Futebol - A Organizacao Do Jogo

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    Aos meus filhosFilipa, Francisco e Frederico

    "No existe, pois, e parece no poder existir, uma teoria da organizao

    propriamente dita. Cada desenvolvimento tem o carcter arbitrrio e nico

    da soma de casos de que resulta: possvel descrev-lo, mas no

    compreend-lo, isto reduzi-lo a princpios mais gerais. A organizao

    concebida como um artifcio, no sentido em que no governada por

    nenhuma regra geral, mas resulta de uma "total liberdade criadora",

    estando implcito, neste caso, que o criador do artifcio no seno o

    prprio processo evolutivo..."

    "De uma maneira mais geral, parece que a organizao social prope um

    interessante desafio intelectual. Dispomos de dois conceitos opostos: o de

    organizao "estatstica", criada por comportamentos individuais que no

    implicam uma referncia ao regime global gerado por eles, e o de

    organizao "intencional", que resulta de um clculo feito em funo de um

    fim, de uma avaliao dos meios, de uma estimativa das vantagens e

    desvantagens. Estes dois extremos so opostos, mas no contraditrios,

    situam-se todos, provavelmente, na zona intermdia que os separa. A

    organizao social no exige, pois, uma escolha "metafsica" entre o

    estatstico e o finalizado, mas uma avaliao de sistemas que podem ser

    constitudos por uma populao com actividades localmente finalizadas, mas

    que, enquanto tais, no so forosamente redutveis a um optimum global."

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    II Futebol - a organizao do jogo

    (Enciclopdia Einaudi - Sistema, vol. 26, p.116/129

    Imprensa Nacional - Casa da Moeda)

    ndice de atriasIntroduo

    A natureza do jogo de futebol ........................................................................41.A aproximao regulamentar 5

    2.A aproximao psicossocial 5

    3.A aproximao tcnica 5

    4.A aproximao tctica 6

    O futebol encarado como um sistema aberto .................................................71.Abertura e finalidade 7

    2.Complexidade 8

    3.Tratamento e fluxo 8

    4.Equilbrio dinmico 8

    5.Ordem-desordem 9

    6.Regulao e retroaco 9

    7.Totalidade 9

    8.Multidireccionalidade 9

    A organizao do jogo de futebol .................................................................111.O subsistema cultural 11

    2.O subsistema estrutural 13

    3.O subsistema metodolgico 15

    4.O subsistema relacional 16

    5.O subsistema tcnico-tctico 17

    6.O subsistema tctico-estratgico 19

    Parte 1.O subsistema cultural ..........................................................................211. Conceito de subsistema cultural 23

    2. Natureza do subsistema cultural 231. As finalidades, os valores e as convices 23

    2. Desenvolvimento de um conjunto de condies normativas 273. As Leis do jogo 27

    4. Os diferentes tipos de competio 28

    3. Objectivos do subsistema cultural 28

    4. Nveis do subsistema cultural 28

    Captulo 1. A finalidade, inteno e objectivo .............................................291. A finalidade, inteno e objectivo 31

    1.A finalidade do jogo de futebol 31

    2.A finalidade do jogo e a finalidade da equipa 32

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    II Futebol - a organizao do jogo

    3.Finalidade divergente entre as equipas em confronto 332. A perspectiva dualista da organizao do jogo de futebol 34

    1.A luta permanente pela posse da bola 34

    2.As fases do jogo 361. O processo ofensivo 36, 2. O processo defensivo 36

    Captulo 2. As Leis do jogo ..........................................................................371.A estrutural formal 40

    2.O desenvolvimento da aco de jogo 41

    Captulo 3. A lgica interna do jogo ............................................................451.A lgica do factor regulamentar 47

    1.A variabilidade das situaes de jogo 48

    2.A constante modificao das situaes de jogo 482.

    A lgica do factor espao de jogo 481. No plano regulamentar 49

    2. No plano tctico-estratgico 50

    3. No plano da anlise 52

    3.A lgica do factor tcnico 54

    1. No plano regulamentar 54

    2. No plano tctico-estratgico 54

    3. No plano da anlise 55

    4.A lgica da comunicao motora 56

    1. A comunicao directa 57

    2. A comunicao indirecta 58

    5.A lgica do factor tempo 59

    1. A estrutura temporal da execuo tcnica 59

    2. As relaes entre o factor tempo e espao 603. As relaes entre o factor tempo e o ritmo de jogo 61

    6.A lgica do factor tctico-estratgico 61

    1.A vertente individual 62

    2.A vertente colectiva 641. A perspectiva comunicacional 64, 2. A perspectiva dualista 65

    3.As tarefas tctico-estratgicas fundamentais 66

    Parte 2. O subsistema estrutural .......................................................................691. Conceito de subsistema estrutural 71

    2. A natureza do subsistema estrutural 71

    3. A importncia do subsistemas estrutural 72

    4. Objectivos do subsistema estrutural 735. As linhas de fora do subsistema estrutural 74

    1. Ocupao dinmica de uma parte do terreno de jogo 74

    2. Aco sobre a bola 74

    3. Relao com os companheiros 74

    4. Intercepo das ligaes dos adversrios 75

    5. Constante adaptao variabilidade das situaes de jogo 75

    6. O subsistema estrutural de base da equipa 75

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    IV Futebol - a organizao do jogo

    1. Conceito de subsistema metodolgico 1212. Natureza do subsistema metodolgico 121

    3. Objectivos do subsistema metodolgico 121

    4. Elementos de base do subsistema metodolgico 1221. Fundamento 122

    2. Finalidade 122

    3. Coordenao 123

    4. Simplicidade 123

    5. Balano 123

    6. Flexibilidade 123

    7. Surpresa 124

    8. Adaptao 124

    9. Exequilibidade 124

    5. Os nveis do subsistema metodolgico 125

    6. As relaes entre o subsistema estrutural e metodolgico 125Captulo 6. Os mtodos de jogo ofensivo ...................................................127

    1. O processo ofensivo 129

    1.Conceito de processo ofensivo 129

    2.Objectivos do processo ofensivo 1291. Progresso/finalizao 130, 2. Manuteno da posse da bola 130

    3.Vantagens/desvantagens do processo ofensivo 131

    4.Etapas do processo ofensivo 1311. A construo 131, 2. A criao de situaes de finalizao 132, 3. A finalizao 132

    5.Mtodos do processo ofensivo 1331. O contra- ataque 134

    1. Caracterizao 134, 2. Aspectos favorveis 134, 3. Aspectos desfavorveis 135

    2. O ataque rpido 136

    3. O ataque posicional 1361. Caracterizao 136, 2. Aspectos favorveis 137, 3. Aspectos desfavorveis 137

    4. As diferentes formas de organizao do ataque 138

    5. O jogo directo e o jogo indirecto 139

    6. Aspectos fundamentais dos mtodos de jogo ofensivos 139

    1. O equilbrio ofensivo 139

    2. A velocidade de transio 140

    3. O relanamento do processo ofensivo 140

    4. Deslocamentos ofensivos em largura e profundidade 141

    5. A circulao tctica 141

    6.Anlises do processo ofensivo 1421. Nmero de processos ofensivos por jogo 142

    2. Tempo de jogo e o tempo efectivo de jogo 143

    3. A durao dos processos ofensivos 144

    4. Nmero e durao das interrupes de jogo 145

    5. As intervenes dos jogadores sobre a bola 146

    6. O trajecto da bola durante os processos ofensivos 147

    7. O relanamento do processo ofensivos 148

    8. As fases do processo ofensivo 148

    9. A perda da posse da bola 150

    10. Os mtodos de jogo 152

    2.Estalelecimento de um tempo e de um ritmo de jogo 153

    1.O tempo de jogo 154

    2.O ritmo de jogo 156

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    VI Futebol - a organizao do jogo

    4. Os objectivos do subsistema relacional 1965. As caractersticas do subsistema relacional 196

    6. Nveis do subsistema relacional 196

    7. Os elementos que mais influenciam a qualidade do subsistema relacional 197

    8. As relaes entre o subsistema estrutural e o relacional 197

    Captulo 8. Os princpios do jogo ofensivo ..............................................199Princpios gerais do jogo de futebol 202

    1.A rotura da organizao 202

    2.A estabilidade da organizao 202

    3.A interveno no centro do jogo 203

    Princpios especficos do jogo ofensivo 2031. A penetrao 204

    1. Ter iniciativa 205

    2. Simular a sua verdadeira inteno tctica 206

    3. Correcta percepo da situao de jogo 206

    4. Esperar pelo momento mais oportuno para desenvolver o ataque 206

    5. Variar o ngulo e o momento do ataque 207

    6. Orientar os comportamentos tcnico-tcticos em direco baliza adversria 207

    7. Acelerao do processo ofensivo 2088. Mudana de ritmo de execuo tcnico-tctica 208

    9. As diferentes aces tcnico-tcticas que objectivam o princpio da penetrao 209

    10. Continuidade da aco de jogo 211

    1. Anlise das respostas tcticas do jogador em penetrao 212

    1. Antes do jogador intervir sobre a bola 212

    2. Durante a sua interveno sobre a bola 213

    3. As relaes estabelecidas entre a misso e o sector do terreno de jogo 215

    4. Anlise das relaes estabelecidas entre os jogadores e a bola 216

    5. O tempo individual de posse de bola e o nmero de toques por interveno 216

    6. A intensidade e a distncia percorridas durante a interveno sobre a bola 219

    2. A cobertura ofensiva 2221. A distncia de cobertura 223

    1. A zona do campo onde se verifica a situao de jogo 223

    2. O estado das superfcies do terreno de jogo e das condies climatricas 224

    3. A distncia estabelecida pelo jogador em cobertura defensiva em relao ao seu

    companheiro em conteno 224

    4. A velocidade de execuo tcnico-tctica do companheiro de posse da bola 225

    2. O ngulo de cobertura 225

    3. A comunicao 226

    1. Anlise dos contextos de cooperao ao companheiro de posse de bola 227

    3. A mobilidade 2331. Criao de espaos livres 233

    2. Desequilibrar o centro do jogo defensivo 233

    3. Tornar o jogo ofensivo imprevisvel (do ponto de vista defensivo) 234

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    ndice VII

    4. Assumir outras funes dentro do centro do jogo ofensivo 2355. Deslocar-se para fora do centro do jogo ofensivo 235

    1. Anlise das respostas tcticas do jogador depois de intervir sobre a bola 236

    2. Anlise integrada das respostas tcticas antes, durante e depois 237

    Captulo 9. Os princpios do jogo defensivo ............................................241

    Princpios especficos do jogo defensivo 2431. A conteno 243

    1. Manter-se entre a bola e a baliza 244

    2. A velocidade e o ngulo de aproximao ao adversrio 245

    3. Posicionamento de base 245

    4. Distncia entre o defesa e o atacante 247

    5. Retardar a aco do atacante de posse de bola 249

    6. Observar a bola - ser paciente 2497. Ter a iniciativa 250

    8. Manter o jogo ofensivo em frente dos defesas 251

    9. Determinao 251

    10. Continuidade da aco de jogo 251

    11. "Aclarar" a defesa 252

    1. Anlise do princpio da conteno ao atacante de posse de bola 253

    2. Anlise das infraces s leis do jogo 255

    2. A cobertura defensiva 2561. A distncia de cobertura 256

    1. A zona do campo onde se verifica a situao de jogo 256

    2. A capacidade tcnico-tctica do jogador adversrio 257

    3. A velocidade dos defesas 257

    4. O estado das superfcies do terreno de jogo e as condies climatricas 257

    5. Do deslocamento do jogador de cobertura ofensiva 2572. O ngulo de cobertura 258

    3. A comunicao 259

    1. Anlise da aco de cobertura defensiva 260

    3. O equilbrio 2611. A estabilidade do centro do jogo defensivo 261

    2. Criar condies desfavorveis aos atacantes 261

    3. Tornar o jogo ofensivo previsvel do ponto de vista defensivo 262

    4. Assumir outras funes dentro do centro de jogo defensivo 262

    4. Concluses 263

    Parte 5. O subsistema tcnico-tctico .............................................................2671. Conceito de subsistema tcnico-tctico 269

    2. A natureza do subsistema tcnico-tctico 269

    1. Ser orientado exigindo a participao da conscincia 2692. Exprime um pensamento produtor 269

    3. Objectivos do subsistema tcnico-tctico 270

    4. Importncia do subsistema tcnico-tctico 270

    5. Nveis do subsistema tcnico-tctico 270

    Captulo 10. As aces individuais ............................................................2711. Conceito 273

    2. Objectivos 273

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    VIII Futebol - a organizao do jogo

    3. As superfcies corporais de contacto 2734. Classificao 274

    As aces individuais ofensivas 2741.Recepo da bola 274

    1. Definio 274, 2. Objectivo 274, 3. Execuo 275, 4. Anlises 276

    2.Conduo da bola 2761. Definio 276, 2. Objectivo 276, 3. Execuo 276

    3.Proteco da bola 2771. Definio 277, 2. Objectivo 277, 3. Execuo 278

    4.Drible-Finta 2781. Definio 278, 2. Objectivo 278, 3. Execuo 278, 4. Anlises 279

    5.Simulao 2791. Definio 279, 2. Objectivo 279, 3. Anlises 279

    6.Passe 2801. Definio 280, 2. Objectivo 280, 3. Execuo 280, 4. Anlises 281

    7.Lanamento da linha lateral 2841. Definio 284, 2. Objectivo 284, 3. Execuo 284

    8.Cabeceamento 2841. Definio 284, 2. Objectivo 284, 3. Execuo 284, 4. Anlises 285

    9.Remate 2861. Definio 286, 2. Objectivo 286, 3. Execuo 286, 4. Anlises 287

    10.Tcnica do guarda-redes 2931. Definio 293, 2. Objectivo 293, 3. Execuo 293

    As aces individuais defensivas 2941.Desarme 294

    1. Definio 294, 2. Objectivo 294, 3. Execuo 294, 4. Anlises 294

    2.Intercepo 2951. Definio 295, 2. Objectivo 295, 3. Execuo 295, 4. Anlises 295

    3.Carga 2951. Definio 295, 2. Objectivo 295, 3. Execuo 295

    4.Tcnica do guarda-redes 2961. Definio 296, 2. Objectivo 296, 3. Execuo 296, 4. Anlises 296

    Captulo 11. As aces colectivas ...............................................................297As aces colectivas ofensivas 300

    1. Coerncia de movimentao da equipa 300

    1.Os deslocamentos ofensivos 3001.Definio 300, 2.Objectivos 300, 3.Classificao 3024.Meios 305, 5.Princpios 306, 6.Anlises 308

    2.Compensaes - desdobramentos 3091.Definio 309, 2.Objectivos 309, 3.Meios 310, 4.Princpios 311

    2. Resoluo temporria das situaes de jogo 312

    1.Combinaes tcticas 3121.Definio 312, 2.Objectivos 312, 3.Classificao 3124.Meios 313, 5.Princpios 314, 6.Anlises 314

    2.Cortinas/crans 3151.Definio 315, 2.Objectivos 315, 3.Meios 3164.Princpios 317, 5.Anlises 317

    3.Temporizao 318

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    ndice IX

    1.Definio 318, 2.Objectivos 318, 3.Meios 3194.Princpios 320, 5. Anlises 320

    3. Solues estereotipadas das partes fixas do jogo 321

    1.Os esquemas tcticos ofensivos 3211.Definio 321, 2.Objectivos 321, 3.Meios 322, 4.Princpios 324

    1.Lanamento da linha lateral 325, 2.Livres directos ou indirectos 3263.Grande penalidade 328, 4.Pontap de canto 328

    As aces colectivas defensivas 3291. Coerncia de movimentao da equipa 329

    1.Os deslocamentos defensivos 3291.Definio 329, 2.Objectivos 329, 3.Classificao 3304.Meios 332, 5.Princpios 333

    2.Compensaes - desdobramentos 334

    1.Definio 334, 2.Objectivos 334, 3.Meios 335, 4.Princpios 3352. Resoluo temporria das situaes de jogo 336

    1.Dobras 3361.Definio 336, 2.Objectivos 336, 3.Meios 336, 4.Princpios 336

    2.Temporizao 3371.Definio 337, 2.Objectivos 337, 3.Meios 338, 4.Princpios 338

    3.Cortinas/crans 3391.Definio 339, 2.Objectivos 339, 3.Meios 339, 4.Princpios 339

    3. Solues estereotipadas das partes fixas do jogo 340

    1.Os esquemas tcticos defensivos 3401.Definio 340, 2.Objectivos 340, 3.Meios 341, 4.Princpios 342

    1.Nos livres directos ou indirectos 342, 2.Nos pontaps de canto 3453.Nos lanamentos de linha lateral 346, 4.Na grande penalidade 347

    Parte 6. O subsistema tctico-estratgico .......................................................3491. Conceito de planificao 3522. Natureza da planificao 352

    3. Objectivos da planificao 352

    4. A importncia da planificao 353

    5. Nveis de planificao 353

    Captulo 12. A planificao conceptual ......................................................3551. Conceito de planificao conceptual 357

    2. Natureza da planificao conceptual 357

    3. Objectivos da planificao conceptual 358

    4. Etapas da planificao conceptual 3591. Descrio e anlise da situao organizacional da equipa 360

    1. O subsistema estrutural 360

    2. O subsistema metodolgico 361

    3. O subsistema relacional 367

    4. O subsistema tcnico-tctico 371

    5. Avaliao da poca desportiva anterior 378

    2. Descrio do modelo de organizao da equipa no futuro 3791.Definio de modelo 379

    1. A natureza do modelo de jogo 380

    2. Objectivos do modelo de jogo 381

    3. Bases para a construo do modelo de jogo 382

    4. O responsvel pela construo do modelo de jogo 382

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    X Futebol - a organizao do jogo

    5. O factor referencial do modelo de jogo 3836. As regras fundamentais do modelo de jogo 384

    7. Tendncias evolutivas do modelo de jogo 384

    8. Conceptualizao de um modelo de jogo 387

    1. "A posse ou no posse de bola" 387

    1. A Resoluo das situaes de jogo com pleno sentido colectivo 388

    1. A entreajuda estabelecida pelos jogadores 389

    2. A aco activa (ininterrupta) dos jogadores 390

    2. Equilbrio entre as fases ofensivas e defensivas 392

    1. Universalidade versus especializao 393

    1. O elevado grau de capacidade fsica dos jogadores 394

    2. As qualidades psquicas e intelectuais 397

    3. Criatividade improvisao 397

    2.O modelo de jogo no domnio do subsistema estrutural 398

    1. A racionalizao do espao de jogo 3992. Estabelecimento de um conjunto de misses tcticas especficas 400

    3. Os coordenadores de jogo 401

    3. O modelo de jogo no domnio do subsistema metodolgico 4011. O mtodo de jogo ofensivo 401

    1. Simplificao do processo ofensivo 404, 2. Impor um tempo e um ritmo de

    jogo 404

    2. O mtodo de jogo defensivo 405

    1. Tirar parte da iniciativa ao ataque 408, 2. Ser construtiva 409

    4.O modelo de jogo no domnio do subsistema relacional 4091. As bases da construo dos princpios do jogo 410

    2. Estabelecimento de uma "linguagem" tctica comum 412

    3. Princpios gerais do jogo de futebol 412

    1. A rotura da organizao da equipa adversria 412

    2. A estabilidade da organizao da prpria equipa 4123. A interveno no centro do jogo 413

    4. Princpios especficos do jogo de futebol 413

    1. Durante o processo ofensivo 413

    1. A penetrao 413, 2. A cobertura ofensiva 414, 3. A mobilidade 414

    2. Durante o processo ofensivo 415

    1. A conteno 415, 2. A cobertura defensiva 415, 3. O equilbrio 416

    5.O modelo de jogo no domnio do subsistema tcnico-tctico 4161. Elevada velocidade de execuo 416

    2. Adequar a soluo motora situao de jogo 417

    3. Elevada eficcia na execuo 418

    4. Aperfeioamento dos esquemas tcticos durante as partes fixas do jogo 418

    6.Formao da equipa para a nova poca desportiva 4191. Nmero de jogadores que formam a equipa 420

    2. Bases para a escolha dos jogadores que constituiram a equipa 420

    7.Determinao dos objectivos da prxima poca desportiva 4213. A elaborao de programas de aco 425

    1. Reproduzir o modelo de jogo de equipa 425

    2. Controlar o processo de evoluo individual e colectiva 426

    3. Definir realisticamente objectivos intermdios 426

    Captulo 13. A planificao estratgica ......................................................4271. Conceito de planificao estratgica 429

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    ndice XI

    2. Natureza da planificao estratgica 4293. Objectivos da planificao estratgica 430

    4. Meios da planificao estratgica 4301. Gerais 430, 2. Especficos 431

    5. Princpios da planificao estratgica 4321. Gerais 432, 2. Especficos 432

    6. Limites da planificao estratgica 433

    7. Etapas da planificao estratgica 4341. Recolha de dados 434

    1. O sistema de jogo 435

    2. O mtodo de jogo 436

    3. O ritmo e tempo de jogo 438

    4. Os esquemas tcticos 439

    5. As particularidades dos outros factores de treino 439

    6. A qualidade dos jogadores adversrios 4407. A qualidade do treinador adversrio na conduo da equipa 441

    2. A comparao das foras 4423. Elaborao do plano tctico-estratgico 443

    1.A orientao geral do jogo colectivo 443

    2.A adaptao dos mtodos de jogo da equipa em funo das particularidades da

    expresso tctica adversria 444

    3.Planear aces tcticas diferentes de forma a surpreender o adversrio 445

    4.Constituio da equipa 446

    5.Distribuio das misses tcticas 4484. Reunio de reconhecimento da equipa adversria 450

    1.Importncia da reunio 450

    2.Objectivos da reunio 450

    3.Meios da reunio 4504.Princpios de orientao da reunio 451

    5.Metodologia 451

    5. Elaborao do programa de preparao para o ciclo de treino 4521. Nmero, durao, gradao e objectivos fundamentais das sesses de treino

    durante um microciclo competitivo 452

    2. A construo dos exerccios de treino para o microciclo de preparao 457

    1.Bases de construo dos exerccios para o ciclo de treino 458

    1.As caractersticas dos exerccios de treino 4581. Especificidade 458, 2. Identidade 459

    2.A natureza dos exerccios de treino 4621. O recurso informacional 463, 2. O recurso energtico 464

    3. O recurso afectivo 465

    3.A estrutura dos exerccios de treino 4671. O objectivo 467, 2. O contedo 468, 3. A forma 468

    4. O nvel de performance 468

    4.As componentes estruturais do exerccio de treino 469

    1.No plano fisiolgico 4691. A durao 470, 2. O volume 470, 3. A intensidade 471

    4. A densidade 471, 5. A frequncia 472

    2.No plano tcnico-tctico 4721. O nmero 472, 2. O espao 473, 3. O tempo 473

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    XII Futebol - a organizao do jogo

    4. A complexidade 4742.Bases de aplicao dos exerccios para o ciclo de treino 476

    1.Os princpios biolgicos 4761. Princpio da sobrecarga 476

    2. Princpio da especificidade 476

    3. Princpio da reversibilidade 477

    4. Princpio da heterocronia 477

    2. Os princpios metodolgicos 4781. Princpio da relao ptima entre o exerccio e o repouso 478

    2. Princpio da continuidade da aplicao do exerccio de treino 481

    3. Princpio da progressividade do exerccio de treino 481

    4. Princpio da ciclicidade do exerccio de treino 482

    5. Princpio da individualizao do exerccio de treino 483

    6. Princpio da multilateralidade 483

    3. Os princpios pedaggicos 4841. Princpio da actividade consciente 484

    2. Princpio da sistematizao 484

    3. Princpio da actividade apreensvel 485

    4. Princpio da estabilidade das capacidades do jogador 485

    3. As bases da eficcia do exerccio de treino 485

    1. Preocupao de unidade do exerccio de treino 4851. Unidade da actividade 485

    2. Unidade do jogador 486

    3. Unidade da equipa 486

    2. Seleccionar correctamente o exerccio de treino 486

    3. Corrigir correctamente o exerccio de treino 488

    4. Motivar correctamente para o exerccio de treino 490

    5. Indivisibilidade dos factores de treino - a modelao 492

    1. A objectividade 4922. A modelao 492

    1. Tipificao 493, 2. Standardizao 493

    6. Experimentao do plano tctico-estratgico 495

    7. A preparao da equipa nas horas que antecedem o jogo 4961. A concentrao para o jogo 496

    2. O ltimo treino da equipa antes do jogo 496

    3. Reunio de preparao para o jogo 497

    1. Importncia da reunio 497

    2. Objectivos da reunio 497

    3. Meios (condicionantes favorveis) da reunio 497

    4. Princpios de orientao da reunio 498

    5. Metodologia da reunio 5001. Organizativos 500, 2. Tctico-estratgicos 501

    4. Aquecimento para o jogo 5041. Objectivos 504, 2. Efeitos 504, 3. Aspectos metodolgicos 505

    4. Composio do aquecimento 505

    5. As ltimas palavras momentos antes do jogo 506

    6.A escolha do campo ou do pontap de sada 506

    7. O regresso calma 507

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    ndice XIII

    8. Reunio de anlise do jogo 5071. Importncia da reunio 507

    2. Objectivos da reunio 508

    3. Meios (condicionantes favorveis) da reunio 508

    4. Princpios de orientao da reunio 509

    5. Metodologia da reunio 5111. Organizativos 511, 2. Tctico-estratgicos 511

    Da planificao estratgica planificao tctica 512

    Captulo 14. A planificao tctica ............................................................5131. Conceito de planificao tctica 515

    2. Natureza da planificao tctica 5151. Concepo unitria para o desenrolar do jogo 515

    2. Inseparabilidade da aco tcnica das intenes tcticas 5163. Maximizao e valorizao das particularidades dos jogadores 516

    4. Confrontao das expresses tcticas da equipa quando em confronto 516

    5. Carcter aplicativo e operativo da planificao tctica 517

    3. Objectivos da planificao tctica 517

    4. Meios da planificao tctica 517

    5. Limites da planificao tctica 518

    6. O responsvel pela orientao da planificao tctica 519

    7. Etapas da planificao tctica 5201. Direco durante o jogo 520

    1. A sucesso, o momento e as circunstncias em que os golos acontecem 523

    2. As leses que sucedem durante a partida 524

    3. As substituies como meio operacional da planificao tctica 524

    4. A aco do juiz da partida 527

    5. A equipa adversria 5282. Direco da equipa durante o intervalo do jogo 528

    1. Atitudes aps o apito do rbitro 529

    2. Relaxar/tranquilizar 529

    3. Vigilncia mdica 529

    4. Preparao tcnico-tctica para a segunda parte 530

    3. Aces a ter em conta logo aps o terminus do jogo 531Referncias bibliogrficas .................................................................................533ndice de figuras, grficos e quadros ..................................................................536

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    INTRO UO

    SUMRIO

    1. A natureza do jogo de futebol1. A aproximao regulamentar2. A aproximao psicossocial3. A aproximao tcnica4. A aproximao tctica

    2. O futebol encarado como um sistema aberto1. Abertura e finalidade2. Complexidade3. Tratamento e fluxo4. Equilbrio dinmico5. Ordem-desordem6. Regulao e retroaco7. Totalidade8. Multidireccionalidade

    3. A organizao do jogo de futebol1. O subsistema cultural2. O subsistema estrutural3. O subsistema metodolgico4. O subsistema relacional5. O subsistema tcnico-tctico6. O subsistema tctico-estratgico

    A natureza do jogo de futebol fundamenta-se no seu carcter "ldico,agonstico e processual, em que os 11 jogadores que constituem asduas equipas, encontram-se numa relao de adversidade tpica nohostil - denominada de rivalidade desportiva" (Teodorescu, 1983). Asequipas em confronto directo formam duas entidades colectivas queplanificam e coordenam as suas aces para agir uma contra a outra,cujos comportamentos so determinados pelas relaes antagnicas deataque/defesa. Representam assim, neste contexto, uma forma deactividade social, com variadas manifestaes especficas, cujocontedo constam de aces e interaces. A cooperao entre osvrios elementos, efectuado em condies de luta com adversrios(oposio), os quais por sua vez coordenam as suas aces com vista desorganizao dessa cooperao.

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    2 Futebol - da organizao do jogo eficincia

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    Introduo 3

    I N T R O U ON T R O U O

    Dentro do contexto da nossa civilizao, o desporto considerado por inmerosautores como um fenmeno que est profundamente associado aos aspectossociais ( um facto institucional que tem a sua prpria organizao, as suas regras,as suas infra e super-estruturas) e aos aspectos culturais (considerado como umprocesso de actualizao de valores culturais, morais, estticos, militares esociais), os quais derivam fundamentalmente da sua popularidade e da suauniversalidade. Todavia, embora as opinies divirjam no que diz respeito aosistema de valores sobre os quais este fenmeno assenta, a sua importncia nosofre qualquer tipo de contestao.

    O jogo de futebol na actualidade , indiscutivelmente a modalidade desportiva demaior impacto na sociedade, sendo resultado da sua popularidade e da suauniversalidade. Todavia, importante contrastar que a literatura do futebol, querao nvel da bibliografia, quer ao nvel de estudos de investigao aplicada, noocupa um lugar to primordial dentro do contexto desportivo, como o que conferido ao prprio jogo. Esta constatao deve-se fundamentalmente ao abismodemasiado profundo entre a realidade actual do jogo e as fontes que procuramexplicar a sua lgica interna.

    Neste sentido, pretendemos dar "alma" ao "corpo" da nossa actividadeprofissional quotidiana, que se exprime num circuito que comea na observao

    de um facto, passa pela sua identificao, reflexo, sistematizao eexperimentao, levando-nos imediatamente a uma nova observao, paraestabelecer a que nvel quantitativo e qualitativo interviemos sobre a realidadedesse facto. Durante este "trajecto", perfilhamos fundamentalmente duas atitudesprogramticas: por um lado no procurar, embora reconhecendo as nossasambies legtimas, esconder as nossas limitaes reais e, por outro, como emtodas as reas do conhecimento, o desvendar de um mistrio hoje certamente o

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    4 Futebol - a organizao do jogo

    dimensionamento no futuro de outros problemas cada vez mais difceis deresolver.

    Uma teoria geral, embora no deva ser encarada como um dogma inatingvel,deve consubstanciar um sistema explicativo que cumpre provisoriamente (namedida em que este deve acompanhar as perspectivas das diferentes correntes deevoluo do pensamento) e de uma forma o mais eficiente possvel, procurandoabarcar o mximo de factos observados dentro do domnio da realidade que lhe prpria. Com efeito, a teoria representa um conjunto de conhecimentosorganizados num sistema lgico e coerente, mas simultneamente aberto,dinmico, complexo,adaptativo e dentro de certos limites antecipativo, cuja funo consiste nadescrio, explicao, sistematizao dos fenmenos observados na prtica (e dassuas leis) dos jogos desportivos em geral e de cada jogo desportivoseparadamente, considerados como domnios da realidade. Adicionalmentesublinhamos que "a teoria tem um carcter activo e no um carctercontemplativo, contribuindo assim para o aperfeioamento da prtica e da suametodologia, entendidas como parte integrante da composio dos jogosdesportivos" (Teodorescu, 1983).

    Basicamente, o futebol um jogo desportivo colectivo, no qual os intervenientes

    (jogadores) esto agrupados em 2 equipas numa relao de adversidade -rivalidade desportiva, numa luta incessante pela conquista da posse da bola(respeitando as leis do jogo), com o objectivo de a introduzir o maior nmero devezes na baliza adversria e evit-los na sua prpria baliza, com vista obtenoda vitria. Para se atingir esta finalidade, o futebol possui uma dinmica prpria,um contedo que podemos definir como essncia do jogo. Esta essncia moldadapelas leis do jogo, d origem a uma srie de atitudes e comportamentos tcnico-tcticos mais ou menos estereotipados. Concretamente, o jogo que determina operfil das exigncias impostas aos jogadores, originando assim um quadroexperimental especfico. Isto vlido, tanto para as aces motoras em si, e o seuconsequente desempenho, como para as solicitaes de ordem psquica e a sua

    exteriorizao em termos de resposta.

    A natureza do jogo

    A natureza do jogo de futebol fundamenta-se no seu carcter "ldico, agonstico eprocessual, em que os 11 jogadores que constituem as duas equipas, encontram-senuma relao de adversidade tpica no hostil - denominada de rivalidade

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    Introduo - a natureza do jogo 5

    desportiva" (Teodorescu, 1983). As equipas em confronto directo formam duasentidades colectivas que planificam e coordenam as suas aces para agir umacontra a outra, cujos comportamentos so determinados pelas relaes antagnicasde ataque/defesa. Representam assim, neste contexto, uma forma de actividadesocial, com variadas manifestaes especficas, cujo contedo consta de aces einteraces. A cooperao entre os vrios elementos efectuada em condies deluta com adversrios (oposio), os quais por sua vez coordenam as suas acescom vista desorganizao dessa cooperao.

    Os desportos colectivos, incluindo naturalmente o jogo de futebol, podem serencarados sob diferentes perspectivas que evidenciam diferentes aspectosfundamentais para a sua compreenso e caracterizao. Neste sentido,analisaremos quatro dessas aproximaes: regulamentar, psicossocial, tcnico etctico.

    A aproximao regulamentar

    Na anlise do subsistema cultural da organizao do jogo iremosdebruarmo-nos de uma forma mais profunda sobre as implicaes do factorregulamentar na lgica interna dos jogos desportivos colectivos. Do facto, e deforma sucinta podemos assinalar que o regulamento normaliza as condutas dos

    jogadores, estabelecendo as condies de confrontao quer individual, quercolectiva e que em ltima anlise, determina o sentido e o esprito do jogo.

    A aproximao psicossocial

    A partir de um outro ponto de vista, os jogos desportivos colectivos podem serencarados como situaes de explorao dinmica de grupos. Neste caso, o

    jogo cria as condies de confrontao entre dois grupos com objectivosperfeitamente antagnicos, os quais se consubstanciam como um "campo deforas que tendem a manter-se em equilbrio" (Lewin, 1967).

    Os diferentes posicionamentos dos jogadores traduzem-se por relaes deforas, e a mudana do posicionamento equivale mudana de estrutura. Atctica adoptada durante a competio resulta em grande parte de uma anlisedestes jogos de fora, escolhendo a melhor articulao estratgica que

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    6 Futebol - a organizao do jogo

    proporcione o rompimento do equilbrio da estrutura adversria e retirandopara si a vantagem que advm deste facto. Nestas circunstncias, as constantesmudanas posicionais dos jogadores determinam consequentemente umaenorme diversidade de situaes momentneas de jogo, que por si estabelecema existncia de um envolvimento continuamente instvel com carcter deincerteza, reforado pelo facto de a iniciativa do jogo mudar em funo daequipa ter a posse da bola (processo ofensivo) ou no ter a posse da bola(processo defensivo).

    . A aproximao tcnica

    Os modelos de execuo tcnica utilizados durante as situaes de jogoestabelecem-se como um dos parmetros bsicos que configuram edeterminam a sua resoluo. Poulton (1957), e Knapp (1971), em funo dashabilidades motoras propem a sua classificao em duas grandes categorias:

    "habilidades fechadas": em que a execuo tcnica realizada numcontexto (envolvimento) relativamente estvel; e,

    "habilidades abertas": em que a execuo tcnica realizada face a umagrande variabilidade do contexto da situao do jogo. Com efeito, odesempenho motor dos jogadores est estreitamente relacionado com acapacidade destes em responder de forma adaptada e eficaz s constantes e

    diversas mudanas que se produzem no envolvimento. Devido a este factovrios autores, tais como Vanek e Cratty (1972) definem os jogos desportoscolectivos como desportos de situao.

    Qualquer uma destas "habilidades" - fechadas e abertas, podem ser observadasno jogo de futebol, enquanto as primeiras se verificam fundamentalmente nasreposies de bola em jogo (livres, pontaps de canto, de sada, de baliza, etc.),as segundas so mais utilizadas em todas as outras situaes de jogo.

    A aproximao tctica

    Ao observarmos o jogo de futebol imediatamente chegamos concluso doelevado grau de complexidade que os comportamentos tcnico-tcticos dos

    jogadores em si encerram. Executar uma aco correcta, no momento exacto,empregando a fora necessria, imprimindo a velocidade ideal, antecipando asaces dos adversrios, e tornando compreensvel a sua aco em relao aoscompanheiros, so alguns dos elementos que qualquer jogador deve ter emconta antes de tomar uma deciso. Com efeito, o comportamento dos jogadores

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    Introduo - a natureza do jogo 7

    s compreensvel considerando-os como indivduos que tm que dar umaresposta eficaz s vrias situaes momentneas de jogo, porquanto estes soobrigados a adaptar-se rpida e continuamente a si prprios, s necessidades daequipa e aos problemas postos pela equipa adversria.

    nestas circunstncias que os jogos desportivos colectivos so consideradospor diversos autores de desportos de preponderncia tctica (Teodorescu, 1984,Schnabell, 1988), que consubstanciam a necessidade de resoluo dassituaes de jogo, isto , problemas tcticos continuamente variveis quederivam do grande nmero de adversrios e companheiros com objectivosopostos, atravs do factor tcnico-coordenativo.

    Isto significa, que a resoluo de qualquer situao de jogo consubstancia-senuma dupla dependncia:

    da capacidade tcnico-coordenativa do jogador: "se uma situao de jogodeterminar uma mudana do ngulo de ataque que o jogador no poderealizar, necessrio que este escolha uma outra soluo que no ser nalgica das opes tcticas mais eficazes, mas que exprimir aspossibilidades de resposta desse jogador nesse momento" (Grehaigne,1992); e,

    da opo tctico-estratgica tomada pelo jogador: "na qual procura

    surpreender os adversrios executando uma resposta imprevisvel dentro dasopes lgicas da situao por forma que resulte na rotura da organizaoda equipa adversria" (Grehaigne, 1992).

    A tctica no significa somente uma organizao em funo do espao de jogoe das misses especficas dos jogadores, esta pressupe, em ltima anlise, aexistncia de uma concepo unitria para o desenrolar do jogo ou, por outraspalavras, o tema geral sobre o qual os jogadores concordam e que lhes permiteestabelecer uma "linguagem comum". Neste sentido, a tctica impe diferentesatitudes e comportamentos consubstanciados num conjunto de combinaes,cujos mecanismos assumem um carcter de uma disposio universalmente

    vlida, edificada sobre as particularidades do envolvimento (meio). Logo, talcomo refere Barth (1978), "a inteligncia do jogo dever permitir umpensamento lgico, flexvel, original e crtico garantindo a execuo ptimadas habilidades tcticas e permitindo modificaes autnomas da acosegundo as circunstncias".

    Concluindo, as diferentes aproximaes analisadas complementam-se umas soutras estabelecendo um perfil bsico, o qual Grehaigne (1992) resume da

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    8 Futebol - a organizao do jogo

    seguinte forma "num quadro em que o objectivo a vitria que traduzidopelo maior nmero de golos conseguidos por das equipas, o jogo indissocivel dum quadro regulamentar consubstanciando:

    uma relao de foras: um grupo de jogadores confrontando-se com umoutro grupo de jogadores que disputam a posse da bola;

    uma escolha da habilidade sensrio-motora: os jogadores devem ter umrepertrio de respostas motoras sua disposio para resolver as situaesmomentneas de jogo; e,

    uma estratgia individual e colectiva: decises implcitas ou explcitastomadas em comum, a partir de reaferncias comuns com o objectivo devencer o adversrio".

    g O futebol encarado como um sistema aberto g

    O futebol contm em si uma enorme complexidade secundada por numerosasvariveis, devendo ser encarado como um sistema aberto - conjunto de elementosem mtua interaco dinmica, possuindo uma estrutura que consubstancia vriascaractersticas importantes que iremos resumidamente analisar: abertura efinalidade, complexidade, tratamento e fluxo, equilbrio dinmico, ordem-

    desordem, regulao e retroaco, totalidade e multidireccionalidade.

    r Abertura e finalidade

    A condio de sistema do jogo de futebol liga-o indubitavelmente dinmicado envolvimento (meio) em que este est inserido, quer no plano dasinstituies desportiva (federao, associao, etc.), quer no plano social, querno plano poltico. Apresenta igualmente uma finalidade pr-estabelecida para aqual todos os jogadores da equipa direccionam as suas atitudes ecomportamentos tcnico-tcticos, interagindo-os com as atitudes ecomportamentos dos seus companheiros (cooperao).

    9 Complexidade

    O jogo de futebol encarado como um sistema aberto e com uma finalidadeconcreta, deve ser estudado e compreendido, enquadrando a plenitude da suacomplexidade, a qual deriva do grande nmero de elementos (jogadores) commisses tcticas especficas e especializadas (por exemplo: guarda-redes,

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    Introduo - o futebol encarado como um sistema aberto 9

    defesas, mdios, avanados), e capacidades tcnicas, tcticas, fsicas epsicolgicas diferentes, que devero ser interligadas (pois, a interaco dos

    jogadores de uma equipa resulta num maior efeito do que a soma dos efeitosobtidos pelos jogadores tomados individualmente) de forma harmoniosa paraque a organizao da equipa consubstancie elevados nveis de eficcia. Daquideriva que quanto maior for a complexidade da situao de jogo, maior aeficcia da aco do jogador de posse de bola condicionada pela qualidade equantidade das aces dos seus companheiros sem bola.

    I Tratamento e fluxo

    No contexto apresentado, os jogadores durante o jogo assumem atitudes ecomportamentos tcnico-tcticos em situaes em constante mutao, cujasinformaes mais pertinentes necessitam e so susceptveis de sofrer umatransformao - tratamento, por forma a seleccionar e a interpretar osdiferentes ndices do jogo segundo o seu sistema de valores, para orientar assuas respostas, num quadro de cooperao e oposio coerente e consequentede ataque e defesa. Este tratamento baseado em canais de comunicao econtra-comunicao que permitem a passagem e circulao de informao, osquais representam os fluxos fundamentais sem os quais os jogadores nopodem exercer aces coerentes e concertadas.

    Equilbrio dinmico

    Os presentes factos levaram necessidade de se estabelecer uma organizaointerna da equipa que procura preservar uma certa forma de equilbrio,denominado de equilbrio dinmico, o qual dever manter o nvel de eficciada equipa dentro de certos limites independentemente da variabilidade docontexto, da situao de jogo ou da competio desportiva (equipa adversria).A implementao deste equilbrio dinmico determina consequentemente um

    elevado nmero de aces e interaces no lineares (aciclicidadecomportamental), que derivam de execues tcnico-tcticas variveis navelocidade, no espao, e a sua distribuio no tempo, que consubstanciam adificuldade de previso dos comportamentos tcnico-tcticos individuais ecolectivos em cada momento do jogo.

    ' Ordem - desordem

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    10 Futebol - a organizao do jogo

    Desta constatao evidencia-se a noo de entropia que, em ltima anlise,avalia o grau de desorganizao de um sistema o qual tem uma crescentetendncia para se degradarem com o tempo. Esta noo ajusta-se claramente ssituaes em que as equipas ao aumentarem o seu tempo de processo ofensivose desorganizam em termos defensivos e vice-versa. Molin (1979) refere que"quanto mais a ordem e a organizao se desenvolvem, mais necessidade tmda desordem". Estas noes so pois complementares, concorrentes eantagnicas.

    Regulao e a retroacoA organizao de uma equipa de futebol, sendo constituda por elementosinterligados e interdependentes, cria mecanismos de regulao ou controlopressupondo que as aces empreendidas pelos jogadores estaro emconformidade com o objectivo inicial e que os desvios devero ser corrigidos.Estas correces pressupem, por sua vez, a existncia de mecanismos deretroaco que tm por fim modificar, se for necessrio o comportamento daequipa. Sendo baseados em correces por forma a manter as variaes daequipa no interior de certos limites definidos pelos objectivos (retroaconegativa) ou para favorecer uma deciso que visa aumentar um desvio emrelao a um objectivo (retroaco positiva).

    TotalidadeConcluindo, um sistema uma totalidade que possui um comportamento geral.Uma rotura de um dos seus elementos afecta no apenas esse elemento mastambm o desempenho geral do sistema. Tal como refere Ackoff (1985) "umsistema um todo que no pode ser decomposto sem que perca caractersticasessenciais. Deve, portanto ser estudado como um todo. Alm disso, antes deexplicar um todo em funo das suas partes, preciso explicar as partes emfuno do todo. Por consequncia, as coisas devem ser vistas como partes detotalidades maiores e no como entidades que devem ser separadas".

    MultidireccionalidadeEm funo dos elementos caractersticos enunciados, o jogo de futebolconstitui para os jogadores um notvel meio de expresso. Definimos estetermo pelo conjunto de diferentes possibilidades que estes tm para agir comvista resoluo das variveis situaes de jogo. Isto significa que o futebolencarado como um sistema social aberto no possui, por via disso, uma

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    Introduo - o futebol encarado como um sistema aberto 11

    direco "unidireccional", pode, por um lado, partir de diferentes condiesiniciais para chegar ao mesmo objectivo, isto , utilizar diferentes caminhospara atingir a mesma finalidade e, por outro lado, nenhum destes caminhos, namaioria das situaes, pode parecer melhor ou, por outras palavras, mais eficazque outro.Eigen, e Winkler (1989), referem que "muitos processos no mundo realescapam de facto a uma descrio exacta apenas porque no conhecemos comsuficiente rigor as condies iniciais ou as condies de fronteira... quandosubimos uma montanha, muito diferente se caminhamos ao longo de um valeou se seguimos por uma crista aguada. No primeiro caso podemos irdespreocupados. No importa se uma vez ou outra nos afastamos do trilho nofundo do vale, j que acabaremos sempre por regressar a ele. Passa-seexactamente o contrrio na ascenso ao longo da crista, cada passo em falsopode neste caso ter consequncias catastrficas.

    Finalizando, Grehaigne (1992) resume da seguinte forma as trs grandescategorias de problemas que o jogo de futebol envolve:

    no plano espao/temporal: preciso resolucionar no ataque problemas deexplorao individual e colectiva da bola, a fim de ultrapassar, utilizar e ou

    evitar obstculos mveis no uniformes. Na defesa problemas de produo deobstculos, a fim de evitar parar o deslocamento da bola e dos jogadoresadversrios com vista recuperao da posse da bola;

    no plano da informao: preciso tratar os problemas ligados produo deincerteza para os adversrios e de certeza para os companheiros numa situaofundamentalmente reversvel. O aumento da incerteza nos adversrios estligado s alternativas propostas pelos companheiros do possuidor da bola e velocidade de transmisso desta. A reduo de incerteza para a equipa de possede bola est ligada qualidade do cdigo de comunicao, s escolhas tcticasexplcitas e permite assim estabelecer escolhas adaptadas, estabelecidas portodos os companheiros em funo das configuraes momentneas do jogo.

    Definimos estes conceitos de incerteza e de certeza como ligados quantidadee qualidade de informao disponveis; e,no plano da organizao: preciso passar de um projecto individual a um

    projecto colectivo. O jogador dever integrar verdadeiramente um projectocolectivo sua aco pessoal dando o melhor de si mesmo ao colectivo.

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    R A organizao do jogo de futebol R

    Imperativos de ordem tcnico-tctica, fsica, psicolgica e social, levam a equipa aorganizar-se e a optar pelo mais racional, ditados por coordenadas lgicas.Segundo Teodorescu (1984), a organizao reflecte:

    a cooperao: os elementos da equipa agem conjuntamente, juntando os seusesforos para atingirem um fim comum pr-estabelecido; e,

    a racionalizao: os elementos da equipa optam consciente e adaptadamenteem funo dos objectivos pretendidos. Neste sentido, a organizao do jogoestabelece a:

    contnua orientao da actividade dos jogadores no jogo, tendo nestesentido, um carcter de processo no causal, mas pr-ordenado. Com efeito,a disposio de base e a escolha de meios efectua-se de acordo com umaesquemtica reflectida e formulada, na procura de uma forma geral daequipa, isto , de uma lgica racional e funcional, atravs do conhecimentomonogrfico das particularidades das situaes momentneas do jogo; e,

    sendo submetida a um constante processo de optimizao, isto , demelhoria funcional da estrutura da equipa, logo implica uma melhoradaptao e ajustamento, ao adversrio e aos objectivos pr-estabelecidos.

    No sentido dinmico do termo, a noo de organizao (que deriva da estrutura

    lgica do jogo) de uma equipa de futebol consubstancia-se no resultado dofuncionamento de vrias partes, que s tm sentido quando ligadas ao todo. Comefeito, a organizao do jogo de futebol definida por um sistema que conjugasimultneamente, em nossa opinio, seis subsistemas interdependentes ecomplementares: cultural, estrutural, metodolgico, relacional, tcnico-tctico etctico-estratgico.

    O subsistema cultural

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    Introduo - a organizao do jogo de futebol 13

    O subsistema cultural da organizao de uma equipa de futebol, estabelece: i)os valores e as convices partilhadas pelos diferentes jogadores que aderem auma viso comum da equipa, estabelecendo uma direccionalidade s suasatitudes e comportamentos tcnico-tcticos, ii) o desenvolvimento de umconjunto de condies normativas construidas dentro da equipa, com afinalidade de manter a sua coerncia interna, iii)o respeito pelas Leis do jogoque normalizam e condicionam as atitudes e os comportamentos dos jogadoresperante as situaes de jogo, e, iv)a compreenso das regras estabelecidas porum determinada competio desportiva. Nos captulos referentes a estesubsistema cultural preocupamo-nos principalmente com as questes

    relacionadas com:

    1- A finalidade do jogo de futebol que se assume como valor fundamentalpartilhado por todos os elementos que formam a equipa estabelecendo nessasituao o elo de uma cooperao consciente e deliberada contra as acesadversas. Procurar-se-, no mesmo sentido, evidenciar a importncia dofactor tctico-estratgico como elemento fomentador da divergncia entre afinalidade do jogo versus finalidade da equipa e entre as equipas emconfronto. Desta argumentao, caminharemos na direco a umaperspectiva dualista da organizao do jogo de futebol, na qual os membrosda equipa so divididos em dois grupos no interior dos quais mantmrelaes complexas de cooperao e adversidade, numa luta permanentepela posse da bola e da qual resultam duas fases do jogo perfeitamentedistintas, que reflectem diferentes conceitos, objectivos, princpios, atitudese comportamentos.

    2 - A anlise das Leis do jogo de futebol, encaradas como normas quecondicionam as atitudes e os comportamentos tcnico-tcticos dos

    jogadores, fomentando formas de relao com os companheiros,adversrios, bola, rbitro, etc. A presente anlise do contedo das Leis do

    jogo estabelece-se sobre dois blocos fundamentais:

    a estrutura formal que descreve essencialmente: as caractersticas edimenses do terreno de jogo, a descrio da bola e materiaiscomplementares que se usam no jogo, o nmero de jogadores quecompem a equipa e a forma como estes podem entrar e sair do jogo, amarcao dos golos e as formas de ganhar ou perder, o tempo total de

    jogo, diviso e controlo do mesmo e as competncias do rbitro e dosfiscais de linha; e,

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    o desenvolvimento da aco de jogo que descreve: as formas deintervir sobre a bola, o comeo e recomeo do jogo, determina quando abola est ou no em jogo, formas de utilizao do espao de jogo, formasde relao com os adversrios, formas de participao de cada jogador ea relao com os seus companheiros, as infraces s Leis e aspenalizaes.

    3 - A lgica interna do jogo consubstancia-se na identificao ecaracterizao de seis vertentes essenciais:

    o regulamento: a estruturao de qualquer actividade necessita daadopo dum cdigo (leis ou regras) que se constitui como um dosfactores de sociabilidade do jogo na qual decorre a lgica da igualdade deoportunidades;

    o espao de jogo: "todo o desporto assenta sobre uma definio deespao..." Com efeito, "qualquer prova desportiva evolui no interior deum campo fechado no qual todas as aces so canalizadas no interiordas fronteiras que o espao em si encerra, e para l deste o jogo no temsentido" (Parlebas, 1974);

    as aces tcnicas: a dimenso dos comportamentos motores visveisdos jogadores, indispensveis resoluo dos problemas provenientesdas situaes de jogo, reflectem uma relao consciente e inteligvel, de

    manifestao de uma personalidade. Estabelece-se assim, "entre osistema motor e o sistema sensorial, uma relao circular, ainda que nose possa dissociar nenhuma das partes" (Mahlo, 1966);

    a comunicao motora: o jogo de futebol consubstanciaconstantemente a comunicao entre os diferentes componentes de umaequipa e dos adversrios, atravs dos quais possvel o desenvolvimentoe a execuo de determinadas situaes de jogo, cujas aces necessitamde uma srie de sinais, gestos e smbolos, que substituem a palavra;

    o tempo: quanto mais tempo os jogadores tiverem parapercepcionarem, analisarem e executarem as suas aces tcnico-tcticas,menor ser a possibilidade de estes cometerem erros, decidindo assim,

    pela soluo mais adaptada situao tctica; e,a tctica/estratgia: podemos diferenciar duas estruturas tericas"comuns": a perspectiva comunicacional, na qual se procura estabelecerum sistema anlogo ao modelo da teoria da comunicao. A perspectivadualista, na qual se procura a representao simplificada das relaesdialcticas de cooperao e oposio.

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    O subsistema estrutural

    O subsistema estrutural da organizao de uma equipa de futebol, estabeleceuma dupla dimenso: "esttica" e "dinmica". A primeira traduz-se pelaracionalizao do espao, atravs da aplicao de um dispositivo de base emque os jogadores ocupam o terreno de jogo, estabelecendo as linhas de foraunitrias e homogneas, que constituem o quadro referencial de redes decomunicao ou de intercepo das ligaes dos adversrios. A segundadimenso do subsistema estrutural, traduz-se pela racionalizao e objectivaodo conjunto de tarefas e misses tcticas de base e especficas, distribudas aosdiferentes jogadores que constituem a equipa e que estabelecem, em ltima

    anlise, o quadro orientador dos seus comportamentos tcnico-tcticos.Partindo destes dois elementos de base, extrai-se um terceiro que determinado pelo sistema de relaes estabelecidas pelos companheiros,adversrios, bola, espao de jogo, etc., que se condicionam mutuamente,exprimindo uma articulao interna, mas mantendo a sua interdependnciafuncional. Nos captulos referentes ao subsistema estrutural preocupamo-nosprincipalmente com as questes relacionadas com:

    1- A dimenso "esttica" do subsistema estrutural da organizao de umaequipa de futebol, consubstancia-se pela racionalizao do espao de jogoque se traduz, por um lado, no estudo evolutivo dos diferentes sistemas de

    jogo desde a institucionalizao do futebol at anlise dos fundamentosdos sistemas de jogo na actualidade. E por outro, pela diviso racional doespao de jogo em termos de corredores e sectores, estabelecendo-se a suadinmica que determinada pelas caractersticas preponderantes para cadaum destes sectores. Neste sentido, consideramos:

    o sector defensivo: espao de jogo privilegiadamente ocupado porjogadores de marcante aco defensiva, aqui se constituem redes delinhas de fora escalonadas em funo da bola, adversrio e baliza,visando, em ltima instncia, condicionar e sobretudo, interromper, asligaes das aces ofensivas adversrias;

    o sector do meio-campo defensivo: espao de jogo onde subsiste umcerto equilbrio entre a segurana e o risco que envolve a execuo dequalquer aco tcnico-tctica, sendo uma excelente zona de apoio e desuporte ao jogador de posse de bola;

    o sector do meio-campo ofensivo: neste sector do campo subsiste umcerto equilbrio entre o risco na procura de desequilibrar de formairredutvel a organizao defensiva adversria e de segurana que sebaseia na manuteno do equilbrio da sua prpria organizao; e,

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    o sector ofensivo: para o qual se orientam as linhas de fora e ondeculminam as grandes combinaes, visando provocar roturas naorganizao defensiva.

    2- A dimenso "dinmica" do subsistema estrutural da organizao de umaequipa de futebol, consubstancia-se na racionalizao e objectivao dastarefas e misses tcticas, que se traduzem fundamentalmente peloestabelecimento de atitudes e comportamentos tcnico-tcticos de base(ofensivos e defensivos) e especficos (ofensivos e defensivos), distribudosaos diferentes jogadores que constituem o colectivo. A colocao de base daequipa evidencia fundamentalmente trs sectores constitudos por vrios

    jogadores que exercem a sua aco (quer ofensiva, quer defensiva) de formaconcertada e homognea, estabelecendo as relaes ou as ligaes que estona base das aces colectivas (misses tcticas colectivas). Neste sentido, os

    jogadores que pertencem aos diferentes sectores da equipa evidenciammisses tcticas especficas cuja nomenclatura tradicional denomina de:

    guarda-redes: para o jogador que dentro da sua grande rea goza de umestatuto diferente de todos os outros jogadores, em termos de contactocom a bola e de proteco s suas aces tcnico-tcticas. Aresponsabilidade primria do guarda-redes evitar o golo na sua baliza;

    defesas: para os jogadores que formam o sector mais perto da sua

    baliza, constitudo normalmente por 3 a 5 jogadores, dois ou trs defesascentrais, um defesa lateral direito e um defesa lateral esquerdo. Aresponsabilidade primria dos defesas proteger a sua baliza;

    mdios: para os jogadores que formam o sector intermedirio, ou seja,entre o sector defensivo e o sector atacante, constitudo normalmente por3 a 5 jogadores, dois ou trs mdios centros, um mdio esquerdo e ummdio direito. A responsabilidade primria dos mdios auxiliar osdefesas nas suas misses defensivas e os avanados nas suas missesofensivas: e os,

    avanados; para os jogadores que formam o sector atacante,constitudo normalmente por 1 a 3 jogadores. A responsabilidade

    primria dos avanados marcar golos.

    Concluindo, um dos problemas mais complexos que determinam a eficciade qualquer estrutura de uma equipa de futebol a forma como os jogadoresdesenvolvem a sua aco dentro da organizao da equipa. Com efeito, aconcretizao dos objectivos pr-estabelecidos consubstanciam anecessidade do estabelecimento dum estatuto e, duma funo tctica

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    especfica, as quais definem o sentido e os limites da participao de cadajogador na resoluo das variedssimas situaes que o jogo em si encerra.

    O subsistema metodolgico

    O subsistema metodolgico da organizao de uma equipa de futebol exprimea coordenao geral e a sequncia de execuo das aces dos jogadores tantono ataque como na defesa. A anlise do referido subsistema fundamenta-se,por um lado, no mtodo de jogo que estabelece os princpios de circulao e decolaborao no seio do subsistema estrutural, e por outro, pela definio de um

    tempo e um ritmo de jogo caracterstico da equipa. O subsistema metodolgicobaseia-se igualmente num conjunto de elementos de base que seconsubstanciam:

    num fundamento slido de compreenso e resoluo das situaes dejogo;

    numa finalidade que provoca uma intencionalidade que d o tom sactividades organizativas da equipa;

    numa coordenao das aces dos jogadores, para a qual concorre umadiviso e uma interligao de tarefas e misses tcticas individuais ecolectivas;

    na simplicidade dos mtodos de jogo a serem aplicados no terreno;num equilbrio dinmico constante em qualquer situao de jogo;

    na aplicao de respostas diferentes e variadas em funo dacomplexidade dos problemas postos pelo jogo;

    na adaptabilidade, no s entre os mtodos de jogo ofensivo e defensivoda prpria equipa, mas tambm, em relao aos mtodos de jogo da equipaadversria; e por ltimo,

    uma relao ptima entre as capacidades tcnico-tcticas, fsicas epsicolgicas dos jogadores e as exigncias estabelecidas para mtodo de

    jogo.

    Nos captulos referentes ao subsistema metodolgico, partindo do quadroantagnico das duas fases fundamentais do jogo de futebol: o ataque e a defesa,que se manifestam tanto individual (luta entre o atacante e o defesa), comocolectivamente (luta entre o ataque e a defesa)" (Teodorescu, 1984),preocupamo-nos principalmente com as questes relacionadas com:

    1- A dinmica do processo ofensivo, no qual evidenciaremos: o conceito, osobjectivos, as vantagens, as desvantagens, as etapas percorridas durante o

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    seu desenvolvimento desde o seu incio at sua completa consumao, osmtodos de jogo, estabelecendo princpios de circulao e de colaborao noseio de um dispositivo de base (sistema de jogo) previamente delineado pelaequipa. O estudo dos mtodos de jogo ofensivo basear-se- nas formas deorganizao de base: o contra-ataque, o ataque rpido e o ataque posicionaldefinindo as suas caractersticas, aspectos favorveis e desfavorveis.Desenvolveremos igualmente um conjunto de anlises daqui decorrentes.Por ltimo, iremos abordar o estabelecimento de um tempo (realizao deum nmero mximo de aces individuais e colectivas) e um ritmo (variar asequncia das aces individuais e colectivas em termos de espao e a suadistribuio no tempo) de jogo, aspectos determinantes para a obteno davitria entre equipas de valor idntico.

    2- A dinmica do processo defensivo, no qual evidenciaremos: o conceito,os objectivos, as vantagens, as desvantagens, as etapas percorridas durante oseu desenvolvimento desde o seu incio at sua completa consumao, osmtodos de jogo, estabelecendo princpios de circulao e de colaborao noseio de um dispositivo de base (sistema de jogo) previamente delineado pelaequipa. O estudo dos mtodos de jogo defensivo basear-se-o nas formas deorganizao de base: a defesa individual, defesa zona, defesa mista e defesazona pressionante, definindo as suas caractersticas, aspectos favorveis e

    desfavorveis. Desenvolveremos igualmente um conjunto de anlises daquidecorrentes. Por ltimo, iremos abordar as relaes intrnsecas e extrnsecasestabelecidas pela aplicao do mtodo de jogo ofensivo e do mtodo de

    jogo defensivo e os procedimentos a tomar quando se joga contra osdiferentes mtodos ofensivos e defensivos referenciados.

    O subsistema relacional

    O subsistema relacional traduz basicamente um conjunto de linhas orientadoras(denominados princpios do jogo), em virtude das quais os jogadores orientam

    e coordenam as suas atitudes e comportamentos tcnico-tcticos individuais ecolectivos. Com efeito, os princpios do jogo estabelecem um quadroreferencial que evidencia um valor interno que se radica em dois aspectosfundamentais: a possibilidade de os jogadores atingirem rapidamente a soluotctica para o problema que a situao de jogo em si encerra, e o facto de seresolver, pela aco, problemas em plena situao de jogo, levam o jogador aobter conhecimentos subjectivamente novos. E um valor externo determinadopelo estabelecimento dos aspectos relacionados com a comunicao da equipa,

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    isto , de uma "linguagem comum" por forma a melhorar a sua funcionalidade.Com efeito, ao assegurar-se constantemente uma linguagem comum, ou sejaum "cdigo de leitura", contribui-se claramente para de que os jogadores aolerem e valorizarem as situaes de jogo, possam imputar-lhes um significadomais ou menos relevante e homogneo em funo das necessidades para a suaresoluo tctica. Nos captulos referentes ao subsistema relacionalpreocupamo-nos principalmente com as questes relacionadas com:

    1 - Os diferentes nveis do subsistema relacional analisando os princpiosgerais do jogo de futebol, isto , os jogadores que no se encontramdirectamente implicados no centro do jogo, ofensivo ou defensivo, isto ,independentemente a equipa ter ou no a posse da bola, devero a todo omomento evidenciar atitudes e comportamentos tcnico-tcticos queprocurem consubstanciar um dos seguintes trs princpios gerais em funoda variabilidade das situaes de jogo: a rotura da organizao da equipaadversria, a estabilidade da organizao da prpria equipa, a intervenono centro do jogo. E os princpios especficos do jogo ofensivo, isto , os

    jogadores que se encontram directamente implicados no centro do jogo,devero, em todos os momentos, evidenciar atitudes e comportamentostcnico-tcticos que procurem consubstanciar um dos seguintes trsprincpios especficos: a penetrao (1 atacante), a cobertura ofensiva (2

    atacante) e a mobilidade (3 atacante). Adicionalmente faremos um estudosobre as respostas tcticas do jogador de posse de bola (antes de intervirsobre esta, durante e depois da sua interveno), do jogador em coberturaofensiva em funo do tempo de jogo, do resultado, do espao, da missotctica, do contexto de cooperao e de oposio.

    2- Os princpios especficos do jogo defensivo, isto , os jogadores que seencontram directamente implicados no centro do jogo, devero, em todos osmomentos, evidenciar atitudes e comportamentos tcnico-tcticos queprocurem consubstanciar um dos seguintes trs princpios especficos: aconteno (1 defesa), a cobertura defensiva (2 defesa) e o equilbrio (3

    defesa). Adicionalmente faremos um estudo sobre as respostas tcticas dojogador que marca o adversrio de posse de bola e do jogador em coberturadefensiva em funo do tempo de jogo, do resultado, do espao, da missotctica, do contexto de cooperao e de oposio.

    .O subsistema tcnico-tctico .

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    O subsistema tcnico-tctico da organizao de uma equipa de futebol,estabelece os meios de base (tambm denominados de factores) que os

    jogadores quer individual como colectivamente, accionam na fase do ataque oudefesa, com vista resoluo eficaz das situaes momentneas de jogo, emconformidade com os princpios gerais e especficos (subsistema relacional). Asua natureza implica um processo de percepo e anlise, soluo mental emotora, a qual exige a participao da conscincia e exprimeconcomitantemente um pensamento produtor. Analisaremos igualmente osdiferentes nveis deste subsistema que se fundamenta nos diferentes nveis deformao e rendimento de uma equipa, a qual reflecte, em funo das situaesde jogo, uma organizao elementar e complexa que assenta em aces queprocuram: a execuo de um complexo de procedimentos tcnico-tcticos queobjectivam de imediato a resoluo das situaes de jogo, uma coerncia demovimentao e uma ocupao racional do espao de jogo, uma resoluotemporria das situaes tcticas de jogo e as solues estereotipadas daspartes fixas do jogo. Nos captulos referentes ao subsistema tcnico-tcticopreocupar-nos-emos principalmente com as questes relacionadas com:

    1 - Os procedimentos tcnico-tcticos individuais, que objectivam deimediato a resoluo das situaes de jogo:

    quer no plano ofensivo: as aces tcnico-tcticas que visam a

    conservao/progresso da bola, formadas pelas seguintes aces:recepo, proteco e conduo da bola, drible, finta e simulao, e asaces tcnico-tcticas que visam a comunicao/finalizao, formadaspelas seguintes aces: o passe e o remate;

    quer no plano defensivo: aces individuais defensivas visamfundamentalmente a recuperao da posse da bola/ou interrompermomentneamente o processo ofensivo do adversrio, sendo constitudaspelas seguintes aces: desarme, intercepo, tcnica do guarda-redes e acarga.

    No mbito deste captulo, as aces individuais ofensivas e defensivas sero

    definidas, objectivadas em relao sua importncia tctica no contexto dojogo, evidenciam-se os elementos que concorrem largamente para a suaeficaz execuo e, adicionalmente, as anlise referentes sua utilizaodurante o jogo em funo do espao e das misses tcticas dos jogadoresque os realizam.

    2 - Os procedimentos tcnico-tcticos colectivos, quer no plano ofensivo,quer no plano defensivo:

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    os deslocamentos ofensivos ou defensivos que visam a coerncia demovimentao dos jogadores dentro do subsistema estruturalpreconizado pela equipa e as aces de compensao e desdobramentoofensivo ou defensivo que visam uma ocupao racional e constante doespao de jogo;

    as combinaes tcticas ofensivas ou as dobras defensivas, astemporizaes e as cortinas/crans ofensivas e defensivas, que visam aresoluo temporria das situaes momentneas de jogo; e por ltimo,

    os esquemas tcticos ofensivos e defensivos que visam as soluesestereotipadas das partes fixas do jogo.

    No mbito deste captulo, as aces colectivas ofensivas e defensivas serodefinidas, objectivadas em relao sua importncia tctica no contexto do

    jogo, evidenciam-se os elementos que concorrem largamente para a suaeficaz execuo e, adicionalmente, as anlise referentes sua utilizaodurante o jogo em funo do espao e das misses tcticas dos jogadoresque os realizam.

    O subsistema tctico-estratgico

    O jogo de futebol na actualidade levanta enormes exigncias, em especial aonvel das equipas de rendimentos superiores. Com efeito, possvel prever queessas exigncias iro aumentar no futuro prximo. Posto o problema nesteplano, os limites da interveno do treinador perante a sua equipa h muito quedeixaram de ser "apenas" a aplicao de um conjunto de exerccios de treino eda orientao tctica da equipa atravs de uma interveno mais ou menosrealista ou mais ou menos ardilosa, durante a competio. Com efeito, adificuldade que envolve a preparao e maximizao das capacidades epotencialidades de uma equipa de futebol, determina a necessidade de otreinador ter uma viso simultneamente global e integradora de todos oselementos que influenciam de forma preponderante o rendimento da equipa,

    atravs de uma planificao sistemtica e dinmica. Nestas circunstncias, osubsistema tctico-estratgico da organizao do jogo de futebol expressa-senuma planificao que analisa, define e sistematiza as diferentes operaesinerentes construo e desenvolvimento de uma equipa. Organiza-as emfuno das finalidades, objectivos e previses, escolhendo as decises quevisem o mximo de eficcia e funcionalidade da mesma. Com efeito, o papelda planificao, em ltima anlise, consiste em fornecer um guia de aco naorganizao com vista a facilitar o alcance dos seus objectivos: incremento da

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    sua eficcia, a estabilidade, adaptabilidade no seio do meio competitivo. Noscaptulos referentes ao subsistema tctico-estratgico preocupamo-nosprincipalmente com as questes relacionadas com:

    1- A planificao conceptual caracteriza-se essencialmente pela descrio econstruo de um modelo de jogo da equipa que se pretende atingir nofuturo, determinando-se no mesmo momento os objectivos da prximapoca desportiva. Basicamente este modelo dever ser alicerado sob trsvertentes fundamentais: i)das concepes de jogo do treinador que derivamdo seus conhecimentos tericos sobre o futebol e das suas prpriasexperincias adquiridas ao longo da sua actividade profissional, ii) dascapacidades, particularidades e especificidades dos jogadores queconstituem a equipa. Neste contexto, compara-se objectivamente a anlisedos aspectos individuais e colectivos da equipa com o modelo organizativoque se pretende que esta tenha no futuro. Estabelecendo pararelamente aformao da equipa para a nova poca desportiva, e, iii) das tendnciasevolutivas tanto dos jogadores como do jogo de futebol. Com efeito, aplanificao conceptual traduzida pelo modelo de jogo consubstancia, emltima anlise, as linhas de orientao geral e especfica da organizao daequipa com vista competio, num determinado meio competitivo (porexemplo: campeonato nacional, regional, taa, campeonato europeu, etc.).

    Paralelamente, construo de um modelo de jogo, a planificaoconceptual realizada pelo treinador, dever: i) analisar a situaoorganizacional actual da equipa, isto , quais os seus principais aspectospositivos e negativos, destacando para alm dos nveis de rendimentodesportivo individual e colectivo, os seus valores, as suas intenes e otranscurso da temporada desportiva anterior, e, ii) a elaborao dosprogramas de aco pragmtica que consubstanciam um processo deevoluo controlada da organizao da equipa direccionando-a para ummodelo de jogo pr-determinado. Definindo simultneamente as orientaesdo trabalho da equipa e os meios e mtodos de treino para atingir os efeitospretendidos.

    2- A planificao estratgica caracteriza-se pela escolha das estratgias maiseficazes por forma a obrigar a equipa adversria a jogar em condiesdesfavorveis e, simultneamente vantajosas para a prpria equipa, ou poroutras palavras, criar-se situaes e condies de jogo que evidenciem ascarncias de preparao fsica, tcnica, tctica e psicolgica, minimizandoou anulando, neste contexto, os aspectos de organizao de jogo maiseficientes da equipa adversria durante o confronto competitivo. A

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    planificao estratgica construida em funo de trs vertentesfundamentais: i) o conhecimento mais ou menos aprofundado da equipaadversria, isto , ter um conhecimento correcto das potencialidades (pontesfortes), tentando minimiz-los e das vulnerabilidades (pontos fracos) daequipa adversria para tirar partido destes, ii) do terreno de jogo e, iii) doconhecimento e do estudo das condies objectivas sobre as quais serealizar a futura confrontao desportiva. Neste contexto, a planificaoestratgia dever assegurar as modificaes pontuais e temporrias dafuncionalidade geral da prpria equipa, adaptando a sua expresso tcticaem funo das condies (terreno) e da especificidade (equipa adversria)em que a competio ir decorrer.

    3 - A planificao tctica caracteriza-se pela aplicao prtica, isto , pelocarcter aplicativo e operativo da planificao conceptual e da planificaoestratgica. Procura-se assim, utilizar de forma racional e oportuna durante o

    jogo, as qualidades fsicas, tcnico-tcticas e psicolgicas individuais ecolectivas de todos os jogadores que constituem a equipa, seleccionando-os,organizando-os e coordenando-os unitariamente com vista concretizaodos objectivos pr-estabelecidos

    MEIO

    MEIO

    O JOGO DE FUTEBOL

    O

    subsistema

    relacional

    O

    subsistema

    cultural

    O

    subsistema

    tcn.-tcti.

    O

    subsistema

    metodolg.

    O

    subsistema

    tct.-estrat.

    O

    subsistema

    estrutural

    SISTEMA

    Figura 1.A organizao do jogo de futebol

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    Parte 1

    O SUBSISTEMA CULTURALSUMRIO

    1. Conceito de subsistema cultural2. Natureza do subsistema cultural3. Objectivos do subsistema cultural

    4. Nveis do subsistema cultural

    Captulo 1.A finalidade, inteno, objectivo

    Captulo 2.As Leis do jogo

    Captulo 3.A lgica interna do jogo

    O subsistema cultural definida por um conjunto complexo derepresentaes, valores, finalidades, objectivos, smbolos, etc.,

    partilhados em interaco por todos os jogadores, que estabelecem asformas como a equipa encara e conduz a competio desportiva, tendoem ateno as Leis do jogo.

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    Contedo da Parte 1

    Nesta primeira parte do livro incidiremos o nosso esforo de reflexosobre o subsistema cultural da organizao de uma equipa de futebol,do qual derivam: i) os valores e as convices partilhadas pelosdiferentes jogadores que aderem a uma viso comum da equipa.Estabelecendo uma direccionalidade s suas atitudes e comportamentos

    tcnico-tcticos, ii) o desenvolvimento de um conjunto de condiesnormativas construidas dentro da equipa, com a finalidade de manter asua coerncia interna, iii) o respeito pelas Leis do jogo que normalizame condicionam as atitudes e os comportamentos dos jogadores peranteas situaes de jogo e, iv) a compreenso das regras estabelecidas porum determinada competio desportiva.

    O jogo de futebol

    Organizao

    Subsistemas

    Cultural Estrutural Metodolgico Relacional Tcnico-tctico Tctico-estratg.

    Finalidade

    Leis do jogo

    Lgica interna

    O espao de jogo

    Misses tcticas

    Mtodo ofensivo

    Mtodo defensi.

    Princ. ofensivos

    Princ. defensivos

    Aces individua.

    Aces colectiv.

    Conceptual

    Estratgico

    Tctico

    Expresso dinmica da organizao de uma equipa de futebol

    Organigrama 1

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    O subsistema cultural 23

    P a r t e 1a r t e 1 O s u b s i s t e m a c u l t u r a l s u b s i s t e m a c u l t u r a l

    A organizao de uma equipa de futebol compreende uma estrutura interna queconsubstancia vrios subsistemas, o primeiro dos quais evidencia a sua naturezacultural.

    Conceito de subsistema culturalO subsistema cultural que deriva da noo de organizao de uma equipa defutebol, definida por um conjunto complexo de representaes, valores,finalidades, objectivos, smbolos, etc., partilhados em interaco por todos os

    jogadores, que estabelecem as formas como a equipa encara e conduz acompetio desportiva, tendo em ateno as Leis do jogo que traduzem normascondicionantes das atitudes e comportamentos tcnico-tcticos dos jogadores.

    D Natureza do subsistema cultural D

    A natureza do subsistema cultural resultante da dialctica estabelecida, por umlado, pelo conjunto de interaces individuais dos jogadores que constituem ogrupo, que derivam das aprendizagens, experincias e modelos de aco epensamento eficientes e, por outro, dos treinadores que procuram "controlar" eaperfeioar este subsistema.

    Nestas circunstncias, a natureza do subsistema cultural deriva essencialmente dequatro vertentes fundamentais: as finalidades, os valores e as convices,desenvolvimento de um conjunto de condies normativas, as Leis do jogo defutebol e os diferentes tipos de competio desportiva.

    q As finalidades, os valores e as convices

    As finalidades, os valores e as convices partilhados pelos diferentesjogadores que constituem a equipa, os quais influenciam os seuscomportamentos. Esta influncia traduz-se numa dupla dimenso, por um lado,atribuindo-lhes um significado e um sentido, que se quer colectivo e, por outro,uma direccionalidade s suas atitudes e comportamentos tcnico-tcticos. As

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    finalidades, os valores e as convices so, em ltima anlise, o trao de unioda equipa no havendo dvidas quanto a estes pressupostos por parte dos

    jogadores, especialmente quando so profissionais. Neste contexto, cadajogador adere a "uma viso" comum, isto , assume uma conscincia colectiva,factor fundamental para a unio e coerncia interna da equipa. Entre muitosaspectos fundamentais, esta conscincia colectiva deriva essencialmente dosseguintes:

    utilizao de roupa comum para o treino e para as viagens. Reacocolectiva a comentrios menos correctos por parte dos jogadores de outrasequipas ou de jornalistas. Refeies conjuntas com os alimentos estipuladospelo departamento mdico. Os problemas imergentes, quer do ponto de vistadisciplinar, regulamentar, mdico, etc., so resolvidos e mantidos no seio daequipa;

    determinao das obrigaes e funes de cada jogador dentro da equipa,consubstanciando um processo de dar e receber mutuamente. Estabelece-seneste sentido, e priori (em funo das expectativas prprias de cada

    jogador):o lugar que ocupa em relao aos seus companheiros; e,uma ideia precisa das suas tarefas e misses tcnico-tcticas dentro da

    equipa, o que a equipa espera dele e, a melhor forma de corresponder aessas expectativas.

    A ausncia da determinao das obrigaes e funes de cada jogadorfomenta um clima de rivalidade generalizada entre estes, os quaisdesenvolvem ao longo do tempo (especialmente quando os resultadosdesportivos no correspondem aos objectivos e intenes da equipa), umsentimento de frustrao e de agressividade, contrrio ao esprito da equipa,absorvendo e direccionando inutilmente grande parte das suas energiasindividuais e colectivas. evidente que no se pode negar a rivalidadehumana existente no seio da mesma equipa. "A ideia to usada de onzecompanheiros, sempre de acordo e inseparveis deve ser observada comlargo cepticismo. preciso ter em ateno que cada elemento de umaequipa pretende sempre representar-se a si mesmo, provando e vivendo a

    sua autorealizao, o desenvolvimento da sua personalidade e da suacapacidade de autodeterminao em relao aos outros" (Bauer e Ueberla,1988). Neste sentido, deve-se admitir uma rivalidade s, consideradanormal, estabelecida pelos jogadores com as mesmas obrigaes e funestcticas dentro da equipa (por exemplo: os guarda-redes, os defesas centrais,os pontas de lana, etc.);

    estabelecimento de nveis hierrquicos especficos dentro da equipa, quenormalmente so baseados:

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    no tempo de permanncia de determinado jogador no clube (factoridade);

    na personalidade do jogador (esprito de liderana); e,na sua capacidade de execuo tcnico-tctica (reconhecimento da sua

    importncia na resoluo das situaes de competio).aceitao e, nalguns casos pontuais e especficos, a eleio do conjunto

    de pessoas (elementos) de referncia, tais como:

    o capito da equipa: cuja importncia se estabelece basicamente emdois nveis fundamentais:

    durante a competio:no dilogo que estabelece e mantm com o juiz rbitro da partida; interlocutor privilegiado entre o treinador e os restantes jogadoresda equipa, transmitindo informaes e consubstanciando ajustamentostcticos estabelecidos pelo treinador;na resoluo de problemas especficos da organizao da equipa; e,

    durante o perodo de preparao semanal da equipa (treinos):relaciona-se preferencialmente com o elemento directivo do Clube,por forma a dialogar com este a resoluo de aspectos que dizemrespeito a todos os jogadores (por exemplo: condies de trabalho,prmios de jogo, etc.);

    relaciona-se com o treinador e, partindo do consentimento dosjogadores, levar-lhe as preocupaes e problemas levantados porestes;manter com todos os jogadores da equipa uma relao de igual paraigual, informando, aconselhando e recebendo ideias. Tem uma atenoespecial para com os jogadores mais jovens; por vezes o porta-voz da equipa, representando os interesses doselementos que a constituem no exterior;o director do clube que acompanha sempre a equipa durante a

    competio e, o mais possvel durante o perodo de preparao semanalda equipa (treinos). Constitui-se como um elo de ligao e interlocutorvlido com os restantes elementos da direco do Clube e com otreinador, mdicos e scios;

    o mdico do Clube que acompanha constantemente a equipa durante acompetio e durante o perodo de preparao semanal da equipa(treinos), o elemento crucial e responsvel (dentro de um amplo lequede funes):

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    pelo tratamento e acompanhamento de jogadores lesionados,procurando que estes, o mais rapidamente possvel, regressem condio de poderem ser utilizados pelo treinador;na deciso justa e clara perante o jogador e o treinador que este ouaquele jogador no dever participar nas actividades planeadas para otreino ou, inclusive no dever ser convocado para a competio, porforma a precaver ou a evitar reincidir uma determinada leso, quepoder equacionar a curto ou a mdio prazo o futuro do jogador; pela alimentao dos jogadores durante as concentraes, ascompeties e no aconselhamento diettico da alimentao dos

    jogadores fora do contexto competitivo;ajuda os jogadores a ultrapassar problemas particulares;

    Neste quadro de referncia podemos igualmente incluir osmassagistas/fisioterapeutas que gozam de uma confiana quase ilimitadapor parte dos jogadores:

    tratando-os nas pequenas e grandes leses; ouvem-nos sobre os seus medos e temores que derivam dacompetio;acalmam-nos das angstias logo aps as sesses de treino; ajudam-nos a debelar leses crnicas ou em certas incapacidades

    fsicas, construindo programas especficos de treino realizados antesou depois das sesses normais da equipa (por exemplo: nofortalecimento dos msculos da regio da articulao do joelho,exerccios de alongamento e reforamento da parede abdominal paraevitar problemas derivados das pubalgias, etc).

    Aspecto importante, o facto do treinador no quebrar esse elo deconfiana quase total entre os jogadores e o massagista/fisioterapeuta,procurando tirar informaes pessoais referentes a certos jogadores;

    os auxiliares: todos os Clubes dispem de um conjunto de auxiliaresque normalmente a trabalham h longos anos e que passaram por vriasdireces, treinadores e jogadores. Para o treinador muito importantecolaborar construtivamente com estes auxiliares apreciando e elogiando oseu trabalho, porque podem ter uma influncia decisiva no rendimentodos jogadores:

    o roupeiro: que est disposio dos jogadores sendo de certaforma "o homem para todo o servio", ajudando-os nos equipamentos,na troca ou no aperto dos pitons das botas, a resolver problemas

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    O subsistema cultural 27

    quando os jogadores se esquecem de algo. No fundo, trivialidades queaparentemente s tm importncia e assumem dimenso quando soos jogadores que tm eles prprios de tratar desses assuntos;o encarregado do campo: que trata das condies do terreno de jogocortando o relvado, cilindrando o campo por forma que este no sejaimpeditivo da demonstrao da capacidade tcnico-tctica dos

    jogadores. Molhando o relvado, se necessrio, para se criar um maiornmero de situaes de contacto fsico e possibilitar uma maiorvelocidade da bola, o que provoca consequentemente, um aumento doritmo de jogo da equipa, etc.; e por ltimo,o treinador que ocupa uma posio referencial fundamental dentro do

    seio da equipa. Seno vejamos: mantm um contacto constante do tipo "objectivo-formal epessoal-informal" (Bauer e Ueberle, 1988) com todos os jogadores daequipa durante a competio e durante o perodo de preparaosemanal da equipa (treinos);estabelece toda a planificao conceptual (construo do modelo de

    jogo da equipa), a planificao estratgica (recolha de dados da equipaadversria, elabora o plano tctico-estratgico - no qual se inclui, entreoutros, a orientao geral do jogo, a constituio da equipa e adistribuio das misses tcticas dos jogadores, as reunies de

    reconhecimento da equipa adversria, de preparao e de anlise dojogo, elabora o programa de preparao para o ciclo de treino eprepara a equipa durante as horas que antecedem o jogo), e aplanificao tctica (que consubstancia basicamente a orientao daequipa durante o jogo, durante o intervalo, utiliza as substituiesprocurando incrementar o rendimento da equipa, etc.).

    Q Desenvolvimento de um conjunto de condies normativas

    Desenvolve-se um conjunto de condies normativas construdas dentro dogrupo, com a finalidade de manter a coerncia interna da equipa, partindo-se

    do ncle