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Fundações e Tratamento de Solos com Recurso à Técnica de Full Displacement Piles Letícia da Conceição Melo Moniz Dissertação para obtenção do Grau de Mestre em Engenharia Civil Orientador: Professor Alexandre da Luz Pinto Júri Presidente: Professor Doutor Jaime Alberto dos Santos Orientador: Professor Alexandre da Luz Pinto Vogal: Professor Doutor Peter John Bourne-Webb Outubro 2014

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Fundações e Tratamento de Solos com Recurso à Técnica

de Full Displacement Piles

Letícia da Conceição Melo Moniz

Dissertação para obtenção do Grau de Mestre em

Engenharia Civil

Orientador: Professor Alexandre da Luz Pinto

Júri

Presidente: Professor Doutor Jaime Alberto dos Santos

Orientador: Professor Alexandre da Luz Pinto

Vogal: Professor Doutor Peter John Bourne-Webb

Outubro 2014

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“A Ciência permanecerá sempre a satisfação do

desejo mais alto da nossa natureza, a

curiosidade; fornecerá sempre ao Homem o

único meio que ele possui de melhorar a própria

sorte”.

Renan, O Futuro da Ciência

.

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Resumo

Com a evolução dos tempos, a necessidade de conceber novas técnicas de fundações profundas

otimizando os recursos utilizados durante a sua execução aumentou, devido essencialmente à

necessidade de reduzir o custo de produção. As full displacement piles (FDP) surgiram como

evolução das técnicas mais utilizadas na atualidade e encontram-se em crescimento significativo no

mercado, principalmente em países como o Reino Unido e Itália, em grande parte pelas condições

geológicas e vantagens ambientais adquirida sobre as restantes técnicas, como estacas moldadas, e

devido à relação custo-produção.

As estacas FDP encontram-se na categoria de estacas de deslocamento, tal como a estacas

cravadas, no entanto são executadas in situ e apresentam um baixo nível de ruído e vibração, tendo

em conta o deslocamento horizontal que provocam.

Esta dissertação tem como principal objetivo estudar este tipo de fundações profundas,

nomeadamente o seu processo construtivo, parâmetros que influenciam a sua execução, qual o efeito

da sua instalação no solo e inferir a sua aplicabilidade em Portugal. Efetua-se ainda uma breve

comparação entre esta técnica e estacas moldadas e cravadas, com o intuito de aferir as principais

diferenças existentes entre ambas, realçando as vantagens das estacas FDP.

Numa fase posterior, recorre-se ao software Plaxis 2D (versão 8.2) para análise de resultados de um

ensaio de carga estática efetuado numa estaca FDP, com base num perfil geotécnico obtido de um

caso estudo que utilizou a tecnologia FDP como solução de fundação. Para as mesmas

características geotécnicas, no mesmo software simulou-se também um ensaio de carga estática

para uma estaca moldada, para que fosse possível analisar as duas curvas de carga-assentamento

obtidas e concluir as principais diferenças existentes entre ambas, nomeadamente que a estaca FDP

possuiu maior capacidade de carga devido ao deslocamento horizontal que provoca durante a sua

execução, que adensa o solo confinante à estaca.

Palavras-Chave: Fundações profundas; Full displacement piles; Estacas moldadas; Ensaio de carga

estática.

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Abstract

Due to the evolution of times, the need to create new techniques for deep foundations has increased,

thus optimizing the resources that are used for its execution, mainly due to the need to reduce

production costs. Full displacement piles (FDP) emerged as an evolution of the most used techniques

and are significantly growing within the markets of countries such as the United Kingdom and Italy,

mainly due to the environment advantages over the remaining techniques, such as bored piles, and

consequently its cost-production relationship.

FDP belong to the displacement piles category, as well as driven piles. However, they are made in situ

and show a low level of noise and vibration taking into consideration the horizontal displacement that

they arouse.

This dissertation has the main goal of studying this type of deep foundations, namely its installation

process, the parameters that affect its execution, its effect on soil installations and infer its applicability

in Portugal. Furthermore, it is also made a brief comparison between this technique and bored piles

and driven piles, in order to measure the main existing differences between both, with the purpose of

enhancing the FDP advantages.

At a later stage, the software Plaxis 2D is used to simulate an FDP static load test, based on the

geotechnical profile that was achieved from a case study that used FDP foundation. For the same

geotechnical features, and using the same software, it was also simulated a static load test for a bored

pile in order to enable the analysis of the two load-settlement curves obtained and conclude the main

existing differences between both, namely that the FDP has a higher loading capacity due to the

horizontal displacement that it creates throughout its execution which densification the soil

surrounding the pile.

Keywords: Deep foundations; Full Displacement Piles; Bored piles; Static load test.

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Agradecimentos

A elaboração desta dissertação apenas se tornou possível graças à colaboração e orientação de

diversas pessoas, deste modo gostaria de deixar o meu apreço e sinceros agradecimentos a todos

que de alguma forma contribuíram para a sua realização.

Em primeiro lugar ao Professor Alexandre Pinto, orientador científico da presente dissertação,

demonstro um agradecimento especial pela disponibilidade e empenho manifestado ao longo do

período de realização deste trabalho. Gostaria, ainda, de gratificar a oportunidade que me

proporcionou de estudar e explorar o tema em causa.

Ao Professor Peter Bourne-Webb por toda a atenção e disponibilidade que demonstrou na fase de

pesquisa, fornecendo muito material utilizado neste trabalho.

À Professora Isabel Lopes pela disponibilidade e informação cedida sobre a caracterização

geotécnica de Portugal.

Ao Engenheiro David Brito gostaria de deixar o meu especial apreço pela paciência e conhecimentos

transmitidos do software Plaxis, assim como pelo tempo despendido durante os últimos meses para

esclarecimento e resolução de problemas que surgiram.

Ao Cristiano pelo tempo concedido, disponibilidade e dedicação demonstrada na leitura desta

dissertação.

À minha mãe, Fátima, e irmãs, Teresa e Beatriz, pelo apoio, confiança e carinho incondicional

demonstrados ao longo de todos estes anos. Agradecer-lhes por todos os sacrifícios que fizeram para

que me fosse permitido chegar a esta etapa da minha vida, bem como a força que dispensaram para

que conseguisse ultrapassar os obstáculos que surgiam. Gostaria ainda de enfatizar todo o orgulho

que têm em mim, que me concedeu alento para conseguir permanecer estes anos longe de casa.

À minha restante família, em particular, os meus Tios Gilberto e Rosa, que ao longo destes anos

académicos sempre me ampararam e apoiaram em tudo o que estava ao seu alcance.

À Júlia, minha afilhada, que mesmo sem se aperceber, sempre me motivou e incendiou com a sua

presença e alegria.

À minha madrinha Cândida, que mesmo estando longe, nunca deixou de me apoiar e nos momentos

mais difíceis esteve sempre presente, tanto para mim como para a minha família.

Dedico este trabalho aos meus avós Faustino e Mª do Rosário, e à minha Tia Conceição, que apesar

de já não se encontrarem presentes para me acompanharem nesta etapa, sempre apoiaram as

minhas escolhas e ajudaram no que estava ao seu alcance. Gostaria ainda de agradecer toda a força

que me transmitem para que seja capaz de prosseguir neste longo caminho.

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Aos meus estimados amigos, em especial à Catarina e Micaela, pela preocupação e apoio que

demonstraram ao longo da realização deste trabalho, sempre com palavras de incentivo e alento.

Ao meu namorado Diogo, que ao longo destes anos académicos tornou-se numa pessoa

indispensável, gostaria de deixar o meu especial agradecimento por toda a paciência, apoio e

motivação demonstrada ao longo de todos estes anos. Agradecer-lhe a sua presença nos momentos

mais difíceis da minha vida, ajudando-me a progredir de modo a alcançar esta etapa, o meu muito

obrigado. Gostaria ainda de agradecer todas as sugestões efetuadas na realização desta dissertação.

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Índice Geral

Capítulo 1. Introdução ...................................................................................................................... 1

1.1. Considerações iniciais ............................................................................................................. 1

1.2. Objetivos .................................................................................................................................. 3

1.3. Estrutura da dissertação .......................................................................................................... 4

Capítulo 2. Fundações Profundas ................................................................................................... 7

2.1. Enquadramento geral .............................................................................................................. 7

2.2. Classificação das estacas ....................................................................................................... 7

2.3. Estacas moldadas ................................................................................................................. 10

2.3.1. Aspetos gerais ............................................................................................................... 10

2.3.2. Processo construtivo ..................................................................................................... 10

2.3.3. Vantagens e desvantagens ........................................................................................... 13

2.4. Estacas cravadas .................................................................................................................. 14

2.4.1. Aspetos gerais ............................................................................................................... 14

2.4.2. Processo construtivo ..................................................................................................... 14

2.4.3. Vantagens e desvantagens ........................................................................................... 14

2.5. Controlo de qualidade ........................................................................................................... 15

2.5.1. Ensaio destrutivo ........................................................................................................... 16

2.5.1.1. Ensaio de carga estática ........................................................................................... 16

2.5.2. Ensaios não destrutivos ................................................................................................ 18

2.5.2.1. Ensaio sónico ............................................................................................................ 18

2.5.2.2. Carotagem ................................................................................................................. 19

2.5.2.3. Método do campo induzido ....................................................................................... 20

2.5.2.4. Método com radar...................................................................................................... 21

2.5.2.5. Método sísmico paralelo ............................................................................................ 22

2.5.2.6. Ensaio cross-hole ...................................................................................................... 23

2.5.2.7. Ensaio de carga dinâmico ......................................................................................... 24

Capítulo 3. Full Displacement Piles (FDP) .................................................................................... 27

3.1. Aspetos gerais ....................................................................................................................... 27

3.2. Definição ................................................................................................................................ 27

3.3. Equipamento de perfuração .................................................................................................. 29

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3.3.1. Técnica standard ........................................................................................................... 31

3.3.2. Técnica com ponteira perdida ....................................................................................... 33

3.4. Processo construtivo ............................................................................................................. 36

3.4.1. Técnica standard ........................................................................................................... 36

3.4.2. Técnica com ponteira perdida ....................................................................................... 37

3.5. Parâmetros de perfuração ..................................................................................................... 39

3.5.1. Resistência à penetração (α)......................................................................................... 39

3.5.2. Influência do solo e dos parâmetros de perfuração na execução da estaca ................ 42

3.5.2.1. Resultados ................................................................................................................. 43

3.5.2.2. Análise de resultados ................................................................................................ 49

3.6. Mecanismo de deslocamento ................................................................................................ 49

3.7. Domínio de aplicação ............................................................................................................ 51

3.7.1. Condições gerais ........................................................................................................... 51

3.7.2. Aplicabilidade em Portugal ............................................................................................ 52

3.8. Vantagens e desvantagens ................................................................................................... 54

3.9. Análise comparativa – Estacas FDP versus estacas moldadas e cravadas ........................ 56

Capítulo 4. Dimensionamento Geotécnico ................................................................................... 59

4.1. Enquadramento geral ............................................................................................................ 59

4.2. Importância da caracterização geotécnica ............................................................................ 60

4.3. Considerações iniciais de projeto .......................................................................................... 60

4.4. Métodos de dimensionamento .............................................................................................. 61

4.5. Dimensionamento .................................................................................................................. 62

4.5.1. Aspetos gerais ............................................................................................................... 62

4.5.2. Capacidade resistente última ........................................................................................ 63

4.5.3. Capacidade resistente de cálculo.................................................................................. 73

4.5.4. Análise de resultados .................................................................................................... 75

Capítulo 5. Caso de Estudo – Passante di Mestre ....................................................................... 77

5.1. Enquadramento geral ............................................................................................................ 77

5.2. Passante di Mestre ................................................................................................................ 78

5.2.1. Troço de estrada entre túneis Vetrego e Caltana ......................................................... 79

5.3. Caracterização geotécnica .................................................................................................... 82

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5.4. Modelação numérica ............................................................................................................. 83

5.4.1. Método de elementos finitos .......................................................................................... 83

5.4.2. Geometria e modelo de cálculo ..................................................................................... 84

5.4.3. Caracterização dos materiais ........................................................................................ 86

5.4.4. Malha de elementos finitos e fase de cálculos .............................................................. 92

5.4.5. Resultados da modelação ............................................................................................. 96

5.4.5.1. Full displacement pile (FDP) ..................................................................................... 96

5.4.5.2. Estaca moldada ....................................................................................................... 107

5.4.6. Análise de resultados .................................................................................................. 113

5.4.7. Otimização do comprimento da estaca ....................................................................... 120

Capítulo 6. Conclusões ................................................................................................................ 123

6.1. Considerações finais ........................................................................................................... 123

6.2. Propostas de desenvolvimentos futuros ............................................................................. 126

Referências Bibliográficas ............................................................................................................... 129

Anexos ................................................................................................................................................ 133

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Índice de Figuras

Figura 1.1 –Mercado dos diversos tipos de fundações (Bottiau, 2006) .................................................. 1

Figura 1.2 – Ferramentas de perfuração para os diferentes tipos de estacas de deslocamento

(adaptade de Basu & Prezzi, 2009) ........................................................................................................ 2

Figura 1.3 – Modelo da ferramenta de perfuração: a) “single-pass”; b) “double-pass” (Bourne-Webb et

al, 2010) ................................................................................................................................................... 3

Figura 2.1 - Estaca com funcionamento por ponta (Brito, 1999a) .......................................................... 9

Figura 2.2 - Estacas flutuantes (Brito, 1999a) ......................................................................................... 9

Figura 2.3 - Estaca mista (Brito, 1999a) ................................................................................................ 10

Figura 2.4 – Faseamento construtivo de uma estaca executada com trado contínuo sem tubo

moldador (Santos, 2008) ....................................................................................................................... 11

Figura 2.5 – Faseamento construtivo de uma estaca com tubo moldador recuperável (Santos, 2008)

............................................................................................................................................................... 11

Figura 2.6 – Faseamento construtivo de uma estaca com recurso a lamas bentoníticas ou polímeros

(Santos, 2008) ....................................................................................................................................... 12

Figura 2.7- Ensaio de carga estática (adaptado de Brito, 1999)........................................................... 17

Figura 2.8 – a) Modelo de funcionamento do sistema com célula de Osterberg na base da estaca; b)

Esquema da célula instalada no fuste da estaca (Penteado & Brito, 2009) ......................................... 18

Figura 2.9 - Esquema de execução do ensaio sónico (Penteado & Brito, 2009) ................................. 19

Figura 2.10 - Equipamento utilizado na carotagem (esquerda), amostra de carotes (direita) (Penteado

& Brito 2009) .......................................................................................................................................... 20

Figura 2.11 - Método do campo induzido (Penteado & Brito 2009) ...................................................... 21

Figura 2.12 - Método com radar (Penteado & Brito 2009) .................................................................... 21

Figura 2.13 - Método sísmico paralelo (Penteado & Brito, 2009) ......................................................... 22

Figura 2.14 - Equipamento utilizado no ensaio cross-hole (Penteado & Brito, 2009) .......................... 23

Figura 2.15 - Realização do ensaio dinâmico (à esquerda) e colocação do acelerómetro e

extensómetro no fuste da estaca (Penteado & Brito, 2009) ................................................................. 25

Figura 3.1 - Tipologia das estacas (adaptado de Baxter et al, 2006) ................................................... 28

Figura 3.2 – Comparação da capacidade de carga entre estacas FDP e estacas moldadas (adaptado

de Busch, 2009) .................................................................................................................................... 29

Figura 3.3 – a) Equipamento standard; b) Equipamento com "extensão de kelly"; c) Equipamento com

"extensão de kelly" em junção com a extensão treliçada (Bauer Maschinen GmbH, 2013) ................ 30

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Figura 3.4 - Exemplo de um monitor do equipamento de perfuração (Bauer Maschinen GmbH, 2013)

............................................................................................................................................................... 31

Figura 3.5 - Diferentes funções que compõem a ferramenta de perfuração (adaptado de Bauer

Maschinen GmbH, 2013) ....................................................................................................................... 31

Figura 3.6 – À esquerda, designação dos diferentes utensílios que compõem a ferramenta de

perfuração e à direita as respetivas funções (adaptado de Busch, 2009) ............................................ 33

Figura 3.7 - Ponteira perdida (Bauer Maschinen GmbH, 2013)............................................................ 33

Figura 3.8 - Componentes da parte superior do equipamento de furação (Bauer Maschinen GmbH,

2013) ...................................................................................................................................................... 34

Figura 3.9 - Esquema da metodologia de execução da técnica standard (adaptado de Bauer

Maschinen GmbH, 2013) ....................................................................................................................... 37

Figura 3.10- Esquema do processo construtivo da técnica com ponteira perdida (adaptado de Bauer

Maschinen GmbH, 2013) ....................................................................................................................... 38

Figura 3.11 – Resistência à penetração (esquerda) e resistência de ponta (direita) (adaptado de

Busch, 2009) ......................................................................................................................................... 39

Figura 3.12 - Evolução do valor de resistência à penetração (adaptado de Busch, 2009) .................. 40

Figura 3.13 - Resistência à penetração inicial (esquerda) e ajustada (direita) (adaptado de Busch,

2009) ...................................................................................................................................................... 41

Figura 3.14 – Modelo numérico tridimensional e malha de solo em detalhe (adaptado de Pucker &

Grabe, 2012) ......................................................................................................................................... 42

Figura 3.15 – Força axial e momento torsor em função de DR e Vr/Vz da areia Mai Liao (adaptado de

Pucker & Grabe, 2012) .......................................................................................................................... 43

Figura 3.16 –Reação axial e momento torsor em função de DR e Vr/Vz da areia KarlsruherI (adaptado

de Pucker & Grabe, 2012) ..................................................................................................................... 44

Figura 3.17 – Deslocamento horizontal obtido para areia Mai Liao (Pucker & Grabe, 2012) .............. 45

Figura 3.18 – Deslocamento horizontal obtido para a areia Karlsruher (Pucker & Grabe, 2012) ........ 46

Figura 3.19 – Índice de vazios a distintas profundidades para a areia Mai Liao (adaptado de Pucker &

Grabe, 2012) ......................................................................................................................................... 47

Figura 3.20 – Índice de vazios a distintas profundidade para a areia Karlsruher (adaptado de Pucker &

Grabe, 2012) ......................................................................................................................................... 48

Figura 3.21 - Variação do nível de tensão durante a fase de instalação (adaptado de Baxter et al,

2006). ..................................................................................................................................................... 50

Figura 3.22 – Carta geológica de Portugal Continental (escala 1:50 000) (Coelho, 1996) .................. 52

Figura 3.23 – Carta geológica simplificada da Ilha da Madeira (Ribeiro & Ramalho, 2007) ................ 54

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Figura 3.24 - Aumento da resistência lateral e de ponta devido à densificação do solo circundante

(adaptado de Bauer Maschinen GmbH, 2013)...................................................................................... 55

Figura 4.1 – Fluxograma da interacção entre as diferentes partes que compõem o Eurocódigo 7

(Santos, s.d.) ......................................................................................................................................... 59

Figura 4.2 – Curva de carga-assentamento (Bringiotti et al, 2008) ...................................................... 64

Figura 4.3 – Regressão linear do Método de Chin-Kondner ................................................................. 64

Figura 4.4 – Curva carga-assentamento com base no método de Chin-Kondner................................ 65

Figura 4.5 – Perfil geotécnico e características do solo ........................................................................ 66

Figura 4.6 – Superfície de rotura por Terzaghi, Sokolovski, Caquot e Kérisel (Santos, 2008) ............ 68

Figura 4.7 – Cálculo de Nq pela proposta de Terzaghi, Sokolovski, Caquot e Kérisel, (Santos, 2008) 68

Figura 4.8 – Coeficientes de correlação 𝝃 para determinação do valor característico a partir de

ensaios de carga estática de estacas (adaptado NP EN 1997-1, 2010) .............................................. 73

Figura 4.9- Coeficientes parciais para as capacidades resistentes de estacas cravadas (adaptado NP

EN 1997-1, 2010) .................................................................................................................................. 74

Figura 4.10 – Coeficientes parciais para as capacidades resistentes de estacas moldada (adaptado

NP EN 1997-1, 2010) ............................................................................................................................ 74

Figura 5.1 – Mecanismo de mobilização da pressão de água exercida na laje de fundo (Bringiotti et al,

2008) ...................................................................................................................................................... 77

Figura 5.2 – Desenvolvimento da auto-estrada A4 (Google, 2014) ...................................................... 78

Figura 5.3 – Auto-estrada Passante di Mestre (Google, 2014)............................................................. 79

Figura 5.4 – Passante di Mestre (Google, 2014) .................................................................................. 80

Figura 5.5 – Pormenor do sistema de fixação inicial (Bringiotti et al, 2008) ......................................... 80

Figura 5.6 – Pormenor construtivo das FDP como sistema de fixação (Bringiotti et al, 2008) ............. 81

Figura 5.7 – Esforço axial da estaca FDP à compressão e tração ....................................................... 82

Figura 5.8 – Exemplo de um problema axissimétrico (Brinkgreve et al, 2004 mencionado em Vieira,

2013) ...................................................................................................................................................... 84

Figura 5.9– Ilustração do modelo numérico de uma estaca FDP (software Plaxis 2D)........................ 86

Figura 5.10 – Malha de elementos finitos (software Plaxis 2D) ............................................................ 92

Figura 5.11 – Condições iniciais: a) posição do nível freático, b) pressões neutras para o modelo com

FDP (software Plaxis 2D) ...................................................................................................................... 93

Figura 5.12 - Ponto onde se obteve os deslocamentos (software Plaxis 2D) ...................................... 94

Figura 5.13 – Activação de reset displacements to zero (software Plaxis 2D) ..................................... 95

Figura 5.14 - Fase de cálculo do modelo com estaca FDP (software Plaxis 2D) ................................. 96

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Figura 5.15 – Configuração deformada da malha de elementos finitos após a perfuração do solo

(ampliada 50 vezes) .............................................................................................................................. 97

Figura 5.16 – Deslocamento horizontal no final da perfuração do solo (fase 1) (deslocamento máximo

57 mm) ................................................................................................................................................... 97

Figura 5.17 – Deslocamento vertical após a perfuração do solo (Fase 1) (deslocamento máximo 55

mm) ........................................................................................................................................................ 98

Figura 5.18 – Configuração deformada da malha de elementos finitos após a execução do ensaio de

carga estática (ampliada 100 vezes) ..................................................................................................... 99

Figura 5.19 - Deslocamento total na simulação do ensaio de carga estática (fase 3) (deslocamento

máximo 26,51 mm) ................................................................................................................................ 99

Figura 5.20 - Deslocamentos da estaca (fase 3): a) deslocamento total; b) deslocamento vertical; c)

deslocamento horizontal...................................................................................................................... 100

Figura 5.21 – Curva de carga-assentamento para a estaca FDP....................................................... 101

Figura 5.22 – Tensão efetiva horizontal ao longo do fuste da estaca FDP ........................................ 101

Figura 5.23 – Tensão efetiva horizontal transversalmente à estaca FDP .......................................... 102

Figura 5.24 – Tensão efetiva vertical ao longo do fuste da estaca FDP ............................................ 103

Figura 5.25 – Excesso de poro pressão ao longo do fuste da estaca FDP ........................................ 104

Figura 5.26 – Tensão efetiva tangencial ao longo do fuste da estaca FDP ....................................... 105

Figura 5.27 – a) Delimitação da área entre as curvas de tensão efetiva tangencial correspondente à

fase 2 e 3; b) tensão efetiva tangencial total da estaca FDP .............................................................. 105

Figura 5.28 – Diagrama de esforço axial para a estaca FDP ............................................................. 106

Figura 5.29 - Configuração deformada da malha de elementos finitos após a perfuração do solo

(ampliada 50 vezes) ............................................................................................................................ 107

Figura 5.30 – Deslocamento total após simulação do ensaio de carga estática (deslocamento máximo

66,14 mm)............................................................................................................................................ 108

Figura 5.31 - Deslocamentos da estaca: a) deslocamento total; b) deslocamento vertical; c)

deslocamento horizontal ...................................................................................................................... 108

Figura 5.32 – Curva de carga-assentamento para o modelo de cálculo com estaca moldada .......... 109

Figura 5.33 – Tensão efetiva horizontal ao longo do fuste da estaca moldada.................................. 109

Figura 5.34 – Tensão efetiva horizontal transversalmente à estaca moldada .................................... 110

Figura 5.35 – Tensão efetiva vertical ao longo do fuste da estaca moldada ...................................... 111

Figura 5.36 – Diagrama de poro pressão ao longo do fuste da estaca moldada ............................... 111

Figura 5.37 – Diagrama de tensão efetiva tangencial ao longo do fuste da estaca moldada ............ 112

Figura 5.38 – Diagrama de esforço normal para o modelo com estaca moldada .............................. 113

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xv

Figura 5.39 – Curvas de carga-assentamento das soluções numéricas e experimental ................... 114

Figura 5.40 – Tensão efetiva horizontal da estaca FDP versus estaca moldada ............................... 116

Figura 5.41 – Tensão efetiva vertical da estaca FDP versus estaca moldada ................................... 116

Figura 5.42 – Tensão efetiva tangencial ao longo do fuste da estaca FDP versus estaca moldada . 117

Figura 5.43 – Tensão efetiva tangencial ao longo do fusta da estaca FDP e moldada corrigida ....... 117

Figura 5.44 – Diagrama de esforço axial para estaca FDP e estaca moldada................................... 118

Figura 5.45 – Diagramas de esforços axiais teóricos e numéricos .................................................... 119

Figura 5.46 – a) Configuração deformada; b) Deslocamentos totais; c) Deslocamentos verticais

correspondentes a uma estaca FDP com 11 m de comprimento na simulação do ensaio de carga

estática ................................................................................................................................................ 121

Figura 5.47 – Diagrama de esforço axial para estaca FDP com 9, 10 e 11 m de comprimento ........ 121

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xvi

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xvii

Índice de Quadros

Quadro 1.1 – Classificação das diversas tecnológicas de estacas (adaptado de Bourne-Webb et al,

2010) ........................................................................................................................................................ 3

Quadro 2.1 – Classificação das estacas segundo processo construtivo (adaptado de Santos, 2008) .. 8

Quadro 3.1 - Profundidades atingidas pela técnica standard (adaptado de Bauer Maschinen GmbH,

2013) ...................................................................................................................................................... 32

Quadro 3.2 - Profundidades atingidas pela técnica de ponteira perdida (adaptado de Bauer

Maschinen GmbH, 2013) ....................................................................................................................... 35

Quadro 3.3 - Diâmetro da zona de perfuração em função do diâmetro da estaca (adaptado de Bauer

Maschinen GmbH, 2013) ....................................................................................................................... 35

Quadro 3.4 – Deslocamentos horizontais máximos obtidos na modelação ......................................... 47

Quadro 3.5 – Quadro resumo das conclusões obtidas ......................................................................... 49

Quadro 3.6 – Estacas FDP versus estacas moldadas e cravadas ....................................................... 57

Quadro 4.1- Valores dos parâmetros do solo ....................................................................................... 66

Quadro 4.2 – Capacidade resistente de ponta e lateral para uma estaca moldada (análise drenada) 70

Quadro 4.3 – Capacidade resistente de ponta e lateral para uma estaca cravada (análise drenadas)70

Quadro 4.4 – Quadro resumo da capacidade resistente última (análise drenada) .............................. 70

Quadro 4.5 – Cálculo da resistência não drenada ................................................................................ 72

Quadro 4.6 – Capacidade resistência última lateral e de ponta para uma estaca moldada (análise não

drenada) ................................................................................................................................................ 72

Quadro 4.7 - Capacidade resistência última lateral e de ponta para uma estaca cravada (análise não

drenada) ................................................................................................................................................ 72

Quadro 4.8 - Quadro resumo da capacidade resistente última (análise não drenada) ........................ 72

Quadro 4.9 – Capacidade resistente característica e de cálculo para estaca FDP .............................. 74

Quadro 4.10 – Capacidade resistente característica e de cálculo obtida a partir do método analítico 75

Quadro 4.11 – Resumo dos resultados obtidos para estacas com diâmetro igual a 620 mm ............. 75

Quadro 5.1 - Caracterização geotécnica (Bringiotti et al, 2008) ........................................................... 82

Quadro 5.2 - Parâmetros que caracterizam o modelo de Hardening Soil (Plaxis Manual, versão 8) .. 87

Quadro 5.3 – Parâmetros que caracterizam o modelo de Mohr-Coulomb (Plaxis Manual, versão 8) . 89

Quadro 5.4 – Valores de módulo de deformabilidade (Azizi, 2000 citado em Vieira, 2013) ................ 89

Quadro 5.5 - Coeficientes de Poisson (adaptado Marangon, s.d.) ....................................................... 90

Quadro 5.6 - Enumeração dos parâmetros utilizados na modelação e caracterização da interface ... 91

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xviii

Quadro 5.7 -Caracterização da estaca ................................................................................................. 92

Quadro 5.8 – Faseamento construtivo do modelo com estaca FDP .................................................... 94

Quadro 5.9 - Faseamento construtivo do modelo com estaca moldada .............................................. 94

Quadro 5.10 – Esforço axial ao longo do fuste da estaca FDP .......................................................... 106

Quadro 5.11 – Esforço axial ao longo do fuste da estaca moldada ................................................... 112

Quadro 5.12 – Resultados atingidos na modelação numérica para uma estaca com diâmetro de

0,620mm .............................................................................................................................................. 115

Quadro 5.13 – Esforço axial com recurso ao método de Bustamante e Gianeselli (1983) presente em

Santos (2008) ...................................................................................................................................... 119

Quadro 5.14 – Assentamentos obtidos na otimização do comprimento da estaca ............................ 120

Quadro 5.15 – Tensão tangencial aplicada na estaca. ....................................................................... 122

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xix

Símbolos e Abreviaturas

SIGLAS

CRP Constant rate of penetration

CPT Cone penetration test

FDP “Full Displacement Piles”

GMV Equipamento com extensão de “Kelly” e extensão treliçada

KV Equipamento com extensão de “Kelly”

ML Maintained load

PDA Pile Driving Analyer

PVC Policloreto de vinil

SPT Standard Penetration Test

STM Equipamento standard

ALFABETO LATINO

𝑨𝒃 Área transversal da ponta da estaca

𝑨𝒔 Área lateral da estaca

c' Coesão efetiva

Cu Resistência não drenada

D1 Diâmetro da estaca, correspondente à zona de estabilização da ferramenta de

perfuração

D2 Diâmetro da ferramenta de perfuração correspondente à zona de descompressão do

solo

DR Densidade relativa do solo

D50 Diâmetro correspondente à passagem de 50% das partículas do solo

e Índice de vazios

emáx Índice de vazios máximo

emin Índice de vazios mínimo

Ep Taxa de perfuração

E Módulo de deformabilidade

𝑬𝟓𝟎𝒓𝒆𝒇

Módulo de deformabilidade secante em estado triaxial

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xx

𝑬𝒐𝒆𝒅𝒓𝒆𝒇

Módulo de deformabilidade edométrico

𝑬𝒖𝒓𝒓𝒆𝒇

Módulo de deformabilidade na descarga/carga

EA Rigidez axial

EI Rigidez de flexão

F Força descendente aplicada pelo equipamento de perfuração

fcd Valor de cálculo da resistência à compressão do betão

K Coeficiente de impulso

k Rigidez

M Momento torsor aplicado pelo equipamento de perfuração

m Expoente relação de dependência da rigidez em relação ao nível de tensão (modelo

constitutivo de Hardening Soil)

n Taxa de rotação

𝑵𝒒 Fator de capacidade de carga

P Força transmitida à cabeça rotativa

𝒒𝒃 Resistência de ponta unitária

𝒒𝒔 Resistência lateral unitária

𝑹𝒃 Valor característico da resistência de ponta da estaca

𝑹𝒅 Valor de cálculo da capacidade resistente de uma estaca carregada axialmente

𝑹𝒌 Valor característico da capacidade resistente de uma estaca carregada axialmente

(𝑹𝒄;𝒎)𝒎𝒆𝒂𝒏

Valor médio da resistência à compressão

(𝑹𝒄;𝒎)𝒎𝒊𝒏

Valor mínimo da resistência à compressão

𝑹𝒔 Valor da resistência lateral da estaca

s Profundidade de penetração

t Tempo

Vr Velocidade de rotação

Vz Velocidade de perfuração

W Trabalho

ALFABETO GREGO

α Resistência à penetração

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xxi

αmáx Resistência à penetração máxima

αabort Resistência à penetração correspondente à profundidade que se pretende atingir na

execução da estaca

αnovo Resistência à penetração corrigida

Ƴ Peso volúmico

𝜸𝒃 Coeficiente parcial para resistência de ponta

𝜸𝒔 Coeficiente parcial para resistência lateral

∅ Diâmetro da estaca

Φ’ Ângulo de atrito interno

φ Ângulo de rotação

Ψ Dilatância

𝝈′𝒐 Tensão efetiva vertical na ponta da estaca

𝝈′𝒗 Tensão efetiva vertical ao longo do fuste da estaca

�̅�′𝒗 Tensão efetiva vertical média ao longo do fuste da estaca

𝜹′ Ângulo de atrito solo-estaca

∆l Assentamento (m)

𝜉1 e 𝜉2 Coeficientes de correlação dependente do número de estacas ensaiadas

𝜏𝑒𝑠𝑡𝑎𝑐𝑎 Tensão tangencial na estava

𝜏𝑏𝑒𝑡ã𝑜 Tensão tangencial do betão

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xxii

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1

Capítulo 1. Introdução

1.1. Considerações iniciais

O desenvolvimento de novas construções tem sido otimizado, no que diz respeito ao tempo de

execução, energia necessária, força braçal e economia na concretização, isto é, a solução elegida

para um determinado projeto tem de ser tal que utilize o mínimo possível de recursos, otimizando os

parâmetros descritos anteriormente.

A necessidade da evolução das tecnologias e design de fundações profundas (estacas) deve-se à

procura de mercado, apesar da divergência de opinião de alguns autores, segundo Bottiau (2006)

concluiu-se que a procura de fundações profundas consiste em cerca de 50% do mercado de

fundações, como é possível averiguar na figura seguinte.

Figura 1.1 –Mercado dos diversos tipos de fundações (Bottiau, 2006)

De forma a alcançar formatos com maior eficácia de perfuração, a engenharia moderna desenvolveu

diversas tecnologias, como é o exemplo da apresentada nesta dissertação.

A tecnologia utilizada na execução de estacas full displacement piles (FDP) foi desenvolvida pelo

grupo BAUER, empresa internacional de construção e fabricação que possuiu vários segmentos de

negócios, como por exemplo a BAUER Maschinen GmbH (responsável pelo desenvolvimento desta

tecnologia), e empregue com elevado sucesso em diversos países. O sucesso desta tecnologia deve-

se aos engenheiros responsáveis pelo projeto, ao facto de ser uma empresa especializada que em

comunhão com o fabricante ser capaz de ajustar detalhes operacionais, e porque o equipamento foi

projetado tendo em conta a necessidade de aplicação de um elevado momento torsor.

O desenvolvimento desta dissertação surge, essencialmente, por ser uma tecnologia recente, ainda

não utilizada em Portugal sendo interessante avaliar e perceber em que consiste esta técnica, de

modo a determinar as melhores opções para a sua aplicação.

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2

Embora esta dissertação se dedique ao estudo das Full Displacement Piles, existem diversas técnica

de Displacement Piles, isto é estacas de deslocamento.

Antes de explicitar as diferentes técnicas de estacas de deslocamento, importa referir que o seu

desenvolvimento partir das estacas de tardo continuo (CFA). A sua evolução nas últimas décadas, no

que diz respeito à ferramenta de perfuração e as técnicas de instalação associadas ajudam a que

haja uma maior produtividade na instalação de estacas.

Existem inúmeras variantes de estacas de deslocamento, nomeadamente Auger Pressure-Grouted

Displacement (APGD), Atlas, De Waal, Fundex, Olivier, Omega, SVB e SVV piles. O que difere entre

este tipo de ferramenta é a forma da ferramenta de perfuração, como é possível averiguar na Figura

1.2.

Figura 1.2 – Ferramentas de perfuração para os diferentes tipos de estacas de deslocamento (adaptade de Basu

& Prezzi, 2009)

De uma forma geral as ferramentas de perfuração que compõem as estacas de deslocamento

contêm (Figura 1.2):

Corpo de deslocamento (secção com diâmetro superior que auxilia o movimento lateral do

solo). Este segmento varia consoante a ferramenta, contudo normalmente tem uma forma

cilíndrica;

Hélice;

Ponteira perdida instalada na base do equipamento.

O deslocamento horizontal que ocorre durante o processo de instalação destas estacas é variável.

Este pode variar entre o deslocamento parcial e o total (como é o caso das Full Displacement Piles),

dependendo do tipo de ferramenta a utilizar-se.

De forma a exemplificar-se ferramentas de perfuração de estacas de deslocamentos que impõem

distintos níveis de deslocamento no solo apresenta-se na Figura 1.3 uma ferramenta correspondente

(a) “single-pass” e (b) “double-pass”. O primeiro (“single-pass”) é constituído por um tubo oco com o

Haste de perfuração

Corpo de deslocamento

Ponteira perdida

Hélice

Fe

rra

me

nta

d

e p

erf

ura

çã

o

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3

diâmetro correspondente ao da estaca, em que na ponta contem uma hélice utilizada para facilitar a

perfuração da estaca. Efetua apenas uma passagem no solo, uma vez que o tubo utilizado na

perfuração serve de tubo moldador à estaca. Em relação ao “double-pass” corresponde ao utilizado

por estacas FDP, que será descrito posteriormente.

a) b)

Figura 1.3 – Modelo da ferramenta de perfuração: a) “single-pass”; b) “double-pass” (Bourne-Webb et al, 2010)

De modo a compreender-se em que categoria se encontram as estacas executadas com recurso ao

trado “single-pass” apresenta-se o Quadro 1.1. Este reúne a classificação das principais técnicas de

fundações profundas, segundo Bourne-Webb et al (2010) e ilustra que estacas de deslocamento

podem ser consideradas como estacas de elevada a reduzido deslocamento.

Quadro 1.1 – Classificação das diversas tecnológicas de estacas (adaptado de Bourne-Webb et al, 2010)

Secção fechada Estaca de deslocamento Secção aberta Estaca moldada

(trado continuo) Pré-fabricado “Double-pass” “single-pass” Secções H e I

Elevado deslocamento Reduzido

deslocamento

Sem

deslocamento

Reduzidos resíduos Elevados resíduos

1.2. Objetivos

A presente dissertação, desenvolvida no âmbito do Mestrado Integrado em Engenharia Civil, tem

como principal objetivo ilustrar em que consiste a tecnologia de full displacement piles (FDP), pois

trata-se de uma tecnologia inovadora nunca empregue em Portugal, enquanto já é utilizada em

diversos países da Europa.

No seguimento deste objetivo, efetuou-se uma vasta pesquisa de modo a compreender qual a sua

origem, o seu faseamento construtivo e respetivas contingências, as condições necessárias para a

sua aplicação, isto é, o seu domínio de aplicação, e por fim quais vantagens e consequentes

desvantagens desta técnica. Esta análise foi realizada para que fosse possível avaliar a viabilidade

de aplicação desta técnica em Portugal, em comunhão efetuou-se um estudo dos principais tipos de

solos predominantes em Portugal e averiguar quais as principais zonas de possível aplicação.

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4

Por outro lado é essencial compreender e analisar as principais diferenças existentes entre esta

técnica e restantes utilizadas na atualidade (estacas moldadas e cravadas).

Para tal, inicialmente realizou-se uma análise, sucinta, distinguindo as estacas FDP, estacas

moldadas e cravadas, nomeadamente em relação ao faseamento construtivo, principais

condicionantes de aplicação, capacidade de carga, distinção de custos de execução, entre outros. De

modo a justificar as principais diferenças mencionadas anteriormente procedeu-se a uma análise

numérica com recurso a um software de elementos finitos (Plaxis). O principal objetivo desta

simulação consistiu em analisar um ensaio de carga de um modelo com uma estaca FDP e

posteriormente efetuar um procedimento idêntico para uma estaca moldada e avaliar as principais

diferenças existentes entre ambas.

1.3. Estrutura da dissertação

A presente dissertação encontra-se decomposta em 6 capítulos principais e referências bibliográficas.

O primeiro capítulo consiste numa introdução onde se apresentam os principais objetivos que

levaram ao desenvolvimento desta dissertação, efetuando também um breve resumo com o que se

pretende desenvolver em cada capítulo.

O segundo capítulo apresenta uma introdução geral às fundações profundas. Tem como objetivo

explicitar em que consiste uma fundação profunda e os parâmetros que as distinguem dos restantes

tipos de fundações, superficiais (sapatas) e semi-indiretas (pegões). Diferencia, também, as principais

técnicas de fundações profundas utilizadas atualmente em Portugal, estacas moldadas e cravadas,

em relação à sua definição, faseamento construtivo, vantagens e desvantagens da sua aplicação.

Salientar que apenas se analisou estes dois tipos de fundações profundas, pois são as que

apresentam características semelhantes às estacas FDP. Por fim, ainda neste capítulo, apresenta-se

diversas técnicas de controlo de qualidade, tanto destrutivos (ensaio de carga estática) como não

destrutivo (ensaio de carga dinâmica, ensaio de Cross-hole, entre outros).

O capítulo que se segue, capítulo 3, cinge-se à técnica FDP contendo fundamentos teóricos

essenciais para a sua compreensão. Apresenta-se a definição desta técnica e mostra-se o que a

distingue das duas técnicas descritas no capítulo anterior. Seguidamente ilustra-se o seu

equipamento característico e consequente faseamento construtivo das duas variantes que a

compõem (técnica standard e de ponteira perdida). Posteriormente mostra-se um parâmetro

característico desta técnica, a resistência à penetração, que tem como principal objetivo otimizar o

comprimento de perfuração. Por fim, como esta técnica é distinguida por influenciar os parâmetros do

solo, exibe-se o mecanismo de deslocamento do solo associado à instalação de uma estaca FDP.

O quarto capítulo encontra-se direcionado para o dimensionamento geotécnico de fundações

profundas. Antes de se iniciar o dimensionamento propriamente dito, efetuam-se algumas

apreciações acerca da importância de uma acertada caracterização geotécnica e sobre as

considerações iniciais a ter em projeto. Seguidamente procede-se a uma breve descrição dos

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5

principais métodos de dimensionamento presentes na NP EN 1997-1 (2010), e tendo em conta dois

dos métodos mencionados, método de cálculo analítico e método que recorre a resultados do ensaio

de carga estática, dimensionou-se a capacidade resistente de uma estaca moldada e cravada (com

auxilio do primeiro método) e para uma estaca FDP (segundo método), de modo a aferir as principais

diferenças existentes entre ambas.

O quinto capítulo trata-se de um caso de estudo, nomeadamente: Galleria del Passante di Mestre.

Neste capítulo pretende-se ilustrar uma obra executada com recurso a uma estaca FDP em que foi

efetuado um ensaio de carga estática. O principal objetivo consiste em, com recurso a um software

de elementos finitos, Plaxis 2D, simular o ensaio de carga estática na estaca FDP, ou seja obter uma

curva de carga-assentamento que se aproxime da obtida no ensaio efetuado in situ, para que a

posterior seja possível simular uma estaca moldada e avaliar as principais diferenças entre ambas.

O último capítulo diz respeito às conclusões alcançadas em relação aos objetivos propostos

anteriormente. Este capítulo contém, também, algumas propostas de desenvolvimentos futuros no

que diz respeito a esta técnica de fundações profundas (estacas FDP).

Por fim, têm-se as referências bibliográficas, consistem no conjunto de literatura, nomeadamente

artigos científicos, livros, páginas de internet, que contribuíram para o desenvolvimento desta

dissertação.

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6

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7

Capítulo 2. Fundações Profundas

2.1. Enquadramento geral

As estruturas transmitem as cargas ao solo por intermédio das fundações. Existem diversos tipos de

fundações e a sua utilização depende do tipo de solo bem como as profundidades que se pretende

atingir.

Assim sendo, há necessidade de categorizá-las para que seja possível distingui-las. A diferenciação

entre cada categoria tem em conta o comprimento e diâmetro (no caso de fundações circulares) ou

largura (fundações quadrangulares). Assim quando esta relação (L/D) for inferior a 4, são designadas

como fundações superficiais (ensoleiramentos e sapatas), entre 4 e 10 fundações semi-indiretas

(pegões) e finalmente, superior a 10 tem-se fundações indiretas/profundas (estacas).

A necessidade de recorrer a fundações profundas surge pelo facto do solo superficial não ter

condições satisfatórias para suportar as cargas impostas pela estrutura. Sendo que o seu principal

objetivo consiste em encaminhar as cargas, por ponta e/ou atrito lateral, para o estrato resistente que

se encontra a uma elevada profundidade, e por fim, são utilizadas para limitarem a ocorrência de

assentamentos. Referir que como são classificadas por terem uma relação comprimento diâmetro

superior a 10 indica que têm elevada esbelteza. Existem dois grandes grupos de estacas, moldadas e

cravadas, que são distinguidas principalmente pelo processo construtivo que lhe confere

características distintas.

As estacas moldadas, tal como a designação indica, a sua configuração é dada pelo terreno

envolvente, direta ou indiretamente, ou seja, são executadas in situ com escavação do terreno. Por

outro lado as cravadas são pré-fabricadas e são introduzidas no terreno recorrendo a diversos

métodos de cravação.

Este capítulo constituiu uma introdução à definição de fundação profunda e tem como principal

objetivo ilustrar e distinguir as duas principais técnicas de fundações profundas (estacas cravadas e

moldadas) bem como demostrar as principais formas de avaliar a integridade de uma estaca e

determinar a capacidade de carga através das técnicas de controlo de qualidade.

2.2. Classificação das estacas

O desempenho da estaca é descrito não apenas pelo terreno de fundação mas também pelo tipo de

estaca e processo construtivo. As estacas são classificadas consoante o seu processo construtivo e

modo de funcionamento, que dependem, principalmente, do solo atravessado.

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8

A classificação consoante o processo construtivo é divida em três categorias, que dependem do

impacto do processo construtivo no solo envolvente à estaca. O Quadro 2.1 ilustra as três categorias

existentes.

Quadro 2.1 – Classificação das estacas segundo processo construtivo (adaptado de Santos, 2008)

Efeito no solo

envolvente

Processo de

execução Material

Grande deslocamento

(sem extracção do solo)

Pré-fabricadas e cravadas

Peça solida:

- Madeira

- Betão

Peça tubular obturada na ponta:

- Tubos metálicos

- Tubos em betão

Moldada

Peça tubular obturada na ponta:

- Aço

- Betão

Pequeno deslocamento (sem extracção do solo)

Pré-fabricada e cravada

Perfis metálicos:

- Secção H, I

- Tubos metálicos abertos na ponta

Estacas helicoidais com elementos metálicos

Sem deslocamento

(com extracção do solo)

Moldada com sustimento provisório

Betão com molde perdido

Betão com:

- Molde recuperável

- Lamas bentoníticas

- Polímeros

Moldada sem sustimento provisório

Betão

Quanto ao seu funcionamento, podem ser estacas de ponta, flutuantes ou mistas.

As estacas de ponta, também designadas como rígidas de 1.ª ordem, têm esta distinção pois apenas

a ponta penetra numa camada de terreno firme. O terreno atravessado pelo fuste consiste num solo

brando com diminuta capacidade resistente e por esta razão não é tido em conta no que diz respeito

ao dimensionamento da estaca. Assim sendo, as forças de sustentação, as que são consideradas no

dimensionamento, encontram-se essencialmente na ponta da estaca.

A Figura 2.1 representa, esquematicamente, o funcionamento das estacas descritas neste ponto.

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9

Figura 2.1 - Estaca com funcionamento por ponta (Brito, 1999a)

As estacas classificadas como flutuantes, atravessam uma camada de solo brando, com elevada

espessura, tornando-se economicamente inviável atingir o estrato resistente, ou seja torná-las com

funcionamento por ponta. Assim, a estaca encontra-se embebida em solo brando, sendo a carga

transmitida ao solo apenas pelo atrito lateral existente entre a estaca e o solo. Este tipo de estacas

não é recomendável uma vez que ocorrem elevados deslocamentos que não devem ser

menosprezados.

Figura 2.2 - Estacas flutuantes (Brito, 1999a)

Por fim, se a estaca se encontrar encastrada numa camada de solo firme de elevada espessura e o

fuste atravessar, pelo menos, um estrato resistente, independentemente da resistência do solo

brando intercetado pela estaca, denominam-se estacas mista ou estacas rígidas de 2.ª ordem, uma

vez que trabalham em simultâneo por ponta e atrito lateral.

Note-se que é importante que o terreno firme em contacto com a ponta seja de elevada espessura,

pois, caso contrário, podem ocorrer assentamentos consideráveis.

A Figura 2.3 ilustra a tipologia de estacas descrita nos parágrafos anteriores.

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10

Figura 2.3 - Estaca mista (Brito, 1999a)

2.3. Estacas moldadas

2.3.1. Aspetos gerais

Este tipo fundação profunda tem elevada utilização no mercado de estacas, devido às suas

vantagens em relação às suas grandes concorrentes, estacas cravadas.

As estacas moldadas apresentam apenas secção circular, sendo executadas in situ em betão

armado. Como se tratam de estacas escavadas a sua gama de diâmetros é variável dependendo

apenas do equipamento de perfuração, podendo assim atingir valores elevados. A utilização deste

tipo de estacas é muito vantajosa, na medida em que durante a escavação da estaca é possível

inspecionar o solo atravessado. Podem ainda ser utilizadas em qualquer tipo de solo, com ou sem

presença de água, o que diferencia o seu processo construtivo, no entanto o seu comprimento é

limitado pelo equipamento utilizado na sua execução.

2.3.2. Processo construtivo

Como mencionado anteriormente, o processo construtivo deste tipo de estacas depende do tipo de

solo. Assim de seguida serão descritos os distintos processos de execução utilizados atualmente.

ESTACAS EXECUTADAS COM TRADO CONTÍNUO, SEM TUBO MOLDADOR

Trata-se de uma solução utilizada em solos com coesão e em estacas com diâmetros reduzidos.

i) Seleção do equipamento de furação, dependendo a profundidade a atingir;

ii) Furação com trado contínuo até à cota pretendida;

iii) Injeção do betão pelo eixo interior do trado, feita em pressão, à medida que o trado sobe

carregado com terra;

iv) Vibração dos últimos 3 m da estaca;

v) Introdução da armadura na cavidade com recurso a uma grua;

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11

vi) Saneamento da cabeça da estaca.

A figura seguinte esquematiza o faseamento construtivo descrito anteriormente.

Figura 2.4 – Faseamento construtivo de uma estaca executada com trado contínuo sem tubo moldador (Santos,

2008)

ESTACAS COM TUBO MOLDADOR RECUPERÁVEL

Este processo construtivo é utilizado em solos com fraca coesão, como por exemplo solos arenosos.

i) Seleção do equipamento a utilizar para furação e introdução do tubo moldador;

ii) Furação prévia, com uma extensão de 3 a 4 m, para posicionamento e garantir a verticalidade

do tubo moldador;

iii) Introdução do tubo moldador e furação simultânea;

iv) Limpeza do fundo do furo com limpadeira e alargamento da base da estaca;

v) Introdução da armadura no furo;

vi) Betonagem, com recurso a tremonha, com a subida do tubo moldador em simultâneo;

vii) Saneamento da cabeça das estacas e execução do maciço de fundação.

Figura 2.5 – Faseamento construtivo de uma estaca com tubo moldador recuperável (Santos, 2008)

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ESTACAS EXECUTADAS SEM TUBO MOLDADOR COM RECURSO A LAMAS BENTONÍTICAS OU POLÍMEROS

Processo utilizado, tal como o anterior, para solos com fraca coesão.

i) Montagem da central de fabrico e reciclagem das lamas bentoníticas;

ii) Seleção do equipamento de furação;

iii) Furação inicial, com recurso a trado curto, para que seja possível introduzir o tubo guia

garantindo a sua verticalidade;

iv) Colocação das lamas bentoníticas;

v) Introdução da armadura no furo previamente preenchido com as lamas bentoníticas ou

polímeros;

vi) Betonagem da estaca com auxílio da tremonha. À medida que se betona, no sentido inferior

para o superior, as lamas serão recolhidas na superfície;

vii) Saneamento da cabeça das estacas e execução do maciço de fundação.

Figura 2.6 – Faseamento construtivo de uma estaca com recurso a lamas bentoníticas ou polímeros (Santos,

2008)

ESTACAS EXECUTADAS COM TRADO CURTO SEM TUBO MOLDADOR

Método utilizado para solos com alguma coesão e quando se pretende estacas de reduzido

comprimento.

i) Seleção do equipamento de furação;

ii) Furação com recurso a trado curto;

iii) Limpeza do fundo do furo com recurso a uma limpadeira;

iv) Colocação da armadura;

v) Betonagem com tremonha debaixo para cima tendo em conta que a mangueira tem que se

encontrar submersa pelo menos 2 m durante a betonagem;

vi) Saneamento da cabeça da estaca e execução do maciço de fundação.

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ESTACAS EXECUTADAS COM TUBO MOLDADOR PERDIDO COM EXTRAÇÃO DO TERRENO

i) Seleção do equipamento de furação e movimentação de material;

ii) Cravação de um tubo com diâmetro superior ao da estaca. Em obra executadas dentro de

água facilita a introdução do tubo;

iii) Cravação do tubo moldador por pressão e vibração;

iv) Furação da estaca com recuso a limpadeira;

v) Colocação da armadura;

vi) Betonagem com recurso a tremonha;

vii) Recuperação do tubo exterior;

viii) Saneamento da cabeça da estaca.

2.3.3. Vantagens e desvantagens

Esta tipologia de estacas contém diversas vantagens, independentemente do processo construtivo

utilizado. De seguida, serão numeradas algumas destas vantagens.

Recolha amostras dos solos atravessados;

Por serem moldadas in situ e devido ao equipamento utilizado há uma grande variedade de

diâmetros disponíveis;

Provocam reduzidas vibrações significativas no solo;

Diminuto risco de levantamento de terreno e/ou estacas vizinhas;

Não causam ruído durante a sua execução;

Atingem elevadas profundidades e dependendo do tipo de solo é possível haver alargamento

da base até dois a três diâmetros, dando-lhes assim maior resistência de ponta.

Em relação aos inconvenientes que este tipo de estaca apresenta são:

Dificuldade em garantir as dimensões da secção transversal;

Impossibilidade de inspecionar o betão após a execução da estaca;

Dificuldade em garantir o recobrimento das armaduras quando são introduzidas no betão

fresco (apenas em estacas executadas com trado continuo sem tubo moldador)

Não é possível garantir a verticalidade da estaca com a mesma precisão;

Pode existir descompressão em solos arenosos;

Não é possível efetuar alargamento da base da estaca em terrenos sem coesão;

Existe a possibilidade de haver estrangulamento da secção;

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2.4. Estacas cravadas

2.4.1. Aspetos gerais

O que distingue as estacas cravadas das moldadas é o seu processo de fabrico e de construção. As

cravadas são pré-fabricadas podendo ser metálicas, de madeira e betão armado, com um

comprimento máximo de 12 m devido ao seu transporte para obra, no entanto há possibilidade de

serem acopladas durante a sua cravação para que consigam atingir maiores profundidades. São

introduzidas no terreno recorrendo a prensagem, vibração ou percussão.

Estas estacas são normalmente dimensionadas para resistirem como estacas de ponta, uma vez que

a cravação faz decrescer drasticamente a resistência lateral mobilizada, por esta razão não pode ser

contabilizada. São adequadas para solos brandos, pois caso contrário a sua cravação seria

extremamente difícil.

2.4.2. Processo construtivo

Para este tipo de estaca o processo construtivo é independente do solo onde se pretende cravar a

estaca, será descrito seguidamente.

i) Pré-fabricação das estacas (em fábrica) e transporte até ao local de obra;

ii) Seleção do equipamento de cravação das estacas;

iii) Posicionamento da estaca;

iv) Cravação;

v) Escavação para o maciço de fundação e demolição da cabeça da estaca;

vi) Cofragem do maciço de fundação, colocação da armadura e betonagem;

2.4.3. Vantagens e desvantagens

Esta tecnologia, empregue durante muitos anos, tem vindo a ser menos utilizada devido ao conjunto

de desvantagens que possuiu. No entanto, como vantagens tem-se:

“Limpeza da obra”, pois durante a sua execução não há movimento de solo;

Rapidez de execução;

O terreno em contacto com a ponta da estaca fica compacto;

Podem ser cravadas até à nega prevista, isto é até à cota pretendida;

Possibilidade de inspecionar o estado da estaca antes da sua cravação;

A presença do nível freático não influencia o processo construtivo;

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Pode-se cravar estacas com elevados comprimentos, uma vez que é possível acoplar varias

estacas até obter o comprimento pretendido;

Técnica de cravação e equipamento independentes das condições in situ do solo.

Em relação às desvantagens:

Técnica mais dispendiosa, devido à sua pré-fabricação e transporte.

Podem ficar danificadas se a energia de cravação for excessiva. De modo a garantir que a

estaca se encontra intacta há necessidade de efetuar diversos ensaios;

Não podem ter elevado diâmetros, pois dificultaria a cravação;

Ocorre elevada perturbação do terreno podendo mesmo levar à reconsolidaçãp do solo

provocando atrito negativo à estaca;

Levantamento e perturbações do terreno que podem causar repercussões a infra-estruturas

vizinhas.

2.5. Controlo de qualidade

Apesar de todo o cuidado durante a execução das estacas, são diversos os fatores que podem

influenciar a capacidade resistente das estacas. O principal fator consiste na heterogeneidade do

solo, pois mesmo efetuado ensaios de campo a priori, determinando o perfil geotécnica, é

extremamente complexo determinar com exatidão a configuração do terreno.

Como após a sua execução as estacas se encontram inacessíveis não é possível efetuar uma

inspeção visual, com intuito de garantir que a sua execução cumpriu todos os pressupostos. Deste

modo é importante efetuar ensaios que, com algum grau de exatidão, consigam averiguar a

integridade das estacas, como é o caso dos ensaios não destrutivos, que recorrem a equipamentos

de simples utilização para que seja possível identificar eventuais anomalias, tendo por base a

propagação de ondas. Estes ensaios surgem como alternativa ao ensaio de carga estática, descrito

em §2.5.1.1, que apesar de determinar a capacidade de carga da estaca (última se o ensaio for

levado à rotura), em geral trata-se de um ensaio muito dispendioso e moroso, sendo por isso

executável numa diminuta percentagem de estacas.

As estacas FDP situam-se no grupo das estacas executadas in situ e desde modo todos os ensaios

efetuados em estacas moldadas (destrutivos e não destrutivos) podem ser realizados nestas. É

importante referir que no que diz respeito às estacas cravadas apenas é credível executar o ensaio

de carga estática (ensaio destrutivo) pois, uma vez que são pré-fabricadas, a necessidade de aferir o

estado do betão e correta colocação das armaduras não se coloca. No entanto, se por alguma

adversidade durante o processo de cravação existir qualquer dúvida em relação à integridade da

estaca, é exequível efetuar ensaios expeditos (não destrutivos) de forma a garantir o bom

funcionamento da estaca.

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2.5.1. Ensaio destrutivo

2.5.1.1. Ensaio de carga estática

O ensaio de carga estática trata-se de um ensaio reconhecido na comunidade geotécnica. É utilizado

em praticamente todas as obras, principalmente as de grande dimensão, com o intuito de determinar

o comportamento do conjunto estaca-solo, e assim determinar a capacidade de carga da estaca. É de

referir ainda que este ensaio contém duas vertentes. A primeira consiste em determinar a capacidade

de carga última, isto é levar o ensaio à rotura. Trata-se de um acontecimento que não é aplicado

frequentemente por duas razões, a primeira porque põe em causa a segurança do ensaio e a

segunda razão deve-se ao facto de após a sua execução a estaca não poder ser utilizada como

elemento de fundação, uma vez que perde a sua rigidez. A segunda vertente deste ensaio, aplicada

na maioria dos casos, consiste em determinar a capacidade de carga da estaca, ou seja averiguar

que esta suporta uma carga superior à de serviço.

A principal vantagem deste método, e a razão pela qual em obras de grande porte a sua utilização se

torna indispensável é o facto de este simular o carregamento de uma estrutura, com valores de carga

reais, obtendo assim o comportamento real das fundações para os níveis de cargas para os quais

estarão sujeitas.

Estes ensaios são executados durante a fase de obra, em estacas de projeto (se se pretende levar o

ensaio à rotura) e determinam as contribuições de resistência de ponta e lateral, sendo possível,

assim, efetuar um dimensionamento com maior rigor. É um ensaio extremamente dispendioso, uma

vez que para a sua realização exige a construção de uma estrutura de aplicação da carga, sendo por

isso executado num número reduzido de estacas em comparação com a quantidade de estacas

produzidas, podendo mesmo ser realizado em apenas uma estaca. Por esta razão, é muitas vezes

colocado em causa se é plausível extrapolar os resultados de uma única estaca para o conjunto de

estacas que constituiu a fundação.

Note-se que quanto maior for o diâmetro da estaca, mais dispendioso será o ensaio, sendo mesmo

inexequível a sua realização se a estaca conter elevado diâmetro. Por isso a NP EN 1997-1 (2010),

afirma que é possível efetuar o ensaio em estacas com diâmetro inferior às definitivas, desde de que

essa relação de diâmetros não seja inferior a 0,5. Esta norma impõe também, que as estacas a

ensaiar têm de ser instaladas em condições análogas às definitivas, afirma ainda que as estacas de

teste devem encontrar-se devidamente instrumentadas para que seja possível efetuar a medição em

separado da resistência de ponta e lateral e por fim, no caso da execução do ensaio numa única

estaca este tem de ser executado onde as condições de fundações forem mais desfavoráveis.

Existem dois métodos possíveis para a aplicação deste ensaio, aplicação de carga axial, ensaio mais

corrente, e aplicação de carga lateral. Para o primeiro método ainda existem duas variáveis, ensaio

CRP (constant rate of penetration), que consiste na aplicação crescente de carga axial, mantendo

constante a velocidade de penetração no solo, e a segunda variável consiste no ensaio ML

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(maintained load), em que se aplicam patamares de carga, mantidos num determinado intervalo de

tempo, ate ser atingida duas vezes a carga de serviço ou a carga de rotura.

Como o ensaio de aplicação de carga axial é o mais usual, e é a partir deste que se obtém os valores

de capacidade de carga que se pretende, neste subcapítulo apenas este método será descrito.

Em termos de execução deste ensaio é necessário uma chapa metálica (serve de proteção do

maciço de encabeçamento), célula de carga (é utilizada para medir a força aplicada em kN), estrutura

de apoio e macacos hidráulicos. Consiste, essencialmente, na aplicação da carga pelo macaco

hidráulico que se encontra apoiado na estrutura de suporte, como é possível observar na Figura 2.7.

A força aplicada origina uma reação na estrutura metálica que se encontra encastrada em duas

estacas de reação que trabalham à tração (Figura 2.7). O resultado do ensaio consiste numa curva

de carga-assentamento que fornece para cada valor de carga o assentamento ocorrido.

Note-se que para que seja possível analisar, independentemente, o atrito lateral, a carga aplicada e o

assentamento na ponta da estaca, recorre-se à introdução de instrumentação em profundidade que

consiste na instalação de pares de extensómetro segundo o eixo da estaca.

A Figura 2.7 ilustra todos os equipamentos necessários para a execução deste ensaio e a sua

disposição.

Figura 2.7- Ensaio de carga estática (adaptado de Brito, 1999)

Em alternativa ao ensaio de carga estática é possível recorrer ao método bidimensional em que

cinge-se à instalação de uma ou mais células de Osterberg (células perdidas), na base e/ou ao longo

do fuste da estaca. Estas células são instaladas na armadura antes da sua introdução na estaca. O

ensaio consiste na expansão da célula hidraulicamente, no caso das células instaladas no fuste, a

parte superior da estaca reaja contra a parte inferior e para as células instaladas na base da estaca a

reacção ocorre contra o solo. É exequível analisar diferentes zonas da estaca, para tal introduz-se

diversas células de Osterberg nos locais pretendidos. Importa salientar que a secção superior da

estaca deverá conter a resistência necessária para que não ocorra empolamento da mesma. Por fim,

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utilizando este método é possível medir-se a resistência lateral da estaca a partir dos deslocamentos

que ocorrem, para tal a estava deverá encontrar-se instrumentada com extensómetros para medir-se

os deslocamentos. Em relação à quantificação da carga, esta é medida a partir da pressão hidráulica

imposta na estaca (Figura 2.8).

a) b)

Figura 2.8 – a) Modelo de funcionamento do sistema com célula de Osterberg na base da estaca; b)

Esquema da célula instalada no fuste da estaca (Penteado & Brito, 2009)

2.5.2. Ensaios não destrutivos

O ensaio descrito anteriormente é muito oneroso, de lenta execução e é efetuado numa reduzida

percentagem de estacas. Assim houve necessidade de desenvolver técnicas indiretas, não

destrutivas, permitindo que após a realização do ensaio, a estaca não perca rigidez. Trata-se de

ensaios expeditos que recorrem a equipamentos ligeiros, de fácil e rápida utilização, podendo ser

executados num número elevado de estacas. Embora estas técnicas não determinem o valor da

capacidade de carga da estaca, tal como acontece com o anterior, é possível averiguar se estas se

encontram em boas condições, logo conseguirão resistir à carga para a qual foram dimensionadas.

Note-se ainda que, para a aplicação destes métodos é necessário efetuar-se o saneamento da

cabeça da estaca no início do ensaio.

2.5.2.1. Ensaio sónico

Este ensaio tem como principal objetivo avaliar a integridade, e tal como o nome indica, consiste na

propagação de uma onda sónica de compressão impelida na cabeça da estaca através de uma

pancada de reduzida intensidade, com recurso a um martelo de peso inferior a 1Kg. Através da

propagação da onda é possível averiguar possíveis descontinuidades existentes no fuste da estaca

que possam reduzir a rigidez da estaca.

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Para a execução deste ensaio é necessário, primeiramente, fixar um acelerómetro na cabeça da

estaca, que regista a propagação da onda e sua reflexão no percurso efetuado ao longo do fuste da

estaca. Se, eventualmente, houver alguma anomalia na estaca ter-se-ão variações na velocidade e a

distância percorrida pela onda sónica será inferior à esperada.

Assim, para a sua execução é necessário um computador portátil, que contém um software

apropriado para o processamento eletrónico dos sinais. Serão ainda indispensáveis cabos de ligação,

pré-amplificadores, acelerómetros e um martelo. Assim o sinal obtido pelo acelerómetro é transmitido

ao pré-amplificador e convertido numa forma digital e posteriormente processado pelo computador.

A figura seguinte ilustra esquematicamente o ensaio sónico.

Figura 2.9 - Esquema de execução do ensaio sónico (Penteado & Brito, 2009)

O resultado obtido no acelerómetro é amplificado de forma crescente, sendo que quanto maior for o

comprimento da estaca maior será o resultado. Tal acontece, pois há necessidade de equilibrar o

amortecimento da energia devido ao atrito lateral da estaca. A velocidade de propagação da onda

sónica é determinada com base na aceleração medida e sabendo o comprimento da estaca.

Os parâmetros de imput no software consistem na localização dos ensaios, ou seja, localização da

obra, designação da estaca de ensaio, comprimento da estaca e velocidade de propagação das

ondas sónicas no betão.

2.5.2.2. Carotagem

A utilização deste ensaio apenas é justificada se existir qualquer incerteza no que diz respeito à

integridade da estaca na utilização do método anterior. De modo a conformar a validação desta

técnica é necessário que a carote coincida com a zona danificada. Assim sendo, esta técnica consiste

em efetuar uma carotagem ao longo de todo o fuste recorrendo a uma broca, sendo possível assim

recolher amostras do betão e averiguar se existe alguma anomalia no corpo da estaca.

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Após a execução da carotagem o furo executado é selado com recurso a calda de cimento, de duas

formas distintas, dependente do resultado obtido na realização do ensaio. Se a estaca apresentar um

resultado satisfatório a selagem é efetuada introduzindo a calda de cimento por gravidade. Caso o

resultado não seja razoável a selagem é realizada recorrendo a uma injeção sob pressão, de modo a

preencher a zona danosa e assim garantir a continuidade do corpo da estaca sem por em causa a

sua rigidez.

Na figura seguinte é possível observar à esquerda o equipamento que executa o carote e à direita

exemplos de carotes.

Figura 2.10 - Equipamento utilizado na carotagem (esquerda), amostra de carotes (direita) (Penteado & Brito

2009)

2.5.2.3. Método do campo induzido

Este método tem como objetivo determinar a profundidade e continuidade da armadura que se

encontra no interior da estaca. Depende, essencialmente, de um dispositivo elétrico que deteta um

campo magnético como resposta a uma corrente oscilatória que é induzida na armadura da estaca.

A execução deste método consiste, primeiramente, em efetuar um furo relativamente próximo da

estaca que terá de ser revestido com tubo PVC (policloreto de vinil). Este furo irá conter um sensor

(detetor) que identifica a variação de intensidade no campo magnético tendo em conta a

profundidade. Posteriormente, introduz-se um elétrodo a alguma distância da estaca, para que a

corrente oscilatória flua entre o detetor e o elétrodo. Durante a extensão do corpo da estaca a

intensidade do corpo magnético deverá ser elevada, sendo que na ponta da estaca diminuiu

bruscamente. Esta redução indica o final de armadura que se coincidir com o final da estaca indica o

comprimento da estaca.

A Figura 2.11 esquematiza o ensaio descrito neste ponto.

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Figura 2.11 - Método do campo induzido (Penteado & Brito 2009)

2.5.2.4. Método com radar

Este método é utilizado quanto se pretende determinar o comprimento e geometria da estaca. Na

proximidade da estaca é executado um furo, paralelamente à fundação, que deverá ser revestido por

um tubo PVC. O furo em causa irá conter um transmissor e refletor de ondas de radar.

Note-se que quanto mais próximo o furo se encontrar da fundação menor será o erro obtido neste

ensaio, uma vez que as ondas de radar são, significativamente, influenciáveis pela condutividade do

meio geológico onde circulam.

O ensaio é executado quando o transmissor emite ondas de radar ao solo envolvente, que quando

encontra a fundação deflecte a onda que será detetada pelo recetor, ou seja a estaca funciona como

barreira da onda. Este processo é executado ao longo do fuste da estaca, quando o recetor deixar de

receber as ondas de radar permite determinar a profundidade a que a estaca se encontra.

Figura 2.12 - Método com radar (Penteado & Brito 2009)

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2.5.2.5. Método sísmico paralelo

Este método é empregue, com elevada precisão, quando se pretende determinar o comprimento da

estaca e/ou eventuais anomalias.

Consiste em efetuar um furo, a aproximadamente 1,5 m da estaca a ensaiar, com 5 a 10 cm de

diâmetro e cuja profundidade deve ser 3 a 5 m superior ao comprimento da estaca. Há dois tipos de

sensores que podem ser utilizados neste ensaio (hidrofone e geofone). Se se pretender recorrer a um

hidrofone tem de ser instalado um tubo com a extremidade inferior obturada a priori da instalação do

hidrofone e encontra-se preenchido com água. Caso o sensor a utilizar seja um geofone o tubo com a

extremidade inferior obturada tem na mesma de ser instalado, no entanto não é preenchido com

água. Note-se que qualquer um destes sensores tem que ser introduzido até à cota da ponta da

estaca.

O próximo passo, para a execução deste ensaio, consiste em efetuar impactos na cabeça da estaca,

com recurso a um martelo. Estes impactos provocam ondas de compressão que serão medidas pelo

hidrofone ou geofone. O tempo entre o impacto e a receção pelo hidrofone/geofone é medido para

cada incremento. A variação medida terá de ser linear a menos que a onda de compressão tenha

atravessado algum defeito existente na estaca, ou se tenha atingido o final da estaca.

A principal vantagem desde método é que pode ser executado mesmo que a cabeça da estaca não

seja acessível ou seja, após a execução da infraestrutura. Para tal, basta efetuar o impacto em

qualquer local da estrutura que se encontre em contacto direto com as fundações que o resultado

será igualmente válido. É frequentemente utilizado também quando o comprimento da estaca é

excessivo e inviabiliza a utilização do método sónico.

A Figura 2.13 ilustra, esquematicamente, o processo do ensaio descrito neste ponto.

Figura 2.13 - Método sísmico paralelo (Penteado & Brito, 2009)

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2.5.2.6. Ensaio cross-hole

O ensaio cross-hole consiste numa técnica inovadora, cujo principal objetivo resume-se a detetar com

exatidão irregularidades e quantificar a amplitude dos danos existentes no fuste da estaca, tais como

fissuras, estreitamento da estaca, cavidades, vazios, segregação e também contaminação do betão.

É altamente recomendado para estacas executadas in situ com elevado diâmetro, como é o caso das

estacas FDP.

Quanto aos equipamentos necessários para a execução deste método, segundo Penteado & Brito

(2009), são: um osciloscópio, uma impressora, um gerador de impulsos, uma roldana que contenha

um dispositivo elétrico que consiga controlar a velocidade de ascensão, uma sonda emissora e duas

recetoras, sendo que uma das sondas recetoras tem de conter um amplificador.

Para a concretização deste ensaio é necessário introduzir no interior da estaca e fixados à armadura,

tubos de PVC ou metálicos, ocos, com diâmetros compreendidos entre 35 e 60 mm acomodados na

periferia da estaca ao longo de todo o seu comprimento. O número de tubos a utilizar, de acordo com

Penteado & Brito (2009), depende apenas do diâmetro da estaca. Assim,

∅ < 600mm implica 2 tubos;

600< ∅ ≤ 1200mm corresponde a 3 tubos emparelhados segundo um angulo de 120º;

∅ ≥ 1200mm equivale a no mínimo 4 tubos.

Após a instalação destes tubos introduzem-se as sondas transmissoras e recetoras até à base da

estaca com auxílio de cabos que posteriormente serão utilizados para deslocar as sondas de forma

ascendente ao longo do fuste da estaca e, finalmente, os tubos são preenchidos com água.

A figura que se segue ilustra os equipamentos utilizados na execução deste método.

Figura 2.14 - Equipamento utilizado no ensaio cross-hole (Penteado & Brito, 2009)

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Concluída a calibração de todo o equipamento é possível iniciar o ensaio que consiste em emitir sinal

sónico entre o emissor e recetor, de forma contínua, ao mesmo tempo que as sondas são movidas

num sentido ascendente a uma velocidade constante. Durante este movimento efetua-se, de forma

contínua, um registo da profundidade e o tempo percorrido entre o impulso e a sua chegada ao

recetor. Como se trata de um processo contínuo é possível estimar as variações na velocidade de

propagação das ondas, sabendo assim se existe alguma anomalia e a grandeza desta. O sinal

recebido pelas sondas recetoras é conduzido até ao osciloscópio que o memoriza e imprime-o.

Embora este método seja extremamente preciso, apenas deteta anomalias que se encontram nas

zonas atravessadas pelas ondas sónica, não identificando pequenas anomalias verticais e em

comparação com o método sónico é um processo mais moroso.

Este ensaio é muito utilizado em estacas moldadas com diâmetro superior a 1m, no entanto as

estacas FDP não atingem diâmetros tão elevados. Assim sendo para validação deste método

utilizam-se 2 tubos de PVC ou metálicos que serão colocados na periferia da estaca. O restante

processo é executado de igual forma que as estacas moldadas, como foi descrito anteriormente.

2.5.2.7. Ensaio de carga dinâmico

Este método tem como base a teoria de propagação de ondas, especificamente ondas provocadas

pela ação de um martelo, a ação é efetuada de forma dinâmica ao contrário do que acontecia com o

ensaio de carga estática.

Para a realização deste ensaio é necessário recorrer a um conjunto de instrumentos e equipamentos

que permitam a recolha de dados. Como tal, utilizam-se acelerómetros e extensómetros instalados no

fuste da estaca, que recolhem os registos obtidos após cada pancada. Estes dois instrumentos,

através de cabos, transferem os dados para um equipamento de processamento de dado,

denominado como PDA (Pile Driving Analyer) que os descodifica sendo, assim, possível analisá-los.

A ação efetuada, que dá origem aos dados, consiste numa carga dinâmica axial, utilizando um

martelo, que gera uma onda com velocidade constante que percorre o fuste da estaca. As

características registadas são: a força empregue na aplicação da carga e a velocidade da onda entre

cada impacto (registada com recuso aos acelerómetros). Com os valores obtidos é possível avaliar a

resistência mobilizada e a sua distribuição em profundidade.

Segundo a NP EN 1997-1 (2010) é possível determinar o valor de carga última utilizando os valores

obtidos neste ensaio. No entanto, para tal é necessário um software adequado, que esteja calibrado

com os dados obtidos por ensaios de carga estática, em estacas com as mesmas características, ou

seja diâmetro e comprimento análogo e em condições de terreno semelhante.

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A Figura 2.15 ilustra a execução de um ensaio dinâmico, bem como os utensílios, acelerómetro e

extensómetro, necessários para a sua execução.

Figura 2.15 - Realização do ensaio dinâmico (à esquerda) e colocação do acelerómetro e extensómetro no fuste

da estaca (Penteado & Brito, 2009)

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Capítulo 3. Full Displacement Piles (FDP)

3.1. Aspetos gerais

Esta tecnologia, FDP, surge pela necessidade otimizar os recursos na execução de fundações

profundas. Tem sido desenvolvida, principalmente, em países ocidentais, com objetivo de otimizar o

princípio de deslocamento lateral e encontrar formas de perfuração mais eficazes e económicas,

quando comparadas com as soluções tradicionais, dependendo, essencialmente, do tipo de solo em

causa.

Esta técnica inovadora é considerada como uma estaca que provoca um deslocamento horizontal, tal

como as estacas cravadas, no entanto acaba por reunir um conjunto de características das estacas

moldadas e cravadas, pois tal como as cravadas não há extração do terreno durante a sua execução

e provocam deslocamento lateral, no entanto quando comparadas com as moldadas, é uma estaca

concretizada in situ que consegue atingir diversas profundidades, consoante o tipo de equipamento.

Embora todas estas condições façam com que as estacas FDP sejam de elevada aplicação, para a

sua execução é necessário um equipamento característico e, por esta razão, não são todas as

entidades que têm condição de executá-las.

Este capítulo terá foco nesta tecnologia e tem como objetivo definir e demonstrar todas as

características que se encontram implícitas na sua aplicação, como por exemplo a forma como a sua

execução influencia os parâmetros do solo e como o solo tem interferência na energia necessária

para a perfuração. Também se fará referência ao equipamento necessário para aplicação de estacas

FDP e ao seu faseamento construtivo.

3.2. Definição

As estacas FDP são um conjunto de estacas de betão armado executadas in situ. Esta tecnologia

combina as vantagens das estacas cravadas (estacas de deslocamento) e moldadas (estacas sem

deslocamento). Embora sejam executadas in situ, como as moldadas, são classificadas como

estacas de deslocamento, pois durante a sua execução ocorre no adensamento do solo na periferia

da estaca, devido a um deslocamento horizontal imposto pelo equipamento de perfuração. Este

adensamento tem como principal objetivo melhorar as características do solo, aumentando assim, a

área de secção disponível aquando da aplicação da carga.

A Figura 3.1 esquematiza, a tipologia das estacas, ilustrando em que categoria se encontra as

estacas FDP.

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28

Figura 3.1 - Tipologia das estacas (adaptado de Baxter et al, 2006)

As particularidades partilhadas entre as estacas FDP e as estacas moldadas são assinaladas pelas

seguintes características: atingem elevadas profundidades, não causam ruídos e vibrações durante a

execução e como são betonadas in situ, o solo é que lhes confere forma. Como tal obtém-se uma

forma irregular que aumenta a aderência entre estaca e solo, e consequentemente aumenta a

resistência por atrito lateral.

De uma forma abreviada, as estacas FDP recorrem a um equipamento de perfuração próprio, que é

introduzido no solo devido à aplicação de um momento torsor, aplicado na haste do trado, e uma

força descendente, provocando assim um deslocamento horizontal no terreno. Este equipamento,

que será descrito em §3.3., é constituído por uma robusta haste central, concebida para transportar o

betão até à ponta da estaca. O elemento subjacente à haste tem como principal função adensar o

solo circundante à estaca, através do deslocamento horizontal, sendo o elemento que confere o

diâmetro à estaca. Este pode ter diferentes comprimentos de modo a se adaptar às condições do solo

(mínimo 3 m e máximo 6-7 m, segundo Fiorotto et al (2008)).

O diâmetro mais frequente nesta técnica, de acordo com Fiorotto et al (2008), é de 620 mm, sendo

que também é possível ter-se 360, 440 e 510 mm. Como esta técnica é aplicável a diferentes tipos de

solos, as cabeças de furação também são adaptáveis, de modo a obter-se o máximo desempenho do

equipamento.

Uma alternativa para determinar a capacidade de carga da estaca consiste em recorrer a ensaios de

carga estática e/ou dinâmicos, para que deste modo seja possível obter-se uma perceção do valor de

carga resistente deste tipo de estacas.

Como tal, foram efetuados diversos ensaios com intuito de determinar a resistência última da estaca

e compará-las com estacas moldadas. Referir, como exemplo, os ensaios efetuados em Busch

(2009), que consistirem em executar o ensaio de carga estática em estacas FDP que atravessam

areias de média densidade. As estacas ensaiadas tinham diferentes comprimentos e diâmetros.

Umas com 14 m de comprimento e diâmetro de 440 mm e outras com 510 mm de diâmetro e 10 ou

12 m de comprimento.

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29

A Figura 3.2 mostra os assentamentos obtidos aquando a aplicação da carga.

Figura 3.2 – Comparação da capacidade de carga entre estacas FDP e estacas moldadas (adaptado de Busch,

2009)

Através da figura anterior é possível averiguar que para o mesmo assentamento as estacas FDP têm

maior capacidade de carga em comparação com as estacas moldadas. Também permite constatar

que entre as estacas FDP o que condiciona os assentamentos e a capacidade última é o

comprimento da estaca e não o diâmetro da estaca, uma vez que uma estaca FDP com 440 mm de

diâmetro e 14 m de comprimento possuiu a maior capacidade de carga quando comparada com as

restantes estacas representadas na Figura 3.2.

3.3. Equipamento de perfuração

O equipamento utilizado nesta técnica construtiva de estacas, consiste num equipamento de

perfuração rotativo que permite a aplicação de um elevado momento torsor e força (no sentido

descendente durante a perfuração – “pull down”).

A parte inferior do trado, ferramenta de perfuração, é composta por diversos utensílios com diferentes

funções. Uma vez que existe duas variantes desta técnica construtiva, técnica standard e técnica com

ponteira perdida, existem dois equipamentos distintos correspondentes a cada uma destas.

Na primeira técnica existe a possibilidade de introduzir uma extensão, designada por “extensão de

kelly”, ou inserir uma “extensão de kelly” juntamente com uma extensão treliçada. Esta extensão é

introduzida no topo do equipamento e serve de complemento à haste para que seja possível atingir

elevadas profundidades. Enquanto na segunda técnica, ponteira perdida, apenas é exequível a

introdução da “extensão de kelly” em comunhão com a extensão treliçada.

A Figura 3.3 ilustra o equipamento de perfuração com a implementação dos 3 tipos de suplementos

de possível utilização.

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30

Figura 3.3 – a) Equipamento standard; b) Equipamento com "extensão de kelly"; c) Equipamento com

"extensão de kelly" em junção com a extensão treliçada (Bauer Maschinen GmbH, 2013)

Existe ainda a possibilidade de introduzir uma extensão na ferramenta de perfuração, entre o corpo

de deslocamento e o arranque, contém comprimento variável e têm como principal objetivo adaptar a

ferramenta de perfuração ao tipo de solo em causa de modo a adquirir uma elevada produtividade.

O equipamento utilizado tem de estar de acordo com a norma EN 996/A1 (1995), onde se refere que

este tem que conter sistemas mecânicos e elétricos de modo a controlar a profundidade de

escavação. Durante a perfuração é possível visualizar e registar, no visor elétrico do equipamento, os

parâmetros necessários para controlar a qualidade de execução da estaca, tais como a profundidade,

momento torsor e força aplicada no instante do registo, velocidades de penetração e de extração,

volume de betão, pressão a que o betão está a ser bombeado, no caso da técnica standard e o valor

da resistência à penetração (α). É o conjunto destes valores que possibilita averiguar se o

procedimento está a ser cumprido.

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31

Na Figura 3.4 é possível examinar um exemplo de um monitor do equipamento de perfuração.

Figura 3.4 - Exemplo de um monitor do equipamento de perfuração (Bauer Maschinen GmbH, 2013)

3.3.1. Técnica standard

Como referido anteriormente, a ferramenta de perfuração é composta por diversos utensílios com

diferentes funções. Na Figura 3.5 é possível visualizar a ferramenta de perfuração à esquerda e à

direita a divisão da mesma nos diferentes utensílios que a compõem, especificando-se a sua função.

Figura 3.5 - Diferentes funções que compõem a ferramenta de perfuração (adaptado de Bauer Maschinen

GmbH, 2013)

O primeiro utensílio, contando do topo, tem como função pós-densificar o do solo, isto é, durante a

extração do trado este corpo com forma cónica densifica todas as zonas descomprimidas durante a

perfuração. O corpo cilíndrico que se segue, serve para estabilizar as paredes do furo. A terceira

ferramenta, também com forma cónica tal como a primeira, é utilizada para densificar o solo durante a

perfuração. Esta induz forças horizontais, transportado e adensando o solo envolvente à estaca. Por

fim, o último utensílio, primeiro a ser introduzida no solo tem com função descomprimir o solo

permitindo a perfuração da cavidade.

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32

No mercado existem diversos equipamentos com diferentes diâmetros, que se distinguem pela

energia disponível durante a perfuração. Podem conter ou não a “extensão de kelly” o que faz com

que consigam atingir elevadas profundidades, 42 m no máximo correspondente ao equipamento com

620 mm de diâmetro com “extensão de kelly” em junção com a extensão treliçada.

O quadro que se segue demonstra as profundidades atingidas consoante o tipo de equipamento, o

diâmetro e as extensões que contêm.

Quadro 3.1 - Profundidades atingidas pela técnica standard (adaptado de Bauer Maschinen GmbH, 2013)

D1 360 mm 440 mm 510 mm 620 mm

D2 254 mm 368 mm 368 mm 368 mm

STM KV GMV STM KV GMV STM KV GMV STM KV GMV

BG 12 H 11,0 15,0 -- -- -- -- -- -- -- -- -- --

BG 15 H 12,0 18,0 -- -- -- -- -- -- -- -- -- --

BG 18 H -- -- -- 13,5 21,5 -- -- -- -- -- -- --

BG 20 H -- -- -- 14,5 22,5 -- 14,5 22,5 -- -- -- --

BG 24 H -- -- -- 15,0 -- -- 15,0 23,0 25,5 15,0 23,0 25,5

BG 28 -- -- -- -- -- -- 18,0 26,0 28,5 18,0 26,0 28,5

BG 28 H -- -- -- -- -- -- 17,5 25,5 28,0 17,5 25,5 28,0

BG 30 -- -- -- -- -- -- 18,0 26,0 31,5 18,0 26,0 31,5

BG 30 H -- -- -- -- -- -- 19,3 27,3 32,3 19,3 27,3 32,3

BG 39 -- -- -- -- -- -- 19,0 27,0 31,0 19,0 27,0 31,0

BG 40 -- -- -- -- -- -- 18,5 26,5 30,5 18,5 26,5 30,5

BG 42 -- -- -- -- -- -- 20,0 28,0 32,0 20,0 28,0 32,0

BG 46 -- -- -- -- -- -- 22,5 30,5 34,5 22,5 30,5 34,5

BG 50 -- -- -- -- -- -- 30,0 38,0 42,0 30,0 38,0 42,0

RG 18 S 18,0 22,0 -- 18,0 22,0 -- 18,0 22,0 -- -- -- --

RG 22 S 22,0 26,0 -- 22,0 26,0 -- 22,0 26,0 -- -- -- --

RG 25 S -- -- -- 24,5 32,0 -- 24,5 32,0 -- 24,5 32,0 --

Tem-se na primeira coluna as diferentes designações atribuídas ao equipamento de perfuração, em

que o que difere é a energia utilizada na perfuração, D1 trata-se do diâmetro da estaca, ou seja, da

zona com maior diâmetro da ferramenta de perfuração (estabilização) e D2 corresponde ao diâmetro

da zona de perfuração (utensilio utilizado para descomprimir o solo).

Note-se que para diâmetros de 440 e 510 mm ainda existe a variante com D2 igual a 254 mm,

atingindo profundidades inferiores quando comparadas com D2 de 368 mm.

No que diz respeito aos três tipos de equipamentos têm-se STM corresponde ao equipamento

standard, KV equivale ao recurso da “extensão de kelly” e por fim, GMV consiste na utilização da

“extensão de kelly” em comunhão com extensão treliçada.

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3.3.2. Técnica com ponteira perdida

O que difere na técnica standard para a técnica de ponteira perdida, no que diz respeito à ferramenta

de perfuração, é que a segunda contém na base uma ponteira, que ficará no interior do solo após a

perfuração. Na Figura 3.6 à esquerda tem-se a designação dos diferentes utensílios que compõem a

ferramenta de perfuração e à direita as respetivas funções. Na Figura 3.7 é possível visualizar a

ponteira perdida desencaixada da ferramenta de perfuração.

Figura 3.6 – À esquerda, designação dos diferentes utensílios que compõem a ferramenta de perfuração e à

direita as respetivas funções (adaptado de Busch, 2009)

Figura 3.7 - Ponteira perdida (Bauer Maschinen GmbH, 2013)

O equipamento utilizado durante a execução desta variante possuiu um diâmetro superior ao do

equipamento standard e contém uma tremonha montada no topo, para que após a furação ocorra a

betonagem da estaca por gravidade. Uma vez que o betão é colocado sem recorrer a pressão há um

consumo excessivo, principalmente quando se trata de solos moles.

As principais vantagens desta técnica constituem no facto de não haver risco de deslocamento do

equipamento durante a betonagem, uma vez que a betonagem não é efetuada com pressão e

permite a colocação da armadura antes da concretização da betonagem.

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34

Na Figura 3.8 é possível visualizar os diversos componentes que compõem a zona superior do trado

desta técnica.

Figura 3.8 - Componentes da parte superior do equipamento de furação (Bauer Maschinen GmbH, 2013)

Legenda:

1- Funil para colocação do betão;

2- Mangueira de betão;

3- Câmara;

4- Unidade de rotação;

5- Guia hidráulico;

6- Haste de furação.

Este equipamento, tal como acontecia na técnica standard, tem capacidade de alcançar diversas

profundidades, dependendo da energia que o equipamento disponibiliza na perfuração e o tipo de

extensão que utiliza.

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O quadro que se segue demostra as diferentes profundidades atingidas.

Quadro 3.2 - Profundidades atingidas pela técnica de ponteira perdida (adaptado de Bauer Maschinen GmbH, 2013)

Diâmetro 440 mm 510 mm 550 mm 620 mm 710 mm

STM GMV STM GMV STM GMV STM GMV STM GMV

BG 18 H 13,5 21,0 13,5 21,0 -- -- -- -- -- --

BG 20 H 14,0 21,5 14,0 21,5 -- -- -- -- -- --

BG 24 H 15,0 25,0 15,0 25,0 15,0 25,0 15,0 25,0 -- --

BG 28 -- -- 18,0 28,0 18,0 28,0 18,0 28,0 18,0 28,0

BG 28 H -- -- 17,5 27,5 17,5 27,5 17,5 27,5 17,5 27,5

BG 30 -- -- 18,0 31,0 18,0 31,0 18,0 31,0 18,0 31,0

BG 30 H -- -- 19,3 32,3 19,3 32,3 19,3 32,3 19,3 32,3

BG 39 -- -- 19,0 30,5 19,0 30,5 19,0 30,5 19,0 30,5

BG 40 -- -- 18,5 30,0 18,5 30,0 18,5 30,0 18,5 30,0

BG 42 -- -- 20,0 31,5 20,0 31,5 20,0 31,5 20,0 31,5

BG 46 -- -- 22,5 34,0 22,5 34,0 22,5 34,0 22,5 34,0

BG 50 -- -- 30,0 41,5 30,0 41,5 30,0 41,5 30,0 41,5

RG 18 S 18,0 -- 18,0 -- -- -- -- -- -- --

RG 22 S 22,0 -- 22,0 -- -- -- -- -- -- --

RG 25 S 24,5 -- 24,5 -- 24,5 -- 24,5 -- 24,5 --

Comparando o quadro anterior com as profundidades atingidas pelo equipamento utilizado a técnica

standard (Quadro 3.1), concluiu-se que apesar da técnica de ponteira perdida conseguir executar

estacas com maiores diâmetros, atinge profundidades inferiores.

Esta técnica contém um D2, diâmetro da zona de descompressão do solo, associado a cada diâmetro

da estaca (D1), ao contrário do que acontecia na técnica standard que para um D1 havia duas

possibilidades de D2.

No quadro seguinte é possível constatar os possíveis diâmetros da estaca associados ao diâmetro da

zona de descompressão do solo, bem como o diâmetro correspondente ao tubo oco existente no

interior do trado.

Quadro 3.3 - Diâmetro da zona de perfuração em função do diâmetro da estaca (adaptado de Bauer Maschinen GmbH, 2013)

D1 (mm) 440 510 550 620 710

D2 (mm) 368 368 445 445 445

Dtubo oco (mm)

220 220 327 327 327

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3.4. Processo construtivo

Esta técnica de execução de estacas distingue-se das tradicionais por duas razões. A primeira deve-

se ao facto de recorrer a um equipamento característico (descrito em §3.3) que permite o

adensamento do material envolvente à estaca, não havendo transferência de solo para a superfície, e

por último a perfuração efetua-se com recurso a aplicação de um momento torsor e a uma força

vertical descendente, que variam consoante as propriedades do solo.

No que diz respeito à metodologia de instalação das estacas depende da técnica utilizada. De

seguida será descrito o processo construtivo tanto para a técnica standard como para a de ponteira

perdida

3.4.1. Técnica standard

Esta consiste na técnica tradicional de execução de estacas FDP e o procedimento é o seguinte:

i) Posicionamento e criação de uma plataforma de perfuração sobre a posição da estaca;

ii) Início da perfuração com recurso ao trado. Esta é efetuada fazendo rodar o equipamento

(aplicação do momento torsor) e aplicando uma força vertical no sentido descendente. O solo é solto

pelo arranque do trado e à medida que vai perfurando empurra lateralmente o solo, devido à

geometria da ferramenta de perfuração, especificamente o corpo de deslocamento;

iii) A perfuração é efetuada até à profundidade pretendida. Esta profundidade depende da altura

do mastro e com a possibilidade da implementação uma extensão no equipamento, como referido em

§3.3;

iv) Atingida a profundidade pretendida, o equipamento começa a subir e em simultâneo

bombeia-se o betão através de um tubo oco que existe no interior do equipamento. Note-se que

durante a perfuração, após a passagem da ferramenta de estabilização (zona com maior diâmetro da

ferramenta de perfuração) há descompressão do solo, pois deixa de haver contenção das paredes do

furo. Assim, à medida que o equipamento é puxado para a superfície, no sentido em que se efetuou a

perfuração, a ferramenta de estabilização confere a tensão previamente existente nas paredes do

furo e esta é mantida pelo betão introduzido na cavidade da estaca;

v) Por fim, introduz-se a armadura com recurso a uma grua, enquanto o betão ainda se encontra

fresco. Se necessário pode ser aplicada uma pequena vibração para ajudar na introdução da

armadura.

Na Figura 3.9 tem-se o esquema das cinco fases descritas anteriormente.

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Figura 3.9 - Esquema da metodologia de execução da técnica standard (adaptado de Bauer Maschinen GmbH,

2013)

3.4.2. Técnica com ponteira perdida

A metodologia de construção consiste:

i) Posicionamento e criação de uma plataforma de perfuração sobre a posição da estaca;

ii) Início da perfuração com recurso ao trado especial. Esta é efetuada fazendo rodar o

equipamento (aplicação do momento torsor) e aplicando uma força vertical no sentido descendente.

O solo é solto pelo arranque do trado e à medida que vai perfurando empurra lateral o solo, devido à

ferramenta com função de estabilização que compõe o equipamento;

iii) A furação é efetuada até à profundidade pretendida. Esta profundidade depende da altura do

mastro e com a possibilidade de implementar uma extensão no equipamento;

(Estas três fases iniciais são idênticas à técnica standard).

iv) Ao atingir a profundidade pretendida a ponteira é desconectada da ferramenta de perfuração

e introduz-se a armadura pelo interior da haste oco do trado com auxílio de uma grua;

v) Posteriormente procede-se à extração do trado e em simultâneo o betão é descarregado pela

tremonha instalada no topo do trado, sem recorrer a pressão. De modo a controlar o nível de

enchimento, coloca-se uma sonda na tremonha que tem como principal função monitorizar o volume

de betão descarregado.

Tal como acontecia na técnica standard, o trado é retirado aplicando um torsor na direcção da

perfuração para que seja possível densificar qualquer solo que possa ter desabado para o interior da

cavidade durante a perfuração.

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O processo descrito anteriormente encontra-se esquematizado na figura seguinte. Note-se que na

fase v encontra-se pormenorizado o destacamento da ponteira.

Figura 3.10- Esquema do processo construtivo da técnica com ponteira perdida (adaptado de Bauer Maschinen

GmbH, 2013)

Esta técnica apresenta algumas vantagens quando comparada com a técnica standard,

nomeadamente:

Facilidade na introdução da armadura, pois a armadura nesta variante é colocada antes de se

proceder à betonagem;

Facilidade de instalar armadura a elevadas profundidades, uma vez que, como o furo não se

encontra preenchido com betão, é mais fácil levar a armadura a atingir as profundidades

pretendidas;

Elevada produtividade em comparação com a técnica anterior, pois exige menor tempo para

a introdução da armadura.

Em relação às desvantagens deste sistema, elas são:

Maior custo, uma vez que a ponteira do trado é perdida;

Maior consumo de energia nesta técnica, uma vez que o torsor aplicado e a força

descendente têm de ser maior, comparando com a técnica standard, de modo a que seja

possível fixar a ferramenta.

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39

3.5. Parâmetros de perfuração

3.5.1. Resistência à penetração (α)

De modo a determinar a resistência à penetração, no caso das estacas FDP, a Bauer Maschinen

GmbH definiu um parâmetro α que é expresso com base em parâmetros de instalação,

nomeadamente o momento torsor e a taxa de perfuração. É dado pela seguinte expressão:

𝛼 =

𝑇

𝐸𝑝

(3.1)

Em que,

T – Momento torsor [kNm];

Ep – Taxa de perfuração [m/rotação]. Consiste no quociente entre a velocidade de perfuração (VZ) e

taxa de rotação (n).

Este parâmetro (α) é determinado automaticamente pelo equipamento utilizado e é empregue como

indicador da densidade do solo predominante, pois quanto maior for o valor de α, maior será a

dificuldade em perfurar o solo. Utiliza-se, também, como otimizador do comprimento da estaca, uma

vez que à medida que ocorre a perfuração se o valor de α aumentar significa que o solo perfurado

tem maior capacidade de carga, ou seja tem melhores características, podendo concluir-se que não

há necessidade de perlongar o comprimento da estaca.

Um indicador que comprova o que foi dito anteriormente, são os testes efetuados pela Hamburg

University of Technology em comunhão com a Bauer Maschinen GmbH em Busch (2009), em que

compara o valor do parâmetro α e a resistência de ponta, medida pelo ensaio CPT (Cone Penetration

Test).

O perfil do solo ensaio em Busch (2009) é composto por uma camada com espessura de 4,5 m de

siltes e areias, 2 m de siltes orgânicos e cerca de 6,5 m de areia. Na Figura 3.11 encontram-se

ilustrados os resultados obtidos para o valor do parâmetro α e a resistência de ponta.

Figura 3.11 – Resistência à penetração (esquerda) e resistência de ponta (direita) (adaptado de Busch, 2009)

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Efetuando uma análise da figura anterior concluiu-se que é possível utilizar o parâmetro de

penetração como medida da resistência de ponta, uma vez que, como se pode averiguar, o

desenvolvimento em profundidade de α coincide com a evolução da resistência de ponta. Note-se

que nos metros iniciais (até cerca de 1,5 m) a correlação não é perfeita, tal deve-se à geometria da

ferramenta de perfuração, pois a resistência à penetração dá-se ao nível do “corpo de deslocamento”

e não na base da ferramenta. Assim sendo, apenas quando este é introduzido no solo é que possível

medir a resistência à penetração. Como a distância vertical entre “corpo de deslocamento” e a base

do equipamento varia entre 0,5 a 1,5 m, consoante a utilização ou não da extensão mencionada em

§3.3, é possível concluir que o valor da resistência à penetração só pode ser medido com exatidão

após de 1,5 m, de profundidade.

Se a uma determinada profundidade não for possível continuar a perfuração, devido a um elevado

valor da resistência à penetração (α), deve-se a um dos seguintes dois cenários.

O primeiro cenário consiste num aumento progressivo do valor de α em profundidade até que se

atinja um valor em que é praticamente impossível continuar a perfurar, ou seja o solo encontrado

possuiu boas características e o equipamento não tem capacidade suficiente para que seja possível

perfurar um solo com estas particularidades. Neste caso, a resistência de penetração máxima

coincide com a profundidade que se pretende atingir. Em segundo lugar tem-se um aumento contínuo

até atingir um valor máximo e de seguida diminui, valor de resistência de penetração máxima não

coincide com a profundidade que se tenciona atingir. O equipamento de perfuração permanece

estagnado na cota de resistência à penetração máximo e não consegue continuar a furação da

estaca Este fenómeno é mais comum em estacas de diâmetro reduzido.

A figura seguinte ilustra os dois fenómenos descritos acima.

Figura 3.12 - Evolução do valor de resistência à penetração (adaptado de Busch, 2009)

No eixo horizontal (abcissas) dos gráficos ilustrados na figura anterior tem-se o valor da resistência à

penetração (α) e no vertical (ordenadas) a profundidade. O parâmetro αmáx corresponde ao máximo

valor máximo da resistência à penetração e, finalmente, αabort é o valor da resistência à penetração

equivalente à profundidade que se pretende atingir.

O cálculo do parâmetro α com base na equação (3.1) não é fisicamente comprovado, segundo Busch

(2009). Por este motivo houve necessidade de derivar uma nova definição da resistência à

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penetração com uma maior variabilidade. Para que seja possível exprimir uma nova equação tem-se

que, primeiramente definir a força que é transmitida à cabeça rotativa do equipamento de perfuração.

Esta é definida pelo seguinte quociente entre o trabalho (W) e o tempo (t).

𝑃 =𝑊

𝑡=

𝐹 × 𝑠 + 𝑀 × 𝜑

𝑡

(3.2)

Sendo,

P – Força transmitida à cabeça rotativa;

W – Trabalho;

t – Tempo;

F – Força descendente aplicada pelo equipamento de perfuração;

s – Profundidade de penetração;

M – Momento torsor aplicado pelo equipamento de perfuração;

φ – Ângulo de rotação.

A nova expressão da resistência à penetração reside, assim, no quociente entre a força P, descrita

em (3.2), e a taxa de perfuração (Ep). Assim sendo,

𝛼𝑛𝑜𝑣𝑜 =

𝑃

𝐸𝑝

=

𝐹 × 𝑠 + 𝑀 × 𝜑𝑡⁄

V𝑧 + 𝑛=

𝐹 × 𝑠 + 𝑀 × 𝜑

𝑠 + 𝜑 (3.3)

Comparando esta equação com a obtida em (3.1), é fisicamente compreensível e todas a variáveis

atuantes durante a perfuração são tidas em conta, diminuindo assim o erro no que diz respeito à

estimativa da resistência à penetração.

Na figura seguinte é possível averiguar a diferença que existe entre os valores de α e αnovo, resultado

obtido no estudo efetuado por Busch (2009).

Figura 3.13 - Resistência à penetração inicial (esquerda) e ajustada (direita) (adaptado de Busch, 2009)

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42

É visível a discrepância de valores obtido entre a resistência à penetração definida inicialmente e o

valor corrigido. Como podemos averiguar na análise da Figura 3.13 para uma profundidade de 4 m

têm-se um valor de α de cerca de 5000 e para αnovo tem-se 100. Esta grande variação deve-se ao

facto de o numerador da resistência à penetração ajustado (αnovo) ter em conta todos os parâmetros

de instalação e não apenas do valor do momento torsor como acontecia no cálculo de α.

3.5.2. Influência do solo e dos parâmetros de perfuração na execução

da estaca

O processo construtivo desta variável de fundações profundas, modifica as características do solo.

Desde modo é necessário, e importante, compreender os fenómenos que ocorrem. Para tal, recorreu-

se à modelação de um modelo tridimensional para simular o processo de perfuração de uma estaca

FDP (Pucker & Grabe, 2012).

O modelo 3D consiste numa superfície de Euller cilíndrica com 20 m de altura e 16 m de diâmetro.

Note-se que, a distância entre a estaca FDP e o fim da superfície, em planta, é de cerca 15D, sendo

D o maior diâmetro do equipamento de perfuração (D=510 mm). Esta condição é exigida para que

seja possível efetuar a análise dos deslocamentos horizontais que ocorrem durante este processo. É

importante ainda referir que o equipamento de perfuração foi modelado como sendo um corpo rígido

com diâmetro maior de 510 mm e diâmetro menor de 320 mm. Por fim, foi delimitada uma área com 2

m de altura acima do solo, com o intuito de permitir o deslocamento do solo nesta extensão durante o

processo construtivo (Pucker & Grabe, 2012).

A Figura 3.14 consiste no modelo tridimensional efetuado.

Figura 3.14 – Modelo numérico tridimensional e malha de solo em detalhe (adaptado de Pucker & Grabe, 2012)

A modelação efetuada teve como principal objetivo averiguar a influência da densidade relativa do

solo (DR) e do rácio da velocidade de rotação (Vr) com a velocidade de perfuração (VZ) nos 3

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seguintes parâmetros: força axial e momento torsor exigidos durante a perfuração, deslocamento

horizontal ocorrido e alteração do índice de vazios. A densidade relativa, que depende do índice de

vazios, foi analisada para três diferentes percentagens (20, 50 e 80%), enquanto que o rácio Vr/Vz

variou entre 5 e 10.

A análise foi efetuada para dois tipos de areias, Mai liao e Karlsruher, com características diferentes

de modo a ser possível a comparação e discussão dos resultados obtidos.

De uma forma abreviada a areia Mai liao, tem esta designação por se encontrar na região de Mai liao

(noroeste do Taiwan) e é caracterizada por possuir partículas laminares. Devido a esta forma das

partículas, o índice de compressibilidade é reduzido e tende a aumentar pouco ou manter-se

constante durante o processo de consolidação (Tao-Wei Feng, 2011). Por outro lado a areia

KarlsruherI é proveniente de uma região alemã, com a mesma designação, e consiste numa areia

bem graduada com D50 = 0,6 mm 1.

3.5.2.1. Resultados

FORÇA AXIAL E MOMENTO TORSOR DA FERRAMENTA DE PERFURAÇÃO

Os valores da força axial e do momento torsor foram registados durante o processo de perfuração, de

modo a perceber como DR e Vr/Vz influenciam estes valores. A Figura 3.15 e Figura 3.16 apresentam,

respetivamente, os valores obtidos para a areia Mai liao e Karlsruher.

Figura 3.15 – Força axial e momento torsor em função de DR e Vr/Vz da areia Mai Liao (adaptado de Pucker &

Grabe, 2012)

1 Fonte: http://ibf.webarchiv.kit.edu/bauwett2001/bauwett2001_3.html, obtido a 16 de Julho de 2014

Momento torsor [kNm]

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Figura 3.16 –Reação axial e momento torsor em função de DR e Vr/Vz da areia KarlsruherI (adaptado de Pucker &

Grabe, 2012)

Nas figuras anteriores é possível atentar, à esquerda os resultados obtidos para a força axial e à

direita para o momento torsor. Note-se também que no eixo das ordenadas encontra-se a

profundidade normalizada pelo maior diâmetro do equipamento de perfuração (D=510 mm).

Após análise Figura 3.15 e Figura 3.16 concluiu-se que, como seria expectável, à medida que a

densidade do solo aumenta, maior será a força axial e o momento torsor necessários para a

perfuração da estaca. É visível também que a força axial necessária para a perfuração é maior para a

relação Vr/Vz=5 do que Vr/Vz=10. Tal como seria de esperar, pois se a velocidade de rotação aumenta

exige uma menor força axial durante a perfuração, tendo em conta que a velocidade de perfuração

(Vz) se mantem constante.

Tanto para a areia Mai Liao como para Karlsruher, para Vr/Vz=10, a forção axial é muito reduzida,

cerca de 10 kN a uma elevada profundidade, chegando mesmo a ser negativa a uma pequena

profundidade, independentemente da densidade relativa do solo. Este fenómeno, força axial negativa,

ocorre quando se interseta um solo com boas características, sendo a força ascendente aplicada pelo

solo na base e na periferia (zona com menor diâmetro) da ferramenta de perfuração superior quando

comparada com a força descendente aplicada pela ferramenta. Embora os resultados obtidos para

esta razão (Vr/Vz=10) sejam semelhantes, para Vr/Vz=5 os valores obtidos são muito distintos, sendo

que, para a areia Karlsruher se obteve o dobro do valor da força axial em comparação com a areia

Mai Liao.

Relativamente aos momentos torsores obtidos, para a areia Mai Liao, independentemente do rácio de

velocidade os valores são semelhantes, concluiu-se que a velocidade de rotação e penetração não

influencia este parâmetro. O mesmo já não acontece para a areia Karlsruher que sofre uma pequena

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discrepância nos valores obtidos para Vr/Vz=5 e Vr/Vz=10, sendo superiores para a primeira razão.

Esta análise indica que o momento torsor é dependente do solo em causa.

DESLOCAMENTO HORIZONTAL

Os deslocamentos analisados foram determinados a uma distância de 2D da estaca, em que D

consiste no maior diâmetro da estaca (D=510 mm) e calculados com recurso ao método de

integração de velocidades.

O método de integração de velocidades consiste em registar as velocidades em cada nó ao longo de

um percurso pré-definido, neste exemplo, este encontra-se a 2D da estaca e representa um

inclinómetro virtual que regista deslocamentos horizontais. Posteriormente, estas velocidades são

integradas ao longo do tempo de simulação de modo a avaliar os deslocamentos ocorridos. Este

método apresenta vantagens e desvantagens. Trata-se de um método apelativo, pois não exige a

introdução de nenhuma estrutura complementar no modelo e a resposta do solo não é influenciada.

No entanto, o volume de dados registados depende da discretização.

A Figura 3.17 e Figura 3.18 ilustram, respetivamente, os deslocamentos obtidos para a areia Mai Liao

e Karlsruher na modelação para diferentes percentagens de densidade relativa do solo e distintas

razões de Vr/Vz.

Figura 3.17 – Deslocamento horizontal obtido para areia Mai Liao (Pucker & Grabe, 2012)

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Figura 3.18 – Deslocamento horizontal obtido para a areia Karlsruher (Pucker & Grabe, 2012)

Com base nas figuras acima, concluiu-se que os deslocamentos são superiores para a razão de Vr/Vz

= 10, principalmente até aos 4 m de profundidade. Estes resultados são compreensíveis na medida

em que quanto maior for a velocidade de rotação (Vr) maior será a perturbação existente no solo,

provocando assim deslocamentos superiores. É notório também que, como seria de esperar, quanto

maior for a densidade relativa do solo menor será o deslocamento ocorrido. Tal é justificado pela

expressão que representa este parâmetro (𝐷𝑟 =𝑒𝑚á𝑥 − 𝑒

𝑒𝑚á𝑥 − 𝑒𝑚𝑖𝑛⁄ ) quanto maior for a densidade

relativa implica que menor é o índice de vazios (e), ou seja, a capacidade do solo de se agregar e

deslocar é menor, porque contém menos vazios.

Embora os resultados obtidos sejam análogos nas duas areias em estudo, ou seja superior para Vr/Vz

= 10 comparando com Vr/Vz = 5, a materialização dos deslocamentos é díspar sendo superior para a

areia Mai Liao. Tal é justificado pelo facto de esta ser composta por partículas laminares, ou seja,

embora contenha menor capacidade de se agregar devido à forma das partículas, inclui mais

espaços entre as partículas, enquanto a areia Karlsruher consiste numa areia bem graduada com um

índice de vazios inferior.

O quadro seguinte resume os deslocamentos máximos obtidos para as duas areias. Note-se que, os

deslocamentos descritos no Quadro 3.4 foram obtidos através de uma análise, aproximada, da Figura

3.17 e Figura 3.18.

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Quadro 3.4 – Deslocamentos horizontais máximos obtidos na modelação

Dr (%) Deslocamentos (cm)

Mai Liao Karlsruher

Vr/V

z =

5

20 1,8 2,2

50 1,2 2,1

80 0,4 1,8

Vr/V

z =

10

20 0,7 1,9

50 0,3 1,9

80 0,2 1,1

ÍNDICE DE VAZIOS (e)

Em relação ao índice de vazios, a influência do processo de perfuração pode ser analisada na Figura

3.19 e Figura 3.20.

Figura 3.19 – Índice de vazios a distintas profundidades para a areia Mai Liao (adaptado de Pucker & Grabe,

2012)

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Figura 3.20 – Índice de vazios a distintas profundidade para a areia Karlsruher (adaptado de Pucker & Grabe,

2012)

O índice de vazios horizontal foi avaliado em 3 profundidades distintas, 1, 3 e 4,5m. Os gráficos que

compõem as figuras anteriores são compostos nas ordenadas pela densidade relativa do solo, em

percentagem e em abcissas pela distância à estaca normalizada pelo maior diâmetro (D=510 mm).

A partir das figuras anteriores é possível averiguar que existem 3 fases de adensamento,

independentemente da amostra de areia em estudo. Primeiramente tem-se um ligeiro adensamento

na periferia da estaca, seguindo-se rapidamente uma desagregação do solo. Este fenómeno ocorre

até 1D da estaca e é originado pela passagem da zona cónica da ferramenta de perfuração, que

provoca o adensamento, seguindo-se da haste do trado, com menor diâmetro, que faz com que o furo

fique sem contenção ocorrendo uma desagregação do solo, consequentemente diminuindo o índice

de vazios. É necessária realçar que este fenómeno apenas ocorre para 1 e 3m de profundidade, pois

aos 4,5m a ferramenta chegou à base da estaca e deu início à betonagem. Assim sendo, este

patamar apenas é sujeito à segunda fase de adensamento.

A fase seguinte constituiu na segunda passagem da ferramenta de perfuração, no sentido

ascendente, seguindo-se a betonagem da estaca que serve de contenção para as paredes do furo. É

nesta fase que ocorre um forte adensamento que pode dar-se até 2D da estaca. É também a etapa

que distingue este tipo de fundações profundas das restantes, pois é o adensamento provocado por

esta fase que é responsável pela sua maior capacidade de carga das estacas FDP quando

comparada com fundações profundas tradicionais. Por fim, a terceira fase ocorre como consequência

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da anterior, quer isto dizer que ocorre uma dispersão do adensamento, com menor relevância que o

anterior, que pode ir até 6D, dependendo do tipo de solo.

A Figura 3.19 e Figura 3.20 ilustram que não existe uma diferença notória dos gráficos obtidos para

Vr/Vz = 5 e Vr/Vz = 10, podendo-se mesmo afirmar que este parâmetro não influencia o índice de

vazios. Em relação à densidade relativa, independente da densidade do solo em estudo, com a

passagem da ferramenta de perfuração atinge praticamente os 100%, diminuindo à medida que se

afasta da estaca até regressar à densidade relativa inicial.

Comparando os dois tipos de areia os resultados obtidos foram semelhantes, concluindo-se que o

tipo de solo não tem influência neste parâmetro.

3.5.2.2. Análise de resultados

Primeiramente concluiu-se que, os valores obtidos para a força axial e momento torsor necessários

durante o processo de perfuração foram díspares, deduz-se, então que o desempenho de perfuração

não pode ser generalizado, ou seja a energia necessária para o processo de perfuração depende de

diversos fatores, como por exemplo a geometria da ferramenta de perfuração e das características do

solo.

Em relação aos resultados alcançados para os deslocamentos horizontais é possível afirmar que

estes dependem não só das características do solo, como também dos parâmetros de perfuração. Os

deslocamentos são tanto maiores quanto mais desagregado for o solo e quanto maior for a

velocidade de rotação.

Por fim na análise dos resultados do índice de vazios é possível averiguar que nem a razão Vr/Vz,

nem a densidade do solo, nem o tipo de solo influenciam este parâmetro, pois o fenómeno de

adensamento é sempre semelhante com a alteração de qualquer variável mencionada.

De seguida apresenta-se um quadro resumo das conclusões alcançadas.

Quadro 3.5 – Quadro resumo das conclusões obtidas

Força axial

Momento torsor

Deslocamento horizontal

Índice de vazios (e)

Vr/Vz ✓ X ✓ X

Dr (%) ✓ ✓ ✓ X

Tipo de solo ✓ ✓ ✓ X

✓ – Existe influência; X – Não existe influência;

3.6. Mecanismo de deslocamento

Com intuito de compreender a realização de uma estaca recorrendo a esta tecnologia, é essencial,

numa primeira fase perceber o mecanismo de deslocamento que ocorre no solo durante o processo

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de perfuração e os seus efeitos no comportamento do solo. De acordo com Baxter et al (2006),

existem três fases que afetam o comportamento de uma estaca de deslocamento, nomeadamente a

instalação, equilibro e aplicação da carga.

Durante a fase de instalação é necessário considerar três etapas distintas. A primeira corresponde à

introdução do trado que provoca um aumento de tensões nas paredes devido à passagem da zona

cónica da ferramenta de perfuração. De seguida ocorre um alívio de tensões, pois a ferramenta de

estabilização deixou de exercer pressão nas paredes do furo. Consiste na etapa crítica do processo,

pois há necessidade de controlar o relaxamento existentes nas paredes do furo para que não ocorra

um desmoronamento. Por fim, na 3ª etapa tem-se a reposição dos níveis de tensão, que se irão

manter a longo prazo, uma vez que após a 2ª passagem da ferramenta de perfuração (zona de

estabilização), que ocorre em simultâneo a betonagem, esta oferece contenção permanente às

paredes da estaca, mantendo o adensamento provocado pela passagem da ferramenta de

perfuração. Para solos coesivos saturados ou parcialmente saturados haverá ainda, a somar aos

fenómenos acima descritos, efeitos associados à geração e dissipação de pressões de água.

Na Figura 3.21, é possível averiguar as três etapas descritas neste parágrafo. Note-se que na

ilustração as “setas” representam o aumento e alívio de tensões ocorridas nas paredes do furo.

Figura 3.21 - Variação do nível de tensão durante a fase de instalação (adaptado de Baxter et al, 2006).

Após a betonagem da estaca há um excesso de pressão de água nos poros devido ao deslocamento

horizontal provocado pelo equipamento de perfuração. Há necessidade de haver dissipação desta

pressão, de modo a obter-se o equilíbrio. Este fenómeno corresponde ao segundo processo que

afeta o comportamento da estaca.

A escala de tempo para ocorrência deste fenómeno depende, essencialmente, do diâmetro da estaca

e do grau de adensamento. O último parâmetro depende do tipo de solo, pois se o solo que compõe a

fundação for um solo argiloso, este fenómeno é de lenta atuação sendo mesmo necessário haver um

período de espera para que ocorra a total dissipação das tensões neutras antes da aplicação da

carga. No que diz respeito a solos granulares a sua atuação é extremamente rápida.

Referir ainda que, se trata de um fenómeno com alguma complexidade, uma vez que ocorre quando

o betão ainda se encontra fresco, podendo, por isso, ocorrer interação entre este e a água livre.

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51

Finalmente, o terceiro processo corresponde ao momento em que a carga é aplicada e

reencaminhada pelo eixo longitudinal até à ponta da estaca. Por este motivo há uma mobilização da

resistência da estaca fazendo com que esta e o solo envolvente se adaptem às novas condições que

se encontram sujeitos.

3.7. Domínio de aplicação

3.7.1. Condições gerais

São diversos os fatores que condicionam o tipo de solução de fundações profundas a optar para uma

determinada obra. Em relação às estacas FDP os fatores a ter em conta são:

Tipo de solo;

Estado de tensão do solo;

Densidade do solo;

Localização da obra;

Energia necessária para perfuração.

Como mencionado em §3.6 a execução de estacas FDP implica um grau de deslocamento horizontal

envolvido, assim são adequadas apenas para um determinado tipo de solos, tais como: siltes,

aluviões, argilas moles, areia solta e solos orgânicos, ou seja, solos granulares finos soltos a

medianamente densos e solos de granulares grossos.

No entanto, também é possível a sua aplicação em solos mais duros e densos, o que exige uma

maior energia disponível para a perfuração, tornando esta técnica inviável nestas situações, uma vez

que o tempo de execução e a energia necessária aumentariam. Assim, ter-se-ia uma diminuição da

produtividade e aumento do custo total da obra. Entende-se como regra geral que esta técnica deve

ser aplicada quando se tem SPT (Standart Penetration Test) inferior a 30 pancadas ou CPT (Cone

Penetration Test) inferior a 10 MPa, segundo Bauer Maschinen GmbH (2013).

A principal desvantagem da aplicação desta técnica, consiste nas perturbações que provoca a

estrutura vizinhas devido aos deslocamentos horizontais que ocorrem durante a sua execução. Por

esta razão, esta técnica tem ganho popularidade em obras industriais abandonadas e/ou em

desenvolvimento, uma vez que não há perigo de perturbações.

Não há nenhum indício que proíba a utilização desta técnica com nível freático elevado, uma vez que

a densidade da água e do betão são diferentes. Durante a betonagem ocorre a irradiação da água

devido à diferença de densidades.

Finalmente, no que diz respeito ao estado de tensão do solo, a sua aplicação provoca uma elevada

alteração, devido ao adensamento existente na área circundante da estaca. Por esta razão, de modo

a facilitar a sua aplicação, o solo inicialmente não deve estar sujeito a um elevado estado de tensão.

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52

3.7.2. Aplicabilidade em Portugal

PORTUGAL CONTINENTAL

Portugal consiste num país extremamente diversificado e complexo do ponto de vista geológico.

Segundo Ferreira (2000), Portugal é constituído pelo Maciço Hespérico Português, que se subdivide

em dois grandes grupos litológicos: os Metassedimentares do Paleozóico, Câmbrio e Precâmbio e

Granitóides, e pelas formações das Orlas (Cobertura Epi-Hercínica) que também se podem dividir em

dois segmentos: rochas carbonatadas e formações compostas por arenitos e areias de origem

continental. Seguidamente apresenta-se a carta geológica de Portugal Continental à escala 1:50 000.

Figura 3.22 – Carta geológica de Portugal Continental (escala 1:50 000) (Coelho, 1996)

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53

De modo a compreender a viabilidade da aplicação desta técnica, interessa perceber o tipo de solo

que se encontra à superfície, depósitos de cobertura, que são provenientes das diversas formações

que englobam a região em estudo, uma vez que as profundidades que se pretende atingir com a

execução desta técnica corresponde em muitos casos à espessura destes depósitos.

Analisando a Figura 3.22 é possível concluir que Portugal Continental é constituído essencialmente

por formações do Primário (Paleozóico) e Pré - Câmbrio (Agnotozóico) que se traduzem em xistos,

mármores e quartzitos. A norte do País, em comunhão com as formações anteriores, encontra-se

uma extensa área de rochas eruptivas (rochas ácidas).

No litoral localizam-se diversas formações pertencentes ao Quaternário que se manifestam como

solos aluvionares, dunas, terraços e depósitos glaciares. Os solos aluvionares também surgem nas

margens dos principais cursos de água, nomeadamente o rio Tejo e rio Sado. Estes tipos de solos

como também as areias e argilas que compõem parte da zona central do país são os solos mais

adequados para a aplicação de estacas FDP. Assim sendo, como principais cidades em que esta

tecnologia é adequada podem ser destacadas: Faro, Olhão, Setúbal, Lisboa (zona ribeirinha), Vila

Franca de Xira, Leiria e Aveiro.

ARQUIPÉLAGOS DOS AÇORES E MADEIRA

Estes dois arquipélagos, quando comparados com Portugal continental, são muito mais jovens e

contém uma reduzida diversidade de solos, uma vez que são de origem vulcânica. Assim sendo são

constituídos, essencialmente, por rochas de origem vulcânicas, como por exemplo basalto, escórias

basálticas (bagacina), cinzas vulcânicas, tufos e pedras-pomes.

Nos Açores, apesar de serem constituídas, principalmente por rochas basálticas existem outros

materiais incoerentes de elevado interesse, nomeadamente a pedra-pomes e as escórias basáltica

(bagacina). A pedra-pomes é transformada em argila devido à erosão da rocha mãe, contudo estas

camadas são superficiais não atingindo elevadas profundidades.

No arquipélago da Madeira, tal como acontecia nos Açores, tem-se uma elevada diversidade de

extratos vulcânicos, devido às várias erupções vulcânicas que ocorreram durante a sua formação.

Este arquipélago é constituído, principalmente rochas ígneas, associadas à sua origem, vulcânica, e

rochas sedimentares que surgem em consequência da erosão das rochas ígneas. Estas rochas

sedimentares correspondem a depósitos de cobertura que se encontram dispostos em diversas

zonas da ilha da Madeira, sobrepondo-se à rocha mãe. Existem ainda depósitos mistos (devido ao

magmatismo e sedimentos) que ocorrem em períodos com reduzida atividade vulcânica, originando

condições para a formação de depósitos de calcários marinhos (Figura 3.23).

Em suma, a aplicação de FDP não é, em geral, recomendável nos arquipélagos dos Açores e

Madeira, por serem de origem vulcânica e a sua formação ser composta por rochas de elevada

dureza.

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Importa salientar que as zonas em que não se recomenda a aplicação de estacas FDP, não implica

que seja impossível a sua execução, apenas será necessário uma maior energia de perfuração

(elevado momento torsor e força descendente) e o nível de produtividade será reduzido, cessando

uma das principais vantagens desta técnica – elevada produtividade.

Figura 3.23 – Carta geológica simplificada da Ilha da Madeira (Ribeiro & Ramalho, 2007)

3.8. Vantagens e desvantagens

O recurso a esta tecnologia tem vindo a aumentar exponencialmente em diversos países. Este

método contém um conjunto alargado de benefícios que, em rigor, correspondem à junção das

vantagens das estacas moldadas e cravadas. De seguida serão enunciados as principais vantagens

desta técnica.

Redução do consumo de cimento

Comparando com as restantes técnicas, esta tem um menor consumo de cimento, como o solo

circundante foi densificado perde capacidade de absorver calda de cimento, pois contém menos

vazios. Como a cavidade da estaca é betonada recorrendo a pressão, no caso da técnica standard,

contribuiu para um menor consumo de cimento como também faz com que a cavidade seja

totalmente preenchida, evitando problemas de descontinuidades e desperdícios de betão.

Elevada capacidade de carga

A sua aplicação origina um deslocamento horizontal que provoca um adensamento lateral do solo

circundante, melhorando as características do solo. Assim, tem-se um corpo altamente densificado

resultando num aumento favorável da resistência lateral e de ponta. Para além disso, o solo

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adensado aumenta a área de secção da estaca, tendo assim, mais cerca de 30 a 40% de área

disponível para aplicação da carga, como é possível averiguar-se na Figura 3.19 e Figura 3.20.

A Figura 3.24 esquematiza o fenómeno descrito anteriormente.

Figura 3.24 - Aumento da resistência lateral e de ponta devido à densificação do solo circundante (adaptado de

Bauer Maschinen GmbH, 2013)

Quantidade mínima de resíduos

Durante a perfuração o equipamento desloca o solo na horizontal, ou seja o volume de solo

deslocado encontra-se inserido no solo envolvente da estaca, sendo por isso a quantidade de

resíduos que se encontram à superfície praticamente nula. Esta vantagem permite a sua utilização

em solos contaminados, porque não exige movimentação de solo deixando de haver a necessidade

de elaborar um plano para a deslocação e colocação do material contaminado, facilitando e reduzindo

o custo da sua aplicação.

Processo de instalação sem vibrações

O equipamento de perfuração utilizado na execução das estacas exerce um torsor e uma força

descendente que reproduz vibrações mínimas, sendo por isso uma técnica exequível em locais que

possuam estruturas na vizinhança que exijam algum cuidado.

Elevado nível de produtividade

O nível de produtividade desta técnica depende de diversos fatores, tais como o diâmetro da estaca,

o momento torsor, força descendente aplicada, densidade do solo, capacidade do subsolo de se

deslocar e capacidade de bombeamento do equipamento. Se esta técnica for aplicada em solos que

se encontram dentro do seu domínio de aplicação, em que a energia necessária para a sua

perfuração seja mediana, é possível a sua execução com elevada rapidez.

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56

Capacidade de alterar o comprimento das estacas durante a execução

Como referido em §3.3. o equipamento utilizado para a execução desta técnica consegue determinar

o valor de α (resistência à penetração) e a partir deste é possível interromper a perfuração quando se

atinge um solo com elevado valor da resistência à penetração. Assim sendo, esta técnica releva a

capacidade de se adaptar em obra o comprimento de estaca necessário.

Custo de execução reduzido

São diversos os fatores que contribuem para a redução do custo de execução em comparação com

as técnicas convencionais. O que mais contribui para este fator é a elevada produtividade, utilização

mínima de equipamentos, apenas o de perfuração uma vez que não há deslocamento de resíduos, e

finalmente, reduzida mão-de-obra.

Como desvantagens esta técnica apresenta as seguintes:

Perturbações em estruturas vizinhas

Embora não ocorram vibrações prejudiciais a estruturas vizinhas, a aplicação desta técnica implica a

existência de deslocamentos horizontais, devido ao adensamento do solo circundante, o que pode

provocar eventuais perturbações.

Danos em estacas vizinhas

Durante a execução de estacas FDP ocorrem alterações das tensões no solo, o que pode provocar

danos em estacas que ainda contêm betão fresco.

Betão não pode ser inspecionado após a construção

Tal como acontece com as estacas moldadas após a betonagem não é possível averiguar o estado

do betão. De modo a contornar esta eventualidade, aplicam-se diversos métodos não destrutivos de

modo a garantir a integridade da estaca (descritos em §2.5.2.).

Impossibilidade de executar elevados diâmetros

A gama de diâmetros disponíveis para a execução de estacas FDP depende do diâmetro do

equipamento, sendo o maior diâmetro de 620mm para a técnica standard, e 720mm para técnica com

ponteira perdida.

3.9. Análise comparativa – Estacas FDP versus estacas moldadas e

cravadas

As estacas cravadas, principalmente as de madeira, são o método de fundações profundas utilizadas

desde os primórdios da história da construção civil, como o passar dos anos houve necessidade de

recorrer a materiais diferentes, tais como aço e betão, para que fosse possível a sua utilização em

solos com diferentes características.

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57

Com a evolução das técnicas de construção, surgiram as estacas moldadas. O facto de serem

executadas in situ permite que se atinga profundidades elevadas, utilização de elevados diâmetros e

durante a sua execução não exercem ruídos nem vibrações possibilitando a sua utilização em locais

com elevada densidade urbana.

As estacas FDP surgem posteriormente, e embora se encontrem na categoria das estacas cravadas,

estacas de deslocamento, tanto o seu design como o processo construtivo é semelhante a uma

estaca moldada, uma vez que é betonada in situ, e para a sua execução utiliza um equipamento de

perfuração (trado), tal como as moldadas.

O quadro seguinte resume todos os fatores a ter em conta na escolha de um tipo de fundação

profunda e o que distingue estes três tipos de estacas.

Quadro 3.6 – Estacas FDP versus estacas moldadas e cravadas

Estacas Cravadas Estacas Moldadas Estaca FDP

Capacidade de carga

Média a Elevada Média a Elevada Elevada

Consumo de cimento

Não existe Médio a elevado Reduzido

Volume de resíduos Nulo Elevado Reduzido a nulo

Processo de instalação

Com elevadas vibrações e ruídos

Sem vibrações e ruídos

Sem vibrações e ruídos

Nível de produtividade

Elevada Reduzida Elevada

Energia de perfuração/cravação

Elevada Reduzida Média a elevada

Profundidades atingidas

Medianas Elevadas Elevadas

Perturbações em infra-estruturas

vizinhas Existe Não existe Existe

Diâmetros utilizados Reduzidos Elevados Medianos

Interacção com estacas vizinhas

Existe Reduzida a nula Existe

Garantir secção transversal

Garante Não garante Não garante

Utilização com presença de nível

freático Não tem influência Executável Executável

Custo de execução Médio a elevado Elevado Reduzido

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58

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59

Capítulo 4. Dimensionamento Geotécnico

4.1. Enquadramento geral

O Eurocódigo 7 (NP EN 1997 (2010)), é composto por três partes distintas. A primeira parte expõe as

regras gerais para o projeto geotécnico. A segunda apresenta regras relativas a ensaios laboratoriais

e a terceira, e última parte, ilustra regras relativas a ensaios de campo. O fluxograma apresentado na

figura seguinte ilustra como as diversas partes que compõem a norma NP EN 1997 (2010) se

encontram interligadas e como é essencial a sua interação, de modo a obter-se os resultados

pretendidos.

Figura 4.1 – Fluxograma da interacção entre as diferentes partes que compõem o Eurocódigo 7 (Santos, s.d.)

Esta norma de projeto faz referência a diversas tipologias de obras geotécnicas, nomeadamente

fundações superficiais, fundações em estacas, estruturas de suporte, aterros e taludes, dedicando-se,

essencialmente à resistência, estabilidade, condições de serviços de estruturas geotécnicas.

Referir ainda que esta norma incluiu o Anexo Nacional (NA), essencial para a sua aplicação em

projetos Portugueses, uma vez que adapta os coeficientes parciais de segurança, entre outros

parâmetros, para as condições existentes em Portugal.

No presente capítulo recorreu-se apenas à primeira parte deste Eurocódigo, NP EN 1997-1 (2010),

pois o seu principal objetivo consiste em dimensionar a capacidade resistente última, com base no

ensaio de carga estática (para um estaca FDP) e nos métodos analíticos (para uma estaca moldada e

cravada), para que posteriormente seja possível determinar a capacidade resistente de projeto com

base nos coeficientes parciais de segurança presentes na NP EN 1997-1 (2010). Referir que o perfil

geotécnico e o ensaio de carga estática apresentados correspondem ao caso em estudo presente no

Capítulo 5.

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60

4.2. Importância da caracterização geotécnica

A realização de obras geotécnicas acarreta um conhecimento detalhado das características

geológicas e mecânicas dos solos que constituem o local da construção, não só para evitar situações

de risco como também para que a solução construtiva escolhida seja adequada e económica. Referir

que uma caracterização não apropriada do solo pode levar a gastos desnecessários, atrasos na

construção ou mesmo eventuais acidentes.

A utilização de métodos adequados de caracterização geotécnica, em comunhão com a sua

apropriada aplicação são fatores essenciais para um competente reconhecimento geotécnico. Para

que que estes métodos sejam executados de forma correta é fundamental que sejam executados por

técnicos especializados, como geólogos e/ou engenheiros. De modo a que a caracterização efetuada

seja completa tem de ser composta por uma série de ensaios in situ complementados com ensaios

laboratoriais que determinam os principais parâmetros do solo, como também o estado a que se

encontra.

É conhecido que efetuar uma prospeção geotécnica apropriada é muito dispendioso

economicamente, no entanto, estes encargos acabam por ser compensados com a redução do tempo

de construção como também com prejuízos, quer pessoais quer materiais.

Uma caracterização geotécnica é direcionada principalmente para obras com elevada complexidade

de fundações, obras subterrâneas (túneis, escavações a uma elevadas profundidades) e obras com

elevado gabarito.

4.3. Considerações iniciais de projeto

Segundo a NP EN 1997-1 (2010) existem diversas considerações a ter em conta no início de um

projeto de fundações. Primeiramente é de extrema importância considerar tanto o comportamento de

uma estaca isolada como o comportamento do conjunto de estacas, e também o maciço de

encabeçamento que as une, uma vez que a sua rigidez e resistência não devem ser desprezadas

pois contribuem para a resistência da estrutura global.

De seguida, há que ter em atenção os parâmetros de solo utilizados no método de cálculo, este ponto

associa-se ao mencionado no ponto 4.2, relativamente à importância da caracterização geotécnica,

pois esta tem interferência direta nos cálculos efetuados podendo mesmo levar a um cálculo incorreto

tendo em conta as necessidades da obra.

Numa próxima fase há que definir o tipo de fundação profunda, assim como o tipo de material que

constitui a estaca e o processo de instalação associado. Para tal, há que ter em conta diversos

aspetos, como por exemplo:

Condição do solo, bem como a presença de água;

Quais as tensões impostas na estaca no processo de instalação da mesma;

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61

Existência de condições para uma possível análise da integridade da estaca;

O efeito que o processo de instalação terá tanto nas estacas já instaladas como também nas

estruturas vizinhas;

Possível existência de produtos químicos que coloquem em causa a integridade da estaca.

Para além destes aspetos, há que ter em consideração os seguintes tópicos:

Espaçamento entre estacas mais adequado;

Possíveis deslocamentos e/ou vibrações em estruturas vizinhas;

Tipo de vibrador ou pilão a utilizar, no caso de estacas cravadas;

Na eventualidade de utilização de estacas com extração de terreno há que ter em conta se há

necessidade de introduzir um fluido para contenção das paredes do furo (lamas bentoníticas

por exemplo)

Possível instabilização do furo durante a betonagem que possibilite o acesso do solo para o

interior do furo;

Compactação do solo devido à cravação;

Eventuais alterações na composição do solo devido ao processo de instalação da estaca.

Somente após efetuar uma análise exaustiva sobre o local da obra com base em todos os aspetos

mencionados anteriormente é que é possível determinar qual a melhor solução a optar.

4.4. Métodos de dimensionamento

A NP EN 1997-1 (2010) especifica vários métodos que devem ser tidos em conta no

dimensionamento de estacas. Estes dependem essencialmente dos dados adquiridos, isto é, a

escolha do método a utilizar obedece aos dados do solo obtidos durante a caracterização do terreno

e à utilização de ensaios de carga estática ou dinâmicos.

Assim sendo, a NP EN 1997-1 (2010) enumera os seguintes procedimentos:

i) Recorrer a resultados de ensaios de carga estática que possam ser demostrados por cálculos;

ii) Aplicação de métodos de cálculo empíricos ou analíticos em que a sua validade é justificada por

valores obtidos pelo ensaio de carga estática em situações semelhantes;

iii) Utilização de resultados obtidos através do ensaio de carga dinâmico, que tal como no método

anterior, a sua validade é justificada por um ensaio de carga estática efetuado em situações

semelhantes;

iv) Considerar o comportamento de uma fundação através da observação. Este método tem de ser

justificado com recurso a resultados de prospeção geotécnica e de ensaios efetuados no solo.

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62

Referir que os ensaios de carga estática podem ser executados em estacas experimentais instaladas

para esta finalização, em condições semelhantes às da obra, ou em estacas que correspondem a

uma fração da fundação da obra em causa.

A partir dos métodos descritos acima, é notória a necessidade de execução de um ensaio de carga

estática, no entanto, como se trata de um ensaio dispendioso, que em determinadas obras não se

justifica a sua execução, recorre-se a métodos como o descrito em ii) e iii), que apenas necessitam

de valores de um ensaio de carga estática efetuado em condições semelhantes à da obra em

questão. Trata-se de métodos não tão precisos, uma vez que o solo é um fator muito variável e é

extremamente difícil encontrar localizações com características exatamente iguais.

4.5. Dimensionamento

4.5.1. Aspetos gerais

O dimensionamento com recurso ao cálculo de uma fundação, quer superficial quer profunda, requer

a consideração de diversos requisitos e regras presentes na EN 1990:2002, nomeadamente forças

e/ou deslocamentos impostos tanto por carregamentos exteriores como também por possíveis

movimentos de terreno que possam ocorrer, características dos solos, grandezas geométricas,

modelos de cálculo, entre outros.

Para iniciar o dimensionamento é necessário conhecer determinados parâmetros do solo, que são

definidos com base em ensaio de campo, executados in situ, e ensaios de laboratório. É importante,

no dimensionamento, conhecer a dimensão do estudo efetuado, de modo a ter-se consciência da

amplitude de erro associado aos resultados obtidos.

Por outro lado, de modo a obter-se resultados semelhantes à realidade, é essencial eleger o modelo

de cálculo que mais se adapta ao caso em estudo, ou seja que melhor descreve o comportamento do

solo tendo em consideração o estado limite em estudo. Caso tal não seja possível, há que dispor de

um dimensionamento efetuado por métodos com base em modelos experimentais, ensaio de carga

e/ou métodos observacionais.

Definido o modelo de cálculo, existem alguns aspetos que devem ser tidos em consideração, tais

como: este deve ser o mais rigoroso possível, pode conter simplificações desde que não influenciam

a veracidade do modelo de cálculo.

No caso em estudo, que consiste em fundações profundas, há que ter em conta ainda que o solo se

encontra suscetível a deslocamentos devido à consolidação ou expansão, fluência do solo, eventuais

deslizamentos, entre outros. É importante, e necessário, ter em consideração estes eventos, uma vez

que podem influenciar o funcionamento da estaca, causando forças de atrito lateral negativo,

empolamentos, carregamentos transversais ou deslocamentos para os quais a fundação não se

encontra apta.

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63

O principal objetivo deste capítulo consiste em comparar capacidade resistente de projeto de uma

estaca FDP e comparar com uma estaca moldada e cravada de modo a concluir-se acerca da sua

diferença da capacidade de carga.

Atualmente, segundo Busch (2009), não existe forma de determinar a capacidade resistente de

estacas FDP, tratando-se de uma técnica sujeita a alguma ambiguidade, uma vez que não existe

normas específicas aplicáveis a esta tecnologia. A norma europeia para estacas com deslocamento

(EN 12699:2001 – Execution of special geotechnical work. Displacement piles) faz pouca referência a

esta técnica, concentrando-se apenas nas estacas cravadas. Embora as estacas FDP sejam estacas

de deslocamento não podem ser consideradas como estacas cravadas, uma vez que não dispõem do

mesmo comportamento. Uma abordagem coerente seria analisar esta técnica tendo em conta o seu

design e especificações, de modo a obter valores de cálculo semelhantes aos obtidos na realidade.

Desde modo para a obtenção da capacidade resistente de projeto recorre-se ao ensaio de carga

estática efetuado em obra.

4.5.2. Capacidade resistente última

A capacidade resistente de uma estaca encontra-se sujeita, essencialmente, às propriedades

mecânicas do solo que a sustém, no entanto depende, também, das propriedades físicas e

mecânicas da estaca (geometria, resistência do material constituinte, rugosidade, entre outros) e do

seu faseamento construtivo.

Para que seja possível determinar a capacidade resistente de cálculo/projeto é necessário,

primeiramente, definir a sua capacidade resistente última.

Desde modo, na determinação da capacidade última da estaca utilizaram-se dois métodos distintos.

Para a estaca FDP extrapolou-se o valor a partir do ensaio de carga estática e para as estacas

moldada e cravada determinou-se com base na Teoria da Plasticidade.

ESTACA FDP

No ensaio de carga estática efetuado em obra, representado na Figura 4.2, não foi atingida a rotura

da estaca. Deste modo houve necessidade de extrapolar o seu valor, através do método de Chin-

Kondner, como descrito em Abdelrahman (2003), em que a curva de carga assentamento

corresponde a uma curva hiperbólica determinada pela seguinte expressão:

Q =𝑆

𝐶1𝑆 + 𝐶2

(4.1)

Em que,

Q – Carga [kN];

S – Assentamento [mm];

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64

C1 e C2 – Valores determinados com base numa regressão linear efetuada aos pontos medidos pelo

ensaio de carga estática, sendo que, respetivamente, C1 e C2 corresponde ao declive da reta e ao

valor que intercepta o eixo y.

Figura 4.2 – Curva de carga-assentamento (Bringiotti et al, 2008)

Para determinar os coeficientes referidos anteriormente, houve necessidade de elaborar um gráfico

que relaciona o assentamento (mm) e o quociente entre o assentamento e carga (Figura 4.3).

Figura 4.3 – Regressão linear do Método de Chin-Kondner

Os valores dos coeficientes C1 e C2 obtêm-se através da regressão linear, sendo respetivamente

0,0003 e 0,0016.

Para atingir o valor da carga última foi necessário determinar qual o assentamento correspondente.

Assim sendo, com base no critério de Terzaghi que define que a carga última ocorre para um

assentamento idêntico a 10% do diâmetro da estaca. Uma vez que no caso em estudo o diâmetro era

de 620 mm, conclui-se assim que a carga última ocorre para um assentamento de 62 mm.

y = 0,0003x + 0,0016 R² = 0,9822

0,000

0,002

0,004

0,006

0,008

0,010

0,012

0 5 10 15 20 25 30

Ass

en

tam

en

to/C

arga

(m

m/k

N)

Assentamento (mm)

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65

A figura seguinte ilustra a curva de carga-assentamento obtida através da aplicação do método de

Chin-Kondner, sendo obtido um valor de carga última para a estaca FDP aproximado de 3070 kN.

Figura 4.4 – Curva carga-assentamento com base no método de Chin-Kondner

ESTACA MOLDADA E CRAVADA

Uma vez que não foi efetuado um ensaio de carga estática a uma estaca moldada e cravada nas

mesmas condições que a estaca FDP, houve necessidade de recorrer à Teoria da Plasticidade, que

considera a soma das resistências de ponta e lateral de modo a determinar-se a capacidade

resistente última das mesmas.

Assim sendo a expressão utilizada consiste em:

R = 𝑅𝑏 + 𝑅𝑠 (4.2)

Em que,

R – Valor de cálculo da capacidade resistente última de uma estaca carregada axialmente;

𝑅𝑏 – Valor da resistência de ponta da estaca;

𝑅𝑠 – Valor da resistência lateral da estaca.

Antes de prosseguir para os cálculos apresenta-se o perfil geotécnico correspondente ao caso de

estudo (Figura 4.5). Assim é possível comparar os valores atingidos, com os resultados obtidos na

modelação numérica efetuada no Capítulo 5.

0

10

20

30

40

50

60

70

0 1000 2000 3000 4000A

sse

nta

me

nto

(m

m)

Carga (kN)

Ensaio de carga estática

Método de Chin-Kondner

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66

Figura 4.5 – Perfil geotécnico e características do solo

O perfil geotécnico em causa é composto por 4 camadas de areias e argilas siltosas. A estaca foi

executada a uma profundidade de 8 m estando o nível freático à superfície. O comprimento da estaca

foi de 20 m intersectando as camadas 3, 4, 5 e 6, representadas na Figura 4.5. Referir que devido à

escavação prévia de modo a atingirem-se os -8m, as camadas 1 e 2 não se encontram representadas

no perfil geotécnico.

No Quadro 4.1 são descritos alguns dos parâmetros que caracterizam as diferentes camadas de solo.

Quadro 4.1- Valores dos parâmetros do solo

γ (kN/m

3)

φ´

(º) c´

(kPa)

Camada 3 18,5 38,0 0

Camada 4 19,0 28,0 5

Camada 5 19,0 39,0 0

Camada 6 20,0 32,0 10

De modo a obter uma aproximação mais rigorosa dos valores da capacidade resistente, realizaram-

se os cálculos em condições drenadas e condições não drenadas, uma vez que o perfil geotécnico é

composto por areias e argilas.

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67

Análise em condições drenadas

Os valores da capacidade resistente de ponta e lateral são definidos, respetivamente pelas seguintes

expressões:

𝑅𝑏 = 𝑞𝑏 × 𝐴𝑏 = (𝜎′𝑜𝑁𝑞)𝐴𝑏 (4.3)

∑ 𝑅𝑠;𝑖

= ∑ 𝑞𝑠,𝑖 × 𝐴𝑠,𝑖 = ∑(𝐾𝑖𝑡𝑔𝛿𝑖𝜎′𝑣,𝑖)𝐴𝑠,𝑖 (4.4)

Sendo que,

𝑞𝑏 – Resistência de ponta unitária;

𝑞𝑠 – Resistência lateral unitária;

𝐴𝑏 – Área transversal da ponta da estaca;

𝐴𝑠 – Área lateral da estaca;

𝜎′𝑜 – Tensão efetiva vertical na ponta da estaca;

𝑁𝑞 – Fator de capacidade de carga que dependem do ângulo de atrito interno do solo, da rugosidade

da base da estaca e têm em conta tanto o efeito de profundidade como a forma da estaca;

K – Coeficiente de impulso;

𝜎′𝑣 – Tensão efetiva vertical média ao longo do fuste da estaca;

𝛿 – Ângulo de atrito solo-estaca (em condições drenadas tem-se 𝛿′)

De modo a determinar a resistência de ponta e lateral definiram-se diversos parâmetros.

O fator de capacidade de carga Nq, que depende, essencialmente, do ângulo de atrito interno é

extremamente suscetível à configuração da superfície de rotura na base da estaca. Devido a esta

razão surgiram diversas superfícies de rotura explicitadas por diferentes autores, obtendo valores

distintos de Nq. Terzaghi (1943), Sokolovski (1960), Caquot e Kérisel (1956) propuseram a superfície

de rotura apresentada na figura seguinte.

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68

Figura 4.6 – Superfície de rotura por Terzaghi, Sokolovski, Caquot e Kérisel (Santos, 2008)

Esta superfície de rotura foi obtida a partir da teoria geral de fundações superficiais, em que Terzaghi

propôs as alterações necessárias de modo poder adaptar a fundações profundas. Este autor faz

ainda distinção entre base rugosa ou lisa da estaca, variando o valor de Nq. Embora os autores

mencionados anteriormente apresentassem expressões distintas no que diz respeito ao cálculo de Nq

é possível averiguar na Figura 4.7 que não existem discrepâncias nos valores obtidos, pois as curvas

são idênticas.

Figura 4.7 – Cálculo de Nq pela proposta de Terzaghi, Sokolovski, Caquot e Kérisel, (Santos, 2008)

Foram utilizadas as expressões (4.5) e (4.6), tal como proposto por Terzaghi em Santos (2008), para

determinar o valor exato de Nq. Para casos de fundações com base rugosa, nomeadamente estacas

moldadas, aplica-se a expressão (4.5) e para fundações de base lisa (estacas cravadas) utiliza-se a

expressão (4.6).

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69

𝑁𝑞 =𝑒(3/2𝜋−𝜙′)𝑡𝑎𝑛𝜙′

1 − 𝑠𝑖𝑛𝜙′ (4.5)

𝑁𝑞 = 𝑡𝑎𝑛2(𝜋/4 + 𝜙′/2)𝑒𝜋tan (𝜙′) (4.6)

Segundo Pereira (2008), o parâmetro K (coeficiente de impulso) depende de diversos fatores,

nomeadamente o faseamento construtivo e tipo de análise efetuada, ou seja, em condições drenadas

ou não drenadas.

Para estacas moldadas, em que a sua execução não introduz grandes perturbações no terreno

Fleming et al (1992), sugerem a expressão (4.7) para solos não coesivos (areias) e a expressão (4.8)

relativamente solos coesivos (argilas).

𝐾 = 𝐾0 = 1 − 𝑠𝑒𝑛𝜙′ (4.7)

𝐾 =1 + 𝐾0

2 (4.8)

Em que K0 representa o coeficiente em repouso.

A análise realizada para estacas moldadas foi efetuada recorrendo à expressão (4.7), isto é que

representa solos não coesivos, visto que os solos que constituem o perfil geotécnico têm uma coesão

muito reduzida (praticamente nula).

Em relação às estacas cravadas, que provocam elevados deslocamentos, não existe consenso

acerca da expressão de cálculo do coeficiente de impulso horizontal.

Fleming et al (1992) define a expressão (4.9) para estacas cravadas em argilas (solos coesivos) e a

(4.10) para areias (solos não coesivos).

𝐾 = 1,5 × 𝐾0 = 1,5 × (1 − 𝑠𝑒𝑛𝜙′) (4.9)

𝐾 =

𝑁𝑞

50

(4.10)

Tal como considerado para estacas moldadas, as camadas de argila têm uma reduzida coesão, por

essa razão, para o cálculo de K apenas foi considerada a expressão (4.10).

Uma vez que em estacas moldadas, a rugosidade da superfície é elevada e é esperado que a rotura

se dê pelo solo adjacente e não pela interface solo-estaca, considerou-se o ângulo de atrito entre

solo-estaca (δ’) idêntico ao valor de ϕ´ do solo adjacente.

Para o, como, assim sendo considerou-se δ’. Relativamente a estacas cravadas, sendo a superfície

lisa, δ’ terá de ser inferior ao considerado para estacas moldadas. Assim segundo Coyle e Castello

(1981) citado em Pereira (2008) propõe-se uma redução de 20% face a ϕ´, considerando-se assim

δ’=0,8 ϕ´.

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70

Os Quadros 4.2 e 4.3 resumem-se todos os parâmetros necessários à determinação da capacidade

resistente de ponta e lateral.

Quadro 4.2 – Capacidade resistente de ponta e lateral para uma estaca moldada (análise drenada)

As (m

2) σ'v (kPa) σ'vm (kPa) Nq K δ' Rs (kN) Rb (kN)

Camada 3 0,97 4,25 2,13 61,55 0,384 38,0 0,62

1625,02 Camada 4 4,87 26,75 15,50 17,81 0,531 28,0 21,29

Camada 5 15,58 98,75 62,75 70,61 0,371 39,0 293,50

Camada 6 17,53 188,75 143,75 28,52 0,470 32,0 740,21

38,96 Total

1055,62 1625,02

Quadro 4.3 – Capacidade resistente de ponta e lateral para uma estaca cravada (análise drenadas)

As (m

2) σ'v (kPa) σ'vm (kPa) Nq K δ' Rs (kN) Rb (kN)

Camada 3 0,97 4,25 2,13 48,9 0,979 30,4 1,19

1320,73 Camada 4 4,87 26,75 15,50 14,7 0,294 22,4 9,16

Camada 5 15,58 98,75 62,75 56,0 1,119 31,2 662,73

Camada 6 17,53 188,75 143,75 23,2 0,464 25,6 559,65

38,96 Total 1232,73 1320,73

Em suma encontram-se especificadas no Quadro 4.4 os valores da capacidade resistente última da

estaca moldada e cravada.

Quadro 4.4 – Quadro resumo da capacidade resistente última (análise drenada)

Rs(kN) Rb(kN) R(kN)

Estaca Moldada

1055,6 1625,0 2680,6

Estaca Cravada

1232,7 1320,7 2553,5

Importa referir que, não é possível afirmar que os valores determinados sejam exatos, pois alguns

dos parâmetros considerados anteriormente possuem elevada variabilidade, nomeadamente o Nq.

Este parâmetro encontra-se sujeito a diversas abordagens por diversos autores, no entanto estas não

devem ser diretamente comparadas devido às diferentes hipóteses de base do modelo. Para além

disso existe a incerteza sobre qual o melhor valor a optar, no que diz respeito ao ângulo de atrito

solo-estaca (δ’), pois é extremamente difícil quantificar com exatidão a perturbação ocorrida no solo

durante o processo construtivo. Adicionalmente a este problema tem-se a variabilidade do coeficiente

de impulso (K) em profundidade que não é contabilizada.

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71

Análise em condições não drenadas

Embora os dados cedidos pelo caso de estudo definissem parâmetros efetivos, decidiu-se pelo

cálculo em condições não drenadas, visto que modelação numérica realizada consistiu nessa análise

Contudo sendo as camadas 3 e 5 compostas por areias siltosas, não contendo um comportamento

não drenado, o seu valor de capacidade resistente última lateral coincide com o obtido na análise em

condições drenadas.

As expressões para o cálculo da capacidade resistente última lateral e de ponta em condições não

drenadas foram:

𝑅𝑏 = 𝑞𝑏 × 𝐴𝑏 = C𝑢𝑁𝑐𝐴𝑏 (4.11)

∑ 𝑅𝑠;𝑖

= ∑ 𝑞𝑠,𝑖 × 𝐴𝑠,𝑖 = ∑(𝐾𝑖𝑡𝑔𝛿𝑖𝜎′𝑣,𝑖)𝐴𝑠,𝑖 + ∑(𝛼𝐶𝑢,𝑖)𝐴𝑠,𝑖 (4.12)

Sendo,

Cu – Resistência não drenada;

Nc – Fator de capacidade de carga;

α – Fator de adesão.

Foram admitidos alguns parâmetros consoante o resultado que se pretendia obter. No que diz

respeito ao fator de capacidade de carga (Nc), foi assumido como sendo igual a 9, pois consiste num

valor usual para uma análise em condições não drenadas, uma vez que se trata de um valor

conservativo (Santos, 2008).

Embora não seja frequente, considerou-se um fator de adesão unitário, pois na modelação foi

admitido que a interface e o solo possuem a mesma resistência, ou seja α=1.

Para que fosse possível estimar um valor de resistência não drenada consoante a caracterização do

solo, uma vez que se trata de um parâmetro muito variável dependendo de diversos fatores, foi

necessário estima-lo com base em dados do solo. Deste modo recorrendo a expressões empíricas

mencionadas em Marangon (s.d.) conhecendo o ângulo de atrito interno é possível estimar o valor de

N (índice de resistência à penetração):

ϕ′ = √20𝑁 + 15° (4.13)

Conhecendo o índice de resistência à penetração é possível estimar a resistência não drenada com

base na correlação empírica proposta por Teixeira & Godoy (1996) mencionada em Marangon (s.d.).

Cu = 10N [kPa] (4.14)

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72

O quadro seguinte reúne os valores obtidos para as camadas 4 e 6, no que diz respeito à resistência

não drenada.

Quadro 4.5 – Cálculo da resistência não drenada

ϕ'[º] N Cu [kPa]

Camada 4 28 8 80

Camada 6 32 14 140

Os valores de resistência não drenada obtidos são elevados devendo-se essencialmente ao facto do

ângulo de atrito interno de cada camada ser elevado. Deste modo de uma forma conservativa, uma

vez que a sua determinação foi efetuada com base em expressões empíricas, decidiu-se utilizar nos

cálculos um valor de Cu reduzido em 20 kPa.

Os resultados obtidos atingidos para a estaca moldada e cravada encontram-se especificados nos

quadros seguintes.

Quadro 4.6 – Capacidade resistência última lateral e de ponta para uma estaca moldada (análise não drenada)

As

(m2)

σ'v (kPa)

σ'vm (kPa)

Nq K δ' Cu

(kPa) α Nc Rs (kN)

Rb (kN)

Camada 3 0,97 4,25 2,13 61,55 0,384 38,0 -- --

0,62

326,06 Camada 4 4,87 26,75 15,50 -- -- -- 60,0 1,0 292,17

Camada 5 15,58 98,75 62,75 70,61 0,371 39,0 -- -- 293,50

Camada 6 17,53 188,75 143,75 -- -- -- 120,0 1,0 9,0 2103,61

38,96 Total

2689,90 326,06

Quadro 4.7 - Capacidade resistência última lateral e de ponta para uma estaca cravada (análise não drenada)

As

(m2)

σ'v (kPa)

σ'vm (kPa)

Nq K δ' Cu

(kPa) α Nc Rs (kN)

Rb (kN)

Camada 3 0,97 4,25 2,13 48,9 0,979 30,4 -- --

1,19

326,06 Camada 4 4,87 26,75 15,50 14,7 0,294 22,4 60,0 1,0 292,17

Camada 5 15,58 98,75 62,75 56,0 1,119 31,2 -- -- 662,73

Camada 6 17,53 188,75 143,75 23,2 0,464 25,6 120,0 1,0 9,0 2103,61

38,96 Total

3059,69 326,06

A capacidade resistente última da estaca moldada e cravada encontra-se especificada no Quadro

4.8.

Quadro 4.8 - Quadro resumo da capacidade resistente última (análise não drenada)

Rs(kN) Rb(kN) R(kN)

Estaca Moldada

2689,9 326,1 3016,0

Estaca Cravada

3059,7 326,1 3385,8

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73

4.5.3. Capacidade resistente de cálculo

Para determinar a capacidade resistente de cálculo, é necessário determinar a capacidade resistente

característica, de acordo com a expressão (4.15).

𝑅𝑘 = Min {

(𝑅𝑐;𝑚)𝑚𝑒𝑎𝑛

𝜉1

;(𝑅𝑐;𝑚)

𝑚𝑖𝑛

𝜉2

} (4.15)

Esta expressão utiliza-se quando se obtém a capacidade resistente última a partir de ensaios de

carga estática em que,

𝑅𝑘 – Valor característico da capacidade resistente;

(𝑅𝑐;𝑚)𝑚𝑒𝑎𝑛

– Valor médio da resistência à compressão;

(𝑅𝑐;𝑚)𝑚𝑖𝑛

– Valor mínimo da resistência à compressão;

𝜉1 e 𝜉2 – Coeficientes de correlação dependentes do número de ensaios efectuados.

O valor da resistência média e mínima corresponde à capacidade última obtida em diversos ensaios

de carga estática. Na presente situação a resistência média e mínima são idênticas uma vez que

apenas se efetuou um ensaio de carga estática.

Em relação aos coeficientes de correlação (𝜉1 e 𝜉2), estes encontram-se especificados na NP EN

1997-1 (2010) e dependem do número de ensaios efetuados. Uma vez que foi apenas realizado um

ensaio de carga estática (n=1), 𝜉1 e 𝜉2 assumem um valor de 1,40, como é possível confirmar na

Figura 4.8.

Figura 4.8 – Coeficientes de correlação 𝝃 para determinação do valor característico a partir de ensaios de carga

estática de estacas (adaptado NP EN 1997-1, 2010)

O valor da capacidade resistente de cálculo é obtido subtraindo ao valor característico os coeficientes

parciais de segurança especificados na NP EN 1997-1 (2010), nomeadamente no anexo nacional

(4.16).

𝑅𝑐;𝑑 =𝑅𝑐;𝑘

𝛾𝑡

(4.16)

Tendo em conta que as estacas se encontram carregadas axialmente a abordagem de cálculo a ter

em conta é AC1:C2 (C2 = A2 “+” M1 “+” R4), logo o conjunto de interesse consiste no R4. A Figura

4.9 e Figura 4.10 demonstram os valores a adotar para os coeficientes parciais de segurança para

estacas moldadas e cravadas, respetivamente. Em relação à estaca FDP, uma vez que a norma NP

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74

EN 1997-1 (2010) não efetua nenhuma referência a este tipo de estaca considera-se que o seu

coeficiente parcial de segurança é igual a 1,6, uma vez que a estaca se encontra à tração.

Figura 4.9- Coeficientes parciais para as capacidades resistentes de estacas cravadas (adaptado NP EN 1997-1,

2010)

Figura 4.10 – Coeficientes parciais para as capacidades resistentes de estacas moldada (adaptado NP EN 1997-

1, 2010)

ESTACA FDP

No quadro seguinte indicam-se os valores obtidos para a capacidade resistente característica e de

cálculo para uma estaca FDP.

Quadro 4.9 – Capacidade resistente característica e de cálculo para estaca FDP

𝑹𝒌 [kN] 𝑹𝒅 [kN]

Estaca FDP 2193 1371

ESTACA MOLDADA E CRAVADA

Importa referir que embora não se tenha efetuado um ensaio de carga estática a estacas moldadas e

cravadas o método de determinação da capacidade resistente característica é idêntico ao utilizado

para a estaca FDP, admitindo que o número de ensaios de carga estática (n) é igual a 1.

Como o ensaio de carga estática foi executado à tração, determinou-se a capacidade característica e

de cálculo para uma estaca à tração e compressão. Para a estaca à tração esta resiste apenas por

atrito lateral (sendo a parcela de ponta nula) e o fator de segurança utilizado é diferente do de

compressão.

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75

Quadro 4.10 – Capacidade resistente característica e de cálculo obtida a partir do método analítico

Compressão Tração

Análise em condições drenadas

[kN] 𝑹𝒔,𝒌 𝑹𝒃,𝒌 𝑹𝒔,𝒅 𝑹𝒃,𝒅 𝑹𝒅 𝑹𝒔,𝒌 𝑹𝒅

Estaca Moldada

754 1161 580 725 1305 754 471

Estaca Cravada

881 943 677 726 1403 881 550

Análise em condições não drenadas

[kN] 𝑹𝒔,𝒌 𝑹𝒃,𝒌 𝑹𝒔,𝒅 𝑹𝒃,𝒅 𝑹𝒅 𝑹𝒔,𝒌 𝑹𝒅

Estaca Moldada

1921 233 1478 146 1624 1921 1201

Estaca Cravada

2185 233 1681 179 1860 2185 1366

4.5.4. Análise de resultados

No Quadro 4.11 resumem-se os resultados obtidos nas duas abordagens descritas anteriormente.

Quadro 4.11 – Resumo dos resultados obtidos para estacas com diâmetro igual a 620 mm

Método

Tipo de análise

Estaca Capacidade

resistente última [kN]

Capacidade resistente de cálculo

[kN]

Ensaio de carga estática

Tra

ção

FDP 3070 1371

Analítico

Dre

nad

a

Moldada 1056 471

Cravada 1233 550

Não

dre

nad

a

Moldada 2690 1201

Cravada 3060 1366

Co

mp

res

são

Dre

nad

a

Moldada 2681 1305

Cravada 2554 1403

Não

dre

nad

a

Moldada 3016 1624

Cravada 3386 1860

Importa referir que a NP EN 1997-1 (2010) não se encontra habilitada para a aplicação do método

analítico no dimensionamento de estacas FDP, pois os parâmetros implicados na utilização da

expressão do método analítico apenas se encontram definidos para estacas moldadas e cravadas.

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76

A mesma norma não refere coeficientes parciais de segurança para este tipo de estacas havendo a

necessidade de considerar um valor idêntico ao das estacas moldadas e cravadas. Esta

consideração é apenas uma aproximação para que seja possível determinar o valor da capacidade

resiste de cálculo para as estacas FDP facilitando comparação com as técnicas tradicionais.

Mencionar que a capacidade última da estaca FDP se encontra condicionada, uma vez que se trata

de um valor determinado com recurso a um método analítico (método de Chin-Kondner) já que o

ensaio não atingiu a rotura da estaca.

Efetuaram-se os cálculos considerando uma análise drenada e não drenada, de maneira que fosse

possível comparar os resultados teóricos com os numéricos, atingidos pela modelação de uma estaca

FDP e moldada (apresentada no Capítulo 5). Pelo mesmo motivo realizaram-se os cálculos analíticos

para estacas à compressão, pois a modelação numérica foi executada para estacas comprimidas,

sendo assim possível efetuar uma comparação dos resultados obtidos.

Analisando o valor da capacidade resistente última à tração de ambas as técnicas, embora os valores

sejam obtidos com recurso a métodos distintos, como seria espectável é notória a maior capacidade

de carga da estaca FDP. A capacidade de carga, tanto última como de cálculo, da estaca FDP

aproxima-se dos valores atingidos considerando uma análise não drenada. Este tipo de análise

caracteriza o que ocorre num curto espaço de tempo, definindo o procedimento de um ensaio de

carga estática.

Finalmente referir que os valores de cálculo obtidos para todas as situações, tração ou compressão,

condições drenadas ou não drenadas, se encontram sobrestimados, pois foram determinados com

base em apenas um ensaio de carga estática (reduzindo a capacidade de carga característica, pois o

fator de correlação (ξ) é superior quanto menor for o número de estacas ensaiadas).

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77

Capítulo 5. Caso de Estudo – Passante di Mestre

5.1. Enquadramento geral

Em obras subterrâneas com nível freático elevado subsiste sempre o problema de anular a pressão

de água existente na laje de fundo para que não ocorra empolamento da mesma. Ao peso próprio

final da estrutura pode ser incumbida a função de anular esta pressão que surge pelo nível freático se

encontrar à superfície, no entanto, muitas vezes o peso próprio não é suficiente, por isso recorre-se a

sistemas de fixação da laje de fundo, como por exemplo barras de ancoragem passiva de elevada

resistência, micro-estacas de elevada resistência, jet-grouting reforçado, estacas moldadas de

elevado diâmetro ou estacas cravadas.

A principal função destes sistemas é mobilizar a pressão da água com o atrito lateral e também

aumentar o peso próprio da estrutura. Este último fator apenas é significativo para estacas com

elevado diâmetro. Na Figura 5.1 é possível analisar o fenómeno descrito acima.

Legenda:

sw – Pressão da água na laje de fundo;

ζf – Atrito lateral na estrutura;

Ts – Peso próprio da estrutura;

Ta – Força de tração dos elementos verticais.

A escolha de qual o melhor sistema a utilizar depende de diversas condições, nomeadamente a

disponibilidade de recursos e materiais, espaço disponível para construção, quantidade de trabalho

que exige e otimização da relação custo/beneficio. Atualmente, a elevada capacidade de carga das

estacas tem sido o principal requisito exigido pelos projetistas de estruturas. Combinando esta

especificidade com a elevada velocidade de execução, ausência de vibrações e resíduos durante a

escavação eleva esta técnica de construção, tornam-se assim uma escolha plausível.

O presente capítulo tem como principal objetivo ilustrar as principais diferenças entre as técnicas

mais utilizadas (estacas moldadas) e a em estudo nesta dissertação (estacas FDP). Para tal recorreu-

se a uma obra em que no projeto inicial estava previsto a concretização de estacas moldadas em

comunhão com micro-estacas e durante a execução da obra concluiu-se que seria mais rentável a

nível monetário e de tempo substituir esta solução por estacas FDP.

Figura 5.1 – Mecanismo de mobilização da pressão de

água exercida na laje de fundo (Bringiotti et al, 2008)

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78

De modo a comprovar-se que com as estacas FDP se obtém melhores resultados que com as

estacas moldadas, recorreu-se a um programa de elementos finitos Plaxis 2D (versão 8.2) para

dimensionar um ensaio de carga estática para cada uma das soluções e comparar. Note-se que esta

comparação apenas é possível, uma vez que se possuiu os dados reais de um ensaio de carga

estática efetuado em obra a uma estaca FDP:

Importa referir que a análise numérica foi desenvolvida de forma simplificada, em particular no que diz

respeito à modelação dos efeitos de instalação/execução das estacas FDP. Esta simplificação foi

sustentada pelo principal objetivo desta dissertação (estudo da tecnologia FDP) e pelas limitações do

software utilizado na modelação dos referidos efeitos.

5.2. Passante di Mestre

A autoestrada A4 é uma das principais artérias a norte de Itália que conecta Torino a Sistiana. É

composta por cinco trechos principais, Torino-Milão, Milão-Brescia, Brescia-Pádua, Pádua-Veneza e

Veneza-Sistiana, e com uma extensão total de 552,4 km, como é possível ver na figura seguinte.

Figura 5.2 – Desenvolvimento da auto-estrada A4 (Google, 2014)

Com o passar dos tempos a afluência de tráfego de automóveis e caminhões que passam por mestre

com destino outros países da Europa como por exemplo Áustria e Eslovénia aumentou

exponencialmente. Por esta razão houve necessidade de criar uma nova rota, denominada por

Passante di Mestre, de modo a permitir a separação de fluxos de tráfego.

A autoestrada Passante di Mestre, inaugurada a 8 de Fevereiro de 2009, liga diretamente duas

secções da autoestrada A4, tendo uma interligação com a A27 (Mestre – Bellumo), como é possível

analisar na Figura 5.3. Esta tem uma extensão de 32,3km e largura de 32,5 m, constituída por 2

faixas de rodagem com 3 vias de transito em cada sentido (cada via tem uma largura de 3,75 m),

para além disso contém ainda uma faixa de emergência com 3m de largura em cada direção.

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79

A figura seguinte ilustra a autoestrada Passante di Mestre, bem como as restantes autoestradas

existentes na zona.

Figura 5.3 – Auto-estrada Passante di Mestre (Google, 2014)

Atualmente nesta autoestrada circulam em média 150 mil veículos por dia, incluindo trafego local e

trânsito, atingindo um pico de 170 mil ou mais. Note-se ainda que está previsto um aumento de 4%

por ano. Este trajeto não se trata de uma alternativa simples, mas permitira separação de fluxos e

reduzir o tráfego, a sua implementação funcionou como um sistema de reorganização das estradas

comuns, uma vez que desvia veículos de transporte que têm como destino outros países da Europa.

5.2.1. Troço de estrada entre túneis Vetrego e Caltana

As primeiras construções que se encontram na autoestrada Passante di Mestre são os túneis Vetrego

e Caltana executados recorrendo à técnica “cut and cover”, ou seja escavação em céu aberto.

O túnel Vetrego consiste numa passagem subterrânea com um comprimento de 989,7 m. Como

mencionado anteriormente, foi executado segundo a técnica “cut and cover” em que inicialmente

procede-se a escavação até à cota pretendida. Durante a fase construtiva o primeiro procedimento

consiste em executar a laje de fundo e à posteriori os pilares e parede. No Anexo A.1. é possível

constatar o seu faseamento construtivo.

O túnel de Caltava tem uma extensão de 180m e o processo construtivo no que diz respeito à

escavação e fixação da laje de fundo é idêntico ao troço de estrada que será descrito seguidamente

com a nuance que o elemento de fixação consiste apenas em estacas moldadas com 1200 mm de

diâmetro e não se recorre a ancoragens provisórias na fixação das estacas-prancha. O Anexo A.2.

apresenta o processo construtivo correspondente a este túnel.

Entre os dois túneis descritos nos últimos dois parágrafos, tem-se uma extensão de estrada com 1,3

km. Como este troço possuiu o nível freático à superfície e o peso próprio do pavimento não é

suficiente para anular a pressão de água, houve necessidade de recorrer a um sistema resistente de

fixação da laje de fundo que contém duas funções, em primeiro lugar anular a pressão da água e

limitar as deformações devido a momentos fletores. O sistema de fixação definido em projeto consiste

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80

em estacas moldadas com 1200 mm de diâmetro em junção com micro-estacas com 300 mm de

diâmetro, ambas com 18 m de comprimento. Como a estrada encontra-se a uma cota de -8,0 m

houve necessidade de, em primeiro lugar, efetuar uma escavação até à cota pretendida tendo em

conta que o nível freático se encontra à superfície. Como tal, recorre-se a um sistema de contenção

capaz de impedir que a água proveniente das laterais entre para o interior da escavação. A solução

escolhida consiste em estacas-prancha com ancoragens subverticais provisórias (armadas com uma

barra de elevada resistência), sendo o sistema de contenção uma solução a longo prazo. No Anexo

A.3. encontra-se o faseamento construtivo deste troço de estrada.

A Figura 5.4 apresenta uma fotografia de Passante di Mestre após a sua construção, onde se

representa o sistema de contenção (estacas-prancha) e o sistema de fixação da laje de fundo.

Figura 5.4 – Passante di Mestre (Google, 2014)

A figura seguinte ilustra o pormenor da solução de fixação do pavimento adotada em projeto.

Figura 5.5 – Pormenor do sistema de fixação inicial (Bringiotti et al, 2008)

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81

No entanto, durante a fase de construção decidiu-se substituir a metodologia ilustrada na Figura 5.5

por estacas FDP. Recorreu-se à técnica de ponteira perdida, uma vez que se introduz a armadura na

estaca antes de se betonar a estaca. Estas terão 20 m de comprimento, com início a uma

profundidade de 8 m e 620 mm de diâmetro.

Esta alteração deveu-se ao facto de FDP ser uma técnica que não exige remoção do terreno, contém

elevada produtividade, isto é a produção de 8-9 estacas diariamente com tempo de perfuração de

cerca 20 a 25 minutos (dependendo do grau de densificação do solo) e assim se obtém menores

deformações e consequente redução do nível de trabalhabilidade com o betão e armadura, uma vez

que a armadura é introduzida no interior do equipamento de perfuração.

A figura seguinte ilustra, esquematicamente, o pormenor construtivo das estacas FDP como sistema

de fixação da laje de fundo, ou seja, o sistema utilizado em obra.

Figura 5.6 – Pormenor construtivo das FDP como sistema de fixação (Bringiotti et al, 2008)

Importa salientar que embora a estaca FDP se encontre a trabalhar à tração e o ensaio de carga

estática tenha sido executado à tração, decidiu-se pela modelação numérica de uma estaca à

compressão. Tal deveu-se ao facto de que o principal objetivo desta modelação é comparar o

comportamento de uma estaca FDP com as soluções tradicionais que em cerca de 90% dos casos

encontram-se a trabalhar à compressão, tratando-se da solução mais comum para estacas

carregadas axialmente.

Apenas foi possível efetuar a simulação do ensaio de carga estática à compressão, através de uma

pré-análise de uma estaca FDP à compressão e tração, concluiu-se que ambas têm o mesmo

comportamento, isto é para o nível de carregamento que lhes é imposto ambas resistem apenas por

atrito lateral (sendo a resistência na ponta nula), como é possível analisar-se na Figura 5.7. Para

além disso concluiu-se que os valores obtidos à compressão são semelhantes aos de tração, com a

nuance que os de tração são mais desfavoráveis, como seria espectável.

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82

Figura 5.7 – Esforço axial da estaca FDP à compressão e tração

5.3. Caracterização geotécnica

Para a caracterização geotécnica do terreno recorre-se a testes laboratoriais e resultados de diversas

prospeções geotécnicas realizadas in situ. Esta prospeção geotécnica constituiu em testes CPTU e

instalação de piezómetros.

Concluiu-se então que o local de estudo é caracterizado, essencialmente, por sedimentos de aluviões

com alternância de areias sem coesão. De uma forma pormenorizada, sob a camada superficial de

solo, com espessura desprezável, tem-se até à cota 4,8 m areia siltosa média-fina uniforme. A partir

desta profundidade até 7,2 m contém argila siltosa não homogénea, posteriormente identificou-se

uma camada com 1,4 m de espessura composta por areia média-fina pouco siltosa, de seguida

desde dos 8,6 m até 11,2 m de profundidade é predominante um material com alguma coesão

denominada por argila siltosa. A penúltima camada possuiu uma espessura de 8 m e é constituída

por areia fina fracamente siltosa e finalmente a última camada que atinge os 35 m de profundidade é

formada por argila siltosa e sedimentos argilosos intercalados com camadas de areia.

O quadro que se segue resume as camadas que constituem o solo e correspondentes parâmetros

que as caracterizam.

Quadro 5.1 - Caracterização geotécnica (Bringiotti et al, 2008)

Camada Descrição Profundidade Ƴ

[kN/m3]

ϕ'

[⁰] c’

[kPa] Início Final

1 Areia siltosa média-

fina 0 5,0 18,50 36 0

2 Argila siltosa 5,0 7,0 19,0 28 5

3 Areia siltosa média-

fina 7,0 8,5 18,50 38 0

-30

-25

-20

-15

-10

-5

0 500 1000 1500 2000 2500 3000P

rofu

nd

idad

e (

m)

Esforço Axial (kN)

Estaca FDP - compressão

Estaca FDP - tracção (emmódulo)

Camada 3 Areia siltosa

Camada 4 Argila siltosa

Camada 5

Areia ligeiramente

siltosa

Camada 6

Argila siltosa com sedimentos

argilosos

/// \\\ // \\

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83

Quadro 5.1- Caracterização geotécnica (Bringiotti et al, 2008) (continuação)

Camada Descrição Profundidade Ƴ

[kN/m3]

ϕ'

[⁰] c’

[kPa] Início Final

4 Argila siltosa 8,5 11,0 19,0 28 5

5 Areia ligeiramente

siltosa 11,0 19,0 19,0 39 0

6 Argila siltosa com

camadas de areia 19,0 35,0 20,0 32 10

5.4. Modelação numérica

5.4.1. Método de elementos finitos

O método de elementos finitos surgiu em meados do século XX como resposta a muitas limitações

que existiam na análise de meios contínuos, pois inicialmente esta era efetuada pela resolução de

equações de derivadas, tendo em conta as condições de fronteira. Como se tratava de uma prática

de elevada complexidade esse procedimento apenas era aplicado a meios contínuos homogéneos e

de geometria simples. Com intuito de simplificar esse método era constante a substituição de

derivadas exatas por derivadas aproximadas, surgindo assim o método de diferenças finitas. Com o

aparecimento dos computadores é possível encontrar uma solução para os procedimentos analíticos

utilizados anteriormente, surgindo o método de elementos finitos.

Este método, tal como o nome indica, consiste num modelo matemático dividido em elementos de

dimensão finita interligados por meio de um número de pontos, denominados por nodais. Os

elementos finitos podem ser classificados como:

i) Unidimensional – A dimensão longitudinal do elemento é dominante em relação às

restantes dimensões;

ii) Bidimensionais - Duas dimensões são influentes e a terceira não tem relevância;

iii) Tridimensionais – Todas a dimensões são importantes.

Dentro dos modelos bidimensionais tem-se o modelo que é utilizado quando se pretende a

modelação de uma estrutura simétrica com secção transversal circular e carregamentos uniformes

em torno do eixo vertical (eixo y), sendo o estado de tensão e deformação considerados idênticos em

qualquer direção radial. A Figura 5.8 apresenta um exemplo de um modelo axissimétrico.

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84

Figura 5.8 – Exemplo de um problema axissimétrico (Brinkgreve et al, 2004 mencionado em Vieira, 2013)

Na elaboração da modelação tem que ser tida em consideração qual o tipo de análise e

aproximações que se assemelham ao modelo físico inicial. Após efetuadas essas escolhas, o

comportamento do modelo aproximar-se-á mais do modelo matemático quanto mais fina for a malha

de elementos finitos, quer isto dizer que quanto mais elementos finitos possuir o modelo, os

resultados obtidos serão mais próximos da realidade.

Atualmente, este é método mais utilizado em diversos softwares para obter aproximações de

situações reais em engenharia de estruturas. Tem como principal objetivo determinar o estado de

tensão e deformação de um sólido. Os resultados obtidos acomodam uma boa aproximação da

realidade se os parâmetros utilizados na caracterização do cenário geológico e geometria

corresponderem à situação real. (Azevedo, 2003).

5.4.2. Geometria e modelo de cálculo

Para dar início à modelação do caso em estudo, primeiramente escolheu-se a geometria da malha de

elementos finitos, que consiste em elementos triangulares de 15 nós. Ainda nesta primeira etapa,

decidiu-se qual modelo a utilizar, recorreu-se ao modelo axissimétrico, pois apesar de ser um modelo

bidimensional considera um sólido de revolução, tendo em conta deslocamentos perpendiculares ao

plano, aproximando-se do caso real.

Antes de iniciar a caracterização do modelo definiu-se as dimensões da janela a utilizar. Esta

continha uma largura e altura de 60 m, a necessidade de abrigar uma elevada altura deve-se ao facto

de, entre a ponta da estaca e a base da última camada de solo dispor de uma distância significativa,

pelo menos o comprimento da estaca, para que as condições de fronteira impostas no modelo não

interferirem com os deslocamentos ocorridos na base da fundação, representando uma maior

aproximidade das condições reais.

Antecedentemente a delimitação da geometria do modelo de cálculo é necessário referir que as

fundações foram executadas a uma cota de -8m, o que indica que ocorreu uma escavação à priori.

Nesta modelação não se irá modelar as diferentes fases da escavação efetuada, pois em primeiro

lugar não se possuiu os dados necessários para tal e além disso apesar de esta influenciar o estado

de tensão inicial do solo não tem uma relevante importância na simulação do ensaio de carga

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estática. Assim sendo, a modelação terá início na camada 3, que contém 1,5 m de espessura e

encontra-se a uma cota de -7 m e apenas será representada a largura escavada, correspondendo a

32,5 m de largura, secção transversal do túnel “Caltrava”, que equivale à do troço de estrada que

antecede o mesmo.

Uma vez demarcada a janela e definidos os pressupostos a ter em conta, passou-se à caracterização

do cenário geológico. É de referir que, como se utilizou o modelo axissimétrico apenas serão

representadas metade da largura das camadas, sendo a restante parte simétrica tida em conta pelo

respetivo modelo. Com recurso ao comando Geometry Line definiu-se as 4 camadas de solo com

respetivas espessuras, como a fundação foi executada à cota -8 m foram representadas apenas as

camadas inferiores a esta cota tendo início na camada 3. Em §5.3 é possível encontrar-se a

descrição das diversas camadas de solo. Note-se que devido à problemática mencionada

anteriormente a última camada de solo contém uma espessura de 36 m, atingindo os 55m de

profundidade. Assim sendo o conjunto das camadas de solo constituiu uma largura de 16,25 m e 55

m de altura.

Representada a massa de solo, o passo seguinte consistiu em caracterizar as condições de fronteira

recorrendo ao comando Standard Fixities da janela de Input do software. Considerou-se apoios

móveis lateralmente, em que apenas são permitidos deslocamentos verticais e no que diz respeito à

base considerou-se apoios fixos que impedem deslocamentos em qualquer direção.

Em relação à materialização da estaca foi delimitada recorrendo ao comando Geometry Line. Esta

contém 0,620 m de diâmetro, sendo que apenas se representou metade (0,310 m), pela mesma

razão que se configurou apenas metade da largura das camadas de solo, e 20 m de comprimento

intercetando as 4 camadas de solo, 0,5 m da terceira camada de solo que consiste em areia siltosa

média-fina e restantes camadas. O procedimento descrito anteriormente corresponde ao utilizado

para a materialização da estaca moldada.

Em relação à estaca FDP, houve necessidade de simular a expansão da cavidade, que origina um

deslocamento horizontal ao longo do fuste da estaca, adensando o solo envolvente à mesma. A

estaca FDP foi materializada com 260 mm de raio, sendo aplicado ao longo do fuste da estaca um

deslocamento horizontal, materializado pelo comando Prescribed displacement, com um valor de

0,057 m. Este valor foi determinado sabendo que o adensamento ocorrido no solo envolvente à

estaca aumenta em cerca de 40% a área de aplicação da carga. Assim sendo os 0,057 m

corresponde ao acrescimento de raio de modo a obter-se 1,4 da área transversal da estaca. Note-se

que o Prescribed displacement possuiu o mesmo valor ao longo de todo fuste da estaca, exceto no

último 0,5 m em que este decresce para 0, uma vez que o utensílio da ferramenta de perfuração que

provoca o deslocamento horizontal não atinge a base da estaca. Assim sendo após a aplicação deste

deslocamento horizontal ocorre a expansão da cavidade em cerca de 0,05 m fazendo com que se

obtenha um raio de 0,310 m, correspondente ao raio da estaca.

De modo a haver uma separação de rigidez entre o solo e a estaca com base no comando Interface,

que se encontra no painel de input do Plaxis, aplicou-se ao longo de toda a estaca a interface que

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separa a estaca do solo. Com intuito de obter-se uma interface do lado direito da estaca, isto é

positiva, esta foi desenhada da base da estaca para o topo. Foi materializada com o material da

estaca e o Virtual tickness fator utilizado corresponde ao standard, sugerido pelo software, 0,1.

A carga considerada na modelação foi tal de forma a equivaler à carga máxima atingida pelo ensaio

de carga estática efetuado em obra. De modo a simular o ensaio de carga estática aplicou-se uma

carga distribuída em toda a secção transversal no topo da estaca, com recurso ao comando

Distributed load – load system B, com valor de 9100 kPa, corresponde a 2750 kN (valor máximo

atingido no ensaio de carga estática real) dividindo pela área transversal da estaca.

A problemática desde caso de estudo surge apenas porque o nível freático encontra-se à superfície.

Por fim na caracterização do modelo de cálculo teve-se que ter em conta a presença do nível freático,

no entanto apenas é materializado em Initial conditions.

A Figura 5.9 consiste numa ilustração da modelação numérica efetuada para a estaca FDP,

representando todas as etapas descritas anteriormente.

Figura 5.9– Ilustração do modelo numérico de uma estaca FDP (software Plaxis 2D)

5.4.3. Caracterização dos materiais

Após definir a estrutura do modelo de cálculo resta caracterizar o solo e a estaca. Note-se a

resistência e rigidez dos materiais são definidos por metro linear, pois trata-se de uma análise

bidimensional.

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CARACTERIZAÇÃO DO SOLO

Para caracterizar o solo é necessário, em primeiro lugar, definir qual o modelo a utilizar. Assim sendo,

optou-se pelo modelo Hardening Soil para as areias, 3ª e 5ª camada com intuito de simular as

deformações não lineares e o modelo de Mohr-Coulomb para 4ª e 6ª camada, isto é os solos

argilosos.

Apesar do modelo Hardening soil simular o comportamento de diversos, nomeadamente areia, argilas

e siltes e o de Mohr-Coulomb consistir num modelo utilizado para obter aproximações de “primeira

ordem” do comportamento do solo (Plaxis Manual, versão 8.2), decidiu-se pela comunhão dos dois

modelos, pois apenas desta forma conseguiu-se atingir o objetivo pretendido. Uma vez que utilizando

apenas o modelo de Mohr-Coulomb gerava uma reta linear, como seria esperado, pois trata-se de um

modelo elástico perfeitamente plástico e recorrendo apenas ao modelo de Hardening soil o

deslocamento horizontal imposto pelo Prescribed displacement não atingia o valor pretendido

Esta modelação trata-se de uma retroanálise em que o principal objetivo consiste em aproximar uma

curva de carga-assentamento numérica com a obtida no ensaio de carga estática. Após várias

iterações, em que se diferenciou diversos parâmetros decidiu-se pela utilização de dois modelos de

solo, como já mencionado, uma possível justificação para esta necessidade consiste na versão do

software que está a ser utilizada nesta modelação, ou seja a versão não é atual, contendo algumas

limitações, nomeadamente a impossibilidade de correr a modelação na totalidade quando se

pretende aplicar o modelo de Hardening soil em todas as camadas de solo.

O modelo de Hardening garante uma simulação do comportamento do solo muito próxima da

realidade, uma vez que considera o endurecimento do solo e principalmente no que diz respeito à

simulação de ciclos de carga e descarga impostos durante a fase de execução da estaca.

A definição deste modelo tem por base uma relação tensão-deformação não linear do tipo hiperbólico

tendo em consideração, através da teoria da plasticidade, que a tensão depende da rigidez, por isso

consegue representar o aumento da rigidez com o aumento da tensão efetiva. Por fim o modelo de

Hardening Soil não considera efeitos como o do deslocamento das estruturas em relação ao solo.

O modelo de Hardening Soil cinge-se a parâmetros de resistência e rigidez do solo, contudo este

modelo contém ainda parâmetros avançados que se encontram discriminados no Quadro 5.2.

Quadro 5.2 - Parâmetros que caracterizam o modelo de Hardening Soil (Plaxis Manual, versão 8)

Símbolo Descrição Unidade

Parâ

metr

os

de r

esis

tên

cia

ϕ' Ângulo de atrito interno graus

c' Coesão kPa

Ψ Ângulo de dilatação graus

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Quadro 5.2 - Parâmetros que caracterizam o modelo de Hardening Soil (Plaxis Manual, versão 8) (continuação)

Símbolo Descrição Unidade

Parâ

metr

os

de r

igid

ez

𝐸50𝑟𝑒𝑓

Módulo de deformabilidade secante em

estado triaxial para uma tensão de

referência pref

kPa

𝐸𝑜𝑒𝑑𝑟𝑒𝑓

Módulo de deformabilidade endométrico

tangente para tensão vertical e tensão de

referência

kPa

m Potência que indica a dependência da

rigidez em relação ao estado de tensão adimensional

Parâ

metr

os

avan

çad

os

𝐸𝑢𝑟𝑟𝑒𝑓

Módulo de deformabilidade na

carga/descarga em estado triaxial para

uma tensão de referência

kPa

νur Coeficiente de poisson em descarga-

carga adimensional

p’ref Tensão de referência para a rigidez kPa

𝐾0𝑛𝑐 Coeficiente de impulso em repouso adimensional

Rf Quociente entre qf e qa adimensional

De acordo como o manual do software, são disponibilizadas algumas aproximações, já que nem

sempre é possível determinar os parâmetros de rigidez a partir de correlações. As aproximações são

as seguintes:

𝐸50𝑟𝑒𝑓

≈ 𝐸; (5.1)

𝐸𝑜𝑒𝑑𝑟𝑒𝑓

≈ 𝐸50𝑟𝑒𝑓

(5.2)

𝐸𝑢𝑟𝑟𝑒𝑓

≈ 3𝐸50𝑟𝑒𝑓

(5.3)

Em relação ao modelo de Mohr-Coulomb, utilizado nos solos argilosos, consiste num modelo elástico

perfeitamente plástico, trata-se de uma aproximação de “primeira ordem” do comportamento do solo.

É utilizado para estimar deformações, uma vez que para cada camada estima uma rigidez média

constante em cada camada.

Este modelo constitutivo é caracterizado pelo critério de rotura de Mohr-Coulomb, isto é o material

comporta-se como elástico linear até atingir o critério de rotura, definida pela superfície de rotura de

Mohr-Coulomb.

O modelo de Mohr-Coulomb requer cinco parâmetros de solo de entrada básica, como é possível

averiguar no quadro que se segue.

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Quadro 5.3 – Parâmetros que caracterizam o modelo de Mohr-Coulomb (Plaxis Manual, versão 8)

Símbolo Descrição Unidade

E Módulo de deformabilidade kN/m2

ν Coeficiente de Poisson adimensional

ϕ' Ângulo de atrito interno graus

c' Coesão kN/m2

Ψ Ângulo de dilatação graus

Considerou-se o material como não drenado. Este tipo de material é atribuído em duas situações

distintas. A primeira refere-se quando se tem um solo com baixa permeabilidade, como é o caso dos

solos argilosos, e a segunda quando o carregamento é aplicado de forma muito rápida não havendo

tempo do acréscimo de pressão de água se dissipe. Neste caso em estudo tem-se presente as duas

situações, ou seja o perfil geotécnico contém camadas com solos argilosos e a simulação do ensaio

de carga estática representa a rápida aplicação de uma carga. A opção pelo comportamento não

drenado em todas as camadas de solo, mesmo as com elevada permeabilidade (camada 3 e 5 de

areia) corresponde ao facto de se pretender simular um ensaio de carga estática. Referir que se

efetuou uma análise não drenada em termos de tensões efetivas, isto é selecionou-se a opção “não

drenada” para o solo e introduziu-se os parâmetros de resistência efetiva (ϕ’ e c’).

A determinação do módulo de deformabilidade (E), que serve de aproximação para os restantes

parâmetros de rigidez no caso do modelo de Hardening soil, foi efetuada iterativamente, de modo a

aproximar a curva de carga-deslocamento conseguida na modelação com a obtida na execução do

ensaio de carga estática no caso de estudo.

O módulo de deformabilidade (E) trata-se de um parâmetro do solo muito difícil de estimar, pois a

relação carga assentamento não é linear. Como neste caso de estudo não se continha os valores de

E, a descrição do estado das camadas, nem nenhum parâmetro que permitisse a estimação deste

parâmetro, como por exemplo o número de pancadas NSPT, houve necessidade primeiramente de

encontrar uma gama de valores possíveis para o módulo de deformabilidade. O Quadro 5.4 contém

uma gama de valores do módulo de deformabilidade segundo Azizi (2000) citado em Vieira (2013)

Quadro 5.4 – Valores de módulo de deformabilidade (Azizi, 2000 citado em Vieira, 2013)

Consistência E (kPa) Consistência E (kPa)

Areia Argila

Muito solta <15000 Muito mole <3000

Solta 15000 – 30000 Mole 3000 – 6000

Medianamente densa

30000 – 100000 Média 6000 – 15000

Densa 100000 – 200000 Dura 15000 – 25000

Muito densa >200000 Muito dura 25000 – 40000

Rija >40000

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90

Como já mencionado o valor de E para cada camada foi determinado iterativamente, tendo em conta

a gama de valores apresentado no quadro anterior. O principal objetivo foi alcançar um valor de E

que correspondesse a um assentamento na cabeça da estaca semelhante ao obtido no ensaio de

carga estática. Referir ainda que na camada 4 e 6 em que o modelo de solo utilizado foi o de Mohr-

Coulomb, para que se aproximasse da realidade, considerou-se um incremento do módulo de

deformabilidade e da coesão em profundidade, uma vez que este modelo considera um valor de E

constante em toda a camada.

Os parâmetros utilizados no modelo de cálculo, no que diz respeito ao ângulo de atrito interno (ϕ’) e

coesão (c’), encontram-se no Quadro 5.1, pois foram valores cedidos pelo projeto e determinados a

partir de uma campanha experimental efetuada in situ.

O ângulo de dilatação é determinado com recurso ao ângulo de atrito interno. Os solos argilosos

exibem um reduzido ângulo de dilatação (Ψ), sendo por isso para as camadas 4 e 6, representadas

no Quadro 5.1, este foi considerado nulo (Ψ=0). Em relação às camadas compostas por areias,

admite-se que para ϕ’ superiores a 30º o Ψ é dado por: Ψ= ϕ’-30º, assim sendo para ϕ’ inferiores a

30º o Ψ é considerado, aproximadamente, nulo. Então a camada 3 e 5 contém um Ψ de,

respetivamente, 8 e 9º. (Marangon, s.d.).

Por fim, o coeficiente de poisson (ν), utilizado no modelo de Mohr-Coulomb, foi admitido tendo em

conta a descrição do material que compõe a camada de solo. Sendo apenas necessário para a

camada 2 e 6 compostas por solos argilosos, inicialmente, considerou-se ν igual a 0,49. Este valor foi

definido com base no Quadro 5.5, que contém valores de ν determinados com recursos a

correlações.

Quadro 5.5 - Coeficientes de Poisson (adaptado Marangon, s.d.)

No entanto, o valor máximo admitido pelo Plaxis para o coeficiente de poisson é de 0,35, uma vez

que este tem em conta automaticamente a presença de água.

Note-se que embora o coeficiente de poisson não seja um parâmetro principal no modelo de

Hardening soil existe a possibilidade de caracterizá-lo nos parâmetros avançados. Com base no

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Quadro 5.5 admitiu-se um valor de 0,3, considerando-se areia compacta devido aos elevados

módulos de deformabilidade obtidos.

O tipo de interface, considerada neste modelo de cálculo corresponde à rígida. Esta opção é utilizada

quando a interface não deve influenciar a resistência do solo circundante. Atribuindo à interface a

configuração de rígida indica que Rinter (rácio da resistência da interface com a da camada de solo) é

igual a 1,0, o que significa que a interface tem a mesma resistência que a camada. Trata-se de uma

aproximação, uma vez que na realidade a interface é mais fraca e flexível que a camada de solo,

sendo Rinter inferior a 1. Note-se que não é verdade, utilizar Rinter superior a 1, uma vez que a interface

nunca é mais resistente que a camada de solo.

O quadro que se segue resume todos os parâmetros utilizados na caracterização de cada camada.

Quadro 5.6 - Enumeração dos parâmetros utilizados na modelação e caracterização da interface

Camada

Parâmetros 3 4 5 6

E (MPa) 125 30 150 80

Einc(kPa/m) -- 75 -- 400

𝑬𝟓𝟎𝒓𝒆𝒇

(MPa) 125 -- 150 --

𝑬𝒐𝒆𝒅𝒓𝒆𝒇

(MPa) 125 -- 150 --

𝑬𝒖𝒓𝒓𝒆𝒇

(MPa) 375 -- 450 --

m 0,5

ν 0,30 0,35 0,30 0,35

φ (º) 38 28 39 32

c’(kPa) 0 5 0 10

c'inc (kPa/m) -- 1,5 -- 2,5

Ψ (º) 8 0 9 0

Tipo de modelo HS MC HS MC

Tipo de material Não drenado

Interface Rígida

HS – Hardening soil; MC – Mohr-Coulomb;

CARACTERIZAÇÃO DA ESTACA

A estaca foi caracterizada como sendo uma camada de solo. Esta foi analisada tendo como base o

modelo de cálculo elástico linear uma vez que, quando sujeito a uma força de tração, o betão tem um

comportamento elástico linear até atingir a tensão de rotura do betão à tração simples, a partir deste

valor surgem as fissuras no betão. Quanto ao tipo de material considerou-se como não-poroso; este

tipo de material é utilizado essencialmente para modelação de betão ou comportamento estrutural e é

frequentemente utilizado combinado com o modelo elástico linear.

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O modelo de cálculo utilizado neste material, elástico linear, tem como base a lei de Hooke de

elasticidade linear isotrópica (F=k.∆l) e os parâmetros que tem em conta são: peso volúmico (γ),

módulo de deformabilidade (E) e coeficiente de poisson (ν) do betão. Considerou-se um betão de

classe C30/37, como tal os valores dos parâmetros utilizados correspondem a esta classe de betão.

O quadro seguinte apresenta os valores utilizados para a caracterização da estaca, obtidos a partidos

de Gomes (1997).

Quadro 5.7 -Caracterização da estaca

Modelo de cálculo Elástico linear

Tipo de material Não-poroso

γ (kN/m3) 25

E (GPa) 32

ν 0,2

5.4.4. Malha de elementos finitos e fase de cálculos

Com a geometria do modelo integralmente definida e as propriedades dos materiais atribuídas,

procedeu-se à geração da malha de elementos finitos com objetivo de se efetuar os cálculos, para tal

recorreu-se ao comando Generate Mesh. De modo a obter-se uma melhor aproximação da situação

real em Mesh Coarseness definiu-se que a malha gerada como fina, quer isto dizer que os elementos

triangulares que constituem a malha, com 15 nós cada, têm inferior dimensão comparando com os

elementos gerados por uma malha normal. A geração da malha considera a localização dos pontos e

linhas do modelo para ter em conta cada camada de terreno, cargas e outras estruturas (Plaxis

Manual, versão 8.2).

Figura 5.10 – Malha de elementos finitos (software Plaxis 2D)

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93

Como mencionado anteriormente, o nível freático encontra-se à superfície, assim sendo, é necessário

representá-lo no modelo para que seja tido em conta na geração das tensões iniciais. Esta

representação é efetuada nas condições iniciais em que, com recurso ao comando Phreatic level,

delimitou-se o nível freático à superfície, como é possível averiguar na Figura 5.11 a). Ainda nas

condições iniciais, é possível gerar a pressão da água devido à presença do nível freático, como é

possível analisar na Figura 5.11 b). A pressão neutra assume um valor máximo de cerca de -470 kPa

ilustrando que não ocorre incrementos de pressões neutras, uma vez que este valor é semelhante à

pressão hidroestática, considerando que o modelo tem uma altura de 50 m.

a) b)

Figura 5.11 – Condições iniciais: a) posição do nível freático, b) pressões neutras para o modelo com FDP

(software Plaxis 2D)

Após a definição das condições iniciais, geração da malha de elementos finitos e posicionamento do

nível freático, seguiu-se para a fase de cálculos que considera as diversas fases do processo

construtivo. Esta etapa permite não apenas a simulação do faseamento construtivo como também a

monitorização de deslocamentos, que serão essenciais na simulação do ensaio de carga estática.

Seguidamente, antes de se proceder ao cálculo, evidenciou-se o ponto onde se pretendia obter os

deslocamentos. Deste modo com recurso ao comando Select Points for Curves demarcou-se o ponto

pretendido, localiza-se no topo da estaca, sensivelmente a meio, isto é, coincide com o eixo de

simetria. A figura seguinte ilustra o ponto em que se obteve os deslocamentos (ponta A).

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Figura 5.12 - Ponto onde se obteve os deslocamentos (software Plaxis 2D)

De seguida, procedeu-se à definição das fases construtivas. Os quadros seguintes (Quadro 5.8 e

Quadro 5.9) apresentam as diferentes fases construtivas tanto da estaca FDP como da estaca

moldada.

Quadro 5.8 – Faseamento construtivo do modelo com estaca FDP

Faseamento construtivo do modelo de cálculo com estaca FDP

Fase 0 Fase inicial - Repouso

Fase 1 Escavação e aplicação do deslocamento horizontal

Fase 2 Betonagem

Fase 3 Aplicação do carregamento

Quadro 5.9 - Faseamento construtivo do modelo com estaca moldada

Faseamento construtivo do modelo de cálculo com estaca moldada

Fase 0 Fase inicial - Repouso

Fase 1 Escavação

Fase 2 Betonagem

Fase 3 Aplicação do carregamento

É de referir que o faseamento construtivo da estaca FDP e da estaca moldada apenas difere na Fase

1, pois a estaca FDP contém um deslocamento horizontal ao longo do fuste da estaca e a estaca

moldadas não o inclui. As restantes fases são idênticas.

A fase 0 consiste numa fase definida por defeito pelo software, corresponde à Initial Fase. Nesta,

ocorrem os deslocamentos devido ao peso próprio do solo, cargas aplicadas inicialmente (que neste

caso concreto são nulas) e às condições iniciais.

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95

A fase 1, para o modelo com estaca FDP corresponde à escavação da estaca e consequente

aplicação do deslocamento horizontal exercido pela ferramenta de perfuração. A inserção desta

ferramenta no solo consiste num processo de extrema complexidade e difícil de reproduzir

numericamente. Contudo, o mais relevante desta fase construtiva consiste em recriar a cavidade para

que seja possível a aplicação do deslocamento radial. Assim procedeu-se à remoção do solo do

interior da cavidade, isto é escavação da estaca e ativação do Prescribed displacement

(deslocamento horizontal) que aumenta a tensão efetiva (x-x) em redor da estaca.

A fase 1 correspondente à estaca moldada representa apenas a escavação da mesma até à cota

pretendida.

A fase 2 é idêntica para ambas as estacas, tem como objetivo simular a remoção do trado e a

betonagem em simultâneo para que não ocorra o colapso das paredes do furo. Após a betonagem

introduz-se a armadura com recurso a vibração, é de referir que esta é significativamente reduzida

não provocando nenhuma interferência com a estaca recentemente betonada. Então, nesta fase

apenas se pretende a modelação da betonagem e ativação da interface estaca-solo.

A fase de cálculo final (fase 3), corresponde à simulação do ensaio de carga estática. Esta foi

conseguida através da ativação da tensão vertical aplicada no topo da estaca

Antes de dar inicio ao cálculo houve a necessidade de selecionar no painel Calc em Parameters a

opção Reset displacements to zero para a fase 2 e 3, porque esta modelação pretende simular um

ensaio de carga estática, então os deslocamentos que ocorrem nas fases anteriores são irrelevantes.

É importante cessar os deslocamentos das fases anteriores, pois a execução de uma estaca FDP

provoca elevadas deformações, principalmente devido ao deslocamento horizontal provocado pela

ferramenta de perfuração na fase 1. Em relação à estaca moldada, a sua execução não implica

elevadas deformações no solo sendo desnecessário a ativação desta opção. A Figura 5.13

representa a ativação da opção descrita acima.

Figura 5.13 – Activação de reset displacements to zero (software Plaxis 2D)

Importa ainda salientar que os restantes parâmetros de cálculo, como o erro associado, número de

passos de iteração foram utilizados os valores padrões do software.

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96

Descriminadas todas as fases construtivas, foi possível efetuar o cálculo. Para tal recorreu-se à

função Calculate para conseguir obter-se os deslocamentos no topo da estaca. A figura seguinte

ilustra o processamento do modelo de cálculo para uma estaca FDP.

Figura 5.14 - Fase de cálculo do modelo com estaca FDP (software Plaxis 2D)

5.4.5. Resultados da modelação

Este subcapítulo resume os resultados obtidos na modelação realizada anteriormente. Apresentam-

se os deslocamentos ocorridos nas diversas fases construtivas bem como a curva de carga-

assentamento obtida na simulação do ensaio de carga estática. Por fim, apresentam-se as tensões

efetivas horizontais, verticais, tangencias, bem como a poro-pressão e o esforço axial ao longo do

fuste da estaca, determinado a partir da tensão efetiva tangencial (σ’xy), tanto para a estaca FDP

como para a estaca moldada.

5.4.5.1. Full displacement pile (FDP)

DESLOCAMENTOS

Durante a fase de execução da estaca FDP o primeiro deslocamento surge devido à aplicação do

Prescribed displacement, o que na realidade corresponde ao adensamento do solo circundante

durante a perfuração do solo (fase 1). As figuras seguintes (Figura 5.15, Figura 5.16 e Figura 5.17)

representam, respetivamente, a configuração deformada da malha de elementos finitos e a

configuração de deslocamentos horizontais e verticais após a aplicação deste deslocamento

horizontal.

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97

Figura 5.15 – Configuração deformada da malha de elementos finitos após a perfuração do solo (ampliada 50

vezes)

Figura 5.16 – Deslocamento horizontal no final da perfuração do solo (fase 1) (deslocamento máximo 57 mm)

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Figura 5.17 – Deslocamento vertical após a perfuração do solo (Fase 1) (deslocamento máximo 55 mm)

Analisando as figuras anteriores conclui-se que durante a escavação da estaca surgem perturbações

relevantes no solo. A Figura 5.16 ilustra o deslocamento horizontal ocorrido, cerca de 57 mm valor

idêntico ao imposto pelo Prescribed displacement, como seria expectável. Em relação aos

deslocamentos verticais (Figura 5.17), é notória a perturbação ocorrida no solo devido à aplicação do

deslocamento horizontal, pois no modelo de cálculo ocorre um empolamento do solo (cerca de 55

mm) na extremidade oposta à aplicação deste carregamento. É de referir ainda que ocorre um ligeiro

assentamento (aproximadamente 15mm) na base da estaca.

Os resultados obtidos confirmam a principal desvantagem desta técnica, que consiste na perturbação

desencadeada em estruturas vizinhas resultante do empolamento que surgiu, o que seria prejudicial

para qualquer estrutura existente na periferia da construção.

As figuras seguintes (Figura 5.18 e Figura 5.19) traduzem, respetivamente a configuração deformada

da malha de elementos finitos na simulação do ensaio de carga estática (fase 3), bem como a

configuração do deslocamento total.

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99

Figura 5.18 – Configuração deformada da malha de elementos finitos após a execução do ensaio de carga

estática (ampliada 100 vezes)

Figura 5.19 - Deslocamento total na simulação do ensaio de carga estática (fase 3) (deslocamento máximo 26,51

mm)

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100

Verifica-se que o valor máximo do deslocamento (-26,51 mm) ocorre na periferia da estaca,

dissipando-se à medida que se afasta do ponto de aplicação da carga (estaca). Importa referir que na

extremidade oposta à estaca os deslocamentos não são constantes. Para contornar este aspeto,

seria necessário aumentar a largura do modelo, garantindo que a interface não influenciasse a

aplicação de carga. Contudo os deslocamentos são reduzidos, podendo ser desprezados.

A priori é conhecido que nesta fase construtiva os deslocamentos horizontais são desprezáveis, por

serem praticamente nulos. Assim procedeu-se à análise dos mesmos na secção A-A*, corresponde à

secção lateral da estaca. O deslocamento horizontal ocorre na base da estaca e não tem interferência

no valor do deslocamento total, uma vez que é muito reduzido. Relativamente ao deslocamento

vertical, este é idêntico ao total contendo o valor de -26,51mm, não tendo influência por parte do

deslocamento horizontal.

Os diagramas de deslocamentos obtidos são apresentados na Figura 5.20

=

+

DeslocamentoTotal

(máximo -26,51 mm)

a)

Deslocamento vertical

(máximo -26,51 mm)

b)

Deslocamento horizontal

(máximo 0,00124 mm)

c)

Figura 5.20 - Deslocamentos da estaca (fase 3): a) deslocamento total; b) deslocamento vertical; c)

deslocamento horizontal.

ENSAIO DE CARGA ESTÁTICA

De seguida será apresentada a curva de carga-assentamento obtida pelo software Plaxis (versão 8.2)

na simulação do ensaio de carga estática. O deslocamento máximo vertical corresponde a -26,51 mm

para uma carga de 2750 kN.

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101

Figura 5.21 – Curva de carga-assentamento para a estaca FDP

De modo a complementar o conhecimento adquirido pela análise dos deslocamentos e averiguar o

que sucede ao longo do fuste da estaca procedeu-se à análise da tensão efetiva horizontal, vertical,

tangencial, da poro pressão e finalmente determinou-se o esforço axial ao longo do fuste da estaca.

Como no modelo de cálculo a estaca foi simulada como sendo uma camada de solo, o software não

proporciona, automaticamente, esforços. Assim sendo houve necessidade de definir uma secção A-

A* com recurso ao comando section presente no output do software. Esta secção corresponde à

interface entre a estaca e o solo.

TENSÃO EFETIVA HORIZONTAL

A figura seguinte ilustra a tensão horizontal ao longo do fuste da estaca para as três fases

construtivas, sendo fase 1 – Perfuração do solo e aplicação do deslocamento horizontal, fase 2 –

betonagem da cavidade da estaca e fase 3 – simulação do ensaio de carga estática.

Figura 5.22 – Tensão efetiva horizontal ao longo do fuste da estaca FDP

Analisando a fase 1 e 2, estas têm um desenvolvimento idêntico ao longo do fuste da estaca. Este

comportamento já seria esperado, uma vez que devido à aplicação do deslocamento horizontal na

fase 1 tem-se um aumento da tensão efetiva horizontal, já que este deslocamento adensa o solo na

0,0

5,0

10,0

15,0

20,0

25,0

30,0

0 500 1000 1500 2000 2500 3000

Ass

en

tam

en

to (

mm

) Carga (kN)

Estaca FDP

-30

-25

-20

-15

-10

-5

-1500 -1250 -1000 -750 -500 -250 0

Pro

fun

did

ade

(m

)

Tensão Efetiva Horizontal (kPa)

Estaca FDP - Fase 1

Estaca FDP - Fase 2

Estaca FDP - Fase 3

Camada 3 Areia siltosa

Camada 4 Argila siltosa

Camada 5

Areia ligeiramente

siltosa

Camada 6

Argila siltosa com sedimentos

argilosos

/// \\\ // \\

Page 128: Fundações e Tratamento de Solos com Recurso à Técnica de … · Resumo Com a evolução dos tempos, a necessidade de conceber novas técnicas de fundações profundas otimizando

102

envolvente à estaca. Contudo na fase 2, que corresponde à betonagem da estaca, não ocorreu um

aumento destas tensões, pois na modelação numérica não foi considerada a pressão exercida pelo

betão nas paredes do furo. Caso se tivesse tido em conta esta pressão seria provável que ocorresse

um aumento da tensão efetiva horizontal da fase 1 para a 2.

Referir que as tensões efetivas horizontais assumem valores negativos, pois o carregamento imposto

é de compressão. Contudo na análise efetuada ir-se-á considerar os valores em módulo.

Como seria espectável, na fase 3, que corresponde à simulação do ensaio de carga estática, tem-se

um aumento da tensão efetiva horizontal, devido à aplicação da carga. No entanto este aumento não

é verificado em todas as camadas, como é possível observar na Figura 5.22, uma vez que este

aumento acorre apenas nas camadas arenosas (camada 3 e 5). Este aspeto pode ser explicado pela

técnica utilizada, pois a técnica de estacas FDP é definida por melhorar as características do solo que

compõe o perfil geotécnico. No caso de solos arenosos esta técnica melhora o seu comportamento

agrupando as partículas do solo, contudo quando executado em solos argilosos pode agravar o seu

comportamento, uma vez que produz elevadas perturbações no solo podendo ocorrer o

desconfinamento do mesmo. Tendo em conta que a camada 6 encontra-se a uma elevada

profundidade e é composta por materiais argilosos, o processo descrito anteriormente caracteriza a

diminuição da tensão efetiva horizontal nesta camada.

De modo a analisar-se a tensão efetiva horizontal transversalmente à estaca, efetuaram-se dois

cortes, a meio da camada 5 e 6, de modo a obter-se o perfil correspondente à tensão efetiva

horizontal. Note-se que nos gráficos apresentados na Figura 5.23, o eixo horizontal encontra-se

normalizado pelo raio da estaca (310 mm).

Figura 5.23 – Tensão efetiva horizontal transversalmente à estaca FDP

-250

-200

-150

-100

-50

0

1 1,2 1,4 1,6 1,8 2

σ'x

x [k

Pa]

x/r

Corte B-B*- Fase 1

Corte B-B* - Fase 2

Corte B-B* - Fase 3

-300

-250

-200

-150

-100

-50

0

1 1,2 1,4 1,6 1,8 2

σ'x

x [k

Pa]

x/r

Corte C-C*- Fase 1

Corte C-C* - Fase 2

Corte C-C* - Fase 3

Camada 4

Camada 5

Camada 6

Camada 3

-15 m

-24 m

B B*

C C*

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103

A figura anterior confirma os dados obtidos e analisados anteriormente no que diz respeito à tensão

efetiva horizontal, isto é na camada 5 (corte B-B*) tem-se um aumento desta tensão na fase 3,

enquanto as fases 1 e 2 são praticamente coincidentes. Para o corte C-C* (camada 6), tem-se uma

diminuição da tensão efetiva horizontal sendo que depois mantem-se constante à medida que se

afasta da estaca. Note-se que no gráfico correspondente ao corte B-B* tem-se uma variação da

tensão junto ao bordo do modelo de cálculo, devendo-se a erros na interpolação dos dados pelo

software utilizado.

TENSÃO EFETIVA VERTICAL

Os resultados obtidos para a tensão efetiva vertical ao longo do fuste da estaca encontram-se

esquematizados na figura seguinte.

Figura 5.24 – Tensão efetiva vertical ao longo do fuste da estaca FDP

Uma vez mais, os resultados ilustram um aumento da tensão efetiva vertical na fase 3, tal como

acontecia para a tensão efetiva horizontal. Tal deveu-se à aplicação da carga que origina um

aumento de tensões na envolvente à estaca. É possível concluir-se, através da análise da figura

anterior, que há um aumento da tensão efetiva vertical na camada 5 (analisando os valores em

módulo), quando comparada com a camada 6. Isto justifica-se essencialmente pelo facto da camada

5 ser constituída por um material arenoso com uma capacidade resistente superior à da camada 6,

composta por materiais argilosos.

PORO-PRESSÃO

O desenvolvimento da poro-pressão ao longo do fuste da estaca encontra-se apresentado na Figura

5.25. Importa referir que esta é apenas caracterizada até 26 m de profundidade, isto é aos de 18 m

do comprimento da estaca, pois os resultados obtidos nos últimos 2 m se tratavam de valores

irrealistas que devido a erros na interpolação dos dados pelo software de elementos finitos utilizado.

-30

-25

-20

-15

-10

-5

-800 -700 -600 -500 -400 -300 -200 -100 0

Pro

fun

did

ade

(m

)

Tensão efetiva vertical (kPa)

Estaca FDP - Fase 1

Estaca FDP - Fase 2

Estaca FDP - Fase 3

Camada 3 Areia siltosa

Camada 4 Argila siltosa

Camada 5

Areia ligeiramente

siltosa

Camada 6

Argila siltosa com sedimentos

argilosos

/// \\\ // \\

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104

Figura 5.25 – Excesso de poro pressão ao longo do fuste da estaca FDP

Analisando o comportamento, concluiu-se que o excesso de poro-pressão tem um desenvolvimento

semelhante tanto para a fase 1 como para a fase 2, com a exceção da interface entre cada camada

que origina picos distintos. Estes picos de poro-pressão não são considerados na análise uma vez

que surgem devido à diferença de rigidezes existente entre cada camada.

Para além disso é notório que a poro-pressão é positiva nas camadas arenosas e negativa nas

argilosas. Este comportamento é justificado juntamente com os resultados obtidos para a tensão

efetiva vertical, pois quando a poro-pressão é negativa tem-se um aumento da tensão efetiva vertical

e quando esta é positiva a tensão efetiva vertical diminuiu (considerando que a tensão efetiva vertical

é negativa), como é possível observar na Figura 5.24. Assim sendo quando as camadas têm uma

maior capacidade resistente, têm uma menor tensão efetiva vertical que original um aumento da poro

pressão.

TENSÃO EFETIVA TANGENCIAL

Determinou-se a tensão efetiva tangencial ao longo do fuste da estaca, tanto para a fase 2 como para

a fase 3, e os resultados encontram-se apresentados na Figura 5.26. Analisando os resultados

obtidos concluiu-se, como seria esperado, que a tensão efetiva tangencial é positiva na fase de

aplicação da carga (fase 3) ilustrando o atrito lateral positivo. As camadas compostas por materiais

arenosos têm uma maior tensão efetiva tangencial, como seria previsto, uma vez que possuem uma

maior capacidade resistente. Referir ainda que a curva a azul apresenta o diagrama de tensão efetiva

tangencial ao longo do fuste da estaca correspondente à fase 2, isto é no final da betonagem da

estaca. A existência de tensão efetiva tangencial antes do ensaio de carga estática é justificada pelo

processo construtivo da estaca FDP que melhora o solo envolvente à estaca. Na camada 5, nesta

fase, obtém-se uma tensão efetiva negativa, que corresponde a atrito negativo. Trata-se de um

acontecimento não justificado pelo processo construtivo das estacas FDP, por isso concluiu-se que

consiste num erro numérico, uma vez que não são atingidos valores relevantes.

-30

-25

-20

-15

-10

-5

-1000 -750 -500 -250 0 250 500 750 1000 1250

Pro

fun

did

ade

(m

)

Excesso de poro pressão (kPa)

Estaca FDP - Fase 2

Estaca FDP - Fase 3

Camada 3 Areia siltosa

Camada 4 Argila siltosa

Camada 5

Areia ligeiramente

siltosa

Camada 6

Argila siltosa com

sedimentos argilosos

/// \\\

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105

Figura 5.26 – Tensão efetiva tangencial ao longo do fuste da estaca FDP

ESFORÇO AXIAL

Uma vez que a execução da estaca FDP gera tensões efetivas tangenciais, para que seja possível

determinar o esforço axial é necessário subtrair o diagrama corresponde à fase 2 ao da fase 3. Ou

seja a tensão efetiva tangencial que origina o esforço axial, corresponde à área compreendida entre

as duas curvas. Na Figura 5.27 ilustra-se, à esquerda a área que define a tensão efetiva tangencial

utilizada para o cálculo do esforço axial e à direita a curva corresponde a esta área.

a) b)

Figura 5.27 – a) Delimitação da área entre as curvas de tensão efetiva tangencial correspondente à fase 2 e 3; b)

tensão efetiva tangencial total da estaca FDP

Com base nos valores da tensão efetiva tangencial foi possível determinar o esforço axial ao longo do

fuste da estaca. Primeiramente multiplica-se a área lateral, definida pela expressão (5.4), pela tensão

efetiva tangencial. O diagrama de esforço axial é obtido subtraindo o valor anterior à carga aplicada

-30

-25

-20

-15

-10

-5

-200 -100 0 100 200 300 400 500

Pro

fun

did

ade

(m

)

Tensão efetiva tangencial (kPa)

Estaca FDP - Fase 2

Estaca FDP - Fase 3

Camada 3 Areia siltosa

Camada 4 Argila siltosa

Camada 5

Areia ligeiramente

siltosa

Camada 6

Argila siltosa com

sedimentos argilosos

/// \\\ // \\

-30

-25

-20

-15

-10

-5

0 100 200 300 400 500 600

Pro

fun

did

ade

(m

)

Tensão efetiva tangencial (kPa)

Diferença entreFase 3 e 2

Camada 3 Areia siltosa

Camada 4 Argila siltosa

Camada 5

Areia ligeiramente

siltosa

Camada 6

Argila siltosa com

sedimentos argilosos

/// \\\

Page 132: Fundações e Tratamento de Solos com Recurso à Técnica de … · Resumo Com a evolução dos tempos, a necessidade de conceber novas técnicas de fundações profundas otimizando

106

no topo da estaca (2750 kN). Note-se que foi necessário dividir a estaca em diversas seções de modo

a que seja possível calcular a área lateral da estaca.

No Quadro 5.10 encontram-se os cálculos efetuados.

A𝑠 = 2πrh (5.4)

Em que,

As - área lateral da estaca;

r – raio da estaca (310 mm);

h – altura;

Quadro 5.10 – Esforço axial ao longo do fuste da estaca FDP

Camada (σ'xy)méd

[kPa]

Altura

[m]

Área Lateral

[m2]

Esforço Axial

[kN]

3 209,5 0,5 0,97 2545,9

4 25,4 2,5 4,87 2422,53

5 135,5 4,0 7,79 1366,8

5 195,9 4,0 7,79 -159,34

6 117,5 4,0 7,79 -1075,1

6 134,0 5,0 9,74 -1745,1

Com recurso aos valores presentes no Quadro 5.10 determinou-se o diagrama de esforço axial

apresentado na Figura 5.28.

Figura 5.28 – Diagrama de esforço axial para a estaca FDP

-30

-25

-20

-15

-10

-5

0 500 1000 1500 2000 2500 3000

Pro

fun

did

ade

(m

)

Esforço Axial (kN)

Estaca FDP

Camada 3 Areia siltosa

Camada 4 Argila siltosa

Camada 5

Areia ligeiramente

siltosa

Camada 6

Argila siltosa com sedimentos

argilosos

/// \\\ // \\

Page 133: Fundações e Tratamento de Solos com Recurso à Técnica de … · Resumo Com a evolução dos tempos, a necessidade de conceber novas técnicas de fundações profundas otimizando

107

A partir da análise da figura anterior é possível concluir-se que a cerca de metade da camada 5 o

esforço axial atingir o zero, numericamente equivale aos valores negativos obtidos, indicando que

apenas metade da estaca se encontra a resistir à carga que lhe é imposta. Deste modo o restante

comprimento da estaca é desprezável, uma vez que toda a carga já foi dissipada.

5.4.5.2. Estaca moldada

DESLOCAMENTOS

Durante a execução de uma estaca moldada não se prossupõe a existência de deslocamentos

horizontais durante a fase de perfuração. Por esta razão apenas os deslocamentos que ocorrem na

simulação do ensaio de carga (fase 3) são relevantes. Importa referir que esta estaca foi simulada

com parâmetros do solo e geométricos idênticos à estaca FDP, para que posteriormente seja

possível efetuar uma comparação direta entre ambas.

As figuras seguintes (Figura 5.29 e Figura 5.30) representam, respetivamente a configuração

deformada da malha de elementos finitos e a configuração de deslocamentos totais.

Figura 5.29 - Configuração deformada da malha de elementos finitos após a perfuração do solo (ampliada 50

vezes)

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108

Figura 5.30 – Deslocamento total após simulação do ensaio de carga estática (deslocamento máximo 66,14 mm)

A partir das figuras anteriores é possível concluir que os deslocamentos máximos ocorrem no

contorno da estaca, ao longo de todo o fuste. Tal como acontecia com as estacas FDP o

deslocamento horizontal não tem um elevado ênfase para o deslocamento total, surgindo apenas na

base na estaca, como é possível observar-se na Figura 5.31.

=

+

DeslocamentoTotal

(máximo -66,14 mm)

a)

Deslocamento vertical

(máximo -66,14 mm)

b)

Deslocamento horizontal

(máximo 0,005 mm)

c)

Figura 5.31 - Deslocamentos da estaca: a) deslocamento total; b) deslocamento vertical; c) deslocamento

horizontal

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109

ENSAIO DE CARGA ESTÁTICA

Após a simulação do ensaio de carga estática, registou-se a seguinte curva de carga assentamento

(Figura 5.32), com recurso ao software Plaxis (versão 8.2). Refira-se que para uma carga de 2750 kN

atingiu-se um deslocamento vertical máximo de -66,14 mm.

Figura 5.32 – Curva de carga-assentamento para o modelo de cálculo com estaca moldada

No que diz respeito à estaca moldada os parâmetros apresentados seguidamente apenas dizem

respeito à fase 3, simulação do ensaio de carga estática, uma vez que as fases iniciais não provocam

perturbações no solo, ao contrário do que acontecia com a estaca FDP:

TENSÃO EFETIVA HORIZONTAL

Os resultados obtidos relativamente à tensão efetiva horizontal para a estaca moldada encontram-se

apresentados na Figura 5.33.

Figura 5.33 – Tensão efetiva horizontal ao longo do fuste da estaca moldada

0

10

20

30

40

50

60

70

0 500 1000 1500 2000 2500 3000

Ass

en

tam

en

to (

mm

)

Carga (kN)

-30

-25

-20

-15

-10

-5

-1000 -750 -500 -250 0

Pro

fun

did

ade

(m

)

Tensão Efetiva Horizontal (kPa)

Estaca Moldada - Fase 1 e 2

Estaca Moldada - Fase 3

Camada 3 Areia siltosa

Camada 4 Argila siltosa

Camada 5

Areia ligeiramente

siltosa

Camada 6

Argila siltosa com sedimentos

argilosos

/// \\\ // \\

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110

Como referido anteriormente apenas se tem tensão efetiva horizontal na fase 3. Analisando a curva

ao longo do fuste da estaca é notório que a tensão efetiva horizontal varia consoante a camada,

sendo superior nas camadas compostas por materiais arenosos (analisando os resultados em

módulo).

É esperado que o diagrama contenha valores de pico na interface de cada camada devido às

diferenças de rigidez. Contudo ao longo da camada 5 verificam-se diversos valores de picos, uma vez

que não há uma explicação para este acontecimento, é justificado por problemas na interpolação dos

dados pelo software.

Determinou-se, assim como para a estaca FDP, a tensão efetiva horizontal transversalmente à estaca

para dois cortes distintos, como é possível averiguar-se na Figura 5.34. Uma vez mais, o eixo das

abcissas dos gráficos apresentados na figura seguinte encontram-se normalizados pelo raio da

estaca (310 mm).

Figura 5.34 – Tensão efetiva horizontal transversalmente à estaca moldada

Através da análise da Figura 5.34 é possível concluir-se, que a tensão efetiva horizontal aumenta à

medida que se afasta da estaca, uma devido às perturbações que ocorrem na sua envolve. No corte

C-C* as tensões efetivas horizontais são superiores quando comparadas com o corte B-B*, uma vez

que o solo tem um maior confinamento.

TENSÃO EFETIVA VERTICAL

Para a tensão efetiva vertical ao longo do fuste da estaca moldada os resultados obtidos encontram-

se apresentados na Figura 5.35.

-300

-250

-200

-150

-100

-50

0

1 1,2 1,4 1,6 1,8 2

σ'x

x [k

Pa]

x/r

Corte B-B* - Fase 3

-200

-150

-100

-50

0

1 1,2 1,4 1,6 1,8 2

σ'x

x [k

Pa]

x/r

Corte C-C* - Fase 3

Camada 4

Camada 5

Camada 6

Camada 3

-15 m

-24 m

B B*

C C*

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111

Figura 5.35 – Tensão efetiva vertical ao longo do fuste da estaca moldada

As fases 1 e 2 não se encontram representadas na figura anterior, uma vez que são nulas. Tal como

sucedido para a estaca FDP a tensão efetiva vertical é superior nas camadas de solos arenosos, pois

contêm uma capacidade resistente superior à das camadas argilosas (camada 4 e 6).

PORO-PRESSÃO

O diagrama de poro-pressão para a estaca moldada encontra-se representado na Figura 5.36.

Figura 5.36 – Diagrama de poro pressão ao longo do fuste da estaca moldada

O resultado obtido encontra-se em concordância com o atingido na tensão efetiva vertical, pois a poro

pressão máxima ocorre na camada 5 quando obtém-se tensão efetiva mínima (considerando que

esta atinge valores negativos), tal como registado na análise efetuada para a estaca FDP.

TENSÃO EFETIVA TANGENCIAL

-30

-25

-20

-15

-10

-5

-1000 -900 -800 -700 -600 -500 -400 -300 -200 -100 0P

rofu

nd

idad

e (

m)

Tensão Efetiva Vertical (kPa)

Estaca Moldada - Fase 3

Camada 3 Areia siltosa

Camada 4 Argila siltosa

Camada 5

Areia ligeiramente

siltosa

Camada 6

Argila siltosa com sedimentos

argilosos

/// \\\ // \\

-30

-25

-20

-15

-10

-5

-400 -200 0 200 400 600 800 1000 1200 1400

Pro

fun

did

ade

(m

)

Excesso de poro pressão (kPa)

Estaca Moldada - Fase 3

Camada 3 Areia siltosa

Camada 4 Argila siltosa

Camada 5

Areia ligeiramente

siltosa

Camada 6

Argila siltosa com sedimentos

argilosos

/// \\\ /// \\\

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112

O diagrama de tensão efetiva tangencial encontra-se esquematizado na Figura 5.37.

Figura 5.37 – Diagrama de tensão efetiva tangencial ao longo do fuste da estaca moldada

Através da análise do diagrama presente na figura anterior é facilmente distinguível a interface entre

as camadas do solo e ilustra que as camadas compostas por areias contêm uma tensão efetiva

tangencial superior às constituídas por materiais argilosos.

ESFORÇO AXIAL

Ao contrário do que se sucede para a estaca FDP, não é necessário efetuar a subtração da curva

correspondente à fase 2 à da fase 3, uma vez que a tensão efetiva tangencial é nula na fase 2.

Tal como ocorrer no modelo com estaca FDP, efetuou-se o cálculo do diagrama de esforço axial a

partir das tensões efetivas tangenciais na secção A-A* (ao longo do fuste da estaca).

Os cálculos efetuados resumem-se no Quadro 5.11 e o diagrama de esforço axial é apresentado na

Figura 5.38.

Quadro 5.11 – Esforço axial ao longo do fuste da estaca moldada

Camada (σ'xy)méd

[kPa]

Altura [m]

Área Lateral [m

2]

Esforço Axial [kN]

3 105,5 0,5 0,95 2647,3

4 24,8 2,5 4,87 2526,3

5 100,3 4,0 7,80 1745,5

5 219,3 4,0 7,80 37,2

6 114,0 4,0 7,80 -850,7

6 133,4 5,0 9,74 -2149,5

-30

-25

-20

-15

-10

-5

0 100 200 300 400 500 600P

rofu

nd

idad

e (

m)

Tensão efetiva tangencial (kPa)

Estaca Moldada - Fase 3

Camada 3 Areia siltosa

Camada 4 Argila siltosa

Camada 5

Areia ligeiramente

siltosa

Camada 6

Argila siltosa com sedimentos

argilosos

/// \\\ // \\

Page 139: Fundações e Tratamento de Solos com Recurso à Técnica de … · Resumo Com a evolução dos tempos, a necessidade de conceber novas técnicas de fundações profundas otimizando

113

Figura 5.38 – Diagrama de esforço normal para o modelo com estaca moldada

5.4.6. Análise de resultados

Neste subcapítulo serão discutidos e comparados todos os resultados apresentados em §5.4.5, tanto

para a estaca FDP como também para a estaca moldada.

DESLOCAMENTOS

Em termos de deslocamentos, as soluções encontram-se sujeitas a tipos de carregamento diferentes

o que implica campos de deslocamentos distintos. A primeira solução (modelo de cálculo com estaca

FDP) contém na sua fase inicial de construção (fase 1) a aplicação de um deslocamento horizontal

que tem como único objetivo agrupar lateralmente o solo adjacente, adensando-o. Da sua aplicação

advém vantagens e desvantagens. O benefício da sua execução consiste no facto de este melhorar

as características do solo envolvente à estaca, como já foi certificado em §3.5.2, limitando as

deformações que possam ocorrer e aumentando a capacidade de carga. Contudo este tem influência

não só em redor da estaca, como se estende lateralmente ao longo das camadas de solo, como é

possível averiguar na Figura 5.16 presente em §5.4.5.1, a sua propagação afeta o campo de

aplicação desta técnica, pois pode danificar estruturas vizinhas.

As fases 1 de ambas as soluções não podem ser comparáveis, uma vez que são distintas, pelo que

foi referido no parágrafo anterior. Na modelação da estaca moldada não ocorrem deslocamentos

horizontais relevantes no solo, pois o processo de perfuração não é invasivo.

No que diz respeito à fase 3, simulação do ensaio de carga estática, as duas soluções têm

comportamentos semelhantes, isto é, o campo de deslocamentos, tanto verticais como horizontais,

que ocorre é análogo como é possível averiguar em análise da Figura 5.20 e Figura 5.31 em

simultâneo. Conclui-se que os diagramas de deslocamentos verticais e horizontais no fuste da estaca

têm a mesma configuração, para as duas técnicas, contudo com grandezas distintas. O único fator

-30

-25

-20

-15

-10

-5

0 500 1000 1500 2000 2500 3000P

rofu

nd

idad

e (

m)

Esforço Axial (kN)

Estaca Moldada

Camada 3 Areia siltosa

Camada 4 Argila siltosa

Camada 5

Areia ligeiramente

siltosa

Camada 6

Argila siltosa com sedimentos

argilosos

/// \\\ // \\

Page 140: Fundações e Tratamento de Solos com Recurso à Técnica de … · Resumo Com a evolução dos tempos, a necessidade de conceber novas técnicas de fundações profundas otimizando

114

que influencia a grandeza dos deslocamentos ocorridos surge pela aplicação no deslocamento

horizontal na fase 1 no modelo com estaca FDP.

Analisando o diagrama de deslocamentos verticais, para ambas as soluções (Figura 5.20 e Figura

5.31), conclui-se que este é praticamente constante em profundidade ocorrendo uma redução junto

da ponta da estaca, tal surge por a estaca se tratar de um corpo rígido que desloca igualmente em

todo o seu comprimento. A redução do deslocamento vertical na ponta da estaca é complementada

pelo aumento de deslocamento horizontal na mesma zona (que é praticamente nulo ao longo do

fuste), tal deve-se ao processo construtivo de cada solução. Para a estaca FDP não é possível

garantir um grau de adensamento, nos últimos 0,5 m, idêntico à realizada ao longo do comprimento

da estaca, devido à geometria da ferramenta de perfuração. Em relação à estaca moldada não é

exequível garantir que a base da estaca tenha a mesma secção transversal que o corpo da estaca,

pois não é possível assegurar que todo o solo da base tenha sido removido.

Por fim, importa analisar os deslocamentos ocorridos à direita do perfil geotécnico (lado oposto à

estaca), estes deveriam ser praticamente nulos e constantes para que a condição de fronteira não

tivesse influência no modelo de cálculo tal como acontece na base do modelo. Contudo, após a

modelação concluiu-se que tanto para o modelo com estaca FDP como para o modelo com estaca

moldada, surge um campo de deslocamento nesta zona. Como estes são muito reduzidos quando

comparados com os obtidos na simulação do ensaio de carga estática, considera-se que são

desprezáveis. Uma forma de conseguir homogeneização dos deslocamentos junto às condições de

fronteira seria aumentar a largura do modelo, no entanto decidiu-se manter-se a largura de projeto

(32,5 m), pois os deslocamentos ocorridos são diminutos.

ENSAIO DE CARGA ESTÁTICA

Na Figura 5.39 encontram-se representadas a curva de carga-assentamento obtida no ensaio de

carga estática efetuado em obra, a curva resultante da simulação do ensaio de carga estática para

uma estaca FDP e estaca moldada.

Figura 5.39 – Curvas de carga-assentamento das soluções numéricas e experimental

0,0

5,0

10,0

15,0

20,0

25,0

30,0

0 500 1000 1500 2000 2500 3000

Ass

en

tam

en

to (

mm

)

Carga (kN)

Ensaio de carga estática(Tração)Estaca FDP (Compressão)

Estaca Moldada(compressão)

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115

O principal objetivo da modelação efetuada consistiu em aproximar a curva de carga-assentamento

numérica com a experimental para a estaca FDP. Para tal houve necessidade de determinar os

parâmetros do solo, especificamente o módulo de deformabilidade, que melhor ajuste a curva. A

aproximação obtida não é idêntica à experimental, como seria espectável, por diversas razões.

Primeiramente tem a ver com a versão do software utilizado, pois trata-se de uma versão não

atualizada podendo não conter todas as funcionalidade disponíveis e/ou atualizadas. Um dos aspetos

que influencia o ajustamento da curva deve-se ao facto do módulo de deformabilidade ter sido

determinado de forma iterativa, pois o caso de estudo não apresentava os valores dos mesmos. Em

comunhão com este aspeto tem-se o facto de se ter recorrido a dois modelos de solo distintos, em

alternativa à utilização de apenas o modelo de Hardening soil, o que se mais adequava às camadas

de solo presentes no perfil geotécnico. A eleição de utilização de dois modelos de solo deveu-se às

eventuais limitações da versão do software utilizado.

Em relação à curva numérica obtida para a estaca FDP e moldada, o resultado atingido já era

esperado, pois a priori era conhecido que a estaca moldada contém uma menor capacidade de carga

quando comparada com a estaca FDP, como ficou confirmado nas curvas conseguidas. Efetua-se

uma breve análise dos valores adquiridos tem-se que para uma carga de 2750 kN (carga última

atingida no ensaio de carga estática) se obteve um assentamento na cabeça da estaca de 26,51 mm

para a estaca FDP e 66,14 mm para a estaca moldada. O assentamento atingido na modelação da

estaca moldada é cerca de 2,5 vezes superior ao da estaca FDP. Comparando a capacidade de

carga, para a estaca moldada atingir um assentamento de aproximadamente 26 mm a carga máxima

que pode ser aplicada na cabeça da estaca é cerca de 1700 kN, confirmando a preposição inicial que

a estaca FDP tem maior capacidade de carga que a estaca moldada (a estaca FDP tem uma

capacidade de carga 1,5 superior à estaca moldada).

O Quadro 5.12 resume os resultados numéricos atingidos.

Quadro 5.12 – Resultados atingidos na modelação numérica para uma estaca com diâmetro de 0,620mm

Estaca FDP Estaca moldada

Carga [kN] 2750 2750 1700

Assentamento [mm]

26,51

66,14 26,10

Tensão [MPa]

9,1

9,1 5,6

TENSÃO EFETIVA HORIZONTAL E VERTICAL

A Figura 5.40 e Figura 5.41 ilustram, respetivamente, a tensão efetiva horizontal e vertical,

respetivamente, ao longo do fuste da estaca FDP e moldada durante a fase de simulação do ensaio

de carga estática (fase 3).

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116

Figura 5.40 – Tensão efetiva horizontal da estaca FDP versus estaca moldada

Figura 5.41 – Tensão efetiva vertical da estaca FDP versus estaca moldada

Analisando as figuras anteriores verifica-se que o comportamento do diagrama de tensão efetiva

horizontal e vertical da estaca moldada é semelhante ao da estaca FDP. Este comportamento é

aceitável, porque apesar da estaca FDP provocar um deslocamento vertical 1,5 inferior ao da

moldada, ambas as modelações numéricas (estaca FDP e moldada), foram efetuadas para o mesmo

nível de carregamento. Contudo, desprezando os diversos picos que ocorrem na camada 5 para a

estaca moldada, é possível verificar-se que a tensão efetiva horizontal e vertical é inferior à da estaca

FDP, devido ao adensamento que ocorre na envolve à estaca durante a execução de uma estaca

deste tipo.

-30

-25

-20

-15

-10

-5

-1500 -1000 -500 0P

rofu

nd

idad

e (

m)

Tensão Efetiva Horizontal (kPa)

Estaca FDP - Fase 3

Estaca Moldada - Fase 3

Camada 3 Areia siltosa

Camada 4 Argila siltosa

Camada 5

Areia ligeiramente

siltosa

Camada 6

Argila siltosa com sedimentos

argilosos

/// \\\ // \\

-30

-25

-20

-15

-10

-5

-1000 -900 -800 -700 -600 -500 -400 -300 -200 -100 0

Pro

fun

did

ade

(m

)

Tensão efetiva vertical (kPa)

Estaca FDP - Fase 3

Estaca Moldada - Fase 3

Camada 3 Areia siltosa

Camada 4 Argila siltosa

Camada 5

Areia ligeiramente

siltosa

Camada 6

Argila siltosa com sedimentos

argilosos

/// \\\ // \\

Page 143: Fundações e Tratamento de Solos com Recurso à Técnica de … · Resumo Com a evolução dos tempos, a necessidade de conceber novas técnicas de fundações profundas otimizando

117

TENSÃO EFETIVA TANGENCIAL

A Figura 5.42 representa a tensão efetiva tangencial ao longo do fuste da estaca FDP e moldada.

Figura 5.42 – Tensão efetiva tangencial ao longo do fuste da estaca FDP versus estaca moldada

Pela razão mencionada anteriormente a tensão efetiva tangencial ao longo do fuste da estaca

moldada tem um comportamento semelhante ao da estaca FDP. Note-se que na Figura 5.42 é

possível identificar a interface de cada camada, pois nesta transição ocorre um aumento ou

diminuição da tensão efetiva tangencial. Desprezando os picos de tensão que surgem na camada 5

para a estaca moldada obtém-se os seguintes diagramas.

Figura 5.43 – Tensão efetiva tangencial ao longo do fusta da estaca FDP e moldada corrigida

Tendo em conta a Figura 5.43, em que se corrigiram os valores obtidos para a estaca moldada na

camada 5, concluiu-se que a tensão efetiva tangencial é superior na estaca FDP, para a camada 5,

devido ao adensamento que ocorre na envolvente à estaca. Em relação às camadas 4 e 6,

constituídas por materiais argilosos, a tensão efetiva tangencial é praticamente idêntica, pois a

-30

-25

-20

-15

-10

-5

0 100 200 300 400 500 600

Pro

fun

did

ade

(m

)

Tensão efetiva tangencial (kPa)

Estaca FDP

Estaca Moldada

Camada 3 Areia siltosa

Camada 4 Argila siltosa

Camada 5

Areia ligeiramente

siltosa

Camada 6

Argila siltosa com sedimentos

argilosos

/// \\\ // \\

-30

-25

-20

-15

-10

-5

0 100 200 300 400 500 600

Pro

fun

did

ade

(m

)

Tensão efetiva tangencial (kPa)

Estaca FDP

Estaca Moldada

Camada 3 Areia siltosa

Camada 4 Argila siltosa

Camada 5

Areia ligeiramente

siltosa

Camada 6

Argila siltosa com sedimentos

argilosos

/// \\\ // \\

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118

execução da estaca FDP não melhorou o comportamento das argilas, umas vez que se tratam de um

material com algum confinamento. Verifica-se ainda para ambos os casos que as camadas

constituídas com solos argilosos contêm uma tensão efetiva tangencial inferior quando comparado

com as camadas arenosas (camada 3 e 5), uma vez que estas contêm uma maior capacidade

resistente. Importa salientar que as camadas com maior tensão efetiva tangencial são compostas por

materiais arenosos com um elevado ângulo de atrito interno (na ordem dos 40º). Este parâmetro

influencia diretamente a tensão tangencial, isto é, à medida que este parâmetro aumenta os valores

de tensão tangencial também aumentam, daí obter-se um maior declive no diagrama de tensão

efetivas tangenciais nestas camadas.

ESFORÇO AXIAL

A figura que se segue reúne o diagrama de esforço axial obtidos para ambas as soluções, com a

estaca FDP e moldada.

Figura 5.44 – Diagrama de esforço axial para estaca FDP e estaca moldada

A tensão efetiva tangencial, tanto para a solução com estaca FDP e estaca moldada, atinge valores

elevados, tendo influência no esforço axial ao longo do fuste da estaca. O diagrama presente na

Figura 5.44 indica que para ambas as soluções, a carga aplicada na cabeça da estaca é dissipada

pelo solo presente em, praticamente, do metade do seu comprimento, sendo o restante da estaca

desprezável. Este sucedimento consiste num indicador de que a estaca se encontra demasiado

comprida, havendo a possibilidade de reduzir o seu comprimento.

De forma a comprovar o resultado obtido anteriormente, procedeu ao cálculo do diagrama de esforço

axial com base nos valores máximo de tensão vertical propostos por Bustamante e Gianeselli (1983)

presente em Santos (2008). Os valores máximos que apontam têm em conta o processo construtivo e

os cuidados a ter na sua construção, contudo não referencia as estacas FDP por se tratar de uma

técnica recente. Sendo esta uma fusão de estacas moldadas e cravadas, pertencente à categoria IA

e IIA, respetivamente, considerou-se o valor médio entre estas duas categorias. No Anexo B

encontra-se o quadro com todos os valores propostos por Bustamante e Gianeselli (1983).

-30

-25

-20

-15

-10

-5

0 500 1000 1500 2000 2500 3000

Pro

fun

did

ade

(m

)

Esforço Axial (kN)

Estaca FDP

Estaca Moldada

Camada 3

Camada 4 Argila siltosa

Camada 5

Areia ligeiramente

siltosa

Camada 6

Argila siltosa com sedimentos

argilosos

/// \\\ // \\

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119

Quadro 5.13 – Esforço axial com recurso ao método de Bustamante e Gianeselli (1983) presente em Santos (2008)

Camada Descrição 𝒒𝒔

𝒊 [kPa] Área [m

2]

Esforço Axial [kN] IA IIA Média

3 Areia medianamente

compacta 120 150 135 0,97 2618,5

4 Argila medianamente

compacta 35 35 35 4,87 2448,1

5 Areia muito compacta 150 150 150 15,58 110,7

6 Argila compacta a rija 80 80 80 17,53 -1291,7

Com os dados do Quadro 5.13 foi possível determinar o diagrama de esforço axial com base no

método de Bustamante e Gianeselli (1983). As curvas teóricas para as estacas FDP e estacas

moldadas são praticamente idênticas, pois não há discrepâncias nos valores tensão efetiva

tangencial nas duas categorias utilizadas anteriormente (IA e IIA) (Figura 5.45)

Figura 5.45 – Diagramas de esforços axiais teóricos e numéricos

É espectável, devido ao adensamento que ocorre na periferia da estaca FDP durante a perfuração,

que o seu diagrama de esforço axial seja superior ao teórico e ao da estaca moldada. Pois como

ocorreu melhoramento das características do solo, advém uma maior resistência lateral. Analisando a

Figura 5.45, quantitativamente, dois metros da estaca FDP dissipa cerca de 350 kN de carga, pois a

carga inicial é de 2750 kN e a uma cota de -10m o diagrama atinge, aproximadamente, os 2400 kN.

No que diz respeito à estaca moldada à mesma profundidade o esforço axial é cerca de 2600 kN,

dissipando apenas 150 kN, ilustrando a maior capacidade de carga por parte da estaca FDP.

Referir que se existisse um método teórico para o cálculo do diagrama de esforço axial para estacas

FDP seria esperado a esta curva fosse inferior à obtida para a estaca FDP (por se tratar de um

método teórico que tem em conta os valores máximos admissíveis), contudo esta seria superior à

curva teórica adquirida para a estaca moldada, mostrando a maior capacidade de carga das estacas

-30

-25

-20

-15

-10

-5

0 500 1000 1500 2000 2500 3000

Pro

fun

did

ade

(m

)

Esforço Axial (kN)

Estaca FDP

Estaca Moldada

Bustamante eGianeselli (1983)

Camada 3 Areia siltosa

Camada 4 Argila siltosa

Camada 5

Areia ligeiramente

siltosa

Camada 6

Argila siltosa com

sedimentos argilosos

/// \\\ // \\

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120

FDP. Isto é atualizando o método de Bustamante e Gianeselli (1983), ter-se-ia que considerar uma

nova categoria correspondente ao processo construtivo das estacas FDP, contendo valores de

resistência lateral unitária superiores às estacas moldadas e cravadas.

5.4.7. Otimização do comprimento da estaca

Com base nos diagramas de esforço axial obtidos em §5.4.5, foi possível concluir que a estaca

resiste, essencialmente por atrito lateral, e que esta contém um elevado comprimento dado ao nível

de carregamento aplicado. Assim sendo, neste subcapítulo pretende-se otimizar o comprimento da

estaca FDP, determinando qual a profundidade que deve atingir.

O diagrama de esforço axial correspondente à estaca FDP, bem como o teórico obtido pelo método

de Bustamante e Gianeselli (1983), comprova que a última camada que compõe o perfil geotécnico

(camada 6) não tem influência na resistência da estaca. Deste modo procedeu-se à modelação

numérica de uma estaca FDP, recorrendo ao software Plaxis 2D (versão 8.2), com o mesmo perfil e

características geotécnica, mas para três comprimentos de estaca distintos, 11 m (corresponde à

base da camada 5), 10 m e 9 m, em que nenhum destes intersecta a última camada de solo.

A redução do comprimento da estaca implica um aumento dos assentamentos que ocorrem na

cabeça da estaca na simulação do ensaio de carga estática. O Quadro 5.14 apresenta os

assentamentos obtidos em cada uma das modelações numéricas.

Quadro 5.14 – Assentamentos obtidos na otimização do comprimento da estaca

Comprimento Assentamento Tensão no betão

20 m 26,5 mm

9,1 MPa 11 m 51,6 mm

10 m 42,4 mm

9 m 47,0 mm

Analisando o quadro anterior é notório que os assentamentos aumentaram para praticamente o

dobro, uma vez que o deslocamento vertical obtido no caso de estudo para um comprimento de 20 m

foi de 26,51 mm. Salientar que para um comprimento de 11 m atinge-se um assentamento superior

ao obtido para 10 e 9 m. Os 11 m correspondem à base da camada 5 e topo da camada 6, tendo a

última camada piores características quando comparada com a camada 5 influencia os

deslocamentos que ocorrem na estaca. O campo de deslocamentos bem como a deformada atingida

na modelação numérica é semelhante para os três casos, por este motivo na Figura 5.46 apresenta-

se apenas as configurações obtidas para uma estaca FDP com 11 m de comprimento na fase 3

(simulação do ensaio de carga estática).

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121

a) b) c) Figura 5.46 – a) Configuração deformada; b) Deslocamentos totais; c) Deslocamentos verticais

correspondentes a uma estaca FDP com 11 m de comprimento na simulação do ensaio de carga estática

O campo de deslocamentos adquiridos nesta simulação é análogo ao obtido na modelação da estaca

FDP com 20 m de comprimento. Após a análise dos deslocamentos passou-se à determinação do

diagrama de esforço axial para cada uma das modelações efetuadas, recorrendo ao procedimento

mencionado em §5.4.5.1. A Figura 5.47 apresenta os resultados atingidos.

Figura 5.47 – Diagrama de esforço axial para estaca FDP com 9, 10 e 11 m de comprimento

O comprimento ótimo da estaca corresponde a obter-se na base da mesma um esforço axial nulo ou

muito próximo deste, pois indica que a estaca se encontra no seu todo a resistir por atrito lateral. A

Figura 5.47 ilustra que à medida que se reduz o comprimento da estaca as curvas se aproximam do

zero, sem conter um troço constante ao longo do eixo vertical, alcançando o seu comprimento ideal.

-30

-25

-20

-15

-10

-5

0 500 1000 1500 2000 2500 3000

Pro

fun

did

ad

e (

m)

Esforço axial (kN)

L=9 m

L=10 m

L=11 m

Camada 4 Argila siltosa

Camada 5

Areia ligeiramente

siltosa

Camada 6

Argila siltosa com

sedimentos argilosos

Camada 3

// \\ /// \\\

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122

Este deverá encontra-se próximo dos 9 m, atingindo uma profundidade de 17 m uma vez que a

execução da estaca FDP apenas se dá a uma cota de -8 m.

Importa referir que a redução do comprimento da estaca deve-se apenas à dissipação da carga

aplicada por atrito lateral e implica um aumento de assentamentos. Esta redução apenas tem

fundamento se os deslocamentos verticais mobilizados sejam admitidos pelos critérios máximos

apresentados em projeto.

Após a redução do comprimento da estaca importa averiguar que se devido a esta diminuição as

tensão tangenciais instaladas no fuste são superiores à máxima admitida pelo método de Bustamante

e Gianeselli (1983), de modo a controlar as deformações. A tensão tangencial da estaca é

determinada pela expressão (5.5).

𝜏𝑒𝑠𝑡𝑎𝑐𝑎 =𝐶

A𝑠

(5.5)

Sendo,

𝜏𝑒𝑠𝑡𝑎𝑐𝑎 – Tensão tangencial instalada no fuste da estaca;

C – Carga aplicada no topo da estaca (2750 kN).

Os resultados atingidos encontram-se representados no quadro seguinte.

Quadro 5.15 – Tensão tangencial aplicada na estaca.

Comprimento

da estaca [m]

𝝉𝒆𝒔𝒕𝒂𝒄𝒂

[MPa]

𝝉𝒕𝒆ó𝒓𝒊𝒄𝒐

[MPa]

11 0,128 0,123

10 0,141 0,121

9 0,157 0,117

Embora a redução do comprimento da estaca, a carga aplicada no topo da estaca manteve idêntica

sendo por este motivo que quanto menor o fuste da estaca maior será a tensão tangencial a que

estará sujeito. Comparando os valores teóricos, obtidos através da média ponderada com a altura de

cada camada com os valores máximos propostos por Bustamante e Gianeselli (1983), estes são

inferiores. Na modelação da estaca FDP e estaca moldada com 20m de comprimento as tensões

tangenciais eram superiores às admissíveis por este método teórico, desde modo seria esperado que

o mesmo ocorra com a redução do comprimento da estaca. Importa referir que apesar a tensão

tangencial na estaca aumentar com a redução do fuste (deixando-a mais esforçada) os valores

obtidos pelo método teórico diminuem, isto porque neste caso a redução é efetuada na camada 5,

que possuiu maior resistência tangencial devido à sua composição.

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123

Capítulo 6. Conclusões

6.1. Considerações finais

Este capítulo tem como principal objetivo efetuar uma síntese dos resultados obtidos, tendo por base

os objetivos descritos em §1.2. Desde já, é possível constatar-se que os objetivos propostos

inicialmente foram alcançados e os resultados atingidos foram satisfatórios.

O primeiro objetivo enumerado consistiu na pesquisa alargada sobre o tema em causa de modo a

conhecer-se e definir-se o conceito de estacas FDP. O objetivo foi alcançado uma vez que no

Capítulo 3 se apresentou um vasto conjunto de informação sobre esta técnica, bem como o seu

processo construtivo e os principais parâmetros que influenciam a sua execução, desde de

características de solos ao domínio de aplicação desta tecnologia. Conclui-se que as estacas FDP

distinguem-se das estacas moldadas devido ao adensamento que ocorre no solo envolve à estaca

durante a perfuração, pois melhora as características do solo aumentando a capacidade de carga.

Demostra-se ainda que o comportamento da estaca depende, essencialmente, dos parâmetros do

trado, nomeadamente o valor de momento torsor e força vertical, bem como o grau de deslocamento

que ocorre durante a perfuração que por sua vez é influenciado pela velocidade de perfuração.

De seguida prosseguiu-se para uma sintetizada caracterização dos solos que constituem Portugal de

modo a averiguar a veracidade da aplicação desta técnica no país. Apesar de Portugal ser um país

muito heterogéneo no que diz respeito à sua geologia, recorrendo à carta geológica (escala 1:50 000)

foi possível determinar quais as principais cidades que se justifica a aplicação de estacas FDP. Com

recurso à carta geológica é possível destacar Faro, Olhão, Setúbal, Lisboa (zona ribeirinha), Vila

Franca de Xira, Leiria e Aveiro (cidades constituídas essencialmente por solos aluvionares por se

encontrarem no litoral ou na periferia de linhas de água). Importa referir que a análise efetuada se

tratou apenas de uma introdução aos solos existentes em Portugal, pois refere-se a um país muito

heterogéneo. Assim sendo, é necessário no início de cada construção proceder-se ao estudo do solo

para determinar-se o perfil geotécnico do local em causa e concluir-se sobre a possível aplicação

desta técnica.

Com a realização do Capítulo 4 foi possível concluir que a NP EN 1997 (2010), documento normativo

utilizado em Portugal para dimensionamento de obras geotécnica (fundações, contenções, etc.), não

incluiu, nem efetua nenhuma referência a este tipo de fundações profundas. Para além disso, a única

forma de dimensionar a capacidade resistente de uma estaca FDP consiste em recorrer ao método

que utiliza valores adquiridos no ensaio de carga estática. Para que este método seja aplicado com

sucesso é necessário executar um número razoável de ensaios, aproximadamente 3, para que a

capacidade resistente não seja verdadeiramente reduzida (devido ao fator de correção ξ). É

necessário ter em conta que para utilizar os valores adquiridos em ensaio de carga estática é preciso

que este atinja a rotura da estaca, tratando-se por isso de um processo raramente executado, por

motivos económicos e de segurança. Assim sendo, para determinar a capacidade resistente última da

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124

estaca é necessário recorrer a métodos de extrapolação, que não contêm o mesmo grau de exatidão

quando comparados com o ensaio de carga estática, reduzindo assim a sua capacidade de carga.

A utilização dos métodos analíticos no cálculo da capacidade resistente não é praticável, uma vez

que todas as variáveis envolvidas neste cálculo apenas se encontram definidas para estacas

moldadas e cravadas. Determinou-se por isso a capacidade resistente para estas duas técnicas

anteriores, com base no método analítico, e concluiu-se que o resultado adquirido para estaca FDP é

superior comparativamente ao da estaca moldada e cravada, como seria espectável, tendo em conta

que em condições não drenadas os valores para as três técnicas são semelhantes. Por fim, com o

estudo efetuado depreendeu-se que para que seja possível um credível dimensionamento de uma

estaca FDP com recurso à NP EN 1997 (2010), mesmo utilizando apenas com método com base em

ensaios de carga estática, é necessário definir os coeficientes parciais de segurança associados a

esta técnica.

O último objetivo desta dissertação consistiu na simulação de um ensaio de carga estática para uma

estaca FDP como recurso a um software de elementos finitos (Plaxis Versão 8.2.), de modo a

aproximar a curva de carga-assentamento atingida numericamente com a obtida experimentalmente.

Referir que o ensaio de carga estática efetuado em obra foi realizado à tração e para que fosse

possível efetuar a modelação numérica da estaca FDP à compressão houve necessidade de

considerar que a resistência por atrito lateral à compressão é idêntica à de tração. Embora sabendo

que este proposto não corresponde à realidade, foi possível efetuar-se esta consideração, pois a

análise apresentada anteriormente ilustra que a estaca FDP tanto à compressão como à tração

funciona apenas por atrito lateral e os valores de resistência são semelhantes.

Referir que é muito difícil modelar uma estaca FDP, pois a sua execução trata-se de um fenómeno

muito complexo. A aproximação efetuada consistiu em impor um deslocamento horizontal ao longo de

todo o fuste, sabendo que na realidade este deslocamento é imposto gradualmente à medida que a

perfuração ocorre. Para além disso a modelação numérica realizada não tem em conta a

descompressão das paredes do furo após a passagem da ferramenta de perfuração.

O objetivo deste capítulo foi parcialmente cumprido, uma vez que a curva obtida pela simulação no

Plaxis não é idêntica à experimental. Isto deve-se à falta de dados do solo no presente caso de

estudo, às eventuais limitações do software utilizado e ao facto da curva experimental corresponder a

um ensaio à tração, enquanto que na modelação numérica o ensaio de carga estática foi executado à

compressão. O segundo ponto desta modelação consistiu em, com as mesmas características

geotécnicas e geométricas, modelar uma estaca moldada de modo a comprovar-se que a estaca FDP

tem maior capacidade de carga. Como tal o resultado atingido corresponde ao espectável, obteve-se

para um assentamento de cerca de 26,5 mm uma carga de 2750 kN para a estaca FDP e 1700 kN

para a estaca moldada, isto é a estaca FDP tem cerca de 1,5 vezes maior capacidade de carga que a

moldada. O que induz o aumento de carga na estaca FDP é o deslocamento horizontal que ocorre

durante a perfuração da estaca que melhora as propriedades do solo no seu contorno, dando-lhe

maior resistência.

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125

Na análise efetuada com base nos diagramas de tensões efetivas horizontais, verticais e tangenciais

é notório o efeito do processo construtivo das estacas FDP no seu comportamento. Para uma estaca

moldada apenas se obtêm tensões na fase de simulação do ensaio de carga estática, sendo

praticamente nulas nas restantes fases, pois a execução deste tipo de estaca provoca reduzidas

perturbações no solo. No que diz respeito à estaca FDP tem-se um cenário distinto, uma vez que a

sua execução origina um deslocamento horizontal ao longo do fuste da estaca. Este deslocamento

faz que com ocorram tensões efetivas horizontais, verticais e tangenciais nesta fase do processo

construtivo (fase 1), enquanto que na fase 2, betonagem da estaca, este resultado não se altera, isto

é não ocorre um incremento de tensões.

A técnica de estacas FDP é indicada, essencialmente para areias soltas, uma vez que são

caracterizadas por adensar o solo envolvente à estaca, aumentando assim a sua capacidade de

carga. Quando esta técnica é utilizada em areias compactas ou materiais argilosos pode não ser

benéfica, uma vez que a perturbação que provoca no solo não melhora as suas características, como

prejudica, pois são solos com elevado grau de confinamento. Com base no estudo das tensões

efetivas horizontais, verticais e tangenciais que surgem nas fases 2 e 3 é possível identificar-se o

processo descrito neste parágrafo. A tensão efetiva horizontal para a estaca FDP aumenta (em

módulo) na camada 5 (composta por material arenoso) com a aplicação da carga, enquanto que

diminuiu na camada 6. Esta diminuição é justificada por durante a fase de execução da estaca FDP

existir um desconfinamento da camada 6, alterando as suas características. O mesmo ocorre para a

tensão efetiva tangencial que diminuiu, consideravelmente nas camadas compostas por materiais

argilosos, por ter uma capacidade resistente inferior à das camadas de areias.

Através da análise dos diagramas de esforço axial adquiridos para cada uma das modelações,

concluiu-se que a estaca tinha um elevado comprimento para o nível de carga que se encontrava

sujeita. Na expectativa de determinar o comprimento ótimo para a estaca FDP, modelou-se 3 estacas

com diferentes comprimentos, 11, 10 e 9m. Comprovou-se que o comprimento da estaca para o nível

de carregamento é cerca de 9 m, contudo esta redução de comprimento implica um aumento de

assentamentos para, aproximadamente, o dobro (47 mm). Assim sendo a diminuição da estaca

apenas é justificável dependendo do objetivo dos projetistas. Se o intuito é dissipar a carga sendo

que o deslocamento vertical obtido encontra-se incluído pelos limites impostos em projeto a redução

da estaca é fundamentada, caso contrário se se pretender controlar os assentamentos ocorridos,

obtendo o mínimo admissível, uma vez que o caso em estudo trata-se de uma autoestrada de modo a

evitar o fissuramento do pavimento, a redução do comprimento da estaca não será aconselhável.

É possível efetuar-se um paralelo entre os valores de capacidade resistente determinados

analiticamente com os atingidos na modelação numérica. Esta análise apenas é possível para a

estaca moldada, pois o valor da capacidade resistente de cálculo obtida para a estaca FDP retrata

uma estaca à tração. Através da análise numérica, em condições não drenadas, para a estaca

moldada concluiu-se que para um nível de carregamento de 2750 kN, a estaca se encontrava muito

comprida, havendo possibilidade de aumentar o carregamento. A capacidade resistente última obtida

com base na norma NP EN 1997-1 (2010) é cerca de 3016 kN (valor estimado com base na Teoria da

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126

Plasticidade), enquanto a capacidade resistente de cálculo consiste em cerca de 1600 kN. Concluiu-

se então que os valores atingidos analiticamente são conservativos, uma vez que para este perfil

geotécnico a estaca moldada consegue suportar uma carga superior a 2750 kN, embora isso implique

um aumento considerável nos assentamentos obtidos.

6.2. Propostas de desenvolvimentos futuros

A elaboração da seguinte dissertação permitiu atingir um nível de conhecimento e informação que

outrora era escassa em Portugal, no que diz respeito a esta técnica de execução de fundações

profundas. Contudo o presente estudo pretende apenas efetuar uma reduzida abordagem que deverá

ser complementada com outros estudos. Seguidamente serão enumeradas algumas propostas de

desenvolvimentos futuros.

Como a estaca do caso de estudo encontra-se à tração e decidiu-se pela modelação

numérica de uma estaca FDP à compressão de modo a comparar-se com os casos mais comum em

que recorre aos métodos tradicionais. De modo a complementar a modelação efetuada seria

interessante efetuar a modelação da estaca FDP à tração efetuado diversos patamares de descarga

de forma a simular as variações do nível freático, e analisar o seu comportamento.

Para que seja possível a compreensão das alterações que a execução de estacas FDP

provoca no solo, seria interessante acompanhar um caso de estudo real e monitorizá-lo. Para se

conseguir compreender e ter perceção do grau de alteração que ocorre no solo, recorrer-se-ia a

inclinómetro e outros equipamentos de modo a quantificar os deslocamentos horizontais provocados

pela perfuração.

É conhecido que durante a execução de estacas FDP ocorre um deslocamento horizontal

devido à forma da ferramenta de perfuração. Para que seja possível a sua utilização em zonas

urbanizadas propõe-se uma análise de risco aquando da execução de estacas FDP em meios de

urbanos, de modo a determinar de que forma este deslocamento pode influenciar estruturas vizinhas;

Tendo em conta que existem softwares de elementos finitos em 3D, poder-se-ia, com base

num caso de estudo real, modelar a execução de uma estaca FDP, como apresentado em §3.5.2, e

realizar uma análise comparativa dos resultados obtidos na modelação com os medidos no caso em

estudo, de modo a determinar a relação entre ambos, isto é de que forma a modelação em 3D se

aproxima da realidade;

Como mencionado em §3.5.2, os parâmetros de perfuração são influenciados pela geometria

do equipamento de perfuração e pelas características do solo. De modo a otimizar a execução do

processo deviam ser efetuados estudos com objetivo de determinar qual o melhor conjunto de

parâmetros a utilizar;

Como concluído no Capítulo 4, a norma NP EN 1997 (2010) não especifica nem referencia

um método capaz de determinar a capacidade resistente de uma estaca FDP. Por esta razão, seria

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127

conveniente proceder a um estudo, de modo a determinar como a NP EN 1997 (2010) pode ter em

conta o cálculo da capacidade resistente de uma estaca FDP, isto é, que é necessário introduzir os

parâmetros nesta norma para atestar a veracidade dos métodos analíticos com os numéricos e quais

os coeficientes de segurança apropriados nesta abordagem;

Nesta dissertação não é feita nenhuma referência ao comportamento destas estacas

aquando da ocorrência de um sismo. Em trabalhos futuros, recomenda-se efetuar uma análise

sísmica a este tipo de fundações e perceber se o solo adensado no contorno da estaca tem alguma

influência no seu comportamento. Sendo Portugal, nomeadamente Lisboa, uma zona de algum risco

sísmico este aspeto seria de extrema relevância.

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128

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133

Anexos

Anexo A. Faseamentos construtivos associados ao caso de estudo

Anexo A.1. Faseamento construtivo do túnel Vetrego

Anexo A.2. Faseamento construtivo do túnel Caltana

Anexo A.3. Faseamento construtivo do troço de estrada entre Vetrego e Caltana

Anexo B. Método de Bustamante e Gianeselli (1983)

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A

Anexo A. Faseamentos construtivos associados ao caso de estudo

Anexo A.1. Faseamento construtivo do túnel Vetrego

Escavação prévia até à cota pretendida com execução dos taludes laterais;

Construção da laje de fundo;

Execução das vigas pré-esforçadas;

Realização das paredes e pilares;

Concretização da laje de topo, pavimentos e acabamentos;

Fonte: Bringiotti et al, 2008

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B

Anexo A.2. Faseamento construtivo do túnel Caltana

Execução da estaca moldada na laje interior e betonagem até à

superfície, colocação do sistema de contenção (estacas-prancha);

Escavação do solo até à cota pretendida (-8m) e em simultâneo retirar-se

a água que afluiu para o interior da escavação;

Escavação parcial do túnel;

Execução da estrutura superior do túnel;

Execução do pavimento e acabamentos;

Fonte: Bringiotti et al, 2008

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C

Anexo A.3. Faseamento construtivo do troço de estrada entre Vetrego e Caltana

Execução da estaca moldada e betonagem da mesma até à cota a escavar;

Escavação do solo até à cota pretendida (-8m) simultaneamente retirar-se a

água que afluiu para o interior da escavação e execução das micro-estacas

na solução de fixação do pavimento;

Introdução da estrutura de contenção (estacas-prancha) e sua fixação

(ancoragens), por fim rebaixamento do nível freático;

Desativação das ancoragens, execução do pavimento e acabamentos;

Fonte: Bringiotti et al, 2008

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D

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E

Anexo B. Bustamante e Gianeselli (1983)

Natureza do solo qc

(105 Pa)

Coeficiente αB Valor máximo de qsi (10

5 Pa)

Categoria Categoria

IA IB IIA IIB IA IB IIA IIB IIIA IIIB

Argila mole e siltes <10 30 30 30 30 0,15 0,15 0,15 0,35 0,35 --

Argila mediamente

compacta 10 a 50 40 80 40 80

(0,8)

0,35

(0,8)

0,35

(0,8)

0,35 0,35 0,8 ≥1,2

Lodo e areia solta ≤ 50 60 150 60 120 0,35 0,35 0,35 0,35 0,8 --

Argila compacta a rija e lodo

compacto >50 60 120 60 120

(0,8)

0,35

(0,8)

0,35

(0,8)

0,35 0,35 0,8 ≥2,0

Cré mole ≤ 50 100 120 100 120 0,35 0,35 0,35 0,35 0,8 --

Areia e cascalho

mediamente compacto 50 a 120 100 200 100 200

(1,2)

0,8

(1,2)

0,8

(1,5)

1,2 0,8 1,2 ≥2,0

Cré alterado a fragmentado >50 60 80 60 80 (1,5)

1,2

(1,2)

0,8

(1,5)

1,2 1,2 1,5 ≥2,0

Areia e cascalho compacto a

muito compacto >120 150 300 150 200

(1,5)

1,2

(1,2)

0,8

(1,5)

1,2 1,2 1,5 ≥2,0

Fonte: adaptado de Santos (2008)

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F

CLASSIFICAÇÃO DOS PROCESSOS CONSTRUTIVOS\

Categoria Processo construtivo

IA

Estaca moldada sem sustimento provisório;

Estaca moldada com recurso a lamas bentoníticas;

Estaca de trado oco;

Micro-estacas do tipo I (sem injeção);

Pegões

Barretas

IB Estaca moldada com recurso a tubo moldador recuperável;

Estaca moldada com recurso a tudo moldador obturado na ponta

IIA

Estaca pré-fabricada cravada;

Estaca tubular pré-esforçada cravada;

Estaca de betão cravada através de macacos hidráulicos;

IIB Estaca metálica cravada;

Estaca metálica cravada através de macacos hidráulicos;

IIIA Esta com apiloamento de betão na ponta;

IIIB Estaca com injeção de alta pressão e diâmetro superior a 250 mm;

Micro-estaca do tipo II (com injeção)

Fonte: adaptado de Santos (2008)