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    Formao Bsica I

    Escola de Formao Shalom 1

    FORMAO BSICA I

    Formao Extra-comunitriaASSISTNCIA DE FORMAO

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    SUMRIO

    Primeira AulaDeus se revela

    Segunda AulaA Santssima Trindade

    Terceira AulaDeus Pai

    Quarta AulaA Pessoa de Jesus

    Quinta AulaA Pessoa do Esprito Santo

    Sexta AulaOs Dons e carismas do Esprito Santo

    CARGA HORRIA

    AULA DIA TURNO HORAPrimeira AulaDeus se revela Sbado Tarde 14:00

    Segunda AulaA Santssima Trindade Sbado Tarde 16:00

    Terceira AulaDeus Pai Domingo Manh 08:00

    Quarta AulaA Pessoa de Jesus Domingo Manh 10:00

    Quinta AulaA Pessoa do Esprito Santo Domingo Tarde 14:00

    Sexta AulaOs Dons e carismas do Esprito Santo Domingo Tarde 16:00

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    INTRODUO GERAL

    Voc est recebendo em mos uma verso compacta do curso de Formao Bsica para um curso defim de semana. Essa verso foi inspirada e preparada a fim de dar uma resposta atualizada e criativa quealcance a humanidade a quem estamos destinados e a quem devemos desposar com parresia e intelignciamissionria. Sabendo que o homem hodierno tem uma rotina completamente diferente de algumas dcadasatrs, no podemos nos contentar em realizar atividades que por mais que estejam tradicionalmenteorganizadas (cursos, aulas, etc.), ainda tem alcance tmido e incipiente. No podemos responder de formadesatualizada aos grandes flagelos que grassam a vida cotidiana, impedindo que o homem de hoje caminhepara a estatura de Cristo.

    O curso de formao bsica nasceu sob a inspirao de formar o homem por inteiro, sobretudo pelaorao, alm do conhecimento, alcanando sempre os pontos nevrlgicos do seu crescimento para santidadee o desconhecimento da verdade sobre Jesus Cristo, das verdades fundamentais da f e da ao do EspritoSanto que atua nos coraes e os converte, fazendo assim possvel a santidade, o desenvolvimento dasvirtudes e o vigor para tomar, a cada dia, a cruz de Cristo, deve ser um fato freqente, entre ns, catlicos1,foram fortes aspectos que nos impulsionaram a nos comprometermos com o veemente apelo do Santo Padre,Joo Paulo II, para uma Nova Evangelizao e nos impeliu a assumir o nosso papel de agentes edestinatrios da Boa Nova da Salvao e a exercer no mundo, vinha de Deus, uma tarefa evangelizadoraindispensvel 2.

    Todo processo evangelizador s se concretiza plenamente atravs de duas etapas profundamenteimportantes, onde uma no prescinde da outra. Como primeira etapa prioritria e fundamental compreendemosa proclamao vigorosa do anncio de Jesus Cristo morto e ressuscitado (querigma), raiz de toda aevangelizao, fundamento de toda promoo humana e princpio de toda e autntica cultura crist 3, anncioeste capaz de levar os batizados a darem sua adeso pessoal a Jesus Cristo pela converso primeira e comosegunda etapa imprescindvel, a catequese, pois cometeramos um erro grave se ficssemos satisfeitos emapenas anunciar Jesus Cristo, sem oferecer posterior e permanentemente formao doutrinria e teolgica queproporcione subsdios que permitam ao indivduo ultrapassar os desafios da vida nova em Cristo. estaformao que atualizar incessantemente a revelao amorosa de Deus manifestada em Jesus Cristo,levando a f inicial sua maturidade e educando o verdadeiro discpulo de Jesus Cristo 4. Portanto estacatequese no pode chegar de forma superficial, incompleta quanto aos seus contedos, ou puramenteintelectual, sem fora para transformar a vida das pessoas e de seus ambientes 5.

    Diante desta necessidade fundamental de atingirmos o processo de evangelizao em sua plenitude,surgiu o curso de Formao Bsica (FB), que tem a proposta de oferecer uma formao slida na doutrina epontos fundamentais da teologia catlica adaptadas realidade dos leigos hoje, que tenham tido uma primeiraexperincia com Deus atravs dos diversos canais que a Igreja oferece.

    Como o objetivo deste curso de ultrapassarmos o contedo informativo e atingirmos o aspectoformativo, isto , que verdadeiramente a informao doutrinria e teolgica recebida penetre no mais profundodo ser de cada pessoa e transborde em mudana concreta de vida; vimos a necessidade de levarmos osalunos a orarem com o contedo ministrado em sala de aula. Para isto, cada mdulo composto de um livrotexto que contm os objetivos e contedo de cada aula, destinado somente queles que anteriormentereceberam o treinamento para se tornarem ministros de ensino e um livro de exerccios de orao, destinadoprincipalmente ao aluno. Este livro de exerccio de orao traz orientaes para oraes dirias sobre os temasapresentados no livro texto, com o intuito de aprofundar o que o ministro de ensino informou em sala de aula.

    O ministro de ensino dever, pelo menos uma vez, fazer os exerccios dirios de orao, relativo aomdulo que est ensinando, por dois motivos fundamentais: primeiro, para que ele possa acrescentar aocontedo experincias pessoais daquele determinado assunto que est ministrando; segundo, para ficar emunidade com o que seus alunos esto experimentando pessoalmente e possa promover e fomentar a oraodiria e a partilha semanal, pois atravs da partilha dos frutos trazidos pela orao diria que o alunoverificar o seu real crescimento e vivncia do tema que est sendo estudado. Isto deve ser feito durante osquinze minutos primeiros de aula, uma vez que, sem orao, a teologia e a doutrina sero mero conhecimentointelectual que no transforma vidas.

    Nossa experincia na formao de leigos nos Centros de Formao da Comunidade Catlica Shalomnos tem ensinado que, em nenhum momento, este curso de Formao Bsica (FB) dever substituir a reuniode grupo de orao, crculos bblicos, crculos de casais ou outras atividades caractersticas da riqueza de cada

    1 Doc. de S. Domingo Cap. I, 39 - 402 Idem Cap. I,94.3 Idem Cap. I,334 Idem Cap. I,335 Idem Cap. I,42

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    O curso ministrado atravs de mdulos. Cada mdulo contm material para ser ministrado numacarga horria de 12 horas/aula por fim de semana que ao final ser pedido do aluno um relatrio de avaliaodo aproveitamento do curso, atravs de prova oral para aqueles que tem dificuldades intelectuais ou fsicas(analfabetos ou deficientes fsicos), ou escrita.

    Este curso vem sendo aplicado desde o ano de 1991, em diversas cidades, idades e nveis culturais,que j fizeram seminrio de vida no Esprito Santo e continuam a freqentar seus grupos de orao no perododo curso. Temos colhido frutos concretos e abundantes: um maior amor Igreja, Palavra de Deus, aossacramentos, orao, liturgia, a Maria Santssima, aos sacerdotes, e tambm crescimento espiritual eprofundas converses. O programa de formao foi aplicado tambm em algumas cidades onde no haviaescolas de formao, no sistema de final de semana, ministrado em duas etapas, tendo as pessoas secomprometido a fazerem os exerccios de orao durante os dois meses que separavam a primeira etapa dasegunda e concluir os exerccios de orao aps a segunda etapa por mais dois meses. muito importanteque este programa de Formao Bsica atinja um maior nmero de pessoas.

    Entregamos este curso aos cuidados da Rainha da Paz e de Santa Teresa de Jesus.

    Shalom!

    OBSERVAES IMPORTANTES

    Caro irmo (), ministro de ensino,

    Louvado seja Deus por sua presena no ministrio de ensino! Que o seu ministrio possa serexercido sempre na uno do Esprito Santo, em unidade perfeita com o Senhor Jesus, o verdadeiro e nicoMestre. A seguir voc encontrar os pontos bsicos e fundamentais que no podem deixar de ser abordadosnas aulas. Esses textos so como roteiros que contm os assuntos de cada aula. Voc, ministro de ensino, seguiar por ele, mas confiamos que dar continuidade pesquisando e aprofundando cada um dos temas nabibliografia indicada no final de cada assunto.

    Observe os procedimentos importantes a serem tomados no incio do curso, conforme orientaoabaixo:

    1. orao inicial com louvor, entrega e escuta de Deus para este curso.2. explicao aos alunos sobre a pedagogia do curso, isto , o aspecto informativo e formativo, o que

    requer a fidelidade carga horria orao.3. Ao final, momento de partilha dos frutos dos exerccios de orao.4. Preenchimento da lista de freqncia dos alunos.5. Avisos.

    Que Deus o abenoe e faa primeiramente em voc tudo aquilo que ser ensinado para seus alunos.

    Shalom!

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    PRIMEIRA AULA

    DEUS SE REVELA

    ROTEIRO DO CONTEDO

    1 - Deus se revela

    1.1 Na criao do universo1.2 Na criao do homem1.3 Na histria da salvao do homem

    2 - O homem recebe a revelao de Deus

    2.1 Na natureza.

    2.2 Nas intervenes de Deus na histria " Deus-conosco"2.3 Em si2.4 No outro

    3 - A Igreja: transmissora da Revelao divina (Cat 84-95)

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    DESENVOLVIMENTO DO TEMA

    DEUS SE REVELA

    o "Por uma deciso totalmente livre, Deus se revela e se doa ao homem. F-lo revelando seumistrio, seu projeto benevolente, que concebeu desde toda a eternidade em Cristo em prol detodos os homens. Revela plenamente seu projeto enviando seu Filho Bem-Amado, Nosso

    Senhor, Jesus Cristo, e o Esprito Santo"6

    .

    o Como Deus uno e trino, impossvel amar e conhecer um, sem amar e conhecer os outrosdois necessariamente. Este conhecimento de Deus (conhecimento no sentido bblico dapalavra, que pressupe intimidade e relao prolongada entre duas pessoas), sempreiniciativa de Deus. Ele quem se faz ver (e este o sentido da palavra revelar ou seja, tirar ovu), e esta revelao gradativa.

    o Historicamente falando, Deus escolheu um povo, e a partir de Abrao foi-se deixando ver,experimentar, foi dando curso ao que hoje em dia chamamos de Histria da Salvao. OSenhor Deus Altssimo resolve entrar no tempo e levar a criatura humana a usufruir daeternidade, no s depois da morte, mas desde aqui e agora, como nos diz So Joo: " A vidaeterna consiste em que te conheam a ti, um s Deus verdadeiro, e a Jesus Cristo que

    enviaste"7

    .

    o Esse conhecimento de Deus alcana o homem pela luz natural da razo e pelo senso da f,que exercitado e sustentado pelo Esprito Santo, a partir das palavras e aes de Deus.Assim que ensina o catecismo da Igreja catlica: "Mediante a razo natural, o homem podeconhecer a Deus com certeza a partir de suas obras. Mas existe uma outra ordem deconhecimento, que o homem de modo algum pode atingir por suas prprias foras, a darevelao divina8.

    o Na criao do universo

    o Leia Gn 1 (todo), sublinhando as palavras-chave, como: "Princpio", "Deus disse", "Faa-se","Faamos" e outras....

    o Atravs destas passagens das escrituras encontramos quatro afirmaes importantes:

    o - O Deus eterno ps um comeo a tudo o que existe fora dele. Tudo e todos, temos umprincpio.

    o - S Ele Criador. S Deus cria do nada, s Deus capaz de dar a vida, pois s Ele tem avida em si mesmo. E tudo isso Ele fez e faz movido por um s motivo: deixar transbordar de simesmo sua essncia - o amor. Deus amor que cria, que d vida e que sustenta a criao.Deus amor traduzido e refletido em todo ser vivente. Deus no est em tudo como se tudofosse um pedao de Deus, mas toda a criao sinal daquilo que Ele : Criador do cu e daterra, de todas as coisas visveis e invisveis. Deus disse: Faa-se a luz! E a luz foi feita8. ARevelao assim nos ensina que tudo foi criado por uma ordem explcita de Deus.

    o - Tudo o que Deus faz corresponde ao que Ele pensa e est em unssono com o que Ele . EDeus amor. esta a verdade da qual precisamos estar profundamente imbudos econvencidos: Deus amor, e tudo criou por amor e para o amor.

    o - Tudo o que existe depende daquele que o criou. Ns sabemos que s Deus , que nele nadatem princpio ou fim, que tudo nele absoluto e perfeito, que "todas as coisas subsistem nele"9e que, como rezamos a cada missa, s Ele "d vida e santidade a todas as coisas".

    o Observao: Algumas pessoas questionam se as coisas aconteceram como est escrito noprimeiro captulo da Bblia ou se foi uma evoluo de milhes de anos. O que a Igreja diz queesta linguagem , obviamente, uma linguagem figurada, e que os captulos 1 e 2 do livro de

    6 Catecismo da Igreja Catlica,507 Jo 17,38 Catecismo da Igreja Catlica,508 Gn 1,39 Col 1,17b

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    Gnesis tm por objetivo descrever a criao e afirmar a verdade de f de que tudo vem deDeus, e no, descrever o mecanismo que Deus utilizou para esta criao.

    o Na criao do homem

    o "Ento Deus disse: Faamos o homem nossa imagem e semelhana"10.

    o A obra prima da criao de Deus o homem. sobre o homem que Ele imprime sua imagem esemelhana. ao homem que capacita conhec-lo e am-lo. com o homem que Deuspartilha outro atributo que s seu: a liberdade, o livre arbtrio. Deus doa-lhe a vida, uma almaimortal e a liberdade.

    o Os dois primeiros captulos de Gnesis deixam bem claro que tudo foi criado para o homem.Do universo mais longnquo ao elemento mais microscpico que talvez nunca venha a serdescoberto pelo homem. Tudo foi criado para ele, em prol de sua vida, de sua felicidade, doseu conhecimento de Deus, de sua caminhada de amor. O Senhor Deus cria todas as coisaspara d-las ao homem. Deus criou todas as coisas para que o homem delas usufrusse, evisse nelas o quanto era amado pelo seu Senhor; para que o homem gozasse de suascriaturas e em resposta louvasse, na mais perfeita liberdade e conscincia, quele que tudolhe dera por amor. Para ns o importante neste momento da formao bsica, estarmosconscientes de que tudo foi criado por amor para o homem.

    O homem foi criado imagem e semelhana de Deus

    o Mas o que o difere das demais criaturas, dos animais e das plantas que tambm foram criadospor amor? que o homem participa da natureza divina ao receber de Deus uma alma imortaldotada de inteligncia e vontade que formam a base de sua liberdade, elevando-o assim semelhana de Deus. O ser humano a obra prima de Deus porque foi criado por amor e parao amor. O homem vocacionado a amar. e livre para amar a Deus acima de todas as coisas,e aos outros por amor a Deus. Dentre todas as outras obras da criao visvel, s o homempode amar a Deus. A criao reflete a glria de Deus, mas o homem a reflete de forma perfeitaporque pode, como Deus, ser livre e amar. E esta, na verdade, a nica e real liberdade dohomem: optar por am-lo acima de todas as coisas, com toda a sua inteligncia, vontade, comtodas as suas foras.

    O homem um ser religioso

    o O desejo por Deus est no corao de homem. O homem tem a graa de buscar a Deus, dedesejar ir ao encontro de Deus, pois foi criado por Ele e para Ele. O seu princpio e fim ltimo Deus. A felicidade da sua vida se encontra no corao de Deus, por isto, somente na vida deunio com Deus que ser verdadeiramente feliz.

    o A dignidade do homem est na sua vocao de viver em comunho com Deus. Ele precisa serelacionar com Deus, ser ntimo de Deus da mesma forma que um filho precisa se relacionarcom o seu pai. Assim nos diz S. Agostinho: "Quando eu estiver por inteiro a vs no maishaver dor e provao; repleta de vs por inteiro, minha vida ser verdadeira"11.

    o Esta busca de Deus pode se manifestar de vrias maneiras: atravs das oraes, sacrifcios,cultos, meditaes, etc. ou at mesmo esta busca pode acontecer atravs de caminhos falsosonde ser impossvel encontr-lo. E ainda esta busca pode ser esquecida, ignorada ou atrejeitada claramente. Esta busca do homem a Deus uma conseqncia da busca de Deus aohomem. Deus que ama primeiro, quem nos busca primeiro12. Deus no cessa de chamartodo homem a procur-lo, para que viva e encontre a felicidade: "Um semeador saiu asemear"

    13. Deus que sai em direo ao homem. Deus que no espera a vinda do homem, mas

    sai sua procura, no escolhendo ningum e querendo a todos.

    o Encontramos ainda que: "Com efeito, o reino dos cus semelhante a um pai de famlia quesaiu ao romper da manh a fim de contratar operrios para a sua vinha"

    14. Deus,continuamente como este pai de famlia, chama os homens ao reino dos cus, salvao.

    10 Gn 1,2611 Hipona, Agostinho, Confisses, 10,28-3912 cf. 1 Jo 4,1013 Mt 13,314 Mt 20,1

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    Chama a todos, e a qualquer hora, sem fazer nenhuma discriminao, nem acepo depessoas. Todos so chamados a esta vida de unio com Deus. Deus chama o homem e ocapacita, com o dom da graa, oferecido no batismo, a responder ao seu chamamento.

    o Esta busca de Deus requer do homem todo esforo de sua inteligncia, retido da suavontade, um corao reto, e tambm o testemunho dos outros, que o ensinam a procurarDeus"15, "pois todo o mal do homem e todos os seus erros so conseqncia de no seguirplenamente os ensinamentos de Deus"

    16.

    O homem chamado a viver a comunho com Deus e os irmos

    o A criao do homem imagem e semelhana de Deus lhe concede a capacidade intrnseca eessencial para amar e para conhecer a Deus, como j vimos, mas tambm lhe confere acapacidade intrnseca e essencial para amar e conhecer a si mesmo, ao outro e s coisas.

    o Havendo Deus criado o homem, homem e mulher17, Ele colocou na essncia do ser humanoa abertura intrnseca para o outro, a profunda necessidade do outro para conhecer-se a siprprio, para amar e ser amado, para chegar a Deus. O homem sexuado "metade" (= sexus,parte) e est, assim aberto para o outro, de quem necessita, e para Deus de quem vem e paraquem vai. O livro do Eclesistico captulo 17,1-12 nos ajuda a aprofundar isto.

    O homem chamado a participar da obra da criao administrando a terra

    o semelhana de Deus-Criador, o homem chamado a participar da obra de criaoadministrando a terra como Deus a administraria e utilizando a sua inteligncia para descobrire inventar o que para o bem do homem.

    o Exatamente porque o homem livre, racional, inteligente e dotado de uma alma imortalque o possibilita a amar a Deus, pois dele imagem e semelhana, o Senhor lhe d domniosobre tudo, como lemos nos dois trechos propostos. O homem recebe de Deus a ordem deadministrar toda a criao (tudo em que haja sopro de vida); Deus lhe d a posse da lei davida, chamando-o a ser co-criador que significa gerar novas vidas, ou seja, outros sereshumanos, alm de poder transformar a natureza. As palavras que encontramos em Gnesisso: "Que ele reine", "Eis que vos dou", "dominai", "multiplicai-vos, enchei a terra e submetei-

    a". E com a bno de Deus, o homem e a mulher foram chamados a assim viver e a agir comum nico fim: "celebrar a santidade do seu nome, e o glorificar por suas maravilhasapregoando a magnificncia das suas obras". O domnio e a posse em Deus sinnimo deservio de doao, e no de poder de dominao ou de destruio. E esta reflexo nos leva aperceber a diferena gritante entre o projeto inicial de Deus ao criar o homem e dar a ele aposse da criao, e o que aconteceu depois do desastre do pecado original... Ns hoje,recriados em Jesus Cristo, somos chamados a novamente viver o projeto inicial do Senhor,seja nos relacionamentos, seja na posse dos bens materiais, seja no respeito da vida humana,seja no que consideramos prioridade para a nossa vida. Ns fomos criados para receber oolhar de Deus em nossos coraes e celebrar a santidade de seu nome, ou seja, sermos olouvor da sua glria, celebrando-o continuamente18. Nesta semana ns somos convidados alouvar a Deus Pai Criador, que tudo fez por amor com perfeita sabedoria. Somos chamados anos encantarmos com a criao e agradecermos por ela e pela sensibilidade de sabermos que

    ela um presente seu e meu. Somos chamados gratido por podermos usufruir dela e desermos capazes de transform-la, de sermos co-criadores com o Senhor. Tambm devemospedir ao Senhor a sua sabedoria para fazer com responsabilidade o nosso papel deadministradores dos bens do Senhor a ns confiados, tanto os espirituais (a inteligncia, avontade, a liberdade, a razo, a alma imortal) quanto os materiais.

    o Na histria da salvao

    o Da caminhada com o homem no paraso, passando pela promessa do Salvador aps opecado, Deus vai dando ao longo da Histria da Salvao momentos especiais onde Ele serevela tal como , e o homem o percebe dentro de suas limitaes humanas e na medida emque corresponde graa.

    15 Catecismo da Igreja Catlica,3016 Is 48,17s17 cf. Gen 1,2718 cf. Ef 1,12

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    o Deus utiliza uma pedagogia toda especial de revelar-se ao homem de uma maneira que estepossa perceb-lo e interpretar o que Ele quer dizer. Exemplos disso seriam a sara ardente(Ex 3), a coluna de fogo (Num 9,15-23) e o carro divino (Ez 1).

    o Ao longo da Histria da salvao, Deus se utiliza igualmente de acontecimentos para revelarao homem seu modo de ser e agir. Exemplos disso seriam: 2 Sam 11 e 12, o livro de J, o livrode Rute, inmeros Salmos, entre eles o 63, 64, 65, 91. Poderiam ainda ser listados osepisdios da vida de Jos no livro de Gnesis, da torre de Babel, da Arca de No, todo o livrode Osias, e episdios da vida de Jos, Maria, Me de Jesus e Saulo, no Novo Testamento(para citar somente alguns).

    O HOMEM RECEBE A REVELAO DE DEUS

    o Deus, que por uma deciso totalmente livre, se revela e se doa ao homem, comunicando-lhe asua prpria vida divina, o cria e o capacita a conhec-lo e am-lo.

    Na natureza

    o Desde cedo, na histria da salvao, o homem foi capaz de perceber a presena de Deusatravs da natureza19. Esta percepo fruto da reflexo de um povo, que se abriu graa deentender que tudo vem de Deus, que s Deus eterno, no criado, existe antes de tudo edesde sempre e que tudo criou. O texto de Gen 1 antiqussimo e um dos exemplos maispreciosos de revelao de que o homem, atravs da natureza criada, v Deus no criado ecriador de tudo. Outro belo exemplo disto encontramos no Salmo 8.

    o Existem tambm outros textos bblicos do Antigo Testamento que mostram o homempercebendo que Deus se utiliza da natureza para falar-lhe. o caso do dilvio, do episdio deSodoma e Gomorra, da Torre de Babel (todos no Livro do Gnesis), da nuvem de fogo, doman e das codornizes, das doze pragas do Egito, da abertura do Mar Vermelho (todos noLivro do xodo), da abertura do rio Jordo, no sol que parou (no Livro de Josu nos captulos 3e 10), entre inmeros outros exemplos que voc mesmo recordar. ainda o caso demuitssimas passagens dos Evangelhos (Mt 8,27, dentre outras) e do Livro dos Atos (At 27 e28). A natureza, em si, fala ao homem de Deus. Deus se utiliza da natureza para revelar-se aohomem.

    Nas intervenes de Deus na histria -"Deus - conosco"

    o O exemplo tpico de como o homem percebe Deus intervindo em sua histria a expressomuito tpica do Antigo Testamento: "Deus de Abrao, Isaac e Jac". Deus "entra" na histria davida pessoal de Abrao para formar um povo, de tal forma que a cada vez que Ele intervm, apartir da20 intervir em toda a histria do povo e no mais na existncia de um homem apenas,uma vez que ele no mais Abro ( = pai elevado), mas Abrao ( = pai de uma multido)21.

    o Da revelao e interveno na histria do povo atravs da natureza ou teofanias (muitas vezeschamadas de aparies de "anjos" no Antigo Testamento, como por exemplo no captulo 18 deGnesis, Deus passa a revelar-se atravs dos profetas, homens e mulheres escolhidos porDeus para falar ao povo em seu nome. Os patriarcas, que foram os "pais" de Israel, (Abrao,

    Isaac, Jac), os grandes lderes que conduziram o povo (Moiss, Josu, Juizes, Esdras,Neemias, Davi, Salomo, Judas Macabeu) foram mais e mais sendo substitudos pelosprofetas, que falavam ao povo em nome de Deus, exortando-o, ensinando-lhe, anunciandoAquele que seria a maior e mais definitiva participao de Deus na pobre vida humana, oEmanuel, o Deus-conosco (vale a pena ler Is. 7,10-24): Jesus Cristo, o prprio Deus que sefaria homem.

    Nas intervenes de Deus em sua vida pessoal

    o Deus se revelou ao homem ao longo de muitos sculos, at que finalmente no tempo propcio,enviou o seu prprio Filho em quem se revelou, fazendo-se Deus-conosco. Hoje, Deus aindaage na histria, como na vida pessoal de cada um de ns. De forma muito concreta, possoexperimentar isto pelas graas que recebo, pelas transformaes que percebo ir alm da ao

    humana.

    19 cf. Gen 120 cf. Gn 12ss21 cf. Gn 18

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    o Neste item ser interessante levar os alunos a partilharem vrias intervenes de Deus emsuas vidas pessoais. Seria bom que o professor introduzisse o item com um testemunho desua prpria vida, deixando claro que a grande e fundamental interveno de Deus em sua vidafoi o batismo que recebeu quando criana e que abriu sua alma para receber e acolher Deus.

    "Deus no outro"

    o Tome Mt 25,31-46

    o Pea aos alunos para avaliarem em silncio como tm visto Deus no outro e como tm amadoconcretamente Deus, em seus irmos. Em seguida, conte-lhes como voc tem feito isso, comoDeus tem utilizado dos seus irmos para revelar-se a voc.

    A IGREJA: TRANSMISSORA DA REVELAO DIVINA

    o A Revelao est completa em Jesus. Assim, em Jesus e com Jesus se d a plenitude daRevelao de Deus. Em Jesus e por Jesus Ele se revela plenamente como Trindade. EmJesus Ele nos faz filhos no Filho e se revela como Pai: Pai de Jesus e - em Jesus - nosso Pai.

    o A Igreja, porm, tem por dever e misso aplicar a verdade revelada por Jesus s diversasnecessidades pelas quais passam seus fiis ao longo da histria. Assim, os documentos daIgreja so aplicaes da verdade revelada pelo evangelho s situaes e desafios concretosda vida do homem no tempo. Vejam-se, por exemplo, as diversas encclicas sobre o trabalho,a famlia, o controle da natalidade, o sofrimento humano, a misso dos leigos, a defesa davida, etc. Jesus no falou diretamente da plula anticoncepcional, por exemplo, nem daeutansia. Porm, o que Ele revelou e o modo como viveu e morreu aplica-se a toda situaoda vida humana e permite Igreja, iluminada pelo Esprito Santo, e aps estudo cientfico darealidade de hoje, responder, luz do Evangelho, qual a vontade de Deus acerca destes e deoutros desafios to cruciais na vida do homem.

    o Embora este assunto seja aprofundado mais adiante, quando falarmos de Jesusespecificamente, necessrio que se saiba que nele, por Ele e com Ele, realiza-se a plenarevelao de Deus e que a Igreja vela e zela por esta revelao - da qual depositria - e temo dever de aplic-la ao concreto da vida humana.

    o Fale da importncia da obedincia Igreja para estar no centro da vontade de Deus,especialmente hoje em dia, quando tantas idias e mentalidades tentam nos afastar dessavontade, mascarando-a e distorcendo-a. Partilhe como voc descobriu orientaes essenciaisatravs de um documento da Igreja e leve-os a partilhar como eles tm recebido asorientaes do Magistrio da Igreja.

    o importante que estimule seus alunos a procurar conhecer, e se aprofundar no conhecimentoda vontade de Deus atravs dos documentos da Igreja. Leve para sala de aula, algunsdocumentos que voc tenha ou que seja fcil de arranjar, para apresent-los aos seus alunos,esclarecendo-os que eles podem encontrar respostas para os mais variados assuntos.

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    SEGUNDA AULA

    A Santssima TrindadeROTEIRO DO CONTEDO

    1 - A f Catlica trinitria

    2 - Elementos constitutivos-Doutrina da Santssima Trindade

    3 - Trs aspectos da Santssima Trindade: O dogma

    3.1 Igualdade3.2 Diferena

    3.3 Unidade

    4 - Mistrio e dinmica da Trindade

    5 - A ao trinitria de Deus:

    6 - A Trindade e ns:

    6.1 Ns e o Pai

    6.2 Ns e o Filho

    6.3 Ns e o Esprito Santo

    6.4 Na Trindade encontramos nossa identidade

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    DESENVOLVIMENTO DO TEMA

    A F CATLICA TRINITRIA

    o O mistrio da Santssima Trindade o mistrio central da f e da vida crist. Cremos econfessamos um nico Deus, que Pai, Filho e Esprito Santo. Todos ns cristos somosbatizados "em nome do Pai, do Filho e do Esprito Santo"40. "Batizar em nome de" significa"consagrar a algum" ou mesmo "colocar a servio de". Portanto, pelo batismo, todos os

    homens so colocados a servio ou so consagrados ao Pai, ao Filho e ao Esprito Santo.

    ELEMENTOS CONSTITUTIVOS - DOUTRINA DA SANTSSIMA TRINDADE

    o o prprio mistrio de Deus. Deus trs. So Trs Pessoas iguais e distintas, massubsistentes em uma s natureza.

    o Um s Deus: existe uma s essncia ou uma s natureza ou substncia divina, um sprincpio: uma s divindade;

    o Trs Pessoas: significa dizer que um nico Deus se d a conhecer como Pai, como Filho ecomo Esprito Santo. No so trs deuses, mas um s Deus ou uma s natureza divina, que seafirma trs vezes.

    TRS ASPECTOS DA SANTSSIMA TRINDADE: O DOGMA

    o Igualdade: A Trindade Una

    o A igualdade das trs Pessoas da Santssima Trindade uma verdade fundamental para anossa f. As trs Pessoas divinas so iguais em tudo, idnticas em tudo. Todas trs Pessoasdivinas possuem a mesma santidade, a mesma glria, a mesma fortaleza, a mesma bondade,a mesma eternidade, onipotncia, oniscincia. Enfim, todas as grandezas e perfeies divinasso iguais nas trs Pessoas divinas. Elas no dividem, nem retalham a nica natureza divina.Pai, Filho e Esprito Santo so iguais em tudo: " A Trindade Una. No professamos trsdeuses, mas um s Deus em trs Pessoas: a Trindade consubstancial. As Pessoas divinasno dividem entre si a nica divindade, mas cada uma delas Deus por inteiro: O Pai aquilo

    que o Filho, o Filho aquilo que o Pai, o Esprito Santo aquilo que so o Pai e o Filho,isto , um s Deus quanto natureza. Cada uma das trs pessoas esta realidade, isto , asubstncia, a essncia ou a natureza divina"41.

    o Assim nos diz um testemunho da Igreja dos primeiros sculos:

    o " esta a f catlica: veneramos um s Deus na Trindade, e a Trindade na unidade. Semconfundir as Pessoas e sem dividir a substncia. Porque uma a Pessoa do Pai, outra aPessoa do Filho, e outra, a do Esprito Santo. Mas o Pai, o Filho e o Esprito Santo tem amesma divindade, igual glria, uma co-eterna majestade".42

    o Diferena: As Pessoas so distintas

    o As pessoas divinas so iguais em tudo, mas so distintas entre si: "Deus nico, mas nosolitrio. Pai, Filho, Esprito Santo no so simplesmente nomes que designammodalidades do ser divino, pois so realmente distintos entre si: Aquele que o Pai no oFilho, e aquele que o Filho no o Pai, nem o Esprito Santo aquele que o Pai ou oFilho43. O que torna as trs Pessoas distintas sem dividir a unidade divina unicamente o seurelacionamento entre si, ou seja, "a distino real das trs Pessoas entre si reside unicamentenas relaes que as referem umas s outras":44a primeira pessoa o "Pai" em relao segunda, o Filho nico.

    o Deus Pai

    40 Mt 28,1941 Catecismo da Igreja Catlica, 25342 Smbolo pseudo-atanasiano em: MADALENA, G. de Sta. M. Intimidade Divina, n. 224, 243 Catecismo da Igreja Catlica, 25444 idem, 255

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    a origem dos outros dois, no no sentido de procedncia, de ser a fonte dos outrosdois. Ele a natureza original, por isto os outros dois se chamam Deus Filho e DeusEsprito Santo.

    o Deus Filho A segunda Pessoa s "Filho" em relao a primeira que seu Pai. a segunda

    Pessoa divina, que procede (no no sentido de tempo nem de criao, porque aspessoas divinas so incriadas) do Pai, vive um relacionamento perfeito de amor com o

    Pai, e expressa em si o pensamento do Pai, sendo por isto mesmo tambm chamadoPalavra, Verbo, ou Sabedoria divina. Jesus tambm chamado na bblia dePrincpio

    45, porque foi nele e por Ele que o Pai criou todas as coisas visveis e

    invisveis46. Jesus procede do Pai tambm porque o enviado do Pai47. o Filho quemrevela o Pai48. Jesus ao revelar que Deus "Pai", quis dizer que Deus origemprimeira de tudo e ao mesmo tempo bondade e amor para todos os seus filhos.

    o Deus Esprito Santo Aquele que gerado do Pai antes de todos os sculos - o Filho -, anuncia o envio de

    um "outro Parclito", a terceira Pessoa que procede do Pai e do Filho, o Esprito Santo,que assim revelado como uma outra pessoa divina em relao a Jesus e ao Pai.Este tambm tem origem eterna e revela-se na sua misso temporal: enviado aosApstolos e Igreja, pelo Pai e pelo Filho49. O Esprito procede do Pai pelo Filho50,

    pois o Filho tem comunho consubstancial com o Pai do qual procede o Esprito.

    o O Conclio de Florena, 1438, assim nos ensina: "O Esprito Santo tem sua essncia e seu sersubsistente ao mesmo tempo do Pai e do Filho e procede eternamente de Ambos como de ums Princpio e por uma nica expirao"51. Assim este a terceira Pessoa divina, que procededo Pai (que a fonte dele e do Filho) e tambm do Filho (porque o Filho que o envia a ns) 52.Sendo onipresente, se rene aos dois e vive com eles, numa comunidade de vida e de amor, erepresenta com perfeio o amor divino que os une.

    o A relao ntima entre as trs Pessoas divinas irreversvel, mas no permutvel. CadaPessoa "tem o seu lugar" no mistrio Trinitrio. O Pai ser sempre Pai, apesar de comunicarsubstancialmente tudo aquilo que Ele . O Filho ser sempre Filho, mesmo que tenha recebidodo Pai a mesma natureza divina, e o Esprito Santo ser sempre Esprito Santo, mesmo

    procedendo do Pai e do Filho.

    o Unidade: A Unidade divina Trina.

    o Tome Jo 17,21-23

    o Tudo procede do Pai e tudo volta para o Pai. Do Pai procede o Filho e o Esprito Santo. OEsprito Santo tem a misso de congregar tudo e todos em torno de Cristo para que Cristoentregue definitivamente tudo e todos ao Pai. Desta forma acontece a unio, a comunho totalentre as trs Pessoas divinas. "Por causa desta unidade, o Pai est todo inteiro no Filho, todointeiro no Esprito Santo; o Esprito Santo, todo inteiro no Pai, todo inteiro no Filho" 53. Por estaunidade trinitria ao rendermos glria ao Pai, o fazemos pelo Filho no Esprito Santo: o cultodas pessoas, infinitamente distintas na Trindade.

    o Tome Jo 10,38

    o Estas palavras de Jesus revelam sua ntima unio com o Pai. O Verbo de Deus est, pornatureza, unido ao Pai de modo substancial, assim como Deus-homem vive intimamente unidoao Pai: toda as suas potncias, foras, afeto, inteligncia tendem sempre para o Pai; toda asua vontade est voltada intimamente para a vontade do Pai. Mesmo exercendo o seuministrio, percorrendo os caminhos da Palestina, pregando, instruindo, discutindo com os

    45 cf. Gn 1,146 cf. Col 1,15-1747 cf.Jo 17,1848

    cf. Mt 11, 2749 cf. Jo 14, 26; 16,1450 cf. Jo 15,2651 Catecismo da Igreja Catlica, 24652 Jo 16,753

    Catecismo da Igreja Catlica, 255

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    fariseus, curando os doentes, ocupando-se de todos, Jesus continua, no seu ntimo, a viveresta maravilhosa vida de unio com as divinas Pessoas.

    o Tome Jo 16,13-15

    o Estas palavras de Jesus denunciam a unidade do Esprito Santo com o Pai e com Ele, oEsprito Santo no falar palavras suas, mas palavras que ouviu do Pai e conseqentementedo Filho.

    MISTRIO E DINMICA DA TRINDADE

    o As trs Pessoas divinas gozam no ntimo de sua essncia de uma perfeita amizade: luz, amor,felicidade, num grau infinito. Portanto, Deus nunca est sozinho, nem em si mesmo e nem emnossas almas. Este mistrio como j dissemos, no pode ser entendido e explicado pelalgica, porm pode ser abraado e vivenciado pela orao e pela vida, na f.

    o "A vida trinitria uma mtua e incansvel doao em perfeita comunho: O Pai que se dtotalmente ao Filho, o Filho que se d totalmente ao Pai e dessa mtua doao procede oEsprito Santo dom substancial que, por sua vez, reflui no Pai e no Filho54.

    o Tome Col 1,15-17

    o O Pai serve o Filho ao criar todas as coisas para Ele e esvazia-se de si ao doar-se inteiramenteao Filho. Assim que ensina o catecismo da Igreja Catlica: "Tudo o que do Pai, o Paimesmo o deu ao seu Filho nico ao ger-lo, excetuado o seu ser de Pai"55.

    o Tome Jo 4,34

    o O Filho, que por ser Filho faz a vontade do Pai, ama-o ao esvaziar-se de si de tal forma que sse alimenta da vontade do Pai e do desejo de cumprir a Sua Vontade Salvfica para ns. AssimJesus serve o Pai.

    o Retome Jo 16,13-15

    o Da mesma forma toda a alegria do Esprito Santo est em servir, amar, e abrir-se ao Pai e aJesus sem reservas. O Pai que tudo criou no poder e no amor do Esprito Santo, tambm vseu Filho fazer tudo no mesmo Esprito.

    A AO TRINITRIA DE DEUS

    o Cada Pessoa divina opera a obra comum segundo a sua propriedade pessoal. atravs dasmisses divinas que as trs Pessoas manifestam o que lhes prprio na Trindade: Deus Pai,do qual so todas as coisas; Deus Filho, que se fez carne56, assumindo a natureza humanapara realizar nela a nossa salvao e Deus Esprito Santo, que une todos os homens a Cristo ef-los viver nele.57 Mas as trs Pessoas divinas so inseparveis naquilo que so e naquilo quefazem58: A ao de Deus uma obra comum das trs Pessoas divinas.

    o

    Na ao prpria de cada Pessoa da Santssima Trindade, as outras Pessoas tambm estopresentes e ativas. Cada Pessoa da Trindade, s ela mesma porque vive numa total entregapara as outras duas Pessoas. Como o Pai seria Pai se no tivesse Jesus, o Filho, o reveladorde forma perfeita e irrestrita? Como Jesus seria o Filho se o Esprito Santo no o tivessegerado no seio da Virgem Maria, revelando-o como homem no mistrio da Encarnao doVerbo, e a partir da t-lo acompanhado e ungido, fazendo dele o Cristo, o Ungido do Pai?Como o Esprito Santo seria o amor de Deus "derramado em nossos coraes"59 ou "openhor", a garantia da nossa salvao, se Jesus no tivesse obedecido ao Pai at o fim,morrendo e ressuscitando por ns? Percebemos, ento, que nunca somente uma das Pessoasda Trindade age. Em tudo o que Deus e faz Ele Uno e Trino, seja na Criao, naEncarnao, na vida pblica de Jesus, na Crucificao, na Ressurreio ou em Pentecostes.

    54

    Catecismo da Igreja Catlica,24655 idem,56 cf. Jo 1,1457 cf. Catecismo da Igreja Catlica, 25858 cf. Idem, 26859 Rm 5,5

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    Um no vive ou age sem o outro, mas s vive e age para o outro, na verdade e natransparncia, na luz e no amor. Somente quando buscamos a Deus com esta mesmadisposio de alma: amor, verdade, servio, abertura e transparncia poderemos encontr-lo econseqentemente sabermos quem de fato ns somos.

    A TRINDADE EM NS

    o O relacionamento Trinitrio transborda para as criaturas.Da mesma forma que as trs Pessoasda Santssima Trindade vivem um relacionamento ntimo, um dilogo de amor entre si, elasdesejam viver esse dilogo com cada um de ns. O Filho que se inclina para o Paipermanecendo um no outro60. O Filho e o Esprito Santo que juntos se voltam para o Pai;ambos enviados para uma misso, pelo Pai. H uma comunho to profunda na ao delesque quase se confunde um com o outro61. Tanto Jesus quanto o Esprito Santo vivem e agemem ns. Esta unio dos dois se abre para a fonte comum, para o Pai62. O Pai e o EspritoSanto esto unidos no amor a Cristo. A vinda de Jesus ao mundo obra do Pai e do EspritoSanto63. So os dois que orientam a caminhada de Jesus. o Filho de Deus porque se deixaconduzir pelo Esprito Santo64.

    o A Trindade totalmente feliz e perfeita em si mesma, no fecha dentro de si sua vida, seu bem,sua felicidade, mas quer compartilhar seus bens prprios com as suas criaturas. A Trindadedeseja iniciar um dilogo com o homem. No apenas a divindade nica, mas cada uma dastrs Pessoas deseja ter uma relao especial com ele, levando-o a encontrar e firmar suaidentidade. Deus chama existncia inmeros seres para comunicar-lhes a bondade e afelicidade em diferentes graus e modos. No por necessitar das criaturas, porque elas nadapodem acrescentar sua glria e felicidade65. No por haver nelas algum bem ou amabilidade,mas para faz-las participantes de seu bem. Por mais que Deus se doe s inmeras criaturas,jamais se esgotar, e tudo que Ele toca se transforma em bem.

    o Ns e o Pai

    o Temos uma relao especial com o Pai. Somos considerados por Ele, seus filhos. Cristo quenos leva a Ele: "Ningum vem ao Pai seno por mim"66. vivendo e amando no Cristo quevivemos e amamos no Pai67. Em Cristo, o Pai deseja ter essa vida de unio com cada um dosseus filhos. Deseja participar e interferir na histria de cada um de ns. A vida de cada homemtem muito valor para o Pai e Ele deseja cuidar dela. Para isso necessita viver conosco umrelacionamento ntimo e concretiza isto fazendo morada no nosso corao68. Morar um nooutro a intimidade da convivncia. Deus deseja conviver conosco, partilhar vidas. E estenosso relacionamento com o Pai participado com o Filho e o Esprito Santo. Cada pequenodetalhe de nossas vidas no passa despercebido diante dele, porque Ele nos ama.

    o Ns e o Filho

    o Jesus assim roga ao Pai: "Dei-lhes a glria que me deste, para que sejam um, como nssomos um: Eu neles e Tu em mim, para que sejam perfeitos na unidade, e o mundo reconheaque me enviaste e os amaste, como amaste a mim"

    69. A profunda e misteriosa unio entre as

    trs Pessoas divinas, Jesus quer v-la prolongada em nossos coraes. Ns somos paraJesus seus "irmos" (amigos)70. Ele o nosso eterno intercessor diante do Pai. Ns somos toimportantes para Ele, no Pai, que Ele deu sua vida por cada um de ns, e destruiu o muro de

    inimizade entre ns e as trs Pessoas. Ele nos revela o Pai e o Esprito

    71

    . So Paulo chegou aviver esta intimidade total e radical da Trindade e com a Trindade, atravs de Cristo: "J nosou eu que vivo, mas Cristo que vive em mim"

    72. O Pai e o Esprito Santo se alegram e nos

    impulsionam a intensificar nossa relao ntima com Cristo, pois assim intensificam nossarelao ntima com eles.

    60 Jo 1,1861 cf. Rm 8,2.9-1062 cf. Rm 8,11; Jo 14,2663 cf. Lc 1,3564 cf. Rm 8,1465 cf. Eclo 42 2166 Jo 14,667

    cf. Jo 16,27; Jo 14,2168 cf. Jo 14,2369 Jo 17,22s70 cf. Lc 12,4; Jo 15,1571 cf. Jo 15,9s72 Gal 2,19s

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    o Ns e o Esprito Santo

    o E como no poderia deixar de ser, ns temos tambm uma relao especial com o EspritoSanto. A relao do Filho com o Pai, quem nos introduz nela o Esprito Santo: "O EspritoSanto, que o Pai enviar em meu nome, vos ensinar tudo e vos recordar tudo o que eu vosdisse"

    73. O Esprito Santo nos far "conhecer", isto , vivenciar o mistrio divino. Ns somos

    templos do Esprito Santo e por habitar dentro de ns, por viver conosco na intimidade, nspodemos conhec-lo e Ele pode e deseja nos ensinar profundamente74. necessrio quecomo Jesus, nos deixemos conduzir pelo Esprito Santo para nos tornarmos filhos de Deus 75 epodermos ter essa relao ntima, filial, porque o Esprito Santo foi derramado nos nossoscoraes76. Ele quem nos santifica, quem nos ensina a rezar, a falar com o Pai, pelo Filho. Ele quem socorre a nossa fraqueza e ao dialogarmos com Ele, o nosso dilogo est aberto etransparente para o Pai e o Filho.

    o Na Trindade encontramos nossa identidade

    o Esta vida de unio com cada uma das Pessoas da Santssima Trindade a nossa realizaomais profunda: "a gloriosa liberdade dos filhos de Deus"77.A morada da Santssima Trindadeem nossos coraes, a "permanncia" com a Santssima Trindade tem o objetivo de nossantificar e nos transformar sempre mais na imagem do Filho de Deus78. Este relacionamentontimo entre cada Pessoa da Trindade e o homem o levar a viver "pela Trindade", isto , viverpelo Pai, pelo Filho e pelo Esprito, transformando-o cada vez mais semelhante ao Filho, queserve e ama o Pai no Esprito Santo. Precisamos crescer cada vez mais nesta vida de uniocom eles. isto que Deus nos chama a viver.

    o Tome Col 3,1-3

    o Nossa identidade, origem e fim ltimo Deus. Numa imagem bem simples: ns sconhecemos nosso rosto quando temos um espelho. Caso no tenhamos, nunca de fatosaberemos como e quem ns somos e viveremos s custas daquilo que dizem de ns ou decomo os outros nos vem. Da mesma forma nossa verdadeira identidade, imagem e rosto spodem ser vistos se tivermos Deus como espelho, pois Ele o nosso criador e s Ele pode dara vida, como j no-la deu.

    o na orao, na busca desse Tuque encontraremos o nosso verdadeiro Eue teremos curadasas deformaes que temos da nossa prpria imagem. No seu amor, Deus nos convida echama a participarmos da mesma dinmica de relacionamento que existe na Trindade. Se oPai s se reconhece como Pai no Filho, da mesma forma eu s serei verdadeiramente filho oufilha de Deus, s serei pessoa ntegra, inteira e livre quando participar da vida trinitria desdeagora neste mundo. Ns fomos feitos imagem e semelhana de Deus e isso significa quens temos com Ele a mesma relao de origem, ou seja, o amor. Cada um nico, especial einsubstituvel, como nos asseguram as Escrituras79, e cada um fruto dessa infinita eabundante criao que nunca se esgota e nunca se repete (eis aqui um argumento lgico, reale irrefutvel contra o princpio da reencarnao). A orao nos d o verdadeiro sentido daindividualidade e da autonomia que cada ser humano tem diante de Deus e diante de simesmo. Olhando para o Pai, para Jesus e para o Esprito Santo como pessoas reais e vivas,veremos que ns tambm estamos nos tornando reais, pois a realidade Cristo 80, no sentido

    pleno da palavra.o A orao voltada para a realidade da Trindade nos ensinar tambm a nos relacionarmos uns

    com os outros, pois sendo Deus comunidade de amor, nos levar tambm a s-lo. A oraoverdadeira diante do Senhor nos arrancar das garras do nosso egocentrismo capaz de noslevar morte, e nos assegurar o papel que temos a cumprir no Reino, dentro da soberana eperfeita vontade do Pai, sendo servos e transparentes uns com os outros.

    73 Jo 14,2674 cf. Rm 8,1675

    cf. Rm 8,14-1676 cf. Gal 4,677 Rm 8,2178 Rm 8,2979 cf. Is 43,1-580cf. Col 2,17

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    TERCEIRA AULA

    Deus Pai

    ROTEIRO DO CONTEDO1. As falsas imagens de Deus

    2. As imagens de Deus no Antigo Testamento

    2.1 O Senhor de toda vida do homem

    2.2 O Deus dos Exrcitos

    2.3 O Deus protetor oculto na nuvem

    2.4 O Criador de todas as coisas

    2.5 O Deus de Abrao, Isaac e Jac2.6 O Rochedo

    2.7 Todo-Poderoso (El Shadai)

    2.8 Deus misericordioso, lento para clera

    2.9 Deus Pai de Amor

    3. Jesus nos revela que Deus Pai

    4. Obras de amor de Deus Pai

    4.1 Encarnao

    4.3 nos participantes da sua natureza divina

    4.4 Providenciando tudo para ns

    4.5 Concedendo a Filiao Divina

    4.6 Perdoando os nossos pecados

    5. F no Amor misericordioso de Deus

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    DESENVOLVIMENTO DO TEMA

    AS FALSAS IMAGENS DE DEUS

    o Tomar Jo 14,8s

    o Todos ns, de uma forma ou de outra, guardamos em ns uma imagem deformada de Deus,isso porque aprendemos errado ou porque projetamos em Deus as imagens imperfeitas quenos cercavam na primeira infncia. Qual de ns no ouviu um dia na vida: "No faz isso senopapai do cu castiga" ou, "papai do cu vai ficar triste com voc?" Precisamos purificar nossamente sobre o que recebemos e sabemos de Deus. Em grande parte esta foi a misso deJesus: revelar-nos o Pai. A nica possibilidade de sairmos destas falsas imagens vermos oque Deus fala de si mesmo na Bblia, entendendo as Escrituras a partir dos ensinamentos deJesus Cristo. Reconhecendo que o nosso conhecimento de Deus parcial e imperfeito,devemos empreender um itinerrio para encontr-lo, no como imaginamos, mas comoverdadeiramente ele

    o importante levantarmos falsas imagens que, de modo geral, parecem ocupar ospensamentos de muitos cristos de nosso tempo. Estas imagens nascem a partir de visesdeturpadas de Deus, vises que todos trazemos, em menor ou maior nvel.

    Deus no

    Um Deus distante

    o Muitas pessoas acham que Deus distante, quer dizer, indiferente ao que acontece aoshomens, que no se importa se estejam bem ou mau. Este pensamento no verdadeiro,porque Deus no egosta, nem deixa os homens na solido, sem se importar com seussofrimentos, ansiedades, problemas ou tristezas. Tem falsa imagem de Deus quem o v comoalgum muitssimo poderoso que no d espao para o homem, que o reduz a um "nada" dequem ele se afasta e que no deseja acolher. Devemos lembrar a imagem do Filho prdigoque manifesta o corao amoroso de Deus ansioso pelo retorno do seu filho (ns pecadores).

    O ensinamento de Jesus sobre Deus no diminui a majestade divina, Deus continua comoaquele que est nos cus, porm tambm o Pai Nosso ou segundo a expresso do tempode Cristo o Abb, que significa paizinho ou papai.

    Um Deus escravo

    o Esta outra falsa imagem de Deus onde o homem o instrumentaliza, achando que Deus umobjeto de resoluo para seus problemas, seu "escravo". Esta falsa concepo de Deus perdede vista a majestade divina, sendo o ponto inverso da anterior, no compreende que os juzosdivinos so eternos e imutveis, que devemos sempre nos aproximar de Deus com o santotemor.

    Um Deus opressor

    o a falsa imagem do Deus tirano e cobrador, que v em Deus algum que anota nossas faltaspara nos castigar uma a uma. um Deus que oprime, com o qual eu tenho que manteraparncias para ao morrer ser recompensado por uma boa vida. Desta forma, compreende-seDeus como algum a quem "pago" minha salvao com promessas, esmolas, novenas e ritosfeitos no por amor e com o corao, mas por medo de ir para o inferno e para aplacar aclera de Deus. O no reconhecimento da misericrdia e da gratuidade de Deus faz nasceresta deturpao que atinge no mago o relacionamento com o Pai.

    o Nesta viso, Deus, de vez em quando, "at" pode conceder um presente, atender minhaorao, mas isso se eu fizer tudo certinho e merecer. Esta falsa imagem de Deus nos leva a terum relacionamento cheio de cobranas a Deus, que provoca um profundo fechamento decorao sua ao amorosa em nossas vidas. Precisamos compreender que Deus nos deu

    tudo e mesmo que Ele nos tire algo, Ele no nos deve nada, porque tudo que temos ou somosno merecamos ter ou ser. Tudo graa, tudo acrscimo de Deus para as nossas vidas. Aocontrrio do que muitos pensam, ns que devemos tudo a Deus.

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    AS IMAGENS DE DEUS NO ANTIGO TESTAMENTO

    o Mesmo no tendo sido ainda totalmente revelado, o que s aconteceu com a vinda de JesusCristo, os livros do Antigo Testamento vo descortinando gradativamente a verdadeira imagemde Deus. Vejamos as seguintes passagens:

    Deus Senhor da vida humana:

    o "Hoje, fizeste o Senhor, teu Deus, prometer que ele seria teu Deus, enquanto tu... Observariassuas leis, seus mandamentos... e lhe obedecerias fielmente. E o Senhor fez-te prometer, nestedia, que serias um povo que lhe pertena de maneira exclusiva,... um povo consagrado aoSenhor, teu Deus, como ele o prometeu"

    81.

    o "Ouve, Israel! O Senhor, nosso Deus, o nico Senhor. Amars o Senhor, teu Deus, de todoo teu corao, de toda a tua alma e de todas as tuas foras"

    82.

    O Deus dos exrcitos83

    o usado no sentido daquele que combate em favor do seu povo. Evoca a manifestao deDeus na histria dos homens. O termo hebraico (Sebaot) pode ser tambm traduzido comoDeus de todo o poder, o que traduz ainda melhor a imagem de um Deus que intervm em

    favor do seu eleito, do seu povo, dos seus filhos. Deus que deseja interferir, participar da vidade seus filhos. Que se importa com eles.

    O Deus protetor oculto na nuvem:

    o "Ento o Senhor lhe disse: Eis que me vou aproximar de ti na obscuridade de uma nuvem, afim de que o povo oua quando eu te falar, e para que tambm confie em ti para sempre 84.

    o "Durante todo o curso de suas peregrinaes, os israelitas se punham a caminho quando seelevava a nuvem que estava sobre o tabernculo; do contrrio, eles no partiam at o dia emque ela se elevasse. E, enquanto duravam as suas peregrinaes, a nuvem do Senhor pairavasobre o tabernculo durante o dia, e durante a noite havia um fogo na nuvem, que era visvel atodos os israelitas"85.

    Deus, o Criador de todas as coisas

    o "Quem, pois, realizou estas coisas? Aquele que desde a origem chama as geraes vida, eu,o Senhor, que sou o primeiro o que estarei ainda com os ltimos"86.

    o "Fui eu quem fez a terra, e a povoei de homens; foram as minhas mos que estenderam oscus, e eu comando todo o seu exrcito"87.

    O Deus de Abrao, de Isaac e de Jac

    o "Deus disse ainda a Moiss: Assim falars aos israelitas: Jav, o Deus de vossos pais, oDeus de Abrao, o Deus de Isaac e o Deus de Jac, que me envia junto de vs. Este o meu

    nome para sempre, e assim que me chamaro de gerao em gerao"88

    .

    Deus, o Rochedo

    o A imagem do rochedo traduz a confiana do povo na proteo de Deus, evoca a firmeza e asegurana, um sentimento muito bem descrito pelo frei Raniero Cantalamessa: Quem sabe,talvez impressionados pelo contraste entre a areia do deserto e as rochas do macio do Sinai,os poetas de Israel viram simbolizado nisso a diferena entre o homem e Deus: o homem como p; Deus um rochedo eterno!89

    81 Dt 26,17-1982 Dt 6,4-583 cf. 2Sm 5,1084

    cf. Ex 19,985 cf. Ex 40,36-3886 Is 41,487 Is 45,1288 Ex 3,1589 CANTALAMESSA, Raniero, Subida ao monte Sinai, p.45

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    o Esta imagem foi decisiva para a caminhada do povo de Israel, manifestada de forma especialnos salmos: Eu te amo, Senhor, minha fora. O Senhor o meu rochedo, minha fortaleza emeu libertador. Ele meu Deus, a rocha em que me refugio, meu escudo, a arma da minhavitria, minha cidadela. Louvado seja ele! Invoquei o Senhor, e venci os meus inimigos90.

    Deus, o Todo-Poderoso (El-Shadai)

    o Quando se apresenta a Abrao, Deus apresenta-se como o El-Shadai. Esta expresso dedifcil traduo e parece querer indicar o Deus das montanhas, o que evoca o Deus que secoloca sobre todas as coisas e as governa. Neste sentido a traduo Todo-Poderosoapresenta-se muito significativa. Deus aquele que do alto governa todas as coisas e vela porseu povo Israel. Este mesmo ttulo usado pelo salmista para manifestar a proteo de Deussobre os que se colocam sob sua guarda: Aquele que habita onde se esconde o Altssimo epassa a noite sombra do Poderoso (Shadai). - Do Senhor eu digo: Ele meu refgio, minhafortaleza, meu Deus: nele confio! -91.

    Deus Misericordioso, lento para clera

    o Uma manifestao de Deus no Antigo Testamento merece especial ateno, o episdio queMoiss intercede junto a Deus pelo povo que havia pecado construindo o bezerro de ouro 92.Deus manifesta sua misericrdia e passa diante de Moiss que grita em louvor: O Senhor, oSenhor, Deus misericordioso e benevolente, lento para a clera, cheio de fidelidade e lealdade,que permanece fiel a milhares de geraes Esta experincia de Moiss faz entrever ocorao cheio de misericrdia de Deus que seria revelado por Jesus Cristo.

    Deus, Pai de amor

    o O profeta Isaas revela a figura majestosa de Deus, que com o seu infinito poder, vem libertarIsrael, mas ao mesmo tempo a figura terna do pastor que gera seu povo, que cuida do seurebanho, que ama como um pai:

    o Tome com seus alunos

    o

    Is 40,10-11o Is 41,8-10

    o Isaas 41,13s

    o Todas estas belssimas manifestaes de amor so caractersticas de algum que ama comoum pai. E esta a verdadeira e nica imagem de Deus: Pai. Deus um Pai de amor.Precisamos nos relacionar com Deus como nosso Pai e crer no seu amor por ns para quepossamos ter uma vida de unio verdadeira com Ele. S os que crem que Deus os ama comamor profundo expem suas vidas para Ele, permitem que Deus interfira na sua histria. Omundo causou uma ferida profunda no corao de muitas pessoas que no conseguem sentiro amor de Deus por elas, por esta razo so pessoas que cobram de Deus, de si mesmas e

    dos outros, no conseguem enxergar o valor da sua vida e a dos seus irmos. Pessoas queno se lanam na providncia de Deus, que no compreendem o valor do sofrimento que,apesar de no dizerem, sentem que Deus um risco para sua vida. A experincia com o amordo Pai uma necessidade para os homens do nosso mundo

    o Deus tambm se revela como nosso redentor e auxlio: "Pois eu, o Senhor, teu Deus, eu teseguro pela mo, e te digo: Nada temas, eu venho em teu auxilio... Aqui Deus nos revela queem todas as situaes da nossa vida ns podemos contar com a sua ajuda, com a suasalvao. Deus quer nos auxiliar para que possamos ultrapassar as nossas dificuldades edesafios da vida. importante sabermos que contamos sempre com a ajuda de Deus, que Elenos livra de todos os perigos, basta que o procuremos e nos unamos a Ele. Desta forma,afasta todo o medo do nosso corao e nos faz crescer na esperana e na f.

    o Apesar de, desde o Antigo Testamento, j ser revelado a imagem de Deus como Pai, Jesus

    quem culmina esta revelao.

    90 Sl 18, 2-491 Sl 91,1-292 Ex 34, 5-7

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    JESUS NOS REVELA QUE DEUS PAI

    o Assim nos fala Jesus:

    o "Ora, a vida eterna consiste em que te conheam a ti, um s Deus verdadeiro"93.

    o "Ningum jamais viu a Deus, o Filho unignito que est no seio do Pai, foi quem o revelou"94.S Jesus pode nos fazer conhecer a Deus Pai.

    o "Ningum conhece o Pai seno o Filho e aquele a quem o Filho o quiser revelar"95."Eu falo oque vi junto de meu Pai"

    96.Revelar o Pai para a humanidade o grande dom de Jesus. Jesusque nos mostra a paternidade divina.

    o Jesus revela a bondade do Pai celeste que faz nascer o sol sobre maus ebons: "Deste modosereis os filhos de vosso Pai do cu, pois ele faz nascer o sol tanto sobre os maus como sobreos bons, e faz chover sobre os justos e sobre os injustos"

    97; que alimenta as aves do cu eveste os lrios do campo, o que far pelo homem?98; que sempre est pronto para perdoarseus filhos99; que vai atrs da ovelha perdida100. Jesus afirma que o Pai nos ama: "Pois omesmo Pai vos ama, porque vs me amastes e crestes que sa de Deus"

    101.

    OBRAS DE AMOR DE DEUS PAI:

    o Jesus nos revela que Deus um pai de amor. Meditemos sobre as obras e as provas de amorque Deus realizou por cada um de ns:

    Encarnao

    o Deus nos prova concretamente o seu amor atravs da encarnao do seu filho, que humilhoua si mesmo assumindo a condio humana:

    o "Nisto se manifestou o amor de Deus para conosco: em nos ter enviado ao mundo o seu Filhonico, para que vivamos por ele. Nisto consiste o amor: no em termos ns amado a Deus,

    mas em ter-nos ele amado, e enviado o seu Filho para expiar os nossos pecados"

    102

    .o "Com efeito, de tal modo Deus amou o mundo, que lhe deu seu Filho nico, para que todo o

    que nele crer no perea, mas tenha a vida eterna"103.

    Atravs da morte do seu Filho

    o O pice da manifestao do amor de Deus-Pai por ns a morte do seu Filho amado para nosconceder salvao e vida nova:

    o "Mas, eis aqui uma prova brilhante do amor de Deus por ns: quando ramos ainda pecadores,Cristo morreu por ns. Portanto muito mais agora, queestamos justificados pelo seu sangue,seremos por ele salvos da ira"104.

    o "Ou ignorais que todos os que fomos batizados em Jesus Cristo, fomos batizados na suamorte? Fomos pois, sepultados com ele na sua morte pelo batismo, para que, como Cristoressurgiu dos mortos pela glria do Pai, assim ns tambm vivamos uma vida nova"105.

    Fazendo-nos participantes da sua natureza divina

    93 Jo 17,394Jo 1,1895 Mt 11,2796 Jo 8,3897 Mt 5,4598 cf. Mt 6,26-3099 cf. Lc 15,11-24100

    cf. Lc 15,3-7101 Jo 16,27102 1Jo 4,9-10103 Jo 3,16104 Rm 5,8-9105 Rm 6,3-4

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    o Fomos elevado participao na vida divina, e esta a prova da vida nova que o Pai nosconcedeu pela morte do seu Filho:

    o "O poder divino deu-nos tudo o que contribui para a vida e a piedade, fazendo-nos conheceraquele que nos chamou por sua glria e sua virtude. Por elas, temos entrado na posse dasmaiores e mais preciosas a fim de tornar-vos por este meio participantes divina, subtraindo-vos corrupo que a concupiscncia gerou no mundo"106.

    o Providenciando o que precisamos

    o Tome Mt 6,25-26. 32-34

    o No Sermo da Montanha, Jesus anunciou a providncia de Deus-Pai na vida do homem, queabraa todas as suas necessidades.

    o Concedendo a filiao divina

    o Tome Gal 4,4-7, Ef 1,5, Rm 8,14-17 e I Jo 3,1

    o Em Cristo, fomos adotados como filhos e herdeiros de Deus, e recebemos o Esprito Santo,que o nico capaz de nos convencer desta filiao, a ponto de clamarmos a Deus como Pai,e de fato nos apossarmos dos bens espirituais, que Ele derrama sobre ns abundantemente,sendo que o maior bem a vida eterna.

    o Perdoando os nossos pecados

    o Tome Lc 15,18-24

    o Nesta parbola observamos que o amor de Deus concreto atravs das suas atitudes comrelao ao filho: como o espera, o acolhe, o restaura, parecendo esquecer todo o passado... OSenhor sabe que somos frgeis e por isso nos ama e tem misericrdia.

    F NO AMOR MISERICORDIOSO DE DEUS

    o Santa Teresa d'vila, definiu a orao, isto , a vida espiritual como "um comrcio de amizadeentre a alma e Deus, por quem se sente amada"107. Sentir-se amado, estar convicto do amorde Deus por ns, a condio primeira, para termos esse relacionamento ntimo com Deus.Precisamos deixar que Deus nos faa experimentar o seu amor por ns. Precisamos deixarDeus nos amar. a experincia com o amor de Deus que enfraquece as resistncias do nossocorao soberbo, prepotente, independente de Deus.

    o Deus Pai, Deus nosso Pai! O mais amoroso, o mais terno dos pais! desta raiz quegermina toda a nossa vida espiritual. isto que ns precisamos respirar, deixar crescer edesabrochar: Deus meu Pai de amor. Para que seja gerado em ns o amor filial, humildade,confiana, abandono, alegria. S uma pessoa que se sente, que se cr infinitamente amadacorresponde a esse apelo de amor por um impulso, um desejo bem simples de amar. As

    virtudes so germinao espontnea e natural da f no amor de Deus. Precisamoscompreender, experimentar que somos filhos de Deus e, por conseguinte, infinitamenteamados, com amor paternal por Deus, nosso Pai.

    o a f no amor de Deus por ns que explica tudo, que ilumina tudo, que esclarece tudo parans. Mesmo quando Deus nos faz passar por caminhos sombrios, momentos difceis, a ffirme no amor de Deus Pai que nos guiar e sustentar. esta f que nos far dizer comoSanta Teresinha: " to doce servir a Deus na noite da provao! Temos s esta vida paravivermos de f" e ainda: "Sei que, alm das nuvens, meu Sol est sempre a brilhar". Comosabe isto? Pela f no amor misericordioso de Deus.

    106 II Pd 1,3-4107 Santa Teresa de Jesus, Livro da Vida, 8, 5

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    QUARTA AULA

    A Pessoa de Jesus

    ROTEIRO DO CONTEDO

    1. Quem Jesus Cristo?

    2. Jesus Cristo e a Criao

    3. O Pecado Original

    4. O Pai nos d Jesus, nosso Salvador

    5. A Salvao uma Pessoa

    6. A mediao definitiva de Jesus.

    7. O nico Mediador e os "Mediadores criados".

    8. Jesus e a sua misso

    9. A perpetuao do mistrio da salvao

    10. O Corpo de Cristo toma parte em sua misso

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    DESENVOLVIMENTO DO TEMA

    QUEM JESUS CRISTO?

    o J houve quem duvidasse da existncia histrica de Jesus Cristo, julgando sua figura um mito,ou a personificao da doutrina crist. Hoje em dia, opinies como estas so absurdas entreaqueles que possuem um mnimo de conhecimento da histria da humanidade. Alm dos

    documentos cristos bblicos ou no, documentos histricos judaicos e at documentospagos falam muito claramente de Jesus e de sua morte violenta. (Exemplo: documentosjudaicos do conhecido historiador Flvio Josefo, os "Anais" do historiador pago Tcito, etc.)

    o Porm, quem foi Jesus Cristo e o que Ele veio realizar entre os homens?

    o Uns o admiram apenas como um homem perfeito, ou como um suave idealista, e at como umrevolucionrio pacfico... Mas como se pode excluir de Jesus sua condio sobrenatural?Infelizmente, entre os que reconhecem a condio sobrenatural de Jesus ainda h algunsprofundamente enganados a seu respeito, como por exemplo, os que partiram para consider-lo "uma das manifestaes" de Deus no tempo, como Zoroastro, Buda, etc.

    o Menos grave so os que consideram Jesus apenas como um profeta que to dedicado suamisso, acabou dando a vida por ela. Sim, Ele de fato profeta, mas no s, nemprincipalmente isto, embora seja o maior de todos os profetas e criador de um rumo novo paraa humanidade. A figura de Jesus, suas palavras e seus milagres so de tal dimenso, que setorna absurdo conhec-lo realmente sem proclamar que Ele o Filho de Deus e o Salvador detodos os homens.

    o Rm 5,12-21 - So Paulo, nesta passagem, explica para ns os elos de ligao entre a culpa deAdo e a condenao de todos os homens, para nos fazer ver a indiscutvel relao entreJesus Cristo e todos os homens, de todos os tempos e lugares, deixando claro para ns anatureza Divina de sua Pessoa, e o alcance de sua obra salvfica.

    o atravs de Jesus Cristo, de "um" s homem, que "todos" os homens receberam "um juzo dejustificao". Antes, todos estavam submetidos ao "veredicto da condenao" e morte; porJesus, receberam a abundncia da graa e o dom da justia, substituindo a morte pela vida.

    JESUS CRISTO E A CRIAO

    o A criao o fundamento dos desgnios salvficos de Deus para o homem e o princpio dahistria da salvao da humanidade. Por seu lado, o mistrio de Cristo derrama sobre omistrio da criao a luz decisiva: revela o fim em vista do qual Deus "criou o cu e a terra", e aglria da nova criao em Cristo108. Assim, a revelao da criao inseparvel da obra desalvao da humanidade.

    O PECADO ORIGINAL E SUAS CONSEQNCIAS PARA TODA A HUMANIDADE

    o

    Tome Gnesis 1,15-17; 3,1-19

    o Atravs deste gnero literrio carregado de simbolismo, o autor sagrado nos revela o mal usoque fez o primeiro homem de sua liberdade, e as conseqncias dele para toda a humanidade.

    o Ensina o Catecismo da Igreja Catlica que graas comunidade de origem, o gnero humanoforma uma unidade, e vive uma misteriosa lei de solidariedade, mesmo na sua rica variedadede culturas109. Em virtude desta unidade e desta solidariedade que todos os homens nascemimplicados no pecado de Ado, por uma transmisso que ainda um mistrio para ascriaturas. Este pecado que recebemos de Ado assim por ns contrados, e consiste no fatode nascermos110:

    o - na culpa (privados da justia diante de Deus);

    108 cf. Romanos 8,18-23109 cf. Catecismo da Igreja Catlica, 360 e 361110 cf. Idem 404, 405

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    o - sem os meios que possibilitam alcanar a Deus, (privados da graa sobrenatural ousantificante).

    o - inclinados a negar a Deus e sua vontade, em prol de ns mesmos e dos bens passageirosque nos atraem. Isto o que chamamos de concupiscncias, ou inclinao nsiadesordenada do ter, do poder, e do prazer. So estas as concupiscncias com que o demnioenganou Ado e Eva, que tentou enganar Jesus no deserto e que ainda hoje nos tentaenganar:

    o - A concupiscncia da carne - "o fruto da rvore era bom para comer";

    o - A concupiscncia dos olhos - "de agradvel aspecto";

    o - a soberba da vida - "e mui apropriado para abrir a inteligncia".

    o Em Mt 15,18-20, Jesus explicitamente fala que no o que est fora do homem que omancha, mas o que brota de seu corao.

    O PAI NOS D JESUS, O NOVO ADO, QUE NOS SALVA, REDIME, JUSTIFICA E PERDOA

    o O pecado atraiu ao homem maldies e sofrimentos como ns lemos no relato do livro doGnesis, captulo 3. No entanto, podemos constatar a fidelidade do amor de Deus em relaoao homem ao respeitar a sua liberdade, embora ele a tenha usado de maneira errada. Mesmotendo-se envolvido na morte e perdido a intimidade com Deus, este no lha tirou e lheprometeu salvao. Depois da primeira queda, que chamamos originale originante, o homemno foi abandonado por Deus. Isto atestado pelo autor sagrado no livro do Gnesis, atravsde toda uma linguagem simblica: "Ento o Senhor Deus disse serpente: Porque fizeste isso,sers maldita entre todos os animais e feras dos campos; andars de rastos sobre o teu ventree comers o p todos os dias de tua vida. Porei dio entre ti e a mulher, entre a tuadescendncia e a dela. Esta te ferir a cabea e tu lhe ferirs o calcanhar"113. A tradio cristv a o anncio de Jesus que, pela sua obedincia at a morte na cruz, reparasuperabundantemente a desobedincia do primeiro homem.

    o Agora o momento de voc voltar com seus alunos ao texto de Rom 5,12-21.

    o Concebido pelo Esprito Santo no ventre de Maria, pelo mistrio da Encarnao, Jesus tornou-se homem sem deixar de ser Deus-Filho. Nesta verdade que se a nossa f na Salvao queEle nos trouxe, porque:

    Sendo Deus que Jesus pde obedecer perfeita e incondicionalmente a Deus at amorte na Cruz;

    E sendo Homem pde, por sua obedincia, possibilitar a todo homem que se unir a Elepelo Sacramento do Batismo:

    o

    Tornar-se justo diante de Deus, ou seja, ter cancelada a culpa que, pela unidade esolidariedade de toda a raa humana trouxe ao nascer.

    o E receber a Graa que o possibilitar alcanar seu fim Supremo que a perfeita unio comDeus.

    O PAI SE D A NS EM JESUS

    o O Pai se d em perdo e em totalidade a ns na pessoa de Jesus. Jesus na cruz o retratofidedigno do Pai, que perdoa porque ama e no porque seja fraco.

    o Perdoar vem do latim PER-DONARE, que significa: cercar com o dom de si mesmo. Por isso oPai no nos manda um "remdio" para nos salvar da condenao eterna por termo-nosafastado dele pela desobedincia, ELE SE D INTEIRAMENTE, CONCRETAMENTE napessoa de Jesus, a quem Ele inseparvel pelo mistrio da Trindade.

    o Pela sua morte de Cruz, Jesus diz no desobedincia, ao contrrio de Ado, e assimreconcilia toda a humanidade e toda a criao com o Pai. Ele vence Satans (I Jo 3,8b) e

    113 Gn 3,14s

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    anula o documento de acusao que havia contra ns, como eloqentemente nos relata S.Paulo em Col 2,13-15 (ler com os alunos).

    o Nisto consiste a justia de Deus manifestada pela Salvao em Jesus Cristo.

    A SALVAO UMA PESSOA

    o Jesus a Salvao desde toda a eternidade. Porm, a Salvao que Jesus, entrou para ahistria do homem, na plenitude dos Tempos.

    o O nome Ieshuah (Deus que salva) mostra bem que quando os judeus esperavam o Messias, oUngido, o Emanuel (= Deus-conosco), eles esperavam uma PESSOA e no umacontecimento. Muitos de ns no encontramos a salvao porque a vemos como um fato (eum fato passado!) e no como uma pessoa.

    o O que nos salvou foi o abandono de sua vida. O que nos salvou foi sua PESSOAentregue por ns. Ele mesmo o nosso resgate, o preo pago por ns.

    A MEDIAO DEFINITIVA DE JESUS

    o Antes de comear a estudar esta parte, voc dever ler toda a Carta aos Hebreus.

    o Quando o primeiro homem pecou, perdeu a Graa Santificante. Quando Jesus realizou aRedeno do homem, a Graa Santificante retornou ao homem .

    o O Sacrifcio de Jesus no foi um Sacrifcio apenas cultual, como os sacrifcios do AntigoTestamento, nos quais o sacerdote entrava no santurio para aspergir com sangue de animaiso propiciatrio, a fim de interceder pelos pecados do povo. Cristo entrou no santurio Celestecom Seu prprio sangue e obteve uma Redeno Eterna (cf. Hb 9,12-15). Aquele rito sacrificialde expiao era uma prefigurao do Sacrifcio definitivo que Jesus iria fazer.

    o O Sacrifcio de Cristo inaugura uma Aliana Nova e objetiva entre Deus e os homens (cf. I Tm2,6). Ele aparece ento como Mediador, que se apresenta a nosso favor ante a face de Deus(cf. Hb 9,24).

    o Aspectos de Sua intercesso:

    o Splica (Hb 12,24).

    o Mrito (I Pd 1,19)

    o Algumas outras passagens: I Tm 2,5; Col 1,16; I Pd 1,11; Jo 1,3; Gl 3,15-18; Lc 2,22-35; Lc4,17-21; Mt 12,17-21; Mt 21,4-9; Mt 26,64

    O NICO MEDIADOR E OS MEDIADORES CRIADOS

    o O fato de Jesus ser o nico Mediador entre Deus e os homens no pe fim funo

    intercessora:

    De Maria: A ela reservado um posto especial no exerccio da Mediao de Jesus Ressuscitado.Maria associada realeza e intercesso de Jesus, como Sua Me e de todos os discpulos;

    Dos Anjos: Os anjos continuam sua funo de intercessores e de instrumentos dos desgnios de Deus(cf. Hb 1,14), mas fazem-no como anjos do nico Mediador;

    Dos Santos: Associados realeza do nico Mediador (Ap 2, 26s; 3,21; 12,5);

    Dos membros da Igreja terrestre: pelo Apostolado e pelas oraes, unidos aos mritos de Jesus.

    o A doutrina da Igreja afirma que sem a Redeno pela Cruz de Jesus Cristo o homemdescendente de Ado irremediavelmente pecador. Portanto, para o homem, quer tenhavivido antes ou depois de Jesus Cristo, quer O conhea ou ignore, no pode haver Graaalguma que no venha de Jesus Cristo: Este a fonte infinita e superabundante de toda aGraa e de toda santidade.

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    o Assim, nosso destino sobrenatural (nascemos para um dia ver Deus face a face) no pode serealizar sem Jesus Cristo. No temos nem podemos ter por ns mesmos nem mrito, nemvirtude, nem santidade, pois todo mrito, virtude e santidade Jesus vivendo em ns.

    o Tudo o que sobrenaturalmente recebem os homens vem sempre de Jesus, "pela riqueza deSua Graa" (Ef 1,7). Se quisermos unir-nos a Deus, outro meio no h seno apoiar-nos emJesus, passar atravs dele: nosso Mediador (cf. I Tm 2,5), nossa ponte, nosso Caminho. Eis ocaminho nico de Salvao e Santificao. Eis o Grande Mistrio da nossa incorporao emCristo, por Ele mesmo revelado aos Apstolos na noite anterior Sua paixo: "Eu Sou averdadeira vide... Permanecei em mim e Eu em vs"... (Jo 15,1-4). Estamos em Cristocomunitariamente por causa de sua Morte e Ressurreio e individualmente porque SeuSacrifcio foi aplicado a ns no nosso Batismo. Porm, "permanecer nele" requer tambmnossa colaborao livre e pessoal.

    O SIGNIFICADO DO AMOR E DA OBEDINCIA DE CRISTO

    o Ao nos salvar pela obedincia, Jesus substituiu a nossa obedincia pela Sua obedincia.Somente Deus poderia, desta forma, refazer o lao amoroso que ns havamos quebrado pelopecado original.

    o Assim, fomos salvos no pelo sofrimento de Jesus em si, mas pela OBEDINCIA AMOROSADE JESUS AO PAI.

    o Jo 10,17s

    O Pai me ama, porque dou a minha vida para a retomar. Ningum a tira de mim, maseu a dou de mim mesmo porque tenho o poder de a dar, como tenho o poder de areassumir. Tal a ordem que recebi de meu Pai.

    o O mandamento que o Filho recebeu antes de tudo de nos amar. O Pai transmitiu ao Filho aSua paixo de amor, que o conduziu cruz. Jesus morreu por nosso amor, porque istoconsiste em obedecer ao Pai. Desta forma, Cristo morreu por amor a ns (cf. Ef 5,2) paraobedecer ao Pai (cf. Fl 2,8).

    o Amor e obedincia se confundem mutuamente.o A Salvao operada por Jesus foi um ato de amor a ns por amor ao Pai. No h obedincia

    verdadeira sem amor e no h amor verdadeiro sem obedincia.o A obedincia uma homenagem de amor, em reconhecimento amoroso da autoridade do Pai

    e do seu desejo de ter todos os seus filhos consigo. Da unidade da Trindade deriva o amor. o amor a fonte da obedincia mais perfeita, porque ela no consiste em cumprir com toda aperfeio a ordem recebida, mas em fazer sua a vontade de quem ordena. 7 o amor deJesus ao pai que o faz compartilhar perfeitamente com o Pai a mesma vontade.

    importante ressaltar que a obedincia de Jesus ao Pai no foi fcil. Pelo contrrio, foi a obedinciamais difcil, mais dolorosa, custou-lhe muito, custou-lhe o suor de sangue, porque Jesus obedeceudivinamente com uma vontade igual nossa.

    Jesus ao ser um com o Pai, cumpriu a obedincia perfeita e amorosa que o levou a morrer na cruz (cf.

    Jo 3,35; Jo 5,17; Jo 5,20; Jo 5,37; Jo 8,49; Jo 10,15; Jo 10,30; Jo 12,26.49; Jo 14,6.9-10.20.28; Jo15,8.15.23; Jo 16,3.23.25.32; Jo 20,17-21).

    AS CONSEQUNCIAS DA OBEDINCIA DE CRISTO

    A vida de Jesus Cristo foi, desde a Sua entrada no mundo at a morte de cruz, obedincia, isto ,adeso a Deus. Porm, Ele obedeceu a Deus na pessoa de intermdio que Ele, mesmo sendo Deus esuperior a todos eles, no rejeitou obedecer autoridades (cf. Lc 2,51) e a instituies humanas (cf. Mt17,27). Devido ao meu pecado atual, sou tambm merecedor da morte espiritual.

    E Jesus foi alm: na Sua Paixo, Ele leva sua obedincia ao ponto culminante, entregando-se semresistncia a poderes desumanos e injustos, passando, atravs de todos os seus sofrimentos, pelaexperincia da obedincia (Hb 5,8), fazendo de Sua morte, o sacrifcio mais precioso a Deus, o da

    obedincia (cf. Hb 10,5-10). Por esta razo que Deus o exaltou soberanamente e lhe outorgou onome que est acima de todos os nomes, para que ao nome de Jesus se dobre todo joelho no cu, naterra e nos infernos (Fil 2,9-11).

    7 Cantalamessa, Raniero, A vida sob o Senhorio de Cristo, cap VI, nmero 4, p. 111.

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    Por isto, a morte de Jesus tambm me atinge, porque foi tambm para merecer de Deus o seu perdoe a restaurao da minha amizade com Ele, que Jesus morreu e ressuscitou. Com Sua obedincia, aSalvao nos foi oferecida gratuitamente, em troca de nada (cf. Fil 2,6-11; II Tim 1,9-10). A obedinciade Jesus Cristo a nossa salvao e nos obtm de novo o dom de sermos de novo obedientes a Deus(cf. Rm 5,19). Viver a salvao aceitar, extasiado, a gratuidade deste amor obediente e, emretribuio obedecer amorosamente a Deus, SENDO COMO JESUS, ASSIM COMO JESUS FOI COMO PAI. S Deus poderia fazer-se homem para nos levar de volta ao seio amoroso da Trindade (cf. Jo17). S Ele poderia fazer este caminho de tornar-se homem para nos introduzir Nele, por Ele e com Eleno relacionamento amoroso que a VIDA TRINITRIA.

    Todo fiel deve ter em si os mesmos sentimentos de Cristo Jesus que se aniquilou, tomando acondio de servo () fazendo-se obediente at a morte (Fl 2,7-8). 8 A obedincia crist deve sempreultrapassar a criatura que ordena e fixar os olhos em Deus, pois por Ele que nos submetemos.

    Por nossa obedincia assumiremos o senhorio de Jesus em nossa vida e seremos verdadeiramentelivres, no com a falsa liberdade que o mundo chama de liberdade, mas com a verdadeira liberdadedos filhos de Deus (cf. Gal 5). Ns obedecemos porque em primeiro lugar obedecemos a Deus e, anica exceo para no obedecermos, no caso de nos imporem ordens contrrias ao querer divino(cf. At 4,19). Exceto neste caso, sempre lcito obedecer, mesmo quando a nossa vontade contrariada, mesmo quando temos que renunciar a nossos prprios desejos, nossos projetos pessoais,

    pois com certeza esta renncia mais agradvel a Deus que qualquer boa obra, principalmentequando est em jogo a vontade clara de Deus, sua Lei, o bem da Igreja, a dependncia dasautoridades constitudas (cf. Dn 9,4-10; Jo 6,38; Rm 13,1; Lc 10,16; Ef 5,21-22 e 6,1.5; I Sm 15,22).

    8 cf. Lumen Gentium 42

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    QUINTA AULAA Pessoa do Esprito Santo

    ROTEIRO DO CONTEDO

    1. A identidade do Esprito Santo

    2. O sentido da palavra Esprito no Antigo Testamento

    3. A personalidade do Esprito Santo no Antigo Testamento

    4. O sentido da palavra Esprito no Novo Testamento.

    5. O Esprito Santo uma Pessoa

    6. O Esprito Santo e Jesus nos Evangelhos Sinticos (Mateus, Marcos e Lucas)7. Na Encarnao do Verbo

    8. Na pregao de Joo Batista

    9. No Batismo de Jesus

    10. Nas aes de Jesus

    11. O Esprito Santo no Evangelho de So Joo

    12. O Esprito Santos nos Atos dos Apstolos

    13. O Esprito Santo na carta aos Romanos

    14. O Esprito Santo e ns

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    DESENVOLVIMENTO DO TEMA

    A IDENTIDADE DO ESPRITO SANTO

    o Ns cristos, confessamos com a Igreja que o Esprito Santo a terceira Pessoa daSantssima Trindade, distinta do Pai e do Filho, dos quais procede eternamente:

    Cremos no Esprito Santo, que Senhor e d a vida; que com o Pai e o Filho adorado e glorificado. Foi Ele que nos falou por meio dos profetas; Ele nos foi enviadopor Jesus Cristo, depois da Sua ressurreio e da Sua ascenso ao Pai. Ele ilumina,vivifica, protege e conduz a Igreja, cujos membros purifica se eles no se furtam ao da graa, que penetra no mais ntimo da alma, e torna o homem capaz deresponder ao apelo de Jesus: Sede perfeitos como vosso Pai Celestial perfeito9.

    o Sabemos que na sua vida ntima, Deus Amor (I Jo 4, 8. 16), amor comum s trs pessoasdivinas (Pai, Filho e Esprito Santo). E o Esprito Santo a expresso pessoal desse doar-se,desse ser-Amor, Pessoa-Dom, do qual deriva: a doao da existncia a todas as coisas,mediante a criao; e a doao da graa a ns, mediante toda a economia da Salvao.

    A PERSONALIDADE DO ESPRITO DIVINO NO ANTIGO TESTAMENTO

    o No Antigo Testamento, desde o Livro do Gnesis, o Esprito a pessoa divina por meio daqual Deus Pai infunde a vida. Segundo o sentido latino Ruah, significa hlito, respirao.Sopro vital (cf. Ecle 3, 21; Sl 103 (104), 29-30), por esta razo o Esprito Santo a efuso doamor divino, pois assim como a respirao a expresso da vida do homem, em Deus oEsprito Santo a expresso da vida, a efuso da vida e do amor do Pai e do Filho, efuso tosubstancial e perfeita que Pessoa. Neste sentido, a Terceira Pessoa da Santssima Trindade chamada de Esprito do Pai e do Filho, Esprito de amor em Deus, Sopro do amor divino,dom de Deus.

    o nesse sentido que interpretada a expresso de Gen 1, 1-2: No princpio, Deus criou o cu

    e a terra e o Esprito Santo de Deus pairava sobre as guas.o Este conceito bblico de criao comporta no s o chamamento existncia do prprio ser

    do cosmos, ou seja, o dom da existncia, mas comporta tambm a presena do Esprito deDeus na criao, isto , o incio do comunicar-se salvfico de Deus s coisas que cria. Istoaplica-se, antes de mais nada, ao homem, o qual foi criado imagem e semelhana de Deus:faamos o homem nossa imagem, nossa semelhana (Gn 1, 26)10.

    o Tudo foi criado com a participao unssona da Trindade, que participou da Criao como trspessoas em uma s pessoa, unida em sua vontade e em seu poder. A criao a obracomum da Santssima Trindade11.

    o Deus criou tudo atravs do Verbo Eterno, seu Filho nico e do Esprito Santo (Jo 1, 1-4).

    o Pela palavra do Senhor foram feitos os cus, e pelo sopro de sua boca todo o seu exrcito (Sl32 (33), 6).

    o Nestas passagens anteriormente mencionadas do Antigo Testamento, o Esprito Santo noaparece como uma pessoa, quer dizer, como algum que tem ao distinta de Deus, eleaparece como o Esprito de Deus que inspira, d vida, transforma o interior do homem, pormisto no significa que o Esprito divino (Ruah) no tivesse sua personalidade.

    o O que acontece que o Antigo Testamento fala do Esprito Santo de modo velado, porque aREVELAO NO ESTAVA COMPLETA, mas desde o PRINCPIO Ele agia no mundo.

    o Somente no Novo Testamento, com Jesus, teremos a revelao ntida, explcita do Esprito

    Santo, como uma das trs Pessoas da Santssima Trindade.

    9 Paulo VI, Credo do povo de Deus10Dominum et Vivificantem, Joo Paulo II11 Catecismo da Igreja Catlica, 292

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    o Ainda encontramos no Antigo Testamento algumas passagens, que nos mostram o espritodivino se comportando como um mestre que indica um caminho a ser seguido (Sl 142(143), 10;Ne 9, 20; Zc 7, 12; Is 59, 21); outras que ressaltam que o Messias prometido seria pleno doEsprito divino (Is 11,1-5; Is 42,1-3; Is 61,1; Joel 3,1-3), que este Esprito seria dado a todosos homens (Is 32,15-20; 44,3-5) e os transformaria em novas criaturas (Ez 11, 19; 18,31;36,26; 37,1-14).

    o importante lembrarmos ainda que o Antigo Testamento v Deus como uma s pessoa,tendo-se em vista que o povo de Israel estava cercado de naes pags politestas e a lei deMoiss e os profetas enfatizavam a unicidade de Deus, pois no havia como revelar ao povode Israel toda a riqueza da vida de Deus, isto , afirmar que Deus Pai, Filho e Esprito Santo,sem perder a sua unidade.

    o no livro da Sabedoria, escrito j mais prximo do Novo Testamento, que temos uma figuramais ntida (embora no perfeitamente delineada, pois isso s acontecer com Jesus) dapessoa (que descrita como a sabedoria de Deus) e da ao do Esprito Santo (santificador,educador das almas).

    A PERSONALIDADE DO ESPRITO SANTO NO NOVO TESTAMENTO

    o Percebemos, portanto, que desde o Antigo Testamento j havia uma tendncia entre os judeusde querer apresentar o Esprito Santo como uma pessoa (Is 63,10s; II Sm 23,2), porm noNovo Testamento que o Esprito Santo apresentado como a Terceira Pessoa da SantssimaTrindade (cf. Jo 14,26; Jo 16,7; At 2,1-22).

    o Atravs da vinda do Filho de Deus ao mundo (cf. Rm 8,32), o homem passou a ter umconhecimento mais profundo de Deus: Todos ns recebemos da sua plenitude graa sobregraa. Pois a lei foi dada por Moiss, a graa e a verdade vieram por Jesus Cristo. Ningumjamais viu a Deus. O Filho nico, que est no seio do Pai, foi quem o revelou (Jo 1,16-18).

    o Jesus nos deu a conhecer o nome do Pai: Manifestei o teu nome aos homens (cf. Jo 17,6-26). Dar a conhecer um nome, para o judeu revelar ou dar a conhecer o ser na suatotalidade e manifestar o nome de Deus era dar a conhecer Deus na sua natureza ntima emtoda a sua riqueza interior. E Jesus dar a conhecer o Pai a todos os homens, de uma formamais sublime e profunda. exclusivamente com Jesus que temos o conhecimento pleno doPai. Neste sentido, Jesus nos apresenta o Esprito Santo como Pessoa divina que procede doPai, e que ele mesmo enviar junto com o Pai.

    o O Esprito Santo enviado para santificar o seio da Virgem Maria e fecund-la divinamente,ele que o Senhor que d a Vida, fazendo com que ela conceba o Filho Eterno do Pai emuma humanidade proveniente da sua12.

    O ESPRITO SANTO UMA PESSOA:

    o Em muitos textos do Novo Testamento, que j vimos e outros que vamos estudardetalhadamente adiante, o Esprito de Deus manifesta-se com personalidade toda sua, prpria

    e distinta do Pai e do Filho.o O prprio Deus, respeitando a limitao humana que associou a Sua ao por Seu Esprito a

    elementos da natureza, utilizou-se e ainda hoje se utiliza destes mesmos elementos paramanifestar a presena do Seu Esprito. No podemos, porm, nos fixarmos na idia de que oEsprito Santo uma ao de Deus, ou que um vento, ou uma pomba, ou fogo. Esteselementos so smbolos ou sinais da presena e da ao do Esprito. Nosso relacionamentocom o Esprito Santo deve ter por base o fato de que ELE UMA PESSOA. Vejamos oconc