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Desamparo é Condição. Liberdade é Condenação______________________________________________________________________ ___________________________________________________________________ Área de Projecto 2006/2007 Paulo Campos/Ricardo Morais 1 INDICE pagina Introdução ------------------------------------------------------------------------- 2 A Importância da Palavra ------------------------------------------------------ 5 Teoria da constituição do psiquismo 1ª TOPICA ----------------------- 7 Constituição da personalidade-2ª TOPICA ------------------------------- 10 Conclusão ------------------------------------------------------------------------ 14 Glossário ------------------------------------------------------------------------- 16 Bibliografia ---------------------------------------------------------------------- 17

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INDICE

pagina

Introdução------------------------------------------------------------------------- 2

A Importância da Palavra------------------------------------------------------ 5

Teoria da constituição do psiquismo – 1ª TOPICA----------------------- 7

Constituição da personalidade-2ª TOPICA------------------------------- 10

Conclusão------------------------------------------------------------------------ 14

Glossário------------------------------------------------------------------------- 16

Bibliografia---------------------------------------------------------------------- 17

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Introdução

Freud nasceu em Freiberg no ano de 1856, tendo ido viver para Viena de

Áustria, onde se formou em medicina no ano de1881 e desenvolveu trabalhos

experimentais em fisiologia. Teve forte formação humanística clássica, interessando-se

essencialmente pelos mitos gregos, facto esse que teve muita influência na sua obra e na

maneira como vai encarar os seres humanos. Em 1885 vai estudar para Paris, com o

professor Charcot, que recorria à hipnose para tratar uma doença denominada histeria.

Dado que Freud se interessava e estudava as perturbações do sistema nervoso, o seu

trabalho com Charcot leva-o a acreditar que alguns dos sintomas orgânicos que se

manifestavam na histeria não tinham origem no sistema nervoso. Estas experiências

com Charcot levam Freud a colocar pela primeira vez a existência de uma instância do

psiquismo a que deu o nome de inconsciente.

É de referir também que na época dominava a convicção de que a histeria era

apenas uma perturbação exclusivamente feminina, já que o termo deriva do grego, que

significa útero. Freud trabalha também com Breuer, que recorria à hipnose como

tratamento para sintomas histéricos. A histeria manifestava-se por um conjunto de

sintomas orgânicos, como paralisias, desmaios, perdas de memória, da fala, cegueira

temporária…tanto Freud com Breuer consideravam que a causa destas perturbações do

doente teriam de ser procuradas no inconsciente, onde estariam retidas as recordações

traumáticas. Como estas lembranças reprimidas seriam extremamente penosas e

impedidas de se exprimirem, elas manifestavam-se em perturbações orgânicas. Deste

trabalho conjunto surge a obra – ESTUDOS SOBRE A HISTERIA – sendo certo que

Freud e Breuer iniciam aí as suas divergências, essencialmente por duas razões:

-Freud considera que a hipnose não era o método adequado para a cura e porque

os resultados da hipnose eram pouco duráveis; por outro lado, Breuer não concorda com

a interpretação de Freud de que a histeria era de origem sexual.

Sozinho, Freud vai desenvolver um conjunto de concepções que vão constituir

uma teoria sobre o psiquismo humano e uma técnica terapêutica: a psicanálise.

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Freud é o primeiro a realçar o dinamismo do inconsciente, o seu poder velado e

latente que se exprime através dos sonhos. Esse jogos do inconsciente que se revelam

nos lapsos, nas omissões. É também o primeiro a falar do tema proibido da sexualidade,

que se manifesta nos primeiros anos da vida infantil e como tudo isto se joga na

determinação das neuroses. É portanto neste período de grande solidão que Freud intuiu

aquilo que entendemos por ciência do inconsciente, ou seja, psicanálise.

A psicanálise contém três aspectos essenciais:

primeiro - é um método de investigação do inconsciente;

segundo – é um processo terapêutico para o tratamento de neuroses;

terceiro – é uma nova interpretação do homem e da sua posição no mundo.

Isto significa que a psicanálise se edifica sobre a categoria do inconsciente que

lhe é central. Esquematicamente, podemos dizer que até ao aparecimento do trabalho de

Freud e da psicanálise, o homem definia-se apenas pela capacidade de ser racional,

dono da sua consciência; isto conferia ao sujeito a capacidade de ser senhor de si

mesmo. Mas a psicanálise, na sequência de outras revoluções, desapossou o homem de

privilégios.

1-Depois de Copérnico e Galileu, o planeta terra deixou de estar no centro do

mundo, e com ela também o homem deixou de ocupar uma posição central.

2-Também as investigações de Darwin deixaram de exaltar o homem como um

ser especial. O homem não é algo distinto do animal, é apenas o resultado de um

processo.

3-A terceira ofensa ao narcisismo humano é feita por Freud, dado que o homem

já não é um ser de razão, mas é antes um ser de desejo. A descoberta de inconsciente, ou

seja, aquilo a que o sujeito não tem acesso, foi a morte do homem como animal

exclusivamente racional.

Afinal, o homem é determinado por razões do inconsciente, portanto

desconhecidas.

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Toda a actividade de Freud foi fortemente ameaçada sobretudo depois da

ocupação da cidade de Viena pelos nazis: os seus livros são queimados, a sua casa

saqueada, chegando a temer-se pela sua vida. Durante algum tempo recusou abandonar

a cidade, mas acabou por ceder depois da sua filha Anna Freud ter sido presa. Vai com

ela para Londres, onde morre em 1939.

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A Importância da Palavra

O trabalho de Freud, foi o de assimilar os ingredientes científicos e culturais do

seu tempo ao serviço de uma exploração rigorosamente conduzida do psiquismo

humano, sem se preocupar com as ideias recebidas nem com os tabus do seu meio

(Viena). Firme nas suas convicções e com fé na ciência, servido por uma imaginação

poderosa que soube pôr ao serviço de uma visão dinâmica dos processos que observou

nos seus doentes e depois nele próprio, através de auto-análise, ele mudou o olhar que o

homem tinha sobre si próprio e as suas zonas de sombra.

Se é certo que forneceu chaves para o desenvolvimento desta “psicologia das

profundezas”, nunca pretendeu que a investigação estivesse concluída nem pretendia

tudo explicar.

Freud propõe a alteração do sintoma pela palavra, rompendo assim com a bela

indiferença, dando lugar ao Outro que estava escondido e mudo.

Freud interrogava-se sobre a magia da palavra, sobre o poder do discurso. A

novidade revolucionária de Freud está em reencontrar alguém que escuta e fala, por

aquele que jamais foi escutado e menos ainda falou. Esta descoberta é feita por Freud

quando analisa EMMY VON N… sobre alguns dos seus sintomas. Freud descreve

assim o diálogo estabelecido. “A sua resposta dada a contra gosto era a de que não

sabia. Solicitei que se lembrasse até amanhã. Disse-me então, numa queixa clara, que eu

não devia continuar a perguntar-lhe de onde provinha isto ou aquilo, mas que a deixasse

contar-me o que me tinha a dizer”.

EMMY, ao propor a Freud a permissão de um discurso livre, inaugurava assim

as formas fundamentais do estar psicanalítico, a saber, a palavra do analisado e a escuta

do psicanalista. Ou seja, Freud ao deixar de olhar directamente para o paciente e ao

deixar falar, inaugurou o que se denomina método de associação livre. Este método

nasceu na dificuldade que Freud teria em ser olhado várias vezes por dia, pelos seus

pacientes, pelo que a mudança de posição física traz consigo uma nova situação, um

novo espaço analítico, pois ao excluir o corpo do campo visual permite uma

equivalência entre o sonho e a sessão psicanalítica.

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Assim o paciente é convidado a dizer tudo o que lhe passa pela cabeça a

propósito de qualquer elemento que se relacione com os sintomas. Podem ser

fragmentos de um sonho, lapsos de memória, frases inacabadas. Pressupõem-se que

estas associações de ideias estão longe de ser ocasionais ou ingénuas. Elas giram em

torno de uma preocupação de que são simultaneamente efeito e sinal.

Citando Freud “o tratamento psicanalítico não comporta senão uma troca de

palavras entre o analisado e o analista. O analisado fala, conta os acontecimentos da sua

vida passada e as suas emoções. O analista esforça-se para dirigir a marcha das ideias do

paciente, desperta recordações, orienta a sua atenção em certos sentidos, dá-lhe

explicações e observa as reacções de compreensão ou incompreensão que provoca no

analisado. (…) As palavras faziam primitivamente parte da magia e nos nossos dias a

palavra guarda muito do seu poder de outrora. Com palavras um Homem pode tornar o

seu semelhante feliz ou levá-lo ao desespero, e é com a ajuda das palavras que o mestre

transmite o seu saber aos alunos, que o orador empolga os auditores e determina os seus

juízos e decisões.”

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Teoria da constituição do psiquismo – 1ª TOPICA·

Foi com Freud que se começou a falar de uma forma positiva de inconsciente. É

com ele que se edifica a ciência do inconsciente, que toma o nome de psicanálise.

Segundo o autor, a teoria da constituição de psiquismo está

dividida topograficamente. Vamos comparar, para melhor

compreensão, o psiquismo humano à imagem de um

iceberg (Fig.1), cujo maior volume está escondido,

exactamente na parte inferior do iceberg. Este divide-se

em:

-consciente;

-pré-consciente;

- inconsciente;

O consciente é a parte fora da água, a parte que se

vê do iceberg, o pré-consciente fica ao nível da água, e o

inconsciente é a parte que está dentro de água e que Fig.1

contém o maior volume. É importante assinalar que esta metáfora não era para Freud

uma teoria propriamente falando, mas antes baseava-se na observação e tentava ser uma

descrição tão próxima quanto possível desses factos.

O consciente comporta todos os pensamentos de que temos conhecimento num

dado momento. O pré-consciente comporta todos os factos que não estão de momento

na consciência, mas que se podem tornar conscientes, através da recordação. O pré-

consciente é uma espécie de antecâmara da consciência, onde se encontram todos os

pensamentos que podem vir à consciência, através de um esforço de memória, da nossa

vontade ou da associação de ideias. O inconsciente é tudo aquilo que não é conhecido,

mas influencia e afecta o comportamento. Aqui encontram-se todos os impulsos, os

desejos, os instintos, toda a desordem. Todas estas forças só de um modo disfarçado,

através do sonho, conseguem atingir o consciente, isto porque o pré-consciente actua

como uma forma de censura. Assim, topograficamente o pré-consciente situa-se entre o

consciente e o inconsciente, funcionando como uma barreira, um obstáculo aos desejos

e às pulsões, que o inconsciente quer lançar, mas que, ao serem reprimidos, formam

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aquilo que denomina por recalcamento.

Função do recalcamento

A teoria do recalcamento é o “pilar” de sustentação sobre a qual repousa todo o

edifício da psicanálise. Este conceito é referenciado por Freud como um mecanismo de

defesa. A possibilidade do recalcamento dá-se a partir do momento em que, por um

lado, a satisfação pulsional é incompatível com qualquer outra exigência e, por outro

lado, não é possível uma “fuga”. Desta dinâmica, tanto pode a pulsão reprimida

reaparecer como afecto ou transformar-se como angústia, reveladora do conflito.

Funções do sonho, lapsos de memória e actos falhados

Qual o significado do sonho na concepção freudiana?

Freud localiza no inconsciente todas as energias pulsionais do indivíduo, que ao longo

da sua existência e através da educação, pressões externas, formação religiosa, etc, pode

retê-las sob a forma de recalcamento. As pulsões e os desejos recalcados não se revelam

de forma directa, mas antes de forma indirecta durante o sono.

O sonho é um comportamento essencial para a libertação das energias contidas

no inconsciente e corresponde em Freud à satisfação indirecta de todos os desejos

recalcados, principalmente de motivações sexuais e agressivas, funcionando como uma

actividade compensatória, que permite ao sujeito realizar sob uma forma

fantasmagórica, o que é impossível no real.

Os sonhos apresentam-se de forma incoerente, porque a nossa linguagem

discursiva está adaptada a outra realidade. Depois, porque o conteúdo dos sonhos é

apresentado sob forma de simbologias e também porque o modo aparentemente

desconexo como o material do sonho se apresenta constitui uma defesa do EU.

Nos sonhos distinguem-se dois conteúdos:

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-Conteúdo manifesto, que se conserva na memória e portanto é passível de se

contar no estado de vigília;

-Conteúdo latente, é o verdadeiro sentido do sonho, que tem um fundo simbólico

pessoal e que permanece no inconsciente.

Em relação aos lapsos de memória e esquecimentos, numa perspectiva

psicanalítica, estes não são um défice da psique, a qual seria incapaz de reter os seus

conteúdos, mas o resultado de um processo dinâmico entre o desejo e o recalcamento.

O interesse de Freud por esse assunto começou com as investigações sobre a

afasia, que mais tarde será incluída na sua obra “Psicopatologia da vida quotidiana”.

Quando nos esquecemos de algo, de um nome, surge uma verdadeira agitação,

uma procura vã de descobrir, o esforço de memória, de atenção, que parece mostrar-se

incapaz de possibilitar a reaparição do elemento esquecido.

Em contrapartida, surgem recordações que ocupam o espaço vazio do

pensamento e aí se instalam embora reconhecidas por nós como falsas.

Também aqui, existe uma dinâmica do conflito que se delineia entre a ideia que

pretende exprimir-se conscientemente, o recalcamento que a repele e o retorno do

recalcado sob a forma do nome de substituição, que tem um carácter obsessivo.

Tanto os actos falhados como os lapsos estão admitidos como não fazendo parte

do acaso, mas do determinismo inconsciente. Distingue-se entre actos sintomáticos,

actos perturbados e actos inibidos. Fazem parte desta categoria os erros, não de

ignorância, mas os actos acidentais, os lapsus linguae.

Os mecanismos dos actos falhados são análogos aos da formação do sonho.

Afirmou Freud, “ pondo-os( actos falhados, sintomáticos e acidentais) ao mesmo nível

das manifestações das psiconeuroses, dos sintomas neuróticos, vamos sentir o

fundamento, as duas afirmações, que, com frequência, ouvimos reiterar, a saber: que

entre o estado nervoso normal e o funcionamento nervoso anormal não existe um limite

claro e definido e que somos todos mais ao menos neuróticos”.

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Os lapsos não tomam em consideração as leis da relação e nas ideias exteriores

há intenção que dita o discurso que explica o erro. O lapso tem duas tendências: a

lúbrica e a hostil.

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Constituição da personalidade-2ª TOPICA

Enquanto a 1ª tópica se especifica em “ sistemas”, a 2ª tópica privilegia a noção

de instâncias. Este conceito remete para uma metáfora de organização espacial.

Neste sentido, a 2ªtópica estratifica o aparelho psíquico em EGO, ID e

SUPEREGO.

O ego é especificamente corporal, é o ser da superfície, deriva de sensações

corporais. Neste sentido, ele garante uma função de realidade. O ego é descrito por

Freud como “ uma pobre criatura que está submetida a três espécies de servidão, e é por

isso mesmo ameaçada: o que provém do mundo exterior, o da libido, do id, e o da

severidade do superego”.

O id, funciona como um grande reservatório libidinal, que pretende satisfação

imediata das suas vontades, uma espécie de caos.

O superego é o herdeiro autêntico da instância parental e é aí que se forma a

consciência e a função de ideal, representa também por isso, a inserção do sujeito numa

“tradição”.

Ainda que não tenha ignorado as inter-relações entre o desenvolvimento

intelectual e o desenvolvimento afectivo, Freud deu-nos uma descrição cronológica do

desenvolvimento afectivo.

O encadeamento entre as diferentes fases é evidentemente muito progressivo em

cada uma das problemáticas sucessivas (oral, anal, fálica, latência, genital). É de referir

que é na análise que desenvolve com os seus doentes que Freud conclui que muitos dos

sintomas apresentados por eles eram manifestações do conflito psíquico relacionados

com a sexualidade, sujeita a repressão.

O reconhecimento da importância da sexualidade na vida psíquica humana e a

afirmação da existência de uma sexualidade infantil foram o ponto de partida para Freud

defender que ao longo da estruturação da sexualidade também se processavam

determinados estádios psicossexuais.

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Freud distingue as fases consideradas pré-genitais, que precedem a organização

do complexo de Édipo que são classicamente distinguidas por fase oral, fase anal e fase

fálica.

1- A fase oral subdivide-se em fase oral primitiva que abrange os primeiros 6

meses de vida. É uma fase de absorção passiva. A fase oral tardia abrange o segundo

semestre de vida. Nesta fase a sucção completa-se com uma actividade de mordedura

ligada ao aparecimento dos primeiros dentes. O desmame representa o conflito

relacional específico deste período. Este deve ser compensado pela mãe pelo tocar, pelo

olhar, etc. Se o desmame for demasiado tardio, ele será vivido pela criança como uma

punição ou uma frustração. Ao contrário, se o desmame for demasiado precoce a

criança corre o risco de permanecer fixada numa relação oral passiva. Quer seja

traumático ou não, o desmame deixa no psiquismo humano a marca da relação

primordial.

2- A fase anal abrange aproximadamente o segundo ano de vida. A zona

erógena é a região anal e pode-se dizer que é um ano consagrado ao controlo e ao

domínio. A criança obtém prazer pela estimulação do ânus ao reter e expulsar a fezes, o

que gera simultaneamente sentimentos de prazer e de dor. A educação esfincteriana anal

não deve ser nem demasiado precoce nem demasiado rígida, a fim de que a criança

tenha tempo de experimentar um certo poder e de não se identificar com uma relação

parental demasiado tirânica.

3- A fase fálica abrange aproximadamente o terceiro ano de vida e é de

alguma forma um período de afirmação de si. Manifesta-se a curiosidade sexual infantil

e a criança toma consciência das diferenças anatómicas dos sexos, ou seja, da presença

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ou da ausência de pénis. Desde então, a fase fálica vai ser de alguma forma uma fase de

recusa desta diferença tanto no rapaz como na rapariga.

O rapaz vai negar a castração pela negação do sexo feminino ou pela

manutenção da crença numa mãe provida de pénis. A rapariga vai manifestar a sua

inveja do pénis, em algumas atitudes com comportamentos falhados, procura de

perigos, etc.

Estas tendências fazem parte dos prazeres preliminares do adulto, procuram

satisfazer-se por conta própria. Sabemos das relações que existem, graças às

sublimações, entre a curiosidade sexual e a curiosidade intelectual, com todos os riscos

que a inibição de uma pode fazer correr a outra.

Em “Pulsões e Destino das Pulsões, 1915”, Freud mostra como a pulsão

epistemológica (necessidade de saber) está ligada à curiosidade sexual. Esta pulsão pode

inibir-se (inibição e atraso intelectual), permanecer sexualizada (neurose obsessiva) ou

então sublimar-se. As angústias específicas desta fase são evidentemente angústias de

castração ou de mutilação, mas sempre numa perspectiva narcísica, desenvolvendo-se o

ponto nodal, que é o complexo de Édipo.

COMPLEXO DE ÉDIPO

O complexo de Édipo é o ponto essencial que estrutura o grupo familiar e toda a

sociedade humana (proibição do incesto) e é o momento fundador da vida psíquica,

orientando o indivíduo para objectos exteriores. O complexo de Édipo desempenha um

papel essencial na constituição do superego e este período pode desenvolver-se entre os

quatro e os sete anos.

Freud recorreu à mitologia grega para explicar a atracção da criança pelo

progenitor do sexo oposto e agressividade para com o progenitor do mesmo sexo, que

só mais tarde serve de modelo. Esta identificação leva a criança a adoptar

comportamentos, valores e atitudes.

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Édipo é filho do rei de Tebas, a quem o oráculo dissera que mataria o seu pai, e

casaria com a sua mãe. Perante isto, a criança foi abandonada, com os pés perfurados

por um prego e atados um ao outro, o que provocou a sua deformação; Édipo significa

“pé inchado”. Mas sobreviveu, tendo sido criado pelo rei de Corinto. Chegado à idade

adulta, conheceu a revelação da maldição que pesava sobre ele e decidiu exilar-se o

mais longe possível da sua pátria. No caminho para o exílio teve um desentendimento

com um desconhecido, que matou; o desconhecido não era outro se não o seu pai. Mais

tarde foi para Tebas e casou com Jocasta, rainha viúva, que Édipo não sabia tratar-se da

sua própria mãe. Ao descobrir horrorizado a sua situação, e não conseguindo encarar a

verdade, causou em si mesmo a cegueira, enquanto Jocasta se suicidou. Estava realizada

a predição do oráculo. Este episódio mitológico permitiu a Freud explicar as tendências

instintivas e atractivas dos rapazes, em relação à mãe, e repulsivas em relação ao pai,

que consideram um rival.

4- Fase da latência

É um período que se situa entre os sete e os doze anos, menos conflitual que a

fase anterior, devido a uma modificação estrutural das pulsões sexuais, sendo nesta fase

que a criança aprende a reprimir no inconsciente as experiências que a perturbaram na

fase fálica. Surgem os sentimentos de ternura e de respeito para com as imagens

parentais, que correspondem a inversão da agressividade em relação ao progenitor do

mesmo sexo e remetem para um processo de sublimação em relação ao progenitor do

sexo oposto. Isto permite a orientação de criança para actividades sociais mais

alargadas, como por exemplo, escola e outros grupos de crianças.

5- Fase Genital

A partir da puberdade a zona erógena é a região genital. É a última fase do

desenvolvimento da personalidade, havendo uma activação da sexualidade que estava

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latente na fase anterior. O processo de autonomia em relação aos pais torna-se mais

efectivo, sendo estes encarados de forma mais realista. No final da adolescência a,

escolha do objecto sexual encontra-se definitivamente fixada.

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Conclusão

O sucesso de Freud e do seu método provém da aplicação sistemática de um

princípio científico: o principio do determinismo no plano psíquico. Isto implica que

para Freud, a crença de que nenhum fenómeno psíquico é desprovido de causa e, por

conseguinte, de significado. E trata-se de uma crença, pois não existe possibilidade de

uma verificação experimental. É nisto que se baseia o processo de investigação da

psicanálise.

Se posso partir de qualquer palavra para encontrar a palavra que dará a chave do

recalcamento, é porque toda a palavra, como todo o acto psíquico, está sempre situada

em cadeias associativas determinadas pelo inconsciente. Assim, o inconsciente não faz

nada em vão. Tem a sua lógica própria. Isto implica que não existia “liberdade real” ao

nível da consciência, todo o gesto, todo olhar, implica uma intenção, mesmo

dissimulada, do inconsciente.

Quanto à moral freudiana, esta não serve para dar conselhos. O comportamento

sexual não pode ser prescrito, nem a intenção de Freud era essa. Freud sempre se

preocupou em ser um “ observador” e não um “ reformador”, embora, no entanto, ele

não pudesse ser crítico em relação à moral sexual tradicional.

Esta assenta, em grande parte, na educação através de ameaças e castigos, ao que

se junta a culpabilidade e o recalcamento.

Freud critica ainda o carácter alienado da moral sexual do ponto de vista social.

A sociedade considera uma das suas tarefas fundamentais: a repressão e a

limitação do instinto sexual, não só porque esta é anti-social (tendência egoísta) mas por

razões de ordem económica.

Diz Freud… “ a base em que assenta a sociedade é, em última análise, de

natureza económica: não possui meios de subsistência suficientes para que os seus

membros possam viver sem trabalhar e a sociedade é obrigada a limitar o número dos

seus membros, a desviar a sua energia sexual para o trabalho”… A maior parte da vida

em sociedade só é possível graças ao recalcamento ou sublimação forçada.

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É óbvio, que Freud não pensa que a solução seja, uma má utilização da

liberdade, nomeadamente de carácter sexual. O que ele condena é que uma moral

alienada, não proporciona ao indivíduo a liberdade e a responsabilidade da escolha,

porque não confia no indivíduo e teme a sua independência. Freud pretende emancipar o

homem da tutela de uma sociedade que lhe impõe uma moral repressiva em função de

interesses não morais, acredita que o homem deve ser libertado. Mas libertar o homem

significará educar? Assim, a teoria de Freud tem uma consequência pedagógica. Prova

que o homem é essencialmente educável, que o homem passa do estado amoral ao

moral. Só que a educação deve evitar a proibição e a repressão, sendo objectivo, ensinar

a criança a dominar os seus instintos.

O educador, tendo tomado consciência dos defeitos da educação, saberá utilizar

a proibição sem traumatizar a criança. Este optimismo pedagógico une-se ao gosto pela

verdade.

Trazer a verdade à palavra é para a psicanálise a liberdade.

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GLOSSÁRIO

Líbido - termo genérico que indica os aspectos mais variados pela energia ao serviço

dos instintos.

Resistência - operação inconsciente do paciente durante o tratamento para impedir que

os conteúdos psíquicos removidos sejam trazidos ao plano da consciência.

Pulsão -conduta básica inconsciente, Freud distingue entre pulsões sexuais e Pulsões

de morte. A pulsão é distinta do instinto, ela não é hereditária, mas sim uma força

psíquica e física em simultâneo.

Recalcamento - força que se opõe a passagem dos conteúdos do inconsciente para o

consciente.

Sonho - via real que nos conduz ao inconsciente.

Sublimação – é a possibilidade de as pulsões sexuais manifestarem toda a sua energia,

substituindo uma finalidade por outra, que seja valorizada pela sociedade, como por

exemplo o trabalho.

Simbólico – designa a ordem da cultura, da lei, da linguagem e do imaginário

Neuroses – Perturbações funcionais, sem relação directa com uma lesão orgânica, que

exprime simbolicamente um conflito psíquico cuja origem se encontra na vida infantil.

Histeria – diversas formas de neuroses que podem manifestar-se por estados muito

variados, como agitação, gritos, paralisia, etc.…

Hipnose – é empregado para fins sedativos, analgésicos, e anestésicos, para certas

afecções psicossomáticas.

BIBLIOGRAFIA

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Freud. S., Psicopatologia da Vida Quotidiana. Lisboa, Livros do Brasil, p 296

Dias Amaral, Carlos, Espaço e Relação Terapêutica. Coimbra Editora, 1983

Mijolla Alain, Mijolla-Mellor Sophei, Psicanálise. climepsi, 2002

A Psicanálise, EDMA, Publicações Dom Quixote, 1976