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44 SALVADOR DOMINGO 22/5/2011 45SALVADOR DOMINGO 22/5/2011
#164 / DOMINGO, 22 DE MAIO DE 2011REVISTA SEMANAL DO GRUPO A TARDE
ORDEP SERRA VINHOS IGREJAS FASHION ROCKS JENIPAPO ORIGINAL TEATRO «
Torcida deCRAQUES
Mesmo sem ganhar títulos há décadas, os timesbaianos Ypiranga e Galícia têm torcedores fiéis
20 SALVADOR DOMINGO 22/5/2011 21SALVADOR DOMINGO 22/5/2011
CLÁSSICOFUTEBOLCLUBE
Os times do
Galícia e do
Ypiranga entram
em campo
Texto TATIANA MENDONÇ[email protected] RAUL SPINASSÉrspinassé@grupoatarde.com.br
Mesmo sem ganhar títulos ou ter grande destaque nosnoticiários, o Galícia e o Ypiranga mantêm torcidas fiéis, quenão perdem um jogo e dedicam-se a defender seus times
Sai daí, carniça!”. O grito esten-
deu-se claro por Pituaçu, me-
nos cheio do que vazio, por-
que se não houver a profana-
ção do time alheio, de que va-
leestarali?Aavalanchedeim-
propérios seguiu inabalável, mesmo sen-
doapenasapreliminar,maseraBa-Vieera
o jogo de ida da final do Campeonato Baia-
no Sub-20. Terminou a partida empatada,
em 1 a 1, o que fez muitos dos já parcos
torcedores abandonarem o estádio. Mas
outros, de outras cores, foram chegando. E
mesmo estando o mundo alheio a tal fato,
ali estavam com o firme propósito de pre-
senciar um clássico: Galícia x Ypiranga.
Só mesmo o amor para explicar a pre-
sença dos 1.571 torcedores pagantes, por-
que, apesar da história e da tradição dos
clubes,compreende-sequemacertaaltura
cansa de apenas cultivar memórias (próprias ou emprestadas). O
últimotítulo importantedoGalíciaEsporteClubefezaniversáriode
43 anos, e o do Esporte Clube Ypiranga, redondas seis décadas.
Apartidaépelasextarodadadadesprestigiadasegundadivisão
do Campeonato Baiano. Em 1999, os dois times foram rebaixados
e de lá não mais saíram. Quem sabe este ano. A final do torneio
acontece no dia 3 de julho. O campeão e o vice sobem. Ypiranga e
Galícia têm chances, já que eram, respectivamente, o primeiro e o
terceiro colocados do Grupo 1 até o fechamento desta edição. Ou-
tro tradicional time soteropolitano, o Botafogo, também participa
da competição, depois de 21 anos ausente.
Sentadosnaarquibancada,RauleBernardoImprota,paiefilho,
esperam o começo da partida vestidos com a camisa aurinegra.
Aos pés, uma sacolinha plástica cheia de bandeiras do Ypiranga.
Estão confiantes de que agora vai. Raul, 24, acompanha o time
desde que se entende por gente, o mesmo sucedendo a Bernardo,
57, que também acompanhava o pai no estádio. Para eles, ser ypi-
ranguense é, mais que escolha, aceitação do “DNA”.
A todos os jogos vão e vibram, mesmo que esteja em campo o
time infantil. A tristeza de ver o Mais Querido definhar na última
«
20 SALVADOR DOMINGO 22/5/2011 21SALVADOR DOMINGO 22/5/2011
CLÁSSICOFUTEBOLCLUBE
Os times do
Galícia e do
Ypiranga entram
em campo
Texto TATIANA MENDONÇ[email protected] RAUL SPINASSÉrspinassé@grupoatarde.com.br
Mesmo sem ganhar títulos ou ter grande destaque nosnoticiários, o Galícia e o Ypiranga mantêm torcidas fiéis, quenão perdem um jogo e dedicam-se a defender seus times
Sai daí, carniça!”. O grito esten-
deu-se claro por Pituaçu, me-
nos cheio do que vazio, por-
que se não houver a profana-
ção do time alheio, de que va-
leestarali?Aavalanchedeim-
propérios seguiu inabalável, mesmo sen-
doapenasapreliminar,maseraBa-Vieera
o jogo de ida da final do Campeonato Baia-
no Sub-20. Terminou a partida empatada,
em 1 a 1, o que fez muitos dos já parcos
torcedores abandonarem o estádio. Mas
outros, de outras cores, foram chegando. E
mesmo estando o mundo alheio a tal fato,
ali estavam com o firme propósito de pre-
senciar um clássico: Galícia x Ypiranga.
Só mesmo o amor para explicar a pre-
sença dos 1.571 torcedores pagantes, por-
que, apesar da história e da tradição dos
clubes,compreende-sequemacertaaltura
cansa de apenas cultivar memórias (próprias ou emprestadas). O
últimotítulo importantedoGalíciaEsporteClubefezaniversáriode
43 anos, e o do Esporte Clube Ypiranga, redondas seis décadas.
Apartidaépelasextarodadadadesprestigiadasegundadivisão
do Campeonato Baiano. Em 1999, os dois times foram rebaixados
e de lá não mais saíram. Quem sabe este ano. A final do torneio
acontece no dia 3 de julho. O campeão e o vice sobem. Ypiranga e
Galícia têm chances, já que eram, respectivamente, o primeiro e o
terceiro colocados do Grupo 1 até o fechamento desta edição. Ou-
tro tradicional time soteropolitano, o Botafogo, também participa
da competição, depois de 21 anos ausente.
Sentadosnaarquibancada,RauleBernardoImprota,paiefilho,
esperam o começo da partida vestidos com a camisa aurinegra.
Aos pés, uma sacolinha plástica cheia de bandeiras do Ypiranga.
Estão confiantes de que agora vai. Raul, 24, acompanha o time
desde que se entende por gente, o mesmo sucedendo a Bernardo,
57, que também acompanhava o pai no estádio. Para eles, ser ypi-
ranguense é, mais que escolha, aceitação do “DNA”.
A todos os jogos vão e vibram, mesmo que esteja em campo o
time infantil. A tristeza de ver o Mais Querido definhar na última
«
22 SALVADOR DOMINGO 22/5/2011 23SALVADOR DOMINGO 22/5/2011
GALÍCIA ESPORTECLUBEFundado em 1º dejaneiro de 19335 vezes campeãobaiano: 1937, 1941,1942, 1943 e 1968
décadanãoabalouacrençanofuturodoclube.“Nóssabíamosque
não acabava ali. O Ypiranga só vai morrer quando seus torcedores
morrerem. É uma estupidez que a Bahia tenha apenas dois gran-
des clubes”, diz Bernardo.
O Galícia entra em campo, a torcida aurinegra vaia, quase ao
mesmo tempo em que ele explicava que a rivalidade ali é pacífica,
desentaraoladoenãoterconfusão.“Pessoal,nãovamosvaiar!Se
bem que é preciso saber quem é que tem história... Bora, Ama-
relinho!”. O jogo começa e a agonia faz com que acompanhem a
partida em pé, na grade, para gritar com mais proximidade, acon-
selhando o técnico e incentivando os jogadores, a quem chamam
pelo nome. Certeza de que a rouquidão durará muitos dias.
Os ypiranguenses sentam-se juntos para torcer, com direito a
bandeirão amarelo e preto e bolinhas de soprar, mas a torcida ga-
liciana, mais miúda, prefere ficar espraiada pelo estádio. O gol do
Ypiranga desespera os azulinos, mas logo o Galícia empata. O pe-
dreiro Josafá Trindade, 52, comemora, eufórico. De pequeno, ia
para a Fonte Nova torcer pelo Bahia, mas aos poucos o coração foi
pegando amor pelo Galícia, e aí não teve mais jeito. Sem ter tido a
sorte de alcançar a época áurea do time – primeiro tricampeão
baiano –, já saiu muitas vezes injuriado dos jogos e em vão pro-
meteunãovoltarmais.“Abandoneiumtempo,massoumulherde
malandro,nãotemjeito.EstoupedindoaDeusqueotimesuba.Se
eu ganhasse na Quina ou na Mega Sena, comprava o Parque San-
tiago (sede do clube) e aí ia botar o torcedor feliz”.
Aoseu ladoestavaoestudantePedroPinto,18,descendentede
espanhóis e azulino por herança familiar. “Lá em casa, ou era Ga-
lícia ou era Galícia”. Os amigos riem quan-
do ele fala de sua opção futebolística, mas
Pedro não liga e até acha graça. Há tam-
bém os incréus, e para esses não precisa
dizer nada, apenas mostrar a carteirinha
de sócio-torcedor do clube, nº 25. “Contri-
buía com R$ 30, mas o cara que ia lá em
casa buscar o dinheiro morreu”.
Pedroseesgoelaapartidainteiraepede
para que os torcedores também incenti-
vem o time. A troco de nada, algum cínico
diria, porque o Ypiranga vence por 3 a 1,
fazendo os galicianos abandonarem o es-
tádio mais cedo, na companhia de uma
chuvinha fina. Em duas semanas, era a se-
gunda vez que o Galícia, o Demolidor de
Campeões,perdiadoYpiranga.Nojogode
ida, o placar foi de 3 a 2.
Antes mesmo do apito final, mas apro-
veitando a alegria pela vitória já certa, co-
meça a circular pela torcida do Ypiranga
uma urna para arrecadar contribuições e
levar o time de volta “à elite do Futebol
Baiano”, como diz um panfleto intitulado
“ApeloYpiranguense”.Voltandoparacasa,
um torcedor tinha planos mais elevados:
“Ypiranga 2015 rumo a Tóquio”.
DE VOLTAO Campeonato Baiano de 1999 foi uma
confusão só. Na final, o Bahia foi para a
Fonte Nova; o Vitória, para o Barradão. Os
dois times consideraram-se vitoriosos; por
W.O., Ypiranga e Galícia caíram. A decisão
foi parar na Justiça, que resolveu o caso em
2005. Nonato Reis, 49, presidente do Ga-
lícia, lembraqueoregulamentodiziaqueo
time que não comparecesse à partida per-
deria todos os pontos, sendo, portanto, re-
baixado. “Quem seria, se Bahia ou Vitória,
não cabe a mim dizer, um dos dois estaria
na segunda divisão. Mas quem ia fazer
cumprir o regulamento?”. A corda pendeu
para o lado mais fraco, sendo Bahia e Vi-
tória declarados campeões.
Galícia e Ypiranga ficaram no obscuran-
tismo, participando irregularmente da se-
gunda divisão. Em 2006, Nonato resolveu
tomar a frente da “coisa”, seguindo os pas-
sos do pai, que também já tinha presidido
o time. “Vi o Galícia abandonado e resolvi
assumir, ao lado de um grupo de amigos”.
Venceu com candidatura única, sendo re-
eleito até 2012.
Sem os holofotes, ainda que fraqui-
nhos, da primeira divisão, é difícil conse-
guir patrocínio. O Galícia tem apenas um,
de um empreendimento imobiliário, que
cobre a metade dos custos. “O restante, a
gente corre atrás de diretores e amigos. No
sacrifício, vai levando”.
Fundado em 1933 por imigrantes espa-
nhóis, o Galícia teve como primeiro presi-
dente o alfaiate Eduardo Castro de la Igle-
sias, que certamente não imaginava que o
time chegaria à primeira divisão do Brasi-
leirão, o que aconteceu em 1981 e 1983.
Tudobemqueosresultadosnãoforamdos
melhores, mas já é alguma coisa. Hoje, o
Parque Santiago, em Brotas, não vive seus
melhores dias. As arquibancadas estão to-
madas pela grama, falta alambrado no es-
tádio, as acomodações dos alojamentos
para os jogadores são modestas.
Hermógenes Neto, 50, que dirige a As-
sociação Torcedores e Amigos do Galícia
(Atag), conta que cerca de 150 torcedores
contribuem com o clube. Mas nem sempre
a taxa mensal, de R$ 10, é paga. “Quando
o time está bem, a torcida procura. Acho
queoGalíciaprecisadeumaadministração
maismoderna,paraseaproximardomun-
Bernardo e Raul,
pai e filho; e o
casal Milton e
Wanda Santarém
A bandeira do
Ypiranga, time
dez vezes
campeão baiano
ESPORTE CLUBEYPIRANGAFundado em 7 desetembro de 190610 vezes campeãobaiano: 1917,1918,1920, 1921,1925, 1928, 1929,1932, 1939, 1951
FERNANDO VIVAS / AG. A TARDE
22 SALVADOR DOMINGO 22/5/2011 23SALVADOR DOMINGO 22/5/2011
GALÍCIA ESPORTECLUBEFundado em 1º dejaneiro de 19335 vezes campeãobaiano: 1937, 1941,1942, 1943 e 1968
décadanãoabalouacrençanofuturodoclube.“Nóssabíamosque
não acabava ali. O Ypiranga só vai morrer quando seus torcedores
morrerem. É uma estupidez que a Bahia tenha apenas dois gran-
des clubes”, diz Bernardo.
O Galícia entra em campo, a torcida aurinegra vaia, quase ao
mesmo tempo em que ele explicava que a rivalidade ali é pacífica,
desentaraoladoenãoterconfusão.“Pessoal,nãovamosvaiar!Se
bem que é preciso saber quem é que tem história... Bora, Ama-
relinho!”. O jogo começa e a agonia faz com que acompanhem a
partida em pé, na grade, para gritar com mais proximidade, acon-
selhando o técnico e incentivando os jogadores, a quem chamam
pelo nome. Certeza de que a rouquidão durará muitos dias.
Os ypiranguenses sentam-se juntos para torcer, com direito a
bandeirão amarelo e preto e bolinhas de soprar, mas a torcida ga-
liciana, mais miúda, prefere ficar espraiada pelo estádio. O gol do
Ypiranga desespera os azulinos, mas logo o Galícia empata. O pe-
dreiro Josafá Trindade, 52, comemora, eufórico. De pequeno, ia
para a Fonte Nova torcer pelo Bahia, mas aos poucos o coração foi
pegando amor pelo Galícia, e aí não teve mais jeito. Sem ter tido a
sorte de alcançar a época áurea do time – primeiro tricampeão
baiano –, já saiu muitas vezes injuriado dos jogos e em vão pro-
meteunãovoltarmais.“Abandoneiumtempo,massoumulherde
malandro,nãotemjeito.EstoupedindoaDeusqueotimesuba.Se
eu ganhasse na Quina ou na Mega Sena, comprava o Parque San-
tiago (sede do clube) e aí ia botar o torcedor feliz”.
Aoseu ladoestavaoestudantePedroPinto,18,descendentede
espanhóis e azulino por herança familiar. “Lá em casa, ou era Ga-
lícia ou era Galícia”. Os amigos riem quan-
do ele fala de sua opção futebolística, mas
Pedro não liga e até acha graça. Há tam-
bém os incréus, e para esses não precisa
dizer nada, apenas mostrar a carteirinha
de sócio-torcedor do clube, nº 25. “Contri-
buía com R$ 30, mas o cara que ia lá em
casa buscar o dinheiro morreu”.
Pedroseesgoelaapartidainteiraepede
para que os torcedores também incenti-
vem o time. A troco de nada, algum cínico
diria, porque o Ypiranga vence por 3 a 1,
fazendo os galicianos abandonarem o es-
tádio mais cedo, na companhia de uma
chuvinha fina. Em duas semanas, era a se-
gunda vez que o Galícia, o Demolidor de
Campeões,perdiadoYpiranga.Nojogode
ida, o placar foi de 3 a 2.
Antes mesmo do apito final, mas apro-
veitando a alegria pela vitória já certa, co-
meça a circular pela torcida do Ypiranga
uma urna para arrecadar contribuições e
levar o time de volta “à elite do Futebol
Baiano”, como diz um panfleto intitulado
“ApeloYpiranguense”.Voltandoparacasa,
um torcedor tinha planos mais elevados:
“Ypiranga 2015 rumo a Tóquio”.
DE VOLTAO Campeonato Baiano de 1999 foi uma
confusão só. Na final, o Bahia foi para a
Fonte Nova; o Vitória, para o Barradão. Os
dois times consideraram-se vitoriosos; por
W.O., Ypiranga e Galícia caíram. A decisão
foi parar na Justiça, que resolveu o caso em
2005. Nonato Reis, 49, presidente do Ga-
lícia, lembraqueoregulamentodiziaqueo
time que não comparecesse à partida per-
deria todos os pontos, sendo, portanto, re-
baixado. “Quem seria, se Bahia ou Vitória,
não cabe a mim dizer, um dos dois estaria
na segunda divisão. Mas quem ia fazer
cumprir o regulamento?”. A corda pendeu
para o lado mais fraco, sendo Bahia e Vi-
tória declarados campeões.
Galícia e Ypiranga ficaram no obscuran-
tismo, participando irregularmente da se-
gunda divisão. Em 2006, Nonato resolveu
tomar a frente da “coisa”, seguindo os pas-
sos do pai, que também já tinha presidido
o time. “Vi o Galícia abandonado e resolvi
assumir, ao lado de um grupo de amigos”.
Venceu com candidatura única, sendo re-
eleito até 2012.
Sem os holofotes, ainda que fraqui-
nhos, da primeira divisão, é difícil conse-
guir patrocínio. O Galícia tem apenas um,
de um empreendimento imobiliário, que
cobre a metade dos custos. “O restante, a
gente corre atrás de diretores e amigos. No
sacrifício, vai levando”.
Fundado em 1933 por imigrantes espa-
nhóis, o Galícia teve como primeiro presi-
dente o alfaiate Eduardo Castro de la Igle-
sias, que certamente não imaginava que o
time chegaria à primeira divisão do Brasi-
leirão, o que aconteceu em 1981 e 1983.
Tudobemqueosresultadosnãoforamdos
melhores, mas já é alguma coisa. Hoje, o
Parque Santiago, em Brotas, não vive seus
melhores dias. As arquibancadas estão to-
madas pela grama, falta alambrado no es-
tádio, as acomodações dos alojamentos
para os jogadores são modestas.
Hermógenes Neto, 50, que dirige a As-
sociação Torcedores e Amigos do Galícia
(Atag), conta que cerca de 150 torcedores
contribuem com o clube. Mas nem sempre
a taxa mensal, de R$ 10, é paga. “Quando
o time está bem, a torcida procura. Acho
queoGalíciaprecisadeumaadministração
maismoderna,paraseaproximardomun-
Bernardo e Raul,
pai e filho; e o
casal Milton e
Wanda Santarém
A bandeira do
Ypiranga, time
dez vezes
campeão baiano
ESPORTE CLUBEYPIRANGAFundado em 7 desetembro de 190610 vezes campeãobaiano: 1917,1918,1920, 1921,1925, 1928, 1929,1932, 1939, 1951
FERNANDO VIVAS / AG. A TARDE
24 SALVADOR DOMINGO 22/5/2011 25SALVADOR DOMINGO 22/5/2011
do de negócios que o futebol é hoje”.
Mesmocomo“sofrimento”,eleseman-
tém fiel ao clube. Aos 8 anos, viu o Galícia
ser Campeão Baiano. Estava com o pai no
estádio e para sempre guardou a lembran-
ça. “Quando a gente realmente gosta de
um time, é o mesmo que estar na alma.
Torcer para o Galícia é a segunda melhor
coisa depois da minha família”.
RESISTÊNCIA“Um grêmio do quilate do Ypiranga não
se entrega, não se vende, nem se dá”. A
placa está escondida entre os troféus em-
poeirados do clube, na debilitada sede do
Mais Querido, em Vila Canária. Torcedores
galicianos e aurinegros repetem à exaus-
tão que a decadência de seus times tem
muito a ver com as “negociatas” que por
certoperíodoenfearamofutebolbaiano,o
que sempre pode ser lido como conversa
de perdedor. E a história, bem se sabe, não
costuma ser escrita por eles.
Valdemar Filho, 55, pisou pela primeira
vez na área do clube em 2006, para treinar
o time infantil. Depois, afastou-se. No final
de 2008, participou das reuniões convoca-
das para decidir o futuro de tudo ali; o Ypi-
ranga, um abacaxi que ninguém queria
descascar. Motivado pela história “brilhante” do time e antevendo
seu triste fim, lançou-se candidato a presidente. Concorrendo com
ninguém, venceu. “Minha obrigação é não ser o último presidente
do Ypiranga”.
Militaraposentado,hojepassaosdiascorrendodeumaaudiên-
cia a outra, a ver se resolve as dívidas trabalhistas do time. Quem
também vem alavancando o clube é Emerson Ferretti, ex-ídolo do
Bahia e do Vitória, que aderiu à causa depois de ouvir um “apelo”
emocionado de Valdemar no rádio. Tornou-se vice-presidente.
Comoprestígiodojogador,otimejáconseguiuangariarapoiosde
empresas, mas mantém-se mesmo é com as contribuições de tor-
cedores e dirigentes. O dinheiro, diz Valdemar, é suficiente para
pagar os jogadores em dia, mas pouco para revitalizar a sede –
como o campo não é gramado, os profissionais treinam fora dali.
“Bahia de carteirinha”, ele só não sabe como vai ser se o Ypiranga
subir e os dois times se enfrentarem na primeira divisão. Depois de
muito pensar, responde: “Que vença o melhor”.
Criado em 1906, o Sport Club Ypiranga ficou logo conhecido
comoumtimedepobresenegros,emcontrasteaoselitistasVitória
e Internacional. O último título do clube, em 1951, foi conquistado
no Campo da Graça, apesar de a Fonte Nova ter sido inaugurada
naquele ano. Os dois estádios ruíram, o Ypiranga persiste.
PRESENTEO acordo na família Santarém quando Galícia e Ypiranga en-
frentavam-se no chamado Clássico de Ouro era claro: se Wanda,
ypiranguense, perdesse, tinha que pagar a cerveja. Se o Galícia de
Milton sucumbisse, era ele quem tinha que pagar a Coca-Cola. As-
sim, apesar de rivais, viveram apaziguados.
Pedro Pinto: a
família toda é
Galícia. Josafá
Trindade e a
esposa, que é
tricolor
24 SALVADOR DOMINGO 22/5/2011 25SALVADOR DOMINGO 22/5/2011
do de negócios que o futebol é hoje”.
Mesmocomo“sofrimento”,eleseman-
tém fiel ao clube. Aos 8 anos, viu o Galícia
ser Campeão Baiano. Estava com o pai no
estádio e para sempre guardou a lembran-
ça. “Quando a gente realmente gosta de
um time, é o mesmo que estar na alma.
Torcer para o Galícia é a segunda melhor
coisa depois da minha família”.
RESISTÊNCIA“Um grêmio do quilate do Ypiranga não
se entrega, não se vende, nem se dá”. A
placa está escondida entre os troféus em-
poeirados do clube, na debilitada sede do
Mais Querido, em Vila Canária. Torcedores
galicianos e aurinegros repetem à exaus-
tão que a decadência de seus times tem
muito a ver com as “negociatas” que por
certoperíodoenfearamofutebolbaiano,o
que sempre pode ser lido como conversa
de perdedor. E a história, bem se sabe, não
costuma ser escrita por eles.
Valdemar Filho, 55, pisou pela primeira
vez na área do clube em 2006, para treinar
o time infantil. Depois, afastou-se. No final
de 2008, participou das reuniões convoca-
das para decidir o futuro de tudo ali; o Ypi-
ranga, um abacaxi que ninguém queria
descascar. Motivado pela história “brilhante” do time e antevendo
seu triste fim, lançou-se candidato a presidente. Concorrendo com
ninguém, venceu. “Minha obrigação é não ser o último presidente
do Ypiranga”.
Militaraposentado,hojepassaosdiascorrendodeumaaudiên-
cia a outra, a ver se resolve as dívidas trabalhistas do time. Quem
também vem alavancando o clube é Emerson Ferretti, ex-ídolo do
Bahia e do Vitória, que aderiu à causa depois de ouvir um “apelo”
emocionado de Valdemar no rádio. Tornou-se vice-presidente.
Comoprestígiodojogador,otimejáconseguiuangariarapoiosde
empresas, mas mantém-se mesmo é com as contribuições de tor-
cedores e dirigentes. O dinheiro, diz Valdemar, é suficiente para
pagar os jogadores em dia, mas pouco para revitalizar a sede –
como o campo não é gramado, os profissionais treinam fora dali.
“Bahia de carteirinha”, ele só não sabe como vai ser se o Ypiranga
subir e os dois times se enfrentarem na primeira divisão. Depois de
muito pensar, responde: “Que vença o melhor”.
Criado em 1906, o Sport Club Ypiranga ficou logo conhecido
comoumtimedepobresenegros,emcontrasteaoselitistasVitória
e Internacional. O último título do clube, em 1951, foi conquistado
no Campo da Graça, apesar de a Fonte Nova ter sido inaugurada
naquele ano. Os dois estádios ruíram, o Ypiranga persiste.
PRESENTEO acordo na família Santarém quando Galícia e Ypiranga en-
frentavam-se no chamado Clássico de Ouro era claro: se Wanda,
ypiranguense, perdesse, tinha que pagar a cerveja. Se o Galícia de
Milton sucumbisse, era ele quem tinha que pagar a Coca-Cola. As-
sim, apesar de rivais, viveram apaziguados.
Pedro Pinto: a
família toda é
Galícia. Josafá
Trindade e a
esposa, que é
tricolor
26 SALVADOR DOMINGO 22/5/2011 27SALVADOR DOMINGO 22/5/2011
Milton Santarém diz que nasceu com sangue azul e branco, mas
talvez a história não seja bem assim. É que o avô que o criou era
“Bahia doente”, e ele, só para contrariar, resolveu ser Galícia.
“Quando eu torcia contra ele, levava um puxavão de orelha”. Tam-
bém Wanda e os irmãos contrariavam os pais, botafoguenses, e
não perdiam um só jogo na Fonte Nova. “Tinha um primo que era
gago e se o Ypiranga perdia, aí ele ficava mudo”.
Na Rádio Excelsior, onde trabalhava como técnico, Milton co-
nheceuWanda,então“macacadeauditório”doprogramaSópara
Mulheres, de Pacheco Filho. Logo começaram a namorar. Milton
soube que a rádio estava promovendo um concurso para criar o
hino do Ypiranga e resolveu participar. Aliou-se ao cunhado Walter
Álvares e com ele venceu mais de 15 concorrentes. “O maior pre-
sente que dei a ela foi esse”. Wanda, sorrindo, assente.
Casaram-se e tiveram 10 filhos, dos quais seis são galicianos e
um é ypiranguense. Wanda, 79, está adoentada, sem poder ver
seu time no estádio. Milton, 77, também não vai, para fazê-la com-
panhia. De casa, eles torcem para que seus clubes sobrevivam. «
FERNANDO VIVAS / AG. A TARDE
Campo do
Ypiranga, na Vila
Canária (acima).
Abaixo, detalhe
do Estádio do
Galícia, em
BrotasBIO JORGE VELLOSO
Lembranças quevêm do RecôncavoTexto RONALDO JACOBINA [email protected] FERNANDO VIVAS [email protected]
Desde os 2 anos, Jorge Velloso, 27, gostava de ver a avó, a escritora Mabel Velloso, escrever. Sentava-se ao seu lado e pedia-lhe que
anotasse as palavras que saíam de sua cabeça, acreditando ser poesia. Aos 6 anos, publicou o primeiro livro. Aos 8, repetiu o feito. Calou
por muitos anos até decidir fazer jornalismo. Apaixonado pelas palavras, saciava a inquietação de escritor produzindo textos para jornais.
Quando teve que fazer o projeto de conclusão do curso, resolveu escrever um livro-reportagem. Como sempre esteve ligado às raízes de
sua família, apesar de ter nascido em Salvador, o bisneto de dona Canô foi buscar na memória as lembranças das festas de Santo Amaro
da Purificação, para onde era levado pelas mãos de Mabel. “O Bembé sempre me encantou, desde muito pequeno”, conta. Assim,
mudou-se para a casa da bisavó e mergulhou no universo da celebração que é única no Brasil. O trabalho virou o livro Candomblé de Rua
– O Bembé de Santo Amaro, editado pela Casa das Letras e lançado na semana passada em Salvador e em Santo Amaro. A obra conta a
história da festa, que celebra a libertação dos negros, e vem pincelada por histórias que envolvem sua família e a relação dos Velloso com
afesta.Comprefáciodesuatia-avó,MariaBethânia,edeclaraçõesdabisavóedotio-avôCaetanoVeloso,dequeméassessordeimprensa,
Jorge mostra que a literatura é sua praia. Já Santo Amaro, apesar de morar no Rio de Janeiro, continua sendo a sua casa. «
Tema: Artes Visuais ENTRADA FRANCA
des
enh
oem
risc
o
apresenta
3 de maio a
19 de junho de 2011
APOIO
PROJETO PATROCÍNIO
ARTEAÇÃOARTEAÇÃO
caixa Cultural SalvadorRua Carlos Gomes, 57 – Centro
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Terça a domingo, das 9h às 18h