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UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE DEPARTAMENTO DE SAÚDE PÚBLICA CURSO DE ESPECIALIZAÇÃO MULTIPROFISSIONAL NA ATENÇÃO BÁSICA 2015 Gabriel Isaac de Albuquerque Uso indevido de medicamentos psicotrópicos: como melhorar? Florianópolis, Março de 2016

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINACENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE

DEPARTAMENTO DE SAÚDE PÚBLICACURSO DE ESPECIALIZAÇÃO MULTIPROFISSIONAL NA ATENÇÃO BÁSICA 2015

Gabriel Isaac de Albuquerque

Uso indevido de medicamentos psicotrópicos: comomelhorar?

Florianópolis, Março de 2016

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Gabriel Isaac de Albuquerque

Uso indevido de medicamentos psicotrópicos: como melhorar?

Monografia apresentada ao Curso de Especi-alização Multiprofissional na Atenção Básicada Universidade Federal de Santa Catarina,como requisito para obtenção do título de Es-pecialista na Atenção Básica.

Orientador: João Luiz Dornelles BastosCoordenador do Curso: Prof. Dr. Antonio Fernando Boing

Florianópolis, Março de 2016

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Gabriel Isaac de Albuquerque

Uso indevido de medicamentos psicotrópicos: como melhorar?

Essa monografia foi julgada adequada paraobtenção do título de “Especialista na aten-ção básica”, e aprovada em sua forma finalpelo Departamento de Saúde Pública da Uni-versidade Federal de Santa Catarina.

Prof. Dr. Antonio Fernando BoingCoordenador do Curso

João Luiz Dornelles BastosOrientador do trabalho

Florianópolis, Março de 2016

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ResumoIntrodução: Sabe-se que agravos em saúde mental são uma das categorias de agravos

mais importantes em nossa sociedade atual. Em paralelo, o uso irracional e indevido de me-dicamentos psicotrópicos pode piorar estes agravos. Sabe-se que, quando bem utilizados,os medicamentos são uma poderosa abordagem no tratamento, melhorando expressiva-mente a qualidade de vida dos pacientes. Porém, o mau uso pode trazer diversos efeitoscolaterais, além de prejudicar o tratamento e diminuir sua chance de sucesso e melhoraclínica. Objetivos: O objetivo central deste trabalho é promover uma melhora na lo-gística de atendimentos em saúde mental e facilitar a renovação de receitas, no bairroCaixa D’água em Guaramirim - SC, implicando diminuição no uso indevido de medica-mentos psicotrópicos. Além disso, melhorar o entendimento da população local sobre osagravos em saúde mental, desmitificando tabus e preconceitos sobre o assunto. Método:Primeiramente, trabalharemos em reuniões periódicas envolvendo todos os profissionaisde saúde da equipe, tendo como foco o acolhimento dos pacientes em saúde mental, di-alogando de forma a ouvir o que todos têm de sugestões e entendimentos, esclarecendodúvidas e implementando as boas ideias. Também modificaremos a forma com que são re-novadas as receitas dos pacientes que necessitem de uso mais prolongado de medicamentospsicotrópicos, de forma a facilitar para eles e para nós. Resultados esperados: Espe-ramos diminuir substancialmente a prevalência da perda de seguimento no tratamento dedoenças relacionadas à saúde mental e uso indevido e sem acompanhamento de medica-mentos psicotrópicos. Além disso, esperamos propagar a informação sobre a importânciado tratamento e do acesso à saúde nesses casos, de forma a reduzir os preconceitos por des-conhecimento e conseguindo atingir todos àqueles que necessitem tratamento, melhorandoo acolhimento e o seguimento destes pacientes.

Palavras-chave: Saúde Mental, Projeto de intervenção, Uso de Medicamentos, Psicotró-picos, Atenção Primária à Saúde

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Sumário

1 INTRODUÇÃO . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 9

2 OBJETIVOS . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 112.1 Objetivo Geral . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 112.2 Objetivos Específicos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 11

3 REVISÃO DA LITERATURA . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 13

4 METODOLOGIA . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 17

5 RESULTADOS ESPERADOS . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 19

REFERÊNCIAS . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 21

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1 Introdução

O Bairro Caixa D’água é uma das localidades mais tradicionais do município. Tem essenome devido ao fato de ser passagem obrigatória da rede ferroviária que liga o porto deSão Francisco do Sul ao interior do estado. Boa parte da população é formada por famíliastradicionais, sendo que vários pacientes possuem os avós contemplados com nomes de ruasdo bairro.

Toda cidade, inclusive essa região, teve origem com ondas migratórias iniciada porespanhóis e portugueses e outro grupos populacionais. Após este período inicial, a regiãosofreu ondas de imigração europeia, de alemães, poloneses e ucranianos, por volta de1833. Na região, há diversas indústrias, com um forte peso na área têxtil, em que váriosmoradores da região são trabalhadores (GUARAMIRIM, 2016).

Segundo os dados do sistema informatizado de saúde do município, retirados peloprograma Olostech, temos uma população total de 2761 pessoas cadastradas em nossaárea, porém, esse número deve ser maior, visto que diversos moradores estão em situaçãode moradia lábil, dependendo de vínculos empregatícios informais. São 1412 homens e1349 mulheres. Uma grande parcela está economicamente ativa (20-60 anos), perfazendoum total de 1604 pessoas.

A maioria da população possui uma boa condição de vida. A faixa de escolaridade éinversamente proporcional à idade dos residentes, de forma que a população mais idosadificilmente chegou ao fim do ensino primário; também, um bom número deles não sabeler ou escrever. A escolaridade das pessoas do bairro, em média, é baixa. Para adultos (18anos ou mais), temos 1966 pessoas cadastradas, das quais 28 não sabem ler ou escrever e217 são alfabetizadas. Temos 783 cadastrados tendo o ensino fundamental incompleto e212 ensino médio incompleto.

As doenças mais prevalentes são hipertensão arterial sistêmica, com aproximadamente20% da população tendo esse diagnóstico e diabetes melitus tipo 2, com aproximada-mente 5% da população. Há grande procura por consulta para controle de comorbidadescrônicas, pré-natais, puericultura e atendimentos de “encaixe”. Os principais motivos deconsultas, segundo os dados mensais enviados à base de dados (E-SUS Mais Médicos)são: puericultura (11,1%), hipertensão arterial (10,0%), pré-natal (5,3%), realização demamografia/Papanicolau (7,0%) e acompanhamento de Diabetes Mellitus (2,9%).

Durante o ano, foram observados diversos problemas em que poderia haver algumaintervenção benéfica. Foram pensados diversos temas, porém, um parecia ter uma ne-cessidade maior e com uma boa capacidade de resolução caso empregadas as devidasintervenções. Vimos que havia um grande uso de medicamentos psicotrópicos e analgési-cos sem acompanhamento. Havia a prática de renovar receitas sem necessariamente vir emconsulta, e diversos pacientes vinham deixar receitas de medicamentos antidepressivos,

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10 Capítulo 1. Introdução

benzodiazepínicos e analgésicos controlados sem acompanhamento. Além disso, decorriamuito tempo até a reavaliação, gerando quebra do vínculo quando apenas era negada arenovação da receita. O assunto acaba tendo uma necessidade de intervenção imediata,devido a possíveis danos sendo causados pelos medicamentos sem acompanhamento. Suaimportância é mundial, pois vemos não só no Brasil, mas no mundo todo um crescenteaumento do abuso de medicamentos e a intervenção no momento ajudaria a reduzir umproblema de “logística” e, pelo menos em parte, a auto-medicação.

Em diversas reuniões no ano, foram discutidas formas de como se intervir no problemae, em conjunto, decidimos que intervir nessa situação seria de grande valia para toda acomunidade e para o funcionamento adequado da Unidade de Saúde. Temos aproxima-damente 6,0% da população local em uso de medicamentos controlados, com um total deaproximadamente 165 pacientes. Desses pacientes, segundo levantamento de dados poranálise de prontuários, apenas 40 deles fazem o uso correto e têm o seguimento adequado.

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2 Objetivos

2.1 Objetivo GeralReduzir o uso indevido e sem acompanhamento de medicamentos psicotrópicos no

bairro Caixa Dágua, em Guaramirim, SC.

2.2 Objetivos Específicos• Reduzir taxa de pacientes com problemas em saúde mental sem o acompanhamento

adequado;

• Reduzir a prescrição de medicamentos psicotrópicos/antidepressivos sem necessi-dade;

• Melhorar o controle na renovação das receitas;

• Facilitar o acesso dos pacientes às consultas e às receitas.

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3 Revisão da Literatura

Embora nosso objetivo geral seja a melhora no atendimento e logística dos pacientesem saúde mental, sejam com diagnósticos de depressão, transtorno bipolar, transtornosde humor, psicoses ou outros agravos que sejam, foi uma percepção de falha na assis-tência, suporte e acompanhamento em usuários de longa data de benzodiazepínicos quemotivou este trabalho. Os benzodiazepínicos são medicamentos psicotrópicos que agemno sistema nervoso central, com efeitos de sedação, hipnose, redução de ansiedade, rela-xamento muscular e anticonvulsivante. (BRUNTON; CHABNER; KNOLLMANN, 2012,p. 457-459)

Seguros e necessários para determinadas condições de saúde, os benzodiazepínicos, bemcomo todos outros medicamentos psicotrópicos, necessitam ser usados com cautela. Algunsefeitos adversos ocorrentes do mau uso são: sonolência excessiva, alteração da coordenaçãomotora, tontura e zumbidos, além disso, pacientes que fazem uso por períodos superiores aquatro semanas podem desenvolver tolerância, dependência (física e psíquica e síndromede abstinência na suspensão da medicação. (BRUNTON; CHABNER; KNOLLMANN,2012, p. 457-79)(ASHTON, 1994)

Diversas causas vem trazendo um aumento do consumo dessas substâncias, bem comoo baixo custo e a facilidade em se conseguir receita médica. Entre 2007 e 2010 tivemosum aumento significativo no consumo destes medicamentos, principalmente no grupo dasmulheres. O benzodiazepínico mais consumido entre os anos de 2007 e 2010 foi o clo-nazepam, o popular ”Rivotril”. No ano de 2007 tivemos aproximadamente 29 mil caixasdispensadas, já em 2010 mais de 10 milhões, segundo dados do Boletim Farmacológico doSistema Nacional de Gerenciamento de Produtos Controlados, valendo lembrar que a com-pra de medicamentos com esse princípio ativo exige Notificação de Receita B (Azul), poissua venda é submetida ao controle da Vigilância Sanitária. (ANVISA, 2011)(ORLANDI;NOTO, 2005)

Segundo Relatório Mundial sobre Drogas de 2015, temos dados que indicam que aprevalência do uso de drogas no mundo encontra-se estável. Estima-se que um total de 246milhões de pessoas (pouco mais de 5% da população mundial entre 15-64 anos de idade)tenha feito uso de drogas ilícitas em 2013. Destes 246 milhões, o Escritório estima que 27milhões são considerados usuários ”problemáticos”(sic), aproximadamente metade destesusando drogas injetáveis. Embora o Relatório seja focado no uso de drogas ilícitas, elereforça que há um grande problema em uso abusivo e incorreto de opióides de prescrição etranquilizantes, especialmente se considerarmos a população idosa e feminina. O Relatórioreforça que a propensão ao uso de maconha, cocaína e anfetamina é três vezes maior emhomens que mulheres, no entanto, as mulheres são mais propensas ao uso incorreto dasmedicações psicotrópicas (DRUGS; CRIME), 2015).

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14 Capítulo 3. Revisão da Literatura

Um em cada seis usuários de drogas recebe o tratamento adequado que necessita (4,5milhões de pessoas), a um custo de 35 bilhões de dólares ao ano, segundo relatório daJunta Internacional de Fiscalização de Entorpecentes (ou em inglês INCB: InternationalNarcotics Control Board), de 2013. O relátorio destacou que o uso abusivo de medica-mentos se intensificou em todas regiões, superando o consumo de drogas ilícitas. A Juntacoloca diversos fatores como causas desse impulso no abuso de medicamentos: ampla dis-ponibilidade deles, bem como a falsa percepção de que os medicamentos de prescrição sãomenos suscetíveis ao abuso e dependência que drogas ilícitas. Ainda, leva em considera-ção o uso destes medicamentos sem a devida prescrição, a automedicação. Muitas vezes,o problema se inicia no ambiente familiar, sendo esta a principal fonte de medicamentosque não mais são necessários. Pesquisas em diversos países sobre a prevalência de abusorevelaram que boa porcentagem das pessoas que abusam desses medicamentos recebeu,pela primeira vez, de um amigo ou familiar que havia adquirido legalmente (BOARD),2014).

Pesquisas também demonstraram que o consumo dessas medicações, em alguns casos,deu-se devido à introdução de novas indicações terapêuticas para aqueles já existentes, epela introdução de novos medicamentos, podendo ser explicado também pelo aumento donúmero de diagnósticos. O uso de substâncias psicotrópicas teve um aumento significativode 3,4% na vida das pessoas entre os anos de 2001 e 2004 (CHAIMOWICZ; FERREIRA;MIGUEL, 2000)(RODRIGUES et al., 2006). Os medicamentos possuem várias finalidades,no que se refere a amenizar os sintomas de transtornos psiquiátricos, podendo envolveralguns fatores para que ele possa ser produzido e comercializado como um produto sin-gular. O contexto do uso de medicamentos psicotrópicos não é bem conhecido no país.Uma pesquisa envolvendo uso de substâncias psicotrópicas (incluindo drogas ilícitas) nas107 maiores cidades do Brasil, o uso de benzodiazepínicos (sedativos) atingiu 3,3% e deestimulantes, 1,5%. Não foi pesquisado uso de antidepressivos (GALDUROZ et al., 2005).

(FORTE, 2007) demonstrou que em Caucaia, município Cearense que faz divisa comFortaleza, com uma população de 325.441 habitantes (IBGE, 2012), houve um aumentosignificativo durante o ano de 2006 do uso de diazepam, com aproximadamente 39 milcomprimidos dispensados em janeiro contra aproximadamente 65 mil em dezembro domesmo ano. Nesse estudo, foram consideradas apenas as prescrições que eram dispensa-das pela farmácia do município. Os medicamentos mais dispensados foram, em ordemdecrescente: diazepam, carbamazepina e amitriptilina. A autora alerta para o crescenteuso de benzodiazepínicos em todo o mundo e alerta para a necessidade de políticas locaispara controle desse crescente uso dos medicamentos psicotrópicos.

Outros estudos também corroboram esse panorama, mostrando que os medicamentospsicotrópicos mais consumidos são os benzodiazepínicos, estimando-se que aproximada-mente 1-3% da população já tenha feito uso por mais de 1 ano. Destaca-se o uso dessasmedicações especialmente na população idosa, onde se observa um aumento expressivo

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do uso nessa faixa etária, podendo ser explicado pelo reconhecimento de seu benefíciona utilização nos distúrbios afetivos (grande parte deles sendo depressão e ansiedade),que também mostraram um aumento de prevalência esta faixa etária. Além dos benzo-diazepínicos, há um grande aumento na prescrição de antidepressivos, por serem melhortolerados e terem uma segurança melhor. Um dos medicamentos mais prescritos nessaclasse é a Fluoxetina, sendo consumido muitas vezes também para auxílio de perda depeso após início de terapia, sendo esse um dos fatores também pelo qual o consumo estáse elevando (NOIA et al., 2012)(ANDRADE; ANDRADE; SANTOS, 2004).

Uma das medidas com fim de diminuir o uso abusivo de medicamentos no nosso paísfoi a edição e publicação da RDC n°27/2007, a qual instituiu o Sistema Nacional para oGerenciamento de Produtos Controlados (SNGPC), que é um sistema informatizado detransmissão de dados entre farmácias e drogarias para a ANVISA. O SNGPC está implan-tado nos estabelecimentos relacionados à produção, circulação, comércio e uso de subs-tâncias e medicamentos sujeitos a controle especial. Os principais objetivos do SNGPCsão: permitir o monitoramento de hábitos de prescrição e consumo de substâncias con-troladas em determinada região, para propor políticas de controle; otimizar o processode escrituração; monitorar a dispensação de medicamentos e substâncias entorpecentes epsicotrópicas e seus precursores; dinamizar as ações da vigilância sanitária; captar dadosque permitam a geração de informação atualizada e fidedigna para o Serviço Nacional deVigilância Sanitária (SNVS), para a tomada de decisão (??).

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4 Metodologia

Para alcançarmos os fins propostos inicialmente neste trabalho, estabelecemos duasfrentes de trabalho: (1) melhora no acolhimento dos pacientes em saúde mental no bairroCaixa D’água em Guaramirim; e (2) reorganização da logística de renovação de receitas.

1) Em nossa Unidade Básica de Saúde, fizemos reuniões semanais entre a equipe dosprofissionais de saúde que ali trabalham, com duração de 2h cada, no período de Ja-neiro/2016, num total de 3 reuniões, que pretendemos repetirmos ao menos 1 vez ao mês,ou conforme a necessidade. A reunião inclui todos os profissionais de saúde da Unidade:médico, enfermeira, técnica de enfermagem, secretária, dentista, técnica em higiene dentale agentes comunitárias de saúde, tendo como assunto discutido o acolhimento. Ouvindoe propondo maneiras de melhorarmos o acolhimento aos pacientes em saúde mental, di-alogando maneiras de fornecer um atendimento por meio de parâmetros humanitários,éticos, técnicos e solidários, desde a entrada do paciente na Unidade Básica de Saúde atéo atendimento pelo médico.

2) O médico e a enfermeira executaram, no período de Janeiro de 2016, para cadapaciente que use medicamentos controlados, um controle mais eficaz de quanto e quandocada medicamento foi prescrito, que deve ser implementado continuamente. Quando umpaciente necessita do uso de algum medicamento controlado, que deve ser reavaliado pe-riodicamente seu uso e renovadas suas receitas, criamos um cartão para o paciente emque fica registrado a data, o medicamento, a dose, a quantidade (frascos ou comprimi-dos) prescrita e um local para assinatura do médico que prescreveu. Além disso, quandojulgamos que um paciente necessita fazer o uso contínuo de um medicamento controladopor mais de 2 meses, sem necessidade de reavaliação médica neste período (porém nuncamaior que um prazo de 6 meses), renovamos a receita automaticamente ao chegar pró-ximo do fim do uso do medicamento anterior. Em uma agenda, são anotadas as iniciais eo número de prontuário de cada um destes pacientes, na data em que deve ser renovadaa receita. A enfermeira checa semanalmente, e separa os prontuários desses pacientes. Omédico, então, renova a receita (ou solicita agendamento de consulta, caso julgue neces-sário), e ela vai para um armário separado dos demais, em que o paciente pode retirarcom a enfermeira, mediante assinatura de um controle de retirada da receita, e registroem seu cartão de renovação das receitas.

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5 Resultados Esperados

Com o trabalho continuado de informação, entre a equipe dos profissionais de saúde,esperamos que haja uma disseminação da informação sobre o que é saúde mental e comodeve ser realizado o acolhimento e atendimento desses pacientes. Com o auxílio das agentescomunitárias de saúde, esperamos que a prática de um paciente fornecer medicamentosa outras pessoas, seguindo a lógica do ”se foi bom pra mim, pode lhe ajudar”, comece areduzir gradualmente. Esperamos que com a propagação da informação, de forma ativadurante as consultas médicas (tanto no consultório quanto em visitas domiciliares), deenfermagem, odontológicas e durante as visitas das agentes comunitárias, consigamosatingir e esclarecer tabus relacionados à saúde mental, diminuindo o preconceito devidoà desinformação sobre este assunto.

Além da propagação da informação, com intuito de conseguirmos atingir a populaçãoem saúde mental e diminuir os preconceitos com as reuniões e com mudanças na forma doatendimento e acolhimento, esperamos que haja uma melhor aderência e continuidade notratamento dos pacientes. Com um bom vínculo construído entre a equipe e os pacientes,sem preconceitos, sem julgamentos, e com adequado entendimento sobre a importânciado acolhimento na aderência e manutenção do tratamento, almejamos melhorar efeti-vamente o quadro de agravos mentais no bairro e reduzir a taxa dos pacientes sem oacompanhamento adequado.

As mudanças na forma e na logística de renovação de receitas já se mostram comograndes facilitadores do nosso trabalho. Embora esteja sendo implementada ao longo dasconsultas, paciente por paciente, grande parcela deles já vêm utilizando o cartão de reno-vação das receitas. Como começamos em janeiro, e, em março (as receitas controladas temum período de validade máxima de dois meses), iremos renovar as primeiras receitas pelocartão, o que esperamos que facilite muito nosso trabalho de renovação e auxilie para umcontrole eficaz de quanto e quando cada medicamento foi prescrito. Além disso, espera-seque o cartão facilite quando outro médico atende o paciente, como ocorre eventualmente.Diversas vezes, os pacientes perdem a receita anterior ou a anterior não está legível devidoà grafia na segunda via da receita ficar mais enfraquecida, em função do papel carbono.Sem a receita anterior, frequentemente o paciente não sabe explicar adequadamente onome do medicamento, a dose, a quantidade do medicamento que está tomando, gerandopossíveis falhas no tratamento e contribuindo para a má aderência. Embora ainda nãotenhamos renovado receitas por este método, os pacientes já vêm elogiando a mudança,tanto para o médico durante as consultas, quanto para os outros profissionais de saúde, ar-gumentando que definitivamente irá facilitar bastante a vida deles também a nova formaque vem sendo empregada. Assim, facilitamos o acesso dos pacientes às consultas e àsreceitas necessárias aos seus tratamentos. Dessa forma, esperamos uma redução de ao

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20 Capítulo 5. Resultados Esperados

menos 50% dos pacientes que perdem o seguimento adequado em saúde mental, tendo emvista a facilitação no acesso à saúde e a renovação das receitas.

Com este controle mais rígido nas receitas e com a facilitação da comunicação entreos médicos que os atendem, fica claro que a aderência aos tratamentos irá aumentare diminuirá a prática de ”emprestar”ou ”doar”medicamentos para familiares, amigos evizinhos, que é uma importante causa de abuso de medicamentos psicotrópicos. Com umamelhor aderência e reduzindo algumas das causas do uso abusivo destes medicamentos(seja por comodidade dos médicos que os prescrevem, seja por ”doação”de medicamentosà familiares ou conhecidos), esperamos também reduzir a prescrição dos medicamentossem a devida necessidade.

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Referências

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CHAIMOWICZ, F.; FERREIRA, T. de J. X. M.; MIGUEL, D. F. A. Use of psychoactivedrugs and related falls among older people living in a community in brazil. Rev. SaúdePública, v. 34, n. 6, p. 631–635, 2000. Citado na página 14.

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22 Referências

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