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OS SENTIMENTOS (IN)DESEJADOS NO AMBIENTE

PROFISSIONAL E SEUS REFLEXOSNO CLIMA ORGANIZACIONAL

Dr. Luiz Alberto HetemEspecialista em Psiquiatria pela Associação Médica Brasileira e Associação Brasileira de Psiquiatria

Doutor em Saúde Mental pela Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto (USP)Pós-Doutorado no Hospital Civil de Estrasburgo (França)

Atibaia, 04 de fevereiro de 2017

Os sentimentos (in)desejados no ambiente profissional e seus reflexos no clima organizacional

Parte 1

Conceitos gerais

Parte 2

Questões específicas

Parte 3

Discussão

O que é emoção?

1 Ativação neural geral e específica, avaliação cognitiva, mudanças afetivas subjetivas e alterações comportamentais2 Interno ou externo3 Atendendo a uma função ou com um sentido4 Ambiente, situação, riscos, grau de formalidade

• Reação complexa1 a um estímulo2, visando resposta adaptativa eficaz, funcional3 e adequada ao contexto4

Emoções

Raiva Tristeza Vergonha Nojo

Alegria Culpa Orgulho Amor

Inveja Ansiedade Medo Mágoa

Desprezo Surpresa Admiração

Emoções

Raiva Tristeza Vergonha Nojo

Alegria Culpa Orgulho Amor

Inveja Ansiedade Medo Mágoa

Desprezo Surpresa Admiração

Emoções

Emoções

• Participam da avaliação que fazemos das ocorrências da vida e moldam nossa reação aos eventos que são relevantes

• Preparam-nos para lidar com as diversas situações, sem que tenhamos que pensar valor adaptativo

• Determinam a qualidade de nossas vidas. Definem quem somos, para nós mesmos e para os outros, e estão por trás de todas as decisões importantes que tomamos

As emoções são:

1. Involuntárias

As emoções são:

1. Involuntárias

2. Fugazes

Emoção e sentimento

• Sentimento = emoção identificada

“As pessoas podem agir movidas por uma emoção sem saber, mas não podem sentir sem saber que estão sentindo, pois os sentimentos são a experiência consciente”

James Laird

Estágios de uma emoção

1. Inicial (em resposta a um “gatilho”) = Ativação

2. Intermediário = Processamento

3. Final = Resposta subjetiva e comportamental

Estágios de uma emoção

2. Processamento

3. Resposta

1. Ativação

“Evoluções” de uma emoção

• “Surge”, cresce e involui”

“Evoluções” de uma emoção

• “Surge”, cresce e involui”

• “Surge”, cresce, cresce, cresce e nos domina

“Evoluções” de uma emoção

• “Surge”, cresce e involui”

• “Surge”, cresce, cresce, cresce e explode

• “Surge”, é reconhecida, transformada em sentimento e canalizada

Sobre algumas emoções corriqueiras no ambiente de

trabalho...

Ansiedade normal e patológica

• Parâmetros:

• Intensidade das manifestações

• Duração

• Proporcionalidade com o estímulo

• Grau de limitação

Ansiedade e desempenho

Ansiedade PatológicaAnsiedade Normal

Nível de Ansiedade

Orgulho

• Emoção que se expressa como vaidade, ostentação, soberba e arrogância

• A pessoa movida por orgulho superestima seu valor e suas realizações; acredita-se melhor do que os outros

• O orgulhoso tem enorme dificuldade para admitir suas limitações e, mais ainda, para pedir ajuda.

Relato de caso (1)• Justino, 46 anos, casado, uma filha, administrador de empresas

• “O entendimento com ele é bom desde que não seja contrariado”, conta a esposa

• Na sua avaliação é (e sempre foi) funcionário acima da média e por isso tem (e teve) problemas com os colegas de trabalho.

• Sobre os colegas (atuais e de outras empresas em que trabalhou):• “Sentem-se ameaçados por mim, mas o que posso fazer?”

• Sobre os superiores:• “Teimam em não escutar o que digo sobre os erros administrativos que observo”

Relato de caso (2)• “Já vi esse filme e conheço o final...”

• Início sempre muito bom – “Dessa vez vai dar certo!”

• Meio de mal a pior – Desgaste crescente das relações por conta do cinismo e ironia com que trata os impasses

• Fim melodramático – dispensa sem acordo trabalhista seguido de período desempregado por não concordar com as regras dos processos seletivos de novas propostas de trabalho.

Inveja• “A tristeza pelo bem dos outros”, segundo Tomás de Aquino

• Desgosto, pesar e ressentimento pelo que o outro tem e a pessoa acha que ela é quem deveria (merece) ter.

• Não querer que o outro tenha o que você não tem.

• Sentimento “fraterno”

Inveja

“Em qualquer ambiente profissional, o sucesso de um colega será recebido de diversas formas. Há aqueles que simplesmente não podem tolerar que você tenha o que eles desejam.”

Leandro Karnal, páginas amarelas da Veja (05/04/17)

“Há vinte anos, eu era rápido em atacar o Paulo Coelho. Hoje, eu não o faria mais... Provavelmente, as críticas que fazia a ele eram inveja das vendas dele.”

Leandro Karnal, idem)

Raiva• Emoção básica capaz de motivar comportamentos destrutivos. Se

bem administrada, canalizada adequadamente, nos move adiante

• Qualquer um pode explodir de raiva. A diferença está no limiar, no tamanho do pavio de cada um.

• Uma das emoções que mais dá sinais aparentes que, em princípio, facilitam sua identificação.

Relato de caso (1)

• Sandro, 35 anos, casado, 1 filha, gerente de contas de um banco

• Procurou ajuda por recomendação do superior, depois que se alterou com uma colaboradora.

• Há tempos irritadiço, “mais grosso que o normal” e exagerando na bebida

Relato de caso (2)

• O “calmante” receitado pelo clínico geral não lhe fez bem

• A raiva por conta de evento traumático, sentimento legítimo e perfeitamente compreensível, o impregnara alimentado que foi pelas lembranças do ocorrido.

• “Foi bom falar sobre isso com alguém. Estava precisando desabafar...”

Culpa

• Peso, mal estar, incômodo que surge quando uma regra, um princípio ou uma conduta são desrespeitados.

• Duas causas possíveis:• Resultado de decisão equivocada ou ato impulsivo

• Consequências desastrosas de ocorrências de que se participou de forma indireta, involuntária ou, ao contrário, pela omissão.

Relato de caso (1)

• Joana, 43 anos, viúva, 2 filhos, serviços gerais

• Veio à consulta por insistência da irmã

• Queixa: “Depressão” há 2 anos

• História: Triste, emotiva e mais retraída socialmente desde o falecimento do marido

PORÉM, cuidando de seus afazeres, capaz de sorrir e interagir normalmente, mantendo o interesse pelo que sempre gostou de fazer (assistir novelas, jogar tranca, cozinhar e frequentar a igreja)

Relato de caso (2)

• Ela e o marido não se entendiam bem. As discussões eram frequentes e sempre pelos mesmos motivos: relações extraconjugais dele e distanciamento da família depois que ele se aposentou

• Depois de uma dessas brigas ele saiu de moto para ir ao banco e foi vítima de um acidente fatal

Relato de caso (3)

• Emoção por trás do quadro dela: Culpa

• Por “tê-lo tratado mal nos últimos tempos”

• Por “ter sido muito dura com ele na última discussão”

• Por “não ter impedido que ele saísse de moto”

• Culpa Castigo

Emoções e seu modo de “contágio”• Propagação a partir do “paciente zero”

• “Aérea”

• “Contato físico”

• “Vetores”

Quando as emoções se tornam um obstáculo e

atrapalham?

Quando as emoções atrapalham?

• Quando passam despercebidas

• Quando muito intensas (exacerbações agudas)

• Quando muito presentes (interferindo nas atitudes e nas relações)

• Quando fazem parte de um transtorno mental

Como lidar com as emoções no ambiente de

trabalho?

O que fazer por si

• Procurar a emoção – ela reside em nós

• Transformá-la em sentimento (torná-la consciente)

• Examiná-la, partindo do princípio de que é normal

• Cuidado com a tendência atual de se medicalizar o normal

1. Situar-se

ExperimentarIdentificar suas emoções

(transformá-las em sentimentos), e dar conta delas

EnviarExpressar as emoçõesDe maneira adequada

à situação

ReceberNotar e compreender

as expressões emocionais dos outros

Modular quanto manifestar da

emoção sentida

Distinguir sua própriaemoção da que é percebida nos outros

Comunicar-se pela alternância entre enviar e receber

PersonalidadeTemperamento

Cultura

Adaptado de Halberstadt, Denham & Densmore, 2001.

Na prática:

• Manejar a ansiedade

• Eliminar a culpa exagerada

• Aparar o orgulho

• Transformar a raiva

• Admitir a inveja

O lado “negro” da Inteligência Emocional

• A consciência exagerada das emoções perturba a capacidade de autocontrole. Em alguns contextos, o desempenho cai pela sobrecarga regulatória.

• A capacidade de identificar e manipular as emoções dos outros pode ser utilizada para fins nefastos dependendo das característicasde personalidade das pessoas.

Davis SK & Nichols R. Frontiers in Psychology, 2016.

Choro mesmo, e daí?• O choro é a manifestação emocional mais frequente, porém

desaprovada.

• Interpretado como sinal de fraqueza, é escondido, ocorrendo geralmente dentro de banheiros.

• O choro explícito representa assumir para os colegas e a equipe que não se possui as competências profissionais requeridas.

• Estratégias mais “viris” para se lidar com o sofrimento (coragem, resistência à dor física e invulnerabilidade) são mais valorizadas. Nesse cenário, não há lugar para o choro.

Adriana Pires (2010). Emoções no trabalho. Um estudo com gerentes médios da área de recursos humanos.Dissertação de Mestrado. Insituto COPEEAD de Administração (UFRJ).

O que fazer pelo outro

• Demonstrar interesse

• Aceitar que, com emoções, cada um tem seu ritmo e sua composição

interior

• Admitir que nossa percepção da emoção do outro é limitada

• Respeitar o momento do outro

• Cuidar para não desenvolver implicância

• Sugerir consulta com profissional de saúde mental

O que fazer pela equipe • Identificar a(s) emoção(ões) predominantes no grupo

• Expor a situação de maneira clara;

• Explicar como percebeu o problema • Quais comportamentos ou situações lhe chamaram a atenção

• Apontar os impactos negativos causados pela situação

• Estimular a cooperação dos membros da equipe na resolução do impasse

• Propor alternativas de relacionamento para que a situação não se repita

• Negociar novas alternativas;

• Comprometer-se, também, com a mudança

• Agradecer o empenho de todos.

Porque procurar ajuda profissional

• Para auxiliar na distinção normal x patológico

• Para fazer um acompanhamento psicológico, que auxiliaria na identificação e manejo das emoções

• Para fazer um eventual tratamento medicamentoso, indicado apenas nos casos de adoecimento físico e/ou mental

• Considerações finais

• As emoções são parte inevitável da existência humana e têm valor adaptativo

• Não é possível eliminar as emoções, mas sim compreendê-las e lhes dar um direcionamento saudável

• Lidar melhor com as próprias emoções é uma habilidade que pode ser aprendida e desenvolvida com a prática

• O ambiente profissional é emocional por excelência. É nele que se manifestam com mais intensidade ansiedade, orgulho, inveja e raiva. A culpa é a via final comum dos excessos.

Os sentimentos (in)desejados no ambiente profissional e seus reflexos no clima organizacional