Frantz Fanon Os Condenados Da Terra

2
Libertação Nacional, Renascimento Nacional, Restituição da Nação ao Povo, CommonweaIth, quaisquer que sejamás rubricas utilizadas ou as novas fórmulas introduzidas, a descolonização é sempre um fenômeno violento. descolonização é simplesmente a substituição de uma "espécie" de homens por outra "espécie" de homens. Sem transição, há substituição total,completa, absoluta. Sem dúvida poder-se-ia igualmente mostrar o aparecimento de uma nova nação, a instalação de um nôvo Estado, suas relações diplomáticas, sua orientação política,econômica. Mas nós preferimos falar precisamente dêsse tipo de tábula rasa que caracteriza de saída toda descolonização. Sua importância invulgar decorre do fato de que ela constitui, desde o primeiro dia, a reivindicação mínima do colonizado. Para dizer a verdade, a prova do êxito reside num panorama social transformado de aIto a baixo. A extraordinária importância de tal transformação é ser ela querida, reclamada, exigida. A necessidade da transformação existe em estado bruto,impetuoso e coativo, na consciência e na vida dos homens e mulheres colonizados. Mas a eventualidade dessa mudança éigualmente vivida sob a forma de um futuro terrificante: na consciência de uma outra "espécie" de homens e mulheres:os colonos. A descolonização, que se propõe mudar a ordem do mundo, é, está visto, um programa de desordem absoluta. Mas não pode ser o resultado de uma operação mágica, de um abalo natural ou de um acôrdo amigável. A descolonização,sabemo-lo, é um processo histórico, isto é, não pode ser compreendida, não encontra a sua inteligibilidade, não se: torna transparente para si mesma seno na exata medida em que se faz discernível o movimento historicizante que lhe: dá forma e conteúdo. A descolonização é o encontro de duas fôrças congênitamente antagônicas que extraem sua originalidade precisamente dessa espécie de substantificação que segrega e alimenta a situação colonial. Sua primeira confrontação se desenrolou sob o signo da violência, e sua coabitação – ou melhor, a exploração do colonizado pelo colono - foi levada a cabo com grande refôrço de baionetas e canhões. O colono e o colonizado são ve1hos conhecidos. E, de fato, o colono tem razão quando diz que "os" conhece.É o colono que

description

hghg

Transcript of Frantz Fanon Os Condenados Da Terra

Libertao Nacional, Renascimento Nacional, Restituio da Nao ao Povo, CommonweaIth, quaisquer que sejams rubricas utilizadas ou as novas frmulas introduzidas, a descolonizao sempre um fenmeno violento. descolonizao simplesmente a substituio de uma "espcie" de homens por outra "espcie" de homens. Sem transio, h substituio total,completa, absoluta. Sem dvida poder-se-ia igualmente mostrar o aparecimento de uma nova nao, a instalao de um nvo Estado, suas relaes diplomticas, sua orientao poltica,econmica. Mas ns preferimos falar precisamente dsse tipo de tbula rasa que caracteriza de sada toda descolonizao.Sua importncia invulgar decorre do fato de que ela constitui, desde o primeiro dia, a reivindicao mnima do colonizado. Para dizer a verdade, a prova do xito reside num panorama social transformado de aIto a baixo. A extraordinria importncia de tal transformao ser ela querida, reclamada, exigida. A necessidade da transformao existe em estado bruto,impetuoso e coativo, na conscincia e na vida dos homens e mulheres colonizados. Mas a eventualidade dessa mudana igualmente vivida sob a forma de um futuro terrificante: na conscincia de uma outra "espcie" de homens e mulheres:os colonos. A descolonizao, que se prope mudar a ordem do mundo, , est visto, um programa de desordem absoluta. Mas no pode ser o resultado de uma operao mgica, de um abalo natural ou de um acrdo amigvel. A descolonizao,sabemo-lo, um processo histrico, isto , no pode ser compreendida, no encontra a sua inteligibilidade, no se: torna transparente para si mesma seno na exata medida em que se faz discernvel o movimento historicizante que lhe: d forma e contedo. A descolonizao o encontro de duas fras congnitamente antagnicas que extraem sua originalidade precisamente dessa espcie de substantificao que segrega e alimenta a situao colonial. Sua primeira confrontao se desenrolou sob o signo da violncia, e sua coabitao ou melhor, a explorao do colonizado pelo colono - foi levada a cabo com grande refro de baionetas e canhes. O colono e o colonizado so ve1hos conhecidos. E, de fato, o colono tem razo quando diz que "os" conhece. o colono que fz e continua a fazer o colonizado. O colono tira a sua verdade,isto , os seus bens, do sistema colonial.