FUNÇÃO DA INSPEÇÃO LIGADA A MATERIAIS · 2 sumÁrio 1 ensaio por lÍquidos penetrantes ..... 8...
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SUMÁRIO
1 ENSAIO POR LÍQUIDOS PENETRANTES .................................................... 8
1.1 INTRODUÇÃO.........................................................................................................8 1.2 FINALIDADE DO ENSAIO .........................................................................................8 1.3 PRINCÍPIOS BÁSICOS.............................................................................................9 1.4 VANTAGENS E LIMITAÇÕES DO ENSAIO EM COMP. COM OUTROS MÉTODOS ..........12
1.4.1 VANTAGENS ................................................................................................................. 12 1.4.2 LIMITAÇÕES.................................................................................................................. 13
1.5 PROPRIEDADES DOS PRODUTOS E PRINCÍPIOS FÍSICOS........................................14 1.5.1 PROPRIEDADES FÍSICAS DO PENETRANTE...................................................................... 14 1.5.2 SENSIBILIDADE DO PENETRANTE ................................................................................... 17 1.5.3 PROPRIEDADES DO REVELADOR.................................................................................... 18
1.6 PROCEDIMENTO PARA ENSAIO.............................................................................20 1.6.1 PREPARAÇÃO DA SUPERFÍCIE ....................................................................................... 20 1.6.2 MÉTODOS DE LIMPEZA DA SUPERFÍCIE .......................................................................... 21 1.6.3 TEMPERATURA DA SUPERFÍCIE E DO LÍQUIDO PENETRANTE ........................................... 21 1.6.4 APLICAÇÃO DO PENETRANTE ........................................................................................ 22 1.6.5 TEMPO DE PENETRAÇÃO............................................................................................... 22 1.6.6 REMOÇÃO DO EXCESSO DE PENETRANTE ...................................................................... 23 1.6.7 REVELAÇÃO ................................................................................................................. 24 1.6.8 SECAGEM E INSPEÇÃO.................................................................................................. 25 1.6.9 ILUMINAÇÃO ................................................................................................................. 25 1.6.10 LIMPEZA FINAL......................................................................................................... 26 1.6.11 IDENTIFICAÇÃO E CORREÇÃO DE DEFICIÊNCIAS DO ENSAIO........................................ 27 1.6.12 REGISTRO DE RESULTADOS...................................................................................... 27
1.7 AVALIAÇÃO E APARÊNCIA DAS INDICAÇÕES .........................................................29 1.7.1 AVALIAÇÃO DA DESCONTINUIDADE................................................................................ 29 1.7.2 FATORES QUE AFETAM AS INDICAÇÕES ......................................................................... 29 1.7.3 CATEGORIAS DE INDICAÇÕES VERDADEIRAS.................................................................. 30 1.7.4 TIPOS E APARÊNCIAS DAS INDICAÇÕES POR PROCESSO DE FABRICAÇÃO ....................... 31
1.8 SEGURANÇA E PROTEÇÃO...................................................................................32 1.8.1 LIMPEZA....................................................................................................................... 32 1.8.2 TOXIDADE, ASPIRAÇÃO EXAGERADA, VENTILAÇÃO, MANUSEIO...................................... 32 1.8.3 LUZ ULTRAVIOLETA ...................................................................................................... 33
1.9 CRITÉRIOS DE ACEITAÇÃO...................................................................................33
3
1.9.1 AVALIAÇÃO DAS INDICAÇÕES ........................................................................................ 33 1.9.2 CRITÉRIO DE ACEITAÇÃO .............................................................................................. 34 1.9.3 ESPECIFICAÇÃO TÉCNICA PARA LÍQUIDOS PENETRANTES - CCH-70 / PT 70-2 ............... 34 1.9.4 AVALIAÇÃO DAS INDICAÇÕES ........................................................................................ 35 1.9.5 CRITÉRIO DE ACEITAÇÃO .............................................................................................. 36 1.9.6 CRITÉRIO DE ACEITAÇÃO DE SOLDAS CONFORME O CÓDIGO AWS D1.1........................ 37 1.9.7 PROCEDIMENTO PARA ENSAIO ...................................................................................... 39
2 ENSAIO POR PARTÍCULAS MAGNÉTICAS............................................................ 40
2.1 DESCRIÇÃO E APLICABILIDADE DO MÉTODO.........................................................40 2.2 MAGNETISMO ......................................................................................................40 2.3 PÓLOS MAGNÉTICOS ...........................................................................................41 2.4 O CAMPO MAGNÉTICO.........................................................................................41 2.5 UNIDADES E GRANDEZAS UTILIZADAS NO MAGNETISMO.......................................43
2.5.1 VETOR INDUÇÃO MAGNÉTICA ........................................................................................ 43 2.5.2 FLUXO MAGNÉTICO....................................................................................................... 45 2.5.3 PERMEABILIDADE MAGNÉTICA ...................................................................................... 45 2.5.4 CLASSIFICAÇÃO MAGNÉTICA DOS MATERIAIS ................................................................ 45 2.5.5 CAMPO DE FUGA .......................................................................................................... 48
2.6 MÉTODOS E TÉCNICAS DE MAGNETIZAÇÃO ..........................................................49 2.6.1 MAGNETIZAÇÃO LONGITUDINAL..................................................................................... 49 2.6.2 MAGNETIZAÇÃO CIRCULAR ........................................................................................... 50 2.6.3 MAGNETIZAÇÃO MULTIDIRECIONAL ............................................................................... 51 2.6.4 TÉCNICAS DE MAGNETIZAÇÃO....................................................................................... 52 2.6.5 TIPOS DE CORRENTE ELÉTRICA UTILIZADA .................................................................... 53 2.6.6 MAGNETIZAÇÃO POR PASSAGEM DE CORRENTE ELÉTRICA PELA PEÇA........................... 55 2.6.7 A TÉCNICA DOS ELETRODOS......................................................................................... 56 2.6.8 A TÉCNICA DE CONTATO DIRETO .................................................................................. 58
2.7 TÉCNICAS DE MAGNETIZAÇÃO POR INDUÇÃO DE CAMPO MAGNÉTICO...................60 2.7.1 A TÉCNICA DA BOBINA ................................................................................................. 60 2.7.2 A TÉCNICA DO IOQUE OU YOKE ..................................................................................... 62
2.8 DESMAGNETIZAÇÃO ............................................................................................66 2.8.1 TÉCNICAS DE DESMAGNETIZAÇÃO................................................................................. 67
2.9 MÉTODOS DE ENSAIO E TIPOS DE PARTÍCULAS ....................................................68 2.9.1 MÉTODOS DE ENSAIO ................................................................................................... 68 2.9.2 ESCOLHA DO TIPO DAS PARTÍCULAS MAGNÉTICAS ........................................................ 71
2.10 PROCEDIMENTO PARA ENSAIO.............................................................................73
4
2.11 CALIBRAÇÃO DOS EQUIPAMENTOS ......................................................................81 2.12 CRITÉRIO DE ACEITAÇÃO DAS INDICAÇÕES ..........................................................82
2.12.1 CRITÉRIO DE ACEITAÇÃO CONFORME O CÓDIGO ASME ............................................ 82 2.12.2 CRITÉRIO DE ACEITAÇÃO DE SOLDAS CONFORME O CÓDIGO AWS D1.1.................... 83
2.13 REGISTRO DAS INDICAÇÕES.................................................................................85 2.13.1 DESCRIÇÃO ESCRITA................................................................................................ 85 2.13.2 FITA TRANSPARENTE................................................................................................ 85 2.13.3 SPRAY PLÁSTICO ..................................................................................................... 85 2.13.4 PROCESSO FOTOGRÁFICO ........................................................................................ 86
2.14 SEGURANÇA NO ENSAIO......................................................................................87 2.14.1 INFLAMABILIDADE..................................................................................................... 87 2.14.2 RISCOS DE INALAÇÃO............................................................................................... 88 2.14.3 RISCOS À ELETRICIDADE .......................................................................................... 88 2.14.4 LUZ ULTRAVIOLETA.................................................................................................. 88 2.14.5 ADAPTAÇÃO AO AMBIENTE ESCURECIDO .................................................................. 88
3 ENSAIO POR ULTRA-SOM................................................................................. 89
3.1 PRINCÍPIOS BÁSICOS DO MÉTODO .......................................................................89 3.1.1 INTRODUÇÃO ................................................................................................................ 89 3.1.2 FINALIDADE DO ENSAIO ................................................................................................ 90 3.1.3 CAMPO DE APLICAÇÃO ................................................................................................. 91
3.2 LIMITAÇÕES EM COMPARAÇÃO COM OUTROS ENSAIOS.........................................91 3.2.1 VANTAGENS EM RELAÇÃO A OUTROS ENSAIOS ............................................................. 92 3.2.2 LIMITAÇÕES EM RELAÇÃO A OUTROS ENSAIOS.............................................................. 92
3.3 VIBRAÇÕES MECÂNICAS ......................................................................................93 3.3.1 TIPOS DE ONDAS .......................................................................................................... 93 3.3.2 FREQÜÊNCIA, VELOCIDADE E COMPRIMENTO DE ONDA .................................................. 97 3.3.3 RELAÇÕES ENTRE VELOCIDADE, COMPRIMENTO DE ONDA E FREQÜÊNCIA. ..................... 98 3.3.4 DEFINIÇÕES DE BELL, DECIBELL E GANHO .................................................................... 99 3.3.5 PROPAGAÇÃO DAS ONDAS ACÚSTICAS NO MATERIAL.................................................. 101 3.3.6 CAMPO LONGÍNQUO OU DISTANTE OU ZONA DE FRAUNHOFER...................................... 102 3.3.7 ATENUAÇÃO SÔNICA .................................................................................................. 103 3.3.8 DIVERGÊNCIA DO FEIXE SÔNICO.................................................................................. 104 3.3.9 GERAÇÃO DAS ONDAS ULTRA-SÔNICAS...................................................................... 106 3.3.10 TRANSDUTORES NORMAIS OU RETOS...................................................................... 108 3.3.11 TRANSDUTORES ANGULARES ................................................................................. 109 3.3.12 TRANSDUTORES DUPLO-CRISTAL OU SE ................................................................ 110
5
3.3.13 ACOPLANTES ......................................................................................................... 111 3.3.14 DIAGRAMAS AVG OU DGS..................................................................................... 112
3.4 TÉCNICAS DE INSPEÇÃO ....................................................................................115 3.4.1 TÉCNICA DE IMPULSO-ECO OU PULSO-ECO ................................................................. 115 3.4.2 TÉCNICA DE TRANSPARÊNCIA ..................................................................................... 116
3.5 APARELHAGEM..................................................................................................117 3.5.1 DESCRIÇÃO DO APARELHO BÁSICO DE ULTRA-SOM .................................................... 118 3.5.2 CUIDADOS REFERENTES À CALIBRAÇÃO ..................................................................... 123 3.5.3 EXEMPLO DE VERIFICAÇÃO DO CONTROLE DE GANHO DO APARELHO DE ULTRA-SOM .. 126 3.5.4 CUIDADOS NO USO DE TRANSDUTORES ANGULARES ................................................... 127 3.5.5 CUIDADOS NO MANUSEIO DOS CONTROLES DO APARELHO .......................................... 127 3.5.6 CUIDADOS COM AS BATERIAS ..................................................................................... 127 3.5.7 CALIBRAÇÃO E BLOCOS PADRÃO................................................................................ 128 3.5.8 FORMAS DE APRESENTAÇÃO DAS INDICAÇÕES NA TELA DOS APARELHOS.................... 129
3.6 PROCEDIMENTOS ESPECÍFICOS DE INSPEÇÃO ....................................................131 3.6.1 PROCEDIMENTO PARA INSPEÇÃO DE SOLDAS .............................................................. 131 3.6.2 PREPARAÇÃO DAS SUPERFÍCIES DE VARREDURA......................................................... 131 3.6.3 CALIBRAÇÃO DA SENSIBILIDADE DO APARELHO........................................................... 132 3.6.4 PREPARAÇÃO DA CURVA DE CORREÇÃO DISTÂNCIA AMPLITUDE (DAC) E AJUSTE A
SENSIBILIDADE DO ENSAIO....................................................................................................... 134 3.6.5 DETERMINAÇÃO DO FATOR DE CORREÇÃO DA TRANSFERÊNCIA ................................... 135 3.6.6 REALIZAÇÃO DA INSPEÇÃO ......................................................................................... 136 3.6.7 VISUALIZAÇÃO DA ÁREA DE INTERESSE NA TELA DO APARELHO .................................. 137 3.6.8 DELIMITAÇÃO DA EXTENSÃO DA DESCONTINUIDADE..................................................... 138
3.7 AVALIAÇÃO E CRITÉRIOS DE ACEITAÇÃO ...........................................................140 3.7.1 CRITÉRIO DE ACEITAÇÃO DE JUNTAS SOLDADAS, CONFORME CÓDIGO ASME SEC. VIII DIV.1 AP.12. (TRADUÇÃO LIVRE).............................................................................................. 140
4 TRATAMENTOS TÉRMICOS...............................................................................141
4.1 INTRODUÇÃO.....................................................................................................141 4.2 RECOZIMENTO...................................................................................................143
4.2.1 RECOZIMENTO PLENO OU SIMPLESMENTE RECOZIMENTO............................................. 143 4.2.2 RECOZIMENTO SUBCRÍTICO E ALÍVIO DE TENSÕES ....................................................... 145 4.2.3 ESFEROIDIZAÇÃO........................................................................................................ 146 4.2.4 RECOZIMENTO PARA USINABILIDADE ........................................................................... 147 4.2.5 RECOZIMENTO DE PEÇAS FUNDIDAS............................................................................ 147
4.3 PROTEÇÃO DA SUPERFÍCIE ................................................................................148
6
4.4 NORMALIZAÇÃO ................................................................................................151 4.5 TÊMPERA ..........................................................................................................153
4.5.1 MEIOS DE TÊMPERA.................................................................................................... 154 4.5.2 TENSÕES NA TÊMPERA ............................................................................................... 158
4.6 TEMPERABILIDADE (HARDENABILITY).................................................................161 4.6.1 TAXA DE RESFRIAMENTO CRÍTICO ............................................................................... 161 4.6.2 ENSAIO GROSSMANN.................................................................................................. 162 4.6.3 ENSAIO JOMINY .......................................................................................................... 163 4.6.4 FATORES QUE AFETAM A TEMPERABILIDADE ............................................................... 165 4.6.5 TÉCNICAS PARA SE REVELAR O CONTORNO DO GRÃO AUSTENÍTICO ............................ 166 4.6.6 CRESCIMENTO DO GRÃO AUSTENÍTICO........................................................................ 167
4.7 REVENIMENTO ...................................................................................................170 4.7.1 EFEITO NAS PROPRIEDADES........................................................................................ 170 4.7.2 TRANSFORMAÇÕES NO REVENIMENTO DE AÇOS CARBONO .......................................... 173 4.7.3 REVENIMENTO MÚLTIPLO............................................................................................ 175 4.7.4 FRAGILIDADE DO REVENIDO ........................................................................................ 175
4.8 MARTÊMPERA ...................................................................................................176 4.9 AUSTÊMPERA....................................................................................................179 4.10 AUSTENITA RETIDA ...........................................................................................181 4.11 TÊMPERA SUPERFICIAL .....................................................................................181
4.11.1 AQUECIMENTO INDUTIVO ........................................................................................ 181 4.11.2 AQUECIMENTO POR CHAMA .................................................................................... 184
4.12 SOLUBILIZAÇÃO (RECOZIMENTO PARA SOLUBILIZAÇÃO) ....................................187 4.13 ENVELHECIMENTO .............................................................................................189 4.14 EXEMPLOS DE MICROESTRUTURAS OBTIDAS COM TRATAMENTOS TÉRMICOS .....191
5 CLASSIFICAÇÃO E SELEÇÃO DE AÇOS .............................................................198
5.1 CLASSIFICAÇÃO E ESPECIFICAÇÃO ....................................................................199 5.2 AÇOS ESTRUTURAIS..........................................................................................202
5.2.1 VERGALHÕES PARA CONCRETO .................................................................................. 204 5.2.2 CHAPAS E PERFIS ESTRUTURAIS................................................................................. 205
5.3 AÇOS DE ALTA RESISTÊNCIA E BAIXA LIGA (ARBL) ..........................................206 5.4 AÇOS PARA EMBUTIMENTO E ESTAMPAGEM.......................................................208 5.5 AÇOS PARA CONSTRUÇÃO MECÂNICA ...............................................................210
5.5.1 O SISTEMA ABNT ...................................................................................................... 210 5.5.2 SELEÇÃO BASEADA NA TEMPERABILIDADE.................................................................. 213
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5.5.3 TEOR DE CARBONO DO AÇO ....................................................................................... 221 5.5.4 REVENIMENTO ............................................................................................................ 222 5.5.5 AÇOS LIGADOS X AÇOS CARBONO.............................................................................. 223 5.5.6 EXEMPLOS DE SELEÇÃO POR TEMPERABILIDADE ......................................................... 224 5.5.7 AÇOS DE ULTRA-AITA RESISTÊNCIA............................................................................ 228
5.6 AÇOS PARA CARBONETAÇÃO ............................................................................229 5.7 AÇOS PARA MOLAS...........................................................................................230 5.8 AÇOS PARA FERRAMENTAS...............................................................................232
5.8.1 CLASSIFICAÇÃO.......................................................................................................... 232 5.8.2 SELEÇÃO ................................................................................................................... 234 5.8.3 PRINCIPAIS CARACTERÍSTICAS DAS FAMÍLIAS AISI ...................................................... 234
5.8.3.1 Aços para Trabalho a Frio ........................................................................................................... 236 5.8.4 A ESCOLHA DO AÇO FERRAMENTA ............................................................................. 243
5.9 AÇOS INOXIDÁVEIS ............................................................................................249 5.9.1 INOXIDÁVEIS MARTENSÍTICOS...................................................................................... 251 5.9.2 INOXIDÁVEIS FERRÍTICOS ............................................................................................ 252 5.9.3 INOXIDÁVEIS AUSTENÍTICOS ........................................................................................ 253 5.9.4 RESISTÊNCIA À CORROSÃO......................................................................................... 256
6 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS.......................................................................262
7 LEITURAS ADICIONAIS ....................................................................................267
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1 ENSAIO POR LÍQUIDOS PENETRANTES 1.1 INTRODUÇÃO
O ensaio por líquidos penetrantes é um método desenvolvido especialmente para
a detecção de descontinuidades essencialmente superficiais, e ainda que estejam
abertas na superfície do material.
Este método, se iniciou antes da primeira guerra mundial, principalmente pela
indústria ferroviária na inspeção de eixos, porém tomou impulso quando em 1942,
nos EUA, foi desenvolvido o método de penetrantes fluorescentes. Nesta época, o
ensaio foi adotado pelas indústrias aeronáuticas, que trabalhando com ligas não
ferrosas, necessitavam de um método de detecção de defeitos superficiais
diferentes do ensaio por partículas magnéticas (não aplicável a materiais não
magnéticos). A partir da segunda guerra mundial, o método foi se desenvolvendo,
através da pesquisa e o aprimoramento de novos produtos utilizados no ensaio,
até seu estágio atual.
1.2 FINALIDADE DO ENSAIO
O ensaio por líquidos penetrantes presta-se a detectar descontinuidades
superficiais e que sejam abertas na superfície, tais como trincas, poros, dobras,
etc.. podendo ser aplicado em todos os materiais sólidos e que não sejam
porosos ou com superfície muito grosseira.
É muito usado em materiais não magnéticos como alumínio, magnésio, aços
inoxidáveis austeníticos, ligas de titânio, e zircônio, além dos materiais
magnéticos. É também aplicado em cerâmica vitrificada, vidro e plásticos.
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1.3 PRINCÍPIOS BÁSICOS
O método consiste em fazer penetrar na abertura da descontinuidade um líquido.
Após a remoção do excesso de líquido da superfície, faz-se sair da
descontinuidade o líquido retido através de um revelador. A imagem da
descontinuidade fica então desenhada sobre a superfície.
Podemos descrever o método em seis etapas principais no ensaio, quais sejam:
a) Preparação da superfície - Limpeza inicial
Antes de se iniciar o ensaio, a superfície deve ser limpa e seca. Não devem existir
água, óleo ou outro contaminante. Contaminantes ou excesso de rugosidade,
ferrugem, etc, tornam o ensaio não confiável.
Figura 1.1
b) Aplicação do Penetrante:
Consiste na aplicação de um líquido chamado penetrante, geralmente de cor
vermelha, de tal maneira que forme um filme sobre a superfície e que por ação do
fenômeno chamado capilaridade penetre na descontinuidade. Deve ser dado um
certo tempo para que a penetração se complete.
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Figura 1.2
c) Remoção do excesso de penetrante.
Consiste na remoção do excesso do penetrante da superfície, através de
produtos adequados, condizentes com o tipo de líquido penetrante aplicado,
devendo a superfície ficar isenta de qualquer resíduo na superfície.
Figura 1.3
d) Revelação
Consiste na aplicação de um filme uniforme de revelador sobre a superfície. O
revelador é usualmente um pó fino (talco) branco. Pode ser aplicado seco ou em
suspensão, em algum líquido. O revelador age absorvendo o penetrante das
descontinuidades e revelando-as. Deve ser previsto um determinado tempo de
revelação para sucesso do ensaio.
11
Figura 1.4
e) Avaliação e Inspeção Após a aplicação do revelador, as indicações começam a serem observadas,
através da mancha causada pela absorção do penetrante contido nas aberturas, e
que serão objetos de avaliação.
A inspeção deve ser feita sob boas condições de luminosidade, se o penetrante é
do tipo visível (cor contrastante com o revelador) ou sob luz negra, em área
escurecida, caso o penetrante seja fluorescente.
A interpretação dos resultados deve ser baseada no código de fabricação da peça
ou norma aplicável ou ainda na especificação técnica do cliente.
Nesta etapa deve ser preparado um relatório escrito que mostre as condições do
ensaio, tipo e identificação da peça ensaiada, resultado da inspeção e condição
de aprovação ou rejeição da peça.
Figura 1.5
12
f) Limpeza pós-ensaio A última etapa, geralmente obrigatória, é a limpeza de todos os resíduos de
produtos, que podem prejudicar uma etapa posterior de trabalho da peça
(soldagem, usinagem, etc.).
1.4 VANTAGENS E LIMITAÇÕES DO ENSAIO EM COMP. COM OUTROS MÉTODOS
1.4.1 VANTAGENS
Poderíamos dizer que a principal vantagem do método é a sua simplicidade. É
fácil de fazer e de interpretar os resultados. O aprendizado é simples, requer
pouco tempo de treinamento do inspetor.
Como a indicação assemelha-se a uma fotografia do defeito, é muito fácil de
avaliar os resultados. Em contrapartida o inspetor deve estar ciente dos cuidados
básicos a serem tomados (limpeza, tempo de penetração, etc), pois a
simplicidade pode se tornar uma faca de dois gumes.
Não há limitação para o tamanho e forma das peças a ensaiar, nem tipo de
material; por outro lado, as peças devem ser susceptíveis à limpeza e sua
superfície não pode ser muito rugosa e nem porosa.
O método pode revelar descontinuidades (trincas) extremamente finas (da ordem
de 0,001 mm de abertura).
13
1.4.2 LIMITAÇÕES
Só detecta descontinuidades abertas para a superfície, já que o penetrante tem
que entrar na descontinuidade para ser posteriormente revelado. Por esta razão,
a descontinuidade não deve estar preenchida com material estranho.
A superfície do material não pode ser porosa ou absorvente já que não haveria
possibilidade de remover totalmente o excesso de penetrante, causando
mascaramento de resultados.
A aplicação do penetrante deve ser feita numa determinada faixa de temperatura.
Superfícies muito frias (abaixo de 10oC) ou muito quentes (acima de 52oC) não
são recomendáveis ao ensaio.
Algumas aplicações das peças em inspeção fazem com que a limpeza seja
efetuada da maneira mais completa possível após o ensaio (caso de maquinaria
para indústria alimentícia, material a ser soldado posteriormente, etc).
Este fato pode tornar-se limitativo ao exame, especialmente quando esta limpeza
for difícil de fazer.
Figura 1.6
14
1.5 PROPRIEDADES DOS PRODUTOS E PRINCÍPIOS FÍSICOS
1.5.1 PROPRIEDADES FÍSICAS DO PENETRANTE
O nome “penetrante” vem da propriedade essencial que este produto deve ter, ou
seja, sua habilidade de penetrar em aberturas finas. Um produto penetrante com
boas características deve:
a) ter habilidade para rapidamente penetrar em aberturas finas;
b) ter habilidade de permanecer em aberturas relativamente grandes;
c) não evaporar ou secar rapidamente;
d) ser facilmente limpo da superfície onde for aplicado;
e) em pouco tempo, quando aplicado o revelador, sair das descontinuidades onde
tinha penetrado;
f) ter habilidade em espalhar-se nas superfícies, formando camadas finas;
g) ter um forte brilho (cor ou fluorescente);
h) a cor ou a fluorescência deve permanecer quando exposto ao calor, luz ou luz
negra;
i) não reagir com sua embalagem nem com o material a ser testado;
j) não ser facilmente inflamável;
k) ser estável quando estocado ou em uso;
l) não ser demasiadamente tóxico;
m) ter baixo custo.
Para que o penetrante tenha as qualidades acima, é necessário que certas
propriedades estejam presentes. Dentre elas destacam-se:
a) Viscosidade
Esta propriedade por si só não define um bom ou mal penetrante (quando falamos
em bom ou mal penetrante nos referimos a sua habilidade em penetrar nas
descontinuidades). A intuição nos diz que um líquido menos viscoso seria melhor
penetrante que um mais viscoso. Isto nem sempre é verdadeiro, pois a água que
tem baixa viscosidade não é um bom penetrante. Todavia, a viscosidade tem
efeito em alguns aspectos práticos do uso do penetrante. Ele é importante na
velocidade com que o penetrante entra num defeito. Penetrantes mais viscosos
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demoram mais a penetrar nas descontinuidades. Penetrantes pouco viscosos têm
a tendência de não permanecerem muito tempo sobre a superfície da peça, o que
pode ocasionar tempo insuficiente para penetração.
Líquidos de alta viscosidade têm a tendência de serem retirados dos defeitos
quando se executa a limpeza do excesso.
b) Tensão superficial
A tensão superficial de um líquido é o resultado das forças de coesão entre as
moléculas que formam a superfície do líquido. Observem a figura abaixo, o líquido
1 possui menor tensão superficial que os outros dois, e o líquido 3 é o que possui
a mais alta tensão superficial, lembrando o mercúrio como exemplo.
Figura 1.7 - Comparação entre 3 líquidos com propriedades de tensão superficial diferentes.
Um líquido com baixa tensão superficial é melhor penetrante, pois ele tem a
habilidade de penetrar nas descontinuidades.
Líquido Viscosidade (centistoke)
Tensão Superficial (Din/ cm)
água 1,0 72,8 éter 0,3 17,0 nafta 0,6 21,8 querosene 1,6 23,0 óleo lubrificante 112,3 31,0 álcool etílico 1,5 23,0
Tabela 1.1 - Características de alguns líquidos à 20ºC
c) Molhabilidade
É a propriedade que um líquido tem em se espalhar por toda a superfície, não se
juntando em porções ou gotas. Melhor a molhabilidade, melhor o penetrante.
d) Volatibilidade
Podemos dizer, como regra geral, que um penetrante não deve ser volátil, porém
devemos considerar que para derivados de petróleo, quanto maior a
volatibilidade, maior a viscosidade. Como é desejável uma viscosidade média, os
penetrantes são mediamente voláteis. A desvantagem é que quanto mais volátil o
penetrante, menos tempo de penetração pode ser dado. Por outro lado, ele tende
a se volatilizar quando no interior do defeito.
e) Ponto de fulgor
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Ponto de fulgor é a temperatura na qual há uma quantidade tal de vapor na
superfície do líquido que a presença de uma chama pode inflamá-lo. Um
penetrante bom deve ter um alto ponto de fulgor (acima de 200°C). A tabela 2
mostra os pontos de fulgor de alguns líquidos, para comparação. Esta
propriedade é Importante quando considerações sobre a segurança estão
relacionadas à utilização do produto. Líquido Ponto de Fulgoracetona -18ºC
nafta -1ºC álcool metílico 12ºC álcool etílico 14ºC
glicerina 160ºC Tabela 1.2- Pontos de Fulgor de alguns líquidos
f) Inércia química
É obvio que um penetrante deve ser não inerte e não corrosivo com o material a
ser ensaiado ou com sua embalagem quando possível. Os produtos oleosos não
apresentam perigo. A exceção é quando existem emulsificantes alcalinos.
Quando em contato com água vai se formar uma mistura alcalina.
Numa inspeção de alumínio ou magnésio, caso a limpeza final não seja bem executada, pode haver aparecimento após um certo período de corrosão na forma de “pitting”.
Quando se trabalha com ligas à base de níquel, requer-se um penetrante com
baixos teores de alguns elementos prejudiciais.
g) Habilidade de dissolução
Os penetrantes incorporam o produto corante ou fluorescente que deve estar o
mais possível dissolvido. Portanto, um bom penetrante deve ter a habilidade de
manter dissolvidos estes agentes.
h) Toxidez
Evidentemente um bom penetrante não pode ser tóxico, possuir odor exagerado e
nem causar irritação na pele.
i) Penetrabilidade
Apesar de penetrabilidade (capacidade de penetrar em finas descontinuidades)
não seja a única qualidade do líquido, a penetrabilidade está intimamente ligada
às forças de atração capilar - capilaridade. Estas forças são aquelas que fazem
um líquido penetrar espontaneamente num tubo de pequeno diâmetro. Observem
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a figura abaixo, o líquido 1 consegue penetrar até uma altura h1 no tubo capilar,
enquanto que o líquido 2 consegue penetrar a uma altura h2, menor que h1, no
mesmo tubo capilar. Assim, o líquido 1 possuirá melhor características de
penetrabilidade nas descontinuidades, que o líquido 2, uma vez que as finas
aberturas se comportam como o tubo capilar.
Figura 1.8 - Comparação entre dois líquidos com propriedade de capacidade diferentes.
A capilaridade é função da tensão superficial do líquido e de sua molhabilidade. A abertura da descontinuidade afetará a força capilar - menor a abertura (mais fina uma trinca) maior a força.
1.5.2 SENSIBILIDADE DO PENETRANTE
Sensibilidade do penetrante é sua capacidade de detectar descontinuidades.
Podemos dizer que um penetrante é mais sensível que outro quando, para
aquelas descontinuidades em particular, o primeiro detecta melhor os defeitos que
o segundo.
Os fatores que afetam a sensibilidade são:
Capacidade de penetrar na descontinuidade;
Capacidade de ser removido da superfície, mas não do defeito;
Capacidade de ser absorvido pelo revelador;
Capacidade de ser visualizado quando absorvido pelo revelador, mesmo em
pequenas quantidades.
Algumas normas técnicas classificam os líquidos penetrantes quanto à visibilidade
e tipo de remoção, conforme tabela 3, abaixo: MÉTODOS TIPOS quanto à visibilidade Água Pós-Emulsificável Solvente
“TIPO I” (Fluorescente) A B (hidrofílico) D (lipofílico) C
TIPO II (luz normal) A - C
18
Tabela 1.3- OBS.: Classificação conforme Código ASME Sec. V - SE-165
Os líquidos penetrantes devem se analisados quanto aos teores de
contaminantes, tais como enxofre, flúor e cloro quando sua aplicação for efetuada
em materiais inoxidáveis austeníticos, titânio e ligas a base de níquel. O
procedimento e os limites aceitáveis para estas análises, devem ser de acordo
com a norma aplicável de inspeção do material ensaiado.
Figura 1.9
1.5.3 PROPRIEDADES DO REVELADOR
Um revelador com boas características deve:
ter ação de absorver o penetrante da descontinuidade;
servir com uma base por onde o penetrante se espalhe - granulação fina;
servir para cobrir a superfície evitando confusão com a imagem do defeito
formando uma camada fina e uniforme;
deve ser facilmente removível;
não deve conter elementos prejudiciais ao operador e ao material que esteja
sendo inspecionado;
Classificam-se os reveladores conforme segue:
a) pós-secos.
Foram os primeiros e continuam a ser usado com penetrantes fluorescentes. Os
primeiros usados compunham-se de talco ou giz. Atualmente os melhores
reveladores consistem de uma combinação cuidadosamente selecionada de pós.
Os pós devem ser leves e fofos. Devem aderir em superfícies metálicas numa
camada fina, se bem que não devem aderir em excesso, já que seriam de difícil
remoção. Por outro lado, não podem flutuar no ar, formando uma poeira. Os
cuidados devem ser tomados para proteger o operador. A falta de confiabilidade
deste tipo de revelador torna o seu uso muito restrito.
19
b) Suspensão aquosa de pós
Geralmente usado em inspeção pelo método fluorescente. A suspensão aumenta
a velocidade de aplicação quando pelo tamanho da peça pode-se mergulhá-la na
suspensão. Após aplicação a peça é seca em estufa, o que diminui o tempo de
secagem. É um método que pode se aplicar quando se usa inspeção automática.
A suspensão deve conter agentes dispersantes, inibidores de corrosão, agentes
que facilitam a remoção posterior.
c) Solução aquosa
A solução elimina os problemas que eventualmente possam existir com a
suspensão (dispersão, etc). Porém, materiais solúveis em água geralmente não
são bons reveladores. Deve ser adicionado à solução inibidor de corrosão e a
concentração deve ser controlada, pois há evaporação. Sua aplicação deve ser
feita através de pulverização.
d) Suspensão do pó revelador em solvente
É um método muito efetivo para se conseguir uma camada adequada (fina e
uniforme) sobre a superfície. Como os solventes volatilizam rapidamente, existe
pouca possibilidade de escorrimento do revelador até em superfícies em posição
vertical. Sua aplicação deve ser feita através de pulverização. Os solventes
devem evaporar rapidamente e ajudar a retirar o penetrante das descontinuidades
dando mais mobilidade a ele. Exemplos de solventes são: álcool, solventes
clorados (não inflamáveis). O pó tem normalmente as mesmas características do
método de pó seco.
Os reveladores devem se analisados quanto aos teores de contaminantes, tais
como enxofre, flúor e cloro, quando sua aplicação for efetuada em materiais
inoxidáveis austeníticos, titânio e ligas a base de níquel. O procedimento e os
limites aceitáveis para estas análises, devem ser de acordo com a norma
aplicável de inspeção do material ensaiado.
20
Figura 1.10 - Resultado do ensaio por líquidos penetrantes de uma peça fundida.
1.6 PROCEDIMENTO PARA ENSAIO
Neste capítulo em detalhes as etapas básicas do ensaio, a influência da
temperatura, as correções de deficiências de execução do ensaio e a maneira de
registrar os dados do mesmo. É importante salientar, que a aplicação do método
de inspeção por líquidos penetrantes deve sempre ser feita através de um
procedimento previamente elaborado e aprovado, contendo todos os parâmetros
essenciais do ensaio baseado na norma ou especificação aplicável ao produto a
ser inspecionado. As informações técnicas a seguir estão baseadas no Código
ASME Sec. V Artigo 6.
1.6.1 PREPARAÇÃO DA SUPERFÍCIE
A primeira etapa a ser seguida na realização do ensaio é verificação das
condições superficiais da peça. Deverá estar isenta de resíduos, sujeiras, óleo,
graxa e qualquer outro contaminante que possa obstruir as aberturas a serem
detectadas. Caso a superfície seja lisa, preparação prévia será facilitada. É o caso de peças
usinadas, lixadas, etc.. Este fator é inerente ao processo de fabricação.
Superfícies excessivamente rugosas requerem uma preparação prévia mais
eficaz, pois as irregularidades superficiais certamente prejudicarão a perfeita
aplicação do penetrante, a remoção do excesso e, portanto, o resultado final.
As irregularidades irão dificultar a remoção, principalmente no método manual.
Além do mascaramento dos resultados, há a possibilidade de que partes dos
21
produtos de limpeza fiquem aderidas à peça (fiapos de pano). Numa operação de
esmerilhamento, um cuidado adicional deve estar presente. Deve-se evitar
causar, por exemplo, sulcos sobre a peça, erro muito comum na preparação de
soldas.
1.6.2 MÉTODOS DE LIMPEZA DA SUPERFÍCIE
O sucesso do método depende dos defeitos estarem abertos à superfície. A
limpeza, portanto, é de fundamental importância. Todo produto de corrosão,
escória, pinturas, óleo, graxa, etc... Deve estar removido da superfície.
Pode-se utilizar o solvente que faz parte dos “kits” de ensaio ou solventes
disponíveis no mercado, tal como thinner, ou ainda outro produto qualificado.
Neste caso, deve-se dar suficiente tempo para que o solvente utilizado evapore-
se das descontinuidades, pois sua presença pode prejudicar o teste. Dependendo
da temperatura ambiente e do método utilizado, este tempo pode variar.
Pode-se utilizar o desengraxamento por vapor, para remoção de óleo, graxa; ou
ainda limpeza química, solução ácida ou alcalina, escovamento manual ou
rotativo, removedores de pintura, ultra-som, detergentes.
Peças limpas com produtos a base de água, a secagem posterior é muito
importante. Cuidados também são importantes para evitar corrosão das
superfícies. Os processos de jateamento, lixamento e aqueles que removem
metal (esmerilhamento), devem ser evitados, pois tais processos podem bloquear
as aberturas da superfície e impedir a penetração do produto penetrante.
Entretanto, tais métodos de limpeza podem em alguns processos de fabricação
do material a ensaiar, serem inevitáveis e inerentes a estes processos.
Esta etapa é muito importante e o operador deve ter consciência de que o
material na área de interesse esteja aparente, sem óxidos ou qualquer sujeira que
possa mascarar a observação da descontinuidade.
1.6.3 TEMPERATURA DA SUPERFÍCIE E DO LÍQUIDO PENETRANTE
Poderíamos dizer que a temperatura ótima de aplicação do penetrante é de 20°C
e as superfícies não devem estar abaixo de 10°C. Temperaturas ambientes mais
22
altas (acima de 52°C) aumentam a evaporação dos constituintes voláteis do
penetrante, tornando-o insuficiente. Acima de certo valor (> 100°C) há o risco de
inflamar.
A observação e controle da temperatura é um fator de grande importância, que
deve estar claramente mencionado no procedimento de ensaio. 1.6.4 APLICAÇÃO DO PENETRANTE
O penetrante pode ser aplicado em “spray”, por pincelamento, com rolo de pintura
ou mergulhando-se as peças em tanques. Este último processo é válido para
pequenas. Neste caso as peças são colocadas em cestos. Deve-se escolher um
processo de aplicação do penetrante, condizente com as dimensões das peças e
com o meio ambiente em que será aplicado o ensaio. Por exemplo: peças
grandes,e ambientes fechados, em que o inspetor escolha o método de aplicação
do penetrante por pulverização, certamente isto será um transtorno tanto para as
pessoas que trabalhem próximo ao local, assim como para o próprio inspetor.
Figura 1.11 - Aplicação do penetrante com pincel.
1.6.5 TEMPO DE PENETRAÇÃO
É o tempo necessário para que o penetrante entre dentro das descontinuidades.
Este tempo varia em função do tipo do penetrante, material a ser ensaiado,
temperatura, e deve estar de acordo com a norma aplicável de inspeção do
produto a ser ensaiado.
A tabela 4 abaixo, descreve tempos mínimos de penetração apenas para
referência, Os tempos de penetração corretos devem estar de acordo com a
norma aplicável de fabricação/ inspeção do material ensaiado. A título de
23
ilustração podemos citar que o Código ASME Sec.V Art.6 recomenda
temperaturas de 10 a 52 °C e o ASTM E-165 recomenda temperaturas de 10 a
38oC para penetrantes fluorescentes e de 10 a 52 oC para penetrantes visíveis
com luz normal.
1.6.6 REMOÇÃO DO EXCESSO DE PENETRANTE
Os penetrantes não laváveis em água são quase sempre utilizados para
inspeções locais e estes são mais bem removidos com panos secos ou
umedecidos com solvente. Papel seco ou pano seco é satisfatório para
superfícies lisas. A superfície deve estar completamente livre de penetrante,
senão haverá mascaramento dos resultados.
Deve-se tomar o cuidado para não usar solvente em excesso, já que isto pode
causar a retirada do penetrante das descontinuidades. Geralmente uma limpeza
grosseira com pano e papel levemente embebido em solvente, seguido de uma
limpeza feita com pano ou papel seco ou com pouco de solvente é satisfatória.
Quando as peças são inteiramente umedecidas com solvente a limpeza manual é
demorada e difícil. Neste caso pode-se mergulhar a peça em banho de solvente,
com o inconveniente de que algum penetrante pode ser removido das
descontinuidades. Este método só deve ser usado com muito cuidado e levando-
se em conta esta limitação.
Quando se usa o tipo lavável em água, a lavagem com jato de água é satisfatória.
O jato deve ser grosso para aumentar sua eficiência ou por spray. Após lavagem
com água, a peça deve ser seca com, por exemplo, ar comprimido. A remoção
usando solvente a secagem pode ser feita por evaporação natural.
24
Figura 1.12
1.6.7 REVELAÇÃO
A camada de revelador deve ser fina e uniforme. Pode ser aplicada com spray, no
caso de inspeção manual. Peças que foram totalmente revestidas com penetrante
são mais difíceis para se manter uma camada uniforme de revelador. O melhor
método neste caso é o spray.
Figura 1.13
Tempo de Espera A mín. Material Forma Tipo de
Descontinuidade Penetrante B Revelador C alumínio, magnésio, aço, bronze, titanium, altas ligas
fundidos e soldas
porosidade, trincas, (todas as formas) falta de fusão, gota fria
5 7
plásticos todas as formas trincas 5 7 vidros todas as formas trincas 5 7
cerâmicas todas as formas trincas, porosidade 5 7
A - Para temperaturas de 10 a 52oC B - O tempo necessário para a penetração deve ser conforme a orientação do fabricante. C - A revelação se inicia tão logo a cobertura do revelador estiver seca sobre a superfície da peça. O tempo máximo para revelação deve ser não menor que 10 minutos. O máximo tempo permitido para revelação é de 2 horas para reveladores aquosos e 1 hora para reveladores não aquosos.
25
1.6.8 SECAGEM E INSPEÇÃO
Deve ser dado um tempo suficiente para que a peça esteja seca antes de efetuar
a inspeção. Logo após o início da secagem, deve-se acompanhar a evolução das
indicações no sentido de definir e caracterizar o tipo de descontinuidade e
diferenciá-las entre linear ou arredondadas.
O tempo de revelação é variável de acordo com o tipo da peça, tipo de defeito a
ser detectado e temperatura ambiente. As descontinuidades finas e rasas
demoram mais tempo para serem observadas, ao contrário daquelas maiores e
que rapidamente mancham o revelador.
O tamanho da indicação a ser avaliada, é o tamanho da mancha observada no
revelador, após o tempo máximo de avaliação permitida pelo procedimento. Em
geral, tempos de avaliação entre 7 a 60 minutos são recomendados.
1.6.9 ILUMINAÇÃO
Como todos os exames dependem da avaliação visual do operador, o grau de
iluminação utilizada é extremamente importante. Iluminação errada pode induzir a
erro na interpretação. Além disso, uma iluminação adequada diminui a fadiga do
inspetor.
a) Iluminação com luz natural (branca): A luz branca utilizada é a convencional. Sua fonte pode ser: luz do sol, lâmpada
de filamento, lâmpada fluorescente ou lâmpada a vapor. Dirigindo a luz para a
área de inspeção com o eixo da lâmpada formando aproximadamente 90° em
relação a ela é a melhor alternativa. O fundo branco da camada de revelador faz
com que a indicação se torne escurecida. A intensidade da luz deve ser adequada
ao tipo de indicação que se quer ver, sendo ideal acima de 1000 Lux (conforme
recomendado pelo Código ASME Sec. V). O instrumento correto para medir a
intensidade de iluminação no local é o luxímetro, que deve estar calibrado na
unidade Lux.
b) Iluminação com Luz ultravioleta (“luz negra”): Podemos definir a luz “negra” como aquela que tem comprimento de onda menor
do que o menor comprimento de onda da luz visível. Ela tem a propriedade de
26
causar em certas substâncias o fenômeno da fluorescência. O material
fluorescente contido no penetrante tem a propriedade de em absorvendo a luz
“negra” emitir energia em comprimentos de onda maiores, na região de luz visível.
São usados filtros que eliminam os comprimentos de onda desfavoráveis (luz
visível e luz ultravioleta) permitindo somente aqueles de comprimento de onda de
3500 a 4000 Å. A intensidade de luz ultravioleta que se deve ter para uma boa
inspeção é de 1000 mW/ cm2. O instrumento para medir a luz UV é o radiômetro,
que deve estar calibrado na unidade "mW/ cm2".
Figura 1.14
1.6.10 LIMPEZA FINAL Após completado o exame, é necessário na maioria dos casos executar-se uma
limpeza final na peça, já que os resíduos de teste podem prejudicar o
desempenho das peças. Uma limpeza final com solvente geralmente é
satisfatória. Para peças pequenas a imersão das peças em banho de detergente
solventes, ou agentes químicos, geralmente é satisfatório.
27
1.6.11 IDENTIFICAÇÃO E CORREÇÃO DE DEFICIÊNCIAS DO ENSAIO
Alguns problemas de deficiência de técnicas de ensaio estão indicadas abaixo:
• preparação inicial inadequada da peça
• limpeza inicial inadequada
• cobertura incompleta da peça com penetrante
• remoção de excesso inadequada, causando mascaramento dos resultados
• escorrimento do revelador
• camada não uniforme do revelador
• revelador não devidamente agitado
• cobertura incompleta de revelador
O inspetor experiente deve, fase por fase, avaliar seu trabalho e detectar as
deficiências cujos exemplos são apontados acima. Após detectá-las estas devem
ser imediatamente corrigidas.
Observa-se que a deficiência mais comum consiste na remoção incompleta do
excesso, especialmente em ensaio manual. Esta é uma fase que deve ser
executada com o devido cuidado, especialmente se a superfície é bruta, ou caso
de soldas.
1.6.12 REGISTRO DE RESULTADOS
Ensaios de peças críticas devem ter seu resultado, além dos dados do teste
registrados em relatório, a fim de que haja uma rastreabilidade.
Este registro deve ser executado durante o ensaio ou imediatamente após
concluído o mesmo.
O relatório deve conter (em geral):
28
• descrição da peça, desenho, posição, etc., e estágio de fabricação;
• variáveis do teste; marca dos produtos, número do lote, temperatura de
aplicação tempo de penetração e avaliação;
• resultados do ensaio;
• laudo / disposição;
• assinatura do inspetor responsável e data.
Figura 1.15
29
1.7 AVALIAÇÃO E APARÊNCIA DAS INDICAÇÕES
1.7.1 AVALIAÇÃO DA DESCONTINUIDADE
Relembramos o conceito de descontinuidade e defeito: A descontinuidade deve
ser analisada à luz de algum padrão de aceitação, caso seja reprovável ela se
constituirá em um defeito. Ao se analisar a peça o operador deve ter consciência
de que o ensaio foi executado corretamente e as descontinuidades foram
verificadas contra o padrão de aceitação pré-estabelecido.
1.7.2 FATORES QUE AFETAM AS INDICAÇÕES
Como já foi analisado no capítulo anterior, vários são os fatores que podem afetar
a aparência das indicações tornar o ensaio não confiável. A fonte mais comum de
indicações falsas é a remoção inadequada do excesso de penetrante, o que
causa, às vezes, até impossibilidade de avaliação.
No caso dos métodos laváveis com água e pós emulsificável, a lavagem é de
fundamental importância. O uso da luz ultravioleta durante o processo de lavagem
é recomendado. Após lavagem, existem fontes que podem re-contaminar a peça,
tais como:
• penetrante nas mãos do inspetor
• penetrante que sai das descontinuidades de uma peça e passa para as
áreas boas de outra peça (caso de peças pequenas).
• penetrante na bancada de inspeção.
Deduz-se facilmente que cuidado no manuseio das peças e principalmente
limpeza são necessários para que o ensaio tenha sucesso. Independente das
indicações falsas existem as indicações não relevantes, que o inspetor deve
reconhecer. São indicações de realmente algo que existe no sentido de que elas
são causadas por descontinuidades da superfície da peça.
30
A maioria delas é fácil de reconhecer, porque provém diretamente do processo de
fabricação. Exemplos destas indicações são:
• pequenas inclusões de areia em fundidos
• marcas de esmerilhamento
• depressões superficiais
• imperfeições de matéria-prima
Apesar de facilmente reconhecíveis, há o perigo destes interferirem ou
mascararem um defeito. É necessário que o inspetor tenha o cuidado de verificá-
las cuidadosamente antes de aprová-las.
1.7.3 CATEGORIAS DE INDICAÇÕES VERDADEIRAS
Indicações em linha contínua Podem ser causados por trincas, dobras, riscos ou marcas de ferramentas.
Trincas geralmente aparecerem como linhas sinuosas, dobras de forjamento
como tem a aparência de linha fina.
Linha intermitente Podem ser causadas pelas mesmas descontinuidades acima. Quando a peça é
retrabalhada por esmerilhamento, martelamento, forjamento, usinagem, etc.,
porções das descontinuidades abertas à superfície podem ficar fechadas.
Arredondadas Causadas por porosidade ou por trinca muito profunda, resultante da grande
quantidade de penetrante que é absorvida pelo revelador.
Interrompidas finas e pequenas Causadas pela natureza porosa da peça ou por grãos excessivamente grosseiros
de um produto fundido.
Defeituosas Normalmente não são definidas tornando-se necessário re-ensaiar a peça. Às
vezes provém de porosidade superficial. Podem ser causadas por lavagem
insuficiente (falsas).
31
1.7.4 TIPOS E APARÊNCIAS DAS INDICAÇÕES POR PROCESSO DE FABRICAÇÃO
Fundidos Os principais defeitos que podem aparecer nos produtos fundidos são:
• trincas de solidificação (rechupes)
• micro rechupes
• porosidade
• gota fria
• inclusão de areia na superfície
• bolhas de gás
Forjados Defeitos típicos em forjados são:
• dobras (“lap”)
• rupturas (“tear”)
• fenda (“burst”)
• delaminação
Laminados Os laminados apresentam:
• delaminações,
• defeitos superficiais, como dobras de laminação, fenda, etc.
Roscados Apresentam: trincas
Materiais não metálicos Cerâmicos: trincas, porosidade.
32
Soldas podem apresentar:
• trincas superficiais;
• porosidade superficial;
• falta de penetração;
• mordeduras.
1.8 SEGURANÇA E PROTEÇÃO
1.8.1 LIMPEZA
Podemos dizer que as medidas de proteção pessoal contra eventuais problemas
de saúde causados por produtos utilizados no ensaio por líquido penetrante
iniciam-se como:
• conhecimento do inspetor a respeito do procedimento de ensaio;
• organização pessoal e em decorrência da limpeza da área de trabalho;
Manter a área de trabalho limpa e organizada é fundamental não só para a
proteção pessoal como para o sucesso do ensaio.
1.8.2 TOXIDADE, ASPIRAÇÃO EXAGERADA, VENTILAÇÃO, MANUSEIO
Toxidade é a propriedade de causar dano no corpo humano ou num material.
Praticamente todos os materiais para ensaio com líquidos penetrantes atualmente
disponíveis não apresentam grandes problemas de toxidade, mas certas
precauções são necessárias.
Uma aspiração exagerada dos produtos voláteis pode causar náusea e certas
dermatoses podem ocorrer quando há contato muito prolongado dos produtos
com a pele. Uma precaução básica é manter uma boa ventilação do local de
trabalho. Nestas condições é evitada a aspiração exagerada e elimina-se o
problema de uma eventual inflamação dos gases gerados (ver ponto de fulgor).
Como os materiais utilizados no ensaio apresentam propriedades detergentes,
33
eles tendem a dissolver óleos e gorduras. Portanto, o contato exagerado pode
causar rugosidade e vermelhão na pele.
Isto pode causar uma infecção causando irritações mais fortes. Deve-se tomar o
cuidado de lavar as mãos com bastante água corrente e sabão. O uso de luvas
em contatos prolongados é recomendável.
Se houver início de irritação, deve-se usar sobre o local atingido um creme ou
loção à base de gordura animal (lanolina).
1.8.3 LUZ ULTRAVIOLETA
A luz ultravioleta usada nos ensaios não apresenta sérios problemas de saúde, já
que seu comprimento de onda está por volta de 3600 Å.
1.9 CRITÉRIOS DE ACEITAÇÃO
O critério de aceitação de descontinuidades deve seguir a norma ou especificação
aplicável ao produto ou componente fabricado e inspecionado. A título de
exemplo, o critério de aceitação que segue abaixo, é uma tradução livre do
Código ASME Sec. VIII Div. 1 Apêndice 8, é aplicável para soldas e componentes
inspecionadas por líquidos penetrantes, e da norma CCH-70 aplicável a
superfícies fundidas acabadas.
ASME SEC.VIII DIV. 1 AP.8
1.9.1 AVALIAÇÃO DAS INDICAÇÕES
Uma indicação é uma evidência de uma imperfeição mecânica. Somente
indicações com dimensões maiores que 1/16 pol. (1,6 mm) deve ser considerada
como relevante.
Uma indicação linear é aquela tendo um comprimento maior que três vezes a
largura.
Uma indicação arredondada é aquela na forma circular ou elíptica com
comprimento igual ou menor que três vezes a largura.
Qualquer indicação questionável ou duvidosa deve ser reinspecionada para
34
determinar se indicações relevantes estão ou não presentes.
1.9.2 CRITÉRIO DE ACEITAÇÃO
Toda as superfícies devem estar livres de:
• indicações relevantes lineares;
• indicações relevantes arredondadas maiores que 3/16 pol. (4,8 mm);
• quatro ou mais indicações relevantes arredondadas em linha separadas
por 1/16 pol. (1,6mm) ou menos (de borda a borda);
uma indicação de uma imperfeição pode ser maior que a imperfeição, entretanto,
o tamanho da indicação é a base para a avaliação da aceitação.
1.9.3 ESPECIFICAÇÃO TÉCNICA PARA LÍQUIDOS PENETRANTES - CCH-70 / PT 70-2
Esta norma é geralmente utilizada na inspeção de fundidos na condição acabado,
ou ainda para inspeção de áreas abertas para reparos.
35
1.9.4 AVALIAÇÃO DAS INDICAÇÕES
Indicações isoladas abaixo de 1,5mm não devem ser consideradas para efeito de
avaliação.
Indicações Lineares: Indicações com comprimento maior ou igual a três vezes a largura será
considerada como linear.
Figura 1.16
Indicações Arredondadas Indicações com comprimento menor que três vezes a largura será considerada
arredondada.
Figura 1.17
Indicações alinhadas: São indicações agregadas em L com dimensões acima de 1,5mm arredondadas,
separadas entre si de 2mm ou menos.
Figura 1.18
36
1.9.5 CRITÉRIO DE ACEITAÇÃO A área inspecionada será avaliada e classificada por comparação com cinco
classes de qualidade numeradas de 1 a 5, em ordem decrescente de qualidade.
A área de referência para avaliação é de 1dm2 (100cm2) na forma quadrada ou
retangular com lado não superior a 250mm.
Classe 1 de Qualidade • Nenhuma indicação arredondada com dimensão a > 3mm ;
• Nenhuma indicação linear;
• Nenhuma indicação alinhada;
• A superfície total de indicações menor ou igual a 10mm2/ dm2
Classe 2 de Qualidade • Nenhuma indicação arredondada com dimensão a > 4mm;
• Nenhuma indicação linear;
• Nenhuma indicação alinhada;
• A superfície total de indicações menor ou igual a 20mm2/ dm2
Classe 3 de Qualidade • Nenhuma indicação arredondada com dimensão a > 5mm;
• Nenhuma indicação linear;
• Nenhuma indicação alinhada;
• A superfície total de indicações menor ou igual a 50mm2/ dm2
• Classe 4 de Qualidade • Nenhuma indicação arredondada com dimensão a > 6mm ;
• Nenhuma indicação linear;
• Nenhuma indicação alinhada com L > 10mm;
• A superfície total de indicações menor ou igual a 125mm2/ dm2
37
Classe 5 de Qualidade • Nenhuma indicação arredondada com dimensão a > 8mm;
• Nenhuma indicação linear com a > 7mm;
• Nenhuma indicação alinhada com L > 10mm; • A superfície total de indicações menor ou igual a 250mm2/ dm2
1.9.6 CRITÉRIO DE ACEITAÇÃO DE SOLDAS CONFORME O CÓDIGO AWS D1.1
O critério de aceitação conforme AWS D1.1 é o mesmo para inspeção visual e
que apresentamos a seguir. O Código AWS D1.1 requer que a aplicação do
ensaio seja feita de acordo com ASTM E-165.
Categoria da Descontinuidade e Critério de Inspeção
Conexões não tubulares
carregadas estaticamente
Conexões não tubulares
carregadas ciclicamente
Conexões tubulares (para
todos os tipos de carregamento)
(1) Proibição de Trincas Qualquer trinca é inaceitável, independente do tamanho e localização.
X X X
(2) Fusão entre metal base e solda Deve existir fusão entre a parte adjacente do metal base e a solda.
X X X
(3) Cratera Todas as crateras devem ser preenchidas para estabelecer a dimensão específica da solda, exceto nos terminais de soldas de filete intermitente externas aos seus comprimentos efetivos.
X X X
(4) Perfil das Soldas O perfil das soldas devem estar conforme 5.24 da AWS D1.1
X X X
(5) Período de Inspeção Inspeção visual das soldas em todos os aços pode iniciar imediatamente após ter sido a solda completada e resfriada na temperatura ambiente. Critério de aceitação para aços ASTM A514 e A 709 Grau 100 e 100W devem estar baseados na inspeção visual realizada não antes que 48 horas da solda estar completada.
X X X
(6) Soldas Subdimensionadas A dimensão da solda de filete em qualquer trecho contínuo pode ser menor que o valor nominal especificado (L) sem correção pelos seguintes valores de (U):
L U Dimensão nominal
específica da solda (mm) Redução permitida
de L (mm)
X X X
38
≤ 5 ≤ 2
6 ≤ 2,5
≥ 8 ≤ 3
Em todos os casos, a porção de sobreposição não deve exceder a 10% do comprimento da solda. Em soldas de flanges, sobreposição não é permitida nos terminais para um comprimento igual a duas vezes a largura do flange.
Tabela 1.4 - Tradução livre da tabela 6.1 do AWS D1.1:2000
Categoria da Descontinuidade e Critério de Inspeção
Conexões não tubulares
carregadas estaticamente
Conexões não tubulares
carregadas ciclicamente
Conexões tubulares (para
todos os tipos de carregamento)
(7) Mordedura (A) Para materiais menores que 1pol. (25,4mm) de espessura, mordeduras não devem exceder a 1/32pol. (1mm), exceto que um máximo de 1/16pol. (1,6mm) sem correção para um comprimento acumulado de 2pol. (50mm) em qualquer 12 pol. (305mm). Para materiais iguais e maiores que 1 pol. De espessura, mordeduras não devem exceder a 1/16pol. (1mm) para qualquer comprimento de solda.
X
(B) Em membros primários, mordeduras não devem ser maiores que 0,01pol. (0,25mm) de profundidade quando a solda for transversal ao esforço de tensão sob qualquer condição de projeto de carga. Mordeduras não devem ser maiores que 1/32pol. (1mm) em profundidade para todos os casos.
X X
(8) Porosidade (A) Juntas de topo com penetração total transversal ao esforço de tensão projetada não deve ter porosidade visível. Para outras soldas com chanfros e soldas de filete a soma dos diâmetros das porosidades visíveis de 1/32pol. (1mm) ou maior não deve exceder 3/8pol. (19mm) em qualquer 12pol. (305mm) de comprimento de solda.
X
(B) A freqüência da porosidade em soldas de filete não deve exceder uma em cada 4pol. (100mm) de comprimento de solda e com máximo diâmetro de 3/32pol. (2mm). Exceção: para juntas de filete em reforços conectado a parte principal, a soma dos diâmetros da porosidade não deve exceder a 3/8 pol. (10mm) em qualquer polegada linear de solda e não deve exceder 3/4pol. (19mm) em qualquer 12pol. (305mm) de comprimento de solda.
X X
(C) Juntas de topo com conexão total transversal ao esforço de tensão projetada não deve ter porosidade visível. Para outras soldas com chanfros, a freqüência da porosidade não deve exceder uma em 4pol. (100mm) de comprimento e o máximo de diâmetro não deve exceder a 3/32pol. (2mm).
X X
39
Tabela 1.5 - Um "X" indica aplicabilidade para o tipo da junta; a área sombreada indica não aplicabilidade.
Conforme pode ser observado, a tabela acima apresenta as dimensões máximas
das indicações permitidas para a inspeção visual e para testes superficiais, não
fazendo nenhuma distinção entre os métodos (partículas magnéticas ou líquidos
penetrantes), e depende da condição de carga da peça a ser inspecionada. Sendo assim, fica sendo muito difícil a aplicação desta especificação, pois a
indicação por líquidos penetrantes é observada através da mancha do penetrante
sobre o revelador e necessariamente a indicação é maior que a descontinuidade,
o que não é considerado pelo critério de aceitação acima. Assim devemos rejeitar
as indicações com dimensões acima do especificado.
1.9.7 PROCEDIMENTO PARA ENSAIO
A aplicação do ensaio por líquidos penetrantes requer um procedimento escrito e
de acordo com a norma ou Código aplicável ao componente inspecionado.
O procedimento para ensaio por líquidos penetrantes deve conter itens julgados
relevantes para sua aplicação. Segue abaixo a itenização requerida pelo Código
ASME Sec. V Art. 6, como segue:
Materiais, formas ou tamanhos das peças a ser inspecionadas e extensão do
ensaio;
Tipo (número ou letra de designação se disponível de cada penetrante,
removedor, emulsificador, e revelador);
Detalhes de processamento para pré-limpeza, e secagem, incluindo materiais de
limpeza usados, e tempo mínimo permitido para secagem;
Detalhes de processamento para aplicação do penetrante, o tempo que o
penetrante deve permanecer na superfície (tempo de penetração), temperatura da
superfície e do penetrante durante o ensaio se diferente da faixa de 100C até
520C;
Detalhes de processamento de remoção do excesso de penetrante da superfície,
e para secagem da superfície antes de aplicar o revelador;
Detalhes de processamento para aplicação do revelador, e o tempo de revelação
antes da interpretação;
40
Detalhes de processamento para limpeza após o ensaio.
O procedimento para ensaio deve ser qualificado ou demonstrado ao cliente,
quando requerido, através da aplicação deste em peça ou padrão contendo
trincas conhecidas e gabaritadas.
Sempre que alterações ou substituições forem feitas no grupo de família de
materiais penetrantes (incluindo reveladores, emulsificadores, etc.) ou na técnica
de processamento, pré-limpeza, o procedimento deverá ser revisado.
2 ENSAIO POR PARTÍCULAS MAGNÉTICAS 2.1 DESCRIÇÃO E APLICABILIDADE DO MÉTODO
O ensaio por partículas magnéticas é utilizado na localização de descontinuidades
superficiais e subsuperficiais em materiais ferromagnéticos. Podem ser aplicadas
tanto em peças acabadas quanto semi-acabadas e durante as etapas de
fabricação.
O processo consiste em submeter à peça, ou parte desta, a um campo
magnético. Na região magnetizada da peça, as descontinuidades existentes, ou
seja, a falta de continuidade das propriedades magnéticas do material, irão causar
um campo de fuga do fluxo magnético. Com a aplicação das partículas
ferromagnéticas, ocorrerá a aglomeração destas nos campos de fuga, uma vez
que serão por eles atraídas devido ao surgimento de pólos magnéticos. A
aglomeração indicará o contorno do campo de fuga, fornecendo a visualização do
formato e da extensão da descontinuidade.
2.2 MAGNETISMO
Todos nós conhecemos os ímãs e dizemos que um material ferromagnético nas
proximidades de um ímã é por este atraído. O magnetismo é um fenômeno de
atração que existe entre esses materiais. Nota-se que por vezes o fenômeno
pode ser de repulsão ou de atração. Os ímãs podem ser naturais, conhecidos
como “pedras-ímãs” e os artificiais, fabricados a partir de aços com propriedades
magnéticas específicas para esse fim. A palavra “magnetismo” vem de Magnésia
41
na Turquia onde séculos atrás se observou o minério magnetita que é um ímã
natural.
Figura 2.1
2.3 PÓLOS MAGNÉTICOS
Quando estudamos uma barra imantada, verificamos que as características
magnéticas da barra não são iguais ao longo da mesma, porém verificamos que
ocorre uma concentração da força magnética de atração ou repulsão nas
extremidades. A estes pontos onde se manifestam a atração com maior
intensidade, damos o nome de pólos magnéticos.
Se dispusermos de duas barras imantadas e colocarmos uma próxima da outra,
deixando uma fixa e a outra livre, verificaremos que ocorrerá uma força de
atração entre as barras de modo a fazer com que se unam. No entanto, se
separarmos as barras e girarmos a barra móvel de 180° e novamente
aproximarmos, verificaremos que ao invés de ocorrer à atração, ocorrerá à força
de repulsão, o que nos leva a concluir que temos duas espécies de pólos. Um que
promove a atração e o outro que promove a repulsão. Isto é, numa mesma barra
os pólos não são iguais. É por isso que se diz que pólos iguais se repelem e pólos
diferentes se atraem. 2.4 O CAMPO MAGNÉTICO
Uma região do espaço que foi modificada pela presença de um ímã recebe a
denominação de campo magnético. O campo magnético pode ser visualizado
quando limalha de material ferromagnético é pulverizada sobre um ímã. Tais
partículas se comportam como minúsculos ímãs e se alinham na direção do
campo magnético, formando o que chamamos de linhas de indução ou linhas de
42
fluxo. As linhas de indução são sempre contínuas e mostram claramente a forma
do campo magnético.
Figura 2.2
43
2.5 UNIDADES E GRANDEZAS UTILIZADAS NO MAGNETISMO
2.5.1 VETOR INDUÇÃO MAGNÉTICA
Para caracterizar a ação de um ímã em cada ponto do campo magnético,
associa-se a esse ponto um vetor, denominado vetor indução magnética
simbolizado por “B”.
A unidade de medida do módulo do vetor indução no sistema internacional
(MKSA) denomina-se Tesla (T) ou Gauss1 (G) que é simplesmente a medida da
concentração das linhas de indução numa pequena região espacial que contém o
ponto considerado. Quando as linhas de indução são paralelas entre si, o vetor
indução naquela região é constante em qualquer ponto.
1 Tesla = 104 Gauss O Sistema Internacional de Unidades – SI defini Tesla (T) como sendo a indução magnética uniforme que produz uma força constante de 1N/ m2 de um condutor retilíneo situado no vácuo e percorrido por uma corrente elétrica invariável de 1A, sendo perpendiculares entre si às direções da indução magnética, da força e da corrente.
A produção de campos magnéticos não se prende somente à presença de ímãs.
Em 1820 o físico Hans Christian Oersted2 descobriu que a passagem de corrente
elétrica por um fio condutor também produzia um campo magnético com a forma
circular ao redor do condutor, com intensidade proporcional ao valor da corrente
elétrica aplicada.
44
Figura 2.3 - Diagrama esquemático da experiência de Oersted2 comprovando que a passagem da
corrente elétrica pelo fio condutor fez oscilar uma agulha de compasso devido à presença do campo magnético produzido pela corrente elétrica.
Quando colocamos um material qualquer num campo magnético de indução ou
força magnetizante "H”, o material formado por infinitos e minúsculos dipolos
magnéticos respondem ao campo de indução e se alinham na direção de "H".
O resultado é que o magnetismo gerado no interior e superfície do material
poderá ser diferente ao campo induzido. A este campo induzido no material
simbolizamos por "B" e chamamos de campo magnético induzido. A força
magnetizante "H" pode ser medida em Oersted (Oe) ou Ampéres/ metro (A/ m). A
razão entre "B" e "H" defini uma característica do material magnetizado ao que
denominamos de permeabilidade magnética do meio.
O Sistema Internacional de Unidades – SI defini a intensidade de campo magnético medido em A/ m e é a intensidade de um campo magnético uniforme, criado por uma corrente elétrica invariável de 1A, que percorre um condutor retilíneo de comprimento infinito e de área de seção transversal desprezível, em qualquer ponto de uma superfície cilíndrica de diretriz circular com 1m de circunferência e que tem como eixo o referido condutor.
1Johann Carl Friedrich Gauss nasceu em 30 de abril de 1777 na cidade de Brunswick, hoje Alemanha.
Trabalhou em diversos campos da matemática e da física dentre eles a teoria dos números, geometria diferencial, magnetismo, astronomia e ótica. Em 1832, Gauss e Weber começaram a investigar a teoria de magnetismo terrestre depois de Alexander Von Humboldt ter tentado obter ajuda de Gauss para fazer um grid de pontos de observação magnética ao redor da Terra. Gauss estava entusiasmado por este projeto e, antes de 1840, já tinha escrito trÊs documentos importantes sobre o assunto: Intensitas vis magneticae terrestris ad mensuram absolutam revocata (1832), Allgemeine Theorie des Erdmagneismus (1839), eAllgemeine Lehrsätze in Beziehung auf ie im verkehrten Verhältnisse des Quadrats der Entfernung wirkenden Anziehungs- und Abstossungskräfte (1840) Estes documentos que tratavam das teorias atuais sobre o magnetismo terrestre, incluindo as idéias de Poisson, medida absoluta da força magnética e uma definição empírica de magnetismo terrestre. A saúde dele deteriorou lentamente, e Gauss morreu na manhã cedo de 23 de fevereiro de 1855.
45
2.5.2 FLUXO MAGNÉTICO O fluxo magnético no SI é expresso na unidade de Weber, símbolo Wb.
1 Wb = 1 T.m2
O Sistema Internacional de Medidas – SI defini o Weber (Wb) como sendo o fluxo magnético através de uma superfície plana de área igual a 1m2, perpendicular à direção de uma indução magnética uniforme de 1 Tesla.
2.5.3 PERMEABILIDADE MAGNÉTICA
A permeabilidade magnética é definida como sendo a facilidade com que um
material pode ser magnetizado, e é representado pela letra “m”. É um número
adimensional, isto é, não possui unidade, pois é uma relação entre duas
grandezas. A permeabilidade magnética de um material é a relação entre a
condutividade magnética do material e a condutividade magnética do ar, ou ainda
a relação entre o magnetismo adquirido pelo material (B) pela presença de um
magnetismo externo e a força de magnetização externa (H). É importante
salientar que a permeabilidade magnética de um material não é constante e
depende da força externa de magnetização.
2.5.4 CLASSIFICAÇÃO MAGNÉTICA DOS MATERIAIS
De acordo com a permeabilidade magnética podemos classificar os materiais em
três grandes grupos:
a) Ferromagnéticos: μ > 1.
Hans Christian Oersted era professor de Ciências na Universidade de Copenhagen. Em 1821 ele demonstrou em sua residência uma experiência para seus alunos e amigos, provando um aquecimento de um fio por passagem de corrente elétrica assim como também demonstrar o magnetismo a partir de uma agulha de compasso. Enquanto ele fazia a demonstração elétrica.
Oersted notava que todas às vezes que ligava a corrente elétrica a agulha se movia. Neste período concentrou sua atenção para desvendar este fenômeno.
46
São assim definidos os materiais que são fortemente atraídos por um ímã
exemplo: ferro, cobalto e quase todos os tipos de aço. São ideais para inspeção
por partículas magnéticas.
b) Paramagnéticos: μ = 1.
São os materiais que são levemente atraídos por um ímã. Exemplo: platina,
alumínio, cromo, estanho, potássio. Não são recomendados para inspeção por
partículas magnéticas.
c) Diamagnéticos: μ < 1.
São os materiais que são levemente repelidos por um ímã. Exemplo: prata, zinco,
chumbo, cobre, mercúrio. O ensaio por partículas magnéticas não é aplicável a
estes materiais.
A permeabilidade magnética dos materiais não é constante, pois dependem da
dos valores de B e H. Porém muitos livros trazem valores da permeabilidade
magnética de vários materiais, porém esta se aplica na condição de total
saturação magnética dos mesmos. A saturação magnética é conseguida quando
ao aumentarmos o campo magnetizante H não ocorre nenhuma alteração de B.
Figura 2.4 - Curva de Histerese - Variação de B x H
A permeabilidade magnética do vácuo é μ 0 = 4.¶ x 10-7 T.m/ A (MKSA), que é a base para cálculos de campos magnéticos formado a partir de condutores elétricos.
47
Figura 2.5 - Intensidade do Campo Magnético em função de alguns materiais magnéticos.
Variação da Indução B com a Força magnetizante H de alguns materiais:
H B (Gauss) (Oersted) Ferro Níquel Cobalto
20 15.500 5.100 1.200 40 16.200 5.500 2.800 60 16.800 5.700 4.40 80 17.300 5.800 6.000
100 17.7000 5.900 6.800 120 17.900 6.000 7.500
Tabela 2.1 - Fonte: ABM - Aços carbono e Aços Liga, Chiaverini.
Outras características magnéticas dos materiais são:
Retentividade: é definida como sendo a habilidade de um material em reter uma
parte do campo magnético após a interrupção da força magnetizante.
48
Força Coercitiva: é a magnetização inversa que se aplicada ao material, anula o
magnetismo residual.
2.5.5 CAMPO DE FUGA
O desvio das linhas de força dá origem a novos pólos, provocando a dispersão
das linhas de fluxo magnético que dão origem ao “Campo de Fuga”. A figura
demonstra como as linhas de força são perturbadas pela presença de uma
descontinuidade dando origem ao campo de fuga.
Figura 2.6
No ensaio por partículas magnéticas, ao aplicarmos um pó ferromagnético,
constituído de partículas finamente divididas, as quais denominadas de pó
magnético, no local onde surgir um campo de fuga, devido à formação de um
dipolo magnético, provocará o agrupamento das partículas, ou seja, as partículas
se acumulam em todo contorno de um campo de fuga. Desta forma, poderíamos
dizer que o ensaio por partículas magnéticas é um “detetor” de campos de fuga,
que são “evidenciados” pela presença de acúmulos de partículas.
Verificamos na prática que, para ocorrer um campo de fuga adequado na região
das descontinuidades, a intensidade de campo, deve atingir valores adequados e
as linhas de força devem ser o mais perpendicular possível ao plano da
descontinuidade, caso contrário não será possível o acúmulo das partículas de
forma nítida.
Enfatizamos que é necessário que haja, na região inspecionada, intensidade de
campo suficiente e que as linhas de força do campo magnético estejam o mais
perpendicular possível em relação ao plano formado pelo contorno da
49
descontinuidade para que ocorra a detecção, caso contrário, isso não será
possível.
Figura 2.7
Outro aspecto interessante que podemos observar é que o campo de fuga
somente ocorre quando existe uma diferença na continuidade das características
magnéticas do material base inspecionado. Assim, todas as descontinuidades a
serem detectadas, trincas, escórias, falta de fusão, porosidade, inclusões, etc.
possuem características magnéticas bem diferente do metal base, o que atribui ao
ensaio grande sensibilidade de detecção.
Outro aspecto também é a não existência de um tamanho mínimo da
descontinuidade para que ocorra o campo de fuga, o que faz com que o método
de ensaio por partículas magnéticas seja mais eficiente dos métodos superficiais
até mesmo que o ensaio por líquidos penetrantes, para materiais ferromagnéticos.
2.6 MÉTODOS E TÉCNICAS DE MAGNETIZAÇÃO
2.6.1 MAGNETIZAÇÃO LONGITUDINAL
É assim denominado o método de magnetização que produz um campo
magnético longitudinal da peça e fechando o circuito através do ar. Portanto,
recomendamos para a detecção de descontinuidades transversais na peça A
magnetização longitudinal é obtida por indução de campo por bobinas ou
eletroímãs.
50
Figura 2.8
2.6.2 MAGNETIZAÇÃO CIRCULAR
Neste método, que pode ser tanto por indução quanto por passagem de corrente
elétrica através da peça, as linhas de força que formam o campo magnético,
circulam através da peça em circuito fechado, não fazendo uma “ponte” através
do ar. É usada para a detecção de descontinuidades longitudinais.
Figura 2.9
51
2.6.3 MAGNETIZAÇÃO MULTIDIRECIONAL
Também conhecida como combinada ou vetorial, é um método em que
simultaneamente são aplicados na peça dois ou mais campos magnéticos: um
pelo método longitudinal e o outro pelo método circular ou ainda campos
circulares em várias direções. É, portanto a combinação de duas técnicas que
produzem um vetor rotativo, que permite observar, de uma só vez, as
descontinuidades com diversas orientações. Algumas normas recomendam o uso
de corrente trifásica retificada de onda completa para magnetização nesta técnica.
As vantagens dessa técnica são:
• Na inspeção de componentes seriados onde se reduz substancialmente o
tempo de inspeção;
• Economia de partículas magnéticas;
• Cada peça ou componente é manuseado apenas uma vez;
• Menor possibilidade de erros por parte do inspetor, uma vez que, observa-
se ao mesmo tempo, tanto as descontinuidades longitudinais quanto as
transversais;
• Rapidez no ensaio por partículas magnéticas;
• Grande produtividade.
Figura 2.10 - Máquina para ensaio por partículas magnéticas de uma peça fundida para indústria
hidroelétrica, usando a técnica multidirecional. (foto cedida pela empresa VOITH SIEMENS)
52
Podemos concluir que a magnetização simultânea possibilita menor tempo de
execução trazendo como benefício maior produção. Contudo, é limitada pelo
ajuste da intensidade dos campos magnéticos que é necessário para obtenção de
uma resultante capaz de detectar adequadamente as descontinuidades nas duas
direções da peça em ensaio, descontinuidade longitudinal e transversal.
Na prática este ajuste é conseguido realizando testes com peças ou corpos de
prova contendo defeitos conhecidos. No entanto, ressaltamos que a
magnetização simultânea apresenta resultados mais confiáveis na detecção de
descontinuidades de diferentes direções. A sua desvantagem é que aumenta
mais uma etapa no ensaio.
Figura 2.11 - Ensaio de uma peça pela técnica de magnetização multidirecional. Observe os
grampos dos terminais de contato elétrico em cada lado da peça. (foto cedida pela empresa VOITH SIEMENS)
2.6.4 TÉCNICAS DE MAGNETIZAÇÃO
Mencionamos que podemos obter campos magnéticos por diversas técnicas,
contudo, o processo de magnetização só é obtido através de indução de campo
magnético ou por indução de corrente elétrica. Dizemos que há indução de campo
quando o campo magnético gerado na peça é induzido externamente. Já no
processo de magnetização por passagem de corrente, a peça em inspeção faz
parte do circuito elétrico do equipamento de magnetização, isto é, a corrente de
magnetização, circula pela própria peça. É por esta razão que se recomenda
bastante cuidado na utilização da técnica de magnetização por passagem de
corrente, pois poderá ocorrer a abertura de um arco elétrico nos pontos de
entrada e saída de corrente, queimando a peça nesta região, o que, em se
tratando de peça acabada, pode ser inaceitável, ou mesmo poderá representar
53
risco de explosão ou incêndio se no ambiente houver gases ou vapores
inflamáveis.
2.6.5 TIPOS DE CORRENTE ELÉTRICA UTILIZADA
As correntes elétricas utilizadas na magnetização para inspeção por partículas
magnéticas poderão ser das mais variadas fontes existentes, como segue:
corrente contínua (CC): somente obtida através de baterias, e que na prática não
é aplicável em processos industriais;
Figura 2.12
corrente alternada (AC): usada para detecção de descontinuidades superficiais. A
corrente alternada, devido ao ciclo alternado da corrente, promove maior
mobilidade às partículas, tem pouca penetração, as linhas de força são mais
concentradas na superfície e, portanto é mais recomendada para a detecção de
descontinuidades superficiais;
54
Figura 2.13
corrente alternada retificada de meia onda: usada para detecção de
descontinuidades subsuperficiais, o que na prática representa poucos milímetros
de profundidade. O uso de algumas técnicas pode representar até 6 a 10mm de
profundidade .
Figura 2.14
Corrente Alternada Retificada de Onda Completa: usada para detecção de
descontinuidades subsuperficiais, o que na prática representa poucos milímetros
de profundidade. O uso de algumas técnicas pode representar até 12mm de
profundidade.
55
Figura 2.15
Corrente trifásica: pode ser utilizada na forma retificada de meia onda ou onda
completa. A corrente elétrica trifásica retificada de onda completa é a que mais se
aproxima às características de uma corrente contínua.
Figura 2.16
As correntes elétricas alternadas, acima mencionadas, poderão ser ainda obtida
na forma monofásica ou trifásica o que representa diferenças no rendimento do
sistema de inspeção.
2.6.6 MAGNETIZAÇÃO POR PASSAGEM DE CORRENTE ELÉTRICA PELA PEÇA
É a técnica de magnetização, em que a corrente circula pela peça, onde temos as
técnicas de eletrodos e de contato direto.
56
2.6.7 A TÉCNICA DOS ELETRODOS
É a técnica de magnetização pela utilização de eletrodos, também conhecida
como pontas que quando apoiadas na superfície da peça, permitem a passagem
de corrente elétrica pela peça. O campo magnético criado é circular. Esta técnica
é geralmente aplicada em peças brutas fundidas, em soldas, nas indústrias de
siderurgia, caldeiraria e outros.
Figura 2.17
A técnica dos eletrodos induz um campo magnético que é dependente da
distância entre os eletrodos e a corrente elétrica que circula por eles. Em geral,
estes valores são tabelados e disponíveis nas normas técnicas de inspeção
aplicáveis ao produto ensaiado.
Como referência, podemos citar que para o Código ASME Sec.V Art.7, os valores
de corrente elétrica a ser aplicada na peça devem estar entre os valores
seguintes:
Limitação da Corrente Elétrica na Técnica de Eletrodos Espessura da
Peça Corrente Elétrica por Polegada de Espaçamento entre os
eletrodos < 3/4pol. (19mm)
mínimo de 90 até 110 A/ pol.
≥ 3/4pol. mínimo de 100 até 125 A/ pol.
Tabela 2.2 - Fonte: Código ASME Sec. V Art.7
57
O espaçamento entre os eletrodos não deve ultrapassar a 8 polegadas.
Espaçamentos menores podem ser utilizados para acomodar limitações
geométricas na área que está sendo examinada, porém espaçamentos menores
que 3 polegadas devem ser evitadas. Os pólos de contato dos eletrodos devem
estar limpos.
Exemplo de aplicação: Uma junta soldada com espessura do metal base de 15mm, deverá ser
inspecionada por partículas magnéticas pela técnica dos eletrodos. Se o operador
for utilizar 150mm de espaçamento, qual deverá ser o valor da corrente elétrica a
ser aplicada?
Solução: Pela tabela, aplica-se a regra seguinte: de 90 a 110 Ampéres/ polegadas de
espaçamento ou 3,54 a 4,33 Ampéres/ mm de espaçamento.
Portanto: 150mm de espaçamento x 3,54 = 531,0 A (corrente elétrica mínima)
150mm de espaçamento x 4,33 = 649,5 A (corrente elétrica máxima)
A técnica de eletrodos freqüentemente produz faíscas nos pontos de contato dos
eletrodos com a peça, o que impede a utilização desta técnica em ambientes
onde existem gases explosivos ou ainda quando a peça a ser examinada está na
sua fase final usinada, não admitindo qualquer dano nas suas superfícies.
Aparelho típico para magnetização por passagem de corrente elétrica denominada técnica de eletrodos. Estes equipamentos são portáteis, permitindo atingir até 1500 Ampéres utilizando corrente contínua ou alternada. Cuidados devem ser tomados quanto ao meio ambiente de operação destes equipamentos, pois estes produzem faíscas elétricas que podem causar explosões na presença de gases ou produtos inflamáveis.
58
Figura 2.18 - Uso da técnica de eletrodos para inspeção de uma solda de conexão.
2.6.8 A TÉCNICA DE CONTATO DIRETO
Também conhecida como magnetização por placas ou cabeçotes de contato.
Devido sua aplicação maior ser através de máquinas estacionárias, é definida
como sendo a técnica de magnetização pela passagem de corrente elétrica de
extremidade a extremidade da peça. O campo magnético formado é circular.
Esta técnica se difere da técnica por eletrodos descrita, pois é aplicável em
sistemas de inspeção automáticos ou semi-automáticos, para inspecionar barras,
eixos, parafusos, principalmente nas indústrias automobilísticas ou em fabricas de
produtos seriados de pequeno porte.
59
Figura 2.19
Nesta técnica, corrente elétrica contínua ou alternada poderá ser utilizada, sendo
recomendado pelo Código ASME Sec.V Art.7 uma limitação de 300 até 800
Ampéres/ pol. de diâmetro externo quando a geometria for redonda. Outras
limitações de corrente elétrica podem ser requeridas, dependendo da norma ou
especificação aplicável na inspeção.
Para peças outras que não redondas, a corrente elétrica pode ser determinada
pelo diâmetro maior da peça na seção perpendicular ao fluxo da corrente elétrica.
Se o nível de corrente elétrica não pode ser obtido por limitações técnicas dos
equipamentos utilizados, então deve ser empregado o padrão indicativo de campo
magnético para certificação de que a máxima corrente elétrica aplicada é
satisfatória.
Exemplo de Aplicação: Uma barra com diâmetro externo maior de 10pol. (254mm), deverá ser
inspecionado por partículas magnéticas pela técnica de contato direto. Qual
deverá ser a corrente elétrica a ser aplicada?
Solução:
De acordo com o recomendado pelo ASME Sec. V Art. 7, a limitação deverá ser
de 300 a 800 Ampéres por pol. de diâmetro da peça. Assim teremos:
300 A x 10 pol. de diâmetro da barra = 3000 Ampéres (corrente elétrica mínima);
800 A x 10 pol. de diâmetro da barra = 8000 Ampéres (corrente elétrica máxima).
60
Figura 2.20 - Fotos mostrando a técnica de magnetização circular por contato direto. Na foto esquerda o técnico pulveriza o pó magnético seco num eixo magnetizado por passagem de
corrente elétrica. Na foto direita o técnico posiciona uma barra para a técnica de contato direto. (Fotos extraídas do filme “Ensaio por partículas magnéticas”)
2.7 TÉCNICAS DE MAGNETIZAÇÃO POR INDUÇÃO DE CAMPO
MAGNÉTICO
2.7.1 A TÉCNICA DA BOBINA
Nessa técnica a peça é colocada no interior de uma bobina ou solenóide,
ocorrendo um campo longitudinal na peça. A bobina ou solenóide é formado por
um enrolamento de fios condutores da corrente elétrica alternada ou contínua,
que originam o campo magnético de intensidade que dependerá da corrente
elétrica que passa pela bobina e o número de voltas que o enrolamento da bobina
foi formado (Ampéres-volta).
Figura 2.21
61
Para peças onde a razão L / D, onde L é o comprimento da peça sendo no
máximo 18 polegadas e D o seu diâmetro, for maior ou igual a 4, a intensidade do
campo pode ser calculada através da fórmula:
Ampére-volta = 35000 / (L/ D) + 2 ( ± 10%) (fonte: ASME Sec.V Art.7)
(Para peças não cilíndricas, D deve ser a máxima seção transversal da peça.)
Figura 2.22 - Ensaio de um vibranequim pela técnica da bobina.
Exemplo de Aplicação: Seja um eixo com comprimento de 10pol. e 2pol. de diâmetro, qual a corrente de
magnetização necessária se for usada uma bobina enrolada no eixo com 5
voltas?
Solução: A relação neste caso é de: L/ D = 5, portanto aplicando a fórmula teremos:
Ampéres-Volta = 35000/ 5 + 2 = 5000
Sendo a bobina formada por 5 voltas, então a corrente necessária será 5000
ampéres-volta/ 5 voltas = 1000 Ampéres ± 10%
Para peças onde a razão L/ D for menor que 4 mas não menor que 2, a
intensidade do campo pode ser determinada através da fórmula:
Ampéres-Volta = 45000/ (L/ D) ( ± 10%) (fonte: ASME Sec.V Art. 7)
Para peças grandes, a intensidade de magnetização deve estar entre 1200
ampéres-volta e 4500 ampéres-volta. A utilização de padrões indicativos de
campo pode estabelecer a corrente elétrica mais indicada.
Conjunto da bobina e sistema de spray
de água contendo pó magnético.
62
Figura 2.23 - Foto mostrando a técnica de magnetização longitudinal de um eixo, por bobinas.
(foto extraída do filme "Ensaio por Partículas Magnéticas")
2.7.2 A TÉCNICA DO IOQUE OU YOKE
É a técnica de magnetização pela indução em campo magnético, gerado por um
eletroímã, em forma de "U" invertido, que é apoiado na peça a ser examinada.
Pelo eletroímã circula a corrente elétrica alternada ou contínua.
É gerado na peça um campo magnético paralelo à linha imaginária que une as
duas pernas do Yoke.
Figura 2.24
Os ioques produzem campos magnéticos longitudinais, podendo ser de pernas
fixas ou de pernas articuláveis, conhecidos como ioques de pernas articuladas.
Os de pernas articuláveis são mais eficientes por permitirem uma série de
posições de trabalho com garantia de um bom acoplamento dos pólos
magnéticos.
A sua vantagem está em não aquecer os pontos de contato, já que a técnica usa
63
corrente elétrica magnetizante que flui pelo enrolamento da bobina do Ioque, e
não pela peça.
A recomendação básica de algumas normas para calibração deste equipamento é
que o campo magnético formado na região de interesse definida como área útil,
esteja entre os valores de 17 a 65 A/ cm. Para simplificar e permitir a
comprovação periódica da intensidade do campo magnético durante os trabalhos
de campo é estabelecido nas normas, que a verificação da força de magnetização
do Ioque pode ser comprovada através de sua capacidade mínima de
levantamento de massa calibrada equivalente a 4,5 kg (10 lb) de aço, no máximo
espaçamento entre os pólos a ser utilizado em corrente alternada e de 18,1 kg (40
lb) em corrente elétrica contínua (fonte: ASME Sec. V Art.7) .
Estes limites apresentados para o teste de levantamento de peso podem ser
alterados dependendo da especificação ou norma aplicável. Por exemplo, a
norma ASTM E-709 estabelece outros limites, assim como a norma Petrobrás N-
1598.
Figura 2.25 - Magnetização utilizando o YOKE.A Técnica do Condutor Central
A técnica do condutor central é caracterizada pela passagem de um fio condutor
ou conjunto de cabos condutores pelo centro da peça a inspecionar. A passagem
da corrente elétrica através do condutor, permitirá induzir um campo magnético
circular na superfície interna e/ ou externa da peça. Assim sendo, a peça a ser
inspecionada por este processo, deve ter geometria circular, tais como: flanges,
anéis, porcas, e outras.
64
Figura 2.26
Quando grandes diâmetros de peças devem ser inspecionadas, o condutor pode
ser posicionado perto da superfície interna da peça, deslocado do centro. Neste
caso, as superfícies devem ser inspecionadas em incrementos, e a intensidade do
campo magnético verificado com auxílio do padrão indicativo do campo para
saber qual a extensão do arco da circunferência a ser considerada.
Em geral, a corrente elétrica de magnetização é determinada da mesma forma
como descrita na técnica de contato direto, considerando que apenas um
condutor passe internamente à peça. O campo magnético irá aumentar na
proporção que o número de cabos condutores centrais passem internamente à
peça. Como exemplo podemos citar, que se 6000 Ampéres são necessários para
ensaiar uma peça usando um simples condutor central, então 3000 Ampéres
serão requeridos para ensaiar a mesma peça usando 2 condutores centrais, ou
1200 Ampéres se usados 5 condutores centrais.
O uso do padrão indicativo de campo é sempre um requisito recomendado para
certificação da intensidade do campo magnético gerado.
65
Figura 2.27 - Indicação de trinca detectada pela técnica do condutor central. Observe a linha
circular formada na superfície do anel pelo acúmulo do pó magnético. (Foto extraída do filme "Ensaio por Partículas Magnéticas")
MÉTODO TÉCNICAS DE MAGNETIZAÇÃO
Longitudinal Indução de campo Bobina (solenóide) Yoke Ímã permanente
Passagens de corrente elétrica Eletrodos (pontas) Contato Direto (placas)
Circular Indução de Campo
Condutor Central - Barra - Cabo enrolado
Multidirecional Indução e/ ou passagem de corrente elétrica
Combinação das Técnicas de campo longitudinal com o circular.
Figura 2.28 - Medidor típico de campo magnético utilizando a sonda de Hall. Pode medir de 10
até 30.000 Gauss, muito útil para verificação do valor do campo magnético efetivo na peça a ser inspecionado por partículas magnéticas ou ainda campos residuais. (Foto extraída do catálogo de
Magnaflux).
66
2.8 DESMAGNETIZAÇÃO
Verificamos que alguns materiais, devido as suas propriedades magnéticas, são
capazes de reter parte do magnetismo após a interrupção da força magnetizante.
Conforme a aplicação subseqüente destes materiais, o magnetismo residual ou
remanescente poderá criar problemas, sendo necessária a desmagnetização da
peça.
Podemos resumir as razões para desmagnetização de uma peça como sendo:
Interferência nos processos de Usinagem: Uma peça com magnetismo residual poderá interferir nos processos futuros de
usinagem, pois o magnetismo da peça induzirá a magnetização das ferramentas
de corte afetando o acabamento da peça.
A retenção de limalha e partículas contribuirá para a perda do fio de corte da
ferramenta.
Interferência nos processos de Soldagem: A interferência em operação de soldagem se faz sentir com a deflexão do arco
elétrico, desviando-o da região de soldagem, interferência conhecida como sopro
magnético, que prejudicará em muito o rendimento e a qualidade da solda.
Interferência com Instrumentos de Medição: O mecanismo residual interfere com instrumentos sensíveis de medição ou
navegação, colocando em risco a operação dos equipamentos uma vez que, as
leituras obtidas não correspondem à realidade. Há registros de acidentes aéreos
por interferências de campos magnéticos de trens de pouso nos instrumentos de
navegação da aeronave.
Portanto, em razão destas interferências acima descritas, em alguns casos
existem necessidades de desmagnetização das peças através da passagem
destas por campos magnéticos alternados e decrescentes. Geralmente a
passagem das peças por bobinas magnetizadas, é suficiente.
Quando peças ou equipamentos serão submetidos a tratamento térmico, estas
não necessitam de serem desmagnetizadas, pois a temperatura elevada será
capaz de remover o magnetismo residual. Esta temperatura é denominada ponto
Curie, a tabela abaixo mostra este valor de temperatura para alguns materiais:
67
Material Ponto Curie ºCNíquel 372
Ferro Puro 774 Cobalto 1.131
Tabela 2.3 - Fonte: ABM - Aços Carbono e Aços Liga - Chiaverini.
Quando elevamos a temperatura de um material acima da temperatura Curie, o
comportamento destes passam a ser paramagnético. A temperatura Curie
depende da liga do material.
A desmagnetização é dispensável quando:
Os materiais possuem baixa retentividade;
As peças forem submetidas a tratamento térmico. As peças de aço que estiverem
magnetizadas, ao atingir a temperatura de 750°C, chamado ponte Curie, perdem
a magnetização;
As peças forem novamente magnetizadas.
2.8.1 TÉCNICAS DE DESMAGNETIZAÇÃO
São várias as técnicas de desmagnetização sendo que todas são baseadas no
princípio de que, submetendo a peça a um campo magnético que é
continuamente invertido e gradualmente reduzindo a zero, após um determinado
período e um número de ciclos, a peça será desmagnetizada. Isto pode ser obtido
fazendo a peça passar pelo interior de bobinas percorridas por corrente alternada.
68
2.9 MÉTODOS DE ENSAIO E TIPOS DE PARTÍCULAS
2.9.1 MÉTODOS DE ENSAIO
As partículas magnéticas podem ser fornecidas na forma de pó, em pasta ou
dispersas em líquido. Em todos os casos, as partículas se constituem de um pó
ferromagnético de dimensões, forma, densidades e cor adequadas ao exame.
Denominamos de via ou veículo, o meio no qual a partícula está sendo aplicada:
Via Seca: Dizemos que as partículas são para via seca, como o próprio nome indica,
quando aplicadas a seco. Neste caso é comum dizer que o veículo que sustenta a
partícula até a sua acomodação é o ar. Na aplicação por via seca usamos aplicadores de pó manuais ou bombas
aspersoras que pulverizam as partículas na região do ensaio, na forma de jato de
pó.
As partículas para via seca devem ser guardadas em lugares secos e ventilados
para não se aglomerarem. É muito importante que sejam de granulometria
adequada para serem aplicadas uniformemente sobre a região a ser
inspecionada.
Comparando com o método por via úmida, as partículas por via seca são mais
sensíveis na detecção de descontinuidades próximas a superfície, mas não são
mais sensíveis para pequenas descontinuidades superficiais. Também, para uma
mesma área ou região examinada, o consumo é maior. Por outro lado, é possível
a reutilização das partículas, caso o local de trabalho permitir e que seja isenta de
contaminação.
Via Úmida: É método de ensaio pela qual as partículas encontram-se em dispersão em um
líquido, denominado de veículo. Este líquido pode ser a água, querosene ou óleo
leve.
No método por via úmida as partículas possuem granulometria muito fina, sendo
possível detectar descontinuidades muito pequenas, como trincas de fadiga.
69
Devemos ressaltar que neste método de ensaio, as partículas que estão em
dispersão, mesmo na presença do campo magnético, têm maior mobilidade do
que na via seca, e podem percorrer maiores distâncias enquanto se acomodam
ou até serem aprisionadas por um campo de fuga. Da mesma forma, nas
superfícies inclinadas ou verticais requerem menor esforço para remoção do
excesso.
Os aplicadores por via úmida são na forma de chuveiros de baixa pressão no
caso de máquinas estacionárias ou manuais, tipo borrifadores, que produzem
uma névoa sobre a região em exame. Contudo, nada impede que na aplicação
manual, a suspensão seja derramada sobre a peça.
A escolha do aplicador tipo borrifo tem finalidades econômicas e de execução do
ensaio, visto que a quantidade aplicada é menor, e para o inspetor a visualização
imediata das indicações, enquanto ocorre a acomodação das partículas e pouco
excesso para remoção.
Embora já exista no mercado suspensão em forma de spray, a aplicação mais
usual é a que é preparada pelo próprio inspetor.
O método por via úmida exige uma constante agitação da suspensão para
garantir a homogeneidade das partículas na região de exame. Essa agitação é
automática nas máquinas estacionárias. Na aplicação manual, o próprio inspetor
deverá fazê-la, agitando o aplicador antes de cada etapa de aplicação.
Preparação das Partículas Via Úmida: As partículas para serem aplicadas pelo método por via seca não requerem
preparação e são retiradas diretamente das embalagens para os aplicadores de
pó. Já as partículas para via úmida requerem a preparação da suspensão ou
banho. Estas partículas podem estar na forma de pó ou pasta.
A preparação da suspensão por via úmida é muito importante para garantia da
homogeneização do banho e dispersão das partículas na região em ensaio, após
aplicação. Os fabricantes indicam nas próprias embalagens os valores de
concentração adequada para a suspensão. Algumas partículas são utilizadas
tanto em querosene quanto em água, fazendo com que o banho tenha uma
composição homogênea, evitar a formação de espuma e a oxidação da superfície
da peça logo após o ensaio.
Deve-se salientar que no preparo da suspensão a partícula, que é um pó muito
70
fino, tem dificuldade de se misturar no líquido caso seja adicionada a este de uma
única vez. Na prática, o que faz é o inverso: o veículo da suspensão é adicionado aos
poucos a um copo contendo o pó e no início em pouquíssima quantidade, com
objetivo de permitir que sejam bem misturadas todas as partículas.
Só depois que o inspetor conseguir “quebrar” bem a aglomeração das partículas,
formando um “mingau”, é que se adiciona aos poucos o restante do veículo até
completar um litro, sem deixar de mexer ou agitar toda suspensão.
A verificação da concentração pode ser realizada de acordo com a norma ASTM
E-709, usando-se um tubo decantador padronizado graduado, que tem a forma de
pêra. Com ele, são retirados da suspensão pronta 100 ml, e aguarda-se 30
minutos.
Após esse tempo, verifica-se na base do tubo, a quantidade também em ml de
partículas decantadas, que se estiverem dentro da faixa recomendada pelas
normas, indicam que a suspensão está pronta para uso.
Os valores recomendados são de 1,2 a 2,4 ml para a inspeção por via úmida de
partículas observadas sob luz branca ou natural, e de 0,1 a 0,4 ml para as
partículas fluorescentes, que são observadas sob luz ultravioleta (ou luz negra).
Tais limites de concentração dependem da norma ou especificação aplicável.
71
Figura 2.29
2.9.2 ESCOLHA DO TIPO DAS PARTÍCULAS MAGNÉTICAS
A escolha da cor das partículas fica associada ou definida em função da cor de
fundo, cor da superfície da peça em exame, temperatura da superfície, posição da
peça. Procuramos usar uma partícula cuja cor produza com a superfície o melhor
contraste possível, garantindo-se dessa forma maior sensibilidade visual. A
temperatura pode ser um parâmetro para opção entre partículas via seca ou via
úmida. O Código ASME Sec. V Art.7 estabelece que partículas via seca podem
ser utilizadas em superfícies com temperatura até 3150C (6000F) e ainda que
partículas via úmida podem ser utilizadas em superfícies com temperatura até
57,20C (1350F).
A cor da partícula é uma pigmentação que tem também a finalidade de promover
um balanceamento das condições de densidade da mesma. No caso das
partículas para aplicação pelo método de via úmida é importante que a
pigmentação ou recobrimento da partícula acumulada nas indicações sem cor que
produza contraste suficiente com a superfície em exame. No mercado podemos encontrar partículas a serem aplicadas por via seca nas
cores: branca, cinza, amarela, vermelha e preta, conhecidas como partículas para
observação sob luz negra ou ultravioleta. Também sob as mesmas condições de
luz, as partículas por via úmida nas cores, preto, vermelho e fluorescente. As
fluorescentes podem, de acordo com o fabricante, apresentaram-se nas cores
72
amarelo-esverdeado ou alaranjado.
Figura 2.30 - Inspeção por partículas magnéticas fluorescentes de um anel contendo inúmeras
trincas. Foto extraída do catálogo da Karl Deutsch.
Com a finalidade de promover melhor visualização das partículas, foram
desenvolvidos mais recentemente os líquidos de contraste, que é uma tinta
branca em embalagem spray que é aplicada de forma uniforme sobre a superfície
de teste, garantindo um fundo uniforme que vai contrastar com a cor da partícula,
aumentando-se a sensibilidade da visualização.
A tinta de contraste é aplicada de maneira a criar um fundo branco sem, no
entanto interferir na mobilidade das partículas ou mesmo na intensidade dos
campos de fuga. A espessura do filme de tinta após seco é da ordem de 15mm
podendo variar até 50mm, não necessitando de ser verificada a espessura real.
O uso da tinta de contraste atribui grande segurança ao ensaio devido ao
contraste mantido em relação à cor das partículas magnéticas. No entanto, o
procedimento técnico de ensaio por partículas magnéticas deve ser verificado/
qualificado para certificar que a sensibilidade não está sendo prejudicada. Para
tanto se podem usar corpos de prova contendo indicações conhecidas, o próprio
padrão oitavado do ASTM A -709.
73
2.10 PROCEDIMENTO PARA ENSAIO
Seqüência básica para Aplicação do Ensaio:
a) Preparação da superfície; b) Seleção do equipamento para magnetização e das partículas
ferromagnéticas; c) Planejamento do ensaio; d) Magnetização da peça; e) Aplicação das partículas; f) Eliminação do excesso de partículas na superfície; g) Observação das indicações; h) Avaliação e registro dos resultados; i) Desmagnetização.
Preparação da Superfície: De acordo com a seqüência de execução do ensaio, o ensaio por Partículas
magnéticas, começa pela limpeza e/ ou preparação da superfície. O método de
preparação da superfície depende do tipo de peça, tamanho e quantidade. São
métodos de limpeza:
• Jato de areia ou granalha
• Escova de aço
• Solvente e panos umedecidos em solventes ou secos
• Limpeza química
• Vapor desengraxante
• Esmerilhamento
O objetivo desses métodos de limpeza é de retirar da superfície em exame toda a
sujeira, oxidação, carepas, respingos ou inclusões superficiais que prejudiquem o
ensaio com a formação de campos de fuga falsos, ou que, contaminem a
suspensão, caso o ensaio seja executado com via úmida, ou ainda que dificultem
a mobilidade das partículas sobre a superfície.
O jato de areia ou granalha é comumente utilizados na preparação de peças
automotivas ou componentes de máquinas, que, são colocados em cabines para
74
jateamento.
Escovas de aço que tanto podem ser rotativas, ou manuais são mais utilizadas na
preparação de peças soldadas. O solvente é empregado como uma
complementação aos métodos de limpeza anteriores, com o objetivo de promover
na região a ser inspecionada uma superfície isenta de graxas, óleo ou outro tipo
de contaminante que impeça ou prejudique o ensaio, mascarando os resultados.
É necessário garantir uma boa mobilidade das partículas. Caso as partículas
sejam aplicadas dispersas em água, a superfície deve estar isenta de óleo ou
graxa, caso contrário à peça não ficará “molhada”.
Seleção do Equipamento, Técnica para Magnetização e das Partículas
Magnéticas:
Como vimos, a escolha do equipamento para magnetização e do tipo de
partículas magnéticas, dependerá da forma da peça a ser ensaiada, do local para
execução do ensaio, do acabamento superficial da peça, e da especificação
técnica para inspeção. O ensaio por partículas magnéticas deve ser sempre
executado com base em um procedimento qualificado e aprovado, com finalidade
de estabelecer e fixar as variáveis essenciais do ensaio. Assim, a técnica de
magnetização, o método de ensaio, e outros, não necessitam serem
determinadas pelo inspetor responsável, no momento do ensaio.
Figura 2.31 - Inspeção por partículas magnéticas pela técnica do Yoke, de um chanfro preparado
para soldagem, em uma pá tipo “Francis” fundida em aço carbono, para usina hidroelétrica. Técnica do Campo Contínuo: É uma técnica utilizada na maioria dos casos em materiais com baixa
retentividade, onde a magnetização, aplicação do pó magnético, remoção do
excesso de pó, e a observação das descontinuidades são realizadas
seqüencialmente e simultaneamente, ou seja, de forma contínua.
Técnica do Campo Residual:
75
Nesta técnica, o material a ser inspecionado deve obrigatoriamente ter
características de alta retentividade, pois as operações de magnetização,
aplicação do pó magnético, remoção do excesso de pó, e a observação das
descontinuidades são efetuadas de forma separadas e sucessivas. Em geral,
apenas a técnica de contato direto para magnetização produz resultados
satisfatórios com campos residuais acima de 70 A/ m.
Planejamento do Ensaio e Magnetização da Peça: Escolhida a técnica de magnetização a ser empregada ou disponível para o
ensaio, é importante que o Inspetor procure visualizar ou esquematizar a peça,
como será o campo magnético formado, se longitudinal ou circular.
Essa visualização é importante, pois como não conhecemos a orientação das
descontinuidades vamos começar a fazer o ensaio por um ponto e, para
garantirmos que a inspeção foi adequada, capaz de detectar qualquer
descontinuidade em qualquer orientação, é preciso que, de acordo com a técnica
de magnetização utilizada, uma outra varredura, defasada de mais ou menos 90°
do eixo da anterior, seja realizada na mesma região.
Figura 2.32
A técnica de varredura descrita anteriormente é empregada na inspeção de peças
utilizando-se de um Ioque ou através da técnica de eletrodos, onde se
recomenda, para garantir uma varredura perfeita e com sobreposição adequada
entre uma e outra varredura, que o inspetor trace com giz de cera na peça os
pontos onde serão apoiadas as pernas do Ioque ou eletrodos, obtendo-se assim,
uma varredura seqüencial e com garantia de inspeção em 100% da região de
interesse, a posição dos pólos de contato 1-1 e 4-4 ou 2-2 e 3-3.
Já nas máquinas estacionárias, onde as peças a serem inspecionadas, como por
76
exemplo: pinos, bielas, engrenagens, disco, virabreguins, são submetidas, na
maioria das vezes, a dois campos magnéticos aplicados simultaneamente, sendo
um por corrente alternada - CA e outro, por corrente alternada retificada, ou
ambos por correntes alternadas defasadas, é necessário garantir a varredura de
toda a peça ou de uma região de interesse. Nesse caso, é importante verificar se
a intensidade do campo é adequada para se fazer a inspeção de toda a peça de
uma vez só. Caso isso não seja possível, é necessário inspecionar a peça em
partes, ou seções.
Portanto, de acordo com o equipamento disponível, em função de seus recursos e
capacidade, fazemos os ajustes nos campos de modo a obter um valor adequado.
O valor adequado para o campo magnético poderá, em alguns casos, ser
verificado através de padrões indicativos de campo magnético, ou padrão para
verificação do sistema de inspeção por partículas magnéticas citado pelo ASTM-
E-1444.
Figura 2.33 - Padrão indicativo de campo magnético recomendado pelo código ASME sec v art.7
e ASTM-E1444.
Influência do tipo de Corrente Elétrica Selecionada A Corrente Elétrica Alternada: este tipo de corrente elétrica promove uma maior
mobilidade das partículas, o que atribui uma maior sensibilidade para
descontinuidades superficiais, com pouca penetração no material.
A Corrente Elétrica Contínua promove pouca mobilidade das partículas, porém
atribui ao ensaio uma profundidade maior de detecção, sendo, portanto mais
indicada para descontinuidades subsuperficiais.
Estudos feitos com corpos de prova plano e circular contendo furos cilíndricos
dispostos a diversas profundidades em relação à superfície mostraram que a
sensibilidade de detecção destes defeitos artificiais variam em função da
77
magnitude e tipo da intensidade da corrente elétrica, da profundidade e do tipo de
pó ferromagnético utilizado. O gráfico da figura abaixo mostra os dados obtidos na
prática.
78
Figura 2.34
É interessante notar que o gráfico acima demonstra na prática que o uso da
técnica de magnetização por passagem de corrente elétrica retificada (DC) e pó
ferromagnético via seca corresponde à técnica que melhor detecta
descontinuidades subsuperficiais, que no caso foi de 2,0 a 12mm de
profundidade.
Aplicação das Partículas e Observação das Indicações: A aplicação das partículas ferromagnéticas deve ser feita de forma que seja
coberta toda a área de interesse, quer seja por via seca ou úmida. A remoção do
excesso de partículas sobre a superfície deve ser feita de modo a não eliminar as
indicações que se formam. Se as partículas forem por via seca, um leve sopro
deve ser aplicado. Se as partículas forem via úmida, o próprio veículo promove o
arrasto do excesso das partículas.
A observação das indicações se dará pela visualização dos pontos de acúmulo do
pó ferromagnético. Esta fase não é tão fácil, pois o inspetor pode confundir um
acúmulo de pó devido a uma ranhura ou mordedura, com uma descontinuidade,
levando a erros no julgamento dos resultados.
Para facilitar a visualização das indicações, pode ser aplicada uma fina camada
de tinta branca especial sobre a região a ser inspecionada, antes da aplicação
das partículas ferromagnéticas.
79
Avaliação e Registro dos Resultados: Como um ensaio por partículas magnéticas é um tanto quanto subjetivo, torna-se
necessário que, mesmo seguidos os critério e requisitos recomendados para o
ensaio com base nas normas aplicáveis, os resultados obtidos no ensaio na
mesma peça sob as mesmas condições. Para tal, além de ser seguido um
procedimento específico para cada tipo de trabalho que se fez, torna-se
necessário implementar uma correlação entre o mapa de registro dos resultados e
os relatórios emitidos, bem como a localização física da peça ou equipamento
submetido ao ensaio. Como orientação, sugerimos que seja elaborado um
relatório detalhando todas as características e parâmetros do ensaio, tais como:
• Peça ensaiada, desenho, posição, etc;
• Área de interesse;
• Norma de aceitação;
• Aparelho de magnetização;
• Tipo e intensidade da corrente elétrica utilizada;
• Tipo de pó magnético usado;
• Veículo, se aplicável;
• Concentração das partículas, se aplicável;
• Croquis da peça e das indicações observadas;
• Assinatura e identificação do inspetor responsável.
Uma das formas adequadas de registro das descontinuidades no caso de soldas,
é a de desenhá-las em fita crepe ou, caso disponha de maiores recursos, utilizar-
se de fotografias.
Conforme já mencionado, desde que todos os requisitos do ensaio, forem
cumpridos, torna-se fácil avaliação das indicações. O inspetor deverá,
naturalmente, estar familiarizado com os requisitos ou critérios de aceitação
recomendados pela norma aplicável.
80
Figura 2.35 - Técnica de Inspeção de fundidos usando Yoke com pernas articuláveis.
A observação e avaliação das indicações são processadas imediatamente após a
aplicação da suspensão ou do pó e durante a remoção do excesso, uma vez que
o comportamento da mobilidade das partículas, distribuição, contraste, etc.,
indicará a necessidade ou não de reinspeção da área. Notar que muitas vezes
poderão surgir indicações falsas ou não relevantes, sendo recomendado ao
inspetor muito cuidado na perfeita avaliação dos resultados obtidos. As condições
de iluminação são essenciais para êxito desta etapa.
Desmagnetização
Verificamos que alguns materiais possuem propriedades diferentes de
retentividade magnética, assim conforme a aplicação deste o magnetismo
residual contido na peça poderá provocar problemas das mais diferentes ordens. Para comprovarmos o nível de magnetismo residual, podem ser utilizados
aparelhos calibrados e especialmente projetados para isso, denominados
indicadores de campo residual ou gaussímetro. Níveis da ordem de 3 a 8 Gauss
de densidade de fluxo magnético residual são geralmente aceitáveis.
81
2.11 CALIBRAÇÃO DOS EQUIPAMENTOS
A recomendação básica de todo sistema de garantia da qualidade, é que todos os
instrumentos de medição, inspeção e ensaio precisam estar calibrados. Para os
equipamentos que incorporam miliamperímetros, estes devem estar calibrados;
por outro lado os Yokes devem ser calibrados com o teste de elevação de carga
e/ ou terem a sua distribuição de campo magnético mapeado (magnetograma).
Em geral as normas e códigos estabelecem que os equipamentos de
magnetização devem ser calibrados de forma periódica de acordo com os
seguintes critérios:
Freqüência: Os equipamentos contendo amperímetro devem ser calibrados no
mínimo uma vez ao ano, ou quando ocorrer reparos elétricos ou danos.
Procedimento: Os amperímetros podem ser verificados por comparação com um
padrão rastreável a outro reconhecido. Leituras comparativas podem ser feitas no
mínimo em três níveis de saída de corrente dentro da faixa usual.
Tolerância: A medida realizada não deve variar mais do que ± 10% do fundo da
escala, relativa ao valor real da corrente.
É importante lembrar ao leitor que as calibrações e ajustes são válidos se padrões
calibrados e rastreáveis a entidades reconhecidas usadas nestes processos,
forem utilizados.
Figura 2.36 - Instrumentos de medição/ indicação de campo magnético residual denominado
Gaussímetro. Quando colocado sobre a superfície do material inspecionado, o instrumento deve indicar, com pouca precisão, o campo magnético residual. (Foto extraída do Catálogo Magnaflux)
82
2.12 CRITÉRIO DE ACEITAÇÃO DAS INDICAÇÕES
Descontinuidades próximas à superfície são indicadas pela retenção das
partículas ferromagnéticas na posição da descontinuidade, entretanto marcas de
usinagem, e irregularidades superficiais podem produzir falsas indicações,
devendo ser limpas ou reinspecionadas para saber se descontinuidades
inaceitáveis estão presentes. O critério para análise das indicações deve estar
baseado no código de projeto e construção do componente inspecionado.
2.12.1 CRITÉRIO DE ACEITAÇÃO CONFORME O CÓDIGO ASME
O critério de aceitação que segue abaixo, é uma tradução do Código ASME Séc
VIII Div.1 Apêndice 6, é aplicável para superfícies inspecionadas por partículas
magnéticas, projetadas conforme este código.
Avaliação das indicações: Uma indicação é uma evidência de uma imperfeição mecânica. Somente
indicações com dimensões maiores que 1/16 pol. (1,6mm) deve ser considerada
como relevante.
Uma indicação linear é aquela tendo um comprimento maior que três vezes a
largura.
Uma indicação arredondada é aquela na forma circular ou elíptica com
comprimento igual ou menor que três vezes a largura.
Qualquer indicação questionável ou duvidosa deve ser reinspecionada para
determinar se indicações relevantes estão ou não presentes.
Aceitação: Toda as superfícies devem estar livres de:
Indicações relevantes lineares;
Indicações relevantes arredondadas maiores que 3/ 16pol. (4,5mm);
Quatro ou mais indicações relevantes arredondadas em linha separadas por 1/16
pol. (1,6mm) ou menos (de borda a borda);
Uma indicação de uma imperfeição pode ser maior que a imperfeição, entretanto,
o tamanho da indicação é a base para a avaliação da aceitação.
83
2.12.2 CRITÉRIO DE ACEITAÇÃO DE SOLDAS CONFORME O CÓDIGO AWS
D1.1
O critério de aceitação conforme AWS D1.1 é o mesmo para inspeção visual e
que apresentamos a seguir:
Categoria da Descontinuidade e Critério de Inspeção
Conexões não tubulares
carregadas estaticamente
Conexões não tubulares
carregadas ciclicamente
Conexões tubulares (para
todos os tipos de carregamento)
(1) Proibição de Trincas Qualquer trinca é inaceitável, independente do tamanho e localização.
X X X
(2) Fusão entre metal base e solda Deve existir fusão entre a parte adjacente do metal base e a solda.
X X X
(3) Cratera Todas as crateras devem ser preenchidas para estabelecer a dimensão específica da solda, exceto nos terminais de soldas de filete intermitente externas aos seus comprimentos efetivos.
X X X
(4) Perfil das Soldas O perfil das soldas devem estar conforme 5.24 da AWS D1.1
X X X
(5) Período de Inspeção Inspeção visual das soldas em todos os aços pode iniciar imediatamente após ter sido a solda completada e resfriada na temperatura ambiente. Critério de aceitação para aços ASTM A514 e A 709 Grau 100 e 100W devem estar baseados na inspeção visual realizada não antes que 48 horas da solda estar completada.
X X X
(6) Soldas Subdimensionadas A dimensão da solda de filete em qualquer trecho contínuo pode ser menor que o valor nominal especificado (L) sem correção pelos seguintes valores de (U):
L U Dimensão nominal
específica da solda (mm) Redução permitida
de L (mm)
≤ 5 ≤ 2
6 ≤ 2,5
≥ 8 ≤ 3
Em todos os casos, a porção de sobreposição não deve exceder a 10% do comprimento da solda. Em soldas de flanges, sobreposição não é permitida nos terminais para um comprimento igual a duas vezes a largura do flange.
X X X
Tabela 2.4 - Tradução livre da tabela 6.1 do AWS D1.1:2000
Categoria da Descontinuidade e Critério de Conexões não
tubulares Conexões não
tubulares Conexões
tubulares (para
84
Inspeção carregadas estaticamente
carregadas ciclicamente
todos os tipos de carregamento)
(7) Mordedura (A) Para materiais menores que 1pol. (25,4mm) de espessura, mordeduras não devem exceder a 1/32pol. (1mm), exceto que um máximo de 1/16pol. (1,6 mm) sem correção para um comprimento acumulado de 2pol. (50mm) em qualquer 12 pol. (305mm). Para materiais iguais e maiores que 1 pol. De espessura, mordeduras não devem exceder a 1/16pol. (1mm) para qualquer comprimento de solda.
X
(B) Em membros primários, mordeduras não devem ser maiores que 0,01pol. (0,25mm) de profundidade quando a solda for transversal ao esforço de tensão sob qualquer condição de projeto de carga. Mordeduras não devem ser maiores que 1/32pol. (1mm) em profundidade para todos os casos.
X X
(8) Porosidade (A) Juntas de topo com penetração total transversal ao esforço de tensão projetada não deve ter porosidade visível. Para outras soldas com chanfros e soldas de filete a soma dos diâmetros das porosidades visíveis de 1/32pol. (1mm) ou maior não deve exceder 3/8pol. (19mm) em qualquer 12pol. (305mm) de comprimento de solda.
X
(B) A freqüência da porosidade em soldas de filete não deve exceder uma em cada 4pol. (100mm) de comprimento de solda e com máximo diâmetro de 3/32pol. (2mm). Exceção: para juntas de filete em reforços conectado a parte principal, a soma dos diâmetros da porosidade não deve exceder a 3/8 pol. (10mm) em qualquer polegada linear de solda e não deve exceder 3/4pol. (19mm) em qualquer 12pol. (305mm) de comprimento de solda.
X X
(C) Juntas de topo com conexão total transversal ao esforço de tensão projetada não deve ter porosidade visível. Para outras soldas com chanfros, a freqüência da porosidade não deve exceder uma em 4pol. (100mm) de comprimento e o máximo de diâmetro não deve exceder a 3/32pol. (2mm).
X X
Tabela 2.5- tRadução livre da tabela 6.1 do AWS D1.1:2000 (Cont.) 1. Um “X” indica aplicabilidade para o tipo da junta; a área sombreada indica não aplicabilidade.
Conforme pode ser observado, a tabela acima apresenta as dimensões máximas
das indicações permitidas para a inspeção visual e para testes superficiais, não
fazendo nenhuma distinção entre os métodos (partículas magnéticas ou líquidos
penetrantes), e depende da condição de carga da peça a ser inspecionada. Sendo assim, fica sendo muito difícil a aplicação desta especificação, pois a
indicação por partículas magnéticas é observada através do acúmulo do pó
85
ferromagnético sobre a descontinuidade e necessariamente a indicação é maior
que a descontinuidade, o que não é considerado pelo critério de aceitação acima.
Assim devemos rejeitar as indicações com dimensões acima do especificado.
2.13 REGISTRO DAS INDICAÇÕES
O registro das indicações produzidas por partículas magnéticas não é uma tarefa
simples de ser elaborada. Quando o registro é requerido por especificações ou
procedimento escrito, não somente a forma geométrica das indicações deverá ser
registrada no relatório, como também a localização física destas na peça
ensaiada, para uma perfeita rastreabilidade entre o documento e a peça. As
formas possíveis de serem registradas as indicações produzidas por partículas
magnéticas são as recomendadas pela norma ASTM E-1444, que segue:
2.13.1 DESCRIÇÃO ESCRITA
É a descrição escrita no relatório de ensaio da direção, comprimento, e número
das indicações nos croquis da peça.
2.13.2 FITA TRANSPARENTE
Para partículas via seca, pode ser utilizada uma fita adesiva transparente aplicada
sobre a indicação, em que as partículas irão ficar aderidas, podendo ser
transferidas para o relatório contendo informações adicionais sobre cada
indicação.
2.13.3 SPRAY PLÁSTICO
Uma outra forma de fazer com que as partículas ferromagnéticas fiquem aderidas
é através da aplicação de um spray de forma a ser obtido um filme plástico
transparente sobre a superfície inspecionada. O filme plástico contendo as
indicações é removido da peça e transferido para o relatório de ensaio,
introduzindo maiores detalhes e informações da inspeção.
86
2.13.4 PROCESSO FOTOGRÁFICO
Uma das formas mais utilizadas para registro das indicações produzidas por
partículas magnéticas é a utilização da fotografia ou vídeo. Este método permite
reproduzir com mais fidelidade a disposição das indicações de um modo geral,
podendo ainda ser transferidas ao relatório de ensaio. A fotografia pode ser por
meio de filme fotográfico ou pela utilização de câmaras digitais que agilizam mais
o processo, pois não requer revelação e permite imprimir as fotos diretamente no
relatório. O inconveniente deste método é que o inspetor necessita de ter noções
de fotografia para maior nitidez do registro.
É importante lembrar ao leitor que o requisito de registro de indicações produzidas
por partículas magnéticas são incomuns nesta inspeção, pois dada à facilidade
com que a técnica não destrutiva pode ser aplicada, os reparos podem ser
efetuados de imediato, reinspecionando a seguir, evitando assim o registro
detalhado das indicações produzidas. A prática de registro é mais comum quando
se trata de assistência técnica e manutenção, onde o relatório do ensaio contendo
todas as indicações serão objetos integrantes do orçamento para reparo ou ainda
cobertura proporcionada pela garantia da peça.
87
Figura 2.37 - Equipamento para iluminação por luz ultravioleta (luz negra) para uso com
partículas magnéticas fluorescentes. De acordo com a norma aplicável o nível mínimo da intensidade de luz na superfície deve ser de 1000 μ W/ cm2, medido com instrumento calibrado
e adequado a este tipo de luz. (Foto extraída do catálogo da Magnaflux)
Figura 2.38 - Indicação típica de trinca num eixo automotivo, obtido pela técnica de
magnetização por contato direto - método via seca com partículas visíveis com luz branca. (Foto extraída do filme “Ensaio por Partículas Magnéticas”)
2.14 SEGURANÇA NO ENSAIO
A segurança no manuseio das partículas magnéticas, secas ou úmidas, óleo,
condicionadores, solventes, devem ser descritos pelos fabricantes destes
produtos, no entanto devemos chamar a atenção para algumas características
ligadas à segurança no manuseio, tais como:
2.14.1 INFLAMABILIDADE
O ponto de fulgor dos produtos envolvidos no ensaio devem ser objetos de testes
pelos fabricantes destes, para prevenir a combustão de produtos na área de
inspeção.
88
2.14.2 RISCOS DE INALAÇÃO
Precauções contra inalação dos produtos, principalmente aqueles que serão
pulverizados, ou ainda proteção para pele, e exposição dos olhos. Estas
instruções devem ser relatadas pelos fabricantes destes produtos. 2.14.3 RISCOS À ELETRICIDADE
Os equipamentos de magnetização devem sofrer manutenção periódica no
sentido de prevenir quanto ao risco de choques elétricos, e ainda abertura de
arcos e ignição.
2.14.4 LUZ ULTRAVIOLETA
Como foi visto, é recomendado uma intensidade de luz negra sobre a superfície
da peça de 1000 µW/ cm2, e este deve também ser o limite máximo para
exposição da pele e olhos. Filtros trincados devem ser trocados imediatamente.
2.14.5 ADAPTAÇÃO AO AMBIENTE ESCURECIDO
O inspetor que realizará inspeção por partículas magnéticas usando partículas
fluorescentes, devem aguardar no mínimo 1 minuto após de ter entrado numa
área escurecida para que seus olhos se adaptem ao baixo nível de iluminação
antes de iniciar o ensaio.
89
3 ENSAIO POR ULTRA-SOM 3.1 PRINCÍPIOS BÁSICOS DO MÉTODO
3.1.1 INTRODUÇÃO
Sons extremamente graves ou agudos podem passar desapercebidos pelo
aparelho auditivo humano, não por deficiência deste, mas por caracterizarem
vibrações com freqüências muito baixas, até 20Hz (infra-som) ou com freqüências
muito altas acima de 20kHz (ultra-som), ambas inaudíveis.
Como sabemos, os sons produzidos em um ambiente quaisquer, refletem-se ou
reverberam nas paredes que consistem o mesmo, podendo ainda ser transmitidos
a outros ambientes.
Fenômenos como este apesar de simples e de serem freqüentes em nossa vida
cotidiana constituem os fundamentos do ensaio ultra-sônico de materiais.
No passado, testes de eixos ferroviários, ou mesmos sinos, eram executados
através de testes com martelo, em que o som produzido pela peça, denunciava a
presença de rachaduras ou trincas grosseiras pelo som característico.
Assim como uma onda sonora reflete ao incidir num anteparo qualquer, a
vibração ou onda ultra-sônica ao percorrer um meio elástico refletirá da mesma
forma, ao incidir num anteparo qualquer, a vibração ou onda ultra-sônica ao
percorrer um meio elástico, refletirá da mesma forma, ao incidir numa
descontinuidade ou falha interna a este meio considerado. Através de aparelhos
especiais, detectamos as reflexões provenientes do interior da peça examinada,
localizando e interpretando as descontinuidades.
90
Figura 3.1
3.1.2 FINALIDADE DO ENSAIO
O ensaio por ultra-som caracteriza-se num método não destrutivo que tem por
objetivo a detecção de defeitos ou descontinuidades internas, presentes nos mais
variados tipos ou forma de materiais ferrosos ou não ferrosos.
Tais defeitos são caracterizados pelo próprio processo de fabricação da peça ou
componentes a ser examinada como, por exemplo: bolhas de gás fundidos, dupla
laminação em laminados, micro-trincas em forjados, escorias em uniões soldadas
e muitos outros. Portanto, o exame ultra-sônico, assim como todo exame não destrutivo, visa
diminuir o grau de incerteza na utilização de materiais ou peças de
responsabilidades.
91
Figura 3.2 - Inspeção por ultra-som de um virabrequim.
Foto extraída de trabalho técnico da Krautkramer.
3.1.3 CAMPO DE APLICAÇÃO
Em 1929 o cientista Sokolov, fazia as primeiras aplicações da energia sônica para
atravessar materiais metálicos, enquanto que 1942 Firestone, utilizara o princípio
da ecosonda ou ecobatímetro, para exames de materiais. Somente em 1945 o
ensaio ultra-sônico iniciou sua caminhada em escala industrial, impulsionado
pelas necessidades e responsabilidades cada vez maiores. Hoje, na moderna
indústria, principalmente nas áreas de caldeiraria e estruturas marítimas, o exame
ultra-sônico, constitui uma ferramenta indispensável para garantia da qualidade
de peças de grandes espessuras, geometria complexa de juntas soldadas,
chapas.
Na maioria dos casos, os ensaios são aplicados em aços-carbonos, em menor
porcentagem em aços inoxidáveis. Materiais não ferrosos são difíceis de serem
examinados, e requerem procedimentos especiais.
3.2 LIMITAÇÕES EM COMPARAÇÃO COM OUTROS ENSAIOS
Assim como todo ensaio não-destrutivo, o ensaio ultra-sônico, possui vantagens e
limitações nas aplicações, como segue:
92
3.2.1 VANTAGENS EM RELAÇÃO A OUTROS ENSAIOS
O método ultra-sônico possui alta sensibilidade na detectabilidade de pequenas
descontinuidades internas, por exemplo:
Trincas devido a tratamento térmico, fissuras e outros de difícil detecção por
ensaio de radiações penetrantes (radiografia ou gamagrafia).
Para interpretação das indicações, dispensa processos intermediários, agilizando
a inspeção.
No caso de radiografia ou gamagrafia, existe a necessidade do processo de
revelação do filme, que via de regra demanda tempo do informe de resultados.
Ao contrário dos ensaios por radiações penetrantes, o ensaio ultra-sônico não
requer planos especiais de segurança ou quaisquer acessórios para sua
aplicação. A localização, avaliação do tamanho e interpretação das descontinuidades
encontradas são fatores intrínsecos ao exame ultra-sônico, enquanto que outros
exames não definem tais fatores. Por exemplo, um defeito mostrado num filme
radiográfico define o tamanho, mas não sua profundidade e em muitos casos este
é um fator importante para proceder a um reparo.
3.2.2 LIMITAÇÕES EM RELAÇÃO A OUTROS ENSAIOS
Requer grande conhecimento teórico e experiência por parte do inspetor.
O registro permanente do teste não é facilmente obtido.
Faixas de espessuras muito finas constituem uma dificuldade para aplicação do
método.
Requer o preparo da superfície para sua aplicação. Em alguns casos de inspeção
de solda, existe a necessidade da remoção total do reforço da solda, que
demanda tempo de fábrica.
93
Nenhum ensaio não destrutivo deve ser considerado o mais sensível ou o mais
completo, pois as limitações e as vantagens fazem com que aplicação de cada
ensaio seja objeto de análise e estudo da viabilidade de sua utilização, em
conjunto com os Códigos e Normas de fabricação. 3.3 VIBRAÇÕES MECÂNICAS
3.3.1 TIPOS DE ONDAS
Como já vimos, o teste ultra-sônico de materiais é feito com o uso de ondas
mecânicas ou acústicas colocadas no meio em inspeção, ao contrário da técnica
radiográfica, que usa ondas eletromagnéticas. Qualquer onda mecânica é
composta de oscilações de partículas discretas no meio em que se propaga. A
passagem de energia acústica no meio faz com que as partículas que compõem o
mesmo, execute o movimento de oscilação em torno na posição de equilíbrio,
cuja amplitude do movimento será diminuído com o tempo em posição de
equilíbrio, cuja amplitude do movimento será diminuído com o tempo em
decorrência da perda de energia adquirida pela onda. Se assumirmos que o meio
em estudo é elástico, ou seja, que as partículas que o compõem rigidamente
ligadas, mas que podem oscilar em qualquer direção, então podemos classificar
as ondas acústicas em quatro tipos:
Ondas longitudinais (Ondas de compressão): São ondas cujas partículas oscilam na direção de propagação da onda, podendo
ser transmitidas a sólidos, líquidos e gases.
94
Figura 3.3
No desenho acima se nota que o primeiro plano de partículas vibra e transfere
sua energia cinética para os próximos planos de partículas, e passam a oscilar.
Desta maneira, todo o meio elástico vibra na mesma direção de propagação da
onda (longitudinal), e aparecerão “zonas de compressão” e “zonas diluídas”. As
distâncias entre duas zonas de compressão determinam o comprimento de onda
(l).
Em decorrência do processo de propagação, este tipo de onda possui uma alta
velocidade de propagação, característica do meio.
Velocidades de Propagação das Ondas Longitudinais
Material Velocidade m/ s Ar 330
Alumínio 6.300Cobre 4.700Ouro 3.200Aço 5.900
Aço Inoxidável 5.800Nylon 2.600
Óleo (SAE 30) 1.700Água 1.480Prata 3.600
Titânio 6.100Níquel 5.600
Tungstênio 5.200Magnésio 5.800Acrílico 2.700
Aço Inoxidável 5.800Aço Fundido 4.800
Tabela 3.1
95
Ondas transversais (ou ondas de cisalhamento): Uma onda transversal é definida, quando as partículas do meio vibram na direção
perpendicular ao de propagação. Neste caso, observamos que os planos de
partículas, mantém-se na mesma distância um do outro, movendo-se apenas
verticalmente.
Figura 3.4
As partículas oscilam na direção transversal a direção de propagação, podendo
ser transmitidas somente a sólidos. As ondas transversais são praticamente
incapazes de se propagarem nos líquidos e gases, pelas características das
ligações entre partículas, destes meios. O comprimento de onda é à distância
entre dois “vales” ou dois “picos”.
Velocidades de Propagação das Ondas Transversais
Material Velocidade m/ s Ar -
Alumínio 3.100Cobre 2.300Acrílico 1.100
Alumínio 3.100Ouro 1.200Aço 3.200
Aço Inoxidável 3.100Aço Fundido 2.400
Nylon 1.100Óleo (SAE 30) -
Água -Prata 1.600
Titânio 3.100Níquel 3.000
Magnésio 3.000
Tabela 3.2 - - Fonte: Ultrasonic Testing, Krautkramer.
96
Ondas superficiais ou Ondas de Rayleigh São assim chamadas, pelas características de se propagar na superfície dos
sólidos. Devido ao complexo movimento oscilatório das partículas da superfície, a
velocidade de propagação da onda superficial entre duas fases diferentes é de
aproximadamente 10% inferior que a de uma onda transversal.
Para o tipo de onda superficial que não possui a componente normal, portanto se
propaga em movimento paralelo a superfície e transversal em relação à direção
de propagação recebe a denominação de ondas de “Love”.
Sua aplicação se restringe ao exame de finas camadas de material que recobrem
outros materiais.
Para ondas superficiais que se propagam com comprimento de onda próxima a
espessura da chapa ensaiada, neste caso a inspeção não se restringe somente a
superfície, mas todo o material e para esta particularidade denominamos as
ondas de “Lamb”.
As ondas de “Lamb” podem ser geradas a partir das ondas longitudinais incidindo
segundo um ângulo de inclinação em relação à chapa. A relação entre o ângulo e
velocidade é feita pela relação:
O ensaio ultra-sônico de materiais com ondas superficiais são aplicados com
severas restrições, pois somente são observados defeitos de superfícies e nestes
casos, existem processos mais simples para a detecção destes tipos de
descontinuidades, dentro dos ensaios não destrutivos como, por exemplo, de
líquidos penetrantes e partículas magnéticas, que em geral são de custo e
complexidade inferior ao ensaio ultra-sônico.
97
3.3.2 FREQÜÊNCIA, VELOCIDADE E COMPRIMENTO DE ONDA
Freqüência As ondas acústicas ou som propriamente dito, são classificados de acordo com
suas freqüências e medidos em ciclos por segundo, ou seja, o número de ondas
que passam por segundo pelo nossos ouvidos. A unidade “ciclos por segundos” é
normalmente conhecida por “Hertz”, abreviatura “Hz”.
Assim sendo se tivermos um som com 280Hz, significa que por segundo passam
280 ciclos ou ondas por nossos ouvidos. Note que freqüências acima de
20.000Hz são inaudíveis denominadas freqüências ultra-sônica.
Figura 3.5
Considera-se 20kHz o limite superior audível e denomina-se a partir desta,
freqüência ultra-sônica.
Velocidade de propagação Existem várias maneiras de uma onda sônica se propagar, e cada uma com
características particulares de vibrações diferentes.
Definimos “Velocidade de propagação” como sendo a distância percorrida pela
onda sônica por unidade de tempo. É importante lembrar que a velocidade de
propagação é uma característica do meio, sendo uma constante, independente da
freqüência.
98
Comprimento de Onda Quando atiramos uma pedra num lago de águas calmas, imediatamente criamos
uma perturbação no ponto atingido, formando assim, ondas superficiais circulares
que se propagam sobre a água. Neste simples exemplo, podemos imaginar o que
definimos anteriormente de freqüência como sendo o número de ondas que
passam por um observador fixo, também podemos imaginar a velocidade de
propagação pela simples observação e ainda podemos estabelecer o
comprimento entre dois picos de ondas consecutivos. A esta medida
denominamos comprimento de onda, e representaremos pela letra grega Lambda
“l“. 3.3.3 RELAÇÕES ENTRE VELOCIDADE, COMPRIMENTO DE ONDA E
FREQÜÊNCIA.
Considerando uma onda sônica se propagando num determinado material com
velocidade “V”, freqüência “f”, e comprimento de onda “ λ “, podemos relacionar
estes três parâmetros como segue:
V = λ . f
A relação acima permite calcular o comprimento de onda, pois a velocidade é em
geral conhecida e depende somente do modo de vibração e o material, por outro
lado à freqüência depende somente da fonte emissora, que também é conhecida.
Exemplo de aplicação: Uma onda longitudinal ultra-sônica, com freqüência 2 MHz é utilizada para
examinar uma peça de aço. Qual o comprimento de onda gerado no material?
Solução: Como vimos anteriormente, a faixa de freqüência normal utilizada para aplicações
industriais, compreende entre 1 MHz até 5 MHz. No exemplo acima a freqüência
de 2 MHz corresponde a 2 milhões de ciclos por segundos ou seja 2 x 106 Hz.
Teremos:
V= λ . f ou λ = fV
sendo V = 5900 m/ s vem que:
99
λ = 5900 m/ s metros 2 x 106 Hz
λ = 2950 x 106m ou λ = 2,95 mm
O conhecimento do comprimento de onda é de significante importância, pois se
relaciona diretamente com o tamanho do defeito a ser detectado. Em geral, o
menor diâmetro de uma descontinuidade a ser detectada no material deve ser da
ordem de λ / 2. Assim se inspecionarmos um material de velocidade de
propagação de 5900 m/s com uma freqüência de 1 MHz , a mínima
descontinuidade que poderemos detectar será de aproximadamente 2,95 mm de
diâmetro.
3.3.4 DEFINIÇÕES DE BELL, DECIBELL E GANHO
Nível de Intensidade Sonora: O “Bell” abreviado “B” é uma grandeza que define o nível de intensidade sonora
(NIS) que compara as intensidades de dois sons quaisquer, como segue:
N.I.S. = log 0II B
Onde I e 0I são duas intensidades sonoras medidas em Watts por centímetros quadrados (W/cm2).
Por outro lado, o decibell equivale a 1/10 do Bell e em geral é normalmente
utilizado para medidas de N.I.S., e, portanto a equação será:
N.I.S. = 10log 0II dB
Entretanto, a teoria dos movimentos harmônicos na propagação ondulatória nos
ensina que a intensidade de vibração é proporcional ao quadrado da amplitude
sonora, I = (A)2 ,e portanto devemos reescrever na forma de N.A.S (nível de
amplitude sonora):
N.A.S. = 10log 2
0
2
)A()A( dB (Nível de amplitude sonora).
N.A.S. = 20log 0A
A dB
Esta relação pode ser entendida como sendo a comparação efetuada por um
100
sistema eletrônico de duas amplitudes de sinais, emitida e recebida pelo
transdutor ultra-sônico, ou simplesmente conhecido por “Ganho”.
Exemplo de aplicação: Quais são os ganhos correspondentes a uma queda de 50% e 20% nas
amplitudes de dois sinais na tela do aparelho de ultra-som, como mostrado na
figura abaixo?
Figura 3.6
a) para variação de 50%
G = 20log 0,50 dB
G = - 6 dB
b) para variação de 20%
G = 20log 0,20 dB
G = -14 dB
101
3.3.5 PROPAGAÇÃO DAS ONDAS ACÚSTICAS NO MATERIAL
Campo Próximo ou Zona de Fresnel Para o entendimento dos fenômenos que iremos descrever a seguir, imaginemos
que o cristal piezelétrico gerador de ondas ultra-sônicas, seja formado por infinitos
pontos oscilantes de forma que cada ponto produz ondas que se propagam no
meio.
Tal qual uma pedra que caindo num lago de águas calmas produzirá ondas
circulares na superfície, cada ponto do cristal também se comportará da mesma
forma, ou seja, produzirá ondas esféricas no meio de propagação, como mostra a
figura seguinte. Os pontos selecionados 1, 2 e 3 do cristal emitem ondas esféricas
que se propagam no meio.
Figura 3.7
Note que nas proximidades do cristal existe uma interferência ondulatória muito
grande entre as ondas provenientes dos pontos 1, 2 e 3 do cristal. À medida que
nos afastamos do cristal, as interferências vão diminuindo e desaparecendo,
tornando uma só frente de onda. À região próxima do cristal onde os fenômenos
acima se manifestam denomina-se Campo Próximo com uma extensão N que
depende do diâmetro do cristal, e do comprimento de onda λ da vibração,
podendo ser calculado pela fórmula:
102
onde:
Def = diâmetro efetivo do cristal. É a área acusticamente efetiva do cristal, que
depende da sua forma geométrica. Para cristais circulares, Def = 0,97 x diâmetro do cristal.
Para cristais retangulares, Def = 0,97 x metade do comprimento do lado maior do
cristal.
f = freqüência ultra-sônica
λ = comprimento de onda
v = velocidade de propagação do som = λ x f
Exemplo de aplicação: Calcule o campo próximo de um transdutor normal com diâmetro 10mm e
freqüência de 4MHz, quando inspecionando aço.
Solução: Para o cálculo é necessário que as unidades estejam coerentes, ou seja: “D” em mm, “f” em Hz, “ λ ” em mm e “v” em mm/ s
Sendo: v = 5900m/ s ou 5900.000mm/ s, para o aço.
N = Def.2/ 4. λ ou N = Def.2.f / 4.v = 102 x 4.000.000 / 4 x 5900.000mm
N = 16mm
O campo próximo representa para efeitos práticos, uma dificuldade na avaliação
ou detecção de pequenas descontinuidades, isto é, menores que o diâmetro do
transdutor. Portanto o inspetor de ultra-som deve ficar atento a este problema.
3.3.6 CAMPO LONGÍNQUO OU DISTANTE OU ZONA DE FRAUNHOFER
A região que vem a seguir do campo próximo é o campo longínquo também
denominado pela literatura especializada de Campo Distante. Nesta região a onda
sônica se diverge igual ao facho de luz de uma lanterna em relação ao eixo
central e ainda diminui de intensidade quase que com o inverso do quadrado da
distância.
Em razão da existência do campo próximo, do campo distante, e do fenômeno da
divergência, na literatura o campo sônico tem a forma geral visualizada conforme
103
o desenho abaixo.
Figura 3.8
Campo sônico de um transdutor, representado pela região (1) onde pequenas
descontinuidades são difíceis de serem detectadas (campo próximo), a região (2)
descontinuidades maiores podem ser detectadas e na região (3) onde qualquer
descontinuidade compatível com o comprimento de onda pode ser detectada. As
linhas limítrofes do campo no desenho são didáticas, e não significa que não
existe nenhuma vibração sônica nestas regiões. 3.3.7 ATENUAÇÃO SÔNICA
A onda sônica ao percorrer um material qualquer sofre, em sua trajetória efeitos
de dispersão e absorção, resultando na redução da sua energia ao percorrer um
material qualquer.
A dispersão deve-se ao fato da matéria não ser totalmente homogênea, contendo
interfaces naturais de sua própria estrutura ou processo de fabricação. Por
exemplo, fundidos, que apresentam grãos de grafite e ferrita com propriedades
elásticas distintas. Para esta mudança das características elásticas de ponto num
mesmo material denominamos anisotropia, que é mais significativo quando o
tamanho de grão for 1/10 do comprimento de onda.
O fenômeno da absorção ocorre sempre que uma vibração acústica percorre um
meio elástico. É a energia cedida pela onda para que cada partícula do meio
execute um movimento de oscilação, transmitindo a vibração às outras partículas
do próprio meio.
Portanto, o resultado dos efeitos de dispersão e absorção quando somados
resultam na atenuação sônica. Na prática, este fenômeno poderá ser visualizado,
quando observamos na tela do aparelho de ultra-som, vários ecos de reflexão de
104
fundo provenientes de uma peça com superfícies paralelas. As alturas dos ecos
diminuem com a distância percorrida pela onda.
O fenômeno da atenuação é importante quando inspecionamos peças em que
este fator pode inviabilizar o ensaio. É o caso de soldas em aços inoxidáveis
austeníticos, peças forjadas em aços inoxidáveis, que são exemplos clássicos
desta dificuldade. O controle e avaliação da atenuação nestes casos é razão para
justificar procedimentos de ensaio especiais.
A tabela abaixo apresenta alguns valores de atenuação.
Material aço Cr-Ni Atenuação sônica em dB/ mm forjados 0,009 a 0,010
laminados 0,018 fundidos 0,040 a 0,080
Tabela 3.3
A avaliação da atenuação do material na prática pode ser feita através do uso dos
diagramas AVG ou DGS mostrados a seguir.
3.3.8 DIVERGÊNCIA DO FEIXE SÔNICO
Outro fenômeno físico que é responsável pela perda de parte da intensidade ou
energia da onda sônica é a divergência que se pronuncia à medida que
afastamos da fonte emissora das vibrações acústicas.
Tal fenômeno pode ser observado quando detectamos um defeito pequeno com o
feixe ultra-sônico central do transdutor, em que nestas condições a amplitude do
eco na tela do aparelho é máxima. Porém quando afastamos o transdutor
lateralmente ao defeito, a amplitude diminui, indicando uma queda da
sensibilidade de detecção do mesmo defeito. Este fenômeno é medido pelo fator
"k" na fórmula da divergência, e assume valores mostrados na tabela abaixo.
Quanto mais a borda do feixe sônico incide na descontinuidade, menor será a
amplitude do eco e que está relacionado ao fator "k".
105
Figura 3.9
Valores de K em função da redução da intensidade sônica
K % dB 0,37 71 -3,0 0,51 50 -6,0 0,70 25 -12,0 0,87 10 -20,0 0,93 6 -24,0 1,09 1 -40,0 1,22 0 0
Tabela 3.4 A figura abaixo mostra a diferença de sensibilidade (altura do eco de reflexão)
quando detectamos o defeito com o feixe ultra-sônico central (1) e quando
detectamos o mesmo defeito com a borda do feixe ultra-sônico (2).
106
Figura 3.10
3.3.9 GERAÇÃO DAS ONDAS ULTRA-SÔNICAS
Efeito Piezelétrico: As ondas ultra-sônicas são geradas ou introduzidas no material através de um
elemento emissor com uma determinada dimensão e que vibra com uma certa
freqüência. Este emissor pode se apresentar com determinadas formas (circular,
retangular). Tanto o elemento emissor e receptor, são denominados transdutores,
também designados por cabeçotes.
Diversos materiais (cristais) apresentam o efeito piezelétrico. Se tomarmos uma
lâmina de certo formato (placa) e aplicarmos uma pressão sobre o mesmo,
surgem em sua superfície cargas elétricas. O efeito inverso também é verdadeiro:
se aplicarmos dois eletrodos sobre as faces opostas de uma placa de cristal
piezelétrico, de maneira que possamos carregar as faces eletricamente, a placa
comporta-se como se estivesse sobre pressão e diminui de espessura.
O cristal piezelétrico pode transformar a energia elétrica alternada em oscilação
mecânica e transformar a energia mecânica em elétrica.
107
cristal piezoelétrico revestido com prata metálica em ambos os lados.
Contatos elétricos –1000 V, AC
Cargas elétricas geradas na superfície do cristal
Vibrações mecânicas
cristal piezoelétrico revestido com prata metálica em ambos os lados.
Contatos elétricos –1000 V, AC
Cargas elétricas geradas na superfície do cristal
Vibrações mecânicas Figura 3.11 - Figura mostrando a contração e expansão do cristal quando submetido a uma alta tensão alternada na mesma freqüência ultra-sônica emitida pelo cristal. É um
processo de transformação da energia elétrica em energia mecânica.
Tal fenômeno é obtido aplicando-se eletrodos no cristal piezelétrico com tensão
elétrica alternada da ordem de 1000V, de maneira que o mesmo se contrai e se
estende ciclicamente. Se tentarmos impedir esse movimento à placa transmite
esforços de compressão as zonas adjacentes, emitindo uma onda longitudinal,
cuja forma depende da freqüência de excitação e das dimensões do cristal.
Tipos de Cristais: Materiais piezelétricos são: o quartzo, o sulfato de lítio, o titanato de bário, o
metaniobato de chumbo. Quartzo é um material piezelétrico mais antigo,
translúcido e duro como o vidro sendo cortado a partir de cristais originários no
Brasil. Sulfato de Lítio é um cristal sensível à temperatura e pouco resistente.
Titanato de Bário e metaniobato de chumbo são materiais cerâmicos que
recebem o efeito piezelétrico através de polarização.
Esses dois cristais são os melhores emissores, produzindo impulsos ou ondas de
grande energia, se comparadas com aquelas produzidas por cristais de quartzo.
Para a inspeção ultra-sônica, interessa não só a potência de emissão, mas
também a sensibilidade da recepção (resolução). A freqüência ultra-sônica gerada
pelo cristal dependerá da sua espessura, cerca de 1mm para 4 MHz e 2mm para
2MHz.
Os cristais acima mencionados são montados sobre uma base de suporte (bloco
amortecedor) e junto com os eletrodos e a carcaça externa constituem o
transdutor ou cabeçote propriamente dito. Existem três tipos usuais de
transdutores: Reto ou Normal, o angular e o duplo - cristal.
108
3.3.10 TRANSDUTORES NORMAIS OU RETOS
São assim chamados os cabeçotes monocristais geradores de ondas
longitudinais normal à superfície de acoplamento.
Os transdutores normais são construídos a partir de um cristal piezelétrico colado
num bloco rígido denominado de amortecedor e sua parte livre protegida ou uma
membrana de borracha ou uma resina especial. O bloco amortecedor tem função
de servir de apoio para o cristal e absorver as ondas emitidas pela face colada a
ele.
O transdutor emite um impulso ultra-sônico que atravessa o material a inspecionar
e reflete nas interfaces, originando o que chamamos ecos. Estes ecos retornam
ao transdutor e gera, no mesmo, o sinal elétrico correspondente.
A face de contato do transdutor com a peça deve ser protegida contra desgastes
mecânicos podendo utilizar membranas de borracha finas e resistentes ou
camadas fixas de epóxi enriquecido com óxido de alumínio.
Em geral os transdutores normais são circulares, com diâmetros de 5 a 24mm,
com freqüência de 0,5; 1; 2; 2,5; 5 e 6MHz. Outros diâmetros e freqüências
existem, porém para aplicações especiais.
O transdutor normal tem sua maior utilização na inspeção de peças com superfícies paralelas ou quando se deseja detectar descontinuidade na direção perpendicular à superfície da peça. É o exemplo de chapas, fundidos e forjados.
Transdutor Normal ou Reto
O transdutor normal tem sua maior utilização na inspeção de peças com superfícies paralelas ou quando se deseja detectar descontinuidade na direção perpendicular à superfície da peça. É o exemplo de chapas, fundidos e forjados.
Transdutor Normal ou Reto
Figura 3.12
109
3.3.11 TRANSDUTORES ANGULARES
A rigor, diferem dos transdutores retos ou normais pelo fato do cristal formar um
determinado ângulo com a superfície do material. O ângulo é obtido, inserindo
uma cunha de plástico entre o cristal piezelétrico e a superfície. A cunha pode ser
fixa, sendo então englobada pela carcaça ou intercambiável. Neste último caso
temos um transdutor normal que é preso com parafusos que fixam a cunha à
carcaça. Como na prática operamos normalmente com diversos ângulos (35, 45,
60, 70 e 80 graus) esta solução é mais econômica já que um único transdutor
com várias cunhas é de custo inferior, porem necessitam de maiores cuidados no
manuseio.
O ângulo nominal, sob o qual o feixe ultra-sônico penetra no material vale
somente para inspeção de peças em aço; se o material for outro, deve-se calcular
o ângulo real de penetração utilizando a Lei de Snell. A mudança do ângulo deve-
se à mudança de velocidade no meio. O cristal piezelétrico com dimensões que podem variar entre 8 x 9mm até 15 x
20mm, somente recebe ondas ou impulsos ultra-sônicos que penetram na cunha
em uma direção paralela à de emissão, em sentido contrário. A cunha de plástico
funciona como amortecedor para o cristal piezelétrico, após a emissão dos
impulsos.
O transdutor angular é muito utilizado na inspeção de soldas e quando a descontinuidade está orientada perpendicularmente à superfície da peça
Transdutor Angular
O transdutor angular é muito utilizado na inspeção de soldas e quando a descontinuidade está orientada perpendicularmente à superfície da peça
Transdutor Angular Figura 3.13
110
3.3.12 TRANSDUTORES DUPLO-CRISTAL OU SE
Existem problemas de inspeção que não podem ser resolvidos nem com
transdutores retos nem com angulares. Quando se trata de inspecionar ou medir
materiais de reduzida espessura, ou quando se deseja detectar descontinuidades
logo abaixo da superfície do material, a “zona morta” existente na tela do aparelho
impede uma resposta clara.
O cristal piezelétrico recebe uma “resposta” num espaço de tempo curto após a
emissão, não tendo suas vibrações sido amortecidas suficientemente.
Neste caso, somente um transdutor que separa a emissão da recepção pode
ajudar. Para tanto, desenvolveu-se o transdutor de duplo-cristal, no qual dois
cristais são incorporados na mesma carcaça, separados por um material acústico
isolante e levemente inclinados em relação à superfície de contato. Cada um
deles funciona somente como emissor ou somente como receptor, sendo
indiferente qual deles exerce qual função. São conectados ao aparelho de ultra-
som por um cabo duplo; o aparelho deve ser ajustado para trabalhar agora com 2
cristais.
Os cristais são montados sobre blocos de plástico especial de baixa atenuação.
Devido a esta inclinação, os transdutores duplos não podem ser usados para
qualquer distância (profundidade). Possuem sempre uma faixa de inspeção ótima,
que deve ser observada. Fora desta zona a sensibilidade se reduz. Em certos
casos estes transdutores duplos são utilizados com “focalização”, isto é, feixe é
concentrado em uma determinada zona do material para a qual se deseja máxima
sensibilidade.
O transdutor duplo-cristal é o mais indicado e largamente utilizado nos
procedimentos de medição de espessura por ultra-som.
111
O transdutor duplo-cristal tem sua utilização maior, na detecção de descontinuidades próximas da superfície, acima de 3mm de profundidade e em medição de espessura, em razão do seu feixe sônico ser focalizado. Em geral, por ocasião da aquisição deste transdutor , deve se verificar qual a faixa de espessura que se pretende medir e qual o modelo ideal para esta aplicação.
Transdutor Duplo-Cristal ou SE
O transdutor duplo-cristal tem sua utilização maior, na detecção de descontinuidades próximas da superfície, acima de 3mm de profundidade e em medição de espessura, em razão do seu feixe sônico ser focalizado. Em geral, por ocasião da aquisição deste transdutor , deve se verificar qual a faixa de espessura que se pretende medir e qual o modelo ideal para esta aplicação.
Transdutor Duplo-Cristal ou SE Figura 3.14
3.3.13 ACOPLANTES
Ao acoplarmos o transdutor sobre a peça a ser inspecionada, imediatamente
estabelece uma camada de ar entre a sapata do transdutor e a superfície da
peça. Esta camada de ar impede que as vibrações mecânicas produzidas pelo
transdutor se propaguem para a peça em razão das características acústicas
(impedância acústica) muito diferente do material a inspecionar.
A impedância acústica "Z" é definida como sendo o produto da densidade do meio
(ρ ) pela velocidade de propagação neste meio (V), (Z= ρ x V ) e representa a
quantidade de energia acústica que se reflete e transmite para o meio. Como
exemplo podemos citar que a interface água e aço, apenas transmite 12% e
reflete 88% da energia ultra-sônica.
Por esta razão, deve-se usar um líquido que estabeleça uma redução desta
diferença , e permita a passagem das vibrações para a peça. Tais líquidos,
denominados líquido acoplante são escolhidos em função do acabamento
superficial da peça, condições técnicas, tipo da peça. A tabela abaixo descreve
alguns acoplantes mais utilizados.
Os acoplantes devem ser selecionados em função da rugosidade da superfície da
área de varredura, o tipo de material, forma da peça, dimensões da área de
varredura e posição para inspeção.
112
Impedância Acústica de Alguns Materiais e Acoplantes
Acoplante Densidade (g/ cm3)
Velocidade da onda long. (m/ s)
Impedância Acústica (g/ cm2 .s)
Óleo (SAE 30) 0,9 1700 1,5 x 105 Água 1,0 1480 1,48 x 105 Glicerina 1,26 1920 2,4 x 105 Carbox Metil Celulose (15 g/ l) 1,20 2300 2,76 x 105 Aço 7,8 5900 46 x 105 Ar ou gás 0,0013 330 0,00043 x 105 Aço inoxidável 7,8 5800 45,4 x 105 Alumínio 2,7 6300 17,1 x 105 Acrílico 1,18 2700 3,1 x 105
Tabela 3.5 - Fonte: SONIC Instruments - catálogo de fórmulas e dados.
3.3.14 DIAGRAMAS AVG OU DGS
Os diagramas AVG ou DGS foram preparados para facilitar a avaliação de uma
série de parâmetros do ensaio ultra-sônico relacionados ao material, o feixe
sônico, o tamanho mínimo da descontinuidade detectável por um determinado
transdutor, e outros. A figura abaixo ilustra um diagrama específico para o
transdutor do tipo normal de ondas longitudinais, com 2MHz de freqüência,
fornecido pelo fabricante Krautkramer.
O diagrama abaixo foi elaborado mediante o estudo da resposta do transdutor em
termos de ganho, dos ecos provenientes de vários furos de fundo chato usinados
numa peça de aço a diversas profundidades, resultando assim as curvas
mostradas no diagrama para cada furo.
A título de exemplo de aplicação e uso do diagrama podemos observar que o
comprimento do campo próximo do transdutor B 2 S é aproximadamente 50mm,
pois a partir da profundidade de 50mm no diagrama o comportamento das curvas
tem a forma linear. Outra característica que podemos observar no diagrama é que
só é possível à detecção de um refletor com 1mm de diâmetro equivalente até
600mm de profundidade para este transdutor.
Uma aplicação interessante do diagrama AVG é a determinação da atenuação
sônica do material. Freqüentemente é requerida a determinação da atenuação
sônica de um material para comparar com o critério da qualidade requerido,
principalmente em forjados, fundidos nas mais variadas aplicações. A título de
exemplo vamos supor uma peça de aço com 100mm de espessura onde foi
acoplado um transdutor normal B 2 S na superfície.
113
Figura 3.15 - Diagrama AVG ou DGS extraído do "data-sheet" publicado pela Krautkramer para o
transdutor normal B 2 S. O percurso sônico no interior da peça será igual a duas vezes a espessura desta
equivalente a 200mm. O 10 eco de fundo deve ser ajustado para uma altura de
80% da tela. Sem alterar o controle de ganho do aparelho de ultra-som, é feita a
leitura da diferença de altura entre o 10 eco de fundo e o 20 eco de fundo. No
nosso exemplo a diferença foi de 8 dB.
No diagrama AVG é feita a leitura correspondente a queda da intensidade sônica
com a distância percorrida devido à divergência, no diagrama é lido sobre a curva
do eco de fundo para 200mm e 400 mm resultando em -6dB. Portanto a
atenuação será igual a 8 dB - 6dB/ 200mm, ou seja 0,01 dB/ mm para freqüência
de 2 MHz.
114
Figura 3.16 - Determinação do tamanho do refletor equivalente no Diagrama DGS.
A determinação do tamanho de descontinuidades pelo método AVG ou DGS
somente é aplicável a descontinuidades menores que o diâmetro do transdutor. A
determinação do tamanho da descontinuidade é feita por comparação ao refletor
equivalente no diagrama AVG ou DGS, seguindo as seguintes etapas: A título de
exemplo, vamos considerar um transdutor normal B 2 S e uma peça forjada com
superfícies paralelas de espessura 250mm contendo um pequeno refletor a uma
profundidade de 200mm a ser determinado.
O eco de fundo deve ser ajustado de forma que sua altura esteja a 80% da altura
da tela, numa região da peça isenta de descontinuidades;
O transdutor deve ser posicionado sobre a descontinuidade, e o eco
correspondente deve ser maximizado;
Com auxílio do controle de ganho, deve ser feita a leitura em “dB” da diferença
entre o eco da descontinuidade e o de fundo a 80% da tela. Vamos considerar a
título de exemplo +14 dB;
No diagrama AVG do transdutor B 2 S levanta-se uma perpendicular na
profundidade de 250mm até encontrar a curva do eco de fundo no diagrama;
A partir deste ponto, na mesma perpendicular, reduzir 14 dB, e seguir
paralelamente ao eixo da profundidade (eixo x) até cruzar com a perpendicular
referente à profundidade da descontinuidade (200mm);
115
Figura 3.17
A partir do ponto de cruzamento, fazer a leitura da curva do refletor que estiver
mais próxima, que no caso será 8mm. Este deve ser considerado o tamanho do
refletor equivalente encontrado.
3.4 TÉCNICAS DE INSPEÇÃO
A inspeção de materiais por ultra-som pode ser efetuada através de dois métodos
ou técnicas como segue.
3.4.1 TÉCNICA DE IMPULSO-ECO OU PULSO-ECO
É a técnica onde somente um transdutor é responsável por emitir e receber as
ondas ultra-sônicas que se propagam no material. Portanto, o transdutor é
acoplado em somente um lado do material, podendo ser verificada a profundidade
da descontinuidade, suas dimensões, e localização na peça.
116
Figura 3.18 - Técnica Impulso-Eco.
Figura 3.19 - Inspeção de barras pela técnica pulso-eco por
contato direto, usando transdutor normal de 12mm de diâmetro.
3.4.2 TÉCNICA DE TRANSPARÊNCIA
É uma técnica onde são utilizados dois transdutores separados, um transmitindo e
outro recebendo as ondas ultra-sônicas. Neste caso é necessário acoplar os
transdutores nos dois lados da peça, de forma que estes estejam perfeitamente
alinhados. Este tipo de inspeção, não se pode determinar a posição da
descontinuidade, sua extensão, ou localização na peça, é somente um ensaio do
tipo passa-não-passa.
117
Figura 3.20 - Técnica de Transparência.
A técnica de transparência pode ser aplicada para chapas, juntas soldadas,
barras e o intuito destes ensaios é estabelecer um critério comparativo de
avaliação do sinal recebido, ou seja, da altura do eco na tela.
A altura do sinal recebido na técnica de transparência varia em função da
quantidade e tamanho das descontinuidades presentes no percurso das vibrações
ultra-sônicas. Sendo assim o inspetor não sabe analisar as características das
indicações, porém compara a queda do eco com uma peça sem descontinuidades
podendo assim estabelecer critérios de aceitação do material fabricado.
Este método pode ser aplicado a chapas fabricadas em usinas, barras forjadas ou
fundidas, e em alguns casos em soldas.
3.5 APARELHAGEM
Descrição dos Aparelhos Medidores de Espessura por ultra-som Os medidores de
espessura por ultra-som podem se apresentar com circuitos digitais ou
analógicos, e são aparelhos simples que medem o tempo do percurso sônico no
interior do material, através da espessura, registrando no display o espaço
percorrido, ou seja, a própria espessura. Operam com transdutores duplo cristal, e
possuem exatidão de décimos ou até centésimos dependendo do modelo.
118
Figura 3.21 - Medidor de Espessura Digital Ultra-Sônico.
São aparelhos bastante úteis para medição de espessuras de chapas, tubos,
taxas de corrosão em equipamentos industriais, porém para a obtenção de bons
resultados, é necessária sua calibração antes do uso, usando blocos com
espessuras calibradas e de mesmo material a ser medido, com o ajuste correto
da velocidade de propagação do som do aparelho.
Os aparelhos medidores modernos de espessura digitais são dotados de circuitos
de memória que podem armazenar centenas de dados referentes a espessuras
medidas e após, conectando na impressora, pode-se obter um relatório completo
das medidas efetuadas e as condições usadas.
3.5.1 DESCRIÇÃO DO APARELHO BÁSICO DE ULTRA-SOM
Observe agora a figura abaixo, mostrando um transdutor ultra-sônico acoplado
numa peça com espessura de 8mm, e a tela ao lado do aparelho mostrando o eco
"E2”, proveniente da espessura da peça.
119
Figura 3.22
Vamos analisar o que está ocorrendo:
O cristal piezelétrico do transdutor transmite à peça uma onda ultra-sônica
perpendicularmente à superfície que percorre a espessura total de 8mm do metal;
A onda incide na interface no fundo da peça, retorna ao cristal e este produz um
sinal elétrico que será amplificado e registrado na tela do aparelho na forma do
pulso ou eco, identificado na figura como "E2";
O caminho do som percorreu a espessura de 8mm de ida e mais 8mm na volta -
isto sempre ocorre na inspeção por ultra-som os circuitos do aparelho
compensam este fenômeno dividindo por 2 os registros na tela.
Assim, portanto, o eco na tela do aparelho representa o caminho percorrido pelo som, em apenas uma vez a espessura, denominado de “Eco de Fundo”, que no caso da figura foi de 8mm.
É importante mencionar que o som que percorre a espessura do metal se reflete
nas interfaces formadas pelo fundo da peça e a superfície da peça, de forma
contínua, isto é, o ultra-som emitido pelo cristal do transdutor realiza no interior da
peça um movimento de zig-zag de ida e volta, se refletindo no fundo da peça e
superfície, continuadamente.
120
Figura 3.23
Para cada incidência do ultra-som na superfície oposta de acoplamento do cristal,
um sinal será transmitido ao aparelho e um eco correspondente a este sinal será
visualizado na tela. Portanto será possível observar vários ecos de reflexão de
fundo correspondente à mesma espessura.
Basicamente, o aparelho de ultra-som contém circuitos eletrônicos especiais, que
permitem transmitir ao cristal piezelétrico, através do cabo coaxial, uma série de
pulsos elétricos controlados, transformados pelo mesmo em ondas ultra-sônicas.
Figura 3.24 - Aparelho de ultra-som marca Panametrics à esquerda e aparelho Krautkramer USM-2 à direita.
Da mesma forma, sinais captados no cristal são mostrados na tela do tubo de
raios catódicos em forma de pulsos luminosos denominados “ecos”, que podem
ser regulados tanto na amplitude, como posição na tela graduada e se constituem
no registro das descontinuidades encontradas no interior do material.
121
Figura 3.25 - Aparelho de ultra-som digital marca Krautkramer, mod. USN-52.
Em geral, os fabricantes oferecem vários modelos de aparelhos com maiores ou
menores recursos técnicos, que possibilitam sua utilização nas mais variadas
aplicações industriais, entretanto, alguns controles e funções básicas devem ser
conhecidos para ser possível sua utilização, que veremos a seguir.
Quer seja analógico ou digital, todos os aparelhos apresentam os controles
básicos mínimos que permitem utilizar o aparelho para qualquer aplicação prática,
como seguem:
Escolha da função: Todo aparelho possui entradas de conectores dos tipos BNC (aparelhos de
procedência norte-americana) ou Lemo (aparelhos de procedência alemã), para
permitir de transdutores monocristal de duplo-cristal.
Potência de emissão: Está diretamente relacionado com a amplitude de oscilação do cristal ou tamanho
do sinal transmitido. Em geral os aparelhos apresentam níveis de potência
através de uma chave seletora em número de 2 até 5 posições.
122
Controle da escala Controle da velocidade
Controle monitor
zeragem
foco
Controle de ganho
Supressor de ruídos
liga-desl.Ajuste da energia e método
Entradas do cabo coaxial
Controle da escala Controle da velocidade
Controle monitor
zeragem
foco
Controle de ganho
Supressor de ruídos
liga-desl.Ajuste da energia e método
Entradas do cabo coaxial Figura 3.26 - Aparelho Analógico Básico de ultra-som, marca Krautkramer mod. USM-2.
seleciona a variação fina do ganho
grupo de 4 funções para acesso rápido
Led para indicação de alarmeseleciona o step do ganho
referência do eco da tela
congela a tela
amplificador da porta (gate)
grupo de função ativa para aumentar a tela A-Scan
possibilidade de documentação variada
trava para prevenir ajustes acidentais
conectores dos transdutoresseleciona o menu grupo de funções
seleciona a medição da leitura das indicações da tela A-Scan
ajuste do ganho
indicador da bateria
formato grande de leitura na tela A-Scan
eco com alto contraste
linha de base de medição
linha de operação do instrumento (status)
linha do menu e do grupo de funções
liga/ desligaaltera entre o grupo de funções principais e as inferiores
seleciona a variação fina do ganho
grupo de 4 funções para acesso rápido
Led para indicação de alarmeseleciona o step do ganho
referência do eco da tela
congela a tela
amplificador da porta (gate)
grupo de função ativa para aumentar a tela A-Scan
possibilidade de documentação variada
trava para prevenir ajustes acidentais
conectores dos transdutoresseleciona o menu grupo de funções
seleciona a medição da leitura das indicações da tela A-Scan
ajuste do ganho
indicador da bateria
formato grande de leitura na tela A-Scan
eco com alto contraste
linha de base de medição
linha de operação do instrumento (status)
linha do menu e do grupo de funções
liga/ desligaaltera entre o grupo de funções principais e as inferiores
Figura 3.27 - Aparelho Digital marca Krautkramer Mod. USN-50/ 52.
Ganho: Está relacionado com a amplitude do sinal na tela ou amplificação do sinal
recebido pelo cristal. Os aparelhos apresentam um ajuste fino e grosseiro,
calibrado em “dB”, num mesmo controle ou separados. Nos aparelhos digitais,
pode-se ajustar o controle fino em avanços de até 0,5 dB, impossíveis nos
aparelhos analógicos.
Escala:
123
As graduações na tela do aparelho podem ser modificadas conforme a
necessidade, para tanto a chave vem calibrada em faixas fixas (ex: 10, 50, 250 ou
1000mm). Para os aparelhos digitais, a escala é automática, isto é uma vez,
calibrada uma escala qualquer, as outras mantém a proporcionalidade.
Velocidade de propagação:
A velocidade de propagação ao ser alterada no aparelho nota-se claramente que
o eco de reflexão produzido por uma interface, muda de posição na tela do
osciloscópio, permanecendo o eco original em sua posição inicial.
O aparelho de ultra-som é basicamente ajustado para medir o tempo de percurso
do som na peça ensaiada através da relação: S = v x t onde o espaço percorrido
(S) é proporcional do tempo (t) e a velocidade de propagação (n), no material,
ajusta-se a leitura para unidade de medida (cm, m, etc.).
Nos aparelhos, dependendo do modelo e fabricante, poderá existir um controle da
velocidade ou simplesmente um controle que trabalha junto com o da escala do
aparelho. No primeiro caso, existe uma graduação de velocidade (m/ s) em
relação aos diferentes materiais de ensaio ultra-sônico. Nos aparelhos digitais o
ajuste de velocidade é separado e deve ser ajustado corretamente para uma
perfeita calibração da escala.
3.5.2 CUIDADOS REFERENTES À CALIBRAÇÃO
No capítulo a seguir será discutido em detalhes, o significado e importância da
calibração do aparelho de ultra-som. No entanto, o operador deverá proceder a
uma recalibração dos instrumentos e acessórios sempre que:
• Houver trocas de transdutores no decorrer de inspeção
• O aparelho for desligado
• Transcorrer 90 minutos com o aparelho ligado
• Houver troca de operadores
Os aparelhos de ultra-som devem ter o ganho e escala calibrados conforme a
norma BSI 4331 Part.1 ou ASME* Sec.V. como segue;
Na verificação da calibração da linearidade vertical do aparelho de ultra-som,
executando no controle de ganho as variações conforme o recomendado pela
124
tabela abaixo, e verificando na tela do aparelho, as amplitudes dos ecos
provenientes do furo de diâmetro 1,5mm do bloco de calibração V1. Caso as
amplitudes dos ecos não correspondam ao esperado, deve-se concluir que o
aparelho necessita de manutenção, e deve ser enviado à assistência técnica
especializada.
Verificação da Linearidade Vertical do Aparelho de Ultra-Som Conforme da Norma BS* - 4331 Part.1
Ganho (dB) Altura esperada do eco em relação à altura da tela (%)
Limites aceitáveis da altura do eco
+2 100 não menor que 90% 0 80 - -6 40 35% a 45%
-18 10 8% a 12%
-24 5 deve ser visível acima da linha de base
Tabela 3.6
Uma outra forma de verificar a linearidade vertical do aparelho de ultra-som é
através do Código ASME* Sec. V Art.5 que difere da tabela anterior. Um
transdutor angular deve ser utilizado num bloco contendo dois furos que
produzirão na tela do aparelho os ecos de referência para aplicação das tabela a
seguir.
Verificação da Linearidade em Amplitude da tela do Aparelho de Ultra-Som Conforme Código ASME Sec.V Art. 4 e 5
Ajuste da Indicação na Altura Total da Tela
Ajuste do Controle de Ganho (db)
Limites Aceitáveis da Altura da Menor
Indicação (%) 80 -6 32 a 48 80 -12 16 a 24 40 +6 64 a 96 20 +12 64 a 96
Tabela 3.7
Outra verificação que deve ser feita é a linearidade em altura da tela, onde o
transdutor angular deve ser posicionado sobre o bloco básico de calibração com o
ponto de saída do feixe angular dirigido para ambos os refletores cilíndricos do
bloco, ajustando a escala do aparelho de modo a obter ecos bem definidos
provenientes dos furos ½ e ¾.T.
Ajuste o controle de ganho e ao mesmo tempo o posicionamento do transdutor de
modo a obter na tela do aparelho os dois ecos numa relação de 2:1em termos de
125
amplitude, sendo o maior com amplitude de 80% da tela.
Sem alterar a posição do transdutor, reduza sucessivamente o controle de ganho,
em incrementos de 10% ou "steps" de 2 até que o maior eco esteja a 20% de
altura da tela, efetuando a cada decréscimo uma leitura da altura da menor
indicação.
A leitura da menor indicação deve sempre estar a 50% de altura da maior
indicação.
Tabela 3.8 - Bloco de Verificação da Linearidade do aparelho de ultra-som conforme Código ASME Sec. V.
* BS = norma Inglesa , British Standard
* ASME = código de fabricação de vasos de pressão , American Society of Mechanical Engineer
126
3.5.3 EXEMPLO DE VERIFICAÇÃO DO CONTROLE DE GANHO DO
APARELHO DE ULTRA-SOM
Obtenha um eco na tela do aparelho acoplando o transdutor em qualquer peça ou
bloco de calibração. Ajuste o controle de ganho para obter o eco a 80% da altura
da tela, conforme mostra os exemplos das figuras abaixo.
Figura 3.28
Mantenha o transdutor fixo sem variações, e em seguida reduza o controle de
ganho em 6dB, como mostra as figuras dos exemplos abaixo:
Figura 3.29
Você poderá avaliar o resultado deste teste, verificando se o eco reduziu para
40% ± 2 % da altura da tela, ou seja pela metade dos 80% inicialmente ajustado.
Caso isto não tenha ocorrido, o aparelho não está com o controle de ganho
devidamente calibrado.
127
3.5.4 CUIDADOS NO USO DE TRANSDUTORES ANGULARES
Como vimos, as sapatas de acrílico dos transdutores angulares são fabricados
para proporcionar ângulos de transmissão bem definidos. Entretanto o uso
contínuo, e o conseqüente desgaste das sapatas poderão alterar a performance
do transdutor.
Tal problema poderá ser agravado quando a pressão do dedo do operador sobre
o transdutor incidir nas bordas dos mesmos, fazendo com que o desgaste ocorra
de modo irregular, alterando significativamente o ângulo nominal.
3.5.5 CUIDADOS NO MANUSEIO DOS CONTROLES DO APARELHO
Os potenciômetros dos controles do aparelho analógico, de um modo geral, são
dotados de um sistema de trava que tem a finalidade de não variar a calibração
do aparelho durante seu uso. Portanto, quando se quer modificar a calibração do
aparelho deve-se destravar o potenciômetro, pois caso contrário o mesmo será
danificado. O mesmo não acontece nos aparelhos modernos digitais, em que os
controles e ajustes são por teclas.
3.5.6 CUIDADOS COM AS BATERIAS
Em geral os aparelhos são dotados de baterias recarregáveis, que necessitam
carga após o uso. Como regra prática, o tempo de carga deverá ser o dobro do
período de trabalho do aparelho.
128
3.5.7 CALIBRAÇÃO E BLOCOS PADRÃO
O termo calibração deve ser analisado no seu sentido mais amplo entendendo o
leitor como sendo o perfeito ajuste de todos os controles do aparelho de ultra-
som, para uma inspeção específica segundo um procedimento escrito e aprovado
pelo cliente / fabricante.
Os ajustes do ganho, energia, supressor de ruídos, normalmente são efetuados
baseado em procedimentos específicos, entretanto a calibração da escala pode
ser feita, previamente independente de outros fatores. Calibrar a escala significa
mediante a utilização de blocos especiais denominados Blocos Padrões, onde
todas as dimensões e formas são conhecidas e calibradas, permitindo ajustar os
controles de velocidade e zeragem, concomitantemente até que os ecos de
reflexão permaneçam em posições definidas na tela do aparelho,
correspondentes ao caminho do som no bloco padrão.
Tais blocos são construídos segundo normas DIN 54120, DIN 54122 ou BS 2704,
de materiais que permitem o exame ultra-sônico em aço carbono não ligado ou de
baixa liga, com velocidade sônica de 5920 +/ - 30m/s para ondas longitudinais e
3255 +/ - 15m/s para ondas transversais.
Figura 3.30
Os blocos de calibração devem ser apropriadamente calibrados quanto às suas dimensões, furos, entalhes e quanto à velocidade sônica do material que constitui o bloco.
129
O Bloco V1 deve ser utilizado para calibrar as escalas na tela do aparelho usando
as dimensões padronizadas, mas também verificar a condição do transdutor
angular, com respeito ao ponto de saída do feixe sônico (posição 1 da figura) e a
verificação do ângulo de refração do transdutor (posição 2 da figura). Em geral ±
2 graus é tolerável.
Figura 3.31 - Verificação do ponto de saída do feixe sônico e ângulo do transdutor.
Figura 3.32 - Bloco de calibração V2 (Norma DIN 54122). Espessura do bloco 12,5mm.
3.5.8 FORMAS DE APRESENTAÇÃO DAS INDICAÇÕES NA TELA DOS
APARELHOS
A tela do aparelho de ultra-som pode apresentar de três formas básicas a secção
da peça inspecionada, que são:
A-scan
B-scan
C-scan
O aparelho de ultra-som deve incorporar circuitos eletrônicos especiais para cada
forma de apresentação. Assim, o inspetor deve identificar no aparelho quais as
formas de apresentação disponíveis para uso.
130
Forma de apresentação A-Scan Neste tipo de apresentação a tela do aparelho mostra a forma tradicional de
visualização da tela, ou seja, na forma de ecos de reflexão.
Figura 3.33
Forma de apresentação B-Scan Neste tipo de apresentação, a tela do aparelho mostra a seção transversal da
peça, e, portanto a visualização da peça é feita em corte. Este tipo de
apresentação não é convencional, e somente aparelhos dotados de funções
especiais são capazes de mostrar esta forma de apresentação.
Figura 3.34
Forma de apresentação C-Scan Este tipo de apresentação não é convencional, e somente aparelhos dotados de
funções especiais são capazes de mostrar esta forma de apresentação.
Na representação A-Scan, os ecos na tela indicam a reflexão do som nas interfaces.
B-Scan – É muito útil para análise de corrosão em peças e tubos e chapas, pois o perfil da espessura é vista diretamente na tela.
131
Figura 3.35
3.6 PROCEDIMENTOS ESPECÍFICOS DE INSPEÇÃO
3.6.1 PROCEDIMENTO PARA INSPEÇÃO DE SOLDAS
A inspeção de soldas por ultra-som consiste em um método que se reveste de
grande importância na inspeção industrial de materiais sendo uma ferramenta
indispensável para o controle da qualidade do produto final acabado,
principalmente em juntas soldadas em que a radiografia industrial não consegue
boa sensibilidade de imagem, como, por exemplo, juntas de conexões, ou mesmo
juntas de topo com grandes espessuras.
Os procedimentos para inspeção de soldas descritos pelas Normas ou Códigos
de fabricação variam em função dos ajustes de sensibilidade do ensaio,
dimensionamento das indicações, critérios de aceitação das descontinuidades
encontradas, e outras particularidades técnicas. Portanto, descrevemos a seguir a
técnica básica para inspeção de soldas por ultra-som, entretanto o inspetor deve
consultar o procedimento aprovado de sua empresa para o ensaio específico, ou
ainda na falta deste, elaborá-lo segundo a norma aplicável ao produto a ser
ensaiado.
3.6.2 PREPARAÇÃO DAS SUPERFÍCIES DE VARREDURA
A inspeção da solda se processará através da superfície do metal base adjacente
à solda, numa área que se estenderá paralelamente ao cordão de solda, que
denominamos área ou superfície de varredura.
O resultado do ensaio por ultra-som é dependente da preparação das superfícies,
assim devemos remover carepas, tintas, óxidos, pó, graxa e tudo que possa
C-Scan – neste tipo de apresentação a tela do aparelho mostra a peça no sentido “planta” ou seja, a vista de cima da peça.
132
mascarar, ou impedir a penetração do feixe sônico na peça a ensaiar. Limitação
de temperatura da peça deve ser levada em conta e está associado ao modelo e
tipo do transdutor, pois altas temperaturas (acima de 60oC) podem danificar os
transdutores.
Figura 3.36 - Técnica geral para inspeção de soldas de topo, por ultra-som.
3.6.3 CALIBRAÇÃO DA SENSIBILIDADE DO APARELHO
A escala do aparelho deve ser calibrada através dos blocos padrões calibrados
mencionados. A sensibilidade do aparelho deve ser calibrada através de um bloco
com espessuras e furos de referência calibrados e de material acusticamente
similar à peça ser ensaiada. Caso a calibração do aparelho seja feita em bloco e
peça de materiais dissimilares, isto afetará a precisão das medidas efetuadas.
A figura abaixo descreve o bloco de calibração recomendado pela norma ASME
Boiler and Pressure Vessel Code Sec.V Artigo 5 usado para estabelecer a
sensibilidade do ensaio pelo ajuste do controle de ganho do aparelho , que deve
ser fabricado com mesmo acabamento superficial da área de varredura.
133
Figura 3.37 - Bloco Básico de Calibração da Sensibilidade do Ensaio de Soldas, conforme o
Código ASME SEC.V Art.5.
Seleção do Bloco de Calibração para Superfícies Planas Espessura da solda “t”
(mm) Espessura “T” do bloco
(mm) * Diâmetro “D” do furo de
referência (mm) até 25,4 19 ou t 2,38
acima de 25,4 até 50,8 38 ou t 3,18 de 50,8 até 101,6 76,2 ou t 4,76
de 101,6 até 152,4 127 ou t 6,35 de 152,4 até 203,2 177 ou t 7,93
Tabela 3.9 - Fonte: Código ASME Sec. V Art.5.
* Bloco de calibração válido para superfícies planas ou com curvaturas maiores que 20 polegadas de diâmetro.
A freqüência e ângulo do transdutor selecionado pode ser significativo,
dependendo da estrutura metalúrgica do material ensaiado e espessura.
Em geral utiliza-se 4MHz de freqüência e ângulos de 60 e 70 graus para
espessuras do metal base até 15mm; e 45 e 60 graus para espessuras de metal
base acima de 15mm.
A curva de sensibilidade é estabelecida de acordo com o procedimento descrito,
através do posicionamento do transdutor angular (pos. 1, 2, 3 e 4) de modo a
detectar o furo de referência do bloco nas quatro posições indicadas. O controle
de ganho do aparelho deve ser ajustado a partir da pos.1 da figura abaixo, onde o
controle é ajustado até que o eco correspondente à reflexão do furo tenha uma
altura de 80% da tela do aparelho. Acompanhe o processo abaixo descrito:
134
3.6.4 PREPARAÇÃO DA CURVA DE CORREÇÃO DISTÂNCIA AMPLITUDE (DAC) E AJUSTE A SENSIBILIDADE DO ENSAIO
Posicionar o transdutor sobre o bloco padrão de modo a obter resposta do furo
que apresentar maior amplitude;
Ajustar a amplitude do eco a 80% da altura da tela. Este ganho é denominado
“Ganho Primário-Gp” da curva de referência (DAC).
Para completar a curva de referência e, sem alterar o ganho, posicionar o
transdutor de forma a se obter ecos dos furos do bloco padrão a várias distâncias,
até o alcance desejado, e traçar a curva unindo os pontos obtidos.
Traçar as curvas de 50% e 20% da curva de referência (DAC).
Figura 3.38 - Traçagem da Curva de Referência ou Curva DAC.
A partir deste procedimento deve ser registrado o ganho do aparelho, que deverá
ser mantido até o final da inspeção, porem verificado periodicamente ou quando
houver troca de operadores. Caso haja uma diferença de acabamento superficial
acentuada entre o bloco e a peça a ser inspecionada, um procedimento de
transferência de ganho do bloco para a peça deverá ser aplicado, para
restabelecer o nível de sensibilidade original, conforme segue:
135
3.6.5 DETERMINAÇÃO DO FATOR DE CORREÇÃO DA TRANSFERÊNCIA
Posicionar dois transdutores iguais sobre o bloco de calibração com percurso
sônico como mostrado na figura, usando a técnica de transparência.
Ajustar o controle de ganho para que a amplitude do eco com os transdutores na
pos. a e b esteja em 80% da altura da tela.
Sem alterar o ganho marcar na tela os picos dos ecos das posições a-c e a-d.
Unir os pontos para se obter uma curva de referência.
Figura 3.39
Posicionar os transdutores no componente a ser ensaiado, metal base,
obrigatoriamente sobre superfícies paralelas, para se obter o eco a-c sem alterar
o ganho conforme item b.
Ajustar, se necessário, a altura do eco obtido no componente a ser ensaiado até a
curva descrita no item f.
Esta diferença (± X dB) deverá ser anotada e usada como correção de
transferência (CT).
136
Figura 3.40 - Correção da Transferência (CT).
3.6.6 REALIZAÇÃO DA INSPEÇÃO
Para garantir a passagem do feixe sônico para a peça é necessário usar um
líquido acoplante que se adapte à situação. Em geral, óleo, água, ou soluções de
metil-celulose, podem ser utilizadas para esta finalidade. É recomendado efetuar
algumas medidas no mesmo local, pois variações de acabamento superficial,
pressão do transdutor sobre a superfície e outros, podem variar os resultados.
O transdutor deve ser deslizado sobre a superfície de varredura com o feixe ultra-
sônico voltado perpendicularmente à solda, de modo que as ondas atravessem
totalmente o volume da solda. Caso houver alguma descontinuidade no volume
de solda, haverá reflexão nesta interface, retornando ao transdutor parte da
energia ultra-sônica, e conseqüentemente a indicação na tela do aparelho em
forma de eco ou pulso.
Através da análise da posição do eco na tela do aparelho, o inspetor poderá
localizar a descontinuidade no volume de solda, assim como avaliar sua
dimensão e comparar com os critérios de aceitação aplicáveis.
137
Figura 3.41 - Delimitação da Área de Varredura para juntas soldadas de Topo.
A superfície de varredura 1A ou 1B deve ser inspecionada com transdutor angular, antes da, soldagem do anel de reforço, a superfície 2A deve ser inspecionada com transdutor duplo cristal e transdutor angular, a superfície 1C e 2B deve ser inspecionada com transdutor angular se houver área de varredura suficiente.
A superfície de varredura 1A ou 1B deve ser inspecionada com transdutor angular, antes da, soldagem do anel de reforço, a superfície 2A deve ser inspecionada com transdutor duplo cristal e transdutor angular, a superfície 1C e 2B deve ser inspecionada com transdutor angular se houver área de varredura suficiente.
Figura 3.42 - Áreas de Varredura recomendadas para Inspeção de soldas de conexões em vasos
de pressão por ultra-som.
3.6.7 VISUALIZAÇÃO DA ÁREA DE INTERESSE NA TELA DO APARELHO
Uma das dificuldades do inspetor de ultra-som que se inicia na técnica de ensaio
de soldas é justamente saber onde ele deve monitorar a tela para que nenhuma
indicação passe desapercebida. Assim descrevemos abaixo uma técnica que
mostra de forma fácil qual a área da tela do aparelho que deve ser observada
durante a inspeção da solda.
Vamos observar a figura abaixo que mostra o posicionamento do transdutor
angular de 60 graus sobre uma chapa com 20mm de espessura, com o feixe
direcionado para o canto inferior da borda da chapa, resultando num eco com
caminho de som de 40mm. Da mesma forma, se posicionarmos o transdutor com
o feixe direcionado para a borda superior da chapa, teremos um eco a 80mm,
correspondente ao caminho do som em "V" na chapa.
138
Figura 3.43 - Reflexões nas bordas da chapa.
Repare que na tela do aparelho a região compreendida entre 40 e 80mm
corresponde à borda inferior e a borda superior. Agora, observe a figura abaixo e
compare com a anterior. O leitor verá que um eco proveniente da raiz da solda
será observado na marca de 40mm e um eco proveniente do reforço, será
observado na marca de 80mm.
Figura 3.44 - Portanto a área da solda estará compreendida entre 40 e 80mm na tela, e caso
apareçam indicações, estas devem estar nesta região da tela.
3.6.8 DELIMITAÇÃO DA EXTENSÃO DA DESCONTINUIDADE
A delimitação da extensão da descontinuidade pode ser feita utilizando a técnica
da queda do eco em 6dB, ou seja, o transdutor deve ser posicionado no centro
geométrico da descontinuidade, de forma a maximizar a altura do eco de reflexão.
Este ponto deve ser pesquisado pelo inspetor. Após, o transdutor é deslocado
para a esquerda e para a direita até que se observe a altura do eco na tela do
aparelho reduzir pela metade da altura que tinha inicialmente (- 6dB).
Sobre a superfície da peça, deve ser marcado este ponto onde o eco diminui em
6dB, e o tamanho da descontinuidade será a linha que uni os dois pontos (para a
esquerda e para a direita)
Outros métodos podem ser utilizados para pequenas indicações (menores que
10mm), ou mesmo a técnica da queda do eco em 20dB, que se assemelha à
139
técnica descrita acima.
A delimitação ou estimativa de pequenas descontinuidades deve ser feita pelo
método do diagrama AVG ou DGS.
Figura 3.45 - Delimitação da extensão do feito pelo método da queda de 6dB (à esquerda) e
ensaio de solda longitudinal de emenda de um tubo (à direita).
Delimitação da extensão de uma dupla laminação em uma chapa, usando a técnica da queda do eco em 6 dB, com transdutor normal.
Figura 3.46 - Foto extraída do catálogo da Krautkramer.
140
3.7 AVALIAÇÃO E CRITÉRIOS DE ACEITAÇÃO
O julgamento da descontinuidade encontrada deve ser feita de acordo com o
procedimento escrito, norma aplicável, especificação do cliente, ou por outro
documento da qualidade aplicável.
Em geral, as descontinuidades são julgadas pelo seu comprimento, e amplitude
do eco de reflexão, que são quantidades mensuráveis pelo inspetor de ultra-som.
Entretanto, algumas normas, estabelecem que o tipo da descontinuidade
encontrada também deve ser avaliada e decisiva na aceitação ou rejeição da
junta soldada. Por exemplo: se o inspetor interpretou uma indicação como trinca,
falta de fusão ou falta de penetração, a junta soldada deve ser rejeitada,
independente do seu comprimento ou amplitude de eco na tela do aparelho, de
acordo com o Código ASME Sec.VIII Div.1 UW-53. Mas nem sempre a
identificação do tipo da descontinuidade é fácil ou possível de ser avaliada, pois
isto dependerá da complexidade da junta, experiência e conhecimento do
inspetor.
3.7.1 CRITÉRIO DE ACEITAÇÃO DE JUNTAS SOLDADAS, CONFORME CÓDIGO ASME SEC. VIII DIV.1 AP.12. (TRADUÇÃO LIVRE)
Imperfeições as quais produzirem uma resposta maior que 20% do nível de
referência deve ser investigada a extensão para que o operador possa determinar
a forma, identificar, e localizar tais indicações e avaliar as mesmas em termos do
padrão de aceitação dado em (a) e (b) abaixo.
Indicações caracterizadas como trincas, falta de fusão ou penetração incompleta
são inaceitáveis, independente do comprimento;
Outras imperfeições são inaceitáveis se indicações excedem o em amplitude o
nível de referência e tenha um comprimento que exceda:
1. ¼ pol. para t até ¾ pol. ;
2. 1/3.t para t de ¾ até 2.1/4 ;
3. ¾ pol. para t acima de 2.1/4 pol.
onde t é a espessura da solda excluindo qualquer reforço permitido. Para juntas
141
soldadas de topo onde dois membros tendo diferentes espessuras de solda, t é a
mais fina dessas duas espessuras. Se uma solda de penetração total inclui uma
solda de filete, a espessura da garganta do filete deve ser incluída em t.
4 TRATAMENTOS TÉRMICOS 4.1 INTRODUÇÃO
Operações de aquecimento e resfriamento controlados que visam afetar as
características de aços e ligas especiais são denominadas tratamentos térmicos.
Quando estas operações são conjugadas a etapas de conformação mecânica,
são chamados tratamentos termomecânicos.
Aços e ligas especiais são submetidos a diversos tratamentos termomecânicos,
com vistas à otimização de suas propriedades. Enquanto alguns tipos de
tratamentos se aplicam à ampla gama de aços e Iigas, outros têm sua aplicação
restrita a determinadas famílias de aços ou ligas.
Neste capítulo são apresentadas as principais características dos tratamentos
térmicos de aplicação mais comum em aços e ligas especiais.
Os tratamentos térmicos dos aços e ligas especiais englobam uma das mais
amplas faixas de temperaturas dentre os processes industriais, variando desde o
tratamento subzero (temperaturas abaixo de 00C) para estabilização, até a
austenitização de aços rápidos a 12800C. Além disso, diversas taxas de
resfriamento são empregadas, visando permitir a obtenção da exata estrutura
desejada. É claro que para realização destes tratamentos são necessários fornos
e outros aparatos auxiliares Tais equipamentos não serão analisados em detalhe,
por estarem em constante evolução e sua escolha depender do outros aspectos,
além dos interesses metalúrgicos. Para a seleção destes equipamentos estão
mais capacitados os departamentos técnicos de empresas do ramo. Serão
abordados aspectos de equipamentos apenas na medida em que sua seleção
influencie na qualidade do tratamento térmico ou do produto final (aço tratado).
Os principais tratamentos térmicos abordados neste capítulo são:
• Recozimento
• Normalização
142
• Têmpera
• Revenimento
• SoIubilização
• Envelhecimento
Os três primeiros envolvem transformações de fase a partir da austenita. Só se
aplicam, portanto, a aços transformáveis. Obviamente, às diversas estruturas
possíveis de se obter na transformação da austenita estão associadas diferentes
propriedades, desde o máximo de dutilidade e o mínimo de dureza, característico
das estruturas ferríticas, até os elevados valores de dureza e menor dutilidade
associados a martensita.
O tratamento de revenimento é um tratamento associado, basicamente, a aços
temperados.
Tratamentos de soIubilização encontram aplicação em ampla gama de aços e
ligas especiais, especialmente quando se deseja controlar a presença de
segundas fases tais como, por exemplo, carbonetos em aços inoxidáveis
austeníticos. Tratamentos por envelhecimento após solubilização permitem
precipitar, de forma controlada partículas de segunda fase em aços e ligas
especiais. Estes tratamentos são responsáveis pelas excepcionais propriedades
atingidas por superligas a base do níquel aços “maraging” e inoxidáveis pH, assim
como da maior parte das ligas de alumínio empregadas na indústria aeronáutica.
143
4.2 RECOZIMENTO
O recozimento visa reduzir a dureza do aço aumentar a usinabilidade, facilitar o
trabalho a frio ou atingir a microestrutura ou as propriedades desejadas.
Existem, basicamente, 3 tipos principais de recozirnento:
• Recozimento pleno
• Recozimento subcrítico/ alívio de tensões
• Esferoidização
4.2.1 RECOZIMENTO PLENO OU SIMPLESMENTE RECOZIMENTO
Consiste em austenitizar o aço, resfriando-o Ientamente a seguir.
A temperatura de recozimento pleno é de mais ou menos 50ºC acima da linha A,
para aços hipoeutetóides e de 500C acima de A1 para hipereutetóides. Nos
hipereutetóides não se deve ultrapassar a Acm porque, no resfriamento posterior,
ao ser atravessada novamente esta linha, formar-se-ia cementita nos contornos
de grão da austenita, o que iria fragilizar posteriormente a peça tratada.
Quanto mais baixa for a temperatura da austenitização, tanto mais heterogênea
será a austenita Quanto mais heterogênea a austenita, maiores chances de
nucleação de carbonetos em regiões de teor de carbono mais alto ou de
crescimento de carbonetos não dissolvidos, em vez das estruturas perlíticas-
lamelares, que ocorrem com mais facilidade a partir da austenita homogênea,
Conseqüentemente, devem-se preferir temperaturas de austenitização mais altas
quando se deseja estrutura perlítica e mais baixas quando se deseja estrutura
esferoidizada. Nas tabelas a seguir são apresentados dados sobre austenitização
e resfriamento para recozimento de diversos aços. Quanto mais próximo da
temperatura A1 a austenita se transformar, tanto mais grosseira será a estrutura,
quer perlítica, quer esferoidal. Entretanto, analisando-se as curvas 77, observa-se
que o tempo necessário para transformação completa em altas temperaturas é
longo, por vezes, excessivamente. Nos casos em que o tempo de transformação
for excessivo nesta temperatura, pode-se transformar parcialmente a alta
temperatura seguida do restante de transformação à temperatura mais baixa. Há,
144
portanto, duas possibilidades na transformação da austenita: (a) transformação
isotérmica, ou (b) resfriamento contínuo, normalmente no interior do forno
desligado ou em meios isolantes que permitam obter-se as taxas de resfriamento
necessárias para o tratamento, como indicado na figura a seguir.
Figura 4.1
(a) Recozimento isotérmico (b) Recozimento contínuo
Tabela 4.1 - Ciclos de Recozimento recomendado para diversos aços carbono.
145
Tabela 4.2 - Ciclos de Recozimento de aços ligados.
4.2.2 RECOZIMENTO SUBCRÍTICO E ALÍVIO DE TENSÕES
É aquele em que o aquecimento se dá a uma temperatura abaixo de A1.
O recozimento subcrítico é usado para recuperar a dutilidade do aço trabalhado a
frio (encruado). Quando se executam operações de deformação a frio, a dureza
aumenta e a dutilidade diminui, podendo ocorrer ruptura entre duas operações.
Neste caso há necessidade de se executar um recozimento subcrítico antes de
novas deformações. Normalmente o aquecimento do aço carbono na faixa de 600
a 6800C seguido de resfriamento ao ar é suficiente.
As principais transformações que ocorrem neste tratamento são recuperação e
recristalização das fases encruadas. É óbvio que, neste caso, não ocorrendo
formação da austenita, não há sentido em descrever-se o tratamento sobre a
curva TTT. Na tabela 4.3 são apresentados as temperaturas e os tempos
necessários para o alívio de tensões nos diversos tipos de aços.
Tratamentos de alívio de tensões são também aplicados quando se deseja reduzir
tensões residuais em estruturas ou componentes após soldagem, fabricação etc.
146
O aumento de temperatura nestes tratamentos é suficiente para reduzir o limite de
escoamento do material ou permitir sua deformação por fluência, de modo que as
tensões residuais são aliviadas através de deformação plástica. No caso de
soldas, o alívio, de tensões pode ter também, a função de revenir microestruturas
de dureza excessiva e baixa dutilidade encontradas na zona afetada pelo calor
(ZAC), independentemente da existência de tensões residuais significantes.
Aplicações onde corrosão sob tensão for esperada ou quando a superposição de
tensões residuais consideráveis às de projeto é inaceitável, requerem o emprego
de operações de alívio de tensões. Diversos códigos e normas de projeto
estabelecem requisitos quanto à necessidade de execução deste tipo de
tratamento térmico. É importante lembrar que estes códigos representam,
normalmente, requisitos mínimos, e não devem substituir o julgamento do
engenheiro em cada situação.
4.2.3 ESFEROIDIZAÇÃO
Há vários métodos para se obter unta estrutura de carbonetos esferoidizados em
matriz ferrítica. Por exemplo:
Manutenção por tempo prolongado à temperatura pouco abaixo, de A1 (Análogo
ao subcrítico).
Aquecimento e resfriamento alternantes entre 2 temperaturas pouco acima e
pouco abaixo do A1
147
Aquecer acima da temperatura para dissolução dos carbonetos Acm seguido de
resfriamento rápido (para evitar formação de rede de carbonetos) até temperatura
pouco abaixo de A1. Manter nesta temperatura, conforme o método 1, ou seguir o
método 2.
Estes processos estão esquematizados na figura abaixo.
Figura 4.2 - Possíveis ciclos de esferoidização.
4.2.4 RECOZIMENTO PARA USINABILIDADE
A Tabela 4.4 indica as estruturas mais adequadas e mais econômicas para
usinagem de aços, em função do teor de carbono. Tais informações permitirão a
especificação do tratamento ideal utilizando as tabelas 4.1 e 4.2.
4.2.5 RECOZIMENTO DE PEÇAS FUNDIDAS
As peças fundidas apresentam, normalmente, estrutura grosseira e, em muitos
casos, tensões residuais decorrentes da solidificação. Estas peças são
normalmente recozidas para alívio de tensões, homogeneização e refino de
estrutura. Como a estrutura bruta de fusão é muito irregular, recomenda-se a
austenitização a 50-1000C a mais que o recomendado para o aço forjado.
148
Tabela 4.3
Tabela 4.4 - Estruturas mais adequadas para usinagem.
4.3 PROTEÇÃO DA SUPERFÍCIE
Dentre todos os elementos presentes nos aços, o carbono é, sem dúvida, o mais
importante individualmente, apesar de que vários aços dependam, para suas
propriedades dos elementos de liga. Isto é claramente ilustrado pela figura abaixo.
Uma variação de 0,1% de carbono na maioria dos aços ligados ou ferramenta
exercerá maior influência sobre as propriedades do que uma variação
equivalente, ou mesmo maior, às vezes, de outro elemento de liga.
149
Este fato, aliado ao papel importante desempenhado pela superfície das
ferramentas durante sua vida útil, exige que especial atenção seja dedicada ao
controle do teor de carbono da superfície durante o tratamento térmico.
Há casos ainda em que se deseja superfícies isentas de oxidação, sem
necessidade de limpeza posterior. Também nestes casos a proteção da superfície
é fundamental.
Figura 4.3 - Influência do teor de carbono sobre as propriedades de aços-carbono resfriados lentamente.
Tanto as reações envolvendo o carbono das peças a tratar, como a oxidação do
material, decorrem da presença de gases no interior do forno de tratamento. O
caminho óbvio para contornar-se o problema seria eliminação da causa, isto é, o
tratamento sob vácuo. Tais processos são, entretanto, extremamente caros,
somente se justificando em caso de metais reativos como titânio, zircônio etc.
Na prática opta-se pelo controle dos potenciais de oxigênio e de carbono na
atmosfera do forno, pelo emprego de materiais de empacotamento, que evitam ou
diminuem o contato da atmosfera com a peça ou pelos banhos de sais fundidos
com potenciais de O e C controlados. Como regra geral, os materiais de
150
empacotamento somente são empregados para peças de aços ligados ou
ferramenta (normalmente de produção limitada). Para produções maiores opta-se
por fornos de banho de sal fundido ou fornos de atmosfera controlada, sendo os
últimos preferidos para peças de grande porte.
Está além dos objetivos deste texto discutir as diversas formas de controle dos
potenciais de oxigênio e de carbono em atmosfera de fornos. É importante,
entretanto, salientar alguns pontos básicos a este respeito:
Nem todos os aços, em todas as aplicações, exigem tratamento térmico isento de
oxidação e/ ou descarbonetação. Um exemplo típico é uma peça com sobremetal,
que depois de tratada será usinada para as medidas finais. Além disto,
obviamente em diversos casos a prática indica ser mais barata uma limpeza
posterior do que a exigência de atmosfera controlada no tratamento térmico.
Como diversas reações ocorrem entre a atmosfera e a peça a tratar, uma
atmosfera não oxidante não é garantia de ausência de descarbonetação
superficial. Somente o controle das relações CO/ C02 e H2/ H2O permite o controle
do potencial de oxigênio e carbono.
Nos tratamentos em banhos de sal pode ocorrer descarbonetação superficial, se
não forem tomados os cuidados necessários, apesar da ausência de atmosfera.
Os meios de empacotamento (empregados principalmente para o tratamento de
aços ferramenta) devem ser escolhidos criteriosamente, pois nem sempre são
neutros em altas temperaturas. Além disso, compensações devem ser feitas nos
tempos de tratamento quando emprega-se tais envoltórios para as peças.
151
Figura 4.4 - Faixas aproximadas de emprego de meios de empacotamento.
4.4 NORMALIZAÇÃO
A normalização consiste na austenitização completa do aço seguida de
resfriamento ao ar.
É indicada normalmente para homogeneização da estrutura após o forjamento e
antes da têmpera ou revenimento. Obviamente, aços ligados que temperam
(endurecem) ao ar não são normalizados.
Comparando-se a estrutura normalizada com a recozida tem-se, na normalizada:
Num aço hipoeutectóide, possivelmente menor quantidade de ferrita
proeutectóide, e perlita mais fina (menor espaçamento entre as lamelas). Em
termos de propriedades mecânicas a dureza e a resistência mecânica mais
elevada, dutilidade (medida por alongamento ou redução de área em ensaio de
tração) mais baixa e resistência ao impacto semelhante (Tabela 4.5).
152
Tabela 4.5 - Propriedades mecânicas dos aços nos estados normalizados e recozidos.
σ esc. = Limite de escoamento. σ máx. = Limite de resistência à tração.
HB = Dureza Brinell.
Num aço hipereutectóide, menos carbonetos em rede ou massivos, e distribuição
mais uniforme dos carbonetos existentes, devido à dissolução mais completa dos
carbonetos na austenitização para a normalização do que para o recozimento.
A normalização pode ser usada, portanto, para qualquer das seguintes
aplicações:
Refino de grão e homogeneização da estrutura visando obter melhor resposta na
têmpera ou revenimento posterior.
Melhoria da usinabilidade;
Refino de estruturas brutas de fusão (peças fundidas, por exemplo);
Obter propriedades mecânicas desejadas;
As temperaturas de austenitização para a normalização são encontradas nas
Tabelas 4.6 e 4.7, e foram baseadas na experiência de fabricação industrial.
153
Tabela 4.6 - Temperatura de austenitização para a normalização de aços carbono.
Tabela 4.7 - Temperatura de austenitização recomendada para a normalização de aços ligados. São observadas na prática variações de 25ºC abaixo e 50ºC acima das temperaturas indicadas.
4.5 TÊMPERA
Uma das características mais importantes dos aços como materiais de construção
mecânica é a possibilidade de desenvolver combinações ótimas de resistência e
tenacidade (medida pela resistência ao impacto). A estrutura que classicamente
permite tais combinações é a estrutura martensítica revenida.
A têmpera consiste em resfriar o aço, apos austenitização, a uma velocidade
suficientemente rápida para evitar as transformações perlíticas e bainíticas na
peça em questão. Deste modo, obtém-se estrutura metaestável martensítica.
Como os diferentes aços apresentam curvas ITT diferentes, a taxa mínima de
resfriamento necessário (denominada velocidade crítica) para evitar as
transformações perlítica e bainítica varia em uma faixa bastante larga. Na figura a
seguir, (figura 4.5)por exemplo, são apresentadas as curvas ITT de dois aços com
diferentes características de transformações de fase. Enquanto no aço 4340 as
transformações perlítica e bainítica têm seu início retardado pela presença de
elementos de liga, facilitando a têmpera, no aço 1050 é mais difícil obter-se uma
154
estrutura 100% martensítica mesmo com resfriamento extremamente rápido, pois
o ''nariz'' da curva ITT situa-se muito próximo eixo vertical.
Deve-se ainda observar que aumentando-se o teor de carbono do aço diminui-se
a temperatura para início e fim da formação da martensita. Também a dureza
martensítica aumenta com o teor de carbono. Em vista disso os aços carbono
para têmpera apresentam um teor de carbono maior que 0,3%, pois abaixo deste
teor o efeito endurecedor provocado pela têmpera seria muito pequeno.
4.5.1 MEIOS DE TÊMPERA
Para o controle da taxa de resfriamento utilizam-se diversos meios de têmpera,
com diferentes capacidades de extração de calor (severidade). Os meios de
têmpera mais comuns são: água, óleo e ar, embora outros meios líquidos ou
gasosos possam ser empregados.
A têmpera em meio líquido ocorre em três estágios, à proporção que a peça
esfria:
155
Figura 4.5 - No aço ligado (b) é mais fácil a têmpera (formação da martensita) do que no aço carbono (a).
156
Figura 4.6 - Efeito do teor de carbono nas temperaturas de início (m1) e fim (m F ) da
transformação austenita - martensita.
Figura 4.7 - Variação da dureza martensítica em função do teor de carbono dos aços carbono.
157
Figura 4.8 - Estágios da têmpera em meio líquido.
1º) Formação de filme contínuo de vapor sobre a peça. Este estágio deve ser tão
curto quanto possível, pois está associado à faixa de temperatura entre A1 e a
temperatura de maior velocidade de reação perlítica. A água apresenta um
estágio de filme contínuo particularmente longo. Para aliviar este problema pode-
se agitar a peça durante o início da têmpera para romper o filme ou dissolver
pequena quantidade de sal na água (0,2% NaCI, por exemplo), que tem excelente
efeito em reduzir a duração do primeiro estágio.
2º) Formação discreta da bolha de vapor sobre a peça. Quando a peça esfria o
suficiente, o filme contínuo de vapor dá lugar à formação e subseqüente
desprendimento de bolhas. Neste estágio também é importante a agitação (ou
circulação forçada do meio de têmpera), para se evitar a permanência de bolhas
sobre os mesmos pontos por tempos longos, cansando pontos resfriados mais
lentamente chamados pontos moles.
3º) Resfriamento por condução e convecção. Neste estágio a peça já atingiu
superficialmente uma temperatura insuficiente para vaporizar o meio de têmpera
Este estágio é controlado, basicamente, pela capacidade calorífica do meio de
têmpera, pelas condições interfaciais peça-meio de têmpera e pela agitação. A
158
água apresenta um 3º estágio extremamente rápido.
4.5.2 TENSÕES NA TÊMPERA
Enquanto no recozimento não se encontram gradientes de temperatura sensíveis
nas peças durante o resfriamento, a severidade com que ocorre na têmpera faz
surgir gradientes bastante acentuados entre o centro e a superfície.
Para uma mesma peça, estes gradientes serão tanto maiores quanto mais severo
for o meio, da têmpera. A presença destes gradientes de temperatura na peça a
temperar, faz surgir tensões internas, associadas à:
• Contração do aço durante o resfriamento.
• Expansão associada com a transformação martensítica.
• Mudanças bruscas de secção e outros concentradores de tensões.
Dependendo da magnitude das tensões resultantes da combinação destes
esforços, podem ocorrer: deformação plástica (empeno da peça), ruptura (trincas
de têmpera) e tensões residuais.
Basicamente, o estágio mais importante de têmpera com reação as tensões é o
terceiro, pois durante este estágio ocorrerá à transformação martensítica
acentuando o estado de tensões na peça. O ideal é que o terceiro estágio seja
lento, pois já não há riscos de ocorrerem às transformações ferrítica-perlítica ou
bainítica e deste modo se obtém menos tensões na têmpera.
Também quanto mais severo for o meio de têmpera, maiores serão as chances
de trincas nas peças e maiores serão suas deformações.
Operacionalmente, a têmpera pode ser feita em lotes ou em equipamentos
contínuos.
159
Figura 4.9 - Efeito do diâmetro, massa e meio refrigerante nas curvas de resfriamento de um aço AISI/ ABNT 1045.
Efeito do diâmetro da barra e do meio refrigerante do aço AISI/ ABNT 1045. As curvas referem-se
ao centro das barras.
160
Figura 4.10 - Ilustração esquemática do estado de tensão existente num bloco de aço durante a têmpera em água.
Figura 4.11 - Variação dimensional de uma peça de aço AISI/ ABNT 1085 após têmpera em água e óleo.
161
4.6 TEMPERABILIDADE (HARDENABILITY)
O conceito de temperabilidade é associado à capacidade de endurecimento do
aço durante o resfriamento rápido (têmpera), ou seja, sua capacidade de formar
martensita a uma determinada profundidade em uma peça.
Os métodos utilizados para avaliar a temperabilidade são:
Taxa de resfriamento crítico.
Ensaio Grossmann
Ensaio Jominy
4.6.1 TAXA DE RESFRIAMENTO CRÍTICO
Corresponde à menor taxa de resfriamento que pode ser utilizada, para que toda
a estrutura obtida ainda seja martensítica. É um método simples e pode ser
utilizado diretamente na curva CCT do aço. A dificuldade de se empregar este
método é que na literatura a quantidade de curvas CCT encontradas é pequena, e
o levantamento destas curvas requer equipamento sofisticado e caro
(dilatômetro), além de pessoal bastante especializado.
Optou-se então, na prática, pelo desenvolvimento de outros ensaios mais simples
como o de Grossmann e o de Jominy. Na realidade o ensaio de Grossmann foi
idealizado em 1940, muito antes do aparecimento dos dilatômetros comerciais
mais sofisticados.
162
Figura 4.12 - Diagrama de resfriamento contínuo do aço AISI/ ABNT 1045. A taxa de
resfriamento crítico para esse aço seria de 7.000ºC/ min. ou 110ºC/ segundo.
4.6.2 ENSAIO GROSSMANN
Consiste em resfriar, a partir do estado austenítico uma série de barras cilíndricas,
de diâmetros crescentes, em condições controladas de resfriamento. As barras
são serradas e mede-se a dureza no centro das mesmas. Coloca-se então, em
um gráfico, a dureza do centro das barras versus o diâmetro das mesmas. Na
região onde ocorre uma inflexão nesta curva é definido o "Diâmetro crítico – Dc”.
Esta inflexão é tomada como a transição entre a estrutura martensítica e a
estrutura ferrítica/ perlítica de menor dureza.
Assim, se um aço A apresenta um diâmetro crítico de 2,5cm e um outro aço B, um
diâmetro crítico de 4cm, significa que o aço B tem maior temperabilidade que o
aço A. Ou seja, o aço B apresenta uma profundidade de endurecimento (região
martensítica) maior que a do aço A.
163
Figura 4.13 - Curva esquemática do ensaio Grossmann.
4.6.3 ENSAIO JOMINY
Uma das limitações do Ensaio Grossmann é que para se determinar o Diâmetro
Crítico necessita-se de uma série de barras, com diferentes diâmetros. Visando
urna maior rapidez no teste de temperabilidade, Jominy apresentou um ensaio
utilizando uma única barra de 1 polegada de diâmetro por 4 polegadas de
comprimento. Essa barra é austenitizada e em seguida resfriada com um jato de
água em condições padronizadas.
Depois de resfriada, faz-se, longitudinalmente, uma trilha retificada na amostra e
mede-se a dureza a partir da extremidade resfriada. Comparando-se a curva
Jominy de dois aços A e B, observa-se que embora ambos tenham igual dureza
máxima (66Rc), o aço A tem uma maior “penetração de dureza" que o aço B.
Assim o aço A apresenta uma maior capacidade de endurecimento, ou seja, tem
uma maior temperabilidade que o aço B.
164
Figura 4.14 - Ensaio Jominy de temperabilidade.
Figura 4.15 - Curva Jominy para dois aços: A e B.
Se forem feitos vários Ensaios Jominy para um mesmo tipo de aço (1040, por
exemplo), porém com amostras provenientes de diversas fontes, haverá urna
dispersão de resultados. Isto, obviamente, em função de diferenças na estrutura
dos aços (tamanho de grão, inclusões etc.) e nas suas composições químicas.
Por exemplo, um aço 1040, poderá ter, por norma, seu teor de carbono variando
de 0,37 a 0,44%, assim como apresentar variações nos outros elementos de liga
(Mn, Si, etc.).
Devido a isto, as curvas dos Ensaios Jominy obtidas da literatura, apresentam
uma faixa de dureza e não uma dureza única.
165
4.6.4 FATORES QUE AFETAM A TEMPERABILIDADE
Para se aumentar a temperabilidade do aço, deve-se retardar a formação da
ferrita cementita, perlita e bainita, ou seja, deve-se deslocar a curva ITT para
tempos mais longos. Obtém-se isto com:
Elementos de liga dissolvidos na austenita (exceto o cobalto).
Granulação grosseira da austenita. Para diminuir áreas de nucleação
heterogênea dos compostos difusionais (ferrita, perlita, cementita e bainita), visto
que os contornos de grão funcionam como locais preferenciais para a nucleação
destes compostos.
Homogeneidade da austenita, com ausência de inclusões ou precipitados, para
dificultar a nucleação dos compostos difusionais.
Obviamente que para se diminuir a temperabilidade as providências são opostas
às citadas.
Figura 4.16 - Curva Jominy para o aço AISI/ ABNT 1040.
166
4.6.5 TÉCNICAS PARA SE REVELAR O CONTORNO DO GRÃO AUSTENÍTICO
Para se revelar o contorno do grão austenítico existem várias técnicas,as quais
foram revistas recentemente:
Transformação Parcial
Consiste em se fazer um tratamento isotérmico na amostra, deixando crescer
compostos difusionais como a ferrita (aço C < 0,8%), a perlita (aço C = 0,8%) ou a
cementita (aço C > 0,8%). Antes de terminar a transformação, interrompe-se este
crescimento resfriando-se a amostra em água. Como estes compostos crescem
preferencialmente no contorno de grão austenítico, após o resfriamento em água,
os compostos indicarão o local do “antigo” contorno de grão austenítico (pois a
amostra agora é martensítica). Para tamanhos de grãos austeníticos maiores que
100 μ m o método funciona bem, porém para diâmetros menores que 100 μ m o
mesmo não funciona satisfatoriamente.
Oxidação Superficial (método de Kohn)
Consiste em se polir a amostra e depois oxidá-la superficialmente em forno, a
900ºC, por alguns segundos. A amostra é então repolida levemente. Como a
região do contorno de grão é oxidada mais profundamente que o centro do
mesmo, após o repolimento a região do contorno de grão ficará visível.
O inconveniente deste método, além do aquecimento, que provoca um
crescimento do grão austenítico, é que, às vezes forma-se na superfície da
amostra urna rede de óxido de ferro que se confunde como contorno do grão
austenítico. Após o repolimento, o ataque é feito com reativo de Béchet (solução
aquosa de ácido pícrico mais 0,5% de um alkil-sulfonato de sódio).
Reativo de Vilela com 0,5% de Alkil-Sulfonato de Sódio (agente molhante ou
detergente).
Esta técnica não apresenta um contorno de grão muito nítido, porém é a única
feita sem aquecer a amostra, apresentando resultados mais confiáveis. O
reagente de Vilela consiste de ácido pícrico (1g), ácido clorídrico (5 ml) e álcool
etílico (95ml).
167
4.6.6 CRESCIMENTO DO GRÃO AUSTENÍTICO
O crescimento do grão austenítico é um processo que depende do tempo, da
temperatura e é, normalmente, controlado pela presença de partículas finas
(diâmetros menores que 1000A ) dispersas (AIN, p. ex.). Em geral para uma certa
temperatura, o crescimento de grão é bastante rápido nos primeiros 10 minutos de
aquecimento, após o que é apenas marginal. Assim, para que o grão austenítico
volte a crescer novamente, e de uma maneira significativa, seria necessário
elevar a temperatura do forno.
O aumento do grão austenítico para melhoria da temperabilidade não é um
processo indicado, pois acarreta deterioração nas propriedades mecânicas,
principalmente na tenacidade dos aços de alto carbono. Assim, para se aumentar
a temperabilidade de um aço são empregados os elementos de liga, e não o
crescimento provocado do grão austenítico.
Na prática costuma-se usar a escala da norma ASTM E112 para medir tamanhos
de grão. Nesta escala quanto maior o número, menor é o diâmetro do grão
austenítico.
169
Figura 4.18 - Tamanho de grão ASTM (a) e escala de conversão do número de grão
ASTM em diâmetro médio equivalente (b).
Tabela 4.8 - Efeito do tamanho do grão nas propriedades mecânicas dos aços carbono.
170
4.7 REVENIMENTO
A martensita como temperada é extremamente dura e frágil. Peças deixadas
permanecer nesta condição de alto tensionamento interno (tanto macroscópico)
como microscópico: correm grande risco de trincar, exceto quando apresentam
teor de carbono extremamente baixo. Por outro lado, a baixa tenacidade torna
estas estruturas sem emprego prático.
Figura 4.19 - Ciclo de têmpera + revenimento.
Para se atingir valores adequados de resistência mecânica e tenacidade deve-se
logo, após a têmpera, proceder ao revenimento. Este tratamento consiste em
aquecer uniformemente até uma temperatura abaixo daquela de austenitização,
mantendo o aço nesta temperatura por tempo suficiente para equalização de
temperatura e obtenção das propriedades desejadas.
4.7.1 EFEITO NAS PROPRIEDADES
A Fig 4.20 mostra as propriedades mais representativas do aço AISI/ ABNT 8640
em função da temperatura de revenimento. As curvas foram levantadas para
corpo de prova de 12mm de diâmetro para minimizar a variação estrutural ao
longo da seção transversal das amostras.
171
Figura 4.20 - Variação das propriedades mecânicas do aço AISI/ ABNT 8640 em
função da temperatura de revenimento.
Observando-se a Fig. 4.20, pode-se notar claramente o conflito básico existente
entre propriedades de resistência (resistência à tração, limite de escoamento,
dureza) e propriedades de dutilidade e tenacidade (redução de área, alongamento
e, em linhas gerais resistência ao impacto). Esta é uma característica básica de
quase todos os mecanismos de aumento de resistência em aços (e em outras
ligas também).
As mudanças nas propriedades dos aços dependem do tempo e da temperatura
de revenimento. Em geral, nos primeiros minutos de revenimento a queda de
dureza é acentuada, porém a partir de 2 horas de revenimento a perda de dureza
não é expressiva.
Assim, para a continuidade na diminuição da dureza do aço seria mais
conveniente aumentar a temperatura do que mantê-lo numa temperatura inferior
por um tempo muito longo.
172
Figura 4.21 - Efeito da duração do revenimento de um aço com 0,82%C sobre a
dureza, a quatro temperaturas diferentes.
Figura 4.22 - Efeito do tempo de revenimento na dureza de aços carbono.
173
4.7.2 TRANSFORMAÇÕES NO REVENIMENTO DE AÇOS CARBONO
Sendo a martensita uma estrutura metaestável, o aquecimento facilita a busca do
equilíbrio. Como foi visto anteriormente, a metaestabilidade da martensita é
caracterizada pela permanência dos átomos de carbono nos interstícios em que
se encontravam na austenita. Assim, fornecendo-se energia para difusão
(revenimento), o carbono sairá da supersaturação, precipitando-se como
carboneto. Esta precipitação conduz à diminuição da dureza. Além disto, o
revenimento funciona como uma operação de alívio de tensões da têmpera.
Para os aços carbono são verificados os seguintes estágios de revenimento:
Figura 4.23 - Dureza e transformações do revenimento em aços carbono, aquecidos por 1 hora entre 100 e 700ºC.
1. Até 2500C
Em aços com C < 0,25% ocorre a difusão do carbono na martensita. Em aços
com C > 0,25% ocorre a precipitação do carboneto ε hexagonal de corpo
centrado na forma de pequenas ripas ou barras redondas, reduzindo-se o teor de
carbono da martensita para aproximadamente 0,25%. Com isso a martensita
perde parcialmente sua tetragonalidade (a relação c/ a da estrutura martensítica
decresce com, a diminuição do seu teor de carbono). Essa precipitação de
carboneto ε leva, às vezes, no caso de aços com alto teor de carbono a um
174
aumento de dureza, pelo mecanismo de endurecimento por precipitação.
2. De 200 a 350ºC
Durante este estágio a austenita retida é decomposta entre 230 a 300ºC,
formando ferrita e cementita, com características de bainita.
Entre 100 e 300ºC ocorre à precipitação da cementita na forma de barras e a
martensita perde sua tetragonalidade transformando-se em ferrita. À medida que
as partículas de cementita crescem as de carboneto ε vão desaparecendo
gradualmente.
3. 350 a 7000C
Entre 300 e 400ºC inicia-se o coalescimento da cementita e esta se torna
totalmente esferoidal a 700ºC.
Entre 350 e 600ºC ocorre uma pronunciada redução na densidade de
discordância (recuperação) e a ferrita formada apresenta os mesmos contornos
das antigas ripas martensíticas.
Entre 600 e 700ºC o processo de recuperação é substituído pelo de
recristalização, o que resulta na formação de grãos de ferrita equiaxiais com,
partículas esferoidais de cementita no contorno e no interior dos mesmos.
A continuação do processo é um coalescimento contínuo das partículas de
cementita e um gradual crescimento dos grãos ferríticos.
O revenimento dos aços ligados será discutido posteriormente.
175
4.7.3 REVENIMENTO MÚLTIPLO
Aços de alta temperabilidade, como os aços ferramenta, são, em geral, revenidos
duas vezes. O primeiro revenimento deve se iniciar com a peça ainda morna (60º
a 90ºC). Durante este revenimento ocorrem: alívio de tensões, revenimento de
martensita e precipitação de carbonetos na austenita retida (austenita não
transformada durante a têmpera - Em certos aços pode chegar a 30% da
estrutura como temperada). O abaixamento do teor de carbono dissolvido na
austenita retida (pela precipitação de carbonetos), aumenta sua temperatura M1 e
ela tempera durante o resfriamento do primeiro revenimento, formando mais
martensita O segundo revenimento tem a função de revenir esta nova martensita.
Este tratamento de duplo revenimento é muito eficiente na estabilização
dimensional de ferramentas, calibres, etc., que podem ser revenidos até mais de
duas vezes.
4.7.4 FRAGILIDADE DO REVENIDO
Para os aços carbono e baixa liga o aumento da temperatura de revenimento até
200ºC provoca um aumento da dutilidade.
Entretanto, se o aço for revenido entre 260º e 315ºC,o mesmo apresentará uma
menor resistência ao choque do que se for revenido a 150ºC, ou seja, entre 260º
e 315ºC ocorre fragilização.
Outra faixa em que ocorre fragilização é entre 450 e 600ºC, para aços com níquel
e cromo (série 31 XX, por exemplo).
Estes fenômenos de fragilização são especialmente perigosos, uma vez que
nenhuma das demais propriedades é alterada, só podendo ser detectados com
auxílio do ensaio de impacto (Charpy, por exemplo).
Aços que necessitam serem temperados nestas faixas críticas, principalmente na
de 230º a 350ºC têm, em geral, adições de molibdênio ou silício às suas
composições, para evitar a fragilização.
No caso de revenimentos realizados acima de 500ºC deve-se utilizar o
resfriamento em água após o revenimento se houver qualquer dúvida quanto à
176
possibilidade de fragilização do aço Assim, minimiza-se a permanência na faixa
crítica.
Figura 4.24 - Efeito da severidade do resfriamento (após o revenimento) na tenacidade do
aço AISI/ ABNT 5140, revenido a 620ºC, por 2 horas.
4.8 MARTÊMPERA
Visando diminuir parcialmente o problema das tensões de resfriamento na
têmpera, desenvolveu-se o tratamento de martêmpera. Na martêmpera, o
resfriamento é interrompido por alguns instantes a uma temperatura pouco
superior ao M1 temperatura de início de transformação martensítica, de modo a
eliminar ou diminuir substancialmente os gradientes térmicos, prosseguindo em
seguida para formação da martensita. Para a realização de martêmpera é
necessário, um conhecimento adequado das características de transformação
(Curva ITT) do aço.
177
Figura 4.25 - Representação esquemática da têmpera convencional e da martêmpera.
A martêmpera emprega banho de sal ou banho de óleo. O banho de sal
apresenta algumas vantagens sobre o de óleo, tais como:
• Maior estabilidade química
• Opera numa maior faixa de temperatura
• Mais fácil limpeza da peça (O sal é solúvel em água).
• Possui algumas desvantagens também:
• Só é operacional acima de 160ºC.
• Apresenta perigos de explosão.
A martêmpera permite um maior controle dimensional sobre os lotes de peças do
que a têmpera convencional. Também ocorre na martêmpera uma menor perda
de peças por trincas e empenos A desvantagem da martêmpera sobre a têmpera
convencional é que seu custo é maior. Os aços comumente empregados na
martêmpera são apresentados na tabela abaixo.
178
Tabela 4.9 - Aços empregados na martêmpera.
Figura 4.26 - Variação dimensional de uma peça de aço 0,95C/ 0,5W/ 0,5Cr/ 0,2V
austenitizada a 840ºC, e submetida a tratamentos de têmpera convencional e martêmpera.
179
4.9 AUSTÊMPERA
Austêmpera é urna transformação isotérmica para produção de estrutura
bainítica.
O processo consiste em:
Austenitizar o aço.
Resfriamento rápido em banho de sal, óleo ou chumbo para a região de formação
bainítica.
Transformação da austenita em bainita.
Resfriamento ao ar até a temperatura ambiente.
A escolha de aço para austêmpera é baseada em sua curva ITT.
Figura 4.27 - Comparação esquemática entre a têmpera convencional + revenimento e a austêmpera.
180
Figura 4.28 - A aplicação da austêmpera requer uma análise cuidadosa das curvas ITT dos aços.
O principal objetivo da austêmpera é obter produtos com alta dutilidade e
resistência ao impacto, sem perda expressiva de dureza.
Tabela 4.10 - Propriedades mecânicas do aço 1095 a três diferentes tratamentos térmicos.
O outro objetivo da austêmpera é reduzir a perda por trincas e empenos, e
melhorar a precisão dimensional.
O custo da austêmpera é aproximadamente o mesmo que o da têmpera +
revenimento, e em alguns casos é até menor, quando, por exemplo, se tratar de
pequenas peças em produção automatizada. A grande desvantagem é que o
processo, devido às duas características é limitado a um grupo pequeno de aços:
1050, 1095, 1350, 4063, 4150, 4365, 5140, 5160, 8750 e 50100, dentre os mais
comuns.
181
4.10 AUSTENITA RETIDA Como visto anteriormente a austenita “retida” após a têmpera pode se transformar
em martensita, causando variação dimensional, visto que os dois constituintes
têm densidades diferentes (a transformação da austenita em martensita, em um
aço com 1%C, na temperatura ambiente, provoca um aumento de volume de
4,3%).
Nestes casos a eliminação da austenita retida pode ser feita por:
Revenimento múltiplo. Já discutido anteriormente.
a) Tratamento sub-zero. Consiste em resfriar a peça para temperaturas menores que 0ºC, com nitrogênio líquido ( ≈ -176ºC), gelo seco ( ≈ -68ºC) ou hélio líquido ( ≈ -268ºC).
Com isso a peça atinge temperaturas inferiores a MF e ocorre a transformação da
austenita em martensita.
Encruamento. A deformação a frio facilita a transformação da austenita retida,
porém ocasiona os mesmos problemas de variação das dimensões.
4.11 TÊMPERA SUPERFICIAL Têmpera superficial é um processo de têmpera convencional, só que aplicado
apenas à região superficial da peça. É ideal para produzir peças com alta dureza
superficial e, por conseqüência, maior resistência ao desgaste, com um núcleo
mais mole e dútil. É o caso de engrenagens, por exemplo, onde se deseja alta
resistência ao desgaste na superfície, para suportar o atrito metal/ metal, e um
núcleo dútil, para acomodar os impactos recebidos.
Para se promover um aquecimento rápido da superfície da peça, utiliza-se o
aquecimento indutivo ou por chama.
4.11.1 AQUECIMENTO INDUTIVO Neste caso o aquecimento na peça é provocado por indução eletromagnética,
através de bobinas apropriadas. Nestas bobinas circula umaa corrente alternada,
o que gera um campo eletromagnético a sua volta. Ao ser colocada uma peça
neste campo, geram-se correntes parasitas na mesma. Estas correntes, ao
circularem pela peça, provocam o aquecimento por efeito Joule.
Dependendo da região a ser aquecida utiliza-se um tipo de espira.
182
Figura 4.29 - Diferentes tipos de espiras para o aquecimento indutivo, em função da região a ser aquecida.
A profundidade temperada depende da freqüência empregada. Quanto maior a
freqüência menor a região aquecida, para a mesma densidade de potência
empregada.
O tempo de aquecimento indutivo para peças pequenas e da ordem de 1 a 10
segundos. Este tempo deve ser o menor possível para não causar o
superaquecimento, com posterior aparecimento de trincas.
Figura 4.30 - Eficiência na transferência de energia a 1100ºC, com diferentes freqüências,
para vários diâmetros de barras de aço 1045. Quando a têmpera é contínua (em longos eixos, por exemplo), a velocidade de
deslocamento da espira é da ordem de 1cm/ segundo.
Os aços empregados neste processo são os carbonos e baixa liga,
183
preferencialmente com estrutura homogênea da ferrita e perlita ou martensita
revenida. Aços esferoidizados, com cementita grosseira apresentam resultados
piores na tempera por indução, pois a dissolução dos carbonetos durante a
austenitização é mais difícil. Na tabela abaixo são indicadas as temperaturas de
austenitização e os meios de resfriamento para a têmpera superficial.
Tabela 4.11 - Profundidade de penetração e densidade de potência em função da
freqüência utilizada na têmpera por indução.
Tabela 4.12 - Temperatura e meio de resfriamento indicados para a têmpera superficial por indução.
O resfriamento da peça pode ser feito com:
Mergulho da peça em um tanque com líquido (água ou óleo) logo após o
aquecimento.
Spray proveniente da própria espira de indução.
Spray caminhando junto com a espira de indução.
184
4.11.2 AQUECIMENTO POR CHAMA Neste caso o aquecimento resulta da combustão de gases como propano,
acetileno, gás natural, etc.
As vantagens que este processo apresenta são:
Pode ser utilizado em peças grandes, onde o aquecimento em fornos ou por
indução seria impraticável;
Pode ser utilizado em áreas pequenas e localizadas;
É mais econômico para pequenos lotes de peças que o processo por indução.
Figura 4.32 - Diferentes tipos de montagem para
têmpera por indução.
Figura 4.31 - Têmpera superficial por indução, na Eletrometal, de um cilindro
de laminação.
185
Figura 4.33 - Comparação de custos para produção de engrenagens utilizando
aquecimento por chama e por indução. Os tipos de queimadores são os mais diversos, e adaptados aos diferentes tipos
de peças. O acetileno produz um aquecimento mais rápido que o gás natural.
Os aços empregados neste tratamento são os aços carbono (0,35 a 0,60%C) e
aços ligados como o 4130H, 4140H, 8640H, 8642H e 4340H.
Em comparação com o aquecimento indutivo, o aquecimento por chama
apresenta equipamento de menor custo, porém demanda maior manutenção
(principalmente devido aos queimadores) e é um processo mais lento. Assim, a
escolha do processo de aquecimento deve ser precedida de uma análise rigorosa
dos custos diretos e indiretos envolvidos.
186
Figura 4.34 - Diferentes dispositivos para têmpera superficial por chama.
Figura 4.35 - Relações entre têmpera e profundidade de endurecimento na têmpera
superficial por chama, para diferentes tipos de gases queimando com oxigênio.
187
4.12 SOLUBILIZAÇÃO (RECOZIMENTO PARA SOLUBILIZAÇÃO)
Tratamentos que envolvem o aquecimento à temperatura adequada, durante um
tempo suficiente para a dissolução de um ou mais constituintes seguidos de
resfriamento bastante rápido para mantê-los em solução, chamam-se tratamentos
de solubilização ou recozimento para solubilização. Estes tratamentos são
aplicados a várias famílias de aços e ligas especiais.
Para ligas não endurecíveis por precipitação, como a maioria dos aços
inoxidáveis austeníticos e níquel puro, por exemplo, o tratamento de solubilização
pode se confundir com um simples tratamento de recozimento (annealing),
visando, normalmente, recristalização e homogeneização microestrutural. Em
ligas como aços inoxidáveis austeníticos, tratamentos de solubilização têm,
adicionalmente o objetivo de dissolver precipitados, de modo a obter o máximo de
resistência a corrosão.
Os principais objetivos destes tratamentos são:
Aumentar a ductilidade (reduzir dureza), aliviar tensões pós-soldagem, produzir
microestruturas desejadas, e, em ligas endurecíveis por precipitação, reduzir a
dureza e condicionar o material para o tratamento de envelhecimento através da
dissolução dos precipitados.
Os aços inoxidáveis austeníticos convencionais, que não tem transformações de
fases, somente aumentam sua resistência através do encruamento. Após
conformação ou soldagem, um tratamento de solubilização pode ser
recomendado quando se deseja homogeneidade de microestrutura, o máximo de
resistência à corrosão e dutilidade. Estes aços são solubilizados a temperaturas
acima da linha “solvus” dos carbonetos de cromo. Como a dissolução dos
carbonetos é lenta, a temperatura mais alta capaz de não conduzir a crescimento
excessivo de grão é selecionada. Estas temperaturas variam, normalmente, na
faixa de 1000~1100ºC.
188
Figura 4.36 - Efeito do carbono no diagrama de fases de um aço 18% Cr - 8% Ni.
Após a dissolução dos carbonetos, o material é resfriado rapidamente para
prevenir a reprecipitação destas fases. Para peças de pequenas dimensões,
resfriamento ao ar pode ser suficiente, enquanto peças grandes normalmente
requerem resfriamento em água. As tensões causadas pelo resfriamento rápido
devem ser consideradas em aplicações em que corrosão sob tensão é
importante.
Uma vez que esta condição solubilizada não é uma condição de equilíbrio, a
exposição do material a temperaturas elevadas conduzirá à precipitação de fases
buscando atingir o equilíbrio. Enquanto que para aços inoxidáveis austeníticos
comuns esta precipitação é indesejada, este fenômeno é aproveitado nas ligas
endurecidas por precipitação, através de tratamento térmico de envelhecimento.
No caso de ligas endurecidas por precipitação (superligas, p. ex.), a escolha dos
parâmetros do tratamento de solubilização é mais complexa, pois pode depender
das propriedades desejadas após envelhecimento. As ligas Inconel 718 (EMVAC
718) e Waspaloy (EMVAC WP), por exemplo, devem ser solubilizadas a
temperaturas mais elevadas quando o máximo de resistência à fluência for
necessária, enquanto temperaturas de solubilização mais baixas são
recomendadas para propriedades de curta duração a alta temperatura. O uso de
temperatura de solubilização mais elevada conduzirá a grãos maiores e maior
dissolução de carboneto. Durante o envelhecimento acontecerá maior
189
precipitação de carbonetos nos contornos de grão, otimizando a microestrutura
para a resistência à fluência.
4.13 ENVELHECIMENTO
Uma liga é dita endurecível por precipitação quando sua dureza ou o limite de
escoamento aumenta com o tempo, a temperatura constante (temperatura de
envelhecimento), após resfriamento rápido a partir de uma temperatura muito
mais alta (temperatura de solubilização).
Os mecanismos de endurecimento associados ao endurecimento por precipitação
são complexos e sua discussão transcende ao objetivo deste texto. De forma
simplificada, tamanho, espaçamento e volume total de precipitados, além das
características do precipitado, definem o efeito sobre as propriedades mecânicas.
Características importantes dos precipitados englobam coerência (ou não) com a
matriz e ordenação (ou não) de sua estrutura, entre outras.
A seleção dos parâmetros ideais de envelhecimento para determinada liga não é
uma tarefa simples. Temperatura, tempo e número de ciclos de envelhecimento
devem ser determinados considerando:
Tipo e número de fases disponíveis para precipitação;
Temperatura de emprego prevista;
Tamanho do precipitado;
Combinação de resistência e dutilidade desejada.
190
Figura 4.37 - Produto de solubilidade do Nbc a 700ºC, 100ºC e 1300ºC, num aço inoxidável
austenítico. Estão indicados, para os aços de composição A e B, a quantidade de carboneto não dissolvido, às diferentes temperaturas, assim como a quantidade teórica de Nbc disponível para
precipitação em envelhecimento a 700ºC.
Em ligas simples, como no caso de aços inoxidáveis para aplicação à alta
temperatura (endurecidos pela precipitação de uma fase simples) o volume
teórico que se precipitará pode ser previsto por cálculos de solubilidade.
Em ligas mais complexas, como superligas a base de níquel ou níquel e ferro,
várias fases podem precipitar, como:
Ni, Al, Ni3, (Ti, Al), Ni3, Ti (y’)
Ni3, Nb (y’’)
Diversos carbonetos, como M23C6, M7C3, M6C etc.
A figura abaixo apresenta o efeito típico de tempo e temperatura de
envelhecimento sobre a dureza de uma liga endurecível por precipitação. Para
vários materiais, tratamentos recomendados podem ser encontrados, também,
nas normas ou especificações aplicáveis (ASTM, AMS etc).
É especialmente importante ressaltar que parâmetros adequados para o conjunto
solubilização + envelhecimento são essenciais se os melhores resultados são
desejados. O simples atendimento aos requisitos de dureza após o
envelhecimento pode não ser suficiente para garantia do atendimento às
propriedades requeridas, se, por exemplo, a solubilização não foi realizada
adequadamente.
191
Figura 4.38 - Efeito da temperatura sobre as curvas de envelhecimento durante o
endurecimento por precipitação. (Curvas para aço carbono com 0,06%C).
4.14 EXEMPLOS DE MICROESTRUTURAS OBTIDAS COM
TRATAMENTOS TÉRMICOS
As figuras abaixo apresentam microestruturas típicas dos aços 1018, 1045 e 1095
obtidas após tratamentos de recozimento, normalização, têmpera e revenimento.
198
Figura 4.45 - Microestruturas do aço AISI/ ABNT 1095 após diferentes tratamentos térmicos.
Figura 4.46 - Microestruturas do aço AISI/ ABNT 1095 após diferentes tratamentos térmicos.
5 CLASSIFICAÇÃO E SELEÇÃO DE AÇOS
199
Alguns aspectos comuns da seleção e classificação de materiais em geral, são
tratados a seguir, antes de analisar a seleção e classificação dos aços, em
particular.
5.1 CLASSIFICAÇÃO E ESPECIFICAÇÃO
A importância de especificações bem elaboradas para produtos industriais não
pode ser subestimada. Especificações corretas conduzem a economia por parte
dos produtores e dos compradores, prazos mais curtos de entrega e,
principalmente, melhor entendimento entre produtor e cliente. Uma especificação
bem elaborada deve deixar claro o que se espera e o que se aceita do produto.
Por este motivo, muito esforço vem sendo dedicado por diversas entidades,
privadas ou não, nível nacional ou internacional, no sentido de padronizar as
especificações de produtos industriais, especialmente os materiais.
Aços e ligas especiais têm sido classificados de diferentes maneiras. São
métodos usuais de classificação:
Classificação baseada em características do aço ou liga.
Ex.: Propriedades mecânicas, composição química, etc
Classificação baseada no emprego do aço ou liga.
Ex.: Aços para ferramentas, para construção Mecânica, etc.
Basicamente, selecionada uma determinada composição química de um material,
levanta-se, estatisticamente, suas características de emprego: propriedades
mecânicas, resistência à corrosão, etc. Tabuladas tais propriedades para diversas
ligas, o engenheiro de projeto pode selecionar, em função da aplicação em vista,
o material mais adequado. É importante ter em mente, entretanto, que as
propriedades e características apresentadas em manuais são médias sobre
universos de amostras amplas. É sempre recomendável um contato com o
produtor de aço, no sentido de definir, com maior exatidão, o que se pode esperar
do material produzido, segundo determinada especificação Normalmente o
fabricante fornecerá um julgamento sensato sobre a adequação do material
selecionado pelo projetista e poderá, inclusive opinar quanto à possibilidade do
aço ter suas propriedades em uma faixa mais estreita que a citada nos manuais.
Também pode fornecer garantias sobre propriedades ou características não
200
constantes da especificação. E importante ter em mente, entretanto, que,
normalmente, o material é garantido apenas no que tange á especificação
segundo a qual foi comprado.
Dentre as propriedades que podem ser especificadas para um aço ou liga, além
das dimensões e tolerâncias, estão:
• composição
• propriedades mecânicas
• tamanho de grão
• temperabilidade
• nível de inclusões
• resistência ao impacto
• propriedades físicas
Entretanto, como o custo do material varia diretamente com o número de
propriedades especificadas, uma determinada especificação deve ser aceitável
economicamente tanto para o fornecedor como para o cliente. Além disto, há
diversas falhas que podem estar presentes em uma especificação:
Ser muito geral - causando aceitação de material inferior ao desejado.
Ser muito restritiva - causando a recusa de material que seria adequado para a
aplicação
Ser baseada em critérios impróprios ou inadequados - Por exemplo, especificar a
composição química quando se deseja realmente propriedades mecânicas; ou
exigir propriedades mecânicas elevadas de um material cuja principal
característica necessária na aplicação seja resistência à corrosão.
Ser impraticável, por exigir material ideal - Por exemplo, especificar ausência total
de fósforo e enxofre no aço; ou especificar isenção completa de inclusões não-
metálicas.
É importante, então, que o projetista tenha um espírito permanentemente crítico,
perguntando-se sempre se está especificando realmente o que é importante, se
não está sendo excessivamente restritivo, encarecendo o produto; em suma, se
está sendo razoável.
Seleção
A seleção de materiais é uma das tarefas mais complexas na engenharia.
201
Normalmente, para cada aplicação, há um conjunto de requisitos que o material
ideal deve satisfazer. Parte da complexidade da seleção de materiais está em
traduzir estes requisitos ou condições de trabalho em características desejadas
do material e, adicionalmente, convertê-las em propriedades controláveis através
de ensaios ou testes exeqüíveis, a nível de controle da qualidade (testes de
aceitação).
Evidentemente, uma limitação constante no processo de seleção de um material é
que a adequação ao uso deve ser obtida a custo mínimo.
Assim, exceto nos casos extremamente simples ou em aplicações muito bem
conhecidas, a seleção de um material para uma dada aplicação deve ser um
processo iterativo.
Neste processo, visa-se correlacionar parâmetros de desempenho (ou
propriedades cuja medida é mais difícil ou cara) e características mais facilmente
controláveis dos materiais pré-selecionados para a aplicação (como dureza,
resistência à tração, etc) até se encontrar um material otimizado para a aplicação.
Uma vez selecionado o material, seu fornecimento pode ser controlado através
destes ensaios tecnológicos, com os requisitos definidos durante o processo
iterativo de homologação.
Estas sistemáticas de homologação e qualificação de materiais são rotineiras em
aplicações que se relacionam com a segurança de pessoas tais como vasos de
pressão, caldeiras, aeronaves, etc.
202
5.2 AÇOS ESTRUTURAIS
Por aços estruturais entendem-se, basicamente, vergalhões para reforço de
concreto, barras (normalmente em aplicações estáticas) e chapas e perfis para
aplicações estruturais.
Nesta classe está o consumo maciço de aços e a relação resistência/ preço é,
normalmente, fator decisivo na seleção.
Aços para aplicações estruturais corriqueiras são produtos laminados a partir de
lingotes de aço efervescente ou semi-acabado (não desoxidado ou parcialmente
desoxidado), elaborados em conversores.
A seleção deste roteiro de fabricação está intimamente ligada ao custo, pelas
seguintes razões:
Os conversores têm, em geral, o menor custo de elaboração.
O uso de desoxidantes é um dos fatores que mais encarece os aços estruturais.
A laminação é o processo que permite maior economia na produção das seções
envolvidas.
Obviamente, as propriedades destes materiais estão situadas na região inferior do
espectro de propriedades dos aços. Desde que corretamente aplicados,
entretanto, são completamente satisfatórios e apresentam máxima economia no
uso.
Para estruturas e aplicações de maior responsabilidade, aços de alta resistência e
baixa liga vem sendo extensivamente desenvolvidos nas últimas décadas, como
será discutido adiante.
Uma vez que os aços desenvolvidos para tais aplicações (como plataformas off-
shore, por exemplo) são essencialmente os mesmos empregados na fabricação
de vasos de pressão, tanques e tubulações, é conveniente discuti-los também
nesta seção.
Além disto, existem aplicações especiais que requerem aços de baixa ou média
liga, como aços para reatores nucleares, vasos de alta pressão, mísseis,
submarinos, etc. Naturalmente a discussão detalhada da seleção de materiais,
para tais aplicações especiais foge ao objetivo deste texto, e é encontrada em
publicações especializadas.
203
Os principais requisitos para aços destinados às aplicações estruturais são:
Tensão de escoamento elevada. A maioria dos códigos de projeto modernos vêm
reconhecendo a tensão de escoamento como a propriedade a ser considerada no
projeto. O conceito de que uma relação limite de ruptura/ limite de escoamento
elevado seria necessária para prevenir instabilidade plástica vem sendo
substituído pelo uso criterioso do limite de escoamento, como propriedade a ser
considerada para prevenir deformação plástica generalizada.
Elevada tenacidade. A prevenção da fratura rápida ou catastrófica de estruturas
de aço tem merecido atenção especial desde, pelo menos, a Segunda Guerra
Mundial. O controle da tenacidade é fundamental na prevenção da fratura rápida
("frágil").
Boa soldabilidade. A alteração das características do material na junta soldada
deve ser a menor possível, idealmente, exigindo o mínimo de cuidados
operacionais. Esta característica é fundamental para permitir montagens rápidas,
simples e confiáveis, bem como o corte por chama.
Boa formalidade. Uma vez que em muitos casos é necessário se utilizar
conformação mecânica (dobramento, calandragem, etc.) para se fabricar a
estrutura desejada.
Custo mínimo.
É interessante observar que, enquanto critérios de projeto que permitem
correlacionar condições de carregamento uniaxial (resultado de ensaios de
tração, por exemplo) com o comportamento em condições reais de componentes
ou estruturas foram estabelecidos há bastante tempo, com resultados bastante
satisfatórios, o mesmo não ocorreu com critérios para prevenção de falhas
rápidas (catastróficas), em presença de defeitos ou outros concentradores de
tensões.
Inicialmente critérios empíricos foram estabelecidos através de correlações com
falhas em serviços. Critérios freqüentemente empregados como 10 ou 35 ft.lbf no
ensaio de Charpy V a temperatura de emprego, por exemplo foram derivados da
análise de centenas de fraturas frágeis ocorridas em navios no período de 1940-
50.
A análise de vários casos de falha no Naval Research Laboratorv, no inicio da
204
década de 1960 levou Pellini a estabelecer o ensaio para determinação da NDT
(“temperatura de dutilidade nula”) e os critérios semi-empíricos de NDT + 600F ou
NDT + 1200F como temperaturas seguras contra a fratura frágil.
Através dos conceitos de mecânica da fratura vem sendo possível, nas últimas
décadas, o estabelecimento de critérios de projeto que relacionam propriedades
do material tenacidade, resistência com as tensões aplicadas e os defeitos
presentes, com vistas à prevenção da falha catastrófica de estruturas.
5.2.1 VERGALHÕES PARA CONCRETO
Os vergalhões para concreto armado são especificados segundo a norma NBR
7480, sendo designados CA xx, onde os dois algarismos representam o limite de
escoamento mínimo em kgl/ mm2 (ex.: CA-25, CA-50, etc.). Pertencem a duas classes: A - laminados a quente e B - encruados (laminados a
frio ou torcidos). É importante notar que, enquanto os CA's da classe A quando
soldados não apresentam enfraquecimento, os aços encruados podem
recristalizar e sofrer transformações, durante a soldagem, que reduzam seu limite
de escoamento.
Para concreto protendido, a NBR 7482 designa os aços CP-xxx, onde os
algarismos indicam o limite de ruptura em kgl/ mm2, havendo 3 classes:
A - laminado a quente, B - encruado e C – temperado. Novamente devem-se
observar os possíveis efeitos negativos da soldagem nas classes B e C.
É sempre recomendável, entretanto, quando se deseja soldar vergalhões, obter a
composição química do material, para verificar sua soldabilidade.
205
5.2.2 CHAPAS E PERFIS ESTRUTURAIS
Chapas e perfis são, em geral, fornecidos pelas grandes siderúrgicas, ou
fabricados (no caso de perfis dobrados ou soldados) a partir de materiais desta
procedência. Perfis são especificados de acordo com as normas NBR 7007 (aços
para perfis laminados...), NBR 6109 (cantoneiras de abas iguais) e NBR 6352
(cantoneiras de abas desiguais), entre outras. No caso de perfis e chapas
laminados, as grandes siderúrgicas os fornecem de diversas resistências. É
importante ter-se em mente que a plasticidade para conformação a frio é uma
propriedade que merece cuidados especiais. Sempre que se desejar aço
estrutural para posteriores dobramentos, é conveniente contactar o fornecedor,
verificando especialmente a adequação do material à operação desejada. É
importante especificar também o sentido do dobramento – longitudinal ou
transversal – de vez que a anisotropia destes materiais é bastante elevada, em
decorrência do próprio processo de elaboração. É conveniente, em casos de
dúvida, conduzir-se testes. No caso de perfis fabricados (soldados ou dobrados), é necessário certificar-se da
capacidade do fornecedor de produzir soldas como nível de qualidade desejado,
seus métodos de inspeção, etc. Novamente, neste caso, é necessário que o
projetista mantenha alerta seu bom senso. Em aplicações de pouca importância,
onde o custo é o fator dominante, não há sentido em se exigir inspeção das
soldas, por exemplo.
206
5.3 AÇOS DE ALTA RESISTÊNCIA E BAIXA LIGA (ARBL)
A classificação de aços como de “Alta Resistência e Baixa Liga’’ é bastante
genérica e, freqüentemente, conduz a mal entendidos”.
Há uma superposição natural entre o conceito de aços ARBL e classificações
baseadas no emprego, isto é, aços ARBL são empregados como aços estruturais,
aços para embutimento, aços para tubulações, vasos de pressão, etc.
Além disto, alguns destes aços têm sido agrupados em famílias em função de
alguma característica comum, como: aços bifásicos (dual-phase), aços de perlita-
reduzida (reduced-pearIite), aços laminados controladamente, aços “spray-
quenched”, etc.
Evidentemente, todas as classificações ou agrupamentos são válidos ou úteis
dentro de determinadas condições; é importante, entretanto, não se deixar
confundir pelas diversas nomenclaturas, pois assim como o próprio “nome” dado
ao aço, elas não podem alterar suas propriedades e características. Estas
decorrem, fundamentalmente, de sua composição química, processamento e,
conseqüentemente, estrutura (macro e micro), e não dependem da “etiqueta” que
se coloca no produto.
As últimas décadas viram grandes desenvolvimentos na tecnologia dos aços
ARBL (ou HSLA, em inglês). Estes desenvolvimentos foram baseados, em sua
maioria, na compreensão da correlação entre propriedades e microestrutura.
Historicamente, pontos notáveis da evolução destes aços, segundo Pickering,
são:
Inicialmente, o projeto de estruturas era baseado no limite de ruptura e o carbono
era o principal elemento de liga. Apesar do baixo custo, tenacidade e
soldabilidade eram baixas.
O advento da soldagem exigiu a redução do teor de carbono. Para manter a
resistência, o teor de manganês foi aumentado.
Falhas catastróficas de estruturas soldadas levaram ao reconhecimento da
importância do controle da tenacidade. Ao mesmo tempo, os critérios de projeto
passaram a dar mais importância ao limite de escoamento. O teor de C foi
reduzido ainda mais, mantendo-se o teor de Mn elevado. A importância do
207
tamanho de grão na resistência e tenacidade foi reconhecida.
Aços de grão-fino (com adições de AlN, por exemplo) foram desenvolvidos. A
vantagem associada a estas adições é obtida na condição normalizada. Limites
de escoamento da ordem de 300 MPa e temperaturas de transição abaixo de 0ºC
foram obtidos.
Aumentos adicionais do limite de escoamento passaram a ser obtido nos aços de
grão fino, através de endurecimento por precipitação (Carbonetos de vanádio,
nióbio e titânio).
Posteriormente, o reconhecimento da importância do tamanho de grão na
resistência e na tenacidade levou à pesquisa de meios de se obter grãos cada
vez mais finos.
Um processo que permita obter, durante a laminação, austenita de grão fino e,
eventualmente, encruada, favorece, naturalmente, a nucleação de ferrita no
resfriamento e resulta em microestruturas de grão extremamente fino.
Para se atingir estas condições, tratamentos termomecânicos em que
deformações significativas são realizadas a temperaturas inferiores à temperatura
de recristalização do material, são necessários.
Devido à baixa temperatura de recristalização dos aços C-Mn, para estes aços
isto só e possível com laminadores de alta potência. Uma alternativa é o uso de
elementos microligantes, como o Nb que, dissolvidos na austenita ou precipitados
como carbonitretos, aumentam a temperatura de recristalização, e retardam o
crescimento do grão austenítico.
Tais tratamentos termomecânicos permitem o aproveitamento máximo dos
elementos de liga/ microliga e, corretamente empregados conduzem a excelentes
combinações de propriedades mecânicas e termológicas. Aços assim produzidos
vêm sendo extensivamente utilizados em diversas aplicações, como tubulações
(oleodutos, gasodutos) construção naval, vasos de pressão, etc.
É evidente que esta evolução metalúrgica dos aços estruturais ocorreu e vem
ocorrendo visando a atender os requisitos descritos anteriormente.
Assim, algumas condicionantes importantes dessa evolução são:
_ Procura de mecanismos capazes de conduzir a maior refino de grão uma vez
que isto conduz, simultaneamente, a aumento da tenacidade e do limite de
escoamento.
208
Melhoria da soldabilidade, através de redução do carbono equivalente (que
expressa, de forma simplificada a tendência à formação de martensita e,
conseqüentemente, possibilidade de trincas a frio) e controle da evolução da
microestrutura da zona afetada pelo calor, através, por exemplo, do controle
judicioso do teor de microligas e do carbono e nitrogênio presentes, capazes de
reprecipitar na ZAC (zona afetada pelo calor), reduzindo sua tenacidade.
Melhoria da tenacidade, de forma geral, e formabilidade, bem como busca da
isotropia da dutilidade. O controle da quantidade e forma das inclusões não-
metálicas é fundamental neste aspecto. O complexo balanço entre estas várias propriedades e o desejo crescente de
aproveitá-las ao máximo, assim como a variedade de modos de atingi-las (do
ponto de vista metalúrgico), recomenda que cada aplicação crítica seja discutida
antecipadamente com o fabricante do aço, que deve poder aconselhar sobre as
melhores condições de emprego e processamento de cada aço.
A conveniência de testes preliminares de qualificação/ homologação deve ser
aqui ressaltada, especialmente quando se considera propriedades relativamente
subjetivas como soldabilidade e/ ou formabilidade.
5.4 AÇOS PARA EMBUTIMENTO E ESTAMPAGEM
Estas operações de conformação a frio podem variar grandemente em
severidade, desde um dobramento com raio várias vezes superior à espessura da
Figura 5.1 - a) Efeito do tamanho de grão no limite de escoamento/ limite de ruptura de aços ARBL laminados a quente.
b) Efeito do tamanho de grão na temperatura FATT (50% fratura dútil) de aços ARBL laminados a quente.
209
chapa até embutimentos complexos, com repuxamentos severos, como no caso
de diversas peças de carrocerias de automóveis. Além disto, dependendo do
acabamento desejado na peça, estrias e outros defeitos superficiais podem não
ser aceitáveis. Associa-se a estas operações graus de severidade, enquanto as
siderúrgicas fornecem chapas em grupos de diferentes resistências ao
embutimento. Apesar de diversos testes terem sidos desenvolvidos para
determinar o grau de estampabilidade aceitável pelo material (ex.: Testes de
Copo: Olsen, Erichsen), é bastante difícil correlacionar a severidade do teste com
a severidade da operação. Em geral, a seleção pode ser baseada na experiência
do projetista, seguida de testes visando determinar o material de custo mínimo
capaz de aceitar a deformação do processo.
Adicionalmente, o desenvolvimento de conceitos como o Diagrama Limite de
Conformação vem permitindo uma análise mais sistemática destas operações e
uma melhor caracterização do comportamento do material.
Para uma análise detalhada da aplicação deste diagrama, bem como dos fatores
que influenciam a seleção de aços para estas aplicações veja a referência.
210
XX
Família
XX
Teor de CEm centésimos de porcento (0,01%)
XX
Família
XX
Teor de CEm centésimos de porcento (0,01%)
5.5 AÇOS PARA CONSTRUÇÃO MECÂNICA
Enquanto aços estruturais são normalmente fornecidos para atender a requisitos
mecânicos (com alguns limites de composição química com vistas a
soldabilidade, por exemplo), aços para construção mecânica são usualmente
fornecidos para atender faixas de composição química.
5.5.1 O SISTEMA ABNT
O sistema de classificação de aços empregado pela ABNT (NBR 6006) é
basicamente o mesmo usado pelo AISI (American Iron and Steel Institute) e pela
SAE (Society of Automotive Engineers). Nestes sistemas, os aços são divididos
em grupos principais e, dentro destes grupos, em famílias de características
semelhantes. Estas famílias são designadas por conjuntos de algarismos, em
geral, da seguinte forma:
211
Assim, um aço 4340, é um aço da família 43, isto é, com 1,8%Ni, 0.80%Cr,
0,25%Mo e com 40 centésimos de porcento de C, Isto é, 0,40%C.
Além dos algarismos, são empregadas letras na classificação, principalmente “H”,
após os algarismos, que indica temperabilidade assegurada e “B” entre os dois
grupos de dois algarismos que indica a presença de boro, para aumento da
temperabilidade. Por exemplo, um aço 8620H é um aço com resposta ao
tratamento térmico mais consistente que o 8620, sendo que suas propriedades se
situam na parte superior da faixa de dureza do 8620. Do mesmo modo, o aço
10B46, é essencialmente um aço 1046 (aço carbono com 0,46% C) ao qual
adiciona-se um mínimo de 5ppm de boro, que melhora a temperabilidade. Nos
casos dos aços inoxidáveis e aços-ferramenta, os algarismos finais não
representam o teor de carbono. Para aços inoxidáveis (NBR 5601) da série 3xx, a
letra L após os algarismos indica carbono extrabaixo, com melhores
características de resistência à corrosão.
aços que são, comercialmente, mais comuns, como por exemplo: 8620, 8640,
4140, 4340, 1045, 3310, 9315, 52100, 304, 410, 420. É claro que, ao projetar uma
peça que requererá pequena quantidade de aço e será fabricada com pouca
freqüência, deve ser dada preferência a um dos aços comercialmente mais
comuns, pois são estes aços que se encontram, em geral, em estoque no
produtor. Assim, as chances de se obter o material em curto prazo, por preço
razoável, aumentarão bastante. Por outro lado, na especificação de um aço para
peças a serem produzidas em série, em grandes quantidades, é conveniente
selecionar o material realmente necessário, evitando excessos (especificar aços
com teores de elementos de liga superiores aos necessários, por exemplo) que,
certamente, aumentarão os custos da produção seriada.
A partir de 1975, num esforço para estabelecer um sistema único para a
designação de metais e ligas, a ASTM e a SAE passaram a publicar o UNS
(Unified Numbering System).
Neste sistema (ASTM E 527), um prefixo de uma letra é seguido por cinco
algarismos. A letra da uma indicação da família do metal ou liga indicado e os
algarismos identificam a liga especifica.
Para os aços normalizados pela SAE, o UNS tentou manter o mesmo código
213
Figura 5.3 - Classificação ABNT.
5.5.2 SELEÇÃO BASEADA NA TEMPERABILIDADE
Ao selecionarem-se aços para determinada aplicação, raramente todas as
propriedades terão a mesma importância. O problema consiste em determinar
quais propriedades são importantes e, em seguida, selecionar material que tenha
tais propriedades a menor custo. Para determinação das propriedades
necessárias usam-se os cálculos – baseados na resistência de materiais, as
experiências anteriores com peças semelhantes, e os testes práticos dos
conjuntos.
Quando a resistência ou a combinação de resistência e tenacidade exigidas em
uma peça não podem ser atingidas pelos aços como forjados, recozidos ou
normalizados, emprega-se, como visto anteriormente, a têmpera e o revenimento.
Da mesma forma, peças que poderiam ser produzidas em aços simplesmente
normalizados, podem se tornar mais leves (devido ao aumento de resistência)
empregando-se aços temperados e revenidos.
214
Na seleção de aços para tratamento térmico, a propriedade mais importante é a
temperabilidade. Não se deve confundir temperabilidade com dureza máxima na
têmpera, que é função do teor de carbono. Além disto, no projeto de peças
temperadas, emprega-se a dureza como indicador da resistência mecânica. A
dureza só é necessária, como propriedade, nos casos em que o fator mais
importante no projeto é a resistência ao desgaste. Neste caso, devem-se escolher
aços tratados de modo a atingir 100% de martensita na superfície e a maior
dureza possível. É importante lembrar que, numa peça, o centro e a periferia
esfriarão a velocidades diferentes, apresentando propriedades diferentes. A
medida da temperabilidade é feita através de ensaios tecnológicos, dentre os
quais o mais empregado é o ensaio Jominy (ASTM A255).
Figura 5.4 - Relação entre o limite de ruptura e dureza Brinell (HB) para aço nas
condições: temperado e revenido, normalizado ou como laminado.
215
Figura 5.5 - Arranjo para a realização do ensaio Jominy, conforme ASTM A255. (As condições de austenitização do cp, bem como o tempo de transferência do
forno até o suporte e a altura do jato de água (livre) a partir do orifício são padronizados pela norma).
Para relacionar os resultados destes ensaios com aplicações práticas, certas
correlações devem ser feitas, levando em conta a severidade do meio de têmpera
e a seção transversal da peça a ser temperada. Na tabela 5.6 são apresentados
os valores do fator de severidade de têmpera, a ser empregado em conjunto com
as Figuras 5.4 a 5.11, para o ensaio Jominy.
Com estes dados, levantados a partir de cálculos de transmissão de calor e
verificações experimentais, é possível correlacionar determinada posição em uma
barra com o ponto no corpo-de-prova Jominy que terá resfriamento equivalente ou
a mesma estrutura.
Para barras quadradas ou hexagonais (exceto em aplicações extremamente
críticas) as Figuras 5.7 a 5.11 podem ser usadas. Para placa de relação largura/
espessura até 4/1 estas figuras podem ser empregadas, considerando o diâmetro
equivalente como 1,4-1,5 vez a menor dimensão da seção.
Placas resfriam consideravelmente mais devagar e a Fig. 5.12 deve ser usada.
Para outras geometrias, correlações como as da norma SEW 550 (Stahl - Eisen
Werkstoffblart, VDEh) podem ser empregadas.
216
Tabela 5.6 - Severidade de têmpera (H) para diversos meios.
Figura 5.7 - Correspondência Jominy - Centro de barras temperadas.
217
Figura 5.8 - Correspondência Jominy - 30% do raio.
Exemplo 1: Qual à distância Jominy equivalente ao centro de uma barra redonda,
com diâmetro de 2’’ temperada em águas sem agitação (isto é, qual ponto do
corpo de prova Jominy tem uma curva de resfriamento equivalente ao centro da
barra citada?)
Solução:
Severidade de Têmpera H = 1
H = 1 e Ø = 2'’, na Figura 5.7, temos 15/32'' para distância da extremidade
temperada.
Como os pontos no ensaio Jominy são espaçados de 1/16”, a resposta é entre
7/16” e 8/16”.
218
Figura 5.9 - Correspondência Jominy - 50% do raio.
Assim, se desejarmos uma determinada estrutura (ou dureza) no centro de uma
barra Ø 2", após tempera em água, devemos procurar um aço que atinja esta
dureza (estrutura) no ensaio Jominy, a 15/32” de extremidade resfriada. É claro,
portanto, que se desejarmos selecionar aços utilizando este sistema, precisamos
dispor de levantamentos de curvas Jominy para a maior quantidade possível de
aços.
219
Figura 5.10 - Correspondência Jominy - 70% do raio.
Como exposto anteriormente, a menos que a peça vá trabalhar em condições em
que a resistência ao desgaste é fundamental, a dureza interessa ao projetista
indiretamente, isto é, para estimar a resistência da peça. Vimos anteriormente que
a dureza da martensita é função do teor de carbono. É possível, portanto, se obter
a mesma dureza em dois aços de teor de carbono diferentes. Apresentando o
problema de outra forma, dois aços de teor de carbono diferentes, temperados
para atingir a mesma quantidade de martensita na estrutura, apresentarão
durezas diferentes.
220
Figura 5.11- Correspondência Jominy - 90% do raio.
É claro que a porcentagem de martensita a ser atingida a uma determinada
profundidade na peça, está intimamente ligada a temperabilidade, de modo que,
quanto mais alta, tanto maior será a temperabilidade necessária.
A porcentagem de martensita necessária em determinada peça depende
fundamentalmente da aplicação. A SAE recomenda, para peças sujeitas a altas
solicitações e a flexão, que a estrutura de têmpera produza 90% ou mais
(considerado têmpera total) de martensita a 3/4 do raio de peça. Para garantir
isto, freqüentemente, a dureza a meio-raio é especificada. Por outro lado, peças
com solicitações de flexão moderadas podem ter 80% de martensita a 3/4 do raio.
221
Figura 5.12- Correspondência Jominy - Chapas temperadas em água.
Em peças sujeitas à tração, compressão ou cisalhamento, em que toda a seção é
solicitada uniformemente, em caso de dúvidas, devem-se garantir as
propriedades no centro da peça. Assim, garante-se a resistência total da seção.
Um erro muito comum em peças sujeitas à tração, é o projetista especificar, na
superfície, dureza correspondente à resistência desejada para a seção. Como em
função da temperabilidade, a dureza em direção ao centro decrescerá, a
resistência média da peça ficara abaixo da necessária.
No caso de peças em que a resistência à fadiga é fundamental, prefere-se uma
estrutura martensítica, por ser uma estrutura de melhor resistência ao ciclamento.
5.5.3 TEOR DE CARBONO DO AÇO
A figura abaixo apresenta, para diferentes porcentagens de martensita na
estrutura, a dureza após a têmpera em função do teor de carbono do aço.
Como se vê, há necessidade de se definir o teor de carbono desejado, de vez
que, acima de um determinado valor, variando-se o revenimento, pode-se atingir
a dureza desejada.
222
Figura 5.13- Dureza atingida pelo aço após têmpera, em função do teor de
carbono e percentagemo de martensita na estrutura. Quanto maior o teor de carbono, tanto maior será a distorção na têmpera. Além
disto, o aumento do teor de carbono, em geral compromete a usinabilidade. Por
isto, em geral, a maior parte das peças empregadas em construção mecânica tem
carbono 0,50%. A regra prática a empregar na seleção é que o carbono não deve
ser superior ao necessário para garantir a dureza pretendida na têmpera.
5.5.4 REVENIMENTO
As curvas Jominy fornecem valores de dureza do material como temperado. Foi
visto anteriormente que as estruturas martensíticas necessitam revenimento para
atingir valores adequados de ductilidade e resistência ao impacto, além de
necessitarem de alívio das tensões de têmpera. É necessário, então, que haja
previsão para a queda da dureza associada ao revenimento. A Fig. 5.14
apresenta a dureza recomendada pelo SAE war Engineering Board no material
como temperado, para se atingir determinada dureza após o revenimento.
223
Figura 5.14- Dureza mínima recomendada após a têmpera para se atingir
determinada dureza após o revenimento.
5.5.5 AÇOS LIGADOS X AÇOS CARBONO
Quando temperados para se obter martensita ( ≥90%) e revenidos para a mesma
dureza, todos os aços - carbono ou ligados – tem a mesma resistência à tração. É
claro que, em uma peça, a resistência será controlada pela profundidade de zona
temperada - aí estando a maior diferença entre aços ligados e ao carbono: a
temperabilidade é superior nos aços ligados. Entre os aços ligados, é válido se
assumir, para fins práticos, que todas as composições, quando temperadas para
a mesma dureza, têm também as mesmas propriedades de tração. De modo
geral, a seleção, entre os aços ligados, será definida, portanto pela
temperabilidade x custo.
A relação entre redução de área e resistência a tração não é a mesma para aços
ligados e ao carbono (Fig 5.15). Os aços ligados apresentam redução de área
superior, para a mesma dureza (resistência), especialmente faixas de resistência
mais elevadas.
Por outro lado, os aços ligados apresentam maior resistência ao amolecimento
pelo revenimento, de forma que, para se atingir uma mesma dureza final, devem
ser revenidos a temperaturas superiores àquelas requeridas pelos aços carbono,
obtendo-se, portanto, melhor alívio de tensões.
224
Figura 5.15- Redução de área em função do limite de ruptura para aços carbono e aços ligados.
Com relação a usinabilidade, os aços carbono apresentam melhores
características em empregos até 300HB; acima deste valor, os aços ligados são
de mais fácil usinagem. Dentre os aços ligados, os que contêm níquel e
molibdênio são os mais usináveis.
5.5.6 EXEMPLOS DE SELEÇÃO POR TEMPERABILIDADE
O melhor modo de se compreender corretamente o emprego dos gráficos e
tabelas utilizados na seleção de aços para construção mecânica é através de
exemplos:
Exemplo 1: Selecionar um aço para eixo de 57mm de diâmetro (2 ¼ ‘’) submetido
a uma carga axial estática que provoca uma tensão de projeto de 1500MPa (já
incluído fator de segurança). Considerar que a peça deve ter pouco empeno no
tratamento térmico.
Um eixo solicitado à tração deve ter resistência garantida em toda a seção.
Portanto, devemos garantir a resistência de 1500 MPa no centro do eixo. Pela
Fig. 5.2 temos a dureza correspondente, na peça pronta, de 440 HB ou 46Rc (ver
tabela de conversão de dureza). A Fig 5.14 indica uma dureza mínima de 53Rc
após a têmpera para se atingir 45Rc após o revenimento.
Considerando-se que esta solicitação é razoavelmente elevada e assumindo-se
225
que se trata de uma peça de responsabilidade, é desejável termos 90% de
martensita no centro. A Fig 5.13 dá um teor de carbono necessário de
aproximadamente 0,45%.
Apesar da peça ser de forma simples, sua dimensão já é algo elevada de modo
que um meio de têmpera não muito drástico e recomendável. Neste exemplo, escolheremos óleo agitado para a têmpera, com severidade H= 0.5.
Consultando-se a Fig. 5.7, para 2 1/4'' e H = 0,5; temos a distância Jominy
equivalente ao centro do eixo de 23/32” (isto é, 11,5x1/ 16’’).
Devemos agora empregar as curvas Jominy. Necessitamos de um aço com
dureza mínima de 53 Rc no ponto 11,5 x 1/ 16''. (É recomendável empregar-se o
mínimo da faixa para garantir que serão obtidas as propriedades, mesmo com as
oscilações permissíveis de composição, tamanho de grão, etc.).
No caso dos .aços ABNT fabricados para atender limites de composição, pode-se
antecipar uma dispersão maior na temperabilidade. Entretanto pesquisas
mostram que mais de 90% das barras produzidas para atender limites de
composição, atendem também as exigências de temperabilidade.
Para escolher-se entre os 4 aços possíveis, acima, devemos levar em conta os
fatores custo e disponibilidade. Assim, enquanto o 4340 é um aço que pode ser
encontrado sempre em estoque, o 4150 será possivelmente de custo inferior, por
não conter níquel. Selecionado o 4340, por exemplo, precisamos de um critério
para determinar se o tratamento térmico foi executado corretamente, para
controle de produção. O controle usual empregado para tratamento térmico é a
dureza na superfície. Assim, para Ø = 2 1/4'' e H= 0.5, a Fig. 5.11 nos fornece
7/16" para a distância Jominy correspondente a posição 90% do raio.
226
Figura 5.16- Efeito da temperatura de revenido sobre a dureza. Aços em geral.
Na curva Jominy do 4340 temos a faixa de dureza da superfície, após têmpera de
53 a 60Rc correspondendo à dureza de 53Rc no centro do eixo. Assim, o
tratamento térmico indicado será:
Austenitização a 8400C, têmpera em óleo agitado, e revenimento a 4500
(Fig.5.16). Este revenimento deve ser ajustado até obter-se a dureza desejada.
Exemplo 2: Um eixo de Ø= 44.45mm (13/4") e 1050 mm de comprimento é
necessário em uma máquina. A análise dos esforços indica que os esforços
máximos de torção serão de 180MPa e os de flexão serão de 560MPa. Sem levar
em conta a fadiga, verifique se o aço 4140 H, disponível em estoque, pode ser
empregado neste caso.
Como o esforço de torção é bastante inferior ao de flexão neste caso, podemos
basear a análise nos esforços de flexão. Como o eixo estará principalmente
solicitado à flexão e a solicitação não é muito elevada, 80% de martensita a 3/4
do raio deve ser suficiente. Como o teor de carbono mínimo do 4140 H é 0.37%
verificamos na Fig. 5.13 a dureza obtida com 80% martensita: 45Rc.
Para se obter uma resistência de 1112MPa (coef. de segurança = 2),
necessitamos aproximadamente 325 HB ou 36Rc após o revenimento (Fig 5.2).
Pela Fig. 5.14, verifica-se que 45Rc após a têmpera é suficiente para se atingir
36Rc após o revenimento. Resta agora verificar se, um meio de têmpera pouco
drástico (ex.: óleo agitado, para evitar empeno do eixo), o aço 4140 H atingirá os
45Rc a 3/4 do raio do eixo.
227
Pela curva Jominy vemos que, para distâncias inferiores a 9/10" da extremidade
resfriada, o 4140 H produzirá sempre durezas superiores a 45Rc.
Na figura 5.10 verificamos que a 9/16", com H = 0.5, corresponde um diâmetro de
21/4''. Logo, eixo de aço 4140H, com Ø 13/4”, temperado em óleo agitado, atingirá
facilmente a resistência desejada.
Nota: no caso de ser prevista usinagem posterior ao tratamento térmico, é
importante levarem conta à espessura da camada retirada.
No projeto de peças sujeitas a fadiga, devem-se corrigir os valores de resistência
calculados.
Determinado o limite de fadiga da peça, pode-se proceder à seleção como visto
acima, observando os seguintes aspectos;
- Estruturas de mais de 90% de martensita apresentam os melhores resultados
quanto à fadiga.
- Aços com menor quantidade e melhor distribuição de inclusões (ex: Aços
Isotenax, refundidos em ESR) apresentam resistência mais elevada à fadiga.
- A têmpera drástica, que pode introduzir microfissuras, deve ser evitada.
- A descarbonetação superficial pode reduzir em mais de 25% a resistência à
fadiga.
Como ordem de grandeza, para aços com HB < ou = a 400, o limite de resistência
à fadiga situa-se, aproximadamente, em 50% da resistência à tração, no ensaio
de flexão rotativa. Com o aumento da dureza, esta relação deixa de ser válida -
quanto maior a dureza tanto mais baixa - relativamente - a resistência à fadiga.
Tratamentos de endurecimento superficial são, em geral, benéficos para a
resistência à fadiga. A nitretação é muito vantajosa no caso de engrenagens, por
atingir a raiz dos dentes, onde a concentração de tensões é mais elevada.
228
5.5.7 AÇOS DE ULTRA-AITA RESISTÊNCIA
O desenvolvimento da indústria aeronáutica e aeroespacial criou a demanda para
aços de ultra-alta resistência, com tensão de escoamento superior a 1400MPa,
tenacidade, resistência à fadiga e soldabilidade aceitável (especialmente para
envoltórios de foguetes e mísseis).
Estes aços são empregados na indústria aeroespacial em fixadores de alta
resistência, carcaças de motores e mísseis, estruturas de trens de aterissagem,
etc., onde a relação resistência/ peso é fundamental na seleção.
A resistência mecânica de aços martensíticos depende fundamentalmente do teor
de carbono. Em função das propriedades desejadas (tenacidade, soldabilidade,
etc.), entretanto, o carbono deve ser mantido o mais baixo possível.
Pode-se atingir ultra-alta resistência com:
Revenimento a temperaturas baixas até (3500C).
Aços que apresentam endurecimento secundário.
Aços para construção mecânica revenidos abaixo de 2500C têm ductilidade muito
baixa, em função do revenimento insuficiente da martensita.
A faixa ideal de revenimento para as propriedades desejadas de aços com ultra-
alta resistência de 0.3-0.4%C é entre 250-3000C, uma vez que acima de 3500C,
aproximadamente, os valores de resistência não satisfazem mais os requisitos
para esta classificação.
O revenimento entre 250-3000C conduz, entretanto, a uma queda na tenacidade,
medida em ensaio de impacto. As explicações presentemente aceitas para este
fenômeno se baseiam na cinética das transformações que ocorrem no
revenimento ou se amparam na possível influência negativa de elementos
residuais (P, Sn,etc.).
A partir destas teorias, observou-se o efeito benéfico do Si e Co na alteração da
cinética do revenimento assim como foi qualificado o efeito dos demais elementos
neste fenômeno.
229
Desta forma, aços de ultra-alta resistência foram desenvolvidos, como:
- SAE 4330 ou 4340 modificados com até 1,5% Si (300M,por exemplo).
- SAE 4137 + Co
- etc.
Evidentemente, os teores de P, S e outros residuais devem ser mantidos
extremamente baixos, assim como as inclusões não-metálicas devem ser
controladas, se resultados de fadiga satisfatórios são desejados.
Assim, processos de refusão são essenciais para a produção destes aços em
condições satisfatórias.
O uso de aços que apresentam endurecimento secundário, para fins estruturais, é
discutido no item mais à frente.
5.6 AÇOS PARA CARBONETAÇÃO
Os aços para carbonetação são de baixo teor de carbono, comuns ou ligados.
Como visto anteriormente, a introdução de carbono na superfície visa produzir,
após a têmpera, uma superfície de alta dureza e resistência, suportada por um
núcleo tenaz. Peças que tipicamente requerem esta combinação de propriedades
são: engrenagens em geral, sem-fins, pinos de pistões, eixos de comando de
válvulas, eixos de bombas e outros.
Os aços ao carbono para carbonetação têm carbono normalmente de 0.08% a
0.25% sendo o 1020 o mais comum. Atingem até aproximadamente 700MPa de
resistência no núcleo. São empregados para pequenas engrenagens para
trabalhos leves, pequenos mecanismos, pinos, etc., em que a resistência ao
desgaste é a característica mais importante. Quando o empeno não for fator
crítico, podem ser usados para peças de até 50mm de diâmetro, temperados em
água. Os aços carbono, quando carbonetados, exigem, em geral, têmpera em
água, exceto quando em pequenas dimensões.
Os aços de baixos teores de elementos de liga - séries 31xx, 41xx, 46xx, 51xx,
61xx, 86xx, 87xx e 94xx - possuem temperabilidade suficiente para serem em
óleo, adquirindo, no centro, resistência superior a 1000MPa, mantendo bons
valores de ductilidade.
230
5.7 AÇOS PARA MOLAS
Molas de pequenas dimensões são, normalmente, enroladas a frio e tratadas
posteriormente. Nestes casos os aços recomendados são: 1050, 1065, 1080,
1090, 1095, 6150 e 9254.
Molas que devem ser conformadas a quente e depois tratadas são, geralmente
fabricadas com os seguintes aços: 1070, 1080, 1095, 5150, 5160, 51B60H,
6150H, 9850.
As durezas de molas temperadas situam, após revenimento, normalmente, entre
40-48 Rc, sendo os valores superiores da faixa para aços ligados e os inferiores
para aços ao carbono.
Molas helicoidais para suspensão de veículos de passeio têm sido produzidas no
Japão com o aço 9254, principalmente.
Molas de válvulas de motores a combustão interna empregam, no Japão, o
mesmo aço, enquanto, nos E.U.A. a preferência recai sobre 6150.
Exemplos de Aplicações Industriais
Exemplos típicos de aplicações industriais podem ser encontrados nas
referências relacionadas no fim do capítulo, e nas Tabelas 5.1 – 5.4.
Tabela 5.1 - Propriedades exigidas por peças de automóveis, caminhões e tratores.
231
Tabela 5.2 - a) Na profundidade indicada na coluna seguinte. b) No diâmetro do círculo primitivo.
Continua na página seguinte.
Tabela 5.3 - a) Na profundidade indicada na coluna seguinte. b) No diâmetro do
círculo primitivo. Recomendações para a temperabilidade na seleção de peças de automóveis.
232
Tabela 5.4 - Tratamentos: A - Qualquer dos dois tratamentos seguintes:
1- Carbonetação e têmpera direta em óleo, revenimento entre 135-190ºC. 2- Carbonetação, resfriamento lento, e aquecimento a 790-845ºC, têmpera em olé e revenimento entre 135-190ºC. Menor distorção.
B – Aquecido à temperatura de têmpera num banho cianetante (para obter camada pouco profunda), têmpera em óleo e revenimento entre 180-230ºC. C – Têmpera em óleo e revenimento. D – Normalizado e têmpera superficial por chama.
5.8 AÇOS PARA FERRAMENTAS
5.8.1 CLASSIFICAÇÃO
Uma definição exata de aço ferramenta, satisfatória tanto para o usuário como
para o produtor, é praticamente impossível. Enquanto, para o leigo, qualquer aço
utilizado para fabricar uma ferramenta é um aço-ferramenta, grande quantidade
de aços considerados aços-ferramenta pelos produtores são vendidos para
aplicações diversas, que não a de fabricar ferramentas.
É importante dividir as numerosas composições de aços-ferramenta em um
número restrito de grupos ou famílias, visando facilitar sua comparação e seleção.
Classificá-los por meio de composição química, como no caso da classificação
SAE/ ABNT, para aços destinados à construção mecânica, vista anteriormente,
não é viável, de vez que as variações de composição química são extremamente
amplas, mesmo em aços para aplicações semelhantes. Por outro lado, alguns dos
233
aços mais ligados podem sofrer mudanças radicais de composição substituição
de determinado elemento de liga por outro sem que suas propriedades e
características de emprego se alterem substancialmente.
Uma classificação baseada apenas no emprego, por outro lado, seria plausível
para alguns casos, porém impossível para outros. Isto porque, para determinadas
aplicações, como aços para manchos, por exemplo, são usados desde aços-
carbono até aços rápidos.
A tabela 5.5 apresenta a classificação AISI para aços-ferramenta.
Tabela 5.5 - Classificação AISI Aços-Ferramenta.
A princípio, uma classificação que misture composição química, características de
emprego e tipo de tratamento térmico pode parecer pouco lógica.
Entretanto, esta classificação não foi imposta; decorreu do consenso entre
produtores e usuários de ferramentas, o que leva a crer que possa ser a solução
mais prática para o problema.
Além dos aços especificados segundo AISI, há, obviamente, diversas outras
especificações como, por exemplo, as normas DIN (Alemã).
Em diversos casos, resultados superiores podem ser obtidos com aços-
ferramenta não usuais na classificação AISI. O engenheiro interessado em
aplicações de aços-ferramenta deve consultar o produtor, pois, em geral, este
desenvolve diversas composições e tipos de aços para aplicações usuais de
determinados clientes e pode cooperar bastante na solução dos problemas de
especificação e seleção.
234
5.8.2 SELEÇÃO
Idealmente, a seleção de um determinado aço para uma operação deveria ser
feita correlacionando-se as características metalúrgicas do aço com as exigências
da ferramenta. Em geral, diversos aços poderão ser selecionados para uma certa
aplicação. A vida da ferramenta em cada caso deve ser julgada juntamente com
os fatores: produtividade, facilidade de fabricação da matriz e custo. O critério
final da seleção será, obviamente, o custo de ferramenta por unidade por ela
produzida.
5.8.3 PRINCIPAIS CARACTERÍSTICAS DAS FAMÍLIAS AISI
Série W - Aços Temperáveis em Água São basicamente aços ao carbono, com teores deste elemento na faixa de 0.60%
- 1.40%, com ou sem adições significantes de silício, Manganês, cromo e vanádio.
O silício está presente normalmente como desoxidante, pouco alterando as
propriedades se inferior a 0,5%. Com teores elevados de silício, e carbono acima
de 1%, pode ocorrer grafitização, que tem efeitos negativos sobre a
temperabilidade. O manganês é mais importante neste caso, na temperabilidade.
Acima de 0.40% de Mn, aumenta a tendência a trincas de têmpera (em água),
devido ao abaixamento da MS e ao aumento da profundidade de têmpera.
Enxofre e fósforo, apesar de não terem influência na temperabilidade devem ser
mantidos em baixos níveis (< 0.025%) para garantir ótimas propriedades de
forjabilidade, diminuir a quantidade de inclusões não metálicas, etc.
O vanádio visa à obtenção de granulação mais fina, melhorando a resistência ao
impacto.
Os tipos mais comuns são W1 e W2.
Sendo os aços da série W os mais simples aços-ferramenta, devem ser
considerados como base para comparações e seleção. Assim, seu emprego varia
em ampla faixa de matrizes e ferramentas. De modo geral, os teores de carbono
mais baixos favorecem a resistência ao choque, enquanto os mais altos
desenvolvem maior resistência ao desgaste, obviamente com menor resistência a
esforços bruscos. Em geral são os de mais baixo custo e, normalmente, pode-se
235
encontrar um aço ligado que, na aplicação, apresente vida mais longa. Uma
exceção importante é o caso de matrizes de formar cabeças a frio, onde, devido à
superfície dura e núcleo tenaz, os aços W são insuperáveis.
Séries - Aços Resistentes ao Choque Os aços de série S foram inicialmente desenvolvidos para emprego em molas.
Têm, por isso, alta resistência à fadiga e ao choque mecânico.
Para se atingir os elevados valores de tenacidade necessários, o teor de carbono
é mantido baixo - da ordem de 0.5% e a temperabilidade obtida por meio de
elementos de liga. A temperabilidade dos aços S é normalmente superior à dos
W.
Além da série S, são recomendados para aplicações onde à resistência ao
choque é fundamental os aços E2542 e E2550 (norma Eletrometal), derivados da
norma DIN. Em geral, a composição destes aços é ajustada de modo a torná-los
imunes à fragilidade do revenimento. A combinação de elevada tenacidade e alta
resistência dos aços da série S faz com que eles sejam considerados,
freqüentemente, para aplicações estruturais.
Aços para Fins Especiais
L - Tipos de Baixa Liga
Basicamente, este grupo é composto por aços de alto carbono com cromo como
principal elemento de liga. Para fins de classificação, podemos considerá-los
como aços W com quantidades moderadas de cromo, vanádio, níquel ou
molibdênio para aumentar a temperabilidade. O níquel adicionado ao L6 aumenta
a sua tenacidade. Os tipos mais comuns são L2 e L6. Aplicações usuais são:
calibres de precisão, tesouras, brocas para rochas, ferramentas para madeira,
brocas e empregos extraferramentas em rolamentos - roletes e cilindros, árvores
de ressaltos, etc., onde elevada tenacidade e boa resistência são necessárias.
F - Tipos Carbono-Tungstênio
Os aços de série F são usados geralmente quando é necessária extrema
resistência ao desgaste e a manutenção de gume cortante. Aplicações típicas são
trefilas e ferramentas para usinagem de rolos. Normalmente, apenas alguns aços
de série D e alguns aços rápidos superam a resistência ao desgaste dos aços da
série F, tendo, entretanto maiores resistências a choques do que estes. É
importante não confundir a série F da AISI, que tem alto carbono (1.20%) e
236
tungstênio.
Com os aços grau F de algumas normas ASTM (A182, p. ex.); que são de baixo
carbono.
P - Aços para Moldes
O rápido crescimento e a importância adquirida pela indústria de plásticos nos
anos recentes, causaram uma expansão considerável no número de aços para
moldes. O uso destes aços, entretanto, estende-se também à fundição em moldes
permanentes ou por injeção de chumbo, estanho e ligas de zinco.
Dentre as diversas propriedades requeridas de um aço para matrizes, podemos
citar: baixa dureza no estado recozido (para permitir a usinagem ou prensagem
da matriz), resistência ao desgaste, ao impacto, e resistência mecânica no núcleo.
Além disto, excelente capacidade de receber polimento é essencial. Como esta
capacidade está intimamente ligada à quantidade e tipo das inclusões presentes,
a limpeza interna do aço é fundamental. Aços refundidos pelo processo
Electroslag são especialmente recomendados, inclusive em função das
necessidades de homogeneidade nas grandes dimensões freqüentemente
encontradas em moldes para plásticos.
Os aços para moldes podem ser usados cementados ou simplesmente
temperados e revenidos. Os aços P2 a P6 são aços para cementação, enquanto
P20 e P21 são normalmente temperados e revenidos. Para moldes plásticos P20
pode ser cementado e tratado após a usinagem da cavidade do molde.
Os aços mais usuais desta família são: P1, P6, P20 e P20 ISOTENAX (refundido
por Electroslag).
5.8.3.1 Aços para Trabalho a Frio Os aços para trabalho a frio estão entre os mais importantes dentre os aços-
ferramenta devido à variedade de aplicações que encontram.
Suas propriedades mais importantes incluem:
1- Pequena distorção na têmpera.
2 - Alta temperabilidade com temperaturas de austenitização baixas.
3 - Ausência de trincas na têmpera de seções complicadas.
4 - Alta dureza após têmpera.
5 - Manutenção de gume afiado para corte.
Entretanto, não precisam apresentar dureza a quente.
237
As três primeiras propriedades permitem o emprego destes aços em ferramentas
complexas, que não podem ser usinadas após o tratamento térmico.
O - Temperáveis em Óleo
Os aços desta família têm teor de carbono elevado e elementos de liga em
quantidade suficiente para garantir têmpera completa em óleo, de peças de
dimensões médias.
Dentre os aços temperáveis em óleo, o O1 é o mais comum. Sua temperabilidade
é obtida, principalmente, pelo teor de manganês por volta de 1,2%. Além disto à
presença de cromo e tungstênio reduz a tendência ao crescimento de grão.
Os usos típicos dos aços O, são: machos, matrizes e punções, pequenas
tesouras, guilhotinas, calibres, brocas, matrizes de cunhagem, trefilas, moldes
para plásticos, etc.
A - Temperáveis ao Ar
Estes aços contêm elementos de liga em quantidade suficiente para garantir
têmpera completa em seções de até 100mm de diâmetro, resfriadas ao ar.
Nesta família o A2 é o mais largamente empregado. Seus competidores são os
aços de série O (especialmente O1) e os da série D (D2, D3 e D6,
principalmente).
A combinação única de propriedades dos aços da série A, torna-os especialmente
adequados por serviços onde boa resistência à abrasão deve ser conjugada com
excepcional resistência ao impacto além das propriedades básicas dos aços para
trabalho a frio. São largamente empregados em matrizes de corte, de
estampagem, punções, matrizes para laminação de roscas, matrizes de
embutimento, etc.
Devido às óbvias vantagens da têmpera ao ar estes aços têm encontrado cada
vez mais aplicações em substituição aos aços O.
Como a tenacidade é uma propriedade básica destes aços, e a refusão
Electroslag permite aumentá-la ainda mais, produzem-se ferramentas
excepcionais com A2 ISOTENAX.
D - Alto Cromo - Alto Carbono
Os aços de alto cromo - alto carbono foram inicialmente desenvolvidos, durante a
1ª. Guerra Mundial, para substituir aços rápidos. Não apresentaram bons
resultados porque seus valores de dureza a quente se mostraram insuficientes
238
para tal fim. Notou-se, entretanto, que a alta resistência ao desgaste obtida pela
presença de carbonetos duros cromo e a notável indeformabilidade destes aços
tornam-os extremamente úteis para aplicações em matrizes.
Como estes aços têm 1.50 – 2.20%C e 12%Cr são extremamente suscetíveis à
segregação durante a solidificação dos lingotes, resultando em estruturas de
carbonetos pouco favoráveis. Trabalhosas operações de forjamento podem ser
requeridas para modificar a distribuição destes carbonetos, tornando-a aceitável,
do ponto de vista do comportamento da ferramenta.
A refusão por Electroslag conduz à distribuição favorável de carbonetos, em
função da solidificação controlada. Forjados, os aços D ISOTENAX têm
desempenho superior aos materiais elaborados de forma convencional.
Os tipos mais comuns são: D2, D3, D4 e D6, sendo D2, D3 e D6 facilmente
obtidos na versão ISOTENAX.
Nestes aços, a resistência ao impacto é sacrificada em relação aos aços A com
aumento na resistência ao desgaste, entretanto.
Entre os tipos mais comuns, o D2 é o mais popular. Desejando-se vidas mais
longas de ferramenta, D3 e D6, com teores de carbono mais elevado, podem ser
usados. Apesar de serem um aço para trabalho a frio, o D2 é usado
freqüentemente em matrizes para rebarbagem de forjados.
Ferramentas de aços série D corretamente desenhadas e tratadas podem cortar,
a frio, chapas de até ~6mm.
Aplicações principais dos aços D são punções e matrizes de corte,
embutimento,etc., além das citadas para os aços A.
Como apresentam grandes carbonetos primários, os aços da série D podem ser
suscetíveis à fragilidade nos cantos das ferramentas.
Aços para Trabalho a Quente H - Aços para Trabalho a Quente
Em diversos casos podem-se utilizar aços de baixa liga para matrizes de
forjamento a quente. Em geral, entretanto, emprega-se para trabalho quente, aços
de média ou alta liga, na maior parte das vezes com baixos teores de carbono
(0.25-0.60%).
Para aplicações com solicitações muito elevadas ou quando se deseja vida da
239
matriz mais longa, superligas podem ser usadas.
São propriedades necessárias a aços para trabalho a quente:
1 - Resistência à deformação na temperatura de uso.
2 - Resistência ao impacto.
3 - Resistência à ''lavagem'' (Erosão).
4 - Resistência à deformação no tratamento térmico.
5 - Usinabilidade.
6 - Resistência a trincas a quente (Heat Cracking).
Dentre os três subgrupos da série H, são muito mais usuais e mais comerciais os
ligados com Cr, principalmente H11, H12 e HI3. Tais aços foram inicialmente
desenvolvidos para fundição sob pressão de alumínio, devido à resistência à
erosão do metal líquido, resistência às trincas a quente e médio custo.
Aplicações típicas dos aços H10 – H13 são: moldes para fundição, matrizes de
forjamento, ferramentas para extrusão a quente, tesouras e todo o tipo de
matrizes para trabalho a quente envolvendo choque.
Dentre os aços da norma DIN equivalentes à série H, estão os W, Nr. 1.2365,
1.2362, 1.2344, respectivamente E2365, E2362 e E2344, na Norma Eletrometal.
O E2365, por exemplo, é semelhante ao H10, porém com molibdênio e vanádio
mais altos, melhorando as propriedades a quente do aço.
Como a resistência ao impacto é fator preponderante na seleção de aços para
trabalho a quente (matrizes, ferramentas para extrusão, etc.), todos os aços desta
série são disponíveis em versão ISOTENAX.
Nos casos em que as solicitações à matriz não são tão elevadas e/ ou em que o
contacto peça-matriz é de curta duração causando menor aquecimento na
ferramenta, os aços E2713, E2714 e E2766 (DIN 1.2713, 1,2714 e 1.2766), com
teores de ligas algo inferiores aos aços H são opções interessantes,
principalmente pelo menor custo.
Os aços H11, H12 e H13, principalmente o primeiro, são também aplicados como
aços estruturais de ultra-alta resistência, especialmente na indústria aeronáutica.
O H11 tem limite de ruptura à temperatura ambiente na faixa de 1700-2000MPa,
tem tenacidade razoável, além de resistir ao amolecimento durante a exposição
continua a temperaturas de até 540ºC.
Um fator importante que permite esta combinação favorável de propriedades é o
240
endurecimento secundário apresentado por este aço.
Isto permite o revenimento a temperaturas elevadas, que garante alívio das
tensões de têmpera, importante para se atingir uma tenacidade adequada, com
níveis elevados de resistência.
Para estas aplicações estruturais críticas, onde limpeza interna, homogeneidade e
baixíssimo teor de gases dissolvidos são fundamentais, a refusão sob vácuo é
essencial.
241
Aços Rápidos Os aços rápidos são basicamente empregados na fabricação de ferramentas de
corte – normalmente quando se deseja corte a grande velocidade e com pesados
avanços.
Apesar das grandes diferenças em composição químicas encontradas entre os
diversos tipos de aços rápidos, suas características são basicamente as mesmas:
(a) contêm carbono suficiente para combinar-se com os elementos de liga,
produzindo carbonetos de elevada dureza e abrasividade em grande quantidade
(b) são austenitizados para têmpera à aproximadamente 75ºC da temperatura de
fusão (c) temperam completamente, apresentando dureza uniforme em seções de
até Ø 300mm (d) apresentam endurecimento secundário no revenimento entre
510ºC e 590ºC e (e) atinge praticamente a dureza máxima temperados em ar
parado.
Suas composições variam em amplas faixas atingindo níveis elevados dos
elementos de liga de mais alto custo: molibdênio, vanádio, tungstênio e cobalto.
Conseqüentemente, nota-se que os aços rápidos estão, normalmente entre os
mais caros existentes. Na aplicação correta, entretanto, seu preço é mais do que
compensado pela longa vida de ferramentas, redução das paradas para afiar e
aumento da produtividade.
De vez que as disponibilidades dos elementos de liga (e conseqüentemente seus
custos) são extremamente sensíveis a problemas políticos, embargos, guerras,
etc., o usuário de aço rápido deve se manter informado com relação aos custos
de aços de diversas famílias e, se possível, desenvolver opções alternativas para
casos de falta de material ou aumento excessivo de preço.
L - Aços Rápidos ao Tungstênio
O primeiro aço rápido, desenvolvido por Taylor em 1910, tinha a seguinte
composição: 18%W, 4%Cr e 1%V. Esta composição se manteve popular nos
E.U.A. até a 2ª. Guerra Mundial e a Guerra da Coréia, quando foi necessário
desenvolver alternativas principalmente utilizando molibdênio (série M).
Na série T, o aço mais usual é o T1, para aplicação geral, combinando boa
resistência ao choque, dureza a quente e custo. O T15, com 5%V é o de maior
resistência ao desgaste, no grupo, sendo especialmente indicado para o corte de
242
metais duros, aços de alta resistência, aços austeníticos e ligas refratárias. A
adição de cobalto, apesar de fragilizar um pouco o aço rápido, aumenta bastante
a resistência ao amolecimento no revenimento, resultando em maiores durezas a
quente e, conseqüentemente, maior produtividade.
M - Aços Rápidos ao Molibdênio Como o peso atômico do molibdênio é aproximadamente metade daquele do
tungstênio, a adição de 1% em peso de molibdênio produz, aproximadamente, o
dobro do volume de carbonetos do que a adição da mesma porcentagem em
tungstênio.
Nos últimos anos, os aços da série M vêm apresentando aceitação bastante
superior aos da série T, como discutido acima. Em particular, o aço M2 (contendo
molibdênio e tungstênio) tem se caracterizado como um dos mais populares. Os
aços rápidos contendo cobalto têm se tornado de aplicação restrita, devido à
escassez de cobalto no mercado mundial.
Um estudo da ASM mostrou, que no período de 1950-1960, nos E.U.A., os aços
M2, M1 e M10, representaram acima de 70% dos aços rápidos consumidos, em
peso. O aço M2, por outro lado, teve sua participação no consumo de aços
rápidos situada em torno de 40% da tonelagem total de aços rápidos consumidos
nestes anos.
Os aços rápidos têm se mantido importantes para indústria nos últimos 70 anos,
apesar do desenvolvimento de diversos materiais alternativos. Com o advento das
ligas para aplicações espaciais (superligas), o emprego dos aços rápidos vem
ganhando renovado ímpeto, de vez que a usinagem de tais ligas apresenta
desempenho insatisfatório com ferramentas de carbonetos sintetizados.
243
5.8.4 A ESCOLHA DO AÇO FERRAMENTA
As aplicações dos aços-ferramenta são extremamente variadas - e da seleção
correta do aço dependerá o desempenho da ferramenta. Entretanto é possível
agrupar estas aplicações em tipos básicos de operações, que facilitam a análise
das necessidades quanto às propriedades dos aços (Tabela 5.6).
Tabela 5.6 - Tipos Básicos de aplicações dos aços-ferramenta.
Ferramentas para conformação, a quente ou a frio, são matrizes, peças
embutidas em matrizes, ferramentas para forjamento a quente, ferramentas para
estampagem profunda, punções e matrizes para formar cabeças a frio, matrizes
de extrusão, etc. Estas ferramentas têm contato deslizante com o metal sólido
durante parte da operação e podem estar sujeitas a esforços elevados por curtos
períodos de tempo. O requisito principal será, portanto, resistência ao desgaste, e
os requisitos secundários resistência no impacto e usinabilidade. Aquelas
empregadas para trabalho a quente necessitam, também, dureza a quente.
Ferramentas para cisalhamento incluem lâminas, matrizes para corte de blanks,
punções, etc. São ferramentas sujeitas a esforços elevados, particularmente
quando cortando espessuras mais elevadas. São requisitos: alta resistência ao
impacto aliada à resistência ao desgaste, para manter o gume cortante e as
dimensões.
244
Segurança na têmpera (com relação à trinca e empeno) aliada à pequena
distorção são requisitos que aumentam de importância à proporção que as
matrizes se tornam maiores ou mais intrincadas.
Ferramentas de corte, usadas para usinagem, requerem dureza a quente e
resistência ao desgaste. Resistência ao impacto é desejável.
Ferramentas para moldes, incluem não apenas moldes para plásticos, mas
também para fundição sob pressão e moldes permanentes para fundição, assim
como ferramental para operação em Metalurgia do pó e processamento de
materiais cerâmicos, como prensagem de tijolos.
Ferramentas diversas, peças sujeitas à elevada abrasão (como peças de
sistema de jateamento de areia, moinhos, etc.), peças para furação por
percussão, requerendo alta resistência ao impacto e calibres, que necessitem alta
dureza, bom acabamento e estabilidade dimensional, são exemplos típicos de
aplicações diversas.
Pode-se notar, assim, que o primeiro passo na seleção de um aço para
ferramenta, é determinar quais propriedades são mais importantes, em função
das condições de trabalho e fabricação da ferramenta.
Deve-se levar em conta que a influência do preço do aço no custo da ferramenta
por vezes é bastante pequena, devido às posteriores correlações de usinagem, tratamentos térmicos, etc.
Assim, sensível economia pode ser obtida, muitas vezes, com o emprego de aços
mais caros, desde que um dos seguintes fatores ocorra: aumento da vida da
ferramenta, decréscimo no número de paradas para afiação, decréscimo nos
rejeitos de ferramentas após o tratamento térmico por distorções, trincas, pontos
moles, etc. É importante considerar, também, que a troca de ferramentas pode
ser um trabalho longo e difícil causando atrasos na produção. Todos estes fatores
devem ser levados em conta pelo engenheiro ao analisar a viabilidade econômica
de determinada alteração em aços para ferramenta.
Determinadas as propriedades desejadas na ferramenta, é necessário
conhecermos as propriedades dos aços disponíveis para selecionar, de modo a
que a melhor correlação de propriedades desejadas e propriedades fornecidas
possam ser obtidas. Em linhas gerais, as seguintes regras gerais são válidas:
245
- A resistência ao desgaste varia diretamente com o teor de carbono, devido à
formação de carbonetos - (partículas de elevadíssima dureza na microestrutura).
- Por outro lado, a resistência ao impacto decresce com aumento do teor de
carbono.
- Da mesma forma, elementos formadores de carbonetos aumentam a resistência
ao desgaste, diminuindo-se entretanto, a resistência ao impacto.
- Todos os elementos de liga (exceto o Co) contribuem, mais ou menos, para o
aumento da temperabilidade.
- A dureza a quente aumenta com o teor de elementos de liga, especialmente
molibdênio, tungstênio e vanádio.
Como visto anteriormente, devido às necessidades de padronização, tanto dos
produtores como dos usuários, em cada família há aços preferidos, por
apresentarem as combinações de propriedades mais desejadas daquela família.
O MetaIs Handbook cita 17 aços ferramentas como os mais freqüentes em
estoque nos fornecedores. Novamente aqui, é recomendável ao usuário um
contato íntimo com o fornecedor, que certamente resultará em menores prazos de
entrega e menores custos.
A tabela 5.7 adaptada de R.O Rauter e de “Tool Steels'', apresenta um guia
básico para pré-seleção de aços-ferramenta, em função das propriedades
desejadas.
Esta tabela deve ser compreendida como uma diretriz geral para a seleção, onde
são dadas tendências de propriedades e seleções iniciais. Em princípio, a seleção
feita por meio dela poderá ser melhorada após os primeiros resultados práticos e/
ou utilizando tipos de aços não explicitamente listados na tabela. Por outro lado,
considerações como as vidas desejadas da ferramenta alteram substancialmente
a escolha. Por exemplo, se desejarmos selecionar lâminas para corte a frio e uma
pequena produção, os aços W 1 e W2 podem ser plenamente satisfatórios. Se
tivermos uma produção de grandes lotes, os aços A2 e D2 serão mais indicados.
Para seleção dos tratamentos térmicos e durezas mais adequadas, devemos
recorrer às folhas de características de Aços Ferramentas.
246
Tabela 5.7 - Guia Básico para pré-seleção de aços-ferramenta.
As tabelas 5.9 a 5.12 adaptadas do Metals Handbook e de Rauter dão exemplos
típicos de seleção de aços ferramenta para algumas das aplicações mais comuns.
Veja tabela a seguir.
248
Tabela 5.9 - Prática de lâmina de corte (dez fábricas).
Tabela 5.10 - Aços recomendados para lâminas de tesouras para corte a frio de chapas.
249
Tabela 5.11 - Aços e dureza para emprego em matrizes de forjamento em martelo de queda.
Obs: 1 – Podem ser usados os aços 6G, 6F2 ou 6F3 (2714). 2 – Para forjamento em prensas, onde os impactos são menores e a temperatura da matriz mais alta, empregar 20-40HB, acima dos valores da tabela.
5.9 AÇOS INOXIDÁVEIS
Adições de cromo aumentam a resistência à oxidação e à corrosão de aços. Aços
com teores de cromo superiores a 12% têm grande resistência à oxidação e são
comumente designados como aços inoxidáveis. Estes aços são de grande
interesse para a engenharia, em função de sua resistência a oxidação e à
corrosão, propriedades mecânicas a temperaturas elevadas e tenacidade (dos
inoxidáveis austeníticos).
Entretanto, nenhum material é completamente inoxidável, no sentido da palavra, e
muita atenção deve ser dada à correta seleção do material para aplicações em
meios corrosivos; o aço ao carbono comum, por exemplo, pode apresentar
resultados superiores a um aço “inoxidável”, inadequadamente selecionado.
A resistência à corrosão de ligas à base de Fe + Cr está associada ao fenômeno
de passivação, isto é, à formação de uma camada de óxidos mistos (de ferro,
250
cromo e de outros elementos de liga) e a dissolução desta camada no meio
corrosivo. A formação ou não desta camada, sua impermeabilidade e a sua taxa
de dissolução no meio corrosivo, controlarão a resistência à corrosão (medida em
perda de peso/ área/ unidade de tempo) do material, no meio corrosivo em
questão. As principais composições de aços inoxidáveis (p. ex 12% Cr, 18% Cr + 8% Ni,
etc.) foram desenvolvidas, acidentalmente, há cerca de 70 anos. A partir destas
composições, foram estudados os efeitos de diversos elementos de liga residuais,
como C, N, Mo, etc. Novas composições vêm sendo desenvolvidas desde então,
aproveitando os resultados obtidos nestas pesquisas. Os efeitos dos diversos
elementos de liga na estrutura dos aços inoxidáveis podem ser apreciados a partir
dos diagramas de equilíbrio de fases. Para fins de classificação e discussão de
propriedades, os aços inoxidáveis são agrupados em 3 classes.
1. MARTENSÍTICOS – São ligas de Fe + Cr com composições que interceptam o
campo austenítico no diagrama de fases sendo portanto endurecíveis por
tratamento térmico de têmpera. Incluem-se nesta família dos aços: (AISI) 403,
410, 414, 416, 420, 431, 440A, B e C, 501.
2. FERRÍTICOS - São ligas Fe + Cr com composições ferríticas, e que não
endurecem por tratamento térmico de têmpera. Os principais tipos são: (AISI)
405, 430, 430F, 446, 502.
3. AUSTENÌTICOS - São ligas Fe + Cr + Ni que não endurecem por tratamento
térmico de têmpera, e sendo predominantemente austeníticas após tratamento
térmico comercial. Incluem-se nesta família: (AISI) 301, 302, 304, 304L, 308, 310,
316, 316L, 317, 321, 347. Outros aços inoxidáveis austeníticos incluem aqueles
em que, por questão de custo, parte do níquel é substituído por manganês ou
nitrogênio (elementos estabilizadores de austenita). Ex.: (AISI) 201 e 202.
251
5.9.1 INOXIDÁVEIS MARTENSÍTICOS
Os aços inoxidáveis martensíticos podem ser considerados equivalentes aos aços
para têmpera e revenimento (carbono ou ligados), com a diferença principal no
alto teor de cromo.
Como visto anteriormente, os principais efeitos metalúrgicos do alto teor de
cromo, no aço, são:
1. Diminuição da faixa de estabilidade da austenita.
2. Aumento da temperabilidade.
3. Abaixamento da Ms.
4. Aumento da resistência ao amolecimento no revenimento. Além disso, pode
ocorrer endurecimento secundário, pela precipitação de carbonetos de cromo.
Apesar destes aços serem empregados, naturalmente, temperados e revenidos,
de modo a aproveitar as vantagens descritas acima, as propriedades no estado
recozido são particularmente importantes para a fabricação, onde a ductilidade é
importante. A tabela 5.12 apresenta propriedades típicas destes aços recozidos.
Tabela 5.12 - Propriedades mecânicas de inoxidáveis martensíticos recozidos.
É importante notar que o “recozimento” destes aços é, na realidade, um
revenimento a temperatura elevada, devido a suas altas temperabilidades.
A elevada resistência ao amolecimento no revenimento, conferida pelo cromo e a
boa resistência à corrosão/ oxidação, fazem com que estes aços encontrem
amplas aplicações a altas temperaturas.
Como as temperaturas de transição dos inoxidáveis martensíticos são, na melhor
hipótese, comparáveis com a temperatura ambiente, não são empregados para
serviço criogênico.
A soldabilidade dos aços inoxidáveis martensíticos é limitada pela sua
elevadíssima temperabilidade.
252
Aços inoxidáveis martensíticos endurecíveis por precipitação situam-se entre os
aços martensíticos temperados e revenidos clássicos (12% Cr) e os aços
“maraging” de 18% Ni.
Ligas como 17-4 PH ou PH 15-7Mo, contém crômio, 12-16% níquel, molibdênio e
nióbio, cobre e/ ou alumínio para precipitação.
São produzidas em Forno Elétrico ou VIM e refundidas pelos processos ESR ou
VAR. Para aplicações críticas, dupla fusão sob vácuo pude ser especificada.
Estes aços encontram emprego em aplicações críticas onde resistência à
corrosão e elevadas propriedades mecânicas são desejadas a até 425º.C.
5.9.2 INOXIDÁVEIS FERRÍTICOS
Classicamente são definidos como ferríticos os aços inoxidáveis cuja composição
cai à direita do campo austenítico no diagrama Fe-Cr. (Mais exatamente esta
análise deveria ser feita sobre o diagrama ternário Fe-Cr-C, devido ao forte efeito
estabilizador da austenita pelo carbono). Sua estrutura consiste, essencialmente,
de ferrita α em todas as temperaturas, até a Tliquidos.
Surpreendentemente, entretanto, a maioria dos aços chamados “ferríticos” não
atende a esta definição. Por exemplo, o AlSI 430 (17% Cr, mais popular dos
inoxidáveis ferríticos), pode apresentar de 30-5º% de austenita se aquecido acima
de 8000C. Portanto, durante o resfriamento, a austenita se transformará em
martensita, de forma que a estrutura bruta de forjado deste aço consistirá de uma
mistura de martensita e ferrita. Mesmo os aços ferríticos de alto cromo (como AISI
446, 27% Cr) podem apresentar alguma austenita a alta temperatura e
conseqüentemente apresentarão ferrita + martensita quando brutos de forjados.
Conseqüentemente, neste contexto, são considerados ferríticos os aços
inoxidáveis com mais de 11% Cr e que são empregados com estrutura
essencialmente ferrítica (ferrita + carbonetos).
Na aplicação destes aços devem ser levadas em consideração as resistências ao
impacto, relativamente baixa, e os problemas associados a sua soldagem.
A soldagem dos aços inoxidáveis ferríticos normalmente conduz ao crescimento
de grão na zona termicamente afetada (ZTA) e precipitação nos contornos de
grão. Estes fenômenos, quando ocorrem, comprometem grandemente sua
253
tenacidade e resistência à corrosão.
Para aplicação em ambientes corrosivos, especialmente quando corrosão sob
tensão é um problema, aços ferríticos de teores de intersticiais (C, N)
extremamente baixos têm sido desenvolvidos (E - Brite 26-1, AISI 446 Modificado,
AISI 434 Modificado).
A redução dos intersticiais minimiza a ocorrência de precipitados (carbonetos e
nitretos) nos contornos de grão, principais responsáveis pela baixa tenacidade
dos inoxidáveis ferríticos e por sua degeneração na soldagem.
Para tal, evidentemente, a elaboração em VOD ou AOD ou VIM é essencial.
A aplicação dos aços inoxidáveis ferríticos a alta temperatura é limitada a
atmosferas oxidantes e quando é necessária resistência à absorção de carbono e/
ou enxofre. Sua resistência à oxidação a alta temperatura é comparável a dos
aços austeníticos e, por terem menor teor de elementos de liga, têm custos mais
baixos.
Estes aços têm temperaturas de transição elevadas (freqüentemente acima de
temperatura ambiente) não sendo indicados, portanto, para serviço criogênico.
5.9.3 INOXIDÁVEIS AUSTENÍTICOS
Podem ser classificados em austeníticos estáveis e austeníticos metaestáveis. Os
austeníticos estáveis são os que retêm estrutura austenítica mesmo após
considerável deformação a frio Os austeníticos metaestáveis transformam a
estrutura para martensítica ou acicular, quando sujeitos à deformação a frio. Esta
diferença se manifesta claramente na curva tensão-deformação do material.
O tipo 304, austenítico estável, mostra uma relação parabólica entre deformação
e tensão, com o encruamento decrescendo com o aumento de deformação. No
caso do tipo 301, metaestável, após 10 a 15% de deformação, ocorre um
encruamento acelerado, associado à formação de martensita induzida por
deformação observando-se a Tabela 5.13, pode-se verificar o efeito destas altas
taxas de ''encruamento'' nos limites de resistência dos inoxidáveis austeníticos.
254
Figura 5.17 - Curva Tensão - deformação de aços inoxidáveis austeníticos.
Tabela 5.13 - Propriedades típicas de inoxidáveis austeníticos recozidos (ou solubilizados).
Os aços 201, 202, 301 e austenita metaestável apresentam, obviamente, as mais
altas relações limite de resistência/ limite de escoamento, sendo que os de
austenita estável (304, 310) apresentam valores bastante altos também.
A alta plasticidade e a capacidade de encruamento dos aços austeníticos, permite
que estes sejam trabalhados a frio até atingirem-se valores excepcionais de limite
de escoamento e ruptura, como mostra a figura abaixo.
255
Figura 5.18 - Propriedades do aço inoxidável AISI 310 (austenítico) encruado.
É importante observar que, como esta resistência é obtida por encruamento a frio,
operações que envolvam aquecimento (como soldagem, p- ex.) podem destruí-la.
Os aços inoxidáveis austeníticos estão entre os aços que apresentam melhores
propriedades de resistência à temperatura elevada.
Estas propriedades podem ser otimizadas explorando-se as possibilidades de
endurecimento por precipitação. Aços estabilizados ao Nb como o AISI 347,
podem ser tratados para se obter, o rnáximo de vantagem com a precipitação, na
resistência à fluência.
Além disto, modificações da variedade típica 18-8 são disponíveis como aços
semi-austeníticos endurecíveis por precipitação, através da adição de alumínio,
cobre, molibdênio ou nióbio (17-7 PH, AM 350, etc.).
Por outro lado, por terem estrutura CFC, apresentam excelentes valores de
resistência ao impacto e não sofrem o fenômeno de transição dúctil-frágil sendo,
portanto, os mais indicados para serviços criogênicos ou quando a garantia de
tenacidade em qualquer situação é fundamental.
256
5.9.4 RESISTÊNCIA À CORROSÃO
A vida em serviço de peças produzidas em aço inoxidável é freqüentemente
dependente de sua corrosão. Assim, um conhecimento básico dos mecanismos e
taxas de corrosão que podem afetar a durabilidade dos itens em serviço é
fundamental na seleção do material mais econômico.
Entretanto, os fenômenos associados à corrosão e à capacidade dos materiais de
apresentarem maior ou menor resistência a estes processos são de natureza
complexa e seu estudo em profundidade foge aos propósitos deste trabalho.
Uma excelente análise destes fenômenos pode ser encontrada nas referências
citadas no fim do capítulo, em particular, em Gentil.
Determinados mecanismos de corrosão localizados que ocorrem nos aços
inoxidáveis (mas não apenas nestes materiais), podem conduzir a falhas
prematuras e merecem, portanto, serem comentados. Corrosão Intergranular Os contornos de grão são regiões de mais alta energia e, por isto, sítios
preferenciais de precipitação de segundas fases.
Quando aços austeníticos (como 304 ou 316) são aquecidos na faixa de 425-
815º.C ou resfriados lentamente nesta faixa de temperatura, pode ocorrer à
precipitação de carbonetos de cromo nos contornos de grãos.
O principal carboneto precipitado é o Cr23C6 e, portanto, cada átomo de carbono
retira de solução na matriz austenítica, aproximadamente quatro átomos de
cromo. Como resultado a região da austenita ao redor dos precipitados fica
empobrecida em cromo e, portanto, suscetível à corrosão. Este fenômeno se
chama sensitização.
A sensitização pode ocorrer no resfriamento lento após solubilização (ou
forjamento), alívio de tensões na faixa de precipitação de carbonetos de cromo ou
na soldagem.
Quando a sensitização ocorre durante a soldagem, permite, posteriormente,
corrosão localizada na zona afetada pelo calor, na faixa que permaneceu por
mais longo tempo na temperatura de sensitização.
Os seguintes métodos podem ser aplicados para prevenir a presença de
257
carbonetos de cromo nos contornos de grão:
Figura 5.19 - Sensitização de aço inoxidável devido à precipitação de carbonetos de cromo (esquemático).
1. Peças que não serão tratadas termicamente ou soldadas podem ser
compradas na condição "solubilizada'', isto é, submetidas a um aquecimento a
temperaturas na faixa de 1040-1150ºC, para dissolver os carbonetos, seguido de
um resfriamento rápido para evitar a reprecipitação. Ensaios de laboratório para
comprovar o estado ''solubilizado" são usuais, segundo ASTM A 262 ou DIN
50914.
2. Seleção de aços de extra-baixo teor de carbono (C ≤ 0.03%), como 304L, 316L,
etc. A redução do teor de carbono normalmente é suficiente para prevenir a
sensitização. Estes aços são produzidos com facilidade através dos processos
VOD ou AOE e tem custos comparáveis aos aços com teor de carbono normal.
Como o carbono (soluto intersticial) tem uma contribuição importante na
resistência destes aços, os aços de extra-baixo carbono tem propriedades
mecânicas ainda mais baixas (limite de escoamento 0.2% ≅ 210MPa) que os
materiais normais. Aços com adições de nitrogênio (também intersticial) como
304LN e 316LN têm sido desenvolvidos para compensar esta redução nas
propriedades mecânicas.
3. Seleção de aços estabilizados, como 321 (estabilizado ao Ti) ou 347
(estabilizado ao Nb). A proteção neste caso é obtida através da formação
preferencial de carbonetos dos elementos estabilizantes que têm maior afinidade
pelo carbono do que o cromo.
O controle do titânio, entretanto, pode ser difícil durante a soldagem, em função
258
de sua alta reatividade. Nos aços em que nióbio é usado, seu teor deve ser o
mais próximo possível ao nível requerido para fixar o carbono (em peso, Nb/ C =
18). Nióbio em excesso pode tornar o aço suscetível a trincas na soldagem,
especialmente em peças espessas.
A ocorrência de sensitização em aços inoxidável pode reduzir significativamente
sua resistência à corrosão em diversos meios.
Um caso ilustrativo é a ocorrência de corrosão sob tensão em aços austeníticos
sensitizados, em reatores nucleares do tipo BWR, em contato com água de
composição bastante bem controlada.
Os aços inoxidáveis ferríticos também são suscetíveis a sensitização. O
aquecimento a temperaturas superiores a 920ºC dissolve carbonetos e nitretos,
que reprecipitam com praticamente qualquer taxa de resfriamento. Uma das
causas deste comportamento é a baixíssima solubilidade do carbono e nitrogênio
na ferrita (CCC).
Para eliminar a sensitização, um tratamento possível é um aquecimento a
aproximadamente 780ºC para re-homogeneizar a matriz ferrítica, eliminando as
zonas empobrecidas em cromo (observar que não ocorre dissolução dos
carbonetos e nitretos).
Nem mesmo os aços ferríticos de alta pureza são totalmente imunes a
sensitização.
259
Corrosão sob Tensão A combinação de tensões (trativas), de trabalho ou residuais, e determinados
ambientes corrosivos e temperaturas pode levar a um tipo de corrosão acelerada
que conduz a trincas e fragilização do metal. Apesar de ser um fenômeno que
ocorre por mecanismos ainda pouco claros, algumas combinações conhecidas
sujeitas à corrosão sob tensão são:
- Aços martensíticos são sujeitos à corrosão sob tensão em ambientes contendo
cloretos, bases quentes, nitratos quentes e sulfeto de hidrogênio. Tais
combinações devem ser, portanto, evitadas.
- Aços austeníticos podem sofrer corrosão sob tensão em bases concentradas ou
na presença de cloretos.
Composição química da liga, temperatura, nível de tensões, concentração de
cloretos, condição superficial, pH, teor de oxigênio no meio, são algumas das
variáveis que influenciam na ocorrência de corrosão sob tensão.
Existem composições particularmente resistentes à corrosão sob tensão. O teor
de níquel da liga é especialmente importante na resistência a este tipo de
corrosão. A suscetibilidade máxima à corrosão sob tensão é obtida, em aços
inoxidáveis com 8% de nível.
- Aços ferríticos são os menos suscetíveis à corrosão sob tensão, especialmente
por cloretos. É importante observar que sensitizados ou inadequadamente
selecionados também podem sofrer corrosão sobre tensão.
Os principais meios de controle ou proteção contra este tipo de corrosão são:
• Minimizar tensões: reduzir concentradores de tensões, utilizar tratamentos de
alívio de tensões (quando possível e quando não, implicar em outras alterações
metalúrgicas como sensitização, por exemplo) ou processos que produzam
tensões residuais compressivas na superfície das peças (por exemplo “shot
peening", etc.).
260
• Projeto adequado: evitando locais de acúmulo de espécies químicas nocivas,
etc.
• Proteção catódica ou uso de inibidores.
• Alteração da liga utilizada. Uma das limitações principais neste caso é que os
testes de laboratório existentes para avaliar a resistência à corrosão nem sempre
permitem boa correlação com os meios industrialmente empregados. A seleção
tem de ser baseada, em geral, em experiências anteriores ou ensaios especiais,
de simulação, também de validade limitada.
Corrosão por Pites, ou Alveolar Como discutido anteriormente, a resistência à corrosão dos aços inoxidáveis está
associada à formação de um filme protetor (passivação) na superfície do aço, devido à reação com o oxigênio da atmosfera ou outros ambientes contendo
oxigênio. Em vários casos, este filme de passivação pode ser destruído apenas
localmente, em pontos de superfície e a corrosão ocorre como pequenos furos ou
pitos. Fatores que promovem a corrosão por pites são:
1. Soluções de cloreto e sais oxidantes.
2. Soluções neutras, aeradas, de cloreto.
3. Aumento da temperatura.
São métodos usuais para evitar este tipo de corrosão:
1. Evitar concentração de íons halogênicos.
2. Manter as soluções agitadas, para evitar desunifomidade no potencial de
oxigênio.
3. Manter a concentração de oxigênio alta, ou eliminar o oxigênio. No primeiro
caso, aumenta-se a passividade e no segundo, evita-se pilhas ativo-passivo.
4. Aumentar o pH. O íon (OH-) age como inibidor da corrosão por pites.
5. Trabalhar à temperatura mais baixa possível.
6. Empregar passivadores ou proteção catódica.
Dentre os aços inoxidáveis, os austeníticos que contêm molibdênio (2-4%)
apresentam a mais elevada resistência à corrosão por pites. Exemplos de
soluções em que os aços austeníticos com molibdênio (Ex.: 316) apresentam
redução na corrosão por pites são: soluções de cloreto de sódio, água do mar,
261
ácido sulfúrico, fórmico e fosfórico.
Resistência à Corrosão em Diversos Meios Existem diferentes fontes onde resultados experimentais de resistência à corrosão
podem ser encontrados, tabelados, para diferentes materiais, em diversas
condições de operação. Estas tabelas devem fornecer uma orientação inicial para
o processo seletivo que, em função da complexidade da aplicação, pode vir a
requerer testes de laboratório, com protótipos, etc., até a decisão final sobre o
material mais adequado.
262
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