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    Psicologia e Saber Social, 4(2), 277-297, 2015. doi: 10.12957/psi.saber.soc.2015.12385 277

    Fronteiras e pertenas: representaes sociais e dinmicas identitrias do

    trfico de drogas na revista Veja (1968-2010)1

    Borders and belongings: social representations and identity dynamics of

    drug trafficking in Veja magazine (1968-2010)

    Flaviane da Costa Oliveira2Ingrid Faria Gianordoli-Nascimento3Thayna Larissa Aguilar dos Santos4

    Janana Campos de Freitas5

    RESUMO: Este trabalho buscou compreender o processo de construo de representaessociais do trfico de drogas ao longo da histria recente do pas, acessando dinmicas identitriasenvolvidas. Nosso interesse recai sobre as produes da mdia de massa e seus impactos nas

    relaes sociais e desigualdades to marcantes em nossa sociedade. Este estudo documentalreuniu matrias da revista Veja, do perodo entre 1968 e 2010, relativas ao tema trfico dedrogas. O corpusfoi submetido anlise lexical desenvolvida com o auxlio do softwareALCESTE.O procedimento de Classificao Hierrquica Descente apresentou sete classes, organizadas emdois grandes grupos, indicando uma dinmica intergrupal, que sinaliza discursos de umendogrupoe de um exogrupo. Tanto no cenrio internacional como no nacional, a necessidadede proteo da identidade social levou construo de representaes sociais do trfico dedrogas como algo que pertence ao estrangeiro ou ao grupo de fora. Assim, as periferias do globoou das grandes cidades passam a ser vistas como reservatrio do risco das drogas, o que seexpressa de forma emblemtica nas favelas e prises. A maior parte das matrias se organiza emtorno de argumentos tcnico-cientficos, que embasam esteretipos e preconceitos. A mdiaapresenta-se, portanto, como importante instrumento da disseminao de uma verso dos fatos

    sociais, contribuindo para a construo do conjunto de significados atribudos ao fenmeno,materializando personagens marginalizados e sem controle que assolam o imaginrio social.

    Palavras-chave: representaes sociais; identidade social; revista Veja; trfico de drogas;ALCESTE.

    ABSTRACT: This study investigated the process of construction of social representations of drugtrafficking along the country's recent history, accessing identity dynamics involved. Our interest iswith the mass media productions and its impact on social relations and inequalities as striking inour society. This documental study has gathered materials from magazine Veja, in a periodbetween 1968 and 2010, relating to the drug trafficking issue. The corpus was submitted to alexical analysis developed with the support of the software ALCESTE. The descendent hierarchicalclassification procedure presented seven classes, organized in two groups, indicating an

    intergroup dynamics, that points out the discourses of an ingroup and an outgroup. Consideringboth national and international scenarios, the need for social identity protection led to thefabrication of drug trafficking social representations as something that belongs to the foreigner

    1Apoio e financiamento: CAPES, FAPEMIG.

    2Mestre em Psicologia pelo Programa de Ps-Graduao em Psicologia da Universidade Federal de Minas Gerais; Bolsistade Mestrado da Coordenao de Aperfeioamento de Pessoal de Nvel Superior (Capes)Belo Horizonte, MG, Brasil. E-mail: [email protected].

    3Doutora em Psicologia; Coordenadora do Programa de Ps-Graduao em Psicologia da Universidade Federal de MinasGerais e Docente do Departamento de Psicologia da Universidade Federal de Minas GeraisBelo Horizonte, MG, Brasil.

    4Graduanda no curso de Psicologia da Universidade Federal de Minas Gerais; Bolsista de iniciao cientfica da Fundao de

    Amparo Pesquisa de Minas Gerais (FAPEMIG) - Belo Horizonte, MG, Brasil.

    5Mestranda em Psicologia pelo Programa de Ps-Graduao em Psicologia da Universidade Federal de Minas GeraisBeloHorizonte, MG, Brasil.

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    or to the outer group. Thus, the peripheries of the globe or the big cities, come to be seen as arisk to be a reservoir of drugs, which is expressed in symbolic form in the slums and prisons. Mostof the material is organized around technical and scientific arguments that support stereotypesand prejudices. The media presents itself, therefore, as important means of disseminating aversion of social factors contributing to the construction of the set of meanings attributed to thephenomenon, materializing marginalized characters and uncontrolled plaguing the social

    imaginary.

    Keywords:social representations; social identity; Veja magazine; drug trafficking; ALCESTE.

    Introduo

    Quando nos debruamos sobre os documentos produzidos pela mdia de massa,problematizando a produo das informaes, seu direcionamento e pblico consumidor, talanlise revela alguns aspectos relativos lgica da relao intergrupos presente nassociedades, e deste modo, os discursos sinalizam que determinados objetos ou elementosrepresentacionais so valorizados, enquanto outros so percebidos como ameaa pelogrupo de pertena (Tajfel, 1983). Enquanto registro e testemunha da histria (Souza &Menandro, 2007) a mdia impressa merece destaque, sendo fonte privilegiada para pesquisanas cincias humanas e sociais.

    Este trabalho focaliza um dos problemas sociais com maior expresso nos meios decomunicao brasileiros, o trfico de drogas. O tratamento dado ao tema pelos veculos deimprensa demarcou historicamente, um perfil para as classes que seriam responsveis pelaorigem, disseminao e violncia inerentes ao trfico (Zaluar, 1994a; Cruz Neto, Moreira &Sucena, 2001).

    Como constatado por Zaluar (1994a) e Cruz Neto, Moreira e Sucena (2001) durante as

    ltimas dcadas do sculo XX, a presena da criminalidade nas classes sociais favorecidasseguiu pouco divulgada nas coberturas miditicas (Ramos & Paiva, 2007), em contrapartida,as publicaes vinculadas a crimes ocorridos nas periferias ganharam cada vez mais espaonos noticirios. As escassas condies de vida e baixa renda da grande maioria da populaointensificam formas de segregao. Aos poucos a condio econmica passa a ser utilizadasocialmente como justificadora do processo de criminalizao da pobreza (Zaluar, 2004;Coimbra, 2001b) e as relaes entre pobreza e trfico de drogas, ganham ares deinterdependncia e auto explicao.

    De fato, as estatsticas governamentais do conta de nmeros crescentes de registros

    de crimes vinculados ao trfico de drogas6(Brasil, 2009), e so as classes pobres o estrato da

    populao que lida diretamente com as repercusses do cotidiano de violncia gerado pelosconflitos comerciais entre traficantes (Zaluar, 2004). No se trata, portanto, de negar osnmeros oficiais, mas de problematizar os processos de estigmatizao e excluso social,imbricados na construo histrica de depositrios (Joffe, 1994/2009) para determinadosobjetos sociais ameaadores.

    Neste sentido, esta investigao buscou compreender o processo de construo deRepresentaes Sociais (RS) do trfico de drogas ao longo da histria recente do pas, e as

    6 Entre os anos de 2004 e 2007, os registros de crimes de trfico de drogas ilegais, aumentaram no territrio nacional deum total de 31.368 para 47.747. Em relao ao total de crimes registrados, estes nmeros representam uma mdia de 0,8%dos registros entre os anos. Em comparao com cada 100.000 habitantes, os registros subiram de 17,46% em 2004, para29,62% em 2007.

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    dinmicas identitrias intergrupais, que permeiam as relaes sociais e desigualdadesvinculadas ao fenmeno.

    Ao fundamentar-se na teoria das representaes sociais (Moscovici, 2009, 2012), estetrabalho pretende problematizar o tema trfico de drogas enquanto uma realidade

    desconhecida e ameaadora que despertou, e continua despertando medo, em diferentesestratos da populao, especialmente entre aqueles que controlam os veculos de imprensa.Ao isolar objetos sociais para fora do grupo prprio, os grupos sociais constroemrepresentaes sociais que tm por funo proteger a identidade social do mesmo(Moscovici, 2012; Wagner, 2000). Deste modo, os grupos sociais que integram a sociedade,nos diferentes tempos e espaos, buscam recursos de compreenso da realidade natentativa de evitar situaes de ameaa e desequilbrio.

    Os processos de categorizao, comparao e diferenciao esto na base daconstruo da identidade social dos grupos (Tajfel, 1983), perpassando, portanto, adiscusso que empreendemos neste trabalho. Como destacado por Andrade (2000) e Santos

    (2000), as representaes sociais reapresentam objetos sociais a partir da expresso dasrelaes identitrias dos grupos. Tais processo parecem estar na base da construo dasrepresentaes sociais do fenmeno investigado.

    O proibicionismo e a origem do trfico de drogas

    Para mapear as representaes sociais do fenmeno do trfico de drogas, faz-senecessrio conhecer os aspectos histricos que construram as relaes sociais em torno dasdrogas, seu comrcio e proibio. Pesquisas em variadas sociedades sinalizam os diferenteslugares sociais destinados droga (seu conceito, sua funo/papel e seu controle)

    (Escohotado, 1998; Arajo, 2012). Aspectos culturais, polticos e sociais desencadearamproibies que levaram regulao jurdica e a criminalizao das atividades de uso ecomrcio de drogas, em diferentes partes do globo. Desta forma, a composio da categoriadroga revela inmeras ambiguidades, indicando algumas destas influncias histricas.

    Segundo Vargas (2008) h variadas hipteses para a origem do termo droga,possivelmente, vinda do latim drogia,do irnico daruke do rabe durwae do celta druko(p. 42), alm da possibilidade de origem holandesa do termo, derivada da expresso droghevate (p. 42), traduzida por barris de coisas secas (p. 42). Segundo o autor, esta ltimahiptese teria relao com o perodo das grandes navegaes, onde o contato entreeuropeus e outros povos no final da idade mdia teria levado a identificao das drogas

    como substncias exticas ou especiarias que provocariam sensaes prazerosas (Vargas,2008). Ainda, no haveria, portanto, uma conotao negativa para o uso de drogas, e suaspropriedades cientficas no eram absolutamente conhecidas.

    Segundo Rodrigues (2003) a utilizao do termo droga pelos meios de comunicao,

    nas conversaes dirias e tambm em publicaes cientficas revela imprecises. Estasindefinies so apontadas como mecanismo de generalizao, que levam ao agrupamentode substncias com diferentes propriedades e usos em um grupo nico, o que favorece seucombate nos pases que criminalizaram seu consumo ou trfico.

    O estudo da origem desta categoria de substncias revela inmeras ambiguidades, taiscomo apontado por Escohotado (1998). O autor menciona a origem do termo frmaco, apartir do gregophrmakonque indica ambiguamente remdio e veneno, ou seja, aquilo quepode curar ou matar a depender de seu uso. Assim, destaca que a utilizao de drogas

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    marca a histria de diferentes civilizaes, mudando-se apenas os substratos selecionados eas diferentes funes que estas substncias assumem dentro das culturas, tais como:elementos de rituais de purificao, forma de contato com divindades, prticas desocializao, fuga da realidade, dentre outras prticas.

    A tolerncia ou combate ao uso e ao trfico de drogas, em diferentes contextos, foraminfluenciados por determinantes histricos, sociais, econmicos e polticos. Escohotado(1998) acentua que o consumo de drogas no um fenmeno excepcionalmentecontemporneo, mas histrico, sendo recente a transformao do uso e comrcio emprticas que colocam em risco a organizao da sociedade como a conhecemos, tanto pelosprejuzos pessoais aos usurios e seus familiares, quanto em termos econmicos e sociais.Na mesma direo destas reflexes, Feffermann (2006) e Velho (1994) chamam atenopara o aspecto cultural que define as substncias apontadas como drogas nos diferentestempos e realidades.

    Segundo Rodrigues (2003) os questionamentos sobre a legalidade das drogas, ou seja,

    a discusso sobre a proibio-liberao de seu uso e comrcio passaram a figurar no cenriointernacional na virada dos sculos XIX e XX. O autor aponta que ainda na primeira dcadado sculo XX, no havia, no Brasil, qualquer questionamento sobre o uso de drogas. Noentanto, com a participao do pas em convenes internacionais sobre o tema econseguinte influncia do posicionamento norte-americano de represso s drogas, ideiasde proibio comeam a ser problematizadas. Durante o sculo XX, a influncia norte-americana foi marcante na poltica de combate s drogas no Brasil.

    Dentre outros, o fator religioso apontado como determinante na tomada deposicionamento da poltica e da sociedade americana frente ao consumo de drogas(Escohotado, 1998; Rodrigues, 2003, Arajo, 2012). No incio do sculo XX, a posturaproibicionista associa-se tradio puritana do protestantismo (Rodrigues, 2003, p. 26)disseminando ideias moralistas voltadas principalmente ao combate da prostituio, dos

    jogos de azar e do consumo de lcool na sociedade americana. Ao longo da primeira metadedo sculo XX, vrias leis americanas incidiram sobre as drogas proibindo-as ou controlando-as, tais como, Harrison Narcotic Act (Lei Harrison) de 1914, a Lei Seca de 1919, Marijuana TaxAct (Lei Tributria sobre a maconha) de 1937. Alm do movimento do legislativo h umamobilizao social que leva ao processo de excluso de grupos ameaadores, erigindo-senovas fronteiras internas e externas na defesa contra o trfico de drogas.

    Durante o sculo XX as ideias proibicionistas americanas so espalhadas internacionalmente, enas fronteiras internas revelam novos contornos a face do foco de ameaa: comportamentosdesviantes levados cabo por indivduos perigosos, notadamente negros (cocainmanosagressivos), mexicanos (indolentes usurios da maconha), chineses (introdutores do pio),irlandeses e eslavos (bbados inveterados)(Rodrigues, 2002, p. 70).

    No Brasil apenas em 1921, com a criao do Decreto n 14.969, que o pas formalizoulegislao especfica sobre os usos no-mdicos de substncias psicoativas, tipificando aspenalidades para seus vendedores e o tratamento para viciados, dando incio disseminaode um iderio proibicionista, assentado em argumentos de risco sade pblica (Rodrigues,2003). Em 1932 com a aprovao da Consolidao das Leis Penais, o Art.159 destedocumento, passa a tratar explicitamente da conduta de trfico de drogas ilcitas. Durante ogoverno de Getlio Vargas (1930-1945), com as alteraes do Cdigo Penal, em 1940, o Art.

    281 passou a definir a poltica sobre drogas, apontando seu comrcio como crime contra asade pblica. Em todas estas legislaes, ainda no havia criminalizao do usurio, apenas

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    do traficante de drogas (Avelino, 2010). O nmero de usurios de drogas no Brasil comeoua crescer j nas primeiras dcadas do sculo XX. No entanto, os rgos oficiais epesquisadores no possuem levantamentos do perodo que detalhem a dimenso doproblema. Mesmo os registros jornalsticos ainda no enfatizavam a questo.

    A realizao em 1961 da Conveno nica de Narcticos, organizada pela ONU emNova York (EUA), buscou centralizar as diretrizes internacionais de combate s drogas(Arajo, 2012). Esta conveno teria influncias diretas nas reformas da legislao brasileirasobre drogas, refletindo-se no tratamento legal dos usurios de drogas, que passaram a sercriminalizados juntamente com os traficantes, a partir do Decreto 385 de 1968 que alterou oArt.281 do Cdigo Penal. Uma ao legislativa que acompanha o recrudescimento do RegimeMilitar brasileiro (1964-1985), que naquele momento visava aumentar o controle sobre asaes juvenis, grupo social identificado como principal usurio de drogas e comocontestador da ordem poltica vigente.

    Nos EUA, para centralizar as prticas de controle das drogas o governo americano

    criou rgos especiais ao longo das dcadas de 1960 e 1970, o que se consolidou com acriao em 1974, do Drug Enforcement Administration (DEA) responsvel por coordenaraes internas e externas de combate s drogas nos EUA e em outros pases, inclusive noBrasil. As polticas dos governos americanos de Richard Nixon (1969-1974), Ronald Reagan(1981-1984 e 1985-1989) e George Bush (1989-1993) foram essenciais na construo socialdo trfico de drogas como principal inimigo da sociedade americana, devendo, portanto, sercombatido em um processo em que se ampliaram iniciativas de militarizao noenfrentamento as drogas, principalmente em solo latino-americano.

    A atuao de rgos brasileiros e a evoluo da legislao do pas, no tocante ao

    trfico de drogas, somente se concretizaria com a Lei 6.368 de 1976 (Lei de Txicos).

    Durante a dcada de 1970, o papel do Brasil na dinmica internacional do trfico de drogasilcitas comeou a alterar-se. Sendo vizinho de pases produtores de drogas como Bolvia,Peru e Colmbia, o Brasil ainda figurava como rota do fluxo internacional e como discretocentro consumidor de drogas (Rodrigues, 2003). O consumo de maconha entre jovens daclasse mdia e a chegada da cocana ao mercado de drogas, so marcos do perodo, tendoconsolidado suas estruturas durante os anos 1980 (Fraga, 2003). Observa-se o crescimentodas atividades do comrcio de drogas nos grandes centros urbanos brasileiros. Dominadaspor chefes do jogo do bicho, essas atividades seriam noticiadas amplamente pelos veculosde comunicao. A lgica de divulgao das notcias que at aquele momento priorizava apauta internacional passa a traar rotas e conexes entre o contexto social brasileiro eestrangeiro.

    Nos anos de 1990 as atividades organizadas do trfico de drogas no Brasil, foramganhando amplitude, estendendo o seu poder de atrao sobre os jovens pobres, em idadecada vez mais tenra (Zaluar, 1994b). Em sua maioria, o trfico mobiliza jovens que soinseridos numa lgica de trabalho informal (Zaluar, 1994b), dotada de regras e obrigaes deretorno e controle imediato que forjam um contrato social violento e implacvel(Feffermann, 2006). As prticas de violncia exercidas nas lgicas de transao do trfico dedrogas, e tambm quela exercida pelo Estado em seu combate, passam a ser naturalizadas,como forma autorizada de enfrentamento daqueles factualmente envolvidos com as

    atividades ilcitas ou potencialmente ofensivos (Chau, 1980; Coimbra, 2001a, 2001b).No mbito jurdico, a Lei 11.343, de 23 de agosto de 2006, a nova Lei de Txicos,

    trouxe algumas novidades em relao antiga legislao de 1976. A mesma institui o

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    Sistema Nacional de Polticas Pblicas sobre Drogas, e assim, mantm a poltica de repressoao trfico, mas passa a dar maior ateno para o tratamento dos toxicmanos, identificandosua rede de apoio e diretrizes (Arajo, 2012).

    Internacionalmente, os EUA permanecem tendo destaque no comando de medidas de

    controle e combate das drogas, militarizando iniciativas principalmente na Colmbia, mastambm nas fronteiras de outros pases como o Brasil, levando a discusses sobre asoberania dos pases de regio amaznica. O Brasil mantm um papel importante como rotapara o escoamento da produo de drogas na Amrica do Sul, mas agora se preocupa,tambm, com o combate armado aos traficantes e s classes perigosas, desenvolvendodesde a dcada de 1990 intervenes das foras armadas em regies sob o domnio docrime organizado (Coimbra, 2001b). Desta forma, a violncia legitimada como forma decontrole do Estado pela fora (Chau, 1980), em operaes de guerra amplamentedivulgadas pela mdia.

    Comunicao de massa e representaes sociais

    As informaes documentais provenientes de um veculo de mdia impressa de grandedifuso, a revista Veja, constituram as fontes de dados desta pesquisa. Desta forma,pretende-se lidar com um campo frtil de construo de representaes sociais, uma vezque, os rgos de imprensa so ao mesmo tempo receptores, processadores etransmissores da informao (Menandro, Trindade & Almeida, 2010, p. 65), configurando -se como importantes atores nos processos de comunicao social que se desenvolvem emnossa sociedade.

    Desde o estudo inaugural de Moscovici (2012), publicado originalmente em 1961, os

    processos de comunicao que atuam na construo e organizao de RS, vm sendoinvestigados a partir da anlise de material jornalstico. Os materiais de mdia impressarepresentam importante recurso de pesquisa no campo das representaes sociais,possibilitando o acesso a universos lexicais e redes de significados presentes em perodoshistricos anteriores aos vivenciados. De forma ampla, Os processos de comunicao so agnese das representaes sociais. Estas so desenhadas na comunicao interpessoal,intergrupal e na comunicao social; so criadas para comunicar e no ato de comunicar(Ordaz & Vala, 2000, p. 111).

    Os processos de comunicao so vistos por Jovchelovitch (2000) como mediadoresentre realidades mltiplas, entre indivduos com necessidades diversas e o mundo. Quando

    estas mediaes ocorrem surgem representaes sociais, e ento acabam por se tornar,tambm mediadoras, pois reapresentam objetos sociais nos dilogos cotidianos, facilitandoo contato entre os grupos e indivduos, negociando e construindo conjuntamente arealidade social, uma vez que o sujeito condenado a buscar mediaes. Outro, palavra eao constituem em delicada e intricada trama estas mediaes: com elas tentamosacalmar as lacunas que constituem o que somos (Jovchelovitch, 2000, p.183).

    Os meios de comunicao de massa ampliam a dimenso destas mediaes, namedida em que os veculos de mdia aproximam de forma invisvel os sujeitos que compeseu pblico, uma vez que:

    ... a mdia penetra cada lar e procura cada indivduo para torn-lo membro de uma massa... umtipo de massa, entretanto, que no se v em lugar algum precisamente porque ela est em todolugar. As milhares de pessoas que silenciosamente lem seus jornais e involuntariamente falamcomo o rdio so membros de uma nova forma de multido, que imaterial, dispersa e

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    domstica... Eles esto cada um em suas casas, mas esto juntos, e parecem ser diferentes, masso iguais... (Moscovici, como citado em Jovchelovitch, 2000, p. 86)

    O argumento de Moscovici (como citado em Jovchelovitch, 2000) facilita o resgate da

    dimenso de grupo, possvel nos estudos documentais com material jornalstico, uma vezque o jornal se torna um indicador desta viso de mundo (Bauer, Gaskell & Allum, 2008, p.

    22) compartilhada por leitores e produtores das reportagens.

    A mdia enquanto meio institucionalizado de comunicao responsvel tanto pelocontedo apresentado ao grande pblico quando pela forma como a informao serdifundida populao. Desta forma, so produzidas mudanas nas vivncias do espao e dotempo dos indivduos que tero novos parmetros para sua orientao, podendo aproximar-se ou distanciar-se de realidades antes desconhecidas,

    ... os meios de comunicao se tornaram constitutivos da vida social. Eles alteraram modos deinterao, transformaram o acesso a, e o consumo de bens simblicos, re-estruturaram a polticainstitucional e como no poderia deixar de ser eles mudaram radicalmente as fronteiras entre aesfera pblica e privada (Jovchelovitch, 2000, p. 89).

    Neste sentido, cabe mencionar como defendido por Jovchelovitch (2000), que nossoestudo no um estudo sobre a mdia no Brasil, nem to pouco, uma anlise dos processosespecficos na linguagem da mdia, que permitem o surgimento de representaes sociais(p. 92), buscaremos apenas o mapeamento de representaes sociais de um objeto socialespecfico que so difundidas e produzidas nestes veculos.

    Entre os produtores das informaes, durante grande parte do perodo histrico dapesquisa, exigiam-se dos profissionais jornalistas a diplomao de nvel superior7, nasantigas redaes dos jornais brasileiros ainda contavam com fotgrafos e outrosprofissionais de baixo nvel socioeconmico e que em muitos casos vivenciavam a realidade

    das classes desfavorecidas. Segundo Ramos e Paiva (2007) aos poucos a classe jornalstica foise tornando majoritariamente composta por pessoas de classe mdia, produzindo um olharexterno ou estrangeiro na leitura da realidade das classes baixas.

    Em suas pesquisas realizadas na dcada de 1980, Zaluar (1994a) observa que para osveculos de comunicao e para a populao em geral os morros cariocas eram consideradoscomo antro de perigosos criminosos, assassinos em potencial, traficantes de txicos, etc.(Zaluar, 1994a, p. 10). A autora identifica, inclusive, dificuldades em sua entrada no campode investigao, devido associao feita pela populao, entre seu trabalho e o de uma

    jornalista. Naquele momento, a populao encontrava-se indignada com a mdia quedanificava ainda mais a imagem das favelas e de sua populao que era apresentada como

    integralmente criminosa.

    Na mesma direo, a pesquisa realizada por Cruz Neto, Moreira e Sucena (2001), noincio da dcada de 1990, aponta que grande parte das matrias jornalsticas sobre o trficode drogas da poca apresentam narrativas que fomentam atitudes de discriminao comdeterminados extratos da populao, criando um perfil estigmatizante de seusprotagonistas: compromissados com o reduzido espao e a necessidade de venderexemplares, proprietrios, editores e reprteres ... acham plausvel expressar aquelas que

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    Em 2009 o Supremo Tribunal Federal decidiu pela no exigncia de diploma em Jornalismo para o exerccio da profisso,alegando que a exigncia feria o princpio da liberdade de expresso. Em 2012, novamente a matria voltou a serproblematizada, sendo aprovada no Senado a Proposta de Emenda Constitucional (PEC) que retomaria a exigncia dodiploma, a PEC ainda tramita na Cmara dos Deputados.

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    julgam ser as principais caractersticas dos jovens em uma pgina com grficos, ou mesmoconform-las em um box... (Cruz Neto, Moreira & Sucena, 2001, p.84).

    Coimbra (2001b) tambm destaca o papel da mdia de massa na construo das ideiassobre a criminalidade na histria recente do pas, favorecendo a criao de esteretipos e

    processos de segregao em relao s classes subalternas, uma vez que as narrativasdifundidas produzem poderosos e eficientes processos de subjetivao; forjam existncias,vidas, bandidos e mocinhos, heris e viles (p. 37).

    Estes relatos de pesquisa remetem a uma das dimenses que pretendemos acessar, ouseja, o papel da mdia na formao de representaes sociais para o fenmeno do trfico dedrogas. Os vieses apresentados pelas informaes divulgadas pela mdia revelam condiesque perpassam este trabalho de pesquisa: se por um lado contamos com rica fontedocumental para acessar o tema, por outro, este material influenciado por aspectosideolgicos, editoriais e polticos (Souza & Menandro, 2007; Ordaz & Vala, 2000), aindapouco discutidos.

    Neste sentido, como destacado por Noto e Galdurz (1999), a divulgao compretenso cientfica produzida pela mdia acaba, por vezes, prejudicando o acesso dapopulao em geral s pesquisas sobre as drogas no Brasil, uma ve z que, a maioria dapopulao tem a mdia como principal fonte de informaes, o que divulgado pelos meiosde comunicao de massa passa a ser padro de verdade (p. 147), consolidando-seesteretipos, atitudes e opinies (Jodelet, 2001). Deste modo, conhecer os atravessamentosculturais, sociais, econmicos e histricos que incidem na produo dos textos jornalsticos condio bsica para a uma leitura analtica dos fatos narrados.

    MtodoEsta pesquisa prope uma investigao de carter exploratrio e documental,

    utilizando registros textuais de uma revista de circulao nacional. Os dados que integram ocorpus8 desta pesquisa provm de matrias, fragmentos de matrias e comentrios,publicados pela revista Veja entre os anos de 1968 e 2010, e que tratavam do assunto trficode drogas.

    Souza e Menandro (2007) destacam que a pesquisa documental via privilegiada deconhecimento dos acontecimentos histricos, atuando como uma verdadeira mquina dotempo (p.152) ao transportar o pesquisador aos mais inusitados cenrios. Ainda assim, ocenrio scio-poltico influencia a configurao dos materiais documentais e, portanto, os

    textos selecionados para compor este estudo so carregados por estas marcas. A produodocumental, e neste caso jornalstica, no apenas registra os fatos vivenciados, masreproduz formas de pensar em um tempo e espao especficos. Como indicado por Olson(1997), ao cunhar a metfora do mundo de papel, o conjunto de documentos produzidospor uma sociedade em determinado tempo se relaciona com as representaes dos grupossobre os objetos sociais, ou seja, compe algo mais do que uma reproduo dosacontecimentos, so atos de inteno e interpretao.

    Neste sentido, os saberes em circulao na produo e difuso do semanrio,apresentam representaes sociais elaboradas em meio a um grupo social especfico,

    8Do latim, corpo. Nas pesquisas histricas ou sociais trata-se da coleo homogenia de textos sobre determinado tema,utilizada quando o tema investigado possui grande variabilidade e inviabiliza os critrios de amostragem representativa(Bauer & Aarts, 2002).

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    Psicologia e Saber Social, 4(2), 277-297, 2015. doi: 10.12957/psi.saber.soc.2015.12385

    leitores das classes A e B, majoritariamente do sexo masculino de faixas etriaseconomicamente ativas (de 20 a 49 anos) e em sua maioria moradores da regio sudeste doBrasil (Grupo Abril, 2011). Trata-se de um grupo social que atinge maiores graus de instruoe renda, sendo considerado socialmente como formador de opinio, produtor e detentor deconhecimento. Este estudo indica uma via de acesso a ideias largamente difundidas e

    fortemente valorizadas por estarem atreladas a posicionamentos de uma classe dominanteem nossa sociedade.

    A seleo e coleta das matrias jornalsticas foram realizadas no sitedo acervo digitalda revista Veja9. Utilizou-se uma ferramenta presente no site, para buscas avanadas com aexpresso exata, a partir dos termos: trfico, traficante e narcotrfico . Devido ao grandevolume de publicaes, do total de exemplares da revista que citavam o tema, a cada msfoi includa uma matria no corpus, sendo estimado o mximo de doze matrias por ano.Ainda que a escolha dos termos-chave, tenha sido eficaz, o conjunto das matriasselecionadas eletronicamente foi depurado, a partir de uma leitura na ntegra das matrias,

    de maneira a separar aquelas que realmente tratavam do tema em questo. Foramdesconsideradas ocorrncias que se referiam a outros tipos de trfico, tais como: trfico deinfluncia, de pessoas, de animais, dentre outros. Tambm foram desconsideradas asocorrncias em que a palavra trfico ou traficante era usada sem um qualificador (dedrogas, de herona etc.) e seu sentido no ficava explcito por informaes contextuais.Matrias que apenas citavam o trfico de drogas (por exemplo, em uma lista de outroscrimes), sem desenvolver nenhuma ideia vinculada ao termo, foram descartadas, assimcomo as mensagens publicitrias e as cartas de leitores.

    O controle do material selecionado se deu a partir do registro em uma ficha deorganizao, composta das seguintes variveis: Edio; Ano; Dcada; Data; Termo de busca;

    Observaes da leitura preliminar; Contedo (utilizao de trecho ou ntegra da matria);Sexo do envolvido; Ator (caracterizao da pessoa envolvida com o trfico de drogas); Local(Nacional, Internacional e Fronteira), Matria de Capa. Essas informaes foramtransformadas em um banco de dados de controle em formato Excel. Cada matriaselecionada foi salva, inicialmente, em formato PDF (Portable Document Format), e emseguida, foram convertidas em textos editveis de modo a serem submetidas anlise.

    Aps tratamento do corpus, este foi submetido anlise lexical ou estatstica textual

    desenvolvida com o auxlio do software ALCESTE (Anlise Lexical por Contexto de umConjunto de Segmentos de Texto), produzido em 1979, por Max Reinert. A conciliao dediversas anlises estatsticas faz com que o programa seja considerado no somente umatcnica, mas tambm uma metodologia de explorao e descrio de dados (Kronberguer &Wagner, 2008). Ao utilizar as dimenses quantitativa e qualitativa, as estratgias doprograma conseguem indicar conjuntos textuais que se referem a um determinado contextoe reproduzem, a partir do discurso, estruturas simblicas que organizam prticas sociais.

    Resultados e discusso

    O total de itens includos no corpuspara anlise foi de 321 matrias ou fragmentos dematrias, sendo o primeiro destes registros datado de 1 de janeiro de 1969. Apesar de ainvestigao ter includo o ano de 1968, no foi encontrado exemplar nesse ano, o perodo

    foi mantido na discusso proposta, por trazer importantes contornos para a compreenso

    9Endereo do site:

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    do fenmeno no pas em funo das condies polticas e sociais impostas pelo regimemilitar.

    Neste recorte apresentaremos alguns resultados do procedimento de ClassificaoHierrquica Descendente, presente no ALCESTE. Este procedimento baseia-se no princpio

    da maior homogeneidade interna classe e da maior diferenciao possvel entre as classes.Esta classificao ocorre mediante sucessivas comparaes realizadas pelo programa, entreas Unidades de Contexto Elementar identificadas e as formas reduzidas das palavras plenas(substantivos, verbos, adjetivos e advrbios). O critrio para a diviso o qui-quadrado (x)das palavras reduzidas, ou seja, a distribuio mdia de uma palavra comparada com adistribuio na classe, a fim de identificar vocabulrios diferenciados no discurso(Kronberguer & Wagner, 2008; Oliveira, Gomes & Marques, 2005; Menandro, Trindade &Almeida, 2010; Pedrosa, 2012).

    O dendrograma resultante deste procedimento apresentou sete classes de palavras,organizadas em dois grandes grupos que se opem e se complementam. A nomeao das

    classes (Figura 1) partiu do conceito de mundo lexical destacado por De Alba (2004), quepermite o resgate da dimenso das ancoragens e objetivaes cruciais paracompreendermos as RS. A dimenso dos mundos lexicais se encontra entranhada nasexperincias individuais dos sujeitos, e tambm nas formas de conhecimento tradicionais ecientficas presentes em uma sociedade. As sete classes apontadas na anlise do corpusdesta pesquisa revelaram contedos lexicais significativos que remetem as negociaesentre a esfera cientfica e do senso comum na construo da realidade social ao longo doperodo histrico. A nomeao das classes ocorreu aps procedimentos de leitura daspalavras, das variveis, e das Unidades de contexto elementar (afirmativas do texto,dimensionadas em funo do tamanho total do corpus)associadas classe. Alm disso, a

    interpretao do contedo das classes e das relaes apontadas pelas anlises estatsticas,foram desenvolvidas a partir do conhecimento prvio das pesquisadoras sobre o campoemprico e terico acerca do objeto.

    Classe 1 22% Classe 2 14% Classe 7 24% Classe 3 11% Classe 6 8% Classe 4 13% Classe 5 8%

    "Envolvidos"

    Depoimentos

    vividos

    Favelas e

    prises

    Leis e polticas

    de controle

    Drogas de

    classe

    Produto deimportao e

    exportao Combate

    Problema domstico Discursos de especialistas Ameaa e Combate

    Drogas na fronteira

    Figura 1 - Dendrograma de Classificao Hierrquica Descendente, Revista Veja(1969-2010)

    A Classe 3 (Leis e polticas de controle) articula-se em torno de temas que incluemaspectos legais, econmicos e polticos do trfico de drogas, ou mais precisamente, sobre ocontrole das drogas. A UCE abaixo est entre as que apresentam maior medida de qui-quadrado (2=34) e tambm ilustra ao lxico referente a classe. Cabe ressaltar que as

    palavras antecedidas pelo sinal grfico # so aquelas que o programa selecionou comopossuindo alguma associao com a classe, j as palavras em negrito, so as que possuem osmaiores valores de qui-quadrado.

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    #mas #esses grupos delinquentes, #como pcc, #farc e paramilitares da colombia, #vivem donarcotrafico. e, enquanto o narcotrafico estiver aumentando, e #esta. e dificil #dizer que eles#nao voltarao a #agir. #erros e acertos brasileiros o brasil, #assim #como #outros #paises, erra nocombate a #criminalidade por dissociar as #politicas#social e repressiva.

    A Classe 6 (Drogas de classe) trata do uso e da dependncia de drogas, que

    ameaam um pblico especfico, pessoas que economicamente podem consumir estassubstncias. Os textos apresentam entrevistas e opinies de especialistas sobre o uso desubstncias, formando um conjunto de saberes mdicos-cientficos que servem para nortearposicionamentos prticos em relao s drogas. A UCE abaixo (2=42) exemplifica seucontedo lexical.

    #ecstasy#mata #especialista em #dependenciadiz que e tolice acreditar que #drogas #sinteticassejam menos letais veja _ qual sua opiniao sobre a legalizacao do #maconha? levounis _ alegalizacao #pode ate reduzir o #numero de crimes associados ao #uso e ao trafico de #drogasmas esse e so um #aspecto dentro de uma sociedade em que a #dependenciae um problema de#grande extensao.

    O conjunto das classes 3 e 6 recebeu o nome Discursos de especialistas , poisapresenta o discurso poltico e tcnico-cientfico como forma de balizar a relao doindivduo comum com as drogas.

    J na Classe 4 (Produto de importao e exportao) nota-se a presena de elementosrelacionados s transaes e etapas includas no trfico de drogas internacional, desde aproduo, o transporte e a apreenso das drogas, com destaque para a cocana.

    3_a #cocaina a colombia, embora #pequena #produtora de #coca, #fabrica com a #pastacontrabandeada do #peru e da #bolivia mais de 40 #por_cento da #cocaina comercializadailegalmente #no mundo.

    O contedo da Classe 5 (Combate) estrutura-se de forma complementar ao mundo

    lexical expresso na classe 4, pois se contrape a lgica da produo das drogas, revelando odiscurso daqueles que tentam se proteger contra a invaso de um inimigo clandestino, otrfico de drogas.

    dentro de um pacote #antidrogas em preparacao pelo #governo #americano, que envolvera#recursos de 8 #bilhoes de #dolares. nos #proximos meses, entre cinquenta e 100 assessores#militares #americanos deverao desembarcar na #colombiapara treinar policiais e #militares no#combate#ao #trafico.

    O agrupamento das classes 4 e 5, denomina-se Ameaa e combate, pois as classesapresentam os principais pases do circuito internacional do trfico, muitos onde o sistemaeconmico formal depende dos lucros das drogas, e onde os EUA atuam amplamente para

    inibir as transaes ilegais do trfico (plantio, refino, exportao das drogas etc.). Oselementos trazidos por este universo semntico referem-se a um problema externo aogrupo de referncia (aquele que emite a mensagem), ou seja, tratam de um problema sobreo qual a classe com maior poder aquisitivo ou o grupo de pases desenvolvidos, propem suaanlise e interveno. Os problemas do consumo e da economia do trfico, so apontadosnas classes 6 e 4, problemas que devem ser combatidos (Classe 5), e frente ao qual a figurado especialista convidada a opinar (Classe 3). O conjunto das quatro classes foi nomeadopor Drogas na fronteira.

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    Psicologia e Saber Social, 4(2), 277-297, 2015. doi: 10.12957/psi.saber.soc.2015.12385

    Classe 3 11% Classe 6 8% Classe 4 13% Classe 5 8%

    Variveis1 2 Variveis 2 Variveis 2 Variveis 2

    *ator_19 400.0 *ed_82 432.3 *loc_3 425.3 *loc_2 510.7*sex_4 319.6 *ano_1970 426.0 *ed_967 222.7 *ator_3 224.0

    *ed_1811 191.6 *ed_1669 202.1 *ano_1980 219.9 *ed_737 211.7*ano_2003 186.2 *ator_19 199.9 *ed_631 205.8 *ed_1113 102.5

    Formas2 2 Formas 2 Formas 2 Formas 2

    senhor+ 112.1 LSD 309.2 Cocana 384.3 america< 413.8nosso+ 104.4 efeito+ 229.5 quilo+ 331.0 colombia 195.3No 100.3 Uso 181.7 policia_federal 199.2 estados_unidos 185.0Isso 90.2 substanci+ 163.9 AM 147.5 noriega 169.4Interpol 84.6 dose+ 144.8 pan+ 147.5 governo+ 164.4farc+ 81.7 dependencia+ 129.9 Bolvia 145.4 eua 161.5acha+ 80.0 Herona 125.2 ter 137.8 dolar+ 152.0Pases 73.5 pesquisa+ 121.7 aeroporto+ 129.6 genera+l 150.8conselho+ 72.9 Ecstasy 119.7 Pasta 117.4 combat+ 132.2problem< 72.7 droga+ 116.5 coc+ 116.2 arce_gomez 125.0

    Leis e polticas de controle Drogas de classeProduto de importao e

    exportaoCombate

    Discursos de especialistas Ameaa e Combate

    Drogas na fronteira

    Notas: 1. Descrio das variveisator: envolvido; sex: sexo do envolvido; Ed: edio da revista; ano: ano de publicao; loc: local descrito.2. As formas apresentadas correspondem s palavras plenas com maior qui-quadrado.

    Figura 2 - Conjunto de classes Drogas na Fronteira no Dendrograma de Classificao HierrquicaDescendente, Revista Veja(1969-2010)

    A discusso suscitada pelas Drogas na Fronteira revela tenses entre diversosgrupos sociais frente ao trfico de drogas. Assim, no somente os americanos buscariamformas de lidar com o problema, o mesmo se daria no contexto nacional a partir da ativao

    tanto de elementos compartilhados, como de novos itens para a composio darepresentao social. Deste modo, estas classes contm elementos sobre as relaesinternacionais do comrcio e combate s drogas, mas tambm sobre o contato de grupossociais brasileiros (principalmente atores da classe mdia, mdicos e estudantes) com estefenmeno. O conjunto de classes revela como as conversaes em torno do combate dasdrogas acercam-se do discurso cientfico, encontrando justificativas sobre os malefcios douso, do comrcio e das relaes sociais implicadas no trfico.

    Como os processos de comparao e diferenciao social (Tajfel, 1983) sedesenvolvem no contato entre determinados grupos, em tempos e espao peculiares, nasociedade brasileira estes levaram a definio de grupos sociais especficos como

    responsveis pela disseminao e pelos riscos ocasionados pelo trfico de drogas. Esseconjunto lexical remete dinmica social presente na sociedade americana, sem descol-lada realidade brasileira, e busca aproximar o leitor de um cenrio novo e ameaador. nocenrio estrangeiro que as notcias da poca encontraram elementos representacionais paraancorar explicaes para o fenmeno das drogas e seu comrcio no Brasil, de maneira queso os estrangeiros os primeiros a trazer as drogas para o pas, tanto em nvel literal comosimblico.

    vista disto, conhecer o panorama americano se fez necessrio, porque este se impede forma marcante nos textos analisados, que se configuram a partir do dilogo com a pautainternacional de notcias, e desta forma, a apreenso destes contornos ajuda-nos a

    compreender os mecanismos pelos quais a sociedade brasileira pde elaborar um novofenmeno. A diferenciao dos territrios interno e externo se deu de forma a organizar ainterpretao dos dados que compe o campo representacional, no tendo sido planejada

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    anteriormente. A construo seletiva e a focalizao de determinados elementos quecirculam nas conversaes do senso comum fazem parte do processo de construo das RS eso ntidos na anlise do conjunto lexical presente no corpus. A pauta internacionalapresentada pela revista contribuiu para o reforamento de ideias de distncia e proteoem relao ameaa (drogas/trfico). Alm disso, a construo de narrativas sobre a

    aproximao e/ou a invaso de nossas fronteiras, fomenta novas negociaes simblicasacerca do objeto social.

    A sociedade americana condensou sob os efeitos nocivos causados pelas drogas(desde o lcool s drogas sintticas) a ameaa produo e ao lucro capitalistas, que seriamensurada a partir do desempenho dos jovens, estes ltimos, o grupo social a quem seassociava o uso da droga no perodo. Preceitos religiosos e a tradio econmica liberallevaram ao expurgo dos comportamentos de uso e abuso das drogas.

    Com as perdas americanas em decorrncia da Guerra do Vietn (1955-1975), ogoverno precisou encontrar uma forma de restabelecer o orgulho nacional (Arajo, 2012),

    reaquecer o mercado, incentivar a economia e buscar o apoio popular. neste contexto, quedurante um pronunciamento no ano de 1972, o presidente Richard Nixon (1969-1974)identifica um novo inimigo do Estado americano ao declarar os psicoativos ilcitos comoinimigos n 1 da Amricae, em consequncia declara guerra s drogas (Rodrigues, 2003, p.42, grifos do autor). O Estado buscava um novo inimigo que externalizasse sua instabilidade(Feffermann, 2006) e ao destacar a existncia de pases produtores e consumidores dedrogas, os EUA exteriorizam seus inimigos, pases (asiticos e latino-americanos)disseminadores de drogas,

    ... a terminologia classificatria pas produtor de droga/pas consumidor de droga, cunhadaainda no governo do republicano Richard Nixon, nos anos setenta, de extrema eficcia. Um pas

    seria, assim, responsabilizado pela produo do mal, enquanto outro, vitimizado pela afrontaexgena, teria o direito de se defender atacando a fonte(Rodrigues, 2002, p. 68).

    O movimento de identificao dos grupos sociais inimigos pode ser compreendidocomo um primeiro esforo de objetivao (nomeao e materializao), para um fenmenoque ameaava a sociedade americana e precisava encontrar uma face, a fim de abandonar adimenso de um inimigo abstratamente disseminado. Neste sentido, objetivar significaresolver o excesso de significaes pela materializao (e assim guardar distncia em relaoa elas). Tambm significa transplantar, no plano da observao, o que era s inferncia ousmbolo (Moscovici, 2012, p. 101).

    Em nossa anlise, os pases chamados na poca de subdesenvolvidos, que eram

    dependentes economicamente do mercado americano, como Peru, Panam, Bolvia,Colmbia e Mxico, e em alguns momentos o prprio Brasil, tornaram-se lugaresintensamente associados produo e distribuio de drogas, legtimos representantes dossubrbios do globo. Estes lugares passam a ser smbolos da p roduo e disseminao dasdrogas, sendo integralmente responsabilizados por estas.

    Em todo o processo notamos a tendncia dos grupos sociais valorizao dosatributos do grupo prprio (endogrupo) em detrimento do grupo de fora (exogrupo), estatendncia pode ser percebida pela anlise dos processos de categorizao e diferenciaogrupal que organizam as relaes de pertencimento dos indivduos aos grupos,determinantes para a composio da identidade social (Tajfel, 1982, 1983). A compreenso

    da influncia das relaes identitrias na composio das RS, e tambm, da recprocaparticipao das RS na composio das identidades, mostrou-se crucial no exerccio dediscusso dos dados desta pesquisa, desta forma, enfatizamos que:

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    Oliveira, F. da C., Gianordoli-Nascimento, I. F., Santos, T. L. A. dos, & Freitas, J. C. de 290

    Psicologia e Saber Social, 4(2), 277-297, 2015. doi: 10.12957/psi.saber.soc.2015.12385

    Os grupos desenvolvem formas especficas de produo de significados, ou seja, cada gruposocial, dependendo da sua insero no todo social, de suas relaes com outros grupos,desenvolve formas especficas de estruturar suas representaes sociais. Cada grupo social temsua forma especfica de representao de mundo. Isto significa que podem ser estabelecidas

    clivagens entre os grupos sociais segundo as suas representaes. Indivduos e grupos expressam

    sua identidade atravs de suas representaes(Andrade, 2000, p. 144, grifos do autor).

    Entre os americanos, o mal das drogas foi relegado a grupos estrangeiros, fato queparece ocorrer diferentemente no Brasil. Em nossa sociedade, os processos de exclusosocial se processariam por outros mecanismos, elegendo grupos internos como os principaisdepositrios dos malefcios produzidos pelas drogas. Desta forma, repete-se uma lgicabinria de leitura da realidade, antes observada entre americanos e estrangeiros, e agora emterritrio brasileiro, entre classes dominantes e classes subalternas.

    Se o trfico de drogas o catalisador do perigo potencial das drogas, seus mensageiros

    so grupos especficos, repetindo-se uma viso dicotmica j observada no mbitointernacional da questo. No Brasil encontram-se de um lado, os pobres, negros e

    traficantes; e de outro, os ricos, brancos e consumidores. Segundo Chau (1980) nossasociedade est acostumada a empregar mecanismos ideolgicos que invisibilizam diferenassociais impregnadas de preconceitos de classe/raa, mascarados por uma aparncia deunidade social. Desta forma, o pobre (malandro, ladro, marginal, sujo etc.) carrega a culpae a responsabilidade pelas mazelas sociais que acometem a classe mdia, constituindo umacategoria segregada, mas integrada e funcional para a dinmica social (Souza, 2004; Sawaia,2008). Assim, as polticas pblicas acabam por voltar-se contra os pobres, potencialmente oudiretamente, vinculados ao trfico e aos traficantes de drogas, sob os quais as prticasviolentas de coao so autorizadas em nome da ordem social (Chau, 1980; Coimbra,2001b). Tais atores e contextos so, portanto, iados pelo lxico apresentado no segundo

    conjunto de classes revelado no procedimento de Classificao Hierrquica Descendente.

    Classe 1 22% Classe 2 14% Classe 7 24%

    Variveis 2 Variveis 2 Variveis 2

    *dec_1 97.3 *ator_2 155.6 *dec_4 550.3*ed_791 75.6 *ed_1894 113.5 *ano_2006 322.1*ator_7 73.3 *ed_1175 108.9 *ator_1 319.1*sex_1 64.2 *ed_227 71.7 *loc_1 281.5

    Formas 2 Formas 2 Formas 2

    Foi 131.8 Meu 202.7 favela+ 540.8polici+ 104.4 eu+ 153.8 morro+ 225.7passada+ 100.9 filho+ 151.0 morador+ 220.4

    prisao 99.8 Me 137.3 bandido+ 216.8condenado+ 97.4 ele+ 114.1 rocinha 203.9acusado+ 83.9 amigo+ 105.3 pcc+ 144.9seman+ 71.1 mae+ 89.5 seguranca+ 141.7cabecao 66.2 Tinha 77.6 rio_de_janeiro 111.3inquerito+ 66.1 vid+er 77.2 rio+ 101.3preso+ 64.5 minha+ 70.5 carioca+ 99.7assassin< 62.8 mulher+ 68.9 comando+ 86.1investig< 61.1 fuir. 63.5 presidio+ 85.2processo+ 58.4 Vou 62.7 publica+ 72.9

    "Envolvidos" Depoimentos vividos Favelas e prises

    Problema domstico

    Figura 3 - Conjunto de classes Problema domstico no Dendrograma de Classificao Hierrquica

    Descendente, Revista Veja(1969-2010)

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    Representaes sociais e dinmicas identitrias do trfico de drogas 291

    Psicologia e Saber Social, 4(2), 277-297, 2015. doi: 10.12957/psi.saber.soc.2015.12385

    O segundo grupo de classes composto da Classe 1 (Envolvidos) que mencionaatores que mantm relaes com o trfico (de policiais a bandidos), participando de sualgica de funcionamento e condenao judicial; enquanto a Classe 2 (Depoimentos vividos)revela falas de pessoas que conviveram com o trfico de drogas em uma dimenso socialprxima ou familiar; e, por fim, a Classe 7 (Favelas e prises) refere-se a lugares ou locais

    associados ao trfico de drogas, intimamente relacionados s esferas cotidianas ondeviveram os envolvidos e seus entes apresentados nas classes 1 e 2. Com o maior qui-quadrado entre todas as palavras plenas analisadas neste estudo, o termofavela (x=540,34)revela o principal contexto brasileiro onde o trfico se estabelece. As trs classesapresentam elementos do contexto brasileiro do trfico de drogas, e mais do que isso,revelam uma lgica interna de organizao do fenmeno, apresentando os atoresenvolvidos no passado e no presente, assim como as narrativas daqueles que sofrerampessoalmente os impactos da realidade do trfico. As classes apresentam aspectos opostos ecomplementares sobre uma mesma realidade, que acessa a dimenso das pessoas quevivem ou convivem com a realidade do trfico no Brasil, por isso este agrupamento foidenominado Problema domstico.

    A seguir sero apresentadas algumas das principais UCEs associadas as classes, ostrechos so precedidos de seus respectivos valores de qui-quadrado.

    Classe 1 (2=27) juntamente com dois #policiais que o ajudavam #na tarefa de roubareletrodomesticos. #durante #sete #horas da #ultima #sexta_feira, #porem, #vianinhae outrosimplicados _ #oito #policiais, dois ex_militares e dois assaltantes #acusados de crimes de#morte _ nao #forama #julgamento.

    Classe 2 (2= 48) nao #fez a sua parte. #agora e a hora de #fazer a #coisa #certa. nessa quebrada#sempre foi #tudo lindo e #elegante, nao e #agora que #vai #ficar quadrado, #certo, meusirmaos? #entao e o #seguinte, esse salve e prioridade e o irmao que nao acatar #vai #ser cobrado

    a #altura.

    Classe 7 (2= 36) a reuniao do #bando durou o dia inteiro. a policia nao apareceu. o reino dividido#dos robin_hood #cariocas a solidariedade #dos #moradores do #morro do juramento ao#traficante escadinha e apenas uma amostra #das aliancas entre os reis do #crime no #rio e#parte #dos #habitantes #das 410 #favelasda #cidade.

    O Problema domstico" do trfico de drogas no Brasil comea a se estruturar aolongo de uma etapa histrica peculiar, a Ditadura militar brasileira (1964-1985), perodomarcado pela sucessiva perseguio de grupos considerados opositores ao regime poltico.Durante o perodo ditatorial no Brasil podemos observar um deslocamento dos mecanismosrepressivos do Estado, inicialmente voltados ao combate de jovens, em sua maioria de classe

    mdia, e que ao final dos anos de 1980 voltaram-se para a baixa criminalidade (Souza, 2005)como exemplares ideais para medidas de controle, tortura e punio.

    Jovchelovitch (2000) destaca que com o fim do regime militar no Brasil, aos poucos oenvolvimento com txicos foi ganhando cada vez mais espao na pauta jornalstica, assim,com um novo elemento de risco no cenrio social, os militares puderam manter seu lugarsocial, como os guardies da ordem, que passava na dcada de 1990, a ser ameaada pelacrescente violncia e criminalidade. Nossos outros, os pobres, parecem ter sido vtimas danossa pressa de marcar posies e nos distinguirmos, como elite, com marcas j purificadasdo que rejeitamos como menor, inferior, inculto, tradicional e atrasado (Zaluar, 1994a, p.35). Esta pressa explicita pelo contedo da Classe 1 (Envolvidos), onde apesar da descriodo contexto da justia, as referncias oportunidade de defesa so mnimas, no parecehaver uma mobilizao por julgamentos justos, mas por condenaes.

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    Se os laos familiares parecem humanizar os criminosos, amenizando os processos dedemonizao e desumanizao (Wacquant, 2008), prprios da construo seletivaimplicada na objetivao dos objetos de representao social, vemos simultaneamente anaturalizao da associao do contexto de pobreza com a criminalidade. Em suas pesquisasrealizadas na dcada de 1980 em uma favela carioca, Zaluar (1994a) constata:

    O noticirio policial, ento j no comportava todas as notcias sobre a crescente criminalidadena cidade do Rio de Janeiro se espalhava por outras folhas, anunciando-se s vezes emmanchetes de primeira pgina. O teor dessas notcias era claramente sensacionalista: acriminalidade incontida, a violncia cada vez maior cometida durante os assaltos, o clima deguerra em que estavam envoltos os bairros pobres onde atuavam quadrilhas de traficantes detxicos (Zaluar, 1994a, p. 13).

    Cada vez mais a associao entre criminalidade e pobreza afirmada, construindopreconceitos e esteretipos. Assim, segundo Zaluar (1994a), a favela passa a representar oprottipo da desorganizao, descivilizao e criminalidade, considerado pela opiniopblica e meios de comunicao como antro de perigosos criminosos, assassinos em

    potencial, traficantes de txicos, etc. (Zaluar, 1994a, p.10).Relacionadas ao segundo conjunto de classes, Problema domstico", so encontrados

    variados registros de operaes militares nas favelas, os territrios da pobreza (Coimbra,2001b, p. 82), antros de miserveis e signatrios de mazelas sociais. No Brasil, estesterritrios encontram-se profundamente associados ao contexto urbano, reflexo de cidadesque cresceram desordenadamente, e passaram a no oferecer aos seus moradores recursospara a manuteno da qualidade de vida, estando submetidos a condies degradantes(Coimbra, 2001b). Alm dos territrios da pobreza tambm eram configuradas as classesperigosas (Coimbra, 2001b, p.88) formada por todos aqueles que estivessem fora domercado de trabalho.

    ... considerados "viciosos", por sua vez, por no pertencerem ao mundo do trabalho uma dasmais nobres virtudes enaltecida pelo capitalismo e viverem no cio, so portadores dedelinqncia, so libertinos, maus pais, vadios. Representam um "perigo social" que deve sererradicado; justificam-se, assim, as medidas coercitivas, j que so criminosos em potencial(Coimbra, 2001b, p. 91).

    A composio do campo representacional denuncia a repetio de padres desegregao entre grupos dominantes e subalternos, em que se destacam: norte-americanose latino-americanos; consumidores e traficantes; vtimas e bandidos; classes mdias eclasses baixas. Estas separaes, fruto dos processos de categorizao, comparao ediferenciao social (Tajfel, 1982, 1983) podem conduzir a relaes intergrupais de

    solidariedade, mas tambm de violncia. Esta ambiguidade se deve dimenso de grupo enquanto pertencimento psicolgico, representado por mltiplas pertenas em constantemutao (Tajfel, 1983) que abrir brechas para identificaes com grupos marginais.Portanto, as relaes de categorizao no necessariamente so separatistas ouexcludentes, o reconhecimento da alteridade prprio da dinmica psicossocial, sem a qualseramos apenas uma massa indiferenciada de indivduos (Souza, 2004).

    Para o enriquecimento do campo representacional foram necessrios fundamentos doconhecimento cientfico, poltico e histrico acumulados no senso comum, que serviramcomo base para o processo de ancoragem dos saberes populares produzidos acerca do

    consumo e comrcio de drogas ao longo da histria, e apresentados no contedo da revistaVeja. Desta forma, o novo objeto social precisou ser objetivado em determinados grupossociais da realidade social brasileira, como forma de proteger os grupos sociais dominantes.

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    A grande novidade, o assustador, a vizinhana, a proximidade de ns - habitantes dezonas nobres - desses perigosos'. a sua presena to perto das elites (Coimbra, 2001b,p. 128, grifo da autora).

    Quando o trfico de drogas concebido como coisa de favelado grupo social que

    ao mesmo tempo integrado e segregado da dinmica social mais ampla (Souza, 2004;Sawaia, 2008)os consumidores da classe mdia e alta se mantm a salvo da crtica social.So os pobres e favelados, porque perigosos (Coimbra, 2001b), que podem e precisam serexterminados, e, neste sentido, o papel dos meios de comunicao no surgimento e nadisseminao de esteretipos merece destaque. Assim, ao longo das dcadas o processo deobjetivao possibilitou a construo de um ncleo figurativo, que fornece cones sobre otrfico de drogas, materializando-o e tornando-o natural em nosso cotidiano. Este processodeixa claro que h grupos, locais e personagens especficos vinculados realidade do trficode drogas.

    O conhecimento que as pessoas tm sobre grupos que podem ser alvo de projeo construdo

    tanto por memrias coletivas, como pelas teorias que circulam na comunidade cientfica, nosmeios de comunicao de massa e nas conversaes do dia-a-dia .... Ainda que diferentes grupos,em uma sociedade, tenham diferentes depositrios para acusar, a ideologia dominante dasociedade tende a propagar imagens de alguns grupos especficos como seu outro total (Joffe,1994/2009, pp. 315-316).

    Desta forma, o conhecimento social produzido sobre o trfico de drogas parececompor dois conjuntos de elementos em constante negociao, que reproduzem a mesmalgica de organizao. A clivagem no contedo do corpus(Problema domstico x Drogas naFronteira, Figura 1) aponta alguns dos mecanismos pelos quais determinados grupos,territrios e comportamentos passam a estar associados ao trfico de drogas no Brasil.Inicialmente, a produo, a distribuio e o consumo de drogas foram claramente

    relacionados a dinmicas observadas em realidades estrangeiras, mas a anlise do conjuntode classes Problema Domstico fornece elementos para a compreenso de como os atoresbrasileiros lidaram com o fenmeno. Portanto, notam-se elementos ou grupos que foramdemonizados(Arbex Jr. & Tognolli, 2004; Wacquant, 2008) ou responsabilizados pelo avanodo trfico de drogas a nvel global. Assim,

    O problema aqui o de como uma sociedade representa a si mesma e descobre em sua prpriaimagem uma fonte de ameaa, de contaminao e perigo. O problema ento de como aalteridade, na maior parte das vezes cuidadosamente mantida distncia, torna-se o centro dasrepresentaes que uma sociedade desenvolve sobre si mesma (Jovchelovitch, 2000, p. 136).

    O trfico global de drogas encontra seus depositrios nas regies perifricas do

    mundo, j no nvel local sua representao relaciona-se a coisa de pobre, fenmenorelativo s periferias das grandes cidades. H, portanto, uma mesma lgica de proteoendogrupal explicitada na construo de prticas e discursos que buscam afastar o riscoimplcito ao trfico dos grupos sociais dominantes.

    Com certeza, a proibio do uso de drogas e consequentemente a definio docomrcio de drogas ilcitas como atividade criminosa, so elementos bsicos para arepresentao social, pois possibilitam a aproximao destas atividades ao conjunto decrimes j conhecidos. Ainda assim, no se trata de um crime qualquer, envolve mercadoriasespecficas capazes de corromper, e por isso, trata-se de uma fonte de risco social e

    potencial sade da populao. Seu consumo , portanto, atividade arriscada/prejudicial,podendo levar ao prazer ou a dependncia, e neste sentido, o uso de drogas o primeirouniverso que negocia a composio de ideias sobre o trfico de drogas.

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    Quando o uso diferenciado do trfico de drogas, so sustentados mecanismos deproteo do grupo prprio, uma vez que nossa sociedade prope o tratamento aos usuriose priso aos traficantes. O nmero de reportagens que comprometem as classeseconomicamente favorecidas nos processos adjacentes ao trfico de drogas mnimo nocorpus analisado, fato que pode explicar-se na medida em que revela um contedoconflituoso para a dinmica das representaes sociais sobre o trfico de drogas difundidaspela revista Veja. Neste sentido, compreendemos que a mdia importante instrumento dedisseminao de verses dos fatos sociais, contribuindo para a construo do reservatriode significados atribudos ao fenmeno, revelando, neste caso, personagens marginalizadose sem controle, que assolam o imaginrio social e se tornam elementos fundamentais para aconstruo, manuteno e difuso de representaes sociais sobre o trfico de drogas.

    Concluses

    Ao problematizar o papel da mdia como construtor e difusor de representaessociais, deparamo-nos com esteretipos fortemente difundidos, que cristalizam importantesideias sobre fenmenos da dinmica social. Foi possvel identificar de forma exploratriacomo o semanrio Veja tratou do tema trfico de drogas ao longo de mais de 40 anos, apartir de um recorte do conjunto total de material produzido no perodo. Trata-se de umcontedo lexical rico em dinmicas sociais, que ora remetem a dinmica nacional, ora falamdas fronteiras e das problemticas internacionais devidas ao trfico. Vimos como osdiscursos de especialistas sobre o risco das drogas so acionados para ancorar o objeto emquesto, justificando o combate e a marginalizao daqueles que so materializados comoseus responsveis (produtores e moradores das favelas).

    importante reconhecer que o material analisado por esta pesquisa sofre influnciaspolticas, ideolgicas, histricas e econmicas, que marcam sua produo, e desta forma,esta pesquisa no revela saberes absolutos. O que identificamos atravs deste estudo soconhecimentos localizados em um grupo social especfico, que apresenta sua verso darealidade e difunde ideias. Mesmo que os veculos de massa no sejam direcionados a umgrupo social claramente delimitado, com certeza, sua estrutura no concebe espaoequivalente manifestao de todos os grupos sociais de forma igualitria. Nesse caso, oconhecimento emitido, consumido e disseminado a partir da perspectiva de classesdominantes em nossa sociedade, como assumido pelo prprio semanrio ao traar seu perfilde leitores. Assim, Um jornal representa at certo ponto o mundo para um grupo de

    pessoas, caso contrrio elas no o comprariam (...) o jornal se torna um indicador destaviso de mundo(Bauer, Gaskell & Allum, 2008, p. 22).

    Deste modo, o material documental se mostra fonte profcua de dados para a pesquisa

    social, possibilitando outras leituras para alm do cenrio aqui destacado. Entendemos,portanto, que o tema revela lacunas e perspectivas que ainda podem ser exploradas emnovos esforos de pesquisa para o enriquecimento do quadro aqui apresentado.

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