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    CRC

    Caderno deReferência de

    Conteúdo

    1. INTRODUÇÃO

    Prezado aluno, iniciamos agora nossos estudos sobre o fute-bol e o futsal. E para o melhor aproveitamento da disciplina, estafoi dividida em cinco unidades, descritas, brevemente, a seguir.

    Na Unidade 1 preocupamo-nos em mostrar os possíveis ca-minhos percorridos pelo futebol a partir da apresentação de alguns

     jogos da Antiguidade e da Idade Média, seus possíveis precursores,

    até o advento do denominado "futebol moderno" na Inglaterra, noséculo 19. No Brasil, optamos por contar sua trajetória histórica apartir do momento em que o futebol moderno chegou ao país, tra-zido pelas mãos de Charles Miller, em 1894. Destacamos sua práticaelitista e racista nas primeiras décadas do século 20, bem como osprocessos de popularização e profissionalização do futebol no país.

    Na Unidade 2, estudamos o futebol como fenômeno moder-

    no, paixão nacional e manifestação esportiva e cultural, com suasinfluências e implicações na vida pública e política de nosso país.

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    Na Unidade 3, buscamos apresentar toda a estrutura do jogode futebol, desde sua proposta como simples modalidade esporti-va até sua caracterização como jogo extremamente complexo, sus-tentado por elementos táticos, técnicos e um conjunto de regras.

    Diante da complexidade do jogo de futebol/futsal, é preciso"dividi-lo" em unidades menores para que os alunos tenham con-dições de passar por experiências que permitam seu aprendizado.

    Na Unidade 4 são apresentadas algumas possibilidades metodoló-gicas que tem como objetivo permitir o desenvolvimento adequa-do do jogo nestas modalidades.

    Por fim, a Unidade 5 realiza um apanhado geral do futsal,

    apresentando sua trajetória histórica, os elementos técnicos, táti-cos e as regras específicas da modalidade. O conteúdo desta unida-de apoia-se nas informações fornecidas nas unidades anteriores,principalmente na relação técnica-tática a partir da metodologiafenômeno-estrutural.

    Após essa breve exposição dos principais assuntos a seremabordados, você terá uma ideia do que trataremos ao longo dadisciplina e poderá, assim, se preparar de maneira adequada paraeste jogo do saber que se inicia.

    No Tópico Orientações para o Estudo da Disciplina você en-contrará algumas orientações de cunho motivacional, dicas e es-tratégias que lhe auxiliarão em seus estudos.

    2. ORIENTAÇÕES PARA O ESTUDO DA DISCIPLINA

    Abordagem geral da disciplinaProf. Ms. Robson Amaral da Silva

    Neste tópico, apresenta-se uma visão geral do que será es-tudado nesta disciplina. Aqui, você entrará em contato com os

    assuntos principais deste conteúdo de forma breve e geral e teráa oportunidade de aprofundar essas questões no estudo de cada

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    unidade. Desse modo, essa Abordagem Geral visa fornecer-lhe oconhecimento básico necessário a partir do qual você possa cons-truir um referencial teórico com base sólida – científica e cultural

     – para que, no futuro exercício de sua profissão, você a exerça comcompetência cognitiva, ética e responsabilidade social. Vamos co-meçar nossa aventura pela apresentação das ideias e dos princí-pios básicos que fundamentam esta disciplina.

    O conteúdo elaborado para o desenvolvimento desta discipli-na está dividido em cinco unidades e organizado de forma que possafacilitar sua aprendizagem e, consequentemente, sua futura inter-venção fundamentada na responsabilidade e ética profissionais.

    O acesso à história do futebol e do futsal por meio da com-preensão das condições históricas determinantes para suas traje-tórias torna-se uma necessidade para o profissional de EducaçãoFísica. Conhecer os antecedentes históricos das modalidades comas quais irá trabalhar é saber se posicionar criticamente em sua

    própria área de atuação e reconhecer os fatores que a influenciam.

    Em seguida, nossa preocupação se voltará para a estruturado jogo. Que jogos são esses? Como poderíamos nos apropriar de-les, no sentido de caracterizá-los e utilizá-los como instrumentosde nossas intervenções?

    Para muitos, o futebol e o futsal são jogos praticados com ospés por duas equipes, cujo objetivo é fazer mais gols que a equipeadversária. Diante da complexidade de suas estruturas, tal carac-

    terização torna-se insuficiente para a compreensão dessas moda-lidades esportivas.

    É necessário incluir a ideia de duas equipes que, pela cooperaçãoe oposição, disputam um objeto (a bola) dentro de determinado espa-ço, respeitando os demais jogadores e as regras específicas do jogo.

    Para que essa disputa pela bola e as relações de oposição/cooperação sejam possíveis, os espaços do jogo preenchidos ade-quadamente e as situações de ataque e defesa da equipe, equili-

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    bradas, consideramos importante a utilização apropriada e cons-ciente dos elementos técnicos (o que fazer?) e dos elementostáticos (como e quando fazer?).

    Os elementos técnicos do jogo estão relacionados às tarefas

    motoras associadas ao passe, à condução e ao controle de bola, aochute, ao cabeceio etc., utilizadas em cada uma das modalidades.

    Por sua vez, o comportamento tático está ligado à realizaçãode tarefas específicas no sentido de potencializar as próprias açõesde jogo e dificultar as ações da equipe adversária.

    Para a compreensão dos elementos, comuns às duas modali-dades e que partilham os mesmos princípios, estudaremos as uni-dades estruturantes e funcionais dos jogos desportivos coletivospropostos por Claude Bayer (1992).

    Defendemos a ideia de que o ensino dessas modalidades so-

    mente é possível após o entendimento dessas unidades e adequa-da utilização dos jogos de futebol e futsal.

    Nesta disciplina, você terá a oportunidade de conhecer al-

    gumas das principais metodologias de ensino do futebol/futsal – analítico-sintética, global-funcional, mista, situacionais, fenôme-no-estrutural e de conceito recreativo de jogo.

    Esses temas foram selecionados para que você possa ter só-lida formação acadêmica e contato com dimensões significativas

    do futebol e do futsal. Sendo assim, aproveite esta oportunidade.

    Glossário de Conceitos

    O Glossário de Conceitos permite a você uma consulta rá-pida e precisa das definições conceituais, possibilitando-lhe umbom domínio dos termos técnico-científicos utilizados na área deconhecimento dos temas tratados na disciplina Futebol e Futsal .Veja, a seguir, a definição dos principais conceitos desta disciplina:

    1) Conhecimento tático: comportamento relacionado àsações desempenhadas pelo jogador ou pela equipe, du-

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    rante uma partida de futebol/futsal, e caracterizado pelorespeito aos princípios táticos do jogo, às ações de coo-peração e oposição, à defesa e ao ataque, aos papéis efunções a serem desempenhados em campo/quadra (porocasião da posse ou não da bola), às unidades estruturais

    e funcionais, às funções relativas às posições ocupadas.2) Elementos táticos: elementos que dão sustentabilidade

    ao comportamento tático e estão relacionados aos prin-cípios táticos do jogo.

    3) Elementos técnicos: ações realizadas com propósito es-pecífico em um dado contexto. Elementos relacionadosaos fundamentos básicos do jogo ou de determinadamodalidade. No caso do futebol/futsal, referem-se ao

    passe, condução, domínio, controle, cabeceio, drible,chute e defesa do goleiro.

    4) Esporte: prática convencionalmente regrada, caracterizadapela disputa direta ou indireta entre oponentes em busca deobjetivos comuns, apoiada ou não em relações de coopera-ção e oposição. Pode ser acompanhada ou não pelo público,mídia especializada e investidores sob a chancela de associa-ções, federações e confederações representativas.

    5) Jogo de futebol/futsal: entre as inúmeras definiçõespara o jogo de futebol/futsal disponíveis nesta discipli-na, assumimos, neste momento, a seguinte caracteriza-ção: o futebol/futsal pode ser entendido como um jogoconvencionado, praticado predominantemente com ospés, cujo objetivo é fazer mais gols que a equipe adver-sária. Caracteriza-se por situações complexas, de ordeme frequência não previstas, que exigem, a todo o mo-

    mento, adaptação, tomada de decisão e respostas ime-diatas para as situações de cooperação e oposição quese estabelecem na disputa pelo objeto do jogo (a bola).

    Esquema dos Conceitos-chave

    Para que você tenha uma visão geral dos conceitos mais im-portantes deste estudo, apresentamos, a seguir (Figura 1), um Es-

    quema dos Conceitos-chave da disciplina. O mais aconselhável éque você mesmo faça o seu esquema de conceitos-chave ou até

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    mesmo o seu mapa mental. Esse exercício é uma forma de vocêconstruir o seu conhecimento, ressignificando as informações apartir de suas próprias percepções.

    É importante ressaltar que o propósito desse Esquema dos

    Conceitos-chave é representar, de maneira gráfica, as relações entreos conceitos por meio de palavras-chave, partindo dos mais com-plexos para os mais simples. Esse recurso pode auxiliar você na or-

    denação e na sequenciação hierarquizada dos conteúdos de ensino.

    Com base na teoria de aprendizagem significativa, entende-seque, por meio da organização das ideias e dos princípios em esque-mas e mapas mentais, o indivíduo pode construir o seu conhecimen-

    to de maneira mais produtiva e obter, assim, ganhos pedagógicossignificativos no seu processo de ensino e aprendizagem.

    Aplicado a diversas áreas do ensino e da aprendizagem es-colar (tais como planejamentos de currículo, sistemas e pesquisas

    em Educação), o Esquema dos Conceitos-chave baseia-se, ainda,na ideia fundamental da Psicologia Cognitiva de Ausubel, que es-tabelece que a aprendizagem ocorre pela assimilação de novosconceitos e de proposições na estrutura cognitiva do aluno. Assim,novas ideias e informações são aprendidas, uma vez que existempontos de ancoragem.

    Tem-se de destacar que "aprendizagem" não significa, ape-nas, realizar acréscimos na estrutura cognitiva do aluno; é preci-so, sobretudo, estabelecer modificações para que ela se configure

    como uma aprendizagem significativa. Para isso, é importante con-siderar as entradas de conhecimento e organizar bem os materiaisde aprendizagem. Além disso, as novas ideias e os novos concei-tos devem ser potencialmente significativos para o aluno, uma vezque, ao fixar esses conceitos nas suas já existentes estruturas cog-nitivas, outros serão também relembrados.

    Nessa perspectiva, partindo-se do pressuposto de que é você

    o principal agente da construção do próprio conhecimento, pormeio de sua predisposição afetiva e de suas motivações internas

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    e externas, o Esquema dos Conceitos-chave tem por objetivo tor-nar significativa a sua aprendizagem, transformando o seu conhe-cimento sistematizado em conteúdo curricular, ou seja, estabele-cendo uma relação entre aquilo que você acabou de conhecer como que já fazia parte do seu conhecimento de mundo (adaptado do

    site  disponível em: . Acesso em: 11 mar. 2010).

    Regras

    Metodologiasde ensino

    Elementostécnicos

    Elementostáticos

    FUTEBOLE

    FUTSAL

    Aspectoshistóricos e

    socioculturais

    Figura 1 Esquema dos Conceitos-chave da disciplina Futebol e Futsal.

    Como pode observar, esse Esquema oferece a você, comodissemos anteriormente, uma visão geral dos conceitos mais im-portantes deste estudo. Ao segui-lo, será possível transitar entre

    os principais conceitos desta disciplina e descobrir o caminho paraconstruir o seu processo de ensino-aprendizagem. Por exemplo,

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    de acordo com o Esquema, podemos verificar que o futebol e ofutsal envolvem reflexões ligadas a aspectos técnicos, táticos, his-tóricos, socioculturais, às regras que lhes são específicas e às suasmetodologias de ensino. Ao estudarmos estes elementos, tomare-mos contato com uma visão abrangente destas modalidades.

    O Esquema dos Conceitos-chave é mais um dos recursos deaprendizagem que vem se somar àqueles disponíveis no ambien-

    te virtual, por meio de suas ferramentas interativas, bem comoàqueles relacionados às atividades didático-pedagógicas realiza-das presencialmente no polo. Lembre-se de que você, aluno EaD,deve valer-se da sua autonomia na construção de seu próprio co-

    nhecimento.

    Questões Autoavaliativas

    No final de cada unidade, você encontrará algumas questõesautoavaliativas sobre os conteúdos ali tratados, as quais podem serde múltipla escolha, abertas objetivas ou abertas dissertativas.

    Responder, discutir e comentar essas questões, bem comorelacioná-las com a prática do ensino do futebol e do futsal podeser uma forma de você avaliar o seu conhecimento. Assim, me-diante a resolução de questões pertinentes ao assunto tratado,você estará se preparando para a avaliação final, que será disser-tativa. Além disso, essa é uma maneira privilegiada de você testarseus conhecimentos e adquirir uma formação sólida para a suaprática profissional.

     As questões de múltipla escolha são as que têm como respos-ta apenas uma alternativa correta. Por sua vez, entendem-se porquestões abertas objetivas  as que se referem aos conteúdosmatemáticos ou àqueles que exigem uma resposta determinada,inalterada. Já as questões abertas dissertativas obtêm por res-posta uma interpretação pessoal sobre o tema tratado; por isso,normalmente, não há nada relacionado a elas no item Gabarito.Você pode comentar suas respostas com o seu tutor ou com seus

    colegas de turma.

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    Bibliografia Básica

    É fundamental que você use a Bibliografia Básica em seus es-tudos, mas não se prenda só a ela. Consulte, também, as bibliogra-fias apresentadas no Plano de Ensino e no item Orientações para o

    estudo da unidade.

    Figuras (ilustrações, quadros...)

    Neste material instrucional, as ilustrações fazem parte inte-grante dos conteúdos, ou seja, elas não são meramente ilustra-

    tivas, pois esquematizam e resumem conteúdos explicitados notexto. Não deixe de observar a relação dessas figuras com os con-

    teúdos da disciplina, pois relacionar aquilo que está no campo vi-sual com o conceitual faz parte de uma boa formação intelectual.

    Dicas (motivacionais)

    O estudo desta disciplina convida você a olhar, de formamais apurada, a Educação como processo de emancipação do serhumano. É importante que você se atente às explicações teóricas,práticas e científicas que estão presentes nos meios de comunica-ção, bem como partilhe suas descobertas com seus colegas, pois,

    ao compartilhar com outras pessoas aquilo que você observa, per-mite-se descobrir algo que ainda não se conhece, aprendendo aver e a notar o que não havia sido percebido antes. Observar é,portanto, uma capacidade que nos impele à maturidade.

    Você, como aluno dos Cursos de Graduação na modalidadeEaD, necessita de uma formação conceitual sólida e consistente.Para isso, você contará com a ajuda do tutor a distância, do tutorpresencial e, sobretudo, da interação com seus colegas. Sugeri-mos, pois, que organize bem o seu tempo e realize as atividades

    nas datas estipuladas.

    É importante, ainda, que você anote as suas reflexões em seu

    caderno ou no Bloco de Anotações, pois, no futuro, elas poderão serutilizadas na elaboração de sua monografia ou de produções científicas.

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    Leia os livros da bibliografia indicada, para que você amplieseus horizontes teóricos. Coteje-os com o material didático, discutaa unidade com seus colegas e com o tutor e assista às videoaulas.

    No final de cada unidade, você encontrará algumas questões

    autoavaliativas, que são importantes para a sua análise sobre osconteúdos desenvolvidos e para saber se estes foram significativospara sua formação. Indague, reflita, conteste e construa resenhas,

    pois esses procedimentos serão importantes para o seu amadure-cimento intelectual.

    Lembre-se de que o segredo do sucesso em um curso namodalidade a distância é participar, ou seja, interagir, procurando

    sempre cooperar e colaborar com seus colegas e tutores.

    Caso precise de auxílio sobre algum assunto relacionado aesta disciplina, entre em contato com seu tutor. Ele estará prontopara ajudar você.

    3. REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA

    BAYER, C. La enseñanza de los juegos deportivos colectivos: baloncesto, fútbol,balonmano, hockey sobre hierba y sobre hielo, rugby, balonvolea, waterpolo. 2. ed.Barcelona: Hispano Europea, 1992.

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    Origem e História

    do Futebol

    1. OBJETIVOS

    • Possibilitar o acesso à história do futebol, desde a práticade alguns jogos que o antecederam até sua institucionali-zação na Inglaterra.

    • Apresentar o contexto brasileiro e permitir a compreen-

    são das condições históricas que determinaram sua tra- jetória.

    • Oferecer condições necessárias para compreender a his-tória do futebol, de forma crítica e contextualizada.

    • Favorecer a reflexão pedagógica diante dos conteúdoshistóricos e da atualidade do futebol.

    2. CONTEÚDOS

    • Os possíveis jogos precursores do futebol.• A história do futebol moderno na Inglaterra e no Brasil.

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    • O elitismo e o racismo no início da prática do futebol mo-derno no Brasil.

    • O processo de popularização e profissionalização do fute-

    bol moderno no país.

    3. ORIENTAÇÕES PARA O ESTUDO DA UNIDADE

    Antes de iniciar o estudo desta unidade, é importante quevocê leia as orientações a seguir:

    1) Tenha sempre à mão o significado dos conceitos expli-citados no Glossário e suas ligações pelo Esquema de

    Conceitos-chave para o estudo de todas as unidadesdeste CRC. Isso poderá facilitar sua aprendizagem e seudesempenho.

    2) Para que aproveite todo o conteúdo desta unidade, énecessário tomar certos cuidados. Por ser um materialsustentado especialmente em fatos históricos, é impor-tante que seja feita uma leitura cuidadosa do texto ela-borado e das obras citadas, bem como o acesso a outras

    informações relacionadas ao tema e que permitam acomprovação ou mesmo uma reestruturação do conteú-do desenvolvido.

    3) Para facilitar a sua leitura, a compreensão dos aspectoshistóricos e a cronologia dos fatos, sugerimos que fiqueatento às possíveis lacunas de tempo e à sequência defatos sobre a história do futebol.

    4) A fim de compreender a evolução histórica do futebol, a

    partir da prática de jogos com bola até sua instituciona-lização, note as possíveis influências exercidas por seusprecursores (os quais não se restringem ao jogo pratica-do na Inglaterra no início do século 19).

    5) Para ampliar seus conhecimentos e a quantidade de in-formações a respeito do futebol, sugerimos que não seatenha somente a este material. Consulte as fontes indi-cadas e busque novas referências.

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    4. INTRODUÇÃO À UNIDADE

    Caro aluno, daremos início à disciplina Futebol e Futsal . A par-tir desse momento, você irá se deparar com uma das manifestaçõesmais populares e apaixonantes do mundo. Recorreremos à caracte-rização de Bruni (1994, p. 7) para nos ajudar nesse primeiro contato:

    Sua definição estrita, como esporte que utiliza uma bola jogada comos pés, mal deixa entrever o universo de significações simbólicas, psí-quicas, sociais, culturais, históricas, políticas e econômicas inesgotá-veis que envolvem multidões, encontradas no público em geral, nastorcidas organizadas, nos jogadores e equipes técnicas e burocráticas,concentradas em torno de um espetáculo que empolga sociedades,nações, países [...], mobilizando milhões de dólares e conquistando aadesão cada vez maior de pessoas de todas as camadas sociais.

    Pelas colocações de Bruni (1994), percebemos que o futebol nãoconsiste apenas em uma modalidade esportiva formal, regida por umconjunto de regras, mas trata-se de uma prática social que pode sercompreendida como uma construção histórica organizada a partir dasegunda metade do século 19 e que se modernizou até os dias atuais.

    Veja que a definição de Bruni (1994) expressa uma pequena

    parcela do universo do futebol e nem sequer faz referência ao es-porte como uma "simples" prática de lazer, por exemplo.

    Iniciaremos a disciplina tendo contato com os primeiros jo-gos e sua influência na evolução do futebol, tal qual o conhecemoshoje. Partiremos da China, passaremos pelo Japão, Grécia, Itália,França e, finalmente, pela Inglaterra. O acesso a algumas dessaspráticas e a essa remota história será realizada por meio dos textos

    de Aquino (2002) e Normando (2004).

    O futebol no Brasil será abordado tendo como referenciais ainfluência inglesa e sua prática enquanto privilégio das elites pau-listana e carioca. Veremos também que, antes de se transformarna manifestação esportiva mais popular da cultura do povo brasi-leiro, o racismo esteve presente em sua prática.

    Nessa esfera, apresentaremos os motivos e os processossociais que determinaram a popularização do futebol, bem como

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    sua inserção nas classes sociais populares, apesar da resistênciade grupos economicamente privilegiados, contrários ao avanço doprofissionalismo nessa área.

    De maneira geral, acompanharemos a trajetória do futebol

    no Brasil, destacando especialmente o período que compreendesua chegada em 1894 – sua prática elitista e racista, passando peloamadorismo marrom (que será abordado no Tópico 6 desta unida-de) – até sua profissionalização, em 1933.

    Para que você realmente possa compreender o "fenômenofutebol", trate-o com cuidado e respeito. Somente dessa formapoderá apreendê-lo na condição de "esporte das multidões" ou

    "paixão nacional". Assim, você aumentará suas chances de com-preender quem é o seu aluno/atleta e o que ele procura em suasaulas/sessões de treinamento.

    5. OS PRIMEIROS TEMPOS

    Há muitas histórias sobre a origem do futebol. No entanto, as

    referências levam-nos a constatar que o futebol não foi simplesmenteinventado, como o basquetebol ou o voleibol, criados para atender adeterminadas demandas a partir de práticas esportivas já existentes.

    O futebol é fruto da evolução histórica de inúmeros jogoscom bola, praticados por diversos povos em diferentes épocas, eque, em determinadas situações e condições históricas (como ve-remos mais adiante), foi alvo de um processo de institucionaliza-

    ção, tornando-se um dos pilares do esporte moderno.De forma semelhante ao rúgbi, ninguém sabe especificar, ao

    certo, quando se inicia a história do futebol.

    Para Aquino (2002), apesar de referências feitas por historia-dores e arqueólogos, os quais registram a prática de algo parecidocom o futebol no Egito e na Babilônia (centros de civilização daAntiguidade), informações mais precisas apontam que na Chinapraticava-se o tsutchu, há aproximadamente 2.300 anos.

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    Tsutchu significa "golpe na bola com os pés", e era praticadoem três modalidades. A primeira caracterizava-se pela participa-ção de apenas um jogador, que fazia malabarismo com a bola. Nasegunda, havia o envolvimento de duas equipes com o objetivo detranspor a bola sobre uma rede, mas os jogadores não podiam dei-

    xar a bola tocar o solo no próprio campo. Na terceira, duas equipestinham como meta passar a bola em alvos parecidos com gols, dis-postos nos cantos do campo.

    De acordo com Aquino (2002), estas modalidades foramcriadas por Yang-Tsé, membro da guarda do imperador Huang-Ti,e seriam utilizadas como treinamento da guarda imperial e, poste-riormente, de todos os soldados que se preparavam para guerra.

    Ainda no Oriente, mas agora no Japão, cerca de 500 ou 600anos após a origem do ancestral chinês, surgiu o kemari , que de-monstrava aspectos muito mais ritualísticos do que competitivos.Não se contavam pontos, de forma que o único objetivo do jogoera apurar a técnica de dominar a bola com os pés.

    Normando (2004) relata que o kemari  deveria ser praticado

    entre árvores nobres – "um pinheiro a noroeste, um ácer a sudoes-te, uma cerejeira a nordeste e um salgueiro a sudeste". Tal como o

    tsutchu, inicialmente tinha o propósito militar, tornando-se, mais

    adiante, uma prática dos nobres até chegar às classes populares.

    Veja, na Figura 1, uma ilustração do kemari .

    Depois de ter passado pela China

    e pelo Japão, a história segue até a Gré-cia, no século 1 a.C., onde se praticava

    o epyskiros. Tal prática era muito popu-

    lar, embora não fizesse parte dos Jogos

    Olímpicos (AQUINO, 2002). Apesar da

    referência, Aquino (2002) e Normando

    (2004) afirmam que há poucas infor-

    mações sobre esta modalidade. O quese sabe é que o vencedor era determi-

    Fonte: Normando (2004).Figura 1 O kemari .

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    nado quando a equipe conseguia ultrapassar a linha demarcatória

    com a bola nas extremidades do campo (NORMANDO, 2004).

    É interessante que, nesse contexto, durante doze séculos de

    existência dos antigos jogos olímpicos, esportes com bola jamais

    foram incluídos nos programas oficiais, apesar do enorme interes-se dos gregos por esse tipo de jogo. O epyskiros  compunha um

    grupo de jogos denominados de sphairomakhia, que englobava

    esportes em que a bola era jogada com as mãos ou com os pés

    (AQUINO, 2002).

    Vejamos, agora, o exemplo da Itália, mais especificamente

    de Roma, local onde se praticava o harpastum. Inspirado no jogo

    grego, utilizava uma bola de couro parecida com a atual. O couro

    envolvia uma bexiga de boi cheia de ar e o campo era retangular,

    dividido por três linhas, uma central e duas linhas de meta nas

    extremidades. Segundo Aquino (2002), a bola deveria ser passa-

    da de jogador a jogador até que um deles tivesse condições de

    arremessá-la em direção à linha de meta adversária. Caso a bola a

    transpusesse, a equipe marcava um ponto.Para Normando (2004):

    Claramente, a armação do "time" sujeitava-se às qualidades físicase técnicas dos jogadores e, ao que tudo indica, a brutalidade dasdisputas foi cedendo espaço para jogadas viabilizadas a partir deuma unidade coletiva. A bola era pequena e deveria ser lançadadetrás das linhas demarcatórias. As equipes desenvolveram umadiversidade de alternativas táticas e técnicas para ludibriar os ad-versários nas quais os passes e dribles eram incentivados para o

    deleite do público que aplaudia e gritava com regozijo.

    Pela descrição, note que o fato de se assumir uma meta a ser

    alcançada, a existência de parceiros e um adversário a ser "venci-

    do" implicam a adoção de táticas de ataque e defesa em um jogo

    com bola. Essa transformação pode ter traçado uma inquestioná-

    vel aproximação tática com o jogo contemporâneo, colocando-o

    como um antecessor direto do futebol atual.

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    Como resultado de suas invasões, Roma apropriou-se do

    epyskiros, criando o harpastum. E com a conquista de terras aonorte da Europa, essa modalidade logo foi introduzida pelo exér-cito romano no continente europeu. Certamente, o processo evo-lutivo do futebol teve um avanço considerável com o apogeu doImpério Romano. Os atuais territórios da França e da Inglaterraacabaram incorporando essa influência em suas culturas (AQUI-

    NO, 2002; NORMANDO, 2004).

    Entretanto, no que se refere à Inglaterra, existe uma diver-gência entre alguns historiadores: uns acreditam que tenha sidode fato os romanos, durante os quatro séculos de domínio que se

    seguiram à primeira expedição de Júlio César, no ano 43 d.C., quederam a conhecer aos bretões as regras do harpastum; outros afir-mam que os romanos, ao chegarem à Bretanha, já encontraram láum futebol nativo, de origem meio lendária, meio cívica.

    Para Normando (2004), tal dúvida é justificada pelo que de-

    nominou de "orgulho britânico", pois os ingleses acreditam ser osinventores do esporte contemporâneo.

    A partir do século 12, e durante muito tempo, a brutalidadeesteve presente nos jogos com bola na Inglaterra, designados de

    ludus pilae. Durante as terças-feiras de carnaval (Shrove Tuesdays),aproximadamente 500 pessoas de cada lado disputavam uma bola,com o objetivo de ultrapassar a linha de meta adversária. Para isso,esbofeteavam-se e provocavam uma enorme confusão. Na cidadede Ashbourne, por exemplo, os portões norte e sul eram as metas

    a serem atingidas. Ao final das disputas, era comum o registro demortes de alguns participantes (NORMANDO, 2004).

    Veja, na Figura 2, representações da ludus pilae.

    Diante de tanta brutalidade, em 1314, o rei Eduardo II proibiua prática do ludus pilae na Inglaterra, argumentando que "estas es-caramuças ao redor de bolas de grande tamanho, de que resultam

    muitos males, que Deus não permita" (AQUINO, 2002, p. 15).

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    Fonte: Normando (2004).Figura 2 Ilustração do ludus pilae.

    Para Normando (2004), "temia-se que o interesse pelo ludus pilae desvanecesse o empenho dos homens no arco e flecha ou na

    esgrima – práticas de maior utilidade nos entreveros bélicos".

    As proibições reais foram reforçadas de tempos em tempos,de modo que o futebol na Inglaterra da Idade Média não passassede um jogo severamente combatido pelas autoridades.

    Contrariamente ao que aconteceu na Inglaterra, as práticascom bola na Itália do mesmo período não sofreram perseguições

    pelas autoridades. Na época, houve até certo estímulo por parteda ala nobre italiana ao que denominaram de calcio (NORMANDO,

    2004), prática iniciada em Florença e cuja denominação passou afazer referência ao futebol contemporâneo praticado no país. Ain-da hoje, no dia de São João, padroeiro da cidade de Florença, em24 de junho, seus habitantes encenam o histórico jogo.

    Normando (2004) relata que os italianos podem ter sido os

    primeiros a organizarem um conjunto de regras de um jogo combola. No calcio (veja Figura 3), em específico, havia a participaçãode 27 jogadores com funções específicas, sendo três zagueiros fi-xos, quatro zagueiros avançados, cinco que atuavam no meio de

    campo e quinze na posição que corresponde aos atacantes.

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    Fonte: Normando (2004).Figura 3 O calcio.

    Assim como na Itália, o futebol também encontrou o apoio de no-bres na França. O jogo dos franceses, denominado soule ou choule, foi,provavelmente, outra variante do harpastum romano, sendo praticadotanto pelo homem do povo quanto pelos nobres. Segundo o relato de

    Aquino (2002), o soule era realizado em dimensões preestabelecidase disputado sem número fixo de participantes. A meta desse jogo eraconseguir passar a bola por entre dois balões. Quem conseguisse fazê--lo marcava um ponto para sua equipe.

    Menos violento que o futebol dos ingleses, Normando (2004)

    relata que esse jogo francês quase não encontrou resistência. Por

    um lado, sua prática diferiu da rudeza da disputa anglo-saxã, namedida em que privilegiava a habilidade dos dribles em detrimen-to da força dos chutões. Por outro lado, em consonância com osingleses, as partidas podiam envolver até povoados inteiros emcontendas que duravam horas, ou mesmo dias.

    O autor relata também que, do final da Idade Média atéo início da Moderna, os colonizadores passaram a descortinar a

    cultura dos povos americanos e, como não podia ser diferente,os jogos com bola também fizeram parte dessa cultura – pela

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    primeira vez foram encontrados relatos da utilização de bolasconfeccionadas com látex. Contudo, acredita-se que os jogos pra-ticados nas Américas não contribuíram para a consolidação dofutebol moderno.

    Voltando à Europa, agora na Idade Moderna, foi observadoum relaxamento na oposição ao futebol a partir do século 17.

    Talvez, o mais eficiente dos caminhos alternativos que garantirama sobrevivência do jogo de bola tenha sido sua esportivização, istoé, sua codificação em regras que tentaram diminuir seu acentuadotom de violência e de desordem e que viabilizaram sua tolerância,sobretudo, nas escolas e universidades da Inglaterra do início doséculo XIX (NORMANDO, 2004).

    O caráter violento do futebol mudou apenas quando o espor-te chegou às escolas, por volta de 1840. Antes, no período de 1810

    a 1840, colégios ingleses, como Eton, Harrow, Rugby, Shrewsbury

    Westminster, possuíam suas próprias regras, o que impossibilitou

    a disputa entre suas respectivas equipes. O esporte tornou-se, a

    partir desta data, obrigatório nos recreios escolares britânicos,

    uma vez que a rainha Vitória, aconselhada pelo pedagogo Thomas

    Arnold, pôs fim à proibição.

    Qual foi a razão dessa trégua? Por que a rainha Vitória deci-

    dira que os jovens ingleses poderiam e até deveriam se entregar a

    esse esporte tão primitivo, tão bárbaro?

    Arnold recomendava que os esportes fossem utilizados nas

    escolas, com o fim de canalizar para os campos de competição a

    energia que, de outra forma, os jovens poderiam desperdiçar empráticas condenáveis. Segundo esse educador, não eram práticas

    condenáveis apenas o vício do jogo e o do álcool, mas as ideias

    políticas de sentido reformista que poderiam pôr em risco o con-

    servadorismo defendido pelos vitorianos.

    Com o futebol, os meninos não perderiam tempo conversan-

    do nos recreios, trocando ideias; os nobres poderiam ser influen-

    ciados pelos plebeus e pela classe média em ascensão.

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    Além disso, o que haveria de mais eficaz e menos perigosodo que colocar os jovens para correr atrás de uma bola, brigandopor ela durante a hora do recreio?

    Na primeira década do século 19, o futebol e outros esportes

     já faziam parte da educação regular dos jovens que frequentavamas escolas públicas, particulares e as universidades. Em cada umadelas, o futebol organizou-se, direcionado à institucionalização.

    Foi nesse momento que surgiram as primeiras leis ou regras escri-tas, impressas e publicadas.

    A grande popularização do esporte no continente europeuculminou na necessidade de padronizar regras para as disputas en-

    tre as nações, abrindo, desse modo, espaço para um movimentoclubístico que passou a ser denominado de "associacionismo".

    Neste ponto, concluímos o verdadeiro motivo de assumiros ingleses como os inventores do futebol: coube aos britânicos a

    institucionalização do jogo, iniciando, assim, a sistematização dasprimeiras regras em manuais de conduta desportiva, que delimita-vam aspectos, como o número de jogadores, o tamanho de campoe os gestos que seriam ou não permitidos.

    Logo, o futebol moderno começou a ser criado em 1848,quando, na Universidade de Cambridge, uma conferência reuniu amaioria dos diretores de colégios que praticavam o esporte. Nessareunião, foi decidida a proibição de usar as mãos e os braços (comexceção do goleiro) no jogo. As regras, entretanto, não foram acei-

    tas por todas as escolas.Quinze anos mais tarde, em 26 de outubro de 1863, reuni-

    dos na Taberna Freemason, em Great Queen Street, Londres, onzeclubes e escolas criaram as bases para as regras que hoje regem ofutebol. Foi fundada a Football Association.

    Nessa reunião, foi levantada uma polêmica quanto à preferên-cia pelo jogo de futebol "limpo", em que seria coibida a violência eabolido o jogo com as mãos, de acordo com as regras de Cambridge,

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    o qual permitia um maior contato e uso das mãos, sendo agressi-vo em muitos casos. Como os representantes não chegaram a umconsenso, a questão foi colocada em votação, vencendo as regraspropostas por Cambridge. Os derrotados, descontentes, abandona-ram o futebol para desenvolverem outro esporte: o rúgbi. Daí parafrente, o futebol e o rúgbi passaram a seguir caminhos distintos.

    O primeiro torneio de futebol foi realizado em 1871, numa

    disputa entre clubes. No ano seguinte, em 30 de novembro de1872, Inglaterra e Escócia empataram em 0 x 0, no que se conside-ra o primeiro amistoso internacional da história como menciona-mos anteriormente. O profissionalismo no futebol foi iniciado so-

    mente em 1885 e, no ano seguinte, foi criada, na Inglaterra, aInternational Board, entidade cujo objetivo principal era estabele-cer e mudar as regras do futebol.

    Na Figura 4, você pode ver como era abola de futebol usada no final do século 19.

    No início do século 20, o futebol mundialcomeçou a se organizar. As federaçõesnacionais existiam, mas sem uma organizaçãointernacional capaz de regular as relações entreum país e outro no campo futebolístico.

    Dessa forma, em 21 de maio de 1904, foi aprovado um esta-tuto que regeria as relações futebolísticas entre as nações, surgin-do, então, a Federação Internacional de Futebol Associado (Fifa),

    que, por causa de problemas diplomáticos, da falta de credibi-lidade de uma entidade recém-criada e do cenário iminente deguerra, conseguiu, somente em 1930, pôr em prática o sonho deorganizar um torneio mundial entre seleções nacionais, realizado,curiosamente, no Uruguai, em virtude do estado catastrófico emque se encontravam os países europeus pós-guerra.

    Nesse ponto, o futebol já havia se espalhado por todos os

    cantos do planeta, chegando ao Brasil na última década do século19, trazido por marinheiros, padres jesuítas ou, quem sabe, pelo

    Figura 4 Bola de futebol do final do século 19.

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    próprio Charles Miller. Mas esse é um assunto que abordaremosmais adiante.

    Até aqui, foi apresentada uma descrição dos principais fatosque compõem a história do futebol.

    6. HISTÓRIA DO FUTEBOL NO BRASIL: PROCESSOS EINTERPRETAÇÕES

    Neste tópico teremos contato com a história do futebol den-tro do contexto do esporte moderno, desde sua origem na Ingla-

    terra, no final do século 19, até sua chegada e desenvolvimento

    no Brasil. Por causa da falta de registros, muitas informações seperderam. Por essa razão, em algumas situações, o período e asdatas são aproximados.

    Este histórico não consistirá apenas no apontamento dedatas e fatos isolados, o que, por si, é uma tarefa relativamentetranquila de ser realizada. O mais interessante é entendermos ocontexto histórico que propiciou as condições para que o futebol

    se transformasse no esporte mais popular do mundo.

    Apesar do consenso em relação à chegada do futebol no Bra-sil pelas mãos de Charles Miller, em 1894, há estudos que relatamque jogos com bola já eram praticados em nosso país.

    Há menções sobre um jogo com bola nos anais de 1746 daCâmara Municipal de São Paulo. De acordo com os registros, tal

     jogo era proibido, pois causava "agrupamentos de vadios e desor-deiros" (AQUINO, 2002, p. 24). Que jogo seria esse? Até hoje nãose sabe. Porém, não há dúvida de que foram os ingleses (tripulan-

    tes de navios mercantes), a partir de 1864, os primeiros a jogaremfutebol no litoral brasileiro.

    Há, também, informações de que as primeiras práticas do jogo com bola na província de São Paulo datam de 1872, no Co-

    légio São Luís, em Itu. Nesse colégio, os alunos eram incentivados

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    por um sacerdote a chutarem um balão de couro contra um dosmuros do colégio. Note que, até o momento, não foram feitas re-ferências a um jogo de futebol e, sim, a um jogo com bola.

    A primeira menção à palavra "futebol" pode ser encontrada

    em um trecho do Regulamento do Colégio Pedro II, no Rio de Ja-neiro, em 1892 (CARRANO, 2000 apud AQUINO, 2002, p. 25):

    O diretor e o vice-diretor do Ginásio procurarão desenvolver emseus alunos o gosto pelos exercícios de tiro ao alvo, de besta, tiroe flecha, exercícios ginásticos livres, saltos, jogo de volante etc. Efarão, todos os domingos, um passeio para fora do centro da cida-de [...]. São permitidos como jogos escolares: a barra, a amarela, ofutebol, a peteca, o jogo de bola, o cricket , [...] o crochê, corridas,saltos e outros, que, a juízo do diretor, concorram para desenvolver

    a força e a destreza dos alunos, sem pôr em risco sua saúde.

    Oficialmente, a entrada do futebol – estabelecido de acordocom as regras do Football Association – como elemento integran-te da cultura corporal de movimento do Brasil ocorreu em 1894,

    quando Charles William Miller (1874-1953), brasileiro de descen-dência inglesa, volta de seus estudos na Inglaterra e traz consigouma bola de futebol e alguns uniformes para a prática do jogo,

    transformando-se no grande incentivador do futebol na capitalpaulista.

    No final do século 19 e início do século 20, o futebol já acu-mulava adeptos e praticantes, especialmente os jovens da eliteeconômica em São Paulo e Rio de Janeiro. No princípio, o futebolapresentou um caráter essencialmente elitista, em que apenas os

    estudantes dos colégios grã-finos tinham a oportunidade de par-ticipar dos jogos que aconteciam no interior das escolas. Nessesentido, o futebol fazia parte de uma série de atividades que eramexecutadas pelos alunos durante as aulas de atividade física.

    De acordo com algumas fontes, em 14 de abril de 1895 foirealizada a primeira partida de futebol no Brasil, no campo daCompanhia Paulista de Aviação, entre equipes de trabalhadores

    de indústrias inglesas. Já o primeiro clube destinado à prática dofutebol foi fundado na cidade de São Paulo, em 1898, e recebeu

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    o nome de Associação Atlética Mackenzie College. Augusto Shaw,professor desse colégio, voltou dos Estados Unidos trazendo consi-go uma bola de basquetebol, esporte que pretendia difundir entreos alunos, que preferiram chutá-la.

    A partir desse período, outros clubes foram fundados. Elesse organizaram e formaram a Liga Paulista de Futebol.

    Na cidade de Rio Grande (RS) foi fundado, em 14 de julho de1900, o primeiro clube destinado à prática exclusiva do futebol – oSport Club Rio Grande. Em virtude desse fato, essa data passou aser considerada o "Dia do Futebol".

    No Rio de Janeiro, então capital federal, o precursor do fu-tebol foi Oscar Cox (1880-1931), que também estudou na Europa.Cox foi responsável pela formação da primeira equipe no Rio de Ja-neiro, em 1901, e pela fundação do Fluminense Football Club, em21 de julho de 1902 (AQUINO, 2002). Cox e os demais fundadores

    do Fluminense eram jovens chefes de empresas, empregados dealto nível ou simplesmente filhos de pais ricos, legítimos represen-tantes das elites cariocas.

    Portanto, no Rio de Janeiro, o primeiro clube fundado coma intenção de ser um clube de futebol foi o Fluminense, que co-brou ingressos pela primeira vez em 16 de julho de 1903, para queo público pudesse assistir a uma partida de futebol. Assistiram àpartida 2.500 pessoas e 969 pagaram para vê-la. Nesse jogo, até opresidente da República da época, Rodrigues Alves, esteve presen-

    te (REIS; ESCHER, 2006).Nos primeiros anos do século 20, o futebol começou a se

    propagar no seio da classe rica. Alguns colégios tinham-no comoprática sistemática em seus espaços destinados às atividades físi-cas e, em pouco tempo, bons jogadores estavam sendo formadospara ingressar nas equipes de futebol dos clubes já consolidados.No Rio de Janeiro, havia o Paysandu; em São Paulo, o clube Ger-

    mânia (atualmente denominado Clube Pinheiros), o Club AthleticoPaulistano e o São Paulo Athletic Club.

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    Era muito comum a utilização de palavras e expressões eminglês ao se referirem ao futebol (por exemplo:  field , goalkeeper ,

     fullback ). Nas arquibancadas, os homens vestiam-se de ternos, cha-péus e traziam bengalas; as mulheres usavam vestidos longos commangas até o punho, acompanhadas de sombrinhas. No campo, os

     jogadores utilizavam calções abaixo dos joelhos, camisas de gola, equando cometiam faltas, falavam "I am sorry " ("desculpe-me").

    Como as pessoas de classes sociais mais baixas não podiamfrequentar os mesmos espaços que as pessoas das classes sociaismais abastadas (as arquibancadas), foram criadas as "gerais", queeram espaços destinados aos "pobres".

    Nesse período, o futebol enfrentava a concorrência de ou-tras práticas esportivas, como o ciclismo, o remo, o tiro ao alvo, ocríquete e corridas de cavalo.

    A cor do futebol

    Além de elitista, a prática do futebol também poderia ser clas-

    sificada como racista. Neste caso, acreditamos que o racismo no fu-tebol brasileiro merece uma atenção especial, não porque o futebolapresente um caso isolado de atitudes racistas ao longo de sua his-tória, mas porque, durante a formação do Estado brasileiro, a práticada segregação racial foi uma política deliberada de Estado. Por isso,o preconceito acentuava-se no futebol, dependendo da cor da pele.

    Os relatos de acontecimentos racistas na sociedade brasilei-

    ra, e também em muitas outras partes do mundo, são inúmeros elamentáveis. No caso do racismo na sociedade brasileira, podemos

    afirmar que há razões históricas que remontam ao tempo do BrasilColônia. Contudo, não pretendemos, nesta unidade, realizar umadiscussão ou um estudo que explique essa história em detalhes.

    Todavia, ela serve para que nós tenhamos ciência de que o racis-mo, presente nos fenômenos esportivos modernos (e no caso especí-

    fico do futebol), tem suas raízes e sua presença no conjunto da históriado povo brasileiro e da formação do Brasil na condição de nação.

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    Após a publicação da lei que concedeu a liberdade aos es-cravos em 1888, nenhuma política pública de inclusão foi desen-volvida a fim de possibilitar aos negros o acesso ao mercado detrabalho assalariado e a uma vida digna.

    Os negros foram, deliberadamente, colocados à margem dasociedade e obrigados a viver sob condições desumanas. A buscapela afirmação e por espaços dignos de vida tornou-se reduzida,

    sendo o futebol uma das poucas oportunidades para que essaspessoas pudessem encontrar um lugar dentro da sociedade brasi-leira nas primeiras décadas do século 20.

    Para evidenciar o racismo e o elitismo que perpetuaram ao

    longo do estabelecimento do futebol, a partir da sua formalização,Aquino (2002) recorre a duas passagens envolvendo dois dos nos-sos principais escritores – Lima Barreto e Rui Barbosa.

    O primeiro foi responsável pela criação da Liga contra o Fu-

    tebol. Segundo Lima Barreto, o futebol, além de ser usado como"ópio do povo", era prática racista da burguesia e filho do imperia-lismo inglês.

    Já Rui Barbosa, antes de uma viagem de navio para a Argen-tina, ficara sabendo que o selecionado brasileiro estaria no navio edisse ao ministro das Relações Exteriores:

    Pois saiba o senhor que eu, minha família e meus auxiliares nãoviajamos com essa corja de malandros! Futebolista é sinônimo devagabundo, e pode escolher imediatamente, senhor Ministro, oueles ou eu (AQUINO, 2002, n. p.).

    A delegação então teve de viajar de trem até Buenos Aires.

    O autor também faz referência ao ofício enviado pela LigaMetropolitana de Sports Atléticos, em maio de 1907, aos clubesassociados, comunicando que não registraria amadores que fos-sem "pessoas de cor". Isso fez com que fosse criada a Liga Subur-bana de Football.

    Absurdos como "negro sujo" e "crioulo nojento" eram ex-pressões muito frequentes nos campos de futebol no Brasil, nos

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    anos de 1920 e 1930. Hoje, tais expressões foram substituídas poroutras mais amenas, embora não menos cruéis.

    Mesmo jogadores negros como Leônidas da Silva e Domingosda Guia, que, nos anos de 1930 e 1940, foram os jogadores mais bem

    pagos no futebol da época, continuaram a ser desvalorizados intelec-tualmente. Ambos conseguiram superar o preconceito, de maneiraque, com seus talentos, adentraram ao mundo da prática do futebol.

    Convém salientar, porém, que Leônidas e Domingos da Guiaforam exceções, uma vez que muitos jogadores negros sucum-biram ao racismo presente no futebol da época. Citamos comoexemplo o caso do jogador Carlos Alberto, que, por ser mulato,

    maquiava-se com pó de arroz para embranquecer o rosto, pois oclube carioca para o qual tinha se transferido (Fluminense) era umdos times mais resistentes à inclusão de pessoas pobres e negrasnas competições oficiais de futebol.

    Outro exemplo é o caso do primeiro grande jogador da histó-ria do futebol brasileiro, Arthur Friedenreich, que era filho de paialemão e mãe negra. Na década de 1920, chegava sempre atrasa-do aos jogos, pois ficava preso nos vestiários passando goma ará-bica nos cabelos para alisá-los, pois era mulato. Segundo Corrêa(1985), esse foi o primeiro negro a superar-se no futebol racista daépoca. Fausto, tão bom jogador quanto Friedenreich, foi o primei-ro negro a ser convocado para a seleção brasileira.

    Nessa época, o racismo no futebol brasileiro era tão acin-

    toso que até o presidente da República, Epitácio Pessoa, impediuque jogadores negros disputassem o campeonato sul-americanode seleções de futebol, que seria realizado na Argentina. Um dosargumentos utilizado pelo presidente era que, em caso de derrotabrasileira, os brancos da equipe poderiam culpar os negros e, comisso, alimentar ainda mais o preconceito racial no Brasil.

    A história nos mostra inúmeros casos em que jogadores ne-

    gros (e somente os negros) foram responsabilizados por derrotasque ficaram gravadas na memória dos apaixonados por futebol.

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    Na fatídica derrota da seleção brasileira de futebol na Copa de1950, realizada no Brasil, a seleção uruguaia venceu por 2x1. Coin-cidência ou não, o goleiro Barbosa e os defensores Juvenal e Bigo-de, todos negros, foram responsabilizados pela derrota. Sobre essatragédia do futebol brasileiro, o escritor Eduardo Galeano elaborouuma bela crônica sobre o eterno drama vivido pelo goleiro Barbosa.

    Diz o escritor Galeano (2004, p. 43):Na hora de escolher o melhor goleiro do campeonato, os jornalistasdo Mundial de 50 votaram, por unanimidade, no brasileiro MoacirBarbosa. Barbosa era também, sem dúvida, o melhor goleiro de seupaís; pernas com molas, homem sereno e seguro que transmitia con-fiança à equipe, e continuou sendo o melhor até que se retirou dascanchas, tempos depois, com mais de 40 anos de idade. Em tantos

    anos de futebol, Barbosa evitou, quem sabe, tantos gols, sem ma-chucar nunca nenhum atacante. Mas, naquela final de 50, o atacan-te uruguaio Ghiggia o tinha surpreendido com um chute certeiroda ponta direita. Barbosa, que estava adiantado, deu um salto paratrás, roçou a bola e caiu. Quando se levantou, certo de que haviadesviado o tiro, encontrou a bola no fundo da rede. E esse foi o golque esmagou o estádio do Maracanã e fez o Uruguai campeão. Pas-saram-se anos e Barbosa nunca foi perdoado. Em 1993, durante aseliminatórias para o mundial dos Estados Unidos, quis dar ânimo aos

     jogadores da seleção brasileira. Foi visitá-los na concentração, mas asautoridades proibiram sua entrada. Naquela época, vivia de favor nacasa de uma cunhada, sem outra renda além de uma aposentadoriamiserável. Barbosa comentou: "no Brasil, a pena maior por um crimeé de 30 anos. Há 43 anos pago por um crime que não cometi".

    Segundo Corrêa (1985), somente após a vitória na Copa de

    1958, disputada na Suécia, os negros no futebol brasileiro foram maisvalorizados, mas unicamente pela sua ginga e malandragem dentro

    de campo – jamais por sua capacidade cognitiva ou intelectual.

    Você deve estar se perguntando: por que esse racismo todo?Para responder à sua questão, vamos tentar encontrar uma histó-ria na própria história.

    A democratização do futebol

    Vimos que o futebol se origina no contexto do desenvolvi-mento e da ampliação da sociedade capitalista no final do século

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    19. Era uma prática eminentemente burguesa e, ainda, com certadose de nobreza. As pessoas simples, pertencentes à classe dostrabalhadores, não participavam oficialmente dessa modalidadepor razões estruturais e econômicas da referida sociedade e nãodispunham de tempo livre para praticar o esporte, em virtude dashoras dispendidas no trabalho.

    Podemos concluir que o esporte, no início de sua história,

    funcionava como um diferenciador de classes sociais. Ou seja, pelaprática esportiva amadora, a burguesia da época mostrava e rea-firmava a todos a crença em sua superioridade social e, também,racial. Com o futebol, não foi diferente.

    O futebol, assim como os demais esportes da época, era ex-tremamente elitista e excludente. Só eram admitidos praticantesde famílias ricas, como os barões do café, empresários e altos fun-cionários das companhias industriais inglesas. O próprio CharlesMiller, quando organizou o futebol moderno no Brasil, realizou os

    primeiros jogos em clubes da elite paulistana.

    Apesar da forte oposição em relação à democratização, essasituação se alterou gradualmente. Quais fatores podem ter in-fluenciado a democratização do futebol? Aquino (2002, p. 32), àprimeira vista, cita dois:

    Os adeptos do esporte bretão argumentavam que uma peleja defutebol estimulava o bom funcionamento de todos os órgãos, alémdo espírito de disciplina e de solidariedade entre os atletas [...]. Aprática do futebol contou com o fato de serem poucas e simples asregras do jogo. Qualquer um, inclusive indivíduos dos segmentos

    pobres e não alfabetizados da sociedade, poderia praticá-lo facil-mente segundo as regras. Bastava dispor de uma bola, de couroou de pano, para animar um racha. O campo podia ser um terrenobaldio, uma várzea, uma praça ou uma rua.

    Para Aquino (2002), a Revolta da Vacina de 1904 também in-fluenciou a democratização do futebol. Com intensa participaçãopopular, especialmente dos capoeiristas, ela se deu pela imposição

    da vacina antivariólica às camadas mais baixas da sociedade.No trecho a seguir, há a explicação para esse fato:

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    Quem venceu esta rebelião de 1904? O futebol. Atribuindo o co-mando da rebelião aos capoeiristas, a polícia matou a capoeira, quereinava absoluta desde o século anterior [...]. O que restou paraaquela gente? A bola, nos terrenos baldios que a remodelação dacidade oferecia [...] (SANTOS apud AQUINO, 2002, p. 33).

    Com o aumento da popularização do futebol, ele começoua ser praticado em ruas, praças e terrenos baldios com bolas demeia e de borracha. Com isso, times de "esquina" começaram asurgir. O mais famoso foi o do Corinthians Paulista. Em 1910, oCorinthians inglês, em uma excursão pela América do Sul, veio aoBrasil e goleou todas as equipes com as quais jogaram. Os torce-

    dores das gerais vibraram e, um mês depois, um grupo de artesãos

    e pequenos funcionários fundou o Corinthians Paulista (SANTOSapud AQUINO, 2002).

    Em 1904, também por influência inglesa, foi fundado, no su-búrbio industrial da cidade do Rio de Janeiro, o The Bangu AthleticClub. Seus associados eram altos funcionários de origem inglesa daCompanhia Progresso Industrial Ltda., fábrica de tecidos situada nobairro de Bangu. Como não havia, na época, número suficiente de

    altos funcionários para que dois times completos fossem formados,operários da linha de produção interessados em participar do jogoforam convidados. O Bangu tornou-se, desse modo, o primeiro clu-be a permitir o acesso dos operários a esse esporte, que era privilé-gio apenas da burguesia carioca e paulistana (CALDAS, 1990).

    A escolha dos operários-jogadores dava-se, segundo o autor,em virtude de desempenho profissional e boa conduta. A partirdo convite, o jogador escolhido passava a desempenhar na fábricaum trabalho mais leve e, nos dias de treino, tinha autorização paradeixar o trabalho mais cedo (CALDAS, 1990).

    A partir daí, iniciou-se a fase amadora do futebol brasileiro,bem como a sua popularização. Os clubes de fábrica foram deter-minantes no início desse processo; com isso, o futebol deixou de

    ser um privilégio apenas da colônia inglesa e das camadas sociaisabastadas.

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    Em pouco tempo, o exemplo da fábrica de Bangu difundiu--se. Sua participação em campeonatos, com o bom desempenhoda equipe, incentivou a formação de outros times ligados a fábri-cas, juntamente com Fluminense e Botafogo.

    No estado de São Paulo, houve casos parecidos aos de Ban-gu. Em 1902, na cidade de Sorocaba, interior paulista, foi fundadoo Votorantim Athletic Club, também por iniciativa dos altos funcio-

    nários e técnicos ingleses da fábrica. Na capital paulistana, no bair-ro da Mooca, a empresa de tecelagem Regoli e Cia. Ltda. tambémtinha seu time de futebol. Em 1909, o empresário Rodolfo Crespicomprou-a, e o clube passou a se chamar Crespi F. C.; na década

    de 1930, foi rebatizado com o nome de Clube Atlético Juventus.Em pouco tempo, os clubes de fábrica já eram comuns e pas-

    sou a existir uma tradição de jogos entre eles, resultado da orga-nização de competições e campeonatos. Inicialmente, essas com-petições eram entre as fábricas e, mais tarde, entre as equipes de

    origem inglesa.

    O gosto e o desenvolvimento dessa prática levaram, nosanos seguintes, à transformação dos times de fábricas, formadospor operários, em clubes de futebol. No início, os empresários (do-nos das fábricas), por conta dessa inevitável associação, foram osprimeiros financiadores da organização e da estrutura física e ma-terial desses clubes.

    Entretanto, a inclusão de equipes de origem operária nas

    disputas dos torneios em que participavam os times da elite nãoera bem-vinda, bem como a presença de jogadores de origem sim-ples nas equipes formadas por jogadores das classes privilegiadas.

    Os donos das fábricas, representantes da pequena burguesiaindustrial brasileira da época, tinham grande interesse em finan-ciar equipes de futebol e, também, os clubes ligados aos operá-rios, uma vez que preservavam uma imagem de ordem e eficiência

    que os conduziria ao sucesso.

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    Logo, se "o prestígio da empresa não era totalmente depen-dente da equipe de futebol, podia, em parte, ser favorecido porele" (ANTUNES, 1994, p. 106). O clube era uma espécie de car-tão de visitas; ele carregava seu nome e suas cores e, ao mesmotempo, divulgava seus produtos. Os empresários não demorarama perceber que o futebol praticado pelos operários poderia funcio-nar como um grande veículo de publicidade (BRUHNS, 2000).

    Nessa mesma época, surgiram jornais especializados e de-dicados aos esportes – em São Paulo, por exemplo, havia o BrasilEsportivo e o Sport . Em pouco tempo, a estrutura jornalística con-taria com repórteres dedicados integralmente aos acontecimentos

    referentes ao futebol.Com o passar dos anos, e apesar da resistência imposta por

    alguns clubes, o futebol já não era mais privilégio dos rapazes dasfamílias ricas. Na década de 1920, eram frequentes os jogos en-tre equipes que tinham em seus quadros jogadores de diferentes

    classes sociais, com imensa presença da classe trabalhadora comoespectadora.

    Para ilustrar essa vitória do futebol, Aquino (2002) apontauma passagem do artigo de João do Rio, pseudônimo do escri-tor Paulo Barreto, intitulado "Teremos nós um novo esporte emmoda?", de 26 de junho de 1905, no Jornal Gazeta de Notícias:

    Não há dúvida. Há vinte anos a mocidade carioca não sentia a ne-cessidade urgente de desenvolver os músculos. Os meninos dedi-cavam-se ao "esporte" de fazer versos maus. Eram todos poetasaos quinze anos [...]. De um único exercício se cuidava então: acapoeiragem. Mas a arte de revirar rabos-de-raia e pregar cabe-çadas era exclusiva de uma classe inferior. Depois, a moda trouxeaos poucos o hábito de outras terras – o futebol se preparava ago-ra para absorver todas as atenções. A mocidade fala só de matchs de futebol, de goals, de chutes, em uma algaravia técnica, de queresultam palavras inteiramente novas no nosso vocabulário (JOÃODO RIO apud AQUINO, 2002, p. 33).

    Em 1923, o Vasco da Gama, com um time formado por ne-

    gros e pobres trabalhadores, conquistou o Campeonato Carioca.Na época, isso foi para os times elitistas – formados por estudan-

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    tes e profissionais bem-sucedidos da alta sociedade carioca – mo-tivo de humilhação.

    Como podemos perceber, no Brasil, os conflitos e interessesantagônicos das classes sociais, próprios da sociedade capitalista,

    estavam presentes e reproduzidos no processo de popularizaçãodo futebol.

    Amadorismo marrom

    Em resposta à ascensão do futebol no contexto das fábricas,

    houve certa resistência dos sindicatos dos trabalhadores. Na épo-ca, comunistas e anarquistas que organizavam a luta sindical no

    Brasil, especialmente em São Paulo, acreditavam que a prática dofutebol pudesse prejudicar a luta e a organização dos trabalhado-res por melhores condições de trabalho. Segundo os sindicalistas,o tempo livre dedicado à prática desse jogo atrapalharia a mobili-zação e a construção de uma consciência de classe. O futebol eraentendido como o novo "ópio do povo".

    O amadorismo garantia, predominantemente, que somentea elite pudesse participar de competições com eficiência e domí-nio do jogo, pois não tinha de trabalhar, dispondo de mais tem-po livre que a classe trabalhadora. A prática amadora assegurava,portanto, a ausência dos mais humildes, uma vez que eles nãopoderiam se dedicar ao futebol como exercício profissional. Isso,obrigatoriamente, afastava-os dos jogos oficiais e do convívio coma burguesia paulistana e carioca.

    Com a intenção de impedir a ascensão dos pobres, a Liga

    Metropolitana baixou uma norma que estabelecia que somenteseriam registrados atletas capazes de assinar o próprio nome nasúmula do jogo e que comprovassem estar estudando ou traba-lhando. Depois disso, os dirigentes (especialmente o time do Vascoda Gama) começaram a dar declarações de que determinado atle-

    ta trabalhava em suas casas comerciais, e os jogadores começarama receber os famosos bichos:

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    Chamavam-se esse dinheiro de bicho porque, às vezes, era um ca-chorro, cinco mil réis, outras, um coelho, dez mil réis, outras umperu, vinte mil réis, um galo, cinqüenta, uma vaca, cem. Não paravaaí. Havia vacas de uma, de duas pernas, de acordo com o jogo (MÁ-RIO FILHO apud AQUINO, 2002, p. 42).

    Surgiu, com essa prática, o amadorismo marrom, expressãoinventada por associação à imprensa marrom que vive da explora-ção de casos ilegais e sensacionalistas. A partir de então, os joga-dores começaram a receber para jogar: além dos bichos, recebiammóveis, materiais de construção, empregos, entre outras coisas.

    O fato é que, apesar disso, pobres e negros se mostravam

    grandes jogadores, de forma que os clubes da elite acabaram se

    rendendo aos seus talentos. No começo, mascaravam o profissio-nalismo recebendo salários como simples empregados do clubeou de uma fábrica, embora, na verdade, a remuneração viesse dovínculo com o time de futebol.

    Nesse período, a relação dos jogadores com os clubes pode serdenominada de semiprofissionalismo. Nesse contexto, muitos dosgrandes jogadores do Brasil foram contratados por outras equipesda América Latina e Europa, entre eles Domingos da Guia e Fausto.

    Para Caldas (1990), o semiprofissionalismo só interessavaaos clubes, pois, enquanto as arrecadações nos estádios só au-mentavam e enriqueciam os clubes, os jogadores permaneciamna mesma condição de explorados e sem nenhum direito. Subme-tiam-se a essa situação na esperança de um dia profissionalizarem-

    -se. Enquanto isso, os dirigentes, com raras exceções, exploravama ignorância e a subserviência dos jogadores em troca de saláriosirrisórios ou de empregos sem nenhuma garantia.

    Esse foi o quadro do futebol brasileiro até início dos anos

    1930: um semiprofissionalismo de mão única, no qual somente os

    clubes ganhavam.

    Dessa maneira, racismo, elitismo, conflitos de classes e sen-timento de superioridade marcaram os momentos iniciais do fute-

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    bol brasileiro, conflito esse que teve o seu ápice de manifestaçãopor ocasião da profissionalização do futebol no país. Nesse senti-do, conservar o futebol amador garantia, no modo de ver da elite,que brancos e negros, pobres e ricos mantivessem sempre umadistância.

    O profissionalismo no futebol brasileiro

    No sentido de acabar com a prática do amadorismo marromou semiprofissionalismo, algumas pessoas passaram a defender a

    profissionalização do futebol. Associado a isso, outro fator que fa-voreceu esse processo foi o crescente êxodo de jogadores para o

    exterior, atraídos pelos altos salários oferecidos por clubes estran-geiros.

    Para se ter uma ideia, em 1931, cerca de 30 jogadores bra-sileiros foram para clubes italianos. Diante desta realidade, a ne-cessidade de manter o jogador por contrato também favoreceuesse processo, pois muitos jogadores abandonavam seus clubes, aqualquer momento.

    Nos dois principais centros desportivos do país – Rio de Ja-neiro e São Paulo – no ano de 1933, foram criadas, respectivamen-te, a Liga Carioca e a Liga Paulista de Futebol, responsáveis pelaimplantação do profissionalismo no futebol (AQUINO, 2002).

    Com a profissionalização oficial do futebol no Brasil, em1933, foram ampliadas as oportunidades de trabalho de muitos

    operários, havendo a possibilidade de organização e formação deequipes mais competitivas e jogadores com boa qualidade técnica.

    Entretanto, apesar do profissionalismo, jogadores de clubes de fá-brica continuaram trabalhando como operários e treinavam apóso expediente.

    Todavia, houve muita resistência a esse movimento, espe-cialmente dos clubes do Rio de Janeiro e de São Paulo que não

    viam com bons olhos a mistura de classes sociais na hora do jogode futebol. O problema é que os clubes do subúrbio e das perife-

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    rias já começavam a apresentar bons jogadores e a levar grandenúmero de pessoas para assistir aos jogos. Foi o caso do Vasco daGama do Rio de Janeiro.

    Com maior representação social, as disputas entre os clubes

    tornaram-se mais acirradas, assim como a busca pelos melhores jogadores. Como nesse momento os melhores jogadores provi-nham das camadas populares, os grandes clubes, se quisessem tê-

    -los em seus times, teriam de contratá-los e pagar por eles.

    No contexto dos anos de 1930, o Brasil era governado pelopresidente Getúlio Vargas que, para conter o avanço político daclasse trabalhadora e da esquerda, propôs uma política trabalhista

    que regulamentava uma série de profissões, inclusive a de jogadorde futebol. Os atletas, finalmente, transformaram-se em emprega-dos dos clubes.

    Em 1940, três quartos dos jogadores profissionais já tinham

    origem social na classe trabalhadora. No entanto, era um profissio-nalismo tutelado pelos dirigentes e presidentes dos clubes.

    Os atletas profissionais, com raízes operárias e humildes,eram submetidos a uma relação paternalista e de controle sobreseus hábitos de vida e recebiam salários insatisfatórios. Tais hábi-tos e cultura, segundo Caldas (2001), eram extremamente repug-nados e rejeitados pelas classes média e alta.

    Depois de 1950, apesar da derrota da seleção brasileira de

    futebol para a seleção uruguaia na Copa do Mundo de Futebol

    realizada no Brasil, esse esporte, definitivamente, entrou para ocenário cultural brasileiro como um grande espetáculo de massa.O futebol consolidou-se, também, pela presença maior dos meiosde comunicação na divulgação e organização dos eventos.

    No Brasil, até 1970, os jogos eram transmitidos pela televi-são na forma de videoteipe. Isso ajudou a firmar o estilo brasileirode se jogar futebol com a presença corporal marcante do negro edo mestiço.

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    Com as conquistas das Copas do Mundo de 1958, na Suécia,e de 1962, no Chile, o estilo brasileiro de futebol ganhou reconhe-cimento internacional, por ser jogado com arte. Definitivamente,com essas duas conquistas, o futebol no Brasil consolidou-se comouma grande mercadoria da indústria cultural.

    Atualmente, o futebol profissional, como grande produtoda lógica capitalista, está vinculado à indústria do entretenimentocomo um produto a ser consumido pelas milhares de pessoas quevão aos estádios ou pelos milhões que assistem aos jogos pela TV.

    Durante as transmissões ao vivo dos jogos pela televisão,a publicidade de inúmeros produtos aparece a cada minuto. São

    mercadorias de toda ordem: de lâminas de barbear e perfumesaté marcas de bebidas alcoólicas.

    O jogador profissional não mais representa as cores de seuclube; transformou-se em uma espécie de representante comer-cial de seus patrocinadores pessoais. O trabalho atual dos grandes

     jogadores valorizados no futebol mundial consiste em alternar ashoras de treinamento e as horas de gravação de comerciais publi-

    citários. É aquilo que podemos chamar de "jogador mercadoria".

    7. QUESTÕES AUTOAVALIATIVAS

    Sugerimos que você procure responder, discutir e comentaras questões a seguir, que tratam, mais especificamente, da históriado futebol no Brasil – de Charles Miller, a prática do futebol mo-

    derno até sua profissionalização.A autoavaliação pode ser uma ferramenta importante para

    você testar o seu desempenho. Se você encontrar dificuldades emresponder a essas questões, procure revisar os conteúdos estuda-dos para sanar as suas dúvidas. Esse é o momento ideal para quevocê faça uma revisão desta unidade. Lembre-se de que, na Edu-cação a Distância, a construção do conhecimento ocorre de forma

    cooperativa e colaborativa; compartilhe, portanto, as suas desco-bertas com os seus colegas.

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    Confira, a seguir, as questões propostas para verificar o seudesempenho no estudo desta unidade:

    1) Podemos afirmar que Charles Miller, quando trouxe o futebol ao Brasil, em1894, encontrou um ambiente favorável que facilitou sua aceitação. Do seuponto de vista, o que poderia explicar tamanha afinidade? O que pode ter

    facilitado a entrada e a permanência desta modalidade no Brasil?

    2) Como você descreveria a prática do futebol no Brasil no início do século 20?Aponte fatores que podem ter contribuído para sua popularização e conse-quente mudança do quadro inicial.

    3) Vimos que o processo de profissionalização do futebol sofreu influências devários fatores. Explique como a prática pelos operários das fábricas facilitoua implantação do profissionalismo em nosso país. Como você justificaria oamadorismo marrom no mesmo período?

    8. CONSIDERAÇÕES

    Nesta unidade, você estudou questões relativas à problemática

    histórica do futebol, como a importância desse esporte para a históriada cultura da humanidade, desde a antiguidade até os dias de hoje.Além disso, você pôde conhecer algumas das principais características

    dos jogos das primeiras civilizações, precursores do futebol atual.

    Você teve contato com um breve panorama histórico do fu-tebol no Brasil, desde sua chegada, sob influência europeia, até oselementos que ora dificultaram, ora facilitaram sua incorporação/assimilação por todos os brasileiros. Pôde perceber, também, queessa história foi construída sobre preconceitos e injustiças.

    Logo, é importante que você, aluno do EaD, saiba contextua-lizar e discutir essa história com seus futuros alunos na EducaçãoBásica. Relações e exemplos não faltarão para que você possa con-tar a história do futebol de maneira crítica, sem se limitar ao sensocomum e dispondo de uma visão ampla de sociedade e do fenô-meno educativo. Na Educação Física, a conversa tem de ser outra!

    Para finalizar este tópico, reforçamos que o objetivo desta

    unidade foi mostrar a trajetória do futebol do início de sua prática,

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    de acordo com regras específicas, até a profissionalização no Bra-sil, proporcionando a visualização dos acontecimentos responsá-veis por transformá-lo em "paixão nacional".

    Entretanto, essas possibilidades não se esgotam aqui. Espe-

    ramos que você discuta com seus colegas, coloque dúvidas e co-mentários no Fórum e consiga pensar em novos temas referentesao futebol e aos conceitos a ele atrelados.

    Então, mãos à obra! Estude, reflita sobre sua prática e am-plie seus conhecimentos.

    9. E-REFERÊNCIAS

    Lista de figuras

    Figura 1  O  kemari . Disponível em: .Acesso em: 5 set. 2012.

    Figura 2 Ilustração do ludus pilae. Disponível em: . Acesso em: 5 set. 2012.

    Figura 3  O calcio. Disponível em: .

    Acesso em: 6 set. 2012.

    Figura 4 Bola de futebol  do final do século 19. Disponível em: . Acesso em: 6 set. 2012.

    Sites pesquisados

    BALZANO, O. N.; OLIVEIRA, D. M. N.; PEREIRA FILHO, J. M. P. A retrospectativa históricada discriminação e inserção dos jogadores de origem negra no futebol brasileiro. RevistaDigital Efdeportes, Buenos Aires, ano 15, n. 149, out. 2010. Disponível em: . Acessoem: 6 set. 2012.

    FEDERAÇÃO PAULISTA DE FUTEBOL. Home page. Disponível em: . Acesso em: 6 set. 2012.

    NORMANDO, T. S. O futebol como prática desportiva: gênese e espraiamento mundial do jogo de bola. Revista Digital Efdeportes, Buenos Aires, ano 10, n. 76, set. 2004. Disponívelem: . Acesso em: 6 nov. 2012.

    MALAIA, J. M. C. O futebol na cidade do Rio de Janeiro: microcosmo dos mecanismosde poder e exclusão no processo de urbanização das cidades brasileiras (1901-1933).

    In: ENCONTRO REGIONAL DE HISTÓRIA: PODER, VIOLÊNCIA E EXCLUSÃO, 19., 2008, SãoPaulo. Anais... São Paulo: ANPUH/Universidade de São Paulo, 2008. CD-ROM. Disponível

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    em: . Acesso em: 21 nov. 2012.

    MÁXIMO, J. Memórias do futebol brasileiro. Estudos Avançados, São Paulo, v. 13,n. 37, set./dez. 1999. Disponível em: . Acesso em: 5 set. 2012.

    MUSEU DO FUTEBOL. Home page. Disponível em: . Acesso em: 6 set. 2012.

    RODRIGUES, F. X. F. Modernidade, disciplina e futebol: uma análise sociológica daprodução social do jogador de futebol no Brasil. Sociologias, Porto Alegre, ano 6, n. 11,p. 260-299, jan./jun. 2004. Disponível em: . Acesso em: 6 set. 2012.

    SCAGLIA, A. J. O futebol e os jogos/brincadeiras de bola com os pés: todos semelhantes,todos diferentes. 2003. Tese (Doutorado em Educação Física)−Faculdade de Educação

    Física da Universidade Estadual de Campinas, Campinas, SP, 2003. Disponível em:. Acessoem: 21 nov. 2012.

    10. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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    AQUINO, R. S. L. Futebol : uma paixão nacional. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2002.

    BRUHNS, H. Futebol, carnaval e capoeira. Campinas, SP: Papirus, 2000.

    BRUNI, J. C. Dossiê: apresentação. Revista USP (Dossiê do futebol), São Paulo, n. 22, p.6-9, 1994.

    CALDAS, W. O pontapé inicial : memória do futebol brasileiro. São Paulo: Ibrasa, 1990.

     ______. Temas da cultura de massa: música, futebol, consumo. São Paulo: Arte &Ciência/Villipress, 2001.

    CORRÊA, L. H. Racismo no futebol brasileiro. In: DIEGUEZ, G. K. (Org.). Esporte e poder .Petrópolis, RJ: Vozes, 1985.

    GALEANO, E. Futebol ao sol e à sombra. 3. ed. Porto Alegre: L&PM, 2004.

    REIS, H. H. B.; ESCHER, T. A. Futebol e sociedade. Brasília: Liber Livros, 2006.