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UNIVERSIDADE VALE DO ACARAÚ - UVA UNIVERSIDADE ABERTA VIDA - UNAVIDA CURSO: PEDAGOGIA PROFESSOR: TIBÉRIO MENDONÇA DISCIPLINA: FUNDAMENTOS HISTÓRICOS, FILOSÓFICOS DA EDUCAÇÃO INTRODUÇÃO AOS FUNDAMENTOS HISTÓRICOS E FILOSÓFICOS DA EDUCAÇÃO

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UNIVERSIDADE VALE DO ACARAÚ - UVA

UNIVERSIDADE ABERTA VIDA - UNAVIDA

CURSO: PEDAGOGIA

PROFESSOR: TIBÉRIO MENDONÇA

DISCIPLINA:

FUNDAMENTOS HISTÓRICOS, FILOSÓFICOS DA EDUCAÇÃO

INTRODUÇÃO AOS FUNDAMENTOS HISTÓRICOS E FILOSÓFICOS

DA EDUCAÇÃO

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Universidade Estadual Vale do Acaraú – UVA – Disciplina: Fundamentos Históricos, Filosóficos da Educação – Professor: Tibério

INTRODUÇÃO AOS FUNDAMENTOS HISTÓRICOS E FILOSÓFICOS DA EDUCAÇÃO

Os fundamentos históricos e filosóficos da educação podem nos oferecer a compreensão do fenômeno educacional na sociedade moderna capitalista, mas precisamente a escola como espaço formal. No entanto, isso não significa que a educação esteja restrita ao espaço escolar tradicional. Do contrário, este fenômeno se manifesta em quase todos os ambientes sociais existentes, desde a família até as instituições. Mas, como professores e futuros professores, é importante compreender o papel que o mesmo tem na sociedade moderna capitalista.

Na sociedade moderna capitalista, a educação tornou-se ferramenta de apropriação da realidade, dando à escola o caráter oficial e moldador do ideal humano estabelecido pela ordem social, econômica e política do sistema. Entretanto, as ideias pedagógicas que permeiam este processo partem de como os seres humanos pensam sobre si e sobre tudo, teorizando a sua própria existência.

Espera-se que a partir dessas bases teóricas, algumas reflexões importantes sejam compreendidas, como:

Entender que a educação não é neutra, ao contrário, possui uma intencionalidade;

Identificar que existem diferentes conceitos de educação;

Compreender que a educação não é uma prerrogativa apenas da escola, que ela

ocorre em diferentes espaços sociais.

A Filosofia

Em nossa vida cotidiana, afirmamos, negamos, desejamos, aceitamos ou recusamos coisas, pessoas, situações. Fazemos perguntas como “que horas são?”, ou “que dia é hoje?”. Dizemos frases como “ele está sonhando”, ou “ela ficou maluca”. Fazemos afirmações como “onde há fumaça, há fogo”, ou “não saia na chuva para não se resfriar”. Avaliamos coisas e pessoas, dizendo, por exemplo, “esta casa é mais bonita do que a outra” e “Maria está mais jovem do que Glorinha”.

Numa disputa, quando os ânimos estão exaltados, um dos contendores pode gritar ao outro: “Mentiroso! Eu estava lá e não foi isso o que aconteceu”, e alguém, querendo acalmar a briga, pode dizer: “Vamos ser objetivos, cada um diga o que viu e vamos nos entender”.

Também é comum ouvirmos os pais e amigos dizerem que somos muito subjetivos quando o assunto é o namorado ou a namorada. Frequentemente, quando aprovamos uma pessoa, o que ela diz, como ela age, dizemos que essa pessoa “é legal”.

Vejamos um pouco mais de perto o que dizemos em nosso cotidiano. Quando pergunto “que horas são?” ou “que dia é hoje”, minha expectativa é a de que alguém,

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tendo um relógio ou um calendário, me dê a resposta exata. Em que acredito quando faço a pergunta e aceito a resposta? Acredito que o tempo existe, que ele passa, que pode ser medido em horas e dias, que o que já passou é diferente de agora e o que virá também há de ser diferente deste momento, que o passado pode ser lembrado ou esquecido, e o futuro, desejado ou temido. Assim, uma simples pergunta contém, silenciosamente, várias crenças não questionadas por nós.

Quando digo “ele está sonhando”, referindo-me a alguém que diz ou pensa alguma coisa que julgo impossível ou improvável, tenho igualmente muitas crenças silenciosas: acredito que sonhar é diferente de estar acordado, que, no sonho, o impossível e o improvável se apresentam como possível e provável, e também que o sonho se relaciona com o irreal, enquanto a vigília se relaciona com o que existe realmente.

Acredito, portanto, que a realidade existe fora de mim, posso percebê-la e conhecê-la tal como é, sei diferenciar realidade de ilusão.

A frase “ela ficou maluca” contém essas mesmas crenças e mais uma: a de que sabemos diferenciar razão de loucura e maluca é a pessoa que inventa uma realidade existente só para ela. Assim, ao acreditar que sei distinguir razão de loucura, acredito também que a razão se refere a uma realidade que é a mesma para todos, ainda que não gostemos das mesmas coisas.

Quando alguém diz “onde há fumaça, há fogo” ou “não saia na chuva para não se resfriar”, afirma silenciosamente muitas crenças: acredita que existem relações de causa e efeito entre as coisas, que onde houver uma coisa certamente houve uma causa para ela, ou que essa coisa é causa de alguma outra (o fogo causa a fumaça como efeito, a chuva causa o resfriado como efeito). Acreditamos, assim, que a realidade é feita de causalidades, que as coisas, os fatos, as situações se encadeiam em relações causais que podemos conhecer e, até mesmo, controlar para o uso de nossa vida.

Quando avaliamos que uma casa é mais bonita do que a outra, ou que Maria está mais jovem do que Glorinha, acreditamos que as coisas, as pessoas, as situações, os fatos podem ser comparados e avaliados, julgados pela qualidade (bonito, feio, bom, ruim) ou pela quantidade (mais, menos, maior, menor). Julgamos, assim, que a qualidade e a quantidade existem, que podemos conhecê-las e usá-las em nossa vida.

Se, por exemplo, dissermos que “o Sol é maior do que o vemos”, também estamos acreditando que nossa percepção alcança as coisas de modos diferentes, ora tais como são em si mesmas, ora tais como nos aparecem, dependendo da distância, de nossas condições de visibilidade ou da localização e do movimento dos objetos. Acreditamos, portanto, que o espaço existe, possui qualidades (perto, longe, alto, baixo) e quantidades, podendo ser medido (comprimento, largura, altura). No exemplo do Sol, também se nota que acreditamos que nossa visão pode ver as coisas diferentemente do que elas são, mas nem por isso diremos que estamos sonhando ou que ficamos malucos.

Na briga, quando alguém chama o outro de mentiroso porque não estaria dizendo os fatos exatamente como aconteceram, está presente a nossa crença de que há diferença entre verdade e mentira. A primeira diz as coisas tais como são, enquanto a segunda faz exatamente o contrário, distorcendo a realidade.

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No entanto, consideramos a mentira diferente do sonho, da loucura e do erro porque o sonhador, o louco e o que erra se iludem involuntariamente, enquanto o mentiroso decide voluntariamente deformar a realidade e os fatos.

Com isso, acreditamos que o erro e a mentira são falsidades, mas diferentes porque somente na mentira há a decisão de falsear.

Ao diferenciarmos erro de mentira, considerando o primeiro uma ilusão ou um engano involuntários e a segunda uma decisão voluntária, manifestamos silenciosamente a crença de que somos seres dotados de vontade e que dela depende dizer a verdade ou a mentira.

Ao mesmo tempo, porém, nem sempre avaliamos a mentira como alguma coisa ruim: não gostamos tanto de ler romances, ver novelas, assistir a filmes? E não são mentira? É que também acreditamos que quando alguém nos avisa que está mentindo, a mentira é aceitável, não seria uma mentira “no duro”, “pra valer”.

Quando distinguimos entre verdade e mentira e distinguimos mentiras inaceitáveis de mentiras aceitáveis, não estamos apenas nos referindo ao conhecimento ou desconhecimento da realidade, mas também ao caráter da pessoa, à sua moral. Acreditamos, portanto, que as pessoas, porque possuem vontade, podem ser morais ou imorais, pois cremos a vontade é livre para o bem ou para o mal.

Na briga, quando uma terceira pessoa pede às outras duas para que sejam “objetivas” ou quando falamos dos namorados como sendo “muito subjetivos”, também estamos cheios de crenças silenciosas.

Acreditamos que quando alguém quer defender muito intensamente um ponto de vista, uma preferência, uma opinião, até brigando por isso, ou quando sente um grande afeto por outra pessoa, esse alguém “perde” a objetividade, ficando “muito subjetivo”.

Com isso, acreditamos que a objetividade é uma atitude imparcial que alcança as coisas tais como são verdadeiramente, enquanto a subjetividade é uma atitude parcial, pessoal, ditada por sentimentos variados (amor, ódio, medo, desejo). Assim, não só acreditamos que a objetividade e a subjetividade existem, como ainda acreditamos que são diferentes e que a primeira não deforma a realidade, enquanto a segunda, voluntária ou involuntariamente, a deforma.

Ao dizermos que alguém “é legal” porque tem os mesmos gostos, as mesmas ideias, respeita ou despreza as mesmas coisas que nós e tem atitudes, hábitos e costumes muito parecidos com os nossos, estamos, silenciosamente, acreditando que a vida com as outras pessoas – família, amigos, escola, trabalho, sociedade, política – nos faz semelhantes ou diferentes em decorrência de normas e valores morais, políticos, religiosos e artísticos, regras de conduta, finalidades de vida.

Achando óbvio que todos os seres humanos seguem regras e normas de conduta, possuem valores morais, religiosos, políticos, artísticos, vivem na companhia de seus semelhantes e procuram distanciar-se dos diferentes dos quais discordam e com os quais entram em conflito, acreditamos que somos seres sociais, morais e racionais, pois regras, normas, valores, finalidades só podem ser estabelecidos por seres conscientes e dotados de raciocínio.

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Como se pode notar, nossa vida cotidiana é toda feita de crenças silenciosas, da aceitação tácita de evidências que nunca questionamos porque nos parecem naturais, óbvias. Cremos no espaço, no tempo, na realidade, na qualidade, na quantidade, na verdade, na diferença entre realidade e sonho ou loucura, entre verdade e mentira; cremos também na objetividade e na diferença entre ela e a subjetividade, na existência da vontade, da liberdade, do bem e do mal, da moral, da sociedade.

É natural do homem questionar tudo e todos. Alguns chegam mesmo a serem chatos de tanto que questionam as coisas. A reflexão, porém, sempre esteve presente na trajetória humana. Até o final do século VIII a.C., a mitologia era a principal explicação para a realidade existente sobre a terra. A partir do momento em que o homem começou a meditar sobre o funcionamento do universo, da vida e a buscar explicações racionais para o mundo, damos os primeiros passos para o surgimento da filosofia.

Quando se fala de grandes pensadores, sejam eles antigos ou não, normalmente refere-se a eles como filósofos. Apesar do uso frequente do termo, muitas pessoas sequer sabem o que é a filosofia.

A Filosofia, como conhecemos, teve origem na Grécia Antiga como resultado de uma intensa mudança de pensamento. Desde o seu surgimento, em Mileto no século VI a.C., e do aparecimento da palavra “filosofia”, que são atribuídos a Pitágoras, muitos filósofos tentaram responder à pergunta sobre o que é a Filosofia. Além desse trabalho de investigação constante acerca da natureza da Filosofia, há também uma diversidade de temas e de preocupações que os filósofos tentam responder.

Mesmo que a Grécia não fosse uma unidade em termos de território e de pensamento, há algumas condições que propiciaram que fosse ali o surgimento da filosofia: a poesia, a religião e a política.

Um longo processo, determinado por esses fatores, promoveu uma mudança na mentalidade grega. A religião grega, tanto a pública, como aquela referida como “a religião dos mistérios”, era não dogmática e permitia que os filósofos expressassem suas ideias. A poesia, buscava uma causa nos acontecimentos narrados e isso denota uma preocupação em compreender a realidade. A política, que se desenhava a partir daquilo que viria a se chamar democracia, dependia do discurso e da explicação racional das ideias. O comércio, que se desenvolvia, permitiu tanto o contato com outras formas de pensamento, como também propiciou a invenção do alfabeto, da escrita alfabética e do calendário, de forma que começou a moldar na mentalidade do homem uma maior capacidade de abstração.

A partir do final do século VII a.C., os homens e as mulheres não se satisfaziam mais com uma explicação mítica da realidade. O processo de transformação e de criação envolvido no desenvolvimento de técnicas levou ao questionamento a respeito do universo, se ele também não respondia a um processo semelhante. Por isso, alguns historiadores da Filosofia, como Marilena Chauí e Maria Lúcia Aranha, concordam que é entre o final do século VII a.C. e o século VI a.C. que surge a Filosofia.

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Os historiadores da Filosofia dizem que ela possui data e local de nascimento: final do século VII a.C., nas colônias gregas da Ásia menor (Jônia), na cidade de Mileto. O primeiro filósofo foi Tales de Mileto.

Além de possuir data e local de nascimento e de possuir o seu primeiro autor, a filosofia também possui um conteúdo preciso ao nascer: é uma COSMOLOGIA- nasce como um conhecimento racional da ordem do mundo.

Os pré-socráticos buscavam, além de falar sobre a origem das coisas, mostrar que a physis (natureza) passava por constantes mudanças e que essas eram provocadas por alguma coisa que tentavam conhecer. Por causa das viagens marítimas, da invenção do calendário, da invenção da moeda, do surgimento das polis, da invenção da escrita e da política, os gregos passaram a perceber que nada ocorria por acaso e que não existia a interferência de deuses relatados no período mitológico.

A cosmologia surgiu como a parte da filosofia que estuda a estrutura, a evolução e composição do universo, sendo a primeira expressão filosófica apresentada no Período pré-socrático ou cosmológico. Suas principais características são: a substituição da explicação da origem e transformação da natureza através de mitos e divindades por explicações racionais que identificam as causas de tais alterações, defende a criação do mundo a partir de um princípio natural e que a natureza cria seres mortais a partir de sua imortalidade.

No período em que a cosmologia prevaleceu, as pessoas acreditavam que a natureza somente poderia ser conhecida através do pensamento, ou seja, existia a necessidade de pensar para se chegar ao princípio de todas as coisas que forma, a partir de sua imutabilidade, seres sensíveis a transformações, regenerações, mutações capazes de realizar modificações quanto à qualidade e quantidade.

A filosofia se constituiu quando alguns gregos, insatisfeitos com as explicações sobre a realidade dadas pela tradição por meio dos mitos começaram a fazer perguntas e buscar respostas para elas, demonstrando que o mundo e os seres humanos, os acontecimentos naturais e as coisas da natureza, os acontecimentos humanos e as ações dos seres humanos podem ser conhecidos pela razão humana, e que a própria razão é capaz de conhecer-se a si mesma.

Em suma, esses pensadores gregos se deram conta de que a verdade do mundo e dos humanos não era algo secreto e misterioso, revelado por divindades a apenas alguns escolhidos.

Se antes a mitologia podia explicar o que acontecia no mundo, agora as explicações da razão, a busca por caminhos e respostas lógicas e a indagação permanente com a cultura e a sociedade em que vivem passa a fazer parte dos questionamentos humanos.

A filosofia busca estudar e entender as questões gerais e fundamentais relacionadas à natureza da existência humana. Isso inclui falar da moral, do conhecimento, da estética, da mente e do universo em geral.

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O estudo dessas questões essenciais para humanidade tem como objetivo a busca de uma maior compreensão da realidade. E além disso: de como o ser humano se relaciona com o mundo.

Ao contrário da religião e da mitologia, a filosofia é trabalhada através da argumentação racional. Porém, não chega a ser considerada ciência, já que não usa procedimentos empíricos em seus estudos.

Podemos dizer que a filos se constitui quando os seres humanos começam a exigir provas e justificações racionais que validem ou invalidem as crenças cotidianas.

Por que racionais? Por três motivos:

Porque racional significa argumentado, debatido e compreendido;

Porque racional significa que, ao argumentar e debater, queremos conhecer as condições e os pressupostos de nossos pensamentos e dos outros;

Porque racional significar respeitar certas regras de coerência do pensamento para que um argumento ou um debate tenha sentido. Desse modo, é possível chegar a conclusões que podem ser compreendidas, discutidas, aceitas e respeitadas por outros.

A Filosofia é um estudo relacionado à existência, ao conhecimento, a verdade, aos

valores morais e estéticos, a mente e a linguagem. Seus métodos estão caracterizados pela argumentação.

Sua importância para a compreensão da sociedade e do mundo é para quebrar barreiras para que o indivíduo através de seu esforço obtenha um estado pleno de satisfação, ocasionando um momento de felicidade.

Através da argumentação podemos quebrar as barreiras dos nossos preconceitos, ideias erradas, de nossa realidade que não queremos mudar. Melhoramos nossas ideias, decisões e agimos melhor, já que nossas ações se baseiam naquilo que pensamos.

Já os problemas que a filosofia apresenta ajudam-nos a compreender melhor o mundo, fazendo-nos ter uma atitude crítica em relação às respostas e soluções apresentadas para os problemas da sociedade, com o objetivo de termos um mundo cada vez melhor para todos.

Você já questionou o significado da palavra Filosofia? A palavra Filosofia provém do grego e é resultado da junção de duas outras palavras: a “philia”, “philos” ou “philiaque”, que significam amor fraterno ou amizade, respeito entre os iguais; e a palavra “sophia”, quer dizer sabedoria e dela vem a palavra sophos, sábio. Portanto, a filosofia seria, em sentido literal, a amizade, o amor pelo saber ou o respeito pelo saber. Logo, um filósofo não passa de alguém que busca sempre mais a sabedoria e que possui amor pelo conhecimento e assim deseja saber.

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O termo “Filosofia”, consequentemente, lembra um estado de espírito, o da pessoa que ama, isto é, deseja o conhecimento, o estima, procura e respeita. Assim, com o auxílio da etimologia, podemos ver que a Filosofia não é puro logos, pura razão: ela é a procura amorosa da verdade.

Pitágoras de Samos (um dos filósofos pré-socráticos que viveu no séc.VI a.C.) foi a primeira pessoa a fazer uso da palavra Filosofia (philos-sophia). Pitágoras teria afirmado que a sabedoria plena e completa pertence aos deuses, mas que os homens podem desejá-la ou amá-la, tornando-se filósofos.

A Filosofia exige que nós retiremos de nossas relações mais ordinárias uma reflexão criteriosa sobre as mesmas; é um modo de pensar que persegue o ser humano em seu exercício de compreensão do mundo onde ocorrem essas relações, possibilitando ação crítica, criativa e transformadora sobre a realidade.

A Filosofia compreende uma abordagem fundamentalmente teórica, isso não significa que ela esteja à margem do mundo, nem que constitua um corpo de ensinamentos ou saberes acabados, com o conteúdo determinado, onde não haja flexibilidade e seja avesso a qualquer tipo de mudança. A Filosofia supõe uma constante disponibilidade para a indagação. Por isso, segundo Platão, a primeira virtude do filósofo é encontrar-se suscetível para surpreender-se diante do que é comum à vida. Essa é a condição para problematizar; o que marca a Filosofia não como aquela que detém a verdade, mas como aquela que subsiste em sua contínua busca. Ou seja, se o filósofo é capaz de admirar-se com o óbvio e questionar as verdades dadas, ele recebe a dúvida como despertadora desse processo abstracional.

Ante o exposto, podemos presumir que é atitude filosófica o refletir sobre a realidade, na busca de desvelar os significados mais profundos e assim descobrir o que está por trás daquilo que se mostra à primeira vista. Contudo, é imprescindível distinguirmos entre o rigor da reflexão filosófica e a reflexão que expressamos comumente, de maneira desorganizada e não sistemática.

Não se pode pensar em nenhum ser humano que não seja também filósofo, que não pense, precisamente porque pensar é próprio do ser humano como tal.

Portanto, a Filosofia é a possibilidade da transcendência humana, ou seja, a capacidade de superar a situação dada e não-escolhida. Pela transcendência, a pessoa surge como ser de projeto, capaz de ser livre e de construir o seu destino. O distanciamento é justamente o que provoca a nossa aproximação maior com a vida. A Filosofia recupera o processo perdido na aversão ao progresso das coisas feitas, impedindo assim a estagnação.

A Filosofia possibilita a constante avaliação dos fundamentos dos atos humanos e dos fins a que eles se destinam; reúne o pensamento fragmentado da ciência moderna e reconstrói na sua unidade; retoma a ação completa no tempo e procura compreendê-la. Neste sentido, qual a importância da Filosofia para você?

A filosofia grega está dividida em três períodos:

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Período Pré-socrático ou cosmológico (séculos VII a V a.C.): corresponde ao período dos primeiros filósofos gregos que viveram antes de Sócrates. A filosofia se ocupa fundamentalmente com a origem do mundo e as causas das transformações na natureza, do qual se destaca o filósofo grego Tales de Mileto.

Período Socrático (século V a IV a.C.): também chamado de período clássico, nesse momento surge a democracia na Grécia Antiga. Seu maior representante foi o filósofo grego Sócrates que começa a pensar sobre o ser humano. Além dele, merecem destaque: Aristóteles e Platão.

Período Helenístico (século IV a.C. a VI d.C.): Além de temas relacionados com a natureza e o homem, nessa fase os estudos estão voltados para a realização humana por meio das virtudes e da busca da felicidade. A atitude crítica A primeira característica da atitude filosófica é negativa, isto é, um dizer não aos “pré-conceitos’, aos pré-juízos”, aos fatos e às ideias da experiência cotidiana, ao que "todo mundo diz e pensa", ao estabelecido.

A segunda característica da atitude filosófica é positiva, isto é, uma interrogação sobre o que são as coisas, as ideias, os fatos, as situações, os comportamentos, os valores, nós mesmos. É também uma interrogação sobre o porquê disso tudo e de nós, e uma interrogação sobre como tudo isso é assim e não de outra maneira. O que é? Por que é? Como é? Essas são as indagações fundamentais da atitude filosófica.

A face negativa e a face positiva da atitude filosófica constituem o que chamamos de atitude crítica e pensamento crítico.

A Filosofia começa dizendo não às crenças e aos preconceitos do senso comum e, portanto, começa dizendo que não sabemos o que imaginávamos saber; por isso, o patrono da Filosofia, o grego Sócrates, afirmava que a primeira e fundamental verdade filosófica é dizer: "Sei que nada sei". Para o discípulo de Sócrates, o filósofo grego Platão, a Filosofia começa com a admiração; já o discípulo de Platão, o filósofo Aristóteles, acreditava que a Filosofia começa com o espanto.

Admiração e espanto significam: tomamos distância do nosso mundo costumeiro, através de nosso pensamento, olhando-o como se nunca o tivéssemos visto antes, como se não tivéssemos tido família, amigos, professores, livros e outros meios de comunicação que nos tivessem dito o que o mundo é; como se estivéssemos acabando de nascer para o mundo e para nós mesmos e precisássemos perguntar o que é, por que é e como é o mundo, e precisássemos perguntar também o que somos, por que somos e como somos. Filosofia e Mito

Considerados há muito tempo como antagônicos, mito e filosofia protagonizam atualmente uma (re)conciliação. Desde os primórdios, a Filosofia, busca do saber, é

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entendida como um discurso racional que surgiu para se contrapor ao modelo mítico desenvolvido na Grécia Antiga e que serviu como base de sua Paideia (educação). A palavra mito é grega e significa contar, narrar algo para alguém que reconhece o proferidor do discurso como autoridade sobre aquilo que foi dito.

Assim, Homero (Ilíada e Odisseia) e Hesíodo (Teogonia e Dos trabalhos e dos Dias) são considerados os educadores da Hélade (como se chamava a Grécia) por excelência, bem como os rapsodos (uma espécie de ator, cantor, recitador) eram tidos como portadores de uma verdade fundamental sobre a origem do universo, das leis etc., por reproduzirem as narrativas contidas nas obras daqueles autores.

Foi somente a partir de determinadas condições (navegações, uso e invenção do calendário e da moeda, a criação da democracia que preconizava o uso da palavra, bem como a publicidade das leis etc.) que o modelo mítico foi sendo questionado e substituído por uma forma de pensar que exigia outros critérios para a confecção de argumentos. Surge a Filosofia como busca de um conhecimento racional, sistemático e com validade universal.

De Aristóteles a Descartes, a Filosofia ganhou uma conotação de ciência, de conhecimento seguro, infalível e essa noção perdurou até o século XIX, quando as bases do que chamamos Razão sofreu duras críticas com o desenvolvimento da técnica e do sistema capitalista de produção. A crença no domínio da natureza, da exploração do trabalho, bem como a descoberta do inconsciente como o grande motivador das ações humanas, evidenciaram o declínio de uma sociedade armamentista, excludente e sugadora desenfreada dos recursos naturais. A tendência racionalista fica, então, abalada e uma nova abordagem do mundo faz-se necessária.

O que era tido antes como pré-científico, primitivo, assistemático, ganha especial papel na formação das culturas. As noções de civilização, progresso e desenvolvimento vão sendo substituídas lentamente pela diversidade cultural, já que aquelas não mais se justificam. A releitura de um dos pensadores tidos como fundadores do idealismo racionalista preconiza que já na Grécia o mito não foi meramente substituído nem de forma radical, nem gradual pelo pensamento filosófico. Os textos de Platão, analisados não somente pela ótica conceitual, mas também dramática, nos proporciona compreender que um certo uso do mito é necessário onde o logos (discurso, razão, palavra) não consegue atingir ainda seu objeto, ou seja, aquilo que era apenas fantasioso, imaginário, ganha destaque por seu valor prático na formação do homem.

Dito de outro modo, embora o homem deseje conhecer a fundo o mundo em que vive, ele sempre dependerá do aperfeiçoamento de métodos e técnicas de interpretação. A ciência é realmente um saber, mas que também é histórico e sua validade prática depende de como foi construído argumentativamente. Interessa perceber que Filosofia é amor ao saber, busca do conhecimento e nunca posse, como define Platão. Então, nunca devemos confundi-la com ciência, que é a posse de um saber construído historicamente, isto é, determinado pelas condições do seu tempo. Portanto, Mito, Filosofia e Ciência possuem entre si não uma relação de exclusão ou gradação, mas sim de

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intercomplementaridade, haja vista que um sempre sucede ao outro de forma cíclica no decorrer do tempo.

E hoje, os mitos são diferentes de antigamente? Eles estão presentes em nossa vida, em pleno século XXI? Sim, ele existe, por meio das crenças, temores e desejos, mas o mito não tem tanto poder quanto tinha antigamente, pois com o pensamento crítico racional o indivíduo é capaz de encontrar explicações mais lógicas para os acontecimentos. Os mitos de hoje podem ser divididos em mitos autênticos e em mitos fabricados pelos meios de comunicação de massa e pela mídia.

Atualmente persistem os mitos autênticos que são derivados das mesmas necessidades de propiciar o bem e afastar o mal e são exemplares, fazem parte da vida e podem ser vividos por todos os indivíduos de uma comunidade. Os exemplos mais comuns em nossa sociedade são: Ano-novo, Baile de 15 anos, Casamento, entre outros.

Hoje na sociedade são criados mitos de maneira que possam ser entendidos por todos sem maiores esforços reflexivos, pois assim não há necessidade de criticar ou questioná-los. Para se chegar a estes resultados, são utilizados alguns mecanismos na fabricação dos mitos:

Omissão da História: Este mecanismo consiste em esconder partes da história do mito, seja ele uma pessoa ou objeto. Como exemplo, podemos citar a vida de um ator ou atriz, de modo que este nos é apresentado como um ser referencial e único. Com a omissão da história, acabam também sendo eliminadas causas e consequências, como acontece frequentemente nas propagandas de bebida alcoólica, onde não são relatadas as consequências deste produto.

Identificação: É um processo que nos leva a identificação com o mito e a anulação das características não desejadas pela maior parte das pessoas, o outro lado do mito. Assim nos afastamos de pessoas portadoras das características não desejadas.

Quantificação da qualidade: Este é um mecanismo muito presente na mitificação de filmes e estrelas da música, e consiste na transformação da qualidade em quantidade. Isto é, o que importa para que um filme ou os personagens que o compõem, por exemplo, sejam mitificados é a quantidade de lucros e investimentos que gerou.

Constatação: Este mecanismo influencia na fabricação dos mitos contemporâneos, não admitindo questionamentos ou críticas. Podemos citar como exemplo as histórias em quadrinhos nas quais estão explícitas o posicionamento do bem e do mal, não há o que questionar apenas constata-se. Dentro disso também podemos citar a moda, que por sua vez é um mito consumado, o qual aceitamos sem ao menos saber o porquê de termos de seguir tais padrões.

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As principais diferenças entre Mito e Filosofia: • Mito: narra os acontecimentos passados, buscando um entendimento sobre a origem, as causas sobre tudo até o momento presente; • Filosofia: ocupa-se em explicar não somente os acontecimentos passados, mas tudo como é no presente e como será no futuro; • Mito: narra a origem do mundo baseando-se em genealogias e ação de forças sobrenaturais; • Filosofia: explica a origem do mundo pela combinação de elementos naturais; • Mito: não se preocupa com as contradições nem com as coisas incompreensíveis; • Filosofia: exige um pensamento coerente, racional, lógico. A autoridade sobre o conhecimento não está no filósofo, mas fundada na razão, que todas as pessoas possuem.

No Mito da Caverna, escrito por Platão, a caverna representa o mundo em que

vivemos, marcado por aparências. As sombras são as coisas do mundo que conseguimos perceber. Correntes e grilhões são as nossas opiniões e preconceitos, nossas crenças sobre a realidade. O prisioneiro que consegue sair dessa caverna é o filósofo, que busca a verdade. O mundo iluminado é a verdade. O meio para se conquistar a libertação é a Filosofia. O Senso Comum

Na história da filosofia, o problema do senso comum sempre foi um ponto de enorme importância e grandes debates. Os filósofos clássicos, como Sócrates, Platão e Aristóteles, dedicaram-se a refletir sobre isso e situar esse tema dentro dos problemas que interessam à reflexão filosófica.

Grosso modo, o sentido mais profundo da expressão “senso comum” remete ao tipo de experiência que é propriamente humana, isto é, a experiência do sofrimento ou a experiência tradicional. Um dos elementos que tornam o homem diferente das outras criaturas é a sua capacidade de refletir sobre o sofrimento, de saber que vai morrer, que pode ser acometido por catástrofes, doenças, etc. A experiência tradicional nos dá os elementos para a compreensão de nossa condição de seres falíveis. As tragédias antigas (tão valorizadas por Aristóteles) davam conta dessa experiência. A literatura moderna e contemporânea também o faz.

Sendo assim, o senso comum é o tipo de saber que busca fornecer orientação ao homem e não deixá-lo repetir os erros do passado. Por intermédio da experiência, o homem pode exercer virtudes, como a prudência e a paciência, e aprender a não se

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deixar levar por aventuras emocionais, que o desviam para a irracionalidade, bem como não se deixar levar por “sonhos racionais” de progresso a qualquer custo. Como disse o pintor espanhol Goya, “O sonho da razão produz monstros”.

Todo o conhecimento, tanto comum como científico, é formado por elementos fornecidos pela intuição sensível e elaborados pelo pensamento. A elaboração é a obra da razão, que se define como a função de coordenação do pensamento na sua atividade de conhecimento, função que se exerce mediante princípios (de identidade, de contradição, de causalidade, etc.) constitutivos da razão. O conhecimento comum é quase sempre o produto de uma elaboração espontânea da razão, ao passo que o conhecimento científico resulta de uma elaboração reflexiva, metódica, prosseguida de modo voluntário e, por vezes, árduo.

No conhecimento comum, as sensações obtidas pelos órgãos dos sentidos são elaboradas inconscientemente em percepções, depois, o espírito, graças à memória, compara entre si as diversas percepções, analisa-as e observa, assim, certos retornos de fenômenos análogos. Muito naturalmente, o espírito aguarda o seu reaparecimento e torna-se capaz, em certa medida, de os prever; formula, assim, leis empíricas, como as seguintes: todo o homem morre; o fogo coze os alimentos e queima.

Não obstante os seus defeitos e as suas insuficiências, o conhecimento comum ou empírico é um seguro caminhar para o conhecimento científico, porque comporta já um certo grau de generalidade; pode, efetivamente, enunciar leis (nem sempre rigorosas) e, embora subjetivo em larga medida, isto é, variável de indivíduo para indivíduo, é grandemente influenciado e regularizado pela sociedade, mediante a linguagem.

O conceito de senso comum sofreu certa desvalorização após o período do Renascimento. O humanismo renascentista foi a última corrente de reflexão que levava em conta o potencial orientador do senso comum. A partir do século XVII, sobretudo com o desenvolvimento da ciência moderna e da filosofia racionalista cartesiana, o senso comum passou, de forma geral, a ser identificado como “falta de rigor metodológico” e a ser rivalizado com o “senso crítico” ou “senso científico”. Dessa forma, até o início do século XX, eram poucas as defesas filosóficas que se faziam do senso comum, haja vista que a expressão havia sido alijada de seu sentido tradicional. O ser humano e o processo histórico de sua formação

Quando pensamos na nossa própria realidade, muitas vezes somos permeados por ideais pré-concebidas na esfera do senso comum. Na maioria dos casos não buscamos refletir profundamente e abusamos do pragmatismo para estabelecer certas concepções que buscam explicar o que somos e como somos. Acreditamos que essas ideias são as únicas e que nos resta apenas segui-las.

Dermeval Saviani, em seu livro Educação: do senso comum a consciência filosófica, aponta a necessidade da superação desta forma de compreensão da realidade. Ele propõe que o ser humano vá além da simples absorção das ideias dominantes e alicerçadas pelo senso comum, e que busque por meio da reflexão filosófica a apreensão

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de sua realidade, participando inclusive da construção do conhecimento que alicerce esta reflexão. Isto é, que o mesmo torne-se sujeito de sua própria existência. No entanto, para que isso aconteça, precisamos entender que o ser humano se constrói a partir de sua própria existência ao longo da história. E essa história humana não é apenas um amontoado de fatos de um passado distante, mas se configura enquanto um processo em constante transformação, no qual o passado, o presente e o porvir constituem-se como um contínuo infinito.

O ser humano é antes de tudo um ser social. Não vive e sobrevive no mundo sozinho e isolado, sobrevivendo apenas em sua individualidade. Sob diversas formas, é um ser que se interage com outros seres, de forma direta ou indireta, na busca por sua sobrevivência. Desde as primeiras comunidades (de forma simples) até a atualidade (de forma complexa) os homens se relacionam entre si na formação das condições que garantam a sua existência material, mesmo que essa busca seja motivada por interesses individuais. Estabelecem-se então relações econômico-sociais entre as partes, no qual o trabalho é a principal – e única – fonte dos recursos materiais necessários para a sobrevivência humana.

Ao falar em educação é inevitável discutir seu papel socializador e seu aspecto representativo da cultura. O que implica em analisar os fundamentos históricos e filosóficos, já que a educação, em si, só é possível através da transmissão do conhecimento ao longo do tempo, por meio do diálogo, do contato entre as pessoas. Sem socialização, contextualizada no âmbito escolar, não existe educação. Sendo necessário, portanto, discutir como e se a educação realmente sociabiliza e se este deve ser o seu principal objetivo. Uma questão amplamente debatida e ainda não esgotada que originou várias tendências pedagógicas, além de inúmeras propostas de direcionamento educacional.

No seu sentido mais amplo, educação significa o meio em que os hábitos, costumes e valores de uma comunidade são transferidos de uma geração para a geração seguinte. A educação vai se formando através de situações presenciadas e experiências vividas por cada indivíduo ao longo da sua vida.

O conceito de educação engloba o nível de cortesia, delicadeza e civilidade demonstrada por um indivíduo e a sua capacidade de socialização.

De acordo com o filósofo teórico da área da pedagogia René Hubert, a educação é um conjunto de ações e influências exercidas voluntariamente por um ser humano em outro, normalmente de um adulto em um jovem. Essas ações pretendem alcançar um determinado propósito no indivíduo para que ele possa desempenhar alguma função nos contextos sociais, econômicos, culturais e políticos de uma sociedade.

No sentido técnico, a educação é o processo contínuo de desenvolvimento das faculdades físicas, intelectuais e morais do ser humano, a fim de melhor se integrar na sociedade ou no seu próprio grupo.

Educação (do latim educations) no sentido formal é todo o processo contínuo de formação e ensino aprendizagem que faz parte do currículo dos estabelecimentos oficializados de ensino, sejam eles públicos ou privados.

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No Brasil, de acordo com a Lei de Diretrizes e Bases, a Educação divide-se em dois níveis, a educação básica e o ensino superior. A educação básica compreende a Educação Infantil, o Ensino Fundamental e o Ensino Médio. A educação nacional remete para o grupo de órgãos que fazem a gestão do ensino público e fiscalização do ensino particular.

No processo educativo em estabelecimentos de ensino, os conhecimentos e habilidades são transferidos para as crianças, jovens e adultos sempre com o objetivo desenvolver o raciocínio dos alunos, ensinar a pensar sobre diferentes problemas, auxiliar no crescimento intelectual e na formação de cidadãos capazes de gerar transformações positivas na sociedade.

Antes de entrar nesta esfera, no entanto, é necessário debater o âmago do que torna a educação possível, a socialização e sua relação com a educação.

A socialização pressupõe a interação social, a capacidade de integrar-se a um grupo, assimilando padrões sociais. O que interfere na maneira como o sujeito percebe o mundo, o outro e a si mesmo. O processo de interação e a socialização, inicia-se no nascimento do sujeito e só se encerra com a sua morte, fazendo uso da linguagem para interagir e integrar os indivíduos.

Em sentido amplo, a linguagem, através da cultura, constrói significados, embora a equação inversa também seja verdadeira. Podemos afirmar que o ser humano, neste sentido, só se humaniza a partir da socialização e da assimilação da cultura.

Poderíamos definir a cultura como um conjunto de valores que une e dá identidade a um grupo, espelhando o conhecimento acumulado por gerações.

Assim, sendo a educação a transmissão e assimilação de conhecimentos, cabe perguntar qual é o papel da educação para que a integração entre as pessoas se efetive?

Responder esta questão conduz a outro tema correlato: o papel da educação em sentido amplo e sua distinção dentro e fora do processo de escolarização institucionalizado. Educação formal e informal

Analisando-a de forma abstrata, deslocada das contradições e dos antagonismos de classes, atribuem a ela um caráter redentor. Entretanto, existem "n" formas de educação; não é possível para falar de educação abstratamente, nem desconsiderando a história. Além disso, as finalidades com que se educa também não são as mesmas em todas as épocas, em todos os lugares e em todas as sociedades.

Ora, se a educação é a forma como a sociedade educa seus membros para viverem nela mesma, então, para compreender a educação precisamos compreender a sociedade. Assim, na medida em que a compreendermos, também entenderemos aquela.

Para entender o papel da educação na socialização é necessário discutir a transmissão da cultura dentro e fora da escola.

A educação, a transmissão do saber acumulado pela humanidade, não se concretiza somente na escola, acontece também de maneira informal (sem norma ou forma), não possuindo critérios, horários, hierarquia ou sistema de avaliação.

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Neste sentido, a educação informal é produzida a partir das necessidades imediatas da vida, configurando o conhecimento conforme as exigências requeridas para a sobrevivência.

Pensando nesta concepção, o saber escolar muitas vezes se distancia da realidade, impedindo a assimilação democrática do conhecimento e excluindo várias categorias sociais, portanto, limitando o acesso ao saber que confere poder.

A escola é uma instituição, como tal possui normas e padrões, impostos por aqueles que controlam o sistema educacional, visando organizar seu funcionamento. Diferente da educação informal, o conhecimento escolar é sistematizado, transmitido a partir de critérios e métodos, composto por um saber científico, dogmático. Embora a ideia, teoricamente, seria a escola criar uma proximidade com a realidade concreta, possibilitando uma flexibilidade de conteúdos.

O grande problema é que a educação formal, sendo hierarquizada, é fruto e reflexo do fordismo, dividindo tarefas e limitando o processo de socialização.

O fordismo educacional transforma os professores em tarefeiros, semelhante ao que ocorreu com operários em linhas de montagem, fazendo, por outro lado, o educando perder a noção do conjunto. No entanto, de certo modo, a educação formal contém em si a informal, já que o educador não se limita a transmitir conteúdos.

Enquanto o professor exerce uma profissão eminentemente técnica, o educador deveria ensinar e praticar a tolerância com o outro, a convivência pacífica, instigando a curiosidade para conhecer as diferenças, ou seja, incentivando a socialização.

A socialização é o centro de duas visões distintas do que se entende como função da escola, configurando duas abordagens clássicas: o paradigma do consenso e do conflito.

A noção de paradigma envolve um modelo que serve de base a construção da ciência. Ambos os paradigmas balizam a construção de teorias e tendências pedagógicas e representam pontos de referência e lógicas de pensamento. História da Educação

A história da educação é parte da história da cultura, que por sua vez faz parte da história geral. Em cada tempo/espaço histórico, a educação atendeu a determinados objetivos, que correspondiam a visões de homem e de mundo. Para compreender a história da educação, é essencial situá-la na história geral.

Desde que o ensino e a aprendizagem passaram a ser planejados e formalizados, eles sofreram muitas transformações. Para começar a nossa conversa, não há nada melhor do que mergulhar no mar da história.

Dentre as principais fases da história da educação estão as seguintes:

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Educação primitiva

Embora não existam provas, historiadores inferem que a educação entre os grupos primitivos ocorria de forma espontânea, ou seja, as crianças ou jovens aprendiam por imitação, ao observarem os maiores em suas atividades elementares, que eram a pesca, a caça, a agricultura, etc. A observação de fenômenos meteorológicos, alguns rituais sagrados e a preparação para a guerra, com o passar dos séculos, passaram a fazer parte da educação dos jovens, que para isso precisavam ser treinados. Depois desta fase, entra-se (cerca de 8 ou 10 mil anos) na época do Neolítico, na qual se assiste a uma verdadeira e própria revolução cultural. Nascem, as primeiras civilizações agrícolas: os grupos humanos se tornam sedentários, cultivam os campos e criam animais, aperfeiçoam e enriquecem as técnicas (para fabricar vasos, para tecer, para arar), cria-se uma divisão do trabalho cada vez mais nítida entre homem e mulher e um domínio sobre a mulher por parte do homem, depois de uma fase que exalta a feminilidade no culto da Grande Mãe (findo com o advento do treinamento, visto como “conquista masculina”). Educação egípcia

Vamos voltar ao passado e, pela precisão, ao antigo Egito. Como toda sociedade

que produz riquezas a partir da exploração da maioria dos seus habitantes, percebemos logo que o saber não é democratizado e que cada setor só tem acesso a um determinado tipo de educação.

Em grandes linhas, podemos dizer que no antigo Egito existem quatro grupos de pessoas que recebem um ensino diferenciado: o faraó e os senhores da corte, os escribas e todos aqueles que se dedicam às funções administrativas, os artesãos e, por último, os escravos. Cerca de 2.600 anos antes de Cristo, os filhos do faraó, seus futuros conselheiros e os nobres do Egito são educados para dominar a arte da palavra.

Para comandar e pôr ordem na sociedade é imprescindível dominar a arte da palavra. Não é pra menos. É indispensável saber falar em público tanto para intervir nos conselhos restritos do poder, como para passar uma lábia na multidão, acalmar seus ânimos, justificar a repressão dos descontentes e reafirmar os valores dominantes como os únicos capazes de organizar a sociedade.

Mas a sociedade muda e força o ensino destinado aos faraós a adaptar-se às mudanças. Lá pelo ano 2.000 antes de Cristo os nobres do Egito conquistam a possibilidade de governar suas regiões num regime de maior autonomia em relação ao poder do faraó. O país é dividido em feudos e começa um período de desordem e agitação social. É neste contexto que o ensino destinado às elites incorpora uma formação mais aprimorada do homem político e a educação física como parte da preparação necessária para eventuais enfrentamentos nos campos de batalha.

É interessante reparar que o círculo dos nobres e da família do faraó não se preocupa em ensinar a seus filhos a escrever. Acontece que, nesta época, a escrita é

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apenas um instrumento que permite registrar os atos oficiais e administrativos. Por isso, a tarefa de escrever é deixada aos escribas que, em geral, aprendem esta arte com os pais. Além da escrita, as relações que se desenvolvem no interior dos círculos do poder impõem que o ensino destinado a estas pessoas incorpore o aprendizado de um profundo sentimento de obediência e submissão.

Você já deve ter percebido que no antigo Egito, como em toda sociedade dividida em classes, os grupos dominantes usam o processo educativo como um meio para moldar as várias camadas da população. Assim como o oleiro dá forma ao barro para que ele se transforme num determinado objeto, as elites se preocupam em formar cada setor da sociedade de acordo com a necessidade de garantir a exploração e a ordem que proporciona a concretização de seus interesses. Em outras palavras, na civilização egípcia já podemos visualizar uma característica que vai se manter constante ao longo da história: há sempre uma relação direta entre o tipo de educação e a posição que o indivíduo ocupa na pirâmide social. Educação clássica

Em Roma antiga, as coisas não são muito diferentes. Lá, o primeiro educador é o “pater familiae”. Desde a fundação da cidade, a autonomia da educação paterna é uma lei do Estado pela qual o pai é dono e artífice de seus filhos. A antiga monarquia romana, de fato, é uma república constituída pelos proprietários das terras e dos núcleos rurais (familiae), dos quais fazem parte as mulheres, os filhos, os escravos, os animais e qualquer outro bem. O pai-proprietário (pater) exerce sobre eles um poder soberano que, entre outras coisas, lhe permite matar os filhos anormais, prender, flagelar, condenar aos trabalhos agrícolas forçados, vender ou matar os filhos rebeldes, mesmo quando, já adultos, estes ocupam cargos públicos.

A educação no seio dessa família visa, basicamente, o ensino das letras, do direito, o domínio da retórica e das condições para desempenhar as atividades políticas, típicas das classes dominantes.

Ainda que o desenvolvimento histórico imponha mudanças nos costumes e nas instituições que se dedicam à educação dos jovens, a organização do Estado romano impede o livre acesso do povo simples à arte da palavra. As poucas escolas existentes tornam-se cada vez mais um meio para a capacitação de um grupo restrito de indivíduos, como burocratas, no poder do Estado.

Neste contexto, feita exceção pela agricultura que é um aspecto e uma fonte de domínio do pai-proprietário, todas as atividades produtivas são consideradas indignas de um homem livre. Exercidas pelos escravos ou pelos estrangeiros que migram para Roma, seu ensino é reservado aos membros dessas classes sociais. À diferença da situação que encontramos no Egito, em Roma nos deparamos com a necessidade de fazer com que os conhecimentos e as habilidades de algumas profissões sejam ensinados em escolas. Trata-se de um costume que os patrões “mais empreendedores” praticam para melhor explorar o trabalho servil. Além de formarem escravos mais qualificados para serem

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empregados em suas propriedades, as “escolas profissionalizantes” da época permitiam utilizar o ensino como investimento “de capital” na medida em que possibilitava vender ou alugar os mesmos escravos a um preço bem mais alto.

Se é verdade que, ao longo dos séculos, as descobertas da ciência e da técnica impõem mudanças aos processos de aprendizagem, é também verdade que cada passo do desenvolvimento histórico impõe a necessidade de resolver o velho problema de como e quanto instruir quem é destinado não aos círculos do poder e sim à produção. Educação medieval

Se desenvolve na época em que o cristianismo alcança toda a Europa (V – XV d. C.). O caráter é essencialmente religioso, dogmático, predominando matérias abstratas, literárias, com prejuízo a educação intelectual e científica. É empregado o uso do latim como língua única. Da Igreja partiram os modelos educativos e as práticas de formação.

Na era medieval, como havia um monopólio da cultura e do pensamento por parte da Igreja Católica, a educação teve grande influência religiosa. Eram os integrantes da Igreja que estabeleciam o que deveria ser estudado, os conteúdos e os objetivos da educação. As escolas eram, portanto, associadas às instituições religiosas católicas. Embora controlada pela Igreja, a educação não ficou apenas no campo religioso, abrindo também espaço para o estudo das ciências, técnicas e habilidades.

Existiam nesse período medieval escolas que funcionavam anexas às catedrais ou a escolas monásticas que funcionavam nos mosteiros, nesse contexto, a Igreja assumiu a tarefa de disseminar a educação e a cultura no medievo e o seu papel foi preponderante para o nosso legado educacional contemporâneo.

A escola no período medieval era dirigida por um cônego, ao qual se dava o nome de scholarius ou scholasticus. Os professores eram clérigos de ordens menores e lecionavam as chamadas sete artes liberais: gramática, retórica, lógica, aritmética, geografia, astronomia e música, que mais tarde constituíram o curriculum de muitas universidades.

Para acontecer o ensino precisava-se de uma autorização, essa era cedida pelos bispos e pelos diretores das escolas eclesiásticas que, com medo de perderem a influência, dificultavam ao máximo essa concessão. Reagindo contra essas limitações, professores e alunos organizaram-se em associações denominadas universitas, que mais tarde originou a palavra universidades. As universidades eram compostas por quatro divisões ou faculdades. A faculdade de Artes era o lugar onde a educação acontecia de forma mais geral, as faculdades de Direito, Medicina e Teologia trabalhavam o conhecimento de forma mais específica. Os diretores das faculdades eram chamados de decanos e eleitos pelos professores; o decano da Faculdade de Artes era o reitor e representava oficialmente a universidade.

Grande parte dos estudantes da Idade Média vinha da nobreza, pois esta camada social possuía recursos financeiros para manter os filhos nas escolas. Os nobres decidiam

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quais filhos iriam para a área militar (formação de cavaleiros), para a formação técnica (escolas formais) ou formação religiosa (escolas monásticas).

Já os camponeses e seus filhos, sem recursos financeiros e presos às obrigações servis, não tinham acesso à educação escolar, ficando sem saber ler e escrever por toda vida.

Nos séculos XIV e XV (final da Idade Média), com o surgimento da burguesia, as escolas e universidades passaram a ter muitos estudantes oriundos desta nova camada social. Os filhos dos burgueses iam para escolas e universidades que davam formação mais ampla ou de caráter técnico. Os burgueses buscavam formar seus filhos em áreas como Medicina, Artes, Direito, Filosofia e Arquitetura. Claro que muitos burgueses também direcionavam os estudos dos filhos para que estes continuassem o negócio da família nas áreas de comércio ou finanças.

Educação humanista

No século XIV e XV abrem-se novos horizontes geográficos que permitem uma grande transformação cultural, social, política, religiosa e econômica, desencadeada pelas relações comerciais da Europa com os povos do Oriente, de África, da Ásia e da América.

Este contexto proporcionou, não só uma entrada em larga escala de bens alimentares e de consumo, mas também de outras formas de pensar, outros costumes e valores, trazidos por outros povos.

Após o século XV, período da Renascença, é criada a educação humanista, uma nova versão do conhecimento greco-romano. A disciplina e autoridade até então predominantes deixam espaço ao desenvolvimento do pensamento livre e crítico. As matérias científicas retornam ao currículo, embora ainda em segundo plano. Surge o colégio humanista (escola secundária), onde são estudados o latim e o grego. Os exercícios físicos são valorizados.

Toda esta abundância, característica de uma nova sociedade baseada nos princípios da civilização urbana e cosmopolita, veio precisamente originar uma forma de pensar assente na valorização da “dignidade do homem”, colocando-o no centro do universo, dando ênfase à sua forma de agir e de pensar, abrindo-lhe novos horizontes para desenvolver a sua personalidade, conduzindo o seu pensamento a uma nova perspectiva da vida.

Podemos então afirmar que a educação humanista surge no sentido de organizar a sociedade em vários níveis. Educação cristã reformada

Resultado da Renascença, no século XVI surge a reforma religiosa, e como

resultado, uma educação cristã reformada, tanto católica, como protestante. A educação católica pós renascença, foi marcada por um movimento conhecido por Contrarreforma. A Companhia de Jesus, organização criada por Inácio de Loyola, foi a mais poderosa arma

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contra os protestantes. As ordens religiosas, das quais se destaca a dos jesuítas, foram as responsáveis por disseminar o cristianismo por meio da educação durante séculos. O Ratio Studiorum era o “currículo” dos jesuítas, que ministravam uma educação inspirada nas escolas humanistas. Educação realista

Com base na filosofia e nas ciências de Galileu, Copérnico, Newton e Descartes, as chamadas ciências novas, a educação realista dá início aos métodos da educação moderno.

O século XVII marca o surgimento da educação realista que estabelece um momento de transição entre a pedagogia do renascimento e a pedagogia iluminista do século XVIII.

A educação realista é fortemente influenciada pelo empirismo de Francis Bacon e pelo racionalismo de Descartes. Também sofre a influência do movimento científico da época, liderado por Galileu e Kepler, sem mencionar a profunda revolução causada pela teoria heliocêntrica elaborada por Nicolau Copérnico, ainda no século XVI.

Ela busca substituir o conhecimento verbalista anterior pelo conhecimento das coisas. Para tanto, procura criar uma nova didática. Segue reafirmando com mais ênfase ainda a individualidade do educando e, na ordem social e moral, advoga o princípio da tolerância, do respeito à personalidade e de fraternidade entre os homens.

Educação Naturalista

Com base nas ideias de Jean-Jacques Rousseau, a educação naturalista teve influência decisiva a educação moderna. Para Rousseau, são pressupostos para a educação: a liberdade, a atividade pela experiência, a diferença entre a mente da criança e do adulto (a criança deixou de ser vista como um adulto em miniatura, e passou a ser vista como um ser em desenvolvimento), enfim, uma educação integral, que atenda aos aspectos físicos, intelectuais e morais. No entanto, para Rousseau, para cada aluno deveria haver apenas um educador. Suas ideias inspiraram pensadores e educadores, dos quais se destacou Pestalozzi.

Ela está relaciona os métodos científicos (hipótese, observação, descrição, previsão, controle...) afirmando que todos os seres do nosso universo são naturais e que todo o conhecimento que se tem sobre o universo só é possível com investigações científicas.

Essa educação naturalista, não significa retornar a uma vida selvagem, primitiva, isolada, mas sim, afastada dos costumes da aristocracia da época, da vida artificial que girava em torno das convenções sociais. A educação deveria levar homem a agir por interesses naturais e não por imposição de regras exteriores e artificiais, pois só assim, o homem poderia ser o dono de si próprio.

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Rousseau trouxe novas ideias para combater aquelas que prevaleciam há muito tempo em sua época, principalmente a de que a educação da criança deveria ser voltada aos interesses do adulto e da vida adulta. Introduziu a concepção de que a criança era um ser com características próprias em suas ideias e interesses, e desse modo não mais podia ser vista como um adulto em miniatura.

Com suas ideias, ele derrubou as concepções vigentes que pregavam ser a educação o processo pelo qual a criança passa a adquirir conhecimentos, atitudes e hábitos armazenados pela civilização, sem transformações.

Considerava cada fase da vida como tendo características próprias. Tanto o homem como a sociedade se modificam, e a educação é elemento fundamental para a necessária adaptação a essas modificações. Se cada fase da vida tem suas características próprias, a educação inicial, não poderia mais ser considerada uma preparação para a vida, da maneira que era concebida pelos educadores à época.

Rousseau afirmou que a educação não vem de fora, é a expressão livre da criança no seu contato com a natureza. Ao contrário da rígida disciplina e excessivo uso da memória vigentes então, propôs serem trabalhadas com a criança: o brinquedo, o esporte, a agricultura e uso de instrumentos de variados ofícios, linguagem, canto, aritmética e geometria.

Através dessas atividades a criança estaria medindo, contando, pesando; portanto, estariam sendo desenvolvidas atividades relacionadas à vida e aos seus interesses. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ARANHA, Maria L. de A.; MARTINS, Maria H. P. Filosofando: Introdução à Filosofia. 6ª ed. São Paulo: Moderna, 2016. CHAUÍ, Marilene de Souza. Convite à Filosofia. São Paulo: Ática, 2000. ____________. Iniciação à Filosofia. São Paulo: Ática, 2017. COTRIM, Gilberto; FERNANDES, Mirna. Fundamentos de Filosofia. 4ª ed. São Paulo: Saraiva, 2017. Educação na Idade Média. Disponível em: <http://brasilescola.uol.com.br/historiag/educacao-na-idade-media.htm> Acesso em 20 mar. 2017. Educação na Idade Média. Disponível em: <http://www.suapesquisa.com/idademedia/educacao_idade_media.htm> Acesso em 20 mar. 2017.

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Fundamentos Históricos e Filosóficos da Educação: problematizações sobre a ação educativa. Disponível em: <http://fabiopestanaramos.blogspot.com.br/2011/03/fundamentos-historicos-e-filosoficos-da.html> Acesso em 20 mar. 2017. Introdução à Filosofia: Origem e definição. Disponível em: <http://www.passeiweb.com/estudos/sala_de_aula/filosofia/definicao> Acesso em 20 mar. 2017. LUZURIAGA, Lorenzo. História da educação e da pedagogia. 13 ed. São Paulo: Nacional, 1981. RIBEIRO, Vivian Paula; ARAÚJO, Adriano; MELO, Naurelice Maia. Filosofia, ética e o mundo do trabalho. Salvador: Faculdade de Tecnologia e Ciências - Educação a Distância, 2007. 74 f. Apostila.

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