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Outubro de 2007 - Ano VI - Nº 36 Fórum Mundial de Educação Alto Tietê C i n c o d i a s q ue m a r c a r a m a r e g i ã o : ISSN - 1981-3147 9 771981 314004 6 3 0 0 0

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Fórum Mundial de Educação Alto Tietê

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Editorial

SECRETÁRIA MUNICIPAL DE EDUCAÇÃO

COORDENADORIA DE COMUNICAÇÃO SOCIAL

Av. Ver. Narciso Yague Guimarães, 277Cep 08790-900 – Centro Cívico

Mogi das Cruzes – SPTel.: (11) 4798-5085Fax: (11) 4726-5304

[email protected]

• Conselho EditorialMaria Geny Borges Ávila Horle

Anne IvanoviciCláudia Helena Romanos Pereira

Leni Gomes MagiMarilda Aparecida Tavares Romeiro Safi ti

• Jornalistas ResponsáveisLuiz Suzuki – MTB 22936

Kelli Correa Brito – MTB 40010

• Coordenação EditorialBernadete Tedeschi Vitta Ribeiro

Lilian GonçalvesMarinina Beatriz Leite

• Colaboraram nesta ediçãoThais Chita (IPF)

Luiz SuzukiAdriana Bravim (Bio-Bras),

Ludmila Santos (Mogi News)Negralu (Ciranda)

Juliana Nakagawa (O Diário)Ana Trigueiro Sola (Ciranda)

Naira Cirino (Ciranda)Wanderson Mansur (Ciranda)

Karina Matias (O Diário)Márcia Galdino (FMEAT)

Ramón MoncadaHelena Singer

Ana Clara de Almeida CorreiaGracila Maria Grecco Manfré

José Sebastião Witter

• Imagem de CapaBandeira do município de Guararema, escolhida

para representar o Fórum Mundial de Educação Infanto-Juvenil Alto Tietê

• FotosJuliana BruceNey SarmentoJulia DeliberoUelves Sombra

Arquivos das Escolas MunicipaisFernanda Matheus

• Fotolito, impressão e acabamentoRettec Artes Gráfi cas

Rua Xavier Curado, 388 - Ipiranga04210-100 - São Paulo - SP

Tel.: (11) 6163-7000 Fax: (11) [email protected] • www.rettec.com.br

• Editoração eletrônica Mauro Teles

• Tiragem3.500 exemplares

A Revista Educando em Mogi nº 36 é uma publicação da Secretaria Municipal de

Educação de Mogi das Cruzes e não se responsabiliza por conceitos emitidos em

artigos assinados.

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A revista Educando em Mogi traz nesta edição um especial sobre o Fórum Mundial de Educação Alto Tietê 2007, realizado de 12 a 16 de setembro, que reuniu pela

primeira vez 11 municípios em sua organização e teve Mogi das Cruzes, como cidade anfi triã. Este foi um momento único para a região que, unida, pôde partilhar experiências com educadores de todo o Brasil e do mundo. Todos e todas com um único objetivo: a defesa da educação como direito social e inalienável e nunca remetida à condição de mercadoria.

A grande mobilização de 40 mil pessoas também contou com a importante participação da imprensa convencional e alternativa, que dirigiu seu olhar para as conferências, painéis temáticos, atividades autogestionadas e culturais, apresentação de pôsteres e o Fórum Infanto-Juvenil durante os cinco dias do Fórum. Diferente dos outros números, esta edição mostra o ponto de vista dos jornalistas e comunicadores que apresentaram ao mundo sua visão sobre esta grande mobilização em prol da Educação no Alto Tietê.

Os comunicadores sensibilizaram seus leitores sobre os acontecimentos e mostraram os novos conceitos de educação, práticas que podem mudar o cotidiano de educadores que, mesmo não comparecendo às atividades, tiveram acesso ao seu conteúdo por meio de jornais, sites, revistas e televisão.

Reproduzimos aqui, a cobertura da equipe de Comunicação do Fórum Mundial de Educação Alto Tietê, Coordenadoria de Comunicação Social da Prefeitura de Mogi das Cruzes, artigos da equipe da Ciranda Internacional de Informação Independente e dos jornais mogianos Mogi News e O Diário. Não podemos nos esquecer do apoio da Rádio Metropolitana e da TV Diário (afi liada local da TV Globo) e sua cobertura, que não podemos reproduzir aqui, mas que contagiou educadores de todo o Alto Tietê envolvidos nos trabalhos do Fórum.

As reportagens contemplaram os quatro eixos do Fórum, que teve como seu grande tema: Educação: Protagonismo na Diversidade: sustentabilidade, diversidade, protagonismo e políticas públicas. Educadores, pais, alunos, representantes de organizações e movimentos sociais compartilharam momentos importantes que demonstraram que, realmente, para um outro mundo é possível, uma outra educação é necessária.

Outubro/Novembro de 2007 - Ano VI - Nº 36

Fórum Mundial de Educação Alto Tietê

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SumárioMarcha Culturalabre o Fórum com5 mil participantes

4Mogi das Cruzes se transforma na capital mundial da educação

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Educar para a sustentabilidade do planeta

9 Os cenários da diversidade

11Novas tendências entram em debate

12Educar sem traumatizar, um desafio

13Atividade lúdica ganha destaque

14Memória Paulo Freire resgata valores das obras freirianas

A cor da minha pele

17Ler, escrever, alfabetizar pra valer

18Construindo novas relações de gênero

19Parceiros do movimento

20Escolas reúnem 4 mil pessoas

22Conferencistas propõem dez princípios da responsabilidade social na educação

24A educaçãopública na mesa

25O político das políticaseducacionais

26Educação Democrática

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Fórum Mundial de Educação Alto Tietê: De alma e coração abertos para uma nova era em busca da verdadeira educação para a diversidade

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Grande conferência marca encerramento do Fórum Mundial de Educação Alto Tietê

32Plantando o futuro da Educação

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Carta do Fórum Infanto-Juvenil Alto Tietê

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Desafios para o ensino no século XXI

36Carta do Alto Tietê pela Educação

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Quem não tinha pensando em ir ou não sabia, mas parou para ver, acabou fi cando. Este foi

o caso da adolescente Caroline Regina Oliveira, 13 anos, que parou para prestigiar dançarinos(as) em uma das apresentações da Marcha Cultural, hoje, em Mogi das Cruzes, e continuou até o fi m. O evento, que coloriu as praças e ruas do centro da cidade no dia 12 de setembro com palhaços, fanfarras, cartazes e bandeiras, abriu as atividades do Fórum Mundial de Educação Alto Tietê, realizado de 13 a 16 de setembro. A Marcha encerrou seu trajeto no Ginásio Municipal de Esportes com muito maracatu, street dance, entre outras danças.

Caroline representou um grupo escasso na Marcha: os (as) adolescentes. Das 5 mil pessoas, segundo a Secretaria Municipal de Transportes, havia poucos(as) deles(as) por ali. Adilson Ramos, educador de um grupo religioso de jovens e de danças folclóricas, também notou. “Moça, uma informação por gentileza. Onde estão os (as) jovens desta marcha?”, questionou.

Porém, educadores (as), familiares, homens, mulheres e muitas crianças caminharam os cerca de dois quilômetros pelas ruas do centro dando uma força ao tema do Fórum deste ano: Educação: Protagonismo na Diversidade. Força esta que resultou em “pequenos desconfortos físicos”, mas não atrapalhou, literalmente, a caminhada de

Marcha Cultural abre o Fórum com 5 mil participantes

Thais Chita

algumas pessoas. “Meu pé está assando, mas estou adorando”, comentou Mariane Carolina, de 8 anos. E Larissa de Lima Duarte, de 6 anos, concordou:”Eu sabia que ia gostar.”

Para Márcia Helena Fernandez, presidente da Associação de Pais e Mestres, o Fórum é um espaço de refl exão sobre a educação. “É imprescindível esse tipo de mobilização para envolver ainda mais pais, familiares e educadores(as) no assunto. É um momento de parar, pensar e discutir sobre a educação no Brasil. Além disso, trocar experiências que deram certo em outras localidades como conheceremos aqui.”

Além da troca, Wilson Secari, de Poá, catador e há 12 anos gestor da Cooperativa de Reciclagem Unidos pelo Meio Ambiente (Cruma), complementa: “Estamos aqui porque queremos chamar a atenção das pessoas para a nossa existência e importância da nossa atuação tão fundamental para o meio ambiente, além de geração de trabalho e renda”. A Cruma participará do FMEAT com 28 integrantes.

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Fotos: Juliana BruceEducadora há 17 anos, Roseli

Aparecida Pitta Silva, afi rma que o Fórum é momento histórico para a região. “É um movimento estimulador, uma chamada para a educação, um olhar diferenciado para o respeito à diversidade que defendemos. É um momento de formação para nós educadores(as), de revermos nossas práticas educativas e aprimorá-las”, disse a coordenadora pedagógica da Escola Municipal Vereador Ástrea Barral Nebias, de Mogi das Cruzes.

O FME é um movimento aberto a todos(as) que lutam pela educação de qualidade como direito universal, que existe desde 2001, e já passou por diversas cidades e países.

Thaís Chita é jornalista e coordenadora de comunicação do Instituto Paulo Freire

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Mogi das Cruzes se transforma na capital mundial da educação

Mogi das Cruzes se transformou no dia 13 de setembro na capital mundial da Educação.

Até o dia 16, professores e estudantes de todas as partes do mundo estiveram na cidade debatendo propostas para a formatação de uma plataforma mundial que objetiva, entre outros itens, oferecer ensino público de qualidade para todas as pessoas, independentemente de raça, credo, cor e classe social.

Organizado em conjunto pelos 11 municípios do Alto Tietê, o Fórum Mundial da Educação reuniu em sua abertura mais de 20 mil pessoas no Ginásio Municipal de Esportes e no seu entorno. “Ver este Ginásio completamente tomado por educadores enche o nosso peito de esperança e alegria. A educação é a base daquilo que nós buscamos: um mundo melhor, com oportunidades iguais e mais justas para todos”, ressaltou o prefeito de Mogi das Cruzes, Junji Abe.

Ele destacou que o evento foi um momento riquíssimo para toda humanidade, pois cada educador que participou de qualquer uma das centenas de mesas temáticas que foram realizadas

Luiz Suzuki

até domingo recebeu uma carga fantástica de informações e conhecimentos. “Ao voltar ao seu país, estado ou região, esse profi ssional irá aplicar em seu cotidiano todas as experiências positivas que ele teve a oportunidade de conhecer”.

O camaronês Pierre Founkoua, do Conselho Internacional do Fórum Mundial de Educação, destacou que a região do Alto Tietê pode ajudar e muito no desenvolvimento das políticas públicas do setor em outras partes do mundo. “O dia 13 de setembro de 2007 fi cará marcado na história. Este movimento representa a luta pela justiça social em todo o mundo. Ainda temos muitas regiões do mundo, como os países da África que não possuem a força que tem o Alto Tietê”.

Esta força à qual Fonkoua se refere, segundo a secretária municipal de Educação de Mogi das Cruzes, Maria Geny Borges Ávila Horle, está explicita na união dos 11 municípios do Alto Tietê na organização do evento. “É a primeira vez que 11 cidades se juntam para promover o Fórum. Nos últimos 18 meses todos os secretários municipais de Educação e seus servidores trabalharam ativamente não apenas na organização, mas no planejamento de todas as atividades”, salienta.

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até domingo recebeu uma carga fantástica de informp ,e conhecimentos. “Ao voltar ao seu país, estado ou r

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Para Erasto Fortes Mendonça, coordenador Geral de Educação em Direitos Humanos da Secretaria Especial de Direitos Humanos da Presidência da República, o Fórum Mundial é uma ferramenta imprescindível para “combater todo tipo de violação que impede crianças e adolescentes de freqüentarem a escola pública”.

Ele também ressaltou a relevância do tema abordado pelo Fórum Mundial de Educação Alto Tietê, Educação: Protagonismo na Diversidade. “Este tema está bem ligado aos interesses de nossa secretaria, que tem a função de articular políticas públicas em todas as esferas da sociedade. Esta edição, em Mogi das Cruzes, colhe o resultado de experiências anteriores ao reunir militantes em prol da causa da educação”, comentou.

O clima de celebração da educação foi comentado por Moacir Gadotti, representante do Conselho Internacional do Fórum Mundial de Educação. “Não é só um momento para reivindicar, mas também de celebrar a importância da educação. Vamos dialogar, construir uma nova cultura política ao aprofundar o diálogo para melhorar a educação do futuro”, disse. Para Gadotti, a abertura foi objetiva e com clareza de propósitos.

O presidente da Associação dos Municípios do Alto Tietê (Amat), prefeito Marcelo Cândido, de Suzano, agradeceu a Junji por colocar Mogi das Cruzes como sede de um evento tão importante e ressaltou o esforço contínuo das cidades da região para alcançar uma educação de qualidade.

Também estiverem presentes à abertura do Fórum Mundial as seguintes autoridades: os prefeitos de Arujá, Genésio Severino da Silva, de Salesópolis, Benedito Rafael da Silva, de Guararema, André Luiz do Prado, o deputado estadual Marco Aurélio Bertaiolli, o presidente da Câmara Municipal de Mogi das Cruzes, José Antonio Cuco Pereira, a dirigente regional de Ensino, Teresa Lúcia dos Anjos Brandão, além de todos os secretários municipais de Educação do Alto Tietê, entre outras autoridades.

Luiz Suzuki é jornalista e coordenador de Comunicação Social da Prefeitura de Mogi das Cruzes

Fotos: Ney Sarmento

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Educar para a sustentabilidade do planeta

Sabemos da importância dos recursos naturais em nossa vida e que o meio

ambiente tem sido visto, por alguns, como inimigo do desenvolvimento. Engano. Puro engano.

O debate Educar para a sustentabilidade do planeta, do FMEAT em seu primeiro dia, trouxe à luz a questão da necessidade da transformação das pessoas para que possamos falar em sustentabilidade global. Em sua fala, o professor Moacir Gadotti ressalta que nós “assistimos a primeira crise planetária – o aquecimento global e precisamos enxergar a Terra como um organismo vivo”. A Terra é a nossa casa, aliás, o único lugar sabidamente possível de vivermos. Somente aqui existe água, ar, alimento e abrigo compatíveis com nossas necessidades de “sobrevivência”. Não estamos falando de conforto, mas de elementos essenciais à vida. Esta é toda a diferença.

A revolução industrial nos trouxe incontáveis facilidades, proporcionando mais conforto nos afazeres cotidianos e acesso à alta tecnologia, capaz de nos conectar ao mundo inteiro. Porém, não podemos deixar que isto nos faça esquecer do nosso compromisso com a vida, com a nossa vida. Refl ita. O que é necessário para vivermos? Água, ar, alimento e abrigo. Qual destes itens essenciais à vida são recursos naturais? Sim, todos eles. E o que os bilhões de seres humanos que vivem neste planeta fazem com estes recursos?

Poluímos diariamente rios e córregos com quantidades gigantescas de lixo, esgoto, óleos e agrotóxicos; desmatamos e queimamos as matas – o que coloca o Brasil na péssima quarta posição de países mais poluidores do mundo - e com elas morrem seus animais, sem abrigo, alimento, ar ou água; jogamos toneladas diárias de gases tóxicos no ar, inventando um problema que até então parecia muito distante: o aquecimento global e as mudanças climáticas, levando milhares de pessoas a perderem casas, pertences e pessoas queridas.

A natureza tem prestado contas de como a estamos tratando. A maneira com que utilizamos os elementos fundamentais para a nossa vida tem nos apontado como o único ser vivo capaz de acabar com outros milhões de seres e também com a sua própria espécie.

A tecnologia e o desenvolvimento são presentes maravilhosos, ninguém discorda. Precisamos nos atentar apenas para que as facilidades tecnológicas não nos façam escravos do consumo.

Podemos e devemos buscar meios de viver de forma sustentável. E podemos.

É possível viver bem com conforto e segurança, causando menos impacto ao planeta e a todos os seres

vivos. Podemos fazer a diferença, podemos modifi car o rumo da história. Mudar hábitos é uma questão de prática e praticar signifi ca fazer todo dia, ter sempre em mente o que se quer e o

que se precisa.Portanto, pratique todos os dias, faça dos

seus passos um caminho diferente. No dia-a-dia, consumindo com consciência, reduzindo

embalagens e sacolas, destinando resíduos para a reciclagem, comprando

alimentos orgânicos, consumindo menos carnes, usando bem a água e a energia, enfi m pensando no bem coletivo. Ações concretas também incluem Educação, chave para a cidadania, para que mais e mais pessoas sejam sensibilizadas pela

causa ambiental que, como visto, também é nossa.

Participaram da conferência Carlos Rodrigues Brandão (UNICAMP

Adriana Bravim

Fotos: Julia Delibero e Juliana Bruce

- Brasil), Cristina Vargas (representante do MST) e Moacir Gadotti (IPF / USP - Brasil). O coordenador foi Mário Celso Micaeli dos Santos (voluntário da sociedade civil) com relatoria de Rosely Imbernon (USP Leste - Brasil).

Adriana Bravim é vice-presidente e diretora de Comunicação da organização Bio-Bras, e responsável pela revista Voz Ambiental

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“Quero fazer uma provocação a vocês. Pense e comente com a pessoa ao

lado um desafi o do seu cotidiano de diversidade que tenha enfrentado nos últimos tempos”, disse Denise Carreira, da Plataforma Brasileira de Direitos Humanos, Econômicos, Sociais, Culturais e Ambientais (DHESCA), para aquecer ainda mais a platéia depois da apresentação dos taikos (tambores japoneses) dos Yamabuki.

O grupo emocionou a platéia de cerca de seis mil participantes que fi cou em pé para aplaudir sua habilidade em encantar as pessoas, na abertura da conferência Práticas em Educação: os cenários da diversidade, realizada no dia 13 de setembro, na Tenda do Fórum. Também participaram da mesa Beatriz Gonzáles Soto, da Corporação Viva la Ciudadanía e Pierre Founkoua, representante da Unesco no Fórum, sob a coordenação de Camila Croso, da Campanha Latino-Americana pelo Direito à Educação e relatoria de Dante de Rose, da Universidade de São Paulo Leste (USP Leste) - Brasil.

Do público, um participante levantou a mão e respondeu que se sentia incomodado pelo fato de não ter visto escola de nenhuma periferia dos 11 municípios que estão realizando o Fórum. E que a situação era um desafi o em relação à convivência

Os cenários da diversidade

Thaís Chita

com a diversidade. “Promover e respeitar de fato a diversidade em nosso cotidiano e em nossas práticas educativas é difícil mesmo. Em primeiro lugar, temos que nos questionar: qual o conceito de diversidade manejamos? Qual a diversidade que almejamos?”, provocou mais um pouco Denise.

Assim como democracia, participação, cidadania, qualidade educacional, a diversidade se apresenta com diferentes e confl itantes signifi cados e perspectivas políticas, dependendo de quem a utiliza, na opinião da conferencista. “Para o senegalês Doudou Diéne, da ONU, podemos dizer que há duas formas básicas de tratar a diversidade: a hierárquica e a interativa e igualitária. A primeira poderia ser traduzida no velho ditado ‘cada macaco no seu galho’, ou seja, podemos reconhecer as diferenças entre nós, mas mantemos a hierarquização, não colocamos em xeque os modelos que são valorizados, não interagimos efetivamente com o outro. A outra, se propõe a quebrar as hierarquias, aposta na alteridade, na capacidade efetiva e afetiva de nos abrirmos para esse encontro com o(a) outro(a)”, completa.

Segundo ela, apostar na construção da diversidade interativa e igualitária exige, no mínimo, dois

Fotos: Juliana Bruce, Ney Sarmento e Uelves Sombra

uero fazer uma provocação a vocês.Pense e comente com a pessoa ao

com a diversidade. “Promover e respeitar de fato a diversidade em nosso cotidiano e em nossas práticas

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enormes passos. “O primeiro é reconhecer que vivemos em um mundo desigual sócio-econômico-cultural. É necessário não aceitar mais a naturalização dessas desigualdades como se fossem imutáveis. E o segundo, reconhecer que vivemos imersos em uma cultura discriminatória, preconceituosa e intolerante. E que tudo isso está nos meios de comunicação, na política, nos grupos econômicos; mas também vive e se reproduz em nossas casas, em nossas escolas e demais espaços educativos, em nossas mentes e corações”.

Para a colombiana Beatriz Soto, as políticas públicas de seu país desconhecem a diversidade e multiculturalidade de seu povo, embora o governo atual afi rme que os temas sociais são eixos fundamentais de sua administração. “Querem que o índice de pobreza caia de 49% para 35%, mas junto com ela sustentar um crescimento da iniciativa privada. Dessa forma, creio que a política pública é mais vulnerável à interferência estrangeira, às grandes corporações”.

Ela teme que, com esta situação, algumas áreas poderão sofrer efeitos danosos às ações relacionadas à promoção da cidadania para recompensar os empresários. “As políticas públicas da Colômbia não estão construídas sobre o projeto de nação e contrato social que propõe o reconhecimento do princípio da multiculturalidade e da articulação da diversidade”.

Beatriz conta que a atual política educativa está fi ncada em conceitos neoliberais: cobertura e efi ciência, qualidade da educação e efi ciência do setor educativo. “O primeiro não leva em consideração os (as) alunos (as) não matriculados(as) e os índices de evasão escolar. Estes são provocados pela falta de recursos econômicos das famílias, de motivação e interesse pela escola, além de viverem em zona de confl ito armado. O segundo, desconhece os contextos sociais, culturais e pedagógicos, e não refl ete sobre os problemas estruturais do sistema educativo. E o terceiro, está centrado basicamente na modernização das secretarias de educação em relação à estrutura física, na defi nição de um modelo de gestão que diminui o quadro de funcionários(as) com aumento das responsabilidades dos que fi cam.”

O camaronês Pierre Founkoua convidou o público a pensar sobre o que é uma prática educativa, como e por quê se elabora uma prática pedagógica e quais os modelos existentes. “Devemos saber que nossa sociedade é formada por várias práticas pedagógicas e que as encontramos nas nossas famílias, na mídia e nos movimentos. Todos eles seguem uma lógica bem simples: seus princípios, modelos étnicos e modalidades. Inclusive, em períodos de ditadura militar como no Brasil, de onde surgiu um dos mais importantes nomes da pedagogia: Paulo Freire”.

Estamos vivendo em espaços que contribuem com a formação de pessoas autônomas, capazes de resolver confl itos? A resposta, segundo Pierre, está na refl exão de como as práticas educativas são elaboradas e quem as faz. “Quando a escola reconhece que é um elemento do desenvolvimento completo do ser humano, promoção dos princípios de auto-gestão e do respeito e que o(a) educador(a) é um animador democrático que deve estimular a criatividade do aprendiz, ela se torna um lugar de comunicação multicultural, que vê de fato no homem e na mulher o legado do patrimônio humano. A escola deve ser um espaço de aprendizado sobre prudência e responsabilidade que são valores fundamentais em nosso futuro.”

Thaís Chita é jornalista e coordenadora de comunicação do Instituto Paulo Freire

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Novas tendências entram em debate

As duas principais tendências mundiais na área da educação – a construção de

políticas públicas e de mecanismos de diálogo entre escola e comunidade – foram tratadas neste sábado (15/09), das 9 às 12 horas, nas últimas conferências do Fórum Mundial de Educação Alto Tietê. Os dois debates contaram com a participação de profi ssionais renomados, entre eles o colombiano Ramón Moncada e o italiano Alessio Surian.

O eixo “Protagonismo: responsabilidade social na educação contemporânea” foi discutido no Ginásio Municipal de Esportes. Segundo o conferencista Alessio Surian, do Conselho Internacional do Fórum Mundial de Educação, o principal ponto discutido foi a relação entre a educação e as comunidades locais: “A escola surgiu com um conceito de aprendizagem cognitiva e agora começa a reconhecer outros tipos de inteligência: social, cultural e emocional. Nesse sentido, discutimos o que a escola pode fazer pela sociedade e o que a sociedade pode fazer pela escola”.

Segundo Surian, o reconhecimento dessa nova forma de educar permite que o conhecimento passe a ser gradativamente emancipativo: “A própria realização do Fórum é emancipadora, uma vez que aqui, todos têm direito à fala, à troca de idéias, a expressar-se de diversas formas”. Também participaram das discussões como conferencistas Carlos Alberto Torres, da Universidade da Califórnia – Los Angeles, e Maria da Glória Gohn, da Unicamp.

Na Tenda do Fórum, ao lado do ginásio, os debates se voltaram para o eixo “Políticas públicas em educação: efetivando e concretizando direitos?”. O encontro foi um dos mais ricos por tratar de uma ferramenta que garante o direito à educação para todos, a permanência na escola, a diversidade cultural e social. “A maioria dos governos pensa a educação por meio de programas ou projetos de curto prazo, ao invés de traçar políticas públicas educacionais”, destacou o coordenador da conferência, Ramón Moncada, da Rede Cidade Educadora, que apontou alguns aspectos da capital colombiana, Bogotá, durante o debate.

Ludmila Santos

GrafiteNa tarde de ontem, cerca de 200 jovens que

participam do Fórum usaram a criatividade para pintar os muros da Estação Estudantes, na rua Álvaro Pavan, com grafi tes alusivos ao evento. A CPTM cedeu uma área de 50 metros de parede, que foi totalmente preenchida hoje.

Ludmila Santos é jornalista do Jornal Mogi News. Esta é uma reprodução da reportagem publicada no Caderno Cidades do dia 15/09/2007

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Ofi cina em São Paulo mostrou que cada pessoa gosta mais de aprender de um jeito que de outro, com difi culdades

diferentes. A escola deve tentar descobrir quais

Em pleno século 21 ainda temos uma educação pública de ensino fundamental e médio defasada, onde se pagam muitos impostos e impostos não são convertidos em bens para a população como saúde, moradia, segurança, transporte e educação de qualidade.

Os debates do Fórum Mundial de Educação do Alto Tietê mostraram que profi ssionais de educação não são preparados/as para lidar com salas lotadas e um público heterogêneo de alunos, com diferentes difi culdades. Esses profi ssionais acabam não tendo tempo para dar atenção diferente a cada aluno e empurrando alguns para a série seguinte. Isso nas cidades onde não se pode reprovar, porque fi ca muito caro para o estado reprovar o aluno. Mas esse mesmo aluno ou aluna pode passar de ano aprendendo muito.

O que mais interessaUma experiência em São Paulo, no município de Salesópolis,

foi contada no FME pela professora Célia Maria de Souza Fonseca, secretária de educação. Ela falou sobre alunos com sérias difi culdades e na baixa auto-estima que isso causava neles.

Um núcleo de ajuda foi criado para amparar quem precisava mais e ela conta que a experiência foi muito boa. Professores/as foram contratados/as só para essa recuperação, como foi o caso do professor Anderson, que fi cou com alguns alunos que nem sabiam o alfabeto direito.

Esse professor Anderson começou a trabalhar com coisas que as crianças mais gostavam e disse que o aprendizado foi muito rápido. Para descobrir o que interessava mais, levava para a sala de aula, gibis, livros de histórias infantis e outros tipos de revistas. E então observou que as crianças pegavam mais os gibis, por não saberem ler, e passou a trabalhar com estas revistas em quadrinhos.

Deu certo. As crianças começaram a ler e depois a pedir revistas de outro tipo. Outras experiências feitas por professores de outros lugares foram relatadas na ofi cina. Por exemplo, um trabalho com percussão em São Paulo, com uma ofi cina que já é feita há dois anos e uma banda de percussão, a Ubatukêre, que já tem mais de um ano e meio. Os professores disseram que as crianças atendidas acabam tendo um desempenho muito bom na escola e em todo seu contexto social por aprenderem do jeito que gostam mais.

Tanto em Salesópolis como na capital de São Paulo, os alunos atendidos estavam em situação de risco.

Educar sem traumatizar, um desafio

Negralu

Negralu é comunicadora da Ciranda Internacional de Informação Independente. Matéria publicada no Especial Fórum Mundial de Educação Alto Tietê 2007 no site www.ciranda.net (15/09/07)

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Atividade lúdicaganha destaque

Dentro da sala de aula, uma roda formada por dezenas de pessoas ecoava o refrão: “Sacode o rabo jacaré”. Em seguida, uma coreografi a ensaiada fi nalizava a brincadeira da aula de danças folclóricas brasileiras. A cena característica de uma instituição de ensino não chamaria a atenção de quem passasse pelos corredores da Universidade de Mogi das Cruzes, a não ser pelo fato de que os protagonistas da atividade não eram alunos e sim professores e educadores.

Foi nesse clima descontraído e de atividades lúdicas que o Fórum Mundial de Educação marcou o primeiro dia de programação. Entre as conferências, palestras e debates, houve espaço para aulas de artesanato, dança, teatro, entre outros encontros que, ao contrário do que se imagina, têm mais conteúdo educacional do que as apostilas.

“Essas são atividades culturais primordiais para o conhecimento. É nesse momento que o profi ssional identifi ca as diversidades e potenciais”, destacou a representante da Prefeitura de Gravataí, no Rio Grande do Sul, Christine Vieira Castro.

Para ela, o encontro fortalece a educação brasileira, já que os professores de diversas regiões estão compartilhando conhecimento e vivenciando experiências diferentes. “A participação dos profi ssionais de outros países também acrescenta, porque são todos de países de terceiro mundo, que enfrentam a mesma problemática que nós”, afi rmou.

As professoras de Osasco, Rosângela Mirco e Roseli Pereira participaram pela primeira vez de um evento dessa natureza e avaliaram que o conteúdo das ofi cinas e painéis é tão construtivo quanto as conferências. “As atividades de reciclagem, por exemplo, trazem a questão de disciplina, espaço e como trabalhar isso no cotidiano da criança”, disse Rosângela.

O resultado de toda essa experiência já é conhecido pelas professoras e também pelas demais participantes: uma educação melhor partindo das mudanças na metodologia de ensino. “Por isso é bom conhecer o trabalho e o desempenho de outros profi ssionais”, declararam.

Na Universidade de Mogi das Cruzes, destaque para o painel do pesquisador João Roberto Baylongue, que traz a história da educação nos 11 municípios do Alto Tietê. “O Fórum traz a oportunidade de todos os professores interessados em mudanças conhecerem novas práticas. Acho que, sobretudo, esse evento pode também alavancar o turismo local, coma visita de todos esses participantes”, avaliou.

Na UMC, a funcionária da Secretaria Municipal de Guarulhos, Divaneide Alves apontou que o conhecimento extra-verbal, como a dança e a expressão corporal foi um aprendizado que poderá ser levado para o Município. “Temos que levar em conta que, mesmo com a diversidade, podemos recriar as atividades em cima das criações dos outros”, acrescentou.

Ontem alguns problemas de infra-estrutura como falhas no som e atraso dos profi ssionais responsáveis pela apresentação foram registrados em algumas atividades. Mas na avaliação da secretária executiva do Fórum, Andréa Souza, o balanço fi nal do primeiro dia foi positivo, principalmente em virtude do elevado número de participantes. “Espero que os demais dias sigam assim, ou até melhores”, declarou. O Fórum Mundial de Educação termina neste domingo.

Juliana Nakagawa

Juliana Nakagawa é jornalista do Jornal O Diário. Esta é uma reprodução de reportagem publicada no Caderno Cidades no dia 14/09/07

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Memória Paulo Freire resgata valores das obras freirianas

O movimento do Fórum Mundial de Educação é marcado pelos ideais de Paulo Freire. O educador pernambucano, falecido há dez anos, ganhou um espaço especial durante os quatro dias de atividade do Fórum Mundial de Educação Alto Tietê: a Memória Paulo Freire. Realizado na Universidade de Mogi das Cruzes (UMC), o evento foi organizado pelo Centro de Estudos e Pesquisas em Educação Cátedra Paulo Freire de Mogi das Cruzes (Cepec) e Instituto Paulo Freire (IPF). Vídeos, debates e apresentações permitiram que todos os participantes aprofundassem seus conhecimentos sobre o trabalho do educador.

Os participantes eram recebidos por pequenas amostras do trabalho de Freire. No corredor do prédio 1 da UMC, antes da sala reservada para a apresentação de vídeos e depoimentos, pôsteres contavam a vida e obra deste educador brasileiro. A exposição é uma parceria do IPF e do Banco do Brasil.

O Legado Paulo Freire no Círculo Mogiano de Cultura contou a experiência das educadoras mogianas que formaram o Cepec. Desde o início da formação do grupo de estudos e do Círculo de Cultura, o crescimento do grupo em número de participantes e formação pessoal, a estrutura e organização do Círculo e o apoio recebido pela Prefeitura de Mogi das Cruzes, por meio da Secretaria de Educação. Após a apresentação feita por Fátima Melo, diretora da Escola Municipal Profª Noemia Real Fidalgo, foi apresentado o vídeo-documentário Educar para transformar, em que Paulo Freire retrata a importância de ensinar de acordo com a realidade do aluno e mostrar a visão de mundo como um todo.

Wagna Suely Ribeiro dos Anjos, diretora do CCII Profª Haydée Brasil de Carvalho, e Ana Clara Camargo de Moraes, professora de Ensino Fundamental da Rede Municipal de Suzano apresentaram a autogestionada Práticas Refl exivas. Na atividade Vivendo Paulo Freire num mundo globalizado além da diversidade, Martha Marcontes, professora da Universidade de Londrina, discutiu a relevância do legado freiriano em um mundo globalizado, ressaltando a importância da diversidade para a construção de um mundo mais justo.O vídeo-documentário inédito Paulo Freire Contemporâneo,

“Ninguém “Ninguém ignora tudo, ignora tudo,

ninguém sabe ninguém sabe tudo. Por isso tudo. Por isso aprendemos aprendemos

sempre”. sempre”. Paulo FreirePaulo Freire

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realizado pelo IPF e Ministério da Educação, foi apresentado por Marli Aparecida de Souza Machado, diretora da EM Profª Cecília de Souza Lima Vianna.

Um grande círculo marcou a última atividade da Memória Paulo Freire: Cátedras: Repensando Paulo Freire nos Círculos de Cultura. As experiências de Londrina, Curitiba, Santo André e Mogi das Cruzes foram reunidas para uma conversa sobre os rumos da educação sob a ótica das obras de Paulo Freire. Martha Marcondes, da Universidade de Londrina, Josiane Domingas de Bertoja Pariz, da Universidade Bargozzi, de Curitiba, Maria Leila Alves, da Universidade Metodista de Santo André e Andréa Marinho, da Universidade de Mogi das Cruzes e presidente do Cepec, falaram sobre a importância dos círculos de cultura, as especifi cidades de cada um e o estudo das obras de Paulo Freire.

Antes do círculo, foi reapresentado o vídeo-documentário Paulo Freire Contemporâneo. A obra demonstrou a proximidade do educador com os educandos e a possibilidade de fazer de sua obra uma realidade nas salas de aula. “Paulo Freire não queria ser visto como um dogma. O importante de sua obra é a confi ança no outro, todos são capazes de refl etir e mudar seu jeito de pensar”, comentou Martha.

A educadora comentou que a obra de Paulo Freire demonstra que o educador é capaz e a sociedade está formando atualmente cidadãos consumidores, que exercem uma cidadania passiva. Para Andrea Marinho, do Cepec, o conhecimento é a chave para se ter crítica. “O caminho que Paulo Freire aponta é o diálogo. Não repetir o que ele falou e sim, construir a partir daí”, disse.

Maria Leila falou sobre a afetividade: “Paulo Freire fala da afetividade na relação pedagógica. A vida não é mais um valor universal, difi culdade que a criança tem em receber carinho. O educador deve buscar palavras que tenham signifi cado para o aluno, respeitar o universo do outro”. Educadoras de Guarulhos e Mogi das Cruzes participaram do círculo, compartilhando experiências e levando um pouco da obra de Paulo Freire para seu dia-a-dia.

“Ninguém ignora tudo,

ninguém sabe tudo. Por isso aprendemos

sempre”. Paulo Freire

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A cor da minha pele

“Tem mais gente orgulhosa em dizer que tem a pele preta, e que deixou de ser parda nas estatísticas do Brasil. O FME dá indícios de que isso tem a ver com os debates dos movimentos sociais e negros para mudar a educação”

Foto: Julia Delibero

Ou tem mais gente negra no Brasil ou mais gente negra está orgulhosa de afi rmar

que é. Dados divulgados pelo IBGE na semana do Fórum Mundial de Educação indicam que mais 1,34 milhão de pessoas passaram a declarar que sua cor da pele é preta. O total passou de 11,5 milhões de pessoas para 12,9 milhões.

Proporcionalmente, no ano passado havia 6,3% de gente que se dizia de cor preta no Brasil e agora são 6,9%, o que ainda é pouco perto da cor da pele que se vê predominando no Brasil.

Esse pretejamento das estatísticas foi acompanhado da diminuição do número de pessoas que antes se dizia parda, e que baixou de 43,2% para 42,6%.

Ainda muito recentes, esses dados estão sendo explicados com suposições. A principal delas é de que a cobrança de políticas afi rmativas, a proposta das cotas e do estatuto da igualdade racial aumentaram os debates sobre a grande participação afro-brasileira na história do país e mais pessoas passaram a valorizar sua cor.

Esses temas foram debatidos no Fórum Mundial da Educação em várias atividades, especialmente ofi cinas autogestionadas, organizadas por escolas e organizações do movimento negro preocupadas com a valorização da identidade afro-brasileira e a introdução da história da África no currículo escolar.

Um exemplo foi a ofi cina “Tratando de africanidades no cotidiano escolar”, da cidade de Santo André, ou a “Questão racial na escola para construção positiva de identidade - valores”, de uma escola de Mogi das Cruzes, ou ainda sobre os “Saberes negros modernos a serviço da educação protagonista da diversidade”, do Centro de Estudos de Culturas e de Línguas Africanas e da Diáspora.

Um dos mais específi cos sobre as cotas e estatuto da igualdade foi o painel “Políticas Públicas para a diversicade étnico-racial”, com a participação de Marilândia Frasão, da organização Negro Sim, Rute Rodrigues Reis, da USP, e mediação de Cosme Alves Nascimento, da Secretaria Municipal de Suzano.

Cosme disse que esta semana entidades do movimento negro devem completar um milhão de assinaturas pela aprovação da lei de cotas e da igualdade racial, que serão levadas a Brasília.

Ana Trigueiro Sola é comunicadora da Ciranda Internacional de Informação Independente. Matéria publicada no Especial Fórum Mundial de Educação Alto Tietê 2007 no site www.ciranda.net (1709/07)

Ana Trigueiro Sola

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“Com leitura em todas as atividades das primeiras séries, professoras dizem gostar de trabalhar em dupla na sala de aula”

Naira CirinoNairiraaaa CiCiCCCCCCCiririinononononono

Ler, escrever, alfabetizar pra valer

A apresentação da EMEF Parque Dourado II (do município de Ferraz de Vasconcelos) A apresentação da EMEF Parque Dourado II (do município de Ferraz de Vasconcelos) começou em tumulto: na sala ao lado a Associação de Assistência ao Deficiente Visual começou em tumulto: na sala ao lado a Associação de Assistência ao Deficiente Visual do Alto Tietê (AADVAT) fazia uma apresentação musical que atrasou o início da palestra.do Alto Tietê (AADVAT) fazia uma apresentação musical que atrasou o início da palestra.Mas o atraso não interferiu no interesse de quem assistia à exposição do Projeto “ler, escrever, alfabetizar pra Mas o atraso não interferiu no interesse de quem assistia à exposição do Projeto “ler, escrever, alfabetizar pra valer”, que modificou as bases do ensino nas primeiras séries das escolas municipais em Ferraz de Vasconcelos.valer”, que modificou as bases do ensino nas primeiras séries das escolas municipais em Ferraz de Vasconcelos.Este é um projeto que propõe maior qualidade de ensino aos alunos de primeira série por meio de um maior enfoque Este é um projeto que propõe maior qualidade de ensino aos alunos de primeira série por meio de um maior enfoque na alfabetização e na leitura, que são trabalhadas em todas as atividades apresentadas.na alfabetização e na leitura, que são trabalhadas em todas as atividades apresentadas.

A primeira característica do programa é a atuação conjunta de dois professores em uma mesma sala, A primeira característica do programa é a atuação conjunta de dois professores em uma mesma sala, com o objetivo de diminuir a quantidade de alunos por professor e oferecer, assim, maior suporte.com o objetivo de diminuir a quantidade de alunos por professor e oferecer, assim, maior suporte.A partir disso, novas estruturas de ensino foram desenvolvidas com o objetivo de dar maior enfoque às dificuldades A partir disso, novas estruturas de ensino foram desenvolvidas com o objetivo de dar maior enfoque às dificuldades individuais de cada aluno até que a sala toda esteja em um mesmo ritmo de aprendizagem. Isso é feito variando os métodos individuais de cada aluno até que a sala toda esteja em um mesmo ritmo de aprendizagem. Isso é feito variando os métodos de aplicação de uma mesma atividade ao mesmo tempo em que se oferece ao aluno estímulo e motivação para progredir.de aplicação de uma mesma atividade ao mesmo tempo em que se oferece ao aluno estímulo e motivação para progredir.Uma das inovações feitas na estrutura de ensino foi a dinamização das aulas, onde agora uma atividade Uma das inovações feitas na estrutura de ensino foi a dinamização das aulas, onde agora uma atividade recebe vários enfoques diferentes e as crianças aprendem brincando. Exemplificando, as professoras recebe vários enfoques diferentes e as crianças aprendem brincando. Exemplificando, as professoras Quedina e Gisele contaram sobre uma dessas atividades, onde através do preparo de uma vitamina de Quedina e Gisele contaram sobre uma dessas atividades, onde através do preparo de uma vitamina de frutas foram dadas lições sobre construção de texto (preparo da receita), higiene alimentar e nutrição.frutas foram dadas lições sobre construção de texto (preparo da receita), higiene alimentar e nutrição.Servindo ainda como exemplo de integração educacional, as professoras contam que há trocas de experiências entre Servindo ainda como exemplo de integração educacional, as professoras contam que há trocas de experiências entre as duplas de professoras das diferentes salas. “Assim nós comentamos o que deu certo em nossa sala e sabemos as duplas de professoras das diferentes salas. “Assim nós comentamos o que deu certo em nossa sala e sabemos o que funcionou na delas”, disseram. o que funcionou na delas”, disseram.

E o trabalho tem apresentado resultados: “Temos apenas um aluno em fase E o trabalho tem apresentado resultados: “Temos apenas um aluno em fase prpr é-silábica”, afirmam as -silábica”, afirmam as professoras. Resta agora esperar que outros municípios despertem para a importância da alfabetização professoras. Resta agora esperar que outros municípios despertem para a importância da alfabetização efetiva e da construção de uma base sólida de ensino desde a primeira série e, seguindo o exemplo de Ferraz efetiva e da construção de uma base sólida de ensino desde a primeira série e, seguindo o exemplo de Ferraz de Vasconcelos, dêem às crianças uma atenção mais individual e personalizada.de Vasconcelos, dêem às crianças uma atenção mais individual e personalizada.

Naira Cirino é comunicadora da Ciranda Internacional de Informação Independente. Matéria publicada no Especial Fórum Mundial de Educação Alto Tietê 2007 no site www.ciranda.net (13/09/07)

Fotos: CCII Ignês Pettená

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Construindo novas relaçõesde gênerogênero

“Homofobia é o preconceito contra aqueles que amam pessoas do mesmo sexo. É o preconceito contra pessoas que têm

sentimentos, anseios, necessidades e esperanças como qualquer outro ser humano” (Programa Brasil sem Homofobia).

Estamos no terceiro dia de Fórum, seguem os debates a respeito da diversidade. Dessa vez o assunto é a diversidade

sexual e a igualdade de gênero, por uma sociedade sem racismo, machismo e homofobia.

A atividade autogestionada (ofi cina) foi ministrada pela equipe do grupo “Educando para a paz na diversidade sexual e

igualdade de gênero”, que atua em parceria com a Secretaria de Educação Continuada, Alfabetização e Diversidade

do Ministério da Educação (SECAD/MEC), no âmbito dos “Projetos de Formação para a Promoção da Cultura de

Reconhecimento da Diversidade Sexual e da Igualdade de Gênero”, em cumprimento ao “Programa Brasil sem

Homofobia” e ao “Plano Nacional de Políticas para as Mulheres”. O grupo é da Secretaria Municipal de Educação da

cidade de Suzano.

A ofi cina envolveu os participantes com uma dinâmica que colocou a refl exão sobre os papéis

sociais que temos na sociedade. Pretendeu-se problematizar as representações sociais que

temos sobre os infi nitos papéis que desenvolvemos no meio social no qual estamos inseridos.

A dinâmica consistiu no seguinte: as educadoras distribuíram papéis sociais diversos, como o de ’médico’, ’policial’,

’professor’, ’desempregado’, ’gay’, ’travesti’, ’mulher casada’, ’mulher solteira’, etc. Papéis estes que nem sempre

estavam relacionados, necessariamente, ao que realmente representamos.

Os participantes não tinham ciência da “nova” identidade social que estavam carregando. Foram escolhidas algumas

pessoas para representarem a sociedade, essas estariam incumbidas de “colocar cada qual no seu devido lugar”, tendo

como base a visão média, muitas vezes estereotipada desses papéis. Nós não carregamos apenas uma identidade

social, ora somos fi lhos, ora somos pais e mães, ora somos educadores e educandos, ou seja, esses papéis não são

categoricamente defi nidos, imutáveis, estagnados. Porém, a proposta era trabalhar com a visão do estereótipo para

facilitar a dinâmica. Essas relativizações acerca dessa problemática foram pontuadas no diálogo que se travou durante

o processo de aprendizagem que ali estava acontecendo.

A dinâmica afetou as pessoas no sentido de demonstrar o quanto a sociedade é perversa, o quanto ela é antidemocrática,

machista, homofóbica, racista e preconceituosa. As pessoas se sentiram mal por não poder transitar por todos os

espaços sociais, isso ocasionou num incômodo. “O objetivo é fazer eles sentirem na pele o que o negro, a mulher e

o homossexual sofrem na realidade. É diferente discutir gênero, preconceito antes da dinâmica e depois da dinâmica,

devido ao ato vivencial”, afi rma a educadora social Luciana Freitas.

Os educadores discutiram questões relativas ao tabu da sexualidade na nossa sociedade, a difi culdade que eles têm

de conversar sobre esse tema nas escolas. “É preciso ter muito cuidado na hora de tratar desse assunto, temos que

saber de onde vem o aluno, suas crenças, seus valores, qual é sua vivência familiar, os valores que a família transmite

a essa criança”, afi rma uma educadora de educação física. “Eu tive difi culdade de trabalhar com sexualidade. Os pais

chegavam no outro dia reclamando, pedindo para que os fi lhos não assistissem à aula”, complementa.

O problema se agrava ainda mais quando se insere a fi gura do educador homossexual nesse contexto. Cláudio Alves, educador

homossexual, fala sobre a difi culdade encontrada por ele na escola onde atua, devido a homofobia de outros educadores,

dos alunos e dos pais de alunos. “Eu tento ser discreto para não criar situações constrangedoras, alguns pais dizem que

não são homofóbicos, mas deixam claro que não querem me ver educando os fi lhos deles, é muito complicado”, desabafa.

“Se cada ser vivo é diferente de todos os outros seres vivos, então a diversidade se torna fato real irredutível da vida.

Só as variações são reais, e para vê-las simplesmente temos que abrir olhos. O problema é que todas as pessoas

querem ser iguais, acham mais fácil ignorar esse aspecto fundamental da condição humana, querem tanto fazer parte

de um grupo que traem sua própria natureza para conseguir isso” (Trecho do fi lme O Relatório Kinsey).

Wanderson MansurFoto Fernanda Matheus

Wanderson Mansur é comunicador da Ciranda Internacional de Informação Independente. Matéria publicada no Especial Fórum Mundial de Educação Alto Tietê 2007 no site www.ciranda.net (14/09/07)

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gênero

Organização

Conselho Internacional do Fórum Mundial de EducaçãoComitê Organizador do Fórum Mundial de Educação Alto Tietê

Realização

Patrocínio

Apoio

ABC Educatio, Aliança Internacional de Jornalismo (Núcleo Brasil), AMOA - Associação Mogiana Ofi cina dos Aprendizes, Associação Atlética Comercial, Associação Comercial de Mogi das Cruzes, Associação Comercial de Poá, Associação de Assistência ao Defi ciente Visual do Alto Tietê, Bio-Bras, BR Marketing, Cala-Boca Já Morreu, Centro do Professorado Paulista, Centro Federal de Educação Técnica de São Paulo, Centro Paula Souza, Ciranda-Afro, Ciranda da Comunicação Independente, CLACSO, Comissão Colegiada Fórum Municipal de Defesa da Criança e do Adolescente, Diretoria de Ensino – Mogi das Cruzes e região, Diretoria de Ensino de Itaquaquecetuba, Educarede, El Elmangrullo – Argentina, ELOIN, Escola Técnica Estadual Presidente Vargas, Escola Técnica Mogiana – ETM, Faculdade de Saúde Pública da USP, Faculdade Montessori de Educação e Cultura, Faculdades Integradas Cantareira, Faculdades Integradas de Guarulhos, Faculdades Paulista de Serviço Social de São Paulo, FMU, Folha de Mogi, Fundação Cafu, Fundação CASA, Fundação Cásper Líbero, Fundação Cultural Benedicto Siqueira e silva – Paraibuna, Fundação Gol de Letra, Instituto de Desenvolvimento Humano do Alto Tietê (Idehat), Instituto para Democratização da Educação no Brasil, Instituto Paulista de Ensino e Pesquisa, Instituto Paulo Freire – Suécia, Instituto Teológico, Jornal A Semana, Jornal da Tarde, Jornal Mogi News, Jornal Mogi Total, Lions Clube de Mogi das Cruzes Estância, Mackenzie, Maxpress, Movimento Nacional dos Catadores de Materiais Recicláveis - Catasampa, O Diário (Mogi das Cruzes), Opção Brasil, PUC – SP, Rádio Metropolitana, Revista Direcional, Revista Fórum, Revista Nova Escola, Revista Onda Jovem, RP Propaganda, Secretaria Nacional de Educação e Formaçã o Profi ssional, Departamento de Educação do Trabalhador Coordenação Geral de EJA - Santo André, Secretaria Estadual de Educação de São Paulo, SINDSEP, SME Diadema, SME Jacareí, SME Mauá, SME Santo André, SME São Bernardo do Campo, SME São Caetano do Sul, SME São José dos Campos, SME São Paulo, SMEC Bertioga, Serviço Social da Indústria (Sesi), Sociedade do Espetáculo – Santos, Subsede APEOESP de Itaquaquecetuba, Subsede Apeoesp Poá/Ferraz, Subsede Apeoesp Suzano, Suzano Papel e Celulose, TV Diário, Undime Nacional, Undime São Paulo, Unesp, Uniban, Unicamp, Unicid, Uniesp, Uninove, Unisantana, Unisuz, Universidade de Guarulhos, Universidade Ibirapuera, USP-Leste, USP - Pró Reitoria de Cultura.

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Escolas reúnem 4 mil pessoasEscolas reúnem 4 mil pessoasEm uma sala, professores, crianças e adultos

aprendem a confeccionar brinquedos com um simples pregador. Ao lado, um escritor divide suas experiências com os leitores. Em outro ponto, malabarismos e atrações culturais divertem e impressionam o público. E há espaço também para o debate. Este caldeirão de variadas atividades defi ne o espírito do Fórum Infanto-Juvenil (FIJ), evento que aconteceu paralelamente ao Fórum Mundial de Educação Alto Tietê (FMEAT). O objetivo foi dar voz aos estudantes, mas muitos educadores também participaram das atividades.

Na manhã de ontem, a movimentação era intensa nas escolas estaduais Francisco Ferreira Lopes, o Chicão, e Profª Leonor de Oliveira Melo, ambas no Mogilar. À tarde, peças teatrais foram destaque nas universidades. Neste sábado, as escolas voltaram a abrigar o FIJ, que terminou no domingo com o plantio de árvores, às 14 horas, na Barragem de Taiaçupeba.

Para Andréa Souza, secretária executiva do Fórum, o número de participantes superou as expectativas. A estimativa é de que 4 mil pessoas passaram pelas escolas na manhã de ontem. Entre as 30 atividades realizadas, segundo ela, apenas quatro tiveram atraso. “Nós contamos com parceiros de São Paulo e existe o problema do trânsito, mas não foram atrasos de muito tempo”, explicou.

Entre as atrações, a Escola Mirim de Trânsito foi uma da mais solicitadas. Montada logo na entrada do Chicão, a pista foi percorrida pelas

crianças de bicicleta ou “motos” elétricas e teve como objetivo conscientizar a garotada sobre os perigos do tráfego, além do conhecimento dos equipamentos de trânsito, como semáforo de motorista e pedestre, as faixas de segurança e sinalizações básicas. “Muita gente acha que a bicicleta não é veículo e, por isso, não respeita as sinalizações, o farol. Assim, de pequenos, eles já criam responsabilidade”, complementa Viviane Cipriano de Melo Pederro, coordenadora de Educação para o Trânsito da Secretaria Municipal de Transportes. A pista esteve disponível ao público até domingo.

No andar de cima da escola, educadores faziam fi la para participar da ofi cina “Brinquedo de Sucata”, do grupo Arte e Palco. No local, eles aprenderam a confeccionar pequenos bonecos com pregador, palito de sorvete ou até de fósforo. “Estou adorando, para mim foi uma novidade e já é uma opção para o Dia das Crianças”, contou Alice Helena de Faria Oliveira, professora de Ferraz de Vasconcelos. Para Marcelo de Oliveira Moreira, estudante de Educação Física que já atua na área, o artigo é de produção simples e barata.

Perto dali, Eduarda Patrícia de Oliveira, 9 anos, e Carolina Santos de Oliveira, 8 anos, puderam conhecer e conversar com Nelson Albissú, autor do livro “Quem Ouvir e Contar, Pedra Há de se Tornar”, que leram no projeto de leitura da E.M. Luiz Beraldo de Miranda.

Entre as atividades culturais, os jovens do grupo “The Fire Brotherhood” arrancaram muitos

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Karina Matias

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aplausos, principalmente dos adolescentes, que fi caram impressionados com os malabarismos da trupe. Felipe Rodrigues, Marcos de Oliveira e Jaqueline Montenegro – ela veio de São Paulo -, chegaram a distribuir autógrafos e tirar fotos com os espectadores.

INTERNOS DA FUNDAÇÃO CASA TÊM DESTAQUE

Adolescentes e educadores se apertavam na pequena sala da Escola Estadual Francisco Ferreira Lopes, o Chicão, no Mogilar, onde jovens internos da Fundação Casa (antiga Fundação Estadual do Bem-Estar do Menor – Febem) de Itaquaquecetuba apresentavam a peça “O Conhecimento Transforma”, na manhã de ontem, entre as atividades do Fórum Infanto-Juvenil (FIJ).

Muito aplaudido ao fi nal da exibição, o espetáculo agradou as estudantes de Mogi, Larissa Regina de Melo, 16 anos, e Jane Regina Livoni, 15 anos. “Foi muito interessante. Eles conseguiram prender a atenção do público”, disse Larissa. “Se tiver mais atividades e projetos como este, vai possibilitar que outros jovens saíam das drogas”, avalia Jane. Para elas, as escolas, como um todo, deveriam trabalhar de forma diferenciada e mais criativa o ensinamento dentro de sala de aula, envolvendo a participação de todos os alunos nas atividades.

Para a professora Linei Noves, o que mais chamou a atenção foi o teor da peça, que abordou a importância do conhecimento. “Talvez, se eles tivessem cultura e conhecimento não se envolvessem em más companhias, pois a gente sabe que é isso o que acontece”, avalia.

Para os atores amadores, era a estréia em eventos fora da unidade. “É interessante participar destas atividades”, disse J.M.S., 17 anos. Segundo a coordenadora pedagógica da Fundação, Sinhá Carvalho de Oliveira, por

meio de atividades artísticas, como teatro, coral – que também se apresentou no dia – são trabalhados a conscientização e conceitos para a posterior reintegração dos adolescentes na sociedade.

Mas não foram todos os participantes do FIJ que compartilharam da mesma opinião. Em outra sala do evento, o assistente social Givanildo Manoel da Silva, coordenador do Fórum Estadual de Defesa da Criança e do Adolescente, criticou a existência das Febems. “Com toda essa polícia, metralhadora, como visto aqui, o que os jovens podem aprender com armas? O que signifi ca isso na vida deles”, argumentou ele, que à noite participou do debate específi co – “O Menor Infrator: A Questão da Febem”, na Universidade de Mogi das Cruzes (UMC).

Aliás, cobrar uma participação maior da população foi o tema do debate que Silva e um grupo de integrantes do Fórum Municipal de Defesa da Criança e do Adolescente de Mogi estabeleceu em uma das atividades do FIJ – uma mesa de diálogos que teve como tema: “Participação popular na Formulação e Fiscalização das Políticas de Defesa dos Direitos da Criança e do Adolescente”.

Como resultado da discussão, o grupo defi niu que, no próximo encontro do Fórum, continuam as discussões sobre o mesmo tema, só que dessa vez, contará com duas mesas de debate: uma formada por adolescentes e outra com adultos.

Karina Matias é jornalista do Jornal O Diário. Esta é uma reprodução de reportagens publicadas no Caderno Cidades, do dia 15/09/2007

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Conferencistas propõem dez princípios da responsabilidade social na educação

Fotos: Julia Delibero

O segundo eixo do Fórum – Protagonismo: Responsabilidade Social na Educação Contempo-rânea – vem provocando crianças, adolescentes, jovens, adultos e idosos desde o primeiro dia, 13, aqui em Mogi das Cruzes, sede da edição de 2007 do movimento mundial que acontece até 16 de setembro. Entre as várias atividades sobre o tema da conferência deste sábado, que levou o mesmo nome, saíram dez princípios da responsabilidade social da educação que os(as) participantes consi-deraram norteadores para o confronto com o ne-oliberalismo. Na mesa, Carlos Alberto Torres, da Universidade da Califórnia (UCLA) e diretor do Instituto Paulo Freire em Los Angeles, Maria da Glória Gohn, da Universidade de Campinas (Uni-camp), além de Alessio Surian, representante do Conselho Internacional do FME-Itália, e Ulisses Araújo, da Universidade de São Paulo (Leste), que relatou o evento.

Defesa da liberdade do pensamento, da criati-vidade e das pessoas, defesa da educação pública,

Thais Chita

defesa da educação cidadã, defesa do es-tado democrático, defesa da parceria entre a educação e os movimentos sociais. Além destes, a defesa do direito à dúvida, defesa da ética, defesa da utopia, defesa da cidade cosmo-polita, planetária e mul-ticultural e a defesa do amor, pois sem amor não há esperança. Segundo os con-ferencistas, esses compromissos con-tribuirão para uma educação humani-zadora, libertadora, coerente, cidadã, de boa qualidade.

“Devemos ser nós mesmos, mas não os mesmos todos os dias”, disse Alessio Surian, citando Gabriel, O pensador. E para isso, precisamos falar e ouvir o outro, compreendê-lo. “A educação no sentido mais amplo não está só na escola, está fora também. A escola hoje não estimula a inteligência emocional que faz parte da social e que se traduz na responsabilidade cultural. Sem esta, não chegaremos à cidadania planetária que queremos”, afi rma Surian. Para ele, uma das mais exitosas estratégia de educação libertadora é a defendida por Paulo Freire. “Acho fantástico trabalharmos com os Círculos de Cultura, como propunha Freire, em que todos(as) têm a palavra, expõem suas vivências e constroem o conhecimento de forma coletiva”.

Surian critica a escola atual que deve entender como mérito o controle enorme que desempenha no âmbito

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social. Porém, no do conhecimento, ela deixa muito a desejar. “Ela deve propiciar mais espaços para a refl exão, troca de informações, praticar pedagogia da pergunta para refl etir uma aprendizagem mais signifi cativa, próxima ao contexto dos(as) alunos(as). E este processo tem que ser compartilhado com a comunidade. A responsabilidade social envolve as três culturas: dos pais (familiares), da comunidade e das crianças. Sempre fui considerado um ótimo aluno porque, por ser fi lho de docentes, o jogo da escola – de reproduzir o que eles queriam - se tornou fácil para mim. Não quero que essa situação ainda aconteça”.

Além disso, a transparência dos recursos fi nanceiros da educação e a qualida-

de dela para construir a cidadania ativa buscando da autonomia,

base do pensamento crítico, foram outras necessidades

imprescindíveis da edu-cação levantadas por

Surian.

“Entendendo o protagonismo como fator essencial da cena social e polí-tica constituída de educadores(as) e de comunidades”, Maria da Glória explicou a evolução da palavra na nossa

história. “Formada de raízes gregas, a

palavra protagonismo signifi ca “lutador”. Pas-

sou a ser usada no cam-po da dramarturgia como

“personagem principal” e, atualmente, a área das ciências

humanas se apropriou de seu sen-tido. E como ela se articula com a edu-

cação?”, provoca.

Para ela, os educadores(as) devem assumir a responsabilidade social junto com as comunidades, estimulando a mobilização das mesmas para que juntos sejam protagonistas, proponham agendas, indiquem caminhos como os “grandes agentes” – os fóruns – têm feito. “Além disso, eles(as), nós, devemos pensar em como responsabilidade social pode atuar para que as dimensões da educação não formal, que ocorre nas ações do coletivo, nos movimentos, nas redes, nos fóruns, podem se conectar com as das educação formal.”

Segundo Torres, a privatização do ensino, a descentralização da educação como instrumento de poder político e controle social e o modelo economicista são impactos do neoliberalismo que não são os caminhos que acredita e defende. “Primeiro porque não devíamos pagar escolas particulares, é dever do Estado. Segundo que, com este cenário, ajudamos ainda mais os neoliberais a controlarem organizações da sociedade, a fazerem acordos respeitando somente seus interesses, acabando com a possibilidade de desenvolvermos nosso papel no controle social”, comenta.

Outra preocupação do educador é que o modelo economicista de presença marcante em nossa sociedade elimina o rigor acadêmico, constrange, limita a capacidade de criar que as pessoas têm, aumentando e, em muito, a situação de infelicidade delas. “E que ferramentas acessar para que esta situação imposta com tanta severidade mude?”, pergunta alguém da platéia por meio de uma anotação entregue à mesa. “Teremos a resposta no dia em que nos questionarmos como amamos as pessoas”.

Atualmente, levanta Torres, para avaliar a “qualidade” da educação, muitos países vêm adotando testes como se fossem a única maneira de descobrir como educadores(as) e alunos (as) estão se desenvolvendo, caminhando. “Há tantas outras situações indispensáveis que deveriam ser levadas em consideração que ampliariam qualitativamente os horizontes desses critérios, como a formação moral e cultural desses sujeitos, a sua relação com a responsabilidade cidadã”, complementa.

Thais Chita é jornalista e coordenadora de comunicação do Instituto Paulo Freire

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A educação pública na mesa

Profi ssionais da área, estudiosos e educadores como Vital Didonet, membro do movimento Fundeb pra valer, Maria do Pilar Lacerda, secretária nacional de Educação Básica do Ministério da Educação, Valério Arcary, da Apeoesp e Ramón Moncada, da Rede Cidade Educadora da Colômbia, compuseram a mesa de debates Políticas Públicas em Educação: efetivando e concretizando direitos? referente ao quarto eixo do Fórum Mundial de Educação Alto Tietê. A conferência aconteceu neste sábado (15/09). Os participantes apresentaram estudos e pesquisas e citaram diversos pontos defi cientes na atual política educacional do Brasil e do mundo.

Didonet afi rma que quando pensamos em políticas públicas, temos que pensar como eixo central: a pessoa, e que pensar em política é buscar a justiça e o respeito à diversidade e às diferenças. Outra questão é a uniformização, a uniformidade é um desastre porque perdemos a individualidade para todos que se põem como dominadores. “Nós temos que ultrapassar essa visão do eurocentrismo, do americanismo, que na ótica deles é para todos”, completa.

Para o educador, quando se defende o direito à educação, não se defende apenas o direito de estar na escola. É preciso que se aprenda, que se construa uma base em cada cidadão. “No Brasil há no mínimo 500 mil crianças fora da escola. E quando pensamos em políticas públicas, devemos pensar nessas crianças que não tiveram acesso à escola, quem são elas e porque estão fora. Ela está sendo excluída e isso empobrece o coletivo”.

Maria do Pilar lembra que falamos de direito em um país que, historicamente, se acostumou com a exclusão. “A escola brasileira nunca foi pública, porque ela nunca foi para todos. Nós, profi ssionais da educação temos que nos engajar nessa luta, ter uma política de Estado muito defi nidora desses direitos”, completa. Ela faz uma provocação aos educadores questionando: qual é o papel do professor hoje, onde os salários são baixos, mas lidam com meninos (as) que precisam dessa escola. Qual é o papel deles para garantir esse direito?

A secretária fez um levantamento das últimas décadas do ensino no Brasil e informou que atualmente há cerca de 40 milhões de adultos que não têm a 4ª série. “Isso se deve ao modelo de reprovação pela exclusão existente desde os anos 50, onde 40% das crianças brasileiras tinham direito à escola. Esse número foi crescendo, mas é essa escola pública que nossa geração defende”, e continua, “um modelo de reprovação que excluía os fi lhos dos trabalhadores e que seguia uma lógica que não era a do aluno e, sim, a do professor e sua matéria”.

Assegurar que a política pública seja feita por pessoas comuns e que essas mesmas pessoas sejam agentes protagonistas e marquem na história esse ponto, dando o tom através de projetos pedagógicos é outro ponto defendido por Pilar.

Arcary afi rmou, veementemente, que a educação brasileira está em uma crise terminal e que estamos pior que há 30

anos. “Os educadores não acreditam no que estão fazendo, os estudantes não acreditam no que estão fazendo. As coisas não são o que são e, sim, aquilo que as pessoas percebem como são”, afi rma. Para o professor, é preciso falar de políticas públicas democráticas, como construção, seguimento e avaliação da cidadania. Além da necessidade da participação do cidadão, da cidade, e que isso não seja dirigido apenas aos professores, mas à sociedade em geral. Para que isso aconteça são necessários espaços de debates, como o Fórum. É preciso que haja uma relação entre as políticas públicas da educação e o direito à educação. A fi nalidade é a garantia desse direito. “Não é problema de vaga, de acesso, mas de compreensão, de gratuidade”, completa.

Moncada explica que não pensamos as políticas e nem a sua fi nalidade. Para ele, a política educacional não é para gestão e sim para fundamentar o projeto político, social e cultural. “Essas políticas têm uma relação a longo prazo, têm a ver com transformações culturais, mentais e isso só se dá a longo prazo. Também devemos saber que nem tudo o que é governo é público e nem tudo o que é público é democrático”, fi naliza.

Márcia Galdino é jornalista e fez parte da equipe de Comunicação do Fórum Mundial de Educação Alto Tietê

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Fotos: Uelves Sombra

Márcia Galdino

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O político das políticas EDUCACIONAIS Ramón Moncada

O político das políticas EDUCACIONAIS

“Nem tudo que é governamental é público. Nem tudo que é público é democrático”

Integrante do Conselho Internacional do Fórum Mundial de Educação, o colombiano Ramón Moncada participou no sábado (15/09) da conferência “Políticas Públicas: efetivando e concretizando direitos?”, e criti-cou a adoção de programas de educação orientados por organismos estranhos à cultura do povo interessado. “As políticas educacionais refl etem o que pensamos e quere-mos da sociedade”, disse ele. E por isso, se elas refl etirem o que o Banco Mundial pensa e quer da sociedade, já estarão distorcidas. A seguir, algumas opiniões de Ramón Monca-da, apresentadas na conferência

As Políticas educacionais refl etem o que pen-samos e queremos da sociedade - As políticas educacionais têm a ver com o projeto cultu-ral, o projeto político de nossa sociedade, do nosso país. Para essa sociedade que nós queremos, temos então umas políticas educacionais concordantes. Este é o risco da infl uência de alguns orga-nismos internacionais nas políticas educacionais nacionais e locais. Por exemplo, o Banco Mundial é uma organização privada e a sua política de educação passa a ser política pública nacional nos nos-sos países.

As políticas educacionais e o longo prazo - A educação e a cul-tura têm a ver com as transforma-ções sociais, culturais e mentais. Estas transformações se dão a longo prazo. Os governos planejam e fazem a gestão a curto prazo. A maioria dos governos tem projetos, estratégias e pro-gramas, mas eles não têm políticas educativas. A política educacional deve ter um horizonte cultural e estratégico de longo prazo. Você pode atuar no curto prazo, mas conectado com o caminho do longo prazo.

Políticas públicas democráticas - Nem tudo que é go-vernamental é público. Nem tudo que é público é de-mocrático. As políticas públicas são feitas e implemen-tadas pelo governo, mas têm a ver, sobretudo, com o Estado no senso da fi losofi a política. O Estado é além governo e tem a ver também com a sociedade e com os projetos políticos e culturais das nações. Existem mais projetos e programas governamentais do que políticas públicas. Precisamos de políticas publicas democráticas feitas com participação cidadã na construção, na aplica-ção e no controle cidadão. A participação cidadã legiti-ma as políticas educacionais.

As políticas educacionais e o direito à educação - A fi na-lidade das políticas educacionais deve ser o reconhe-cimento e a garantia do direito à educação para todos. A educação é um direito humano fundamental porque dela depende a realização do projeto de vida individual de cada pessoa, mas também a realização dos projetos

coletivos sociais e culturais. O direito à educação não tem só a ver com a entrada na escola, com as vagas. O direi-to à educação é um direito completo, tem a ver com a gratuidade, com a pertinência e a inclusão e também tem relação com a qualidade. Os governantes, os secretários de educação e os funcionários públicos só concebem fre-qüentemente a gestão do serviço educativo, mas eles não

pensam no reconhecimento e a garantia do direito a educação.

Políticas educacionais e cidade - O que chamamos educação é, em realidade, es-colarização. Então temos políticas educa-cionais para o sistema escolar, mas não para a educação da cidade. As secretarias de educação pensam quase exclusivamen-te no sistema escolar, a rede municipal de

ensino; mas não dá para pensar a educação na cidade toda, porque a cidade, no sen-

so da proposta da cidade educadora, é um sistema global de educação e aprendizagem. Então, precisamos também pensar nas políticas edu-cacionais para as cidades.

O papel estratégico das Secreta-rias de educação - As secretarias de educação têm a responsabilidade da construção, seguimento e ava-liação participativa e democrática

das políticas educativas. Elas não têm só a ver com a gestão do serviço educativo, mas com a garantia do direito a edu-cação. Elas deveriam pensar também à educação na cidade e não só o sistema escolar, a rede de ensino. As secretarias de educação precisam ter mais força, mais presença e mais infl uência nos governos municipais e nas políticas sociais e, portanto, maior orçamento, porque sua responsabilidade é as políticas educacionais e estas têm a ver com o projeto social cultural e político da sociedade que nós queremos ter, que nós queremos construir.

Reprodução de texto publicado no Especial Fórum Mundial de Educação Alto Tietê 2007 no site www.ciranda.net (1709/07)

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Certas propostas educacionais pautadas pelos ideais de liberdade e gestão participativa receberam diferentes denominações da literatura ao longo dos últimos 150 anos. Embora haja diferenças em relação aos vários países onde se encontram estas escolas, atualmente o movimento em torno do qual elas se articulam tem adotado a denominação de “educação democrática”.

Em geral, escolas democráticas apresentam as seguintes características:

• gestão participativa, com processos decisórios que incluem estudantes, educadores e funcionários;

• organização pedagógica em que os estudantes defi nem suas trajetórias de aprendizagem, sem currículos compulsórios.

Um dos pioneiros desse movimento foi o escritor Leon Tolstoi, que dirigiu a Escola de Yasnaia-Poliana, na Rússia do fi nal da década de 1850. O pensamento básico é que a verdadeira aprendizagem é aquela que os homens buscam espontaneamente. O grande inspirador desta corrente, o fi lósofo Jean-Jacques Rousseau entendia que o ser humano, ao nascer, já é provido de inteligência, personalidade e disposições mentais e emocionais - de uma individualidade própria, enfi m. Seria necessário, portanto, permitir a exteriorização plena destas disposições. Apostava na curiosidade infantil e deixava que ela conduzisse o processo de aprendizado. Os educadores que lhe sucederam mantiveram a ênfase na curiosidade infantil e a necessidade do respeito ao desejo da criança, tratando-a como um indivíduo pleno e incorporaram a questão da gestão política da escola, enfatizando a participação dos estudantes na elaboração das decisões sobre a vida em comunidade, a responsabilidade compartilhada. Não se trata de simplesmente inverter os pólos da educação tradicional e passar a permitir tudo o que até então foi proibido ou suprimir a ação de todos os agentes responsáveis por aquela educação. Trata-se bem mais de formular uma outra proposta de educação para a formação de cidadãos aptos a viver sob o regime democrático.

Escolas democráticas não são, portanto, um fenômeno novo e nem circunscrito a poucos países. Trata-se de algo recorrente nos nossos tempos, em sociedades pouco e

muito desenvolvidas, tradicionais e modernas, ricas e pobres. Mais recentemente, na última década, temos assistido a um recrudescimento desta proposta educacional ligado, basicamente, a alguns processos específi cos:

1. o desenvolvimento de novas tecnologias de comunicação que facilitam os processos de aprendizagem autônoma e a formação de comunidades de aprendizagem e de redes;

2. as novas teorias do conhecimento que assumem a incapacidade das ciências para solucionar os grandes problemas da humanidade e preconizam o reconhecimento dos saberes tradicionais e de outras culturas;

3. os avanços nas pesquisas de psicologia cognitiva em relação aos aspectos motivacionais do aprendizado;

4. as transformações no mundo do trabalho no sentido da desregulamentação das relações, da imprevisibilidade das carreiras e da multiplicidade dos caminhos profi ssionais;

5. o crescimento dos movimentos pela reinvenção da democracia. Neste novo contexto, de forma menos ou mais consciente, escolas públicas e privadas no mundo todo têm promovido mudanças pela democratização e novas experiências escolares têm sido constituídas sob princípios democráticos.

Atualmente, várias são as redes que articulam as escolas democráticas no mundo. Presente em 21 países, inclusive no Brasil, a Associação Janusz Korczak (AJK) promove cursos para educadores, exposições e traduções de livros do médico-educador, Janusz Korczak, que fundou e dirigiu um orfanato para crianças judias entre 1912 e 1942 na Polônia e escreveu vários livros, alguns de fi cção para crianças, outros de aconselhamento para pais e relatos de suas experiências educacionais. Em 1987, a AJK de Israel apoiou a criação da Escola Democrática de Hadera

Educação Educação DemocráticaDemocrática

Helena Singer

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que, mais tarde, criou o Institute for Democratic Education (IDE), dirigido pelo psicólogo Yaacov Hecht. Desde 1996, o IDE desenvolve projetos em centenas de escolas e cooperou na formação de vinte e cinco escolas democráticas no país. Nos últimos anos, o IDE tem atuado junto a oito governos municipais para programas de desenvolvimento sustentável regional, mobilizando todas as escolas locais bem como os demais serviços públicos. Em parceria com o Kibbutzim College, oferece formação em nível superior em educação democrática, atualmente com duzentos estudantes.

O IDE organizou a primeira Conferência Inter-nacional de Escolas Democráticas (IDEC) em 1993. Desde então a IDEC vem acontecendo anualmen-te, sempre em um continente diferente, reunindo centenas de pessoas. Em 2007, foi realizada pela primeira vez na América Latina (junto ao Fórum Mundial de Educação Alto Tietê em Mogi das Cruzes, SP, Brasil) como resultado de uma par-ceria entre o Instituto para a Democratização da Educação no Brasil, a Faculdade de Edu-cação da USP, o Instituto Socioambiental e o Laboratório de Estudos e Pesquisas so-bre Ensino e Diversidade da Unicamp.

Também tem contribuído para tra-zer a proposta da educação democrá-tica para o Brasil, a Escola da Ponte, de Portugal. Esta escola começou a ser democratizada em 1976 por ini-ciativa de um grupo de professores liderados por José Pacheco, autor de vários livros sobre o tema. A escola é pública e, depois de ter atuado muitos anos somente com o primeiro ciclo do en-sino fundamental, a partir de 2005, passou a oferecer todo o ensino fundamental. Nos úl-timos anos, a escola se tornou um ponto de vi-sitação para educadores e pesquisadores bra-sileiros e seu idealizador acabou por se mudar para o Brasil, onde articula escolas públicas e privadas, secretarias de educação e outras organizações interessadas na educação demo-crática.

é osen-ssou

Nos úl-o de vi-res bra-

mudar úblicas

m 1993. ualmen-eunindo da pela Fórum i das ar-

ão

Helena Singer é mestre e doutora em Sociologia, atualmente desenvolve projeto de pós-doutorado junto ao Laboratório de Estudos e Pesquisas sobre Ensino e Diversidade da Universidade Estadual de Campinas (LEPED-Unicamp) e é gestora do conhecimento da Cidade Escola Aprendiz. É uma das fundadoras da Escola e do Instituto para a Democratização da Educação no Brasil (IDEB), em São Paulo, e do Instituto para Educação Democrática do Brasil. Autora de República de Crianças (Hucitec) e Discursos Desconcertados (Humanitas), entre outros livros e artigos publicados no Brasil e no exterior sobre educação e direitos humanos.

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Fórum Mundial de Educação Alto Tietê: De Fórum Mundial de Educação Alto Tietê: De alma e coração abertos para uma nova era alma e coração abertos para uma nova era em busca da verdadeira educação para a em busca da verdadeira educação para a diversidadediversidade

“Nada do que foi será, de novo do jeito que já foi um dia...” (Como uma onda, Lulu Santos)

É muito bom poder ter um canal de comunicação, como a revista Educando em Mogi, para que eu possa partilhar minhas impressões a respeito do Fórum Mundial de Educação

Alto Tietê, sediado em Mogi das Cruzes, em setembro último. Devemos concordar que, além de uma grande honra para nosso Município, foi também uma oportunidade única para

os milhares de profi ssionais de educação ligados a esse encontro. Nestes quatro dias de refl exão, pudemos ter a oportunidade de, como foi belamente escrito na música da professora

Simone Teodoro da Silva, “...olhar o mundo do nosso quintal...”! (Hino do Fórum Mundial de Edu-cação Alto Tietê). Como foi maravilhoso perceber que as mais variadas concepções e propostas

estavam todas ao nosso dispor e tão perto de nós! Foi valioso aproveitar estes dias para apreender o mundo, rever muitos amigos, permitir-se experimentar, escutar e transmitir nossas vivências de educa-

dores e seres humanos; promovendo, realmente, a educação para a diversidade cultural, política, étnica, religiosa. O Fórum trouxe a nossa cidade a oportunidade de sediar o que há de mais novo e também, o que há muito tempo temos lutado e discutido em termos de educação para busca da qualidade.

A abertura já mostrou-nos a que viemos. Na execução do hino nacional brasileiro, cantado por milhares de vozes uníssonas de educadores, jovens e crianças, fez-me refl etir no quanto

somos perseverantes, no quanto queremos buscar o melhor para nosso país, construir e viver a nossa cidadania. Foi lindo e emocionante pensar que, em tantas partes deste

país e deste mundo, existem milhões de pessoas envolvidas num mesmo propósito, que com profi ssionalismo e, principalmente, amor, dedicam suas vidas à pesquisa, ao trabalho direto de formação pedagógica, à formação profi ssional, à alfabetização de jovens e adultos, à promoção social dos desfavorecidos, à educação de nossas crianças, sem distinção de raça, cor, credo, poder econômico. Neste momento de discussão, todos nós, sem distinção fomos iguais, tínhamos um mesmo propósito, acreditamos num mesmo futuro, tínhamos os mesmos desafi os...

As atividades do Fórum Infanto-Juvenil mostra-ram que os jovens e as crianças também

querem participar desta busca pela educação para a diversidade.

As propostas e a participação signifi cativa deles nas ativi-

dades, nos mostraram que, além de sujeitos desta construção cultural, nos-sos educandos são tam-bém atores nela. Para os alunos das unidades em que sou gestora, foi uma experiência única, maravilhosa e constru-

tiva. Pude ver em cada olhar, um universo de no-

AjoesRLa

Ana Clara de Almeida CorreiaAna Clara de Almeida Correia

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vos questionamentos que surgiram após a participação na marcha ou nas atividades de que fi zeram parte; e, nós, educadores vimos através deles que a construção de um novo mundo é possível, sim, e está aí para que nós ajudemos a realizá-la.Quem passeou por todos os espaços do Fórum, encontrou em cada ati-vidade, em cada painel, palestra, atividade autogestionada, exposição, pôster, mostra de dança, artes, música, teatro, ofi cinas; uma nova forma de ver e conceber a educação na prática da diversidade, encontrando caminhos para obter, da melhor forma, os objetivos a que se propôs. Foram propostas que incentivaram a nossa imaginação, instigaram a vontade de aprofundar-se mais em metodologias, em pesquisa, em no-vas concepções. Como disse Terezinha Rios, em sua fala na tarde de sábado, que tentarei reproduzir o mais fi elmente possível, sobre a for-mação do professor: “Constrange-me falar tantas vezes sobre o mesmo assunto que é a formação do professor para os professores.... Porém, quando falo diversas vezes sobre a mesma coisa, acredito que a história que conto seja sempre uma nova história a cada jeito de contar .O repetido pode ser sempre novo, tenho a esperança de estar sempre renovando através destas experiências as idéias dos educadores...”E arremata seu pensamento com uma frase de Paulo Freire, muito signifi -cativa:“A prática de pensar a prática é a melhor maneira de pensar certo...” (Paulo Freire)... O que estamos fazendo durante o Fórum nada mais é do que repensar a nossa prática, e pensar a prática é refl etir sobre nosso trabalho; pensar, pensamos sempre, porém, nem sempre REFLETIMOS..”.O ato de refl etir nos traz a oportunidade de melhorar a nossa performance profi ssional e individual como seres humanos; e quando temos a possibilidade de participar de mo-mentos de refl exão desta magnitude, como se mostrou o Fórum, somos enriquecidos, tanto intelectualmente, quanto espiritualmente, pois recebemos energias do universo conspirando a nosso favor. Devemos, sim, enaltecer a todos aqueles que participaram desta construção, a todos que de uma forma ou outra colaboraram em cada secretaria, em cada um dos municípios, em cada atividade ou discussão, pois somente através de ações conjuntas é que realmente poderemos construir uma nova perspectiva de mundo para todos nós. Será agindo que veremos os resultados, é no diálogo que seremos livres para atuar na sociedade em que vivemos e construir como sujeitos e atores a nossa história. O futuro é agora, re-fl etir sobre ele é fazer já o que deve ser feito, aproveitando, é claro, as experiências vividas como ponto de partida para a refl exão e ação em busca de uma nova era. É na busca constante que encontramos os melhores caminhos para trilhar. Meus agradecimentos pessoais a Secretaria Municipal de Educação de Mogi das Cruzes por ter proporcionado aos profi ssionais desta a rede a oportunidade de crescimen-to e formação profi ssional com seriedade, confi ança e visão de futuro.

Ana Clara de Almeida Correia é jornalista, pedagoga e diretora das escolas municipais Antonio Pedro Ribeiro e (R) Profª Maria Alda M. Lainetti

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A conferência “Fórum Mundial de Educação em Processo: Desafi os e Perspectivas” marcou o encerramento do Fórum Mundial de Educação Alto Tietê 2007 neste domingo (16/09). O público presente ao Ginásio Municipal de Esportes de Mogi das Cruzes assistiu a relatos sobre os temas trabalhados nestes quatro dias de intensas atividades em Mogi das Cruzes. Autoridades, educadores, estudantes e representantes de movimentos sociais do mundo inteiro ouviram as contribuições do Alto Tietê em prol da educação de qualidade para todos e todas.

O evento marcou o fi nal do Fórum que reuniu 25 mil pessoas nas conferências, painéis temáticos e atividades autogestionadas; 10 mil jovens e adolescentes no Fórum Infanto-Juvenil e 5 mil pessoas no espaço do Centro Municipal Integrado “Maurício Nagib Najar” com a Feira Mundial de Educação e a Festa das Nações. O prefeito de Mogi das Cruzes Junji Abe avaliou o evento como positivo. “Neste ano, o Fórum no Alto Tietê vem com certeza patentear aquilo em que todos estão interessados em lutar: a educação universal para todos de alta qualidade”, disse.

Junji falou ainda sobre o envolvimento de todos neste processo. “Quero crer que não devemos parar aqui e que todos os dias até o próximo Fórum na cidade de Nova Iguaçu, todos educadores, todas as Ongs, enfi m todos nós, independente de sociedade civil ou governo, participemos para que as idéias não fi quem só no verso ou na poesia”, completou. As contribuições do Alto Tietê foram reunidas em duas cartas de intenções à Plataforma Mundial de Educação, que será encaminhada a organizações governamentais e não-governamentais do mundo todo.

A carta do Fórum Mundial de Educação Alto Tietê foi lida pelas secretárias executivas locais, Andrea Marinho e Andrea Souza. O documento reafi rmou os cinco pontos de Nairóbi, onde foi realizado o Fórum Mundial de Educação no início

Grande conferência Grande conferência marca encerramento marca encerramento do Fórum Mundial de do Fórum Mundial de Educação Alto Tietê

deste ano e propôs metas (ou utopias) a serem buscadas e defendidas por todos e todas. A importância da criança no processo educativo foi mencionada na carta do Fórum Infanto-Juvenil lida pela estudante Letícia Sayuri Batista.

O Conselho Internacional, representado por Rámom Moncada, cumprimentou a região pelo Fórum. “Mogi das Cruzes é organizada, limpa e com um povo muito acolhedor. Para nós estrangeiros, a sensação de acolhimento é muito importante. Isso refl ete as idéias de Paulo Freire. O Fórum não é só um movimento acadêmico, é um movimento de amor”, comentou o colombiano Rámon Moncada, educador da Rede Cidade Educadora ao se despedir de Mogi. .

Pierre Fonkoua, de Camarões, apreciou as universidades mogianas e a gentileza do povo. “É uma cidade muito boa. Gostei do método utilizado pelas escolas com a inclusão de alunos portadores de necessidades especiais e acho que devemos insistir na participação das crianças e no uso de novas tecnologias e línguas”, disse. Junto com Moncada, Fonkoua integra o grupo de educadores de 28 países que fazem parte do Conselho Internacional do Fórum Mundial de Educação.

As universidades Braz Cubas e Mogi das Cruzes foram grandes apoiadoras do Fórum. “O Fórum Mundial de Educação é um exemplo e ainda é pouco pelo que deveríamos estar fazendo”, disse Rubens Guilhemat, pró-reitor de graduação da Universidade de Mogi das Cruzes. Saul Grinberg, pró-reitor administrativo da Universidade Braz Cubas parabenizou os alunos que participaram do movimento e falou sobre o sonho da transformação do mundo em que vivemos pela educação: “Foi o brilho nos olhos destas educadoras Andrea Marinho e Andréa Souza que nos trouxe aqui hoje”.

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Momento de integraçãoO tema do Fórum “Educação: Protagonismo na

Diversidade” foi uma realidade em todo o período de preparação e realização do movimento. “Trabalhamos a diversidade pura e todos fomos protagonistas. Éramos um grupo diverso formado por 11 municípios, mas que encontraram um ponto comum: a luta por uma educação melhor para todos”, comentou a educadora Eliana Cristiane Hipólito. Profi ssional de Arujá, Eliana participou do Fórum pela primeira vez e ressaltou o trabalho das secretarias municipais de educação em dispensar todos os profi ssionais, não só os professores.

A secretária municipal de Educação de Mogi das Cruzes, Maria Geny Borges Ávila Horle, ressaltou a integração dos onze municípios para o sucesso do movimento. “O trabalho em conjunto dos municípios envolvidos foi fundamental para que tudo ocorresse da melhor forma possível. Acreditamos que o Fórum Mundial de Educação Alto Tietê renderá frutos, pois foi um momento de refl exão sobre as práticas educativas e troca de experiências, o que com certeza, enriquecerá o trabalho que desenvolvemos para chegarmos ao mundo melhor que desejamos com educação de qualidade para todos”, disse.

Alice Rude Horle Martins, secretária municipal de educação de Guararema, também destacou a cooperação dos municípios que eram unidos por meio da Associação dos Municípios do Alto Tietê (Amat) e agora estão juntos pela educação. “Este envolvimento é importante para que todos refl itam e repensem suas práticas. Como disse, Paulo Freire nada está feito, tudo está sendo construído”, comentou. Os secretários municipais de educação de Arujá, Virginia Alegri, e Suzano, Valdicir Stuani também compareceram.

Relatos dos temasRosely Imbernon (USP Leste), Carlos Alberto Torres

(University of Califórnia – Los Angeles/ Instituto Paulo Freire EUA) e Beatriz Gonzáles Soto (Viva la Ciudadania – Colômbia) completaram a mesa e falaram sobre sustentabilidade, diversidade, protagonismo e políticas públicas. O garoto Murillo Souza Siqueira, 9 anos, aluno da rede municipal de Mogi das Cruzes falou pelas crianças e adolescentes do Fórum Infanto-Juvenil. “Aprendemos brincando. Em todas as atividades, aprendi alguma coisa. Revi o aquecimento global e na Escola de Trânsito, aprendi sobre o respeito”, disse.

A secretária municipal de Nova Iguaçu, Marli de Freitas falou sobre próximo Fórum, que será realizado no município fl uminense em 2008.

Para Junji, Mogi das Cruzes tem um avanço extraordinário para atender todos os reclamos, sugestões, críticas que um Fórum Mundial dessa magnitude apresenta. A dirigente regional de Ensino de Mogi das Cruzes e Região, Teresa Lúcia dos Anjos Brandão participou da solenidade. As Escolas Estaduais Francisco Ferreira Lopes e Profª Leonor de Oliveira Mello receberam atividades lúdicas e reuniram 10 mil crianças nos dias 14 e 15 de setembro.

A última atividade do movimento foi o plantio de árvores na Barragem de Taiaçupeba, no Distrito de Jundiapeba, organizada em parceria pela Bio-Bras e o DAEE (Departamento de Águas e Energia Elétrica do Estado de São Paulo). Crianças, educadores, voluntários e representantes da sociedade plantaram mudas de 20 espécies diferentes para neutralizar as emissões de carbono feitas durante os quatro dias de movimento.

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O Fórum Mundial de Educação Alto Tietê (FMEAT) deixou nas terras da região sementes de esperança no futuro do planeta, na igualdade e na justiça social, por meio da educação como direito universal para todos e todas. Para render ainda mais frutos, este trabalho foi coroado com a participação de aproximadamente 50 pessoas, no dia 16 de setembro, na neutralização de gases de efeito estufa emitidos durante os dias do FMEAT, por meio do plantio de 2 mil mudas na Barragem de Taiaçupeba, distrito de Jundiapeba.

Este é o primeiro Fórum Mundial de Educação em que a neutralização acontece, o que mostra o compromisso desta edição temática com a vida, por meio de uma ação concreta. Para se ter uma idéia, nestes dias a Rede CataSampa coletou 2 toneladas de lixo. “O diferencial deste Fórum foi se preocupar com a questão ambiental com um eixo temático dedicado especialmente para esse debate. Isso demonstra o compromisso concreto dos educadores com o planeta e os recursos essenciais para a nossa sobrevivência”, comentou Adriana Bravim, vice-presidente da organização Bio-Bras.

Foram mais de 300 mudas plantadas no domingo, sendo que o restante será plantado na área pelos profi ssionais do Departamento de Águas e Energia Elétrica do Estado de São Paulo (DAEE), que cedeu as mudas, o espaço e preparou a terra. Luis Carlos Miya, diretor de operação de barragens do DAEE e o engenheiro Josemar Garcia dos Santos organizaram a atividade junto com Adriana e Nadja Soares, presidente da Bio-Bras.

Pais, educadores, representantes de movimentos sociais e crianças que participaram das atividades do FMEAT deram o exemplo da atitude necessária para a preservação do planeta, ou melhor, da espécie humana. “Quem corre risco somos nós. Quem nos dá água, alimento e abrigo é a natureza, se não protegermos os recursos naturais, estamos colocando em risco a vida do ser humano”, observa Adriana. Representando a rede municipal de Itaquaquecetuba, Cristiano dos Santos Souza levou dois alunos para a atividade. “A questão da natureza é muito importante e tudo que é feito no sentido de conscientizar as crianças como o plantio que fi zemos, merece parabéns. Temos que cuidar da natureza, pois ela tem muito a nos oferecer”, disse.

Mudas de goiaba, ipê amarelo e roxo, angico, tamboriu, pata de vaca, peroba, aroeira, guarantã, aracá gigante, entre outras fi zeram a festa das crianças. “Estamos aqui para preservar o meio ambiente”, disse Caroline Mayara da Silva Soares, 13 anos. A educadora mogiana Sandra Regina Bento, da rede estadual e do Instituto Dona Placidina, plantou mudas ao lado de amigos. “Este é o fi m de um trabalho, é o quem vem coroar o discurso que fi zemos nestes dias de mobilização com a participação de alunos, pais e professores”, comentou.

Plantando o futuro da Educação

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CARTA DO FÓRUM INFANTO-JUVENIL ALTO TIETÊ

O Fórum Infanto-Juvenil merece um desta-que principal, pois por meio dele notou-se que tão importante quanto o educador é a criança. Os alunos

participaram do FME ALTO TIETÊ com o mesmo projeto

abordado pelos educadores e profi ssionais do Fórum Mundial de

Educação. As crianças e jovens tiveram vez e voz e as atividades foram

direcionadas para despertar-lhes os sentidos, as emoções e a busca pelo

aprendizado.

E isto realmente aconteceu nesses três dias. Entre a programação

havia atividades lúdicas, peças teatrais, apresentações de projetos,

ofi cinas e autogestionadas. Os professores e os alunos interaram-se

num movimento de solidariedade e troca de saberes imenso.

Com isso, o objetivo do Fórum foi alcançado: uma escola em que

há atividades estimulantes e participação de todos no processo de

construção do conhecimento. Espera-se agora que todas as escolas do

Brasil tenham essa visão inovadora.

A participação de Organizações não Governamentais colaborou

para um evento mais rico e diversifi cado. Deseja-se que esta atuação

alcance mais intensamente o cotidiano escolar para que se crie uma

rede de relacionamento e ajuda mútua.

Por fi m, a relação entre os profi ssionais da educação, os

alunos e suas famílias foi a chave para a coletividade que se

vivenciou durante o Fórum. O que se espera é que esta relação

de carinho, de compreensão e principalmente de dedicação

às atividades educativas perpetue-se após o fechamento

desta edição do Fórum, para que daqui por diante possa

compartilhar esta experiência e assim mudar a atual

situação da educação mundial.

Letícia Sayuri Batista Representante da Comissão do Fórum Mundial de Educação Infanto-Juvenil

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DESAFIOS PARA O ENSINO NO SÉCULO XXI

Educação e Ensino foram, são e sempre serão temas básicos de qualquer sociedade constituída. Ensinar e aprender são ações que transformaram os homens em seres

diferenciados na vida do planeta, principalmente depois da criação do alfabeto. Com ela, os homens viram o nascimento da possibilidade de registro de sua

história e a vontade de transferir as experiências vividas para as próximas gerações, tornando-as indeléveis. Sem dúvida, a oralidade unida à palavra

escrita permitiu um ordenamento muito maior de sua realidade social.

A construção paulatina da história de pessoas ou de grupos de pessoas ao longo do tempo e do espaço sempre foi um dos principais instru-mentos que permitiu a continuidade dos povos, cada qual com seu entendimento de “mundo”. O registro do cotidiano fez com que as comunidades se mantivessem íntegras e, por conseqüência, se consolidassem no que hoje conhecemos por “países” que, por sua vez, constituem o próprio mundo. O uso da palavra e o ensino de usos e costumes em todas as latitudes e longitudes é o que privilegia e modela formas de pensar, de agir, de se entender e de se defi nir os infi nitos papéis sociais.

O Século XXI, com a exacerbação do domínio tecnológico e com a inquebrantável força do mundo eletrônico, introduziu novos elementos que precisam ser considerados para que se pergunte quais são os verdadeiros desafi os para o ensino em todos os níveis. Não se pode, portanto, neste momento ainda de certa forma “novo”, procurar um ou o maior desafi o, pois são vários e de natureza distinta.

Necessário se faz pensar em que momento houve mudanças sig-nifi cativas no mundo da educação, com conseqüências marcantes para o ensino em seu todo... Cremos que as mudanças começaram, de fato, com o fi m da Segunda Guerra Mundial, em 1945. Desde o pós-guerra, e até hoje, os meios educacionais sentiram o impacto dos avanços tecnológicos. Dos aparelhos domésticos mais simples

aos computadores de última geração, vemos surgir, a cada instante, facilidades que nos levam a refl etir não só sobre as relações passado-

presente, como também a buscar um sentido, uma “previsão” do que ainda há por vir. Enquanto tudo avança celeremente, o que se dá àquele

que antes era o centro do saber: o professor? Nada, ou quase nada... Há experiências em muitos meios e em diversas comunidades, mas o resulta-

do é sempre lento...

No Fórum Mundial de Educação Alto Tietê, recém-organizado e realizado em Mogi das Cruzes, a pluralidade de eventos de toda natureza, ainda que sem-

pre mantendo o foco dos Eixos Temáticos, aconteceu de forma concomitante, como, aliás, nada pode deixar de ser na atualidade. Todos querem tudo (e ao

mesmo tempo) neste insano planeta. Assim o é e ponto fi nal. Inúmeras e infalíveis alternativas postas em debates. Quem fará o encontro, o acompanhamento e a admi-

nistração do que foi sugerido com a efetiva realização de cada propositura? O que aconte-cerá em seguida?

Apenas queremos, como em uma conversa franca entre amigos que se querem bem, reproduzir alguns pontos de um texto surpreendente. O Ensino Superior em nosso país é o tema, porém, como se verá, vale para todos os níveis de nosso sistema educacional:

“... A expansão (da Universidade) puramente vegetativa começou a criar problemas, não somente quanto à admissão de alunos, mas também quanto às próprias difi culdades de funcionamento do novo complexo em que a Universidade se vinha transformando”.

Gracila Maria Grecco ManfréJosé Sebastião Witter

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“(...) Tomemos como ponto de partida, o corpo docente, que é, afi nal, com o aluno a parte axial da universidade. É, sem dúvida, mais numeroso do que se poderia esperar, tomado globalmente. Mas, como é dominantemente de tempo parcial, podia-se imaginar que o número de componentes do magistério não representasse igual número de funções integrais docentes, mas parcelas de funções. Isto, entretanto, não é completamente exato. Se o curso se reduz puramente a aulas dadas – o que é o caso da maioria dos cursos – o professor parcial é em realidade um professor completo”. (...)

“Vejamos agora o uso do tempo pelo professor. Na sua maioria vai à universidade para dar a aula. Se lá quiser permanecer, não tem local para fi car, a não ser alguma sala dos professores, que só comporta uns poucos, como sala de conversa. (...) Sendo de tempo parcial, o professor, de modo geral, tem outros encargos, ou de magistério, ou de outro tipo. Assim, fi sicamente, o corpo docente é um corpo numeroso de pessoas que visitam, raras vezes diariamente, a universidade e lá dão aulas”. (...)

“ O contato entre o professor e o aluno, na maior parte das vezes, limita-se ao encontro em aula. Como muitas vezes a aula é numerosa, esse contato reduz-se para o aluno a ouvi-lo e, raramente, fazer-lhe uma pergunta, ou dar-lhe uma resposta. E nisto se desfaz o tempo e a qualidade do ensino. Como se vê, o contato entre o professor e o aluno é menor do que o do aluno com o autor de um livro que tenha realmente lido e estudado. Quanto a dirigir os estudos do aluno, a sua função é extremamente perfunctória. Quanto a saber se está aproveitando, há uma ou mais provas parciais, sempre escritas, para uma avaliação também sumária. Entre professor e aluno há um ‘gentleman´s agreement’ de que nada pode perguntar que não tenha sido ensinado, signifi cando ensinado que tenha dito em aula. Esta é, na maior parte dos casos, a função docente e o modo de exercê-la”. (...)

“E os alunos? O corpo docente é composto pelos que passam no vestibular. Representam um grupo de alunos com 11 anos no mínimo de estudos primários ou médio, em escolas

extremamente diferentes, embora os currículos tenham sido geralmente uniformes. É preciso que se recorde que currículo, no Brasil, é uma lista de disciplinas que deverão ser ensinadas em certo número de anos, com certo número de aulas. Quanto ao programa de cada disciplina, poderá existir, mas não é, de modo geral, fundamente conhecido. Os cursos são uniformes quanto ao número de horas-aula, sendo a verifi cação do aproveitamento do aluno feita por meio de exames escritos. As questões parece, são limitadas ao que foi ensinado, ou seja, dito em aula”. (...)

Pois bem, isto foi escrito em 1970/71, publicado e divulgado depois de 1989!! O brilhante autor, ANÍSIO TEIXEIRA, soube, de fato, alertar sobre o caminho que a educação brasileira começava a trilhar naquele período... A bibliografi a constante ao fi nal do texto deve, portanto, ser conferida, por todo educador que se julga sério e capaz de conviver num mundo onde Protagonismo e Diversidade dançam na corda bamba do ensino, de sombrinha na mão.

Agora, é de se perguntar se este texto continua atual, ou não...

Referência Bibliográfi ca:

TEIXEIRA, Anísio. Ensino Superior no Brasil. Análise e Interpretação de sua Evolução até 1969. Rio de Janeiro: Fundação Getúlio Vargas, 1989.

GRACILA MARIA GRECCO MANFRÉ é Professora Universitária e Consultora Educacional

JOSÉ SEBASTIÃO WITTER é professor titular na área de História e professor emérito pela Universidade de São Paulo (USP)

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CARTA DO ALTO TIETÊ PELA EDUCAÇÃO

Desde abril de 2006 educadores, estudantes, entidades sindicais, movimentos sociais, governos, organizações não-governamentais, universidades e escolas, todos comprometidos com a defesa da educação pública como direito

social e inalienável, uniram-se para organizar o Fórum Mundial de Educação Alto Tietê. Onze municípios aceitaram o desafi o

de juntos construírem o Fórum Mundial de Educação. Nesta ação coletiva, a diversidade tornou-se a identidade da construção, pois

a riqueza cultural, política e educacional dos municípios de Arujá, Biritiba Mirim, Ferraz de Vasconcelos, Guararema, Guarulhos, Itaquaquecetuba, Mogi das Cruzes, Poá, Salesópolis, Santa Isabel e Suzano foi a maior protagonista desse processo educativo, dando origem ao tema Educação: Protagonismo na Diversidade.

O resultado dessa rede de movimentos vem reafi rmar os cinco pontos de Náirobi (FME 2007): a educação como direito social e humano e a luta em defesa de sua universalização por meio de políticas públicas capazes de garantir sua concretização em oposição à ideologia de mercado; a diversidade compreendida como educação igualitária, que respeita e convive com o diferente e a sustentabilidade concebida em seu caráter global planetário e do gênero humano, com acesso à riqueza produzida socialmente, de modo especial aos excluídos e marginalizados.

A partir das idéias e sínteses apresentadas neste FME Alto Tietê, os participantes apontam e assumem as seguintes propostas como metas (ou utopias) a serem buscadas e defendidas por todos e todas:

* Educar para a sustentabilidade do planeta, tendo a união dos direitos humanos associados aos princípios da Carta da Terra como ponto de qualquer ação educativa, administrativa e/ou política;

* Valorizar os profi ssionais da educação nos diversos cenários ao mesmo tempo em que os mesmos assumam seus papéis com mudanças concretas de posturas. Reafi rmam-se portanto as diferentes práticas educativas como ações protagonistas que constroem a formação humana e fi losófi ca da sociedade;

* Efetivar direitos nas políticas públicas educativas para o acesso e a permanência na escola com qualidade social como direito inalienável de qualquer cidadão garantido pelo Estado. Concretizar tais direitos não é só um dever do Estado, mas uma luta de cada pessoa de todos os cantos do Planeta.

* Fortalecer a responsabilidade social na educação contemporânea buscando superar o desafi o ético de unir os diversos setores como empresas, órgãos públicos e sociedade na construção do Estado democrático, bem como da liberdade de pensamento, crítica e criatividade.

* E ainda, a solidariedade à África, na sua busca de superar os desafi os econômicos, sociais, políticos e ambientais.

Portanto, o Fórum Mundial de Educação Alto Tietê conclama que haja espaço para as diferenças: que seja respeitado o direito da criança pela educação da infância, que todos os segmentos da educação e sociedade participem das parcerias entre movimentos sociais e as instituições educativas. Defende o direito à suspeita e à dúvida contra os movimentos de dominação, a ética na luta contra a corrupção, a cidadania cosmopolita e planetária que articula o global e o local, e o amor enquanto sentimento essencial para a vida e para a esperança.

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