Friederich perls

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A TEORIA DA GESTALT Desenvolveu-se como protesto contra a análise atomística vigente no final do século XIX. A análise atomística tentava compreender a experiência da pessoa de forma que os elementos dessa experiência eram reduzidos aos seus componentes mais simples, sendo que cada componente era analisado separadamente dos outros e, a experiência total era entendida como uma soma destes componentes. A chamada Gestalt-terapia surge no início da década de 50, a partir das reflexões de Friederich Perls, um psicanalista nascido em Berlim em 1893, que emigrou durante a década de 40 para a África do Sul e posteriormente para os Estados Unidos da América, onde juntamente com um grupo de intelectuais norte-americanos desenvolveu esta nova abordagem. Crescimento Psicológico Perls definia a saúde e a maturidade psicológicas como sendo a capacidade de emergir do apoio e da regulação ambientais para um auto-apoio e uma auto-regulação. O processo terapêutico representa um esforço na direção desta emergência. O elemento crucial no auto-apoio e na auto- regulação é o equilíbrio. Uma das proposições básicas da teoria da Gestalt é que todo organismo possui a capacidade de realizar um equilíbrio ótimo consigo e com seu meio. As condições para realizar este equilíbrio envolvem uma conscientização desobstruída da hierarquia de necessidades, que descrevemos anteriormente. Uma apreciação plena desta hierarquia de necessidades só pode ser realizada através da conscientização que envolve todo organismo, uma vez que necessidades são experienciadas por cada parte do organismo e sua hierarquia é estabelecida por meio de sua coordenação. Perls considera o ritmo de contato/fuga com o meio ambiente como componente principal do equilíbrio do organismo. A imaturidade e a neurose implicam uma percepção impropria do que constitui este ritmo ou uma incapacidade de regular seu equilíbrio. Indivíduos auto-apoiados e auto-regulados se caracterizam pelo livre fluir e pelo delineamento claro da formação figura-fundo (definição de sentido) nas expressões de suas necessidades de contato e retraimento. Tais indivíduos reconhecem sua própria capacidade de escolher os meios de satisfazer necessidades à medida que estas emergem. Têm consciência das fronteiras entre e eles mesmos e os outros e estão particularmente conscientes da distinção entre suas fantasias sobre os outros (ou o ambiente) e o que experienciam através do contato direto.

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Psicologia

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A TEORIA DA GESTALT

Desenvolveu-se como protesto contra a análise atomística vigente no final do século XIX. A análise

atomística tentava compreender a experiência da pessoa de forma que os elementos dessa

experiência eram reduzidos aos seus componentes mais simples, sendo que cada componente era

analisado separadamente dos outros e, a experiência total era entendida como uma soma destes

componentes.

A chamada Gestalt-terapia surge no início da década de 50, a partir das reflexões de Friederich

Perls, um psicanalista nascido em Berlim em 1893, que emigrou durante a década de 40 para a

África do Sul e posteriormente para os Estados Unidos da América, onde juntamente com um grupo

de intelectuais norte-americanos desenvolveu esta nova abordagem.

Crescimento Psicológico

Perls definia a saúde e a maturidade psicológicas como sendo a capacidade de emergir do apoio e

da regulação ambientais para um auto-apoio e uma auto-regulação. O processo terapêutico

representa um esforço na direção desta emergência. O elemento crucial no auto-apoio e na auto-

regulação é o equilíbrio. Uma das proposições básicas da teoria da Gestalt é que todo organismo

possui a capacidade de realizar um equilíbrio ótimo consigo e com seu meio. As condições para

realizar este equilíbrio envolvem uma conscientização desobstruída da hierarquia de necessidades,

que descrevemos anteriormente.

Uma apreciação plena desta hierarquia de necessidades só pode ser realizada através da

conscientização que envolve todo organismo, uma vez que necessidades são experienciadas por

cada parte do organismo e sua hierarquia é estabelecida por meio de sua coordenação.

Perls considera o ritmo de contato/fuga com o meio ambiente como componente principal do

equilíbrio do organismo. A imaturidade e a neurose implicam uma percepção impropria do que

constitui este ritmo ou uma incapacidade de regular seu equilíbrio.

Indivíduos auto-apoiados e auto-regulados se caracterizam pelo livre fluir e pelo delineamento claro

da formação figura-fundo (definição de sentido) nas expressões de suas necessidades de contato e

retraimento. Tais indivíduos reconhecem sua própria capacidade de escolher os meios de satisfazer

necessidades à medida que estas emergem. Têm consciência das fronteiras entre e eles mesmos e

os outros e estão particularmente conscientes da distinção entre suas fantasias sobre os outros (ou o

ambiente) e o que experienciam através do contato direto.

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Psicologia da Gestalt

Embora não haja equivalente preciso em português para a palavra alemã gestalt, o sentido mais geral

que se pode dar ao termo seria uma espécie de disposição ou configuração de uma organização

específica das partes que constituiria um todo particular.

O princípio mais importante da

abordagem gestáltica é a afirmação de que

a análise das partes nunca pode

proporcionar uma compreensão do todo,

uma vez que o todo será definido pelas

interações e interdependências das partes.

As partes de uma gestalt não mantêm sua

identidade quando estão separadas de sua

função e lugar no todo. Assim sendo, a

teoria da Gestalt foi inicialmente

formulada no final do século XIX na

Alemanha e Áustria.

Em 1912, Max Wertheimer publicou um trabalho considerado o fundamento da escola gestáltica,

onde descrevia um experimento executado por Wertheimer e seus colegas, planejado para explorar

certos aspectos da percepção do movimento. Numa sala escura, eles faziam reluzir em rápida

sucessão dois pontos de luz próximos um do outro, variando os intervalos de tempo entre os clarões.

Descobriram que quando o intervalo entre os clarões era menor que 3/100 de segundo, eles

pareciam simultâneos. Quando o intervalo era de 6/100 de segundo, o observador dizia ver o clarão

mover-se do primeiro ponto ao segundo. Quando o intervalo era de 20/100 de segundo ou mais, os

pontos de luz foram observados como o eram de fato, ou seja, dois clarões de luz separados.

A descoberta crucial do experimento refere-se à percepção de movimento quando os clarões

estavam separados por aproximadamente 6/100 de segundo. O movimento aparente não era função

dos estímulos isoladamente, mas dependia das características relacionadas à organização neural e

perceptiva do campo.

Os resultados deste experimento levaram a algumas reformulações fundamentais no estudo da

percepção e, durante as décadas de vinte, trinta e quarenta do nosso século, a teoria da Gestalt foi

aplicada ao estudo da aprendizagem, resolução de problemas, motivação, psicologia social e, até

certo ponto, à teoria da personalidade.

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A escola gestáltica causou enorme impacto em todo o campo da psicologia. Na metade do século XX,

a abordagem desta escola tinha-se tornado tão intrínseca à corrente central da psicologia que a

noção de um movimento gestáltico por si próprio e emancipado deixou de existir. Uma contribuição

importante dos adeptos da Gestalt refere-se à exploração da maneira como as partes constituem e

estão relacionadas com um todo.

Além disso, a teoria da Gestalt ofereceu algumas sugestões a respeito dos modos pelos quais os

organismos se adaptam para alcançar sua organização e equilíbrio ótimos. Um aspecto desta

adaptação envolve a forma pela qual um organismo torna suas percepções significativas, a maneira

pela qual distingue figura do fundo. A escola gestáltica estendeu o fenômeno figura-fundo para

descrever a maneira pela qual um organismo seleciona o que é ou não é de seu interesse num dado

momento. Para um homem sedento, um copo de água colocado entre seus pratos favoritos emerge

como figura principal contra o fundo menos importante constituído pela comida. A percepção adapta-

se à necessidade, capacitando-nos a satisfazer nossas necessidades. Uma vez satisfeita a sede do

exemplo, sua percepção da pessoa sobre o que é figura e o que é fundo provavelmente se

modificará, de acordo com as mudanças nos interesses e necessidades dominantes.

Embora, por volta de 1940 a teoria da Gestalt já tivesse sido aplicada em muitas áreas da psicologia,

foi em grande parte ignorada no exame da dinâmica da estrutura da personalidade e do crescimento

pessoal. Além do mais, ainda não havia nenhuma formulação de princípios da Gestalt específicos

para psicoterapia. Assim, a partir desse ponto podemos começar a ver o papel de Fritz Perls,

responsável pela ampliação da teoria da Gestalt na psicoterapia e de uma teoria de mudança

psicológica.

A abordagem gestáltica inspirou-se em formulações da psicologia e da filosofia, adotando alguns

referenciais, tais como, a percepção gestáltica de que "o todo é diferente da soma das partes". A

percepção gestáltica propõe que todo fenômeno psíquico seja visto como um todo, em suas relações

e dinamismos.

Por essa razão a Gestalt não considera o comportamento da pessoa

isoladamente. Ela procura explorar a situação em que se deu, sua importância

e significado naquele momento e situação. Considera o homem como um ser

em relação, seu organismo é um sistema em equilíbrio, ou em constante busca

de equilíbrio e auto-regulação em sua relação com o meio. O terapeuta

gestáltico é especialmente atento à forma como se expressa o cliente, não só

em termos de verbalização, mas também em termos de linguagem gestual,

corporal. motora. Perls mostra que a agressividade também desempenha um

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papel construtivo na maneira como a pessoa se relaciona com o mundo e

consigo mesma.

Existencialismo e Fenomenologia

Perls descreveu a Gestalt-terapia como uma terapia existencial, baseada na filosofia existencial e

utilizando-se de princípios considerados existencialistas e fenomenológicos. Embora a Gestalt-

terapia não se tenha desenvolvido diretamente a partir de antecedentes fenomenológicos e

existenciais particulares, vários aspectos do trabalho de Perls equiparam-se àqueles desenvolvidos

em muitas escolas do existencialismo e fenomenologia. A influência destas escolas foi difusa, porém

substancial.

Em geral, Perls contestava de forma

ferrenha a idéia de que se poderia

abranger o estudo do ser humano através

de uma abordagem científico-natural-

mecanicista inteiramente racional, como

recomendava o positivismo. A partir

disso, Perls associou-se à maioria dos

existencialistas, insistindo que o mundo

vivencial de um indivíduo só pode ser

compreendido por meio da descrição

direta que o próprio indivíduo faz de sua

situação única.

Do mesmo modo, Perls sustentou que o encontro do terapeuta com um paciente, constitui um

encontro existencial entre duas pessoas e não uma variante do clássico relacionamento médico-

paciente. O primeiro livro publicado por Friederich Perls, antes mesmo do nascimento da Gestalt-

terapia, foi "The Ego, Hunger and Aggression"(1942), onde expressa de forma condensada sua crítica

à teoria de Freud.

A idéia de que mente e corpo constituem dois aspectos diferentes da existência diferentes e

completamente separados, era uma noção que Perls, assim como os existencialistas, achavam

intolerável. De acordo com suas objeções, assim como não poderia haver cisão entre mente e

corpo, abandonou também a idéia da cisão entre sujeito e objeto e, mesmo, a da cisão entre

organismo e meio.

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Ao invés de considerar que cada ser humano encontra um mundo que ele experiência como sendo

completamente separado de si mesmo, Perls acreditava que as pessoas criam e constituem seus

próprios mundos. Dessa forma o mundo existe para um dado indivíduo como sua própria descoberta

do mundo.

O conceito de intencionalidade é básico, tanto para o existencialismo e fenomenologia quanto para o

trabalho de Perls. A mente ou consciência é entendida como intenção e não pode ser compreendida

à parte do que é pensado ou pretendido. Os sentidos dos atos psíquicos ou intenções devem ser

alcançados em seus próprios termos, fenomenologicamente, e em termos de sua própria intenção

particular. Assim, a crítica existencialista da noção freudiana de instintos é a mesma de Perls, e a

libido constitui um ato psíquico, nem mais básico nem mais universal que qualquer outro. Todo ato

psíquico é intenção, e toda intenção deve ser compreendida em seus próprios termos, e não em

termos de um ato psíquico mais básico.

Entre o pensamento existencialista, dois temas são da maior importância; a experiência do nada e a

preocupação com a morte e o medo. Ao examinar a visão que Perls tem da neurose, veremos que

esses mesmos temas também constituem elementos importantes em sua teoria sobre o

funcionamento psicológico.

O método fenomenológico de compreender através da descrição é básico no pensamento de Perls.

Todas as ações implicam escolha, todos os critérios, de escolha são eles próprios selecionados e

explanações causais não são suficientes para justificar as escolhas ou ações de alguém. Além disso,

a confiança fenomenológica na intuição para o conhecimento das essências assemelha-se à

confiança de Perls naquilo que ele chama de inteligência ou sabedoria natural do organismo.

Finalmente, o próprio modo de Perls propor sua abordagem inclui, como qualquer descrição

fenomenológica, as características fenomenológicas e existenciais descritas acima. Seus livros não

são argumentações descrevendo um ponto de vista particular, uma vez que, na estrutura

fenomenológica, a argumentação perde o sentido a não ser que o leitor, fora do contexto de sua

própria experiência, decida aceitar as premissas de Perls desde o início. O estilo de Perls é

imaginativo e pessoal, e sua tentativa é existencial no sentido em que propõe uma teoria do

desenvolvimento psicológico que é inseparável do envolvimento de Perls com seu próprio

desenvolvimento.

O Organismo como um Todo

Um conceito fundamental subjacente ao trabalho de Perls tem sua formulação explícita, como vimos,

a partir do trabalho dos psicólogos da Gestalt. Na teoria de Perls, a noção de organismo como um

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todo é central, tanto em relação ao funcionamento orgânico quanto à participação do organismo em

seu meio para criar um campo único de atividades.

No contexto do funcionamento intra-orgânico, Perls insistia em que os seres humanos são

organismos unificados e em que não há nenhuma diferença entre o tipo de atividade física e

mental. Perls definia atividade mental como atividade da pessoa toda que se desenvolve num nível

mais baixo de energia que a atividade física.

Esta concepção dos níveis de atividades

do comportamento humano levou Perls a

sugerir que qualquer aspecto do

comportamento de um indivíduo pode ser

considerado como uma manifestação do

todo, do ser total da pessoa. Assim sendo,

na terapia, o que o paciente faz ou como

ele se movimenta, fala e assim por diante,

fornece tanta informação a seu respeito

quanto o que ele pensa ou diz.

Esta concepção dos níveis de atividades do comportamento humano levou Perls a sugerir que

qualquer aspecto do comportamento de um indivíduo pode ser considerado como uma manifestação

do todo, do ser total da pessoa. Assim sendo, na terapia, o que o paciente faz ou como ele se

movimenta, fala e assim por diante, fornece tanta informação a seu respeito quanto o que ele pensa

ou diz.

Além do holismo ao nível orgânico, Perls acentuou a importância do fato de considerar o indivíduo

como parte perene de um campo mais amplo, o qual inclui o organismo e seu meio. Assim

como Perls protestava contra a noção de divisão corpo-mente, protestava também contra a divisão

interno-externo. Ele considerava que a questão das pessoas serem dirigidas por forças internas ou

externas não tinha nenhum sentido em si, uma vez que os efeitos causais de um são inseparáveis

dos efeitos causais do outro.

Há, no entanto, um limite de contato entre o indivíduo e seu meio e é esse limite que define a relação

entre eles. Num indivíduo saudável este limite é fluido, sempre permitindo contato e depois

afastamento do meio. Contatar constitui a formação de uma gestalt e afastar-se representa seu

fechamento. Num indivíduo neurótico as funções de contato e afastamento estão perturbadas, e ele

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se encontra frente a um aglomerado de gestalten que estão de alguma forma inacabadas ou nem

plenamente formadas nem plenamente fechadas.

Perls sugeriu que as pistas para este ritmo de contato e afastamento são ditadas por uma hierarquia

de necessidades. As necessidades dominantes emergem como ou figura contra o fundo da

personalidade total. A ação efetiva é dirigida para a satisfação de uma necessidade dominante. Os

neuróticos são freqüentemente incapazes de perceber quais de suas necessidades são dominantes

ou de definir sua relação com o meio, de forma a satisfazer tais necessidades. Assim, a neurose

acarreta alterações nos processos funcionais de contato e afastamento, e acabam causando uma

distorção na existência do indivíduo enquanto organismo unificado.

Ênfase no Aqui e Agora

A visão holística levou Perls a dar ênfase particular à importância da auto-percepção presente e

imediata que um indivíduo tem de seu meio. Os neuróticos são incapazes de viver no presente, pois

carregam cronicamente consigo situações inacabadas (gestalten incompletas) do passado. Sua

atenção é, pelo menos em parte, absorvida por essas situações e eles não têm nem consciência nem

energia para lidar plenamente com o presente.

Visto que a natureza destrutiva destas situações inacabadas aparece no presente, os indivíduos

neuróticos sentem-se incapazes de viver com sucesso. Assim, a Gestalt-terapia não investiga o

passado com a finalidade de procurar traumas ou situações inacabadas, mas convida o paciente

simplesmente a se concentrar para tornar-se consciente de sua experiência presente, pressupondo

que os fragmentos de situações inacabadas e problemas não resolvidos do passado emergirão

inevitavelmente como parte desta experiência presente. À medida que estas situações inacabadas

aparecem, pede-se ao paciente que as represente e experimente de novo, a fim de completá-las e

assimilá-las no presente.

Perls definiu ansiedade como a lacuna, a "tensão entre o agora e o depois". A inabilidade das

pessoas para tolerar essa tensão, sugeria Perls, leva-as a preencher a lacuna com planejamentos,

ensaios e tentativas de tornar o futuro seguro. Isto não apenas desvia a energia e a atenção do

presente, criando assim situações inacabadas perpetuamente, mas também impede o tipo de

abertura para o futuro, decorrente do crescimento e da espontaneidade.

Além da natureza estritamente terapêutica deste enfoque ligado à conscientização do presente, uma

tendência subjacente ao trabalho de Perls é a apologia de viver com a atenção voltada para o

presente, ao invés do passado ou futuro, como algo bom que leva ao crescimento psicológico. Aqui

vemos mais uma vez como o trabalho psicológico de Perls está fortemente baseado num contexto

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filosófico, num tipo de weltanschauung que pressupõe que a experiência presente de uma pessoa,

num dado momento, é a única experiência presente possível e que a condição para se sentir

satisfeito e realizado a cada momento da vida é a simples aceitação sincera desta experiência

presente.

A preponderância do Como sobre o Porquê

Uma consequência natural da orientação fenomenológica de Perls e de sua abordagem holística é a

ênfase na importância da compreensão da experiência de uma maneira descritiva e não causal.

Estrutura e função são idênticas e se um indivíduo compreende como faz alguma coisa, esta pessoa

está na posição de compreender a ação em si. Segundo Perls, o determinante causal, ou seja, o

porquê da ação, é irrelevante para qualquer compreensão plena da mesma.

Perls considera que toda ação tem causas múltiplas, assim como toda causa tem causas múltiplas, e

as explicações de tais causas nos distanciam mais e mais da compreensão do ato em si. Além disso,

uma vez que todo elemento da existência de alguém só pode ser compreendido como parte de uma

das várias gestalten, não há qualquer possibilidade deste elemento ser compreendido como sendo

"causado" separadamente de toda a matriz de causas da qual participa. Uma relação causal não

pode existir entre elementos que formam um todo; todo elemento causa e é causado por outros.

Assim, na prática da Gestalt-terapia, a ênfase está em ampliar constantemente a consciência da

maneira como a pessoa se comporta, e não em esforçar-se para analisar a razão pela qual a pessoa

se comporta de tal forma.

Conscientização

Os três principais conceitos da abordagem de Perls examinados até agora, o organismo como

um todo, a ênfase no aqui e agora, e a preponderância do Como sobre o Porquê, constituem

os fundamentos para entender a conscientização, o ponto central de sua abordagem

terapêutica. O processo de crescimento, nos termos de Perls, é um processo de expansão das

áreas de autoconsciência e o fator mais importante que inibe o crescimento psicológico é a

fuga da conscientização.

Perls acreditava plenamente no que ele chamava de sabedoria do organismo. Considerava o

indivíduo maduro e saudável um indivíduo auto-apoiado e auto-regulado. Via o cultivo da

autoconscientização como sendo dirigido para o reconhecimento da natureza auto-reguladora do

organismo humano. Segundo a teoria da Gestalt, Perls sugeriu que o princípio da hierarquia e

necessidades está sempre operando na pessoa. Em outras palavras, a necessidade mais urgente, a

situação inacabada mais importante, sempre emerge se a pessoa estiver simplesmente consciente

da experiência de si mesma a todo momento.

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Perls desenvolveu a noção de um

continuum de consciência como um meio

de encorajar esta autoconscientização.

Manter um continuum de consciência

parece demasiadamente simples, apenas

estar consciente do que estamos

experienciando a cada instante. No

entanto, a maioria das pessoas interrompe

o continuum quase de imediato, e esta

interrupção em geral é causada pela

conscientização de algo desagradável.

Perls desenvolveu a noção de um continuum de consciência como um meio de encorajar esta

autoconscientização. Manter um continuum de consciência parece demasiadamente simples, apenas

estar consciente do que estamos experienciando a cada instante. No entanto, a maioria das pessoas

interrompe o continuum quase de imediato, e esta interrupção em geral é causada pela

conscientização de algo desagradável.

Assim, estabelece-se a fuga em relação a pensamentos, expectativas, recordações e

associações de uma experiência à outra. Nenhuma dessas experiências associadas são de

fato experienciadas, elas são tocadas de leve, em flashes sucessivos, sem que haja

assimilação do material. O sujeito deixa a conscientização desagradável inicial tão fora do

contexto quanto o resto do material.

Esta fuga de uma conscientização contínua, esta auto-interrupção, impede o indivíduo de encarar e

trabalhar com a conscientização desagradável. Ele ou ela permanece empacado numa situação

inacabada. Estar consciente é prestar atenção às figuras perpetuamente emergentes da própria

percepção. Evitar a tomada de consciência é enrijecer o livre fluir natural do delineamento figura e

fundo.

Perls sugeria que para cada indivíduo existem três zonas de consciência: consciência de si mesmo,

consciência do mundo e consciência do que está "entre", um tipo de zona intermediária da fantasia.

Ele considerava o exame desta última zona (que impede a conscientização das outras duas) como a

grande contribuição de Freud. Sugeriu, contudo, que Freud concentrou-se tão completamente na

compreensão desta zona intermediária que ignorou a importância de trabalhar para o

desenvolvimento da capacidade de conscientizar-se nas zonas de si mesmo e do mundo. Em

contraste, a maior parte da abordagem de Perls inclui uma tentativa muito deliberada de ampliar a

conscientização e obter contato direto consigo e com o mundo.

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Ao acentuar a natureza do auto-apoio e da auto-regulação do bem-estar psicológico,Perls não quer

dizer que o indivíduo pode existir, de algum modo, separado de seu meio ambiente. Na verdade, o

equilíbrio orgânico supõe uma constante interação com o meio. O ponto crucial para Perls é que

podemos escolher a maneira como nos relacionamos com o meio. Somos auto-apoiados e auto-

regulados quanto ao fato de que reconhecemos nossa própria capacidade de determinar como nos

apoiamos e regulamos dentro de um campo que inclui muito mais do que nós mesmos.

Perls descreve vários modos pelos quais se realiza o crescimento psicológico. O primeiro envolve o

completar situações ou resolver gestalten inacabadas. Ele também sugere que a neurose pode ser

vagamente considerada como um tipo de estrutura em cinco camadas, e que o crescimento

psicológico (e eventualmente a libertação da neurose) ocorre na passagem através destas cinco

camadas.

Perls denomina a primeira camada de camada dos clichês ou da existência dos sinais. Ela inclui

todos os sinais de contato: "bom dia", "oi", "o tempo está bom, não é?" A segunda camada é a dos

papéis ou jogos. É a camada do "como se" em que as pessoas fingem que são aquelas que

gostariam de ser. Assim, o homem de negócios sempre competente, a menininha sempre bonitinha, a

pessoa muito importante.

Depois de termos reorganizado essas duas camadas, Perls sugere que alcançamos a camada do

impasse, também denominada camada da anti-existência ou do evitar fóbico. Aqui experienciamos o

vazio, o nada, é o ponto em que, geralmente, interrompemos nossa tomada de consciência e

retrocedemos à camada dos papéis para evitarmos o nada. Se, no entanto, formos capazes de

manter nossa autoconsciência neste vazio, alcançaremos a morte ou camada implosiva. Esta

camada aparece como morte ou medo da morte, pois consiste numa paralisia de forças opostas.

Experienciando esta camada contraimo-nos e comprimimo-nos, ou seja, implodimos.

No entanto, se pudermos ficar em contato com esta morte, alcançare-mos a última camada, a

camada explosiva. Perls sugere que a tomada de consciência deste nível constitui a emergência da

pessoa autêntica, do verdadeiro self, da pessoa capaz de experienciar e expressar suas emoções.

E Perls adverte:

"Agora, não se apavorem com a palavra explosão. A maior parte de vocês sabe dirigir um carro.

Existem milhares de explosões por minuto dentro do cilindro. Isto é diferente da violenta explosão do

catatônico: esta seria como a explosão num tanque de gasolina. Outra coisa, uma única explosão não

quer dizer nada. As assim chamadas quebras de couraça da teoria reichiana tem tão pouca utilidade

quanto o insight da psicanálise. As coisas ainda precisam ser trabalhadas."

Existem quatro tipos de explosões que o indivíduo pode experienciar ao emergir da camada da morte.

Existe a explosão em pesar, que envolve o trabalho com uma perda ou morte que não tinha sido

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previamente assimilada. Existe a explosão em orgasmo em pessoas sexualmente bloqueadas. Existe

a explosão em raiva, quando sua expressão foi reprimida e, por fim, existe a explosão de alegria e

riso, alegria de viver.

A estrutura de nossos papéis é coesiva, pois destina-se a absorver e controlar a energia destas

explosões. A concepção errônea básica de que essa energia precisa ser controlada deriva de nosso

medo do vazio e do nada (terceira camada). Interpretamos a experiência de um vazio como sendo

um vazio estéril e não um vazio fecundo. Perls sugere que as filosofias orientais, a filosofia Zen em

particular, têm muito a nos ensinar a respeito da experiência do nada, positiva e geradora de vida, e a

respeito da importância de permitirmos a experiência do nada sem interrompê-la.

Em todas suas descrições de como um indivíduo se desenvolve, Perls mantém a idéia de que a

mudança não pode ser forçada e que o crescimento psicológico é um processo natural e espontâneo.

Dinâmica Patológica

Perls considera a fuga da conscientização e a conseqüente rigidez da percepção e do

comportamento como os maiores obstáculos ao crescimento psicológico. Os neuróticos (aqueles que

interrompem seu próprio crescimento) não podem ver claramente suas necessidades e tampouco

podem distinguir de forma apropriada entre eles e o resto do mundo. Em conseqüência, são

incapazes de encontrar e manter um equilíbrio adequado entre eles próprios e o resto do mundo. A

forma que este desequilíbrio geralmente toma é a pessoa sentir que os limites sociais e ambientais

penetram muito fundo dentro dela mesma; a neurose consiste em manobras defensivas destinadas

ao equilíbrio e proteção contra este mundo invasor.

Perls sugere que existem quatro mecanismos neuróticos básicos, ou distúrbios de limites capazes de

impedir o crescimento: introjeção, projeção, confluência e retroflexão. (Na estrutura em cinco

camadas da neurose, estes mecanismos de defesa operam basicamente na segunda e terceira

camadas).

Entre as teorias de Freud e de Perls alguns dos correlatos podem ser facilmente encontrados. Esses

pontos de congruência podem ser vistos: na Catexia de Freud, correspondendo à figura-fundo

de Perls; na libido de Freud, correspondendo à excitação básica de Perls; na associação livre de

Freud, correspondendo ao continuum de consciência de Perls; na consciência de Freud,

conscientização de Perls, no enfoque de Freud na resistência e o enfoque de Perls na fuga da

conscientização; na compulsão à repetição de Freud e as situações inacabadas de Perls; na

regressão de Freud, correspondendo ao retraimento do meio ambiente de Perls; no terapeuta que

permite e encoraja a transferência em Freud, e no terapeuta que é um "habilidoso frustrador"

emPerls; na configuração neurótica de defesa contra impulsos de Freud, e na formação rígida da

gestalten de Perls; na projeção transferencial de Freud e na projeção de Perls, e assim por dìante.

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Introjeção

Introjeção ou "engolir tudo" é o mecanismo pelo qual os indivíduos incorporam padrões, atitudes e

modos de agir e pensar que não são deles próprios e que não assimilam ou digerem o suficiente para

torná-los seus. Um dos efeitos prejudiciais da introjeção é que os indivíduos introjetivos acham muito

difícil distinguir entre o que realmente sentem e o que os outros querem que eles sintam, ou

simplesmente o que os outros sentem. A introjeção também pode constituir uma força desintegradora

da personalidade, uma vez que quando os conceitos e as atitudes engolidos são incompatíveis uns

com os outros, os indivíduos introjetivos se tornarão divididos.

Projeção

Outro mecanismo neurótico é a projeção que, num certo sentido, é o oposto da introjeção. A projeção

é a tendência de responsabilizar os outros pelo que se origina no self. Envolve um repúdio de seus

próprios impulsos, desejos e comportamentos, colocando fora o que pertence ao self.

Perls chama a atenção para a distinção entre a projeção como processo patológico e a suposição

baseada na observação, que é normal e saudável. Na doença a pessoa seria governada pelas

projeções, falhando em reconhecê-las como hipóteses, perdendo os próprios limites e confundindo-se

em termos de identidade pessoal.

O conceito de projeção enquanto uma disfunção de contato do sujeito com o objeto, tem sido motivo

de estudos aprofundados por parte dos teóricos da Gestalt-terapia, desde que Perls a definiu como

sendo uma tendência para se desapropriar dos próprios impulsos, uma inclinação em negar e não

aceitar as partes da nossa personalidade que consideramos difíceis, ofensivas ou sem atrativos. Com

a Projeção esperamos nos livrar de aspectos intoleráveis do self (de nós mesmos) e de nossos

conflitos íntimos. A pessoa que projeta não pode aceitar seus sentimentos e ações e por isso os

atribui a uma outra pessoa e aí, então, pode reconhecê-los e até criticá-los.

O trabalho do terapeuta é ajudar a pessoa a recuperar pedaços de sua própria identidade, pedaços

estes que se encontram projetados muito outros.

Confluência

O terceiro mecanismo neurótico é a Confluência. Na confluência, os indivíduos não experienciam

nenhum limite entre eles mesmos e o meio ambiente. A confluência torna impossível um ritmo

saudável de contato e de fuga, visto que tanto o primeiro quanto o segundo pressupõem um outro.

Este mecanismo também impossibilita a tolerância das diferenças entre as pessoas, uma vez que os

indivíduos que experienciam a confluência não podem aceitar um senso de limites e, portanto, a

diferenciação entre si mesmo e as outras pessoas.

Retroflexão

O quarto mecanismo neurótico é a retroflexão, que significa voltar-se de forma ríspida contra. As

pessoa retroflexoras voltam-se contra si mesmas e, ao invés de dirigir suas energias para mudança e

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manipulação de seu ambiente, dirigem essas energias para si próprios. Dividem-se e tornam-se

sujeito e objeto de todas suas ações e passam a ser o alvo de seu comportamento.

Perls diz que todos estes quatro mecanismos raramente agem isolados um do outro, embora as

pessoas tendem a equilibrar suas tendências neuróticas entre esses mecanismos em variadas

proporções. A função crucial desses mecanismos é preencher a confusão do neurótico na

discriminação de limites. Dada esta confusão de limites, o bem-estar de um indivíduo, ou seja, sua

capacidade de ser auto-apoiado e auto-regulado, estaria seriamente limitado.

A visão de Perls destes quatro mecanismos é básica na maior parte de sua abordagem

psicoterapêutica. Ele considerava a Introjeção como sendo central na luta entre o dominador e o

dominado. O dominador se manifesta por um pacote de padrões e atitudes introjetados e, segundo

Perls, enquanto o dominador (ou o Superego, de acordo com Freud) permanece introjetado e não

assimilado, as exigências expressas pelo dominador continuarão a ser irracionais e impostas a partir

de fora.

Perls sugeria que a Projeção é crucial na formação e compreensão de sonhos. Sob seu ponto de

vista, todas as partes de um sonho são projetadas, fragmentos desapropriados de nós mesmos. Todo

sonho contém pelo menos uma situação inacabada que envolve estas partes projetadas. Trabalhar

com o sonho é recuperar tais partes e, portanto, completar a Gestalt inacabada.

Corpo

Perls considera a cisão mente-corpo da maioria das psicologias como arbitrária e falaciosa. A

atividade mental é simplesmente uma atividade que funciona em nível menos intenso que a atividade

física. Assim, nossos corpos são manifestações diretas de quem somos e pela simples observação

de nossos comportamentos físicos, tipo postura, respiração, movimentos, etc., podemos aprender

muito sobre nós mesmos.

Relacionamento Social

Perls considera o indivíduo como participante de um campo do qual ele é, embora diferenciado,

também inseparável. As funções de contato e fuga são cruciais na determinação da existência de um

indivíduo e esse aspecto de contato e fuga do meio ambiente inclui o relacionamento com outras

pessoas. Na verdade, o sentido de pertencer a um grupo, segundo Perls, é o nosso principal impulso

de sobrevivência psicológica. A neurose resulta da rigidez na definição do limite de contato em

relação às outras pessoas e de uma inabilidade em encontrar e manter o equilíbrio com eles.

Vontade

Perls acentua muito a importância da pessoa estar consciente de suas preferências e ser capaz de

agir sobre elas. O conhecimento de suas próprias preferências leva ao conhecimento de suas

necessidades; a emergência da necessidade dominante é experienciada como preferência pelo que

satisfará a necessidade.

Page 14: Friederich perls

A discussão de Perls sobre preferência está muito próxima do que se chama de vontade. Ao usar o

termo "preferência", Perls está enfatizando a qualidade natural e organísmica da vontade saudável. O

"querer" é simplesmente uma das várias atividades mentais; acarreta a limitação de consciência a

certas áreas específicas a fim de completar um conjunto de ações dirigidas para a satisfação de

algumas necessidades determinadas.

Emoções

Perls considera a emoção como a força que fornece energia a toda ação. Emoções são a expressão

de nossa excitação básica, as vias e modos de expressar nossas escolhas, assim como de satisfazer

nossas necessidades. A emoção se diferencia de acordo com situações variadas, como por exemplo,

pelas glândulas suprarenais em raiva e medo ou pelas glândulas sexuais em libido. A excitação

emocional mobiliza o sistema muscular. Se a expressão muscular da emoção for bloqueada,

criaremos a ansiedade, que é a contenção da excitação. Uma vez ansiosos, tentamos dessensibilizar

nossos sistemas sensoriais a fim de reduzir a excitação criada; é nesse ponto que sintomas como

frigidez, se desenvolvem. Essa dessensibilização emocional é a raiz da fuga da conscientização que

Perls considera básica na neurose.

Intelecto

Perls acreditava que o intelecto foi supervalorizado e superutilizado em nossa sociedade, em

particular nas tentativas de compreender a natureza humana. Acreditava profundamente no que

chamava de sabedoria do organismo, porém via esta sabedoria como sendo um tipo de intuição

baseada mais na emoção que no intelecto, e mais em sistemas naturais do que em conceituais.

Perls freqüentemente afirmava que o intelecto foi reduzido a um mecanismo de computação usado

para tomar parte numa série de jogos de encaixe. A preocupação em perguntar por que as coisas

acontecem impede as pessoas de experienciarem como elas acontecem, assim sendo, a consciência

emocional genuína é bloqueada em função do fornecimento de explicações. Explicar, de acordo com

Perls, é propriedade do intelecto e constitui muito menos que compreender.

Perls ridiculariza expressões do intelecto, como a produção verbal, por exemplo. Achava esses

elementos particularmente supervalorizados em nossa cultura. Ele sugeria existirem três níveis em tal

produção: cocô-de-galinha (bate-papo social), cocô-de-boi (desculpas ou racionalizações) e cocô-de-

elefante (teorizar, especialmente de modo filosófico e psicológico).

Self

Perls não tinha nenhum interesse em enaltecer o conceito de self a fim de incluir qualquer coisa além

do cotidiano, manifestações óbvias de quem nós somos. Somos quem somos. Maturidade e saúde

psicológica envolvem o sermos capazes de proclamar isto, ao invés de sermos tomados pelo

sentimento de que somos quem deveríamos ser ou quem gostaríamos de ser. Nossos limites estão

constantemente mudando na interação com nossos ambientes. Podemos, dado um certo nível de

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consciência, confiar em nossa sabedoria organísmica para definir estes limites e dirigir o ritmo de

contato e fuga em relação ao meio ambiente.

A noção de "self ou "eu", para Perls, não é estática e objetivável. O "eu" é simplesmente um símbolo

para uma função de identificação. O "eu" identifica-se com qualquer que seja a experiência

emergente da figura em primeiro plano; todos os aspectos do organismo saudável (sensorial, motor,

psicológico e assim por diante) identificam-se temporariamente com a gestalt emergente, e a

experiência do "eu" é essa totalidade de identificações. Função e estrutura, como já vimos antes, são

idênticas.

Terapeuta

Perls sugere que o terapeuta é, basicamente, uma tela de projeção na qual o paciente vê seu próprio

potencial ausente; a tarefa da terapia é a recuperação deste potencial do paciente. 0 terapeuta é

sobretudo um habilidoso frustrador. Embora dê satisfação ao paciente dando-lhe atenção e

aceitação, o terapeuta frustra-o recusando-se a dar-lhe o apoio de que carece.

O terapeuta age como um catalisador que ajuda o paciente a passar pelos pontos da "fuga" e do

impasse; o principal instrumento catalisador do terapeuta consiste em ajudar o paciente a perceber

como ele ou ela constantemente se interrompe, evita a conscientização, desempenha papéis e assim

por diante. (As projeções que estão envolvidas na relação do paciente com o terapeuta fornecem um

aspecto bastante significativo da fuga daquele, mas, como mencionamos anteriormente, outros

aspectos além dos elementos transferenciais da relação paciente-terapeuta também são

considerados importantes.).

Finalmente, o terapeuta é humano e seu encontro com o paciente envolve o encontro de dois

indivíduos, o que inclui mas também vai além do encontro definido de papéis terapeuta-paciente.

Perls acreditava que a terapia individual era obsoleta, tanto ineficiente quanto via de regra ineficaz.

Sugeria que o trabalho em grupos tinha muito mais a oferecer, quer o trabalho envolva explicitamente

o grupo inteiro, quer assuma a forma de uma interação entre o terapeuta e um indivíduo dentro do

grupo. Sugeria que o grupo pode ser extremamente valioso ao fornecer uma situação de mundo

microcósmica na qual as pessoas podem explorar suas atitudes e comportamentos uns em relação

aos outros. O apoio do grupo na "emergência segura" da situação terapêutica também pode ser

bastante útil ao indivíduo, assim como a identificação com os conflitos de outros membros e sua

resolução dos mesmos.

Referência

Ballone GJ - Friederich Perls, in. PsiqWeb, internet, disponível emwww.psiqweb.med.br, revisto em

2005