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    Dossi Amrica LatinaRicardo G. Borrmann

    Futuro passado ou a contribuiode Reinhart Koselleck comoferramenta de anlisemetodolgica para o contextolatino americano

    Ricardo G. Borrmann*

    Introduo

    Opresente trabalho pretende ser uma breve anlise da con-tribuio terica do historiador alemo Reinhart Koselleck(1923-2006). Daremos nfase especial aos desdobramen-tos metodolgicos gerais em suas inter-relaes com o perodo his-trico analisado.

    A partir da ideia de futuro passado, Koselleck formula uma

    anlise das expectativas de futuro e dos diversos tempos histricos,distante de qualquer marco analtico de uma teoria da histria maiordo que ela prpria, ou seja, fora dela mesma. Sua noo de futuro

    *Bacharel em cincias sociais pelaUniversidade Federal do Rio de Janeiro

    (UFRJ) e mestre em cincia poltica pelaUniversidade Federal Fluminense (UFF).

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    passado, como um futuro concebido pelas geraes passadas1,permite, portanto, uma analise diretamente situada historicamen-te e inscrita em determinado contexto social e poltico. A histria

    vista como resultado direto de determinadas relaes scio-polti-cas e analisada tendo em vista s permanncias e alteraes quenela se operaram. Koselleck no adota qualquer concepo pr-estabelecida de um padro do que seria a histria. Preocupa-se,consequentemente, com a histria como ela foi vista em cada tem-po, a partir de conceitos-chave para uma compreenso histrica darealidade social. Sua concepo de histria carrega desdobramen-tos metodolgicos fundamentais, pois postula mltiplas possibili-

    dades de tempos histricos, que, por sua vez, devem ser levadasem conta pelo analista.

    Nas palavras do prprio autor:

    Sob o ponto de vista dessas investigaes, mantm-se inalterada aimportncia das condies de longa durao que se perpetuam des-de o passado, condies que, aparentemente, caram no esquecimen-

    to. Esclarec-las tarefa da histria estrutural, qual os seguintesestudos pretendem ter dado sua contribuio. 2

    Trata-se de uma pesquisa que se debrua sobre a noo dotempo histrico numa perspectiva de longa durao, onde aanlise lingustica por dentro de uma histria dos conceitos(Begriffsgeschichte) se articula com uma teoria (histrica) da hist-ria (Historik). A linguagem figura a como elemento importante

    de anlise das transformaes que forjaram a modernidade euro-pia na passagem do sculo XVIII para o sculo XIX. Seu estudopossibilita uma percepo mais acurada da forma como estamodernidade foi percebida pelos seus prprios atores, assim comoa maneira pela qual expectativas, esperanas e prognsticos foramtrazidos superfcie (por meio da linguagem), revelando a justa-

    1 KOSELLECK, Reinhart. Futuro passado: contribuio semntica dos tempos histricos . Rio de Janei-ro: Contraponto/PUC-Rio, 2006, p. 23.

    2 IDEM, p. 16.

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    posio de diferentes espaos da experincia e o entrelaamento dedistintas perspectivas de futuro. Neste enfoque, cada tempo pre-sente configura-se como uma relao de reciprocidade entre uma

    dimenso temporal do passado e outra do futuro, relao esta quese concretiza na conjuntura, ou seja, no tempo presente, no ago-ra, conformando expectativas, que influem no espectro de aesdos agentes. Dessa forma, as permanncias culturais de longadurao3 tem importncia central para a anlise proposta porKoselleck.

    O tempo seria, ento, algo diverso daquele tempo gregoriano4

    dos calendrios, a-histrico, essencial, sugerindo uma abordagem

    do mesmo enquanto construo scio-cultural, que produz umamaneira especfica de relacionamento entre o que foi experimenta-do como passado e as possibilidades que se descortinam em dire-o ao futuro.

    Fica claro que Koselleck no fala apenas de um tempo histrico,mas de muitos tempos, que se sobrepem uns aos outros. Noesde tempo histrico inscritas na histria, que se mesclam, superpem-

    se e assimilam-se umas s outras, permitindo que se vislumbre, emcada dinmica temporal (histrica) distinta, pocas inteiras.Essa questo metodolgica de uma teoria da histria verdadei-

    ramente histrica quebra com a ideia de uma ordem (natural) dahistria ou de uma essncia desta. Por outro lado, dentro dessaperspectiva, no h com no frisar a importncia da longa duraoe das condies que aparentemente caram no esquecimento. Tais

    3 BRAUDEL, Fernand. A Longa durao. In: Histria e Cincias Sociais. Lisboa: Editorial Presena,1990, p. 15.

    4 O termo gregoriano possui, de acordo com o Dicionrio Houaiss da Lngua Portuguesa, doissignificados: 1.) relativo ao santo e papa Gregrio I (c540-604), reformador do papado e daliturgia da Igreja catlica e arquiteto da sociedade crist medieval, a quem se deve haver coligidoo repertrio do cantocho. 2.) relativo ao papa Gregrio XIII (regn. 1572-1585) e reforma docalendrio por ele realizada. Quando utilizamos o adjetivo gregoriano ao referir-nos ao tempo,fazemos meno segunda acepo, relacionada ao papa Gregrio XIII, contudo, interessantefrisar a pregnncia das conotaes crists no adjetivo citado, ambos referidos a papas de funda-mental importncia para a Igreja catlica romana. O primeiro conhecido como arquiteto dasociedade crist medieval e o segundo (Gregrio XIII), responsvel pelo calendrio vigenteatualmente pelo globo todo, bem como, ao lado de Paulo II, Jlio III, Paulo IV, Pio V e Sisto V,um dos grandes orientadores da contra-reforma.

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    resqucios esquecidos permitem um melhor entendimento dedeterminados perodos histricos.

    Impossvel no lembrar o texto de Marx, onde este afirma que a

    anlise da sociedade burguesa nos permite compreender a estru-tura e as relaes de produo de todas as formas de sociedadedesaparecidas, sobre cujas runas e elementos ela se edificou.5

    Portanto, segundo Marx, inspirado em Charles Darwin, a anato-mia do homem a chave para a anatomia do macaco.6 Com essaperspectiva metodolgica sugerida por Marx e aplicada brilhante-mente numa histria dos conceitos por Koselleck, fica mais difcilcair na armadilha de uma essncia da histria.

    O futuro passado do Medievo

    Koselleck inicia seu texto Futuro passado: contribuio semntica dostempos histricos com a anlise da noo de futuro predominante naIdade Mdia. A partir desta, descortina o perodo que vai da Refor-ma Revoluo Francesa, explicitando as mudanas que ocorre-

    ram nesse perodo considerado chave pelo autor, especialmentepara o entendimento da gnese do mundo burgus.Segundo Koselleck, a concepo histrica predominante na Cris-

    tandade Medieval figura como uma contnua expectativa do finaldos tempos, ou melhor, representa uma histria dos repetidosadiamentos desse mesmo fim do mundo.7 O horizonte futuro ouesse futuro passado do perodo medieval tinha como ponto de che-gada o apocalipse profetizado nos textos bblicos.

    Esse horizonte apocalptico era a garantia de ordem e tambmde unidade da prpria Igreja, cuja histria se confundia com o cons-tante adiamento deste futuro profetizado. Ao combater todas asoutras profecias como herticas, a Igreja passou a controlar essaexpectativa do final dos tempos:

    5 MARX, Karl. O mtodo da Economia Poltica. In: Contribuio crtica da Economia Poltica. So

    Paulo: Martins Fontes, 2003, p. 254.6 IDEM.7 KOSELLECK, op. cit., p. 24.

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    a profecia bblica destri o tempo, de cujo fim ela se alimenta, oprognstico racional feito na esfera da poltica produz o tempo queo engendra. O prprio prognstico constitui-se, assim, como um

    momento consciente da ao poltica na esfera temporal. A batalhaentre o bem e mal substituda por aquela entre o mal e omenor mal. A partir deste momento possvel, de acordo comKoselleck, referir-se ao passado como a uma Idade Mdia.

    Podemos dizer que o futuro dado pelo clculo da poltica erige-se sobre uma separao entre a histria humana e a histria sacra,descortinando-se a partir de previses racionais num campo depossibilidades finitas [no uma nica possibilidade como o fim

    do mundo], organizadas segundo o maior ou menor grau de pro-babilidade.10 Enquanto no tempo definido pela profeciaescatolgica, todos os eventos so meros smbolos de uma trajet-ria que leva, inevitavelmente, ao fim do mundo, o clculo poltico,libera uma perspectiva temporal imprevisivelmente previsvel.11

    Ou seja, ao mesmo tempo em que ele prprio configura um futuropossvel, que transcende o mundo no qual essa previso foi feita, o

    faz de maneira limitada por um espectro de possibilidades. Criamundos possveis, dentro de uma estrutura de poder definidapelos pressupostos da prpria anlise. Ainda uma diferena dig-na de nota: as profecias podem ser alongadas no tempo, mesmo quetenham falhado, pois cada falha reedita a certeza da sua realizaofutura. J um prognstico falho no pode auto-reforar-se, uma vezque joga necessariamente por terra seus pressupostos iniciais.

    Apesar dessas distines entre ambas as concepes de futuro

    passado, que carregam consigo, portanto, uma concepo da se-mntica dos tempos da significao da histria , h semelhanasimportantes entre elas.

    Uma citao do filsofo alemo Gottfried Wilhelm Leibniz (1646-1716), trazida por Koselleck, talvez nos ajude a compreender me-lhor essas semelhanas: O mundo que est por vir j se encontraembutido no presente, completamente modelado. 12

    10 KOSELLECK, op. cit., p. 32. Grifos entre colchetes do autor.11 IBIDEM.12 IBIDEM, p. 34.

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    A filosofia de Leibniz e o encontroentre ambos os futuros passados

    A referncia a Leibniz no se d toa, j que este amalgama em seupensamento trs eixos axiais do encontro entre as duas noes defuturo passado a do medievo e a do Estado Absolutista Moderno:a poltica, a religio e a lgica estatstica.

    A filosofia de Leibniz tem por objetivo integrar a totalidade doconhecimento humano. Em oposio ao subjetivismo doscartesianos e empiristas, Leibniz postula que a lgica a chave paraa consecuo desse projeto universalista de conhecimento. Somen-te ela, atravs de sua sistematicidade, capaz de integrar a totalida-de do conhecimento humano, enquadrando-o numa viso unificadade cincia. Por isso, Leibniz tambm se debrua sobre o projeto deformulao de uma linguagem nica, precisa e rigorosa, que fossea expresso desse conhecimento perfeito e unificado. A lgica-ma-temtica seria esse sistema lgico-simblico perfeito.13 Segundo opensador alemo:

    O pensamento no pode existir sem a linguagem. Sem um signoou outro. Basta nos interrogarmos se podemos fazer algum clculoaritmtico sem usar um signo numrico. Quando Deus calcula eexerce seu pensamento, o mundo criado.14

    Nesse projeto, o filsofo alemo se afasta de Descartes e dosempiristas ao dar mais valor a Lgica na fundamentao da cinciado que a epistemologia. Contra o ceticismo metodolgico de Des-cartes, Leibniz defende o exame cuidadoso dos graus de aceitaoou discordncia de cada afirmao, j que toda a verdade deve teruma razo que a configure como tal.15 Por outro lado, contra olema do empirismo lockeano de que nada est no intelecto que

    13 MARCONDES, Danilo. Iniciao Histria da Filosofia dos Pr-Socrticos a Wittgenstein. Rio de

    Janeiro: Jorge Zahar Ed., 2002, p. 193.14 IDEM, ibidem.15 IDEM, ibidem, p. 192.

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    O ponto de encontro entre a filosofia de Leibniz e a profeciaescatolgica crist flagrante, visto que, para Leibniz, tudo j conhecido previamente, ou seja, todo o conhecimento a priori.

    tarefa da lgica matemtica, como sistema lgico-simblico perfei-to e universal, logo divino, exprimir qualquer pensamento e testara validade de qualquer inferncia atravs do clculo.

    Esse racionalismo lgico reiterado na sua concepo de reali-dade, constituda por diversas unidades dinmicas e auto-contidasdenominadas mnadas. Essas mnadas so ordenadas por Deusem uma harmonia preestabelecida hierarquicamente, desde o graumais inferior at Deus a suprema mnada. Esta ordem perfeita,

    j que constitui o melhor dos mundos possveis, dentre vrias pos-sibilidades de ordenao das mnadas. H, portanto, certo otimis-mo intrnseco a concepo de realidade de Leibniz, pois vivemosno melhor dos mundos.17

    Leibniz afirma tambm a existncia de verdades da razo. Taisverdades seriam eternas e perfeitas, uma vez que no podem sernegadas sem que se caia em auto contradio. Essas verdades so

    desveladas por uma razo necessria, que independeria de expli-cao, tratando-se assim de um ideal de pura racionalidade, cujomodelo matemtico concreto seria o clculo infinitesimal, formu-lado por Leibniz ao mesmo tempo em que por Newton.

    A natureza hobbesiana substituda, na filosofia de Leibniz,pela lgica, que seria ento, parodiando a abertura do Leviat, aArte com a qual Deus fez e governa o Mundo.18

    A partir da citao de Leibniz, Koselleck aponta para as perma-

    nncias e semelhanas entre as duas perspectivas de futuro passado:

    ...a distncia entre a conscincia histrica e a poltica moderna, deum lado, e a escatologia crist, de outro, mostra-se menor do que emprincpio se poderia supor. [...] nada de fundamentalmente novopode acontecer, seja o futuro perscrutado com a reserva do crente ou

    17 IDEM, ibidem, p. 193.18 HOBBES, Thomas. Leviat, ou a matria, forma e poder de um Estado eclesistico e civil. So Paulo:

    cone, 2000, p. 11.

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    com o prosasmo do calculista. Um poltico poderia tornar-se maisinteligente ou mais esperto, refinar suas tcnicas, tornar-se maissbio ou mais cuidadoso; entretanto, a Histria jamais o levaria a

    regies novas e desconhecidas do futuro. A transmutao do futuroprofetizado em futuro prognosticvel no destruiu, em princpio, ohorizonte das previses crists. isso que une a republica soberana Idade Mdia, tambm ali onde a primeira no mais se consideracrist.19

    A inaugurao da Filosofia da Histria: o Iluminismo

    A Revoluo Francesa consagra um novo tempo, calcado numa Fi-losofia da Histria associada a uma tambm nova noo de hist-ria. Falamos, sem dvida, do perodo que ficou conhecido comoIluminismo ou Esclarecimento. dentro desse contexto intelectualque surge esse novo tempo histrico.

    A especificidade desta recm inaugurada filosofia da histria estem uma ousada combinao entre a poltica e a profecia, ou seja,

    numa mistura entre os prognsticos racionais e previses de car-ter salvacionista, estruturada em cima da ideia de progresso. Trata-se, portanto, de uma filosofia do progresso.

    O que caracteriza, ento, essa filosofia (iluminista) do progres-so? Novos prognsticos, transnaturais e de longo prazo, quedescortinam um futuro indito, tpico da nossa modernidade. T-pico no sentido de que esta a noo que guardamos ainda hojesobre o futuro, como algo que possui um carter desconhecido.

    Esse futuro tem como faceta principal a acelerao do tempo, abre-viando os campos da experincia do tempo presente e, em ltimainstncia, anulando o presente por completo.

    Isso se torna ainda mais flagrante no sculo XXI, com a acelera-o completa do tempo (a vida em tempo real o slogan de umagrande emissora de notcias da TV brasileira) seja nos transportes,nas comunicaes ou nas trocas tanto comerciais como financeiras.

    19 KOSELLECK. Op. cit., p. 35.

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    Talvez seja possvel dizer inclusive, que, no mbito financeiro, astrocas j ultrapassaram em muito o tempo real, se tornando maisrealistas que o prprio Rei, ou melhor, mais rpidas que o prprio

    tempo.Podemos levantar ento a seguinte hiptese: a atual crise finan-ceira tem razes nessa hiper-velocidade que adquiriram os fluxos eos mecanismos de reproduo do lucro em escala global. Os papis na verdade nem papis so mais; no passam de meras cifras emtelas de mega-computadores, celulares, palmtops etc. circularamto rpido que a realidade do tempo no comportou a reproduoda riqueza que estes incitavam. No final, o valor dos ttulos havia

    h muito superado o valor das hipotecas das casas e as pessoas sim-plesmente deixaram as casas. A ideologia se desloca completamen-te do seu referente real, tal qual nos sugere Fredric Jameson.20 ParaJameson esse deslocamento completo , entretanto, umaespecificidade de um novo perodo o Ps-Modernismo.

    Voltando ao sculo XVIII, nesse processo de acelerao do tem-po, engendrado pela filosofia do progresso, o presente se torna algo

    no vivencivel, pela inundao de novidades que o futuro nostraz. Trata-se de um futuro glorioso, que, alm de tudo, deve seralcanado o quanto antes pela prpria ao do homem. Nesse pon-to j estamos falando de um cidado-indivduo, aparentementeemancipado da submisso do poder absolutista do Estado e tam-bm da tutela da Igreja. Koselleck chega a falar de um indivduoprophte philosophe.21

    20 JAMESON, Fredric. Ps-Modernismo a lgica cultural do capitalismo tardio. So Paulo: tica, 1996.A referncia ao texto de Jameson foi encontrada no captulo Individualismo fbico do texto de

    Gislio Cerqueira Filho Autoritarismo afetivo (In: Autoritarismo afetivo a Prssia como sentimento.So Paulo: Escuta, 2005, pp. 99-116).

    21 KOSELLECK. Op. cit., p. 37.

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    Uma nova noo de Histria: esvaziamento do topos22

    Historia Magistra Vitae

    Como j havamos mencionado acima, uma nova noo de hist-ria se associa a essa filosofia (iluminista) do progresso. Com issoocorre, no entender de Koselleck, um esvaziamento do toposHistoria Magistra Vitae, legado da antiguidade e evidncia da trans-formao crucial por que passa a semntica do tempo histrico nosculo XVIII.

    O topos Historia Magistra Vitae foi cunhado por Ccero e em-presta histria um sentido de instruo para a vida, tornandoperene o seu valioso contedo de experincia. A histria teria, deacordo com este lugar (topos), uma funo pedaggica capaz de nosfornecer exemplos ilustrativos para a vida.

    Este topos foi apropriado tanto pela Igreja catlica no medievo,quanto pelos Estados absolutistas europeus para comprovar suasrespectivas doutrinas morais, teolgicas ou jurdico-polticas.

    No caso mais especfico do futuro passado da Cristandade Me-

    dieval, o topos formulado pelos antigos, foi (re)utilizado pelo hori-zonte histrico cristo (do apocalipse), dentro do espectro dasprofecias salvacionistas. No caso do Estado, a histria iluminava ofuturo do ponto de vista dos caminhos poltico-prticos que o mes-mo deveria seguir para perpetuar o poder dos prncipes, manten-do sua soberania.

    No sculo XVIII, contudo, esse topos se dissolve, tendo comoindcio o deslize do conceito de histria na lngua alem deHistorie, associado ao relato, narrativa de contedo pedaggi-co, para o termo die Geschichte, associado ao acontecimento emsi. A histria no plural, designando diversas narrativas se condensana Histria no singular, designando uma sequncia unificada deeventos que constituiriam a marcha da humanidade.

    22 Do grego tpos, lugar. O Dicionrio Houaiss da lngua portuguesa tambm define como motivo outema tradicional; lugar-comum retrico; conveno ou frmula literria.

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    Ocorre, nas palavras de Koselleck, uma revoluo transcen-dental,23 cujo indcio seria esse deslize conceitual do termo Historie(histria no plural narrativas) para Geschichte (a Histria, no sin-

    gular). A Histria passa a ser, a partir da, um concateamento, umacoeso, conexo, um complexo de acontecimentos, ao invs de re-latos exemplares; torna-se ento o conhecimento de si mesma; meroauto-conhecimento de uma instncia autnoma tomada como seautnoma fosse:

    Leibniz, que ainda compreendia a historiografia e a poesia comogneros didticos e moralizantes, foi capaz de entender a histria da

    humanidade como um romance escrito por Deus, cujo incio estavacontido na Criao. Kant retomou essa ideia ao entender romanceem um sentido metafrico, a fim de permitir que se manifestasse aunidade natural da Histria geral [allgemeine Geschichte]. Emuma poca em que a Histria universal [Universalhistorie], quecompreendia uma soma de histrias particulares, transformava-sena Histria do mundo [Weltgeschichte], Kant procurou o fio con-

    dutor que pudesse transformar aquele agregado desordenado deaes humanas em um sistema racional. Est claro que apenas oaspecto coletivo singular da histria [Geschichte] seria capaz deexpressar tais concepes, quer se tratando de histria do mundo[Weltgeschichte] ou de uma histria particular.24

    Wilhelm von Humboldt, outro pensador alemo, parece incor-porar o desdobramento desse deslize semntico no que tange o

    ofcio do historiador:

    O historigrafo digno desse nome deve representar cada singulari-dade como parte de um Todo, o que significa que ele deve tambmrepresentar em cada uma dessas partes singulares a prpria formada histria.25

    23 KOSELLECK. Op. cit., p. 48.24 IDEM, p. 51.25 IDEM, p. 52.

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    A Histria como substantivo coletivo singular o termo alemoGeschichte engendra consigo a singularidade dos processos hist-ricos. Cada evento histrico particular condensa-se numa espcie

    de fora maior a Histria ,que a tudo rene e impulsiona por meio de um plano, oculto oumanifesto, um poder frente ao qual o homem pde acreditar-se res-ponsvel ou mesmo em cujo nome pde acreditar estar agindo. 26

    Essa Histria como coletivo singular, complementa-se com a fi-losofia da histria, pois que esta lhe fornece um tempo especifica-

    mente seu, sobre o qual j falamos: o progresso.Podemos observar claramente certa obsesso pela autonomia27

    por parte do pensamento iluminista, pelo menos em relao a trspontos:

    1. A autonomia do futuro ou do tempo histrico, dentro deuma filosofia da histria calcada no progresso, que anula opresente, a partir da acelerao do porvir que se abre para o

    desconhecido. O tempo que assim se acelera a si mesmorouba ao presente a possibilidade de se experimentar comopresente, perdendo-se em um futuro no qual o presente 28

    torna-se impossvel de ser vivenciado. O presente passa aser invivvel e intervir nele completamente til apenas nosentido em que pode acelerar a chegada ao Eldorado doprogresso. Dentro dessa perspectiva, tipicamente burguesa,o importante seria o futuro glorioso (do progresso):

    2. A autonomia da histria, possuidora de uma ordem internaprpria dela, onde cada evento particular faz parte de umroteiro geral.

    26 IDEM, ibidem.27 A ideia de uma obsesso pela autonomia foi retirada do texto de Gislio Cerqueira Filho

    Euclides Cunha e a psicopatologia: um indcio para abduo (In: Revista Latinoamericana de PsicopatologiaFundamental, v. 11, n 3, setembro 2008. So Paulo: Escuta, 2008, pp. 380-391.).

    28 KOSELLECK. Op. cit., p. 37.

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    3. A autonomia do sujeito-indivduo enquanto prophtephilosophe.

    A crtica de Koselleck contundente e esclarece os pontos a quefizemos referncia anteriormente:

    ... o iluminista conseqente no tolerava qualquer inclinao parao passado. O objetivo declarado da Enciclopdia era reelaborar opassado o mais rapidamente possvel, de forma que um novo futurofosse inaugurado. Antes conhecamos exemplos, hoje conhecemosapenas regras, disse Diderot. Julgar o que acontece agora, comple-

    tava Sieys, segundo os critrios daquilo que j aconteceu, parece-me o mesmo que julgar o conhecido a partir do desconhecido. Nodeveramos temer abandonar a busca de algo na histria que nosfosse adequado. E logo os revolucionrios forneceram, em seuDictionaire, as instrues segundo as quais no se deveria escrevermais nenhuma histria, antes que a Constituio fosse terminada.A capacidade de realizao da Geschichte destronou a velhaHistorie

    , pois, em um Estado como o nosso, fundado na vitria,no existe passado. [Tal Estado] uma criao na qual, assim comona criao do mundo, tudo o que existe provm das mos do criadore a partir da, atingindo sua perfeio, passa a fazer parte da exis-tncia. So palavras triunfantes de um strapa de Napoleo. Comisso, realiza-se a previso de Kant, que provocativamente pergunta-ra: como possvel uma histria a priori? Resposta: quando oorculo faz e molda, ele mesmo, as circunstncias que previamente

    anuncia.29

    Concluso

    Voltemos agora questo que nos referimos anteriormente comouma obsesso pela autonomia, presente no pensamentoiluminista, observando a maneira como esta se relaciona com os

    29 IDEM, ibidem, p. 57.

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    trs pontos aos quais fizemos referncia, a partir da anlise do frag-mento acima citado.

    Afirma Koselleck, ...o iluminista consequente no tolerava qual-

    quer inclinao para o passado. Ou seja, o iluminista tpico pro-clama a autonomia do presente e, consequentemente, do futuroem relao ao passado. Em relao a este passado do topos HistoriaMagistra Vitae, este passado como diversos relatos variados, queKant chamaria de um agregado desordenado de aes humanas.Da a necessidade postulada pelo Iluminismo de reelaborar o pas-sado, extraindo deste apenas regras e no mais exemplos,como defendeu Diderot. Formulando, portanto, tal como propu-

    nha Kant, sistema racional.Nessa nsia por autonomia e busca por regras, o Iluminismo

    em geral cai naquele equvoco ao qual Karl Marx nos alerta na con-tinuao de um texto j citado, fazendo referncia aos economistasclssicos:

    ... a economia burguesa nos d a chave da economia antiga, etc.Mas nunca maneira dos economistas que suprimem todas as dife-

    renas histricas e vem em todas as formas de sociedade, as dasociedade burguesa.

    Essa pretensa autonomia da histria repousa sobre a necessida-de de uma coerncia interna, lastreada num antigo ideal de perfei-o, que tem em Deus sua referncia ltima. De outra forma, aordem teria que ser (re) introduzida de fora, esfacelando, assim,o ideal de uma histria absolutamente independente, racional, tal

    como nos tempos do Medievo, onde a Igreja a absorvia para legiti-mar as Sagradas Escrituras, e no incio da Era Moderna, onde osEstados Nacionais nascentes a utilizavam para legitimar seus prog-nsticos polticos.

    Ao proclamar a independncia da histria, sua autonomia, estapassa a funcionar dentro de uma ordem, onde cada evento parti-cular se articula a um roteiro geral, que determina o caminharda Histria. Esta ordem provm das mos do criador, comoenfatiza Koselleck. No caso dos empiristas, via natureza ou expe-rincia, sendo esta, a Arte com a qual Deus fez e governa o Mun-

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    do e no caso dos racionalistas via razo, cujo fiador das ideiasclaras e distintas Deus.30

    Fechamos o crculo. O topos, lugar da histria como mestra da

    vida, fonte de exemplos e sabedoria esvaziado, revelando umaporta de entrada para a compreenso da gnese do Iluminismoburgus. A essa histria autnoma, possuidora de uma ordem pr-pria se associa um tempo tambm especfico, o do progresso. Essaautonomia da histria, dotada de um tempo prprio e uma ordeminterna, reclama para si a noo de uma essncia (da histria) e traz,consequentemente, o ideal de perfeio. A onipotncia divina reintroduzida pela via da autonomia da histria, ainda que esta se

    considere separada das intervenes da Igreja e do Estado.A crtica que fazemos est focada na ideia de essncia ou natu-

    reza, seja em qual esfera for (do homem, da Histria, da poltica).Essa crtica se revela tanto no mbito metodolgico quanto no pe-rodo analisado o Iluminismo. Na metodologia reconstrumosde forma bastante sucinta o percurso magistralmente seguido porKoselleck na sua histria dos conceitos, que vai de encontro pers-

    pectiva de longa durao sugerida por Marx e desenvolvida pelaEscola dos Annales. No mbito temtico, buscamos compreender aforma como o Iluminismo se (re)apropria da noo de essncia naesteira dessa incessante busca por autonomia. Autonomia esta quepressupe um ideal de ordem. Por mais que no se apresente comoperfeita, pressupe a perfeio a imanncia de uma forma superiorde ordem. Tais caractersticas remetem, na nossa viso, inevitavel-mente, a um ideal divino.

    Koselleck desenvolve a tese de que a maneira como o tempo percebido pelos agentes histricos varia com a passagem do pr-prio tempo, com as mudanas sociais e com a capacidade a um s

    30 Descartes, na sua Meditao terceira, afirma: ... preciso necessariamente concluir de tudo o quedisse anteriormente que Deus existe; pois, ainda que a ideia da substncia esteja em mim, peloprprio fato de eu ser uma substncia, eu no teria, contudo, a ideia de uma substncia que fosseverdadeiramente infinita. [...] Como seria possvel que eu pudesse conhecer que duvido e que

    desejo, ou seja, que me falta algo e que no sou totalmente perfeito, se no tivesse em mim nenhu-ma ideia de um ente mais perfeito de que o meu, por comparao ao qual eu conheceria os defeitosde minha natureza? (DESCARTES, Ren. Meditaes metafsicas. So Paulo: Martins Fontes, 2000,pp. 72-73.) Deus no apenas existe como fiador das ideias perfeitas de nosso intelecto.

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    181Comunicao&poltica, v.28, n1, p.164-183

    tempo artstica e poltica do homem de se fazer enxergar de manei-ra distinta de antes.

    Para o autor, o Iluminismo um momento fundamental para

    entendermos a afirmao do quantum de ideias do mundo burgu-s, que se irradia a partir do continente europeu. Este processo deafirmao intelectual da burguesia, ou, se quisermos, da ideologiaburguesa, comporta uma incorporao semntica de palavras e sig-nificados diferentes da tradio anterior e representou um mar-co na maneira como determinados conceito e, especialmente, otempo histrico fora visto, analisado, entendido e vivido.

    Na Amrica Latina, o problema se aprofunda, pois acabamos

    por absorver categorias de alm-mar e adot-las em contextos his-tricos, sociais, polticos e afetivos de natureza totalmente distinta.Dessa forma, o processo de formao semntica e de deslizes se-mnticos, que Koselleck frisa, fica ainda mais distante da realida-de latino-americana. Essa distncia provoca uma enorme dificuldadede anlise e tambm de releitura dos conceitos importados. Oinstrumental de Koselleck, nos ajudara, portanto, argumentamos,

    a executar um duplo trabalho: reconstruir a trajetria semntica dedeterminados conceitos, para compreender toda a sua amplitudepoltica, social e histrica e desconstruir a ideia de uma essnciados conceitos e do prprio tempo histrico, na medida em queambos esto em interao dialtica constante.

    No caso do Iluminismo h ainda um agravante, muito bem apon-tado pelo cientista poltico Gislio Cerqueira Filho e pela historia-dora Gizlene Neder:

    A avassaladora presena do iluminismo no ocidente fez com quemuitas questes e temas referidos ao tomismo fossem deixados delado: por exemplo, a hierarquia, o autoritarismo, o absolutismoafetivo que no cede ambivalncia dos sentimentos; a obedincia esubmisso inscritas na prtica poltica, a lgica formal que nocede ao pensamento dialtico apoiado na contradio. Todavia, es-tes temas, embora do medievo, ainda nos espreitam e seguem pre-sentes mesmo na ps-modernidade. Parodiando Michel Foucault,deveramos nos inquirir sobre de que modo, pelo menos no ocidente,

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    o pensamento tomista pressupe apreciar exatamente o que custadele se afastar; o que tomista mesmo quando supostamente pensa-mos estar contra o tomismo...31

    Em uma palavra, o instrumental terico-metodolgico deKoselleck, pode ns ajudar, aqui na Amrica Latina, a realizar umatarefa urgente: historicizar, compreender e questionar determina-dos conceito e a noo mesma de tempo histrico. Nesse rastro,abre-se a possibilidade de reler e resignificar os conceitos e atemporalidade, tendo em vista a construo de novos caminhos etempos mais condizentes com a nossa realidade e os nossos dese-

    jos enquanto latino-americanos.

    Referncias bibliogrficas

    BRAUDEL, Fernand. A longa durao. In: Histria e Cincias Sociais. Lisboa:Editorial Presena, 1990.

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    MARX, Karl. O mtodo da Economia Poltica. In: Contribuio crtica daEconomia Poltica. So Paulo: Martins Fontes, 2003.

    31 CERQUEIRA FILHO, Gislio. dipo e Excesso Reflexes sobre Lei e Poltica. Porto Alegre: SergioAntonio Fabris Editor, 2002, p. 22.

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    AbstractThe present paper wishes to visit the work ofthe German historian Reinhart Koselleck(1923-2006), searching in his analysis boththeoretical and methodological tools that mayunfold new analytical horizons for the LatinAmerican reality. His contribution has two

    interrelated directions: one related to amethodological approach and another one tothe theme itself. Through the idea of FuturePast, Koselleck opens the possibility of anunderstanding of history inside history itself,deconstructing a philosophy of history thattranscends history. On one hand and movingwithin the history of concepts[Begriffsgeschichte], Koselleck postulates the

    need to realise the inscription of concepts in thehistorical process itself. On another hand, hisfocus is the period of genesis of the bourgeoiseorder. Therefore, his analysis enables a criticalperspective towards the enlightened approachand to the notion of essence inscribed both in anon-historical method and in the conception ofhistory of the bourgeoise Enlightment.

    Key wordsHistory of concepts Enlightment Historictime - Reinhart Koselleck

    Futuro passado ou a contribuio de Reinhart Koselleck comoferramenta de anlise metodolgica para o contexto latino americanoRicardo G. Borrmann

    ResumoO presente trabalho tem por objetivo vi-sitar a obra do historiador alemoReinhart Koselleck (1923-2006), buscan-do em sua anlise ferramentas terico-metodolgicas, que descortinem novoshorizontes de anlise para a realidade la-

    tino-americana. Sua contribuio caminhaem duas direes inter-relacionadas: umametodolgica e outra temtica. A partir dasua ideia de Futuro Passado, Koselleck nosdescortina a possibilidade de uma leiturada histria por dentro dela mesma, des-montando uma pretensa filosofia da his-tria transcendente ao prprio tempohistrico. Se movimentando dentro do

    campo da histria dos conceitos[Begriffsgeschichte], Koselleck postula anecessidade de percebermos a inscriodos conceitos no prprio processo hist-rico. Por outro lado, sua temtica o per-odo de gnese da modernidade burguesa,promovendo com suas anlises uma crti-ca profunda reflexo iluminista e a pr-pria noo de essncia, tanto inscrita numametodologia a-histrica, quanto na concep-o de histria do Iluminismo burgus.

    Palavras-chaveHistria dos conceitos Iluminismo tempo histrico Reinhart Koselleck

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