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edição i | sombra

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Trabalho final de conclusão de curso.

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edição i | sombra

EDITORIALEm 1945, Jung deu uma definição mais direta e clara da sombra: “a coisa que uma pessoa não tem desejo de ser”.

Como o indivíduo oculta nos recônditos de sua psique tudo que é rejeitado pelos padrões sociais e por si mesmo, aquilo que é definido como contrário à moral, do domínio da força bruta, ou seja, o monstro escondido dentro de cada um, o inconsciente é povoado com estas criações mentais ali reprimidas, e sem a limpeza constante deste conteúdo mental, é impossível o Homem ser livre, pois o fato de não pertencer à esfera da consciência não significa que a sombra deixe de influenciar as atitudes humanas. Todos escondem dentro de si defeitos, medos e complexos. Um lado sombrio que não queremos enxergar nem expor aos outros. Existe um lado obscuro dentro da mente humana, preenchido por sentimentos e pensamentos reprimidos, por serem censurados pela sociedade. O material reprimido não é esquecido nem perdido, mas não é permitido ser lembrado.

A GALERIA foi buscar no inconsciente obscuro do ser humano inspiração para o desenvolvimento da sua primeira edição.

COLABORADORES“Sou um pouco como as pessoas grandes. Acho que envelheci.” - É com essa frase de Antoine de Saint-Exupéry que a futura jornalista, Priscila Silvério, se define. Ao escrever expõe em seus textos toda a maquiagem e falsidade da vida humana.

Oito da manhã e um calor infernal. Descendo a consolação correndo a pé, arrastando 15kgs de roupas e equipamento com a ajuda do namorado e de uma amiga, Maria Júlia Brito fez serviço completo de styling, maquiagem e fotografia para esta edição.

A modelo Cássia Sampaio não exitou em aceitar o trabalhando quando soube o tema da edição. Isso por que além do poder na frente das câmeras ela também tem um currículo instigante. Ela é formada em Filosofia e atualmente faz mestrado em Lógica.

ÍNDICE

MALICIOSOS SOCIÁVEIS

PARA COEXISTIR BASTA FINGIR

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texto priscila silvério fotos maria julia brito

texto priscila silvério fotos maria julia brito

MALICIOSOS SOCIÁVEIS

MALICIOSOS SOCIÁVEIS

texto priscila silvério fotos maria julia brito

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ENCONTREI MALDADEE PERVERSÃO EM TODOS OS LADOS, TODAS AS DIREÇÕES,POR QUE NÃO HAVERIADE ENCONTRAREM VOCÊ TAMBÉM?

O vidro blindado não vai evitar da perversão adentrar teu carro e se infiltrar em tua pele. A maldade está por todo o lado; nos pontos de ônibus e nos metrôs, cada esquina de espera amargurada, na busca da vingança e nos olhos daquela que não foi amada. Nos rostos mais inocentes se encontra, na senhora idosa e na mãe que observa um corpo jovem sem poder evitar o ciúme, vê o desenvolvimento da filha com saudade e rancor da própria juventude. Os olhos se desviam e a mão direita cobre metade do rosto daquela moça recatada e de família. Moça que olhou e desejou o que não devia. Em toda direção a malícia age, está agindo nos corpos que dançam sensualmente, na criança que quer vencer todos os jogos e nas mais pacíficas mentes. O modo como ele corre é para atrair, o modo como ela abre a boca facilmente é pra trair. Não são sorrisos e não são encantamentos, é a luxaria e o atrevimento.

TODO TEU CORPO E

MOVIMENTO AGINDO

COM MÁS INTENÇÕES

A inveja também participa adentrando casas e sendo convidada a mesa. Comemos um pedaço de aversão e deixamos a angústia de sobremesa. Engolimos os piores sentimentos e permitimos que se integrem ao corpo. Somos condicionados a querer mais e, naturalmente, a querer o que é do outro. Já é natural a nossa inclinação ao que não é certo, a cometer impunidades com astúcia e presteza. Quase uma parte inconsciente. A falta de harmonia mostra nossa real propensão, porém parecem não querer ver. Socializamos muito bem e nos cegamos diante dos fatos ruins. A coisa toda já se tornou habitual, a exibição desnecessária do corpo e a ostentação das posses. Talvez não tenha sido sempre assim, mas por ora é e continuará por um longo prazo. Não importa em quais ruas cinzas ou castelos brancos eu esteja caminhando. A cada passo encontro outros seres humanos que, assim como eu, carregam um lote de pecados. A minha quantia é razoável, coisa que só percebi há pouco. Também demorei para reparar nas pessoas, fazem anos que estou ao redor dessa gente e só há pouco notei como o mais santo possui pensamentos manchados. O mais fiel tem um passado de remorso e o sorriso mais branco pode ser reproduzido com pouco afeto e muita simulação.

A MALDADE ESTÁ POR TODO O LADO

Compreender tudo isso me fez mal, mas não se comparou com a mágoa de te ver também corrompido. Ver teu lado malicioso prevalecendo, teus gestos perdendo a leveza e ganhando substância. Todo teu corpo e movimento agindo com más intenções. Não podia admitir que tua clareza da meninice havia se sombreado. Eu inventei pretextos, refiz teu molde e elaborei tuas qualidades. Muito trabalho para nada, porque tua própria língua deixava explícita o comportamento. Não se dava conta como me parecia desonrado naquela calçada desalinhada. Encontrei maldade e perversão em todos os lados, todas as direções, por que não haveria de encontrar também em você?

PARA COEXISTIR BASTA FINGIR

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Você nunca vai conhecer um ser humano tão hipócrita quanto si mesmo. Porque dos outros só sabemos o que é permitido, o que os olhos alcançam e a percepção capta. Absorvemos falas, tonalidades, gestos, pensamentos expostos, mas nunca os ocultos. É impossível penetrar plenamente na mente alheia. Agora pense em si mesmo. Nas reflexões que te assaltam, no sistema que te incomoda, nas mentiras que condena. O teu pensar nunca condiz totalmente com os gestos, é um martírio a busca por justiça e equilíbrio, é um fardo a se carregar, pois somos homens e os homens estão suscetíveis ao erro e os erros nos corroem e estamos tão corroídos que deixamos de ser íntegros.... Você repudia o preconceito, mas na primeira vista do outro já cria teu conceito. Você detesta a mentira, mas se contém, se cala, jamais revela por completo e com exatidão aquilo que ronda a mente.

É IMPOSSÍVEL PENETRAR

PLENAMENTE NA MENTE ALHEIA

Por isso vejo ao meu redor muitos decentes, muitos injustos, muitos competentes, muitos ocultos... Mas todos hipócritas. Nunca somos a alma e a consciência em plenitude, nunca conseguimos sincronizar nossas atitudes. Não externamos ou agimos em sintonia perfeita aos nossos desejos e pensamentos, mesmo quando estamos satisfeitos não agradecemos aos alentos. Sofremos com as amarras... Seja do sistema, seja da organização social, seja do mercado, seja do que for... Há moldes que vão nos definindo e nos tornando tão massificados que viramos mais do mesmo, temos essência, mas não conseguimos deixá-la aflorar. Temos carência, mas raramente vamos assumir ou demonstrar.

Até nos olhos mais honestos há inverdades, até nos que lutam pelos direitos sociais há maldades. O homem que é bom na rua e cruel no lar, a mulher que se insinua, mas se ajoelha pra rezar. A criança que vê televisão quando quer ultrapassar o portão, o parente saudoso que por cansaço ou orgulho nunca liga para o irmão. Não é por falta de vontade, queremos ser inteiros, queremos ser de verdade. Mas aí está o grande mal do conjunto, seguir as regras para vivermos juntos. São muitas as mazelas, os erros, os condicionamentos que a sociedade te imputa, há pena maior do que comandar sua conduta? Então agimos ordenados, vivendo só de sonhos abandonados. E entre os que eu vejo e convivo não tenho dúvida, a mentira também me envolve, me recolhe, me entoca... Entre todos sou o mais hipócrita.

TEMOS ESSÊNCIA,

MAS NÃO CONSEGUIMOS

DEIXÁ-LA AFLORAR

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