Franz Boas e a Escola Americana

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1 Franz Boas e a Escola Americana Silvana Sobreira de Matos Doutoranda em Antropologia/ PPGA/UFPE INTRODUÇÃO O presente ensaio visa fazer uma análise sobre a escola de Cultura e Personalidade da antropologia. Em meados dos anos 30 um grupo de alunos liderado por Franz Boas começou a desenvolver monografias que tinham como foco central as relações entre a Cultura e a Psicologia. Chamados de configuracionistas por acreditarem que as várias condutas e resultados de conduta que compõem uma cultura são organizados dentro de um todo padronizado, estes pesquisadores buscavam desta forma entender o caráter distintivo e pessoal de cada sociedade. Para tanto, algumas vertentes surgiram dentro da escola americana, como foi o caso dos estudos de Cultura e Meio - Ambiente liderado por Julian Stweard, Cultura e Linguagem que tinha como representante principal Edward Sapir, e Cultura e Personalidade que tinha como expoentes máximos Ruth Benedict, Margaret Mead e Ralph Linton. Desta forma diante da extensão desta vertente da antropologia, analisaremos apenas a escola de Cultura e Personalidade. Num primeiro momento intitulado “Franz Boas e a Escola Americana”, discutiremos dados biográficos do autor, o cenário intelectual deste quando começa seus estudos antropológicos, seu caminho teórico e metodológico e o seu relacionamento mesmo que tímido com a psicologia. A intenção desta parte foi demonstrar a conexão existente entre Boas e seus principais discípulos observando que como o próprio autor afirmou os problemas sócio-psicológicos não é de modo algum oposto à abordagem histórica. Em seguida na parte “O configuracionismo”, discutiremos as vertentes criadas dentro da abordagem histórica ou culturalista, dando ênfase a escola de Cultura e Personalidade. Neste momento trataremos do conceito de cultura, configuracionismo e personalidade. Por fim no subitem “Ruth Benedict e Margaret Mead” apresentamos dados biográficos e como os conceitos principais foram usados nas monografias destas

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Franz Boas e a Escola Americana

Silvana Sobreira de Matos

Doutoranda em Antropologia/ PPGA/UFPE

INTRODUÇÃO

O presente ensaio visa fazer uma análise sobre a escola de Cultura e

Personalidade da antropologia. Em meados dos anos 30 um grupo de alunos liderado

por Franz Boas começou a desenvolver monografias que tinham como foco central as

relações entre a Cultura e a Psicologia. Chamados de configuracionistas por acreditarem

que as várias condutas e resultados de conduta que compõem uma cultura são

organizados dentro de um todo padronizado, estes pesquisadores buscavam desta forma

entender o caráter distintivo e pessoal de cada sociedade.

Para tanto, algumas vertentes surgiram dentro da escola americana, como foi o

caso dos estudos de Cultura e Meio - Ambiente liderado por Julian Stweard, Cultura e

Linguagem que tinha como representante principal Edward Sapir, e Cultura e

Personalidade que tinha como expoentes máximos Ruth Benedict, Margaret Mead e

Ralph Linton. Desta forma diante da extensão desta vertente da antropologia,

analisaremos apenas a escola de Cultura e Personalidade.

Num primeiro momento intitulado “Franz Boas e a Escola Americana”,

discutiremos dados biográficos do autor, o cenário intelectual deste quando começa seus

estudos antropológicos, seu caminho teórico e metodológico e o seu relacionamento

mesmo que tímido com a psicologia. A intenção desta parte foi demonstrar a conexão

existente entre Boas e seus principais discípulos observando que como o próprio autor

afirmou os problemas sócio-psicológicos não é de modo algum oposto à abordagem

histórica.

Em seguida na parte “O configuracionismo”, discutiremos as vertentes criadas

dentro da abordagem histórica ou culturalista, dando ênfase a escola de Cultura e

Personalidade. Neste momento trataremos do conceito de cultura, configuracionismo e

personalidade. Por fim no subitem “Ruth Benedict e Margaret Mead” apresentamos

dados biográficos e como os conceitos principais foram usados nas monografias destas

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duas autoras. Falaremos ainda da importância das idéias por elas inauguradas e as

influências de suas análises nos estudos posteriores sobre gênero, sexualidade,

migrações, caráter nacional e racismo. Nas considerações finais, faremos um apanhando

geral das idéias da escola de Cultura e Personalidade, suas principais contribuições e as

críticas levantadas a esta escola.

1. Franz Boas e a Escola Americana

Franz Uri Boas nasceu na Prússia em Minden (Vestfália) em nove de julho de

1858. Filho de comerciantes judeus entrou para a universidade de Heidelberg onde se

graduou em Física. Em 1881 defendeu uma dissertação sobre a absorção da luz pela

água.

Insatisfeito com a carreira de físico, Boas entra em contato com o geógrafo

Theobald Fischer o que o leva a se interessar pelas ciências humanas. Em seguida

conhece o patriarca da antropologia alemã Adolf Bastian fundador do Museum für

Völkerkunde (Museu do Folclore). Segundo Celso de Castro (2004) nesta época Boas

começa seus estudos de técnicas de medições da antropologia física.com o anatomista

Rudolf Virchow. Contudo foi em 1883 que Boas começou o longo processo de

passagem da geografia para a antropologia. Financiado por um jornal de Berlim, Boas

parte para ilha de Baffin no Canadá numa expedição entre os esquimós que dura um

ano.

Foi nesta época que começou a surgir o germe das concepções de Boas e

podemos observar no texto citado abaixo por Celso de Castro (2004) os primeiros

lampejos do relativismo cultural que vai marcar a virada nos estudos antropológicos.

Boas afirma que; Frequentemente me pergunto que vantagens nossa “boa sociedade” possui sobre aquela dos “selvagens” e descubro, quanto mais vejo de seus costumes, que não temos o direito de olha-los de cima para baixo. Onde, em nosso povo, poder-se-ia encontrar hospitalidade tão verdadeira quanto aqui?... Nós “pessoas altamente educadas”, somos muito piores, relativamente falando. ... Creio que, se esta viagem tem pra mim (como ser pensante) uma influência valiosa, ela reside no fortalecimento do ponto de vista da relatividade de toda formação [Bildung], e que a maldade, bem como o valor de uma pessoa, residem na formação do coração [Herzensbildung], que eu encontro, ou não, tanto aqui quanto entre nós. (CASTRO, 2004:9)

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Quando Boas entra no cenário da antropologia, esta ciência estava ainda atrelada

aos conceitos de evolução e progresso, era a época do Evolucionismo Vitoriano. Em

1858 Charles Darwin havia lançado “A origem das espécies” enquanto Hebert Spencer

num ensaio intitulado “A hipótese do desenvolvimento” observava que “o mais simples

e o mais pobre é sempre o mais antigo que o complexo e o mais rico”. (BERNADI,

1974:172).

O evolucionismo cultural era portanto a escola que estava no auge. Estudos

como “Cultura Primitiva” (1871) de E. B. Tylor, “Sociedade Antiga” (1878) de L.

Morgan e “O Ramo de Ouro” (1890) de J. Frazer traziam o referencial teórico e

metodológico desta escola. Dentre as principais características desta escola podemos

destacar a amplitude do objeto de estudo que abrangia o fenômeno da cultura como

fenômeno próprio da espécie humana. Como acreditavam na unidade psíquica do

homem era fácil catalogar em estágios distintos a evolução e progresso de todas as

sociedades que culminaria assim na civilização, ou no modelo sócio - cultural no qual

estavam inseridos estes pesquisadores. Esta análise por sua vez era diacrônica o que

levou de certa forma os evolucionistas a criarem um tempo novo, ou seja, o tempo

cultural. “De fato o que importava não era o estágio de cultura vivido pelo povo em

questão. Daí se pode dizer que para os evolucionistas os níveis de cultura determinavam

o tempo e não este os níveis de cultura.” (MELLO, 1986:210).

Além das características acima citadas, os evolucionistas adotaram ainda método

comparativo em suas pesquisas. Sem a utilização do trabalho de campo, estes teóricos

se voltaram para a análise de pesquisas de segunda mão e desta forma produziram

vastos volumes com uma infinidade de excentricidades que estes comparavam sem

muito rigor científico.

Desta forma em 1896, seis anos após a publicação do livro de James Frazer “O

Ramo de Ouro”, Boas escreve “As limitações do método comparativo”. Este texto

célebre da antropologia produziu uma revolução nesta ciência por levantar críticas aos

evolucionistas e ao seu método comparativo e ainda propor novas questões teóricas e

metodológicas para a antropologia. Lido pela primeira vez em um encontro da

American Association for the Advancement (AAA), Celso de Castro afirma que;

A crítica de Boas, no entanto, não era contra a teoria da evolução quanto com relação ao seu método. Para ele,

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antes de supor que os fenômenos aparentemente semelhantes pudessem ser atribuídos as mesmas causas – o que não ficava de modo algum provado -, era preciso perguntar, para cada caso, se eles não teriam sido transmitidos de um povo a outro. Ao contrário do método dedutivo dos evolucionistas, Boas defendia o método de indução empírica, evitando amarrar os fenômenos em uma camisa - de – força teórica. O novo “método histórico”, por ele defendido em oposição ao comparativo, exigia que se limitasse a comparação a um território restrito e bem definido. A precondição para leis gerais seria, portanto, o estudo de culturas tomadas individualmente e de regiões culturais delimitadas.” (CASTRO, 2004:16)

Textos como “Os métodos da etnologia” (1920) “Alguns problemas de

metodologia nas ciências sociais” (1930) e “Os objetivos da pesquisa antropológica”

(1932), contribuíram para o melhor entendimento das idéias de Boas e ainda reiteravam

suas críticas aos evolucionistas. Boas também endereçou criticas veementes aos

difusionistas que acreditavam que a diversidade cultural humana se dava

exclusivamente pela difusão. “Embora Boas reconhecesse a importância geral do

fenômeno da difusão, ele limitava sua pertinência explicativa apenas a áreas

relativamente próximas, onde se pudesse reconstituir com razoável segurança a história

das transmissões culturais.” (CASTRO, 2004:16).

Para além do seu interesse em áreas afins da antropologia como a história, a

geografia e a lingüística, Boas foi responsável por introduzir nesta ciência elementos da

psicologia que foram de fundamental importância nos estudos sobre raça e cultura e

posteriormente no desenvolvimento da Escola Configuracionista de Cultura e

Personalidade. Esta preocupação com a psicologia vai ficar clara no seu texto de 1911

intitulado “Problemas psicológicos na antropologia”. Neste texto, Boas vai dissertar

sobre as leis psicológicas que governam o homem como membro individual da

sociedade, afirmando que,

O problema fundamental de toda pesquisa antropológica diz respeito ao equipamento mental das várias raças do homem. Serão todas as raças igualmente dotadas no que diz respeito à mente ou existem diferenças materiais? A resposta final a essa questão não foi dada, mas observações anatômicas das várias raças sugerem que as diferenças na forma do sistema nervoso, são presumivelmente acompanhadas por diferenças de função, ou, em termos psicológicos, que os traços mentais que caracterizam indivíduos diferentes são

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distribuídos de maneira variável entre as diferentes raças. Assim, o quadro composto pelas características mentais de uma raça presumivelmente não coincidiria com o quadro composto pelas características mentais de outra raça. No entanto, as evidências apresentadas não justificam afirmar que as características de uma raça seriam mais avançadas que as de outra, embora sejam diferentes. (STOCKING, JR, 2004:294)

Desta forma quando Boas fazia uso da psicologia era na tentativa de mostrar que

vários casos de fenômenos diversos são baseados em processos psíquicos semelhantes

que oferecem ao investigador uma linha de estudo promissora para a antropologia.

Portanto a influência de Boas é ainda hoje bastante forte. Suas concepções de

cultura, raça, suas análises sobre lingüística e o fenômeno da migração e a diligência em

tornar a antropologia menos etnocêntrica ainda reverbera na antropologia dos dias

atuais. Para além de suas inovações no campo da antropologia, Boas ainda foi

responsável pela primeira geração de antropólogos como Kroeber, Lowie, Sapir,

Herskovitz, Linton, R. Benedict e M. Mead. Segundo George Stocking Jr. “é possível

distinguir fases temporais de desenvolvimento e distinguir também o que poderíamos

chamar de boasianos “estritos” (Spier, Lowie, Herskovits), boasianos “evoluídos” (R.

Benedict e M. Mead) e boasianos “rebeldes” (kroeber, Radin e Sapir)” (STOCKING,

2004:35)

Após esse breve passeio pela Escola Americana inaugurada por Boas iremos

agora analisar o desenvolvimento desta escola que culminou na escola

Configuracionista de Cultura e Personalidade.

1.2 O Configuracionismo.

Podemos afirmar que o configuracionismo é um prolongamento do difusionismo

americano de Boas porque representa ainda uma abordagem de culturas particulares.

Segundo Luis Melo (1986) o enfoque configuracionista já existia no historicismo de

Boas, embora não com tanto realce. Na introdução do livro de Ruth Benedict, “Patterns

of Culture” (1960), Boas diz textualmente: “Nós devemos entender o indivíduo como

vivendo em sua cultura; e a cultura como vivida pelos indivíduos. O interesse por estes

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problemas sócio-psicológicos não é de modo algum oposto à abordagem histórica”.

(BOAS apud MELO, 1986:236).

Desta forma o configuracionismo tentou encontrar explicação para a

individualidade ou especificidade das culturas particulares. Partindo do pressuposto que

um mesmo traço cultural tomado de empréstimo por duas culturas distintas pode sofrer

transformações neste fenômeno de adoção é que Boas e alguns configuracionistas a

exemplo de R. Benedict e E. Sapir desenvolveram suas idéias. Os Configuracionistas

acreditavam que cada cultura é particular como um indivíduo e esta individualidade de

cada cultura seria a sua configuração.

No grupo dos configuracionistas várias vertentes foram criadas. Uma delas

Cultura e Linguagem, que tinha como principal representante Edward Sapir,

desenvolveu-se a partir de caminhos que mesclavam a antropologia com uma outra

ciência, - a lingüística. Esta vertente foi responsável pelo o posterior avanço nos estudos

de sociolingüística e etnolinguística, ou seja, ambas as disciplinas tem o projeto de fazer

a junção entre língua, por um lado, e cultura, grupo étnico ou sociedade por outro. Em

linhas gerais esta vertente tentou demonstrar que,

a estrutura própria de uma língua qualquer é, para aqueles que a falam, o fator determinante que organiza sua visão de mundo que os cerca. A língua substanciaria a realidade e, para eles, modelaria a ordem cultural. É a língua, como um véu que faz a mediação entre a cultura e o mundo da realidade. (ROCHA, 1984:53)

Um segundo grupo liderado por Julien Steward buscou relacionar Cultura e

Meio – Ambiente. Em linhas gerais, a idéia desta vertente recai na noção de que o

ambiente é o fator determinante que restringe as opções culturais. A cultura passa a ser

como uma resposta possível e adequada ao meio ambiente onde se estabelece. Portanto, Existe uma interação onde elementos de ordem ecológica constrangem, tornam-se precondição, para a ordem cultural. Os elementos culturais terão nos ecológicos, no ambiente, no meio, o seu determinante fundamental para a mudança, numa espécie de jogo de readaptações e respostas. (ROCHA, 1984:55).

A importância deste grupo é de ter colocado questões de equilíbrio, preservação

e mútua dependência entre as culturas e destas com o ambiente onde se erigem. A

terceira é última vertente na qual nos deteremos com mais afinco neste ensaio, é a

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chamada Cultura e Personalidade que vai relacionar mentalidade, a psicologia dos

indivíduos com a cultura por eles vivida.

Esta escola foi responsável por levar ao público não acadêmico livros de

qualidade que se tornam best-sellers da antropologia. Os números impressionam: dois

milhões de cópias para “Padrões de cultura” e 350 mil para “O crisântemo e a espada”.

Tanto Ruth Benedict como Margaret Mead, venderam milhares de livros nos Estados

Unidos fazendo uma comparação da sociedade americana com outras sociedades.

O diálogo com a psicologia foi o ponto marcante desta vertente. A idéia central

desta escola foi estabelecer uma relação entre cultura e as personalidade individuais, ou

seja, é como se cultura fizesse a escolha daquilo que iria minimizar, acentuar ou ignorar

nas vidas humanas. Algumas características dos indivíduos, da sua personalidade teriam

um “valor” para a cultura que o incentivaria ou o reprimiria. Assim, “a cultura, vai ser

definida pelo o padrão de características sistematicamente impressas nas personalidades

individuais”. O conjunto das personalidades assim marcadas dá o “tom”, a “coloração”,

o “feitio” que a cultura vai adquirir. “(ROCHA, 1984:49)”. Esta escola desenvolveu-se

a partir do interesse de Boas pelo o “gênio de um povo” e resultou na década de 1930,

em estudos de aculturação, de padrão de cultura e de cultura e personalidade.

Segundo Laburthe Tolra e Warneir (1997),

“estes antropólogos começaram a explorar as dimensões inconscientes da civilização, a produção da personalidade individual em função das práticas do corpo e das normas de comportamento recebidas, a definição cultural de masculinidade e da feminilidade, os papéis sociais a eles associados, o caráter nacional, a relação entre civilização e as formas assumidas pela patologia mental e sua cura.” (Tolra & Wainer,1997:62)

Na verdade não podemos deixar de citar que esta escola foi uma reação clara as

análises de Freud sobre a civilização, personalidade, religião, totemismo e etc., ou seja,

questões que a antropologia debatia desde seus primórdios. Para exemplificar esta

premissa vejamos o que Freud diz sobre a formação da sociedade ou civilização; Em Totem e Tabu, tentei demonstrar o caminho que vai dessa família à etapa subseqüente, a da vida comunal, sob forma de grupos de irmãos. Sobrepujando o pai, os filhos descobriram que uma combinação pode ser mais forte do que um indivíduo isolado. A cultura totêmica baseja-se nas restrições que os filhos tiveram de impor-se mutuamente, a fim de conservar esse novo estado de

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coisas. Os preceitos do tabu constituíram o primeiro “direito” ou “lei”. A vida comunitária dos seres humanos teve, portanto, um fundamento duplo: a compulsão para o trabalho, criada pela necessidade externa, o poder do amor, que fez o homem relutar em privar-se de seu objeto sexual – a mulher – e a mulher, em privar-se daquela parte de si própria que ela fora separada – seu filho. Eros e Ananke [Amor e Necessidade] se tornaram os pais também da civilização. (FREUD, 1997:55)

Desta forma Freud acreditava que o interdito ou o tabu do incesto foi uma

escolha que nem sempre foi vista com bons olhos pelo o grupo comunal, na verdade ele

afirma que a fase totêmica traz com ela a “proibição de uma escolha incestuosa de

objeto, o que constitui, talvez, a mutilação mais drástica que a vida erótica do homem

em qualquer época já experimentou” (FREUD, 1997:59).

Os configuracionistas por sua vez, reagiram a obra de Freud criticando suas

concepções sexistas, o evolucionismo psíquico, os instintos biológicos, diminuíram a

importância do sexo, rejeitaram algumas teorias de cunho antropológico e investiram

por sua vez em alguns casos clínicos de Freud.

Na verdade boa parte das críticas levantadas a Freud por esta escola diz respeito

à força que este dava aos instintos em detrimento da cultura. Ralph Linton diz,

Até tempos bem recentes os próprios psicólogos não haviam conseguido dar-se conta de que todos os seres humanos, eles próprios incluídos, se desenvolvem e funcionam em um meio ambiente que é, na maior parte, culturalmente determinado. Enquanto limitaram suas investigações a indivíduos criados dentro da moldura de uma única cultura, não puderam deixar de chegar a conceitos sobre a natureza humana que estavam longe da verdade. Até mesmo um mestre da qualidade de Freud frequentemente se valeu dos instintos para explicar as reações que agora vemos que estão diretamente relacionados com o condicionamento cultural. (LINTON, 1979:129)

Mas então deveríamos nos perguntar como esta escola entendia o conceito de

cultura? Segundo Ralph Linton no seu livro “Cultura e Personalidade” escrito em 1945,

a mudança processada na pesquisa científica com relação à cultura teve importância

fundamental quando se deu a passagem do colecionamento de curiosidades para a

concepção de que mais importante do que as diferenças são as similitudes entre as

culturas. Desta forma o fato de que todas as sociedades possuem alguma espécie de

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organização de parentesco e familiar tem portanto maior significado do que o fato como

observa Linton que as mulheres tibetanas possuem vários maridos.

A segunda transformação diz respeito segundo o autor acima mencionado, a

verificação de que há muitos problemas que só podem ser resolvidos pelo estudo do

modo de vida de sociedades particulares como um todo. Assim, embora os indivíduos

possam reagir a situações particulares de modos particulares, suas personalidades são

plasmadas pela sua experiência com o modo de vida de sua sociedade como um todo.

Linton então vai afirmar que o termo cultura refere-se, ... ao modo de vida total de qualquer sociedade, não simplesmente àquelas partes desse modo, que a sociedade encara como mais altas ou desejáveis. Assim a cultura, quando aplicada ao nosso próprio modo de vida, nada tem a ver com tocar piano ou ler Browing. Para o cientista social tais atividades são simplesmente elementos dentro da totalidade de nossa cultura. Essa totalidade também inclui atividades mundanas, tais como lavar pratos ou dirigir um automóvel e, para os propósitos dos estudos culturais, ficam elas de par com “as mais belas coisas da vida”. Segue-se que para o cientista social não há sociedades incultas ou mesmo indivíduos. Cada sociedade tem uma cultura, não importa quão simples essa cultura possa ser, e cada ser humano é culto, no sentido de participar de uma ou outra cultura. (LINTON, 1979:42)

Mais adiante Linton acrescenta dizendo que o trabalho do cientista social deve

começar pela investigação de culturas, e dos modos de vida que são característicos de

sociedades particulares. Cultura representaria, portanto uma generalização baseada na

observação e comparação de uma série de culturas. Mais outro questionamento se

impõe. E o que seria uma configuração? Linton resolve esta questão afirmando que para

os interesses especiais dos estudiosos da personalidade “uma cultura seria a

configuração de conduta aprendida e resultados de conduta cujos elementos

componentes são partilhados e transmitidos pelos membros de uma sociedade

particular” (LINTON, 1979:43) e o termo configuração “implica que as várias condutas

e resultados de conduta que compõem uma cultura são organizados dentro de um todo

padronizado” (LINTON, 1979: 43).

Passo a Passo Linton vai explicar melhor o que ele entende por conduta

aprendida, resultado de conduta, partilha e transmissão da mesma. Vejamos.

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Esta “conduta apreendida” limita as atividades que devem ser classificadas como

parte da configuração de qualquer dada cultura àquelas cujas formas tem sido

modificadas pelo processo de aprender. Linton então afirma que nem a conduta

instintiva, nem as necessidades básicas ou tensões que fornecem as derradeiras

motivações da conduta no indivíduo jamais foram encaradas como partes da cultura, a

despeito de sua evidente influência sobre a cultura. Para ele o termo conduta deve ser

entendido no seu sentido mais amplo, incluindo todas as atividades do indivíduo, quer

públicas ou privadas, físicas ou psicológicas. Já a expressão “resultado de conduta”

... refere-se a fenômenos de duas ordens completamente diferentes, psicológicos e materiais. Aqueles incluem os resultados de conduta representados no indivíduo por estados psicológicos. Assim, atitudes, sistemas de valor e conhecimento seriam todos incluídos nessa categoria. (LINTON, 1979:44)

A inclusão de resultados materiais de conduta nos fenômenos abrangidos pelo

conceito de cultura não deve ser descartado pelos antropólogos apesar das objeções

como ele afirma de certos sociólogos. Ele frisa que os objetos habitualmente feitos e

utilizados pelos os membros de qualquer sociedade sempre foram conhecidos

coletivamente como sua cultura material e olhados como parte integral da configuração

cultural. Desta forma a eliminação da cultura material constituiria mais uma perda que

um ganho.

Já o termo “partilha” deve ser tomado no sentido de que um padrão particular de

cultura, atitude ou parte de conhecimentos é comum a dois ou mais membros de uma

sociedade. Linton faz uma ressalva a este termo dizendo que:

Não se deve crer que implique que elementos, que devem ser encarados como parte de uma configuração cultural, tenham de ser partilhados por todos os membros de uma sociedade, durante toda a duração dessa sociedade. As culturas mudam e crescem, descartando-se de certos elementos e adquirindo novos, no curso de sua história. (LINTON, 1979:47)

A “transmissão” por sua vez seria a co-participação de elementos de conduta,

dependendo, portanto de sua transmissão de um indivíduo para outro por meio de

instrução ou imitação.

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A escola de cultura e personalidade como dissemos anteriormente é toda baseada

na psicologia e na psicanálise. Para os propósitos de suas pesquisas R. Linton conceitua

personalidade como, O conjunto das qualidades mentais do indivíduo, isto é, a soma total de suas faculdades racionais, percepções, idéias, hábitos e reações emocionais condicionadas. ... O conjunto dessas qualidades forma uma configuração única, cujas partes funcionam todas constantemente relacionadas entre si. (LINTON, 2000:439)

Esta personalidade por sua vez afeta a cultura como a cultura a personalidade. A

personalidade, portanto apresentaria dois aspectos: o de seu conteúdo e o de sua

organização. O conteúdo consistiria nos elementos componentes da personalidade e a

organização na maneira pela qual estes elementos estão relacionados e orientados entre

si e com a configuração total. Esta personalidade por sua vez possui dois níveis de

organização: A superficial – dependente que seria com as orientações das culturas, da

existência de certos interesses dominantes ou de certas finalidades específicas

conscientes, que o indivíduo estabelece por si mesmo, e a – central que dá a

personalidade um caráter distintivo. Linton então vai afirmar que a existência de

semelhanças de organização central em várias personalidades é responsável pelo o que

os psicólogos chamam de “tipos psicológicos” como o introvertido, o extrovertido, o

megalomaníaco e o paranóico.

Assim a cultura é responsável por boa parte do conteúdo da personalidade e de

sua organização superficial. Desta forma Linton se pergunta mesmo afirmando não ter

respostas devido à carência de dados, se a cultura pode atingir ou modificar o núcleo

central da personalidade. Certo para este autor é que ao nascer o indivíduo não possui

uma personalidade e sim a capacidade de desenvolvê-la. O indivíduo entra em cena com

certas qualidades fisiologicamente determinadas como a existência de um cérebro e de

um sistema nervoso que lhe dá potencialidade de pensamento e desta forma ao longo

dos anos, nas suas relações com o meio ambiente e com outros humanos, ou seja, com a

cultura, ele vai formando o que seria a sua personalidade. Linton ainda faz uma ressalva

afirmando que a formação da personalidade não finda, é sim, um processo que está em

constante desenvolvimento e modificação.

Vejamos agora como tais conceitos forma desenvolvidos pelos os componentes

desta escola a exemplo de Ruth Benedict e Margaret Mead.

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1.3 Ruth Benedict e Margaret Mead

No início do século XX, um dos nomes mais importantes da antropologia

culturalista, Franz Boas, e muitos de seus discípulos, entre eles Ruth Benedict,

dedicaram grande parte de suas reflexões e pesquisas para a resolução de problemas

sociais, como o racismo, a suposta superioridade cultural de certos povos e os "perigos

do xenofobismo" que podiam, no limite, levar povos a se odiarem reciprocamente.

No entanto, historicamente, a maior evidência da utilização da antropologia na

América do Norte foi a participação em massa de antropólogos e antropólogas em

agências do governo à época da segunda guerra mundial, atuando principalmente pelo

Office of Strategic Services - OSS -, órgão predecessor da hoje mundialmente conhecida

CIA, criado em 1942 pelo presidente Roosevelt. Entre os principais antropólogos que

atuaram neste período podemos lembrar de Cora Dubois, Anne Fuller, Alexander

Lesser, Alfred Metraux, George Murdock, Gregory Bateson, Ruth Benedict.

Ruth Fulton Benedict foi a primeira mulher americana a assumir as funções de

chefia numa profissão acadêmica. Aos 32 anos que decide recomeçar estudos de

sociologia e antropologia: o êxito que obtém permite-lhe trabalhar com Franz Boas e,

em 1923, doutora-se na prestigiada Universidade de Columbia.

Colaboradora de Boas prossegue uma brilhante carreira onde tem Margaret

Mead como aluna e, tal como ele, defende que os antropólogos devem intervir no

combate ao racismo. Com a morte de Franz Boas, em 1942, assume a liderança na

antropologia americana, ainda que exercendo sempre cargos precários, sujeitos a

contratos temporários.

É com a teoria expressa em “Padrões de Cultura” (1934) que a importância do

seu trabalho é reconhecida. Finalmente, em 1948, pouco antes da sua morte, é nomeada

professora a título definitivo. Contudo o seu livro célebre é sobre o Japão - “O

Crisântemo e a Espada”. O livro apareceu em 1946, portanto, depois de terminada a

guerra, mas retrabalhava uma pesquisa que fora encomendada a Benedict em 1944,

ainda em pleno conflito, pelo serviço de informação americano. A razão é evidente:

como diz a própria autora na versão impressa, tratava-se de vencer uma guerra e,

depois, se tudo corresse bem, de gerir uma longa ocupação diante de uma civilização

sobre a qual os americanos sabiam pouquíssimo. Eles percebiam apenas estar ante uma

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nação militarmente preparada e tecnologicamente bem equipada, mas que não pertencia

à tradição cultural do Ocidente.

Quem eram os japoneses e como era preciso se comportar diante deles, tentando

entender 'como teriam se comportado os japoneses e não como nos teríamos

comportado no lugar deles, é que R. Benedict vai desenvolver sua pesquisa. Sem poder

percorrer o Japão, lendo obras antropológicas anteriores, aproximando-se da literatura e

do cinema japonês e, sobretudo valendo-se da colaboração de nipo-americanos, Ruth

Benedict conseguiu compor um painel fascinante.

Em “O Crisântemo e a Espada” percebe-se a influência decisiva do filósofo

Friedrich Nietzsche. R. Benedict com fez Nietzsche propôs uma distinção entre culturas

apolíneas e culturas dionisíacas. Desta forma a intenção era demonstrar que em diversas

épocas, assim como diferentes sociedades, podem ser caracterizadas pelo predomínio de

Apolo ou de Dionísio ou pela combinação das duas tendências. Se  por  um  lado  Apolo  

aparece   como  o   “Deus  de   todas   as   faculdades   criadoras”,  Dionísio é visto como o

Deus da exaltação, do encantamento ou do êxtase.

A conclusão da autora é de que a cultura japonesa é um feixe de contradições,

mas de contradições prodigiosamente integradas. A mão que cultiva o crisântemo

empunha decididamente a espada, que já não é um instrumento de agressão, mas um

símbolo de auto-superação.

Não menos importante no cenário da antropologia americana foi Margaret Mead.

Com seis doutoramentos honoris causa, Mead usou declaradamente a etnografia para

dirigir mensagens aos norte-americanos e produzir novas idéias no que se refere à

construção de gênero e à sexualidade. De acordo com Rita Laura Segato,

Quando nos anos 30, Margaret Mead publicou Sexo e Temperamento em três sociedades melanésias (Mead 1935), inaugurou uma das duas vertentes que, com suas próprias características e apesar de ter sofrido transformações, se mantém até o presente. Trata-se do conjunto de assuntos que chamamos, habitualmente, de “construção cultural de gênero” e tem seu ponto de partida na constatação inicial de que “mulher” e “homem” são entidades diferentes, preenchidas com conteúdos variáveis, através das sociedades. Introduz-se assim o “gênero” como uma questão antropológica, etnograficamente documentável. (SEGATO, 1998:5)

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Outra inovação creditada a Mead foi o uso de fotografia e filmes como parte da

pesquisa científica em antropologia. Desta forma boa parte do material coletado por ela

está no American Museum of Natural History em Nova York, local no qual ela

trabalhou por 50 anos sendo responsável pela secção de etnografia do Pacífico Sul.

De suas pesquisas vários livros foram editados como “Coming of Age in

Samoa”, “Macho e Fêmea”, e “Sexo e Temperamento”. Segundo Alix de Carvalho em

Coming of Age in Samoa, a problemática tratada é a adolescência que é apresentada

como livre da repressão sexual. Este estudo trouxe água ao moinho dos debates em

curso, sobre a educação puritana das moças americanas, contra a qual se levantava o

feminismo em ascensão. Para Carvalho, Mead observa que em Samoa “... as

adolescentes vivem uma sexualidade esfuziante e livre, não notando dificuldades

psicológicas ligadas a repressão sexual”. (Carvalho, 2005:83). Defendendo o

relativismo cultural, Mead assinala que a cultura é um fator determinante dos

comportamentos sociais do ser humano, demonstrando que desde a infância o ser

humano é envolvido pelos padrões culturais.

Entre 1931 e 1935, M. Mead empreende uma nova pesquisa na Oceania que

resultou no livro “Sexo e Temperamento”. Os três grupos estudados são os Arapeshs, os

Mundungumors e os Tchambulis, sociedades que manifestam modos radicalmente

diferentes na diferenciação dos sexos.

Os Arapehs vivem nas montanhas num ambiente natural inóspito e as s relações

entre os sexos são marcadas pela solidariedade e cooperação, o casamento é marcado

pela harmonia e entendimento. Já os Mundungumors possuem uma vida facilitada pela

agricultura propícia, contudo suas relações são marcadas desde a infância pela

frustração, inveja, agressividade e o estupro é a forma costumeira da cópula. Por outro

lado os Tchambulis vivem em um ambiente lacustre no qual se verifica a inversão nos

papéis embora a dominação masculina seja ainda de bom tom. Aqui as mulheres

possuem o poder econômico, são ativas, ponderadas, serenas e dinâmicas. Os homens

por sua vez são competitivos e ferozes no que diz respeito à beleza e ao cerimonial,

estabelecendo relações extremamente tensas e complicadas.

Alix de carvalho afirma que M. Mead em “Sexo e Temperamento” observa que:

A diferença de temperamento nos sexos é o resultado de uma lenta e tenaz construção social. [Desta forma] a simplicidade das sociedades primitivas permite isolar campos de estudo, tais como as descrições dos

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procedimentos familiares e institucionais, e a análise da construção da personalidade. (CARVALHO, 2005:85)

Na seqüência, em 1949, Margaret Mead publica “Macho e Fêmea”. Esse estudo

comparativo traz dados sobre a Oceania e sobre a sociedade americana do pós-guerra.

De modo geral Mead tenta demonstrar que os estereótipos são maleáveis, e que a

educação contribui largamente para isso.

Apesar das inúmeras contribuições de Margaret Mead com relação a diferenças

sexuais, aos estudos de gênero, o caráter relativizador e a sua grande diligência com a

antropologia e com os estudos feministas, esta autora foi por vezes criticada por

conclusões apressadas ou como a própria autora afirma no prefácio de “Sexo e

Temperamento” (1979) que seus resultados formam um padrão “bonito demais”.

Vejamos o que ela diz:

“...Conforme julgam alguns leitores, meus resultados formam um padrão “bonito demais” Aqui procurando reconhecidamente alguma luz sobre a questão das diferenças sexuais, encontrei três tribos, todas convenientemente situadas dentro de uma área de cem milhas. ... Isso, acharam muitos leitores, era demais. Era demasiado bonito. Eu por certo encontrara o que estava procurando. Mas essa concepção errônea nasce da falta de compreensão do que se deve olhar e ouvir, registrar em espanto e admiração, aquilo que a gente não seria capaz de adivinhar.” (MEAD, 1979:10)

Contudo apesar das críticas abertas a autora, não podemos deixar de frisar o

vigor de suas pesquisas e a sua preocupação com uma antropologia aplicada que até os

dias atuais ainda influencia estudiosos da antropologia no mundo todo. A escola de

cultura e personalidade extrapolou a vertente culturalista e influenciou diversas áreas

das ciências humanas e foi responsável pela interdisciplinaridade juntando a psicologia

e a antropologia como forma de interpretar o social. Tanto R. Linton como R. Benedict

e M. Mead foram responsáveis pela a teorização de conceitos como, personalidade,

padrões culturais, configuração cultural, estilo cultural, procurando sempre a partir da

análise comparativa observar as diferenças e similitudes entre o eu e o outro

empreendendo monografias relativizadoras e clássicas para a antropologia social.

Portanto a nossa intenção maior neste ensaio foi levantar a discussão sobre a

escola americana liderada por Boas e mais especificamente observar como esta escola

se desenvolveu ao longo dos anos e se dividiu em diversas vertentes como a escola de

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cultura e personalidade. Buscamos também entender os principais conceitos desta

escola passeando mesmo que de forma concisa pelas principais monografias dos seus

integrantes, a fim de demonstrar o caráter atual destes autores que foram responsáveis

pelos primeiros passos na direção de estudos sobre sexualidade, gênero, caráter

nacional, migrações, racismo etc.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

No percurso deste ensaio, tratamos das principais idéias da Escola Americana e

mais especificamente o desenvolvimento desta que culminou na escola

configuracionista de Cultura e Personalidade. Observamos que o próprio Franz Boas já

via na psicologia um campo frutífero para a antropologia social, o que mais tarde foi

desenvolvido pelos seus discípulos R. Benedict, R. Linton e Margaret Mead.

O debate tratado neste ensaio teve como objetivo fundamental levantar questões

e tentar esclarecer como a antropologia se relacionou com psicologia, partindo da

análise das monografias produzidas por estes autores.

Verificamos que a escola de Cultura e Personalidade pode ser considerada um

prolongamento do culturalismo de Boas por mais uma vez priorizar o particularismo

histórico, ou o estudo de culturas particulares valendo-se, portanto como Boas do

método comparativo.

O diferencial desta escola foi fazer uso de um fator seja ele a personalidade o

meio - ambiente ou a lingüística para entender a partir dele a configuração de uma dada

cultura. Chamados por isto de configuracionistas estes autores foram responsáveis por

estudos que posteriormente consolidaram temas da antropologia como; identidade,

caráter nacional, gênero sexualidade, migrações e racismo.

Contudo não podemos também deixar de destacar as críticas levantadas a esta

escola. A primeira afirma que a escola de Cultura e Personalidade seria reducionista por

tentar entender o todo a partir de um elemento que seria no caso a personalidade. A

outra crítica recai no na dificuldade de trabalhar o complicadíssimo conceito de cultura

ligado ao complicadíssimo conceito de personalidade.

Contudo apesar das críticas a tais autores não podemos deixar de observar a

grande importância que estes tiveram na consolidação da antropologia e principalmente

pelo grande passo na caminhada contra o etnocentrismo.

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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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