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Frankenweenie: adaptação fílmica e intertextualidade1
Fabiane Führ
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Universidade Tuiuti do Paraná (UTP)
RESUMO
O presente artigo procura identificar e analisar algumas referências intertextuais
encontradas em Frankenweenie (2012), relacionando-o com os clássicos filmes de terror
americanos da década de 1930. Com base nos conceitos de intertextualidade de Julia
Kristeva e Gerard Genette e nos estudos realizados nesta área por Robert Stam, Linda
Hutcheon e Denise Guimarães buscou-se analisar o corpus da pesquisa, a animação
Frankenweenie (2012) comparando e relacionando-o com os primeiros filmes de terror, tais
como: Frankenstein (James Whale, 1931), A múmia (Karl Freund, 1932), O homem
invisível (James Whale, 1933) e A noiva de Frankenstein (James Whale, 1935).
PALAVRAS-CHAVE
Frankenweenie. Animação. Adaptação. Intertextualidade.
Frankenweenie
Frankenweenie é um longa-metragem de animação lançado em 3D stop motion no
ano de 2012, e é uma adaptação do curta-metragem homônimo lançado no ano 1984.
Ambos são dirigidos por Tim Burton e baseiam-se em uma ideia original do diretor que tem
como objetivo prestar uma homenagem ao romance Frankenstein de Mary Shelley (1818) e
ao clássico do cinema de terror Frankenstein, dirigido por James Whale em 1931.
Tim Burton estudou no Instituto de Artes da Califórnia (Cal Arts) que havia sido
fundada em 1961 por Walt Disney com o objetivo de formar alunos de artes visuais e
performáticas. Em 1979, Burton foi contratado como aprendiz de animador pela The Walt
Disney Studios. Durante esse período trabalhou na animação The Fox and the Hound, mas
esse trabalho não o deixava satisfeito. O estúdio reconheceu que o talento de Tim Burton
não estava sendo bem aproveitado e dessa forma, fizeram dele um artista conceitual,
responsável pela concepção das personagens que aparecem nos filmes. Seus primeiros
1 Trabalho apresentado no DT 04 – Comunicação Audiovisual do XVII Congresso de Ciências da Comunicação na Região
Sul realizado de 26 a 28 de maio de 2016.
2 Mestranda do Programa de Pós-Graduação em Comunicação e Linguagens da Universidade Tuiuti do Paraná (UTP). E-mail: [email protected]
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trabalhos envolveram a adaptação do segundo volume de Crônicas de Lloyd Alexander de
Prydain, porém seus desenhos não foram muito bem recebidos.
Todavia, esse período oportunizou ao cineasta que trabalhasse em seus próprios
projetos, que incluíam um poema e obras de arte que mais tarde transformaram-se em The
Nightmare before Christmas, o curta-metragem de animação Vincent e Frankenweenie,
curta-metragem em live-action3. Em Vincent, Burton pode trabalhar pela primeira vez com
seu ídolo Vincent Price, que narrou a história. (O ESTRANHO..., 2016). Os trabalhos
realizados neste período não agradaram os executivos da The Walt Disney Studios, pois
Vincent não tinha um final feliz e Frankenweenie era muito escuro e violento, dessa forma,
ambos os filmes foram arquivados (FERENCZI, 2013).
Frustrado, Tim Burton sai da The Walt Disney Studios e por indicação de Stephen
King é recomendado para a Warner Brothers que estava a procura de um diretor para seu
projeto Pee-wee’s Big Adventure (1985). Depois desse filme, a parceria entre a Warner e
Tim Burton rendeu o sucesso Beetlejuice (1988) e Batman (1989), que gerou uma bilheteria
que até hoje é referência para os blockbusters. Em 1990, produziu Edward Scissorhands,
filme no qual pode exprimir sua criatividade por meio da escrita da história e também da
produção da obra, que foi lançada pela Twentieth Century Fox, e que foi considerada um
sucesso entre os cinéfilos e críticos. (O ESTRANHO..., 2016).
Já Batman Returns (1992) não fez o mesmo sucesso de seu antecessor. O longa-
metragem em stop-motion The Nightmare Before Christmas (1993) foi dirigido por Henry
Selick, produzido por Tim Burton e lançado nos cinemas pela Touchstone Pictures
(empresa subsidiária da The Walt Disney Company). O filme faturou US$ 50 milhões,
apenas nos EUA e a Disney mais uma vez não soube como lançar o filme no exterior,
porém com a evolução das tecnologias e das atitudes o filme acabou se tornando um
sucesso familiar, tanto que se tornou um jogo de vídeo game e foi relançado na versão 3D
no ano de 2007 (FERENCZI, 2013).
Posteriormente, trabalhou como diretor de Ed Wood (1994), Mars Attacks! (1996),
Sleepy Hollow (1999), Planet of the Apes (2001), Big Fish (2003), Charlie and the
Chocolate Factory (2005). Doze anos depois, lança Corpse Bride (2005), outra animação
produzida em stop motion, com a codireção de Mike Johnson, que foi um dos animadores
como qual Burton trabalhou na produção do filme The Nightmare Before Christmas.
3 Live-action: termo utilizado para definir trabalhos realizados por atores reais.
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Corpse Bride foi produzido pela Warner Bros., estúdio para o qual o diretor estava
retornando e no qual era muito estimado.
Na sequência, dirigiu Sweeney Todd, the Demon Barber of Fleet Street (2007)
também produzido pela Warner Bros. Em 2010, dirigiu Alice in Wonderland que foi
produzido pela Walt Disney Pictures e The Zanuck Company. Dark Shadows (2012),
produzido pela Warner Bros. foi lançado em maio de 2012, enquanto Frankenweenie
(2012), produzido pela Walt Disney Pictures, foi lançado em outubro do mesmo ano.
A proposta deste artigo é identificar e analisar algumas das referências intertextuais
encontradas em Frankenweenie (2012) até o presente ponto da pesquisa, já esclarecendo
que provavelmente não possuímos o repertório cinematográfico e textual completo para
identificar todas as referências, tendo em vista que esse é um processo que está em
constante evolução. Todavia, até o presente momento sabe-se que Frankenweenie (2012) é
uma obra permeada de referências intertextuais que nos remetem constantemente aos
clássicos filmes de terror americanos da década de 1930 (as obras analisadas aqui são todas
deste período do cinema) e de outros filmes B, além dos filmes expressionistas alemães da
década de 1920, principalmente devido aos efeitos de luz e sombra largamente utilizados.
Para compreender o que são referências intertextuais é necessário compreender o
que significa a intertextualidade. O conceito de intertextualidade foi criado por Julia
Kristeva com base nos estudos realizados por ela na obra de Mikhail Bakhtin no qual ela
observa que “a palavra literária não é um ponto (um sentido fixo), mas um cruzamento de
superfícies textuais, um diálogo das diversas escrituras: do escritor, do destinatário (ou da
personagem), do contexto cultural atual ou anterior.” (KRISTEVA, 2005, p. 66).
Segundo Kristeva (2005, p. 68) Bakhtin foi o primeiro a introduzir na teoria literária
que “todo texto se constrói como mosaico de citações, todo texto é absorção e
transformação de um outro texto. Em lugar da noção de intersubjetividade, instala-se a de
intertextualidade [...]”. Segundo Robert Stam (2008, p. 21) Bakhtin chama de “construção
híbrida” as expressões artísticas, pois sempre são mistura das palavras de várias pessoas.
Essa colaboração acontece na literatura, no cinema, na arte etc.
Gerard Genette, em seu livro Palimpsestes: la littérature au second degré publicado
em 1982, observou que havia 05 (cinco) tipos de relações transtextuais. Para o autor a
transtextualidade no texto tem relação com “tudo que o coloca em relação, manifesta ou
secreta com outros textos” (GENETTE, 2006, p. 07). Dessa forma, as relações
transtextuais propostas pelo autor são:
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a) Intertextualidade: conceito explorado por Julia Kristeva. Para Genette (2006,
p. 08) é uma “relação de co-presença entre dois ou vários textos, isto é,
essencialmente, e o mais frequentemente, como presença efetiva de um texto
em outro”, são exemplos de intertextualidade a citação e o plágio;
b) Paratextualidade: são as relações do texto com ele mesmo (título, subtítulo,
intertítulos, prefácios, posfácios, entre outros elementos que variam em cada
tipo de texto);
c) Metatextualidade: é o elemento que une um texto a outro, como por
exemplo, um comentário, que pode falar de um texto sem citá-lo ou nomeá-
lo;
d) Hipertextualidade: é “toda a relação que une um texto B (que chamarei de
hipertexto) e a um texto anterior (que, naturalmente, chamarei de hipotexto)”
(GENETTE, 2006, p. 12). Além disso, a hipertextualidade permite, que
mesmo que o texto B não fale do texto A, ele não existiria sem que A
existisse, essa operação foi denominada por Genette (2006, p. 13) de
“transformação”.
e) Arquitextualidade: implica em relações de paratextualidade.
Denise Guimarães (2012, p. 56) esclarece que “para Genette, todas as obras na
literatura são hipertextuais ou trabalham com hipertextos, incluindo a literatura como um
operador hipertextual. Um hipertexto pode ser lido em si mesmo ou em sua relação como
hipotexto”.
O romance Frankenstein de Mary Wollstonecraft Shelley que foi escrito pela autora
no ano de 1816, enquanto passava o verão, com seu marido Percy Bysshe Shelley e outros
amigos, na casa de Lord Byron. Apesar de Frankenstein ser considerado um texto-fonte, ou
um hipotexto, do qual surgiram uma série de adaptações para o cinema, o teatro, a televisão
e outras mídias, inclusive ele pode ser considerado como uma obra hipertextual, pois
segundo a própria autora
inventar, deve-se admitir humildemente, não consiste em criar algo do
nada, mas sim do caos; em primeiro lugar, deve-se dispor dos materiais;
pode-se dar forma à substância negra e informe, mas não se pode fazer
aparecer a própria substância. Em tudo o que se refere às descobertas e às
invenções, mesmo àquelas que pertencem à imaginação, lembramo-nos
continuamente da história do ovo de Colombo. A invenção consiste na
capacidade de julgar um objeto e no poder de moldar e arrumar as ideias
sugeridas por ele (Shelley, [1831], 2012, p. 10-11).
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As histórias e conversas, realizadas entre Percy Shelley e Lord Byron, que
mesclavam conhecimentos e escritos de Darwin, com histórias de descobertas e invenções a
fizeram vislumbrar a história de um homem, que buscava imitar Deus, e sua criatura
horrenda. O romance que foi publicado em 1818, tem como característica principal ser um
romance epistolar no qual Robert Walton, comandante de um navio, escreve cartas para sua
irmã Margaret, nas quais narra a história contada a ele por Victor Frankenstein.
O romance de Mary Shelley abordava os conflitos existentes entre a ciência e a
moral, estes mesmos conflitos permeiam a ciência até os dias de hoje, por isso,
Frankenstein continua sendo um hipotexto constantemente utilizado não apenas na
literatura, mas também no cinema e em outras mídias, pois seu discurso nunca deixa de ser
atual. No romance Frankenstein, Victor Frankenstein viaja para a cidade de Ingolstadt com
o objetivo de concluir seus estudos em uma universidade que não fosse a de sua terra natal.
Durante seus estudos, descobre como dar vida à matéria morta. Assim, resolve criar um ser
com proporções gigantescas utilizando material retirado de sepulturas. Todavia, no
momento em que a vida toma o corpo da criatura, Victor fica horrorizado com o que vê e
foge, abandonando sua criatura à sua própria sorte.
A primeira adaptação do romance de Mary Shelley é o filme Frankenstein
produzido em 1910 pela Thomas A. Edison, Inc. sob a direção de J. Searle Dowley, na
época do cinema mudo. Na sequência, Hollywood passa a lançar filmes que se tornaram
referência junto ao gênero de Terror. A Universal Studios se destacava pela produção desse
tipo de filme e Frankenstein (1931), dirigido por James Whale, foi mais uma adaptação do
clássico de Mary Shelley, seguido do filme A noiva de Frankenstein (1935) do mesmo
diretor.
Os conflitos enfrentados por Victor Frankenstein continuaram inspirando inúmeras
adaptações cinematográficas e influenciando diversos diretores, entre eles, Tim Burton, que
teve a ideia para a história de Frankenweenie ao assistir os clássicos do terror e quando
sofreu a perda de seu cachorro. Em Frankenweenie (1984; 2012), Victor Frankenstein
aprende durante as aulas de ciências que a eletricidade pode ser útil para dar vida a seres
mortos. Assim, Victor monta seu laboratório no sótão da casa da família para tentar trazer
seu cachorro Sparky, que morreu após ter sido atropelado, de volta a vida.
Apesar do conceito de intertextualidade ter sido cunhado sobre bases literárias, as
adaptações fílmicas são também uma forma de intertextualidade que segundo Robert Stam
(2008, p. 22) “caem no contínuo redemoinho de transformações e referências intertextuais,
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de textos que geram outros textos num interminável processo de reciclagem, transformação
e transmutação, sem um ponto de origem visível”.
A grande diferença entre os dois textos (o literário e o cinematográfico) é que Victor
Frankenstein, de Mary Shelley, faz tudo tomado pelo impulso e entusiasmo, sem pensar nas
consequências, mas por fim quando observa sua criatura finalizada e com vida, ele a
repudia cheio de horror. O abandono faz com que a criatura se volte contra seu criador. Já o
menino Victor Frankenstein, de Tim Burton, ama seu cachorro de tal maneira que não mede
esforços para trazê-lo de volta a vida. No momento em que seu objetivo se concretiza ele
cerca o animal de cuidados e atenção. O amor que os une é tão forte que Sparky se arrisca
para salvar Victor de grandes dificuldades.
Como o objetivo do presente estudo é apresentar as relações intertextuais existentes
entre Frankenstein (romance) e de Frankenweenie (animação), não posso deixar de fora a
adaptação Frankenstein (1931) de James Whale (Figura 01), pois é a criatura deste filme
que permeia o imaginário de todos quando se fala em Frankenstein.
Apesar das relações existentes, aqueles, como o público infanto-juvenil, que ainda
não tiveram contato com os clássicos podem desfrutar do filme, pois não há a necessidade
prévia de conhecer as relações intertextuais para que a história tenha fluidez, porém os
adultos, que muitas vezes acompanham o público infanto-juvenil nas salas de cinema,
acabam percebendo essas relações e assim, a experiência fílmica acaba se tornando ainda
mais prazerosa.
Figura 01 – Henry Frankenstein e a criatura
Fonte: Fotograma de Frankenstein (1931) de James Whale.
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Figura 02 e Figura 03 – Victor Frankenstein
Fonte: Fotograma de Frankenweenie (1984, 2012, respectivamente) de Tim Burton.
Tim Burton dirigiu “seu primeiro Frankenweenie” (Figura 02) no ano de 1984,
enquanto trabalhava para a The Walt Disney Studios. Este curta-metragem narra a história
de um pré-adolescente e cineasta amador, Victor Frankenstein, que utiliza eletricidade para
trazer seu cachorro que foi atropelado e morto de volta a vida. O filme foi produzido em
live-action, com duração de 29 minutos. O elenco contava com Barret Oliver, como Victor
Frankenstein; Shelley Duvall atuou como a mãe de Victor e Daniel Stern, como o pai do
menino. Leonard Ripps, também conhecido como Lenny Ripps, foi quem adaptou o roteiro
para a história criada por Tim Burton. Julie Hickson da Disney foi quem produziu o curta-
metragem. A The Walt Disney Studios não aprovou o tom sombrio e violento do filme e
optou por arquivá-lo, como já mencionado anteriormente.
Em 2007, Burton assinou contrato com The Walt Disney Studios para realizar
Frankenweenie (Figura 03) como uma animação em 3D stop motion. Foram necessários 05
(cinco) anos para a finalização e lançamento nos cinemas. O roteirista John August baseou-
se no roteiro original de Lenny Ripps e no argumento de Tim Burton para criar a nova
adaptação. No roteiro de John August a trama é ampliada e várias personagens são incluídas
a narrativa a fim de dar vida às inúmeras confusões e aventuras de Victor, Sparky e seus
colegas. Além disso, a inclusão dessas personagens é que permitiu essa grande quantidade
de relações intertextuais.
É possível observar que Frankenweenie (2012) é uma adaptação fílmica na qual se
identifica pontos de convergência com a obra literária Frankenstein de Mary Shelley (1818)
e outras produções cinematográficas que dialogam com a animação. Ao adaptar
Frankenweenie (2012) Tim Burton opta por narrar a história a sua própria maneira, assim
apenas o argumento central do romance é mantido: “dar vida a matéria morta”.
Segundo Linda Hutcheon (2013, p. 24)
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Todos esses adaptadores contam histórias a seu próprio modo. Eles
utilizam as mesmas ferramentas que os contadores de histórias sempre
utilizaram, ou seja, eles tornam as ideias concretas ou reais, fazem
seleções que não apenas simplificam, como também ampliam e vão além,
fazem analogias, criticam ou mostram seu respeito, e assim por diante.
Stam (2008, p. 21) observa que “a teoria da intertextualidade de Kristeva, com
raízes no dialogismo de Bakhtin, enfatizou a interminável permutação de traços textuais, e a
não „fidelidade‟ de um texto posterior em relação a um anterior, o que facilitou uma
abordagem menos discriminatória”. Frankenweenie (2012) é, antes de qualquer coisa, uma
homenagem aos clássicos do cinema de terror, os conceitos propostos por Mary Shelley em
Frankenstein são a base da narrativa, mas é a miscelânea de referências a outras obras
fílmicas que o tornam um texto extremamente rico.
A cena na qual Victor Frankenstein, o garoto, dá vida à Sparky é muito semelhante a
cena do filme de James Whale. O laboratório de Victor (Figura 04) é equipado com
inúmeros artefatos que nos levam diretamente ao laboratório de Henry Frankenstein e seu
ajudante Fritz (Figura 05), as correntes, o lençol que cobre a criatura, a eletricidade que
percorre os equipamentos, o jogo de sombras, são elementos que nos fazem transitar entre
os filmes.
Figura 04 e Figura 05 – Laboratório de Victor Frankenstein e Laboratório de Henry
Frankenstein
Fonte: Fotograma de Frankenweenie (2012) e Fotograma de Frankenstein (1931).
Todavia, os óculos e as luvas utilizados por Victor para a realização do
procedimento de ressuscitação de Sparky nos lembram da personagem Jack Griffin,
também conhecido como o Homem invisível, do filme O homem invisível (1933), dirigido
por James Whale, como é possível observar na Figura 06. O peixe invisível (Figura 07) que
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surge do mesmo processo utilizado por Victor para trazer Sparky de volta à vida, pode ser
interpretado como mais uma forma de referência a essa obra do suspense e do terror.
Figura 06 e Figura 07 – O homem invisível e O peixe invível
Fonte: Fotograma de O homem invisível (1933) e Fotograma de Frankenweenie (2012).
Outro filme homenageado por Tim Burton em Frankenweenie é A noiva de
Frankenstein (1935), também dirigido por James Whale. A cena dos papagaios (Figura 08)
sendo empinados para que a energia dos raios chegue ao corpo de Sparky é muito parecida
com a cena dos papagaios do filme de Whale (Figura 09), porém os papagaios de Victor são
um guarda-chuva, um papagaio em forma de losango e outro em formato de morcego – o
que nos leva a mais uma referência intertextual, pois pode nos remeter tanto ao filme
Drácula (1931), de Tod Browning, quando o Conde Drácula vira morcego e fica voando
em torno da varanda da casa de Mina, quanto pode relacionar-se com o filme Batman
(1989), dirigido por Tim Burton.
Figura 08 e Figura 09 – Papagaios de Victor Frankenstein e Papagaios de Henry
Frankenstein
Fonte: Fotograma de Frankenweenie (2012) e Fotograma de A noiva de Frankenstein (1935).
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Os cabelos escuros com as mechas brancas da noiva (Figura 10) são utilizados na
animação para compor a imagem de Perséfone (Figura 11), a cachorrinha poodle de Elsa
Van Helsing – aqui mais uma referência ao filme Drácula (1931), pois Van Helsing é o
“mentor intelectual da destruição do vampiro” (GAMA, 1996, p 45). Perséfone é a
cachorrinha pela qual Sparky nutre sentimentos, assim como a criatura de Frankentein que
ao ver a noiva, fica feliz achando que finalmente encontrou uma companheira. Aqui
também podemos observar outra intertextualidade existente, pois o nome da poodle é
Perséfone que, na mitologia grega, é filha de Zeus e Deméter, pela qual Hades, irmão de
Zeus, se apaixona. Segundo a mitologia, Perséfone comeu grãos de romã que firmam sua
união com Hades, o que a tornou rainha do Reino dos Mortos.
Figura 10 e Figura 11 – A noiva e Perséfone
Fonte: Fotograma de A noiva de Frankenstein (1935) e Fotograma de Frankenweenie (2012)
A múmia (1932), dirigido por Karl Freund é outro filme cultuado por Burton, neste
filme Boris Karloff interpreta Imhotep (a múmia) que foi enterrado vivo por ter cometido
sacrilégio. A múmia é ressuscitada acidentalmente por um grupo de arqueólogos que lê o
pergaminho que o traz de volta a vida. Imhotep tem como objetivo trazer sua amada, a
Princesa Ankh-es-em-amon, de volta a vida. Em Frankenweenie (2012), Colossus, o
hamster de Nassor, quando ressuscitado surge como uma múmia (Figura 12). Os trapos que
revestem o hamster se arrastam pelo chão da mesma forma a ausência de Imhotep surge
para o espectador no filme A múmia, pois apenas os trapos aparecem na tela iluminados por
um resquício de luz que surge pela fresta da porta (Figura 13).
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Figura 12 e Figura 13 – Colossus e os Trapos da Múmia Imhotep
Fonte: Fotograma de Frankenweenie (2012) e Fotograma de A múmia (1932).
Todavia, as referências a este clássico do terror não se encerram aqui, Nassor é
mumificado (Figura 14 e 15) durante o Dia Holandês, momento em que todos os monstros
acabam se encontrando no centro da cidade e causando as maiores confusões.
Figura 14 e Figura 15 – Nassor sendo mumificado
Fonte: Fotogramas de Frankenweenie (2012).
A personagem Nassor (Figura 16) apresenta características físicas que nos lembram
da criatura de Frankenstein (Figura 17) no clássico de James Whale, além disso é uma
forma encontrada por Burton para homenagear um dos grandes nomes do cinema de Terror,
Boris Karloff.
Boris Karloff, que deu vida a criatura de Frankenstein, atuou em vários filmes de
terror lançados pela Universal nos anos de 1930, principalmente naqueles que possuíam
alguma relação com o filme Frankenstein (1931) de James Whale, como A noiva de
Frankenstein (James Whale, 1932), O filho de Frankenstein (Rowland W. Lee, 1938) em
todos atuando como o “monstro”, também atuou em A múmia (1932), de Karl Freund e
tantos outros filmes que são referência quando o assunto é terror e ficção científica.
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Figura 16 e Figura 17 – Nassor e criatura de Frankenstein
Fonte: Fotograma de Frankenweenie (2012) e Fotograma de Frankenstein (1931).
Outras personagens da trama, tais como a tartaruga Shelley (uma referência tanto a
escritora de Frankenstein, quanto à atriz que interpretou a mãe de Victor, no curta-
metragem de 1984) que esmaga o hamster Colossus, ainda necessitam de uma análise mais
aprofundada para que seja possível identificar suas origens e suas relações com outros
filmes.
Considerações finais
Algumas vezes é fácil perceber as relações ou homenagens, em outras se percebe
que há a necessidade de conhecimentos mais aprofundados das preferências do próprio
cineasta para que seja possível identificar as relações. Observa-se que referências
intertextuais propostas pelo cineasta em Frankenweenie (2012) podem ser como diria Stam
(2008, p. 44) “explícitas ou implícitas, conscientes ou inconscientes, diretas e locais ou
amplas e difusas”.
O presente estudo é apenas uma breve análise das relações intertextuais existentes
em Frankenweenie (2012) e os 04 (quatro) filmes com os quais se observa a existência de
alguma relação: Frankenstein, A noiva de Frankenstein e O homem invisível, todos
dirigidos por James Whale, além de A múmia (1932), de Karl Freund. Além das relações
explícitas com as obras citadas é possível observar que há relações implícitas, como
acontece nas referências ao filme Drácula (1931) de Tod Browning.
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Acredita-se que muitas outras relações sejam possíveis e que há a necessidade de
pesquisar quais são os filmes que influenciaram o cineasta Tim Burton, pois essas
informações podem alterar de maneira positiva a pesquisa, tendo em vista que tomando
como ponto de partida as obras às quais o cineasta assistia, pode-se encontrar muitas outras
relações que até o momento não estão explícitas.
REFERÊNCIAS
A MÚMIA. Direção: Karl Freund. Estados Unidos: Universal Pictures, 1932. 1 filme (72min),
sonoro, legenda, p&b. Disponível em: <http://cinemalivre.net/filme_a_mumia_1932.php>. Acesso
em: 02 abr. 2016.
A NOIVA de Frankenstein. Direção: James Whale. Estados Unidos: Universal Pictures, 1935. 1
filme (75min), sonoro, legenda, p&b.
FERENCZI, Aurélien. Tim Burton. Paris: Cahiers du cinéma SARL, 2013.
FRANKENSTEIN. Direção: James Whale. Estados Unidos: Universal Pictures, 1931. (71 min),
sonoro, legenda, p&b.
FRANKENWEENIE. Direção: Tim Burton. Estados Unidos. Walt Disney Pictures, 1984. 1 filme
(29min), sonoro, legenda, p&b. Disponível em:
<http://www.dailymotion.com/video/xknapr_frankenweenie-by-tim-burton-1984_shortfilms>.
Acesso em: 15 abr. 2015.
FRANKENWEENIE. Direção: Tim Burton. Estados Unidos. Walt Disney Pictures, 2012.1 DVD
(87 min).
GAMA, Gilza Martins Saldanha da. Drácula et alli: o discurso do terror. Rio de Janeiro: Jatanesi,
1996.
GENETTE, Gerard. Palimpsestos: a literatura de segunda mão. Tradução de: LUCIENE
GUIMARÃES e MARIA ANTONIA RAMOS COUTINHO. Belo Horizonte: Faculdade de Letras
da UFMG, 2006. Título original: Palimpsestes: la littérature au second degré.
GUIMARÃES, Denise Azevedo Duarte. Histórias em quadrinhos e cinema: adaptações de Alan
Moore e Frank Miller. Curitiba: UTP, 2012.
HUTCHEON, Linda. Uma teoria da adaptação. 2. ed. Florianópolis: Ed. da UFSC, 2013.
KRISTEVA, Julia. Introdução à semanálise. 2. ed. São Paulo: Perspectiva, 2005. (Debates, v. 84)
O ESTRANHO MUNDO DE TIM BURTON. Disponível em:
<http://www.oestranhomundodetimburton.com/>. Acesso em: 02 abr. 2016.
O HOMEM invisível. Direção: James Whale. Estados Unidos: Universal Pictures, 1933. (59 min),
sonoro, legenda, p&b. Disponível em:
<http://cinemalivre.net/filme_o_homem_invisivel_1933.php>. Acesso em: 02 abr. 2016.
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STAM, Robert. A literatura através do cinema: realismo, magia e a arte da adaptação. Belo
Horizonte: Editora UFMG, 2008.
SHELLEY, Mary Wollstonecraft. Frankenstein. Porto Alegre: LP&M, 2012. (Coleção LP&M
POCKET, v. 54)