde, pretendemos serenamen-te seguir o caminho do meio, procu-rando entender e refletir sobre Edu-cação a Distância sem perder devista que, atualmente, é uma ferra-menta importantíssima para a for-

Educação a Distância:caminhando entre dois ‘efes’

mação profissional em saúde no Brasil, tendo sido utilizadaem vários âmbitos e programas, como já pudemos percebernas reportagens anteriores. Guiamo-nos, então, pelas sábi-as palavras do filósofo alemão Martin Heidegger que, no finaldos anos 50, arriscava um posicionamento perante as novastecnologias: “Se dizemos simultaneamente ‘sim’ e ‘não’ àtecnologia, não se converterá esta nossa relação com elaem equívoca e insegura? Ao contrário. Nossa relação com omundo técnico se faz maravilhosamente simples e aprazível.Deixamos que a tecnologia entre em nosso mundo cotidianoe, ao mesmo tempo, a mantemos fora, descansando em simesma como algo que não é em si absoluto, mas dependentede algo superior. Denomino esta atitude, que diz simultane-amente ‘sim’ e ‘não’ ao mundo técnico, com uma antigapalavra: ‘Serenidade’ (Gelassenheit)”.

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Esta é a definição de Rosa Maria Estevesda Costa, em seu Curso de Especiali-

zação em Gestão da Educação a Distância.Tal definição, porém, “não cabe em si”,como diria o poeta Djavan, já que, paracompreendê-la claramente é preciso pri-meiro ‘clarear’ alguns de seus termos. Cer-tas palavras saltam aos olhos, na frase deRosa Maria, e revelam a necessidade de secompreender alguns conceitos: processoeducacional (processo + educação); comu-nicação; mediada (mediações); recursostecnológicos (técnica, tecnologia). Segu-ramente, da definição acima, parece que oúnico termo auto-evidente é distância.

Como o processo educacional serátratado adiante, na matéria Pedagogia naEaD, iniciaremos nossa tentativa de com-preensão da EaD exatamente por aquiloque parece diferenciá-la da educação tra-dicional: o papel da comunicação, das me-diações e da tecnologia.

Educação e Comunicação são duasirmãs gêmeas. Cada uma busca seu espaçono mundo, sua identidade própria, mas aqui-lo que as assemelha é mais relevante do queaquilo que as distingue. Comunicação e Edu-cação são conceitos intercambiáveis, jáque se pode dizer “Educar é Comunicar” e“Comunicar é Educar”, explicando um ter-mo pelo outro e mantendo um sentido ori-ginal. Até bem recentemente, essa equa-ção ficava restrita aos ambientes daabstração e aos teóricos exercícios aca-dêmicos, e sempre parecia esvaziar-sequanto mais nos aproximássemos da prá-tica educacional (das salas de aula) e daprática comunicacional (dos ambientes damídia, das redações). Distraindo-se do fatode que ‘educar é comunicar’, profissio-nais da educação comprometem os con-teúdos propostos em sala de aula por nãoreconhecerem e compreenderem os pro-cessos dialógicos e interativos envolvidos,reduzindo involuntariamente a força desua missão educacional. Por outro lado,distraindo-se do fato de que ‘comunicar éeducar’, profissionais da comunicaçãoterminam por veicular formas vazias e des-tituídas de poder de produção de crítica,reflexão e transformação.

O surgimento de novos meios, a abun-dância de recursos técnicos e tecnológicose a conseqüente demanda social propicia-ram, aperfeiçoaram e potencializaram oque veio a se chamar Educação a Distân-

cia. Quando professores e alunos encon-tram-se afastados, a centenas, milharesde quilômetros uns dos outros; quando nãohá compreensão una do familiar ambienteda sala de aula — compreensão duramenteconstruída ao longo de séculos de históriahumana —; e quando a voz do professor, aréplica do aluno, as escritas de ambos etodas as idéias, pensamentos, reflexões egestos não podem mais ser percebidos numcontato visual e auditivo imediato e nomesmo local, percebe-se que tudo passa adepender de próteses, de extensões, demeios. Um meio pressupõe uma certa téc-nica. Para o geógrafo Milton Santos, a téc-nica não é mais do que o homem mudando aNatureza, impondo-lhe leis e assim, por fim,mudando-se a si próprio. A instrumentalidadedos objetos da técnica nos leva a considerá-los como indissociáveis da ação, do uso.Uma técnica, assim, é entendida como maisdo que um instrumento ou um objeto. Estáimplícita nessa palavra a apropriação deum saber específico, de um método de uso,de um processo, de um procedimento, deuma ação ou sistema de ações.

A palavra latina medium é riquíssimade significado, e é encontrada nos dicio-nários querendo dizer ‘o que está no meio’,‘centro’, ‘espaço intermediário’, e também‘o cerne’, ‘o que é fundamental’, ou ‘o queestá acessível a todos’. É uma expressãocompatível com o sentido que lhe empres-tamos ao nos referirmos aos nossos moder-nos meios de comunicação em seu plural, osmedia, a mídia. Mediação, por sua vez, dolatim mediatione, é a ação resultante doverbo mediare. Percebemos aqui, ainda ebem presentes, todos os sentidos atribuí-dos ao termo medium, mas com umaconotação fortíssima de ação completa, deintegração entre partes, de acordo entrediversos, entre pólos. Parece mais perti-nente, então, utilizar para este fim a pala-vra mediação para representar tudo aquiloque propicia a comunicação entre mestrese alunos — ou mesmo entre alunos e alunos—, a um só tempo entendendo-se instru-mentos, saberes e ações.

As mediações são o segmento (medu-lar) da prática de Educação a Distância,que permite a conexão de tutores e estu-dantes no processo de aprendizagem, eabrangem não só os equipamentos, técni-cas, recursos e meios necessários à comu-nicação a distância, mas também os sabe-

res e recursos teóricos da área da Comu-nicação. É exatamente nas mediações queacontece a mais plena união prática e te-órica das áreas da Educação e da Comuni-cação.

Em relação às tecnologias, M.Pimentel, em seu trabalho Conceituandoa Educação a Distância, as organiza em:Tecnologia sobre Papel, identificada comuma Geração Textual (de 1890 a 1960),em que os materiais usados são basica-mente livros, apostilas, revistas, arti-gos e cartas; Tecnologia Eletrônica,identificada com uma Geração Analógica(de 1960 a 1980), que utiliza tecnologiascomo a televisão, vídeo, rádio, telefone, efitas cassetes; e Tecnologia Digital,identificada com uma Geração Digital(de 1980 até hoje), que se baseia prin-cipalmente nos recursos dos computa-dores: hipertexto, multimídia, CD-Rom,e-mail, chats, listas de discussão evideoconferências. Obviamente, umatecnologia não ocupou o lugar da outra,mas somou-se às anteriores.

Se por um lado estão nas mediações osgrandes diferenciais da EaD em relação àeducação tradicional, é aí também que es-tão as grandes dificuldades. O professorFausto Neto, da Universidade do Vale doRio dos Sinos (Unisinos) chama a atençãopara o que ele denominou “encontro do fe-nômeno tecnológico e a redução teórica dacomunicação”. Janine Cardoso, pesquisado-ra da Fiocruz, comentando essa expressão,lembra que, ao mesmo tempo em que se soli-cita os mais modernos aparatos tecnológicos,se trabalha com pressupostos teóricos emetodológicos comunicacionais bastanteantigos e até mesmo contraditórios. “É pre-ciso evitar a idéia de que comunicar é me-ramente transmitir informações, e come-çar a pensar a comunicação integrada aospostulados educacionais com os quais deveinteragir”, diz ela.

Um problema, portanto, está na con-cepção mais ou menos complexa que seempresta a um modelo comunicacional ade-quado às práticas e necessidades da EaD.Qualquer redução nesta compreensão teráconseqüências na eficácia dos processoseducacionais a distância. A solução dessaquestão depende de se enxergar a comu-nicação como um processo vivo, circular emultiforme e não mecânico, linear e unila-teral. Essa redução na comunicação é se-melhante à que ocorre na educação, quan-do assume-se a idéia de uma ‘educaçãobancária’, do professor depositando co-nhecimentos na cabeça do aluno passivo.

A Educação a Distância, por fim, mes-mo levando-se em conta todos os seus pro-blemas e questões, parece ser a soluçãopara uma grande demanda social, expressaincisivamente por Pedro Demo: “Todos têmo direito de aprender em qualquer lugar, aqualquer hora e em qualquer idade”.

Educação a D i s t ânc i a ( EaD ) é umprocesso educacional em que a maiorparte da comunicação é mediada

p o r r e c u r s o s t e c n o l ó g i c o s q u epossibilitam superar a distância física.

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Ana Beatriz de Noronha

Para Lúcia Dupret, coordenadora pe-dagógica da Educação a Distância da Es-

cola Nacional de Saúde Pública (EaD/Ensp), noensino a distância, a tecnologia deve estarsempre subordinada à proposta pedagógica.

— Muitas pessoas associam educaçãoa distância à Internet, mas EaD não é si-nônimo de Web. A Internet é apenas maisuma ferramenta de trabalho. Muitos cur-sos ainda utilizam apenas livros e Cds. Aescolha depende da clientela e dos objeti-vos dos cursos — diz ela.

Se pensarmos, no entanto, em EaDcomo um processo educacional no qual aseparação física entre aluno e professor ésuperada pela utilização de meios técni-cos de comunicação, sua história estarácertamente relacionada à das tecnologiasde comunicação, a começar pela escrita,utilizada, por exemplo, nos diálogos dePlatão e nas cartas do apóstolo Paulo.

A TECNOLOGIAA SERVIÇO DA EDUCAÇÃO

De acordo com Cláudia Landim, emseu livro Educação a Distância: algumasconsiderações, a história recente da EaDcomeça no final do século XVIII, quando ojornal A Gazeta de Boston publicou umanúncio oferecendo material didático e tu-toria por correspondência. De lá para cá,a EaD se transformou numa poderosa es-tratégia de ensino e aprendizagem.

Ao permitir transmissão de voz, orádio, inventado no início da década de20, logo virou mais um instrumento a ser-viço da educação. No Brasil, duas gran-des iniciativas — a fundação do InstitutoRádio-Monitor, em 1939, e do InstitutoUniversal Brasileiro (IUB), em 1941 — ti-veram como base essa tecnologia. Outra

experiência importante foi a criação, pelaConferência Nacional dos Bispos do Brasil(CNBB), do Movimento de Educação deBase (MEB), cujo objetivo era implantaras Escolas Radiofônicas e organizar umamplo processo de alfabetização no país.O MEB existe até hoje.

e a do Telecurso 2000, direcionado para omundo do trabalho.

Dos anos 60, apogeu do Instituto Uni-versal Brasileiro (IUB) e da Escola Mundial,ficam as lembranças dos anúncios que des-tacavam os cursos de Eletrônica, para oshomens, e o de Corte e Costura, para asmulheres. Diversas outras iniciativas naci-onais de uso da EaD para a profissionalizaçãoe capacitação de trabalhadores foram de-senvolvidas pelos Serviços Nacionais do Co-mércio (Senac), da Indústria (Senai) e deAprendizagem Rural (Senar). Outros impor-tantes projetos de ensino pela TV foram oVerso e Reverso e Educando o Educador (Fun-dação Educar, 1988); e Um salto para oFuturo (Fundação Roquete Pinto, 1991).

Nos últimos anos, os computadores eas redes de comunicação deram um novoimpulso à EaD. Às tecnologias sobre papel eàs eletrônicas de geração analógica junta-ram-se as poderosas tecnologias digitais,que facilitam a comunicação entre alunos etutores e permitem a criação de novos eatraentes materiais educativos.

O fato de a história da EaD estarfortemente sintonizada com a his-tória das técnicas de comunicação

não elimina a necessidade de se trabalharconstantemente na busca de uma perfeitaintegração entre recursos técnicos e pe-dagógicos, como afirma Lúcia Dupret:

— A educação a distância é polêmicae há instituições que a utilizam apenas paraobter lucro, certificando e vendendo cur-sos sem garantia de qualidade. Eu, no en-tanto, acredito que, se ela for bem feita,será tão boa quanto a presencial. É preci-so, no entanto, criar fóruns paraaprofundar as discussões sobre o tema.

DISCUTINDO EADDurante os três dias do IX Congres-

so Internacional de Educação a Distância,realizado em São Paulo, em setembro pas-sado, cerca de 750 participantes debate-ram o tema ‘Repensando a aprendizagempor meio da educação a distância’. O even-to foi organizado pela Associação Brasilei-ra de Educação a Distância (Abed), queaproveitou a ocasião para lançar a Revis-ta de Educação a Distância, publicação ci-entífica online (www.abed.org.br), cujo ob-jetivo é divulgar permanentemente tudo oque se discute ou realiza em EaD.

Em sua palestra, a professora RobinMason da Open University, do Reino Uni-do, que trabalha com EaD há mais de 15anos derrubou um mito:

— Ao contrário do que muitos imagi-nam, o ensino online envolve inicialmenteum número maior de horas e também umcusto maior por aluno. O investimento ne-cessário à implantação de um sistema deEaD é muito alto e só cai com o decorrerdo tempo — explicou ela.

A EaD do IUB à WEB

A legislação

Oestímulo ao desenvolvimento da edu-cação a distância, fundamental num

país de dimensões continentais como o Bra-sil, tornou-se, a partir de 1996, por forçade lei, uma obrigação de governo. De acor-do com o artigo 80, da Lei de Diretrizes eBases da Educação Nacional, nº 9.394, “oPoder Público incentivará o desenvolvimen-to e a veiculação de programas de ensinoa distância em todos os níveis e modalida-des de ensino e de educação continuada”.

O mesmo artigo estabelece que aEaD terá tratamento diferenciado, oque inclui, entre outros benefícios, cus-tos reduzidos de transmissão em ca-nais comerciais e concessão de canaiscom finalidades exclusivamente

educativas. O Decreto 2.494/98, queregulamenta o artigo 80 da Lei, estabe-lece que o credenciamento de cada ins-tituição é limitado a cinco anos, poden-do ser renovado após avaliação.

Na opinião de Mindé Badauy deMenezes, da Secretaria de Educação aDistância do MEC, a legislação, no en-tanto, ainda apresenta muitas falhas.

— As leis sobre educação a distân-cia se caracterizam tanto pela posturaconservadora do Estado quanto pela re-lativa ausência da sociedade no pro-cesso de avanço das conquistas nessecampo — diz.Mais informações:Site: www.educacao.gov.br/seed

Em meados do século XX, o treina-mento de recrutas para a II Guerra Mundi-al e, posteriormente, a capacitação emlarga escala de profissionais necessários àreconstrução social e econômica de diver-sos países da Europa e dos Estados Uni-dos, resultaram num grande movimento desistematização das práticas de ensino a dis-tância. Nessa época, o surgimento da tele-visão permitiu a incorporação de atrati-vos recursos audiovisuais. No Brasil,podemos destacar a criação, na décadade 70, da Fundação de Teleducação do Ce-ará (TVE Ceará), com um programa volta-do para o Ensino Fundamental, e, posteri-ormente, a dos Telecursos de 1º e 2º Graus

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Ana Beatriz de Noronha e CacoXavier, com colaboração de DanielaSophia e Katia Machado

Oensino a distância é fundamental para a ampliação do acesso à educação,

mas, segundo a teoria, não pode ser vistocomo mera transmissão de saberes. Paraque seja eficaz, é preciso que os alunosdeixem de ser apenas receptores de infor-mação e se tornem construtores do seupróprio conhecimento, aprendendo aaprender, dentro de seu próprio estilo, rit-mo e método de aprendizagem.

Na prática, no entanto, de acordocom o sociólogo e doutor em Educação,Pedro Demo, em palestra proferida duran-te a Oficina sobre Educação a Distânciapromovida pela Fiocruz no final de agostode 2002, os problemas são muitos: “ A Edu-cação a Distância vem pra ficar, mas per-cebo que não se tem conseguido trabalharsatisfatoriamente a aprendizagem. Sob esseponto de vista, da Educação a Distânciageralmente ficamos só com a ‘distância’”.

Infelizmente, segundo ele, o proble-ma da aprendizagem não é exclusivo da

nhecimento não é construído a partir donada, mas uma reconstrução permanente,a partir de um passado armazenado.

Também é preciso, na opinião do pro-fessor, que se aceite a rebeldia como marcado conhecimento. “Devemos formar ‘rebel-des criativos’. Quem conhece se rebela econtrola quem não conhece. São dois ladosda mesma moeda”, diz ele, garantindo quea aprendizagem é política e libertadora,pois gera sujeitos com história própria, eque o conhecimento é potencialidadedisruptora. “O conhecimento é o grandesigno da autonomia humana. Conhecer ésaber pensar”, diz ele.

Para Pedro Demo, a aprendizagem éfundamentalmente emocional e requer com-promissos. A função do professor é encan-tar, atrair e envolver os alunos que queremaprender, mas não querem aulas. “O profes-sor que só faz ‘instrução’, que só provê aces-so à informação, vai acabar sendo substitu-ído pela parafernália eletrônica. Hoje, só hálugar para o professor que sabe aprender”,garante ele, lembrando que a possibilidadede se adquirir conhecimento de várias ma-neiras torna a aprendizagem extremamen-te complexa, mas favorece a EaD.

atribuídas à educação presencial. Para queisso aconteça, Pedro Demo acha que a EaDdeve enfrentar cinco grandes desafios, quesão: não banalizar e nem encurtar os cur-sos, não facilitar as avaliações, aprendersobre si mesma e conhecer profundamenteseu universo de atuação.

Além de recursos educativos adap-tados às novas tecnologias, o ensino a dis-tância requer uma profunda mudança pe-dagógica, na qual o paradigma do ensinoseja substituído pelo da aprendizagem. Umparadigma que acabe com a figuracentralizadora daquele que ensina em fa-vor da idéia do compartilhamento das in-formações, da pesquisa conjunta e daaprendizagem como fruto de um esforçocomum, cujo resultado seja a formação desujeitos capazes de compreender a reali-dade como um conjunto de fenômenos ecircunstâncias; de tomar decisões cadavez mais livre de imposições externas e deagir com o objetivo de transformar, rom-pendo com o imediatismo e construindonovos projetos de vida. Não basta, por-tanto, transferir os cursos presenciaispara os meios de comunicação. São indis-pensáveis os estudos e discussões sobrenovos instrumentos, novas metodologias,novas linguagens e formas mais adequadasde avaliação, acompanhamento e tutoria,sem os quais qualquer tentativa de ensinoa distância estará fadada ao fracasso.

A IMPORTÂNCIA DA TUTORIAUma importante mudança paradigmá-

tica, introduzida a partir das experiênci-as em EaD, foi notada pela educadora daFiocruz Marise Ramos. Segundo ela, naeducação tradicional a referência centralé o professor como mediador entre o alunoe o conhecimento, e tudo o mais (materialdidático, técnicas de comunicação) lheservem de apoio; já na Educação a Distân-cia, há um deslocamento dessa referênciaem direção às próprias mediações. Issonão acarreta necessariamente o empobre-cimento do papel do professor, mas sim umnovo deslocamento em relação a ele. As-sim, quando a EaD utiliza a palavra ‘tutor’em lugar de ‘professor’, não significa ape-nas uma troca de palavras. Ao contrário,revela uma mudança conceitual, um deslo-camento da atividade do professor, propor-cionado pelas exigências de um novoparadigma. Nesse sentido, o termo ‘tutor’(do latim tutor) recupera um conceito deeducação baseada no ‘caminhar junto’, nocuidado, na proteção à personalidade, naorientação e na busca da auto-suficiênciae ‘maioridade’ do estudante. Tutor, mentor,conselheiro, preceptor, facilitador são ter-mos que trazem o sentido de uma funçãodocente centrada na orientação do pro-cesso de aprendizagem. Em EaD, a figurado tutor adquire uma grande relevância,

A Pedagogia em EaD

EaD, mas é resultado da visão ‘instru-cionista’ de educação que prevalece noBrasil, que ainda privilegia a aula expositiva.

— Essa é a grande praga da educaçãobrasileira, que se reflete na Lei de Diretri-zes Básicas, a qual sugere ‘200 dias de aula’em vez de ‘200 dias de aprendizagem’. Nãoadianta tentar ‘melhorar a aula’, mas simalcançar a aprendizagem. A EaD tende a serainda mais instrucionista, por causa justa-mente da distância — afirma Pedro Demo,para quem a solução desse problema passa,em primeiro lugar, pela compreensão de quea ‘aprendizagem’ não é exatamente uma‘construção’, como dizia Piaget, pois co-

— A Educação a Distância nos dá odireito de aprender em qualquer lugar, aqualquer hora e em qualquer idade. Ela fa-cilita a educação permanente que, numasociedade de conhecimento intensivo,acaba sendo a maior oportunidade que sepode dar a uma pessoa.

Um sistema de formação a distâncianão pode estar desvinculado do sistemaeducacional, visto como totalidade, e devese preocupar principalmente com os aspec-tos pedagógicos envolvidos na utilizaçãodas tecnologias e com a construção de umambiente favorável à aprendizagem, cum-prindo, dessa forma, as mesmas funções

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segundo a definição da Universidad Abierta,do México, constituindo-se na “pessoa queestimula o estudo independente do aluno eo assiste, orienta e aconselha a todo mo-mento, interpretando por um lado os obje-tivos propostos pelo curso e por outro asnecessidades e interesses do aluno”.

Márcia Piovesan, tutora do Curso deAperfeiçoamento em Vigilância Sanitária daEaD/Ensp, acredita que essa redefiniçãode papel requer do professor a compreen-são de que o aluno é o agente ativo de seupróprio conhecimento, o centro do pro-cesso. Para ela, a valorização do conheci-mento do aluno, o respeito à sua experiên-cia, o reconhecimento do seu progresso,a ênfase em atitudes proativas e o estímu-lo à mudança e à reflexão crítica e produ-tiva do conhecimento e da prática aca-bam sendo os eixos das competências ehabilidades necessárias para a atividadede tutoria. Em sua opinião, a interaçãocom alunos do país inteiro, de diversas fai-xas etárias, com formação que vai do nívelmédio ao doutorado, com diferentes ex-periências profissionais e interesses dis-tintos, por sua vez, exigem do tutor co-nhecimento técnico atualizado, clarezada concepção pedagógica do curso, ca-pacidade de comunicação efetiva, flexi-bilidade, discernimento e sensibilidade.“Tudo isso”, diz Márcia, “reforça a im-portância da educação continuada naformação dos tutores”.

— Na EaD/Ensp, por exemplo, o traba-lho começa antes do início do curso, quandosomos levados a refletir sobre o compromis-so institucional do programa e os aspectosconceituais, pedagógicos e operacionais daatividade de tutoria. O passo seguinte en-volve a apreciação analítica do material aser utilizado, identificando, através da abor-dagem de cada um dos tutores, a complexi-dade da pesquisa e os aspectos importantesa serem destacados nos exercícios. Ao longodo curso, além da constante troca de expe-riências e conhecimentos com os alunos, sãofeitas reuniões periódicas, nas quais, entreoutras coisas, os tutores atualizam suas fon-tes de pesquisa e analisam suas avaliaçõesdos exercícios enviados. Nosso envolvimentoé crescente e isso nos dá o sentimento depertencer e de construir — diz.

A idéia do tutor como “um agentefacilitador da aprendizagem, mais do quecomo sua fonte” parece ser uma importan-te contribuição da Educação a Distânciaao ambiente educacional contemporâneo.Embora uma educação tutorial nunca ti-vesse desaparecido completamente, e atémesmo que tenha sido bastante valorizadarecentemente, a EaD, premida por suasnecessidades peculiares, terminou por de-bruçar-se sobre ela com grande avidez e adestinar-lhe mais atenção, radicalizandoe acelerando sua prática.

AVALIAÇÃO: O TENDÃODE AQUILES DA EAD

Um dos grandes desafios da Educa-ção a Distância diz respeito à avaliaçãosistemática, contínua e abrangente tantodo desempenho do aluno quanto dos pró-prios cursos ministrados.

No que se refere à aprendizagem doaluno, a avaliação não pode ser encaradaapenas como uma formalidade legal, masdeve ser feita da forma mais responsávelpossível, a fim de que as certificaçõesconferidas sejam legitimadas pela socieda-de. Ao tentar somente reproduzir as estra-tégias de avaliação comumente utilizadasna educação presencial — provas, testesde múltipla escolha ou discursivos e traba-lhos — a EaD enfrenta um sério problemarelacionado à autenticidade do resultado.Como garantir que as questões foram res-pondidas pelo aluno avaliado? Se essa ga-rantia não existe, é preciso se pensarem novas formas de aferição. O primeiropasso, segundo os especialistas, é aban-donar a visão tradicional de avaliação,que valoriza a ação individual e competi-tiva e que se apresenta como um fim emsi mesma, e assumir o processo como ummecanismo de diagnóstico. A partir daí,desenvolver modelos e metodologias queconsiderem o ritmo de aprendizagem esejam capazes de ajudar os alunos a de-senvolverem graus ascendentes de com-petências, habilidades e atitudes, possi-bilitando que eles alcancem os objetivospropostos pelo curso. É fundamental quea avaliação traga segurança ao alunoquanto aos resultados alcançados e que,além da avaliação feita pelo professor/

tutor, seja estimulada a auto-avaliação,com o intuito de tornar o estudante maisresponsável, crítico e intelectualmenteindependente.

Na avaliação do processo ensino-aprendizagem, devem ser analisados osmateriais didáticos e os modelos de tuto-ria. Os materiais empregados devem seravaliados por seus próprios produtores, porespecialistas da área e pelos próprios alu-nos e tutores, levando-se em consideração,entre outras coisas, suas qualidades técni-cas e didáticas, sua adequação à concep-ção do curso, sua aceitação pelos usuári-os, sua relação custo-benefício e suainteração com outros elementos do pro-cesso ensino-aprendizagem. Os métodosde avaliação são variados. O importan-te, é garantir que a avaliação se trans-forme, como dizia Paulo Freire, “naproblematização da própria ação” e quesirva como instrumento de questionamento,reflexão e intervenção para a solução deproblemas e correções de rumo.

A escolha dos modelos de tutoria, as-sim como a dos materiais didáticos, deveser feita de acordo com a concepção deeducação existente, podendo englobar atutoria presencial e a tutoria a distância,ou utilizando cada uma das duas isolada-mente. O importante é que a avaliação domodelo adotado e da própria relação dotutor com o aluno seja feita constante-mente, como explica Márcia Piovesan:

— A relação entre aluno e tutor co-meça a partir de um mútuo desconheci-mento. Com o tempo, isso vai mudando ese torna possível conhecer o estilo de re-dação e identificar aspectos do conteúdoque devem ser estimulados e questiona-dos. É um processo delicado que pode serrompido a qualquer momento tanto porproblemas pessoais ou profissionais do alu-no quanto por deficiências da própria re-lação ou do curso. Os casos de evasão,portanto, devem ser sempre monitoradospara que se possa avaliar o que ainda pre-cisa ser aperfeiçoado.

A questão da avaliação está direta-mente ligada à gestão acadêmica, respon-sável, entre outras coisas, pelo controledos cursos e das disciplinas e pelomonitoramento e acompanhamento do alu-no durante todo o decorrer do curso. Ela érealizada, como explica Lúcia Dupret, pormeio de um banco de dados, alimentado comtodas as informações acadêmicas e adminis-trativas, que pode ser acessado por alunos,professores e coordenadores dos cursos.

— Se o sistema de gestão acadêmicafunciona bem, ele dá segurança ao aluno,que se sente apoiado, e ao professor, quepode registrar e recuperar facilmente to-das as suas anotações. Para se ter edu-cação a distância, portanto, além de ummaterial de qualidade e de tutores quali-ficados, é necessário que se desenvolvaum bom processo de gestão acadêmica.Sem esses três elementos não há educa-ção a distância — garante Lúcia.

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Mais do que nunca, a Educação a Dis-tância tem sido vista como um pro-

missor instrumento para a formação derecursos humanos na área da saúde. Di-versas instituições já estão colocando emprática esse tipo de iniciativa, que ganhacada vez mais importância devido ao aces-so crescente às novas tecnologias de co-municação e às mudanças ocorridas no se-tor da saúde. As possibilidades são muitas eo grande desafio é conseguir levar continu-amente a estudantes e profissionais da saú-de, de todo o país, uma formação crítica,autonomizadora, criativa e referenciadana realidade das práticas e das transfor-mações políticas, tecnológicas e científi-cas ocorridas na área.

Exaltado por muitos, o ensino a dis-tância tem, no entanto, alguns ferrenhosopositores. Para Carlos Lessa, ex-reitorda Universidade Federal do Rio de Janeiro(UFRJ) e atual presidente do Banco Nacio-nal de Desenvolvimento Social (BNDES), aEaD tem cunho fortemente mercadológicoe seu uso indiscriminado pode gerar resul-tados bastante perversos, principalmen-te para as universidades públicas.

— A educação é um bem público e a EaDpode representar a desconstrução daquiloque sempre compreendemos por Ensino Su-perior. As relações horizontais, entre os alu-nos, e as relações verticais, entre alunos eprofessor, que se dão no ensino presencial,fazem com que a ‘turma’, o todo, seja muitomais do que a soma das partes. Isso tudo seperde no ensino a distância.

Em defesa da EaD, se levantam, to-davia, importantes vozes, mesmo entreaqueles cuja vida profissional sempre es-teve ligada ao ensino presencial, como é ocaso do reitor da Universidade Federal daBahia (Ufba), Naomar de Almeida.

— Muita gente é contra a Educação aDistância por temer o desconhecido, masdescartar essa possibilidade a priori é umrisco. É preciso que esse campo seja estu-dado e discutido, a fim de se descobrir omelhor modelo a ser adotado. Eu defendo opatrimônio da educação presencial e ocaráter insubstituível das Universidades,mas acho que é possível defender o queexiste sem se rejeitar modelos gerados emoutras realidades.

NOVA SAÚDE PÚBLICA,NOVA FORMAÇÃO

Segundo Antônio Ivo de Carvalho,vice-diretor e coordenador geral da Esco-la de Governo em Saúde da Ensp, em seutexto A Educação a Distância e a nova Saú-de Pública, as mudanças ocorridas na saú-de pública demandam obrigatoriamentemudanças no modelo assistencial e no pro-cesso de formação dos profissionais de

saúde. Isso significa que enquanto oparadigma tradicional de saúde pública —marcado por uma prática centrada noenfoque biomédico do processo saúde-do-ença, no uso intensivo de tecnologias e naespecialização — estava atrelado a um mo-delo instrutivista de educação, o novoparadigma — caracterizado, entre outrascoisas, por uma interpretação mais com-plexa dos fenômenos da saúde e da doen-ça, pela interdisciplinaridade do conheci-mento, intersetorialidade das práticas,integralidade da atenção e pela promoçãoà saúde — requer uma ampla reforma nosprocessos de formação que dê conta, quan-titativa e qualitativamente, das novas ne-cessidades dos profissionais, dos serviçose da sociedade. Para Lúcia Dupret, coor-denadora pedagógica da EaD/Ensp, a saú-de está buscando uma nova formação, por-que ela mesma está se transformando.

— Saímos de uma atenção individual,de uma relação saúde-doença pautada naquestão biológica para uma atenção coleti-va. Na relação biológica, bastava o profis-sional conhecer as regras contra aquelabactéria ou vírus e a questão da saúde es-tava resolvida. Bastava que eles reprodu-zissem regras e manuais. Não era exigidados profissionais nenhuma ação de refle-xão, transformação, ou de iniciativa. Alémdisso, com a criação do SUS, o poder foidescentralizado e o nível local passou a terum papel importante. O problema é que atéhoje somos formados em universidades re-petindo e decorando uma enorme massa deconhecimento e pouco se faz para formarprofissionais capazes de lidar com a diver-sidade e de inovar. Os profissionais sãoacostumados a repetir grandes manuais eprocedimentos, mas não estão preparadospara apresentar soluções — afirma Lúcia.

A necessidade de melhorar a forma-ção profissional é premente, mas a questãonão se resume a isso. Para Antônio Ivo, tam-bém é preciso capacitar os cidadãos, paraque eles possam exercer conscientementeo autocuidado e o controle social sobre osistema de saúde. Em termos quantitati-vos, portanto, a demanda é por programaseducacionais de larguíssima escala. Quali-tativamente, o desafio é conseguir desen-volver, nos profissionais e no público, no-vas competências indispensáveis aoenfrentamento de problemas complexos ecom baixo grau de estruturação. Todos,de acordo com Antônio Ivo, “devem sercapazes de pensar e produzir soluções cri-ativas, e não apenas aplicar normas ouprescrições anteriormente estipuladas”.

— Pode-se dizer que o grande desafioé construir um perfil profissional estraté-gico de um ‘gestor público da saúde’, quereúna a capacidade do novo profissional

de saúde pública de processar e enfrentarproblemas sanitários em sua complexidadetécnica e social, com a capacidade degerenciamento técnico e de negociaçãopolítica do moderno gestor de sistemas eserviços de saúde — diz ele.

EAD, UMA BOA OPÇÃOAs mudanças na saúde pública reque-

rem tanto uma boa formação inicial — naqual, além de conhecimentos objetivos,sejam desenvolvidas habilidades deaprendizagem que envolvam a compre-ensão interdisciplinar e a capacidade depesquisar cientificamente e produzir co-nhecimento relevante — quanto uma for-mação continuada, essencial para se en-frentar o acelerado desenvolvimento dastecnologias e dos saberes envolvidos naspráticas profissionais e sociais.

Nesse sentido, as novas tecnologiasde informação e comunicação oferecemrecursos até então inimagináveis para aimplantação e viabilização de redes para atroca de informações e experiências naárea de recursos humanos (ver box na pá-gina seguinte) e de projetos de educaçãoem larga escala, permitindo ainda acapacitação e formação continuada dosprofissionais no próprio ambiente de tra-balho, fato relevante para o campo da saú-de pública. A grande vantagem dessastecnologias, na opinião de Antônio Ivo, estáem possibilitar o emprego intensivo de umnovo modelo pedagógico centrado naaprendizagem e que esteja a serviço daformação do indivíduo, profissional de saú-de ou cidadão usuário, vistos como sujei-tos autônomos, capazes de aprender eexercer suas funções de forma criativa eindependente. “Para que isso aconteça”,explica Antônio Ivo, “é necessária a su-peração dos marcos instrutivistas ebehavioristas que ainda caracterizam boaparte dos programas de EaD, assim como oenriquecimento desses programas na pers-pectiva da educação aberta (não titulada)e da educação continuada”.

O uso da EaD na formação em saúdevem se desenvolvendo como fruto de umtrabalho constante entre pessoas das áre-as de educação e de saúde, como contaLúcia Dupret:

— A gente teve que beber na fonte daEducação para saber o que eles estavampensando como alternativa de formação,uma vez que criar cursos para apenastransmitir saberes não era mais suficien-te. Além disso, começamos a pensar naquestão da educação permanente no ser-viço, uma reivindicação secular do pesso-al da saúde. Desse duplo movimento, sur-giu a alternativa da educação a distânciacomo uma poderosa aliada da saúde.

A Educação a Distânciae a Saúde Pública

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Para Antônio Ivo, usar a EaD apenaspara suprir demandas emergenciais ou cor-rigir insuficiências pontuais ou regionaisda educação presencial, seria um desper-dício. Em sua opinião, a EaD deve ser pro-gressivamente incorporada ao sistema re-gular de ensino, que precisa então serrepensado na sua função de prover a for-mação inicial e enriquecido com a educa-ção continuada.

— A Saúde só tem a ganhar com a EaD.Ela ganha porque a formação profissionalrealizada no local de trabalho está ligada àrealidade e às necessidades do Sistema deSaúde. Ganha com a prática de uma Edu-cação em larga escala e em redes que per-mitem uma estreita relação entre institui-ção e alunos e entre os alunos entre si.Ganha com a possibilidade de se ter umaEducação permanente, requisito funda-mental frente à velocidade de evolução doconhecimento.

DISCUTINDO A EAD EM SAÚDESegundo o relatório final do Fórum de

discussão sobre Educação a Distância emSaúde, organizado pelo Ministério da Saú-de, em parceria com a Universidade deBrasília (UNB), em outubro de 1999, a acei-tação de que “as necessidades geradaspelo processo de construção do SUS colo-cam novas exigências no campo da educa-ção, tanto na escala e velocidade do pro-cesso educativo quanto nos seusconteúdos e opções pedagógicas”, torna-se necessária a busca por modalidadeseducacionais que possibilitem uma educa-ção aberta e a distância.

É consenso, no entanto, que as no-vas tecnologias de comunicação não de-vem ser incorporadas de forma acrítica,

sob pena da EaD se transformar numa merareprodutora dos modelos tradicionais emformato eletrônico. Para que a EaD tenhaêxito é necessário que ela “se convertaem um processo cooperativo entre pro-fessores e alunos, onde ambos, em especi-al os alunos, assumam maior responsabili-dade individual e coletiva diante de seupróprio processo de formação”.

A partir das experiências apresenta-das durante o Fórum e dos debates entreos participantes, foram apontadas possí-veis diretrizes e feitas diversas recomen-dações, na perspectiva de um posterioraprofundamento e de encaminhamento es-tratégico no âmbito das políticas e açõesinstitucionais.

De acordo com o relatório, a EaDdeve ser valorizada pelos novos modelospedagógicos que proporciona, e não ape-nas pelas novas tecnologias empregadas.As tecnologias, portanto, devem funcio-nar como suporte a uma nova concep-ção de ensino-aprendizagem, ponto cen-tral da mudança paradigmática. Oemprego da EaD, por sua vez, deve es-tar conjugado a uma compreensão dasaúde como construção social, nãoredutível a uma visão tecno-biologicista,favorecendo a interdisciplinaridade e aintersubjetividade. A escolha do meiotecnológico deve ser feita considerandosua acessibilidade pelos usuários, sua ade-quação aos temas e às realidades locais.Foi considerado fundamental um esforçoespecífico na preparação de docentes edos materiais pedagógicos, tidos como pi-lares do processo. A EaD deve, segundoos participantes do Fórum, ser conside-rada como uma importante estratégia deeducação permanente em saúde e, mais

do que isso, ao permitir a transferênciade competências comuns em grandes cen-tros para as periferias, pode ser utiliza-da como uma poderosa ferramenta nabusca da eqüidade em saúde.

Entre outras tantas coisas, o Fórumainda destacou a possibilidade de a EaDdar uma nova perspectiva às questões deintegração entre o ensino, o serviço e apesquisa, e de favorecer a construção so-cial do conhecimento.

Para que a EaD alcance todo o seupotencial, o Fórum fez recomendações ex-pressas sobre a necessidade de se articu-lar e incentivar parcerias entre os gruposque já têm projetos consolidados em EaDna área da saúde e sobre a premência dese estreitar a interação entre os Ministé-rios da Educação e da Saúde, no que serefere à educação profissional. Tambémforam recomendadas: a inclusão dos con-selhos profissionais e das Escolas Técnicasde Saúde nas discussões sobre o tema; acriação de núcleos de apoio em determi-nadas regiões, como meio de descentrali-zar os processos e facilitar o acesso dealunos aos encontros presenciais; a defi-nição de metodologias de avaliação dos pro-cessos de EaD em saúde e de formas de seevitar a evasão de alunos dos programasde EaD; a discussão sobre mecanismos deimplementação de cursos de EaD, envol-vendo todos os aspectos relacionados aisso; a capacitação de recursos humanospara o uso das novas tecnologias. Por fim,o grupo considerou que é fundamental aorganização de fóruns permanentes so-bre o assunto, sugerindo a realização deum Seminário Nacional sobre a temáticade EaD em Saúde, com a participação dosdiversos setores envolvidos na questão.

OPAS/RH e as Redes Colaborativas

Adescentralização dos processos decooperação técnica na área da Saú-

de é a principal diretriz política da Or-ganização Pan-Americana da Saúde(Opas) no Brasil. Para fortalecer as re-lações de trabalho com instituições na-cionais, a Opas conta com a participa-ção de especialistas e consultoresligados a centros de ensino e pesquisado país. Atualmente, são mais de 100referências, incluindo núcleos de saú-de coletiva, departamentos ou institu-tos de medicina social, escolas de saú-de pública e escolas técnicas eentidades associativas nas áreas deensino e serviço, trabalhando com aOpas e formando redes colaborativasde formação de recursos humanos.

Fazem parte desse trabalho as se-guintes redes e projetos: Rede de Negoci-ação Coletiva do Trabalho (NCT); RedeObservatório de Recursos Humanos em

Saúde (ROREHS); Rede de Escolas Técni-cas do SUS (RET-SUS); Fórum Mudanças naGraduação; Rede UNIDA; Iniciativa de Edu-cação Permanente em Enfermagem (IEPE);Capacitação em Desenvolvimento de Re-cursos Humanos de Saúde (CADRHU); Ge-rência do Trabalho em Equipes de Saúde(GTES); Gestão e Assistência Hospitalar(GeAH); e Desenvolvimento Gerencial deUnidades Básicas do SUS (Gerus).

A OPAS E A EADA internet, ao interligar atores e

instituições que participam do proces-so de cooperação descentralizada,temsido uma das principais ferramentas detrabalho utilizada pela Opas/RH paraampliar o acesso às metodologias de-senvolvidas com a sua cooperação naárea de recursos humanos.

Visando às experiências decapacitação que utilizem a internet e

ao fortalecimento das oportunidadeseducacionais voltadas para a consoli-dação do SUS, a Organização está im-plantando, paulatinamente, o Repertó-rio de Educação a Distância da Opas/RH, cuja proposta é a de promover pro-jetos operados em parceria com diver-sos centros de ensino do país, configu-rados por uma rede de websites. Alémde oferecer cursos e atividades simila-res, a rede permitirá o desenvolvimen-to e a difusão de metodologias confiáveisde EaD pela internet na área da Saúde.

Para uma melhor articulação en-tre o processo educacional e as neces-sidades dos serviços de saúde, a Opas/RH fará com que os projetos sejam com-partilhados, desde a fase de concep-ção até sua execução, com entidadesgestoras do SUS.Mais informações:Site: www.opas.org.br/rh.

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A EXPERIÊNCIA DA EAD/ENSPA EaD na Ensp começou em 1998, com

a elaboração do curso Gestão em Saúdeque, rapidamente, atingiu a faixa de milalunos. Atualmente, nesse mesmo cursoestão inscritos cerca de 3 mil alunos, dequase 1.500 municípios de todo o Brasil.Inicialmente, a opção pela Educação a Dis-tância, foi feita, segundo Antônio Ivo, pelanecessidade de se oferecer qualificaçãoprofissional em larga escala.

— O objetivo inicial da EaD/Ensp eraoferecer Educação em escala, com veloci-dade e baixo custo. Depois que desenvol-vemos o primeiro curso, observamos que apotencialidade da EaD não estava ligadanem ao baixo custo, pois não se faz EaDcom menos dinheiro, nem à velocidade. Agrande vantagem era a possibilidade de aformação profissional ocorrer no local detrabalho, fora da sala de aula, fora daacademia — conta Antônio Ivo, lembran-do que, aos poucos, a equipe foi apren-dendo, entre outras coisas, que a sele-ção e elaboração do material didáticoprecisa ser feita dentro de rigorososcritérios, pois dela pode depender o su-cesso ou o fracasso do processo. “Dife-rentemente de um livro”, justifica AntônioIvo, “o material usado em EaD tem queajudar o aluno a transitar sozinho pelo co-nhecimento, sendo obrigatória a presen-ça de hipertextos e glossários”.

Apesar de essencial, o material nãoé a única preocupação para aqueles quedesenvolvem a EaD na Ensp. Outro as-pecto fundamental é a escolha de tutoresqualificados. Por opção, a Ensp não tra-balha com o perfil do tutor especialista,mas com tutores generalistas, e respeitaalguns critérios básicos, entre os quais,o de que a maioria dos tutores tenhammestrado, que tenham familiaridade coma internet, pois é a partir dela que ocor-re o processo de gestão acadêmica, e quetenham experiência docente. A maior di-ficuldade nesse sentido foi a falta de pro-fessores prontos para essa tarefa e anecessidade de capacitá-los especifica-mente para essa modalidade de ensino. Porconta disso, em todos os cursos de EaD daEnsp, os professores (tutores) passam poruma capacitação inicial, com duração de40 horas, onde são discutidos os pressu-postos da educação à distância.

— O problema é que nem todo mundoconsegue incorporar os fundamentos daeducação construtivista, na qual os alunossão levados a questionar continuamentetodos os elementos do processo. Muitos pro-fessores não agüentam essa situação. Alémdisso, eles precisam compreender que o seuconhecimento não é o único conhecimen-to, até porque nossos alunos são, em suamaioria, profissionais que têm um enormesaber acumulado em anos de prática.

Para Antônio Ivo, a questão da tuto-ria é primordial na distinção entre o anti-go ‘Ensino por Correspondência’, no quala relação professor/aluno não mudava

muito em relação ao ensino tradicional, ea idéia atual de Educação a Distância.

— No chamado ‘Ensino por Corres-pondência’, o professor sabia algumas coi-sas, organizava esse conhecimento em umlivro ou apostila e mandava isso para o alu-no que absorvia e verificava o aprendiza-do por meio de uma prova. Hoje, há umconsenso de que o professor deve ser es-pecialista na mediação da construção deum novo conhecimento por parte do alu-no. No caso da formação profissional, porexemplo, ele tem que ter, sobretudo, mui-ta flexibilidade e compreensão da realida-de do aluno para ajudá-lo a absorver no-vos conhecimentos que o ajudem a resolveros problemas de trabalho — explica.

O sistema de gestão acadêmica tam-bém precisou ser organizado cuidadosa-mente, a fim dar o suporte necessário tan-to aos docentes quanto aos alunos. “Se ostutores forem qualificados e a gestão aca-dêmica for bem feita, o aluno acaba sesentindo parte de uma turma virtual”, ga-rante Antônio Ivo.

As dificuldades iniciais estão sendosuperadas gradativamente. Hoje, o maiorcurso oferecido é o de formação pedagó-gica na área de Enfermagem, para o Profae,com 9.853 alunos matriculados, mas todosos cursos já têm uma página própria naweb, o que melhora sensivelmente a ges-tão acadêmica. Os bons resultados estãotrazendo bastante otimismo à equipe egerando novos planos.

— Existem algumas boas iniciativas naárea, como a Telemedicina, do Conselho Fede-ral de Medicina. A Universidade Federal dePernambuco e a Escola Paulista de Medicinatambém estão fazendo um bom trabalho, masem Saúde Pública ninguém mais está fazendoEaD na proporção da Ensp. Nossa idéia agora éjuntar, por meio da Abrasco, todas as escolasde saúde pública numa rede nacional de ofertade cursos a distância — diz Antônio Ivo.

Para Lúcia Dupret, o projeto de umarede de cooperação, na qual todos, apesarde estarem trabalhando a especificidade

de seus programas, pudessem trocar ex-periências sobre problemas comuns, temque ser muito incentivado.

— Existem fóruns onde trocamos idéi-as, mas ainda não existe um verdadeiroespírito de rede. Nesse sentido, a iniciati-va está sendo das universidades privadase isso é complicado, pois elas acabam colo-cando seu forte poder econômico e suabase tecnológica bem desenvolvida a ser-viço de princípios e objetivos muito dife-rentes dos nossos.

Para quem insiste na polêmica oposi-ção entre a educação presencial e a edu-cação a distância, a resposta de AntônioIvo é de que existe uma tendência de ha-ver menos separação entre elas, pois cadavez mais a educação presencial estápermeada pelas ferramentas e ambientespróprios da EaD, assim como a EaD precisade momentos presenciais que facilitem ainteração entre os alunos e a avaliação daaprendizagem (Certificação de Competên-cia) para se tornar efetiva.

— Atualmente, dos nossos 10 cursos,apenas dois são inteiramente a distância.Todos os outros têm algum momentopresencial. Hoje, estamos entusiasmadoscom as potencialidades da EaD e não acha-mos que ela deva ser considerada umamodalidade de ensino de segunda catego-ria. Os princípios da EaD têm, inclusive,ajudado a melhorar a qualidade pedagógi-ca do nosso ensino presencial, pois levan-ta questões importantes sobre a relaçãode responsabilidade entre professor e alu-no e coloca no centro do processoeducativo não o conhecimento que o pro-fessor tem, mas o fato de que o aluno/profissional pode e deve construir seu pró-prio conhecimento.Mais informações:! Escola de Saúde Pública do CearáTel.: (85) 433-9237E-mail: [email protected]! EaD/EnspTel.: (21) 3882-9201Site: www.ead-ensp.fiocruz.br

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Katia Machado

Sílvio Mendes Filho, presidente do Conse-lho Nacional de Secretários Municipais

de Saúde (Conasems) e membro do Conse-lho Nacional de Saúde (CNS), é médico for-mado pela Universidade Federal dePernambuco e especialista em ortopedia etraumatologia pela Universidade de SãoPaulo, em Ribeirão Preto. Silvio recebeu oRadis num raro domingo chuvoso em Brasíliae, durante uma hora, falou sobre o Siste-ma de Saúde nos municípios, expôs suaopinião a respeito da Norma Operacionalde Assistência à Saúde (Noas), e reiterou anecessidade de se discutir profundamen-te a questão dos recursos humanos. Porfim, e como não poderia deixar de ser, opresidente do Conasems revelou suas ex-pectativas na área da Saúde para o novogoverno.

Como os municípios estão vendo a im-plantação do SUS?

Estamos implantando a NormaOperacional de Assistência à Saúde(Noas), discutida e pactuada nos últimosdois anos. Na história da saúde brasileiratemos dois pontos importantes: a própriacriação do Sistema na Constituição, em1988, e sua regulamentação pela Lei Or-gânica de Saúde 8080, em 1990, conseqü-ência dos movimentos sociais e das Con-ferências de Saúde; e a descentralizaçãoda gestão para estados e municípios. Omomento atual é estratégico para a reor-ganização do Sistema de Saúde. A Noas trazum olhar de rede e de continuação de ser-viços, potencializando o que sempre exis-tiu a partir de uma noção de regionalizaçãoe de hierarquização da assistência. As res-ponsabilidades dos três níveis de gestão fi-caram bem definidas: o municipal, pelo qualse reafirma o comando único como constana legislação; o estadual, cuja responsabili-dade é coordenar as ações que muitas ve-zes extrapolam o território municipal; e ofederal, exercendo uma coordenação naci-onal. Hoje, a Noas já foi implantada em 110municípios de15 estados, dois dos quaisexecutam a Gestão Avançada do Sistema e13 a Gestão Plena.

Maria Helena Brandão, diretora do De-partamento de Descentralização e Ges-tão de Assistência à Saúde do MS, disse,em entrevista à Revista Radis, que a Noas

rrrrradadadadadiiiiis entres entres entres entres entrevivivivivistststststaaaaa

Sílvio Mendes Filho

Os gestores municipais estãomuito mais próximos do cidadão

só funciona quando os estados assumema centralidade que a própria norma re-quer deles. Qual é o papel dos municí-pios em relação à Noas?

O SUS é como uma engrenagem, queprecisa funcionar de forma harmônica eresponsável. A essência do Sistema é suaconstrução coletiva. Por isso, é necessá-rio que os três níveis de gestão e o con-trole social — que não pode estar distantedesse processo —, tenham o mesmo obje-tivo: a qualidade dos serviços e o bem es-tar da população. Para que o processomunicipal não seja prejudicado pelos 12estados que não se habilitaram, foi pactu-ada uma Comissão Intergestores Tripartiteque conta com a participação do Ministé-rio da Saúde e representações estaduais emunicipais. Mas se o estado não cumpreseu papel de coordenação dentro de seuterritório, a lógica da regionalização e deconstrução de microrregiões e de cida-des-pólo que ofereçam serviços de refe-rência não atinge a qualidade necessária.A Noas define uma coordenação estadualde acordo com a capacidade instalada nosmunicípios, ou seja, ela permite que muni-cípios utilizem os recursos existentes deforma mais adequada, na medida em quenão tenham condições de atender todas asnecessidades de sua população. Ela esta-belece a necessidade de uma coordenaçãoacima do nível municipal. Há sempre um pro-cesso de aperfeiçoamento. O que vale équerer cumprir o que a Constituição de-

termina: um SUS universal, integral e equâ-nime para a população.

Os municípios menores têm dificulda-des de se habilitarem à Noas?

O Brasil tem hoje 5561 municípios,dos quais apenas cerca de 40 não sãogestores, e porque não querem. Pratica-mente 100% dos municípios assumiram aresponsabilidade de gestão e se habilita-ram pela Nob 96 ou pela Noas. Atualmente,algumas responsabilidades de gestão fo-ram ampliadas, por conta da redefiniçãode papéis que a Noas impõe. Alguns municí-pios enfrentam certas dificuldades em re-lação aos pré-requisitos da Noas como, porexemplo, a construção de um plano deregionalização no qual se estabeleça todaa estrutura de instalação; um plano quedefina melhor os investimentos; uma Pro-gramação Pactuada Integrada (PPI), quedetermine a distribuição dos recursos fi-nanceiros; e a expansão de seus serviçosde saúde conforme obriga a Lei, pois issoimplica em aumentar a folha de pessoal.

A questão dos recursos humanos é ogrande entrave para a implantação daNoas?

Neste momento, falar de recursoshumanos é mais importante do que discu-tir a questão do dinheiro. É uma discussãoque está sendo remetida principalmentepara o nível municipal e ninguém sabe quemé responsável pela gestão do trabalho, pela

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substituição dos servidores federais quese aposentam ou pelos serviços que osmunicípios assumem dos estados, mas oque se tem levado para os fóruns de deba-tes diz respeito ao financiamento. Semdúvida, a questão de recursos é muito im-portante, mas, por meio da Emenda Cons-titucional, o dinheiro está bem definido,apesar de alguns estados não cumpriremdevidamente as regras estabelecidas. ANoas traz também essa lógica: o municípioque não cumpre o que determina a EmendaConstitucional fica impedido de se habili-tar. O Conasems vem alertando para a ques-tão dos recursos humanos, e tentou apre-sentar essa discussão ao Conselho Nacionalde Saúde (CNS) e à Comissão de GestoresTripartite, mas não se tem dado o devidoespaço a ela. O fato é que a maioria dosmunicípios tem visto crescer suas folhas depagamento de pessoal de uma forma insu-portável. Os estados não têm aceitado dis-cutir essa questão com os municípios e, seessa questão não for priorizada, não va-mos conseguir implantar a Noas, muito me-nos o SUS. Só se realiza coisas importantescom gente qualificada.

O médico e consultor de saúde GilsonCarvalho diz que a Noas, ao mesmotempo em que aumenta a responsabi-lidade dos municípios, diminui sua au-tonomia de gestão. Qual é a sua opi-nião em relação a isso?

Eu discordo dessa opinião, pois um dosprincípios da Noas é a reafirmação do co-mando único, seja do estado ou do municí-pio. Quem mais executa serviços de saúdeé o nível municipal. É preciso que todos en-tendam que o SUS é um bem público e nãopertence a ninguém. É muito comum algunssegmentos ou algumas pessoas se pronun-ciarem como se estivessem se apropriandodo SUS ou de algumas ações do Sistema. Umexemplo disso é o PSF. Ele não é um progra-ma do governo federal, tem participaçãopraticamente do país inteiro. Ele conta coma ajuda de financiamento do governo fede-ral, mas quem assume a maior parte do tra-balho são os municípios. Eu não tenho muitapreocupação em falar de autonomia, pois aliberdade é limitada. A autonomia tem queter regras, principalmente quando falamosde um sistema tão complexo quanto o SUS.Acho que os municípios vêm assumindo res-ponsabilidades crescentes. Não é comumvermos gestor municipal reclamando de fal-ta de autonomia ou liberdade. Pelo contrá-rio, acho que os municípios nunca tiveramtanta autonomia como têm hoje.

Como a Noas pode efetivamente che-gar ao conhecimento da sociedade?

O SUS tem três eixos importantes: ofinanciamento, os recursos humanos e acomunicação. O financiamento não tem sidosuficiente, mas é estável e progressivo,sendo assegurado pela Emenda Constituci-onal 29, um movimento do país inteiro. Aquestão dos recursos humanos, como vi-mos anteriormente, passa a ser cada vez

mais de responsabilidade do nível municipal,que executa ação e serviço. Por fim, tema questão da comunicação, que começapela informação. O SUS talvez gera umenorme volume de informação que não setransforma em conhecimento. O que seobserva comumente é a compilação dasinformações para servir de relatório degestão para o ano seguinte. Como tudo oque ocorre no SUS é muito grande, atémesmo os gestores encontram dificulda-des para saber de tudo o que está acon-tecendo. Em 1998, após dez anos de cons-trução do Sistema Único de Saúde, oConselho Nacional de Secretários Estadu-ais de Saúde (Conass) fez uma pesquisa eobservou que praticamente metade da po-pulação não sabia o que queria dizer a siglaSUS. No entanto, o Sistema atende diaria-mente cerca de 150 milhões de habitantes.Se eles não sabem o que é SUS e nem quaissão os serviços disponíveis, como podemexigir os que não estão disponíveis.

Como você avalia, hoje, o controlesocial dentro do SUS?

O controle social no SUS tem cresci-do ao longo do tempo, mas ainda existemmuitos vícios. Acredito que a Lei 1147, quedefine as regras do controle social, e a LeiOrgânica 8080, ambas de 1990, precisamser reescritas, pois as necessidades atu-ais são bastante diferentes das daquelaépoca. Nós hoje pactuamos determinadascoisas que extrapolam o que a Lei estabe-lece. Apesar disso, no país inteiro o con-trole tem melhorado. A essência do con-trole social é que os municípios, estados eo Ministério da Saúde só podem se habili-tar no SUS se tiverem um Conselho de Saú-de paritário, ou seja, com representaçãode usuários e outros segmentos da socie-dade. Para que os Conselhos, que aindatêm caráter deliberativo sobre as políti-cas de saúde, assumam suas responsabili-dades, é preciso que seja compostos porpessoas que tenham conhecimento sufici-ente para formular propostas e acompa-nhar e avaliar esse processo. O problemaé que nem sempre os conselheiros detêm oconhecimento do processo. Existem notí-cias de que há desvios de conduta na es-colha desse colegiado, por questões ideo-lógicas ou partidárias. Eu acho que osConselhos, em sua constituição, não po-dem estar representando segmentos, masdevem manter seu olhar voltado para acomunidade que representa. Apesar des-ses problemas, o saldo é positivo.

Qual o papel do Conasems na melhoriado controle social?

O primeiro é de fazer todo gestormunicipal entender que controle social éfundamental. O segundo é de qualificar osConselhos de Saúde, tentando afirmar aresponsabilidade de seu papel. O controlesocial busca o fiel cumprimento de uma po-lítica de saúde, o emprego adequado dosrecursos públicos e o cumprimento das leise das normas que regem o sistema.

Como está ocorrendo o diálogo dosmunicípios com os governos federalestadual?

Tanto o Conasems, como instituição,quanto os municípios isoladamente sem-pre tiveram um bom relacionamento como governo federal de um modo geral. Euando nesse Ministério há mais de vinteanos e percebo boas mudanças, dentreelas, a renovação do seu quadro técnico,a criação do Fundo Nacional de Saúde, e ofortalecimento da atenção primária pormeio de estratégias de promoção da saú-de como o PSF e o Pacs. Naturalmente,houve momentos muitos tensos, principal-mente devido ao grande volume de porta-rias publicadas, que muitas vezes enten-demos como interferência na nossa gestão.As regras mudam sem que haja discussões.Isso nos incomoda muito. Sempre reivindi-camos a participação dos municípios nes-ses processos. O ex-ministro José Serrateve um papel importante no Ministério daSaúde. Ele conseguiu estabelecer uma boapolítica de medicamentos, por meio dosgenéricos, contrariando até mesmo os in-teresses da poderosa indústria do taba-co. A melhora da administração interna doMS deve-se também ao ex-ministro BarjasNegri, que fez uma grande diferença nes-tes últimos anos, ao promover um bom re-lacionamento com os municípios. Já as re-lações dos municípios com os estadosvariam de lugar para lugar. Onde as rela-ções são civilizadas, responsáveis e sen-satas, o processo de implantação do SUSavança mais rápido. Em análise geral, dealguns anos para cá, os municípios têm fei-to mais saúde no Brasil do que em toda ahistória da saúde pública brasileira. Nós,gestores municipais, estamos muito maispróximos dos cidadãos.

Quais são expectativas para o próxi-mo governo na área da saúde? Pode-mos dizer que são as mesmas propos-tas da Carta de Blumenau, redigida noXVIII Congresso Nacional de Secretá-rios Municipais e encaminhada aosentão candidatos à Presidência?

A Carta de Blumenau reafirma os prin-cípios do SUS. Queremos dizer que uma dasformas de se conseguir ampliar o acesso dapopulação ao sistema é a regionalização,porque, assim, em um determinado territó-rio onde se encontram vários municípios ecom prestação de serviços diversificados,podemos potencializar esse atendimentocom a mesma capacidade existente hoje. Ocomando único foi uma área de muita ten-são em alguns estados. A própria Lei e aConstituição definem esse princípio de co-mando único em cada esfera de governo.Se isso não acontecer, fica muito difícil seorganizar o sistema de saúde. Se os novospresidente da República, ministro da Saúdee gestores estaduais tiverem a compreen-são de que o SUS é um sistema coletivo eque as pactuações são legítimas, o cami-nho vai continuar limpo e sem obstáculosgraves. Tenho muita esperança.

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ssssserererererviçviçviçviçviçososososos

13° CONGRESSO PAULISTA DE FARMACÊUTICOS

Oevento está sendo organizadopelo Conselho Regional de Far-

mácia de São Paulo (CRF/SP) e acon-tecerá entre os dias 17 e 20 de maioem São Paulo (SP). O prazo para en-vio de trabalhos já terminou, mas asinscrições para a participação no Con-gresso continuam abertas.Mais informações: Secretaria do13° CongressoTel.: (11) 3067-1468E-mail: [email protected]: www.crfsp.org.br

SEMINÁRIO DE EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA

Promovido pela Associação Brasileirade Educação a Distância (ABED),

o 1º Seminário Regional da ABED “Habili-dades e Talentos em EAD” aconteceráentre os dias 12 e 15 de abril, em BeloHorizonte. O prazo para envio de traba-lhos já terminou, mas as inscrições parao evento continuam abertas.Mais informações: Secretaria do ABEDRua Vergueiro 875, 12º andar, conj. 123São Paulo / SP — CEP: 01504-000E-mail: [email protected]: www.abed.org.br

12º SEMINÁRIO NACIONAL DE PESQUISAEM ENFERMAGEM

Com o tema ‘Interfaces da pesquisa em enfermagem: aproximando

o ensino e o cuidado com outros cam-pos do conhecimento’, a cidade de Por-to Seguro, Bahia, será palco do 12ºSeminário Nacional de Pesquisa. O even-to, que ocorrerá entre os dias 27 e 30de abril de 2003, tem como propostapermitir a troca de experiências emenfermagem entre os participantes.Mais informações: Secretaria Execu-tiva da Associação Brasileira de En-fermagem

Rua Borges dos Reis, 81 — Rio VermelhoSalvador / BA — CEP: 40950-600Tel.: (71) 335-0662E-mail:[email protected]

IV CONFERÊNCIA INTERNACIONAL SO-BRE EDUCAÇÃO, FORMAÇÃO E NOVASTECNOLOGIAS

AConferência acontecerá no Centrode Convenções, em Miami, Esta-

dos Unidos, entre os dias 18 e 20 dejunho. Formação virtual, cooperaçãopara o desenvolvimento e desenhodos conteúdos educativos estão en-tre os temas que serão debatidos. Osinteressados poderão enviar trabalhoaté o dia 31 de março.Mais informações: Instituto deEstudios Avanzados para las Améri-cas (INEAM)Centro Regional de la UNED, Miami2655 Le Jeune Rd. 900Coral Gables, FL 33134 (USA)Site: www.educoas.org/virtualeducaE-mail: [email protected]

CNPQ DIVULGA EDITAL UNIVERSAL

Para apoiar pesquisadores e gruposde pesquisa que trabalhem em

qualquer área do conhecimento, o Con-selho Nacional de Desenvolvimento Ci-entífico e Tecnológico (Cnpq) divulgouo Edital Universal, que distribuirá R$ 30milhões para o desenvolvimento depesquisas e prevê a contratação dosprojetos para junho de 2003 comduração de até dois anos. A inscriçãode propostas termina deve ser serfeita pela internet, até o dia 24 defevereiro.Mais informações: CnpqSite: www.cnpq.br

NA INTERNET

NOVO PORTAL DA ANS

Já está disponível a nova página daAgência Nacional de Saúde Suple-

mentar (ANS). O novo portal temcomo função facilitar o acesso de usu-ários, gestores do SUS, operadoras eprestadores de serviço a informaçõescomo a legislação do setor.Mais informações: ANSSite: www.ans.gov.br/portal/site/home/index.asp

PRÊMIOS

PRÊMIO JOSÉ PEDRO DE ARAÚJO 2003

Para incentivar pesquisa sobre oaproveitamento farmacológico da

flora brasileira, já estão abertas as ins-crições para o concurso “Prêmio JoséPedro de Araújo” da Fundação JoséPedro de Araújo, que vão até o diaprimeiro de março. O valor dapremiação é de R$ 15 mil e podemparticipar agrônomos, químicos, botâ-nicos, entre outros profissionais quedesenvolvam pesquisas nessa área.Mais informações: Fundação JoséPedro de AraújoRua Timbiras, 1940/610, LourdesBelo Horizonte / MG — CEP: 30140-061Tel.: (31) 3201-3749E-mail: [email protected]: www.fundjpar.org.br

LIVROS

LANÇAMENTOS DA EDITORA FIOCRUZ

Animais de Laboratório:criação e experimenta-ção, de Antenor Andrade,Sergio Correia Pinto eRosilene Santos de Olivei-ra. Apresenta as técnicase as necessidades básicas no manejode animais de laboratório e enfoca aquestão da ética, do bem-estar do ani-mal e da biossegurança.

Erário Mineral (vol.1 e 2),de Luís Gomes Ferreira.Organizado por JúniaFerreira Furtado, relataas experiências de prá-ticas médicas do cirur-gião-barbeiro Luís Gomes Ferreira na Ca-pitania de Minas Gerais. Editado pelaprimeira vez em Lisboa, em 1735, foi umdos primeiros tratados de medicina bra-sileira escritos em língua portuguesa.Mais informações: Editora FiocruzAvenida Brasil 4036, sala 112,Manguinhos, Rio de Janeiro / RJCEP: 21040-361 — Tel.: (43)324-2340E-mail: [email protected]: www.fiocruz.br/editora

E-mail para esta seção:[email protected] responsável: Daniela Sophia

Page 19: FORMAÇÃO PROFISSIONAL EM SAÚDE Educação a Distância ... · um pouco da história; legislação; a ... com a extinção de algumas secreta-rias e criação de outras, ... encontramos

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RADIS 6 ! JAN/FEV/2003

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PÓS-TUDOPÓS-TUDOPÓS-TUDOPÓS-TUDOPÓS-TUDO

Pedra nos rins II

A volta do ‘Sobrenatural de Almeida’

A previsão era que eu ficasse com ocateter por cerca de um mês, até que aposição atual da pedra fosse determina-da por meio de outros exames e ficasseconstatada a impossibilidade de novo blo-queio do canal. Uma vez retirado o ‘DuploJ’, eu deveria conviver pacificamentecom a pedra até que ela se rebelasse denovo, causando uma nova crise. Enquan-to isso, poderiam tentar bombardeá-la comlaser ou algo parecido.

Mais um mês de sofrimento, mas eujá estava conformada. Depois de tantotempo com dor, o que eram mais trintadias com fisgadas no umbigo e dificuldadepara urinar? O médico pediu uma novaurografia excretora para localizar a pe-

Ana Beatriz de Noronha

“Acorda! Respira fundo, Ana! Ela não estárespirando! A pressão está caindo!”

Essas foram as primeiras palavras que ouviapós a cirurgia e que me fizeram pensar,por alguns longuíssimos segundos, estarindo encontrar os anjos muito antes do queimaginava. Felizmente, como vocês podemver, eu não fui para o além e pude reassumirplenamente a minha vida. Ou quase...

Para quem não sabe do que estoufalando, é sobre o meu maldito (ou bendi-to?) rim, cuja saga foi descrita na revistade outubro. Eu sei que os leitores nãotêm nada a ver com ele e nem com asminhas mazelas, mas tenham um tiquinhode paciência. Prometo que meu rim nãoserá objeto de uma enorme série de crô-nicas, nos moldes de Rocky, o Lutador. Osfãs de histórias de mistério, no entanto,não lamentarão perder uns minutinhos.

No que diz respeito à minha vida, acirurgia foi um verdadeiro sucesso. Quan-to à pedra que eu tinha no rim, há con-trovérsias. Sem conseguir retirar a ditacuja, os médicos me ‘presentearam’ comum cateter ‘Duplo J’– um tubinho de plás-tico flexível, com 26 cm de comprimentoe da mesma espessura de um espaguete,que se insere no canal da uretra para im-pedir que a pedra volte a bloquear o canale haja perda do rim.

dra. Fiz a urografia, certa de que ela se-ria a minha carta de alforria. Mistério: olaudo do exame garantia não haver pre-sença de cálculos renais. Estranho... Muitoestranho... O que teria sido feito da pe-dra de 1 cm cuja existência fora com-provada pelos quatro exames que eu ha-via feito antes da cirurgia e que,supostamente, não havia sido retirada?Com o resultado do exame nas mãos, aguar-dei ansiosa o dia marcado para a retiradado cateter. Imaginem a minha decepçãoquando ouvi o médico falar que não retira-ria o cateter antes de saber onde estava apedra. O jeito era fazer uma tomografiacomputadorizada. De nada adiantaram asminhas reclamações ou o diagnóstico daminha mãe: “Milagre da Irmã Paulina”. Noritmo atual do SUS no Rio de Janeiro, eu jásabia que isso significava mais um mês deincômodo e de fisgadas na barriga e de difi-culdade para urinar, mas fazer o quê? A me-dicina insiste em não acreditar em milagres.

A tomografia não solucionou o mis-tério, mas, diante de dois exames, o mé-dico perplexo resolveu me livrar das amar-ras do sofrimento e retirou o cateter.Acho que finalmente voltei a sorrir. Quan-to ao mistério do ‘desaparecimento’ docálculo renal, vocês decidem: erro nosexames pré ou pós-operatórios, ou mila-gre da Irmã Paulina ou de algum dos ou-tros tantos santos para os quais muitosamigos recorreram a meu favor?