Formalismo Russo
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7/17/2019 Formalismo Russo
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quinta-feira, 18 de junho de 2009
O FORMALISMO RUSSO EM LINHAS GERAIS
Este trabalho tem por objetivo fazer uma explanação em linhas gerais a respeito do
Formalismo Russo do i nício do século XX. Compreender os conceitos propostos e
trabalhados pelos formalistas é de grande importância para os profissionais da área
de teoria e crítica literária, visto que o formalismo buscou um status de autonomia
para a crítica literária, desvin culan do-a de um estudo historicista, por exemplo .
Ainda hoje podemos perceber alguns elementos das técnicas formalistas muito
vivos em ensaios e críticas. Mas, para chegarmos ao surgi mento do formalismo
propriament e dito , faz-se necessário ter um pano rama li terário do início do século
XX, que possibilitou o florescimento dos co nceitos formalistas.
Em um rápido retorno ao cenário dos primeiros anos do século XX, o que se pode
perceber é uma forte presença de uma história literária acadêmica, de raízes
positi vistas; tal história literária estava dominad a pela erudição e pouco voltada
aos valores estéticos. A crítica impressionista, desenvolvida em jornais e revistas,
era pouco rigorosa e séria. Nas universidades, o ensino de linguística fazia-se
igualmente dentro dos padrões positivistas, sob o signo do historicismo e da
erudição. Em outras palavras, é visível neste contexto “pr é-formalismo” a
priorização da produção de crítica literária do biog rafismo, do filosofismo e da
historicidade.
Dentro do contexto apresentado é que surgiram as pri meiras manifestações
formalistas; novas gerações de estudantes que ingressavam nas universidades
russas, mostravam-se descontentes com os modelos acadêmicos em vigência. Tal
descontentamento foi o motivador para que se procurasse novas orientações,
dentre as quais vale comentar sobre duas: O Círculo Linguístico de Moscou,
fundado em 1914 por um grupo de jovens alunos da Universidade de Moscou, que
se propunham a desenvolver estudos de linguística e poética, e do qual fizeram
parte Buslaev, Vinokur e Roman Jakobson; Opojaz, fundado em 1916 por um
grupo de linguistas e de estudiosos da literatura em São Petersburgo, que consistia
em uma sociedade para o estudo de linguagem poética, na qual se distinguiam os
teorizadores literários Victor Chklovski e Boris Ejchenbaum. Ambos os grupos
possuíam ínti ma relação com as v angu ardas eu ropeias, sob retudo com o futurismo.
Antes de uma caracterização do formalismo, tracemos uma linha temporal com os
fatos mais relevantes. Após a Revolução Comunista de 1 917, os formalistas russos
continuaram desenvolvendo suas atividades intensamente, multiplicandoanualmente suas publicações e alargando o campo de estudo. Por volta de 1924,
ganhou força a oposição dos intelectuais e dos dirigentes marxistas às doutrinas
do Opojaz, iniciando-se um polêmico período de ataques violentos. Na obra
Lite ratura e revol ução (1924), Trotsky criticou duramente os pressupostos
teóricos e o método formalistas; tal obra abriu caminho para outras críticas mais
severas. Conforme o Partido Comunista impunha sua disciplina na vida cultural
russa, as doutrinas formalistas foram silenciadas. Por volta de 1930, o formalismo
russo extinguiu-se.
Cabe ago ra tratar, mais precisamente, dos aspectos de maior importância acerca do
formalismo. Em primeiro lugar, o formalismo russo pretende conferir à crítica
literária um caráter bem definido, atribuindo-lhe um objeto de estudo bem
especificado e um método próprio, a fim de cessar com a confusão entre os
diversos domínios do conhecimento. Os formalistas reagem contra a crítica
impressionista, subjetivista e tendenciosa; reagem também contra a crítica
acadêmica de cunho erudito, ignorante dos problemas teóricos implicados pelo
fenômeno literário.
A ciência da literatura, segundo eles, deve estudar a literariedade, isto é, o que
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Teoria Literária
Postagem de textos relativos à teoria literária e afins!
7/17/2019 Formalismo Russo
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confere a uma obra sua qualidade literária, aquilo que constitui o conjunto de
traços distintivos do objeto literário. Tal princípio fundamental conduziu os
formalistas a definirem os caracteres específicos do fato literário: não procuravam
esta especificação no estado de alma, na pessoa do poeta, mas sim no poema;
também não buscaram essa especificação na natureza da experiência humana ou
da vivência contidas no poema, nem nas categorias e nos axiomas de qualquer
estética especulativa. A especificação que buscavam, estava no próprio texto
literário, é algo imanente do próprio texto, que deveria ser tomado como objeto de
estudo.
Para estabelecerem os caracteres próprios do objeto literário, os formalistas
decidiram comparar a série literária com outra série de fatos que tivesse uma
função diferente, mesmo estando estreitamente ligada com aquela. O caminho
seguido foi a comparação entre a linguagem poética e a linguagem cotidiana.
Em termos metodológicos, o método dos formalistas russos é basicamente
descritivo e morfológico, ou seja, visa o conhecimento da obra como organização
artística, mediante uma descrição exaustiva dos seus elementos componentes e
respectivas funções. Inicialmente, interessaram-se pelos problemas fono-
estilísticos do verso, ocupando-se com o estudo do ritmo, a relação do ritmo com a
sintaxe, análise de esquemas métricos, eufonia etc. Depois, superaram esse nível de
análise, voltando-se a estudos semânticos da l inguagem literária, sobre metáforas e
imagens, fraseologia, técnicas usadas pelos escritores. O romance, a novela e o
conto atraíram principalmente os formalistas, pioneiros no estudo sistemático dos
aspectos técnicos dessas formas literárias. Dentre os problemas do gênero narrativo
estudados a fundo pelos formalistas, pode-se citar a diferenciação entre romance e
novela, as diferentes formas de construção do romance e a importância do fator
tempo na estrutura romanesca.
Outro conceito importante trabalhado pelos formalistas foi o conceito de forma. A
dicotomia fundo-forma punha a forma como algo exterior, espécie de recipiente
em que se vaza depois um conteúdo; tal conceito, estático e espacial, foi
unanimemente refutado pelo formalismo, que propôs um conceito dinâmico, no
qual a unidade da obra é uma totalidade dinâmica, “cujos elementos não estão
ligados por um sinal de igualdade e de adição, mas por um sinal dinâmico de
correlação e integração”. Os chamados elementos ideológicos – elementos
cognitivos, emocionais, ou de outra ordem – estão presentes em uma forma e não
podem ser analisad os e valo rizados senão por meio da sua corporização artística;não existem em literatura por si, como valores independentes de um contexto
literário, e por isso devem ser estudados nas suas específicas forma e função
literárias. A noção de forma identifica-se com a própria obra artística conceituada
na sua unidade e na sua integralidade, deixando de precisar de qualquer termo
correlato e complementar.
O formalismo nunca defendeu, exceto em alguns extremismos da fase inicial, que a
obra literária devesse ser estudada como um objeto isolado, fora de uma
perspecti va histórica. Aliás, ocup am a posição central nas teorias formalistas os
pressuposto s de que: a obra não pode ser arrancada de um contexto histórico
literário; a perspectiva diacrônica é indispensável para a precisa análise do
fenômeno literário. Sendo assim, a própria dinâmica do surgimento de novas
formas literárias é radicalmente histórica, onde se pode observar que a forma novadá lugar à forma antiga, gasta e tendendo para o automatismo, ou seja, já não
desempenhando a função estética.
Dentre os vários formalistas russos, se faz necessário ao menos comentar o trabalho
de algun s. Comecemos por Chklovski.
Viktor Chklovski reagiu contra a doutrina na qual a linguagem poética consistiria
em um pensamento por imagens, afirmando que na linguagem poética é de grande
importância o aspecto articulatório, já que no verso há muitos sons sem qualquer
ligação com uma imagem e que possuem uma função verbal autônoma. Em "A
arte como processo", importante ensaio, afirma que a imagem é apenas um dos
variados elementos do sistema de processos artísticos utilizado pelo escritor. Os
conceitos de imagística e de linguagem poética não são coextensivos, pois as
imagens podem surgir em diferentes níveis linguísticos e, por outro lado, pode
existir uma linguagem poética isenta de imagens.
Um dos pontos mais interessantes do referido ensaio diz respeito à questão da
automatização e perceptibilidade da linguagem. A atividade humana tende para a
rotina e para o automatismo do hábito, o que se reflete na linguagem cotidiana.
Por isso, os objetos são percepcionados na comunicação pela linguagem cotidiana
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O FORMALISMO RUSSO EM LINHASGERAIS
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Enquanto os trabalhos estão sendo
concluídos.... Maio (4)
Colaboradores
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de modo esfumado, apenas através de um dos seus elementos ou através dos seus
caracteres genéricos e superficiais; a linguagem poética, no entanto, fornece “uma
sensação do objeto como visão e não como reconhecimento”. O escritor deforma a
realidade para melhor atrair o leitor, consistindo o seu processo básico de
representação do real em um processo de singularização dos objeto s.
Roman Jakobson, outro renomado formalista, procurou estabelecer a essência da
literariedade a partir da análise do instrumento utilizado pelo escritor, a fim de
distinguir a linguagem poética da linguagem informativa e da emotiva: “O traço
distintivo da poesia reside no fato de que, nela, uma palavra é percebida como
uma palavra e não meramente como um mandatário dos objetos denotados, nem
como a explosão de uma emoção; reside no fato de que, nela, as palavras e o seu
arranjo, o seu significado, a sua forma externa e interna, adquirem peso e valor por
si próprios”.
Boris Ejchenbaum em seus estudos nos diz que na linguagem poética, a palavra se
situa em uma nova atmosfera semântica. O aspecto mais relevante da semântica
poét ica reside na “formação de significações marginais que viol am as associaçõ es
verbais habituais”, denominada de ambiguidade significativa.
Entre os demais formalistas russos que publicaram trabalhos de valores tão
significativos quanto os que foram comentados anteriormente, vale citar:
Tomasevskij, que analisou a questão do valor autônomo das estruturas verbais na
obra literária; Tynianov, que desenvolveu análises sobre a relação posicional dos
vocábulos na linguagem literária e redefiniu conceitos como sistema e função
ligados à evolução literária; Vinogradov, que trabalhou com a questão das tarefas
da estilística; e, por fim, Mukarovsky, que também trabalhou com a relação entre a
história e a evolução das estruturas artísticas.Com esta breve relação dos nomes
mais importantes do formalismo russo, chega-se ao fim este estudo sistemático e
condensado sobre o formalismo russo. Espera-se que as informações expostas e
brevement e expli cadas aqui sirvam de pont o de partida para pesqui sas mais
profundas acerca do assunto e que, com a leitu ra d este texto , o s leigos no assunto
possam ter adqu irido algum conh ecimento significativo deste valoroso
movimento na teoria literária do início do século passado.
____ ____ ____ ____ ____ ___ ____ ___ ____ ____ ____ ____ _
Fontes de Consulta:
CHKLOVSKI, Viktor. "A Arte como Procedimento"; 19 17.
____ ___ ___ __. "A Construção da Novela e d o Romance".
JAKOBSON, Roman. "Do Realismo Artístico".
TOMACHEVSKI. "Temática"; 1925.
EICHENBAUM, Boris. "A Teoria do Método Formal"; 1925.
TYNIANOV, J. "A Noção de Construção"; 1923.
____ ___ ___ __. "Da Evoluçã o Literária"; 1927 .
PROPP, Vladimir. "As Transformações dos Contos Fantásticos"; 1928.
VINOGRADOV. "As Tarefas da Estilística"; 1922.
TOLEDO, Dionísio de Oliveira. Teoria da Literatura: formalistas russos. Porto Alegre,
Editora Globo, 1971.
POMORSKA, Krystyna. Formalismo e Futurismo. Ed. Perspectiva, série Debates, 1972.
AGUIAR E SILVA, Vítor Manuel de. "Capítulo XIII - O Formalismo Russo" in. Teoria da
Literatura. 3ªed., Livraria Almedina, Coimbra, 1979.
Registros feitos no caderno durante o curso de teoria literária III, ministrado pelo Professor
Caio Meira no 1º semestre de 2009.
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Thiago Laurentino de Oliveira
DRE nº 10806 1849
Turma: LEB
Postado por Thiago Laurentino de Oliveira às 15:58
Marcadores: crítica, crítica literária, crítico, estrutura, estruturalismo,estruturalista, Modernidade, teoria literária
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Caio Meira
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