Fundamentos Da Gestão Pública
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11/08/12 (Verso para impresso) Fundamentos da Gesto Pblica
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Fundamentos da Gesto Pblica
Objetivo
EmentaPrincpios da administrao pblica. Polticas pblicas. Planejamento no setor pblico. Projetos no
setor pblico. Ferramentas de modernizao do setor pblico. Introduo ao oramento pblico.
ObjetivosAo final desta disciplina, voc estar apto a:
compreender os fundamentos da gesto pblica no Brasil;
realizar a gesto de polticas de segurana pblica nos moldes cientficos, priorizando a
construo de diagnsticos e a realizao da avaliao contnua de resultados;
compreender as prticas de gesto executadas em seu ambiente de trabalho e o
funcionamento do sistema oramentrio brasileiro;
aperfeioar a gesto de polticas pblicas, valorizar a participao da sociedade civil na
gesto pblica e a realizao do accountability.
ContextualizaoA evoluo da gesto pblica no Brasil vem se estruturando cada vez mais no sentido de
valorizar o alcance de resultados efetivos sobre os problemas pblicos e, neste sentido, fica
cada vez mais claro a necessidade de efetivao de uma gesto participativa, que valorize o
conhecimento dos profissionais executores das aes e tambm o conhecimento da sociedade
civil e outros rgos pblicos. Por outro lado, tambm cada vez mais valorizada a necessidade
de prestar contas para a sociedade dos resultados alcanados pela poltica pblica, no apenas
no sentido da legalidade dos gastos realizados, mas tambm dos reais impactos alcanados pelas
polticas. Neste contexto, este curso centralizou sua abordagem nas seguintes questes:
O que uma poltica pblica e quais as etapas de sua elaborao?
A execuo de uma poltica pblica reflete perfeitamente o seu planejamento?
Como avaliar os resultados de uma poltica pblica?
Como articular planejamento, oramento e execuo de uma poltica pblica?
Quais os principais desafios da nova gesto pblica no sculo XXI?
Apresentao
Contedo
Aula 1 Poltica Pblica
1.1 Conceito de Poltica Pblica
1.2 Ciclo de Polticas Pblicas
1.3 Formulao das Polticas Pblicas
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Aula 2 Implementao de Polticas Pblicas
2.1 Implementao das Decises
2.2 Monitoramento e Avaliao
2.3 Balano da Interrelao entre as Etapas do Ciclo
Aula 3 Gesto Pblica no Brasil
3.1 Histria da Gesto Pblica no Brasil
3.1.1 Estado Oligrquico e Patrimonial
3.1.2 Estado Autoritrio e Burocrtico
3.1.3 Reforma Desenvolvimentista
3.1.4 Retrocesso Burocrtico
Aula 4 Reforma Gerencial
4.1 Introduo
4.2 Gerencialismo Puro (Managerialism)
4.3 Consumerism
4.4 Public Service Oriented (PSO)
4.5 Reforma Gerencial no Brasil (1995)
4.6 Balano da Evoluo da Gesto Pblica no Brasil
Aula 5 Sistema de Planejamento e Oramento
5.1 Oramento
5.1.1 Oramento Tradicional
5.1.2 Oramento Programa
5.2 Sistema Planejamento e Oramento: PPA, LDO e LOA
5.2.1 Plano Plurianual
5.2.2 Lei de Diretrizes Oramentrias (LDO)
5.2.3 Lei Oramentria Anual (LOA)
5.3 Balano Atual do Sistema de Planejamento e Oramento no Brasil
Aula 06 - Gesto Pblica no Sculo XXI
6.1 Eixos Estratgicos de Reforma
6.1.1 Profissionalizao
6.1.2 Eficincia
6.1.3 Efetividade
6.1.4 Transparncia e Accountability
6.2 Sistemas de Avaliao de Desempenho
6.2.1 Bases para Construo de Sistemas de Indicadores de Desempenho
6.2.2 Principais Dimenses de Anlise dos Indicadores
6.2.3 Desafios e Princpios que Devem Pautar a Construo dos Indicadores de
Desempenho
6.2.4 Exemplo de Uso de Sistema de Avaliao de Desempenho: PMMG
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Aula 07 - Gesto de Projetos no Setor Pblico
7.1 Funes Administrativas
7.1.1 Funo Administrativa Planejamento
7.1.2 Funo Administrativa Controle
7.1.3 Funo Administrativa Organizao
7.1.4 Funo Administrativa Direo
7.2 Aspectos a Serem Observados na Elaborao de um Projeto
7.3 Projeto Bsico
7.4 Plano de Trabalho
7.4.1 Dados Cadastrais Proponente
7.4.2 Dados Cadastrais Executor
7.4.3 Descrio do Projeto
7.4.4 Cronograma de Execuo (Meta, Etapa ou Fase)
7.4.5 Plano de Aplicao
7.4.6 Cronograma de Desembolso
7.4.7 Relao de Bens e Servios a Serem Adquiridos
7.5 Execuo Fsica e Financeira do Projeto
7.6 Prestao de Contas da Execuo do Projeto
Aula 01 Poltica PblicaA definio do que gesto pblica depende necessariamente de como concebemos as polticas
pblicas. Nesta primeira aula voc participar da discusso sobre o que poltica pblica e
compreender o processo de formulao de polticas pblicas, muito alm dos aspectos tcnicos
e cientficos.
1.1 Conceito de Poltica PblicaUma poltica pblica um curso de ao, de carter coletivamente vinculante, promovido por
uma autoridade legalmente constituda. Envolve um conjunto de decises interrelacionadas, que
concerne seleo de metas os meios para alcan-las dentro de uma situao especfica
(JENKINS, 1978), levando a impactos efetivos o ambiente poltico e social. Neste contexto, cabe
destacar que uma poltica pblica envolve sempre mais que uma deciso e requer a execuo de
aes para que as decises sejam colocadas em prtica. Vale destacar tambm que uma deciso
poltica corresponde apenas a uma escolha dentre as alternativas e obedece a uma hierarquia de
interesses (RUA, 1998).
Duas dimenses do conceito de poltica pblica merecem especial ateno. A primeira que a
poltica pblica constitui um processo pelo qual o governo responde s demandas da sociedade.
A segunda a poltica pblica constitui um conjunto de decises que envolvem a negociao
contnua entre mltiplos atores polticos com objetivos pr-fixados e no necessariamente
semelhantes.
A primeira dimenso ressalta a existncia de uma racionalidade homognea, que pauta o
comportamento dos gestores pblicos e tecnocratas em um processo ordenado de etapas, no
sentido de encontrar a melhor soluo para os problemas e necessidades da sociedade. A
segunda dimenso complementa o conceito de poltica pblica ao ressaltar a importncia dos
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aspectos polticos no processo de elaborao de polticas pblicas. Neste contexto, o principal
ponto a ser destacado que a execuo de polticas pblicas envolve uma srie de interaes
entre decises mais ou menos conscientes de diversos atores sociais, no somente dos
tomadores de deciso, buscando alcanar seus interesses prprios. As polticas pblicas passam
a ser vistas, neste contexto, como uma teia de decises e negociaes, mais do que apenas
uma deciso isolada.
1.2 Ciclo de Polticas PblicasA elaborao e execuo de polticas pblicas envolvem trs etapas principais. No entanto, a
execuo das polticas pblicas nem sempre segue esta seqncia ideal de etapas e existem
situaes em que algumas etapas no so executadas plenamente ou nem chegam a ser
executadas, como o caso da etapa final de avaliao dos resultados.
As trs etapas de execuo de polticas pblicas so:
1. Formulao do projeto da poltica pblica A formulao envolve a composio da
agenda pblica e da agenda governamental, a sondagem das causas e possveis solues
do problema pblico a ser enfrentado pela ao governamental e a explicitao dos
objetivos e metas a serem alcanados.
2. Implementao da ao definida pelo projeto Etapa executada pelos rgos e
gestores pblicos que, dependendo do projeto da poltica e dos condicionantes estruturais
e legais da sua implementao, podem contar com um considervel espao de autonomia
para adaptar a execuo da poltica ao atendimento dos seus interesses particulares.
3. Avaliao dos resultados alcanados a partir da ao executada O tipo de
avaliao a ser executada reflete a racionalidade presente nas fases de formulao e
implementao da poltica, podendo envolver desde uma simples verificao da satisfao
do pblico-alvo da poltica at uma comparao cientfica dos resultados decorrentes da
implementao da ao com aquilo que fora estipulado no projeto.
Antes de iniciarmos uma descrio detalhada de cada uma dessas etapas do ciclo das polticas
pblicas, vamos conhecer os atores envolvidos na formulao, implementao e avaliao de
uma poltica pblica e todos aqueles que possuem algum interesse na execuo desta. Este
universo pode ser subdividido entre atores visveis (banqueiros, polticos e financistas),
envolvidos principalmente com a definio da agenda de polticas, e os atores invisveis
(acadmicos, consultores, assessores legislativos, burocratas e analistas de grupos de
interesse), envolvidos principalmente com a determinao das solues a serem adotadas para
os problemas pblicos. Outra subdiviso deste universo envolve a separao entre atores
pblicos, que renem os burocratas que ocupam uma posio dentro de um sistema de carreiras
pblicas em funo do seu conhecimento especializado, polticos, cuja posio deriva de
mandatos eletivos, e atores privados, que renem empresrios, trabalhadores etc. (RUA, 1998)
1.3 Formulao das Polticas PblicasA formao de uma agenda governamental resulta da discusso dos temas de uma agenda
pblica. Enquanto a agenda pblica rene os fatos sociais compreendidos pela sociedade como
problemas pblicos, a agenda governamental envolve o que visto pelo governo como problema
a ser abordado. Os problemas pblicos podem ser inseridos na agenda governamental a partir da
discusso pblica e democrtica entre grupos no governamentais (modelo da iniciao externa)
ou a partir da demanda direta de alguns grupos sociais a gestores pblicos em um processo
definido como poltica de gabinete. Neste segundo caso, a execuo da ao pode necessitar do
apoio pblico e a sociedade termina sendo sensibilizada sobre a importncia da execuo da
ao (modelo da mobilizao) ou, ao contrrio, a execuo da ao pode ser imposta de forma
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autoritria populao e a sociedade termina nem sendo informada sobre a existncia da ao
governamental (modelo da iniciao interna).
Neste mbito, Howlett & Ramesh (1996) propuseram a seguinte estratificao de perspectivas
de formulao das polticas pblicas:
Tringulos de ferro Grupos de interesse, comisses congressuais e agncias
governamentais criam um sistema de apoio mtuo, a partir de interaes contnuas em
questes legislativas e regulatrias, capaz de capturar e controlar o processo poltico.
Redes em torno de questes Mltiplos atores, compartilhando os mesmos interesses
materiais e uma mesma base de conhecimento, constituem redes menos estveis e
institucionalizadas que os tringulos de ferro.
Comunidades de polticas pblicas Membros da comunidade interligam-se a partir de
uma base comum de conhecimento sobre o tema abordado pela poltica pblica, criando
comunidades estveis como as redes.
Coalizes de Advocacia Atores sociais e estatais dos mbitos pblico e privado,
compartilhando um conjunto de crenas bsicas, estruturam coalizes visando manipular as
regras e os recursos dos rgos pblicos para viabilizar o alcance de seus interesses.
A constituio da agenda governamental resulta da interao da dinmica dos problemas e da
dinmica da poltica a partir de eventos previsveis, como a renovao de uma legislao e
mudanas governamentais, ou imprevisveis, como um acidente areo. Assim, para que um
problema ocupe uma posio de destaque na agenda governamental, Rua (1998) ressalta que
necessrio que ele:
a. mobilize a ao poltica;
b. constitua uma situao de crise em que o custo de no fazer nada maior que o custo de
resolver o problema; ou
c. constitua uma situao de oportunidade.
Uma vez definido o problema social a ser abordado, a lgica racional de planejamento prope que
a formulao da poltica envolva basicamente:
a. a identificao das causas e possveis solues do problema abordado;
b. uma sondagem dos custos e benefcios da implementao de cada soluo;
c. a seleo da soluo mais vantajosa; e, a partir da,
d. a definio dos marcos jurdico, administrativo e financeiro para a sua implementao,
deixando claro os objetivos e metas a serem alcanados.
No entanto, como j foi ressaltado anteriormente, os condicionantes polticos do processo de
formulao e implementao de polticas pblicas podem fazer com que este fundamento racional
do planejamento das polticas seja deixado de lado em funo da necessidade da realizao de
um ajuste de interesses entre os atores envolvidos na execuo da poltica. Por esta razo,
identifica-se que a etapa de formulao passa a envolver, fundamentalmente, a seleo e o
detalhamento da alternativa de ao considerada mais conveniente de ser executada em termos
polticos e, neste contexto, chegam a acontecer situaes em que as polticas pblicas so
planejadas sem uma definio clara do problema pblico ou sem nenhum contato com o pblico
alvo da poltica.
Obedecendo a um processo semelhante ao da seleo natural, as alternativas de ao que
respeitam os valores culturais da comunidade, orientadas para atender aos interesses do maior
conjunto possvel de atores polticos, e com custos no ultrapassando certos limites mximos de
aceitabilidade, possuem maior chance de despertarem o apoio pblico e a receptividade dos
polticos eleitos. (KINGDOM, 2006)
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Nesse contexto, cabe ressaltar o espao aberto para o empreendedorismo poltico. Atores
pblicos proprietrios da soluo de uma questo que no est inclusa na agenda
governamental buscam transformar a questo em problema pblico e, desta forma, ganhar a
responsabilidade pela soluo do problema.
Segundo Gusfield (1981), os problemas so definidos a partir de relaes de poder e cada ator
pblico concebe o problema de forma diferente e apresenta diferentes solues. O conhecimento
prov a forma de ver o problema, que fundamenta a fixao da responsabilidade poltica. Assim,
a construo social do problema pblico envolve dimenses histricas (em cada perodo histrico
existe o reconhecimento social de que certos assuntos so de responsabilidade de certos
grupos) e polticas (algumas verses da realidade tem mais poder do que outras).
Gusfield (1981) destaca, ainda, que as autoridades pblicas em suas apresentaes buscam
estabelecer uma ordem moral e cognitiva que legitima sua viso do problema pblico e a
alternativa de ao defendida por eles. Dessa forma, buscam fazer com que cada pessoa passe
a acreditar na existncia de um consenso geral sobre a concepo e a soluo para o problema
adotadas por eles, sendo a ignorncia sobre a existncia de alternativas a base para a
percepo da sociedade como um sistema ordenado, consistente e previsvel. Deste raciocnio,
depreende-se, portanto, que os fundamentos da autoridade pblica so caracteristicamente
ilusrios: o que no podemos imaginar, no podemos querer.
A dimenso poltica relacionada execuo das polticas pblicas tambm explicitada na etapa
da formulao pelo fato de que a durao desta etapa depende da obteno do apoio
necessrio para a implementao da alternativa escolhida, e isto pode vir a nunca ser
plenamente alcanado. Por esta razo, a formulao da poltica pode entrar em um ciclo
contnuo de reformulaes e, mesmo durante o processo de implementao da poltica,
reformulaes no projeto da poltica podem ser necessrias para garantir a manuteno deste
apoio.
Nesse contexto, segundo Hill (2006), pelo menos quatro razes justificam deixar algumas
decises do processo de formulao para serem tomadas durante o processo de execuo:
a. pouco se sabe previamente sobre o impacto real das novas medidas;
b. decises durante a implementao sempre envolvem negociaes com grupos poderosos;
c. existem conflitos cuja soluo invivel e politicamente inadequada para a fase de
formulao; e
d. os executores so mais preparados e informados que os formuladores para tomar algumas
decises importantes.
Por fim, outra questo importante relacionada dimenso poltica da execuo de polticas
pblicas que, de modo geral, a sua execuo sempre traz ganhos para alguns grupos sociais e
custos para outros. Neste mbito, podemos estratificar as polticas pblicas em cinco grupos
principais:
1. Polticas Distributivas Promovem a alocao de recursos de forma individualizada para
um grande nmero de unidades isoladas, sem obedincia a critrios universais. De forma
geral, este tipo de poltica gera pouco conflito poltico e fornece bases para coalizes
altamente estveis, pois traz a impresso de no acarretar custos para ningum. No
entanto, este vis individualista na alocao de recursos constitui um obstculo para o
amadurecimento da esfera de deciso coletiva e, por conseguinte, para o aperfeioamento
da democracia.
2. Polticas Regulatrias Estabelecem normas e regras, que devem ser seguidas por
pessoas fsicas ou jurdicas e cujo no acatamento leva a aplicao de penalidades. A
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adoo destas polticas gera coalizes pouco estveis, pois sua implementao envolve,
desde o incio, escolha de qual grupo social ser favorecido e qual ser desfavorecido.
Neste contexto, vale ressaltar que as polticas regulatrias tendem a favorecer as elites
que controlam o poder poltico e estabelecem as bases de regulamentao da sociedade.
3. Polticas Redistributivas Promovem a alocao de recursos para um grupo a partir do
prejuzo dos recursos de outro grupo e, por esta razo, terminam sendo as polticas que
levam mais diretamente ao estabelecimento de conflitos polticos. A negociao poltica,
neste contexto, termina sendo executada apenas para reforar ou suavizar o impacto da
poltica. De modo geral, essas polticas tm como resultados concretos a perda de recursos
por um grupo em curto prazo e o ganho incerto de recursos para outro grupo em um futuro
indeterminado.
4. Polticas Constitutivas Estabelecem os procedimentos e a estrutura que moldam as
condies sob as quais a negociao poltica promovida.
5. Polticas Estruturadoras Estabelecem a conformao da esfera poltica no tocante
criao e reestruturao das instituies e reestruturao do sistema de governo e do
sistema eleitoral.
Somente no final do sculo XX os gestores pblicos comearam a perceber a importncia de
valorizar a avaliao dos resultados daquilo que faziam. Aps sculos de desperdcio de
recursos pblicos, os gestores comearam a perceber a tolice que era executar aes que no
levavam a lugar nenhum. Na prxima aula veremos como isto se implementou.
Aula 02 - Implementao de Polticas PblicasNesta segunda aula vamos apresentar as reais condies de implementao das aes no mbito
da gesto pblica e reforar alguns princpios bsicos da realizao de avaliaes de resultados.
Boa aula!
2.1 Implementao das DecisesA etapa de implementao da poltica envolve a organizao do aparelho administrativo e dos
recursos pblicos necessrios para a execuo da poltica e a efetiva execuo.
Tradicionalmente, esta etapa segue um modelo de cima para baixo (top-down), baseado em uma
estrutura hierrquica de comando. Segundo este modelo, a gesto da poltica pressupe uma
cadeia de estgios, em que existe uma separao clara entre a formulao e a implementao, e
quem est na posio superior da hierarquia visto como proprietrio da poltica. Esta separao
entre formulao e implementao faz com que a implementao dos projetos seja algo bastante
complexo, pois os formuladores da poltica nunca possuem pleno controle sobre todos os fatores
que influenciam e conformam a implementao prtica dos projetos.
De modo geral, pode-se afirmar que as polticas pblicas falham em alcanar os resultados e
metas estipuladas no projeto mais pela influncia de alguns fatores do que pela carncia de
recursos. Dentre os fatores, Roncaratti e Fontenelle (2008) destacam o contexto social,
econmico, tecnolgico e poltico; a (des)organizao dos aparatos administrativos dos rgos
pblicos; os recursos polticos e econmicos dos atores envolvidos na execuo da poltica; e o
apoio poltico necessrio para a execuo da poltica.
Rua (1998) destaca alguns pontos importantes a serem observados para garantir que a
implementao da ao obedea de forma mais adequada o projeto da poltica, seguindo uma
perspectiva top-down. So eles:
As circunstncias externas agncia implementadora no devem impor restries que a
desvirtuem.
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O programa deve dispor de tempo e recursos suficientes e no devem haver restries de
recursos globais em cada estgio da implementao.
A poltica deve ser baseada numa teoria adequada e direta sobre a relao entre a causa
(de um problema) e o efeito (de uma soluo que est sendo proposta) e, se houver
fatores intervenientes, devem ser mnimos.
Melhor existir apenas uma agncia implementadora que no dependa de outras agncias
para ter sucesso, e se outras agncias estiverem envolvidas, a relao de dependncia
dever ser mnima.
Deve haver completa compreenso e consenso quanto aos objetivos a serem atingidos e
essa condio deve permanecer durante o processo de implementao.
Ao avanar em direo aos objetivos, deve ser possvel especificar em seqncia as
tarefas a serem realizadas pelos participantes individualmente.
Deve haver perfeita comunicao e coordenao entre os atores envolvidos na execuo
da poltica e os atores que exercem posio de comando devem ser capazes de obter
efetiva obedincia dos seus comandados.
Outra forma de execuo trazida pelo modelo de baixo para cima (bottom-up), que ressalta a
necessidade de executar as etapas de formulao e implementao de forma conjunta e que
rene as contribuies de todos os atores envolvidos com a poltica, principalmente seu pblico-
alvo. Esta mudana de orientao resulta da percepo do impacto da dimenso poltica sobre a
execuo das polticas pblicas, principalmente em contextos em que as polticas projetam
conflitos no resolvidos, no possuem plenos recursos para a sua implementao ou envolvem a
criao de novas organizaes. O enfoque bottom-up tem como foco prioritrio s decises
concretas tomadas pelos atores durante a etapa de implementao, no conferindo um papel
preponderante estrutura institucional.
O fato de a execuo das polticas envolver a contnua renovao do compromisso poltico entre
os que buscam colocar a poltica em prtica e aqueles cujos interesses sero afetados pela
mudana provocada pela poltica faz com que elas tenham de ser reformuladas continuamente,
mesmo durante a sua execuo. Esta reformulao pode at levar a situaes em que polticas
abandonem seus objetivos originais e passem a ter objetivos conflitantes com os primeiros ou
situaes em que diferentes polticas passem a ter os mesmos objetivos. No entanto, cabe
salientar que esta contnua reformulao das polticas, alm de ser fundamental para garantir a
manuteno do apoio poltico, tambm viabiliza a abordagem dos problemas pblicos a partir de
diferentes olhares ou frentes, contribuindo para que se efetive intervenes que abordem
mltiplas causas dos problemas pblicos.
2.2 Monitoramento e AvaliaoO monitoramento e a avaliao so atividades que se complementam. Alm de monitorar o dia a
dia da execuo das aes para subsidiar a realizao de correes e assegurar o alcance dos
objetivos previamente estabelecidos, os gestores pblicos necessitam avaliar, em termos de
custos e benefcios, os resultados das aes executadas.
Holanda (2002) sintetizou da seguinte forma o objetivo bsico das avaliaes de polticas
pblicas:
obter informaes teis e crveis sobre o desempenho de polticas pblicas,
identificando problemas e limitaes, potencialidades e alternativas, levantando
prticas mais eficientes e recolhendo lies e subsdios para o processo de
planejamento e formulao de polticas pblicas de modo a aumentar sua
eficincia, eficcia e efetividade.
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Esta definio destaca duas dimenses importantes da etapa de avaliao:
a. a produo de subsdios para os processos de tomada de deciso relativos execuo da
poltica pblica avaliada; e
b. a produo e aperfeioamento de teorias de interveno social visando a aperfeioar a
gesto de polticas pblicas em foco mais amplo.
Resta salientar, no entanto, que a avaliao pode ainda ter como resultado a promoo de um
maior engajamento dos implementadores ao relembrar ou convencer os executores sobre os
objetivos do programa; ao prestar contas do que est sendo gasto; ao dar maior transparncia
ao programa; ao servir de subterfgio ou de desculpa para algo por exemplo, para postergar,
mudar o comando do programa, legitim-lo e dar-lhe publicidade ; ou ao preencher condies
de financiamento de programas internacionais de financiamento (RONCARATTI & FONTENELLE,
2008).
O rumo tomado na execuo das avaliaes pode diferir conforme alguns parmetros
fundamentais. A avaliao pode ocorrer antes ou depois da execuo da poltica, pode ser
executada pela prpria equipe que executa a poltica ou por algum rgo externo e pode ter
como foco o processo de execuo da poltica, o alcance das metas estabelecidas no projeto da
poltica ou os reais impactos alcanados pela poltica sobre o problema pblico abordado.
O uso das estratgias e instrumentos de monitoramento e avaliao de polticas pblicas vem
evoluindo nas ltimas dcadas nos seguintes sentidos:
a. prioridade e legitimidade crescente das avaliaes internas;
b. incorporao de questes ticas na realizao das avaliaes;
c. uso da avaliao como instrumento para fortalecer a participao e dar poder aos
interessados na poltica; e
d. desenvolvimento de avaliaes baseadas em abordagens tericas.
As avaliaes ex-ante, que ocorrem antes da implementao da poltica, envolvem a
realizao de uma projeo sobre quais sero os resultados alcanados pela poltica caso ela
seja efetivamente realizada dentro de uma lgica de custos e benefcios. As avaliaes ex-
post, que ocorrem aps a consolidao ou na fase final da execuo da poltica, envolvem a
realizao de uma avaliao dos resultados e impactos produzidos pela poltica, tambm
obedecendo uma lgica de custos e benefcios. Como no faz parte da cultura do gestor pblico
no Brasil implantar um sistema de monitoramento e controle das polticas ou informar os sistemas
existentes com o devido cuidado necessrio, as avaliaes ex-post terminam sendo bastante
mais caras que as avaliaes ex-ante, pois dependem da realizao do trabalho de coleta de
dados.
As avaliaes internas so realizadas por profissionais da prpria organizao que executa a
poltica, sendo possvel, inclusive, que sejam empreendidas pela prpria equipe que executa a
ao (auto-avaliao), e, de modo geral, possuem custo de execuo inferior s avaliaes
externas, que so realizadas por profissionais de outra organizao, distinta daquela que
executa a poltica.
Na deciso sobre qual ator a ser escolhido para realizar as avaliaes, deve-se levar em conta:
a. as anlises resultantes de avaliaes externas, que tendem a transmitir uma maior
credibilidade, pois so realizadas por uma instituio neutra; e
b. as anlises resultantes de avaliaes internas, que tendem a ter melhor aceitao por
parte dos executores das polticas, sendo mais aproveitadas no aperfeioamento da
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execuo da poltica.
A avaliao de eficincia se atm ao processo e, obedecendo a uma lgica de clculo dos
custos e benefcios, busca identificar os pontos fortes e fracos da contribuio de cada fator de
produo (recursos humanos, fsicos e materiais, processos e produtos), no sentido de alcanar
metas da poltica, tendo como objetivo verificar se alguma mudana ser necessria para
promover o alcance dessas metas.
A avaliao de eficcia se atm aos resultados e busca avaliar se as aes previstas pelo
projeto realmente foram executadas, ou seja, se as metas estabelecidas foram alcanadas em
termos de pblico atendido, equipamentos adquiridos etc.
Por fim, a avaliao de efetividade se atm aos impactos resultantes da poltica e busca
verificar os efeitos do problema social e o cumprimento dos objetivos que orientaram a poltica.
Uma vez que grande parte das polticas pblicas no Brasil no possui objetivos e metas definidas
de forma clara e a caracterizao dos problemas sociais fortemente carregada de aspectos
subjetivos, a validade das interpretaes dos resultados e impactos alcanados pelos processos
de avaliao ganha um vis poltico, em que uma mesma condio pode ser interpretada
diversamente por diferentes avaliadores em funo dos compromissos polticos existentes entre
os atores envolvidos no processo.
Encerraremos esta descrio da etapa de avaliao das polticas pblicas, trazendo seis modelos
de avaliao descritos por Holanda (2003):
Modelo baseado em objetivos Avaliao focada nos objetivos da poltica.
Modelo livre de objetivos Avaliao dos resultados efetivamente alcanados,
independentemente dos objetivos iniciais da poltica.
Modelo transacional Avaliao do processo de execuo da poltica baseada na
observao participante do avaliador.
Modelo de discrepncias Avaliao voltada para a definio de relaes de causa e
efeito relativos aos problemas pblicos a partir da comparao dos resultados obtidos com
as metas estabelecidas inicialmente.
Modelo voltado para a tomada de deciso Avaliao voltada para a construo de
subsdios para a tomada de deciso envolvendo a continuao da execuo da poltica.
Modelo do contraditrio Avaliao baseada no contraste de pontos de vista
divergentes a respeito da execuo da poltica.
2.3 Balano da Interrelao entre as Etapas do CicloApresentamos abaixo uma sntese das etapas do ciclo de execuo das polticas pblicas.
Estruturamos esta sntese a partir do estabelecimento de dois tipos ideais deste ciclo, que so o
modelo tradicional e o modelo da negociao para elaborao de polticas pblicas (GAPI,
2002).
Na etapa de formulao, o modelo incremental caracteriza-se fundamentalmente por
processos decisrios marcados pela negociao e a barganha. A formulao envolve o
estabelecimento de um contnuo ajuste de interesses e, na medida em que no existe um plano
de aes que explicite o acordo alcanado, o critrio para avaliao dos resultados passa a ser
a satisfao dos interesses dos grupos sociais mais poderosos.
O modelo racional, por outro lado, defende que o processo de formulao seja pautado
segundo tcnicas cientficas de planejamento e que o processo de avaliao dos resultados da
poltica privilegie a avaliao do alcance das metas e dos prazos e da obedincia ao
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planejamento de custos financeiros estabelecidos no plano da poltica.
Dando continuidade a este mesmo raciocnio lgico dos tipos ideais de ciclo de polticas pblicas,
verificamos que na execuo tipo top-down a regra os burocratas atuarem obedecendo s
regras estabelecidas formalmente em manuais, subordinados s cadeias de comando, com
atribuies e atividades bem definidas e sem superposies. Ao contrrio, na execuo do tipo
bottom-up, a regra a poltica ser implementada por profissionais, com elevado poder de
deciso e discricionariedade, inseridos em organizaes que operam segundo uma lgica frouxa
de funcionamento, em que se constitui um contnuo processo de formulao-implementao das
polticas pblicas.
Por fim, no momento da avaliao, essas duas orientaes terminam levando constituio de
duas situaes extremas e correspondentes. Como no contexto da negociao, no h uma
preocupao com a efetiva definio de indicadores para a avaliao de resultados; a avaliao
s pode ser realizada por meio de um critrio subjetivo de satisfao dos atores envolvidos.
Nesse sentido, a avaliao ganha um carter ritualista que tem mais como foco a legitimao da
ao executada do que efetivamente avaliar os resultados alcanados. No mbito do modelo
racional ou tradicional, a verificao do alcance das metas, resultados e impactos
efetivamente empreendida de acordo com os indicadores previstos no plano da poltica. A
comparao entre as metas estabelecidas e os resultados alcanados subsidia a construo de
conhecimentos que contribuem para a efetiva induo de mudanas e aperfeioamento da
gesto de polticas pblicas.
A execuo de atividades de monitoramento e a avaliao de resultados ainda so bastante
precrias entre os rgos pblicos no Brasil. Tanto a realizao de atividades de coleta,
processamento e anlise, quanto a divulgao de informaes, so realizadas por poucos rgos
e se estruturam em mbito mais pessoal que institucional. Nesse contexto, cabe ressaltar que
ainda muito raro identificar esforos institucionais centrados na necessidade de estruturar
processos de monitoramento e avaliao em funo dos interesses e demandas da sociedade
civil ou mesmo de grupos sociais especficos.
Buscando reforar o contedo prtico do curso, expomos, a seguir, dois exemplos prticos de
avaliao de eficincia e efetividade. O primeiro exemplo retrata uma situao de avaliao de
eficincia, a relao entre custo e benefcio de oito diferentes estratgias de preveno e
controle da criminalidade adotadas nos Estados do Rio de Janeiro, Minas Gerais e So Paulo.
Tabela 2.1. Comparao das Razes Custo-efetividade de
Aes de Preveno e Controle da Criminalidade (Brasil 2005).
Fonte: ANDRADE & PEIXOTO, 2006.
Programas Reais por crime srio prevenido
APAC R$ 21.109,75
Patrulha de Preveno Ativa R$ 6.916,42
Liberdade Assistida R$ 1.459,94
UER R$ 18.290,73
Paz nas Escolas R$ 1.174,45
Fica Vivo R$ 645,69
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Bolsa Famlia R$ 11.256,15
PROERD R$ 1.682,33
A tabela apresentada acima denota que o custo de preveno de um crime por uma estratgia
tradicional de policiamento, como patrulha de preveno ativa, de R$ 6.916,42 e o custo de
preveno de um crime por meio do Programa Fica Vivo de R$ 645,69.
O segundo exemplo retrata uma perspectiva da efetividade de diferentes estratgias para a
reduo da incidncia de homicdios.
Grfico 2.1. Projeo das Taxas de Homicdios (2004 a 2006).
A parte amarela do grfico so os dados reais da taxa de homicdios por cem mil habitantes entre
1980 a 2003, e a parte relativa a 2004, 2005 e 2006 so projees calculadas em funo da
adoo de algumas possveis estratgias de polticas pblicas.
Analisando o grfico, temos que:
Na estratgia 1 nada foi feito e a taxa de homicdio continuou crescendo.
Na estratgia 2 apenas a desigualdade social foi diminuda e a taxa de homicdio caiu
vertiginosamente.
Na estratgia 3 apenas a renda per capita aumentou e o homicdio continuou crescendo.
Na estratgia 4 apenas o gasto com segurana pblica foi aumentado e a taxa de
homicdio continuou aumentando.
Na estratgia 5 todas as estratgias foram trabalhadas e houve a maior queda na taxa de
homicdios.
Por esse exemplo, verificamos que apenas o investimento nos rgos de segurana pblica no
seria efetivo no sentido de reduzir a incidncia de homicdios, sendo necessrio um investimento
direcionado tambm para o aumento da renda per capita e para a diminuio da desigualdade
social no Brasil.
Para Saber Mais
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Leia o texto Criminalidade: social versus polcia, de Daniel Cerqueira e Waldir Lobo, que trata
do debate acerca das polticas de segurana pblica no Brasil.
Agora que j discutimos o que poltica pblica e abordamos os fatores envolvidos nos
processos de elaborao, execuo e avaliao de resultados das polticas pblicas,
passaremos, na prxima aula, discusso sobre a evoluo da gesto pblica no Brasil nos
ltimos sculos.
Aula 03 - Gesto Pblica no BrasilNesta terceira aula veremos como o modo de fazer gesto pblica conformado a partir de fatos
histricos que impem mudanas no comportamento dos gestores pblicos. Veremos tambm que
a criao da gesto burocrtica teve como principal funo viabilizar a implantao do regime
capitalista.
3.1 Histria da Gesto Pblica no BrasilEm termos mundiais, a gesto pblica, nos ltimos dois sculos, passou por duas grandes
reformas: a reforma do setor pblico ou burocrtica, que ocorreu no Brasil nas primeiras dcadas
do sculo XX, e a reforma gerencial ou da nova gesto pblica, que ocorreu no Brasil na ltima
dcada do sculo XX. A primeira foi resultado da influncia da revoluo capitalista, que, na rea
econmica, envolveu basicamente a Revoluo Industrial e o comeo da apropriao do
excedente econmico pela classe burguesa e teve como principal objetivo promover a separao
dos patrimnios pblico e privado.
Nesse contexto, a institucionalizao do estado liberal e constitucional consubstanciou a
transio da poca das regras arbitrrias, das regras da lei e do autoritarismo para a democracia
liberal. A reforma gerencial pde ser vista como uma conseqncia do amadurecimento da
reforma burocrtica e teve como principal norte a necessidade de tornar a administrao pblica
mais eficaz, efetiva, eficiente, transparente e responsvel em relao efetiva abordagem dos
problemas sociais, contribuindo para a consolidao da democracia.
No contexto especfico da Amrica Latina, a maior parte dos pases ainda no concretizou nem a
reforma do setor pblico e esto longe de empreender a reforma gerencial. Destaca-se, por
exemplo, que apenas Brasil e Chile fazem, atualmente, o uso generalizado de concursos para a
entrada em cargos pblicos. No entanto, cabe salientar que a evoluo da gesto pblica no
precisa necessariamente seguir esta seqncia de reformas. Bresser (2001) destacou, por
exemplo, que a reforma gerencial, ao promover o controle social e poltico do servio pblico,
termina estabelecendo formas mais eficazes de enfrentar o nepotismo e o clientelismo do que a
instituio de regras burocrticas.
3.1.1 Estado Oligrquico e PatrimonialO modelo Patrimonial-Mercantil, que caracterizou a gesto pblica no Brasil desde o Imprio at
a Primeira Repblica, resultou da aliana entre a burguesia mercantil dos senhores de terra e
grandes comerciantes e o estamento patrimonialista juristas que atuavam profissionalmente
como funcionrios pblicos. Grande parte deste estamento reunia membros da elite brasileira,
que dominavam com relativa autonomia o Estado e lidavam com o patrimnio pblico como seu
prprio patrimnio.
Nesse contexto, os princpios de tomada de deciso que orientavam a gesto pblica eram
pessoais, no obedecendo a uma lgica racional-legal, e a principal funo do Estado era
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promover a sobrevivncia dos funcionrios pblicos por meio de prebendas e sinecuras. Resta
destacar que a democracia, neste perodo, era uma grande farsa, pois a desigualdade social e
educacional era enorme e no existia nenhuma preocupao com a eficincia, eficcia e
efetividade da administrao pblica.
3.1.2 Estado Autoritrio e BurocrticoA constituio de 1891, ao promover uma radical descentralizao poltica, levou formao de
um perodo histrico marcado por uma enorme autonomia dos governadores e das oligarquias
locais que marcaram os rumos polticos do pas at 1930. Esta radical descentralizao teve
como consequncia o crescimento da insatisfao dos militares, que ressaltavam a necessidade
da ordem e progresso, e dos liberais, que ressaltavam a necessidade da democracia. Diante
desse contexto, no primeiro governo de Getlio Vargas, surge o Estado burocrtico autoritrio.
No processo de desenvolvimento histrico ocidental, a burocracia assumiu a feio de um sinal
do progresso da racionalizao. Segundo Weber (1982), a dominao pode ser caracterizada
como uma relao de autoridade, em que aquele que manda acredita que tem direito de exercer
o poder e aquele que controlado acredita que sua obrigao obedecer s ordens. Dessa
forma, toda dominao estaria sempre baseada em um conjunto de crenas que legitima o
exerccio do poder para os dois lados da relao.
Sendo assim, a burocracia constituiria o aparato administrativo mais avanado do tipo de
dominao, caracterizado por estar fundamentado na crena, nas regras e na ordem moral, e
superaria os dois padres de dominao que haviam predominado anteriormente, assentados no
carisma de uma pessoa em particular dominao carismtica e nos valores e costumes
sociais tradicionais dominao tradicional. Por fim, vale ressaltar que o carter racional da
dominao legal est diretamente relacionado tica da convico ou do valor absoluto, sendo
uma das bases para a separao da administrao pblica em relao religio e valores morais
e religiosos.
Visando erradicar os princpios que orientavam a gesto pblica patrimonialista, a gesto
burocrtica foi estruturada obedecendo aos seguintes princpios (BRESSER, 2001):
Promoo da separao das esferas pblica e privada, principalmente no tocante ao
patrimnio, por meio de uma mudana cultural.
Criao de rotinas formalizadas para controlar a atuao dos funcionrios pblicos segundo
regras definidas a priori.
Valorizao da impessoalidade e neutralidade do corpo de funcionrios no sentido da
separao entre o ocupante e o cargo, estabelecendo que o burocrata deve reagir no
como pessoa, mas como ocupante do cargo.
Valorizao de critrios meritocrticos para o ingresso e a ascenso profissional no servio
pblico, profissionalizando a gesto pblica e a carreira administrativa.
Institucionalizao do controle legal como principal critrio de avaliao da ao
administrativa e a eficcia como princpio norteador da racionalidade.
Estabelecimento de uma hierarquia funcional vertical no interior dos rgos pblicos,
distanciando a ordem poltica e os burocratas.
O DASP (Departamento Administrativo do Servio Pblico), sob a liderana de Luiz Simes Lopes,
foi o rgo pblico responsvel por iniciar a reforma burocrtica brasileira. Luiz Simes iniciou
este trabalho estabelecendo a necessidade do ingresso no servio pblico por concurso e
critrios uniformes de classificao de cargos, organizando os servios de pessoal e da
administrao oramentria, padronizando as compras do Estado, racionalizando os mtodos e
processos de tomada de deciso e criando rgos reguladores.
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A implementao do formalismo burocrtico terminou levando a uma srie de consequncias que
promoveram a ineficincia da administrao pblica:
O distanciamento entre poltica e administrao abriu espao para a criao de ncleos de
poder no interior das burocracias, ocupados pelos que controlam a aplicao das regras na
execuo das aes.
Os burocratas passaram a conceber obedincia s regras como principal objetivo a ser
seguido, desvalorizando a necessidade de atender s demandas da populao e
fortalecendo o carter inercial da administrao pblica.
Por meio do insulamento burocrtico, o Estado voltou-se para si mesmo, criando uma
situao que trouxe obstculos para o processo de accountability.
A implementao da reforma burocrtica enfrenta at hoje vrios obstculos resultantes da
convivncia com os princpios do patrimonialismo, que continuam presentes por meio do
clientelismo, e da oposio dos grupos sociais comprometidos com o desenvolvimento econmico
e com uma administrao pblica profissional e eficiente.
3.1.3 Reforma DesenvolvimentistaBuscando centralizar o poder poltico no governo federal e facilitar a industrializao, os militares
empreenderam a reforma desenvolvimentista, em 1967, por meio do Decreto Lei 200. O aspecto
mais marcante desta reforma foi a desconcentrao de servios para a administrao indireta.
Outros pontos marcantes desta reforma foram o fortalecimento e a flexibilizao do sistema de
mrito, a desburocratizao do sistema de compras do Estado, a criao de agncias
reguladoras autnomas (Banco Central) e o fortalecimento do Ministrio do Planejamento, que
passou a centralizar o comando dos sistemas de planejamento, contabilidade e auditoria e o
controle das empresas estatais, autarquias e fundaes.
Esta reforma foi empreendida com o objetivo de superar alguns dos problemas trazidos pela
reforma burocrtica. No mbito da administrao indireta autarquias, fundaes de direito
privado, empresas de economia mista e empresas pblicas surgiu, neste perodo, uma
burocracia pblica de alta qualidade, bem preparada, bem paga e profissional. Os funcionrios de
alto escalo dessas burocracias seguiam uma carreira informal e muito flexvel, que nada tinha a
ver com o sistema rgido das carreiras burocrticas. No entanto, a reforma desenvolvimentista
terminou tendo alguns efeitos perversos, pois facilitou a sobrevivncia do patrimonialismo, ao
permitir a contratao de empregados sem concursos pblicos, e promoveu o enfraquecimento
dos setores superiores da administrao direta ao deixar de realizar concursos, de desenvolver
carreiras de altos administradores e ao permitir a contratao dos escales superiores da
administrao direta pelas empresas estatais.
3.1.4 Retrocesso BurocrticoCom o retorno do regime democrtico, aps a falncia do projeto nacional desenvolvimentista
implementado pelos militares, a gesto pblica brasileira entrou em um perodo de retrocesso
burocrtico. Este perodo foi marcado pela inexistncia de um projeto nacional comum para o
pas, pelo ressentimento da administrao direta em relao ao descaso sofrido, pela concepo
de que a desconcentrao e a flexibilizao fossem as causas da crise fiscal do Estado e pela
campanha de desestatizao plena.
Nos dois primeiros anos do regime democrtico, surgiu um ciclo populista que teve seu auge na
execuo do Plano Cruzado, em 1986. A concepo de que por meio do dficit pblico seria
possvel alcanar desenvolvimento e distribuio da renda levou a um processo de
descentralizao no plano poltico-administrativo, que permitiu aos Estados e municpios incorrer
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em crise financeira ao mesmo tempo em que mantinha a Unio responsvel pelas suas dvidas.
Entretanto, por meio da Constituio de 1988, a gesto pblica passou a valorizar os ideais
burocrticos, voltando a ser hierrquica e rgida, a distino entre administrao direta e indireta
praticamente desapareceu e o regime jurdico dos funcionrios passou a ser nico na Unio e em
cada nvel da federao. Vale ressaltar que a Constituio de 1988 trouxe uma grande
contribuio para reduzir o empreguismo e o clientelismo ao estabelecer a exigncia incondicional
de concurso pblico para entrada no servio pblico. Por fim, outros pontos positivos ocorridos
neste perodo foram a criao da ENAP (Escola Nacional de Administrao Pblica) e da carreira
de gestores pblicos.
S depois do episdio da super-inflao, ocorrido em 1990, no fim do governo Sarney, que a
crise fiscal passou a ser vista como um problema pblico. No governo Collor, tiveram incio as
primeiras reformas de ajuste fiscal. No entanto, seguindo a percepo de que a Constituio de
1988 no tinha resolvido uma srie de problemas da administrao pblica e pautado por uma
sensao de desconfiana em relao mquina pblica, o governo Collor promoveu uma grande
desestruturao de diversos setores e polticas pblicas, reduzindo as atividades estatais para
um patamar abaixo do essencial. No perodo Collor, um ponto de destaque positivo foram as
reformas orientadas para o mercado.
O grande avano da gesto pblica nas ultimas dcadas tem envolvido a valorizao da
participao da sociedade civil nas atividades de gesto das polticas pblicas e a necessidade
de orientar a gesto das polticas em funo dos resultados alcanados. Veremos na prxima
aula as propostas de modernizao da gesto pblica.
Aula 04 - Reforma GerencialNesta quarta aula vamos discutir as propostas internacionais de modernizao da gesto pblica
e ressaltar os resultados alcanados por essas estratgias no Brasil. Veremos, de forma sumria,
algumas caractersticas da situao atual da gesto pblica no Brasil e buscaremos compreender
a razo pela qual o ganho de eficincia no gasto de recursos pblicos no foi acompanhado por
um ganho em resultados efetivos para a populao brasileira.
4.1 IntroduoA reforma gerencial resultou da necessidade de reformar a gesto pblica em funo da crise
econmica mundial que iniciou em 1973, com a primeira crise do petrleo. Com o avano desta
crise, os estados passaram a enfrentar crises fiscais, que se agravaram ainda mais quando os
contribuintes passaram a questionar o aumento dos impostos, pois no percebiam nenhuma
melhora na prestao dos servios pblicos. Com muito a fazer e poucos recursos para atender a
todas as demandas, os estados viram-se em uma crise de governabilidade e governana. Por
fim, com o avano da globalizao e o fortalecimento do poder econmico das grandes
multinacionais, o estado perdeu o controle sobre os fluxos financeiros e comerciais e o poder
para ditar polticas macro-econmicas (ABRUCIO, 1997).
Em termos econmicos, o estado keynesiano, caracterizado pela ativa interveno estatal na
economia, procurando garantir o pleno emprego e atuar em setores considerados estratgicos
para o desenvolvimento nacional, entra em crise. Em termos sociais, o estado do Bem Estar
Social, fundamentado no princpio de que todos os cidados, independentemente da renda,
teriam o direito de serem protegidos e ter suas necessidades bsicas supridas por meio do
pagamento de dinheiro ou com servios pblicos a partir da execuo de polticas pblicas
sociais (educao, sade, previdncia social, habitao etc.), entra em crise. Por fim, em termos
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administrativos, o modelo burocrtico, que ressalta a importncia da impessoalidade, da
neutralidade e da racionalidade do aparato governamental, entra em crise.
Foi neste contexto de reduo do papel do estado na economia, da tentativa de reduo dos
gastos pblicos na rea social, do fortalecimento da viso da burocracia como um grupo com
interesses prprios e de valorizao do modelo de gesto privada, que o modelo gerencial foi
implantado no setor pblico (ABRUCIO, 1997). Foram introduzidos padres de gesto assentados
na agilidade e flexibilidade, tanto em sua dinmica interna como em sua capacidade de
adaptao s mudanas externas.
Sumariamente, apresentamos, a seguir, as principais tendncias de modificao do padro
burocrtico weberiano trazidas pela reforma gerencialista (ABRUCIO, 1997):
Introduo de mecanismos de avaliao de resultados pautados por indicadores de
eficincia, eficcia e efetividade.
Descentralizao poltica e promoo das prticas de accountability.
Adoo de parcerias com o setor privado e organizaes no governamentais (ONGs).
Horizontalizao da estrutura hierrquica na gesto pblica e cesso de autonomia s
agncias governamentais.
Mudana da lgica do planejamento para a lgica da estratgia.
Flexibilizao e profissionalizao da administrao de pessoal.
Valorizao das polticas de motivao dos servidores pblicos.
Valorizao das habilidades gerenciais dos funcionrios para atuarem como administradores,
produtores, inovadores e mediadores.
4.2 Gerencialismo Puro (Managerialism)Centralizado na racionalizao oramentria, ou seja, na reduo dos custos e no aumento da
eficincia, o gerencialismo puro, primeiro modelo de reforma gerencial, foi implantado inicialmente
na Gr-Bretanha e nos Estados Unidos (POLLITT, 1990). Este modelo de gesto pblica trazia
consigo um projeto de reforma do Estado, caracterizado pela retrao da mquina
governamental ao menor nmero possvel de atividades. Em contraposio aos princpios da
burocracia tradicional, o gerencialismo puro valorizava a importncia da definio dos objetivos
organizacionais em termos substantivos e no em termos de processo administrativo. Nesse
contexto, o governo ingls adotou dois mecanismos para ressaltar as responsabilidades tanto
das agncias governamentais quanto dos funcionrios pblicos: a administrao por
objetivos, pautada nas avaliaes de resultado baseadas na comparao entre aquilo que foi
proposto no projeto de trabalho e aquilo que foi efetivamente realizado; e a descentralizao,
que atribuiu autonomia para os executores e o poder central passou a se ater apenas ao papel
de avaliar aquilo que foi realizado em funo dos objetivos estabelecidos.
A implantao do gerencialismo puro teve impactos tambm no mbito da cultura gerencial.
Diante da atual realidade do estado contemporneo, pressionado pela globalizao e pelas
mudanas tecnolgicas, com menos poder e recursos, a eficincia adaptativa, a capacidade de
resposta s necessidades da flexibilidade necessria em instituies que passam por contnuos
processos de mudana ganham mais fora e valor do que a eficincia operacional, vinculada ao
incremento da conscincia dos custos e atrelada a uma rgida especificao de objetivos e
controles (METCALFE & RICHARDS, 1989).
O modelo gerencial puro era tido pelos seus implementadores como uma tecnologia neutra
destinada a modificar o funcionamento e a cultura do setor pblico. Assim, propunha-se a
necessidade de impor uma separao entre a poltica e a administrao e estipulava-se que a
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reforma podia ser implementada independentemente do que ocorria no mbito da poltica. No
entanto, a experincia prtica evidenciou que o sucesso das reformas administrativas depende
muito do apoio poltico. Ademais, cabe destacar que os valores de equidade e justia, eternos
pressupostos da gesto pblica, nunca foram abordados pelo modelo do gerencialismo puro. Esta
despolitizao fez com que o modelo chegasse a ser chamado de neotaylorismo, ou seja, a
implantao da gesto privada no setor pblico.
4.3 ConsumerismAinda pautado pela diretriz de reduzir os papeis do estado, o consumerism, segunda verso da
reforma gerencialista, props uma reformulao da gesto pblica no sentido de valorizar a
avaliao e a fiscalizao da qualidade dos servios pblicos pelos seus consumidores. O termo
consumidor, nesse contexto, privilegiou a necessidade de proteo dos direitos individuais,
seguindo a tradio liberal.
Outro sinal do resgate da dimenso poltica na gesto pblica foi a promoo de uma mudana
da lgica do planejamento para a lgica da estratgia. Na primeira, prevalecia o conceito de
plano, que estabelecia, a partir de uma racionalidade tcnica, a melhor ao a ser executada. Na
lgica da estratgia, a gesto passou a levar em conta tambm as reaes de todos os atores
envolvidos na execuo da poltica pblico-alvo, sociedade, funcionrios pblicos etc. frente
ao projeto da poltica e s aes executadas, de modo a montar cenrios para identificar a
flexibilidade necessria para eventuais alteraes nos planejamentos estabelecidos. O
planejamento estratgico busca antecipar o futuro, prevendo tendncias de longo prazo, e, por
esta razo, tem de envolver sempre a sociedade e ser incorporado cultura dos funcionrios
como lgicas de pensamento e de conduta estratgica.
Outro ponto de destaque nas mudanas trazidas pelo consumerism foi a valorizao da
necessidade de manter um clima organizacional nos rgos pblicos que facilitasse a adaptao
do rgo s mudanas no seu ambiente de trabalho. O clima organizacional compreendido
como a maneira, positiva ou negativa, que os servidores percebem e reagem diante de mudanas
no mbito de polticas, procedimentos, usos e costumes presentes no rgo pblico. O
mapeamento do clima organizacional permite identificar os aspectos positivos e negativos que
impactam no comportamento dos funcionrios, criando subsdios para orientar a definio de
planos de ao para aperfeioar a produtividade da organizao diante das mudanas
ambientais. Esta atitude da organizao eleva bastante o ndice de motivao dos funcionrios,
pois dentro desta ao esto intrnsecas as frases "estamos querendo ouvir voc" e "voc e sua
opinio so muito importantes para ns".
A implantao do consumerism, por meio da descentralizao administrativa (desconcentrao),
promoo da competio entre as organizaes do setor pblico e criao do modelo contratual
para os servios pblicos, foi pautada pelos seguintes pressupostos:
Quanto mais prximo do consumidor estiver a execuo do servio pblico, mais fiscalizado
pela populao ele o ser.
A importncia da necessidade de promover situaes em que os consumidores tenham
alternativas de escolha.
Num contexto de falta de recursos, a melhor forma de aumentar a qualidade dos servios
pblicos introduzir relaes de competio e controle.
A forma contratual evita a constituio de situaes de monoplio.
Os consumidores tm maior espao para avaliar a execuo dos servios pblicos em um
marco contratual.
A escassez de recursos pblicos terminou sabotando a implementao da desconcentrao, pois
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gerou um conflito entre as tendncias de aumento da autonomia gerencial das agncias
executoras e de fortalecimento do controle oramentrio na unidade de finanas em nvel
federal. De modo geral, este conflito termina vencido pelo governo federal, que promove a
subordinao do funcionamento deste mecanismo a problemas polticos e econmicos de
curtssimo prazo e no aos princpios da construo de uma nova cultura organizacional e de
novos arranjos institucionais.
O principal problema do modelo consumerism foi negligenciar o fato de que a relao entre o
prestador de servio pblico e o consumidor mais complexa do que a relao entre o vendedor
e o consumidor, pois no depende apenas dos mecanismos de mercado. Assim, cabe ressaltar,
por exemplo, que em certos servios pblicos, cujo carter compulsrio, no existe a
possibilidade de escolha pelo cliente, como os servios hospitalares e policiais (POLLITT, 1990).
Desse modo, o cidado um ator com mais responsabilidades e direitos do que o consumidor. A
cidadania no est relacionada apenas liberdade de escolher servios pblicos, pois supe
tambm uma participao ativa na escolha dos dirigentes, no momento da elaborao das
polticas e na avaliao dos servios pblicos. Por outro lado, o conceito de consumidor no
responde adequadamente questo da equidade, pois aqueles que se organizarem mais podem
se tornar clientes preferenciais, transformando alguns consumidores em mais cidados do que
outros.
No que tange s diferenas entre a gesto pblica e a privada, cabe destacar:
1. A motivao principal dos polticos a reeleio, enquanto os empresrios buscam o lucro.
2. Os recursos do governo provm dos impostos pagos pelos contribuintes e os recursos da
iniciativa privada so originados nas compras efetuadas pelos clientes.
3. As decises governamentais devem ser tomadas democraticamente, enquanto o empresrio
decide sozinho ou no mximo com os acionistas da empresa.
4. O objetivo do governo fazer o bem e o da empresa fazer dinheiro.
Tabela 4.1. Comparao entre o modelo de administrao privada e o modelo de
administrao do setor pblico, segundo a abordagem de gesto pblica PSO.
Fonte: ABRUCIO, 1997.
Modelo Setor Privado Modelo Setor Pblico
Escolha individual no mercado Escolha coletiva na poltica
Demanda e preo Necessidade de recursos pblicos
Carter privado da deciso empresarial Transparncia da ao pblica
Equidade do mercado Equidade dos recursos pblicos
Busca da satisfao do mercado Busca da justia
Soberania do consumidor Cidadania
Competio como instrumento do mercado Ao coletiva como meio poltico
Estmulo: possibilidade do consumidor
escolher
Condio: consumidor pode modificar os
servios pblicos
4.4 Public Service Oriented (PSO)
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A descentralizao foi valorizada, no modelo gerencial puro, por tornar as polticas pblicas mais
eficazes, no consumerism, por aproximar os executores dos servios pblicos de seus
consumidores e, no modelo PSO, pelas suas virtudes polticas. A populao passou, ento, a ser
tratada como consumidora que deseja a melhor qualidade possvel dos servios e como cidad
que quer e tem como dever participar das decises da comunidade e da execuo das polticas
pblicas. Sendo assim, o aperfeioamento da gesto pblica pressupe a institucionalizao de
um processo de accountability para subsidiar continuamente a sociedade e o governo com
informaes a respeito da sua parceria.
A aplicao prtica do modelo de PSO teve como principal instrumento a orientao
administrativa por misses, um conceito mais flexvel do que objetivo. Sendo assim, a avaliao
da eficincia no pode ser dissociada da avaliao da efetividade, pois nada mais simplrio do
que fazer com eficincia algo que no produz nenhum impacto sobre o problema social abordado
pela poltica. Outros instrumentos foram a promoo do ambiente competitivo e a valorizao do
planejamento estratgico.
O modelo PSO resgatou o conceito de participao poltica, onde a esfera pblica passou a ser
vista como um local de aprendizagem social a partir do debate pblico, viabilizando a criao de
um ambiente de cooperao entre as pessoas. A grande limitao deste modelo que ele foi
pensado dentro dos parmetros do poder local, onde os cidados teriam mais oportunidade de
controlar a execuo dos servios pblicos. Por esta razo, o modelo no lida com os parmetros
de coordenao do servio pblico em nvel nacional ou com medidas que devem ser tomadas
para diminuir as diferenas regionais. Por outro lado, segundo Abrucio (1997), o grande mrito do
modelo que ele diz no s como o setor pblico deve ser, mas o que ele deve fazer.
4.5 Reforma Gerencial no Brasil (1995)As principais estratgias para implantao da reforma gerencialista no Brasil foram defender as
carreiras e fortalecer a capacidade gerencial do Estado, tornando os gestores pblicos
autnomos e responsveis (BRESSER, 1996). Aps um amplo debate nacional, no qual foi
construdo um consenso crtico sobre a cultura burocrtica e a necessidade da ao reguladora,
corretora e estimuladora do Estado, foram empreendidas reformas em itens constitucionais e
infra-constitucionais que envolviam as formas de remunerao dos cargos de confiana, as
formas de recrutar, selecionar e remunerar as carreiras de estado e o regime de trabalho dos
servidores pblicos, que deixou de ser nico.
Quadro 4.1. Mudanas institucionais trazidas pela reforma gerencial (1995).
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Esta reforma levou criao de trs instituies: agncias reguladoras, agncias executivas e
organizaes sociais. No campo das atividades exclusivas do estado, as agncias reguladoras
so entidades que se ocupam das empresas que atuam em mercados no competitivos e as
agncias executivas se ocupam da execuo das leis. Neste campo de atividades, a autonomia
das agncias resulta da no possibilidade de regulamentar tudo atravs de leis e decretos. No
campo dos servios sociais e cientficos, das atividades que o estado pode executar, mas no de
forma exclusiva, as fundaes estatais foram transformadas em organizaes sociais com
autorizao para receber dotao oramentria.
O controle do ncleo estratgico sobre a realizao das atividades exclusivas e servios no
exclusivos efetivado por meio dos contratos de gesto, que incluem uma previso dos recursos
de pessoal, materiais e financeiros que sero disponibilizados e definem as metas e respectivos
indicadores de desempenho que sero avaliados pelo ministro. Enquanto nas agncias o ministro
nomeia o diretor executivo, nas organizaes sociais, o diretor executivo escolhido pelo
conselho da administrao.
O grande sucesso dessa reforma foi difundir a necessidade da substituio da gesto burocrtica
pela gerencial. A implantao do Plano Pluri Anual (PPA) um dos impactos desta mudana. No
entanto, cabe salientar que a implementao do PPA terminou avanando mais no mbito
oramentrio do que no mbito da programao das polticas pblicas. A reforma gerencialista
trouxe ainda como resultados a melhora da qualidade das informaes na administrao pblica,
o fortalecimento das carreiras de estado, a criao de tetos para o gasto com funcionalismo
pblico, a flexibilizao do regime jurdico de contratao dos funcionrios, a introduo da
eficincia como um dos pilares do direito administrativo e a criao do espao pblico no
estatal no mbito da gesto pblica, que levou criao de mais de 70 organizaes sociais no
mbito dos governos estaduais e ao fortalecimento das parcerias pblico-privado.
4.6 Balano da Evoluo da Gesto Pblica no BrasilAs atuais transformaes da gesto pblica apontam para uma pluralidade de concepes,
indicando que no existe um paradigma capaz de responder a todos os problemas e que
necessrio adaptar o modelo de gesto realidade de cada ambiente de gesto pblica. As
organizaes estruturam-se e organizam-se conforme suas necessidades, no havendo uma
melhor forma de estruturar-se (HOOD, 1996). Um balano sobre os resultados alcanados pela
reforma gerencialista no Brasil nos revela, por um lado, avanos e inovaes e, por outro,
resultados desiguais e fragmentados.
Entre os avanos e inovaes empreendidas nas ltimas duas dcadas, destacamos a
redemocratizao do pas, que levou ao fortalecimento dos princpios da legalidade e publicidade
e da promoo do controle externo da administrao pblica (Ministrio Pblico e Polcia
Federal); a promoo da descentralizao, que levou ao fortalecimento da participao cidad e
ao aparecimento de inovaes no mbito da gesto pblica em mbito local; e
profissionalizao da gesto pblica, por meio da adoo da seleo meritocrtica como princpio
universal de acesso aos cargos, criao da Escola Nacional de Administrao Pblica e a criao
do cargo de gestor pblico.
No entanto, cada uma dessas mudanas no se concretizou plenamente (ABRUCIO, 2007). Os
tribunais de conta, especialmente os sub-nacionais, ainda possuem pouca autonomia, pois o
executivo tem enorme poder no processo de escolha dos conselheiros. A institucionalizao de
um federalismo compartimentalizado, resultante da multiplicao exagerada de municpios e da
negligncia da constituio quanto aos aspectos metropolitanos, criou uma situao em que
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mais forte a atuao desarticulada entre os nveis de governo do que o estabelecimento de
laos sistmicos entre eles, implicando em srias dificuldades para a promoo efetiva da
descentralizao.
As polticas de promoo da profissionalizao do servio pblico terminaram abrindo espao para
um corporativismo estatal, que levou ao estabelecimento:
do direito irrestrito de greve;
de um modelo invivel de previdncia pblica;
da estabilidade adquirida quase que automaticamente a partir do concurso pblico; e
de um sistema de gratificaes por rendimento, que dependia mais da fora poltica de
cada setor administrativo do que da avaliao do mrito dos funcionrios em sua atividade
profissional.
No perodo FHC foi promovida uma grande reorganizao administrativa do governo federal. A
principal diretriz dessa reforma, a estruturao de uma administrao pblica voltada para
resultados efetivos, encontra-se atualmente difundida por todo o pas, influenciando a atuao
dos gestores pblicos em todos os nveis administrativos. Outro ponto de destaque da reforma
gerencial empreendida no governo FHC foi o fato dela ter sido executada conforme estabelecido
por um plano diretor. Assim, as aes passaram a ser vistas como etapas de uma agenda e
deixaram de ser vistas apenas como boas iniciativas. Apesar de ter abandonado a execuo
desta agenda de reformas, o governo Lula deu continuidade a algumas aes isoladas: o reforo
de algumas carreiras, o avano do governo eletrnico, o fortalecimento da Controladoria Geral da
Unio e da Polcia Federal e o aperfeioamento dos aspectos participativos da sociedade no
processo de elaborao do PPA.
A implementao da reforma gerencial enfrenta atualmente resistncias provenientes do
corporativismo estatal, dos economistas do governo, dos interesses eleitorais dos polticos e do
interesse dos capitalistas de obter benefcios particulares do Estado. Nesse contexto,
destacamos que, por um lado, os economistas do governo temem ceder autonomia s agencias e
perder o controle sobre as despesas do governo, e, por outro lado, os congressistas temem a
implementao de um modelo de gesto transparente, pautado na avaliao de desempenho,
pois isto restringe a capacidade de influncia na gesto das polticas pblicas. No entanto,
algumas barreiras resultam de problemas existentes no prprio modelo e na estratgia que foi
utilizada para a sua implementao. Entre essas barreiras, destacamos:
O campo de funes governamentais delimitadas pelo ncleo estratgico do governo deixou
de incorporar setores essenciais para que a Unio atuasse como reguladora, avaliadora e
indutora no plano das relaes intergovernamentais.
A relao entre a lgica fiscal e a lgica gerencial pode ser conflitante, visto que existe
uma incompatibilidade entre a autonomia gerencial, exercida por mecanismos contratuais, e
o controle fiscal rgido que inibe a administrao por objetivos.
A descentralizao, apesar de promover o aumento da eficincia do sistema e o
aperfeioamento da democracia, pode agravar as diferenas regionais e prejudicar a
equidade dos servios pblicos.
A separao entre a formulao das polticas pblicas e sua implementao dificulta a
prtica do accountability, pois fica mais difcil identificar o responsvel pela prestao
global dos servios pblicos.
O fato de a estratgia de implementao estabelecer uma oposio entre a administrao
burocrtica e as novas formas de gesto, negligenciando a complementaridade existente
entre esses dois modelos, levou criao de um conflito desnecessrio com os setores da
burocracia pblica.
Encerramos o balano da evoluo da gesto pblica no Brasil nas duas ltimas dcadas,
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ressaltando a existncia de pelo menos cinco movimentos principais que conformam a gesto
pblica atualmente:
1. O movimento centrado na questo fiscal, que teve seu pice na aprovao da Lei de
Responsabilidade Fiscal e que trouxe enormes ganhos de economia ao Estado, mas no
aperfeioou sua eficincia.
2. Os governos estaduais e municipais introduziram novidades no mbito da gesto pblica,
envolvendo a maior participao social, aes mais geis e a expanso dos centros de
atendimento integrado.
3. Inovaes foram introduzidas na gesto de polticas pblicas na rea social (sade,
educao etc.) envolvendo mecanismos de avaliao, coordenao administrativa e
financeira e controle social, programas voltados realidade local e a aes intersetoriais.
4. Fortalecimento da idia de planejamento e integrao de reas pblicas a partir de
programas e projetos. Alguns estados trouxeram inovaes importantes, como a
regionalizao e a utilizao de indicadores para nortear o PPA.
5. Por fim, cabe ressaltar o papel ocupado pelo governo eletrnico no mbito da reforma
gerencial, promovendo uma organizao da informao, reduo de custos, aumento da
transparncia nas compras governamentais e reduo do potencial de corrupo. Entre as
dimenses deste projeto, a que teve menos avanos at ento foi a que lida com a
interatividade com os cidados, em prol da maior accountability.
Para Saber MaisLeia o texto Administrao pblica comparada: uma avaliao das reformas administrativas do
Brasil, EUA e Unio Europia, de Jos Matias-Pereira, sobre a evoluo e os problemas recentes
na gesto da administrao pblica no Brasil, EUA e Unio Europia.
Agora que j estudamos as etapas de formulao e execuo da gesto pblica, vamos, na
prxima aula, comear uma nova abordagem, relacionada questo do oramento.
Aula 05 - Sistema de Planejamento e OramentoVamos abordar agora a questo do oramento da forma mais leve possvel no centrada em
nmeros e leis, mas sim na sua contribuio efetiva para a execuo de polticas pblicas.
5.1 OramentoO modelo gerencialista, ao enfatizar a necessidade de aumentar a participao direta da
sociedade na execuo das polticas pblicas e aumentar a eficincia, eficcia e efetividade das
aes executadas, valoriza as funes de planejamento e controle governamental. O
planejamento passa a ter de expressar de forma objetiva e transparente sua organizao, suas
prioridades e a contabilidade dos custos, evidenciando que o foco principal do planejamento
atender s necessidades da sociedade.
Nesse sentido, os processos de consulta junto sociedade ganham especial ateno, inclusive
para a sua participao nos processos de tomada de deciso. O controle, por outro lado, passa
a ter de incorporar efetivamente a avaliao da eficcia, eficincia e efetividade, ultrapassando
a viso tradicional de avaliar apenas a legalidade da ao.
5.1.1 Oramento TradicionalO tipo de oramento utilizado no Brasil at 1964 era o chamado oramento tradicional ou
clssico. Ele constitua-se de uma simples previso anual de despesas cobertas com uma
previso das receitas necessrias, classificadas segundo o objeto do gasto e distribudas pelos
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diversos rgos. O maior problema deste tipo de oramento era que a sua preocupao voltava-
se apenas para a necessidade de dotar um rgo com as dotaes suficientes para o pagamento
de pessoal e compra do material de consumo permanente e para o exerccio financeiro, sem
maiores preocupaes com os objetivos a serem alcanados a partir dos recursos repassados.
De modo geral, a dotao oramentria de cada rgo era determinada pelo que o rgo havia
gasto no exerccio anterior e no pelo o que ele pretendia realizar, ressaltando uma tendncia de
inrcia no processo oramentrio.
Um passo seguinte na evoluo do sistema oramentrio foi a criao do oramento
desempenho, por meio do qual passou-se a controlar o que o governo faz e no o quanto ele
gasta. No entanto, embora j atento aos objetivos, faltava ao oramento uma caracterstica
essencial para se tornar um oramento programa: a vinculao ao sistema de planejamento.
5.1.2 Oramento ProgramaA adoo do oramento programa na esfera federal foi efetivada em 1964, a partir da Lei 4.320.
Desde ento, o sistema oramentrio passou a ser um instrumento de viabilizao das aes do
governo, segundo as diretrizes estabelecidas pelo sistema de planejamento. A institucionalizao
do oramento programa estruturando o Sistema Oramentrio Brasileiro foi pautada pela
necessidade de fazer do oramento um instrumento de programao que viabilizasse a contnua
avaliao das aes do governo e, quando possvel ou necessrio, o redirecionamento de
despesas para reas prioritrias e a conteno de despesas sem prejuzos das aes em
execuo.
O oramento programa trouxe os seguintes pontos positivos:
Maior preciso na elaborao dos oramentos e na oportunidade de incrementar a
eficincia das aes.
Melhor determinao das responsabilidades e controle da execuo do programa,
facilitando a identificao de duplicao de funes.
Maior compreenso do oramento por parte do executivo, do legislativo e do pblico.
Apresentao dos objetivos e recursos da instituio e interrelacionamento entre os custos
e os programas. (RIBEIRO, 2003).
Quadro 5.1. Oramento Tradicional x Oramento Programa.
Fonte: RIBEIRO, 2003.
Oramento Tradicional Oramento Programa
O processo oramentrio dissociado dos
processos de planejamento e
programao.
O oramento o elo de ligao entre o
planejamento e as funes executivas do
governo.
A alocao de recursos visa aquisio
de meios.
A alocao de recursos visa a atingir objetivos e
metas.
As decises oramentrias so baseadas
nas necessidades das unidades de
governo.
As decises oramentrias so tomadas com
base em avaliaes e anlises tcnicas das
alternativas de aes.
Na elaborao do oramento so
consideradas as necessidades financeiras
das unidades do governo.
Na elaborao do oramento so considerados
todos os custos dos programas, inclusive os que
extrapolam o exerccio.
A estrutura do oramento d nfase aos A estrutura do oramento est voltada para os
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aspectos contbeis da gesto. aspectos administrativos e de planejamento.
Principais critrios classificatrios: unidade
administrativa e elemento (pessoal,
material etc.).
Principais critrios classificatrios: funcional e
programtico.
Inexistem sistemas de acompanhamento e
medio de trabalho, assim como dos
resultados.
Utilizao sistemtica de indicadores e padres
de medio do trabalho e dos resultados.
O controle visa a avaliar a honestidade
dos agentes e a legalidade dos atos.
O controle visa a avaliar a eficincia, a eficcia e
a efetividade das aes governamentais.
Cabe salientar que a integrao da execuo oramentria com a execuo poltica tem como
efeito secundrio um fortalecimento da confiana e credibilidade entre os nveis da
administrao, pois a execuo da poltica pblica passa a ser orientada por cronogramas com
etapas claramente especificadas, produtos definidos, participao organizada e responsvel dos
agentes pblicos envolvidos e circulao de informaes padronizadas.
No contexto do Sistema Oramentrio Brasileiro, cabe, por fim, relatar a distino existente
entre a execuo oramentria, que constitui a utilizao dos crditos consignados no
Oramento ou Lei Oramentria Anual (LOA), e a execuo financeira, que constitui a utilizao
de recursos financeiros para realizar as atividades atribudas s unidades oramentrias. As duas
ocorrem concomitantemente, pois so atreladas uma a outra. Lembrando que:
CRDITO (lado oramentrio) a dotao ou autorizao de gasto ou sua
descentralizao.
RECURSO (lado financeiro) o dinheiro ou saldo de disponibilidade bancria.
5.2 Sistema Planejamento e Oramento: PPA, LDO e LOAO Sistema Oramentrio Brasileiro composto atualmente por trs peas: Plano Plurianual (PPA),
Lei de Diretrizes Oramentrias (LDO) e Lei Oramentria Anual (LOA) que se articulam tendo
em vista os aspectos fsicos e financeiros da execuo da poltica pblica.
5.2.1 Plano PlurianualO PPA estabelece a cada quatro anos o planejamento do programa a ser executado, definindo os
objetivos, as metas e os investimentos necessrios. Sua elaborao resulta da orientao
estratgica do governo, contextualizada pela situao econmico-social vigente. A partir das
diretrizes desta orientao, que estabelecem os problemas a serem enfrentados, so criados
macro-objetivos que pautam as solues para os problemas. Cada programa, envolvendo suas
metas, prioridades e resultados, pode destinar-se tanto ao enfrentamento de um problema
quanto ao aproveitamento de uma oportunidade. Fora este perodo inicial de elaborao, existem
trs etapas de reviso anual, decorrentes dos resultados apontados pelas avaliaes dos
resultados alcanados.
Figura 5.1. Ciclo de Gesto do Plano Plurianual.
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A elaborao do Plano Plurianual envolve a definio dos seguintes elementos de gesto
necessrios para a execuo da poltica pblica:
1. rgo Responsvel rgo responsvel pelo gerenciamento do programa.
2. Unidade Responsvel Unidade responsvel pelo desenvolvimento do programa.
3. Denominao Propsitos do programa.
4. Problema Problema ou oportunidade que o programa busca enfrentar.
5. Objetivo do Programa Aes oramentrias e no oramentrias que se deseja alcanar.
6. Pblico-Alvo Segmentos da sociedade a qual o programa se destina.
7. Justificativa Diagnstico e causas do problema, consequncias da no implementao do
programa, condicionantes favorveis e desfavorveis.
8. Desafio Associado Desafio da orientao estratgica que o programa enfrenta.
9. Tipo do Programa:
a. Finalsticos produz bens ou servios que so ofertados diretamente sociedade.
b. Servio ao estado produz bens ou servios que so ofertados diretamente ao estado.
c. Gesto de Polticas Pblicas destinado ao planejamento e formulao de polticas e
coordenao, avaliao e controle de programas (cada rgo possui um programa
deste).
d. Apoio Administrativo: gesto de despesas de natureza tipicamente administrativa que
no so passveis de serem apropriadas.
10. Horizonte Temporal:
a. Contnua durao do programa condiz com a durao do mandato.
b. Temporrio sero informados o ms e ano de incio e trmino.
11. Estratgia de Implementao Descrio da forma de execuo (direta ou
descentralizada), dos critrios para elegibilidade do acesso aos bens e servios ofertados,
da contribuio de cada um dos atores envolvidos e dos mecanismos de monitoramento da
execuo.
12. Valor anual Recursos financeiros necessrios para execuo, subdividido anualmente.
13. Indicador de Desempenho Definio da tcnica para operacionalizao da observao e
avaliao da ao executada.
5.2.2 Lei de Diretrizes Oramentrias (LDO)A LDO dimensiona anualmente os programas inscritos no PPA, definindo metas fsicas e
financeiras e estabelecendo as orientaes para a elaborao do oramento. Visando a garantir
maior transparncia gesto do oramento e das aes do governo, a LDO atribui espao para o
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legislativo atuar politicamente na definio do PPA, inserindo as demandas e as necessidades
trazidas pela sociedade.
Alm das metas fsicas e financeiras, a LDO rene uma exposio das alteraes na legislao
tributria; da poltica de aplicao das agncias financeiras oficiais de fomento; da poltica
monetria e de investimento; das metas fiscais (metas de receitas e despesas para os prximos
dois anos, resultado fiscal do ano anterior, avaliao do cumprimento de metas do ano anterior,
demonstrativo de metas anuais dos quatro anos anteriores, evoluo do patrimnio lquido dos
trs anos anteriores); da estimativa e compensao da renncia de receita; da margem de
expanso das despesas de carter continuado; e dos riscos fiscais (sumrio de ameaas s
previses fiscais, assim como as possveis respostas para as ameaas).
5.2.3 Lei Oramentria Anual (LOA)A LOA prov os recursos necessrios para cada ao constante na LDO e autoriza o poder
executivo e judicirio a realizarem suas aes, considerando trs sub-oramentos: Oramento
Fiscal, Oramento de Seguridade Social e Oramento de Investimentos das Empresas Estatais.
A elaborao da LOA tem de obedecer aos princpios bsicos da elaborao de um oramento:
Unidade cada esfera da administrao deve possuir apenas um oramento.
Universalidade o oramento deve conter todas as receitas e despesas.
Anualidade o oramento deve ser elaborado e autorizado para ser executado anualmente.
No vinculao dos impostos impostos no podem ser vinculados a despesas
especficas).
Exclusividade LOA no pode conter matria estranha ao oramento.
Especificao identificao de cada despesa e r