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FUNDAMENTOS DA CORROSÃO Fabio Domingos Pannoni, M.Sc., Ph.D. 1 INTRODUÇÃO Os metais raramente são encontrados no estado puro. Eles quase sempre são encontrados em combinação com um ou mais elementos não-metálicos presentes no ambiente. Minérios são, de modo geral, formas oxidadas do metal. Com raras exceções, quantidades significativas de energia devem ser fornecidas aos minérios para reduzi-los aos metais puros. A fundição e conformação posterior do metal envolvem processos onde mais energia é gasta. Corrosão pode ser definida, de modo simples, como sendo a tendência do metal produzido e conformado de reverter ao seu estado original, de mais baixa energia livre. Uma outra definição, amplamente aceita, é a que afirma que corrosão é a deterioração que ocorre quando um material reage com seu ambiente. De uma perspectiva puramente termodinâmica, a tendência de decréscimo energético é a principal força encorajadora da corrosão metálica. A corrosão afeta a sociedade de várias maneiras: utilização de maiores coeficientes de segurança, necessidade de manutenção preventiva (p.ex., pintura), utilização de materiais mais “nobres”, parada da utilização do equipamento ou da estrutura, contaminação de produto, perda de eficiência, perda de credibilidade, etc.. Obviamente todos estes itens envolvem aspectos econômicos. Assim, existem muitas razões para se evitar a corrosão. 1 Especialista em Engenharia de Proteção Estrutural da Gerdau Açominas S.A. ALTO-FORNO ACIARIA CONFORMAÇÃO PRODUTO ÓXIDOS DE FERRO ENERGIA ENERGIA

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FUNDAMENTOS DA CORROSÃO

Fabio Domingos Pannoni, M.Sc., Ph.D.1

INTRODUÇÃO

Os metais raramente são encontrados no estado puro. Eles quase sempre são encontrados

em combinação com um ou mais elementos não-metálicos presentes no ambiente. Minérios

são, de modo geral, formas oxidadas do metal.

Com raras exceções, quantidades significativas de energia devem ser fornecidas aos

minérios para reduzi-los aos metais puros. A fundição e conformação posterior do metal

envolvem processos onde mais energia é gasta.

Corrosão pode ser definida, de

modo simples, como sendo a

tendência do metal produzido e

conformado de reverter ao seu

estado original, de mais baixa

energia livre. Uma outra definição,

amplamente aceita, é a que afirma

que corrosão é a deterioração que

ocorre quando um material reage

com seu ambiente.

De uma perspectiva puramente

termodinâmica, a tendência de

decréscimo energético é a principal

força encorajadora da corrosão

metálica.

A corrosão afeta a sociedade de várias maneiras: utilização de maiores coeficientes de

segurança, necessidade de manutenção preventiva (p.ex., pintura), utilização de materiais

mais “nobres”, parada da utilização do equipamento ou da estrutura, contaminação de

produto, perda de eficiência, perda de credibilidade, etc.. Obviamente todos estes itens

envolvem aspectos econômicos. Assim, existem muitas razões para se evitar a corrosão.

1 Especialista em Engenharia de Proteção Estrutural da Gerdau Açominas S.A.

ALTO-FORNO

ACIARIA

CONFORMAÇÃO

PRODUTO

ÓXIDOS DE FERRO

ENERGIA

ENERGIA

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A corrosão pode ocorrer através de variadas formas, e sua classificação pode ser feita

através da aparência do metal corroído. As formas mais comuns de corrosão que acometem

o aço carbono são a corrosão uniforme, a corrosão galvânica e a corrosão por frestas.

O ataque uniformemente distribuído por

grandes regiões da superfície metálica é a

forma mais comum de corrosão. A seleção

correta de materiais (p.ex., o uso de aços

patináveis) ou de métodos de proteção

adequados (p.ex., a pintura ou a galvanização)

são os meios mais comuns de se controlar este

tipo de ataque.

A corrosão galvânica pode ocorrer quando dois

metais diferentes em contato elétrico (ou

conectados por um condutor elétrico) são

expostos à uma solução condutora de

eletricidade. Uma diferença de potencial

elétrico existente entre diferentes metais ou

ligasacaba por fornecer o potencial

termodinâmico necessário à manutenção do

processo de corrosão.

As condições ambientais dentro de uma fresta podem, com o tempo, tornar-se muito

diferentes daquelas encontradas em uma superfície próxima, limpa e exposta. Um ambiente

muito mais agressivo pode se desenvolver e causar a corrosão localizada no interior da

fresta. Frestas acontecem, por exemplo em parafusos, pontos de solda descontínua e

rebites, mas também podem ser criadas por depósitos de sujeira, produtos de corrosão,

riscos em pintura, etc..

A quase totalidade das ocorrências de corrosão envolvem reações eletroquímicas. A seguir,

será detalhado o mecanismo desse tipo particular de reação.

CORROSÃO

UNIFORME LOCALIZADA

MACROSCÓPICA

MICROSCÓPICAGALVÂNICA

FRESTAS

PITES

DISSOLUÇÃO SELETIVA

MICROBIOLÓGICA

INTERGRANULAR

CORROSÃO SOBTENSÃO

Formas comuns de corrosãoem aços estruturais

semcorrosão uniforme galvânica frestas

Metal maisnobre

Metal ounão-metalMeio

Metal

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O MECANISMO ELETROQUÍMICO

Os fenômenos de corrosão de metais envolvem uma grande variedade de mecanismos que,

no entanto, podem ser reunidos em quatro grupos, a saber:

� Corrosão em meios aquosos (90%);

� Oxidação e corrosão quente (8%);

� Corrosão em meios orgânicos (1,8%);

� Corrosão por metais líquidos (0,2%).

Entre os parenteses está indicada, de forma estimada, a incidência de cada um dos tipos de

corrosão. Nota-se que, de longe, a corrosão em meios aquosos é a mais comum, e isto é

esperado,uma vez que a maioria dos fenômenos de corrosão ocorre no meios ambiente, no

qual a água é o principal solvente. A própria corrosão atmosférica, que é a de maior

incidência, ocorre através da condensação da umidade na superfície do metal.

Atualmente, aceita-se que os dois primeiros grupos são caracterizados por processos

essencialmente eletroquímicos. Já a natureza dos processos que ocorrem nos dois últimos

grupos não pode ser precisada, uma vez que os seus mecanismos ainda não foram

devidamente estabelecidos.

Uma reação é considerada eletroquímica se ela estiver associada à passagem de corrente

elétrica através de uma distância finita, maior do que a distância interatômica2. Esta

passagem de corrente envolve o movimento de partículas carregadas: íons, elétrons ou

ambos. Dessa forma, na maioria das reações que se manifestam na presença de uma

superfície metálica, ocorre a passagem de corrente através do metal, e a reação é

eletroquímica em sua natureza.

A distância que a corrente elétrica percorre numa reação de corrosão eletroquímica pode

variar bastante, desde uma dimensão da ordem de um tamanho de grão (micrometros),

como no caso da dissolução de um metal em uma solução ácida, até quilômetros de

distância, como no caso da corrosão por correntes de fuga de tubulações enterradas nas

vizinhanças de uma estrada de ferro eletrificada.

Na maioria das reações eletroquímicas os íons se movimentam através de eletrólito líquido,

normalmente aquoso. No entanto, em reações de oxidação (por exemplo, a reação à

temperatura elevada entre um metal e o oxigênio atmosférico) não se tem eletrólito líquido e

o movimento de íons ocorre através da película de óxido metálico que se forma na

2 Uma reação química é aquela associada à passagem de corrente (elétrons) através de uma distância finita, da ordem das distâncias atômicas.

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superfície do metal. Este óxido funciona como um eletrólito sólido e garante a natureza

eletroquímica da reação.

A natureza eletroquímica da corrosão em meio aquoso foi confirmada de forma

inquestionável na década de 20 por Evans3. Uma de suas experiências clássicas, que ilustra

de forma bem clara as reações eletroquímicas envolvidas no processo de corrosão do aço

carbono, é a da gota salina.

Nesta experiência, uma gota de uma solução NaCl 3% é vertida sobre uma superfície

finamente lixada de aço carbono. A solução também contém uma pequena quantidade do

indicador ferricianeto de potássio, que se torna azul em presença de íons ferrosos (azul da

Prússia), e do indicador fenolftaleína, que se torna rosa na presença de OH-. Olhando a gota

por cima, observa-se que logo de início aparecem pequenas áreas tanto de coloração azul

como rosa, distribuídas ao acaso sobre a superfície do aço (distribuição primária), conforme

ilustrado abaixo em Figura 2 (a).

(a) (b)

ROSA

MARROM

AZUL

Figura 2: Aspecto da gota salina vista de cima logo no início do ensaio (a) (distribuição

primária) e um certo tempo depois (b) (distribuição secundária).

Passado certo tempo, no entanto, a distribuição dessas áreas altera-se, conforme mostrado

na Figura 2 (b), ficando a área rosa na periferia da gota, a área azul no centro e, aparecendo

entre as duas áreas, um precipitado de coloração marrom (distribuição secundária).

A Figura 3 mostra, em corte, as reações que ocorrem dentro da gota.

3 U.R.Evans, Metal Ind. (London), 29, 481 (1926).

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Figura 3: Gota salina vista de lado na distribuição secundária, com a indicação das reações

que ocorrem.

O aparecimento da área azul deve-se à formação de íons ferrosos segundo a reação:

(1): Fe → Fe++ + 2 e-

Trata-se de uma reação anódica, que é uma reação de oxidação, visto que os elétrons são

produtos na reação.

O aparecimento da área rosa, por sua vez, é devido à formação do íon hidroxila a partir do

oxigênio dissolvido na solução segundo a reação:

(2): O2 + 2 H2O + 4 e- → 4 OH-

Esta é uma reação catódica, isto é, uma reação de redução, uma vez que os elétrons são

reagentes na reação. Ela é mais conhecida como reação de redução do oxigênio. Esta

reação ocorre graças aos elétrons que são gerados pela reação anódica e que se deslocam

através do metal da região azul para a região rosa, isto é, da região anódica para a região

catódica, conforme indicado na Figura 3.

Assim, as duas reações acima ocorrem simultaneamente graças à passagem através do

metal de corrente elétrica da região em que ocorre a dissolução do metal (região anódica)

para a região em que ocorre a redução do oxigênio (região catódica). Estas reações, de

natureza eletroquímica, constituem-se em reações básicas do processo corrosivo que tem

lugar dentro da gota salina.

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As reações acima, no entanto, não são as únicas, e desencadeiam uma série de outros

processos.

A reação (2) consome o oxigênio dissolvido na gota. Este fato é responsável pela passagem

da distribuição primária para a secundária, pois a medida que o oxigênio originalmente

dissolvido na gota vai sendo consumido, mais oxigênio se dissolve na gota a partir da

atmosfera. Com isso ocorre um gradual deslocamento das áreas catódicas para a periferia

da gota, pois é nesta região que o oxigênio fica mais facilmente disponível. As áreas

anódicas, por sua vez, concentram-se na região central da gota, onde o acesso do oxigênio

é mais restrito (depende da difusão). Cria-se, assim, uma situação de separação quase

completa entre os dois tipos de áreas.

O consumo do oxigênio pela reação catódica é responsável pelo aparecimento dos

seguintes processos, que podem desempenhar um importante papel no desenvolvimento do

processo corrosivo:

� Dissolução do oxigênio na gota (passagem do oxigênio do ar para a solução através

da interface eletrólito/atmosfera), e

� Transporte do oxigênio através da solução por difusão e convecção.

Uma outra consequência das duas reações eletroquímicas básicas é a precipitação do

produto marrom. Trata-se de um produto final do processo corrosivo, mais conhecido como

ferrugem . Ele tem uma composição química complexa, porém, basicamente, é constituído

de compostos da forma FeOOH e Fe3O4. A formação do primeiro composto ocorre por uma

reação não-eletroquímica do tipo:

(3): 2 Fe2+ + 4 OH- + ½ O2 → 2 FeOOH + H2O

enquanto que o segundo seria formado a partir do primeiro por uma reação eletroquímica

catódica do tipo:

(4): 8 FeOOH + Fe++ + 2 e- → 3 Fe3O4 + 4 H2O

Conforme indicado pela equação (4), a ferrugem é resultante da reação entre o íon ferroso

formado na área anódica e a hidroxila formada na área catódica, razão porque a sua

precipitação ocorre entre as duas áreas em consequência do encontro dos dois íons.

Muitas destas células ocorrem concomitantemente sobre a superfície do aço. Regiões

anódicas e catódicas podem alterar posições4, de modo que, macroscopicamente, o que se

observa é um ataque uniformemente distribuído.

4 Catodos e anodos são distribuidos, inicialmente, aleatóriamente por toda a superfície metálica, e conectados elétricamente pelo substrato de aço. Íons ferrosos e hidroxilas formados migram, gerando a ferrugem, que vai

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O que acontece em outras situações, como por exemplo, o aço carbono enterrado no solo?

Como se processa o ataque no aço pintado? Como as reações descritas acima podem ser

comparadas a outras condições? De modo geral, não existirão muitas diferenças. Em todos

os casos em que as reações eletroquímicas predominam, a reação anódica consiste da

oxidação do metal, passando a íons em solução:

(5): M → Mn+ + ne-

Quando uma liga corrói, muitas reações anódicas acontecem simultaneamente. Por

exemplo, as reações anódicas para uma liga

alumínio-cobre poderiam ser:

(6): Al → Al+++ + 3e-

(7): Cu → Cu++ + 2e-

Com respeito às reações catódicas existem

várias possibilidades. Vários tipos de redução

podem ocorrer, sendo as mais importantes:

(8): Redução do hidrogênio em meios

ácidos:

2H+ + 2e- → H2

(9): Redução de oxigênio em meios

ácidos:

O2 + 4H+ + 4e- → 2H2O

(10): Redução de oxigênio em meios neutros ou alcalinos:

O2 + 2H2O + 4e- → 4OH-

A redução do hidrogênio e a redução do oxigênio em meios neutros ou alcalinos são as

reações catódicas mais comuns e importantes, observadas em uma grande variedade de

situações práticas.

É importante ressaltar que diferentes reações catódicas podem ocorrer simultaneamente

sobre uma superfície sofrendo corrosão.

sendo exposta. Este novo material causa alterações dos potenciais elétricos entre as áreas anódicas e catódicas, causando sua mudança de local. Com o tempo, as áreas originalmente catódicas se tornam anódicas, e toda a superfície acaba se corroendo de modo uniforme.

Catodos e anodos são distribuidosaleatóriamente por toda a superfíciemetálica e conectados elétricamentepelo substrato de aço. Íons ferrosose hidroxilas são formados através dereações eletroquímicas, e sedifundem superficialmente.

Conforme as áreas anódicascorroem, um novo material, dediferente composição (a ferrugem)vai sendo exposta. Este novomaterial causa alterações dospotenciais elétricos entre as áreasanódicas e catódicas, causando suamudança de local.

Com o tempo, as áreas catódicas setornam anódicas, e toda a superfícieacaba se corroendo de modouniforme

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EXEMPLOS DE APLICAÇÃO DO MECANISMO ELETROQUÍMICO

Deterioração de Pintura em Ambientes Agressivos

Revestimentos orgânicos expostos a ambientes

agressivos (tais como os encontrados em

ambientes industriais e marinhos) podem sofrer

variados tipos de degradação, sendo os mais

comumente encontrados a delaminação e o

empolamento.

Estes tipos de defeitos são originados por

imperfeições no revestimento (porosidades,

riscos, regiões insuficientemente recobertas,

etc.), onde o substrato metálico é exposto ao

ambiente.

As reações que descrevem o processo são:

(1): ÁREAS ANÓDICAS Fe→Fe++ + 2 e-

(2): ÁREAS CATÓDICAS O2 + 2 H2O + 4 e- → 4 OH-

Na etapa inicial, as duas reações acontecerão na mesma região do defeito, mas, com o

decorrer do tempo, as áreas catódicas vão se alastrando sob o revestimento orgânico. Os

cátions produzidos nas áreas anódicas acabam reagindo com ânions existentes no

ambiente externo, e são desse modo estabilizados na forma de compostos estáveis. Como

as tintas são bastante permeáveis à passagem do vapor de água, do oxigênio e de gases

corrosivos5, o processo catódico acontece junto das áreas anódicas, e vão se alastrando. As

hidroxilas estarão presentes tanto no empolamento quanto na delaminação. A natureza

alcalina da solução existente nestes locais é o principal fator que ocasiona a perda de

adesão da tinta. Certas resinas, como as alquídicas, podem ser facilmente saponificáveis

nestas condições6 ou óxidos superficiais podem ser dissolvidos7, levando à perda de adesão

da tinta. Para que uma tinta seja impermeável, é necessário que a resina utilizada seja

impermeável, que sua formulação seja balanceada para impedir a ocorrência de poros, que

os pigmentos utilizados sejam de formato lamelares (plaquetas que propiciam uma barreira

mais eficiente) e que a tinta seja de alta espessura (para retardar o caminho das espécies

agressivas até o metal base).

5 J. E. O. Mayne. J. O. C. C. A., vol. 32, no. 352, p. 481 (1949). 6 J. E. Castle e J. F. Watts. “Corrosion COntrol by Organic Coatings”, ed. H. Leidheiser Jr.. Van Nostrand, New York, p. 51 (1981). 7 J. J. Ritter. J. Coat. Tech., vol 54, no. 695, p. 51 (1982).

e-e-

Fe++

Tinta

Aço

OH-

H2O

O2

SO2

DelaminaçãoEmpolamento

Atmosfera

OH-

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Corrosão por Frestas

A corrosão por frestas é uma forma de corrosão localizada usualmente associada às

condições de estagnação de eletrólitos em micro-ambientes. Estes ambientes restritos,

onde há impedimento ou dificuldade à difusão de espécies químicas, podem ocorrer em

parafusos, porcas e arruelas, materiais de isolação, depósitos superficiais, películas de tinta

descoladas, rebites, etc. A corrosão por frestas acontece devido às alterações da química

localizada dentro da fresta:

� A solução dentro da fresta torna-se desoxigenada devido à corrosão inicial, que

consome, através do processo catódico, o oxigênio em solução: O2 + 2H2O + 4e- →

4OH-. A velocidade de difusão do oxigênio para dentro da fresta não é

suficientemente rápida para repor o oxigênio consumido no processo catódico.

� O processo catódico se move para fora da fresta, onde o oxigênio é abundante. Há

separação das regiões anódicas e catódicas. Os íons ferrosos são formados dentro

da fresta (Fe → Fe++ + 2e-), e as hidroxidrilas, fora, nas regiões oxigenadas. Os

íons ferrosos sofrem hidrólise (Fe++ + H2O → Fe(OH)+ + H+), diminuindo o pH dentro

da fresta. Devido ao fluxo de corrente e fenômenos de transporte de massa (balanço

de cargas e de material), íons agressivos (p.ex., cloretos) migram sob influência do

campo eletrostático para dentro da fresta, e lá se concentram, causando grande

alteração das condições químicas dentro da fresta. Outro fator a ser considerado é a

razão de áreas entre as regiões catódicas (externas e amplas) e a região anódica

(de pequena área), agravando o processo.

Evitar a corrosão por frestas é,

principalmente, questão de um bom

projeto. Evite frestas sempre que

possível. Se não puder evitá-las, as

superfícies deverão ser pintadas, ou

a fresta deverá ser preenchida com

um sela-juntas para prevenir do

ingresso da água.

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METAL

METAL

ELETRÓLITO

FRESTA

e-

e-

ANODO

CATODO

FeOOHM2+

H+

PRODUTO DE CORROSÃO

O2

O2

O2

O2

O2

OH-

OH-

M2+

A solução dentro dafresta torna-sedesoxigenada.

Anodo situado dentroda fresta e catodosituado na região

externa (oxigenada)

Os íons ferrosos sehidrolizam, diminuindoo pH dentro da fresta.

Íons externosagressivos migram

para dentro dafresta, mantendo aeletroneutralidade.

As condições nafresta tornam-semuito agressivas.

Cl-Cl-

Evite a criação desnecessária defrestas.

Utilize cordões de solda contínuos nolugar dos intermitentes.

Utilize selantes epoxídicos,poliuretânicos ou à base de silicone

para fechar a fresta.