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FUNDAÇÃO UNIVERSIDADE FEDERAL DE RONDÔNIA CAMPUS DE VILHENA DEPARTAMENTO ACADÊMICO DE CIÊNCIAS DA EDUCAÇÃO CURSO DE PEDAGOGIA MARISTELA ASSUMPÇÃO CECHINEL DESENVOLVIMENTO MORAL: CONHECENDO AS CONCEPÇÕES DOS ACADÊMICOS DO CURSO DE PEDAGOGIA SOBRE A FORMAÇÃO DE VALORES VILHENA-RO Julho, 2018

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FUNDAÇÃO UNIVERSIDADE FEDERAL DE RONDÔNIA

CAMPUS DE VILHENA

DEPARTAMENTO ACADÊMICO DE CIÊNCIAS DA EDUCAÇÃO

CURSO DE PEDAGOGIA

MARISTELA ASSUMPÇÃO CECHINEL

DESENVOLVIMENTO MORAL: CONHECENDO AS CONCEPÇÕES DOS

ACADÊMICOS DO CURSO DE PEDAGOGIA SOBRE A FORMAÇÃO DE

VALORES

VILHENA-RO

Julho, 2018

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MARISTELA ASSUMPÇÃO CECHINEL

DESENVOLVIMENTO MORAL: CONHECENDO AS CONCEPÇÕES DOS

ACADÊMICOS DO CURSO DE PEDAGOGIA SOBRE A FORMAÇÃO DE

VALORES

Monografia apresentada a Universidade

Federal de Rondônia, como requisito avaliativo

para conclusão do curso de Pedagogia.

Orientador (a): Profa. Me. Kelly Jessie Queiroz

Penafiel.

VILHENA-RO

Julho, 2018

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FUNDAÇÃO UNIVERSIDADE FEDERAL DE RONDÔNIA – UNIR

CAMPUS DE VILHENA

DEPARTAMENTO ACADÊMICO DE CIÊNCIAS DA EDUCAÇÃO

CURSO DE PEDAGOGIA

DESENVOLVIMENTO MORAL: CONHECENDO AS CONCEPÇÕES DOS

ACADÊMICOS DO CURSO DE PEDAGOGIA SOBRE A FORMAÇÃO DE VALORES

MARISTELA ASSUMPÇÃO CECHINEL

Este trabalho foi julgado adequado para obtenção do título de Graduação em Pedagogia

e aprovado pelo Departamento Acadêmico de Ciências da Educação (DACIE) da Universidade

Federal de Rondônia.

__________________________________

Claudia Justus Tôrres Pereira

Chefe do Departamento Acadêmico de Ciências da Educação

Professores que compuseram a banca:

__________________________________

Presidente: Profa. Me. Kelly Jessie Queiroz Penafiel

Orientadora - UNIR

__________________________________

Profa. Esp. Fernanda Emanuele Souza de Azevedo

Membro: UNIR

__________________________________

Profa. Me. Daiane Trindade da Silva

Membro: Professora Voluntária UNIR

Vilhena, 04 de Julho de 2018

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Dedico este trabalho aos meus familiares que

me apoiaram e auxiliaram em todos os

momentos ao longo do curso, principalmente

meu marido, que sempre esteve ao meu lado me

apoiando e incentivando.

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Agradeço a Deus por ter me dado força,

coragem e animo para chegar até o final deste

curso.

Agradeço ao meu esposo, aos meus pais, meu

irmão por me apoiar, motivar e sempre me

ajudar nas horas mais difíceis.

Agradeço aos meus colegas de turma pelos

desafios que enfrentamos juntos e troca de

conhecimentos.

Agradeço todos os professores de modo geral

contribuíram positivamente com seus saberes

para minha formação acadêmica.

Agradeço a pessoa chave da minha conquista, a

orientadora Kelly Jessie Queiroz Penafiel por

acreditado em mim, ter muita paciência e não

ter me abandonado em nenhum momento do

curso, me dando suporte, apoio e carinho.

Agradeço de modo geral a todos os profissionais

da educação do município de Vilhena por me

ajudar nos estagio e contribuições das suas

práticas.

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RESUMO

A presente pesquisa abordou a temática do desenvolvimento moral a partir do referencial

piagetiano com vistas a compreender como os acadêmicos do curso de Pedagogia da

Universidade Federal de Rondônia/campus de Vilhena percebem a discussão sobre valores

morais na universidade. Participaram da pesquisa acadêmicos matriculados no 2º período

matutino e no 8° período noturno. A pesquisa, de abordagem qualitativa, de campo, do tipo

descritivo, com método dedutivo. Baseia-se em um estudo sobre desenvolvimento moral e as

contribuições da universidade para a preparação profissional do futuro pedagogo no que diz

respeito à questões morais e éticas. Nesse sentido, foi feita uma revisão literária sobre as

definições de moral, valores e ética com suas implicações na formação de cidadãos. Mediante

as respostas obtidas com questionários semiestruturado aplicado com os acadêmicos do curso

de pedagogia, os resultados obtidos apontam que os estudos realizados na área da moralidade

sugerem os seguintes aspectos: a) a maioria versou sobre a mensuração do nível de

desenvolvimento moral segundo o par heteronomia/autonomia formulado por Piaget e os níveis

do referido desenvolvimento; b) os acadêmicos buscaram relacionar os conceitos de moral e

ética como sinônimo, apresentando respostas confusas para os dois conceitos; c) no campo do

estudo das virtudes, basicamente, os participantes do estudo elege como prioritários os valores

do espaço privado (dever ser) em detrimento dos valores do espaço público relacionados à

dimensão do dever agir; d) a escola é reconhecida como instituição do espaço público

privilegiada para a formação do sujeito moral e e) os cursos de formação inicial de professores

precisam considerar essas questões relativas ao desenvolvimento Moral e a formação/aquisição

de valores. Tais discussões poderão representar mudanças nas práticas educacionais que

formem profissionais mais preparados para discutir as relações humanas e o convívio em

sociedade.

Palavras-Chave. Desenvolvimento Moral. Moral e Ética. Formação de Valores. Pedagogia.

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LISTA DE QUADROS

QUADRO 1- Estágios do desenvolvimento da consciência das regras

QUADRO 2- Participantes do Estudo

QUADRO 3- Categorias analíticas

QUADRO 4- Concepções sobre Moral e Ética

QUADRO 5- Considerações Sobre Valores

QUADRO 6- Consideração sobre a formação de valores

QUADRO 7- Responsáveis pela formação dos valores

QUADRO 8- O Papel da escola na formação de valores

QUADRO 9- Papel da Universidade

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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO......................................................................................................................8

2 REVISITANDO OS CONCEITOS DE MORAL E ÉTICA............................................11

2.1 Do Latim: Mores................................................................................................................11

2.2 Do Grego: Ethos................................................................................................................14

3 VALORES E VIRTUDES....................................................................................................17

3.1 O Conceito Valor/Valores.................................................................................................17

3.2 Virtude................................................................................................................................19

3.3 Valores Morais X Valores não Morais.............................................................................21

4 PSICOLOGIA MORAL......................................................................................................26

4.1 Desenvolvimento Moral a partir de Jean Piaget.............................................................26

4.2 Considerações Sobre Moral, Ética, Valores e Educação Escolar..................................32

5 A PESQUISA........................................................................................................................35

5.1 Método................................................................................................................................35

5.2 Lócus da Pesquisa e Participantes...................................................................................35

5.2.1 Instrumento de Coleta dos Dados....................................................................................36

5.3 Procedimentos para a Análise dos Dados........................................................................37

6 O QUE DIZEM OS ACADÊMICOS SOBRE MORAL E ÉTICA..................................39

6.1 Para Compreender Moral e Ética....................................................................................39

6.2 Para Compreender a Formação de Valores....................................................................44

6.3 O Papel da Escola e da Universidade na Formação do Sujeito Moral.........................51

7 CONSIDERAÇÕES FINAIS...............................................................................................57

REFERÊNCIAS......................................................................................................................59

APÊNDICES 1.........................................................................................................................64

APÊNDICES 2.........................................................................................................................65

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1 INTRODUÇÃO

A escolha deste tema começou no primeiro semestre do curso de Pedagogia em 2014

quando comecei a participar da Linha de Pesquisa Psicologia e Aprendizagem escolar,

vinculada ao Grupo de Estudos Pedagógicos (GEP). Dentre vários temas abordados pela linha,

decidi escolher este tema complexo e que tende a gerar desconfortos e controvérsias

dependendo da concepção teórica e filosófica que cada um adota para si. Consideramos que

discutir este assunto é uma oportunidade de crescimento acadêmico, científico e pessoal capaz

de nos possibilitar e aprofundar os conhecimentos nos desafiando para ir além do senso comum.

A pesquisa nomeada “Desenvolvimento moral: conhecendo as concepções dos

acadêmicos do curso de pedagogia sobre a formação de valores” teve como objetivo

compreender como os acadêmicos do curso de Pedagogia da Universidade Federal de

Rondônia, campus de Vilhena percebem a discussão sobre valores morais e éticos na

universidade. Sendo necessário também investigar o que acadêmicos do curso de Pedagogia

conhecem sobre os conceitos de Moral e Ética. Bem como conhecer a compreensão destes

acadêmicos a respeito da construção/formação de valores morais.

Neste estudo, nos propomos a responder os seguintes questionamentos: Como os

acadêmicos de Pedagogia percebem a discussão sobre valores morais na universidade? Quais

as concepções dos mesmos sobre o desenvolvimento moral humano?

A pesquisa foi realizada na Universidade Federal de Rondônia, campus de Vilhena que

oferece cinco cursos de nível superior. Para selecionar os participantes do estudo optamos por

acadêmicos do curso de Pedagogia, pois é um curso onde os futuros profissionais vão trabalhar

diretamente com as crianças, período no qual, a partir da concepção piagetiana da Psicologia

Moral, acontece a formação moral do indivíduo.

O curso de Pedagogia possui atualmente quatro turmas ativas, com cerca de 120 alunos

matriculados, divididos em dois turnos (matutino e vespertino) do 1° ao 8° período. O público

alvo da pesquisa foram os acadêmicos de um período ingressante (2° período) e outro concluinte

do curso (8° período) que estavam devidamente matriculados. A coleta dos dados para a

realização dessa pesquisa ocorreu no primeiro semestre de 2018.

A forma como os educadores pensam, entendem e trabalham sobre a moral, ética e os

valores morais há muito tempo está sendo estudada e discutida, porém este trabalho será

desenvolvido tendo como finalidade investigar os saberes dos acadêmicos em formação sobre

a ética e os valores morais que os alunos do curso de pedagogia da Universidade Federal de

Rondônia, campus de Vilhena possuem.

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Para que fosse possível alcançar os objetivos citados acima, fizemos uso de um conjunto

de procedimentos de pesquisa, visando garantir a melhor compreensão possível dos fatores

envolvidos no processo. A presente investigação tem em sua estrutura uma abordagem

qualitativa, de campo, do tipo descritivo e comparativo, com método dedutivo. Realizamos

inicialmente uma revisão de literatura sobre o desenvolvimento moral, com base na teoria

piagetiana sobre a formação de valores morais e sociais.

O desenvolvimento humano se caracteriza por diversas fases aonde os processos de

aprendizagem vão se consolidando por meio de habilidades adquiridas e desenvolvidas ao longo

da vida. Dentre essas podemos citar a linguagem, a socialização, a afetividade, e também a

moralidade humana.

A Moralidade se apresenta como um dos assuntos mais antigos em discussão na

humanidade, Como um tema interdisciplinar, entendemos que é assunto complexo. No entanto,

defendemos a ideia de que a discussão precisa ser feita no contexto acadêmico e escolar.

Enquanto educadores, precisamos conhecer os pressupostos filosóficos e psicológicos que

sustentam esta discussão. É imprescindível que ainda na academia, os futuros educadores se

voltem para reflexões que procuram discutir o tema dos valores. Diante disto, as pesquisas que

procuram de alguma forma conhecer dados de realidade sobre o fenômeno Moral são

importantes.

Seguindo a linha de pensamento de La Taille (2009) podemos analisar que diariamente

os instrumentos de comunicação em massa a Universidade, a Igreja e outras instituições

apresentam discussões sobre os valores morais (e a ausência deles). E nesse sentido nos

inquietam as seguintes questões: O que é Moral? O que é Ética? Como os acadêmicos do curso

de Pedagogia percebem estas questões? Como os valores são “formados/adquiridos”? Esta

discussão pode ser feita no ambiente acadêmico e na escola? Como? Consideramos que do

ponto de vista teórico, os estudos da Psicologia Moral e do desenvolvimento humano poderão

nos ajudar a compreender como a Moral e a Ética se relaciona com o desenvolvimento

psicológico e cognitivo.

Os cursos de formação inicial de professores precisam considerar essas questões

relativas ao desenvolvimento Moral e a formação/aquisição de valores. Tais discussões poderão

representar mudanças nas práticas educacionais que formem profissionais mais preparados para

discutir as relações humanas e o convívio em sociedade. Nesse sentido concordamos com

Severino (2006, p. 621) quando afirma que:

A educação não é apenas um processo institucional e instrucional, seu lado visível,

mas fundamentalmente um investimento formativo do humano, seja na

particularidade da relação pedagógica pessoal, seja no âmbito da relação social

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coletiva. Por isso, a interação docente é considerada mediação universal e

insubstituível dessa formação, tendo-se em vista a condição da educabilidade do

homem.

A discussão sobre a Moral caminha para o debate sobre os valores humanos, Martins e

Silva (2009) postulam que investigar sobre os valores humanos é investigar sobre o que as

pessoas prezam em suas relações. Estudos como os de La Taille (2005; 2006a; 2006b; 2009a;

2009b) indicam que atualmente a sociedade vive uma mudança na forma como os valores são

vivenciados. “A principal tarefa da educação é, pois, a formação Ética de seus cidadãos, que,

numa democracia, supõe a construção, por parte de cada um, das condições a partir das quais

ele poderá participar plenamente da vida comum [...]” (VALLE, 2001, p. 185).

Os resultados do estudo apontam que a maioria das pesquisas sobre psicologia moral

versou sobre a mensuração do nível de desenvolvimento moral segundo o par

heteronomia/autonomia formulado por Piaget e os níveis do referido desenvolvimento; b) os

acadêmicos buscaram relacionar os conceitos de moral e ética como sinônimo, apresentando

respostas confusas para os dois conceitos; c) no campo do estudo das virtudes, basicamente, os

participantes do estudo elege como prioritários os valores do espaço privado (dever ser) em

detrimento dos valores do espaço público relacionados à dimensão do dever agir; d) a escola é

reconhecida como instituição do espaço público privilegiada para a formação do sujeito moral

e e) os cursos de formação inicial de professores precisam considerar essas questões relativas

ao desenvolvimento Moral e a formação/aquisição de valores. Tais discussões poderão

representar mudanças nas práticas educacionais que formem profissionais mais preparados para

discutir as relações humanas e o convívio em sociedade.

A presente monografia está organizada em 7 seções, dispostas da seguinte maneira:

primeiro a parte introdutória, contendo os objetivos, procedimentos metodológicos,

instrumento, sujeito e resultado esperado.

Na segunda seção são apresentados os conceitos e definições de moral e ética. Na

terceira seção apresentam-se os conceitos de valores e virtudes.

Na quarta seção discutimos os pressupostos teóricos da Psicologia Moral a partir de Jean

Piaget. Na quinta seção apresentamos a metodologia da pesquisa realizada. Na sexta seção

apresentamos os resultados e discussões da pesquisa feita com os acadêmicos.

Finalmente, na sétima seção apresentamos as considerações finais da pesquisa sobre

Desenvolvimento Moral: conhecendo as concepções dos acadêmicos do Curso de Pedagogia

sobre a formação de valores.

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2 REVISITANDO OS CONCEITOS DE MORAL E ÉTICA

Segundo Goldim (2003) é importante saber diferenciar Ética e Moral. Estas áreas de

conhecimento se distinguem, porém têm grandes vínculos e até mesmo sobreposições de

conceitos. A Moral estabelece regras que são assumidas pela pessoa ou conjunto de pessoas,

como uma forma de garantir a felicidade. A Moral independe das fronteiras geográficas e

garante uma identidade entre pessoas que sequer se conhecem, mas utilizam este mesmo

referencial comum. Ainda para Goldim (2003) a Ética é o estudo geral do que é bom ou mau e

um dos objetivos da Ética é a busca de justificativas para as regras propostas pela Moral. A

ética é diferente da Moral, pois, não estabelece regras. Esta reflexão sobre a ação humana é que

a caracteriza.

Nota-se que os conceitos de Ética e Moral são dialéticos, construídos e desconstruídos

a todo instante, se transformando historicamente. Uma Moral que é considerada boa em uma

região e em determinado tempo, em outra pode ser considerada ruim, ou seja, é fruto da cultura

onde a pessoa está inserida. Não estamos aqui fazendo uma defesa do relativismo Moral, apenas

apontado questões que consideramos pertinentes para a presente discussão.

De acordo com Carneiro A. (2016) na interação entre Ética e Moral não existe rigidez.

Os valores éticos são uma referência sobre o que devemos fazer, e não uma lei absoluta. O

binômio Moral e Ética é alvo de especulações sobre seus sentidos. Cotidianamente, ambas são

tratadas como sinônimos. Na presente seção procuraremos abordar dois conceitos focando o

que representam essas duas palavras, uma que herdamos do latim (Moral) e outra do grego

(Ética), “duas culturas antigas que assim nomeavam o campo de reflexões sobre os costumes”

(LA TAILLE, 2006a, p. 25).

2.1 Moral, do Latim: Mores

A moralidade apresenta-se como um dos temas mais antigos da humanidade. O termo

Moral é definido pelo dicionário Michaelis de Língua Portuguesa como: a) relativo à

moralidade, aos bons costumes; b) que procede à honestidade e à justiça; c) favorece aos bons

costumes (MICHAELIS, 1998). Ou seja, diz-se daquilo que se ocupa de tudo que é decente,

educativo e instrutivo.

De acordo com Cunha (2015) a palavra “Moral” deriva do Latim Mores, que significa

“costume”. Aquilo que se consolidou ou se cristalizou como sendo verdadeiro do ponto de vista

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da ação. A Moral é fruto do padrão cultural vigente e incorpora as regras eleitas como

necessárias ao convívio entre os membros dessa sociedade, regras estas determinadas pela

própria sociedade. Para o autor, Moral define o modo de ser das pessoas, transmite regras,

conceitos, valores a serem seguidos ou não. Esses conceitos são adquiridos por meio da

convivência com os outros nas relações diárias.

Para Cunha (2015) a Moral é constituída pelos valores previamente estabelecidos e

comportamentos socialmente aceitos e passíveis de serem questionados pela Ética em busca de

uma condição mais justa. É possível uma ação Moral ou imoral sem qualquer reflexão Ética,

assim como é possível uma reflexão Ética acompanhada de uma ação imoral ou amoral.

Basicamente, nas palavras do autor, quando se trata de Moral, o que é certo e errado depende

do lugar e do tempo onde se está.

Segundo Vázquez (1999) o surgimento da Moral ocorre devido a necessidade de se

conviver em grupo, o homem precisa de regras que digam o que é bom ou mal para a

coletividade. Nesta trilha de pensamento, o autor salienta que a Moral é um fato histórico,

mutável com o tempo, tendo sua origem situada fora da história, partindo de três direções

fundamentais: A primeira teria o divino como referência. Seria Deus que com o poder sobre o

homem estaria não sujeito a Moral, mas acima dela. A segunda explicação apresentada pelo

autor dá conta de que a Moral vem da natureza do homem, faz parte da sua biologia natural. Na

terceira concepção Vázquez (1999) indica que o homem é um ser abstrato, irreal, sendo a

origem e fonte da Moral, que permanece e dura através das mudanças históricas e sociais. Nota-

se de acordo com a fala do autor que a Moral se modifica e transforma as sociedades, desde as

idades primitivas até hoje.

Conforme La Taille (2006a), o termo Moral guarda semelhança com o termo Ética.

Ambos referentes a um conjunto de regras tidas como obrigatórias. Entretanto, o primeiro tem

sido reservado para designar os deveres propriamente ditos, e o segundo, para o campo da

reflexão científica ou filosófica sobre eles, ou seja, o porquê deste ou daquele dever Moral.

A distinção estabelecida por La Taille (2006a) entre Moral e Ética não é a única possível,

mas acreditamos ser ela essencial para a compreensão psicológica dos juízos morais. Desta

forma, tomaremos emprestada sua definição dos conceitos de Moral e Ética, sendo a primeira

referente à dimensão dos deveres, resgatando a ideia de um dever para garantir a regulação da

convivência humana, e a segunda, sobre a dimensão da “vida boa”, da “vida com sentido”.

Vázquez (1999, p. 16) declara sobre a Moral:

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Os indivíduos se defrontam com a necessidade de pautar o seu comportamento por

normas que se julguem mais apropriadas ou mais dignas de ser cumpridas. Essas

normas são aceitas intimamente e reconhecidas como obrigatórias, de acordo com

elas, os indivíduos compreendem que têm o dever de agir desta ou daquela maneira.

Neste caso dizemos que o homem age moralmente [...].

Considerando a declaração do autor, podemos refletir então que existem ações morais e

ações não morais. Para que uma ação seja moral é preciso então, mais do que saber fazer

corretamente determinada ação, é necessário que o motivo que leva o sujeito a executá-la seja

também moral. “[...] a moral deve se pautar por uma vontade boa, por um querer reto. Essa é a

condição necessária e suficiente para que um sujeito seja moral”, assim nos diz Freitas (2003,

p. 61), baseada na conceituação kantiana de moralidade.

Conforme Freitas (2003) o pensamento do homem ocidental sobre a moralidade jamais

poderá ser o mesmo depois de Kant, resultado da ruptura com a filosofia moral da Antiguidade

desencadeada pelo filósofo. A moral a partir de Kant trata da dimensão da obrigatoriedade,

denominada Imperativo Categórico (KANT, 1960). A condição cultural do sujeito envolvido

pela sociedade, com suas normas e leis, faz com que ele não pense fazer de outra forma, tal que

esta forma é a correta e inapelável forma de fazê-lo. O imperativo categórico é possível por que

o sujeito se encontra cercado por costumes.

La Taille (2002a, p. 136) ao esclarecer este aspecto declara que “Do ponto de vista do

“querer fazer”, a moral exige um certo tipo de “querer”: o dever. É dever moral aquilo que

aparece para a pessoa como “algo que não pode não ser feito”, porque é um bem em si mesmo.

A moral remete, portanto, à dimensão da lei, da obrigatoriedade”.

O Imperativo Categórico de Kant não é o único capaz de explicar as motivações morais.

Na linha aristotélica a ética que inspira a moral é a felicidade. A busca da felicidade é a busca

da excelência moral, e “em cada uma das formas de excelência moral, além de proporcionar

boas condições à coisa que ela dá excelência, faz com que esta mesma coisa atue bem.”

(ARISTÓTELES, 1996, p. 143).

Outra corrente dos estudos da moralidade que merece destaque é o trabalho de Carol

Gilligan (1982) sobre a Ética do Cuidado. Em seus estudos, Gilligan (1982) demonstra que as

mulheres, durante muito tempo de suas vidas, acreditam que o cuidado é o mais importante,

concepção fruto da visão misógina da Religião e das Ciências. Para as mulheres há uma

preocupação de observar todos os lados da questão: “Considerar seriamente as consequências

que envolvem moralmente todos os indivíduos numa determinada situação, é conceituar mais

que os direitos e deveres para cada um é achar o que se quer dar a cada um pela ética do cuidado”

(LIMA, 2004, p. 19). Vale destacar que está voz do cuidado não é característica inerente ao ser

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mulher, mas faz parte de um construto social, portanto, para a autora os homens também

possuem a voz do cuidado. O que o estudo de Gilligan (1982) trouxe foi a discussão sobre a

presença do afeto como motivação moral.

Consideramos a moralidade essencial para o bem que possamos fazer uns aos outros na

construção de uma sociedade melhor, bem como para que possamos viver com qualidade.

Moral, “cuja finalidade primeira é garantir a felicidade e o bem estar dos indivíduos” (LA

TAILLE, 1998, p. 44-45).

2.2 Ética, do Grego: Ethos

Segundo Cunha (2015) a palavra “Ética” vem do grego ethos. Etimologicamente, ethos

significa morada, habitat, refúgio. O lugar onde as pessoas habitam e neste sentido, a Ética é

um tipo de postura e se refere a um modo de ser, à natureza da ação humana, ou seja, como

lidar diante das situações da vida e ao modo como convivemos e estabelecemos relações uns

com os outros. Percebemos que a Ética é o princípio que diz como se deve agir nas situações,

fazendo o bem ou o mal ou seja, a Ética é a decisão que se pode fazer através da razão.

Para Silva (2016) a Ética é uma parte da Filosofia prática também conhecida por

Filosofia Moral. Os problemas principais da Ética estão relacionados com os fundamentos do

dever e com a natureza do bem e do mal, ou seja, tudo aquilo que está relacionado com o modo

como devemos viver. Não por acaso, a palavra “Ética” vem do grego éthikos e significa “modos

de ser”. Em outras palavras, esse termo pode ser entendido como a reflexão sobre o

comportamento Moral ou sobre os costumes.

Nesse sentido, podemos considerar a Ética como um tipo de postura que se refere a um

modo de ser, à natureza da ação humana. Trata-se de uma maneira de lidar com as situações da

vida e do modo como estabelecemos relações com outras pessoas. Quais são as nossas

responsabilidades pessoais em uma relação com o outro? Como lidamos com as outras pessoas

em sociedade? Uma conduta Ética pode ser um tipo de comportamento mediado por princípios

e valores morais (SILVA, 2016). Ainda segundo Silva (2016) a palavra “Ética” também pode

ser definida como um conjunto de conhecimentos extraídos da investigação do comportamento

humano na tentativa de explicar as regras morais de forma racional e fundamentada.

Segundo Carneiro (2016) a Ética é o conjunto de valores e costumes difundidos por uma

determinada sociedade, enquanto a Moral é a prática individual influenciada por esse conjunto

de valores éticos. Então, Ética e Moral se complementam, uma vez que nossas decisões morais

são também influenciadas pelos valores que recebemos de nossa família, da sociedade, da

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comunidade ou do grupo que fazemos parte. Percebemos que a Ética e a Moral são diferentes

em seus significados, porém, na prática são interligadas, uma depende da outra.

Os valores se modificam com o tempo. Se as novas gerações discordam dos valores de

seu povo, pode ser o momento com isso de questiona-los. Foi o caso da escravidão no Brasil,

que apesar de sabermos atualmente que é algo execrável, naquela época era tida como uma

prática normal e até mesmo justificada, contudo, passou a ser questionada pelas novas gerações,

culminando na abolição da escravatura (CARNEIRO A., 2016).

Segundo Vázquez (1999) as palavras ethos e mores indicam um tipo de comportamento

não natural do ser humano ao nascer, mas que é adquirido ou conquistado por hábito.

Percebemos com base nessa afirmação do autor que o conceito de Moral e Ética são construídos

por meio das relações e convívio com outros. Ainda de acordo com o autor, a Moral e a Ética

estão relacionadas, porém são distintas, tendo a Moral um caráter de princípios, normas e regras

de comportamento, do que é bom ou mal. Já a Ética tem a missão de explicar as práticas de

morais já existentes na sociedade e suas mudanças podendo influencia-la, mas não cria a moral,

sendo uma ciência que estuda especificamente uma forma de comportamento humano.

Nesta trilha, pode-se considerar que a Ética engloba os princípios que regem

determinados tipos de comportamentos, sejam eles considerados corretos ou incorretos; já a

Moral estabelece as regras que permitem determinar se o comportamento é correto ou não. Se

considerarmos o sentido prático, a finalidade da Ética e da Moral são bastante semelhantes, pois

ambas são responsáveis por construir as bases que guiarão a conduta do homem, determinando

a forma de se comportar em determinada sociedade (SILVA, 2016).

Segundo Vázquez (1999) a Ética pode fundamentar ou justificar o comportamento

Moral dos indivíduos ou da comunidade. Mas também explica, esclarece, e investiga certas

realidades, adequando novos conceitos. Nesse sentido o autor afirma que: “A Ética é a teoria,

investigação de um tipo de experiência humana ou forma de comportamento dos homens, o da

Moral, considerando, porém na sua totalidade, diversidade e variedade.” (VÁZQUEZ, 1999, p.

11).

A Ética é o ponto de partida das diversidades de morais no decorrer dos tempos, com

valores, princípios e normas. Na teoria não se assemelha com as normas morais, devendo

investigar seu princípio que permita compreendê-la no seu movimento e desenvolvimento. A

Ética se defronta com fatos. Nesse aspecto o autor afirma que “A Ética estuda uma forma de

comportamento humano que os homens julgam valioso e, além disto, obrigatório e inescapável,

mas nada disto altera minimamente a verdade de que a Ética deve fornecer a compreensão de

um aspecto real, efetivo, do comportamento dos homens”. (VÁZQUEZ, 1999, p. 12).

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Ao se definir Ética de acordo com Vázquez (1999) não se pode confundir a mesma com

Moral. Ética não cria a Moral e sim determina sua essência, sendo a ciência da Moral:

A Ética é então apresentada como parte da filosofia especulativa, isto é, construída

sem levar em conta a ciência e a vida real. Esta Ética filosófica preocupa-se mais em

buscar a concordância com princípios filosóficos universais do que com a realidade

Moral no seu desenvolvimento histórico e real, donde resulta também o caráter

absoluto e apriorístico das suas afirmações sobre o bom, o dever, os valores morais,

etc. (VÁZQUEZ, 1999, p. 15).

Dessa maneira segundo Vázquez (1999), a Ética estuda tipos de fenômenos que ocorrem

na vida do homem como ser social que constitui o mundo Moral. Não como princípios

absolutos, mais como a existência histórica e social do homem, fazendo relação com a ciência

e não com uma filosofia especulativa.

Entendemos a Psicologia Moral como o campo de estudos que se ocupa da compreensão

e explicação dos processos e aspectos psicológicos implicados no comportamento moral de

mulheres e homens. Conforme explicita Freitas (2003), embora os sentimentos morais tenham

logo sido reconhecidos como objetos válidos de apreciação pela Psicologia, a questão moral se

tornou objeto efetivo de pesquisa com certo atraso em relação às demais áreas da Psicologia.

Jean Piaget (1994) inicia uma verdadeira teoria científica1 do desenvolvimento moral, como

discutiremos no decorrer deste estudo.

1 É importante destacar que em “O juízo moral na criança”, Piaget, logo no início adverte que não estudará os

comportamentos morais e sim os julgamentos.

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3 VALORES E VIRTUDES

No presente estudo procuramos investigar como os acadêmicos do curso de Pedagogia

da Unir, campus de Vilhena percebe a discussão sobre valores morais na universidade e qual a

concepção que os mesmos têm sobre a formação dos valores na vida dos indivíduos. A

investigação sobre a formação dos valores se justifica, por consideramos, do ponto de vista

filosófico, que as pessoas agem moralmente influenciadas por valores (LA TAILLE, 1998).

Com vistas a compreender melhor essa questão e como ela se relaciona com nosso tema

dessa pesquisa, a presente seção apresentará, mesmo que de forma breve, os conceitos de valor

e virtude, morais e não morais e como a discussão se insere no contexto acadêmico.

3.1 O Conceito de Valor/Valores

O termo valor abrange todas as atividades humanas, incluindo a moral que deriva da

economia, embora seja o valor econômico distinto dos demais valores, como o estético, político,

jurídico e o moral (VÁZQUEZ, 1999). Para o autor os valores que atribuímos tanto para coisas,

objetos que os homens criaram, não podem ser vistos intrinsecamente como bons, positivos ou

negativos. Vázquez (1999 p. 121) faz a seguinte definição para valor: “Valor não é a

propriedade dos objetos em si, mas propriedade adquirida graças a sua relação com o homem

como ser social. Mas, por sua vez, os objetos podem ter valor somente quando dotados

realmente de certas propriedades objetivas”.

Não é possível tocar na questão dos valores (morais e não morais) sem mencionar os

estudos sobre as Representações de Si (MENIN et al, 2008; LA TAILLE, 2009b; PENAFIEL;

LIMA, 2016). La Taille (2009b), partindo de um estudo psicológico sobre a moralidade,

entende o Eu como um conjunto de representações de si. Segundo o autor, não importa se tais

representações correspondam de fato ao que a pessoa realmente é ou como é vista pelos outros,

mas sim o fato de que corresponde ao que ela julga ser: “Não se trata de um autoconceito,

portanto unitário, mas realmente de um conjunto de representações, que podem até ser

conflitivas ou contraditórias entre si” (LA TAILLE, 2009b, p. 08).

Essa representação não é inata, mas construída, e começa a ser esboçada com o início

da construção da consciência de si. Segundo Piaget (1994) até os 18 meses há uma

indiferenciação inicial entre o eu e o mundo, portanto entre o eu e outrem. Depois dessa idade,

a criança começa a ser capaz de representar o real, se reconhecendo no espelho e posteriormente

numa fotografia. Com isso tem início a construção da ideia de perceptibilidade. Partindo dessa

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concepção piagetiana La Taille (2009b, p. 58) afirma que a “tomada de consciência e ser

percebido por outrem são contemporâneos no desenvolvimento da criança” (LA TAILLE,

2002b, p. 58). Quando se sente percebida, a criança passa a preocupar-se com a própria imagem

perante os olhos alheios. Essa preocupação é um dos fatores que promovem a construção da

identidade.

Assim, Representações de Si, são representações que o sujeito faz de si mesmo: imagens

de si construídas como um conjunto de valores. Segundo Penafiel e Lima (2016) as

características usadas pelos sujeitos para se definir são, com efeito, percebidas em diferentes

graus, como desejáveis ou não. A questão se relaciona aos valores na medida em que

percebemos que no íntimo dessa consciência de si, do sentimento de ser esse Si Mesmo,

encontra-se o sentimento de ser valor enquanto pessoa.

Segundo La Taille, (2002b, p. 59, destaques do autor), essas representações são sempre

valorativas, pois pressupõe um juízo de valor, uma comparação entre “[...] o que se é e o que

se deseja ser e também entre o que se é e o que os outros são”. Sobre a relação entre

representações de si e valor, o autor ainda complementa: “O fato de as representações de si

serem valor é fácil de ser entendido: uma vez que valor é investimento afetivo e que o ‘si

próprio’ é sempre objeto de tal investimento, as representações de si são inevitavelmente

valores [...]” (LA TAILLE, 2009b, p. 284).

A existência do valor não pressupõe necessariamente a de um bem. O que existe de

valioso em algo tem sua fonte no valor que existe independente dela. Todos os valores que

conhecemos só tem sentido em relação ao de outro (VÁZQUEZ, 1999). É o homem como ser

histórico e social que cria os valores e os bens nos quais se encarnam.

Segundo Freitag (1992, p. 121) “os julgamento ou juízos de valor dão expressão ao

valor que as coisas ou fatos têm para nós como sujeitos ou coletividade”. Para Freitag (1992),

Durkheim distingue dois tipos de valores: os materiais (econômicos) e os ideais (morais,

religiosos e estéticos). E podem ter dois tipos de julgamentos: um subjetivo de forma pessoal e

os objetivos através da impessoalidade, feitos pela coletividade. A autora considera que o ideal

seria que os julgamentos fossem feitos de maneira objetiva, impessoal, produzido pela

coletividade seguindo o pensamento de Durkheim.

Ainda de acordo com Freitag (1992, p.142) os valores na qualidade de padrões,

estabelecem a relação entre o sistema cultural e o social. Destacando quatro princípios ou valor

básico. Primeiro o poder, o segundo, o dinheiro, o terceiro o prestigio (status), e o quarto a

linguagem.

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Falar em valores nos leva também a falar em virtudes. Do ponto de vista da Psicologia

Moral tem sido crescente o número de estudos especialmente relacionados à virtudes. Além dos

estudos a respeito da generosidade entre crianças (LA TAILLE, 1998; LIMA, 2000; DIAS,

2002; TOGNETTA, 2006) encontramos, entre outras, pesquisas que abordaram os seguintes

valores: a honestidade (FRELLER, 2001); a tolerância (CARNEIRO M., 2006); a solidariedade

entre crianças e entre adolescentes (TOGNETTA; ASSIS, 2006); a coragem (DIAS, 2002); a

polidez (LA TAILLE, 2001); e a fidelidade à palavra empenhada (SILVA, 2002).

Nos principais bancos de dados científicos online como Scielo e Periódicos CAPES, foi

possível encontrar também, pesquisas cuja intenção foi investigar as virtudes de personagens

de contos de fadas (SOUZA, 2007) e a relação entre julgamento moral e certas condutas, como

a do uso abusivo de álcool (MARTINS, 2006), a indisciplina (LA TAILLE, 1999b) e a

autoridade (LA TAILLE, 1999a). Da mesma forma, encontramos estudos acerca do ambiente

proporcionado pelas escolas e o tipo de raciocínio moral segundo a ética da justiça e o binômio

heteronomia-autonomia (MENIN, 1985; ARAÚJO, 1993; OLIVEIRA et al, 2005).

Longe de pretender resgatar os detalhes específicos de cada um desses estudos, na

seguinte seção secundária procuraremos apresentar um conceito de virtude com base no

referencial teórico até aqui adotados.

3.2 Virtude

Na concepção de Vázquez (1999) a moral não se separa de regras ou comportamentos

da sociedade, regulamentando as relações sociais entre os homens de uma certa comunidade,

atendendo a determinadas necessidades de cada época. O indivíduo pode adquirir uma série de

qualidades morais através da educação e da vida social que se atualiza com o tempo ou situação

concreta. A estas qualidades designa-se o nome de virtudes. Estas podem mudar ou permanecer

no decorrer dos tempos. A realização da moral pelo indivíduo é um exercício constante com

uma disposição e capacidade de fazer o bem em busca de representações positivas de si.

A definição de virtude para Vázquez (1999, p. 186) é a seguinte:

A virtude (do latim, virtus, palavra que, por sua vez, deriva de vir, homem, varão) é,

num sentido geral, capacidade ou potência particular do homem e, em sentido

especifico capacidade ou potência moral. A virtude supõe uma disposição estável ou

uniforme de comportar-se moralmente de maneira positiva; isto é de querer o bem. O

seu oposto é o vício, enquanto disposição também uniforme e continuada de querer o

mal.

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De acordo com Vázquez (1999) a virtude se relaciona com o valor moral, porém um ato

moral isolado por si só não basta para considera uma pessoa virtuosa. A virtude é um hábito,

um comportamento que se repete, como dizia Aristóteles (1996). De acordo com La Taille

(2009b) fala-se que uma pessoa possui virtudes quando apresenta qualidades como: honra,

coragem, bondade, confiança, perseverança, tranquilidade, força, lealdade, etc. Não devemos

esquecer, no entanto, que se adotamos a concepção de que os conceitos de moral e ética são

históricos, o mesmo acontece com o conceito de virtude. Ou devemos dizer, na forma como

essas mesmas virtudes são percebidas em cada contexto histórico e social. Isso implica ponderar

ainda, que tais conceitos podem estar carregados de cargas ideológicas próprias.

Nesse sentido Vázquez (1999), cita como exemplo que em certas culturas primitivas e

mesmo em contextos atuais, as virtudes esperadas de homens e mulheres são diferentes. Numa

sociedade patriarcal como a nossa, virtuosa é a mulher submissa, obediente, discreta, carinhosa,

fiel e maternal. Já para os homens, são motivo de glória as virtudes que destacam características

viris como a justiça, a honra, a coragem, a força, etc. Atualmente, fruto de intensas lutas sociais,

podemos perceber estas questões de diferentes formas. Isso não implica dizer que estas ou

aquelas virtudes deixaram de existir, mas que acompanharam as transformações sociais. Na

percepção de Vázquez (1999), o ato moral implica a consciência e a liberdade. Seu verdadeiro

agente é o indivíduo que vive no meio social e sua participação da vida social exerce influência

sobre a representação de si.

Para La Taille (2009b, p. 47), o que define virtude é: “Não tratar outrem e si mesmo

apenas como meio, mais sempre como fim, eis a meta da moral, eis o que é ser virtuoso”. Para

o autor, não se pode falar em virtudes sem estabelecer uma relação com o conjunto das

Representações de si, uma vez que “[...] as virtudes morais e aquelas que a elas estão

relacionadas, uma vez que falam de qualidade que caracterizam uma pessoa, podem ocupar

lugar de destaque na construção das representações de si.” (LA TAILLE, 2009b, p. 283,

destaques do autor).

Para entender como as pessoas adquiram certas virtudes como: sinceridade,

honestidade, justiça, amizade, modéstia, solidariedade e também os vícios como: injustiça,

deslealdade, soberba, preguiça é preciso compreender como acontece a “moralização” do

indivíduo e da participação consciente na comunidade em que vive. Mas o que faz com que o

sujeito adquira e cultive certas virtudes morais e outras não? Para Vázquez (1999) a resposta

estaria no contexto social concreto em que são favorecidas ou freadas diante de certas

condições, relações e instituições sociais (VÁZQUEZ, 1999).

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A busca de resposta para essa questão, do ponto de vista da Psicologia Moral, passa pela

educação e pela instituição escolar. Nesse sentido, La Taille (2009b, p. 284) afirma: “[...] todo

problema educacional reside em propiciar a construção de representações de si entre as quais

as virtudes morais e outras que lhes sejam úteis ocupem lugar de destaque nas representações

de si dos alunos”. Para o autor, um trabalho com virtudes pode levar os alunos a pensarem sobre

as próprias representações de si.

As coisas em si não são valiosas, valem porque nós como sujeitos empíricos individuais,

históricos e sociais as desejamos. Tal é a tese do subjetivismo axiológico, que reduz o valor de

uma coisa a um estado psíquico subjetivo. “Não desejamos o objeto porque vale X, isto é porque

satisfaz uma nossa necessidade X, mas vale porque o desejamos ou necessitamos” (VÁZQUEZ,

1999 p. 122, destaques do autor). Já o subjetivismo transfere o valor do objeto para o sujeito.

O objetivismo axiológico alega sim ter objetos valiosos em si, independentemente do

sujeito e divide-se em duas teses: a primeira que é a separação radical entre valor e bem: a

segunda sendo a separação entre valor e existência humana. Os valores em um mundo social

são feitos pelo homem e para o homem (VÁZQUEZ, 1999).

3.3 Valores Morais X Valores não Morais

Segundo Vázquez (1999) os valores são criações humanas e só existem e se realizam

para, no homem e pelo homem. Segundo o autor, os valores também possuem uma objetividade,

não sendo nem ideias platônicas e nem a de objetos físicos. Trata-se de uma objetividade que

transcende o limite de um indivíduo ou de um grupo social. Nessa trilha o autor relata que os

objetos úteis não encarnam valores morais. Tais valores existem unicamente em atos ou

produtos humanos. Os atos realizados consciente e livremente e pelo quais se lhes pode atribuir

uma responsabilidade moral. Um objeto não é intrinsecamente bom ou mau (VÁSZQUEZ,

1999).

De acordo com Silva (2015) os estudos contemporâneos sobre moral, ética e valores não

se pautam apenas em justificativas de ordem filosófica. Para o autor, estudos psicológicos a

respeito dos valores são relevantes pelo fato de que enquanto seres sociais, sempre fazemos

uma leitura valorativa de nós mesmos. Nesse sentido, é relevante mencionar novamente o

estudo das Representações de si (LA TAILLE, 1998, 2000, 2002a, 2002b; SILVA, 2015;

PENAFIEL; LIMA, 2016) que indicam que imagem que temos a nosso respeito se constitui

num valor a ser mantido, pois é vista como uma imagem positiva de si.

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Para muitos desses pesquisadores, os valores podem ser de caráter público, privado ou

formas de glória. Os públicos são os valores morais e dizem respeito à dimensão do dever agir.

Eles objetivam a harmonia social, como é o caso da justiça, e estão alicerçados no preceito

kantiano de agir do Imperativo Categórico “apenas segundo uma máxima tal que possa ao

mesmo tempo querer que ela se torne lei universal” (KANT, 1960, p. 59).

Quanto aos valores de caráter privado, também conceituados como éticos, busca-se da

mesma forma a harmonia ou alguma forma de felicidade, embora aqui a dimensão seja a do

“dever ser” (SILVA, 2015). Entretanto, Silva (2015, p. 394) salienta que “[...] diferentemente

dos morais, o referido esforço é feito em nome da harmonia pessoal. Esse é, a nosso ver, o caso

da amizade”. Embora digno de apreço, tal valor é dispensável para a garantia do convívio em

sociedade, muito embora Comte-Sponville (1995) considere que cultivá-la seja uma atitude que

possibilita certo grau de felicidade.

Quanto às formas de glória (beleza, força física, status financeiro e social) também as

compreendemos como valores assim como autores contemporâneos que se dedicam ao estudo

da moral e suas dimensões psicológicas (LA TAILLE, 2000, 2002a, 2002b; SILVA, 2015;

PENAFIEL; LIMA, 2016), uma vez que são estimadas pelas pessoas e fortes influenciadoras

de suas condutas.

A moral é um objeto de conhecimento e sua dimensão intelectual pressupõe o

conhecimento de regras, princípios e valores que lhes dão fundamentos:

Ela (moral) fala em regras, e assim diz o que deve ser feito e o que não deve ser feito.

Ela fala em princípios, ou máximas, e, portanto, diz em nome do que as regras devem

ser seguidas. E fala em valores, e assim revela de que investimentos afetivos são

derivados os princípios. Por exemplo, a moral pode afirmar que a vida é um valor,

derivar o princípio segundo o qual a vida deve ser respeitada, e ditar regras como ‘não

matar’, ‘não ferir’, ‘promover o bem estar.’ (LA TAILLE, 2006a, p. 73).

A moral também pressupõe conhecimentos culturais, psicológicos e científicos,

contudo, o autor afirma que os conhecimentos sobre regras, princípios e valores são condições

necessárias ao agir moral, uma vez que “do ponto de vista lógico, a sequência argumentativa

segue o caminho que parte dos valores e chega às regras prescritivas, passando pelos princípios”

(LA TAILLE, 2006a, p. 74). Entretanto, o mesmo autor alerta que os conhecimentos já

mencionados, embora necessários à ação moral, não são suficientes. É preciso saber colocá-los

em movimento, relacioná-los entre si fazendo-os produzir juízos e ações para cada situação

encontrada.

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Em determinadas situações a dimensão moral aparece de forma clara não oferecendo

dificuldades para uma tomada de decisão. Nessas situações o equacionamento moral decorre

diretamente da aplicação das regras e dos princípios. Porém, há situações nas quais a ideia de

equacionamento toma outro sentido. La Taille (2006a, p. 81) define da seguinte forma o que

vem a ser esse equacionamento: “[...] consiste em, diante de uma situação na qual regras,

princípios e valores morais conflitantes aparecem com clareza, destacar estes elementos,

ponderá-los e, para tomar a decisão, estabelecer uma hierarquia de valores entre eles”. Sendo

assim, a tomada de decisão diante de situações que apresentam dilemas morais pressupõe um

equacionamento moral, perceber que elementos morais estão em jogo, ponderá-los e

hierarquiza-los. O autor lembra que nem sempre as dimensões morais de uma determinada

situação aparecem com clareza, nesses casos é necessário ter sensibilidade moral, ou seja, “a

capacidade de perceber questões morais em situações nas quais não aparecem com clareza”

(LA TAILLE, 2006a, p. 90).

A sensibilidade moral traduz uma disposição, pressupõe uma vontade e capacidade de

pensar. Poderíamos dizer, em outras palavras, que ela representa a capacidade de ler nas

entrelinhas, interpretar os sinais, perceber a sensibilidade alheia, seus motivos de alegria e

sofrimento. Tanto para Piaget (1994) quanto para La Taille (2006a) o desenvolvimento do juízo

moral depende do desenvolvimento cognitivo, daí a importância da dimensão intelectual da

moral. As crianças, desde pequenas, tem certa capacidade de pensar a moral. Embora não sejam

ainda capazes de traçar fronteiras claras entre os domínios, certamente estão atentas às

diferenças entre as regras que lhe são apresentadas e impostas.

Nesse ponto, La Taille (2006a) destaca a contribuição da dimensão afetiva da moral. O

dever corresponde a um querer, sendo o sentimento de obrigatoriedade também uma forma de

querer. A dimensão intelectual da moral depende, para tornar-se ação, desse querer fazer moral,

“da vontade de agir e da intenção com a qual se age” (LA TAILLE, 2006a, p. 107).

Para exemplificar essa questão La Taille (2006a) dá o exemplo da culpa como

sentimento moral que refere-se à responsabilidade por uma transgressão, havendo, ainda que

incipiente, o sentimento de rompimento com um dever moral, cuja raiz está no respeito incutido

pelas figuras inspiradoras de medo e amor (pais e professores). A “pessoa moral” é aquela que

assume sua responsabilidade perante outrem e perante si mesma sendo o sentimento de culpa a

dimensão afetiva desse compromisso.

Para o autor, tais sentimentos, dadas as condições ideais, como um ambiente em que a

autoridade seja exercida por pessoas que merecem confiança, evoluirão no sentido da

reciprocidade, da responsabilidade, da honra, de sentir-se um sujeito moral. Entretanto, esta

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evolução de sentimentos só ocorrerá se as primeiras noções morais construídas penetrarem a

personalidade e for construída aquilo que Puig (1998) chamou de Personalidade Moral. A

formação da Personalidade Moral, para Puig (1998, p. 149) “Implica trabalhar simultaneamente

na formação da consciência moral autônoma, no desenvolvimento de suas capacidades ou

procedimentos de reflexão e ação, e finalmente na aquisição dos elementos substantivos que

constituem a identidade moral de cada indivíduo”.

Citemos novamente La Taille (2002a), para quem a formação de uma Personalidade

Moral implica a formação da identidade. Pensar a moral como processo de formação da

identidade, é considerar que: a) A identidade de cada pessoa é um conjunto de representações

de si; b) Tais representações são sempre valorativas; e c) Há uma tendência em cada pessoa de

procurar, de identificar-se com valores positivos (morais).

Segundo Silva (2015) o sujeito pode priorizar alguns valores em detrimento de outros,

assim, é possível uma pessoa associar sua “personalidade [identidade] a alguns traços morais

(como coragem e lealdade) e não a outros; ou mais a uns do que a outros” (LA TAILLE, 1998,

p. 10). Além disso, a mesma pessoa poderá agregar à sua personalidade mais valores públicos,

ou seja, relacionados ao como se deve agir, ou privados, isto é, ligados ao como se deve ser.

Retomamos aqui a questão das Representações de si. Segundo La Taille (2002b) as

características usadas pelos sujeitos para se definir são, com efeito, percebidas em diferentes

graus, como desejáveis ou não. No íntimo dessa consciência de si encontra-se o sentimento de

ser valor enquanto pessoa. Sendo tais representações sempre valorativas, pressupõem um juízo

de valor, uma comparação entre o que se é e o que se deseja ser e também entre o que se é e o

que os outros são. Ou ainda: o que eu vejo nos outros, como eu os represento, ajudam a definir

o que desejo ser.

Para o autor ao admitirmos que as representações de si estão sempre situadas em planos

valorativos e que os indivíduos estão sempre em busca de representações de si positivas, implica

dizer que as pessoas tem uma tendência a procurar certos valores e não outros. Tais tendências

não são inatas, mas construídas social e culturalmente. No conjunto das representações de si,

certos valores podem ser centrais, e outros, periféricos.

Exemplificando, para uma determinada pessoa, ver-se como bonita, isto é, ter de si a

imagem de que é bonita fisicamente — o que não significa que o seja, as

representações de si estão na dimensão simbólica, e não real, pode ter mais valor do

que se ver como honesta ou justa: nesse caso, a representação de si relacionada à

beleza é central, e aquela relacionada à moral é periférica. (LA TAILLE, 2002b, p.

66).

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Os valores que ocupam a parte central das representações de si têm maior força

motivacional. Voltando ao exemplo citado pelo autor, a pessoa para quem o valor “beleza

física” é central na sua identidade investirá maiores esforços na conservação ou no incremento

dessa beleza do que investirá para ser honesta ou justa, sendo esses dois últimos valores

periféricos.

La Taille (2009b) em pesquisa sobre os valores dos jovens de São Paulo chama atenção

para uma tendência do jovem de desertar do espaço público e recolher-se no espaço privado.

Nessa tendência, instituições que ocupam espaço público como a política e a escola tem perdido

sua credibilidade e deixam de ser vistas como a mais importante na formação de valores, os

amigos e família estão antes nesta classificação. Essa tendência, segundo o autor, tende a levar

os jovens a buscarem valores que dizem respeito ao espaço privado em detrimento daqueles do

espaço público.

La Taille (2009b, p. 9) nos propõe o seguinte questionamento: “estaríamos vivendo

tempos de “crise de valores” ou tempos de “valores em crise”?” Na concepção do autor a crise

de valores está ocorrendo porque os valores morais estão doentes ou correndo o risco de

extinção devido à ausência de legitimação da moral. A afirmação referente os valores em crise

remete ao fato que os valores morais não desapareceram, mas estariam mudando de

interpretação. Para o autor, vivemos tempos de constante crise e processo de transformação, a

moral não está morta, mas em transformação. Mas precisamente o que isso quer dizer? O que

estas questões representam para a educação?

A gênese do juízo moral teve seu estudo iniciado com Piaget, que rompeu com a ideia

de considerar esta capacidade mera questão de internalização de valores. A moral segue uma

trajetória estreitamente ligada às operações mentais envolvidas na lógica da criança, iniciando-

se em um estágio de anomia, passando pela heteronômica, para finalmente, culminar na

autonomia, que nem sempre é alcançada por todos os seres humanos. Na seção seguinte

apresentaremos, seguindo o referencial da Psicologia Moral como se dá a construção das noções

de moral, ética e também a aquisição de valores nos seres humanos.

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4 PSICOLOGIA MORAL

A moralidade, durante muitos séculos foi tema de estudo da Filosofia, Teologia e

Sociologia, no entanto, durante o século XX três grandes correntes teóricas contribuíram com

as pesquisas psicológicas sobre a moral, a saber, a psicanálise de Freud, o behaviorismo de

Skinner e a teoria construtivista de Piaget (LA TAILLE, 1998b). Na presente seção faremos

uma breve introdução das contribuições de Jean Piaget para o estudo psicológico da moral.

4.1 Desenvolvimento Moral a partir de Jean Piaget

Piaget dedicou uma obra específica ao estudo da moralidade na criança. Em “O juízo

moral na criança” ele procurou dialogar com crianças de diferentes idades sobre dois blocos

temáticos: as regras sociais e a ideia de justiça (PIAGET, 1994). No primeiro bloco temático

ele concentrou sua atenção em dois tipos de regras sociais: regras de jogos (bolinha de gude e

amarelinha) e regras morais propriamente ditas. Quanto ao segundo, Piaget procurou estudar a

maneira pela qual as crianças adquirem a consciência de justiça.

Ao estudar as regras do jogo, Piaget procurou destacar dois aspectos importantes: o

conhecimento prático das regras de um jogo e a consciência da validade dessas regras, isto é,

do caráter social e recíproco das mesmas. Para chegar aos resultados, Piaget (1994) fez uso do

Método Clínico que segundo Queiroz e Lima (2010) orienta-se segundo dois princípios:

primeiro, o pesquisador procura esclarecer o conhecimento que o entrevistado tem das regras

de um jogo e segundo, introduz a questão da origem da regra, das condições de sua validade e

as condições legais e legítimas da reformulação das regras.

Ao contrário da tradição sociológica defendida por Durkheim de que a essência da

Educação Moral era ensinar às crianças a obediência às regras morais da sociedade, Piaget

(1994) procurou entender como as crianças desenvolvem o respeito pelas regras e qual a

concepção de reciprocidade e igualdade entre os indivíduos e com a sociedade, e, mais ainda,

como se constroem esses conceitos de regras e de respeito mútuo.

Os estudos de Piaget (1994) concluem que a relação desigual entre as pessoas gera o

Respeito Unilateral, e que, na relação onde uma pessoa é respeitada, na medida em que respeita

a outra, vai ocorrer o desenvolvimento do Respeito Mútuo. Seguindo nesse caminho, o autor

constatou a existência de dois tipos de Moral (Heterônoma e Autônoma) que estão diretamente

relacionadas com os dois tipos de respeito mencionados.

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Piaget (1994) observou que a construção da moralidade segue caminho semelhante a

própria construção cognitiva, saindo de estágios primitivos para estágios mais elaborados. A

base filosófica da moralidade seria o respeito, inicialmente aquele à coação que os adultos

exercem com sua autoridade e mais tarde, às normas e regras discutidas, aceitas e representadas

pelos grupos sociais a que pertencem, consequentemente, pelo respeito aos seus componentes.

Pesquisando com crianças de cinco a doze anos, Piaget (1994) descobriu que a gênese da

moralidade infantil passa por essas duas grandes fases. Na primeira, o universo da moralidade

confunde-se com o universo físico. As normas morais são entendidas como leis heterônomas,

provenientes da ordem das coisas, e por isso, intocável, sagrada. Na fase posterior as normas

passam a ser entendidas como normas sociais cujo objetivo é regular as relações entre os pares.

Dessa forma, em torno dos dez, onze e doze anos, a criança passa a conceber a si mesma como

possível agente no universo moral, capaz de, mediante relações de reciprocidade com outros,

estabelecer e defender novas regras (PIAGET, 1994, 1999).

Para o autor, a tendência da criança à moral da heteronomia é formada através do

egocentrismo que a impede de discriminar como diferentes as imposições, as ideias ou pontos

de vista que vem do exterior, daqueles construídos por ela mesma. Também é formado através

da relação do respeito unilateral. Sendo assim, tanto o egocentrismo como as relações de coação

estão presentes e coexistem concomitantemente em uma relação heterônoma.

Quando a criança passa a vivenciar experiências com outras crianças, vai construindo-

se a autonomia, tornando possível a troca de pontos de vista, desejos e opiniões diferentes.

Entretanto, esses posicionamentos, embora diferentes, são vivenciados entre iguais. Na relação

criança-criança não há uma autoridade a quem obedecer, a obediência é substituída pela

reciprocidade. Para Piaget (1994) uma vez que a necessidade de respeitar equilibra-se com a

necessidade de ser respeitado, constrói-se então o conceito de respeito-mútuo.

Através do jogo de bolinhas de gude e amarelinha, onde as regras são transmitidas de

geração a geração, e os menores são dirigidos pelos maiores no respeito a essas regras, Piaget

(1994) preocupou-se em estudar a prática e a consciência da regra, o que segundo o próprio

autor, permitiria definir a natureza psicológica das responsabilidades morais. Ele constatou,

através da observação do jogo e do interrogatório sobre as regras, a existência de quatro estágios

no desenvolvimento da consciência da regra. Apresentamos no quadro 1 o resumo dos estágios

da consciência das regras.

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Quadro 1: Estágios do desenvolvimento da consciência das regras

Estágio Faixa etária

aproximada

Características

Estágio

0 a 2 anos

Motor e individual: a criança manipula o objeto em função de seus próprios

desejos e hábitos motores a fim de estabelecer alguma ritualização onde o jogo

permanece individual. Pode-se falar de regras motoras, mas não de regras

coletivas.

Estágio

2 a 6 anos

Egocentrismo: a criança imita a regra exterior sozinha, não se preocupa com os

parceiros e se os tem não se preocupa em vencê-los. Não há uniformidade na

maneira de jogar. Mesmo quando juntas, jogam ainda cada uma para si e sem

cuidar da codificação das regras.

Estágio

7 a 10 anos

Cooperação: cada jogador procura vencer o seu vizinho, a criança preocupa-se

com a unificação das regras e com o controle mútuo. A regra é imposta pelo

consentimento mútuo, cujo respeito é obrigatório. Sujeito à transformação desde

que haja um consenso geral. Eles jogam juntos, mas com uma infinidade de regras

concomitantes.

Estágio

11 a 12 anos

Codificação das regras: momento onde ocorre a organização do pensamento e

autonomia. O código de regras é conhecido por toda sociedade, as partidas do

jogo são regulamentadas com minúcia, até nos pormenores do procedimento. As

crianças jogam pelo prazer da disputa, procurando interagir quanto às regras, que

jamais são inflexíveis e dispõem de possibilidades de mudanças decididas pelo

coletivo.

Fonte: Adaptado de Piaget (1994).

Considerando esse complexo processo de construção da consciência das regras, Piaget

(1994) faz referência a três tipos distintos. Regra motora: onde a criança ritualiza suas ações

sobre os objetos e os elabora; Regra coercitiva: a criança considera as regras como sagradas e

imutáveis, uma vez que considera aquele que as informa, o adulto, como superior e inatingível

e Regra racional: com aquisição no início da adolescência, onde as regas não são mais aceitas

como dadas, a menos que atenda às necessidades e desejos do coletivo.

Piaget (1967, 1994) admite o julgamento moral como um aspecto fundamental do

desenvolvimento da consciência da regra. Essa premissa nos permite refletir que a construção

da regra moral é similar à construção da regra do jogo. Nesse sentido o autor destaca que existe

um estágio de total submissão aos valores, tidos como sagrados, onde ocorre a construção de

uma “consciência da regularidade” e de uma “consciência da obediência”, denominados por

Piaget (1967) como Realismo Moral. Tendo como característica principal a heteronomia. Ao

participar da elaboração das regras, a criança entende o significado destas e a razão de sua

utilidade, podendo ser controlada pelo próprio grupo, onde todos têm o poder de elaborar a

regra e cobrar o seu cumprimento.

Quanto às etapas do desenvolvimento moral, Piaget (1994) constatou que dentro da

Heteronomia, a concepção de justiça é imanente, onde as regras não são acatadas pela sua

validade, mas sim, pelo simples fato de serem regras. Por essa razão, devem ser obedecidas

cegamente. Por causa dessa obediência cega, o bem será sempre definido pela obediência e o

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mau pela desobediência. Já a moral Autônoma se manifesta nas atitudes sociais, como

cooperação e reciprocidade.

Ao investigar o juízo moral na criança Piaget (1994) foi pioneiro em descobrir como as

crianças desenvolvem concepções de justiça e injustiça. O autor se deparou em suas entrevistas

com diversas crianças de diferentes contextos e idades com três períodos de evolução dessas

concepções, a qual denominou Justiças Imanente, Retributiva e Distributiva.

Na Justiça Imanente, encontrada por volta dos 6 e 7 anos, a presença da coação adulta,

que se enquadra na sanção expiatória, se resume na crença de que as sanções são automáticas e

que emanam das próprias coisas. É atribuída à natureza, como um todo, a existência de sanções

automáticas mesmo que a situação não tenha nenhuma relação objetiva com o fato. A Justiça

Retributiva, característica da faixa etária entre 7 e 0 anos está ligada completamente à ideia de

sanção. O ato deve ser corrigido com uma punição correspondente ao erro cometido. Nesse tipo

de justiça existem dois tipos de sanção: Expiatória e por Reciprocidade. Por volta dos 12 anos

em diante, Piaget (1994) descreve a noção de justiça como Distributiva, pois está ligada à ideia

contrária à da sanção. É uma consequência das formas evoluídas da justiça retributiva, fazendo

com que a igualdade tenha primazia sobre a retribuição sempre que houver conflitos entre elas.

Piaget (1994, p. 200) observa que:

[...] os conflitos deste gênero são frequentes na vida das crianças. Acontece

frequentemente que os pais ou os professores favorecem a criança obediente em

detrimento das outras. Tal desigualdade de tratamento, justa do ponto de vista

retributivo, é injusta do ponto de vista distributivo.

Na justiça distributiva a sanção é pesada de forma mais equilibrada. A justiça igualitária

é temperada por preocupações de equidade. Leva-se em conta as condições e intenções, não só

as consequências do ato. Para o autor, tais noções de justiça estão presentes no desenvolvimento

do juízo moral infantil, diferenciando-se hierárquica e cronologicamente, das crianças mais

novas às mais velhas, definidas como as “duas morais”. A moral da autoridade (moral do dever,

da heteronomia e da obediência) e a moral do respeito mútuo (moral do bem e da autonomia)

que conduz ao desenvolvimento da igualdade que constitui a justiça distributiva e a

reciprocidade.

Sobre a evolução da noção de justiça, o autor vê a influência adulta mais como uma

fonte de atraso que de desenvolvimento, uma vez que a autoridade não poderia ser fonte de

justiça, já que esta supõe a autonomia (PIAGET, 1994). Para ele, a autoridade adulta é fonte

apenas de dever. Tal constatação nos leva a questionar a super valorização do papel do adulto

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na construção do juízo moral infantil. Considerando o que nos apresenta Piaget (1994) os

adultos não podem ajudar na formação moral da criança dando exemplos de reciprocidade?

Sim, entretanto o próprio autor alerta que apenas os processos de cooperação e respeito mútuo

entre pares constroem as noções mais elaboradas de justiça. Conforme o trabalho de Piaget

(1994) as formas de justiça retributiva e as sanções expiatórias são oriundas da relação adulto-

criança. As relações entre pares irão construir o meio mais propício para o desenvolvimento da

solidariedade, de cooperação.

Trazendo a discussão para o campo das virtudes, Comte-Sponville (1995, p. 70)

apresenta a justiça como a virtude moral que é absolutamente boa. Para ele a justiça é boa em

si: “A justiça não é uma virtude como as outras. Ela é o horizonte de todas e a lei de sua

coexistência”. Para Piaget (1994), entretanto a justiça é a mais racional de todas as virtudes.

La Taille (2006a, p. 62) fala da virtude justiça como tema moral e político: “[...] fala-se em

pessoas justas, mas também em instituições justas e em leis jurídicas justas”. Sendo assim, cabe

dizer que a justiça diz respeito tanto à esfera privada quanto à esfera pública, para ambas como

a busca do equilíbrio nas relações interpessoais. Importante destacar que aqui os sentidos de

pública e privada não dizem respeito à propriedade estatal ou privada, mas sim ao que é do

indivíduo ou de um pequeno grupo de pessoas ou que pertence ao coletivo, ao grupo social.

Como vimos, a gênese do juízo moral teve seu estudo iniciado com Piaget (1994), que

rompeu com a ideia de considerar esta capacidade mera questão de internalização de valores.

Para o autor, a moral segue uma trajetória estreitamente ligada às operações mentais envolvidas

na lógica da criança, iniciando-se em um estágio de anomia, passando pela heteronomia, para

finalmente, culminar na autonomia, que nem sempre é alcançada por todos os seres humanos.

Para La Taille (2006a), o trabalho de Piaget, apesar de seu imenso valor, deixou de lado

um aspecto importante da moral no que diz respeito aos valores, que, segundo o autor, conferem

coerência e coesão às regras. De acordo com Biaggio (2002) o trabalho de Kohlberg (1981)

preenche esta lacuna avançando em relação ao iniciado por Piaget ao identificar outros estágios

entre a heteronomia e autonomia. Embora não seja nosso objetivo apresentar detalhadamente

a teoria do julgamento moral de Lawrence Kohlberg, vale ressaltar que o pesquisador postulou

três níveis de desenvolvimento moral: pré-convencional, convencional e pós-convencional. A

influência piagetiana é nítida na hora de Kohlberg, para quem a criança constrói gradualmente

sua visão do mundo e da moral (BIAGGIO, 2002).

A moral para Kohlberg (1981) inicia-se com o nível pré-convencional que se subdivide

em dois estágios, diferenciados por uma relativização progressiva dos julgamentos, antes

baseados só na avaliação das consequências. No nível seguinte, convencional, que também

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compreende dois estágios, a adesão à regra é referenciada no grupo da qual emana, não só pela

aprovação do mesmo, mas para garantir sua estabilidade. No último nível, pós-convencional, é

quando se verifica uma definição de valores e regras pessoais, independente da autoridade do

grupo, culminando na escolha e adesão a princípios éticos universais, orientados para a justiça,

reciprocidade, igualdade e respeito ao outro (KOHLBERG, 1981).

Kohlberg (1981) salientava que embora não seja impossível, pouquíssimas pessoas

conseguem alcançar o nível pós-convencional, principalmente no que diz respeito ao que o

autor chamou de princípios universais de consciência. Biaggio (2002, p. 27) caracteriza este

nível como “[...] a moralidade da desobediência civil, dos mártires e revolucionários pacifistas,

e de todos aqueles que permanecem fiéis a seus princípios, em vez de se conformar com o poder

estabelecido e com a autoridade”. Jesus Cristo, Mahatma Gandhi e Martin Luther King são

citados por Kohlberg (1981) como exemplos de pensamento da moral pós-convencional.

Ao citar exemplos de personagens reconhecidos por seu julgamento moral

extraordinário, Kohlberg (1981) não pretende insinuar que atingir níveis pós-convencionais de

pensamento moral seja uma utopia. Ao contrário, o autor salienta que todos podem atingir tais

níveis, embora esse processo não seja automático ou inato. Assim como La Taille (2006a),

Biaggio (2002) enfatiza a instituição escolar como incontornável para se alcançar os níveis mais

elevados de moralidade e a construção de valores éticos universais.

Estas afirmações nos levam a questionar, considerando o cenário apresentado por

autores como Menin et al (2008), La Taille (2009a) e Martins e Silva (2009) sobre os valores

em crise de nossa sociedade, se de fato a escola tem cumprido com sua função primordial de

formar cidadãos mais justos, críticos e conscientes de sua dignidade como ser humano.

Pensemos: Para que ir à escola? Para que ficar horas sentado, quieto, disciplinado? Para que

frequentar uma escola que exclui o aluno que não se encaixa em seu padrão de “normalidade”

idealizado? Justo (2006) aponta que apesar de todos os problemas que pesam sobre ela, a escola

permanece como instituição necessária em nossa sociedade.

Longe da intensão de pensar a moral no contexto escolar como forma de controle e

disciplinamento social, aos moldes do que pretendeu a Ditatura Militar no Brasil, as pesquisas

de Piaget (1994), Kohlberg (1981), La Taille (2006a) e tantos outros autores citados nos

apresentam a importância de considerar o espaço social da escola, seus agentes e comunidade

como necessários à formação de valores morais e sociais das crianças. A escola deveria

desempenhar, em uma sociedade democrática que pauta seu funcionamento em princípios de

justiça e respeito, o papel de uma instituição justa. Respeitando as diferenças físicas, de gênero,

sociais, culturais, afetivas, políticas e ideológicas.

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Concordamos com La Taille (2009a) ao afirmar que a escola é uma instituição

incontornável para a educação moral, uma vez que representa uma espécie de transição do

espaço privado (família) para o espaço público (sociedade) e as dimensões morais necessárias

para se inserir nesse último podem, e devem ser trabalhadas em sala de aula. Essa questão passa,

a nosso ver, inicialmente pelos cursos de formação de professores. Se almejamos de fato

construir uma escola democrática, mais justa e igualitária, é necessário, que como educadores,

possamos compreender os processos filosóficos, psicológicos e pedagógicos que sustentam

essas questões.

4.2 Considerações Sobre Moral, Ética e Educação Escolar

Segundo os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN), (BRASIL, 1997) que apresenta

os temas transversais, a cidadania deve ser compreendida como exercício de direitos e deveres

políticos, civis e sociais, adotando no cotidiano, atitudes de participação, solidariedade,

cooperação e repúdio às injustiças e discriminações, respeitando o outro e exigindo para si o

mesmo respeito. O exercício dos direitos e deveres de um cidadão é assegurado por muitos

documentos oficiais. Entretanto, para se chegar a compreender a essência da qual emanam esses

direitos e garantir que sejam respeitados é preciso ir além do simples código escrito. É preciso

compreender o princípio que originou a regra.

De acordo com Menin (1996) pais, professores e sociedade que desejam promover uma

educação para autonomia devem primeiramente considerar seus próprios comportamentos e

julgamentos morais. Tomando como pressuposto teórico a concepção piagetiana do

desenvolvimento do juízo moral infantil, os exemplos e modelos que oferecemos ou a ausência

deles, terão forte impacto na construção de suas concepções sobre moral, ética e valores. Se

enquanto “modelos” não oferecemos oportunidades de desenvolvimento e construção de

valores como justiça, respeito, generosidade e solidariedade, dificilmente conseguiremos que

as crianças construam e adotem para si os mesmos valores e princípios aos quais aspiramos.

Segundo Tognetta (2003, 2006) a escola apresenta-se como um dos locais mais

eficientes para a construção de valores, principalmente aqueles referentes aos espaços e relações

públicas. Para a autora, pela troca entre pares, a criança constrói valores e atitudes. Na interação

com outras crianças, com o professor e a própria família é que esses valores são formados e

passarão a compor sua personalidade.

Contudo, para que essa tarefa seja bem sucedida, Biaggio (2002) relembra que é preciso

que a escola seja um ambiente cooperativo. Somente assim poderá elucidar esse respeito mútuo

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e promover a evolução da moralidade. Isso porque, para a autora, a evolução da moralidade à

níveis mais elaborados somente acontece quando podemos refletir sobre o comportamento

interpessoal, a convivência social, o tipo de vida que se leva, os valores que pretendem conduzir

o comportamento ou sobre as vivências conflitivas. Nesse ambiente, a criança adquire a

capacidade de atribuir valor, pensar e decidir por si mesma os próprios valores, pensamentos e

decisões. Além disso, um ambiente cooperativo favorece relações de confiança (TOGNETTA,

2003). Dessa forma percebemos o quanto é importante que a escola seja um ambiente que

promova o respeito, a autonomia e a confiança, pois, esses valores fazem com que a criança se

sinta segura e estimulada ao convívio social que é a chave para formar a moral de cada um.

Considerando que a escola está inserida num determinado tempo e espaço histórico e

social, vale questionar como a dita “crise de valores” mencionada anteriormente tem afetado a

escola. Tem se tornado recorrente as queixas de professores e demais agentes escolares sobre a

indisciplina e a violência nas escolas. Deve-se lembrar, entretanto, que a escola não é espaço

neutro, isento do que acontece em seu entorno. E se episódios de violência e intolerância estão

se tornando frequentes em seu interior, isso se deve a um amplo e complexo modo de funcionar

social. La Taille (2009a) alerta que não cabe somente responsabilizar a moral (ou sua ausência)

como causadora de ações violentas com o outro. Essas ações estão relacionadas a vários fatores

sociais e comportamentais onde o ser humano está inserido. Cabe se perguntar, então, se a

sociedade contemporânea enfatiza e promove a construção de personalidades éticas ou se, pelo

contrário, direciona a busca de autoestima em direções outras, direções essas que ignoram a

moral ou são a ela contraditória (LA TAILLE, 2009a).

O autor alerta que é preciso estar atento à forma com que a sociedade está direcionando

a formação da moral dos sujeitos, pois, a moral pode ser positiva ou negativa. A sociedade pós-

moderna alimenta não uma cultura do auto respeito, mas uma cultura da vaidade. Para o autor,

isso significa dizer que investimos afetivamente em valores que são alheios ao contexto ético e

não que não temos mais valores. A esse fenômeno La Taille (2009a) chamou de crepúsculo do

dever.

Nossas instituições, na perspectiva do autor, estão deixando de lado a cultura do respeito

a si mesmo e com o outro e adquirindo a cultura da vaidade onde cada vez mais, valores como

a vaidade, a fama, a riqueza, o poder e a glória têm ocupado espaços centrais nas personalidades.

A título de exemplo, La Taille (2009a) cita que atualmente, se fala muito em competências.

Aliás, até a educação foi tomada de assalto por esse pequeno vocábulo que se tornou referência

obrigatória para se pensar no tipo de educador que pretendemos ser e que alunos pretendemos

formar. O modelo de produção capitalista cultiva valores voltados para a produtividade e

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individualidade. Dessa forma, consideramos fundamental refletir sobre como a moral, ética,

valores, virtudes, etc. são discutidos no contexto dos cursos de formação de professores e na

comunidade universitária de modo geral. É preciso fazer uma análise constante em nossa forma

de pensar e agir como acadêmicos, docentes, pesquisadores, agentes públicos que serão futuros

educadores, uma vez que nossas atitudes serão exemplos para a formação da moral de várias

crianças.

A criança começa a se inserir no mundo letrado quase que de forma espontânea, no

contato que trava com as palavras escritas presentes em seu universo, constrói rudimentos de

física manipulando objetos, rudimentos de filosofia ouvindo aqui e ali opiniões sobre o sentido

da vida, primeiras noções de matemática contando e agrupando objetos, e assim por diante. No

caso da moral, a situação é a mesma: ela observa, desde a mais tenra idade, como as pessoas se

comportam umas com as outras e em relação a ela, como julgam as ações de uns e de outros.

Pela mídia, ela fica sabendo dos conflitos que assolam o mundo; pelos filmes e pelos livros, ela

descobre pessoas apresentadas como admiráveis e outras como abomináveis; com os amigos, a

simpatia e a antipatia, etc. Logo, o desenvolvimento moral da criança depende sim da presença

difusa da moralidade no seio da sociedade (LA TAILLE, 2009a).

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5 A PESQUISA

Nesta seção apresentaremos os aspectos metodológicos que nortearam o fazer da

pesquisa.

5.1 Método

Uma pesquisa que visa conhecer as concepções que os acadêmicos do curso de

Pedagogia possuem sobre a ética, moral e os valores morais deve ter bem definidas suas

questões metodológicas. A presente investigação partiu de um paradigma qualitativo com

pesquisa de campo, do tipo descritivo e comparativo, com método dedutivo.

Segundo atestam Marconi e Lakatos (2011, p. 69) no método dedutivo “[...] a

necessidade de explicação não reside nas premissas, mais ao contrário, na relação entre as

premissas e a conclusão [...]”. Ainda segundo as autoras, neste tipo de método “[...] a explicação

de por que algo deve ser como é não está limitada a esse algo ser efeito de certas causas. O

modelo dedutivo pode explicar, por exemplo, em termos de propósito, já que a necessidade de

explicação é lógica e não causal”.

5.2 Lócus da Pesquisa e Participantes

A pesquisa foi realizada na Universidade Federal de Rondônia, campus de Vilhena com

duas turmas do curso de Pedagogia. Uma cursando o 2º período matutino e outra cursando o 8º

período noturno. Os dados foram coletados por meio de um questionário com questões abertas.

A aplicação do questionário aconteceu durante o período das aulas após consentimento

e liberação do espaço e tempo pelo professor que lecionava nas referidas turmas. No dia

reservado para a aplicação do instrumento, conversamos com os alunos que estavam presentes

sobre a pesquisa e seus objetivos os convidando a participar. Fizemos a leitura do Termo de

Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE) (Apêndice 1) e esclarecemos dúvidas quanto ao

caráter da participação do mesmos no estudo. Em seguida distribuímos o questionário e fizemos

a leitura do mesmo. Este procedimento se repetiu nas duas turmas investigadas.

O universo da pesquisa compreende uma turma ingressante do curso de Pedagogia (2º

período) e uma concluinte (8º período). Nas duas turmas estão matriculados 77 (setenta e sete)

alunos, 40 (quarenta) no 2º período matutino e 37 (trinta e sete) no 8º período noturno. As

aplicações dos questionários aconteceram respectivamente nos dias 22 de fevereiro na turma

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do 8º período e 13 de março na turma do 2º período do corrente ano. Quanto ao número de

acadêmicos que efetivamente participaram do estudo, o quadro 2 a seguir nos esclarece.

Quadro 2 - Participantes do Estudo

Situação 2º Período 8º Período Total

Número de alunos matriculados 40 37 77

Alunos presentes no dia da coleta de dados 30 30 60

Alunos que responderam ao questionário 24 28 52 Fonte: Diário de campo (2018).

Conforme nos apresenta o quadro 2, na turma do 2º período estavam matriculados no

momento da coleta de dados 40 (quarenta) alunos. Destes, 30 (trinta) estavam presentes no

momento da aplicação do questionário. Todos os presentes foram convidados a participar da

pesquisa e receberam cópias do TCLE, mas participaram efetivamente da pesquisa 24 (vinte e

quatro) acadêmicos. Vinte e um do sexo feminino e 03 do sexo masculino. Os participantes têm

idade entre 18 e 41 anos.

Na turma do 8º período estavam matriculados 37 (trinta e sete) alunos, no dia da

aplicação do questionário 30 (trinta) estavam presente, incluindo a pesquisadora que está

matriculada nesta turma. Destes, 28 (vinte e oito) responderam ao questionário. Um total de 25

(vinte e cinco) do sexo feminino e 3 (três) do sexo masculino. Os participantes têm idade entre

22 e 46 anos. Vale destacar que somente duas acadêmicas não responderam ao questionário.

Uma por ter um bebê ainda de colo que necessitou de assistência no momento da coleta e outra

por ser a pesquisadora coautora do estudo.

5.2.1 Instrumento de Coleta dos Dados

De acordo com Lüdke e André (2013) para se fazer uma pesquisa é preciso promover o

confronto entre os dados, as evidencias, as informações coletadas sobre determinado assunto e

o conhecimento teórico construído a respeito dele. Ou seja, os conhecimentos são gerados por

meio da pesquisa que surgem a partir de um problema ou curiosidade e o resultado de uma

pesquisa não deve ser entendido como sendo uma verdade absoluta e aplicada em todos os

lugares.

Para a coleta das informações sobre a concepção dos acadêmicos do curso de Pedagogia

sobre Moral, Ética e a formação de valores, construímos um questionário (Apêndice 2) com um

total de 10 (dez) questões. As 3 (três) primeiras questões dizem respeito a dados demográficos

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dos participantes como sexo, faixa etária e período que está cursando. As outras 7 (sete)

questões abordavam o tema objeto do estudo.

5.3 Procedimentos para a Análise dos Dados

Após realizar a coleta de dados com as duas turmas, procedemos a uma leitura das

respostas apresentadas. Procuramos explorar meticulosamente todas as questões. Para tal,

várias leituras foram realizadas até chegarmos próximo daquilo que Michelat (1980) chama de

impregnação do conteúdo do material.

Realizadas as leituras, passamos à construção de categorias descritivas e analíticas

(LÜDKE; ANDRÉ, 2013). Estabelecidas às categorias iniciais, passamos a classificar as

respostas de acordo com o embasamento teórico estudado que nos forneceu as bases iniciais de

conceitos. Organizamos assim as ocorrências das respostas semelhantes em categorias

específicas até a saturação das respostas.

Em busca da organização das categorias analíticas pudemos estabelecer e organizar as

repostas naquilo que chamamos de conteúdo manifesto e conteúdo latente. Assim, para cada

questão proposta pelo instrumento organizamos categorias que melhor expressavam este

conteúdo manifesto. O quadro 3 apresenta as categorias analíticas iniciais que foram

estabelecidas.

Quadro 3 - Categorias analíticas

Questões

Categorias analíticas

Categoria 1 Categoria 2 Categoria 3

Conceito de Moral e Ética Regras/Costumes Comportamento/Conduta

(agir certo/errado)

Outros aspectos

(Cultura, etc.)

Conceito de valores e valores

morais

Representações de

Si

Virtudes Outros aspectos

Formação de valores Espaço Privado (Família)

Espaço Público (Comunidade/Escola)

Responsáveis pela formação de

valores

Espaço Privado (Família) Espaço Público (Sociedade/Escola)

Papel da Escola na formação de

valores

Educação Moral e Ética Outras propostas (continuar o trabalho

da família/ser ético/ação curricular)

Papel da Universidade na

formação dos valores

Capacitação docente Outras propostas (ser ético)

Fonte: Questionários (2018).

Para a questão número 1 as respostas com maior número de ocorrências consideraram

aspectos que nos possibilitaram a criação de 3 categorias analíticas iniciais: Regras e Costumes,

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os Comportamentos e Condutas e uma última categoria que engloba diversos aspectos distintos.

Para a pergunta número 2 as respostas que mais apareceram podem ser compreendidas nos

âmbitos das Representações de si, das Virtudes e uma terceira categoria que chamamos Outros

Aspectos.

As respostas para as questões de 3 a 7 nos possibilitou a criação de duas amplas

categorias. As questões 3 e 4 apresentam respostas que dizem respeito a compreensão dos

sujeitos sobre o tema a nível de Espaço Privado (família) e Público (sociedade). É interessante

destacar que La Taille (2009a), Penafiel e Lima (2016) entre outros autores discutem estes dois

espaços e sua relação com a Moral. Sobre a dicotomia entre público versus privado, Sennett

(1999) comenta que a celebração indiscriminada do culto à intimidade pode conduzir a tal

hipertrofia da esfera íntima, que, no limite, chegaria a implicar um retraimento do espaço

público, por meio do afrouxamento dos papéis sociais que o constituem.

Para a pergunta número 5 as respostas com maior número de ocorrências foram no

sentido de que não existem valores superiores a outros. As respostas dadas para as questões 6 e

7 foram organizadas e duas categorias: Educação para a formação Moral considerando que o

papel da universidade seria capacitar os docentes para tal e outros aspectos variados.

As respostas foram transcritas de forma literal, considerando eventuais erros

ortográficos e uso de expressões. A identidade dos participantes fora mantida em sigilo usando

letras para a identificação dos participantes.

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6 O QUE DIZEM OS ACADÊMICOS DE PEDAGOGIA SOBRE MORAL E ÉTICA

Se considerarmos a maioria das pesquisas sobre Psicologia Moral veremos que

comungam da ideia de que moral refere-se a regras e valores cujo propósito é regular as relações

interpessoais e que ética representa a dimensão dos princípios que norteiam estas regras.

Consideramos ainda que a perspectiva teórica do desenvolvimento moral cuja dimensão

intelectual inspira a moralidade, a partir dos estudos realizados por Menin (2008), La Taille

(2006a) e Martins e Silva (2009), discutem aspectos relativos a valores morais. Para La Taille

(2006b) valores são o resultado de um investimento afetivo. Sendo assim, a temática dos valores

se apresenta como integrante da formação ética do sujeito. Este autor entende que para a ação

moral são necessários regras, princípios e valores. As regras são os mandamentos precisos, a

norma em si, os princípios se apresentam como as bases a partir das quais as regras são

derivadas. Já os valores são os investimentos afetivos que inspiram os princípios e as regras.

Vázquez (1999, p. 47) postula que “[...] a moral é um conjunto de normas, aceitas livre

e conscientemente, que regulam o comportamento individual e social dos homens”. Por outro

lado, precisamos nos lembrar que a moral (normas, regras), deriva da compreensão de ética

(valores) de cada sociedade em cada tempo histórico. Embora nos esclareça La Taille (2006),

que em sua origem grega os termos tinham o mesmo significado (conjunto de regras tidas como

obrigatórios), atualmente o termo moral tem sido reservado para designar os deveres

propriamente ditos, e o termo ética para o campo da reflexão científica ou filosófica sobre a

moral.

Para compreender como os acadêmicos do curso de Pedagogia percebem a discussão

sobre valores no espaço institucional da universidade principiamos por investigar as concepções

que os mesmo têm acerca dos conceitos de moral e ética. Nesta seção apresentamos os

resultados da pesquisa empírica realizada com a colaboração de 52 acadêmicos do 2º e 8º

períodos do curso.

6.1 Para Compreender Moral e Ética

Levando em consideração que os acadêmicos deram em algumas categorias três ou mais

respostas para uma única pergunta, os quadros a seguir contabilizam os números de ocorrência

de respostas e não de participantes totais. Após realizar a leitura de todos os questionário e

estabelecer as categorias analíticas presente no quadro 3, as respostas que mais apareceram para

responder a questão sobre o conceito de moral fora as seguintes:

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Quadro 4 - Concepções sobre Moral e Ética

Conceito de Moral e Ética

Categorias Moral:

Ocorrências 2°

período

Ética:

Ocorrências 2°

período

Moral:

Ocorrências 8°

período

Ética:

Ocorrências 8°

período

Categoria 1

Regras/Costumes

02 07 14 6

Categoria 2 Comportamento/Conduta

(agir certo/errado)

17 08 05 20

Categoria 3 Outros aspectos

(Cultura, etc.)

02 06 08 06

Fonte: Questionários (2018).

Na categoria 1 (Regras/Costumes), considerando os conceitos de moral e ética,

observamos a ocorrência de 9 respostas, (2 referente ao conceito de moral e 7 ao de ética) dos

acadêmicos do 2º período e 20 ocorrências (14 referente ao conceito de moral e 6 ao de ética)

dos acadêmicos do 8º.

De acordo como a definição de Vázquez (1999), a moral surge devido a necessidade do

homem viver coletivamente, assim precisa de regras que digam o que é bom ou mal para o

grupo. Os acadêmicos, do curso de Pedagogia do 2º período, citam a moral e ética como regras

e costumes dando as seguintes respostas:

[...] um exemplo, quem desobedece a lei é imoral. (Acadêmico A).

[...] no meu pensar moral é manter bons costumes que provem de uma boa educação.

(Acadêmico C).

Ética é um comprometimento com o seu lugar na sociedade, no ambiente familiar.

(Acadêmico D).

Ética é adquirida na convivência com outras pessoas, algo como respeitar as regras

daquele local de convivência. (Acadêmico E).

Ética me leva a seguir os conceitos e as regras dentro da sociedade. (Acadêmico F).

Vázquez (1999) declara que a moral se apresenta para os indivíduos como necessidade

de normalizar seus comportamentos que julgam mais apropriadas ou dignos de ser cumpridos,

assim o homem age moralmente quando compreende que deve agir desta ou daquela forma.

Silva (2015) ao citar de Taylor (1989) argumenta que a filosofia moral moderna tem a tendência

de concentrar-se mais no que é certo fazer do que no que é bom ser. Nesse sentido, Silva (2015,

p. 394) aponta que esse entendimento do que vem a ser moral se firma “antes na definição do

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conteúdo da obrigação do que na natureza do bem viver”. Observamos essa formalidade do

conceito de moral ao analisarmos a resposta apresentada pelo Acadêmico A do 2º período ao

afirmar que quem desobedece a lei é imoral.

Entre as respostas dos acadêmicos do 8º período é possível perceber que o conceito de

moral como regra/conduta apresenta mais ocorrências do que aqueles do 2º período ao

caracterizarem moral como sinônimo de regras e costumes.

A moral é o que o sujeito adquire no contexto de sua vida social. (Acadêmico A).

A moral está relacionado aos meus costumes, maneira que eu fui criado e hoje

acredito, sabendo diferenciar o certo do errado. (Acadêmico B).

Na categoria 2, onde agrupamos respostas relativas a concepção de moral e ética como

Comportamento e Conduta (agir certo/errado), encontramos 25 ocorrências (17 respostas acerca

do conceito de moral e 8 do de ética) no 2º período e também 25 ocorrências (5 para moral e

20 para ética) entre os acadêmicos do 8º período. As respostas dos acadêmicos do 2º período

que melhor ilustram esta categorização são as seguintes:

Moral é tudo que uma pessoa usa para defender suas ideias. (Acadêmico A).

Moral é deveres de conduta que acontecem na vida do ser humano. (Acadêmico B).

Moral é ter consciência, ou seja, fazer aos outros tudo o que você quer para ser

respeitado. (Acadêmico C).

Para mim moral é a forma como um indivíduo se comporta no meio de um grupo

social ou sociedade. (Acadêmico D).

[...] é o seu comportamento. (Acadêmico G).

Entre as respostas dos acadêmicos do 8° período que podem ser compreendidas como

uma concepção de moral voltada para a descrição de Comportamentos e Condutas encontramos

o seguinte:

Moral é ter que respeitar as particularidades do outro sem fazer um pré-julgamento,

ou seja, cultura adquirida através do grupo familiar. (Acadêmico A).

Moral é algo que eu acredito que seja o certo, é algo que está introduzido na nossa

identidade. (Acadêmico B).

Moral é o que julgo correto ou adequado fazer diante de uma situação. (Acadêmico

C).

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Na teoria da Psicologia Moral, as discussões sobre valores, afetos, sentimentos morais

demonstra a necessidade de se compreender a motivação do indivíduo para o agir moralmente,

nesta perspectiva, La Taille (2007) nos explica que o agir moralmente é motivado pelo dever

moral. Considerando uma teoria de inspiração kantiana, o dever moral mencionado por La

Taille (2007) pressupõe uma vontade autônoma para poder ser chamado de moral. O autor alerta

ainda que há sentimento de dever não morais, já que a auto imputação de obedecer/dever pode

ter uma fonte externa. O dever moral é portanto internalizado na construção da moralidade

autônoma, tal como se encontra descrito nas teorias de Piaget e Kohlberg.

Ainda considerando a dimensão do agir moral, alguns acadêmicos do 2º período

apresentaram as seguintes respostas para o conceito de moral:

Moral é você ser correto com o seu objetivo. (Acadêmico A).

A moral é a sua consciência agindo em determinados momentos te indicando

caminhos a seguir. (Acadêmico C).

Moral [...] é você ser correto. (Acadêmico D).

É aquilo que você transcende ser, suas atitudes e ações no dia a dia em convivência

familiar e social. (Acadêmico E).

Quando a pessoa demonstra sua ética através das suas atitudes e palavras. (Acadêmico

F).

No meu entender é manter uma boa convivência, a cordialidade, ser empata, manter

o respeito, ser justo e discreto. Andar sempre com a verdade. (Acadêmico J).

La Taille (2006a) declara que no agir moral, saber fazer (dimensão intelectual da

moralidade) pode não ser suficiente, é preciso querer fazer (dimensão afetiva da moralidade),

pois só o querer fazer moral dá a justa medida da autonomia moral. O autor ainda declara que

a dimensão intelectual da moral depende, para tornar-se ação, desse querer fazer moral, “[...]

da vontade de agir e da intenção com a qual se age” (LA TAILLE, 2006a, p. 107). Em outras

palavras, agir moralmente, implica em autonomia, liberdade de escolha.

Para os acadêmicos do 8º período,

Podemos dizer que moral é uma fator [sic] particular no qual o indivíduo a possui a

partir de suas tradições pessoais. (Acadêmico A).

Moral é algo adquirido na família, são princípios que aprendemos com nossos pais.

(Acadêmico B).

Moral são costumes adquiridos por qualquer sociedade, cultura. É o que determina as

atitudes ou comportamento referente ao certo ou errado, ao bom ou ruim. (Acadêmico

C).

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De acordo com Cunha (2015) a moral é fruto do padrão cultural vigente e incorpora as

regras eleitas como necessárias ao convívio entre os membros dessa sociedade. Regras estas

determinadas pela própria sociedade, na convivência nas relações diárias com os outros.

Na categoria 3, que denominamos “Outros aspectos” elencamos aquelas respostas que

por seu conteúdo não faziam referência aos conceitos de moral e ética que usualmente se faz.

Estas respostas consideravam aspectos como a cultura, o convívio familiar e social na definição

dos conceitos. Foram registradas 8 ocorrências (2 para moral e 6 para ética) entre os acadêmicos

do 2º e 14 (8 para moral e 6 para ética) entre os acadêmicos do 8º período.

Conforme podemos observar, as definições para o conceito de ética guarda semelhança

com as resposta para o conceito de moral, que também estão dentro das três categorias

analíticas. É possível inferir pelas respostas que os participantes do estudo apresentam

definições que estão longe de um plano teórico. Mais se assemelham com conceitos de senso

comum sobre moral e ética. Se considerarmos as respostas dos acadêmicos ingressantes e dos

concluintes não encontraremos diferenças significativas. Contudo, vale dar destaque as

respostas apresentadas para a questão “O que é ética” apresentadas pelos seguintes acadêmicos

do 2º período:

Ética uca [sic] é um valor social que indica uma qualidade e princípio do indivíduo.

(Acadêmico A).

Ética é a problematização do que é a moral, estudo da filosofia que estuda os deveres

e condutas do ser humano. (Acadêmico B).

Ética é o que qualifica um indivíduo conforme seus princípios seus comportamentos

seja com um trabalho ou qualquer outra coisa que for realizar. A ética é bem parecida

com a moral. (Acadêmico C).

A resposta fornecida pelo Acadêmico B do 2º período nos parece um tanto estereotipada.

Não temos evidência para afirmar ou mesmo para negar que a resposta tenha sido autêntica e

corresponda de fato ao que entende o sujeito em questão, ou seja, fruto de conceitos prontos

disponíveis na Internet. Quando apresentamos os objetivos para a pesquisa, solicitamos aos

participantes que dessem a resposta mais honesta possível para cada questão. Os acadêmicos

têm livre acesso à Internet no espaço do campus, mesmo na sala de aula.

Sobre o conceito de ética, os acadêmicos do 8º período apresentaram as seguintes

respostas:

Ética é a conduta do sujeito ao praticar atos. (Acadêmico A).

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A ética é crescer seguindo normas e leis, indiferente disso, fazer as coisas certas

independente onde estiverem. (Acadêmico B).

Ética é ter princípios e bons costumes. (Acadêmico C).

Ética é a atitude de cada indivíduo, para a convivência em sociedade, respeito aos

demais que o cercam em suas individualidades. (Acadêmico D).

É interessante observar que as respostas dos acadêmicos do 8º período não diferem

daquelas apresentadas pelos acadêmicos do 2º período. O que isso pode representar? O curso

de formação inicial tem proporcionado momentos de aprofundamento teórico e prático sobre a

questão? Conceitos como moral, ética, valores, cidadania, etc. permanecem sempre a nível do

senso comum? Estas questões nos inquietam a medida que prosseguimos na análise dos dados.

6.2 Para Compreender a Formação de Valores

A discussão sobre a moral caminha para o debate sobre os valores humanos. Martins e

Silva (2009) postulam que investigar sobre os valores humanos é investigar sobre o que as

pessoas prezam em suas relações. Estudos como os de La Taille (2009a) indicam que

atualmente a sociedade vive uma mudança na forma como os valores tem sido vivenciados. La

Taille (2006a) destaca que o trabalho pioneiro de Piaget, apesar de seu imenso valor, deixou de

lado um aspecto importante da moral, os valores, que conferem coerência e coesão às regras.

Destarte, o estudo dos valores, dos afetos, dos sentimentos morais, foram e continuam sendo

um tema em desenvolvimento na teoria da Psicologia Moral.

Quadro 5 - Considerações Sobre Valores

Conceito de valores e valores morais

Conceito de valores e valores

morais

Ocorrências 2° período Ocorrências do 8°periodo

Representações de Si

07 10

Virtudes

05 12

Outros aspectos

23 22

Fonte: Questionários (2018).

As representações de si surgem no desenvolvimento moral a partir do início da

consciência de si, aproximadamente 18 meses, quando o sujeito passa a se reconhecer no

espelho e posteriormente numa fotografia, é a ideia de perceptibilidade: eu me vejo logo os

outros também me veem (PIAGET, 1999). Se as representações de si são sempre valorativas,

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pressupõem um juízo de valor (LA TAILLE, 2002b), onde certos valores podem ser centrais

ou periféricos. Quando os valores centrais são morais dizemos que naquele aspecto a pessoa

tem uma personalidade moral (LIMA, 2010).

A beleza física pode ser o valor central na identidade de uma pessoa, enquanto valores

como justiça e honestidade não o serem, ou seja, a pessoa faz mais investimentos afetivos para

manter-se bela do que para ser justa e honesta. E como a beleza física não é um valor moral, ou

seja, não é uma norma ou valor que implique o bem estar de outrem, da comunidade, neste

aspecto a moralidade não é central na personalidade daquela pessoa (LA TAILLE, 2002b;

LIMA, 2010).

A construção de uma personalidade moral, assim como a de outros aspectos da

personalidade, implica a formação da identidade. Pensar a moral como processo de formação

da identidade é considerar, partindo das ideias de La Taille (2002a) que a identidade de cada

pessoa é um conjunto de representações de si. Tais representações são sempre valorativas e há

uma tendência em cada pessoa de identificar-se com valores positivos.

Conforme apresentado por La Taille (2002a) há três fatores importantes na construção

das representações de si: As expectativas criadas por cada um; Os juízos alheios – sejam reais

ou construídos e os sucessos e fracassos objetivamente constatados. Neste caminho, podemos

entender que o Eu é um conjunto de representações de si, ainda que estas representações sejam

conflitivas ou contraditórias, relacionadas ao que ela julga ser, não importando se correspondam

de fato ao que a pessoa realmente é ou como é vista pelos outros (LA TAILLE, 2010).

Neste ponto da caracterização teórica sobre a representação de si, podemos perceber

claramente como os conceitos de valores morais é percebido pelos participantes do estudo. Nas

respostas para a conceituação de valores e valores morais tivemos 7 ocorrências entre os

acadêmicos do 2º e 10 entre os do 8º período que nos possibilitou a criação da categoria analítica

“Representações de si”.

Na questão referente ao conceito de valores, ao analisarmos as respostas apresentadas

por nossos colaboradores, pudemos estabelece três categorias analíticas. A primeira delas

apresenta as respostas que conceituam valores como relacionados às virtudes. Como exemplo

dessa categoria, apresentamos a concepção do Acadêmico A do 2º período quando afirma que

valores morais são sinônimo de virtudes e exemplifica:

[...] seria o respeito ao próximo, ser educado e pensar antes de falar. [...] valores como

sendo aquilo que achamos que é certo em nossa concepção. (Acadêmico A).

[valores] são as virtudes boas e ruins que o cidadão tem. [...] adquirimos conforme

vamos crescendo. (Acadêmico B).

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Para os acadêmicos do 8º período que compreendem os valores como sinônimo de

virtude, apresentamos os seguintes fragmentos das respostas ao questionário:

Valores morais são os valores que tornam o sujeito bom ou ruim honesto e é através

do que ele aprendeu no percurso de sua vida que vai determinar seus valores, sua

moral. (Acadêmico A).

Valores morais é a conduta de uma pessoa, comportamento, princípios. E valores são

comportamentos e atitudes relacionadas ao caráter do ser humano. (Acadêmico B).

A Acadêmica B, do 2º período define valores morais como aqueles que se adquire na

sociedade. Para ela, os valores estão na dimensão dos deveres que acontecem na vida do ser

humano em decorrer do seu processo de desenvolvimento. Ainda na categoria valores como

virtudes, elencamos as respostas que faziam referência à religião como balizadora dos valores

morais. É o caso da resposta de uma acadêmica do 2º período:

E valores é tudo aquilo que é ensinado pelos pais e também adquirimos na sociedade

durante o passar da nossa vida, como a conduta seguida em determinada religião.

(Acadêmico C).

Silva (2015) ao estudar sobre valores priorizados por estudantes universitários advoga

que pesquisas de cunho psicológico a respeito dos valores são relevantes se considerarmos que

os seres humanos sempre procuram fazer uma leitura valorativa de si. O autor afirma que a

imagem que construímos a nosso respeito se constitui num valor a ser mantido, pois é vista

como uma imagem positiva de si: uma representação positiva de si.

La Taille (2002b, 2002b) afirma que tais valores podem ser públicos ou privados. Os

públicos dizem respeito a dimensão do dever agir e objetivam a harmonia social. Podemos citar

como exemplo o caso da justiça, que segundo o princípio kantiano de agir assumem uma

máxima universal. Os valores privados também são conceituados por La Taille (2002a) como

éticos e buscam igualmente a harmonia. Contudo, diferente dos morais, o esforço é feito em

nome da harmonia pessoal. Silva (2015) cita como exemplo a amizade que embora digna de

apreço é dispensável para garantir a harmonia social.

Souza e Placco (2008), em pesquisa sobre o auto respeito na escola, procuram identificar

os valores presentes no cotidiano escolar e verificam quais as interações eram favorecedoras da

construção e manutenção do auto respeito. As autoras apontam para aquilo que La Taille

(2002a, 2002b) chamam de representações de si. Nesse sentido, Souza e Placco (2008) adotam

o conceito de valor do ponto de vista psicológico defendido por La Taille (2002a) tal como o

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concebia Piaget. Desta forma, nos remetemos à La Taille (2001, p. 74) quando afirma que “um

mínimo de investimento em si é necessário e inevitável. Logo, pensar sobre si implica atribuição

de valor a si, uma vez que pressupõe a eleição de um objeto do pensar privilegiado. [...] sempre

nos pensamos em termos de categorias como superior/inferior, desejável/indesejável,

certo/errado, bom/mau, etc.”.

Uma parcela de nossos informantes parece conceber os valores como conjunto de

representações de si. É o que evidenciamos a partir das seguintes respostas de acadêmicos do

2º período:

[...] o que eu acho certo. E valores como o que as pessoas do mesmo grupo da

sociedade acredita que pode ser certo entre elas. (Acadêmico D).

[...] valores são todas as questões que leva o indivíduo a defender sua dignidade.

(Acadêmico E).

Encontramos algumas dessas referências entre os acadêmicos do 8° período:

Valores morais são costumes que adquirimos de herança e são preservados. E valores

é um bem adquirido seja bem material ou sentimental. Pois aquilo que eu considero

como valor para outras pessoas não. (Acadêmico C).

[...] valores morais é o seu comportamento em r a outras relação [sic] a outras pessoas.

Exemplo: ser educado, respeitar as diferenças, ser honesto. E valores são a

importância que você dá em meio a sociedade no seu modo e agir em relação a outras

pessoas. (Acadêmico E).

[...] valores é atribuir significado emocional, material, espiritual, a determinada pessoa

ou algo. (Acadêmico F).

Ainda sobre o conceito de valores, perguntamos aos participantes do estudo se haveriam

valores superiores a outros. Solicitamos que fossem citados exemplos se a resposta fosse

afirmativa. Dentre os acadêmicos do 2° período apenas 10 responderam que existem e citaram

como exemplos: a amizade, a honestidade e valores “divinos”, fazendo referência ao campo

religioso. Do 8° período apenas 05 responderam que existem e citaram como exemplo: a

honestidade, valores religiosos ou qualquer outro que a sociedade valorize em detrimento de

outros.

Em pesquisa desenvolvida por Bataglia (1996) os dados evidenciaram que os estudantes

universitários tendiam a colocar a dimensão privada acima da pública quando se discute

moralidade. A autora exemplifica a afirmação ao apresentar que no caso dos estudantes e profis-

sionais de psicologia, o sigilo terapeuta-paciente colocou-se como um imperativo mesmo que

a ação dos pacientes fosse produtora de desarmonia social. Nesse sentido, para tais sujeitos, os

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valores como se deve ser, pelo menos no campo da atuação profissional, estão em posição mais

alta dos como se deve agir (BATAGLIA, 1996).

Em estudo feito com universitários a respeito do sistema de cotas na universidade (raciais

e sociais) Menin et al (2008) constataram a existência de conflito entre mérito e justiça

compensatória. Os resultados evidenciaram que entre os universitários, prevalecia para a

maioria deles, o merecimento como forma de ingresso nas universidades públicas. Como

argumento, a maior parte desses estudantes apontou valores públicos (justiça e igualdade) e

privados (esforço próprio).

O mesmo parece acontecer com nosso público que elege como prioritários os valores do

espaço privado em detrimento dos valores do espaço público. Isso se evidencia de forma mais

enfática quando analisamos as respostas sobre a formação dos valores. Para esta questão

pudemos estabelecer duas categorias analíticas conforme se vê no quadro a seguir.

Quadro 6 - Consideração sobre a formação de valores

Formação de Valores

Categorias analíticas Ocorrências 2° período Ocorrências 8° período

Espaço Privado

(Família/Amigos)

19 15

Espaço Público

(Comunidade/Escola)

19 27

Fonte: Questionários (2018).

Na categoria Espaço Privado (Família/Amigos) observamos a ocorrência de 19

respostas, e na categoria Espaço Público (Comunidade/Escola), também foram 19 ocorrências

entre os acadêmicos do 2º período. Já para os acadêmicos do 8º período observamos a

ocorrência de 15 respostas para o Espaço Privado (Família), e na categoria Espaço Público

(Comunidade/Escola) foram 27 ocorrências.

Para os acadêmicos do 2º período os valores se formam, na dimensão do espaço privado,

nos seguintes contextos:

[...] a partir do convívio familiar, são adquiridos conselhos de pais para filhos.

(Acadêmico B).

Valores formados são aqueles que, por exemplo, e ensinado pelos pais passando de

geração em geração e nos como indivíduos somos influenciados devido ao meio de

convivência social, familiar e escolar. Valores adquiridos são aqueles que construímos

na medida que nos transformamos. (Acadêmico C).

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Para os acadêmicos do 8º período, destacamos as seguintes referências quanto à

formação de valores:

Os valores vêm da convivência familiar, onde cada família tem suas regras, costumes

diferentes e culturas. (Acadêmico B).

Os valores são formados dentro de casa com a família, e vai sendo ensinado de pais

para filhos. (Acadêmico C).

[...] desde a infância os valores são formados transferidos de pai para filho- geracional.

Formados e modulados também pelo meio em que o indivíduo está inserido, através

do seu meio de convivência. (Acadêmico E).

Se considerarmos o espaço público, a escola aparece entre as respostas mais recorrentes

como formadora de valores. Conforme Tognetta (2003, p. 186) a escola apresenta-se, sem

sombra de dúvidas, como um dos locais mais eficientes para a construção de valores. “Pela

troca entre iguais a criança constrói valores e atitudes. Na interação com outras crianças, com

o adulto professor e a própria família é que esses valores vão construindo parte de sua

moralidade”.

Na pergunta que solicitava que fossem apontados os responsáveis pela

formação/aquisição de valores, novamente percebemos o predomínio do espaço privado sobre

o público. As respostas foram organizadas em duas categorias. Na categoria Espaço Privado

(Família), observamos a ocorrência de 26 respostas, e na categoria Espaço Público

(Comunidade/Escola) encontramos 11 ocorrências entre os acadêmicos do 2º período. Já para

os acadêmicos do 8º período observamos a ocorrência de 24 respostas para o Espaço Privado

(Família) e 20 na categoria Espaço Público (Comunidade/Escola).

Para os autores que estudam a moralidade humana do ponto de vista da psicologia, a

inteligência Ética e Moral precisa ser assimilada por meio do ensinamento de terceiros. Piaget

(1994) observou que a moral – assim como a inteligência – também se desenvolve e que tal

processo evolutivo pode ser descrito por fases, assim como fez em relação ao desenvolvimento

cognitivo.

Quadro 7 - Responsáveis pela formação dos valores

Responsáveis pela formação dos valores

Categorias Ocorrências 2° período Ocorrências 8° período

Espaço Privado (Família)

26 24

Espaço Público

(Comunidade/Escola)

11 20

Fonte: Questionários (2018).

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É preciso lembrar que formar cidadãos éticos é uma responsabilidade de toda a

sociedade e suas instituições. A família, por exemplo, desempenha uma função muito

importante até o fim da adolescência, enquanto tem algum poder sobre os filhos. A

escola também, na medida em que apresenta experiências de convívio diferentes das que

existem no ambiente familiar. De acordo com La Taille (2009a, p. 307):

Em escolas que são reais instituições justas, são maiores as chances de os alunos se

convencerem de que a vida vale a pena ser vivida para e com outrem, maiores as

chances de quererem ser inspirados pelo ‘respeito de si’. E, como para valer a pena

ser vivida, a vida também deve ser ‘vida boa’, uma educação para uma ‘cultura do a

respeito de si’ deve vir acompanhada de uma educação para uma ‘cultura do sentido.

Embora o maior número de ocorrências das respostas quanto à responsabilidade pela

formação de valores nas crianças tenha feito referência ao espaço privado, é interessante

observar que os acadêmicos participantes do estudo não descartam a parcela de

responsabilidade social da escola e comunidade na formação dos valores.

Entre os acadêmicos do 2º período destacamos os seguintes exemplos quanto à

indicação dos responsáveis pela formação de valores:

[...] os pais é responsáveis [sic] por educar, ensinar o que e certo ou errado, ser gentil,

não jogar lixo no chão, dizer bom dia, obrigada, com licença. (Acadêmico A).

[...] os pais, a sociedade, a escola e a própria pessoa. (Acadêmico B).

Os pais em casa e os professores na escola. (Acadêmico C).

Ao meu ver a família é a principal responsável pela formação de valores, mas não é a

única, a escola também deve formar o cidadão ou participar da formação. (Acadêmico

E).

Os pais primeiramente e acredito que todos nós somos responsáveis pela formação e

aquisição de valores de uma sociedade. (Acadêmico F).

Entre os acadêmicos do 8º período as respostas são semelhantes. Mesmo nas respostas

que destacavam a relevância de espaços como a escola, a igreja, a comunidade, não se deixou

de fazer referência à família como espaço privilegiado da formação de valores.

Os valores [...] são formados inicialmente pela família pela interação. (Acadêmico B).

Os grandes responsáveis pela formação dos valores e a família, principalmente os

pais, pois o indivíduo nasce, cresce, e desenvolve. Os pais tem um porcentual

relativamente alto nesse período de formação de valores. (Acadêmico C).

Os pais, a família, a escola, a igreja, a comunidade. (Acadêmico F).

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Agressões, humilhação, ausência de limites! Aquino (2011) comenta que as queixas

sobre indisciplina no contexto escolar têm crescido nas últimas décadas. Um número cada vez

maior de educadores reclamam que as salas de aula estão cada vez mais incivilizadas e que os

alunos estão cada vez mais indisciplinados. A indisciplina escolar é uma das questões que mais

tem preocupado professores e famílias. Para resolver o problema, muitas vezes, os pais,

professores, a própria escola acaba recorrendo a regras de controle e punição. Entretanto, isso

parece que não tem dado resultados favoráveis.

A escola precisa ajudar a formar pessoas capazes de resolver conflitos coletivamente,

pautadas pelo respeito a princípios discutidos pela comunidade. Com efeito, nossos alunos

precisam de princípios, não apenas de regras. E como formar, construir princípios? O caminho

para chegar lá passa pela formação ética, e aqui não fazemos referência a um conteúdo didático,

mas principalmente no convívio diário dentro da escola.

Há uma demanda por ética em nossa sociedade atual. Na política, na educação, na

sociedade em geral. Mais uma razão para a escola discutir princípios e valores. Mas para isso,

ela precisa, antes de tudo eleger seus próprios princípios. Estes princípios precisam ser

coerentes com os ideais de liberdade, respeito, igualdade, justiça, dignidade. É preciso que esses

princípios sejam norteadores de toda a prática pedagógica, de toda a atuação da escola.

É preciso deixar claro aos estudantes, família, pais, comunidade, quais são esses

princípios e defendê-los com unhas e dentes. Por exemplo, se um aluno ou professor, ou

qualquer outro funcionário da escola for humilhado, ferido o princípio da dignidade, alguma

coisa precisa ser feita. Ai entram debates, reuniões, e assembleias para discutir regras que

garantam a defesa do princípio.

6.3 O Papel da Escola e da Universidade na Formação do Sujeito Moral

Considerando que a escola foi apontada como instituição do espaço público que tem

condições para contribuir com a formação de valores, procuramos investigar qual seria o seu

papel na formação moral do sujeito.

Quadro 8- O Papel da escola na formação de valores

A escola deve participar da formação de valores morais e sociais dos alunos

Categorias Ocorrências 2° período Ocorrências 8° período

Educação Moral e Ética 17 27

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Outras propostas (continuar o

trabalho da família/ser

ético/ação curricular)

1

1

Fonte: Questionários (2018).

O quadro acima apresenta dados relativos à questão sobre o papel da escola na formação

de valores. As respostas apresentadas possibilitaram a criação de duas categorias analíticas.

Uma que considerou a intervenção escolar sob a ótica do processo educativo, a qual nomeamos

por “Educação Moral e Ética” e “Outras propostas” - que não chega a ser uma categoria, visto

que apenas duas ocorrências foram registradas, uma em cada período – em que listamos

propostas distintas à categoria anterior.

Observamos a ocorrência de 17 respostas no 2º período e 27 no 8º que falam de ações

educativas do ponto de vista da moral e ética. Na categoria Outras propostas (continuar o

trabalho da família/ser ético/ação curricular) observamos apenas 1 resposta para cada período.

É preciso destacar que quando falamos em Educação Moral e Ética, não estamos

fazendo referência à disciplina “Educação Moral e Cívica”, criada e tornada obrigatória no

período da Ditadura Militar de 1964. Consideramos, conforme La Taille (2009a) que tal

iniciativa pedagógica coercitiva e doutrinária, visava desenvolver nos cidadãos uma espécie

lamentável de ufanismo e, como consequência, um respeito ao regime brutalmente implantado.

Nesse sentido, causa estranheza falar de educação moral, uma vez que o desenvolvimento moral

busca autonomia e só se efetiva com a livre vontade do sujeito. Pensar uma educação moral dos

moldes da disciplina do período militar fere o próprio conceito da palavra moral, uma vez que

“nesses casos, ocorre um verdadeiro ‘sequestro da palavra ‘moral’, pois ela é amputada dos

princípios universais de justiça, ela é reduzida a um conjunto de valores em geral ufanistas e é

colocada a serviço de uma ideologia política particular travestida de referência ética universal.”

(LA TAILLE, 2009a, p. 229).

É um alento perceber que embora nossos informantes atribuam maior representatividade

aos valores do espaço privado do que aos do espaço público, e que adotem conceitos

estereotipados para moral e ética, quando fazem referência à educação moral, o fazem

considerando uma educação que visa enaltecer a justiça, a generosidade e a dignidade, uma

formação que valoriza a autonomia.

Na categoria educação moral: sim, pode ser através de atividades que as ajudam a

perceber alguns valores morais, principalmente aqueles que refletem em outros na

sociedade. (Acadêmico A).

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[...] pode, a escola, estabelecer estratégias para discutir ideias dos alunos, ela tem

participação presente na formação desses valores morais e sociais, porque fazem parte

do processo de aprendizado e desenvolvimento do ser humano. (Acadêmico B).

[...] sim, pois, é através da educação escolar aprendemos a sair do nosso meio

conhecendo outros modos de vida. (Acadêmico C).

Para os acadêmicos do 8º período a concepção de que a educação para a moralidade

deve ser, como pensava Piaget, uma educação moral livre também se faz presente:

[...] sim através dos valores trabalhados em sala, formação humana. As crianças

passam a maior parte de sua vida na escola, por isso a importância da escola participar

na sua formação social. (Acadêmico B).

Acredito que a escola tem o papel de contribuir para emancipação do pensamento e

autonomia e construir o pensamento crítico do indivíduo. (Acadêmico C).

Nesse sentido, acreditamos que cabe à escola e à família orientar para que as crianças

não considerem que tudo é permitido ou natural: a violência, a corrupção, a desonestidade, a

desigualdade social. Cabe perguntar então, como a escola pode contribuir para a educação

moral autônoma do sujeito?

Os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN) no volume que trata dos Temas

Transversais, especificamente a Ética indicam como objetivos do Ensino Fundamental que os

alunos sejam capazes de “compreender a cidadania como exercício de direitos e deveres

políticos, civis e sociais, adotando, no dia a dia, atitudes de participação, solidariedade,

cooperação e repúdio às injustiças e discriminações, respeitando o outro e exigindo para si o

mesmo respeito.” (BRASIL, 1997, sem paginação). Quando o documento trata da questão da

justiça, é afirmando que “não privilegiar alunos, não desprezar suas competências e esforços,

não considerá-los a priori desonestos e fingidos são atitudes necessárias ao desenvolvimento e

a legitimação do valor da justiça” (BRASIL, 1997, p. 129). Para o trabalho com a mesma

virtude, também é lembrada a questão da avaliação:

A avaliação escolar é uma forma de julgamento que deve ser justa. Além disso, para

que a avaliação possa ser percebida como justa pelos alunos, é necessário que a escola,

ao eleger os critérios de avaliação e seus indicadores, informe aos alunos quais são

eles e explicite a razão de ser da avaliação. (BRASIL, 1997, p. 127).

Cremos que a transversalidade é a melhor forma. É preciso que o conteúdo seja

inseparável do convívio. Não adianta falar das belas virtudes da justiça, equidade e

generosidade e ter um ambiente de desrespeito e indiferença. Vale considerar a prática do

educador em sala de aula, como um facilitador do conhecimento, uma vez que, é o meio que o

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discente possui para alcançar a erudição necessária para a formação integral dos educandos.

Portanto, não terá valor algum uma postura tirânica e extremista do docente que vise impor

respeito pela coação. Esta atitude proporcionará uma barreira cognitiva de aprendizagem do

aluno (BASTOS, 2008).

Diante desta vertente, tanto o professor, como também os demais envolvidos no

processo educacional contribuem para o desenvolvimento ético-moral dos educandos. De

acordo com Bastos (2008, p. 10) “a construção da consciência moral autônoma requer a

consideração de determinadas e complexas condições sociais e práticas educativas reflexivas e

dialógicas”. Deste modo, todos no espaço escolar são agentes atuantes e suas ações devem

condizer e se direcionar para a formação humana.

Quadro 9 - Papel da Universidade Qual o papel da universidade no preparo do(a) professor(a) para a discussão de questões

relacionadas à moral, ética e valores?

Categorias Ocorrências 2° período Ocorrências 8° período

Capacitação docente 22 20

Outras propostas (ser ético) 0 3

Fonte: Questionários (2018).

O quadro acima representa dados relativos ao papel da universidade na preparação do

professor para esta formação humana. As respostas apresentadas possibilitaram a criação de

duas categorias analíticas. Uma considerou a intervenção da universidade na formação do

futuro profissional de Pedagogia ao qual nomeamos por “capacitação docente” – e na outra

categoria “outras propostas” (ser ético) elencamos aquelas respostas que apontavam para

questões diversas.

Na categoria “Capacitação docente”, observamos a ocorrência de 22 respostas entre os

acadêmicos do 2º período e 20 entre os do 8º. Na categoria “Outras propostas (ser ético)” não

houve respostas entre os acadêmicos da turma do 2° período. Para a turma do 8° período

observamos a ocorrência de apenas 03 ocorrências. Optamos por criar uma categoria com estas

respostas pelo fato delas diferirem marcadamente em relação àquelas que apontavam para a

necessidade de capacitação docente.

Na categoria Capacitação Docente percebendo a importância da instituição de Ensino

Superior no desenvolvimento e capacitação do professor como agente moral. Para os

acadêmicos do 2º período a universidade pode contribuir a medida que prepara o professor para

lidar com essas questões no cotidiano da sala de aula.

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Acredito que debater por meio de fatores sobre o que vem ser moral, ética, valores, a

partir de grandes referencias, o que eles pensam sobre o assunto e o que nós alunos

pensamos, e o que vem a ser, direcionar aspectos acontecidos e o que acontecem nos

dias atuais. (Acadêmico A).

Tem um papel importante e está tendo o seu preparo como professor para essas

questões em sala de aula. (Acadêmico B).

O papel da universidade é propor e estabelecer caminhos para que o acadêmico possa

aderir mais conhecimento e experiências sobre conceitos para então ensina-los aos

futuros alunos e cidadãos. (Acadêmico C).

São formandos de professores, então ira ter contato direto com a criança, então deve

ensinar, explicar corretamente a respeito de valores e deveres. (Acadêmico D).

Para os acadêmicos do 8° período a percepção da preparação profissional sobre questões

morais, éticas e valores acontece na universidade que tem como papel:

[...] preparar o acadêmico em meio as discussões, leitura e pesquisas relacionadas ao

assunto para que possa criar possibilidades de reflexão a pratica profissional.

(Acadêmico B).

[...] construir docentes que sejam capazes e responsáveis com pratica docente e com

o processo de ensino aprendizagem. Capaz de intervir na realidade, contribuindo para

o bem comum da sociedade. (Acadêmico C).

Diante das respostas obtidas pelas duas turmas pesquisadas, podemos perceber a

importância atribuída à universidade como esfera privilegiada para o preparo do professor como

agente moral. Entre as respostas que consideramos elencar na segunda categoria damos

destaque ao que diz o acadêmico A do 8º período:

[...] os acadêmicos precisam abrir a mente e desenvolver seu lado crítico e ético para

todos os níveis de assunto. (Acadêmico A).

Embora as repostas dessa categoria não façam referência à formação universitária para

lidar com as questões dos valores em sala de aula, observamos que é destacado o papel da

universidade como espaço de produção do saber como um todo. Para o acadêmico A, o papel

da universidade na formação de valores seria o de abrir a mente dos futuros professores à

reflexão.

Ao comparar as respostas das duas turmas para as questões propostas nos

surpreendemos com a semelhança das concepções e visões sobre o tema. As poucas diferenças

se fazem perceber na linguagem adotada para descrever a opinião de cada um. Entre as respostas

dos acadêmicos do 2º período é frequente o uso de termos de senso comum. Já entre os

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acadêmicos do 8º período, é possível observar o uso de terminologias próprias da área de

formação em Pedagogia. Entretanto, não temos elementos para afirmar que esta mudança de

nomenclaturas seja representativa de uma concepção mais crítica e profunda sobre o tema.

Acreditamos que serão necessárias outras pesquisa, com instrumentos mais elaborados e fins

específicos para averiguar este achado.

Bastos (2008) refere-se à Universidade como instituição social formadora de opiniões,

que possui um papel determinante na disseminação de valores sociais e formação da

consciência moral, independente das peculiaridades histórico-social do indivíduo. Uma vez que

se constitui no embasamento institucional de transmissora de saberes e formação de cidadão

auto críticos, capazes de analisar e irradiar valores morais.

É notável que as Universidades, mesmo consideradas instituições de respeito diante da

formação de profissionais, ainda não possuem os instrumentos ideais para formar ferramentas

intelectuais, em seu corpo docente, eficientes o bastante que sejam capazes de transpor as

barreias do senso comum.

Bastos (2008) afirma que cabe aos professores contribuir para a formação moral

autônoma de seus alunos nas instituições escolares. Precisamos de professores capazes de

práticas que privilegiem a formação de valores e virtudes de sua sociedade que se quer pacífica

e democrática. Consideramos a universidade como instituição privilegiada para a formação e

discussão de valores do espaço público, tais como o respeito, a solidariedade, a justiça, a

cortesia, etc. A universidade como uma instituição social formadora é responsável pela difusão

do conhecimento e pela geração de novos saberes pautados nos princípios da verdade, da

justiça, da igualdade e do belo, que os futuros profissionais precisam transmitir para as novas

gerações.

Bastos (2008), constata que há uma subjetiva falência das instituições clássicas (igreja

e famílias) responsáveis pela formação moral do indivíduo. Diante deste fator, as escolas e

universidades ganham um sobrepeso em sua responsabilidade de construir cidadãos e no

repasse e implantação dos conceitos éticos. Uma vez que a Universidade possui três finalidades

específicas, sendo elas: transmissão cultura, ensino de profissões na formação integral e

investigações científicas.

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7 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Uma vez que a moral estuda o comportamento que uma sociedade adota a ética tem

caráter filosófico do modo de ser e das ações humanas em determinada sociedade. A pesquisa

nos revela que os acadêmicos tiveram dificuldade na apresentação da definição de moral, que

por muitas vezes é confundida com a ética, quando são distintas.

Observa-se que para a definição de valores apresenta semelhança com os conceitos de

moral e ética. Foi possível perceber uma tendência para o relativismo, o que uma pessoa

valoriza, pode não ter valor algum para o outro. Os comportamentos tidos como virtuosos bons

como o respeito, honestidade são mais apreciados pelos acadêmicos. No entanto, os valores

referentes à esfera privada (família, amigos) são privilegiados aos referentes à esfera pública

(sociedade).

Os estudos realizados sobre o desenvolvimento moral e as concepções de valores dos

acadêmicos de curso de pedagogia, analisou os conceitos e suas diferentes definições. Após

estudar e observar as respostas dos pesquisados, é possível inferir que há um esvaziamento dos

valores cultuados no espaço público. Os acadêmicos chegam a universidade com concepções

elementares, cotidianas a respeito dos conceitos de moral, ética, valores, bem como de seus

pressupostos teóricos filosóficos e psicológicos. Contudo ao término da sua formação inicial,

ainda não demonstram estar preparados e capacitados o suficiente para lidar com os dilemas

morais específicos do espaço escolar. Os dados evidenciam, que com pouquíssima diferença,

os acadêmicos concluem o curso com as mesmas concepções de senso comum sobre moral,

ética e valores.

A escola é o espaço público onde se desenvolve a formação humana, preparando o

cidadão para viver em sociedade com respeito e dignidade. A família que antes era a principal

responsável pela formação de valores, diante das constantes transformações sociais, precisa do

apoio da escola, enquanto instituição justa, para formar cidadãos autônomos.

Sabemos que o desenvolvimento da moralidade acontece principalmente na infância

como explica Piaget, então é de suma importância o profissional da educação ter domínio

teórico sobre a questão. Nossa pesquisa contatou através dos resultados obtidos que a maioria

dos acadêmicos responderam que a formação dos valores deve ser papel da família (espaço

privado), se distanciando da percepção que enquanto futuros profissional precisam ensinar

valores morais e éticos. Porém vale ressaltar que os mesmos acadêmicos reconhecem que

precisam estar melhor capacitados para desempenhar esse papel.

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Nota-se a importância da universidade na formação de profissionais com disposição

teórica e prática necessária para contribuir com a formação do sujeito moral autônomo.

Consideramos que os dados obtidos apontam para a necessidade de repensar o currículo do

curso no sentido de inserir estas discussões. Para que a universidade desempenhe melhor seu

papel de formar profissionais melhores capacitados há uma necessidade de se fazer mudanças

na matriz curricular do curso, abordando os temas de moral, ética e valores com mais

profundamente na teoria e com suas implicações na prática futura de um docente.

Em resumo, os estudos realizados na área da moralidade sugerem os seguintes aspectos:

a) a maioria versou sobre a mensuração do nível de desenvolvimento moral segundo o par

heteronomia/autonomia formulado por Piaget e os níveis do referido desenvolvimento; b) os

acadêmicos buscaram relacionar os conceitos de moral e ética como sinômino, apresentando

respostas confusas para os dois conceitos; c) no campo do estudo das virtudes, basicamente, os

participantes do estudo elege como prioritários os valores do espaço privado (dever ser) em

detrimento dos valores do espaço público relacionados à dimensão do dever agir; d) a escola é

reconhecida como instituição do espaço público privilegiada para a formação do sujeito moral

e e) os cursos de formação inicial de professores precisam considerar essas questões relativas

ao desenvolvimento Moral e a formação/aquisição de valores. Tais discussões poderão

representar mudanças nas práticas educacionais que formem profissionais mais preparados para

discutir as relações humanas e o convívio em sociedade.

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APÊNDICE 1

TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO

Prezado(a) Acadêmico(a)

Você está sendo convidado(a) a participar, como voluntário(a), da pesquisa intitulada

“Desenvolvimento moral: conhecendo as concepções dos acadêmicos do curso de

Pedagogia sobre a formação de valores”. Esta pesquisa faz parte do projeto “Valores morais

do ponto de vista dos acadêmicos de Pedagogia”.

Pesquisadora participante: Maristela Assumpção Cechinel

Cargo/função: Acadêmica do 8º período do curso de Pedagogia – DACIE/UNIR/VHA

Instituição: Universidade Federal de Rondônia, Campus Vilhena – RO.

Pesquisadora responsável: Kelly Jessie Queiroz Penafiel.

Cargo/função: Docente do Departamento Acadêmico de Ciências da Educação –

DACIE/UNIR/VHA

Instituição: Universidade Federal de Rondônia, Campus Vilhena – RO.

Justificativa e objetivos da pesquisa: Pretende-se ao longo da pesquisa compreender como os

acadêmicos de Pedagogia percebem a discussão sobre os valores morais no âmbito da educação

e da universidade.

Sua participação não é obrigatória. A qualquer momento o (a) Sr. (a) pode retirar seu

consentimento sem qualquer prejuízo, como também solicitar esclarecimentos sobre a forma

como a pesquisa será realizada.

A participação será feita da seguinte forma: Faremos a aplicação de um questionário individual

sobre sua compreensão dos valores morais no âmbito da educação e da universidade. Você não

terá nenhuma despesa e também não receberá nenhum pagamento pela colaboração. Todas as

informações pessoais coletadas neste estudo serão mantidas em sigilo.

Os dados serão divulgados sem identificar o seu nome ou qualquer outro dado que o identifique.

Esperamos que este estudo possa contribuir com a formação dos(as) futuros Pedagogos(as)

Os procedimentos adotados nesta pesquisa obedecem aos Critérios da Ética em Pesquisa com

Seres Humanos, conforme Resolução nº 466/2012 do Conselho Nacional de Saúde.

Após estes esclarecimentos, solicito o seu consentimento para a participação desta pesquisa.

TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO Eu, _________________________________, RG ________________, abaixo assinado,

declaro que fui informado/a dos objetivos da pesquisa e da forma como ela será desenvolvida.

Estou ciente de que o meu nome será preservado, meus dados mantidos em sigilo e que posso

retirar meu consentimento a qualquer momento, sem prejuízo algum. Declaro que recebi uma

cópia deste termo de consentimento e autorizo a divulgação dos dados obtidos para fins

acadêmicos, de acordo com os princípios éticos.

Nome do/a aluno/a:______________________________________________________

Assinatura do/a aluno/a: __________________________________________________

Assinatura do pesquisador:________________________________________________

Pesquisadora Responsável: Kelly Jessie Queiroz Penafiel

Docente do Departamento Acadêmico de Ciências da Educação – DACIE/UNIR/VHA

E-mail: [email protected]

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APÊNDICE 2

QUESTIONÁRIO INDIVIDUAL

Dados de Identificação:

1 – Sexo ( ) Fem. ( ) Masc. Outro ( )

2 – Idade__________

3 – Período:________

Agora você irá responder a algumas questões sobre a formação de valores morais. Não

é necessário colocar seu nome, apenas procure responder todas as questões da melhor forma

possível. Tome o tempo que julgar necessário. Obrigada.

1) O que é moral? O que é ética?

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

2) O que são valores? O que são valores morais? Cite exemplos:

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

3) Como os valores são “formados”/”adquiridos”?

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

4) Quem deve ser o(s) responsável(eis) pela formação/aquisição de valores?

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

5) Você acredita que possam existir valores superiores a outros? Cite exemplo:

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

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___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

6) A escola deve participar da formação de valores morais e sociais dos alunos? Se sua resposta

for afirmativa, como esta participação deve/pode acontecer?

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

7) Qual o papel da universidade, mais precisamente do curso de Pedagogia, no preparo do(a)

professor(a) para a discussão de questões relacionadas à moral, ética e valores?

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________