Foto: Antoninho Perri ‘Entre falácias, modismos e inovações’ · na sedução pela...

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5 Foto: Antoninho Perri Campinas, 24 a 30 de outubro de 2011 ............................................................. Publicação Tese: “Modelos de ‘excelência’ gerencial nos insti- tutos e centros de P&D brasileiros: entre falácias, modismos e inovações” Autor: Marconi Edson Esmeraldo Albuquerque Orientação: Maria Beatriz Machado Bonacelli Unidade: Departamento de Política Científica e Tecnológica (DPCT)/Instituto de Geociências (IG) ............................................................. ‘Entre falácias, modismos e inovações’ Programa de excelência não chega a centros de pesquisa, aponta estudo MARIA ALICE DA CRUZ [email protected] I nstitutos e Centros de Pesquisa e Desenvolvimento (ICPs) são importantes no desenvolvimen- to socioeconômico do país, mas carecem de políticas públicas que reafirmem seu papel no cenário atual, na opinião do analista em ciên- cia e tecnologia do CNPq, Marconi Edson Esmeraldo Albuquerque, autor da tese “Modelos de ‘excelência’ gerencial nos institutos e centros de P&D brasileiros: entre falácias, modismos e inovações”, defendida no Instituto de Geociências (IG), sob orientação da professora Maria Bea- triz Machado Bonacelli. As análises dispostas na tese sugerem que muitos ICPs brasileiros têm tido dificuldade de acompanhar as mudanças em seu ambiente de atuação, tampouco têm conseguido influir estas mudanças. Ao analisar o movimento pela “ex- celência” gerencial nos ICPs, a partir do Projeto Excelência na Pesquisa Tecnológica (Pept), da Associação Brasileira das Instituições de Pesquisa Tecnológica (Abipti), Albuquerque percebe que essas instituições en- contram dificuldades em identificar e atender demandas da sociedade e que faltam mecanismos de troca de informações com seu ambiente. Projeto criado no final dos anos 1990 para promover avaliação e me- lhoria do desempenho dos institutos, num momento em que houve redução gradativa da participação governamen- tal em sua composição orçamentária e pressão dos mantenedores para que os ICPs gerassem recursos, o Pept teve Marconi Edson Esmeraldo Albuquerque, autor da tese, e a professora Maria Beatriz Machado Bonacelli, orientadora: institutos têm dificuldade de acompanhar as mudanças De acordo com Maria Beatriz, nas décadas de 1980 e 1990 existia forte pressão sobre os ICPs, pois foram momentos difíceis para a Ci- ência e Tecnologia, por questões de ordem financeira. Ao mesmo tempo, a forma de se fazer pesquisas tomava novo rumo, obrigando os institutos a repensarem a maneira de organizar suas atividades, preferencialmente em rede, e internalizar novas áreas do conhecimento ou atualizar aque- las nas quais atuavam, entre outras exigências. “Havia a necessidade de gerar ou absorver novas competên- cias, muitas inexistentes nos ICPs”, pontua a professora. Albuquerque acrescenta que até mesmo a forma de captação de recursos mudou. Porque com a diminuição do apoio direto, era necessário buscar outras formas de captação de recursos, como os fundos setoriais, participando de um processo competitivo de obtenção de recursos. Segundo o pesquisador, a cultura de escrever e submeter projetos para concorrer com outras instituições era “tímida”. Essa ativi- dade também era um elemento novo naquele momento. Maria Beatriz lembra que, na época, a academia também sofreu. “Mas as universidades têm missões mais claras, tendo como papel a for- mação de pessoal de nível superior de excelência e o avanço do conhe- cimento, ao mesmo tempo em que cabe neste contexto um maior leque de temas de pesquisa”, esclarece. Já os institutos públicos de pesquisa muitas vezes se perdem na travessia entre o cumprimento de sua missão e as competências adquiridas, e as demandas geralmente não muito claras das políticas públicas, não conseguindo enxergar seu papel no sistema de ciência, tecnologia e ino- vação. “Com isso, as pressões das mudanças foram sentidas de diferen- tes formas pelos institutos do país e a ideia do Programa de Excelência era prover os ICPs com algumas ferramentas para isso, como as que poderiam ajudar na superação de deficiências na sua relação com o setor produtivo”, acrescenta. Políticas Um dos objetivos do Pept, se- gundo Albuquerque, era a geração de informações sobre os ICPs como subsídios para a formulação de políticas públicas para o setor, especialmente mediante indicadores que expressassem o desempenho dessas instituições. Para ele, este foi um dos equívocos da iniciativa, pois houve pouca aderência a políticas de CT&I. Além disso, os indicadores medidos não entraram no sistema de CT&I, segundo o autor da tese. “Embora essa fragilidade se deva a opções feitas no desenho daquele projeto, não se pode descartar a dificuldade de desenvolvedores de políticas se valerem de iniciativas como aquela na reflexão de suas pos- turas e tratamento dado aos ICPs na orientação de suas ações de tomada de decisão no âmbito das políticas públicas”, reflete o autor. “As políticas continuam frag- mentadas e genéricas, deixando-se de aproveitar o grande potencial de P&D e de serviços, fundamental para as pretensões do país no futu- ro próximo, pois o próprio Estado tem dificuldade de enxergar a di- versidade dos trabalhos dos ICPs, dar-lhes coerência e integrá-los às políticas mais macro (econômicas, agrícolas, ambientais, de saúde, de CT&I, entre outras)”, acrescenta Maria Beatriz. Ela enfatiza que é importante ter gerência e excelência na pesquisa, mas é importante pensar estrategi- camente, aproveitar oportunidades, fechar lacunas, colocar de lado temas de pesquisa e trajetórias que não digam mais respeito à própria instituição e às estratégias de go- verno. A professora acentua que os institutos poderiam trabalhar mais em cooperação, complementando conhecimentos e habilidades, apro- veitando oportunidades de novos temas ou frentes de pesquisas, como bioenergia, mudanças climáticas, biossegurança, economia verde, entre outros. “Novas competências são necessárias nesses institutos, para dar conta desse cenário – interno e exter- no –, competências tanto de ordem técnico-científica, como em gestão e planejamento da pesquisa e da inovação”, acrescenta a professora. Segundo Maria Beatriz, o De- partamento de Política Científica e Tecnológica (DPCT) do IG, onde a pesquisa foi desenvolvida, e o Gru- po de Estudos sobre Organização da Pesquisa e da Inovação (Geopi) frequentemente são solicitados a auxiliar trabalhos de reorganização e planejamento estratégico em insti- tuições de pesquisa públicas e priva- das. “As iniciativas são importantes, sem dúvida, para a redescoberta do papel de tão importante ator no sistema de CT&I do país. A questão é a escolha dos instrumentos e me- todologias para a realização desses trabalhos, que não devem se basear na sedução pela simplicidade e or- ganicidade de modismos gerenciais, que foi o que o trabalho de tese de Albuquerque buscou mostrar a partir da experiência do Pept”, declara. Período foi de dificuldades para a C&T fraca influência sobre o processo de transformação organizacional dos ICPs que o adotaram, na opinião do autor. Albuquerque assinala que a di- versidade e as peculiaridades dos institutos, como missões, inserção socioeconômica e níveis de maturi- dade gerencial diferentes, não foram consideradas de maneira adequada na construção do Pept, opinião res- paldada nas 38 entrevistas realizadas durante a pesquisa, com pessoas que atuaram na Abipti, gestores e pesqui- sadores de institutos e policy makers (desenvolvedores de políticas) de CT&I. A orientação do Pept, segun- do ele, foi a utilização do modelo de excelência gerencial do Prêmio Na- cional da Qualidade, ou seja, de uma metodologia única e supostamente aplicável a todo tipo de organização. “Institutos têm natureza, ambiente e cultura diferentes e missões as mais diversas.” Para o autor, é preciso pensar na construção de modelos de gestão dinâmicos e proativos, que ampliem a autonomia dos ICPs, considerando os elementos restritivos externos – de ordem jurídica, legal e política – e internos – como inércia e rigidez or- ganizacional e elementos culturais. “Os institutos foram criados com um propósito específico e à luz de uma realidade, mas esta realidade vai se transformando, e os ICPs têm dificul- dade ou resistência para internalizar as mudanças e as políticas públicas não têm ajudado nessa difícil tarefa”, reforça Albuquerque. Ao tentar enxergar a capacida- de do método adotado no Pept em promover mudanças nos institutos de P&D, Albuquerque conclui que o projeto apresenta baixa suficiência, porque, embora ofereça elementos novos e motivadores e encoraje-os a introduzir e a aperfeiçoar rotinas e práticas organizacionais, tem como estratégia o aprimoramento daquilo que já é realizado. Isso, segundo o pesquisador, pode fazer com que os ICPs não percebam as mudanças no ambiente técnico e institucional em que atuam e não atentem para o fato de que as competências internas (dos recursos humanos, físicos, gerenciais, técnicos, entre outros) já não dão con- ta de solucionar problemas, atender novos desafios e mesmo de aproveitar novas oportunidades. “Essa é uma li- mitação intrínseca ao próprio método que instrumentalizou o Pept”, enfatiza. Para o pesquisador, uma contri- buição positiva do Pept/Abipti foi o surgimento de uma aliança coopera- tiva entre institutos, mais especifi- camente um fórum privilegiado de discussão de problemas de gestão e organização de ICPs, que ajudou a integrá-los, envolvendo grande diversidade dessas instituições na troca de informações e difusão de práticas de gestão. A rede permitiu que muitos institutos saíssem do isolamento e interagissem entre si, segundo Albuquerque. Um dos equívocos no desenho do Pept, porém, foi a Abipti acreditar que a melhoria gerencial estaria rela- cionada com melhorias na pesquisa, segundo Albuquerque. “Seus promo- tores acreditavam que melhorando a gestão dos ICPs, a pesquisa seria melhorada de forma quase automática. Mas a relação direta entre resultados de desempenho obtidos pelos institutos e a adoção das metodologias propostas no Pept não é trivial e é controversa, pois houve muitos novos eventos na dinâmica em torno da CT&I brasileira na última década (fundos setoriais, modelo de edital para submissão de projetos de pesquisa, novo marco regulatório em várias áreas, novos tra- tados internacionais com implicações diretas sobre os temas de pesquisa, novos instrumentos de financiamento, entre vários outros aspectos)”, aponta Albuquerque.

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5Foto: Antoninho Perri

Campinas, 24 a 30 de outubro de 2011

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Tese: “Modelos de ‘excelência’ gerencial nos insti-tutos e centros de P&D brasileiros: entre falácias, modismos e inovações”Autor: Marconi Edson Esmeraldo AlbuquerqueOrientação: Maria Beatriz Machado BonacelliUnidade: Departamento de Política Científi ca e Tecnológica (DPCT)/Instituto de Geociências (IG)

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‘Entre falácias, modismos e inovações’Programa de excelência não chega acentros de pesquisa, aponta estudo

MARIA ALICE DA [email protected]

Institutos e Centros de Pesquisa e Desenvolvimento (ICPs) são importantes no desenvolvimen-to socioeconômico do país, mas carecem de políticas públicas

que reafi rmem seu papel no cenário atual, na opinião do analista em ciên-cia e tecnologia do CNPq, Marconi Edson Esmeraldo Albuquerque, autor da tese “Modelos de ‘excelência’ gerencial nos institutos e centros de P&D brasileiros: entre falácias, modismos e inovações”, defendida no Instituto de Geociências (IG), sob orientação da professora Maria Bea-triz Machado Bonacelli. As análises dispostas na tese sugerem que muitos ICPs brasileiros têm tido difi culdade de acompanhar as mudanças em seu ambiente de atuação, tampouco têm conseguido infl uir estas mudanças. Ao analisar o movimento pela “ex-celência” gerencial nos ICPs, a partir do Projeto Excelência na Pesquisa Tecnológica (Pept), da Associação Brasileira das Instituições de Pesquisa Tecnológica (Abipti), Albuquerque percebe que essas instituições en-contram difi culdades em identifi car e atender demandas da sociedade e que faltam mecanismos de troca de informações com seu ambiente.

Projeto criado no fi nal dos anos 1990 para promover avaliação e me-lhoria do desempenho dos institutos, num momento em que houve redução gradativa da participação governamen-tal em sua composição orçamentária e pressão dos mantenedores para que os ICPs gerassem recursos, o Pept teve

Marconi Edson Esmeraldo Albuquerque, autor da tese, e a professora Maria Beatriz Machado Bonacelli, orientadora: institutos têm difi culdade de acompanhar as mudanças

De acordo com Maria Beatriz, nas décadas de 1980 e 1990 existia forte pressão sobre os ICPs, pois foram momentos difíceis para a Ci-ência e Tecnologia, por questões de ordem fi nanceira. Ao mesmo tempo, a forma de se fazer pesquisas tomava novo rumo, obrigando os institutos a repensarem a maneira de organizar suas atividades, preferencialmente em rede, e internalizar novas áreas do conhecimento ou atualizar aque-las nas quais atuavam, entre outras exigências. “Havia a necessidade de gerar ou absorver novas competên-cias, muitas inexistentes nos ICPs”, pontua a professora.

Albuquerque acrescenta que até mesmo a forma de captação de recursos mudou. Porque com a diminuição do apoio direto, era necessário buscar outras formas de captação de recursos, como os fundos setoriais, participando de um processo competitivo de obtenção de recursos. Segundo o pesquisador, a cultura de escrever e submeter projetos para concorrer com outras

instituições era “tímida”. Essa ativi-dade também era um elemento novo naquele momento.

Maria Beatriz lembra que, na época, a academia também sofreu. “Mas as universidades têm missões mais claras, tendo como papel a for-mação de pessoal de nível superior de excelência e o avanço do conhe-cimento, ao mesmo tempo em que cabe neste contexto um maior leque de temas de pesquisa”, esclarece. Já os institutos públicos de pesquisa muitas vezes se perdem na travessia entre o cumprimento de sua missão e as competências adquiridas, e as demandas geralmente não muito claras das políticas públicas, não conseguindo enxergar seu papel no sistema de ciência, tecnologia e ino-vação. “Com isso, as pressões das mudanças foram sentidas de diferen-tes formas pelos institutos do país e a ideia do Programa de Excelência era prover os ICPs com algumas ferramentas para isso, como as que poderiam ajudar na superação de defi ciências na sua relação com o

setor produtivo”, acrescenta.

Políticas Um dos objetivos do Pept, se-

gundo Albuquerque, era a geração de informações sobre os ICPs como subsídios para a formulação de políticas públicas para o setor, especialmente mediante indicadores que expressassem o desempenho dessas instituições. Para ele, este foi um dos equívocos da iniciativa, pois houve pouca aderência a políticas de CT&I. Além disso, os indicadores medidos não entraram no sistema de CT&I, segundo o autor da tese. “Embora essa fragilidade se deva a opções feitas no desenho daquele projeto, não se pode descartar a difi culdade de desenvolvedores de políticas se valerem de iniciativas como aquela na refl exão de suas pos-turas e tratamento dado aos ICPs na orientação de suas ações de tomada de decisão no âmbito das políticas públicas”, refl ete o autor.

“As políticas continuam frag-mentadas e genéricas, deixando-se

de aproveitar o grande potencial de P&D e de serviços, fundamental para as pretensões do país no futu-ro próximo, pois o próprio Estado tem difi culdade de enxergar a di-versidade dos trabalhos dos ICPs, dar-lhes coerência e integrá-los às políticas mais macro (econômicas, agrícolas, ambientais, de saúde, de CT&I, entre outras)”, acrescenta Maria Beatriz.

Ela enfatiza que é importante ter gerência e excelência na pesquisa, mas é importante pensar estrategi-camente, aproveitar oportunidades, fechar lacunas, colocar de lado temas de pesquisa e trajetórias que não digam mais respeito à própria instituição e às estratégias de go-verno. A professora acentua que os institutos poderiam trabalhar mais em cooperação, complementando conhecimentos e habilidades, apro-veitando oportunidades de novos temas ou frentes de pesquisas, como bioenergia, mudanças climáticas, biossegurança, economia verde, entre outros. “Novas competências são

necessárias nesses institutos, para dar conta desse cenário – interno e exter-no –, competências tanto de ordem técnico-científi ca, como em gestão e planejamento da pesquisa e da inovação”, acrescenta a professora.

Segundo Maria Beatriz, o De-partamento de Política Científi ca e Tecnológica (DPCT) do IG, onde a pesquisa foi desenvolvida, e o Gru-po de Estudos sobre Organização da Pesquisa e da Inovação (Geopi) frequentemente são solicitados a auxiliar trabalhos de reorganização e planejamento estratégico em insti-tuições de pesquisa públicas e priva-das. “As iniciativas são importantes, sem dúvida, para a redescoberta do papel de tão importante ator no sistema de CT&I do país. A questão é a escolha dos instrumentos e me-todologias para a realização desses trabalhos, que não devem se basear na sedução pela simplicidade e or-ganicidade de modismos gerenciais, que foi o que o trabalho de tese de Albuquerque buscou mostrar a partir da experiência do Pept”, declara.

Período foi de difi culdades para a C&T

fraca infl uência sobre o processo de transformação organizacional dos ICPs que o adotaram, na opinião do autor.

Albuquerque assinala que a di-versidade e as peculiaridades dos institutos, como missões, inserção socioeconômica e níveis de maturi-dade gerencial diferentes, não foram consideradas de maneira adequada na construção do Pept, opinião res-paldada nas 38 entrevistas realizadas durante a pesquisa, com pessoas que atuaram na Abipti, gestores e pesqui-sadores de institutos e policy makers (desenvolvedores de políticas) de CT&I. A orientação do Pept, segun-do ele, foi a utilização do modelo de excelência gerencial do Prêmio Na-cional da Qualidade, ou seja, de uma metodologia única e supostamente aplicável a todo tipo de organização. “Institutos têm natureza, ambiente e cultura diferentes e missões as mais diversas.”

Para o autor, é preciso pensar na construção de modelos de gestão dinâmicos e proativos, que ampliem a autonomia dos ICPs, considerando os elementos restritivos externos – de ordem jurídica, legal e política – e internos – como inércia e rigidez or-ganizacional e elementos culturais. “Os institutos foram criados com um propósito específi co e à luz de uma realidade, mas esta realidade vai se transformando, e os ICPs têm difi cul-dade ou resistência para internalizar as mudanças e as políticas públicas não têm ajudado nessa difícil tarefa”, reforça Albuquerque.

Ao tentar enxergar a capacida-de do método adotado no Pept em promover mudanças nos institutos de P&D, Albuquerque conclui que o projeto apresenta baixa sufi ciência, porque, embora ofereça elementos novos e motivadores e encoraje-os a introduzir e a aperfeiçoar rotinas e práticas organizacionais, tem como estratégia o aprimoramento daquilo que já é realizado. Isso, segundo o pesquisador, pode fazer com que os ICPs não percebam as mudanças no ambiente técnico e institucional em que atuam e não atentem para o fato de que as competências internas (dos recursos humanos, físicos, gerenciais, técnicos, entre outros) já não dão con-ta de solucionar problemas, atender

novos desafi os e mesmo de aproveitar novas oportunidades. “Essa é uma li-mitação intrínseca ao próprio método que instrumentalizou o Pept”, enfatiza.

Para o pesquisador, uma contri-buição positiva do Pept/Abipti foi o surgimento de uma aliança coopera-tiva entre institutos, mais especifi -camente um fórum privilegiado de discussão de problemas de gestão e organização de ICPs, que ajudou a integrá-los, envolvendo grande diversidade dessas instituições na troca de informações e difusão de práticas de gestão. A rede permitiu que muitos institutos saíssem do isolamento e interagissem entre si,

segundo Albuquerque.Um dos equívocos no desenho do

Pept, porém, foi a Abipti acreditar que a melhoria gerencial estaria rela-cionada com melhorias na pesquisa, segundo Albuquerque. “Seus promo-tores acreditavam que melhorando a gestão dos ICPs, a pesquisa seria melhorada de forma quase automática. Mas a relação direta entre resultados de desempenho obtidos pelos institutos e a adoção das metodologias propostas no Pept não é trivial e é controversa, pois houve muitos novos eventos na dinâmica em torno da CT&I brasileira na última década (fundos setoriais, modelo de edital para submissão de

projetos de pesquisa, novo marco regulatório em várias áreas, novos tra-tados internacionais com implicações diretas sobre os temas de pesquisa, novos instrumentos de fi nanciamento, entre vários outros aspectos)”, aponta Albuquerque.