FRANCO, Augusto - Como se tornar um netweaver (Versão completa)

download FRANCO, Augusto - Como se tornar um netweaver (Versão completa)

of 52

Transcript of FRANCO, Augusto - Como se tornar um netweaver (Versão completa)

  • 8/2/2019 FRANCO, Augusto - Como se tornar um netweaver (Verso completa)

    1/52

    A U G U S T O D E F R A N C OVida humana e convivncia social nos novos

    mundos altamente conectados do terceiro milnio

    COMO SE TORNARUM NETWEAVER

  • 8/2/2019 FRANCO, Augusto - Como se tornar um netweaver (Verso completa)

    2/52

    2

  • 8/2/2019 FRANCO, Augusto - Como se tornar um netweaver (Verso completa)

    3/52

    3

    Vida humana e convivncia social nos novos

    mundos altamente conectados do terceiro milnio

    COMO SE TORNARUMNETWEAVER

  • 8/2/2019 FRANCO, Augusto - Como se tornar um netweaver (Verso completa)

    4/52

    4

  • 8/2/2019 FRANCO, Augusto - Como se tornar um netweaver (Verso completa)

    5/52

    5

  • 8/2/2019 FRANCO, Augusto - Como se tornar um netweaver (Verso completa)

    6/52

    6

    Fluzz: vida humana e convivncia social nos novos mundos altamenteconectados do terceiro milnio | COMO SE TORNAR UM NETWEAVER

    Augusto de Franco, 2012.

    Sem reviso.

    A verso preliminar digital integral desta obra disponvel emhttp://goo.gl/NA5xt foi entregue ao Domnio Pblico, editada com o seloEscola-de-Redes por deciso unilateral do autor.

    Domnio Pblico, neste caso, significa que no h, em relao a versodigital desta obra, nenhum direito reservado e protegido, a no ser o direitomoral de o autor ser reconhecido pela sua criao. permitida a suareproduo total ou parcial, por quaisquer meios, sem autorizao prvia.Assim, a verso digital desta obra pode ser na sua forma original oumodificada copiada, impressa, editada, publicada e distribuda com finslucrativos (vendida) ou sem fins lucrativos. S no pode ser omitida aautoria da verso original.

    FRANCO, Augusto de

    Fluzz: vida humana e convivncia social nos novos mundos altamenteconectados do terceiro milnio | COMO SE TORNAR UM NETWEAVER /Augusto de Franco. So Paulo: 2012.

    52 p. A4 (Escola de Redes; 5)

    1. Redes sociais. 2. Sociedade. 3. Escola de Redes. I. Ttulo.

    Escola-de-Redes uma rede de pessoas dedicadas investigao sobreredes sociais e criao e transferncia de tecnologias de netweaving.

    http://escoladeredes.ning.com

    http://goo.gl/NA5xthttp://goo.gl/NA5xthttp://escoladeredes.ning.com/http://escoladeredes.ning.com/http://goo.gl/NA5xt
  • 8/2/2019 FRANCO, Augusto - Como se tornar um netweaver (Verso completa)

    7/52

    7

    AApprreesseennttaaoo

    FLUZZ NASCEU A PARTIR DE REFLEXES INTERMITENTES do autordurante a ltima dcada. Talvez tenha surgido do espanto com apalavra Entidade, tal como foi usada com maiscula por JaneJacobs (1961), em Morte e Vida das Grandes Cidades Americanas:As inter-relaes que permitem o funcionamento de um distritocomo uma Entidade no so nem vagas nem misteriosas. Consistem

    em relacionamentos vivos entre pessoas...Difcil saber agora, quasecinco anos aps sua morte, tudo que ela queria realmente dizer comEntidade (com maiscula) e relacionamentos vivos (que parece serdiferente de relacionamentoentre vivos). De qualquer modo, isso foiinterpretado aqui como viver a convivncia. Quando vivemos nossaconvivncia (social) produzimos um novo tipo de vida (humana). Esta a idia bsica.

    Tal como as reflexes que o originaram, este um livro que se

    repete. Vrias partes repisam o que j foi dito em partes anteriores.Quem no est preparado para a redundncia pode ficar incomodadocom o estilo recursivo do texto. Uma explicao para isso, baseadano tipo de interao chamado cloning, est na Introduo intituladaTudo fluzz. Mas essa explicao, provavelmente, no ser suficientediante da cultura, ainda predominante, da escassez.

    Muitos tpicos inseridos aqui foram escritos com outros propsitos,em pocas e circunstncias diversas. Alguns, inclusive, j foram

    publicados como artigos autnomos ou fizeram parte de outros livrosdo autor. Isso tambm redundncia.

    Quando uma parte do material aqui contido foi escrita pela primeiravez, no havia surgido a idia de fluzz. Depois que tal idia surgiu,surgiu tambm a impresso de que tudo o que j estava escrito,havia sido escrito como prefigurao. Fluzz apenas consumou.

    A palavra fluzz nasceu de uma conversa informal do autor, no incio

    de 2010, com Marcelo Estraviz, sobre o Buzz do Google. O autor

  • 8/2/2019 FRANCO, Augusto - Como se tornar um netweaver (Verso completa)

    8/52

    8

    observava que Buzz no captava adequadamente o fluxo daconversao, argumentando que era necessrio criar outro tipo deplataforma (i-basede nop-based). Marcelo Estraviz respondeu com

    a interjeio fluzz, na ocasio mais como uma brincadeira, paratentar traduzir a idia de Buzz+fluxo. Ulteriormente a idia foidesenvolvida e recebeu outros significados, que no tm muito a vercom o programa mal-sucedido do Google, como se pode ver nestelivro.

    O livro original, publicado em formato digital no incio de 2011, foifragmentado em vrias partes autnomas, no estilo shortbook oubooklet (contendo em mdia, 20 mil palavras). Este o segundo

    volume da srie, intitulado Fluzz: como se tornar um netweaver.

  • 8/2/2019 FRANCO, Augusto - Como se tornar um netweaver (Verso completa)

    9/52

    9

    SSuummrriioo

    Apresentao

    Mentiras pregadas em nome da cincia | Os sobreviventes no soselecionados por seu sucesso evolutivo

    Os indicadores de sucesso | Destacar-se dos demais, triunfar, vencer

    na vida, subir ao pdio onde cabem apenas alguns poucos

    Hubs | Qualquer iniciativa na rede social que no conte com seusprincipais hubs encontrar mais dificuldades para conversar com arede-me

    Inovadores | Em mundos altamente conectados um inovador tambmtende a cumprir um papel social mais relevante do que o doscolecionadores de diplomas

    Netweavers | Todas as pessoas tm uma poro-netweaver. Se nofosse assim, no poderiam ser seres polticos

    Netweaver howto | H dez anos Eric Raymond concluiu a ltimaverso do seu H4ck3r Howto. Entrando em uma poca-fluzz, vamosprecisar de um N3tw34v3r Howto

    Eles j esto entre ns | Nos Highly Connected Worlds o que vale so

    suas antenas

    Notas e referncias

  • 8/2/2019 FRANCO, Augusto - Como se tornar um netweaver (Verso completa)

    10/52

    10

  • 8/2/2019 FRANCO, Augusto - Como se tornar um netweaver (Verso completa)

    11/52

    11

    Como se tornar um netweaver

    Os hermticos iro perdendo terreno,ou se linkaro a outros hermticos e ento tudo bem.

    Os velhos iro perdendo o terreno.

    Ou se linkaro com outros velhos, s por prazer.Tudo isso est fluindoe para que mude o paradigma falta pouco.

    uma revoluo silenciosa e divertida.E sub-corporativa, deliciosamente catica, enredada,

    sinptica, no linear, no metdica.Marcelo Estraviz em A linkania e o religare (2001)

    Sem dvida, bebidas alcolicas, tabaco etc.so coisas que um santo deve evitar,mas santidade tambm algo que os seres humanos devem evitar.

    George Orwell em Reflexes sobre Gandhi (1948)

  • 8/2/2019 FRANCO, Augusto - Como se tornar um netweaver (Verso completa)

    12/52

    12

    A resilincia das velhas funes, agenciadoras de um tipo demundo (erigido para exterminar outros mundos) que teima emno desaparecer, no est conseguindo impedir o surgimentode novos papis sociais que antecipam uma nova poca.

    Caminhando fora dos trilhos estabelecidos, emergem a cada dianovos atores do mundo glocalizado. Sim, eles j esto entrens. No so conhecidos porquanto no so pessoas queficaram famosas segundo o que at ento era consideradoindicador de sucesso: pelo seu poder, pela sua riqueza ou peloseu conhecimento atestado por ttulos. Quem so? Ora so osmltiplos annimos conectados, habitantes de uma diversidadeincrvel de Highly Connected Worlds, que no foram produzidos

    por broadcasting. So como aquele personagem do romanceDistraction de Bruce Sterling (1998) que, para se identificar,afirmou: No temos razes. Somos pessoas da rede. Temosantenas.

    Tais papis inditos que esto sendo produzidos pela (ou em)rede so tambm mltiplos. Por enquanto s conseguimosdivisar alguns. Trs exemplos marcantes so os hubs, osinovadores e os netweavers.

    OS PRINCIPAIS INDICADORES DE SUCESSO do mundo hierrquico,no dealbar do sculo 21, ainda so a fama, o conhecimento atestadopor ttulos, a riqueza e o poder.

    A fama parece ser o principal indicador. Quem colecionou muitosdiplomas, acumulou riqueza ou conseguiu deter em suas mos algum

    poder de mandar nos outros, no se sentir plenamente bem-

  • 8/2/2019 FRANCO, Augusto - Como se tornar um netweaver (Verso completa)

    13/52

    13

    sucedido se no for conhecido por muita gente ou, pelo menos, poruma parcela pondervel de seus pares.

    Como critrio de sucesso, a fama inquestionvel, indiscutvelmesmo. Se voc virou uma celebridade, sinal de que progrediu navida. Deixou de ser qualquer um. Destacou-se e continuar sendodestacado. Merecer tratamento especial aonde for. No entrar nafila. No receber senhas. O maitre logo lhe arranjar uma mesa,mesmo que o restaurante esteja lotado. No ficar aguardandoatendimento nos bancos das reparties pblicas ou nos sofs dasantesalas das organizaes. E todos o observaro com admirao,alguns deixaro escapar suspiros sua passagem, muitos o

    cumprimentaro como se o conhecessem de longa data; outros, maisafoitos, lhe pediro autgrafos ou imploraro sua licena para tiraruma foto ao seu lado.

    Mas a fama no necessariamente um prmio pelo talento e sim oresultado direto da exposio em algum meio de comunicaocentralizado, do tipo broadcasting (de mo nica, um-para-muitos).Qualquer pessoa que aparece regularmente na televiso (no importase apresentando um noticirio ou um programa de auditrio ou

    atuando em uma novela) fica famosa. Qualquer pessoa que atua comcerto protagonismo em um filme fica famosa. Qualquer pessoa queescreve durante algum tempo em um grande jornal ou revista ficafamosa.

    Artistas, desportistas e at cientistas s ficam famosos porque sotransmitidos por broadcasting (do contrrio ningum os reconheceriana rua). Mesmo os grandes teatros, estdios e auditrios deconferncias, nos quais um visto por muitos, j so uma forma de

    broadcasting (conquanto no permitam uma visualizao tomassiva).

    O mesmo ocorre com quem acumulou riqueza ou detm algum cargode poder. Mesmo estes fazem certo esforo financeiro para sair narevista Caras ou nas chamadas colunas sociais. Por qu? Ora, porqueesto fazendo sucesso, esto seguindo os conselhos da mame parase destacar dos demais. Encaram isso como um investimento, poisaprenderam desde pequenos que s possvel fazer negcios

    comerciais ou polticos a partir de relacionamentos ( isso que a

  • 8/2/2019 FRANCO, Augusto - Como se tornar um netweaver (Verso completa)

    14/52

    14

    ridcula literatura empresarial mais recente chama de networking).Aprenderam que preciso ser conhecido como algum que sedestacou dos demais para ser includo nos crculos de

    relacionamentos daqueles que se destacaram dos demais (porquetm fama, riqueza ou poder). Esto apenas pagando a jia, o preopara entrar no clube. E a partir da podem at ostentar algunsdistintivos dos bem-sucedidos, como fumar charutos e jogar golfe.

    Quando questionadas, as pessoas que acreditam nesse tipo de coisa e so muitas costumam dizer que a vida assim mesmo. umaluta. E que preciso vencer na vida: bah! A expresso,convenhamos, muito escrota: vencer quem? Por acaso estamos em

    uma guerra?

    O problema que estamos. E a, como se diz, tudo sacrificado emnome da vitria, a comear pela verdade.

  • 8/2/2019 FRANCO, Augusto - Como se tornar um netweaver (Verso completa)

    15/52

    15

    Mentiras pregadas em nome da cincia

    Os sobreviventes no so selecionados por seu sucesso evolutivo

    PARA DIFUNDIR A IDIA DE QUE A VIDA uma guerra permanenterecorre-se mentira. Para legitimar essa mentira alguns dizem queno somente a vida humana assim, mas a vida em geral. E a doos exemplos mais furados, supostamente embasados na biologia daevoluo, de que sempre vence o mais forte ou o mais esperto e que

    a natureza seleciona os sobreviventes por seu sucesso. Essa crena,entretanto, nada tem de cientfica. Como escreveu a notvel bilogaLynn Margulis (1998), no que os sobreviventes sejamselecionados por seu sucesso, mas sim que os seres que noconseguem reproduzir-se antes de morrer so excludos por seleo(1). Simples assim. Quase (tauto)lgico. Ou seja, a natureza nopremia apenas alguns, os mais destacados. E no h nada como umaluta pela vida nos cinco reinos de organismos vivos nem no reinodas bactrias, nem no dos protoctistas (como as amebas e conchas),nem no dos fungos (como os cogumelos), nem no das plantas, nemno dos animais com uma nica exceo: os humanos.

    O problema com essas leituras ideolgicas do darwinismo (e com oprprio darwinismo) que, em algum momento do passado,projetamos sobre a natureza a competio que observamos nosmercados (e na poltica autocrtica a eles associada) na antessala donascente capitalismo concorrencial europeu (sobretudo o ingls). Jse disse sobre isso que selvagem no era bem a selva, mas aconcorrncia nesse capitalismo inaugural (que, alis, foi chamado,no por acaso, de capitalismo selvagem) e que a lei da selva nosaiu propriamente da selva para a sociedade sob o influxo dessemercado nada-livre, mas, ao contrrio, da segunda para a primeira.

    Capitalismo, ao contrrio do que se pensa, no livre mercado. Nasua origem e em grande parte do seu desenvolvimento, ele foi como j dissemos e repetimos aqui uma espcie de conbio entre

    empresas monrquicas e Estado autocrtico hobbesiano (de l para

  • 8/2/2019 FRANCO, Augusto - Como se tornar um netweaver (Verso completa)

    16/52

    16

    c, o Estado se democratizou um pouco, porm as empresas emsua maioria continuaram monrquicas, mas isso no vem ao casoagora). O fato que, independentemente das atuais leituras do

    darwinismo urdidas para legitimar a idia de sucesso competitivo-excludente, o darwinismo foi capturado por uma corrente depensamento hobbesiana e transformado, desde o princpio, emdarwinismo social.

    Como percebeu com argcia Matt Ridley (1996), Thomas Hobbes foio antepassado intelectual de Charles Darwin em linha direta (2).Segundo Hobbes (que tantos citam e poucos leem) na falta de umpoder que domestique ou apazigue os homens, no h sociedade; e

    o que pior do que tudo, [h] um medo contnuo e perigo de morteviolenta. E a vida do homem solitria, miservel, srdida, brutal ecurta (3). E isso ocorre, segundo ele, no por razes culturais, queemanassem da forma como a sociedade se organiza, mas intrnsecas:uma espcie de inclinao gentica e Hobbes (1651) s no disseisso porquanto Mendel (1864) ainda no havia nascido. Sim, foiexatamente o que ele escreveu, sem meias-palavras, no famosocaptulo XIII do Leviat: Na natureza do homem encontramos trscausas principais de discrdia. Primeiro, a competio; segundo, a

    desconfiana; e terceiro, a glria (4). Para ele o egosmo e seus badfeelings acompanhantes (como a desconfiana) no eram culturais,mas tinham sua origem na prpria natureza humana (seja l o queisso for).

    Muito tempo depois surgiu toda uma linhagem de taradosindividualistas mais intelectualizados (como Ayn Rand e Ludwig vonMises) construindo suas ortodoxias com base nesse pressupostometafsico, segundo o qual o homem inerentemente competitivo,

    que o egosmo a fora motriz da criatividade e que a cooperao eo altrusmo so um atraso de vida. Trata-se, claro, de umaimpostura antropolgica que no pode ser justificada pela cincia.Mas muitos com estruturas mentais um pouco mais simples do queRand e von Mises ainda tentam embas-la com hipteses cientficaspara aumentar-lhe a verossimilhana. Dizem ento que basta olhar ocomportamento dos outros seres vivos para perceber que essa aordem natural das coisas.

  • 8/2/2019 FRANCO, Augusto - Como se tornar um netweaver (Verso completa)

    17/52

    17

    E citam exemplos. As abelhas tm sua rainha. Os formigueiros tmseus chefes. Os pssaros que voam em bando seguem sempre o seulder. Ou seja, por toda parte que se olhe, sempre h os que dirigem

    e os que so dirigidos. E os que dirigem foram os que conseguiram sedestacar dos demais, por serem mais bem-dotados (!), mais capazesde desenvolver suas prprias potencialidades como indivduos e,sobretudo, mais aptos a enfrentar a luta pela vida saindo-sevitoriosos. Um leo protege o seu territrio (e suas fmeas)afugentando os outros lees na base de rugidos, patadas e mordidas.Em vrias espcies animais o macho-alfa impe seu domnio pelafora, pela destreza ou pela esperteza, batendo a concorrncia. E omais forte vence, fere, mata ou devora o mais fraco. Sim, a

    natureza, vermelha em dentes e em garras (5) como cantou o poetaTennyson (1849) no poema In Memorian A. H. H.

    De sorte que se disseminou a crena segundo a qual no mundohumano, semelhantemente ao que ocorre no mundo animal (e nosoutros reinos de organismos vivos), ter sucesso sempre se destacardos demais, venc-los, sobretudo em contextos em que h escassez tudo isso baseado no egosmo.

    Ora, se ter sucesso em condies de escassez (e dependendo domodo de olhar sempre encontraremos escassez de algum recurso emtoda parte) se destacar dos demais, isso significa que h umaeconomia poltica do sucesso, ou seja, a escassez precisa seradministrada. Se todos tivessem sucesso, cada qual naquilo querealiza de uma maneira peculiar (e que s ele pode realizar daquelamaneira), o sucesso no seria um prmio pela vitria. Vitria otriunfo em uma luta, aquele triunfo que recebiam os generaisromanos, atributo da sua glria, conquanto a glria (escoimada da

    ideologia que a acompanhava) no passasse de uma metfora para afama possvel naquela poca: no havia TV e os caras precisavamdesfilar em carro aberto com a coroa de louros nas praas e estdiospara serem vistos (e isso no deixava de ser uma difuso porbroadcasting, pois que um era visto por muitos).

    Mas essa escassez segundo a qual no pdio s cabem alguns gerada artificialmente pela construo de um pdio em que s cabemalguns. Eis o ponto! No precisava ser assim. Da mesma forma, no

    h nenhuma lei natural segundo a qual os jogos precisem ser, quase

  • 8/2/2019 FRANCO, Augusto - Como se tornar um netweaver (Verso completa)

    18/52

    18

    todos, baseados no padro perde-ganha; ou, como observou GeorgeOrwell (1945), como uma espcie de guerra sem mortes (6). Ainveno da escassez replica um padro piramidal de organizao:

    poucos em cima e muitos na base. Com aqueles degrauzinhosdispostos em diferentes nveis, os pdios so pirmides.

    Se as mentes simples que gostam de sacar exemplos do mundonatural se esforassem um pouco mais para acompanhar asdescobertas cientficas, veriam que no h pdios nos reinos deorganismos vivos (com exceo do humano). E no h porque no necessrio. H quatro bilhes de anos a vida vem trabalhando comredundncia (e, portanto, com abundncia): mesmo quando os

    recursos sobrevivenciais se esgotam para uma populao, a evoluocompensa essa (aparente) escassez desenvolvendo novas habilidadesna espcie atingida, novas sinergias entre vrias espcies e simbiosesentre espcies diferentes gerando novas espcies adaptadas scondies mutantes.

    O padro jamais o da luta, tal como ns, os humanos, aconcebemos. O padro jamais de competio, como a praticamos.No h nenhum triunfo e os indivduos de qualquer espcie no-

    humana, por mais que tenham conseguido superar grandesdificuldades para sobreviver ou se reproduzir, no desfilam em carroaberto como os generais romanos. Maturana j nos mostrou queanimais no-humanos no competem por alimentos, simplesmenteseguem seu impulso de se alimentar, no importando para nada seoutro exemplar da espcie ficou sem alimento; ou seja, no constitutiva da sua ao (nem da sua emoo, no caso dosmamferos), a diretiva de vencer o outro (no sendo essencial paraquem come o fato de que o outro deixe de comer) (7).

    Da mesma forma, no h liderana nos reinos de organismos (comexceo dos humanos, no reino animal). A abelha rainha no lideraas outras abelhas. As colnias de formigas no tm chefe (nemcoordenador, nem facilitador). Como escreveu a cientista DeborahGordon (1999) professora de cincias biolgicas em Stanford, quepesquisou durante 17 anos colnias de formigas no Arizona , omistrio bsico que cerca as colnias que nelas no hadministrao... No h nenhum controle central. Nenhum inseto d

    ordens a outro ou o instrui a fazer coisas de determinada maneira...

  • 8/2/2019 FRANCO, Augusto - Como se tornar um netweaver (Verso completa)

    19/52

    19

    De fato, no h entre elas lderes de qualquer espcie. E no h,ademais, qualquer programao gentica capaz de determinar umtipo de comportamento especializado em relao aos demais

    indivduos da espcie: as formigas no nascem para executar certatarefa; a funo de cada uma delas muda juntamente com ascondies que encontra, incluindo as atividades de outras formigas(8).

    Outra hiptese perversa, supostamente cientfica que tambm temsido instrumentalizada para legitimar a idia de sucesso competitivo-excludente a de que existe uma escala evolutiva segundo a qualalguns seres vivos seriam mais evoludos do que outros. E assim

    como o homem seria mais evoludo do que o macaco ou do que umafischerella (uma cyanobactria), assim tambm, entre os prpriosseres humanos, alguns seriam mais evoludos do que outros: ouseja, a evoluo natural se espelharia ou teria uma espcie decontinuidade em uma evoluo cultural (frequentemente chamada deespiritual) baseada em fatores naturais diferenciados (da asperverses que levaram alguns a justificar a superioridade do machobranco no comando: os caucasianos seriam superiores aos negros,amarelos e pardos, os machos seriam superiores s fmeas, os

    arianos seriam superiores s demais raas humanas e outrasbarbaridades).

    Nada disso! Novamente aqui Lynn Margulis (1998) que vem puxar aorelha dos impostores:

    Todas as espcies existentes so igualmente evoludas. Todosos seres vivos, desde a minscula bactria at o membro de umcomit do Congresso, evoluram do antigo ancestral comum que

    desenvolveu a autopoese e que, com isso, tornou-se a primeiraclula viva. A prpria realidade da sobrevivncia prova asuperioridade, j que todos descendemos de uma mesmaforma originria metabolizadora. A delicada exploso da vida,em uma sinuosa trajetria de quatro bilhes de anos at opresente, produziu-nos a todos (9).

  • 8/2/2019 FRANCO, Augusto - Como se tornar um netweaver (Verso completa)

    20/52

    20

    Os indicadores de sucesso

    Destacar-se dos demais, triunfar, vencer na vida, subir ao pdio onde

    cabem apenas alguns poucos

    MALCOLM GLADWELL (2008) escreveu um livro de quase trezentaspginas, intitulado Outliers, para chegar concluso que o outlier,no fim das contas, no est to a margem assim. Ou seja, os bem-sucedidos so frutos de uma constelao particularssima e

    imprevisvel de fatores, alguns conhecidos, outros desconhecidos.Como ele prprio escreve, advogados celebridades, prodgios damatemtica e empresrios de software parecem, primeira vista,estar fora da experincia comum. Mas no esto. Eles so produtosda histria, da comunidade, das oportunidades e dos legados. Seusucesso no excepcional nem misterioso. Baseia-se em uma redede vantagens e heranas, algumas merecidas; outras, no; algumasconquistadas, outras obtidas por pura sorte todas, porm, cruciaispara torn-los o que so (10).

    Sim, ele tem razo: nem excepcional, nem misterioso. No entanto, acombinao ideal, a frmula do sucesso desconhecida e varia deacordo com as condies de trajetria, tempo e lugar para cadaindivduo.

    Os mitos dos melhores e mais brilhantes e do self-made manafirmam que, para obtermos o mximo em potencial humano,basta identificarmos as pessoas mais promissoras. Olhamospara Bill Gates e dizemos, em um esprito deautocongratulao: Nosso mundo permitiu que aqueleadolescente de 13 anos se tornasse um empresriotremendamente bem-sucedido. Mas essa a lio errada. Omundo s deixou que uma pessoa de 13 anos tivesse acesso aum terminal de tempo compartilhado em 1968. Se um milhode adolescentes tivesse recebido uma oportunidade idntica,quantas outras Microsofts existiriam hoje? Quando

    compreendemos mal ou ignoramos as verdadeiras lies do

  • 8/2/2019 FRANCO, Augusto - Como se tornar um netweaver (Verso completa)

    21/52

    21

    sucesso, desperdiamos talentos... Agora multiplique essepotencial perdido por cada campo e profisso. O mundo poderiaser bem mais rico do que este em que nos acomodamos (11).

    No segundo captulo do livro, Gladwell conta a histria de Bill Gates,sublinhando o fato de que ele foi matriculado em uma escolaparticular que criou um clube de informtica. Essa escola especialinvestiu, em 1968, trs mil dlares na compra de um terminal detempo compartilhado ligado a um mainframe no centro de Seattle.Assim, Gates, quando ainda estava na oitava srie, passou a viverem uma sala de computador (20 a 30 horas por semana). De sorteque, quando deixou Harvard aps o segundo para criar sua prpria

    empresa de software, Gates vinha programando sem parar por seteanos consecutivos... Quantos adolescentes tiveram esse mesmo tipode experincia? o prprio Bill Gates que responde: Se existiram50 em todo mundo, eu me espantaria. Houve a C-Cubed e o trabalhopara a ISI com a folha de pagamento. Depois a TRW. Tudo isso veiojunto. Acredito que meu envolvimento com a criao de softwaresdurante a juventude foi maior do que o de qualquer outra pessoanaquele perodo, e tudo graas a uma srie incrivelmente favorvelde eventos(12).

    Todos os outliers que Gladwell analisou no livro foram favorecidospor alguma oportunidade incomum [como, no caso de Gates, estar naescola Lakeside em 1968]. Golpes de sorte no costumam serexceo entre bilionrios de software, celebridades de rock e astrosdos esportes. Pelo contrrio, parecem constituir a regra (13).

    Responsabilizar a sorte no acrescenta muito conhecimento sobre ofenmeno. Se continuarmos focalizando o indivduo, a equao no

    ter soluo. Ou melhor, no conseguiremos nem equacionar oproblema (j que soluo mesmo dificilmente haver), o que poderiaacrescentar, a sim, algum conhecimento novo. Mas Gladwell erra umpouco o alvo. No que tudo se baseia como ele diz, falandometaforicamente em uma rede de vantagens e heranas e simque tudo depende (muito mais do que pensamos) de uma redemesmo, de uma rede social propriamente dita. Quando ele afirmaque o sucesso dos bem-sucedidos no foi criado s por eles, mas foio produto do mundo onde cresceram, deixa de ver que esse mundo

    no o mundo fsico, nem o mundo como noo abstrata usada

  • 8/2/2019 FRANCO, Augusto - Como se tornar um netweaver (Verso completa)

    22/52

    22

    para designar a totalidade da existncia e sim o mundo social, querdizer, a rede social a que esto conectados seus outliers. Eis o erro:ver o indivduo e no ver a rede; ver a rvore, mas no ver a floresta

    (e sobretudo no ver a incrvel rede miceliana, o clone fngico queest por baixo da floresta e sem a qual ela no poderia existir); ver oorganismo vivo, mas no ver o ecossistema em que ele est inserido. a estrutura e o metabolismo da rede social que podem revelar ascondies para o papel mais ou menos relevante assumido, em cadatempo e lugar (ou seja, em cada cluster), pelos seus nodos.

    Em uma sociedade cuja topologia e dinmica se aproximam, cada vezmais, das de uma rede distribuda a chamada sociedade em rede,

    emergente nas ltimas dcadas isso ficar cada vez mais evidente.Os critrios de sucesso nesse tipo de sociedade tendem a deixar deser baseados em caractersticas puramente individuais e em noescompetitivo-excludentes (se destacar dos demais, triunfar, vencer navida, subir ao pdio onde cabem apenas alguns poucos) para passara ser funo de um corpo e de um metabolismo coletivos: a prpriarede.

    No se trata de coletivos indiferenciados, segundo uma velha

    perspectiva coletivista, prpria dos condutores de rebanhos (sejamditadores ou manipuladores de massas, de direita ou de esquerda,contra os quais os individualistas tm razo nas crticas que fazem) esim de arranjos de pessoas. A pessoa o indivduo conectado e que,portanto, no se constitui apenas como um on social vagando em ummeio gelatinoso e exibindo orgulhosamente suas caractersticasdistintivas e sim tambm como um entroncamento de fluxos, umaidentidade que se forma a partir da interao com outros indivduos.

    por isso que o tipo de educao que recebemos para nos destacardos semelhantes terrivelmente prejudicial em uma sociedade emrede, na qual esto abertas infinitas possibilidades de polinizaomtua e de fertilizao cruzada que impulsionam a inovao e odesenvolvimento pessoal e coletivo. Essa idia desastrosa,porquanto, sob sua influncia, desperdiamos as potencialidadescriativas e inovadoras das mltiplas parcerias e sinergias que orelacionamento horizontal entre as pessoas proporciona. Guiados porela, perdemos talentos, bloqueamos a dinamizao de inusitadas

    capacidades coletivas, matamos no embrio futuros gnios e

  • 8/2/2019 FRANCO, Augusto - Como se tornar um netweaver (Verso completa)

    23/52

    23

    exterminamos o mais precioso recurso para o desenvolvimento depessoas e comunidades: o capital social (que uma metfora,construda do ponto de vista dos recursos necessrios ao

    desenvolvimento, para designar nada mais do que a prpria redesocial).

    Assim, antes de qualquer coisa, tanto a idia quanto a prpriapalavra sucesso devero ser abolidas. Trata-se agora, outrossim, dereconhecerpapeis relevantes.

  • 8/2/2019 FRANCO, Augusto - Como se tornar um netweaver (Verso completa)

    24/52

    24

    Hubs

    Qualquer iniciativa na rede social que no conte com seus principais

    hubs encontrar mais dificuldades para conversar com a rede-me

    DENTRE OS NOVOS PAPIS relevantes em uma sociedade em rede omais evidente o hub. Todas as pessoas so hubs ou tm umaporo-hub. Sem tal caracterstica no poderamos ser humanos,quer dizer, no seramos pessoas porque no poderamos interagir

    com outras pessoas. No entanto, se olharmos o aglomerado da redesocial em que esto conectadas, algumas pessoas nem sempre asmesmas em todas as situaes desempenham o papel social dehubsstricto sensu.

    Os hubs como a palavra est dizendo so os conectores, os nodosda rede social muito conectados, so os entroncamentos de fluxos.Um hub no necessariamente algum com grande popularidade ounotoriedade e sim algum com muitas relaes, que pode acessar e ser acessado por outros nodos com baixo grau de separao.Quando uma pessoa perde sua poro-hub, provavelmente algumapatologia psquica nela vai se manifestar, como veremos maisadiante soe acontecer com os muito famosos.

    No a fama que faz um hub. Pessoas famosas, celebridades,costumam ser, em geral, inacessveis. No so, portanto, conectores.Qualquer iniciativa na rede social que no conte com seus principaishubs encontrar mais dificuldades para conversar com a rede-me(que uma metfora para designar o acesso ao mundo social,sempre oculto, j que no aparece como objeto porquantofractalizado e em fluio, quer dizer, sendo criado a cada instante).

    Tambm no o conhecimento que faz um hub, a no ser que sequeira relacion-lo ao conhecimento das pessoas, quer dizer, aoscontatos de confiana. s vezes um hub o chaveiro do bairro, emquem as pessoas confiam que sua segurana residencial no ser

    colocada em risco e aqui evocada uma imagem do filme The

  • 8/2/2019 FRANCO, Augusto - Como se tornar um netweaver (Verso completa)

    25/52

    25

    Matrix: aquele O Chaveiro, interpretado pelo ator Randall Duk Kim,era um programa confivel; um hub, de certo modo, tambm umprograma que roda na rede. Tocou-se agora em um ponto

    importante da dinmica das redes: confiana. Para que um hub possacumprir sua funo necessrio que as pessoas confiem nele.

    Em vez de conhecimento individual, um hub precisa doreconhecimento social. Trata-se de um reconhecimento diferentedaquele que se manifesta em relao a uma celebridade: no umreconhecimento das massas, do grande pblico, das multides e simo reconhecimento realizado um a um, molecular. Assim, pode-sedizer que o hub produzido socialmente pela rede.

    Em mundos altamente conectados um hub tende a cumprir um papelsocialmente mais relevante do que os que colecionaram muitos ttulosacadmicos, acumularam muita riqueza ou conquistaram muitopoder.

  • 8/2/2019 FRANCO, Augusto - Como se tornar um netweaver (Verso completa)

    26/52

    26

    Inovadores

    Em mundos altamente conectados um inovador tende a cumprir um

    papel social mais relevante do que o dos colecionadores de diplomas

    A RIGOR E EM UM SENTIDO GERAL todas as pessoas soinovadoras. Se no fossem, se no tivessem a capacidade demodificar passado, de introduzir uma nova rotina ou uma novadinmica que rompe com a repetio de passado, no poderiam ter

    (novas) ideias: estariam psicologicamente mortas.

    Chama-se, porm, de inovadores, stricto sensu, queles quecumprem o papel social de introduzir inovaes que modificam amaneira como uma rede se configura, provocando desequilbrios quealteram os ritmos e os caminhos das fluies.

    Inovadores so muito diferentes dos hubs. Em geral no soconhecidos e no conhecem muita gente, nem so, na maiorparte dos casos, muito conectados. s vezes, so at bastanteisolados. Podem vir a ser amplamente reconhecidos, mas issodepende de fatores, via de regra, fortuitos. A caracterstica principaldo inovador emitir mensagens na rede que acabam produzindomudanas de comportamento dos agentes (considerando a redesocial como um sistema de agentes). Quando esse processo ocorre, oinovador no sabe bem nem por qu nem o qu aconteceu.Formaram-se laos de realimentao de reforo (feedbackpositivo) ea mensagem emitida pelo inovador acabou sendo reforada eamplificada, adquirindo condies de se disseminar pela rede. Taismensagens podem ser ideias, modos de fazer ou estilos (como amoda, por exemplo), atitudes que contenham novos padres. Sim,no custa repetir: um padro uma mensagem e pode sertransmitido como tal, como j dizia, h tanto tempo, Norbert Wiener(1950) (14).

    O inovador tal como o hubtambm produzido socialmente

    pela rede. Ningum vira inovador apresentando sua inovao na TV,

  • 8/2/2019 FRANCO, Augusto - Como se tornar um netweaver (Verso completa)

    27/52

    27

    nos jornais ou anunciando-a em um evento massivo. A inovao uma perturbao no tecido social que vai se espalhandomolecularmente, ponto a ponto. Pequenas perturbaes, mesmo que

    partam da periferia do sistema (quer dizer, de regies poucoclusterizadas da rede social), so capazes de se disseminar seconseguirem atingir uma espcie de tipping point (a coisa parecefuncionar da mesma forma que a propagao epidemiolgica), maspara cada configurao de rede e, a rigor, para cada tipo demensagem, pode-se ter um ponto de desequilbrio diferente, apartir do qual a mensagem passa a se disseminar exponencialmente.

    Nem sempre, porm, os inovadores veem os resultados de sua

    inovao. Muitas vezes, eles desencadeiam mudanas decomportamento que s vo aparecer muito tempo depois, quandono se pode mais atribuir a um inovador particular a paternidade dainovao, pois prprio da dinmica da rede social que muitasmensagens se misturem, combinem-se e se transformem em outrasmensagens.

    Uma longa jornada ainda ser percorrida antes de se assumir maisamplamente esses novos paradigmas, o que no significa que eles j

    no estejam vigendo. Quem j est nos novos Highly ConnectedWorlds se comporta mais ou menos assim. Basta ver o que comea aocorrer nos meios cientficos: no passado, um pesquisador, para serreconhecido, precisava se submeter ao conselho editorial de umapublicao autorizada pelas instituies acadmicas e esperar algunsmeses (s vezes muitos) para ter seu trabalho publicado (ourejeitado). Hoje, boa parte desse pessoal publica, em seus prpriosblogs, as descobertas que vai fazendo, imediatamente e sem pedirlicena a ningum. H que se convir que essa uma mudana

    tanto!

    Acontecer com os inovadores o que j acontece com algumasatividades intelectuais ou exercidas livremente na rea doconhecimento; por exemplo, com os escritores. Escritor quemescreve. O escritor reconhecido pelos que leem o que ele publica eno em virtude de ter obtido um ttulo acadmico ou uma licena deuma corporao de escribas para escrever ou, ainda, um atestadoconcedido por uma burocracia qualquer. Assim, em mundos

    altamente conectados um inovador tambm tende a cumprir um

  • 8/2/2019 FRANCO, Augusto - Como se tornar um netweaver (Verso completa)

    28/52

    28

    papel social mais relevante do que o dos que colecionaram muitosttulos acadmicos.

    A rede uma tima oportunidade para se quebrar o poder dasburocracias do conhecimento. Na verdade, para quebrar o poder dequalquer burocracia. Quebrar (to crack) a primeira medida paradesobstruir o que foi entupido. Quanto mais ocorrem eventos dedesobstruo, mais a sociedade vai se comportando como umaentidade que aprende, pois o que chamado de aprendizagem sempre a abertura de novos caminhos. E mais, a sociedade vai sedesenvolvendo, pois o que chamamos de desenvolvimento amesmssima coisa: a abertura de novas oportunidades de conexo

    (15). Este, porm, o papel dos netweavers.

  • 8/2/2019 FRANCO, Augusto - Como se tornar um netweaver (Verso completa)

    29/52

    29

    Netweavers

    Todas as pessoas tm uma poro-netweaver. Se no fosse assim,

    no poderiam ser seres polticos

    NETWEAVERSSO OS TECELES(para aproveitar o que poderia tersido uma feliz expresso de Plato, no dilogo O poltico, se ele noestivesse se referindo a um sujeito autocrtico), e os animadores deredes voluntariamente construdas. Na verdade, eles constroem

    interfaces para conversar com a rede-me. Os netweavers no sonecessariamente os estudiosos das redes, os especialistas em SocialNetwork Analysis ou os que pesquisam ou constroem conhecimentoorganizado sobre a morfologia e a dinmica da sociedade-rede. Osnetweavers, em geral, so polticos, no socilogos. E polticos nosentido prtico do termo, quer dizer, articuladores polticos,empreendedores polticos e no cientistas ou analistas polticos.

    Os polticos tradicionais, entretanto, no so netweavers e sim,exatamente, o contrrio disso: eles hierarquizam o tecido social,verticalizam as relaes, introduzem centralizaes, obstruem oscaminhos, destroem conexes, derrubam pontes ou fecham osatalhos que ligam um cluster a outros clusters, separando umaregio da rede de outras regies, excluem nodos; enfim,introduzem toda sorte de anisotropias no espao-tempo dos fluxos.Fazem tudo isso porque o tipo de poder com o qual lidam o poder,em suma, de mandar algum fazer alguma coisa contra sua vontade sempre o poder de obstruir, separar e excluir. E o poder deintroduzir intermediaes ampliando o comprimento da corrente,dilatando a extenso caracterstica de caminho da rede social ouaumentando seus graus de separao, ou seja, diminuindo aconectividade (e a interatividade). No por outro motivo que ospolticos tradicionais funcionam, via de regra, como despachantes derecursos pblicos, privatizando continuamente o capital social. Pode-se dizer que, nesse sentido, os polticos tradicionais so os anti-netweavers, visto que contribuem para tornar a rede social menos

    distribuda e mais centralizada ou descentralizada, isto ,

  • 8/2/2019 FRANCO, Augusto - Como se tornar um netweaver (Verso completa)

    30/52

    30

    multicentralizada. Tambm no toa que todas as organizaespolticas mesmo no interior de regimes formalmente democrticos tm topologia mais centralizada do que distribuda. Essa tambm

    uma maneira de descrever, pelo avesso, o papel dos netweavers.

    Todas as pessoas tm uma poro-netweaver. Se no fosse assim,no poderiam ser seres polticos (e a democracia jamais poderia tersido inventada e reinventada).

    Mas em sentido estrito, chamamos de netweavers aqueles que sededicam a tecer redes. Esse talvez seja o papel social mais relevanteem mundos altamente conectados. O que significa que, em um

    mundo hierrquico, o netweaver necessariamente um hacker(embora no seja apenas isso).

  • 8/2/2019 FRANCO, Augusto - Como se tornar um netweaver (Verso completa)

    31/52

    31

    Netweaver howto

    H dez anos Eric Raymond concluiu a ltima verso do seu H4ck3r

    Howto. Entrando em uma poca-fluzz, vamos precisar de umN3tw34v3r Howto

    EM COMO SE TORNAR UM HACKER (texto que ficou conhecido emalguns meios como Hacker Howto), Eric Raymond (1996-2001)escreveu uma espcie de manual autodidtico de aprendizagem sobre

    hacking. Para ele, o hacking uma atitude e uma habilidade na qualvoc tem que basicamente ser autodidata. Voc ver que, emborahackers de verdade queiram lhe ajudar, eles no o respeitaro sevoc pedir "mastigado" tudo que eles sabem. Aprenda algumas coisasprimeiro. Mostre que voc est tentando, que voc capaz deaprender sozinho. Depois faa perguntas aos hackers que encontrar(16).

    Raymond afirma que o termo hacker tem a ver com aptidotcnica e um prazer em resolver problemas e superar limites. Paraele, se voc quer saber como se tornar um hacker, o relevante oseguinte:

    Existe uma comunidade, uma cultura compartilhada, deprogramadores experts e gurus de rede cuja histria remonta adecadas atrs, desde os primeiros minicomputadores de tempocompartilhado e os primeiros experimentos na ARPAnet. Osmembros dessa cultura deram origem ao termo "hacker".Hackers construram a Internet. Hackers fizeram do sistemaoperacional Unix o que ele hoje. Hackers mantm a Usenet.Hackers fazem a World Wide Web funcionar. Se voc partedesta cultura, se voc contribuiu a ela e outras pessoas ochamam de hacker, voc um hacker.

    A mentalidade hacker no confinada a esta cultura do hacker-de-software. H pessoas que aplicam a atitude hacker em

    outras coisas, como eletrnica ou msica na verdade, voc

  • 8/2/2019 FRANCO, Augusto - Como se tornar um netweaver (Verso completa)

    32/52

    32

    pode encontr-la nos nveis mais altos de qualquer cincia ouarte.

    Hackers de software reconhecem esses espritos aparentadosde outros lugares e podem cham-los de "hackers" tambm ealguns alegam que a natureza hacker realmenteindependente da mdia particular em que o hacker trabalha.Mas no restante deste documento, nos concentraremos nashabilidades e dos hackers de software, e nas tradies dacultura compartilhada que deu origem ao termo hacker'(17).

    claro que a maioria dessas habilidades e atividades que

    caracterizam o hacker-de-software hoje no se colocariam maisassim. A comunidade restrita dos programadores que cultivavam acultura hackerexplodiu para alm dos limites de uma igrejinha. Essashabilidades e atividades esto agora distribudas praticamente portodas as redes que usam a Internet. No entanto, o mais relevante que Raymond considerava que hacker todo aquele que pratica umaarte criativa e, assim, no se reduz ao que faz o hacker-de-software, mas est baseada em quatro coisas: uma atitude geral, umconjunto de habilidades, uma cultura e uma mentalidade hacker.

    Segundo Raymond, a atitude hackerpoderia ser assim resumida:

    Hackers resolvem problemas e constrem coisas, e acreditamna liberdade e na ajuda mtua voluntria. Para ser aceito comoum hacker, voc tem que se comportar de acordo com essaatitude. E para se comportar de acordo com essa atitude, voctem que realmente acreditar nessa atitude... Assim como emtodas as artes criativas, o modo mais efetivo para se tornar um

    mestre imitar a mentalidade dos mestres no sintelectualmente como emocionalmente tambm(18).

    significativo que Raymond tenha insistido nesse ponto, aduzindo explicao acima o moderno poema zen: To follow the path: look tothe master, follow the master, walk with the master, see through themaster, become the master (Para seguir o caminho: olhe para omestre, siga o mestre, ande com o mestre, veja atravs do mestre,torne-se o mestre) (19).

  • 8/2/2019 FRANCO, Augusto - Como se tornar um netweaver (Verso completa)

    33/52

    33

    Ento - recomenda Raymond se voc quer ser um hacker, repitaas seguintes coisas at que voc acredite nelas. E a elenca cincocrenas bsicas que, segundo seu ponto de vista, so acordes

    atitude hacker: o mundo est repleto de problemas fascinantesesperando para serem resolvidos (20); no se deve resolver omesmo problema duas vezes (21); tdio e trabalho repetitivo sonocivos (22); liberdade uma coisa boa (23); e atitude no substituicompetncia (24).

    No seu conjunto essas crenas configuram um bom libelo contra otrabalho (que ele chama de trabalho repetitivo: tdio e trabalhorepetitivo no so apenas desagradveis, mas nocivos tambm) e a

    favor da diverso (sem negar a necessidade do esforo e daconcentrao: o trabalho duro e a dedicao se tornar uma espciede um intenso jogo, ao invs de trabalho repetitivo); um estmulo criatividade; uma aposta no auto-aprendizado; um certo desprezo emrelao ao desejo de obter aprovao social ou buscar a fama; umelogio capacidade de viver com o necessrio e de compartilhargratuitamente (segundo Raymond, quase um dever moralcompartilhar informao, resolver problemas e depois dar assolues); e o mais importante uma valorizao da liberdade.

    Sobre isso ele escreveu:

    Liberdade uma coisa boa. Hackers so naturalmente anti-autoritrios. Qualquer pessoa que lhe d ordens pode impedi-lode resolver qualquer que seja o problema pelo qual voc estfascinado e, dado o modo em que a mente autoritriafunciona, geralmente arranjar alguma desculpaespantosamente idiota para fazer isso. Ento, a atitudeautoritria deve ser combatida onde quer que voc a encontre,

    para que no sufoque a voc e a outros hackers... Pessoasautoritrias prosperam na censura e no segredo. E desconfiamde cooperao voluntria e compartilhamento de informao s gostam de "cooperao" que eles possam controlar. Ento,para se comportar como um hacker, voc tem que desenvolveruma hostilidade instintiva censura, ao segredo, e ao uso dafora ou mentira para compelir adultos responsveis. E voctem que estar disposto a agir de acordo com esta crena(25).

  • 8/2/2019 FRANCO, Augusto - Como se tornar um netweaver (Verso completa)

    34/52

    34

    Raymond lista em seguida as trs habilidades bsicas do hacker-de-software: aprender a programar, aprender a mexer com Unix eaprender a usar a World Wide Web e escrever em HTML.

    Sobre a cultura hacker, Eric Raymond observa:

    Como a maioria das culturas sem economia monetria, a dohacker se baseia em reputao. Voc est tentando resolverproblemas interessantes, mas quo interessantes eles so, e sesuas solues so realmente boas, algo que somente seusiguais ou superiores tecnicamente so normalmente capazes dejulgar. Conseqentemente, quando voc joga o jogo do hacker,

    voc aprende a marcar pontos principalmente pelo que outroshackers pensam da sua habilidade (por isso voc no hackerat que outros hackers lhe chamem assim). Esse fato obscurecido pela imagem solitria que se faz do trabalho dohacker; e tambm por um tabu hacker-cultural que contraadmitir que o ego ou a aprovao externa esto envolvidas namotivao de algum. Especificamente, a cultura hacker oque os antroplogos chamam de cultura de doao. Voc ganhastatus e reputao no por dominar outras pessoas, nem por

    ser bonito, nem por ter coisas que as pessoas querem, mas simpor doar coisas. Especificamente, por doar seu tempo, suacriatividade, e os resultados de sua habilidade(26).

    Para Raymond existem basicamente cinco coisas que voc podefazer para ser respeitado por hackers: escrever open-sourcesoftware, ajudar a testar e depurar open-source software, publicarinformao til, ajudar a manter a infra-estrutura funcionando eservir cultura hackerem si.

    Sobre esse ltimo ponto, vale a pena ler o que ele escreveu:

    Voc pode servir e propagar a cultura em si (por exemplo,escrevendo um apurado manual sobre como se tornar umhacker). Voc s ter condio de fazer isso depois de terestado por a por um certo tempo, e ter se tornado conhecidopor uma das primeiras quatro coisas. A cultura hacker no tmlderes, mas tm seus heris culturais, "chefes tribais",

    historiadores e porta-vozes. Depois de ter passado tempo

  • 8/2/2019 FRANCO, Augusto - Como se tornar um netweaver (Verso completa)

    35/52

    35

    suficiente nas trincheiras, voc pode ser tornar um desses.Cuidado: hackers desconfiam de egos espalhafatosos em seus"chefes tribais", ento procurar visivelmente por esse tipo de

    fama perigoso. Ao invs de se esforar pela fama, voc temque de certo modo se posicionar de modo que ela "caia" emvoc, e ento ser modesto e corts sobre seu status(27).

    Por ltimo, sobre a mentalidade hacker, Raymond diz que, paraentrar nessa mentalidade h algumas coisas que voc pode fazerquando no estiver na frente de um computador e que podemajudar... [coisas que] esto ligadas de uma maneira bsica com aessncia do hacking: ler fico cientfica, estudar o Zen ou fazer

    artes marciais, desenvolver um ouvido analtico para msica,desenvolver sua apreciao por trocadilhos e jogo de palavras eaprender a escrever bem em sua lngua nativa (28).

    Raymond nos deu algumas preciosas dicas embora tenha, aqui eali, corretamente, extrapolado isso para que pudssemosprogramar em ambientes digitais ou virtuais. A ele certamenteocorreu, mas disso aparentemente no tirou muitas consequncias,que hackers no so programadores; so, mais, desprogramadores.

    Voc pode hackear uma escola, uma igreja, um partido, umaorganizao estatal, uma empresa, sem nunca ter encostado em umcomputador ou em um dispositivo mvel de navegao. A rigor, vocpode (e deveria, se quisesse mesmo viver em outro mundo) hackearsua famlia.

    No se trata, portanto, apenas de elaborar e modificar softwares ehardwares de computadores, desenvolvendo funcionalidades novasou adaptando as antigas revelia (ou no) dos seus proprietrios.

    Nem se trata de invadir para bagunar, violar, roubar senhas, tirar doar, como se diz que fazem os hackers sem tica, ou sem a tica-hacker, os dark-side hackers como os crackers.

    H dez anos Eric Raymond concluiu a ltima verso do seu H4ck3rHowto. Mas agora, entrando em uma poca-fluzz, vamos precisar deum N3tw34v3r Howto.

    Se voc quiser se dedicar ao netweaving, comece esquecendo toda

    essa bullshitsobre tica como conjunto de normas sobre o que fazer

  • 8/2/2019 FRANCO, Augusto - Como se tornar um netweaver (Verso completa)

    36/52

    36

    ou no-fazer vlidas para qualquer interao e estabelecidas antes dainterao. O que caracteriza o netweaver o que ele faz e no umconjunto de crenas ou valores, por mais excelos, solidrios ou do-

    bem que possam ser estimados.

    Todo netweaver um hacker no sentido ampliado do termo (paraalm do hacker-de-software). Mas nem todo hacker netweaver. Onetweaver um hacker-fluzz. Para se tornar um netweaver, no necessrio seguir o caminho (mesmo porque no existe o caminho),mas jogar-se no no-caminho: naquele sentido potico do perder-setambm caminho de Clarice Lispector (1969) (29); nem, muitomenos, o caso de olhar o mestre, seguir o mestre, andar com o

    mestre, ver atravs do mestre e tornar-se o mestre, como sugere opoema Zen reproduzido por Raymond; seno de fazer exatamente ocontrrio: matar o mestre!

    O netweaver no um indivduo excepcional, destacando-se dosdemais no velho mundo nico por seu esprito criativo e por suadedicao concentrada em inovar: ele uma funo social dosmundos altamente conectados. Nos Highly Connected Worlds no setrata mais de constituir uma tribo dos diferentes (diferentes dos

    outros, dos que no-so) ou uma comunidade dos iguais (que sereconheam mutuamente: como disse Raymond, voc no hackerat que outros hackers lhe chamem assim). No h uma atitudegeral fundante, um conjunto de habilidades certas, uma culturaadequada comum e uma mentalidade distinta baseada em umsistema de crenas. So muitas comunidades, muitas tribos, com asmais variadas atitudes e habilidades, miscigenando suas culturasenquanto seus agentes nmades viajam pelos interworlds. E poucoimporta as crenas de cada uma das pessoas ou aglomerados de

    pessoas que se dedicam ao netweaving. Para orientar e multiplicar oshackers, de certo modo, Eric Raymond quis fazer uma escola (aindaque baseada na auto-aprendizagem e no reconhecimento mtuo).Para ensejar o florescimento do novo papel social do netweaver,trata-se, pelo contrrio, de apostar que sua livre interao enxameieno-escolas.

    No pode haver, portanto, um receiturio procedimental elencandohabilidades tcnicas para algum se tornar netweaver. Voc no

    precisa saber programar. Voc no precisa s usar o Linux (nem

  • 8/2/2019 FRANCO, Augusto - Como se tornar um netweaver (Verso completa)

    37/52

    37

    entrar na igreja do software livre, que convenhamos em algunspases da Amrica Latina est mais para partido). Voc no precisasaber escrever em HTML5. Para fazer hacking (no sentido ampliado

    do termo) como uma das dimenses do netweaving voc precisaestar disposto a desprogramar hierarquias (hackeando aquelasinstituies erigidas no contra-fluzz, como, por exemplo, escolas,igrejas, partidos, Estados e empresas-hierrquicas). E para fazernetweaving no h nenhum contedo substantivo (filosfico,cientfico ou tcnico) que voc tenha que adquirir: bastadesobedecer, inovar e tecer redes. Isto sim, voc vai ter queaprender: a tecer redes da nica maneira possvel de se aprenderisso: interagindo com outras pessoas sem erigir hierarquias (sem

    mandar nos outros e sem obedecer a algum). Isto netweaving!

    No algum contedo que determina seu comportamento. Para setornar netweaverno se trata de saber, mas de ser. Se voc umhacker to convicto e habilidoso como o prprio Raymond, ouTorvalds, ou Stallman, ou Cox, ou Tanenbaum mas constri suaspatotas e igrejinhas, ou monta empresas-hierrquicas, ou, ainda,erige quaisquer outras organizaes centralizadas e nelas convivecom as outras pessoas o tempo todo, ento voc no poder ser um

    netweaver, mas no por motivos ticos ou morais, por estar sendoincoerente com suas crenas e sim porque, nestas condies, vocdificilmente conseguir aprender a articular e animar redes(distribudas).

    Enfatizando, no porque voc violou princpios ou no observouvalores. No porque voc no compartilhou o que sabe, nemporque transgrediu a cultura da doao para ganhar mais dinheiro.Alis, como disse o prprio Raymond no inconsistente usar suas

    habilidades de hacker para... ficar rico, contanto que voc noesquea que um hacker. Um netweaver tambm pode ser ouficar rico. Esse no o ponto. O que um netweaverno pode noser um netweaver; ou seja, o que faz o netweaverno um conjuntode conhecimentos adquiridos (ou de opinies proferidas, habilidadestcnicas exercitadas, capacidades cognitivas desenvolvidas) ouvalores abraados e sim o que o netweaverfaz. Se no faz rede, no netweaver(ainda que, pelo visto, possa ser hacker).

  • 8/2/2019 FRANCO, Augusto - Como se tornar um netweaver (Verso completa)

    38/52

    38

    A parte hacking do netweaving aquela que desprograma, que corta(to hack) ou quebra (to crack) as cadeias de scripts dos programasverticalizadores que perturbam o campo social centralizando a rede-

    me e gerando aglomeramentos no contra-fluz (que aparecem entocomo instituies hierrquicas). Hackeando tais instituies pode-seintroduzir funcionalidades diferentes das originais como, porexemplo: a experimentao da livre aprendizagem em vez datransmisso do ensinamento (essa uma espcie de virus no-escola, poderamos chamar assim tais experincias, em termosmetafricos); o compartilhamento da espiritualidade espontnea emvez do seu enquadramento e cerceamento por meio das prticasreligiosas e dos rituais das igrejas (virus no-igreja); o exerccio

    voluntrio e cooperativo da poltica pblica e da democraciacomunitria em vez da disciplina e da fidelidade partidrias (virusno-partido); a vivncia do localismo cosmopolta em vez do refgiono nacionalismo e no patriotismo insuflados pelo Estado (virus no-Estado-nao); a associao de empreendedores para polinizaremmutuamente seus sonhos em vez da montagem de estruturas paraarrebanhar trabalhadores e subjug-los em prol da realizao dosonho nico de algum (virus no-empresa-hierrquica).

    Todo resto pode ser abandonado. Nada de religio: para onetweaving voc pode fazer todas essas coisas usando o Linux, mastambm o Microsoft Windows ou o Mac OS ou o Chrome OS; ou,mesmo, no usar nada disso. Voc pode empregar uma das dezenasde plataformasp-baseddisponveis, como o Elgg e tambm o Ning, oGrouply, o Grou.ps (ou, melhor ainda, pode ajudar a desenvolveruma plataforma i-based) ou pode tentar se virar com sites derelacionamento como Orkut ou Facebook. Voc pode usar o identi.caou ir se arranjando com o Twitter. Ou ento voc pode sair do mundo

    virtual ou digital e promover atividades presenciais de netweaving,como rodas de conversao, desconferncias ou Open Spaces, WorldCafs etc. Para os netweavers-de-software (por assim dizer) oprincipal desafio desenvolver tecnologias interativas (i-based) denetweaving: ferramentas digitais adequadas articulao e animaode redes sociais. E h muitos outros desafios tecnolgico-sociais queesto colocados para todos os netweavers (e no apenas os quemexem com softwares) para intensificar a interatividade. Masnenhuma ferramenta, nenhuma tcnica ou metodologia e nenhuma

    dinmica realmente essencial. O essencial articular e animar

  • 8/2/2019 FRANCO, Augusto - Como se tornar um netweaver (Verso completa)

    39/52

    39

    redes distribudas de pessoas. Ou seja, o grande desafio socialmesmo.

    Enfatizando, mais uma vez: de nada adianta voc s usar freesoftware e as mais avanadas tcnicas dialgicas de conversao sevoc continua se organizando hierarquicamente, se sua organizao centralizada ou fechada (e, portanto no-free) e se voc privatiza oconhecimento que poderia ser comum, vedando o acesso pblico (e,dessarte, seu contedo tambm ser no-free).

    Desprogramar sociosferas a parte hacker do netweaver nobasta: necessrio reprogram-las, construindo seus prprios

    mundos. Eis porque, por meio do netweaving, mundos-bebs estoagora em gestao.

  • 8/2/2019 FRANCO, Augusto - Como se tornar um netweaver (Verso completa)

    40/52

    40

    Eles j esto entre ns

    Nos Highly Connected Worlds o que vale so suas antenas

    NETWEAVING CRIAO DE NOVOS MUNDOS. No uma triboespecial a dcima-terceira tribo (dos hackers) de Israel ou dossionistas digitais que pode fazer netweaving, no um clusterdegnios, uma fraternidade de seres notveis, dotados de faculdades equalidades excepcionais, super-humanas. voc! Se voc no fizer,

    nada se modificar em seu mundo (ou melhor, voc no poder sairdo mundo que lhe impuseram e no qual voc est aprisionado). Paratanto, voc no precisa ser mais do que voc . Voc s precisa ser oque voc pode ser como revelao ou descoberta do que voc .

    Quando foi a Oslo, receber o Prmio Nobel da Paz, Albert Schweitzer(1952) disse em seu discurso que nos tornamos tanto maisdesumanos quanto mais nos convertemos em super-homens. isso.Trata-se de ser mais humano, no mais-do-que-humano.

    Durante milnios fomos contaminados com a idia perversa de queno devemos ser o que somos. Tudo que nos diziam que devamosnos superar, nos destacar dos semelhantes, separarmo-nos da plebeque habita a plancie ou chafurda no pntano e subir aos pncaros daglria para ter sucesso na vida. Quem ficasse para trs era umlooser. Ou algum que no desenvolveu suas potencialidades, quebloqueou sua evoluo mental ou espiritual ou que no foi capaz dese transformar ou de se aperfeioar.

    Mas voc no tem que se transformar no que voc no . No hnada errado com voc. Voc no veio com defeito de fbrica, queprecise ser consertado por alguma instituio hierrquica. Voc noprecisa ser reformado pelo Estado e seus aparatos, como querem osautocratas de todos os matizes. Voc no precisa ser educado querdizer, ensinado, adestrado, domado para aplacar uma supostabesta-fera que existe no seu interior. No h nada no seu interior

    humano alm da composio fractal de todos os outros humanos que

  • 8/2/2019 FRANCO, Augusto - Como se tornar um netweaver (Verso completa)

    41/52

    41

    fazem com que voc seja uma pessoa. O humano um maravilhosoencontro fortuito do simbionte natural (em evoluo) com osimbionte social (em prefigurao).

    Ser humano algo muito, mas muito mais importante do quequalquer coisa, mais importante do que um deus (e conta-se queteve at um deus que, percebendo isso, quis se tornar humano), umsanto ou um heri; mais importante do que qualquer ttulo,propriedade, cargo ou ndice de popularidade: nada disso importa sevoc no conseguir formar sua alma humana, quer dizer, se noconseguir tornar-se pessoa.

    Tornar-se pessoa. Pessoa comum. No santo. Pois h tambm ocaminho excepcional dos santos (que sopessoas incomuns). GeorgeOrwell (1948) nas suas inquietantes Reflexes sobre Gandhielaborou, talvez, a mais profunda (e corajosa) crtica disciplinareligiosa tomando como exemplo a disciplina que Gandhi imps a simesmo e que embora ele possa no insistir com seus seguidoresque observem cada detalhe acreditava ser indispensvel sequisssemos servir a Deus ou humanidade. Em primeiro lugar, nocomer carne e, se possvel, nenhum alimento animal sob qualquer

    forma... Nada de bebida alcolica ou tabaco, nenhum tempero oucondimento, mesmo do tipo vegetal... Em segundo lugar, se possvel,nada de relao sexual... E, por fim este o ponto principal, paraquem busca a bondade no deve haver quaisquer amizades ntimas eamores exclusivos (30). Ento vem a crtica cortante de Orwell:

    O essencial no fato de sermos humanos que no buscamos aperfeio, que s vezes estamos propensos a cometerpecados em nome da lealdade, que no assumimos o

    ascetismo a ponto de tornar impossvel uma amizade, que nofim estamos preparados para ser derrotados e fragmentadospela vida, que o preo inevitvel de fixarmos nosso amor emoutros indivduos humanos. Sem dvida, bebidas alcolicas,tabaco etc. so coisas que um santo deve evitar, mas santidadetambm algo que os seres humanos devem evitar. Para issoh uma rplica bvia, porm temos de ser cautelosos em faz-la. Nesta poca dominada por iogues, supe-se com demasiadapressa no s que o desapego melhor do que a aceitao

    total da vida terrena como tambm que o homem comum s a

  • 8/2/2019 FRANCO, Augusto - Como se tornar um netweaver (Verso completa)

    42/52

    42

    rejeita porque ela muito difcil: em outras palavras, que o serhumano mediano um santo fracassado. duvidoso que issoseja verdade. Muitas pessoas no desejam sinceramente ser

    santas, e provvel que as que alcancem a santidade, ou que aela aspirem, jamais tenham sentido muita tentao de ser sereshumanos(31).

    Ter percebido que esse homem comum, esse ser humanomediano no um santo fracassado foi a grande sacada de Orwell,desmascarando o que nos impuseram as igrejas ao colocarem comoideal a superao do humano, o seu aperfeioamento, a suaespiritualizao, como se houvesse alguma coisa errada com os que

    vivem sua vida e sua convivncia sem se submeterem a algumadisciplina religiosa, asctica, mesmo quando voltada ao bem dahumanidade (como os santos, os bodisatvas e os mahatmas que,talvez, no tenham conseguido chegar a ser pessoas comuns).

    Sim, tornar-se pessoa. Pessoa comum. No heri. Heri tambm uma pessoa incomum. outra escapada da humanidade. algumque supostamente superou sua condio humana. Toda culturahierrquica construda a partir do mito do heri, um Hrcules que

    vence desafios insuperveis (pelas pessoas comuns) e realizamisses impossveis (para as pessoas comuns). No por acaso que,frequentemente, o heri um guerreiro que demonstrou bravura embatalha e foi agraciado pelos seus superiores (fabricantes de guerras)com medalhas (um reconhecimento da organizao montada pelosconstrutores de pirmides). Depois tal cultura apenas se deslocoupara as outras pirmides e apareceram os heris empresariais (comomuitos capites de indstria, badalados nas revistas de negcios), osheris polticos (como os condutores de rebanhos, glorificados pelos

    seus ndices de popularidade), at chegar aos heris da filantropia(que tambm so premiados pelo volume da caridade que praticam).E h ainda os heris revolucionrios, aqueles guias geniais dospovos (muitos deles genocidas como Stalin ou Mao este ltimo,alis, o campeo em nmero de mortes infligidas a outros sereshumanos em toda histria e pr-histria humana). At Julian Assangedo Wikileaks heroificado: positivamente (pela sua luta contra aopacidade dos Estados-naes) ou negativamente (pelo seuirresponsvel anarquismo, capaz de colocar em risco a moral de

  • 8/2/2019 FRANCO, Augusto - Como se tornar um netweaver (Verso completa)

    43/52

    43

    quadrilha e o pacto de silncio entre os Estados-naes chamado deordem internacional).

    Sob esse influxo verticalizante as pessoas tendem a achar que nopodem fazer nada de muito significativo, pois so apenas... pessoascomuns, no heris. Elas so induzidas a achar que so herisfracassados, que no so boas o suficiente para realizar grandesfeitos, promover magnficas transformaes. Nesse modelo pico solevadas a acreditar que somente formidveis revolues e mega-reformas conduzidas por extraordinrios lderes heroicos so capazesde fazer a diferena, desprezando aquelas seminais experinciaslricas vividas por pessoas comuns.

    Como j sabiam as pessoas-zen, no fcil ser uma pessoa comum,ao contrrio do que parece. No mundo nico fomos induzidos aconquistar algum diferencial para nos destacarmos das pessoascomuns. Quando interagimos com algum em qualquer ambientehierrquico somos avaliados por esses diferenciais e comeamosento a cultiv-los. Como reflexo dos fluxos verticais que passamos avalorizar, nossa vida tambm se verticaliza. como seimportssemos a anisotropia gerada na rede-me pela hierarquia.

    Nessa nsia de subir, comeamos a imitar os de cima e a desprezaros de baixo.

    O caso limite a chamada celebridade (e os psiclogos, psicanalistase psiquiatras que tratam das patologias incidentes em quem semantm nessa condio tm muito a contar sobre a perturbao dapersonalidade que pode levar, em determinadas circunstncias,quando combinada com outros fatores, ao surgimento de pulsesautodestrutivas, s drogas e violncia). Mesmo que tais

    consequncias extremas no aconteam, h sempre um isolamento(aquele cruel isolamento de que reclamam todos os grandes ldereshierrquicos e os condutores de rebanhos), causado pelorepresamento de fluzz.

    Em certa medida, em sociedades e organizaes hierrquicas viramos(todos ns, no apenas as celebridades) seres da aparncia,deformados pelo broadcasting, usando nossas antenas quase quesomente para difundir as caractersticas de nossa persona (como

    queremos que os outros nos vejam) e no para captar outros padres

  • 8/2/2019 FRANCO, Augusto - Como se tornar um netweaver (Verso completa)

    44/52

    44

    de convivncia. assim que no desenvolvemos nossascaractersticas-hub e, em consequncia, perdemos interatividade,sobretudo porque no queremos nos manter abertos interao com

    o outro imprevisvel por medo de nos confundirmos com qualquerum, com seres de menor importncia do que ns (porque tm menosttulos, menos riqueza, menos poder ou menos popularidade do quens). Para nos protegermos da livre interao passamos a conviverapenas com aqueles que se parecem conosco e ficamos cada vezmais parecidos com eles, por um mecanismo que j foi explicado pelofsico Mark Buchanan (2007) em O tomo social (32). Comoresultado, ficamos cada vez mais aprisionados em nosso submundodo mundo nico: ainda que morando em uma megalpole de dez

    milhes de habitantes, frequentamos os mesmos clubes, moramosnos mesmos bairros, gozamos nossas frias nas mesmas localidadese fazemos os mesmos roteiros de viagem, jogamos os mesmos jogos,usamos as mesmas roupas e conversamos as mesmas conversas.

    claro que, nessas circunstncias, temos muitas dificuldades de serpessoas-fluzz. Ficamos cada vez mais opacos, duros e quebradios,porque no queremos ser membrana, no queremos que o fluxo nosatravesse. Como consequncia, perdemos caminhos para outros

    mundos. E isso significa que no fazemos novas conexes (reduzindonosso nmero de amigos), mas significa tambm que noconseguimos nem ver as conexes (perdemos nossas antenasporque ficamos concentrados em cavucar nossas razes, at sermosenterrados junto com elas).

    Quando se coloca em processo de fluzz uma pessoa deixa de lutarpara subir, para ter sucesso, para se igualar ou imitar os ricos, ospoderosos, os muito titulados e os famosos. Libertando-se da

    exigncia de ser uma VIP (very important person), ela comea arevalorizar seus relacionamentos horizontais. Nessa jornadateraputica, vai se curando das sociopatias associadas sperturbaes no campo social introduzidas pela hierarquia e vaicaminhando, no seu prprio passo e do seu prprio jeito, em direoao supremo objetivo de virar uma pessoa comum.

    O vento continua soprando... e a cada dia surgem mirades depessoas desconhecidas que, simplesmente, j no ligam para nada

    disso, para nenhum desses indicadores de sucesso da sociedade

  • 8/2/2019 FRANCO, Augusto - Como se tornar um netweaver (Verso completa)

    45/52

    45

    hierrquica, sejam materiais ou espirituais. Elas no tm medo deentrar na orgia fngica, lanando suas hifas para todo lado (e noapenas para cima).

    Essas pessoas desobedecem. No do a mnima para os que queremavali-las pelas suas razes, pela sua descendncia (seu patrimniogentico ou seu sangue) e pelo ambiente em que nasceram e foramcriadas na primeira infncia (o seu bero), pelos seus certificados,diplomas e ttulos (conferidos por alguma burocracia sacerdotaltrancadora de conhecimento) ou pelos seus graus (conferidos poralgum mestre ou confraria), pela sua riqueza acumulada, pelo seupoder conquistado ou pela sua popularidade. Elas sabem que nos

    Highly Connected Worlds o que vale so suas antenas.

    Essas pessoas comuns antenadas, esses mltiplos annimosconectados, criadores de uma diversidade incrvel de mundos, estoa do seu lado. Sim, eles j esto entre ns.

  • 8/2/2019 FRANCO, Augusto - Como se tornar um netweaver (Verso completa)

    46/52

    46

  • 8/2/2019 FRANCO, Augusto - Como se tornar um netweaver (Verso completa)

    47/52

    47

    Notas e referncias

    (1) MARGULIS, Lynn & SAGAN, Dorian (1998). O que vida? Rio deJaneiro: Zahar, 2022.

    (2) O caso de Hobbes notvel, pois alm de esse pensador ter lanado osfundamentos para uma justificao filosoficamente elaborada da autocracia,tambm derruiu os pressupostos cooperativos de qualquer idiademocrtica, tendo influncia marcante sobre grande parte dos pensadores

    de outras disciplinas cientficas que surgiram ulteriormente como abiologia da evoluo e a economia at, praticamente, o final do sculo 19.A esse respeito vale a pena ler a brilhante passagem de Matt Ridley (1996)no livro As origens da virtude: Thomas Hobbes foi o antepassadointelectual de Charles Darwin em linha direta. Hobbes (1651) gerou DavidHume (1739), que gerou Adam Smith (1776), que gerou Thomas RobertMalthus (1798), que gerou Charles Darwin (1859). Foi depois de ler Malthusque Darwin deixou de pensar sobre competio entre grupos e passou apensar sobre competio entre indivduos, mudana que Smith fizera umsculo antes. O diagnstico hobbesiano embora no a receita ainda est

    no centro tanto da economia quanto da biologia evolutiva moderna (Smithgerou Friedman; Darwin gerou Dawkins). Na raiz das duas disciplinas est anoo de que, se o equilbrio da natureza no foi projetado de cima, massurgiu de baixo, no h motivo para pensar que se trata de um todoharmonioso. Mais tarde, John Maynard Keynes diria que A Origem dasEspcies simples economia ricardiana expressa em linguagemcientfica. E Stephen Jay Gould disse que a seleo natural eraessencialmente a economia de Adam Smith vista na natureza. Karl Marxfez mais ou menos a mesma observao: notvel, escreveu ele aFriedrich Engels, em junho de 1862, como Darwin reconhece, entre osanimais e as plantas, a prpria sociedade inglesa qual pertence, com suadiviso de trabalho, competio, abertura de novos mercados, invenes ea luta malthusiana pela existncia. a bellum omnium contra omnes deHobbes. Cf. RIDLEY, Matt (1996). As origens da virtude: um estudobiolgico da solidariedade. Rio de Janeiro: Record, 2000.

    (3) HOBBES, Thomas (1651). Leviat. So Paulo: Martins Fontes, 2003.

    (4) Idem.

  • 8/2/2019 FRANCO, Augusto - Como se tornar um netweaver (Verso completa)

    48/52

    48

    (5) TENNYSON, Alfred (Lord) (1849). In Memorian A. H. H. Canto 56:Whotrusted God was love indeed / And love Creation's final law/ Tho' Nature,red in tooth and claw / With ravine, shriek'd against his creed. Cf. o linkabaixo:

    (6) Literalmente: It is war minus the shooting. Cf. ORWELL, George(1945). The Sporting Spirit. London: Tribune, December 1945. Disponvelem:

    (7) MATURANA, Humberto (1993). La democracia es una obra de arte(alocuo em uma mesa redonda organizada pelo Instituto para oDesenvolvimento da Democracia Luis Carlos Galan, Colmbia). Bogot:Editorial Magistrio, 1993.

    (8) GORDON, Deborah (1999). Formigas em ao: como se organiza umasociedade de insetos. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2002.

    (9) MARGULIS, L. & SAGAN, D.: Op. cit.

    (10) GLADWELL, Malcolm (2008). Fora de srie (Outliers). Rio de Janeiro:Sextante, 2008.

    (11) Idem.

    (12) Idem-idem.

    (13) Idem-ibidem.

    (14) WIENER, Norbert (1951). Ciberntica e sociedade: o uso humano de

    seres humanos. So Paulo: Cultrix, 1993.

    (15) Cf. FRANCO, Augusto (2008). Escola de Redes: Nova vises sobre asociedade, o desenvolvimento, a internet, a poltica e o mundo glocalizado.Curitiba: Escola-de-Redes, 2008.

    (16) RAYMOND, Eric (1996-2001). Como se tornar um hacker. Disponvelem:

  • 8/2/2019 FRANCO, Augusto - Como se tornar um netweaver (Verso completa)

    49/52

    49

    (17) Idem.

    (18) Idem-idem.

    (19) RAYMOND, Eric (2001). How to become a hacker. Disponvel em:

    (20) O mundo est repleto de problemas fascinantes esperando paraserem resolvidos. Ser hacker muito divertido, mas um tipo de diversoque necessita de muito esforo. Para haver esforo necessrio motivao.Atletas de sucesso retiram sua motivao de uma espcie de prazer fsicoem trabalhar seus corpos, em tentar ultrapassar seus prprios limites

    fsicos. Analogamente, para ser um hacker voc precisa ter uma emoobsica em resolver problemas, afiar suas habilidades e exercitar suainteligncia. Se voc no o tipo de pessoa que se sente assimnaturalmente, voc precisar se tornar uma para ser um hacker. Seno,voc ver sua energia para "hackear" sendo esvada por distraes comosexo, dinheiro e aprovao social. (Voc tambm tem que desenvolver umaespcie de f na sua prpria capacidade de aprendizado crer que, mesmoque voc no saiba tudo o que precisa para resolver um problema, sesouber uma parte e aprender a partir disso, conseguir aprender osuficiente para resolver a prxima parte e assim por diante, at que voc

    termine). Cf.RAYMOND, Eric: Op. cit.

    (21)No se deve resolver o mesmo problema duas vezes. Mentes criativasso um recurso valioso e limitado. No devem ser desperdiadasreinventando a roda quando h tantos problemas novos e fascinantes pora. Para se comportar como um hacker, voc tem que acreditar que o tempode pensamento dos outros hackers precioso tanto que quase umdever moral compartilhar informao, resolver problemas e depois dar assolues, para que outros hackers possam resolver novos problemas aoinvs de ter que se preocupar com os antigos indefinidamente. (Voc no

    tem que acreditar que obrigado a dar toda a sua produo criativa, aindaque hackers que o fazem sejam os mais respeitados pelos outros hackers.No inconsistente com os valores do hacker vender o suficiente da suaproduo para mant-lo alimentado e pagar o aluguel e computadores. No inconsistente usar suas habilidades de hacker para sustentar a famlia oumesmo ficar rico, contanto que voc no esquea que um hacker). Cf.RAYMOND, Eric: Op. cit.

    (22)Tdio e trabalho repetitivo so nocivos. Hackers (e pessoas criativas

    em geral) no podem ficar entediadas ou ter que fazer trabalho repetitivo,

  • 8/2/2019 FRANCO, Augusto - Como se tornar um netweaver (Verso completa)

    50/52

    50

    porque quando isso acontece significa que eles no esto fazendo o queapenas eles podem fazer resolver novos problemas. Esse desperdcioprejudica a todos. Portanto, tdio e trabalho repetitivo no so apenasdesagradveis, mas nocivos tambm. Para se comportar como um hacker,

    voc tem que acreditar nisso de modo a automatizar as partes chatas tantoquanto possvel, no apenas para voc como para as outras pessoas(principalmente outros hackers). (H uma exceo aparente a isso. svezes, hackers fazem coisas que podem parecer repetitivas ou tediosaspara um observador, como um exerccio de "limpeza mental", ou paraadquirir uma habilidade ou ter uma espcie particular de experincia queno seria possvel de outro modo. Mas isso por opo -- ningum queconsiga pensar deve ser forado ao tdio. Cf.RAYMOND, Eric: Op. cit.

    (23) Liberdade uma coisa boa. Hackers so naturalmente anti-autoritrios. Qualquer pessoa que lhe d ordens pode impedi-lo de resolverqualquer que seja o problema pelo qual voc est fascinado e, dado omodo em que a mente autoritria funciona, geralmente arranjar algumadesculpa espantosamente idiota isso. Ento, a atitude autoritria deve sercombatida onde quer que voc a encontre, para que no sufoque a voc e aoutros hackers. (Isso no a mesma coisa que combater toda e qualquerautoridade. Crianas precisam ser orientadas, e criminosos, detidos. Umhacker pode aceitar alguns tipos de autoridade a fim de obter algo que elequer mais que o tempo que ele gasta seguindo ordens. Mas isso uma

    barganha restrita e consciente; no o tipo de sujeio pessoal que osautoritrios querem). Pessoas autoritrias prosperam na censura e nosegredo. E desconfiam de cooperao voluntria e compartilhamento deinformao s gostam de "cooperao" que eles possam controlar. Ento,para se comportar como um hacker, voc tem que desenvolver umahostilidade instintiva censura, ao segredo, e ao uso da fora ou mentirapara compelir adultos responsveis. E voc tem que estar disposto a agir deacordo com esta crena. Cf.RAYMOND, Eric: Op. cit.

    (24)Atitude no substitui competncia. Para ser um hacker, voc tem que

    desenvolver algumas dessas atitudes. Mas apenas ter uma atitude no farde voc um hacker, assim como no o far um atleta campeo ou umaestrela de rock. Para se tornar um hacker necessrio inteligncia, prtica,dedicao, e trabalho duro. Portanto, voc tem que aprender a desconfiarde atitude e respeitar todo tipo de competncia. Hackers no deixam posersgastar seu tempo, mas eles idolatram competncia especialmentecompetncia em "hackear", mas competncia em qualquer coisa boa. Acompetncia em habilidades que poucos conseguem dominar especialmente boa, e competncia em habilidades que envolvem agudeza

    mental, percia e concentrao a melhor. Se voc reverenciar

  • 8/2/2019 FRANCO, Augusto - Como se tornar um netweaver (Verso completa)

    51/52

    51

    competncia, gostar de desenvolv-la em si mesmo o trabalho duro ededicao se tornar uma espcie de um intenso jogo, ao invs de trabalhorepetitivo. E isso vital para se tornar um hacker. Cf.RAYMOND, Eric: Op.cit.

    (25) Cf.RAYMOND, Eric: Op. cit.

    (26) Idem.

    (27) Idem-idem.

    (28) Idem-ibidem.

    (29) LISPECTOR, Clarice (1969). Uma aprendizagem ou O livro dosprazeres. Rio de Janeiro: Rocco, 1998.

    (30) ORWELL, George (1948). Reflexes sobre Gandhi in ORWELL, George(1984). Dentro da baleia e outros ensaios. So Paulo: Companhia dasLetras, 2005.

    (31) Idem.

    (32) BUCHANAN, Mark (2007). O tomo social. So Paulo: Leopardo, 2010.

  • 8/2/2019 FRANCO, Augusto - Como se tornar um netweaver (Verso completa)

    52/52