Fotografia jornalística e mídia impressa: formas de apreensão

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 1 Maiara Camila Sestari Bersch FOTOGRAFIA JORNALÍSTI CA E TEXTO: A PRODUÇÃO DE SENTIDO NA PÁGINA B2 DA FOLHA DE SÃO PAULO Santa Maria, RS 2011

Transcript of Fotografia jornalística e mídia impressa: formas de apreensão

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    Maiara Camila Sestari Bersch

    FOTOGRAFIA JORNALSTICA E TEXTO: A PRODUO DE SENTIDO NA

    PGINA B2 DA FOLHA DE SO PAULO

    Santa Maria, RS

    2011

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    Maiara Camila Sestari Bersch

    FOTOGRAFIA JORNALSTICA E TEXTO: A PRODUO DE SENTIDO NA

    PGINA B2 DA FOLHA DE SO PAULO

    Trabalho final de graduao apresentado ao Curso de Comunicao Social Jornalismo, rea

    de Cincias Sociais do Centro Universitrio Franciscano, como requisito parcial para

    obteno do grau de Jornalista Bacharel em Comunicao Social: Habilitao Jornalismo.

    Orientadora: Laura Elise de Oliveira Fabricio

    Santa Maria, RS

    2011

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    Maiara Camila Sestari Bersch

    FOTOGRAFIA JORNALSTICA E TEXTO: A PRODUO DE SENTIDO NA

    PGINA B2 DA FOLHA DE SO PAULO

    Trabalho final de graduao apresentado ao Curso de Comunicao Social Jornalismo, rea

    de Cincias Sociais do Centro Universitrio Franciscano, como requisito parcial para

    obteno do grau de Jornalista Bacharel em Comunicao Social: Habilitao Jornalismo.

    _________________________________________________________

    Laura Elise de Oliveira Fabricio - Orientadora (Unifra)

    _________________________________________________________

    Antnio Fausto Neto (Unifra)

    _________________________________________________________

    Carla Simone Doyle Torres (Unifra)

    Aprovado em 16 de dezembro de 2011.

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    AGRADECIMENTOS

    Deus, por me dar foras e me ajudar a passar por mais esta fase da minha vida.

    A minha me, Ins, que a mulher mais forte que conheo. Ela a pessoa que eu amo do

    tamanho do cu e mais um pouquinho!

    Ao meu pai, Joo Alberto, que sempre apoiou meus sonhos, que nem sempre esteve presente

    em corpo, mas tenho certeza que sempre em corao.

    Ao meu irmo, Rodrigo Ezequiel, que sempre acreditou e apostou no meu potencial e minhas

    duas sobrinhas, Mirelly e Amandinha, que so responsveis pelos meus sorrisos mais bobos e

    sinceros.

    Ao riquinho, meu companheiro desde 1994.

    Aos amigos que fiz durante a faculdade, especialmente a Lici e a Ale. Sem elas esses quatro

    anos no teriam a mesma graa e eu no desmancharia o paradigma que diz que colega no

    amigo.

    s minhas eternas amigas de infncia, Nidi, Lizi, Pami e Leka, com as quais cresci e aprendi

    que a amizade verdadeira supera o tempo e a distncia.

    s minhas duas primas, Bina - que para mim pode ser considerada uma irm - e Andy, que

    dividiram comigo boa parte do meu amadurecimento em uma cidade nova. E aos demais

    familiares que me apoiaram.

    Ao meu ex-namorado, Bruno, que acompanhou meus primeiros passos na faculdade e se faz

    presente at hoje em minha vida.

    Aos meus companheiros de dana, com os quais dividi tantas viagens, aprendizados e

    momentos de imensa alegria.

    As pessoas que marcaram meu primeiro estgio, na Cacism, e as que hoje esto me ajudando

    a crescer profissionalmente no Dirio de Santa Maria.

    E por fim, a minha orientadora e amiga Laura, a primeira pessoa que me enxergou dentro do

    fotojornalismo e dividiu comigo seus conhecimentos.

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    Fotografar colocar na mesma linha de mira, a cabea, o olho e o corao.

    Henri Cartier-Bresson

    A f que voc deposita em voc e s.

    Fernando Anitelli

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    RESUMO

    A Folha de So Paulo o segundo jornal de maior circulao do Brasil e, alm de sua grande

    influncia na mdia brasileira, um veculo cobiado por jornalistas e fotojornalistas. A

    proposta deste trabalho monogrfico compreender como se d a produo de sentido

    emanada da relao entre fotografia, texto e ttulo da pgina B2, caderno Mercado, editoria

    Mercado Aberto do jornal Folha de So Paulo. Nesta pgina, h fotografias posadas de

    empresrios aparentemente bem sucedidos, onde, em sua maioria, a construo fotogrfica

    remete ao ramo ou rumo de suas empresas. O trabalho tem como objetivo principal, a partir

    de quatro edies da Folha de So Paulo, entender de que maneira feita a construo

    fotogrfica para relacion-la com o texto e o ttulo da matria, e ainda remeter rea de

    atuao das empresas. Partindo dessa observao, questiona-se: Quais os sentidos emanados

    da relao entre a composio fotogrfica, o ttulo da fotografia, o texto da matria e a rea

    empresarial representada? Para o desenvolvimento do trabalho foi realizado um breve estudo

    sobre a fotografia jornalstica e alguns dos conceitos que envolvem esta rea, como

    composio, plano, enquadramento, pose, fotogenia e esteticismo. Tambm, buscando-se uma

    maior compreenso a cerca do campo em que est inserido o jornalismo e a fotografia

    jornalstica, o texto jornalstico e as representaes que decorrem do conjunto entre texto e

    fotografia. Aps estes estudos, analisamos como se da essa conotao de sentidos entre as

    duas formas de se passar uma informao (texto e foto), atravs da produo de sentido.

    Palavras-chave: Fotojornalismo. Produo de sentido. Folha de So Paulo.

    ABSTRACT

    The Folha de So Paulo is the newspaper has the second place of circulation in Brazil and

    beyond his huge influence in brazilian's media, is also a coveted vehicle for journalists and

    photojournalist. The proposel of this monography is to understand how the production of

    sense emanet from the relation between photo, text and title in the B2s pages, the suplement

    "Mercado" and in the section "Mercado Aberto" of the newspaper Folha de So Paulo. In this

    pages, are posed photografies of apperently well succed businessman. The study have a

    principal objective, from four editions of Folha de So Paulo, understand how is made the

    photographic construction to related then with the texts and titles of the news, and refer then

    to the companies actuation area. From those observation, the studies question: Which are the

    senses emanetes from the relation between the photographic composition, the title of the

    photography, the text of the news and the business area represented? For this paper's

    development was made a brief study about the journalist photograhy and some concepts that

    involve this area, like composition, planes, framework, pose, photogeny e aesthetics. Also, in

    looking for a larger compreension about the field where the journalism and the journalist

    photography, the journalist text and the representations of the set between text and

    photography are inserted. After this studies, we analyse how is made the conotation of sense

    between this two forms of give information (text and photo), trought the production of sense

    Keywords: Photojournalism. Production of sense. Folha de So Paulo.

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    SUMRIO

    1 INTRODUO ......................................................................................................................8

    2 REFERENCIAL TERICO .................................................................................................10

    2.1 Das relaes entre a fotografia e o texto verbal: a produo de sentidos no Campo

    Jornalstico ...............................................................................................................................10

    2.1.1 Breve introduo ao Campo Jornalstico ........................................................................10

    2.1.2 A produo de sentidos no Campo Jornalstico ..............................................................14

    2.1.3 A linguagem fotogrfica no Campo Jornalstico: estruturas imagticas de produo de

    sentidos .....................................................................................................................................17

    2.1.4 O texto no Campo Jornalstico: estrutura verbal de produo de sentidos .....................29

    3 METODOLOGIA .................................................................................................................34

    4 ANLISE ..............................................................................................................................40

    5 CONSIDERAES FINAIS ................................................................................................53

    REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS .....................................................................................56

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    1. INTRODUO

    A Folha de So Paulo o jornal com a segunda maior circulao do Brasil, com cerca

    de 300 mil exemplares dirios. Alm de sua grande influncia na mdia brasileira, um

    veculo cobiado por jornalistas e fotojornalistas, devido ao grande prestgio atribudo a quem

    trabalha para este jornal. Em uma breve observao nas fotografias do jornal Folha de So

    Paulo, possvel observar sua preocupao com a imagem, o cuidado especial que

    conferido s fotografias, sua composio, senso esttico e relevncia. O jornal credita um

    grande valor rea de fotojornalismo.

    Dentre as opes separadas, foram escolhidas para a anlise quatro fotografias e texto

    do Caderno Mercado, pgina B2, editoria Mercado Aberto. A escolha pelo tema deu-se pelo

    meu interesse em fotojornalismo e mais recentemente pelo jornalismo econmico, devido a

    um estgio realizado na Cmara de Comrcio Indstria e Servio de Santa Maria Cacism.

    Tambm pelo fato das fotos, junto com o texto que as acompanham, despertarem certa

    inquietao e vontade de analis-los mais profundamente. Nesta pgina, h fotografias

    posadas de empresrios aparentemente bem sucedidos, onde, em sua maioria, a construo

    fotogrfica e o ttulo da matria remetem ao ramo de suas empresas, ou algum novo rumo que

    elas iro tomar.

    Este trabalho monogrfico tem como objetivo principal, a partir de quatro fotografias e

    o texto que as acompanha, descobrir de que maneira feita a construo fotogrfica para

    relacion-las com o texto e o ttulo da matria, e ainda remeter rea de atuao das

    empresas.

    Para o desenvolvimento deste trabalho tornou-se necessrio realizarmos em um

    primeiro momento um breve estudo sobre a fotografia e alguns dos conceitos que envolvem

    esta rea, como, composio, plano de enquadramento, pose, fotogenia e esteticismo.

    Tambm buscou-se uma maior compreenso a cerca do campo em que est inserido o

    jornalismo, o texto jornalstico em si e as representaes que emanam do conjunto entre texto

    e fotografia, para ento analisarmos como se da essa conotao de sentidos entre as duas

    formas de se passar uma informao.

    Depois de levantadas estas referncias foi decidido o corpus emprico deste trabalho e

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    de que maneira ele seria analisado posteriormente. Quatro fotografias, junto com seus

    respectivos textos e ttulos foram escolhidas: Novelo de Teseu, do dia 18 de fevereiro de

    2011; Ampliao, do dia 4 de maro de 2011; Metal Lquido, do dia 9 de maro de 2011

    e Pontuao Nacional, do dia 14 de abril de 2011.

    O estudo destas fotografias em nossa anlise se deu a partir da compreenso e

    atribuio dos elementos da linguagem fotogrfica. O ttulo e texto foram analisados atravs

    de pricpios como a enunciao, a palavra inserida em determinado contexto e o qual o

    significado que ela busca produzir. E, por ltimo, foi preciso compreender como que esses

    elementos juntos, se interligam entre fotografia, ttulo e texto para transmitir um mesmo

    sentido, quais as intenes que o produtor atravs das suas condies de produo atruibui a

    essas trs formas de comunicar.

    Dessa forma; o presente trabalho de monografia perseguiu a trajetria terica

    demostrada para ento resolver o seguinte problema de pesquisa: Quais os sentidos emanados

    da relao entre os elementos da linguagem fotogrfica, o ttulo da fotografia e o texto da

    matria?

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    2. REFERENCIAL TERICO

    2.1 Das relaes entre a fotografia e o texto verbal: a produo de sentidos no

    Campo Jornalstico

    Este captulo inicial representa a etapa de contextualizao da nossa temtica, onde

    iremos compreender o papel da fotografia dentro do jornalismo, qual sua ligao com o texto

    e quais os sentidos que podem ser obtidos num cruzamento entre os dois. Em um primeiro

    momento, ser abordado o campo jornalstico como meio se insero do fotojornalismo, para

    aps tratarmos da fotografia, do texto jornalstico, da produo de sentidos e suas

    interligaes.

    2.1.1 Breve introduo ao Campo Jornalstico

    A fotografia, mais precisamente o fotojornalismo, est inserido dentro do campo

    jornalstico. Ela uma entre as diferentes formas de informar dentro deste campo. Para

    entendermos melhor esta maneira de informar, faremos uma breve introduo ao campo

    jornalstico.

    O campo jornalstico pode ser considerado um lugar de mediao entre os campos

    sociais. Segundo Fabricio (2009), ele pode determinar o discurso dos demais campos, uma

    vez que possui a credibilidade gerada pela instncia jornalstica. O campo jornalstico detm

    poder de gerir, de certa forma, os demais campos sociais, bem como visibiliz-los, confront-

    los, inclu-los ou exclu-los a partir de sua definio social relatar os acontecimentos.

    (FABRICIO, 2009, p. 26).

    Desta forma, o campo jornalstico serve como mediador dos outros campos sociais, no

    momento em que ele quem expe os fatos, os acontecimentos que envolvem os demais

    campos. Ele escolhe quem e o que notcia. Sobre isso, Berger (2003, p. 22) afirma que a

    luta que travada no interior do campo do jornalismo gira em torno do ato de nomear, pois,

    nele, se encontra o poder de incluir ou de excluir, de qualificar ou desqualificar, de legitimar

    ou no, de dar voz, publicizar e tornar pblico. Essas caractersticas atribudas ao jornalismo

    so o que o fazem to importante dentre os outros campos sociais. Pois, atravs de suas

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    regras, seus valores-notcia1, ou de interesses de jornalistas e donos de jornais, que o campo

    jornalstico opta por atribuir ou no determinado fato como notcia. Essa legitimidade

    conferida ao jornalismo deve-se ao poder que ele possui de fazer crer2, que caracteriza um

    poder simblico dentro do jornalismo, de conferir credibilidade ao fato.

    O capital do campo jornalstico , justamente, a credibilidade. ela quem est

    constantemente em disputa entre os jornais e entre estes e os demais campos sociais.

    E est sendo constantemente testada, atravs de pesquisa, junto aos leitores. A

    credibilidade construda no interior do jornal assim como um rtulo ou uma marca

    que deve se afirmar, sem, no entanto, nomear-se como tal. Credibilidade tem a ver

    com persuaso pois, no dilogo com o leitor, valem os efeitos de verdade que so cuidadosamente construdos para servirem de comprovao, atravs de argumentos

    de autoridades, testemunhas e provas. (BERGER, 2003, p. 21-22).

    Os jornalistas, enquanto detentores do poder do fazer crer, so os que do ou no

    voz aos demais campos, que do ou no visibilidade a determinada pessoa e rea. Outro valor

    que se junta a credibilidade para conferir o tom de verdade aos fatos, a legitimidade.

    Bourdieu (2003, p. 15) fala sobre o valor de legitimidade e sua atuao no mbito social:

    [...] o poder simblico no reside nos sistemas simblicos em forma de um

    illocutionary force, mas que se define numa relao determinada por meio desta entre os que exercem o poder e os que lhe esto sujeitos, quer dizer, isto , na

    prpria estrutura do campo em que se produz e se reproduz a crena. O que faz o

    poder das palavras e das palavras de ordem, poder de manter a ordem ou de

    subverter, a crena da legitimidade das palavras daquele que as pronuncia, crena

    cuja produo no da competncia das palavras.

    Partindo dessa informao podemos constatar que os demais campos esto em busca

    dessa legitimidade em funo da incluso, do ser visto, de se promover, de exaltar seus

    ideais e pontos de vista, e buscam o poder que o campo jornalstico possui sobre este valor a

    1 Os valores-notcia so compreendidos como atributos que orientam o jornalista na hora de escolher os fatos que sero veiculados. Eles tambm interferem na maneira como os fatos so tratados

    hierarquicamente dentro das redaes. Esses valores podem advir dos julgamentos pessoais do

    jornalista. Relevncia, ineditismo, proximidade do fato, so alguns exemplos de valores-notcia.

    2 Segundo Fabrcio (...., p. 29) a potencialidade do fazer crer, poder simblico que caracteriza o campo

    jornalstico, o assinala como esfera que se articula na tentativa constante de impor seus valores em

    detrimento aos dos outros campos sociais e de outras foras que atuam na organizao das suas

    operaes.

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    legitimidade. Bourdieu (1997, p. 65-66-67), demonstra isso nesta passagem:

    Os jornalistas seria preciso dizer o campo jornalstico devem sua importncia no mundo social ao fato de que detm um monoplio real sobre os instrumentos de

    produo e de difuso em grande escala da informao, e, atravs desses

    instrumentos, sobre o acesso dos simples cidados, mas tambm dos outros

    produtores culturais, cientistas, artistas, escritores, ao que se chama por vezes de

    espao pblico, isto , grande difuso [...] tm o poder sobre os meios de se exprimir publicamente, de existir publicamente, de ser conhecido, de ter acesso

    notoriedade pblica. [...] eles podem impor ao conjunto da sociedade seus princpios

    de viso do mundo, sua problemtica, seu ponto de vista. Objetar-se- que o mundo

    jornalstico dividido, diferenciado, diversificado, portanto capaz de representar

    todas as opinies, todos os pontos de vista, ou de lhes oferecer a oportunidade de se

    exprimir [...].

    Assim, os jornalistas tem o poder de informar, de gerar importncia pblica a algum

    ou a algum fato. Mas, atravs de que maneiras o campo jornalstico pode contar um fato?

    Quais as estruturas usadas por ele para informar? Pode ser atravs do texto, da voz, das

    imagens televisivas e da fotografia. Os meios de maior importncia em nossa pesquisa so o

    texto e a fotografia (que sero abordados mais detalhadamente adiante), mais precisamente no

    jornalismo impresso.

    Para Fabricio (2009), o jornalismo impresso tambm um lugar de tenses, de

    disputas e imposio sobre as regras e funcionamento das demais esferas sociais. Ele tem o

    poder simblico de fazer crer, e o faz a partir dos textos verbais, dos textos imagticos, do

    capital empregado na credibilidade dos profissionais que assinam os discursos jornalsticos: as

    matrias, as fotos, as legendas, os comentrios [...], sob a funo social de informar e de

    relatar ao consumidor-receptor os acontecimentos nesse meio (FABRICIO, 2009, p. 33).

    O jornalismo impresso s um dos meios de passar informaes utilizado pelos

    jornalistas, mas o meio que interessa a nossa pesquisa. Dentro de um jornal, tanto impresso

    quanto no sentido de redao jornalstica, existem as editorias. H a editoria de esporte,

    poltica, economia, geral, cultural e at outras, dependendo do jornal.

    As editorias jornalsticas, por sua vez, determinam a estrutura que configura a edio

    de um jornal, como produto final impresso, ou uma estrutura fsica, o ambiente de

    produo. A diviso do tema e acontecimentos no produto jornal , no entanto, se do

    a partir de textos verbais e imagticos. Estes elementos so organizados a partir do

    Editorial, texto que contm a opinio da empresa a qual est subordinado o jornal, e

    que assinado pelo editor-chefe da redao, da carta do leitor, dos artigos

    especializados, da editoria Geral, da editoria de Economia, de um caderno de

    atraes e divulgaes culturais, da editoria de Polcia, da editoria de Esportes e da

    editoria de Poltica. (FABRICIO, 2009, p. 34)

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    A fotografia dentro de um jornal deve atender todas essas editorias. Cada uma dessas

    editorias possui um editor, que a pessoa responsvel pela distribuio das pautas para os

    reprteres. Os editores tambm devem participar da reunio de pauta, onde, junto com cada

    representante das editorias, mais o editor-chefe, vo apresentar, opinar e discutir as matrias

    que vo ser produzidas por suas editorias.

    As escolhas do que deve ser noticiado pelo jornal geralmente j esto agendadas. A

    redao de um jornal recebe diariamente pautas enviadas pela prefeitura, por universidades,

    associaes, assessorias, enfim, por diversas entidades com programaes e datas de eventos

    que sero realizados. Outra maneira de obter pautas pela ronda, que consiste em ligar para

    as delegacias da cidade para saber se algum crime, acidente ou priso ocorreram no dia

    anterior, aps o fechamento do jornal.

    Essa rotina da redao pode ser quebrada pelos factuais, que acontecem durante o

    percurso de execuo do jornal, geralmente advindos de uma denncia, acidentes, crimes, que

    acontecem enquanto outras pautas esto sendo desenvolvidas. As pautas programadas tambm

    podem cair, seja por outra matria mais importante ou algum outro motivo. Traquina (2005, p.

    39) elucida que,

    A organizao jornalstica funciona dentro de um ciclo temporal. O ciclo do dia noticioso impe limites na natureza das notcias. H que organizar a aparente instabilidade dentro de um ciclo dirio no qual cabem esses produtos. A urgncia

    um valor dominante. O planejamento importante. Seria enganoso pensar que esta

    corrida contra as horas de fechamento est unicamente restrita ao ciclo do dia noticioso. Uma parte da atividade jornalstica planejada antes do dia em que os acontecimentos cobertos tm lugar. Um tal planejamento identifica os

    acontecimentos futuros numa tentativa de impor ordem ao (possvel) caos provocado pela imprevisibilidade de (alguns) acontecimentos.

    Dentro de todos os acontecimentos e de todas as programaes recebidas pelos jornais,

    existe uma seleo do que vai ser noticiado e o que ficar de fora. Essa escolha feita pelos

    editores de cada editoria e pelo editor-chefe. Eles podem se basear em critrios de

    noticiabilidade, como: importncia social do fato, relevncia, atualidade, o impacto da notcia,

    etc.

    Essas escolhas so oriundas dos valores estabelecidos internamente pelas pessoas que

    trabalham com o jornalismo: reprteres, fotojornalistas, cinegrafistas, editores, diagramadores

    e donos de empresas jornalsticas. Mas, tambm por relaes externas, com anunciantes, por

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    exemplo. Conforme Berger (2007, p. 22),

    A partir do olhar da comunicao, quem constitui o dado pela enunciao,

    legitimando-o publicamente, na contemporaneidade, o jornalista, j que definio

    social do jornalismo est na passagem do acontecimento para o relato que, para

    Bourdieu, pertence ao poder simblico (poder de consagrar pessoas e instituies) e

    faz parte da funo mediadora da imprensa, no encontrando-se em nenhuma outra

    instituio, social ou cultural, a mesma competncia. Basta ver que o discurso

    poltico hoje realizado pela mdia, que no s enuncia os fatos e apresenta os

    polticos, como antecipa causas e anuncia consequncias, moldando o campo

    poltico a partir de seus interesses.

    Dentro deste contexto, a fotografia tambm considerada uma pea importante no

    formato do jornal, pois atravs dos fotgrafos tambm so operadas escolhas, valores,

    incluses e excluses. A apresentao do jornal dada pela sua capa, e para que esteja bem

    apresentada necessria uma boa fotografia, portanto ela tambm vista como um

    dispositivo3 do campo jornalstico.

    A partir deste ponto ser estudada a fotografia e o texto dentro do jornalismo, mais

    especificamente do jornalismo impresso, como meio de passar informaes, representaes,

    credibilidade e enquanto dispositivos do campo jornalstico.

    2.1.2 A produo de sentidos no Campo Jornalstico

    Para a anlise que propomos neste trabalho, se far necessrio o estudo da produo de

    sentido. Ela est presente nos discursos textuais ou imagticos do jornalismo, portanto, pode

    ser aplicada tanto para o texto quanto para as fotografias, que constituem o corpus deste

    trabalho.

    3 Os dispositivos so os lugares materiais ou imateriais nos quais se inscrevem (necessariamente) os

    textos (despachos de agncias, jornal, livro, rdio, televiso, etc...); Chamamos de texto qualquer forma (de linguagem, icnica, sonora, gestual, etc...) de inscrio; O dispositivo tem uma forma que

    especificidade, em particular, um modo de estruturao do espao e do tempo [...] O jornal se inscreve no dispositivo geral da informao e contm , ele prprio, dispositivos que lhe so subordinados (o

    sistema dos ttulos, por exemplo); Considerando do ponto de vista gentico, o dispositivo e o texto se

    precedem e determinam-se de maneira alternada (o dispositivo pode aparecer como uma sedimentao

    do texto, e o texto, como uma variante do dispositivo, por exemplo, um nmero do jornal dirio e sua

    coleo). (MOUILLAUD, 2002, P. 32)

  • 15

    Vern (1980), em seu estudo sobre a pertinncia semiolgica, cita Metz (1971, p. 7-8),

    quando o autor afirma que a semiologia, seja no cinema ou em outra coisa, um estudo de

    discursos e textos. Vern (1980, p. 76), complementa este discurso ao dizer que s se pode

    subscrever inteiramente este princpio; claro que tudo depende do modo de conceber tais

    discursos e textos. Ao fazer essa afirmao, o autor traz a tona discusso da compreenso

    do discurso.

    Um discurso sempre uma mensagem situada, produzida por algum e endereada

    a algum. A noo de discurso est estreitamente relacionada com nossa observao

    concernente noo de cdigo [...] Caso se queira conservar a noo de cdigo, ela ser empregada ento para designar o conjunto de operaes de produo de sentido, no interior de uma dada matria significante, e no uma

    coleo de unidades. (VERN, 1980, p. 77-78)

    Ao enderear o discurso para algum que entra esta noo de cdigos. As intenes

    que um jornalista ou fotgrafo, por exemplo, atribuem a um texto ou a imagem antes de serem

    veiculados podem ter um sentido. a maneira que o receptor vai interpretar esses cdigos que

    vai atribuir o mesmo sentido desejado pelo emissor, ou um sentido diferente ao discurso

    textual e imagtico. Essa variante pode ser determinada por forar externas ou internas. Vern

    (1980, p. 76), afirma que:

    O ponto de partida que define a pertinncia semiolgica no , assim, constitudo

    pelas matrias significantes em si mesmas (mal-entendido do qual expresses como

    semiologia da imagem ou semiologia da gestualidade so excelentes exemplos) e sim pelos discursos sociais em que uma matria significante (e, geralmente vrias)

    foi trabalhada por conjuntos de operaes de investimento do sentido.

    Esse ponto diz respeito a produo de sentido que o prprio emissor quer atribuir ao

    seu discurso. Para ele o que importa no o significado da imagem em si, mas o que ele busca

    passar com aquela imagem, como ela foi trabalhada e pensada para transmitir uma mensagem

    ao seu receptor. Esse exemplo serve tambm para os textos, pois existe todo um contexto

    onde as palavras foram escolhidas e medidas para gerarem determinado sentido. A mdia

    trabalha atravs dessa produo de sentido para atingir seu pblico. Conforme Vern,

    Se nos situamos no nvel de anlise de produo do sentido nos discursos sociais,

    estamos trabalhando com textos de que a linguagem no est nunca totalmente

  • 16

    ausente: ela encontrada seja nos discursos em exame seja em outros discursos que

    circulam na sociedade e com os quais os primeiros mantm relao de

    transformao, seja, enfim, no processo de produo dos discursos. (VERN, 1980, p. 79).

    A interpretao da mensagem passada no depende apenas da inteno que o emissor

    ps na mesma, mas tambm de fatores internos de cada pessoa que recebe o discurso,

    interferindo, desta maneira, no processo de informar. Segundo Vern (1980) esses cdigos, e

    significados distintos fazem parte do meio da comunicao de massa,

    Os discursos sociais so objetos semioticamente heterogneos ou mixtos, nos quais intervm, ao mesmo tempo, vrias matrias significantes ou vrios cdigos. O

    prprio discurso lingustico no nunca monocdico: quer se trate da escrita ou do

    discurso falado, h sempre regras paralingusticas que no podem ser reduzidas

    apenas no cdigo de lngua. Isto se aplica aos discursos que circulam no nvel das comunicaes de massa. (VERON, 1980, p 79)

    A vivncia de cada pessoa interfere na maneira que ela interpreta um discurso. Temos

    uma palavra que designa um objeto, o objeto em si pode ser comum a todos, mas as

    representaes que aquele objeto possui so diferentes para cada pessoa, a imagem que vem a

    cabea pode ser diferente.

    A representao associada a um signo deve ser distinguida da denotao e do sentido

    desse signo. Se um signo denota um objeto perceptvel por meio dos sentidos, minha

    representao um quadro interior, constitudo pelas lembranas das impresses

    sensveis e das aes externas ou internas a que me entreguei. Nesse quadro, os

    sentidos penetram as representaes; a distino de suas diversas partes desigual e

    inconstante. Num mesmo indivduo, a mesma representao subjetiva: a de um no

    a de outro (...). Em razo disso, uma representao se distingue essencialmente do

    sentido de um signo. Este pode ser a propriedade comum de vrios indivduos: no

    , por conseguinte, parte ou modo da alma individual. Porque impossvel negar

    que a humanidade possui um tesouro comum de pensamentos que se transmite de

    gerao em gerao. (FREGE, 1971, p 105-106 apud VERN, 1980, p. 177).

    Indo de acordo com as ideias do autor, pode-se dizer que o sentido do signo

    diferente de suas representaes, que por sua vez, podem ser diferentes de indivduo para

    indivduo de acordo com suas vivncias pessoais, pois, no h uma leitura universal do

    discurso que nos permita descobrir de uma s vez estruturas comuns a todo objeto discursivo

    (VERON, 1980, p. 82). Ainda sobre esse pensamento, FREGE (1971) afirma que,

  • 17

    A denotao de um nome prprio o prprio nome que designamos por esse nome;

    a representao assim conseguida inteiramente subjetiva; entre ambos jaz o

    sentido, que no subjetivo como a representao, mas tampouco objeto

    propriamente dito.

    Situada nesse processo de cdigos, discursos e representaes, est a fotografia e o

    texto jornalstico, principais elementos do nosso trabalho. A fotografia tambm considerada

    um discurso, um discurso imagtico, que pode ser lido e interpretado pelos receptores,

    assim como o texto verbal.

    Em nosso trabalho vamos nos limitar a compreender quais as maneiras utilizadas pelos

    fotojornalistas e jornalistas para passar um sentido. A produo antes de chegar aos leitores, o

    que interfere na maneira de produzir sentidos e como eles so feitos. As experincias de um

    fotgrafo, por exemplo, influenciam muito em seu modo de fotografar. Escolher um ngulo e

    no outro, j um valor pessoal colocado na fotografia. Incluir ou excluir objetos de uma cena

    podem mudar completamente o discurso de uma fotografia, essas escolhas antes da fotografia

    ser veiculada que agrega sentido em uma fotografia. A produo de sentido dentro da

    fotografia ser tratada mais adiante, no captulo que segue, assim como o texto jornalstico e

    algumas de suas especificidades.

    2.1.3 A linguagem fotogrfica no Campo Jornalstico: estruturas imagticas de

    produo de sentidos

    A fotografia teve seu valor atribudo s informaes a partir de suas primeiras

    inseres nos tablides do incio do sculo XX. Como aponta Sousa (2004), o surgimento do

    primeiro tablide fotogrfico, denominado Daily Mirror, marcou uma mudana de conceitos

    no jornalismo. Para ele as fotografias deixaram de ser secundarizadas como ilustraes do

    texto para serem definidas como uma categoria de contedo to importante quanto a

    componente escrita (SOUSA, 2004, p. 17). A partir deste momento a fotografia passou a

    representar o grande canal atravs do qual o mundo se dava a conhecer nos aspectos fsicos e

    na diversidade da vida cotidiana (GURAN, 2002, p.45).

    Com a insero das fotografias, as pessoas comeam a se reportar ao local do fato.

    um fenmeno de extrema importncia para o jornalismo, como destaca Freund (1976, p. 96),

  • 18

    At ento o homem comum s podia visualizar os acontecimentos que ocorriam a

    sua volta, na sua rua, na sua cidade. Com a fotografia abre-se uma janela para o

    mundo. Os rostos dos personagens pblicos, os acontecimentos que tm lugar em

    um mesmo pas e alm das fronteiras tornam-se familiares. Ao ampliar o campo de

    viso, o mundo se encolhe. A palavra escrita abstrata, mas a imagem o reflexo

    concreto do mundo onde cada um vive. A fotografia inaugura os mass-media visuais

    quando o retrato individual se v substitudo pelo retrato coletivo.

    A fotografia visa informar, explicar, contextualizar e oferecer pontos de vista de

    determinado fato. Para Amaral, ela tornou-se um meio to importante quanto o texto escrito.

    Neste caso, fotografar uma forma de redigir, o que, alis, est implcito na prpria

    formao do termo fotografia, que vem do grego phs, luz e graphein, escrever (AMARAL,

    1996, p. 137).

    No jornalismo a fotografia tem a funo de informar e passar uma mensagem tanto

    quanto o texto que a acompanha. Para Sousa (2004), o fotojornalismo a atividade de

    realizao de fotografias informativas, interpretativas, ou ilustrativas para a imprensa ou

    outros projetos ligados a produo de informao de atualidade. A atividade caracteriza-se

    mais pela finalidade, pela inteno, e no tanto pelo produto. Portanto, no apenas a

    fotografia em si que caracteriza o fotojornalismo, mas tambm sua funo e contribuio para

    o jornalismo em meios impressos ou digitais. Sobre o fotojornalismo, Lage (1999, p. 26)

    afirma que,

    A fotografia jornalstica atividade especializada, cujo desempenho envolve

    conhecimento muito alm do manuseio do processo. Trata-se de selecionar e

    enquadrar elementos semnticos de realidade de modo que, congelados na pelcula

    fotogrfica, transmitam informao jornalstica.

    Assim, a fotografia jornalstica no apenas o processo mecnico de tirar a foto, mas

    implica na maneira com que o fotgrafo tira a foto, o momento que ele escolhe, o

    enquadramento e a composio. Esses elementos da fotografia sero trabalhados

    detalhadamente mais adiante. Todas essas escolhas e viso do fotgrafo tem a misso de

    informar dentro do fotojornalismo.

    Segundo Sousa (2004, p. 9), o fotojornalismo uma atividade singular que usa a

    fotografia como um veculo de observao, de informao, de anlise e de opinio sobre a

    vida humana e as consequncias que ela traz ao Planeta. A fotografia jornalstica mostra,

    revela, expe, denuncia, opina. D a informao e ajuda a credibilizar a informao textual.

  • 19

    Essa maneira que o fotgrafo escolhe para fazer a fotografia, segundo Manini (2002, pg. 51)

    uma manifestao visual e sempre possui um foco central, uma razo de ser que motivou

    aquela tomada fotogrfica.

    H que se considerar, contudo, que este motivo central e no estamos falando,

    aqui, da geografia da imagem est cercado de informaes que a ele se

    entrelaam de diversas maneiras. (...) Algumas vezes tambm importante

    considerar o extra-campo: o que girava em torno deste recorte espao-temporal que

    se transformou em fotografia (MANINI, 2002, p. 51).

    A fotografia tem o poder de conferir tom de verdade aos fatos. De estar no local na

    hora dos acontecimentos. A fotografia atribui valor a informao que transmitida atravs do

    texto, pode complementar, trazer informaes adicionais e ilustrar as palavras que a

    acompanha.

    Desde o seu surgimento e ao longo de sua trajetria, at os nossos dias, a fotografia

    tem sido aceita e utilizada como prova definitiva, testemunho da verdade do fato ou dos fatos. Graas a sua natureza fisioqumica e hoje eletrnica de registrar aspectos (selecionados) do real, tal como esses fatos se parecem, a fotografia ganhou

    elevado status de credibilidade (KOSSOY, 2002, p. 19).

    Dentro do jornalismo, essa funo de testemunho da verdade ainda mais

    importante. Atravs da fotografia jornalstica podemos colocar os leitores dentro da cena onde

    ocorreu o fato relatado. Ela traz veracidade ao mostrar que o jornalista ou fotgrafo realmente

    estava no local dos acontecimentos. A legitimidade que a imagem fotogrfica proporciona

    estabelece um vnculo de credibilidade com os leitores, a comprovao dos fatos noticiados

    pelo jornal. Como afirma Sontag (1981, p.5), determinada coisa de que ouvimos falar, mas

    que nos suscita dvidas, parece-nos comprovada quando dela vemos uma fotografia. Uma das

    variantes da utilidade da cmara fotogrfica est em que seu registro denuncia.

    Sobre o assunto, Berger (2003, p. 19) afirma que [...] na crena da superposio

    entre o real e o texto que reside a credibilidade da imprensa, que foi sofisticando os artifcios

    para comprovar a existncia do real/verdade com a foto, o rdio e a tev.

    Ainda compartilhando deste pensamento Vilches (1987, p. 77) complementa que a

    foto de imprensa em nenhum momento mais simples que o texto escrito. Sua estrutura

    complexa em igual medida que um texto escrito, e tanto um como outro so produtos de

  • 20

    diversas transformaes discursivas.

    Alm de reportar o leitor ao local dos acontecimentos, atribuindo credibilidade a

    noticia, e da funo de passar informao, as imagens ainda tem forte apelo imagtico. Em

    um primeiro momento, a fotografia que chama a ateno de quem passa rapidamente os

    olhos por um jornal, ela pode causar sensaes aos olhos, pode ser certo desconforto, ou at

    mesmo contentamento, dependendo da imagem admirada.

    Por natureza todos os homens desejam conhecer. Prova disso o prazer causado

    pelas sensaes, pois mesmo fora de qualquer utilidade nos agradam por si mesmas,

    e, acima de todas, as sensaes visuais. Com efeito, no s para agir, mas ainda

    quando no nos propomos a nenhuma ao, preferimos a vista a todo o resto. Por

    causa disto que a vista , de todos os nossos sentidos, aquele que nos faz adquirir

    mais conhecimentos e que nos faz descobrir mais diferenas. (ARISTTELES apud

    CHAU, 1988, p.38).

    A respeito do assunto, Marilena Chau complementa:

    A aptido da vista para o discernimento o que nos faz descobrir mais diferenas a coloca como principal sentido de que nos valemos para o conhecimento e como o mais poderoso, porque alcana as coisas celestes e terrestres, distingue

    movimentos, aes e figuras das coisas, e o faz com maior rapidez do que qualquer

    dos outros sentidos. ela que imprime mais fortemente na imaginao e na memria

    as coisas percebidas, permitindo evoc-las com maior fidelidade e facilidade.

    (CHAU, 1988, p. 38)

    O fato de a viso ser considerada o sentido que mais atribui sensaes um dos

    motivos que torna a fotografia to importante. Para Guran (2002, p.11) as dificuldades na

    produo e na utilizao (edio) da fotografia advm, em grande parte, deste seu enorme

    potencial de mobilizao do emocional, associado a compreenso racional de um determinado

    fato.

    A escolha da fotografia pode ter ligao com o carter emocional, mas dentro do

    fotojornalismo o que a torna ainda mais importante o fato de que ela contm informaes.

    As fotografias trabalham junto com os textos jornalsticos, e suas informaes so passadas

    por meio de mensagens imagticas, ou seja, elas informam visualmente. E dentro desse

    contexto do jornalismo, ela no apenas uma complementao ao texto, mas sim, um

    dispositivo separado.

    A fotografia passa mensagens imagticas, ou seja, informa visualmente e escolhida

  • 21

    para melhor se adequar a mensagem que deve ser passada. Martins (1990, p. 4) afirma que as

    boas fotografias so aquelas que se impe por elas mesmas, levantam questes, prope

    reflexes.

    Dentro do tema fotografia, um dos principais pontos que devem ser levantados no

    trabalho so os elementos fotogrficos utilizados pelos fotgrafos. A fotografia, na maioria

    das vezes, envolve muito mais do que um simples clique. Ela est na observao, na busca

    pelo melhor ngulo, melhor enquadramento, luz ideal, originalidade. Os fotgrafos buscam

    inovar, trazer qualidade e esttica para suas fotografias. Para isso, utilizam-se de alguns

    elementos da linguagem fotogrfica, que contribuem para dar sentido a mensagem

    fotojornalstica.

    Os elementos da linguagem so compostos por: texto; enquadramento, planos e

    composio; o foco da ateno; relaes figura-fundo; equilbrio e desequilbrio; elementos

    morfolgicos; profundidade de campo; movimento; iluminao; lei do agrupamento;

    semelhana e contraste de contedos; relao espao-tempo; processos de conotao

    fotogrfica barthesianos; distncia e sinalizao. Neste trabalho vamos detalhar um pouco

    mais os elementos fotogrficos que sero analisados posteriormente, como o texto,

    enquadramento, planos e composio, a cor, a profundidade de campo, a iluminao, a

    fotogenia, o esteticismo, o movimento e a pose.

    O texto um elemento fundamental para o fotojornalismo, pois, sem ele

    provavelmente no se entenda o contexto do que a fotografia traz. A foto pode ser bonita

    esteticamente para quem a est observando, e embora traga junto com ela muitas informaes,

    sem um texto junto para complement-la difcil compreender por inteiro o que aquele

    momento pode passar. Segundo Sousa (2004, p. 66) no fotojornalismo, o texto tem vrias

    funes. Entre elas, chamar a ateno para a fotografia ou para algum de seus elementos;

    complementar informaticamente a fotografia; ancorar o significado da fotografia,

    direcionando o leitor para aquilo que a fotografia representa; conotar a fotografia, abrindo um

    leque de significaes possveis; analisar, interpretar e/ou comentar a fotografia e/ou o seu

    contedo.

    Em certas ocasies, os efeitos grficos do texto que complementam uma fotografia

    reorientam o sentido da mensagem fotojornalstica. A ttulo explicativo, pode-se,

    aplicar um balo com texto, moda dos desenhos em quadrinhos, a um sujeito

    fotografando. As sensaes e ideias geradas sero bastante diferentes daquelas que

    ocorreriam se a fotografia fosse unicamente legendada. Noutras alturas, pode fazer-

  • 22

    se com que o texto contradiga a fotografia, por exempli, quando o efeito gerar um

    efeito cmico. SOUSA (2004, p. 66).

    Dentre os outros elementos estudados esto o enquadramento, planos e composio.

    A composio fotogrfica tem como finalidade dispor os elementos plsticos percebidos

    atravs do visor para conferir significado a uma cena. resultado da harmonizao de

    diversos fatores de ordem tcnica e de contedo, constituindo, na essncia, o pleno exerccio

    da linguagem fotogrfica (GURAN, 1992, apud TAVARES e VAZ, 2005, p. 136).

    Para Sousa (2004, p. 67) o enquadramento corresponde ao espao da realidade visvel

    representado na fotografia. o fotgrafo, ou fotojornalista, que dita o enquadramento de

    uma fotografia, ele escolhe o que ser colocado naquele espeo da foto, podendo excluir ou

    incluir objetos de acordo com sua preferncia e estilo fotogrfico, o recorte dado a

    imagem. Dentro deste recorte o fotgrafo deve ter o cuidado com o excesso de informao,

    pois muitos elementos em uma s fotografia podem desviar o olhar do leitor do que realmente

    importa em determinada imagem.

    O enquadramento depende tambm do plano que dado para a fotografia. Conforme

    Sousa (2004, p. 67), existe quatro tipos de planos, com efeitos diferentes ao nvel da

    expressividade fotogrfica.

    Os planos gerais so planos mais abertos, que servem, principalmente, para situar o

    observador, mostrando uma localizao concreta. So ideias para fotografias de

    paisagens e eventos de massas. Planos de conjuntos so planos gerais mais fechados,

    onde se distinguem os intervenientes da ao e a prpria ao com facilidade e por

    inteiro. J os planos mdios servem para relacionar os objetos/sujeitos fotogrficos,

    aproximando-se de uma viso objetiva da realidade. E, por ltimo, os grandes planos, que enfatizam particularidades, um rosto ou uma janela por exemplo. So

    frequentemente mais expressivos do que informativos. (SOUSA, 2004, p. 67).

    Sousa (2004) ainda afirma que o reenquadramento tambm muito comum no

    fotojornalismo, reenquadrar uma fotografia um gesto frequente em fotojornalismo, pois

    assim pode concentrar-se a ateno do observador no motivo e retirar das imagens elementos

    que desviem o olhar do que importante. Ainda sobre a escolha do recorte fotogrfico,

    Manini (2002, p.51), afirma que:

    A fotografia uma manifestao visual. Nela sempre h um foco central, uma razo

    de ser que motivou aquela tomada fotogrfica. H que se considerar, contudo, que

    este motivo central e no estamos falando, aqui, da geografia da imagem est

  • 23

    cercado de informaes que a ele se entrelaam de diversas maneiras. (...) Algumas

    vezes tambm importante considerar o extra-campo: o que girava em torno deste

    recorte espao-temporal que se transformou em fotografia.

    As informaes que so acrescentadas ao enquadramento entram no domnio da

    composio. As escolhas de quais informaes devem entrar na fotografia uma deciso do

    fotgrafo, dependendo do enquadramento que ele faz, pode incluir ou excluir objetos da

    composio da foto. Segundo as consideraes de Cartier-Bresson,

    Uma fotografia (...) o reconhecimento simultneo, numa mesma frao de

    segundo, do significado de um fato e tambm de uma organizao rigorosa das

    formas percebidas visualmente que exprimem esse fato. (CARTIER-BRESSON,

    1986 apud GURAN, 2002, p. 22).

    A maneira mais comum de compor uma fotografia pela regra dos teros. Conforme a

    explicao de Sousa (2004, p. 68-69), a regra dos teros nada mais que:

    [...] dividir a imagem em teros verticais e horizontais, formando nove pequenos

    retngulos. Os pontos definidos pelos cruzamentos das linhas verticais e horizontais

    so plos de atrao visual, podendo ser aproveitados para colocao do tema

    principal ou da parte mais importante do tema principal. Porm, caso se pretenda

    equilibrar o tema principal e se este estiver colocado num dos pontos referidos, pode

    incluir-se um tema secundrio no ponto diagonalmente oposto desde que este no ofusque o tema principal. Estabelecer-se-ia, assim, uma hierarquia entre os

    elementos da imagem.

    Os elementos morfolgicos tambm constituem os elementos da linguagem

    fotogrfica. Eles esto divididos em nove elementos que ajudam a dar sentido fotografia:

    gro, massa ou mancha, pontos, linhas, textura, padro, cor e configurao. Para o

    desenvolvimento deste trabalho vamos precisar entender um pouco mais sobre a cor. Ela pode

    atribuir sentidos a fotografia e passar sentimentos, cores alegres ou em preto e branco, por

    exemplo, tm sentidos diferentes umas das outras. Segundo Sousa (2004, p.75),

    A cor permite atrair a ateno, mas tambm um agente conferidor de sentido, em

    funo do contexto e da cultura. Por exemplo, se um fotojornalista pretende fazer

    uma feature photo em que exalte a alegria das crianas no pode procurar crianas

    vestidas de negro ou locais escuros, mas sim crianas vestidas com cores vivas e

    locais multicoloridos.

    Outro elemento fotogrfico utilizado pelos fotojornalistas a profundidade de campo.

    Nela pode-se definir o quanto da imagem se deseja mostrar, deixar ntida. A profundidade

  • 24

    pode ser pequena e deixar apenas o objeto em primeiro plano focado em relao ou seu fundo,

    ou em uma fotografia de paisagem a profundidade de campo utilizada muito maior, dando

    impresso de imensido. Para Sousa (2004, p. 76),

    A profundida de campo a distncia entre os pontos ntidos mais prximos e mais

    afastados da zona de foco, podendo causar os efeitos de longitude ou de

    proximidade de acordo com a inteno do fotojornalista. Uma grande profundidade

    de campo, por exemplo, serve para mostrar o cenrio, evidenciando elementos

    presentes nele, ou, ainda, para causar efeitos estticos.

    Se palavra fotografia significa escrita com luz, a iluminao um ponto crucial para

    o fotojornalista. Conforme Sousa (2004, p.79), a criana fotografada com o sol a fazer

    brilhar os seus cabelos parece contagiar a inocncia e a alegria. Porm, a iluminao tambm

    importante para o fotgrafo porque dela dependem, em grande parte, as noes de

    profundidade e de relevo que se pretenda que a fotografia transmita.

    O uso da luz pode ser proveniente de um flash, uma lmpada ou da iluminao natural

    do local fotografado. O fotgrafo deve sempre procurar usar essa luz a seu favor, se deseja

    uma iluminao mais intensa para acentuar os objetos fotografados, se com aquela luz deseja

    produzir uma sombra em uma parede ou no cho, por exemplo, ou at mesmo se pretende

    deixar a foto com tons mais escuros, o que pode ser feito em fotos de acidentes, usando

    apenas a iluminao vermelha de uma sirene ou a branca de um farol. Todas essas escolhas de

    acentuar os objetos, sombras, pouca iluminao, produzem sentidos s fotografias.

    Os processos de conotao barthesianos so outros elementos da linguagem

    fotogrfica que outorgam sentidos fotografia. Segundo Roland Barthes (1961), a fotografia

    sustenta duas estruturas, uma denotativa, no codificada, e uma conotativa, que suporta um

    cdigo de natureza scio-cultural, estabelecido atravs de seis processos principais de

    conotao. Estes processos so: truncagem, pose, objetos, fotogenia, esteticismo e sintaxe.

    Neste trabalho vamos estudar apenas trs desses processos: a fotogenia, o esteticismo e a

    pose.

    Conforme Sousa (2004, p. 81) uma cena ou um objeto podem ser embelezados pela

    iluminao. A prpria fotografia pode ser embelezada pelas tcnicas de impresso e

    processamento. Todas estas situaes so exemplos enquadrveis pela designao fotogenia,

    demostrando, todas elas, como atravs de uma srie de procedimentos tcnicos se contribui

    para a construo de sentidos para a imagem. Atravs de alguns processos tcnicos, o

  • 25

    fotgrafo pode deixar sua fotografia mais bonita, mais trabalhada. Uma luz lateral, seja

    produzida por um flash ou uma luz natural no rosto de uma pessoa, pode deixar a fotografia

    muito mais interessante do que um simples retrato com uma luz mais chapada, ou seja,

    direto no rosto da pessoa.

    O esteticismo na viso de Sousa (2004, p. 81) um procedimento de conotao que

    consiste na explorao esttica da fotografia ao ponto de ela se assemelhar pintura. O autor

    ainda traz um exemplo para melhor compreenso:

    Num clebre fotografia de Henri-Cartier Bresson v-se um corredor de uma priso

    (em perspectiva) e pelas grades de uma das celas passam, completamente nus, um

    brao musculado, completamente estendido e com o punho fechado, paralelo ao

    solo, e uma perna igualmente musculada, oblqua em relao ao cho do corredor

    (quase parece metade daquele clebre desenho de Leonardo da Vinci do homem

    bem proporcionado no interior do crculo). Parece ser um gesto de raiva. Nesta

    imagem, so a composio geomtrica e a condensao de um gesto momentneo e

    surrealista que impulsionam a construo de sentidos. (SOUSA, 2004, p. 81).

    O movimento como elemento da fotografia possui um papel importante para gerar

    sentido. O fotgrafo pode optar se quer uma fotografia esttica ou se quer obter um efeito de

    movimentao conforme a velocidade do obturar de uma cmera fotogrfica, dando um efeito

    de escorrido ou borrado. Para Sousa (2004, p. 77),

    Travar o movimento a opo mais comum no fotojornalismo. Os gestos

    significativos, as posies sugestivas, precisam frequentemente de ser congeladas para que lhes possa ser imposto um sentido. A mquina fotogrfica tem a capacidade

    de sacar realidade um fragmento de tempo que potencia o nosso limitado poder de viso.

    Um dos processos de conotao fotogrfica barthesianos que mais vamos nos deter a

    pose. O mais comum no fotojornalismo a instantaneidade, pegar o momento do fato, o real.

    Porm, nesse meio tambm h espao para as fotografias posadas, aquelas em que o fotgrafo

    pode montar a foto e os elementos que a compe, escolher o cenrio, pedir para a pessoa,

    ou as pessoas, que ser fotografada fazer tal pose ao invs de outra, faz parte da escolhe da

    pose. Sobre esse assunto, Sousa (2004, p. 81) acredita que,

    Os gestos e as expresses significativas do ser humano, nomeadamente quando so

    encenados de propsito para figurao na imagem fotogrfica (o que constitui a pose

    propriamente dita), so elementos passveis de outorgar determinados sentidos

    imagem fotogrfica, pois favorecem a construo e a reformulao de ideias sobre as

  • 26

    pessoas fotograficamente representadas.

    Atravs da pose o fotgrafo pode atribuir sentido a prpria foto, as expresses, ao

    cenrio em si. Na sua explicao Sousa (2004) ainda traz o exemplo de um escritor que se

    inclina para trs na cadeira em que est sentado, deliciado com o charuto que segura na mo,

    ao mesmo tempo que explode o fumo, dar, hipoteticamente, a imagem de um pensador que

    sabe apreciar os pequenos prazeres da vida. (SOUSA, 2004, p. 81).

    A pose, alm de ser um estilo de se fotografar, que pode gerar inmeros sentidos,

    ainda pode utilizar-se de todos os outros itens descritos acima. Por exemplo, em uma

    fotografia posada pode-se pensar durante mais tempo na iluminao, no enquadramento e

    composio e nas cores. A fotogenia e o esteticismo tambm podem ser bem trabalhados

    nessa categoria. Essa talvez seja a maior diferena entre as fotografias espontneas e as

    fotografias posadas. Dentro do fotojornalismo, as primeiras costumam possuir mais valor,

    pois falamos de fatos, de acontecimentos, e o fotgrafo no pode, por exemplo, enfeitar a

    cena de um crime, ou implantar, em alguma outra foto, algo que a deixa mais admirvel

    esteticamente. Diferente das fotografias posadas, que podem representar um case para uma

    matria, ou algo ilustrativo, onde as pessoas sabero que aquela fotografia foi pensada pelo

    fotgrafo.

    A utilizao desses elementos fotogrficos ajuda na transmisso das informaes e

    prende mais o leitor pela qualidade das imagens. Alm de informar e prender a ateno dos

    leitores importante trazer eles para dentro da matria, as fotografias devem excitar,

    entreter, surpreender, informar, comunicar ideias ou ajudar o leitor a entender a matria

    (SCALZO, 2004, p. 70). Conforme explica Tavares e Vaz (2005, p. 127),

    A discusso sobre o carter fotojornalstico da fotografia coloca em evidncia

    algumas noes como informao, notcia, acontecimento. Nas reflexes de Roland

    Barthes (1984) sobre o studium fotogrfico e o papel do Operator e do Spectator em

    relao a ele, a fotografia assume uma srie de funes tais como: representar,

    surpreender, dar significao, provocar desejo. A estes atributos, poderiam ser

    acrescentados: documentar, testemunhar, comunicar. No entanto, entremeando estas

    designaes, encontra-se uma funo, talvez a mais importante, das imagens

    fotogrficas: a de fornecer informaes.

    Mas ser que essas informaes passadas atravs das fotografias so lidas, ou seja,

    analisadas, pelos leitores da mesma maneira do que pelos prprios fotgrafos? Segundo Joly

    (1996), os leitores acreditam que as imagens sejam naturalmente legveis, porque no se

  • 27

    sabe ao certo a diferena entre o termo percepo e interpretao. Para Boni (2006, p. 129),

    reconhecer motivos nas fotografias e interpret-los so dois raciocnios distintos, embora a

    maioria tenha a impresso de que sejam a mesma coisa. Para o autor a fotografia no

    naturalmente legvel e oculta uma srie de contedos interpretativos. Boni ainda cita como

    exemplo um reprter fotogrfico em um dia de trabalho

    Ele vive num determinado lugar e tempo histrico e passou por experincias que

    formaram seu repertrio pessoal. A soma de tudo isso influencia na sua forma de

    fotografar e no sentido que atribui s fotografias produzidas. Ao voltar para a

    redao, o material que traz j est fora do contexto, ou seja, no est mais no

    ambiente e nas condies em que foi produzido. Nas pginas do jornal, o material se

    afasta ainda mais do seu contexto original. A leitura dessas imagens, por sua vez,

    feita por leitores que no estiveram no local e no momento da fotografia e que

    possuem repertrios sgnicos diferentes do reprter. Ao final desse processo, torna-

    se difcil a leitura do leitor coincidir com a que o fotojornalista fez do acontecimento. BONI (2006, p. 129).

    Segundo Lima (1988, p.22) as leituras das imagens podem acontecer em trs fases.

    Sendo a percepo a primeira delas. Esta a fase puramente tica, em que o leitor apenas

    percebe as formas e tonalidades da fotografia. A segunda fase a leitura de identificao,

    onde se reconhece os componentes da foto. At este momento a maioria das pessoas tem a

    mesma leitura da foto. O que diferencia essa leitura a terceira fase, a da interpretao. Cada

    pessoa pode fazer uma interpretao diferente de uma imagem, dependendo da sua viso de

    mundo.

    Em seu livro O bvio e o obtuso, de 1990, Barthes separa as mensagens

    fotogrficas em literal e simblica, e utiliza uma publicidade de massas para exemplific-las.

    Em uma fotografia aparecem pacotes de massas e um tomate. O tomate representado na foto

    pode ser considerado apenas um legume, o reconhecimento do tomate. Mas, se for feita a

    interpretao do que o tomate representa na fotografia pode-se imaginar uma macarronada

    italiana. Esta a mensagem simblica. Um signo, neste caso o tomate, tem apenas um

    significante, uma forma, o tomate apenas como um legume, mas ele pode transmitir vrios

    significados, contedos. Segundo Boni, (2006, p. 129) a fotografia jornalstica, assim como

    qualquer outra mensagem, pode ser polissmica, isto , apresentar vrios sentidos e

    interpretaes.

    Como j foi citado anteriormente, a fotografia sustenta duas estruturas, uma denotativa

    e uma conotativa. O sentido conotativo aquele que a raiz de um signo. Mesmo que as

  • 28

    pessoas possuam uma imagem diferente de um objeto, aquele objeto comum para todos. Se

    a palavra abajur, pode-se imaginar diferentes cores e formatos de um abajur, mas na sua raiz

    o objeto o mesmo. Segundo Pereira (2003, p. 110), o sentido conceitual fundamental para

    a comunicao entre pessoas.

    O sentido conotativo so as representaes que um objeto pode adquirir. Conforme

    Boni (2006, p. 130),

    So os significados que os signos adquirem de forma metafrica, figurada.

    Popularizados, tambm acabam entrando para o dicionrio e todos passam a

    entend-lo daquela forma. , por exemplo, o caso da gria marmelada. Alm de seu

    sentido denotativo ou original uma espcie de doce traz agora, absorvida e consolidada pela sociedade, um novo significado conotativo: desonestidade.

    Os sentidos conotativos e denotativos servem tambm para as fotografias e as

    mensagens que os fotgrafos desejam passar. Segundo Pereira, (2003, p.117) no plano

    denotativo o receptor apenas toma a mensagem ao p da letra. No plano conotativo ele

    mergulha no mundo das associaes de ideias, das aluses, das insinuaes, das ironias, dos

    sarcasmos, dos simbolismos, das metforas, das alegorias, da ideologia, da poesia. Esse

    mundo de associaes das ideias no necessariamente apenas de palavras e objetos, mas

    tambm das fotografias e suas representaes.

    [...] analisar as principais estruturas visuais que determinam significados

    (representacionais, interacionais e composicionais), suas disposies na cena,

    atravs de cones, figuras, lugares, objetos, seus processos de ao ou reao,

    cenrios, circunstncias temporais, emocionais, possveis intenes, salincias

    realadas pela proximidade ou afastamento, realizadas atravs de ngulos e

    enquadramentos, modalidade (saturao, ajuste de cor, contextualizao ou

    descontextualizao pela neutralidade e desfoque de fundos) representao dos

    detalhes, perspectivas e tipo de iluminao, tornam a observao mais aprofundada e

    rica em constataes (CMARA 2008 apud FABRICIO, 2009, p.81).

    a observao atravs dessas caractersticas que Cmara (2008) salienta, que

    pretende-se compreender o que a fotografia, dentro de determinado contexto, busca passar

    para quem a observa. Uma imagem pode gerar diversos sentidos atravs de seus elementos,

    mas, necessrio entender quais so esses elementos e o que eles querem passar dentro

    daquele momento da fotografia. Quais os sentidos que emanam do enquadramento escolhido,

    do foco, do objeto presente na foto e dos outros elementos ali inseridos.

  • 29

    2.1.4 O texto no Campo Jornalstico: estrutura verbal de produo de sentidos

    Dentro do jornalismo impresso, que o meio de comunicao analisado em nosso

    trabalho, o texto a maneira mais comum de se passar uma informao. atravs dele que

    so narrados os fatos, os detalhes e as entrevistas. Para Nascimento (2009, p. 2),

    Escrever , de certa forma, assumir a palavra para si, deixar marcar-se pela letra,

    essa tatuagem invisvel que nos projeta, que nos define e que nos faz falantes,

    comunicadores natos. A relao texto e comunicao , nessa perspectiva, a de um

    elo indissocivel entre um eu e um outro, uma vez que a escrita sempre impulsionado por um projeto de partilha, de comunho, ou, ainda, por um desejo de

    tornar comum as significaes que aprendemos do mundo.

    Sinalizando o que a autora nos trouxe, deve-se entender que a escrita, e principalmente

    a do texto jornalstico, nunca se da sozinha, ela sempre produzida e pensada para um leitor,

    para a compreenso da pessoa que ir receb-lo. Segundo Tavares e Vaz (2005, p. 128) o

    jornalismo, e mais especificamente os jornais, possuem como funo preponderante relatar a

    realidade atravs das notcias; transformar os acontecimentos da vida cotidiana em fatos a

    serem noticiados, em informao a ser veiculada.

    Ento, no jornalismo os fatos so transformados em notcias e, conforme Lage (2005,

    p. 73), o que caracteriza o texto jornalstico o volume de informao factual. Resultado da

    apurao e tratamento dos dados, pretende informar, e no convencer. atravs das

    informaes passadas pelos jornalistas que os receptores vo poder receber as informaes e

    formar suas opinies sobre os fatos. o jornalismo que transmite os acontecimentos, que liga

    os sujeitos e suas relaes entre si e com o mundo. Ele mediador de experincias e

    partilhas. Possui e constri um tempo e um lugar, assim como faz parte de um lugar e de um

    tempo (TAVARES e VAZ, 2005, p. 128).

    Ainda segundo Lage (2005, p. 78),

    Notcias so, na sua estrutura global, textos expositivos, no narrativos. Frequentemente so anncios de fatos que ainda no ocorreram. Afora isso, grande

    nmero delas no conta histria alguma: resume ou reproduz, em forma prpria,

    outros textos, sejam eles leis, relatrios, discursos ou entrevistas.

  • 30

    Isso significa que o jornalista est sempre produzindo seus textos baseado em outros

    textos ou em fontes. O que ele procura fazer achar a melhor maneira de passar essas

    informaes para os receptores da forma mais neutra possvel, para que eles prprios tirem

    suas concluses, assim, alm de passar certa imparcialidade, reduz-se a possibilidade de erro,

    pois estar se embasando em documentos e relatos e no em sua vivncia.

    Porm, o texto jornalstico no to simples assim. Para o leitor se interessar pela

    notcia e decidir comprar tal jornal e no o outro porque o texto, alm da diagramao,

    fotos, etc, precisa chamar sua ateno pela qualidade das notcias. Nas matrias ensinadas na

    faculdade de jornalismo passado para os acadmicos as regras para uma boa escrita, pois

    atravs dela que se conquista o receptor. O texto escrito necessita de elaborao, de

    vocabulrio preciso, frases bem construdas e gramtica correta. Lage (2001, p. 7) afirma que,

    O texto impresso s ganha sentido quando lido, isto , quando o leitor o traduz em

    sons. A situao emocional da leitura incontrolvel e, em princpio, neutra. O texto

    ter de formalizar-se, enriquecer sua sintaxe, para suprir a ausncia de elementos

    analgicos que existem na conversa, desde a expresso no rosto de quem fala at a

    entonao e as pausas. Ampliar ainda a redundncia lingustica, tanto porque falta o

    suporte analgico quanto pela impossibilidade de esclarecer dvidas eventualmente

    suscitadas no leitor.

    O texto impresso deve ser muito bem construdo, pois, como explicado por Nilson

    Lage, nele o leitor no est cara a cara com o jornalista para ver suas expresses, nem pedir

    explicaes de alguma dvida recorrente. A notcia para ser completa deve sempre procurar

    sanar as perguntas: quem/o que? Fez o que? Quando? Onde? Como? Por que/para que? No

    jornalismo, normalmente, essas perguntas so respondidas no primeiro pargrafo da matria,

    chamado de lead.

    Conforme declama Lage (2005, p.38), o texto pode ser dividido em seis gneros

    quanto a sua finalidade: os informativos, os imperativos, os dialticos, os lricos e dramticos

    e os cmicos.

    [...] os informativos, portadores de dados e que podem no ter qualquer inteno

    consciente se no essa mesmo, de informar; os imperativos, destinados formalmente

    a impor, conclamar e convencer; os dialticos, em que opinies ou interpretaes

    distintas so contrapostas; os lricos e os dramticos, em que efeitos de linguagem

    pretendem despertar emoes; os cmicos, fundados na ambiguidade, no nonsense,

    na violao no odiosa de interdies culturais, etc. LAGE (2005, p.38).

  • 31

    O autor ainda afirma que os textos informativos estruturam-se em dois modelos: o

    expositivo e o narrativo. Sendo que o primeiro pode ser observado nos relatrios, ensaios e na

    maioria das reportagens impressas e o segundo, em relatos testemunhais, documentrios e na

    fico.

    Assim como a fotografia jornalstica produz sentidos atravs de seus elementos, o

    texto tambm produz sentido por meio das palavras escolhidas, do contexto exposto, da

    vivncia do jornalista e de seu leitor. Conforme Nascimento (2009, p.2),

    Todo texto deve ser pensado como um ato de comunicao, em que significaes se

    movimentam e so capturadas por olhares mltiplos, dada a sua ampla capacidade

    de reconstruo e, por que no, de recriao. A cada texto que lemos e a cada texto

    que escrevemos, reinventamos a linguagem e, como somos feitos de sentidos, de

    signos, nos reinventamos junto.

    O jornalismo, como prtica social, tido como imparcial, porm antes de tudo, um

    jornalista tambm feito de sentidos e signos. Assim, como o leitor pode reinventar e atribuir

    valor a determinada informao, o jornalista tambm o faz. O jornalismo tem a funo de

    olhar e registar o cotidiano, e at na escolha do que mais importante ser noticiado, j est

    inserindo seus valores. Para Tavares e Vaz (2005, p. 130), nos jornais,

    [...] a subjetividade est constantemente presente e, por isso mesmo, instrumento

    da construo de seus discursos e est implcita em seus contedos e mensagens. A

    informao uma construo simblica e, tambm, objetivao de uma

    subjetividade. Se na base dessa cadeia de sentidos temos os sujeitos produtores da

    notcia e os acontecimentos (ambos objetivados e subjetivados a todo momento),

    tambm temos em outro extremo os sujeitos leitores, aqueles que consomem a

    produo noticiosa, que lidam com realidades distintas e com as realidades

    jornalsticas interagindo-as e dando a elas novos significados.

    Em concordncia com o pensamento dos autores, alm do juzo de valores aplicado

    pelos jornalistas ao produzirem uma notcia, os leitores tambm aplicam esse valor ao se

    depararem com a notcia, podendo se identificar, contestar, ou at mesmo ficar indiferente

    perante as informaes que lhe esto sendo apresentadas. Isso tudo vai depender de seus

    interesses, da sua realidade, com o que realmente importa e faz sentido para cada um deles. O

    sentido produzido pelo texto interfere de maneira diferente em cada receptor dependendo de

    como ele se afeta pelo que lhe apresentado, e dependendo de suas vivncias pessoais.

  • 32

    Em seu capitulo intitulado Quando ler fazer, Eliseo Vern traz a semiologia dos

    anos 1980, que segundo ele uma semiologia capaz de integrar em sua teoria os efeitos de

    sentido, ou no ser, visto que somente ento que ela abarcar o conjunto de seu domnio

    (VERN, 2005, p. 215-216). Para o autor esse conjunto de domnio refere-se ao processo

    inicial na produo de sentido, chegando a consumao desse sentido, sendo que por meio

    da mensagem que a circulao social das significaes ocorrem. Ainda segundo Vern,

    O problema no simples, pois uma mensagem nunca produz automaticamente um

    efeito. Todo discurso desenha, ao contrrio, um campo de efeitos de sentido e no

    um nico efeito. A relao entre produo e a recepo (prefiro chamar esta de

    reconhecimento) complexa: nada de causalidade linear no universo do sentido. Ao

    mesmo tempo, um discurso dado no produz um efeito qualquer. A questo dos

    efeitos , portanto, incontornvel. (Vern, 2005, p. 216).

    O autor traz novamente o ponto das interpretaes, da relao produo-recepo, que

    depende do ponto de vista da pessoa que ir receber a mensagem, que considerada o

    caminho pelo qual passam os sentidos. Os efeitos que essa mensagem causar em seus

    receptores pode no ser nica, portanto, varia de receptor para receptor, conforme aspectos j

    abordados anteriormente, como as vivncias individuais e o intelecto de cada um.

    Nesse ponto chegamos at a maneira de se passar a mensagem, como que ela

    montada pelo seu produtor, a maneira como ela pensada para gerar sentido, esse o ponto

    que mais nos interessa dentro da proposta deste trabalho. Chegamos at outro conceito, o de

    enunciao. Para Vern (2005, p. 216), a enunciao diz respeito no ao que dito, mas ao

    dizer e suas modalidades, os modos de dizer. A enunciao tem muito a ver com o locutor, a

    maneira de dizer do locutor, as escolhas das palavras. A ordem das palavras tambm interfere

    no que dito, porm, isso considerado o enunciado, no enunciao. Vern traz um

    exemplo para diferenciar quando o sentido da frase muda pela enunciao ou pelo enunciado,

    Se compararmos duas frases: Pedro est doente e Creio que Pedro est doente, pode-se dizer que o enunciado idntico nos dois casos: o estado de doena

    atribudo como predicado a Pedro. Se essas duas frases so diferentes, elas so no

    no plano do enunciado, mas no plano da enunciao: na primeira o locutor afirma

    que Pedro est doente (podemos dizer: o enunciador apresenta a doena de Pedro

    como uma evidncia objetiva); na segunda, o locutor qualifica o que diz como uma

    crena e atribui a si esta ltima. (VERN, 2005, p. 216-217)

    Portanto, indo em concordncia com as ideias do autor, o locutor pode mudar o

  • 33

    sentido da frase de acordo com as palavras escolhidas e em detrimento da mensagem que

    busca passar. Segundo Vern, essa distino entre o enunciado e a enunciao perfeitamente

    aplicvel aos discursos da mdia impressa. Todo suporte de imprensa contm seu dispositivo

    de enunciao: este ltimo pode ser coerente ou incoerente, estvel ou instvel, adaptado a

    seus leitores ou mais ou menos inadaptado, (Vern, 2005, p. 218). O autor chama esse

    dispositivo de enunciao de contrato de leitura.

    A proposta deste trabalho no analisar qual o contrato de leitura que o jornal Folha

    de So Paulo possui com seus leitores, por exemplo, um dilogo mais intimista, se inserindo

    no texto, ou mais objetivo e distante. Porm, o dispositivo de enunciao enquanto produtor

    de sentido no texto, como a escolha das palavras e o sentido que essas palavras formam dentro

    de um contexto, importante dentro da proposta desta monografia.

    Em tpicos anteriores j foi explicado como a produo de sentido se da no

    fotojornalismo e agora no texto. O que buscamos a partir deste momento compreender a

    forma de como essa produo de sentido interliga o texto e a fotografia e geram sentido e, nas

    fotografias estudadas, que elementos usam para remeter a rea de atuao das empresas que

    os empresrios esto representando na foto e texto.

  • 34

    3. METODOLOGIA

    Neste captulo, vamos explanar mais detalhadamente o corpus do trabalho, o porqu

    de sua escolha e a maneira como ele ser analisado posteriormente. No captulo anterior

    procuramos explorar algumas especificidades do campo jornalstico e, dentro dele, a

    fotografia e o texto, atravs de levantamento bibliogrfico. Tambm, foi abordada a produo

    de sentido e como ela se d na comunicao, para que entendssemos a ligao entre esses

    trs tpicos: fotojornalismo, texto e produo de sentido e, desta maneira, pudssemos

    analisar o corpus desse trabalho. Na metodologia, enternderemos de que maneira estas teorias

    vo nos auxiliar para analisarmos as fotografias e textos posteriormente.

    A escolha do tema desta monografia deu-se, em um primeiro momento, pelo meu

    interesse na rea de fotografia, mais especificamente o fotojornalismo. Logo no segundo

    semestre de faculdade comecei a participar no Ncleo de Fotografia e Memria dos cursos de

    Jornalismo e Publicidade e Propaganda da Unifra, no qual fiquei durante um ano e meio.

    Nesse tempo meu interesse pela rea do fotojornalismo aumentou. Aps sair do

    ncleo, comecei meu primeiro estgio fora da faculdade, na Cmara de Comrcio Indstria e

    Servios de Santa Maria Cacism, que teve grande contribuio na escolha do veculo de

    estudo deste trabalho. A deciso pela Folha de So Paulo, e mais precisamente a folha B2 do

    caderno Mercado, foi devido a este primeiro estgio fora da faculdade, pois nele precisava

    acompanhar diariamente as notcias deste caderno.

    Durante o tempo que permaneci na Cacism, pouco mais de um ano, pude perceber a

    importncia que o jornal atribuiu s suas fotografias e a preocupao de expor boas fotos aos

    seus leitores. Pela Cacism tratar mais especificamente de assuntos econmicos, o interesse era

    mais voltado ao caderno Mercado, do qual eu era a responsvel pela seleo das notcias

    enviadas aos associados da entidade. As fotografias da pgina B2 deste caderno me chamaram

    a ateno pela criatividade e recursos usados pelos fotgrafos, tais como, luz, cores, reflexos,

    etc. As fotos eram sempre de algum empresrio - ou em alguns casos, mais de um que iria

    abrir uma empresa, ou filial, ou fazer grandes investimentos. Mas elas no so apenas fotos

    posadas de um desses empresrios, mas eles representando sua empresa de alguma maneira

    diferente, muitas vezes at divertida. Isso pode ser observado tambm nos ttulos e textos. Os

    ttulos, em sua maioria, buscam transmitir de uma forma diferente o ramo da empresa, ou a

    investimentos, dependendo do teor da matria. Por esse motivo o texto tambm precisa ser

  • 35

    analisado, para a compreenso e que se trata a empresa e qual o futuro dela, segundo a

    matria.

    Podemos tomar como exemplo a fotografia do dia 27 de maro de 2001, onde est o

    empresrio Pedro Janot, presidente da companhia area Azul Linhas Areas, que aumentou

    sua participao dos embarques de alguns aeroportos.

    EXEMPLO DE FOTO

    Exemplo de foto: Cu de brigadeiro no interior. Publicada na edio de 27 de maro de 2011.

    Crditos: Silvia Zamboni / Folhapress

    A fotografia poderia ser ele em seu escritrio, sentado em sua cadeira, olhando para a

    cmera, representando, talvez, um empresrio srio. Porm, essa fotografia no teria tanto

    impacto como este mesmo empresrio em sua cadeira, brincando com um avio de brinquedo

    e sorrindo, como ele realmente foi mostrado na foto da pgina B2. Desta maneira, o fotgrafo

    conseguiu mostrar um empresrio bem sucedido, com um sorriso no rosto, pois seus negcios

    esto aumentando. Lima (1988), fala sobre a importncia dos gestos para passar a mensagem

  • 36

    desejada em uma fotografia,

    Os gestos funcionam como indicadores para as diversas emoes do ser humano,

    alm de poder dizer sobre a origem tnica de uma pessoa ou de um grupo de

    pessoas, como pode mostrar o estilo pessoal de um indivduo. [...] Em certos

    momentos, os gestos completam o que no ficou muito definido na mensagem

    verbal, e, na maioria dos casos, eles revelam as emoes. a que o fotgrafo entra,

    no no momento em que a mensagem est sonoramente sendo transmitida, mas sim

    no instante em que ela est sendo visualmente passada. (LIMA, 1988, p.110-111).

    Mas, como j foi tratado no captulo anterior, nosso corpus de estudo abrange mais

    que a fotografia, tambm inclui o texto. Nestas observaes prvias notei que o texto buscava

    remeter a rea da empresa, juntamente com a foto. Por exemplo, o texto que acompanhava a

    foto mencionada acima tinha como ttulo: Cu de brigadeiro no interior. A expresso cu de

    brigadeiro remete a um cu limpo, sem nuvens, com tima visibilidade, o que muito bom

    para voos. Junto com no interior, pois a empresa estava se expandindo justamente em

    cidades do interior de So Paulo. So estes artifcios da lngua e a da imagem que queremos

    analisar para entendermos os sentidos que os dois produzem juntos.

    Para compreendermos o que a fotografia quer passar precisamos tambm compreender

    em que contexto ela se encontra, o que o texto nos diz sobre aquele empresrio e ramo de

    negcio. No h exageros quando o autor Jorge Pedro Sousa afirma a no existncia do

    fotojornalismo sem texto. A foto jornalstica pode passar uma informao, mas o conjunto

    de foto e texto que vai contextualizar a fotografia dentro do proposto por ela. [...] quando se

    fala de fotojornalismo no se fala exclusivamente de fotografia (SOUSA, 2004, p. 12) e, por

    isso deu-se a necessidade de analisarmos no apenas a fotografia, mas tambm o texto dentro

    da nossa proposta. O texto dentro da pgina B2 traz sempre essas caractersitcas, de mostrar

    aos leitores aquela empresa e algum representante dela e qual o seu futuro, abrir uma filial,

    fazer novas investimentos, etc. Foi esta curiosidade que levou ao corpus de estudo deste

    trabalho ser o jornal Folha de So Paulo, caderno Mercado aberto, pgina B2.

    O jornal de So Paulo fechou o ano de 2010 como o segundo maior jornal do Brasil

    em termo de circulao paga, segundo dados da Associao Nacional de Jornais (ANJ). Ele

    obteve essa colocao com uma mdia de mais de 294 mil exemplares, abaixo apenas do

    jornal Super Notcia, de Minas Gerais, sendo que de 2002 a 2009 a Folha de So Paulo estava

    em primeiro lugar nas vendas.

    O caderno Mercado a parte que aborda a economia de So Paulo e do Brasil, e a

  • 37

    parte analisada neste trabalho a pgina B2 Mercado Aberto, com nfase nas fotografias de

    empresrios e o texto que as acompanha. Nelas h o uso de elementos da linguagem

    fotografia, como profundidade, luz, esteticismo, etc. Foi dai que surgiu a curiosidade e o

    problema deste trabalho, como que esses fotgrafos, atravs desses elementos conseguiam

    atribuir sentidos que interligam essas fotografias ao texto, e ao ramo que a empresa atua?

    Durante o meu estgio na Cacism no ano de 2010 e parte de 2011, selecionei algumas

    edies do caderno Mercado Aberto. Dessa seleo, foram escolhidas quatro fotografias para

    compor o corpus de analise desta pesquisa, junto com os textos que as acompanham. A

    escolha dessas quatro fotos teve como critrio os elementos da linguagem fotogrfica comuns

    a elas, buscando em cada foto a representao de um ou mais desses elementos, sendo que em

    cada uma delas o elemento principal se diferencie. Esta escolha tem como intuito

    compreender de que maneira diferentes elementos fotogrficos podem produzir sentidos junto

    com o ttulo e texto. As fotografias escolhidas tm como ttulos: Novelo de Teseu, do dia 18

    de fevereiro de 2011; Ampliao, do dia 4 de maro de 2011; Metal Lquido, do dia 9 de

    maro de 2011 e Pontuao Nacional, do dia 14 de abril de 2011. Cabe aqui ressaltar a ideia

    da autora Rosrio (2006, p.51), a qual afirma que,

    Mesmo considerando o emprenho na sistematizao, na objetividade e na

    operacionalidade da seleo do corpus e da proposta de anlise, deve-se esclarecer

    que esse processo vai ser sempre atravessado pela capacidade de avaliao e

    discernimento do pesquisador em relao aos fragmentos mais adequados e

    propcios, bem como aos elementos a serem marcados e explicados na descrio.

    Visto isso, podemos partir para o modo com que as fotografias e textos sero

    analisados. Em um primeiro momento, devem ser observados, conforme as fotografias

    escolhidas, quais os tipos de linguagem utilizadas, dentro dos critrios expostos pelo autor

    Jorge Pedro Sousa, explanados no primeiro captulo, como: texto, enquadramento, planos e

    composio, a cor, a profundidade de campo, a iluminao, o movimento, a fotogenia, o

    esteticismo e a pose sendo que estes trs ltimos so processos de conotao barthesianos.

    A partir dai ser necessrio compreender o que aquele elemento busca representar na foto.

    Para que isso acontea necessrio compreender tambm o que o texto pretende passar,

    conforme sua enunciao, a escolhas das palavras que so utilizadas para representar a

    empresa e o empresrio. preciso compreender qual o jogo entre fotografia e texto.

    Analisado isso, em um segundo momento necessrio retomar o que Vern fala sobre

    produo de sentido, para verificar se h a inteno de gerar sentidos entre esses meios de

  • 38

    informar texto e foto. Ser analisado conforme os elementos da linguagem fotogrfica e a

    enunciao presente no ttulo e texto da matria, quais os sentidos que eles buscam

    produzir juntos.

    Para que essas etapas sejam seguidas, a linha terica utilizada para a anlise a

    semiologia, pois atravs dela buscamos a compreenso dos sentidos dos elementos

    encontrados na fotografia e texto jornalsticos. Para isso, vamos nos utilizar de fragmentos da

    obra de Vern (1980), que remetem aos modos de produo da notcia e sua compreenso a

    cerca da semiologia. Em sua obra, o terico divide a produo de sentido no cientificismo

    semiolgico em duas partes: os processos de produo e as condies de produo. Vern

    define os processos de produo como um conjunto de operaes de investimento do sentido

    nas matrias significantes (VERN, 1980, p. 82), j as condies de produo como o

    conjunto de determinaes que definem a posio social dos produtores dos discursos

    (VERN, 1980, p. 81).

    Conforme j vimos no captulo anterior, Vern (1980) trabalha com a ideia de que a

    pertinncia semiolgica no vem das matrias em si, mas sim pelos discursos sociais, pelas

    operaes de investimento do sentido (VERN, 1980, p. 76). O processo de produo dos

    discursos tambm se da nessa mesma importncia, pois ele encontrado desde a formao de

    um texto jornalstico, por exemplo, at o momento que sai de uma redao e passa para as

    mos e julgamento da sociedade. Nesse processo tambm depositado certo sentido, seja o da

    empresa jornalstica e suas possveis ideologias, da subjetividade do jornalista ou das

    interpretaes do receptor. Esses depsitos de sentidos esto no apenas em textos, mas

    tambm em imagens, sons - tom de voz, escolhas de trilhas e nas interligaes desses

    discursos. Segundo Vern (1980, p. 105),

    Na superfcie do social, defrontamo-nos, de fato, com feixes textuais, com conjuntos, na maioria, compostos por uma pluralidade de matrias significantes:

    escrita-imagem; escrita-imagem-som; imagem-fala etc. So textos, termo que para

    ns no se restringe escrita.

    Para o desenvolvimento da anlise do nosso trabalho o que importa o feixe escrita-

    imagem dentro do discurso jornalstico, tentar identificar quais as marcas deixadas no texto

    e na fotografia para produzir sentido dentro de determinado contexto. Conforme o

    pensamento de Mouilland,

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    O pr em visibilidade no constitui apenas um ser ou um fazer; no simplesmente

    infinito, contm modalidades do poder e do dever. Indica um possvel, um duplo

    sentido da capacidade e da autorizao. A informao o que possvel e o que

    legtimo mostrar, mas tambm o que devemos saber, o que est marcado para ser

    percebido (sinais em uma estrada nos assinalam que devemos prestar ateno s

    montanhas da Ardche ou paisagem de Auxerrois). (MOUILLAND, 2005, p.38).

    Um texto e uma fotografia tm a inteno primeira de passar informaes para seus

    leitores, porm, a interpretaes dessas informaes se do conforme a compreenso de cada

    pessoa. Normalmente um leitor percebe a mensagem superficialmente e sente-se satisfeito,

    mas uma foto e um texto podem representar muito mais coisas se forem analisados. Para

    Sousa (2004, p.81) a presena da representao de determinados objetos numa imagem

    fotogrfica contribui para a construo de sentidos para essa fotografia. Os objetos de uma

    imagem, assim como os elementos da linguagem fotogrfica - j estabelecidos anteriormente -

    produzem sentido em uma fotografia. Um objeto aparentemente que causa apenas esttica na

    imagem, pode estar querendo passar mais que isso, e para perceber suas representaes

    preciso analis-las com mais cuidado. Assim, tambm podemos considerar o texto

    jornalstico, mais que simples palavras que se encaixam para transmitir informaes, elas

    representam e passam sentidos. As palavras podem ter mais de uma interpretao, o seu

    sentido litera