Galinhos - que os bons ventos te tragam

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REVISTAGOL 143 A prática de kitesurf e o passeio de bugue pelas dunas estão entre as principais atrações de Galinhos 142 REVISTAGOL descoberta GAlinhos QUE OS BONS VENTOS TRAGAM VOCÊ A prAiA de GAlinhos, no rio GrAnde do norte, AtrAi visitAntes em buscA de descAnso e condições climáticAs ideAis pArA A práticA de kitesurf por nAtáliA mArtino Fotos domenico puGliese

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A praia de Galinhos, no Rio Grande do Norte, atrai visitantes em busca de descanso e condições climáticas ideais para a prática de kitesurf

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A prática de kitesurf e o passeio de bugue pelas dunas estão entre as principais atrações de Galinhos

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descoberta GAlinhos

Que os bonsventos tragam vocêA prAiA de GAlinhos, no rio GrAnde do norte,

AtrAi visitAntes em buscA de descAnso e condições

climáticAs ideAis pArA A práticA de kitesurf

por nAtáliA mArtino Fotos domenico puGliese

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descoberta GAlinhos

“achei meu lugar no mundo”, disse a carioca Andrea Del Debbio, 47 anos, quando se sentou pela primeira vez em uma espreguiçadeira de frente para o mar na praia de Galinhos. Quatro meses depois ela já havia abandonado a rotina na capi-tal paulista, onde vivia com os filhos, e se mudado para este “pequeno paraíso”, como ela define o vilarejo com pouco mais de dois mil habitantes ao norte de natal, no Rio Grande do norte. “Fui comissária de bordo e já rodei meio mundo, mas nenhum lugar nunca me tocou tanto quanto esse”, diz. Basta sentar na espreguiçadeira que inspirou Andrea para começar a entender seus motivos. o cenário que se apresenta à frente é composto pelo mar que os ventos nunca se cansam de sacudir – diversão garantida para os praticantes de kitesurf – e pela areia branca que abraça as piscinas naturais que se formam na maré baixa.

Foi seguindo a dica de que encontraria uma “praia selvagem” que Andrea chegou a Galinhos. “no caminho me diziam para desistir porque era muito longe”, lembra, com a alegria de quem não se arrepende de ter prosseguido. A dificuldade de acesso, mais do que a distância propriamente dita, talvez seja a principal razão da tranquilidade que reina por aqui. localizado na ponta de uma península, o local só é acessível por terra em um caminho com trechos sobre areia fofa, missão apenas para bugues ou veí-culos 4X4. outra opção é seguir de natal por uma estrada asfal-tada de 166 quilômetros até Pratagil, onde é possível estacionar e

pegar um barco que atravessa o rio Aratuá, na verdade um braço de mar, até chegar ao destino final, a cerca de 20 minutos dali.

Depois do esforço de deslocamento, é só relaxar. Tranquilidade é, como conta Clara Pinto Machado, dona do Chalé oásis, o que procuram aqueles que desembarcam em Galinhos. não é à toa que a placa na entrada da colorida pousada que ela comanda ao lado do marido, Jorge sotto Mayor, diz: “se não tem nada para fazer, faça-o aqui”. Quem aceita o convite encontra uma piscina de frente para o mar quase em ondas, banheira de hidromassa-gem e uma dezena de redes e colchões em espaços simples que inspiram relaxamento. “Aqui o tempo passa devagar, é quase como se estivéssemos estacionados no passado”, diz a portugue-sa que adotou o Brasil como morada.

Entre ruas de paralelepípedo e a areia circulam charretes que funcionam como táxis. o meio de transporte é sinal dos novos tempos. sua proliferação acontece na medida em que os turistas descobrem essa região quase isolada do litoral potiguar. Diante da dificuldade de acesso que mantém os carros longe de Galinhos, as mulinhas foram transformadas no motor que leva os recém-chegados até, por exemplo, suas pousadas – essas sem-pre “muito longe”, de acordo com os condutores. Mas, cá entre nós, vai ser difícil achar uma hospedagem que exija mais do que 10 minutos de caminhada em ritmo preguiçoso, aquela com pas-sos encurtados graças ao calor do Rio Grande do norte. Mesmo

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Em sentido horário, a partir das fotos abaixo: praticantes de kitesurf preparam o equipamento antes de entrar no mar; o farol, cartão-postal de Galinhos; o trânsito de charretes; e o futebol na beira da praia

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descoberta GAlinhos

“achei meu lugar no mundo”, disse a carioca Andrea Del Debbio, 47 anos, quando se sentou pela primeira vez em uma espreguiçadeira de frente para o mar na praia de Galinhos. Quatro meses depois ela já havia abandonado a rotina na capi-tal paulista, onde vivia com os filhos, e se mudado para este “pequeno paraíso”, como ela define o vilarejo com pouco mais de dois mil habitantes ao norte de natal, no Rio Grande do norte. “Fui comissária de bordo e já rodei meio mundo, mas nenhum lugar nunca me tocou tanto quanto esse”, diz. Basta sentar na espreguiçadeira que inspirou Andrea para começar a entender seus motivos. o cenário que se apresenta à frente é composto pelo mar que os ventos nunca se cansam de sacudir – diversão garantida para os praticantes de kitesurf – e pela areia branca que abraça as piscinas naturais que se formam na maré baixa.

Foi seguindo a dica de que encontraria uma “praia selvagem” que Andrea chegou a Galinhos. “no caminho me diziam para desistir porque era muito longe”, lembra, com a alegria de quem não se arrepende de ter prosseguido. A dificuldade de acesso, mais do que a distância propriamente dita, talvez seja a principal razão da tranquilidade que reina por aqui. localizado na ponta de uma península, o local só é acessível por terra em um caminho com trechos sobre areia fofa, missão apenas para bugues ou veí-culos 4X4. outra opção é seguir de natal por uma estrada asfal-tada de 166 quilômetros até Pratagil, onde é possível estacionar e

pegar um barco que atravessa o rio Aratuá, na verdade um braço de mar, até chegar ao destino final, a cerca de 20 minutos dali.

Depois do esforço de deslocamento, é só relaxar. Tranquilidade é, como conta Clara Pinto Machado, dona do Chalé oásis, o que procuram aqueles que desembarcam em Galinhos. não é à toa que a placa na entrada da colorida pousada que ela comanda ao lado do marido, Jorge sotto Mayor, diz: “se não tem nada para fazer, faça-o aqui”. Quem aceita o convite encontra uma piscina de frente para o mar quase em ondas, banheira de hidromassa-gem e uma dezena de redes e colchões em espaços simples que inspiram relaxamento. “Aqui o tempo passa devagar, é quase como se estivéssemos estacionados no passado”, diz a portugue-sa que adotou o Brasil como morada.

Entre ruas de paralelepípedo e a areia circulam charretes que funcionam como táxis. o meio de transporte é sinal dos novos tempos. sua proliferação acontece na medida em que os turistas descobrem essa região quase isolada do litoral potiguar. Diante da dificuldade de acesso que mantém os carros longe de Galinhos, as mulinhas foram transformadas no motor que leva os recém-chegados até, por exemplo, suas pousadas – essas sem-pre “muito longe”, de acordo com os condutores. Mas, cá entre nós, vai ser difícil achar uma hospedagem que exija mais do que 10 minutos de caminhada em ritmo preguiçoso, aquela com pas-sos encurtados graças ao calor do Rio Grande do norte. Mesmo

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Em sentido horário, a partir das fotos abaixo: praticantes de kitesurf preparam o equipamento antes de entrar no mar; o farol, cartão-postal de Galinhos; o trânsito de charretes; e o futebol na beira da praia

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que não seja pela distância ou pelo peso da bagagem, uma volta de charrete pode valer a pena pela experiência.

A multiplicação desses táxis peculiares não foi a única mudan-ça que Galinhos assistiu na última década. Eduardo lopes, 36 anos, vive em natal e frequenta a vila desde 1986, muito antes de ela entrar para o mapa turístico do estado. “naquela época não tinha pousada nem bugue. não existia nem estrada asfaltada até Pratagil”, conta. “Apesar do ‘progresso’, aqui ainda é um lugar perfeito para descansar”, completa. o visitante assíduo indica um evento que reflete as tradições locais: a pesca do xaréu. “os pescadores ficam sobre as dunas observando a água e, de lá, veem os cardumes passando. Fazem sinal para os que estão no mar e eles cercam os peixes. É uma movimentação linda de se ver”, conta. A temporada de pesca da espécie acontece em maio e junho, e é possível participar de uma confraternização na praia. “Eles chegam com quilos de peixes e parte deles é limpa e pre-parada ali mesmo para quem estiver por perto”, diz Eduardo.

Galinhos nasceu e se perpetuou como vila de pescadores. “o lugar recebeu esse nome por causa do peixe Galo do Alto, que era muito abundante na região”, explica Mário helison lima. Ecinho, como prefere ser chamado, nasceu aqui e gosta de con-tar parte das suas lembranças de infância roubando coco nas

proximidades da vila enquanto leva os visitantes para passeios de bugue. Afinal, além de sol, cerveja gelada e peixes frescos, uma típica praia do Rio Grande do norte não poderia deixar de oferecer um bom passeio pelas dunas. Vale conhecê-las, ver as salinas, observar as lagoas que se formam nas temporadas chu-vosas e, no caminho, visitar o pequeno povoado de Galos.

outra atração do local é o mangue. José Antônio de Miranda Júnior, que pesca com o pai desde criança, leva os visitantes em sua pequena canoa por um passeio pelo rio Pisa-sal, mar-geado por um imenso mangue. no caminho, identifica, captura e mostra alguns exemplares da fauna local. Depois os liberta, como manda o manual do ecoturismo. Convida os passageiros para pisar na lama e pegar caranguejo. Ao final, Júnior ancora a canoa em um banco de areia no meio do oceano e lança a per-gunta: “peixada ou caranguejada?”. De acordo com a resposta, ele recorre ao mar para pescar o prato principal que ele prepara ali mesmo, depois de revelar sua cozinha improvisada que tem até fogão e armário de temperos na proa. o guia, sem dúvida, poderia ganhar a vida como chef de cozinha.

há outro elemento que começa também a protagonizar as mudanças no local: o vento. Foi ele quem trouxe Fredrik Crouzet a Galinhos. o francês mora há 15 anos no Caribe, mas trocou-o

descoberta GAlinhos

Acima, turistas relaxam à beira-mar; à dir., piscina da pousada Chalé oásis

oRiGEM sAíDA ChEGADA

rio de Janeiro (sdu)** 21h38 2h30

são paulo (Gru) 11h00 13h20

florianópolis (fln)*** 19h10 02h10

VOOs para NataL (Nat) — GOL*

Acesse www.voegol.com.br para mais opções de voos ou consulte seu agente de viagens * Voos sujeitos a alteração sem aviso prévio. **Conexão em Brasília (BsB) ***Conexão em são Paulo (GRU)

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GUIa GaLINhOs

ONDE FICAR • Chalé Oásis. R. Beira Rio, s/n. Tel.: (84) 3552-0024 / (84) 9961-3226. www.oasisgalinhos.com. Diária para casal a partir de R$ 210.Brésil aventure. R. senador Dinarte, 123. Tel.: (84) 3552-0085. Diária para casal a partir de R$ 170.

ONDE COmER • restaurante da Irene. R. da Candelária, s/n, Praia de Galos. Tel.: (84) 3552-2016.restaurante do Chalé Oásis. Tel.: (84) 3552-0024 / (84) 9961-3226. www.oasisgalinhos.com.restaurante da Brésil aventure. Tel.: (84) 3552-0085.

QuEm lEvA • Galinhos tour. Tel.: (84) 9117-4705. www.galinhostour.net.br. Traslado a partir de natal, R$ 220 (até quatro pessoas). Passeio de bugue pelas dunas, R$ 150 (até quatro pessoas).riquezas da Ilha. Tel.: (84) 8133-4833 / (48) 3552-0053 / (84) 9180-6665. Passeio de canoa pelo rio Pisa-sal com refeição, R$ 130 (até quatro pessoas).

descoberta GAlinhos

Em sentido horário, a partir da foto abaixo: detalhe da pousada XXX, passeio de

canoa rumo ao manguezal; e a varanda da pousada XXX

pelo vilarejo durante alguns dias atraído pelo vento constante que possibilita a prática de kitesurf diariamente. É verdade que várias outras praias do nordeste oferecem esse recurso em abundância, motivo pelo qual o casal de ingleses Catherine e Alex Freeman, em férias no litoral nordestino, pensaram várias vezes antes de enfrentar o longo percurso até Galinhos. “não sabíamos se seria melhor do que os outros lugares para o kitesurf e os gastos para chegar até aqui eram altos”, diz Catherine, enquanto relaxa em um bangolô na beira da praia.

os dois resolveram arriscar a viagem por terem encontrado em são Miguel do Gostoso (Rn) outro casal disposto a dividir o valor do aluguel do carro. “não acreditei quando cheguei aqui. É muito mais bonito do que daria para imaginar pelas fotos”, avalia. se é melhor para o kitesurf? “A maior vantagem é que existem mui-tas áreas para a prática do esporte e pouca gente para disputar esse espaço. ontem ficamos só nós dois no mar a tarde inteira”, responde Catherine, com um inconfundível sorriso de satisfação. Pelo visto, Galinhos está mudando “devagar, bem devagarzinho”, como diz Clara, da pousada Chalé oásis. Mas continua deixando a tranquilidade reinar no ritmo dos ventos e das marés, que ora trazem peixes, ora trazem visitantes de longe.